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<p>MÓDULO III</p><p>As Competências</p><p>Socioemocionais</p><p>Autora: Vânia Camurça</p><p>AS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS</p><p>Atualmente a escola é caracterizada por uma crescente capacidade de</p><p>atendimento, uma vez que o acesso à educação se configura como política</p><p>social consolidada. Esse acesso, além de motivo de satisfação daqueles que</p><p>pensam e fazem Educação, traz também o reconhecimento que ensinar hoje é</p><p>qualitativamente mais desafiante. Tem-se uma escola cuja formação das</p><p>classes é mais heterogênea, atendendo a uma diversidade de culturas, valores</p><p>e interesses, conforme descreve Esteve (2004, p.38).</p><p>[…] O inquestionável êxito social que supõe a plena</p><p>escolarização […] supõe também acolher em nossas salas de</p><p>aula cem por cento das crianças mais lentas, cem por cento</p><p>das mais agressivas, cem por cento das que sofrem maus-</p><p>tratos ou que sobrevivem precariamente, com circunstâncias</p><p>pessoais e sociais muito difíceis.</p><p>Dessa forma, dispor de uma escola preparada para um cenário interno</p><p>plural e um espaço externo permeado por incertezas e alterações constantes</p><p>exige uma escola disposta a perceber uma ação para além das questões</p><p>cognitivas, mas pautada também no entendimento das questões de ordem</p><p>emocionais. Nesse contexto, tem-se as competências socioemocionais;</p><p>Como a capacidade individual em se mobilizar, articular</p><p>e colocar em prática conhecimentos, valores, atitudes e</p><p>habilidades para se relacionar com os outros e consigo mesmo,</p><p>assim como estabelecer e atingir objetivos e enfrentar</p><p>situações adversas de maneira criativa e construtiva (IAS,</p><p>2018, p.3).</p><p>O QUE SÃO COMPETÊNCIAS</p><p>SOCIOEMOCIONAIS?</p><p>QUAL A IMPORTÂNCIA DAS COMPETÊNCIAS</p><p>SOCIOEMOCIONAIS PARA A APRENDIZAGEM?</p><p>Formar crianças e jovens para superar os desafios do século XXI está</p><p>para além de uma formação conteudista ofertada pela escola tradicional,</p><p>pressupõe o desenvolvimento de um conjunto de competências necessárias</p><p>para aprender, viver, conviver e trabalhar em um mundo cada vez mais</p><p>complexo.</p><p>É lógico que as competências relacionadas ao letramento, numeramento</p><p>e aos diversos conteúdos disciplinares são fundamentais para o acesso ao</p><p>mundo do conhecimento e são elementos do currículo avaliados pelos</p><p>sistemas educativos, já possuindo um reconhecimento de sua necessidade e</p><p>mérito na formação escolar. Contudo, temos um outro conjunto de</p><p>competências, classificadas como socioemocionais, que buscam o equilíbrio</p><p>das emoções numa perspectiva de superação dos obstáculos que o estudante</p><p>pode enfrentar quanto à aprendizagem dos componentes curriculares, bem</p><p>como ao convívio entre seus pares, promovendo um ambiente favorável aos</p><p>processos de ensino e aprendizagem.</p><p>Dessa forma, a Educação para o Século XXI exige a</p><p>ampliação da fronteira do que se entende por aprendizagem e</p><p>passa pelo desenvolvimento e avaliação desses aspectos</p><p>que, hoje se reconhecem como fundamentais para o</p><p>desenvolvimento integral do estudante.</p><p>Diante de tal cenário, insistir numa escola que não</p><p>considere as competências socioemocionais é limitar as</p><p>possibilidades do desenvolvimento integral dos</p><p>educandos, comprometendo a equidade necessária ao</p><p>processo de ensino e aprendizagem.</p><p>O QUE SINALIZAM OS NOVOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO</p><p>QUANTO AS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS?</p><p>Para além do que se estabeleceu como meta para a educação no</p><p>Século XX, em termos de acesso aos estudos, permanência e sucesso</p><p>escolar, o que se espera para a educação no Século XXI é a consolidação da</p><p>tríade acesso + conclusão escolar + aprendizagem integral, que passa pelo</p><p>reconhecimento de que o ensino, tal como vem sendo praticado, não está</p><p>dando conta de reter as crianças e os jovens na escola e garantir</p><p>aprendizagem significativa para uma vida plena no mundo contemporâneo,</p><p>sendo a inserção das competências socioemocionais no contexto escolar um</p><p>caminho para o alcance desse cenário educacional.</p><p>Diferentes setores – governos, empresas e sociedade civil –,</p><p>universidades, pesquisadores e organizações internacionais – entre elas,</p><p>agências das Nações Unidas e a OCDE (Organização para a Cooperação e</p><p>Desenvolvimento Econômico) – têm dirigido esforços para a construção de um</p><p>corpo de conhecimento sobre a Educação para o Século XXI, a partir da</p><p>identificação, do desenvolvimento e da avaliação de competências que</p><p>combinem as dimensões cognitivas e socioemocionais do aprendizado.</p><p>Uma das principais fundamentações internacionais que inspiram esse</p><p>conceito de Educação para o Século XXI é o Paradigma do Desenvolvimento</p><p>Humano, proposto pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o</p><p>Desenvolvimento) nos anos 1990, que, ao colocar as pessoas no centro dos</p><p>processos de desenvolvimento, aponta a educação como oportunidade central</p><p>para prepará-las para fazer escolhas e transformar em competências o</p><p>potencial que trazem consigo.</p><p>A ênfase recai em aspectos socioemocionais que</p><p>capacitam as pessoas para buscarem o que desejam,</p><p>tomarem decisões, estabelecerem objetivos e persistirem no</p><p>seu alcance mesmo em situações adversas, de modo a serem</p><p>protagonistas do seu próprio desenvolvimento e de suas</p><p>comunidades e países.</p><p>É evidente que, apesar dos avanços nas últimas décadas, o Brasil ainda</p><p>precisa trilhar uma longa trajetória para atingir a aprendizagem desejada (no</p><p>PISA 2012, o país ficou em 58º em Matemática e 55º em Leitura entre 65</p><p>participantes), sem deixar de lado a necessidade de investir nas novas</p><p>aprendizagens e nas novas maneiras de aprender e se relacionar com o</p><p>conhecimento requeridas pelo mundo contemporâneo. O desafio é, portanto,</p><p>olhar para o futuro sem descuidar dos déficits do passado, procurando</p><p>caminhos para encurtar a distância que nos separa dos melhores sistemas</p><p>educativos do mundo. É nesse contexto que se insere a competência</p><p>socioemocional como potencializadora das capacidades de nossos estudantes</p><p>no enfrentamento dos desafios impostos em sua caminhada escolar.</p><p>COMO SE DÁ A RELAÇÃO ENTRE AS COMPETÊNCIAS</p><p>SOCIOEMOCIONAIS E COMPETÊNCIAS COGNITIVAS?</p><p>Competências socioemocionais também são importantes porque ajudam</p><p>a desenvolver as competências cognitivas. Os mais recentes resultados do</p><p>PISA mostram que a perseverança é um ingrediente-chave para o sucesso de</p><p>alunos em matemática. Estudantes que acreditam que podem ter sucesso em</p><p>matemática se fizerem o esforço necessário têm notas maiores nessa disciplina</p><p>do que aqueles que não acreditam. Entre os países membros da OCDE, a</p><p>diferença no desempenho de matemática entre aqueles que relatam altos</p><p>níveis de perseverança e aqueles com baixos níveis dessa competência é de</p><p>aproximadamente um ano de escolaridade.</p><p>Assim, as competências socioemocionais interagem com as</p><p>competências cognitivas, promovendo um avanço na aquisição de conteúdos</p><p>de diversos componentes curriculares o que, consequentemente, aumenta a</p><p>perspectiva futura de educação e carreira, ou seja, sua influência nos</p><p>resultados educacionais e profissionais eleva a possibilidade de sucesso no</p><p>mundo do trabalho e dos estudos para além da Educação Básica.</p><p>Tem-se ainda as competências socioemocionais como elemento</p><p>promotor de resolução de outras questões enfrentadas no dia a dia da escola,</p><p>como por exemplo, depressão, bullying, comportamento antissocial e</p><p>insatisfação na vida, trazendo como saldo positivo a existência de uma escola</p><p>que olha para o estudante de maneira integral, considerando suas diversas</p><p>dimensões e a importância de cada uma no alcance do sucesso escolar desse</p><p>jovem.</p><p>Pesquisas realizadas em diversas áreas do conhecimento – como</p><p>educação, psicologia, neurociências e economia – revelam que o desempenho</p><p>cognitivo dos alunos é beneficiado quando um grupo de determinadas</p><p>competências é acionado e desenvolvido de forma intencional. Valorizar</p><p>e</p><p>desenvolver essas habilidades não significa rejeitar a relevância dos conteúdos</p><p>curriculares tradicionais, mas oferecer mais um canal de apoio para que todos</p><p>os envolvidos no processo educativo possam planejar, executar e avaliar ações</p><p>mais equitativas e eficientes.</p><p>QUE COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS A ESCOLA PODE</p><p>TRABALHAR E COMO ELAS PODEM SER DESENVOLVIDAS?</p><p>As competências se desenvolvem progressivamente, a partir de outras</p><p>formadas anteriormente. Os anos iniciais lançam as bases para o futuro</p><p>desenvolvimento de competências. Enquanto bases fortes aumentam as</p><p>chances de efeitos positivos, bases frágeis tendem a criar dificuldades. O que</p><p>as crianças aprendem ou não aprendem gera efeitos cumulativos.</p><p>Competências geram competências: aquelas com as competências</p><p>inicialmente mais elevadas tendem a alcançar maiores níveis que as demais.</p><p>As competências não são desenvolvidas apenas em sala de aula, mas</p><p>em um amplo conjunto de ambientes de aprendizagem na família, na</p><p>comunidade e no local de trabalho. Todo contexto de aprendizagem contribui</p><p>para o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais. Sua</p><p>importância, no entanto, muda ao longo do curso de vida. Ambientes de</p><p>aprendizagem podem se complementar para desenvolver as competências das</p><p>crianças. Por exemplo, a habilidade de um jovem em matemática e português</p><p>pode ser aprimorada quando as lições são reforçadas por meio de atividades</p><p>relacionadas a estas em casa ou na comunidade. Da mesma forma, a</p><p>autoestima e o respeito com os outros são mais estimulados quando escola,</p><p>casa e comunidade trabalham juntas pelo mesmo objetivo. Para desenvolver</p><p>esse conjunto de competências, é necessário trabalhar tanto no âmbito de</p><p>políticas públicas educacionais, quanto no uso de práticas pedagógicas que</p><p>possibilitem estruturar e explicitar essas políticas durante o processo de</p><p>aprendizagem em sala de aula.</p><p>O estado do Ceará, num reconhecimento da importância do</p><p>desenvolvimento integral do estudante, lança mão, dentre outras iniciativas, de</p><p>dois projetos destinados ao trabalho com as competências socioemocionais,</p><p>sendo eles: Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais (NTPPS) e os</p><p>Diálogos Socioemocionais, realizados em articulação com os Professores</p><p>Diretores de Turmas (PDT). A seguir um breve detalhamento dos projetos,</p><p>informando as competências trabalhadas por ambos.</p><p>Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas</p><p>Sociais (NTPPS) - configura-se como uma</p><p>alternativa ao modelo de aprendizagem</p><p>tradicional, que visa ao desenvolvimento de</p><p>competências pessoais, sociais, produtivas e</p><p>cognitivas, trabalhando, também, com a</p><p>pesquisa como meio privilegiado de construção</p><p>de saberes, que possibilita uma relação crítica</p><p>do estudante com sua realidade. Ele se</p><p>materializa na escola por meio de vivências,</p><p>rodas de discussão, resolução de desafios e</p><p>pesquisa, cujas atividades dão significado ao</p><p>conhecimento escolar, mediante a</p><p>contextualização, evitando a</p><p>compartimentalização do saber, promovendo a</p><p>interdisciplinaridade e incentivando o raciocínio</p><p>e a capacidade de aprender.</p><p>Diálogos Socioemocionais – com o objetivo de possibilitar o</p><p>desenvolvimento integral dos estudantes, de forma intencional e</p><p>planejada para que eles construam e realizem seus projetos de vida e se</p><p>preparem para enfrentar os desafios sociais e culturais do Século XXI, o</p><p>projeto tem, num primeiro momento, a realização de uma avaliação</p><p>formativa dos estudantes, por meio de rubrica¹, para, num segundo</p><p>momento, desenvolver as habilidades socioemocionais identificadas</p><p>como as que necessitam de uma maior atenção e aprimoramento.</p><p>E as quais são as competências socioemocionais que a SEDUC busca</p><p>desenvolver e que, portanto, se constituem nas que a escola pode</p><p>desenvolver?</p>