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<p>FATORES ESPECÍFICOS E DISTRIBUIÇÃO DE RENDA – CAPÍTULO 4</p><p>A análise se concentra nos efeitos de curto prazo do comércio sobre a distribuição de renda, quando fatores de produção</p><p>como terra e capital não podem se mover livremente entre setores econômicos. Isso significa que esses fatores são</p><p>específicos para determinados setores.</p><p>O capítulo começa destacando que uma análise realista do comércio deve ir além do modelo ricardiano, que se foca nos</p><p>ganhos nacionais do comércio, e considerar como o comércio afeta a distribuição de renda. Por exemplo, agricultores de</p><p>arroz no Japão se opõem ao livre comércio de arroz porque uma queda no preço do arroz afetaria negativamente o valor de</p><p>suas terras e seus rendimentos.</p><p>Os objetivos de aprendizagem do capítulo incluem entender como fatores móveis, como a mão de obra, respondem a</p><p>mudanças de preços, explicando por que o comércio gera tanto vencedores quanto perdedores no curto prazo, e compreender</p><p>os ganhos do comércio mesmo quando há perdedores.</p><p>O modelo de fatores específicos é utilizado para ilustrar como a produção e a alocação de mão de obra entre setores são</p><p>determinadas pelos preços relativos dos bens produzidos. As mudanças nos preços relativos afetam a demanda de mão de</p><p>obra e, consequentemente, a produção e a distribuição de renda. O comércio internacional pode alterar esses preços</p><p>relativos, levando a ajustes na economia e criando ganhadores e perdedores.</p><p>O capítulo também discute a mobilidade internacional da mão de obra e a convergência salarial, destacando que a imigração</p><p>em massa no final do século XIX e início do XX levou a uma convergência dos salários reais entre países de origem e</p><p>destino. No entanto, restrições legais à imigração e outros fatores interromperam esse processo de convergência.</p><p>MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS</p><p>Ao contrário do ricardiano, o modelo de fatores específicos permite a existência de fatores de produção além da mão de</p><p>obra. Considerando que a mão de obra seja um fator móvel que pode se mover entre os setores, esses outros fatores são</p><p>considerados específicos. Ou seja, eles podem ser usados somente na produção de determinados bens.</p><p>PRESSUPOSTOS DO MODELO</p><p>Imagine uma economia que pode produzir dois bens, tecido e alimentos. Porém, em vez de um fator de produção, o país</p><p>tem três: mão de obra (L), capital (K) e solo (T de terra). Tecido é produzido usando capital e mão de obra (mas sem terra),</p><p>enquanto o alimento é produzido usando terra e mão de obra (mas não capital). A mão de obra é, portanto, um fator móvel</p><p>que pode ser usado em qualquer setor, enquanto a terra e o capital são os dois fatores específicos que podem ser usados</p><p>somente na produção de uma das mercadorias. A terra também pode ser pensada como um tipo diferente de capital, que é</p><p>específico para o setor de alimentos.</p><p>Quanto de cada bem a economia vai produzir? A produção de tecido da economia depende de quanto capital e mão de obra</p><p>são usados nesse setor. Essa rela ção é resumida por uma função de produção que nos diz a quantidade de tecido que pode</p><p>ser produzido dada qualquer entrada de capital e mão de obra. A função de produção para o tecido pode ser resumida</p><p>algebrica mente como: QT = QT (K, LT ), (função 4.1) sendo QT a produção de tecido da economia, K o esto que de capital</p><p>da economia, e LT a força de trabalho empregada no tecido. Da mesma forma, para os alimentos podemos escrever a função</p><p>de produção QA = QA (S, LA ), (função 4.2) sendo QA a produção de alimentos da economia, S a fonte de terra da</p><p>economia, e LA a força de mão de obra dedicada à produção de alimentos. Para a economia como um todo, a mão de obra</p><p>empregada deve ser igual à oferta de mão de obra total L: LT + LA = L (função 4.3).</p><p>POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO</p><p>O modelo de fatores específicos pressupõe que cada um dos fatores específicos, capital ou terra, possa ser usado em apenas</p><p>um setor, tecidos ou alimentos, respectivamente. Apenas a mão de obra pode ser usada nos dois setores. Assim, para analisar</p><p>as possibilidades de produção da economia, precisamos apenas perguntar como o mix de produção da economia muda</p><p>conforme a mão de obra é deslocada de um setor para outro. Isso pode ser feito graficamente, primeiro representando as</p><p>funções de produção pelas equações (4.1) e (4.2) e, em seguida, colocando-as juntas</p><p>para derivar a fronteira de possibilidade de produção.</p><p>A Figura 4.1 ilustra a relação entre a entrada de mão de obra e a produção de tecido.</p><p>Quanto maior a entrada de mão de obra para uma determinada oferta de capital, maior</p><p>será a produção. Na Figura 4.1, a inclinação de QT (K, LT ) representa o produto</p><p>marginal da mão de obra, ou seja, a adição à produção gerada pela inclusão de mais um</p><p>homem-hora. No entanto, se a entrada de mão de obra for aumentada, sem aumentar o</p><p>capital, geralmente haverá rendimentos decrescentes: uma vez que adicionar um</p><p>trabalhador significa que cada trabalhador tem menos capital para trabalhar, cada</p><p>incremento sucessivo de mão de obra adicionará menos à produção do que o anterior.</p><p>Os rendimentos decrescentes são refletidos na forma da função de produção: QT (K, LT</p><p>) fica mais plana à medida que avançamos para a direita, indicando que o produto</p><p>marginal da mão de obra diminui conforme mais mão de obra é usada.</p><p>A Figura 4.2 mostra as mesmas informações de outra maneira. Nela, traçamos</p><p>diretamente o produto marginal da mão de obra em função da mão de obra</p><p>empregada. Um par semelhante de diagramas pode representar a função de</p><p>produção de alimentos. Esses diagramas podem então ser combinados, para</p><p>derivar a fronteira de possibilidade de produção para a economia, conforme</p><p>ilustrado na Figura 4.3.</p><p>O gráfico 4.3 é um diagrama de quatro quadrantes que ilustra</p><p>a fronteira de possibilidade de produção (PP) no modelo de</p><p>fatores específicos. Este modelo é utilizado para analisar</p><p>como a alocação de mão de obra entre diferentes setores afeta</p><p>a produção total de uma economia.</p><p>No quadrante inferior esquerdo do gráfico 4.3, a linha AA</p><p>representa todas as possíveis combinações de alocação de mão</p><p>de obra entre os setores de tecidos e alimentos, dado um</p><p>suprimento total de mão de obra (L). Cada ponto na linha AA</p><p>indica uma distribuição específica de mão de obra entre os</p><p>dois setores. Por exemplo, o ponto 2 na linha AA mostra uma</p><p>alocação de mão de obra (L2) para o setor de tecidos e (L2)</p><p>para o setor de alimentos.</p><p>Os quadrantes inferiores direito e superior esquerdo contêm as</p><p>funções de produção para os setores de tecidos e alimentos,</p><p>respectivamente. Essas funções mostram a relação entre a</p><p>entrada de mão de obra e a produção de cada bem. A curvatura</p><p>para fora das curvas de produção reflete a lei dos rendimentos</p><p>decrescentes, que afirma que, mantendo o capital constante,</p><p>cada unidade adicional de mão de obra adiciona menos à</p><p>produção do que a unidade anterior.</p><p>A fronteira de possibilidade de produção (PP) é representada no quadrante superior direito. Ela mostra as diferentes</p><p>combinações de produção de tecidos e alimentos que a economia pode alcançar, dado o suprimento total de mão de obra e</p><p>as tecnologias de produção disponíveis. A forma arqueada para fora da curva PP também é uma consequência dos</p><p>rendimentos decrescentes da mão de obra em cada setor.</p><p>A curva PP é traçada conectando os pontos de produção correspondentes às diferentes alocações de mão de obra entre os</p><p>setores. Por exemplo, os pontos de produção 1', 2', e 3' na curva PP correspondem às alocações de mão de obra representadas</p><p>pelos pontos 1, 2, e 3 na linha AA.</p><p>A inclinação da curva PP em qualquer ponto é igual ao custo de oportunidade de produzir mais uma unidade de tecido em</p><p>termos de unidades de alimentos que devem ser sacrificadas. Este custo de oportunidade é determinado pela razão entre o</p><p>produto marginal da mão de obra no setor de alimentos (MPLA) e o produto marginal da mão de</p><p>obra no setor de tecidos</p><p>(MPLT).</p><p>PREÇOS, SALÁRIOS E ALOCAÇÃO DE MÃO DE OBRA</p><p>Explica como os preços dos bens, os salários e a alocação de mão de obra estão interligados no modelo de fatores</p><p>específicos. A mão de obra é alocada entre os setores de modo que o valor do produto marginal (P × MPL) seja igual em</p><p>ambos os setores, e a taxa salarial é igual ao valor do produto marginal de mão de obra. As figuras neste subtópico</p><p>demonstram como os preços dos bens, os salários e a alocação de mão de obra são interdependentes e como mudanças em</p><p>um desses fatores afetam os outros, influenciando a produção e a distribuição de renda na economia</p><p>A Figura 4.4 ilustra a alocação de mão de obra entre os setores de tecidos e</p><p>alimentos. A mão de obra é alocada de forma que o valor do produto marginal de</p><p>mão de obra (P × MPL) seja igual em ambos os setores. A interseção das curvas</p><p>de demanda de mão de obra para tecidos (PT × MPLT) e alimentos (PA × MPLA)</p><p>determina a taxa salarial (w) e a alocação de mão de obra entre os dois setores.</p><p>A Figura 4.5 mostra a produção no modelo de fatores específicos. A economia</p><p>produz no ponto de sua fronteira de possibilidade de produção (PP) onde a inclinação</p><p>da fronteira é igual a menos o preço relativo do tecido. Isso significa que a economia</p><p>produz uma combinação de alimentos e tecidos de modo que o custo de oportunidade</p><p>de produzir mais uma unidade de tecido em termos de alimentos sacrificados seja</p><p>igual ao preço relativo do tecido.</p><p>A Figura 4.6 presumivelmente, ela ilustraria como mudanças nos</p><p>preços relativos dos bens afetam a alocação de mão de obra e a</p><p>produção. Por exemplo, um aumento no preço do tecido em</p><p>relação ao preço dos alimentos levaria a uma maior alocação de</p><p>mão de obra para o setor de tecidos e uma menor produção de</p><p>alimentos.</p><p>A Figura 4.7 mostra o efeito de um aumento no preço do tecido. A</p><p>curva de demanda de mão de obra para tecidos se desloca para cima</p><p>proporcionalmente ao aumento no preço do tecido (PT), mas a taxa</p><p>salarial aumenta menos do que proporcionalmente. Isso leva a uma</p><p>reação dos trabalhadores, que se movem do setor de alimentos para</p><p>o setor de tecidos, aumentando a produção de tecidos e diminuindo</p><p>a produção de alimentos.</p><p>A Figura 4.8 provavelmente ilustraria outro aspecto da relação entre preços, salários e</p><p>alocação de mão de obra, como o efeito de uma mudança no preço dos alimentos ou a</p><p>resposta da economia a uma mudança na oferta de mão de obra.</p><p>COMÉRCIO INTERNACIONAL NO MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS</p><p>Discute como as mudanças nos preços relativos de bens afetam a distribuição de renda e como isso está vinculado ao</p><p>comércio internacional. O modelo de fatores específicos é usado para analisar como o comércio cria ganhadores e</p><p>perdedores, dependendo de como os preços relativos dos bens se alteram quando um país se envolve no comércio.</p><p>Para que o comércio ocorra, é necessário que um país enfrente um preço relativo mundial diferente do que prevaleceria na</p><p>ausência de comércio. A Figura 4.9 ilustra como esse preço relativo é determinado para a economia de fatores específicos.</p><p>Ela provavelmente mostraria a curva de oferta relativa para a economia doméstica e como essa curva se compara ao preço</p><p>relativo mundial.</p><p>A Figura 4.10 adiciona uma curva de oferta relativa para o mundo. Esta figura ajudaria a visualizar como a curva de oferta</p><p>relativa do mundo difere da curva de oferta relativa da economia doméstica. As diferenças podem ser devido a tecnologias</p><p>diferentes, recursos naturais, ou outras vantagens comparativas que os países do mundo possuem.</p><p>Detalhadamente, a Figura 4.9 poderia mostrar a curva de oferta relativa da economia doméstica, que representa as</p><p>quantidades relativas de bens que o país está disposto a oferecer em diferentes preços relativos. A interseção dessa curva</p><p>com a curva de demanda relativa determinaria o preço relativo doméstico em ausência de comércio.</p><p>A Figura 4.10, então, introduziria a curva de oferta relativa para o mundo, que representaria as quantidades relativas de</p><p>bens que o mundo está disposto a oferecer em diferentes preços relativos. A interseção dessa curva com a curva de demanda</p><p>relativa global determinaria o preço relativo mundial.</p><p>Quando o preço relativo mundial é diferente do preço relativo doméstico, há espaço para o comércio. O país se especializará</p><p>na produção do bem que tem vantagem comparativa e importará o outro bem. Isso leva a ajustes na economia doméstica,</p><p>como mudanças na alocação de mão de obra e na produção, que são ilustrados pelas mudanças nas curvas de oferta e</p><p>demanda relativas.</p><p>Ou seja, as Figuras 4.9 e 4.10 são usadas para ilustrar como o comércio internacional é motivado por diferenças nos preços</p><p>relativos entre países e como isso afeta a produção e a distribuição de renda dentro de uma economia de fatores específicos.</p><p>DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E OS GANHOS DO COMÉRCIO</p><p>Aborda como o comércio internacional afeta a distribuição de renda dentro de uma economia e como esses efeitos</p><p>influenciam a política comercial. O comércio pode gerar ganhos para a economia como um todo, mas esses benefícios nem</p><p>sempre são distribuídos igualmente. Alguns indivíduos e setores podem se beneficiar significativamente, enquanto outros</p><p>podem ser prejudicados.</p><p>A Figura 4.11 ilustra duas características importantes da restrição</p><p>orçamentária para uma economia comercial. Primeiro, a inclinação da</p><p>restrição orçamentária é menos PT /PA , o preço relativo do tecido. A razão</p><p>é que consumir uma unidade a menos de tecido economiza PT para a</p><p>economia. Isso é suficiente para comprar PT /PA unidades extras de</p><p>alimentos. Em outras palavras, uma unidade de tecido pode ser trocada nos</p><p>mercados mundiais por PT /PA unidades de alimentos. Segundo, a restrição</p><p>orçamentária é tangente à fronteira de possibilidade de produção no ponto</p><p>de produção escolhido (mostrado como ponto 1 na Figura 4.11, assim como</p><p>na Figura 4.5). Então, a economia sempre pode consumir o que produz.</p><p>RESUMO DO LIVRO</p><p>1.O comércio internacional muitas vezes tem fortes efeitos sobre a distribuição de renda dentro dos países, de modo que</p><p>frequentemente produz perdedores, bem como ganhadores. Os efeitos da distribuição de renda surgem por dois motivos: os</p><p>fatores de produção não podem mover-se instantaneamente e sem custo de uma indústria para outra, e as mudanças no mix</p><p>de produção de uma economia têm efeitos diferenciais sobre a demanda por diferentes fatores de produção.</p><p>2. Um modelo útil de efeitos de distribuição de renda do comércio internacional é o modelo dos fatores específicos, que</p><p>permite uma distinção entre os fatores de uso geral que podem ser movidos entre setores e fatores específicos para fins</p><p>específicos. Nesse modelo, as diferenças de recursos podem fazer com que os países tenham curvas de oferta relativa</p><p>diferentes e assim promovam o comércio internacional.</p><p>3. No modelo de fatores específicos, os fatores específicos para os setores em cada país de exportação ganham com o</p><p>comércio, enquanto os fatores específicos para os setores que concorrem com a importação perdem. Os fatores móveis que</p><p>podem atuar em qualquer setor podem ganhar ou perder.</p><p>4. O comércio, no entanto, produz ganhos globais no sentido limitado de que os que ganham em princípio podem compensar</p><p>quem perde, permanecendo ainda melhor do que antes.</p><p>5. A maioria dos economistas não considera os efeitos do comércio internacional na distribuição de renda uma boa razão</p><p>para limitar o comércio. Em seus efeitos distributivos, o comércio não é diferente de muitas outras formas de mudança</p><p>econômica, que não são normalmente regulamentadas. Além disso, os economistas preferem resolver o problema da</p><p>distribuição de renda diretamente, em vez de interferir com os fluxos de comércio.</p><p>6. No entanto, na atual legislação da política comercial, a distribuição de renda é de importância crucial. Isso é verdade em</p><p>particular porque aqueles que perdem com o comércio são geralmente um grupo muito mais informado, coeso e organizado</p><p>do que os que ganham.</p><p>7. Os movimentos de fatores internacionais às vezes podem substituir o comércio, portanto, não é surpreendente que a</p><p>imigração internacional da mão de obra seja similar em suas causas e efeitos ao comércio internacional. A mão de obra</p><p>move-se de países onde é abundante para países onde é escassa. Esse movimento eleva a produção mundial total, mas</p><p>também gera fortes efeitos de distribuição de renda, de modo que alguns grupos são prejudicados como resultado.</p>