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DEFINIÇÃO Apresentação da história das teorias econômicas sobre os determinantes do comércio internacional, identificando as bases da teoria moderna de comércio. PROPÓSITO Compreender as bases das principais teorias modernas do comércio internacional, desde suas origens. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a história do pensamento econômico em comércio internacional e os conceitos de vantagens absolutas e comparativas MÓDULO 2 Aplicar o conceito de vantagens absolutas e comparativas para a determinação de um equilíbrio comercial MÓDULO 3 Descrever os equilíbrios de comércio no modelo ricardiano INTRODUÇÃO Neste tema, abordaremos os principais conceitos e as teorias do comércio internacional. No primeiro módulo, vamos trazer uma perspectiva histórica da evolução do comércio internacional, assim como apresentar os conceitos de vantagem absoluta e comparativa a fim de compreendermos sua existência e seu funcionamento. No segundo módulo, determinaremos os níveis de comércio, consumo e produção que promovem preços de equilíbrio nas economias de mercado. Com isso, definiremos um equilíbrio global do comércio entre os países. Já no terceiro módulo, vamos analisar as principais consequências que esse equilíbrio global pode gerar nas economias, como o aumento da capacidade de consumo dos países. Com isso, você será apresentado aos aspectos introdutórios e às teorias clássicas de comércio internacional. Fonte: MNBB Studio / Shutterstock MÓDULO 1 Reconhecer a história do pensamento econômico em comércio internacional e os conceitos de vantagens absolutas e comparativas COMÉRCIO INTERNACIONAL NO PENSAMENTO ECONÔMICO Com a pacificação da Europa durante o final da Idade Média e o início da Idade Moderna (por volta do século XV), observamos uma expansão significativa do comércio internacional e, consequentemente, a necessidade de definição de políticas comerciais. Entre os séculos XV e XVIII, em particular, as políticas comerciais foram baseadas num conjunto de prescrições de política econômica que ficou conhecido como mercantilismo. A essência do mercantilismo é a tentativa de obtenção sistemática de superavit comercial por meio de políticas colonialistas e protecionistas. A base dessa tentativa foi a crença de que a riqueza de uma nação seria medida pela quantidade dos bens que tivesse, especialmente metais preciosos. Esse entendimento ficou conhecido como bulionismo, ou metalismo. Atualmente, a riqueza das nações é medida pela sua capacidade de produção de bens e não pelo seu estoque de mercadorias. Fonte: Phongphan / Shutterstock Nesse sentido, a extração de metais preciosos tenderia a tornar um país mais rico (bulionismo associado ao colonialismo), assim como a obtenção desses metais por meio do comércio, estimulando exportações (por meio de subsídios e tarifas baixas para matérias-primas que pudessem se tornar produtos exportáveis) e desestimulando importações (por meio de quotas e tarifas sobre bens de consumo). Pode-se dizer que o mercantilismo assume que o comércio internacional seja um jogo de soma zero: QUEM EXPORTA, GANHA QUEM IMPORTA, PERDE No contexto histórico, esse raciocínio faz com que a política comercial e a política monetária estejam interconectadas. A obtenção de superavit comerciais seria essencial para aumentar a base monetária, uma vez que ela estaria relacionada à quantidade de metais preciosos disponíveis no país. Por outro lado, a obtenção de deficit comerciais reduziria essa base. Tal pensamento tem claras limitações. Uma das primeiras foi apontada por David Hume, filósofo escocês do século XVIII. Em termos modernos, o pensamento de Hume pode ser traduzido da seguinte forma: BASE MONETÁRIA Refere-se ao volume de dinheiro criado pelo Banco Central - isto é, moeda (em papel ou metálica) e reservas bancárias em poder das entidades financeiras ou depositadas no Banco Central. Fonte: Wikipédia DAVID HUME David Hume (1711-1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Fonte: Wikipédia Diante de um aumento de suas exportações, o país exportador teria um excesso de base monetária, que seria traduzido num aumento do nível de preços de toda a economia (pois se diminui o preço relativo do metal precioso usado como moeda). Esse aumento do nível de preços acabaria por estimular as importações e desestimular as exportações, de modo que a prática de obtenção de superavit comerciais sistemáticos e crescentes não seria sustentável. Nesse sentido, pode-se dizer que Hume defendia o livre-comércio e que eram os fatores reais (e não a quantidade de meios de pagamento) que determinariam a riqueza de uma nação. Adam Smith foi um filósofo que reforçou as críticas de Hume. Para conhecer as suas ideias, assista ao vídeo a seguir. TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS E MODELO RICARDIANO A teoria das vantagens comparativas, que é a base da teoria neoclássica de comércio internacional, promoveu o que é chamado de modelo ricardiano. Por exemplo, imaginemos dois países em que os custos de produção de dois tipos de bens (em horas de trabalho) sejam dados da seguinte forma: Setor País A País B Bem A 10 horas 20 horas Bem B 4 horas 5 horas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal É fácil ver que o país A tem vantagem absoluta na produção do bem A e do bem B: ele precisa de menos horas para produzir qualquer um dos bens. Portanto, uma estratégia comercial baseada somente em vantagens absolutas sugeriria que os países A e B não deveriam fazer comércio um com o outro. Vamos supor agora que os países A e B disponham de 80 horas de trabalho, que são divididas igualmente entre a produção dos dois bens – ou seja, cada setor tem 40 horas de trabalho como insumo. Para saber quanto cada país vai produzir de cada bem, basta dividir 40 pelo número de horas necessário para cada um deles, dado anteriormente. Dessa forma, o equilíbrio de ambos em autarquia (países fechados, sem comércio) é: Setor País A País B Bem A 4 2 Bem B 10 8 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Partindo dessa situação, os países A e B resolvem fazer trocas comerciais. E a seguinte sequência de eventos ocorre: 1 País B entrega 6 unidades do bem B para o país A ao preço de 2 unidades do bem A. Como o país B importou o bem A, ele deixou de produzir duas unidades desse bem e foram liberadas 40 horas de produção, durante as quais o país B produziu mais 8 unidades do bem B. 2 3 Como o país A importou 6 unidades do bem B, ele deixou de produzir 5 unidades desse bem, liberando 20 horas de produção, durante as quais o país A produziu mais 2 unidades do bem A. Ao final, as trocas alterariam a estrutura de produção dos países conforme podemos observar a seguir: Setor País A País B Bem A 4 + 2 = 6 2 - 2 = 0 Bem B 10 - 5 = 5 8 + 8 = 16 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal COMENTÁRIO Nota-se um aumento da especialização da produção global. O país B deixa de produzir o bem A, passando a produzir somente o B. Por sua vez, o país A aumenta a produção do bem A e reduz a produção do bem B. O que ocorre com o consumo? Para entender o que ocorre com o consumo, basta somar à produção de cada país a quantidade de bens importada por ele. Tal processo é feito a seguir: Setor País A País B Bem A 6 - 2 = 4 0 + 2 = 2 Bem B 5 + 6 = 11 16 - 6 = 10 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal COMENTÁRIO Nota-se, portanto, que o comércio entre esses países possibilitou que ambos aumentassem seu nível de consumo, com mais unidades do bem B disponíveis. Nesse sentido, a troca comercial possibilitou uma melhora de Pareto em ambas as economias. O país A se concentrou na produção do bem A e o país B na produção do bem B. Seria possível explicar esse comportamento com base na tabela dos custos de produção de cada bem em cada país? Vejamos: País A A produção do bem A tem somente 2,5 vezes o custo da produção do bem B. PaísB A produção do bem A tem 4,0 vezes o custo da produção do bem B. Dizemos então que o país A tem vantagem comparativa na produção do bem A e o país B tem vantagem comparativa na produção do bem B. Portanto, sair da situação de autarquia para uma situação de livre-comércio, em que as trocas de bens são possíveis, fez com que aumentasse a quantidade de bens disponíveis para consumo em ambos os países. O aumento da quantidade de bens disponíveis para consumo faz com que aumente o bem-estar. VANTAGENS COMPARATIVAS E AS VANTAGENS ABSOLUTAS As vantagens comparativas, ao contrário das vantagens absolutas, levam em consideração os custos de oportunidade de produção das economias. Em outras palavras, leva-se em consideração o trade-off de produzir um ou outro bem na decisão de em quais mercados os recursos devem ser alocados. Enquanto a vantagem absoluta é a comparação do custo de produção de um bem entre diferentes países, a vantagem comparativa é a comparação do custo relativo de produção de um bem em relação a outro no mesmo país, para diferentes países. Vamos nos aprofundar nesse conceito. Se a Inglaterra pode produzir, com todos os seus recursos, 10 metros de tecido ou 5 garrafas de vinho, pode-se dizer que o custo da produção das 5 garrafas de vinho são os 10 metros de tecido. Se, na França, pode-se produzir 10 metros de tecido ou 50 garrafas de vinho, é como se as 50 garrafas de vinho tivessem o custo dos mesmos 10 metros de tecido que, na Inglaterra, representariam somente 5 garrafas. Ou seja, em termos globais seria mais vantajoso produzir vinhos na França e tecidos na Inglaterra. Nesse sentido, o comércio mundial tem o potencial de aumentar a capacidade global de produção de bens. Aumentando a capacidade de produção, aumenta-se também a disponibilidade de bens para consumo. Evidentemente, existe diferença entre o comércio oferecer a possibilidade de aumentar o bem-estar e o comércio efetivamente aumentar o bem-estar. Na prática, os equilíbrios competitivos são determinados por forças de mercado. A grande questão que fica, portanto, é em que circunstâncias esses ganhos potenciais do comércio global se traduzem em ganhos efetivos para as populações envolvidas. Em outras palavras, precisamos determinar se os equilíbrios de mercado realmente convergem para a situação na qual o livre-comércio aumenta o bem-estar global na linha do que a especialização dos produtores em suas vantagens comparativas sugeriria. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. IDENTIFIQUE A AFIRMAÇÃO QUE MELHOR EXPLICA AS POSSIBILIDADES DE GANHO DOS PAÍSES COM O COMÉRCIO INTERNACIONAL: Países com deficit na balança comercial estão necessariamente tendo perdas de bem-estar decorrentes do comércio. Países em livre-comércio nunca se especializarão na produção dos bens para os quais eles obtenham vantagens absolutas. Somente há ganho de comércio quando os países se especializam na produção de bens nos quais obtêm vantagem absoluta. A teoria das vantagens comparativas estabelece que países em livre-comércio se especializarão na produção dos bens para os quais obtêm vantagens comparativas. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. SOBRE O CUSTO DIÁRIO DE PRODUÇÃO DOS PAÍSES E DOS BENS INDICADOS A SEGUIR, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: FRANÇA PORTUGAL QUEIJO 5 HORAS 6 HORAS VINHO 5 HORAS 4 HORAS ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA TABELA UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL A França tem vantagem absoluta na produção dos dois bens. A França tem vantagem comparativa na produção de vinho. Portugal tem vantagem absoluta na produção de vinho. Não há ganhos de bem-estar possíveis derivados do comércio entre os dois países. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Identifique a afirmação que melhor explica as possibilidades de ganho dos países com o comércio internacional: A alternativa "D " está correta. Ao verificar as vantagens absolutas e comparativas, percebe-se que, num cenário de livre-comércio, existem ganhos de Pareto associados à especialização dos países na produção dos bens nos quais eles obtêm vantagens comparativas (ainda que sejam diferentes das vantagens absolutas). Por isso, o equilíbrio de mercado competitivo tende a especializar cada país nos setores em que eles têm vantagens comparativas. 2. Sobre o custo diário de produção dos países e dos bens indicados a seguir, marque a alternativa correta: França Portugal Queijo 5 horas 6 horas Vinho 5 horas 4 horas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal A alternativa "C " está correta. O tempo que um trabalhador português leva para produzir vinho é menor do que o tempo do trabalhador francês; pode-se dizer que Portugal tem vantagem comparativa na produção vinícola. MÓDULO 2 Aplicar o conceito de vantagens absolutas e comparativas para a determinação de um equilíbrio comercial FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO No módulo anterior, discutimos as bases de comércio internacional e dos conceitos de vantagens absolutas e comparativas. A ideia deste módulo é aprofundar a compreensão desses conceitos por meio de aplicações. Vimos que países podem ter ganhos comerciais pela especialização na produção dos bens nos quais tenha vantagem comparativa em relação aos demais. Contudo, resta determinar quais são os níveis de comércio, consumo e produção que são resultados de equilíbrio das economias de mercado. Fonte: vectorfusionart / Shutterstock Para fazer esse exercício, precisaremos construir modelos matemáticos para a produção dos nossos países. Nesses modelos, vamos considerar que a economia tenha um único fator de produção. Essa hipótese é relaxada em outros modelos de comércio internacional, mas, por ora, ela é bastante útil para a compreensão do fenômeno que estamos estudando. O único fator de produção da nossa economia é o trabalho. Desse modo, a capacidade produtiva de cada economia na produção de cada bem pode ser medida pela produtividade do trabalho. Voltemos ao nosso exemplo dos países A e B, cujos custos de produção dos bens A e B estão indicados a seguir: Setor País A País B Bem A 10 horas 20 horas Bem B 4 horas 5 horas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Note que os números apresentados são justamente o inverso da produtividade dos países na produção de cada um dos tipos de bem. Ou seja, se a produção, no país A, de uma unidade do bem A leva 10 horas e a do B leva 4 horas, a produtividade do bem A é menor do que a do B (a produtividade na produção do bem A é 40% da produtividade na produção do bem B). ATENÇÃO Além da hipótese sobre a estrutura de produtividades, é importante considerar nessa análise que as dotações de fatores de produção dos países são sempre limitadas. Nesse sentido, a quantidade total de trabalho disponível nos países A e B é finita. Na prática, essa hipótese é bastante razoável. Afinal, todos os países têm populações limitadas e a quantidade de horas disponíveis para trabalho é finita. De posse da tabela de produtividades e da quantidade de horas disponíveis para produção em cada país (digamos que sejam 80 horas em ambos), podemos construir a fronteira de possibilidades de produção (FPP) dessas economias. No nosso caso, a FPP é um gráfico de dois eixos, em que cada um representa a quantidade produzida de um bem. No país A, nossa FPP tem o formato do gráfico a seguir: A linha azul representa uma combinação de quantidades de produção dos bens A e B que consome todas as 80 horas de produção disponíveis no país. A construção dessa curva é bastante simples. Vejamos: Sabemos que a produção de cada unidade do bem A leva 10 horas. Logo, se a economia do país A não produzir nada do bem B, o máximo que conseguirá produzir do bem A é 8 unidades. Esse é o ponto (0, 8) do gráfico. Da mesma forma, temos que: Se o país A produzir somente o bem B, para o qual uma unidade produzida requer 4 horas. Sabemos que só será possível produzir 20 unidades. Esse é o ponto (20, 0) do gráfico. Como as tecnologias de produçãosão lineares, a FPP é uma reta que passa por esses dois pontos. Todos os pontos entre a origem (ponto (0, 0)) e a reta azul são combinações de produção do bem A e do bem B factíveis para a economia do país A. ATENÇÃO Contudo, os pontos abaixo do segmento de reta estão subutilizando a quantidade de horas disponíveis para produção. Ou seja, estão desperdiçando recursos. Para exercitar os conceitos, vamos construir também a fronteira de possibilidades de produção do país B. Como no caso do país A, temos 80 horas disponíveis para produção. Como a produtividade do bem A no país B é 1/20, o máximo que conseguiremos produzir do bem A, aplicando todas as horas de produção disponíveis na confecção dele, são quatro unidades. Já do bem B, que tem produtividade 1/5, podemos produzir até 16 unidades. A reta azul representa a combinação de quantidades de produção dos bens A e B que esgota a quantidade de horas de produção disponíveis no país B. ATENÇÃO É interessante notar que a inclinação da fronteira de possibilidades de produção é exatamente o custo de oportunidade do bem B em termos do bem A. Ou seja, quanto o aumento da produção do bem B em uma unidade reduz a quantidade que se pode produzir do bem A. Sempre que a fronteira de possibilidades de produção for uma linha reta, o custo de oportunidade da produção de um bem em detrimento do outro será constante. Sendo qjiqij a produção do bem ii no país jj, as nossas possibilidades de produção podem ser escritas segundo as inequações a seguir: 10qAA+4qAB⩽8010qAA+4qBA⩽80 20qBA+5qBB⩽8020qAB+5qBB⩽80 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal As linhas azuis dos dois gráficos, que são as fronteiras das nossas possibilidades de produção, podem ser expressas pelas duas equações a seguir: 10qAA+4qAB=8010qAA+4qBA=80 20qBA+5qBB=8020qAB+5qBB=80 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Para sair do universo das possibilidades de produção para uma discussão sobre os níveis de produção estabelecidos pelo mercado, é necessário incluir uma análise dos preços relativos desses bens. Fonte: Tendo / Shutterstock PREÇOS E EQUILÍBRIO Numa economia perfeitamente competitiva com somente um fator de produção, os salários de cada um dos setores serão exatamente o produto marginal do trabalho. Portanto, sendo pipi o preço do bem ii e sendo wijwji o salário do setor que produz o bem ii no país jj, sabemos que são válidas as igualdades expressas a seguir: wAA=pA10wAA=pA10 wAB=pB4wBA=pB4 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Sabemos que o país A se especializará na produção do bem A caso wAA>wABwAA>wBA. Da mesma forma, o país A se especializará na produção do bem B caso wAA<wABwAA<wBA. Se wAA=wABwAA=wBA, ambos os bens serão produzidos. Usando as identidades anteriores, sabemos que a economia do país A se especializará na produção do bem A caso pA10>pB4pA10>pB4. Ou seja, caso pApB>2,5pApB>2,5. Em outras palavras, a economia do país A se especializará no bem A caso o preço relativo do bem A seja superior ao diferencial de produtividades entre o bem A e o bem B. Alternativamente, pode-se dizer que a economia do país A se especializará na produção do bem A caso o custo de oportunidade da produção do bem A, em relação ao bem B, seja inferior ao preço relativo do bem A, em relação ao bem B. No vídeo a seguir, vamos reforçar esses conceitos. Vamos considerar inicialmente uma situação sem comércio. A economia precisa produzir ambos os bens. Logo, sem comércio precisamos ter wAA=wABwAA=wBA, para evitar especialização em apenas um setor. Consequentemente, os preços relativos serão reflexo exato do diferencial de produtividade entre os setores da atividade econômica. Repetindo a análise de salários para o país B, temos as igualdades a seguir: wBA=pA20wAB=pA20 wBB=pB5wBB=pB5 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Novamente, se wBA>wBBwAB>wBB, o país B se especializará na produção do bem A. Se wBA<wBBwAB<wBB, o país B se especializará na produção do bem B. Se wBA=wBBwAB=wBB, ambos os bens serão produzidos. Traduzindo essas relações em preços relativos, o país B se especializará na produção do bem A se pA20>pB5pA20>pB5, o que implicará pApB>4,0pApB>4,0. Para prosseguir com essa análise, construiremos uma curva de oferta relativa, que relaciona como a quantidade relativa de produção de cada um dos bens (a soma da produção do bem A nos dois países dividida pela soma da produção do B nos dois países) está associada ao preço relativo de ambos os bens (preço do bem A dividido pelo do B). A curva de oferta relativa deve ser positivamente inclinada. Para construí-la, vamos analisar cinco cenários de preço relativo, construídos a partir da análise realizada sobre a especialização de cada uma das economias. Veja a seguir: CENÁRIO 1 Caso pApB<2,5pApB<2,5, nenhum dos dois países produzirá o bem A, cuja oferta será zero. Assim, ambos os países ofertarão o bem B no máximo das suas capacidades produtivas. A oferta do bem A em relação ao B será zero. CENÁRIO 2 Caso pApB=2,5pApB=2,5, o país A produzirá tanto o bem A como o B. Portanto, a quantidade total disponível do bem A poderá variar de zero até 8 unidades, que é o máximo que o país A consegue produzir. O país B estará totalmente especializado na produção do bem B, de modo que ele fabricará 16 unidades. Ou seja, a oferta do bem A em relação ao B variará de zero a 816=0,5816=0,5. CENÁRIO 3 Caso 2,5<pApB<4,02,5<pApB<4,0, o país A se especializará totalmente na produção do bem A, mas o país B não produzirá nenhuma unidade de A. Então, a oferta do bem A em relação ao B será sempre 0,5. CENÁRIO 4 Se pApB=4,0pApB=4,0, o país A se especializará na produção do bem A e o país B poderá produzir os bens A e B. Nesse caso, a oferta do bem A em relação ao B pode ser de 0,5 a infinito. CENÁRIO 5 Se pApB>4,0pApB>4,0, não haverá produção do bem B em nenhum dos países; todos os recursos serão alocados para a produção do bem A. Logo, a oferta do bem A em relação ao B será infinita. A partir dessa análise, é possível construir uma curva para a oferta relativa (RS) do bem A em relação ao B na economia global. Na curva, é possível ver que não haveria nenhuma oferta do bem A caso seu preço relativo fosse inferior a 2,5. O equilíbrio de preços relativos e quantidades produzidas ocorre na interseção entre as curvas de oferta e demanda. Nesse caso, portanto, resta determinar uma curva de demanda relativa (RD) para definir em que ponto a economia global se equilibrará nessas condições. A curva de demanda relativa pode ser construída tomando por base o efeito substituição: Aumentos no preço relativo do bem A tendem a fazer com que os consumidores demandem mais unidades do bem B em relação ao bem A. Logo, a curva RD é negativamente inclinada. Ambas as curvas (RS e RD) estão expressas no gráfico a seguir. Para essa composição de curvas, percebe-se que o equilíbrio de mercado ocorre com um preço relativo de 2,5 e uma quantidade relativa produzida de cada bem por volta de 0,3. Nesse ponto, o país B está totalmente especializado na produção do bem B e o país A produz ambos os bens. Diante de um choque de demanda, nossa curva RD poderia se deslocar para RD’. Nesse caso, poderíamos obter o equilíbrio do gráfico a seguir. Percebe-se, agora, que o equilíbrio passa a ocorrer por volta do preço relativo 3, com a quantidade relativa de equilíbrio em 0,5. Nessa situação, o país A está totalmente especializado em produzir o bem A e o país B totalmente especializado na produção do bem B. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. SUPONHA QUE OS TRABALHADORES DA FRANÇA E DE PORTUGAL NECESSITEM, PARA A PRODUÇÃO DE UMA UNIDADE DE QUEIJO OU DE VINHO, DA QUANTIDADE DE HORAS INDICADAS A SEGUIR: FRANÇA PORTUGAL QUEIJO 5 HORAS 8 HORAS VINHO 5 HORAS 4 HORAS ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA TABELA UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL SABENDO QUE A DOTAÇÃO DE HORAS DE PRODUÇÃO DA FRANÇA E DE PORTUGAL É DE SOMENTE 80 HORAS, MARQUEA ALTERNATIVA CORRETA: Se o preço relativo do queijo (em relação ao vinho) for 0,75, a França vai se especializar na produção de queijos. Se o preço relativo do queijo (em relação ao vinho) for 0,80, Portugal vai se especializar na produção de queijos. Se o preço relativo do queijo (em relação ao vinho) for 0,40, Portugal vai produzir tanto queijos como vinhos. Se o preço relativo do vinho (em relação ao queijo) for 1,20, a França vai produzir tanto queijos como vinhos. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. SOBRE O CUSTO DIÁRIO DE PRODUÇÃO DE BENS DOS DOIS PAÍSES E OS BENS INDICADOS A SEGUIR, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: ESTADOS UNIDOS BRASIL CARROS 6 HORAS 16 HORAS MOTOS 2 HORAS 4 HORAS ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA TABELA UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL SABENDO QUE AMBOS OS PAÍSES DISPÕEM DE 96 HORAS DE PRODUÇÃO E QUE A DEMANDA RELATIVA É DADA PELA EQUAÇÃO A SEGUIR, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: PcarrosPmotos=2,4(Qcarros/Qmotos)PcarrosPmotos=2,4QcarrosQmotos ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA EQUAÇÃO UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL O equilíbrio ocorre no preço relativo (PcarrosPmotos)3,2PcarrosPmotos3,2, com quantidade relativa (QcarrosQmotos)QcarrosQmotos de 4545. O equilíbrio ocorre no preço relativo (PcarrosPmotos)3,6PcarrosPmotos3,6, com quantidade relativa (QcarrosQmotos)QcarrosQmotos de 3232. O equilíbrio ocorre no preço relativo (PcarrosPmotos)3,2PcarrosPmotos3,2, com quantidade relativa (QcarrosQmotos)QcarrosQmotos de 5454. O equilíbrio ocorre no preço relativo (PcarrosPmotos)3,6PcarrosPmotos3,6, com quantidade relativa (QcarrosQmotos)QcarrosQmotos de 2323. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Suponha que os trabalhadores da França e de Portugal necessitem, para a produção de uma unidade de queijo ou de vinho, da quantidade de horas indicadas a seguir: França Portugal Queijo 5 horas 8 horas Vinho 5 horas 4 horas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Sabendo que a dotação de horas de produção da França e de Portugal é de somente 80 horas, marque a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. Se o preço relativo do queijo for maior que a razão entre as horas dedicadas à produção de vinho (4, em Portugal) e à produção de queijo (8, em Portugal), o país vai se especializar na produção de queijo: é mais barato comprar vinho na França do que produzir em Portugal. Essa razão é igual a 48=0,548=0,5. Se o preço relativo é igual a 0,8, Portugal vai produzir queijo e, portanto, a alternativa B está correta. 2. Sobre o custo diário de produção de bens dos dois países e os bens indicados a seguir, marque a alternativa correta: Estados Unidos Brasil Carros 6 horas 16 horas Motos 2 horas 4 horas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Sabendo que ambos os países dispõem de 96 horas de produção e que a demanda relativa é dada pela equação a seguir, marque a alternativa correta: PcarrosPmotos=2,4(Qcarros/Qmotos)PcarrosPmotos=2,4QcarrosQmotos Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A alternativa "D " está correta. Calculando: wEUAcarro=pc6wcarroEUA=pc6, wBRcarro=pc16wcarroBR=pc16 wEUAmoto=pm2wmotoEUA=pm2, wBRmoto=pm4wmotoBR=pm4 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal E temos os seguintes critérios: wEUAcarro>wEUAmoto⇒pcpm>3wcarroEUA>wmotoEUA⇒pcpm>3 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Os EUA se especializam em carros (produzem 16 carros). wBRcarro>wBRmoto⇒pcpm>4wcarroBR>wmotoBR⇒pcpm>4 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Brasil se especializa em carros (produz 6 carros). A oferta relativa tem a seguinte forma: Se QcQm<1624=23QcQm<1624=23, a razão é pcpm=3pcpm=3. Se QcQm>23QcQm>23, a razão é pcpm=4pcpm=4. Se QcQm=23QcQm=23, então o preço relativo deve estar no intervalo entre 3 e 4. Em particular, se o preço relativo é igual a 3,6, devemos ter QcQm=23QcQm=23. Portanto, a alternativa correta é a letra D. MÓDULO 3 Descrever os equilíbrios de comércio no modelo ricardiano FRONTEIRAS DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO E CONSUMO No módulo anterior, definimos um equilíbrio global com comércio entre dois países. Neste módulo, vamos explorar as consequências econômicas desse equilíbrio, assim como desmistificar alguns dos principais equívocos do debate público sobre as vantagens comparativas e o comércio internacional. Fonte: Cq photo juy / Shutterstock Um dos principais ganhos de comércio é o aumento da capacidade de consumo dos países envolvidos. Nesse caso, o comércio faz com que as possibilidades de consumo estejam fora das fronteiras de possibilidades de produção dos países envolvidos. Voltando ao nosso caso dos países A e B, sabemos que o comércio pode levar o país A à especialização na produção do bem A e o país B a se especializar na produção do bem B. Ao calcular as possibilidades de consumo de ambos os países nesse cenário, temos uma situação parecida com a dos gráficos colocados a seguir. Ambos os gráficos mostram claramente como o comércio pode expandir as possibilidades de consumo. O país A, ao se especializar na produção do bem A, pode expandir suas possibilidades de consumo do bem B e o mesmo ocorre com o país B. Um dos pontos que comumente se levanta na discussão de comércio internacional é o diferencial de salário entre os países. As consequências distributivas do livre-comércio serão objeto de abordagem em outro momento, mas o que foi desenvolvido até aqui já permite construir uma base para essa discussão. Nos mercados competitivos cuja produção demanda somente um fator, o salário é a produtividade marginal do trabalho. Nesse sentido, como a especialização das economias causada pelo comércio internacional faz com que cada país se especialize na produção dos bens para os quais têm maior produtividade relativa, pode-se dizer que o comércio internacional tende a melhorar a situação dos trabalhadores, sejam de países importadores ou exportadores, independentemente do nível de salários da economia estrangeira. No arcabouço teórico que estamos explorando, os salários maiores ou menores são muito mais função de uma produtividade maior ou menor da economia do que um efeito do comércio internacional. GENERALIZAÇÃO PARA MAIS DE DOIS BENS Você deve ter percebido que toda a análise foi construída sobre economias que produzem somente dois bens. Contudo, no mundo real, essa hipótese é muito simplista. Ainda que esse arcabouço seja bastante útil para que possamos entender os principais fenômenos do comércio internacional, é importante generalizarmos a análise anterior para mostrar que os resultados obtidos também são válidos para economias que produzem mais de dois bens. Permaneceremos com dois países e somente um fator de produção em cada país. Contudo, em vez de cada país produzir somente dois bens, cada país produz NN bens. Tomaremos por ajiaij a quantidade de horas requeridas no país jj para a produção do bem ii (ajiaij é o inverso da produtividade). Sem perda de generalidade, ordenaremos os ii bens de modo a respeitar a desigualdade a seguir para todo ii. aAiaBi<aAi+1aBi+1aiAaiB<ai+1Aai+1B Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A seguir, fornecemos um exemplo com os requisitos de produção de quatro bens nos nossos dois países. Bem País A País B Razão (A/B) Bem 1 1 10 1/10 Bem 2 2 8 1/4 Bem 3 4 4 1 Bem 4 8 2 4 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Considerando que cada economia paga um salário fixo para o trabalho em todos os setores, temos o salário no país A (wAwA) e o salário no país B (wBwB). A especialização da produção entre os países A e B dependerá, nesse modelo, de em qual país a produção dos bens é mais barata. A produção do bem ii será mais barata no país A caso a desigualdade a seguir esteja satisfeita. wAaAi<wBaBiwAaiA<wBaiB Atenção! Para visualização completa da equaçãoutilize a rolagem horizontal Manipulando essa desigualdade, obtemos: aAiaBi<wAwBaiAaiB<wAwB Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Alternativamente, a produção do bem ii será mais barata no país B caso a desigualdade a seguir esteja satisfeita. aAiaBi>wAwBaiAaiB>wAwB Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Percebe-se, portanto, que a determinação de quais países produzirão quais tipos de bens depende de uma comparação da taxa de salários (wAwB)wAwB com os diferenciais de produtividade de cada setor em cada país (aBiaAi)aiBaiA. Como os valores de i estão indexados na fração aAiaBiaiAaiB, pode-se dizer que há um valor jj que representa o maior valor de ii para o qual vale a desigualdade a seguir: aAjaBj<wAwBajAajB<wAwB Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Tomando a razão de salários como dada, os bens de 1 a jj seriam produzidos no país A e os bens j+1j+1 a NN seriam produzidos no país B. Porém, a produção de bens distribuída por país depende da quantidade de mão de obra disponível em cada um deles. Como resolver esse problema? Para resolver, podemos ajustar a taxa de salários de modo a considerar os diferenciais de população nos dois países. Em outras palavras, pode-se construir um equilíbrio de mercado em que são respeitados a quantidade de mão de obra disponível em cada país e os incentivos à distribuição da produção dos bens entre os países. Nesse equilíbrio, teremos como resultado a razão de salários da nossa economia (e não precisaremos tomá-la por dada, como fizemos até agora). Fonte: Syda Productions / Shutterstock Como estamos falando de um equilíbrio do mercado de trabalho, que determina uma taxa de salários, precisamos de uma curva que represente a demanda por trabalho e outra que represente a oferta por trabalho. Afinal, determinar mais uma variável (taxa de salários) requer a inclusão de mais uma equação em nosso sistema (demanda por trabalho igual à oferta por trabalho). Oferta e demanda serão, como no caso anterior, curvas de oferta e demanda relativas. A oferta relativa por trabalho é razoavelmente simples de ser determinada. Supondo que a razão de salários não altere a oferta de trabalho nas duas economias, a quantidade de horas de trabalho disponíveis em cada país será, basicamente, uma função da sua população. Dessa forma, a curva de oferta relativa de trabalho (RS) é vertical, pois não depende dos salários. Resta-nos determinar a curva de demanda relativa por trabalho (RD). Ela será construída a partir de cenários que levam em conta a produtividade dos países na produção de cada um dos quatro tipos de bem. Vejamos: CENÁRIO 1 Se a razão de salários for superior a 4, não compensa produzir nenhum bem no país A. Logo, a quantidade relativa de mão de obra demandada é zero. CENÁRIO 2 Se a razão de salários for igual a 4, somente o bem 4 será produzido no país A. Contudo, ele também será produzido no país B. Desse modo, a quantidade de mão de obra demandada será equivalente à capacidade de absorção da produção do bem 4 em todo o mundo, menos a produção do bem 4 feita pelo país B. CENÁRIO 3 Se a razão de salários estiver estritamente entre 4 e 1, somente o país A produzirá o bem 4, e a quantidade de mão de obra demandada para essa produção será equivalente à capacidade de absorção da produção do bem 4 em todo o mundo. CENÁRIO 4 Se a razão de salários for 1, somente o país A produzirá o bem 4, mas o país A e o país B poderão produzir o bem 3. Novamente, a demanda por mão de obra no país A será a capacidade de absorção internacional da produção dos bens 3 e 4, menos a quantidade do bem 3 produzida pelo país B. CENÁRIO 5 Se a razão de salários estiver estritamente entre 1 e 1/414, o país A se especializará na produção dos bens 3 e 4. Nesse caso, sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses dois bens. CENÁRIO 6 Se a razão de salários for 1/414, o país A se especializará na produção dos bens 3 e 4, mas também poderá produzir o bem 2. Assim, a sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses três bens, menos a quantidade do bem 2 produzida pelo país B. CENÁRIO 7 Se a razão de salários estiver estritamente entre 1/414 e 1/10110, o país A se especializará na produção dos bens 2, 3 e 4. Portanto, a sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses três bens. CENÁRIO 8 Se a razão de salários for 1/10110, o país A se especializará na produção dos bens 2, 3 e 4, e poderá também produzir o bem 1. Então, a sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses quatro bens, menos a quantidade do bem 1 produzida pelo país B. CENÁRIO 9 Se a razão de salários for estritamente menor que 1/10110, o país A se especializará na produção de todos os bens. Nesse caso, sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses quatro bens. Portanto, a demanda relativa por mão de obra é decrescente na razão de salários: quanto mais a razão de salários diminui, mais a demanda por mão de obra aumenta. O resultado pode ser resumido no gráfico a seguir: Pelo resultado do gráfico, teríamos uma razão de salários entre as economias de 1,0, com o país A produzindo o bem 4 e o bem 3, e o país B produzindo os bens 1, 2 e 3. Para saber mais sobre a relação de custos e a comercialização de bens, assista ao vídeo a seguir. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. SUPONHA QUE OS TRABALHADORES DOS PAÍSES A E B NECESSITEM, PARA A PRODUÇÃO DE CINCO TIPOS DE BENS, DA QUANTIDADE DE HORAS INDICADA NA TABELA A SEGUIR. BEM PAÍS A PAÍS B BEM 1 2 9 BEM 2 4 6 BEM 3 3 3 BEM 4 10 2 BEM 5 4 3 ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA TABELA UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: Se a razão de salários entre os países A e B for 2, o país A produzirá somente os bens 1, 2 e 3. Se a razão de salários entre os países A e B for 1/212, o país A produzirá somente os bens 1 e 2. Se a razão de salários entre os países A e B for 1, o país A necessariamente será o único a produzir o bem 3. Se a razão de salários entre os países A e B for 0,9, o país A produzirá somente os bens 1, 2 e 3. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. SOBRE O MODELO RICARDIANO, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: Não é possível incorporar custos de transporte no modelo ricardiano. Os ganhos com comércio alteram a fronteira de possibilidades de produção dos países exportadores. O modelo ricardiano prevê que países com baixa produtividade também possam se beneficiar do comércio com outras nações. Somente países superavitários na balança comercial extraem ganhos de comércio. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Suponha que os trabalhadores dos países A e B necessitem, para a produção de cinco tipos de bens, da quantidade de horas indicada na tabela a seguir. Bem País A País B Bem 1 2 9 Bem 2 4 6 Bem 3 3 3 Bem 4 10 2 Bem 5 4 3 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Marque a alternativa correta: A alternativa "D " está correta. Ao discutir o modelo ricardiano com múltiplos bens, apresentamos as curvas RD e RS para o mercado de trabalho. Nesse processo, mostramos que a razão de salários é capaz de determinar quais bens serão produzidos por cada país. Com base nos dados fornecidos, podemos construir a seguinte tabela de produtividades: A B Razão A/B Bem 1 1/2 1/9 4,5 Bem 2 1/4 1/6 1,5 Bem 3 1/3 1/3 1,0 Bem 4 1/10 1/2 0,2 Bem 5 1/4 1/3 0,75 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Se a razão wAwBwAwB é igual a 0,9, como indicado na letra D, o país A produz os bens 1, 2 e 3 (razão A/B acima de 0,9); e o país B produz os bens 4 e 5 (razão A/B abaixo de 0,9). 2. Sobre o modelo ricardiano, marque a alternativa correta: A alternativa "C " estácorreta. Na discussão de vantagens comparativas e vantagens absolutas, mostrou-se que, pelo modelo ricardiano, as vantagens comparativas são o fator essencial para definir a alocação de recursos nas economias quando há comércio internacional. Dessa forma, países pobres também podem se beneficiar das trocas comerciais. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste tema, introduzimos as principais teorias do comércio internacional e traçamos um panorama histórico de sua evolução. Ao apresentarmos conceitos de vantagem comparativa e absoluta, pudemos perceber como países podem se beneficiar com o comércio internacional. Vimos também que, a partir do comércio internacional, economias alcançam um equilíbrio global com certos níveis de consumo e produção. Ao final, apresentamos as consequências desse equilíbrio global na economia e esclarecemos equívocos do debate público em relação ao comércio internacional. Assim, temos certeza que você poderá consolidar seus conhecimentos sobre o assunto. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2015. EXPLORE+ Para aprofundar os estudos sobre o modelo ricardiano, leia: · Os capítulos 2 e 3 do livro Economia internacional (2015), de Paul Krugman, Maurice Obstfeld e Marc Melitz. · O artigo, em inglês, Lecture Note 7: Ricardian Models of Trade (2018), de David Autor. DEFINIÇÃO Apresentação do modelo de fatores específicos de comércio internacional, das questões distributivas associadas ao comércio internacional e das relações entre essas questões e a economia política do comércio internacional. PROPÓSITO Debater as implicações distributivas de diferentes estruturas econômicas e comerciais. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o modelo de fatores específicos MÓDULO 2 Definir o emprego do modelo de fatores específicos na explicação das questões distributivas e de economia política do comércio internacional INTRODUÇÃO Neste tema, apontaremos as consequências distributivas do comércio internacional e analisaremos atentamente as teorias da economia política. Esse estudo é extremamente importante, já que alguns líderes ao redor do mundo adotam medidas econômicas que podem estimular ou frear este tipo de comércio em seus países. Fonte: MNBB Studio / Shutterstock PARA APROFUNDARMOS NOSSA DISCUSSÃO, ADICIONAREMOS NOVOS FATORES ÀS TEORIAS CLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, COMO OS CUSTOS DE MOBILIDADE E A ESPECIFICIDADE DE ATIVOS. APRESENTAREMOS, NO PRIMEIRO MÓDULO, O MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS. JÁ NO MÓDULO SEGUINTE, TRAREMOS AS APLICAÇÕES DESSE MODELO, ENTENDENDO SUAS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS. Com isso, traçaremos o panorama no qual o comércio internacional afeta a redistribuição de renda, identificando os atores, a depender da realidade de cada país, mais beneficiados e afetados nesse processo. MÓDULO 1 Identificar o modelo de fatores específicos APRESENTAÇÃO DO MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS Neste vídeo, analisaremos uma abordagem sobre as consequências distributivas do comércio internacional e o modelo de fatores específicos. OS DETALHES DO MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS Para ilustrarmos a abordagem do modelo de fatores específicos, imaginemos que estejam disponíveis para fabricação três fatores de produção em todo o mundo: capital, trabalho e terra. Os bens produzidos nessa economia são os tecidos e os alimentos. A produção de tecidos requer trabalho e capital; já a de alimentos, trabalho e terra. Nesse sentido, o trabalho é o fator de produção móvel entre setores, enquanto a terra e o capital constituem fatores específicos. Afinal, ambos só podem ser empregados na produção de bens individuais. ESSAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO PODEM SER TRADUZIDAS EM TERMOS DE FUNÇÕES DE PRODUÇÃO: QTQT APONTA A QUANTIDADE PRODUZIDA DE TECIDOS A PARTIR DA QUANTIDADE TANTO DE TRABALHO EMPREGADA NESTE SETOR (LT)(LT) QUANTO DE CAPITAL (K)(K). JÁ QAQA INDICA A DE ALIMENTOS A PARTIR DA QUANTIDADE DE TRABALHO UTILIZADA TANTO NESTE SETOR (LA)(LA) QUANTO NO DE TERRAS (S)(S). LL, POR SUA VEZ, SE TRATA DA MÃO DE OBRA TOTAL DISPONÍVEL. O conjunto de equações a seguir descreve a produção dos dois bens na nossa economia: QT=QT(K,LT)QT=QT(K,LT) QA=QA(S,LA)QA=QA(S,LA) L=LT+LAL=LT+LA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A principal questão que nosso modelo precisa responder é a seguinte: como a estrutura de produção da economia muda quando a mão de obra se desloca de um setor para outro? Para isso, precisamos relembrar algumas das propriedades básicas das funções de produção. Primeiramente, sabemos que as funções de produção são crescentes nos fatores de produção: ∂QT∂K>0,∂QT∂LT>0,∂QA∂S>0,∂QA∂LA>0.∂QT∂K>0,∂QT∂LT>0,∂QA∂S>0,∂QA∂LA>0. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em segundo lugar, podemos ver que a produtividade marginal dos insumos é decrescente: ∂2QT∂K2<0,∂2QT∂LT2<0,∂2QA∂S2<0,∂2QA∂LA2<0.∂2QT∂K2<0,∂2QT∂LT2<0,∂2QA∂S2<0,∂2QA∂LA2<0. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em terceiro, vemos que a produtividade marginal cruzada é positiva: ∂2QT∂K∂LT>0,∂2QA∂S∂LA>0.∂2QT∂K∂LT>0,∂2QA∂S∂LA>0. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Visualmente, a produção de tecidos e de alimentos pode ser representada por estes gráficos: Fonte: O autor Ambos nos permitem ver que o aumento na quantidade do insumo (mão de obra) gera um incremento na produção de tecidos. Contudo, quanto maior for o nível inicial de mão de obra, menor será a capacidade de novos aumentos dela para que o nível total de produção do bem possa ser elevado. PODENDO SER VISTO TANTO PELA PRODUTIVIDADE MARGINAL DECRESCENTE QUANTO PELA CONCAVIDADE DA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO, ESSE FENÔMENO RECEBE O NOME DE RENDIMENTOS DECRESCENTES DE ESCALA. Para entendermos como os aumentos na produção de um bem podem afetar a capacidade dela em outro, teremos de construir uma fronteira de possibilidades de produção. Com isso, será necessário atribuir formas funcionais específicas para cada uma das funções de produção e das restrições da nossa economia. Digamos que a economia tenha somente 10 trabalhadores a serem divididos entre os dois setores. Desse modo, a restrição geral de trabalho passa a ser representada pela equação a seguir: 10=LT+LA10=LT+LA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Supondo que a função de produção de ambos seja do tipo Cobb-Douglas, com coeficientes de produção igual a 0,50, obtemos as seguintes equações: QT=K0,5L0,5TQT=K0,5LT0,5 QA=S0,5L0,5AQA=S0,5LA0,5 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A fronteira de possibilidades de produção é uma equação que relaciona a quantidade produzida QTQT com a produzida QAQA, levando em consideração a restrição de recursos disponível na economia. Como sabemos que LT=10−LALT=10-LA, podemos substituir LTLT na função de produção QTQT, obtendo esta equação: QT=K0,5(10−LA)0,5QT=K0,5(10-LA)0,5 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Pela equação de produção de alimentos, sabemos que Q2A=SLAQA2=SLA e, portanto, LA=Q2ASLA=QA2S. Substituindo essa identidade na equação anterior, obtemos a seguinte equação: QT=K0,5(10−Q2AS)0,5QT=K0,5(10-QA2S)0,5 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Esta, portanto, é a equação da fronteira de possibilidades de produção de tecido e alimentos da nossa economia. Para K=4K=4 e S=2S=2, a fronteira está representada neste gráfico: Fonte: O autor Fonte: Travel mania / Shutterstock A fronteira de possibilidades de produção neste modelo é côncava. Com um único fator de produção, o custo de oportunidade da produção de um bem em termos de outro era constante, sendo a FPP, portanto, uma linha reta. Agora, porém, ele cresce conforme sua produção aumenta. O crescimento do custo de oportunidade de produção deriva dos rendimentos decrescentes à escala. Afinal, para aumentar a produção de um bem em uma unidade, é preciso elevaro seu fator de produção (no caso, trabalho) numa quantidade igual ao inverso da sua produtividade marginal. Como a produtividade marginal do trabalho é decrescente, o inverso da produtividade deve ser crescente. Nesse sentido, é necessário cada vez mais trabalho para aumentar a quantidade produzida do bem em uma unidade. Precisar de mais trabalho para aumentar a produção de um setor prejudica a do outro - em particular, as produtividades marginais do trabalho das formas funcionais especificadas no nosso exemplo. Elas estão representadas nas equações a seguir: ∂QT∂LT=L−0,5T∂QT∂LT=LT-0,5 ∂QA∂LA=0,5√2(L−0,5A)∂QA∂LA=0,52(LA-0,5) Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Após algumas manipulações, a razão entre essas produtividades marginais pode ser expressa segundo a equação descrita: ∂QT∂LT∂QA∂LA=QA(10−Q2A2)0,5∂QT∂LT∂QA∂LA=QA(10-QA22)0,5 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Vale destacar que esse valor é exatamente o oposto da inclinação da nossa fronteira de possibilidades de produção indicada a seguir: ∂QT∂QA=−QA(10−Q2A2)0,5∂QT∂QA=-QA(10-QA22)0,5 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Feita a discussão sobre a estrutura produtiva da economia e a fronteira de possibilidades de produção, resta saber como preços, salários e alocação de mão de obra são determinados por este modelo. ATENÇÃO A primeira suposição importante para determiná-los é a de que os mercados são todos competitivos. Nesse sentido, o salário pago pelas economias se trata de uma função do produto marginal do trabalho de cada setor e do preço de cada produto produzido. Como a mão de obra pode se deslocar livremente entre os setores, o salário de cada um deles deve ser o mesmo. Afinal, qualquer diferencial entre os salários automaticamente direcionaria todo o contingente de trabalhadores para o setor que oferecesse melhores rendimentos. Esse movimento já seria o suficiente para fazer com que se igualasse o salário dos setores. Apesar dessa igualdade, tanto o preço das mercadorias quanto a produtividade marginal do trabalho podem diferir na produção de cada um dos dois tipos de bem. Consequentemente, são válidas as equações indicadas a seguir em que ww é o nível de salário; PiPi, o preço do produto; ii e PMTiPMTi, a produtividade marginal do trabalho no setor ii. PMTAPA=wPMTAPA=w PMTTPT=wPMTTPT=w Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Tomando os níveis de preço como dados, a relação que tínhamos estabelecido entre o nível de trabalho em cada setor e a sua produtividade marginal do trabalho se traduz, naturalmente, em uma entre o nível de trabalho alocado em cada setor e o produto entre a produtividade marginal do trabalho e o nível de preços do bem produzido. As duas equações acima estão verificadas na equação a seguir: PMTAPA=PMTTPTPMTAPA=PMTTPT Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Usando o nosso exemplo, a equação anterior equivale à próxima equação. Como sabemos que 10=LT+LA10=LT+LA, ela pode ser facilmente resolvida: PTL−0,5T=PT0,5√2(L−0,5A)PTLT-0,5=PT0,52(LA-0,5) Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Vale destacar, contudo, que o ponto de solução do nosso problema é aquele em que vale a identidade colocada a seguir: −PMTTPMTA=−PAPT-PMTTPMTA=-PAPT Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Como discutimos há pouco, o que existe no lado esquerdo da equação anterior é a inclinação da fronteira de possibilidades de produção da nossa economia. Portanto, graficamente se sabe que o ponto de solução que determina o equilíbrio de mercado é aquele no qual a derivada da fronteira de possibilidades de produção indica justamente a razão de preços relativos entre os bens representados. NO NOSSO EXEMPLO, TEMOS, COM UM PREÇO RELATIVO DE 0,71, UMA PRODUÇÃO DE 2,00 UNIDADES DE ALIMENTOS E 5,66 DE TECIDOS. O PONTO DE EQUILÍBRIO ESTÁ REPRESENTADO NO GRÁFICO A SEGUIR: ELE É A INTERSECÇÃO ENTRE A RETA QUE TEM POR INCLINAÇÃO O OPOSTO DO PREÇO RELATIVO (-0,71), TANGENCIANDO, AO MESMO TEMPO, A FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO. Fonte: Travel mania / Shutterstock A solução do modelo indica que as alterações de preço proporcionais ocorridas nos dois bens não alteram o equilíbrio de mercado. Por exemplo, uma taxa de inflação (aumento de preços) que incida de forma homogênea sobre os diferentes produtos não deveria causar nenhum tipo de mudança na alocação de recursos entre os setores da atividade econômica. Evidentemente, mudanças em preços relativos terão consequência na alocação de recursos e na quantidade de trabalhadores em cada setor. No nosso caso, se ocorre um aumento do preço relativo do bem A para 1,00, as quantidades produzidas são afetadas. Se antes o equilíbrio se dava sobre a linha vermelha, agora ele ocorre sobre a verde, o que implica um aumento da quantidade produzida de alimentos e uma diminuição na de tecidos. Fonte: Travel mania / Shutterstock A produção de alimentos sai de 2,00 para 2,56, enquanto a de tecidos cai de 5,66 para 5,18. Como é esperado, os aumentos no preço relativo de alimentos tendem a deslocar recursos da economia, retirando os recursos da produção de tecidos e aumentando os disponíveis para a de alimentos. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. IDENTIFIQUE A AFIRMAÇÃO QUE RETRATA DA MELHOR FORMA AS LIMITAÇÕES DO MODELO RICARDIANO. As vantagens comparativas não são capazes de explicar o comércio entre os países. O modelo ricardiano é ideal para o entendimento das questões distributivas do comércio, enquanto o de fatores específicos se mostra o mais adequado para a compreensão do nível de comércio entre os países. A ausência de custos de ajustamento e fatores específicos no modelo ricardiano impede a compreensão dos efeitos do comércio sobre a remuneração dos diferentes insumos produtivos. Enquanto as vantagens comparativas explicam o padrão de comércio entre países, as absolutas determinam os efeitos distributivos dele em cada país. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. UM PAÍS PRODUTOR DE QUEIJO (Q) E VINHO (V) TEM SUAS FUNÇÕES DE PRODUÇÃO INDICADAS A SEGUIR: QV=K13L23VQV=K13LV23 QQ=S13L23QQQ=S13LQ23 CONSIDERANDO K=8, S=8 E A DOTAÇÃO TOTAL DE TRABALHO NA ECONOMIA IGUAL A 81, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. A fronteira de possibilidades de produção dessa economia é dada por: 2[10−QQ32√8]232[10-QQ328]23. A fronteira de possibilidades de produção dessa economia é dada por: 4[10−QQ32√8]234[10-QQ328]23. A fronteira de possibilidades de produção desta economia é dada por: 2[8−QQ32√10]232[8-QQ3210]23. A fronteira de possibilidades de produção desta economia é dada por: 4[8−QQ32√10]234[8-QQ3210]23. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Identifique a afirmação que retrata da melhor forma as limitações do modelo ricardiano. A alternativa "C " está correta. O modelo ricardiano não considera custos de ajustamento ou fatores específicos. Dessa forma, ele não permite a realização de uma análise do impacto do comércio sobre a distribuição de renda. 2. Um país produtor de queijo (Q) e vinho (V) tem suas funções de produção indicadas a seguir: QV=K13L23VQV=K13LV23 QQ=S13L23QQQ=S13LQ23 Considerando K=8, S=8 e a dotação total de trabalho na economia igual a 81, marque a alternativa correta. A alternativa "A " está correta. Para a solução deste exercício, basta construir a fronteira de possibilidades de produção obtendo QVQV como função exclusiva e QQQQ, como derivado. MÓDULO 2 Definir o emprego do modelo de fatores específicos na explicação das questões distributivas e de economia política do comércio internacional COMÉRCIO INTERNACIONAL NO MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS Até agora, discutimos como se constrói um arcabouço analítico que nos permita determinar todo o lado da oferta de uma economia que esteja sob o modelo de fatores específicos. Neste módulo, debateremos de que forma se pode aplicar esse ferramentalpara entender como uma economia sujeita ao modelo de fatores específicos se comportaria na realidade do comércio internacional. Fonte: Travel mania / Shutterstock Para que a possibilidade de comércio internacional tenha repercussões concretas sobre a economia doméstica, é essencial que ele consiga afetar os preços relativos aos quais ela está sujeita. CONSIDEREMOS, PORTANTO, QUE OS PREÇOS RELATIVOS DA NOSSA ECONOMIA TENHAM SIDO DETERMINADOS, NA SITUAÇÃO DE AUTARQUIA, POR UM EQUILÍBRIO ENTRE AS CURVAS DE OFERTA E DEMANDA RELATIVA PARA O PAÍS DOMÉSTICO. Tais curvas podem ser representadas graficamente na figura a seguir. Percebe-se que o equilíbrio entre elas ocorre quando a quantidade relativa entre os dois bens é 13,47 e o preço relativo entre eles, 59,44. Fonte: O autor Ao incluir o mundo nas nossas análises, o gráfico anterior, como está indicado a seguir, assume outra forma: Fonte: O autor A comparação entre os dois gráficos mostra como o equilíbrio com o comércio internacional possui um nível de preço relativo bem maior e uma quantidade relativa de equilíbrio só levemente superior àquela que vigorava no mercado doméstico antes da abertura. Consequentemente, pela análise feita no final do módulo anterior, verifica-se que o aumento dos preços relativos tenderá a deslocar a produção da economia doméstica rumo a uma que seja mais concentrada nos produtos com o maior valor agregado. GANHADORES E PERDEDORES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL Fonte: Travel mania / Shutterstock Agora resta a pergunta crucial: quem são os ganhadores e os perdedores com uma abertura comercial? Para respondermos a isso, retornaremos ao exemplo do módulo anterior sobre a produção de tecidos (T) e alimentos (A): QT=K0,5L0,5TQT=K0,5LT0,5 QA=S0,5L0,5AQA=S0,5LA0,5 10=LT+LA10=LT+LA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Também voltaremos à identidade, expressa na equação a seguir, apontando que o salário deve ser igual nos dois setores: PTPMTT=PAPMTAPTPMTT=PAPMTA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Considerando o preço do tecido como 2 e o do alimento como 4, a solução dessa identidade está graficamente representada a seguir. O equilíbrio ocorre com uma quantidade de trabalho no setor de tecidos de 3,33 e com um salário de 1,095. Suponhamos que o preço do tecido suba de 2 para 4. Neste caso, a solução do equilíbrio deixa de ser o encontro da linha azul com a vermelha para ser o das linhas vermelha e verde. NO NOVO EQUILÍBRIO, A QUANTIDADE DE TRABALHO ALOCADA PARA A PRODUÇÃO DE TECIDOS PASSA PARA 6,66. ALÉM DISSO, O SALÁRIO AUMENTA DE 1,095 PARA 1,549. PORTANTO, DE UM EQUILÍBRIO PARA OUTRO, OS SALÁRIOS FORAM ELEVADOS EM 41,5%. ATENÇÃO Vale destacar, contudo, que essa elevação de salários é nominal. Para o cálculo dos ganhos reais, precisamos comparar a evolução nominal deles com a dos preços da economia. Na comparação com o preço dos alimentos, os trabalhadores estão em uma melhor situação, pois o seu poder de compra de alimentos aumentou 41,5%. No entanto, quando comparamos os ganhos salariais com a evolução dos preços dos tecidos, encontramos uma situação diferente: como os preços de tecido dobraram, os trabalhadores tiveram uma perda real de 29% no poder de compra desse bem. ESSE CONJUNTO DE EFEITOS INDICA QUE O IMPACTO DA ALTERAÇÃO DE PREÇOS SOBRE O BEM-ESTAR DOS TRABALHADORES É AMBÍGUO, DEPENDENDO, DESSE MODO, DE SUA CESTA DE CONSUMO. SE ELA TIVER MAIS TECIDOS QUE ALIMENTOS, É PROVÁVEL QUE A MUDANÇA DE PREÇOS RELATIVOS OS DEIXE MAIS POBRES, JÁ QUE ELES TERÃO UMA CAPACIDADE MENOR DE ADQUIRIR OS BENS QUE COMPÕEM A SUA CESTA. No entanto, se ela contar com mais alimentos que tecidos, eles certamente estarão em condições melhores após o choque. A remuneração dos demais fatores (capital e terra ou r e b) também segue a produtividade marginal. Podemos escrevê-las na forma de equações: r=∂QT∂KPT e b=∂QA∂SPAr=∂QT∂KPT e b=∂QA∂SPA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal No nosso exemplo, são válidas as equações a seguir: ∂QT∂K=0,25PMTT e ∂QA∂S=0,25PMTA∂QT∂K=0,25PMTT e ∂QA∂S=0,25PMTA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Logo, percebe-se que a redução na produtividade marginal do trabalho no setor — que teve um aumento de preço relativo causado pelo incremento da quantidade de trabalho deslocada para ele — aumenta o produto marginal dos fatores específicos. Como resultado, o fator específico que teve seu preço elevado tem um ganho mais que proporcional em relação ao aumento do preço do bem final. Como conclusão, vemos que não somente o valor do produto marginal aumenta, mas também o da produtividade marginal. Esse aumento nominal também se traduz em uma elevação em termos reais independentemente da base de comparação utilizada. Se compararmos com o preço do bem que teve seu preço inalterado, ele será claramente um aumento real da mesma magnitude. Caso façamos isso com o que teve seu preço elevado, o aumento real será a medida exata do aumento do produto marginal do fator específico. Da mesma forma, o aumento na produtividade marginal do trabalho no setor que manteve seu preço constante – causado pela diminuição da quantidade de trabalho alocada nele – diminui o produto marginal dos fatores específicos. Fonte: Jamesteohart / Shutterstock Consequentemente, o fator específico do bem cujo preço ficou estável tem uma perda nominal de valor, pois o seu produto marginal diminuiu. Essa perda se traduz em perda real mesmo quando é feita a comparação entre o rendimento deste fator e o do bem que tal fator produz. Afinal, o preço do bem final ficou inalterado, enquanto o rendimento nominal do fator de produção caiu. Se a base de comparação for a do produto que teve seu preço final majorado, a perda em termos reais ficará ainda mais intensa. Genericamente, podemos usar a expressão empregada por Krugman e demais autores (2015): “o comércio beneficia o fator específico para o setor de exportação de cada país, mas prejudica o fator específico para os setores que concorrem com a importação, com efeitos ambíguos sobre os fatores móveis.”. Em uma política econômica na qual há ganhadores e perdedores, é difícil defender, de forma inequívoca, se as políticas melhoram ou pioram o bem-estar. Afinal, para isso, seria necessário estabelecer funções de utilidade agregadas tipicamente controversas. ANÁLISE DE EXCEDENTE Contudo, ainda podemos analisar o problema de mensuração dos efeitos do comércio sobre o bem-estar. Para isso, somaremos os ganhos e as perdas de excedente econômico dos diferentes grupos envolvidos no processo. O objetivo dessa soma não é comparar ganhos de um e perdas de outros, e sim verificar a existência de um espaço de trocas capaz de beneficiar todos os envolvidos simultaneamente. Em outras palavras, caso a soma de ganhos e perdas seja positiva, isso significa que existe a possibilidade de os beneficiados pela política comercial transferirem parte de seus ganhos aos prejudicados. Por meio dessa transferência, caso o excedente agregado seja positivo, será possível fazer com que aqueles que seriam prejudicados pela política não piorem (ou ganhem) e, ao mesmo tempo, que os beneficiados por ela melhorem a sua situação. EM OUTRAS PALAVRAS, A SOMA DOS EXCEDENTES INDICA SE EXISTE ALGUM TIPO DE POLÍTICA COMPENSATÓRIA QUE PODERIA SER DESENHADA A FIM DE QUE A POLÍTICA COMERCIAL CAUSASSE UMA MELHORA DE PARETO NA SOCIEDADE. PARA FAZER ESSA ANÁLISE, DEVEMOS INCLUIR UM NOVO CONCEITO EM NOSSO FERRAMENTAL ECONÔMICO: A RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA. Em uma economia fechada, tanto a quantidade produzida quanto a consumida de cada bem deveriam ser iguais, por definição, em todos os instantes do tempo. A demanda por tecidos (DT)(DT) precisa ser a mesma da produção deles (QT)(QT), enquanto a demanda por alimentos (DA)(DA) deve ser igual à sua produção (QA)(QA). Contudo, na economia aberta, é possível que essas quantidades sejam diferentes. Afinal, uma economia pode exportar ou importar bens. Vale ressaltar,no entanto, que o valor gasto com o consumo de bens por um país não pode superar o obtido por ele com a sua produção. Neste caso, vale a seguinte restrição orçamentária: QTPT+QAPA=DTPT+DAPAQTPT+QAPA=DTPT+DAPA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em termos de preços relativos, a equação acima pode ser reescrita na forma desta equação: DT=QT+(QA−DA)PAPTDT=QT+(QA-DA)PAPT Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A equação anterior nos permite inferir que a importação de tecidos da economia está limitada pelo ganho com a exportação de alimentos, controlando o preço relativo entre um bem e outro. Notemos que, na restrição orçamentária, QA=DAQA=DA implica DT=QTDT=QT. Além disso, observemos que a inclinação de DADA, na restrição orçamentária, é −PAPT-PAPT. Essa inclinação, por sua vez, é a da reta tangente à fronteira de possibilidades produtivas que indica o nível de produção de cada bem da economia. Voltemos à nossa fronteira de possibilidades de produção: Fonte: O autor Recapitulemos: o preço de equilíbrio da fronteira de possibilidades de produção acima é igual a 1,00. Na ausência de comércio, o consumo da nossa economia está limitado aos pontos da linha azul da fronteira de possibilidades de produção. Agora podemos dizer que a reta verde, que tangencia a fronteira, é a nossa restrição orçamentária. Com um comércio internacional, todos os pontos dessa reta são, considerando o nível de produção de bens dado pela intersecção entre a curva azul (fronteira de possibilidades de produção) e a reta verde, viáveis para consumo do nosso país. ATENÇÃO Podemos dizer, desse modo, que o comércio internacional abre a possibilidade de que o país atinja níveis de consumo que, em autarquia, seriam inviáveis. É importante observar especialmente que o aumento do consumo ocorre nos dois bens. Consequentemente, é possível, com a distribuição dos ganhos de comércio, fazer com que todos ganhem nessa economia. Porém, entre a possibilidade de todos ganharem com as transações comerciais e esses ganhos se traduzirem em uma real política compensatória, existe uma enorme distância. Neste vídeo, analisaremos uma abordagem sobre a economia política do comércio internacional. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. SOBRE O MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. A abertura para o comércio internacional que altera o preço relativo dos bens tende a inequivocamente favorecer o rendimento dos fatores móveis. A abertura para o comércio internacional que altera o preço relativo dos bens tende a inequivocamente favorecer o rendimento dos fatores específicos dos setores exportadores. A abertura para o comércio internacional gera efeitos sobre a economia, ainda que ela não altere os preços relativos dos bens. A abertura para o comércio internacional permite ao país consumir mais do que a sua restrição orçamentária estabelece. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. UM PAÍS PRODUTOR DE QUEIJO (Q) E VINHO (V) POSSUI AS SEGUINTES FUNÇÕES DE PRODUÇÃO: QV=K13L23VQV=K13LV23 QQ=S13L23QQQ=S13LQ23 CONSIDEREMOS K=8, S=8 E A DOTAÇÃO TOTAL DE TRABALHO IGUAL A 90. ANTES DA ABERTURA COMERCIAL, OS PREÇOS DO VINHO E DO QUEIJO ERAM 3. APÓS ESSA ABERTURA, O DO VINHO PASSOU A SER 6, ENQUANTO O DO QUEIJO SE MANTEVE. MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: O país reduzirá a produção de queijo de 45 para 15. O retorno do capital mais do que dobrou com a abertura comercial. O retorno da terra caiu mais de 80%. O país aumentará a quantidade de trabalho alocada na produção de vinho de 45 para 75. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Sobre o modelo de fatores específicos, marque a alternativa correta. A alternativa "B " está correta. O comércio internacional favorece os setores exportadores. Esse efeito se deve à mudança de preços relativos, que se tornam mais favoráveis aos exportadores. 2. Um país produtor de queijo (Q) e vinho (V) possui as seguintes funções de produção: QV=K13L23VQV=K13LV23 QQ=S13L23QQQ=S13LQ23 Consideremos K=8, S=8 e a dotação total de trabalho igual a 90. Antes da abertura comercial, os preços do vinho e do queijo eram 3. Após essa abertura, o do vinho passou a ser 6, enquanto o do queijo se manteve. Marque a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. No cálculo dos efeitos distributivos da política comercial, mostramos como se pode computar o retorno de cada um dos fatores de produção da economia (sempre o produto marginal multiplicado pelo preço da mercadoria). Para a solução deste exercício, basta reproduzir tal análise. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O comércio internacional é uma prática adotada por diversos países. Apesar de suas consequências benéficas, como maior integração e ganhos produtivos, o aprofundamento dessa prática pode gerar consequências distributivas que afetem os cidadãos, as empresas e os governos em todo o mundo. Tendo isso em vista, apresentamos neste tema o modelo de fatores específicos. A princípio, iniciamos uma discussão sobre os custos de mobilidade e a especificidade dos ativos. Com isso, conseguimos perceber as consequências redistributivas e seus impactos sobre os agentes. Levando em conta as consequências do comércio internacional, pontuamos, em seguida, que ele pode ser benéfico para alguns agentes e prejudicial para outros. Essa dualidade é capaz de suscitar o surgimento de barreiras tarifárias e outras medidas protecionistas entre vários países. Com este tema, esperamos que você tenha entendido a estreita relação entre a economia política, o comércio internacional e as consequências distributivas que afetam tal relação. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil , 2015. EXPLORE+ O artigo a seguir lhe ajudará a compreender os tópicos abordados neste tema: MUNDELL, R. A. International trade and factor mobility. In: American economic review. n. 47. 1957. DEFINIÇÃO Noções de economias de escala, comércio internacional e distribuição interna das indústrias. PROPÓSITO Compreender como diferentes estruturas de mercado podem impactar o comércio internacional. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir as economias de escala no comércio internacional MÓDULO 2 Descrever como diferentes arranjos de mercado podem afetar os resultados de comércio INTRODUÇÃO Fonte: Shutterstock | Por: Travel mania. Ao longo deste tema, vamos apresentar o conceito de economias de escala e compreender como elas podem influenciar e moldar o comércio internacional. Além disso, ampliaremos nosso estudo para além da relação entre os países, observando como as divisas de estados dentro de uma federação também podem ser afetadas. No segundo módulo, abordaremos as economias internas de escala, buscando entender a concentração industrial e aprofundar os conceitos de comércio internacional a partir da perspectiva intraindustrial. MÓDULO 1 Definir as economias de escala no comércio internacional ECONOMIAS DE ESCALA EM COMÉRCIO INTERNACIONAL Os modelos mais comuns em comércio internacional são desenvolvidos a partir de vantagens comparativas ou de recursos disponíveis nas economias que transacionam bens entre si. Há outro elemento crucial para entendermos a distribuição do comércio entre os países: são as economias de escala. As economias de escala na produção das firmas ocorrem quando um aumento nos fatores da sua função de produção gera elevações mais do que proporcionais ao total produzido. SAIBA MAIS No caso do modelo ricardiano, por exemplo, ao dobrar a quantidade de trabalho para a produção de um bem, dobra-se a quantidade produzida do bem em questão. Isso é a ausência de economias de escala, ou o que também poderíamos chamar de retornos constantes à escala. Agora, vamos nos aprofundar no caso em que dobrar a quantidade de trabalho para a produção de determinado bem pode mais do que dobrar sua quantidade produzida. Tal aprofundamento é importante, pois a simples presença de economiasde escala é um fator favorável à especialização dos países. Suponhamos, por exemplo, que nossa economia seja constituída dos países A e B, produzindo os bens 1 e 2. Os países produzem ambos os bens, com 10 unidades de trabalho em cada país produzindo 10 unidades de cada bem. Agora, suponhamos que haja economias de escala na produção dos bens 1 e 2 e que 15 unidades de trabalho sejam suficientes para a produção de 20 unidades do bem 1 ou do bem 2. Nesse caso, podemos observar que: A especialização nos permitiria atingir o mesmo nível de produção mundial economizando 25% da quantidade total de mão de obra que estava alocada para a produção de cada produto no mundo. Se antes tínhamos 20 unidades de trabalho em cada país, 10 alocadas na produção de cada bem, agora temos somente 15 unidades de trabalho em cada país, expandindo a capacidade produtiva global. Evidentemente, o comércio é indispensável para que as necessidades dos consumidores de ambos os países sejam satisfeitas: cada país especializa-se na produção de um bem, mas o comércio permite que ambos consumam os dois bens. Apesar da possibilidade de o comércio ser benéfico, é preciso saber se os equilíbrios de mercado derivados das economias de escala também sustentam os benefícios que discutimos. Para isso, precisaremos definir o tipo de economias de escala de que vamos tratar. São elas: ECONOMIAS EXTERNAS DE ESCALA As economias externas de escala ocorrem quando o custo de produção depende do tamanho do setor e não do tamanho das empresas desse setor individualmente. E também quando há fatores associados à expansão de um setor que reduzem os custos de todas as firmas envolvidas. ECONOMIAS INTERNAS DE ESCALA Já as economias internas de escala ocorrem quando o custo de produção depende do tamanho de cada empresa. Nesse caso, a necessidade de emprego dos fatores de produção é decrescente na quantidade produzida. É o nível de produção da firma, e não do setor, que importa para a determinação dos custos produtivos. FATORES ASSOCIADOS À EXPANSÃO DE UM SETOR Por exemplo, a maior disponibilidade de profissionais treinados, de fornecedores especializados, de maquinário e serviços de manutenção industrial e a concentração do conhecimento industrial são fenômenos típicos de indústrias grandes que reduzem o custo de todas as firmas que participam do mercado, independentemente do seu tamanho. EXEMPLO Um clássico exemplo das economias externas de escala é a região do Vale do Silício, na Califórnia. A concentração geográfica empresarial nessa localidade proporcionou benefícios que foram aproveitados por todas as empresas ali presentes. Essa distinção é importante para discutirmos a interdependência entre a estrutura industrial e os efeitos do comércio. Economias externas de escala Setores com economias externas de escala podem ter concorrência ao permitir a existência de muitas empresas de escala pequena, que podem se aglomerar para constituir um setor grande. Economias internas de escala t Já setores com economias internas de escala tendem a gerar concentração, dificultando a concorrência e fazendo com que a economia caia numa situação de concorrência imperfeita. Para analisar os efeitos do comércio, vamos focar no estudo das economias externas de escala. Suponhamos que haja dois países em situação de autarquia, país A e país B, e que ambos produzam o bem 1, sujeito a economias externas de escala. Esses países são muito distintos em tamanho, de modo que a autarquia do país B implica um mercado para o bem 1 muito maior do que a autarquia do país A. Consequentemente, a abertura comercial tenderá a fazer com que a produção do bem 1 seja dominada pelo país B, com a supressão completa da indústria do bem 1 do país A. Por outro lado, o preço do bem 1 diminuirá em todas as localidades. Aqui vale uma comparação entre os modelos com economias de escala e os modelos tradicionais de comércio, baseados em vantagens comparativas ou em dotações de fatores. Nos modelos tradicionais, a abertura comercial tipicamente promovia algum tipo de convergência de preços. Se o preço do bem A é maior em um país do que em outro, a abertura comercial tenderia a fazer com que houvesse uma equalização do preço desse bem em ambas as economias e ocorreria num ponto entre o preço do bem A no país 1 e seu preço no país 2. Se, antes do comércio, o preço do bem A era menor no país 1, a abertura comercial faz com que esse preço suba. Logo, nos modelos tradicionais, o preço dos bens sempre subiria para algum dos parceiros comerciais. Já no modelo baseado em economias de escala, abertura comercial fez com que o preço do bem comercializado diminuísse tanto na economia doméstica como na estrangeira. Tal resultado é intuitivo, uma vez que entendemos a essência das economias de escala: elas convertem especialização em redução de custos. Note a marcante diferença de abordagem entre os dois tipos de modelo: Compreender os efeitos do comércio internacional passa pelo entendimento dos efeitos de uma indústria ser maior ou menor antes do evento de liberalização do comércio. As vantagens comparativas certamente explicam parte deste fenômeno, na medida em que algumas indústrias podem ter mais sucesso em alguns lugares do que em outros, mas certamente também existe um componente histórico na determinação de quais indústrias são maiores ou menores antes da abertura comercial. Esse fator histórico sugere a existência de um componente idiossincrático na criação dos grandes polos industriais. Nosso exemplo anterior funciona neste caso: Michael Vi/shutterstock Fonte: Shutterstock | Por: Michael Vi. A famosa garagem onde a empresa Hewlett-Packard (HP) foi fundada. Transformada em museu, representa um marco histórico da Califórnia. A própria existência do Vale do Silício dependeu, em grande parte, da decisão dos fundadores da HP de estabelecer a sua empresa naquela localidade – dando início ao polo tecnológico que se constituiria na região muitos anos depois. É interessante perceber que, muitas vezes, a dependência histórica faz também com que as indústrias não estejam nos locais mais apropriados. Ainda assim, as economias externas de escala podem dificultar o movimento dessas empresas para outras localidades, mesmo após a maturação dos seus negócios. Consequentemente, uma indústria pode se desenvolver em determinada região autárquica por causa de uma idiossincrasia qualquer e, na eventualidade de uma abertura comercial, expandir a sua capacidade de atuação globalmente a partir de uma situação de custos favorável em virtude das economias externas de escala. Outro fato interessante gerado pelas economias externas de escala é que ela pode fazer com que a abertura comercial prejudique os países envolvidos. Voltemos ao nosso exemplo dos países A e B produzindo o bem 1: Agora, digamos que o país A produz o bem 1 com economias externas de escala, e o país B não produz o bem 1 em nenhuma quantidade. O país A é capaz de suprir a demanda pelo bem 1 de ambas as economias e atende a essa demanda por um preço menor do que o custo inicial de produção do bem 1 no país B. O fato de o preço do bem 1 ser menor do que o custo inicial de produção do país B inibe o surgimento da oferta do bem 1 no país B, de modo que esse bem permanece integralmente suprido pelo país A. Contudo, é possível que o país B seja mais adequado para a produção do bem 1 do que o país A, e que o potencial de redução de custo do bem 1, caso fosse produzido pelo país B, seja mais do que suficiente para retirar os produtores do país A do mercado. Nesse caso, seria melhor para o país B proteger a sua indústria de produção do bem 1 e limitar a importação dessa mercadoria, de modo a estimular a produção doméstica que, pela vantagem produtiva, poderia atingir um custo menor do que o da fabricação estrangeira. Em resumo, as economias externas de escala podem gerar situações em que os países perdem com o comércio internacional. ATENÇÃO Identificar esse tipo de situação, na prática, é bastante difícil. A conclusão de que o comércio internacional piorou a situaçãodo país B requer o conhecimento da capacidade produtiva e dos custos de operação desse país, e esse tipo de informação está sujeito a incertezas e dados não públicos. Além disso, se essa informação de estrutura produtiva está realmente disponível, um investimento significativo permitiria iniciar a produção no país B com uma escala suficientemente grande a ponto de poder competir adequadamente com os produtores do país A. Por isso, é importante observar esses resultados com alguma cautela: parecem muito mais uma possibilidade teórica do que um resultado observado na aplicação prática das decisões de comércio e produção. Outra possibilidade importante a se considerar nas economias externas de escala são os ganhos de produtividade por aprendizado. Nesse caso, ao contrário do que estamos supondo até agora, a produtividade das indústrias não é determinada pelo nível atual de produção das empresas, e sim por todo o histórico de bens produzidos. Aqui temos os chamados retornos crescentes dinâmicos, em que os retornos são crescentes à escala e tornam-se maiores ainda conforme o tempo passa. É com base nessa estrutura industrial que se fundamenta a ideia de proteção da indústria nascente. O argumento de proteção da indústria nascente é uma prescrição de política comercial que se apoia no fato de que é necessário que as indústrias existam para que elas ganhem experiência e produtividade. Logo, seria necessário proteger as indústrias enquanto elas são ineficientes para que, uma vez que elas atinjam a eficiência, possam obter os retornos esperados com essa política comercial. Em tese, esses retornos superariam os custos do fechamento comercial inicial. UMA DIGRESSÃO SOBRE O COMÉRCIO INTERNO No vídeo a seguir, conheceremos mais sobre os retornos de escala a partir da relação entre as características do comércio e o seu funcionamento nas regiões de um mesmo país e entre países. Vamos assistir! VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. IDENTIFIQUE A AFIRMAÇÃO CORRETA A RESPEITO DAS ECONOMIAS DE ESCALA. Economias de escala externa necessariamente geram monopólios ou oligopólios. Economias de escala ocorrem quando o aumento no emprego dos fatores de produção aumenta o produto final mais do que proporcionalmente. Em indústrias onde há economias de escala, o comércio internacional sempre é benéfico. A localização de uma indústria tipicamente não deveria levar em consideração onde seus concorrentes estão localizados. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. (FGV 2015 – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADAPTADO) EM UM ESTUDO DE TAMANHO DE UM PROJETO, O CONCEITO DE ECONOMIA DE ESCALA É IMPORTANTE, POIS: Conduz à maior racionalização das receitas para dada elevação na quantidade produzida. Baseia-se na gestão eficiente das receitas. Ocorre quando os custos fixos médios são diluídos com o aumento das quantidades produzidas. Evidencia o fato de os custos variáveis médios serem crescentes. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Identifique a afirmação correta a respeito das economias de escala. A alternativa "B " está correta. Ao apresentar os conceitos de economias de escala, no início do módulo, discutimos que elas são o aumento mais que proporcional da produção em relação aos insumos de uma função produtiva. 2. (FGV 2015 – Analista Judiciário – Adaptado) Em um estudo de tamanho de um projeto, o conceito de economia de escala é importante, pois: A alternativa "C " está correta. A afirmação mostra justamente que um dos fatores que gera economias de escala é a redução de custos conforme as quantidades produzidas aumentam. Em particular, custos fixos têm esse papel. MÓDULO 2 Descrever como diferentes arranjos de mercado podem afetar os resultados de comércio ECONOMIAS INTERNAS DE ESCALA E CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL Fonte:ShutterstockFonte: Shutterstock | Por: Jenson. Uma vez tendo analisado amplamente os casos das economias externas de escala, podemos nos concentrar na discussão das economias internas de escala, que são justamente o caso em que a tecnologia de produção pode gerar concentração industrial. Além das economias internas de escala, a diferenciação de produtos também é um elemento crucial para definir as estruturas de mercado de uma economia. Concorrência perfeita Na concorrência perfeita, os produtores são sempre tomadores de preço. Ou seja, eles consideram que os preços dos fatores e os preços dos produtos fabricados são dados pelo mercado. Tal hipótese baseia-se na ideia de que nenhum produtor seria capaz, no mundo da concorrência perfeita, de influenciar sozinho os preços de um mercado. Todos são pequenos em relação ao mercado em que estão inseridos e não possuem “poder de mercado”. Concorrência imperfeita Quando temos um mercado com concorrência imperfeita, as empresas são capazes de determinar o preço dos produtos por elas vendidos – ou seja, possuem poder de mercado e conseguem extrair (pelo menos parte do) excedente dos consumidores. É o caso, por exemplo, das empresas monopolistas ou oligopolistas. Ao escolher o preço das mercadorias produzidas, as empresas tipicamente maximizam o seu lucro. Tomemos, por exemplo, o caso de uma empresa monopolista. Ela observa a curva de demanda pelos seus bens e tem total conhecimento da estrutura de custos produtivos (afinal, é a única ofertante do bem). Com base nessas informações, uma firma monopolista é capaz de determinar a sua receita e o seu custo marginal. Ou seja, ela pode determinar quanto ganha e quanto gasta para cada unidade produzida a mais. Ao observar essas variáveis, ela pode escolher um nível de preços em que os custos e as receitas marginais sejam idênticos. Esse, inclusive, é o ponto em que essa empresa monopolista maximiza seu lucro – os preços serão mais elevados e as quantidades menores do que as observadas em um mercado com concorrência perfeita. Essa situação de monopólio pode ocorrer por diversas razões, como: BARREIRAS NATURAIS À ENTRADA TECNOLOGIAS ESPECÍFICAS PROTEGIDAS ENTRAVES REGULATÓRIOS Contudo, o monopólio puro não é uma estrutura de mercado muito comum, especialmente no comércio internacional – talvez seja aplicável a um número muito restrito de commodities e países produtores, com mercados que tipicamente são bastante restritos. EXEMPLO Um caso recente que ganhou atenção foi o da tanzanita, mineral achado somente em uma região específica da Tanzânia e que possui grande valor no mercado de pedras ornamentais. Por isso, o caso de maior interesse para o nosso estudo é o intermediário, o da concorrência monopolística. Na concorrência monopolística, cada fabricante produz uma variedade de um bem principal. Tal caso se aproxima mais da realidade para diversos setores da atividade econômica em que as empresas não produzem exatamente os mesmos bens das outras, e sim bens similares. Nessa estrutura de mercado, a quantidade de empresas em cada setor é significativa, de modo que nenhum produtor chega a ser relevante para a determinação do agregado dos preços de mercado. Apesar de cada empresa produzir bens diferenciados, elas são simétricas entre si. Em outras palavras, elas observam a mesma curva de demanda e estão sujeitas à mesma estrutura de custos. Suponhamos que a estrutura de custos de um conjunto de empresas simétricas operando em concorrência monopolística seja dada pelo custo variável (c) somado ao custo fixo (F), como na equação a seguir: CT=F+cQCT=F+cQ Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Evidentemente, a partir da curva de custo total é possível construir o custo médio. CMe=FQ+cCMe=FQ+c Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Suponhamos que a curva de demanda a que cada empresa está sujeita siga a equação abaixo, em que P––P_ é o preço do setor, S é o total da produção da indústria, b é um coeficiente qualquer, n é o número de empresas desse mercado, P é o preço cobrado pela empresa e Q é a quantidade demandada. Q=S[1n−b(P−P––)]Q=S[1n−b(P−P_)] Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Comotodas as empresas são simétricas, observando a mesma demanda e tendo a mesma estrutura de custos, pode-se perceber que todas cobrarão o mesmo preço. Agora podemos notar que: P=P––→Q=snP=P_→Q=sn Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, se todas as empresas cobrarem exatamente o preço de mercado, cada uma delas terá uma demanda igual à sua fração na produção global. Portanto, vale a equação: CMe=nFS+cCMe=nFS+c Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Por meio dessa equação, podemos ver que, quanto maior o número de empresas em determinado mercado, maior será o custo médio desse mercado. Esse resultado é intuitivo: ter mais empresas significa uma quantidade menor de bens produzidos por cada empresa. Logo, a capacidade de cada empresa de diluir seus custos fixos será muito menor comparada à que teriam caso produzissem mais bens. Por fim, a dificuldade em diluir os custos fixos eleva os custos médios de produção. A equação que determina a demanda de cada empresa pode ser reescrita assim: Q=[Sn+bSP]−bPnQ=[Sn+bSP]−bPn Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A receita marginal (RMg) de cada firma nesse mercado é dada pela seguinte equação: RMg=P−QSbRMg=P−QSb Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Para maximizar o lucro, a receita marginal deve ser igual ao custo marginal (c), por isso, a equação de preços assume a forma a seguir: P=QSb+cP=QSb+c Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Como todas as empresas cobram o mesmo preço, sabemos que Q=S/n. Portanto, o preço pode ser calculado deste modo: P=1nb+cP=1nb+c Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Essa equação mostra que a quantidade de empresas e o preço que elas cobram são inversamente relacionados. Como a viabilidade do mercado requer que os preços sejam superiores aos custos médios, a quantidade de empresas na economia será tal que o preço deve ser equivalente ao custo médio. Logo, vale a equação: n=√SFbn=SFb Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A quantidade vendida por cada firma pode ser assim reescrita: Q=√SFbQ=SFb Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Os preços são determinados pela equação seguinte: P=c+√FSbP=c+FSb Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal E a receita total é definida da seguinte forma: RT=c√SFb+FRT=cSFb+F Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Até o presente momento, analisamos como o comércio pode aumentar a eficiência econômica por meio do aumento dos mercados consumidores. Contudo, o modelo de concorrência monopolística nos permite analisar também os efeitos do comércio em termos da variedade de bens disponíveis. Podemos analisar o efeito no aumento do tamanho do mercado por meio do conjunto de equações que derivamos até aqui. Um aumento na variável S tende a gerar um equilíbrio com um maior número de firmas, que também passam a vender uma quantidade maior a um preço menor. Liquidamente, a receita das firmas aumenta. Como aumentou o número de firmas, e cada firma possui uma variedade específica de produto, pode-se dizer que a ampliação do mercado também trouxe mais diversidade. Para ilustrar esse fenômeno, vamos trabalhar com um exemplo numérico: EXEMPLO Suponhamos que a função de demanda por um produto seja dada pela seguinte equação: Q=S[1n−110000(P−P––)]Q=S[1n−110000(P−P_)] Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal E que o custo fixo para a produção deste bem seja F=10.000 e o custo marginal seja c=100. Há, ainda, dois países, doméstico e estrangeiro. O tamanho do mercado doméstico (ou seja, o total de produção da indústria doméstica) é de 1.600, e o tamanho do mercado estrangeiro é de 2.500. Nesse caso, sabemos que o mercado doméstico terá a quantidade de empresas determinada por esta equação: N=√160010000∗110000=40N=160010000∗110000=40 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O mercado estrangeiro terá 50 empresas, conforme indicado pelo cálculo: n=√250010000∗110000=50n=250010000∗110000=50 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O preço do bem no mercado doméstico é 350, segundo o resultado abaixo: P=100+√10000160010000=350P=100+10000160010000=350 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O preço no mercado estrangeiro é 300, de acordo com a equação a seguir: P=100+√10000250010000=300P=100+10000250010000=300 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A quantidade vendida por cada empresa no mercado doméstico é 40, conforme ilustrado: Q=1600[140−1100000]=40Q=1600[140−1100000]=40 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal E a quantidade vendida por cada empresa no mercado estrangeiro é 50, como você pode observar neste cálculo: Q=2500[150−1100000]=50Q=2500[150−1100000]=50 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Agora suponhamos que seja aberta a possibilidade de ambas as economias negociarem este bem. Desse modo, o novo mercado é composto de 4.100 unidades (resultado da soma de 1.600 unidades com 2.500 unidades). Refazendo a análise, temos um total de aproximadamente 64 empresas, conforme indicado a seguir: n=√410010000∗110000≈64n=410010000∗110000≈64 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Sob o equilíbrio de comércio, as empresas cobram um preço de aproximadamente 256, segundo nossos cálculos: P=100+√10000410010000≈256P=100+10000410010000≈256 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Podemos concluir, com a equação a seguir, que cada empresa vende aproximadamente 64 unidades após a abertura comercial: Q=4100[164−1100000]≈64Q=4100[164−1100000]≈64 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal No mercado unificado, portanto, temos mais empresas vendendo o produto – e vendendo a um preço menor do que seria o preço praticado nas economias fechadas. Em ambos os países, os consumidores passam a ter mais bens para escolher, ou seja, se antes tinham entre 40 e 50 variedades do bem produzido, agora chegam a ter 64. Maior quantidade, menor preço e mais variedade indicam que a abertura comercial foi benéfica para ambos os países. Percebemos um caso em que o comércio é capaz de gerar ganhos para todas as partes independentemente das vantagens comparativas. Afinal, nossas economias sequer tinham mais de um setor, o que não nos permitiria nem calcular as produtividades relativas internas para indicar qual país teria vantagem comparativa na produção de determinado bem. Esse exemplo mostra que os ganhos do comércio podem, inclusive, ir além do arcabouço teórico tradicional, baseado em vantagens comparativas. DISCUSSÃO SOBRE O COMÉRCIO INTRAINDÚSTRIA O caso que analisamos é genericamente classificado como de comércio intraindústria, isto é, o comércio entre dois países de mercadorias produzidas pelo mesmo setor da atividade econômica. O exemplo trabalhado nos mostra também que a quantidade de empresas que sobrevive à abertura comercial é menor do que a soma das empresas existentes nos dois países antes da abertura. Ou seja, é como se, das 90 empresas existentes nos dois países antes da abertura comercial, somente 64 sobrevivessem. Tal ponto nos leva a retomar o debate sobre os efeitos distributivos do comércio internacional. Das empresas que sobrevivem, algumas se mantêm em condições melhores (mais escala), mas outras simplesmente não conseguem se sustentar. Fonte:ShutterstockFonte: Shutterstock | Por: Travel mania ATENÇÃO No nosso exemplo, todas as empresas eram simétricas. Contudo, sabemos que no mundo real as empresas têm custos e tecnologias de produção muito diferentes. Por isso, a aberturacomercial muitas vezes retira do mercado as empresas com custo maior, mais ineficientes. Esse resultado muda a composição da produtividade das empresas do setor, elevando a produtividade agregada daquela atividade econômica. Toda a nossa modelagem até aqui ignorou um fator essencial do comércio internacional: a existência de custos de comércio. Tais custos fazem com que os efeitos da abertura comercial sejam muito menores do que aqueles que estamos modelando aqui, ainda que mantenham a direção geral dos resultados apresentados. Esses custos de comércio podem ser o resultado de diversos fatores: Custos de transporte e frete Barreiras linguísticas Dificuldades operacionais de encontrar consumidores fora do país Dificuldades operacionais de entregar mercadorias fora do país Necessidade de adaptação dos produtos à legislação do outro país Preferências diferentes dos consumidores estrangeiros EXEMPLO Exemplos disso são os inúmeros casos de varejistas americanos que tiveram de adaptar fortemente as suas operações na China devido a preferências e hábitos específicos dos consumidores locais. O fato é que grande parte dos países tem muito mais empresas focadas no mercado doméstico do que no mercado estrangeiro. Os custos de comércio podem ser entendidos como se a empresa tivesse um custo marginal de produção maior para os bens exportados do que para os bens importados. Essa situação pode gerar discriminação internacional de preços. Em reação ao maior custo marginal no exterior, a empresa pode praticar preços diferenciados para cada mercado, reduzindo as suas margens de lucro nos mercados onde o custo de operação é maior. A possibilidade de a empresa praticar preços distintos em diferentes mercados abre espaço para a realização de práticas consideradas anticompetitivas. Por exemplo, se a diferença de preços for tal que o preço cobrado no mercado estrangeiro é menor do que o preço cobrado no mercado doméstico compensado para os custos comerciais, a empresa pode ser acusada de estar praticando dumping. DUMPING Prática comercial de vender produtos abaixo de um valor considerado justo (seus próprios preços de mercado, por exemplo) para ganhar participação no mercado. DUMPING Essa atividade pode ser entendida como economicamente danosa, pois a empresa praticante poderia inviabilizar concorrentes e, uma vez que a concorrência tenha diminuído, aumentar seus preços para exercer o poder de mercado conquistado anteriormente. Fonte:ShutterstockFonte: Shutterstock | Por: Andrii Yalanskyi Tipicamente, o dumping está sujeito à denúncia e à sanção. Mas o quanto essa prática realmente prejudica o comércio ainda é um tema controverso. Afinal, se os mercados internacionais forem mais competitivos do que os mercados domésticos, é possível que a escolha ótima da firma seja realmente a de operar com margens de lucro menores no estrangeiro do que no mercado doméstico. Observe o quadro a seguir para entender melhor a dinâmica: O dumping tem níveis de profundidade distintos, fundamentais para entender a controvérsia em torno dele. A natureza do dumping é dinâmica, e não estática. Ele é perfeitamente caracterizado quando uma empresa entra em um mercado com o objetivo de cobrar preços tão baixos a ponto de inviabilizar a existência de concorrentes e, para isso, incorre em prejuízo. Essa estratégia pode fazer sentido se o prejuízo obtido com a inviabilização da concorrência for compensado quando a empresa em questão for a única sobrevivente do mercado. Evidentemente, esse é um caso extremo, mas ajuda a entender a natureza do fenômeno que as políticas antidumping tentam combater. Mas como diferenciar a prática de dumping de um concorrente que seja, de fato, muito mais eficiente do que os produtores locais e esteja competindo de acordo com os princípios bem estabelecidos de concorrência? Explorando as sutilezas de seu conceito, na prática, o dumping pode se tornar uma estratégia de grupos de interesse locais para aumentar o protecionismo da economia. Ao ignorar os determinantes econômicos que embasam o equilíbrio de mercado, podendo a empresa estrangeira cobrar preços menores no mercado doméstico do que ela cobraria em seu próprio mercado, o que era para ser um instrumento de proteção da melhor alocação de recursos se revela um escudo contra uma abertura comercial que poderia ser benéfica para a maior parte das pessoas. No vídeo a seguir conheceremos mais sobre a concorrência e o comércio internacional no contexto atual da globalização. Vamos assistir! VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. SUPONHA QUE UM MERCADO COM N FIRMAS OPERE EM CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA. UMA FIRMA QUE COBRE O PREÇO P OBSERVA A DEMANDA DADA PELA EQUAÇÃO ABAIXO. Q = 100 [ 1 N − 1 100 ( P − P _ ) ] ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA EQUAÇÃO UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL SUPONHA, AGORA, QUE AS FIRMAS DESSE MERCADO SEJAM SIMÉTRICAS E TENHAM CUSTO FIXO 100 E CUSTO MARGINAL 5. COM BASE NESSAS INFORMAÇÕES, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. Cada firma venderá 100 unidades de seu produto. O preço P _ sobrado pelo setor será 10. Em equilíbrio, haverá 10 firmas no mercado. A receita total de cada firma será 100. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. SUPONHA QUE UM MERCADO COM N FIRMAS OPERE EM CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA. UMA FIRMA QUE COBRE O PREÇO P OBSERVA A DEMANDA INDICADA PELA EQUAÇÃO ABAIXO. Q = 100 [ 1 N − 1 4 ( P − P _ ) ] ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA EQUAÇÃO UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL SUPONHA, AGORA, QUE AS FIRMAS DESSE MERCADO SEJAM SIMÉTRICAS E TENHAM CUSTO FIXO 16 E CUSTO MARGINAL 10. CONSIDERE QUE HOUVE UMA MUDANÇA TECNOLÓGICA E O CUSTO FIXO DAS FIRMAS PASSOU A SER 4. COM BASE NESSAS INFORMAÇÕES, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. Com a mudança tecnológica, a quantidade vendida por cada firma reduziu-se à metade. A mudança tecnológica não afeta o preço setorial, já que as firmas são simétricas. O número de firmas operando no mercado será três vezes maior, aumentando a variedade de produtos disponíveis. O tamanho do mercado deve aumentar em 30%. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Suponha que um mercado com n firmas opere em concorrência monopolística. Uma firma que cobre o preço P observa a demanda dada pela equação abaixo. Q = 100 [ 1 N − 1 100 ( P − P _ ) ] Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Suponha, agora, que as firmas desse mercado sejam simétricas e tenham custo fixo 100 e custo marginal 5. Com base nessas informações, marque a alternativa correta. A alternativa "C " está correta. Ao apresentar o modelo de concorrência monopolística, derivamos a solução do equilíbrio de mercado. Aplicando a solução do equilíbrio de mercado aqui, podemos obter a alternativa correta. 2. Suponha que um mercado com n firmas opere em concorrência monopolística. Uma firma que cobre o preço P observa a demanda indicada pela equação abaixo. Q = 100 [ 1 N − 1 4 ( P − P _ ) ] Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Suponha, agora, que as firmas desse mercado sejam simétricas e tenham custo fixo 16 e custo marginal 10. Considere que houve uma mudança tecnológica e o custo fixo das firmas passou a ser 4. Com base nessas informações, marque a alternativa correta. A alternativa "A " está correta. Ao apresentar o modelo de concorrência monopolística, derivamos a solução do equilíbrio de mercado. Aplicando a solução do equilíbrio de mercado aqui, podemos obter a alternativa correta. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Teorias mais simplificadas de comércio internacional nos ajudam a entender aspectos como vantagens comparativas e absolutas e consequências distributivas. Entretanto, um ponto fundamental que aprofunda o nosso conhecimento é entender o conceito de economias de escala. Outro aspecto fundamental que trouxemos foi a perspectiva intraindustrial, retomando a discussão dos efeitos distributivos e introduzindo os conceitos de custos de comércio. Tendo apresentado economias internas e externas de escala, a perspectiva intraindustriale os custos de comércio, temos certeza de que você entenderá melhor a relação entre competição e comércio internacional. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2015. EXPLORE+ Como vimos, as economias de escala e a concorrência monopolística têm papel relevante na definição dos fluxos de comércio. Para aprofundamento e melhor compreensão do tema, são sugeridas as seguintes leituras: · FEENSTRA, R. Integration of Trade and Disintegration of Production in the Global Economy. In: Journal of Economic Perspectives, v.12, pp. 32-50, 1998. · HELPMAN, E., KRUGMAN, P. Market Structure and Foreign Trade. Cambridge: MIT Press. 1985. Também recomendamos a visita ao portal VOX CEPR Policy, que oferece inúmeros artigos sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China. DEFINIÇÃO Influência da abundância relativa de fatores nos resultados de comércio. Impactos da mobilidade dos diferentes fatores de produção no comércio em longo prazo. PROPÓSITO Ser capaz de compreender e discutir como o comércio internacional afeta os fatores de produção e os seus determinantes de mobilidade entre as economias. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever o Modelo de Heckscher-Ohlin MÓDULO 2 Identificar o movimento de fatores de produção entre as economias INTRODUÇÃO Neste tema, vamos estudar sobre os movimentos internacionais dos fatores de produção. Entender como o Comércio Internacional pode impactar esses fatores é fundamental para entendermos sua dinâmica entre países. Para tanto, iremos apresentar, no primeiro módulo, o Modelo de Heckscher-Ohlin, que nos permite entender os determinantes e mecanismos para a mobilidade de fatores. No segundo módulo, estudaremos o balanço de pagamentos dos países, e a partir daí um modelo simplificado para nos ajudar a entender a movimentação de fatores. MÓDULO 1 Descrever o Modelo de Heckscher-Ohlin INTRODUÇÃO AO MODELO DE HECKSCHER-OHLIN O comércio internacional é capaz de gerar benefícios para todos os países – exportadores ou importadores. Contudo, diversas economias protegem seus mercados da concorrência global, o que pode ser explicado a partir das consequências distributivas de uma abertura comercial: a economia como um todo ganha, mas alguns setores podem sair perdendo, o que exige políticas compensatórias que nem sempre são implementadas. Os grupos prejudicados podem então fazer pressão política para evitar a competição internacional. Imagine que você tem uma empresa que produz um determinado bem – por exemplo, telefone celular -, onde ocorre investimento em máquinas específicas e treinamento de funcionários, e depois, esse bem passa a ser importado da China. Você, provavelmente, sofrerá um prejuízo. Porém, em teoria, há uma solução simples para evitar que isso ocorra: se a China se especializou na produção de celulares, e você treinou trabalhadores e adquiriu máquinas para produzi-los, basta que você venda suas máquinas para a China e os trabalhadores emigrem para lá. Afinal, as decisões de produção de um determinado bem devem definir onde os fatores de produção desse bem serão localizados. Na prática, isso não é tão simples. Talvez seja possível vender parte das máquinas ao produtor chinês, mas a migração é mais difícil. Em qualquer hipótese, o exemplo ilustra algo importante: os mercados de produto e de fatores de produção estão interconectados. Você pode estudar isso no Modelo de Fatores Específicos. Fonte: MNBB Studio/Shutterstock Vamos então estudar o modelo que define esse relacionamento de forma mais clara: Heckscher-Ohlin. Por meio deste modelo, vamos entender como as exportações de um produto muitas vezes emulam a exportação dos fatores de produção associados a esse produto. A partir dessa dinâmica econômica, poderemos estudar os determinantes e os mecanismos para a mobilidade de fatores de produção. Veremos que mesmo considerando que os fatores de produção sejam móveis, as diferenças de recursos entre países podem ser um determinante dos seus níveis de comércio. O MODELO DE HECKSCHER-OHLIN: DETALHES Para desenvolver este modelo, começaremos com duas economias que dispõem ao mesmo tempo de dois fatores: capital e trabalho. Além disso, cada país emprega esses fatores para a produção de dois bens distintos: tecidos e alimentos. Fonte: NDAB Creativity/ShutterstockFábrica de tecidos. Genericamente, a função de produção de tecidos (QTQT) depende do capital no setor de tecidos (KTKT), juntamente com o trabalho empregado nesse setor (LTLT). Já a função de produção de alimentos (QAQA) depende do capital no setor de alimentos (KAKA), junto com o trabalho empregado no setor (LALA). As funções de produção estão expressas nas equações abaixo. QT=QT(LT,KT)QT=QT(LT,KT) QA=QA(LA,KA)QA=QA(LA,KA) Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Sabemos que a quantidade de trabalho e de capital da economia são dadas de tal forma que valem as identidades a seguir: L=LT+LAL=LT+LA K=KT+KAK=KT+KA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Com base nessa estrutura, podemos definir as seguintes variáveis: αKT=KTQTαKT=KTQT : proporção de capital usada para produzir uma unidade de QTQT αLT=LTQTαLT=LTQT : proporção de trabalho usada para produzir uma unidade de QTQT αKA=KAQAαKA=KAQA : proporção de capital usada para produzir uma unidade de QAQA αLA=LAQAαLA=LAQA : proporção de trabalho usada para produzir uma unidade de QAQA Evidentemente, essas variáveis mudam conforme a intensidade de cada fator empregada na produção de cada bem, o que é função das tecnologias de produção e dos preços relativos. Contudo, para fins analíticos, vamos supor, em um primeiro momento, que as proporções de consumo sejam constantes. αLTQT+αLAQA≤LαLTQT+αLAQA≤L αKTQT+αKAQA≤KαKTQT+αKAQA≤K Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Cada uma dessas desigualdades pode ser representada no gráfico a seguir, em que uma das retas representa a restrição associada ao estoque total de trabalho disponível na economia, enquanto a outra reta representa a restrição associada ao estoque total de capital disponível. As retas representam o ponto de igualdade nessas expressões, de modo que a desigualdade estrita é representada por toda a área embaixo de cada uma das retas. Fonte: O autor Para deixar mais claro, essas retas representam as inequações a seguir com L=15L=15, K=10K=10,αLT=0,5αLT=0,5, αLA=0,75αLA=0,75, αKT=1,0αKT=1,0 e αKA=0,25αKA=0,25. QT≤LαLT−αLAαLTQAQT≤LαLT-αLAαLTQA QT≤KαLT−αKAαKTQAQT≤KαLT-αKAαKTQA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Sabemos que ambas as desigualdades devem ser válidas. Afinal, cada uma delas representa uma restrição diferente, em que as duas restrições devem ser respeitadas para que estejamos em um ponto de produção que seja factível. Por isso, para montar a curva de possibilidades de produção, é preciso separar cada um dos segmentos de reta do gráfico acima em dois: uma parte representando as combinações de ambos os bens que são viáveis, considerando tanto o estoque de capital, como o estoque de trabalho existente; e outra parte representando as combinações de ambos os bens para as quais a produção não é viável, seja por conta de restrições da parte do capital, seja por conta de restrições na parte de trabalho. Essa separação é feita no gráfico a seguir. A linha azul representa a Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP) da nossa economia. FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO (FPP) A fronteira de possibilidades de produção (FPP), também designada por curva de possibilidade de produção (CPP), ilustra graficamente a escassez dos fatores de produção e cria um limite para a capacidade produtiva de uma empresa, país ou sociedade. Fonte: Wikipedia Fonte: O autor Nota-se, portanto, que a maioria dos pontos da Fronteira de Possibilidades de Produção leva a algum tipo de ociosidade, seja de capital, seja de trabalho. EXEMPLO Caso se escolha produzir 10 unidades de tecido e nenhuma de alimento,a quantidade de capital empregado nessa produção será 10, igual à quantidade total de capital disponível. Contudo, a quantidade de trabalho empregada nessa produção será cinco, enquanto a quantidade total de trabalho disponível na economia é 15. Portanto, haveria uma ociosidade de 2/3 do total de trabalho disponível. A mesma situação vale para o outro extremo, caso se escolha produzir vinte unidades de alimento e nenhuma unidade de tecido. Nessa situação, teremos uma utilização de 15 unidades de trabalho, que é exatamente a quantidade total de trabalho disponível na economia. Contudo, teremos uma demanda de somente cinco unidades de capital, enquanto a economia dispõe de 10 unidades deste fator. Consequentemente, teríamos uma ociosidade do capital de aproximadamente 50%. O único ponto em que não teríamos ociosidade nem do capital, nem do trabalho seria o ponto em que as curvas verdes (ou azuis) se cruzam. Neste ponto, produzimos 16 unidades de alimentos e 6 unidades de tecido, de modo que a produção de alimentos requer 12 unidades de trabalho e 4 unidades de capital, ao passo que a produção de tecidos requer 3 unidades de trabalho e 6 unidades de capital. Nesse caso, teríamos uma demanda de 10 unidades de capital e 15 unidades de trabalho - exatamente as dotações disponíveis para esses dois fatores na nossa economia. A ociosidade faz com que o custo de oportunidade de produção de um bem em termos da produção do outro bem seja variável ao longo das possibilidades de produção de ambos. Quando há ociosidade no capital, o custo de oportunidade de deixar de produzir um bem para produzir outro, se dá em relação a quanto o fator trabalho é importante para a produção de um e de outro bem. Afinal, se há capital ocioso, é a disponibilidade de trabalho que limita a produção e, portanto, determina os termos do tradeoff na produção de um ou outro bem. Analogamente, quando há ociosidade no trabalho, o custo de oportunidade de deixar de produzir um bem para produzir outro, se dá em relação a quanto o fator capital é importante para a produção de ume de outro bem. Essa diferença de custos de oportunidade é traduzida nas diversas inclinações da Fronteira de Possibilidades de Produção, antes e depois do ponto em que todos os recursos são empregados sem ociosidade alguma. Vale destacar que, sob este arcabouço, como o preço é igual ao custo marginal de produção, as equações de preço têm as formas funcionais especificadas a seguir: PT=αKTr+αLTwPT=αKTr+αLTw PA=αKAr+αLAwPA=αKAr+αLAw Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal De acordo com essas equações, um aumento no preço de um dos produtos, como tecidos, gera, necessariamente, o aumento de um dos preços dos fatores. Digamos que o aumento ocorra no fator para o qual o tecido é intensivo - no caso, capital. Em virtude do aumento do preço do capital, a segunda equação (preço dos alimentos) requer que se diminuam os salários. Quando voltamos à equação do preço dos tecidos, entendemos que a diminuição dos salários indica que a elevação do preço do capital é mais do que proporcional à elevação do preço dos tecidos. Fonte: Andrii Yalanskyi/Shutterstock Consequentemente, o preço do capital aumentou, tanto em termos do preço do tecido, como em termos do preço dos alimentos. Esse resultado ficou conhecido como Teorema de Stolper-Samuelson, e voltaremos a ele mais à frente, no aprofundamento dos resultados do Modelo de Heckscher-Ohlin. Ao flexibilizar a hipótese de que as proporções de consumo sejam constantes, temos um caso ainda mais marcante de mudanças no custo de oportunidade de produção dos bens, que é dada de acordo com a quantidade produzida de cada um deles. Contudo, não temos mais a situação de ociosidade no emprego dos fatores produtivos. Nessa situação, a Fronteira de Possibilidades de Produção fica mais parecida com o gráfico a seguir. Fonte: O autor Considerando que o valor de produção da economia é dado por V=QTPT+QAPAV=QTPT+QAPA, a linha de isocusto é dada por QT=VPT−QAPAPTQT=VPT-QAPAPT. Logo, quanto maior o valor de produção, mais distante a curva de isocusto está da origem. Além disso, para preço e valor de produção fixos, a curva de isocusto é uma reta com inclinação −PAPT-PAPT. A economia tende a maximizar o seu valor de produção. Tal ponto ótimo está determinado pela curva de isocusto que tangencia a Fronteira de Possibilidades de Produção. A seguir temos um exemplo de curva isocusto que, ao tangenciar a Fronteira de Possibilidades de Produção, determina um nível de produção ótimo em 10 unidades de alimentos e 15 unidades de tecidos. ISOCUSTO Uma linha isocusto nos dá todas as combinações de produção de diferentes bens que geram o mesmo custo de produção. Fonte: O autor Contudo, essa maximização do valor produzido ainda não envolveu a escolha da quantidade de produção de cada um dos dois fatores disponíveis na economia: capital e trabalho. Para exposição do argumento, supondo que as firmas da nossa economia tenham função de produção Cobb-Douglas com retornos constantes à escala, que o custo do capital seja dado por rr e o custo do trabalho por ww. O problema de determinação da demanda por capital e trabalho pode ser escrito da forma que se segue: COBB-DOUGLAS Função amplamente utilizada em economia para representar a relação entre dois (ou mais) fatores de produção e o produto. Fonte: Wikipedia minK,L[rK+wL]minK,LrK+wL s.a. s.a. Q=KαL1−αQ=KαL1-α Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A solução desse problema leva à equação a seguir: rw=α1−αKLrw=α1-αKL Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Consequentemente, a relação entre essas duas variáveis para, por exemplo, α=0,5 α=0,5 ou α=0,75α=0,75, pode ser vista no gráfico a seguir: Fonte: O autor O formato do gráfico é bastante intuitivo: conforme o preço relativo do capital aumenta, a proporção de capital relativo aplicado na produção dos bens diminui, como seria esperado pelo efeito substituição. Quando a participação do capital na função de produção é maior, o setor tende a demandar relativamente mais capital para qualquer nível de preços relativos. Percebe-se que diferentes tecnologias de produção podem indicar que alguns setores podem demandar relativamente sempre mais capital (ou trabalho) que os outros, para os mesmos preços relativos. Quando a demanda relativa é maior por trabalho, dizemos que o setor em questão é mão de obra intensivo, ou trabalho intensivo. Já quando a maior demanda relativa é por capital, dizemos que o setor é capital intensivo. O fato de existir substituição entre os fatores de produção faz com que os aumentos no preço de um dos fatores não sejam integralmente repassados ao produtor final, mesmo sob concorrência perfeita. Em virtude disso, a curva que relaciona aumentos no preço relativo dos insumos a aumentos no preço relativo dos bens, apesar de ascendente, é côncava. Note-se que, diante de um aumento de preços do produto trabalho intensivo, o preço relativo da mão de obra aumentará mais do que proporcionalmente ao aumento de preço, pois a curva que relaciona preço relativo dos fatores e preço relativo dos bens é côncava. O aumento no preço da mão de obra, por sua vez, tende a diminuir a quantidade relativa de mão de obra e aumentar a quantidade relativa de capital alocada pelos dois setores da atividade (de acordo com o gráfico anterior). Como consequência da elevação da produtividade marginal do trabalho, os salários têm elevação em termos reais para ambos os setores da atividade. Como resultado da queda na produtividade marginal do capital, seu retorno tem uma queda em termos reais para ambos os setores da atividade. Logo, este modelo também prevê profundos efeitos distributivos de mudanças na estrutura de preços relativos da economia, preservando os principais resultados da derivação simplificada que fizemos do Teorema de Stolper-Samuelson, no início deste módulo. Resta determinar o efeito de expansões da dotação de recursos da economia sobre a alocação defatores. Digamos que haja um crescimento populacional e, apesar desse crescimento, o estoque de capital disponível permaneça constante. A expansão populacional afeta a Fronteira de Possibilidades de Produção, em que o setor trabalho intensivo deve ser mais afetado e a capacidade de produção desses bens deve subir mais do que a capacidade de produção dos demais bens. Nesse cenário, o novo equilíbrio de produção deve favorecer o setor que é intensivo em trabalho. Genericamente, o novo equilíbrio de produção tende a favorecer o setor intensivo no fator que se tornou mais abundante, e assim ocorre o que se chama de expansão tendenciosa das possibilidades de produção. UMA ECONOMIA TENDE A SER RELATIVAMENTE EFICAZ NA PRODUÇÃO DE BENS QUE SÃO INTENSIVOS EM FATORES COM OS QUAIS O PAÍS É RELATIVAMENTE BEM DOTADO. (KRUGMAN et al., 2015) Aplicando este modelo ao comércio de dois países muito similares em preferências, mas muito distintos em dotações relativas, temos uma situação parecida com a mostrada no gráfico a seguir: Fonte: O autor RS(1) e RS(2) representam as curvas de oferta relativas em autarquia e indicam um equilíbrio por volta de 8 unidades de tecido para cada unidade de alimento no país 1, com preço relativo aproximado em 5. Já no país 2, o equilíbrio ocorre por volta de 4 unidades de tecido para cada unidade de alimento, com preço relativo aproximado em 9. Ao abrir as economias para o comércio, há uma convergência dos preços relativos domésticos e estrangeiros. Como estamos falando de países com as mesmas preferências, a curva de demanda relativa agregada será igual à curva de demanda relativa dos países autárquicos. Como resultado, o ponto de equilíbrio de comércio ocorrerá entre os pontos de equilíbrio de cada um dos países na situação de autarquia. Logo, a quantidade relativa será entre 4 e 8, com preço relativo entre 5 e 9. Como sabemos que as economias exportarão os bens cujo preço relativo aumenta, sabemos que o País 1 exportará tecidos e o País 2 exportará alimentos. O País 1 exportará tecidos porque é mais abundante em capital do que o País 2 (consequentemente, tem oferta relativa de tecidos maior do que o País 2). A partir dessa análise, temos o Teorema de Heckscher-Ohlin, que diz que o país que é abundante em um fator exporta os bens cuja produção é intensiva nesse fator. Em consequência, os proprietários dos fatores relativamente abundantes tendem a ganhar com o comércio, e os proprietários dos fatores relativamente escassos tendem a perder com ele. Uma leitura atenta do enunciado do teorema permite concluir que o comércio internacional emula a mobilidade de fatores, mesmo quando, na prática, os fatores não são móveis entre os países. Como essa teoria se sai na análise empírica? Vamos discutir um pouco no vídeo a seguir. PARADOXO DE LEONTIEFF E OS PRESSUPOSTOS DO MODELO VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. IDENTIFIQUE A AFIRMAÇÃO INCORRETA A RESPEITO DO MODELO HECKSCHER-OHLIN. Aumentos no preço do bem trabalho intensivo tendem a aumentar o preço relativo do trabalho na economia. Países com alta dotação de capital são mais eficazes na produção de bens de capital intensivos. Aumentos no preço do bem trabalho intensivo geram efeito ambíguo sobre os salários reais. Aumentos no preço do bem trabalho intensivo diminuem o rendimento do capital. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. SOBRE O MODELO HECKSCHER-OHLIN, ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: I. O MODELO HECKSCHER-OHLIN MOSTRA QUE AS VANTAGENS ABSOLUTAS, NA FORMA DAS DOTAÇÕES DE FATORES DE PRODUÇÃO ENTRE OS PAÍSES, SÃO ESSENCIAIS PARA EXPLICAR O COMÉRCIO ENTRE PAÍSES. II. O MODELO HECKSCHER-OHLIN SUGERE QUE PAÍSES RELATIVAMENTE ABUNDANTES EM UM FATOR DE PRODUÇÃO TENDEM A SE ESPECIALIZAR NA PRODUÇÃO DESTE FATOR. III. O MODELO DE HECKSHER-OHLIN MOSTRA QUE MUDANÇAS NO PREÇO RELATIVO DOS BENS PRODUZIDOS POR UMA ECONOMIA PODEM TER CONSEQUÊNCIAS DISTRIBUTIVAS, AINDA QUE NÃO HAJA FATORES ESPECÍFICOS NA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO DESSES BENS. ASSINALE A OPÇÃO QUE INDICA QUAIS SÃO AS PROPOSIÇÕES VERDADEIRAS. I. II. III. II e III. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Identifique a afirmação incorreta a respeito do Modelo Heckscher-Ohlin. A alternativa "C " está correta. A alternativa C está correta. Ao discutir os efeitos de mudanças nos preços relativos sobre a distribuição de renda, mostramos que os efeitos de um aumento no preço do bem trabalho intensivo gera aumento do salário real considerando os preços de qualquer um dos dois bens da economia. 2. Sobre o Modelo Heckscher-Ohlin, analise as afirmativas a seguir: I. O Modelo Heckscher-Ohlin mostra que as vantagens absolutas, na forma das dotações de fatores de produção entre os países, são essenciais para explicar o comércio entre países. II. O Modelo Heckscher-Ohlin sugere que países relativamente abundantes em um fator de produção tendem a se especializar na produção deste fator. III. O Modelo de Hecksher-Ohlin mostra que mudanças no preço relativo dos bens produzidos por uma economia podem ter consequências distributivas, ainda que não haja fatores específicos na função de produção desses bens. Assinale a opção que indica quais são as proposições verdadeiras. A alternativa "D " está correta. A segunda afirmação é basicamente como este módulo fecha: países com maior dotação de um determinado fator tendem a ser mais efetivos na incorporação deste fator em suas funções de produção. Já a terceira afirmação refere-se às questões distributivas do comércio. Esse aumento levou a um aumento mais do que proporcional no preço relativo dos salários e, por consequência, gerou uma redução na proporção de trabalho alocada na economia, o que eleva a produtividade marginal do trabalho e, consequentemente, os salários. Movimento oposto ocorre com o capital. Logo, as consequências distributivas dessa mudança de preços relativos são significativas, o que este item da questão devidamente explora. MÓDULO 2 Identificar o movimento de fatores de produção entre as economias O BALANÇO DE PAGAMENTOS NA ECONOMIA INTERNACIONAL Teorias clássicas de Comércio Internacional estudam o movimento de bens e serviços na economia global. Analisam, primeiro, seus determinantes mais básicos e, depois, o papel que a abundância e a escassez relativa de fatores de produção poderiam ter para explicar a pauta de exportação de cada país. A teoria econômica sugere que países exportam os bens intensivos nos fatores que são abundantes naquele país. Dessa forma, é como se o comércio de bens emulasse uma transação entre fatores que tivesse por objetivo equalizar mundialmente as dotações de cada fator de produção. Fonte: Travel mania/Shutterstock Ao observar a estrutura do Balanço de Pagamentos, percebemos que é como se essas teorias simplificadas tivessem analisado somente alguns dos determinantes da chamada Conta Corrente. Afinal, quando analisamos a exportação e a importação de bens e serviços, estudamos as balanças de comércio de bens e serviços de uma economia. Do lado da Conta Corrente, ainda resta determinar o patamar das rendas primárias (pagamentos de juros e remessas de lucros e dividendos) e secundárias (transferências unilaterais). Como as transferências unilaterais, muitas vezes, envolvem peculiaridades dos países, a teoria econômica tem pouco a dizer sobre elas. Já não se pode falar o mesmo da conta de rendimentos. Os rendimentos são os retornos que os estrangeiros têm com os investimentos feitos na economia doméstica (ou os retornos que investidores domésticos obtêm em uma economia estrangeira). Para entendê-los, precisamos analisar dois componentes: o preço dos fatores e a dinâmica internacional dos fatores de produção. O preço dos fatores foi extensivamente analisado até aqui, com todas as implicações distributivas e alocativas que a abertura comercial tem o potencial de promover. Resta-nos entender melhor como os fatores de produção movimentam-se. Movimentos de fatores de produção podem ser causados tanto pela migração de trabalhadores (a mobilidade internacional do trabalho),como por investimentos. Por isso, ao estudar o movimento de fatores de produção, vamos analisar, especificamente, a migração do trabalho, os empréstimos internacionais e o investimento estrangeiro. Os movimentos associados a investimentos são registrados na Conta de Capital e Financeira do Balanço de Pagamentos. Nela, são registrados os empréstimos e investimentos, seja de curto, médio ou longo prazo. Vale destacar que, com a compreensão dos determinantes da Conta Corrente e da Conta Financeira, é possível entender os principais elementos que movimentam o Balanço de Pagamentos. UM MODELO SIMPLIFICADO Para entender a mobilidade internacional do trabalho, podemos pensar em um modelo simplificado de economia global, no qual há dois países (doméstico e estrangeiro) e um único bem sendo produzido (bananas). Imaginemos que a tecnologia de produção de bananas é a mesma nos dois países, mas a população de cada nação é distinta, sendo menor no país doméstico. Portanto, se a economia dos países está fechada, a produtividade marginal do trabalho nas duas localidades tende a ser bastante diferente. Fonte: Salvador Aznar/Shutterstock Supondo que haja mercados competitivos em ambos os países, o salário real equivale exatamente à produtividade marginal do trabalho de cada localidade. O país doméstico, sendo menos populoso, tem o maior produto marginal do trabalho e, consequentemente, maiores salários. Ao abrir a possibilidade de migração, é natural que as pessoas queiram sair dos locais com salários menores e ir para os locais com salários maiores. Ou seja, as pessoas saem do país estrangeiro e vão para o país doméstico. Com a migração de pessoas do país estrangeiro para o país doméstico, a tendência é que o produto marginal do trabalho no país estrangeiro suba (pois o trabalho se tornou mais escasso no exterior), e que o produto marginal do trabalho no país doméstico caia (pois aqui o trabalho se tornou mais abundante). Consequentemente, aumentam os salários do estrangeiro e caem os salários do doméstico. Tal movimento continua até que se tenha esgotado completamente o diferencial de salários entre os dois países. Consequentemente, temos uma equalização dos preços dos fatores de produção entre os diferentes países. Se a produção de bananas, em vez de depender somente de trabalho, depender também de terras, essa migração de trabalho passa a ter outros efeitos distributivo. Suponhamos que a produtividade cruzada dos fatores de produção seja positiva. Ou seja, quanto mais trabalho está empregado na produção, maior a produtividade marginal da terra. Nessa situação, a migração de pessoas do país estrangeiro para o país doméstico tende a diminuir o produto marginal da terra no estrangeiro e aumentar o produto marginal da terra na economia local. Dessa forma, aumenta-se o rendimento da terra no mercado doméstico e diminui o rendimento na economia internacional. Percebe-se que os efeitos da migração do trabalho sobre o rendimento do outro fator de produção vão no sentido oposto ao do rendimento do trabalho. Ou seja, onde o rendimento do trabalho aumenta, o rendimento da terra diminui; onde o rendimento do trabalho diminui, o rendimento da terra aumenta. Caso tenhamos mais de um bem, a comercialização dos fatores de produção pode ser substituída pela comercialização dos bens em que cada país se especializa. Evidentemente, neste modelo, estamos desconsiderando uma série de fricções que, na realidade, fazem com que a migração de trabalhadores seja muito menor do que a predita pelos modelos. O primeiro é a existência de barreiras linguísticas e culturais à migração. Ao modelar a migração internacional do trabalho, sempre supomos que o trabalhador é idêntico no país doméstico e no país estrangeiro. Contudo, em muitos casos, essa suposição é forte demais. Restrições linguísticas podem fazer com que os trabalhadores que migraram sejam muito mais improdutivos do que os demais. Podem, inclusive, inviabilizar que o trabalhador encontre emprego no novo país. Da mesma forma que existe o protecionismo para evitar a entrada de bens estrangeiros, uma série de países têm fortes movimentos para impedir a entrada de imigrantes. Um dos argumentos mais utilizados para essa finalidade é o de que os imigrantes entrariam no país para tomar o emprego daqueles que são nativos (tal argumento tem sido muito utilizado para barrar a entrada de imigrantes, especialmente, os originados da África e do Levante, na Europa). Ao final, se o argumento de que o comércio toma empregos dos cidadãos dos países importadores tem sensibilidade política, independentemente da sua adequação prática, o argumento de que os imigrantes também tiram empregos dos trabalhadores domésticos tem bastante apelo social, mesmo que não haja respaldo pela evidência empírica. Fonte: Freepik Por sua vez, os empréstimos internacionais podem ser analisados como uma espécie de comércio intertemporal. Afinal, quando uma nação transfere poupança para outra na forma de um empréstimo, é como se estivesse deixando de consumir hoje para aumentar seu consumo amanhã - enquanto a nação receptora do empréstimo consome hoje para diminuir seu consumo amanhã, seja pela quitação do principal ou dos juros da operação. Fonte: Atstock Productions/Shutterstock Nesse sentido, os empréstimos internacionais podem ser analisados em uma Fronteira Intertemporal de Possibilidades de Produção. Tipicamente, analisamos, na Fronteira de Possibilidades de Produção, o custo de oportunidade de produção de um bem em termos de algum outro. Na Fronteira Intertemporal de Possibilidades de Produção, analisamos o quanto da produção presente pode ser substituída pela produção futura. Fonte: Olivier Le Moal/Shutterstock É interessante notar que a taxa de juros real é o preço pelo qual se realizam as trocas entre consumo presente e consumo futuro. Uma pessoa, ao tomar um empréstimo, amplia temporariamente a sua condição de consumir bens. No entanto, no futuro, será preciso pagar ao credor e, consequentemente, reduzir o consumo para fazer frente à necessidade de pagamento, em que esse consumo deve se reduzir exatamente pelo valor do principal e dos juros cobrados. Nesse sentido, percebe-se como os juros exercem o papel de preço do consumo ao longo do tempo. Vamos desenvolver agora um modelo simplificado para entender as taxas de juros globais. Alguns fatores relevantes, como risco e mudanças nos preços e nas taxas de câmbio, não serão analisados. O objetivo desta abordagem simplificada é fornecer uma base de compreensão para os fundamentos econômicos das operações globais de crédito. A partir desses fundamentos, é possível acrescentar outros elementos ao modelo e entender como cada um deles modifica as conclusões que neste módulo serão derivadas. Supondo que a demanda e a oferta relativas de consumo futuro por consumo presente sejam iguais no mercado doméstico e estrangeiro, quais os efeitos de uma abertura do mercado financeiro de empréstimos entre países? Sabemos que o equilíbrio entre consumo futuro e presente em autarquia será determinado pela Fronteira Intertemporal de Possibilidades de Produção e a maior curva de indiferença dos consumidores para os dois tipos de bens. ATENÇÃO A abertura do mercado de crédito possibilita que a economia local escolha combinações de consumo presente e futuro que estejam além da Fronteira Intertemporal de Possibilidades de Produção da economia autárquica, contanto que a combinação escolhida esteja na restrição orçamentária intertemporal da economia (a reta tangente à Fronteira que possui inclinação igual ao oposto da taxa bruta de juros reais). Nesse caso, o equilíbrio será dado pelo encontro entre a reta de possibilidades de troca entre as duas economias e a curva de indiferença dos consumidores para os dois tipos de bens. Como nos ensina a Teoria do Consumidor, esse ponto oferece mais utilidade aos consumidores do que o ponto de equilíbrio autárquico, que, necessariamente, está sobre a Fronteira Intertemporal de Possibilidades de Produção. A diferença entre o ponto escolhido pelaintersecção entre as curvas de diferença e a restrição orçamentária e o ponto de tangência da reta de possibilidades de troca com a Fronteira de Possibilidades de Produção é justamente o que determina se o país será tomador de recursos ou emprestador de recursos. fongbeerredhot/shutterstock TOMADOR DE RECURSOS Caso exporte consumo futuro para importar consumo presente. Atstock Productions/shutterstock EMPRESTADOR DE RECURSOS Caso exporte consumo presente para importar consumo futuro. A análise do mercado de crédito, portanto, é bastante similar à análise que já fizemos sobre os efeitos da abertura comercial com dois países produtores de tipos diferentes. A diferença agora é que, em vez de termos dois tipos de bem, temos o mesmo bem em dois instantes diferentes de tempo. Matematicamente, a solução de um e de outro é idêntica. Para ilustrar nossa análise, imaginemos que a Fronteira de Possibilidades de Produção intertemporal seja dada pela equação a seguir: PF=25−Pp2PF=25-Pp2 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Fonte: O autor Vamos imaginar agora que a taxa de juros deste país seja de 20%. Nesse caso, a reta da restrição orçamentária intertemporal tem inclinação -1,2. O ponto da nossa Fronteira que tem inclinação -1,2 é o ponto em que a produção presente é 0,6 e a produção futura é 24,64. Portanto, a restrição orçamentária intertemporal pode ser representada pela linha vermelha do gráfico a seguir: Fonte: O autor Caso a intersecção da mais alta das curvas de indiferença com a restrição orçamentária intertemporal fique antes do ponto de intersecção entre a restrição orçamentária intertemporal e a Fronteira de Possibilidades de Produção (por exemplo, no ponto (0,5; 24,76)), o consumo de bens será inferior à produção presente. Nesse caso, o país exportará produção presente para importar produção futura. Ou seja, o país emprestará recursos ao estrangeiro. Caso a intersecção da mais alta das curvas de indiferença com a restrição orçamentária intertemporal fique depois do ponto de intersecção entre a restrição orçamentária intertemporal e a Fronteira de Possibilidades de Produção (por exemplo, no ponto (1,0; 24,16)), o consumo de bens será maior que a produção presente. Nesse caso, o país importará produção presente para exportar produção futura. Ou seja, o país tomará recursos do estrangeiro. Esse é um modelo em que as restrições orçamentárias intertemporais são sempre respeitadas. Por isso, essa análise não contempla episódios de calote na dívida internacional, e nem considera que os riscos inerentes a essa possibilidade estejam incorporados na taxa de juros de mercado cobrada das economias. Contudo, na prática, esses fatores são bastante importantes ao se determinar a taxa de juros e o equilíbrio de financiamento global dos países. EXEMPLO Sem levar em consideração a possibilidade de quebra de contratos, o mercado internacional de créditos funciona como um instrumento de seguro para as economias que fazem parte dele. Digamos que uma economia sofra um choque e que a sua capacidade de produzir bens para consumo imediato diminua drasticamente. Ela permanece com capacidade de consumo futuro, mas o consumo imediato foi comprometido. Se essa economia está em autarquia, ela deverá reduzir de forma drástica o seu consumo presente. Posteriormente, esse consumo pode se elevar, mas, no instante do choque, ele decai, sofrendo com uma alta volatilidade. Contudo, se a economia está inserida nos mercados internacionais de crédito, os efeitos desse choque serão amenizados pela possibilidade de financiamento. Nesse sentido, é como se a economia global oferecesse suporte à economia que, instantaneamente, está passando por um momento conturbado. Mas nem sempre observamos isso – vamos discutir por que no vídeo a seguir. ESTRESSE FINANCEIRO E FUGA DE CAPITAIS Além dos empréstimos internacionais, temos o também o Investimento Estrangeiro Direto (IED). Diferentemente do empréstimo internacional, em que ocorre somente uma transferência de recursos, o Investimento Estrangeiro Direto indica que o investidor permanece com o controle do negócio onde está investindo. Evidentemente, ao permanecer com o controle do negócio, o investidor também permanece com todos os riscos inerentes ao processo de investimento. Entre eles, o risco cambial, regulatório, jurídico. Dentre todas as modalidades de investimento, o Investimento Estrangeiro Direto é uma das mais arriscadas, até porque o prazo entre o investimento inicial e a extração de rendas derivadas costuma ser longo. Tipicamente, é uma empresa multinacional que está montando uma filial em outro país, ou uma empresa multinacional ampliando os investimentos na filial já instalada. Evidentemente, essa ampliação de investimentos também poderia ser feita na forma de empréstimo. Abre-se, portanto, o espaço para duas modalidades básicas de investimento direto: a participação em capital (quando uma empresa estrangeira faz um investimento financeiro para se tornar umas das donas de uma empresa nacional) e o empréstimo intercompanhia (empréstimos tomados em matrizes ou subsidiárias da empresa, no exterior). Caso o investimento basicamente replique a estrutura produtiva inteira da empresa em diversas localidades, temos o chamado IED horizontal. Nesse caso, a vantagem de transferir recursos na forma de investimento e não de empréstimo é somente a de se preservar o controle da empresa na qual se está investindo. A maior vantagem em se preservar o controle de uma empresa no estrangeiro é poder explorar o comércio na região onde a empresa está instalada sem a necessidade de se preocupar com barreiras locais. Além disso, essa operação certamente reduz custos de transporte. Contudo, há situações nas quais a estrutura de produção da empresa divide-se em várias unidades produtivas distintas. Tal divisão foi chamada de IED vertical. No IED vertical, é possível para a empresa explorar as vantagens competitivas, assim como a abundância e a escassez de recursos, de todos os países em que ela opera. Essa estratégia faz mais sentido quando há ganhos de escala com a especialização, ou quando existem preocupações quanto à transferência de tecnologia da empresa contratante para outras unidades do país doméstico que poderiam fazer a produção em vez da filial da empresa investidora. Nesse sentido, da mesma forma que o comércio de bens pode emular a troca de fatores entre os países, a troca de fatores pode emular o comércio de bens. Com a análise do comportamento dos Empréstimos Internacionais e do Investimento Estrangeiro Direto, conseguimos analisar as principais tendências da Conta de Capitais e Financeira do Balanço de Pagamentos. Com isso, encerramos o estudo sobre os determinantes do Comércio Internacional e dos fluxos de financiamento. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. SOBRE A MOBILIDADE INTERNACIONAL DE FATORES, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: Na ausência de fricções e em mercados que operam em concorrência perfeita, a mobilidade internacional do trabalho tenderia a equalizar o valor dos salários no mercado doméstico e no mercado internacional. O investimento estrangeiro direto é uma forma de as empresas terceirizarem a sua produção com operadores de outro país. Empresas multinacionais só podem movimentar recursos via investimento estrangeiro direto. Os efeitos da mobilidade internacional de fatores anulam os efeitos alocativos e distributivos da mobilidade internacional de bens. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. SOBRE OS EMPRÉSTIMOS INTERNACIONAIS, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: O recebimento de empréstimos internacionais é lançado na Conta Corrente do Balanço de Pagamentos. Empréstimos internacionais são prejudiciais ao crescimento econômico dos países tomadores. A taxa de juros real representa o consumo futuro de que se deve abrir mão para obter mais consumo presente. Empréstimos internacionais permitem ao credor ter o controle sobre as operações do devedor. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Sobre a mobilidadeinternacional de fatores, marque a alternativa correta: A alternativa "A " está correta. Ao discutir a mobilidade internacional do trabalho e seus efeitos redistributivos, mostramos como a mobilidade laboral gera convergência de rendimentos, na mesma linha que os modelos anteriores apontaram. 2. Sobre os empréstimos internacionais, marque a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. Ao discutir o equilíbrio sob empréstimos internacionais mostrou-se que a taxa de juros real é o preço do consumo futuro em termos do consumo presente. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste tema, introduzimos a discussão sobre os movimentos internacionais dos fatores de produção, entendendo melhor seus determinantes e seu funcionamento na dinâmica do Comércio Internacional. Apresentamos o Modelo de Heckscher-Ohlin, que nos permite sistematizar os determinantes e os mecanismos para a mobilidade de fatores, apesar de suas limitações. Também introduzimos a discussão do balanço de pagamentos, elucidando casos concretos que nos permitiram analisar melhor a mobilidade de fatores e seu impacto nos balanços. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS KRUGMAN, Paul; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson do Brasil, 2015. EXPLORE+ Para aprofundamento e melhor compreensão dos assuntos abordados neste tema, leis os artigos: · SAMUELSON, Paul. Ohlin Was Right. The Swedish Journal of Economics, v. 73, n. 4, p. 365-384, 1971. · JONES, Ronald W. A Three-Factor Model in Theory, Trade, and History. In: Bhagwati, Jagdish et al. (Ed.). Trade, Balance of Payments, and Growth. Amsterdam; London: North-Holland, 1971. p. 3-21. DEFINIÇÃO Os principais instrumentos da política comercial e seus efeitos. PROPÓSITO Analisar os efeitos dos instrumentos de política comercial mais comumente empregados. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos papel, caneta e uma calculadora científica ou use a calculadora de seu smartphone/computador. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever os instrumentos da política comercial MÓDULO 2 Descrever a política comercial nos contextos da economia política e da história INTRODUÇÃO Neste tema, vamos tratar das políticas comerciais entre países, dentro do contexto do Comércio Internacional. No primeiro módulo, vamos apresentar os conceitos e aplicações das tarifas aduaneiras e das quotas de importação, de modo a entender como países podem proteger setores da sua economia e arrecadar um percentual do preço dos produtos importados. No segundo módulo, vamos olhar com atenção para a Economia Política, de modo a compreender em que medida a dimensão política afeta o Comércio Internacional. Fonte: carballo/ShutterStock MÓDULO 1 Descrever os instrumentos da política comercial TARIFA ADUANEIRA A POLÍTICA COMERCIAL MAIS BÁSICA DE TODAS É A TARIFA ADUANEIRA, QUE CONSISTE FUNDAMENTALMENTE EM UM IMPOSTO COBRADO SOBRE AS MERCADORIAS IMPORTADAS. ESSE IMPOSTO PODE SER UM VALOR FIXO POR UNIDADE IMPORTADA (TARIFAS ESPECÍFICAS) OU PROPORCIONAL AO VALOR DA IMPORTAÇÃO (AD VALOREM). Suponhamos que só existam duas economias: doméstica e estrangeira. Ambas as economias produzem um único bem: milho. Usando as curvas de demanda e oferta de cada país, é possível construir uma curva de demanda de importações e de oferta de exportações. Curva de demanda de importações É a diferença entre a demanda e a oferta para preços abaixo do equilíbrio autárquico da economia importadora. Oferta de exportações É a diferença entre a oferta e a demanda para preços acima do preço de equilíbrio autárquico da economia exportadora. A demanda por importações é negativamente inclinada e a oferta por exportações é positivamente inclinada, exatamente como as curvas de oferta e demanda tradicionais. ATENÇÃO O comércio internacional é determinado pela igualdade entre oferta e demanda de exportações. TARIFA ADUANEIRA FIXA A tarifa aduaneira fixa faz com que o preço pago pelos demandantes com a importação seja diferente do preço recebido pelos produtores na exportação. Além disso, faz com que o preço recebido pelos produtores na exportação seja diferente do preço recebido pelos produtores no mercado local. PARA EQUALIZAR O RENDIMENTO DOS PRODUTORES COM OS DOIS MERCADOS, A IMPOSIÇÃO DE UMA TARIFA ADUANEIRA FAZ COM QUE O PREÇO DO MERCADO LOCAL AO EXPORTADOR CAIA E O PREÇO DO MERCADO IMPORTADOR SUBA, ATÉ QUE A DIFERENÇA ENTRE OS DOIS PREÇOS SEJA IGUAL AO VALOR DA TARIFA. Como o preço no mercado local ao exportador diminuiu, a oferta das empresas que exportam tende a diminuir. Da mesma forma, como o preço no mercado importador aumentou, a oferta das empresas locais ao mercado importador tende a aumentar. Ambos os movimentos vão na direção de reduzir o fluxo de comércio após a imposição da tarifa comercial. Nesse caso, os efeitos da imposição da tarifa aduaneira são repartidos entre o preço doméstico e o preço estrangeiro. Fonte: Eightshot_Studio/ShutterStock ATENÇÃO É possível que o país que impôs a tarifa seja uma economia pequena demais para influenciar os preços que vigoram no país exportador. Nesse caso, o efeito da imposição da tarifa ainda é o de reduzir as importações. Ao mesmo tempo em que reduz importações, as tarifas aduaneiras tipicamente aumentam o preço da mercadoria no país importador. Consequentemente, a tarifa beneficia os produtores locais, que agora podem vender seus produtos a um preço maior do que vendiam antes. NÍVEL DE PROTEÇÃO EFETIVA Mensurar o quanto uma tarifa protege um determinado setor pode ser complexo. Inicialmente, poderíamos imaginar que, se um bem é transacionado a R$10,00 e se impõe uma tarifa de R$1,00, a indústria local está recebendo uma proteção de aproximadamente 10%. Contudo, esse valor não necessariamente representa a realidade. E existem dois motivos para isso. Descubra a seguir quais são eles: 1º MOTIVO O primeiro motivo de esse valor não ser realista é a existência de efeitos das tarifas aduaneiras no comércio internacional. Ou seja, a imposição de tarifas pode afetar preços e quantidades transacionados globalmente, de modo que os efeitos da tarifa sobre os preços domésticos podem ser diferentes do valor exato aplicado de imposto. 2º MOTIVO O segundo motivo de esse valor não ser realista é a necessidade de considerar o efeito dos custos intermediários na análise. Em outras palavras, a variável de interesse das empresas não é a receita total, mas o lucro (ou valor adicionado). Nesse sentido, a taxa de proteção que uma tarifa oferece a um setor deveria ser medida em termos de lucro, e não de faturamento. Por exemplo, se o preço de uma mercadoria no mercado local era R$10,00, e a produção dessa mercadoria consumia R$5,00 em bens intermediários, o valor adicionado desse setor era R$5,00. Ao impor uma tarifa de R$1,00 que não tenha efeitos no comércio global, o preço da mercadoria no mercado local passou a ser R$11,00. O valor adicionado dos produtores locais, antes em R$5,00, agora passa a ser R$ 6,00. Ou seja, a tarifa de 10% (de R$10,00 para R$11,00) aumentou os ganhos dos empresários daquele ramo da atividade econômica em 20% (de R$5,00 para R$6,00). Da mesma forma, a imposição de uma tarifa sobre os bens de consumo intermediário pode tornar a produção dos bens finais menos vantajosa e, como resultado, fazer com que a proteção aplicada ao setor de bens intermediários cause uma proteção negativa no setor que produz os bens finais. Esses cálculos sobre o nível de proteção dos setores se chamam de cálculos de nível de proteção efetiva. VALE DESTACAR, CONTUDO, QUE OS EFEITOS DA IMPOSIÇÃO DA TARIFA ADUANEIRA VÃO ALÉM DAS QUANTIDADES EXPORTADAS E IMPORTADAS: HÁ EFEITOS SOBRE CONSUMIDORES, PRODUTORES E A RECEITA DO GOVERNO. COMPARAR TODOS ESSES ELEMENTOS REQUER O CÁLCULO DOS EXCEDENTES DO PRODUTOR E DO CONSUMIDOR. Em nossos mercados, não há perfeita discriminação de preços. Ou seja, os preços são fixos para diversos tipos de consumidores, sendo que alguns valorizam o bem adquirido muito mais do que outros. EXCEDENTE DO CONSUMIDOR, EXCEDENTE DO PRODUTOR E RECEITA DOGOVERNO Veja a seguir a relação entre o excedente do consumidor e o excedente do produtor: Excedente do consumidor Quando o consumidor está disposto a pagar pelo bem mais do que efetivamente paga, ele tem um ganho que é comumente chamado de excedente do consumidor. Na prática, é a área entre a curva de demanda e o preço praticado no mercado, para toda a quantidade efetivamente transacionada. Excedente do produtor Da mesma forma, quando o produtor acaba recebendo por um bem mais do que o preço mínimo ao qual está disposto a vender, ele tem um ganho que é comumente chamado de excedente do produtor. Trata-se da área entre a curva de oferta e o preço praticado no mercado, para toda a quantidade efetivamente transacionada. Em particular, se a curva de oferta e a curva de demanda são lineares, os excedentes do produtor e do consumidor formam dois triângulos. A soma dos excedentes do produtor e do consumidor é tipicamente uma métrica de eficiência econômica. QUANDO SE IMPÕE UMA TARIFA NO MERCADO, ALÉM DO EXCEDENTE DO CONSUMIDOR E DO PRODUTOR, SURGE A RECEITA DO GOVERNO. A receita do governo, no caso da tarifa por unidade de bem vendida, será a área do retângulo formado pelos preços do mercado consumidor e do mercado produtor (sendo a diferença entre os dois exatamente a tarifa aplicada) e a quantidade transacionada. Ao aplicar um imposto em um mercado, tipicamente, a soma da receita do governo, do excedente do produtor e do excedente do consumidor fica menor do que a área do excedente do produtor e do consumidor antes da aplicação desse imposto. SAIBA MAIS À diferença entre as duas áreas, damos o nome de peso morto, que representa uma medida da ineficiência econômica causada pela imposição da tarifa no mercado. EXEMPLO 1 Matematicamente, suponhamos que haja um mercado em que a curva de demanda é dada pela seguinte equação. QD=12-3P Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A curva de oferta, por sua vez, é dada pela equação a seguir: QS=2P-3 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal É fácil ver que o equilíbrio de mercado é tal que o preço por unidade vendida é 3,0 e a quantidade vendida é 3,0. Basta substituir esses valores nas duas equações acima – ou ainda fazer a interseção das duas curvas. QD=QS=>12-3P=2P-3=>P=3=>QD=QD=3 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Graficamente, as curvas estão representadas na figura a seguir. O excedente do consumidor é dado pelo triângulo laranja, e o excedente do produtor pelo triângulo verde. Fonte: Autor NUMERICAMENTE, O EXCEDENTE DO CONSUMIDOR PODE SER CALCULADO COMO (4-3)*3/2 = 1,5 NUMERICAMENTE, O EXCEDENTE DO PRODUTOR PODE SER CALCULADO COMO (3-1,5)*3/2 = 2,25 A SOMA DOS DOIS EXCEDENTES EQUIVALE A 3,75. EXEMPLO 2 AGORA, VAMOS SUPOR QUE SE IMPONHA NESTE MERCADO UMA TARIFA, DE VALOR 1. Nesse caso, as equações de oferta e de demanda passam a assumir as formas especificadas a seguir: QD=12-3PD Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal QS=2PS-3 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal E surge uma equação adicional no sistema, expressa a seguir: PS=PD-1 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, a diferença entre o que pagam os consumidores e o que recebem os produtores é 1, o valor da tarifa imposta neste mercado. COMO A IMPOSIÇÃO DA TARIFA AFETA O NOSSO EQUILÍBRIO? O preço pago pelos demandantes passa a ser 3,4. Logo, o preço recebido pelos produtores, 2,4: basta subtrair uma unidade. Substituindo em QS=2PS-3, obtemos a quantidade transacionada: 1,8. Ou seja, o preço pago pelos consumidores aumentou, de 3,0 para 3,4. O preço recebido pelos produtores caiu, de 3,0 para 2,4. A quantidade transacionada caiu, de 3,0 para 1,8. A situação pode ser expressa graficamente na figura a seguir: Fonte: Autor NUMERICAMENTE, O EXCEDENTE DO CONSUMIDOR PODE SER CALCULADO COMO (4,0-3,4)*1,8/2 = 0,54. NUMERICAMENTE, O EXCEDENTE DO PRODUTOR PODE SER CALCULADO COMO (2,4-1,5)*1,8/2 = 0,81. POR SUA VEZ, A RECEITA DO GOVERNO PODE SER CALCULADA COMO 1*1,8 = 1,8. Somando os dois excedentes com a receita do governo, temos um excedente total de 3,15. Considerando que, antes da imposição do imposto, a soma dos excedentes do produtor e do consumidor era 3,75, podemos dizer que a imposição da tarifa reduziu a eficiência deste mercado em 16% (redução de 3,75 para 3,15). Em outras palavras, o montante arrecadado não foi suficiente para cobrir as perdas com o excedente de cada um dos dois grupos envolvidos na transação. EXEMPLO 3 UM PROCEDIMENTO ANÁLOGO PODE SER USADO PARA QUE POSSAMOS ENTENDER OS EFEITOS DE TARIFAS ALFANDEGÁRIAS. Considerando as mesmas curvas de oferta e demanda de antes, podemos supor que a nossa economia é importadora de bens. ATENÇÃO Se a economia é importadora, o preço de equilíbrio deve ser mais baixo do que aquele que vigoraria na ausência de comércio. Suponhamos que o preço de equilíbrio da nossa economia seja dado por 2. A esse preço, os produtores locais produzem uma unidade do bem. A esse preço, os consumidores locais consomem 6 unidades do bem. Consequentemente, nossa economia importa 5 unidades do bem. Podemos expressar os excedentes do consumidor e do produtor na figura a seguir: Fonte: Autor Percebe-se claramente que a soma dos excedentes do produtor e do consumidor nesse caso superam os excedentes na ausência de comércio. Além disso, percebe-se que a quantidade importada é exatamente a diferença entre a base do triângulo laranja e a base do triângulo verde. NUMERICAMENTE, O EXCEDENTE DO CONSUMIDOR PODE SER CALCULADO COM A SEGUINTE EXPRESSÃO (4 – 2)*6/2 = 6. NUMERICAMENTE, O EXCEDENTE DO PRODUTOR PODE SER CALCULADO COM A SEGUINTE EXPRESSÃO (2 – 1)*1/2 = 0,5. Logo, a soma dos excedentes do produtor e do consumidor, nesse caso, foi de 6,5. Pode-se dizer que o comércio internacional aumentou os excedentes da nossa economia em mais de 70%. EXEMPLO 4 AGORA VAMOS IMPOR UMA TARIFA ALFANDEGÁRIA DE SETENTA CENTAVOS POR UNIDADE IMPORTADA. Consideremos que a imposição dessa tarifa reduz o preço internacional em vinte centavos (para 1,80) e aumenta o preço interno em cinquenta centavos (para 2,50). Graficamente, a imposição dessa tarifa tem como resultado o equilíbrio indicador na figura a seguir: Fonte: Autor A linha azul horizontal representa o preço de equilíbrio antes da tarifa, e as linhas pretas verticais mais grossas representam a quantidade importada (que é justamente a diferença entre 6 e 1, 5 unidades). A linha preta fina e vertical representa a nova quantidade importada. Com a tarifa, a quantidade demandada é de 4,5 e a quantidade ofertada sobe para 2. Consequentemente, a importação, que era de 5 unidades, cai para 2,5 unidades. Sobre essa importação incide a tarifa, no valor de 0,7 por unidade. Logo, o governo arrecada 1,75. O excedente do consumidor cai para o valor indicado na expressão (4,0 – 2,5)*4,5/2 = 3,375 (diminui 43,75%). Já o excedente do consumidor sobe para o valor indicado na expressão (2,5 – 1,5)*2/2 = 1,0 (aumenta 100%). A soma da arrecadação do governo com os dois excedentes totaliza 6,125. Consequentemente, podemos afirmar que a imposição dessa tarifa reduziu a eficiência na alocação de recursos em aproximadamente 5,7% (queda de 6,5 para 6,125). ATENÇÃO Vale destacar, contudo, que pode haver situações em que a imposição da tarifa gera uma receita governamental capaz de compensar a diferença entre a perda do excedente do consumidor e o ganho no excedente do produtor. Em particular, isso ocorre se a imposição da tarifa fizer com que a maior parte dos novos custos sejam repassados ao preço internacional. EXEMPLO 5 SUPONHAMOS, NO EXEMPLO ANTERIOR, QUE O AUMENTO TARIFÁRIO FOI DE UM REAL. MAS, ESSE AUMENTO DE UM REAL SE DIVIDE ENTRE UMA QUEDA NO PREÇO EXTERNO DE 2,0 PARA 1,5 E UMA ALTA DO PREÇO DOMÉSTICO DE 2,0 PARA 2,5. Já encontramos o equilíbrio de oferta e demanda domésticas para o caso em que o preço domésticoé 2,5. Resta somente determinar a nova arrecadação governamental nesse cenário. Como a importação permanece sendo de 2,5 unidades, a tarifa de um real por unidade implica uma arrecadação de 2,5. Logo, a soma dos excedentes com a arrecadação governamental passa a ser 6,875. VALE DESTACAR QUE 6,875 É UMA SOMA DE EXCEDENTES E RECEITA DO GOVERNO SUPERIOR ÀQUELA OBTIDA ANTES DA APLICAÇÃO DA TARIFA ALFANDEGÁRIA (NO CASO, 6,5). Tal resultado é possível porque a imposição da tarifa alfandegária tem o efeito de melhorar os termos de comércio do país que a aplica. No vídeo a seguir o professor vai falar sobre os subsídios à exportação. Assista: SUBSÍDIOS À EXPORTAÇÃO QUOTAS DE IMPORTAÇÃO Outra política comercial possível é a quota de importação. A QUOTA DE IMPORTAÇÃO É A LIMITAÇÃO DA QUANTIDADE IMPORTADA A UM DETERMINADO VALOR, SEM A APLICAÇÃO DE TARIFAS. COMO NÃO HÁ TARIFAS, ESSA POLÍTICA NÃO GERA UMA ARRECADAÇÃO PARA O GOVERNO. Ao mesmo tempo em que não gera arrecadação, a política, salvo casos muito particulares, restringe as quantidades consumidas e aumenta os preços. A combinação desses elementos faz com que as quotas sejam mais ineficientes do que a imposição das tarifas. Por essa razão, tipicamente, limitar as importações usando quotas custa mais caro, em termos de eficiência, do que limitar as importações na mesma magnitude usando as tarifas alfandegárias. ATENÇÃO Vale destacar que a forma como as licenças de importação é distribuída pode mudar significativamente os impactos, pois o comércio dessas licenças pode gerar rendas adicionais que mudam a alocação de recursos da economia. No nosso exemplo, a quota comercial poderia ser inserida com uma restrição do país importador de modo que a quantidade importada do bem fosse limitada a uma. APLICANDO ESSA QUOTA AO NOSSO EXEMPLO (CURVA DE DEMANDA QD=12-3P E CURVA DE OFERTA QS=2P-3), VEMOS QUE O PREÇO DA MERCADORIA DOMÉSTICA SERIA APROXIMADAMENTE 2,7 (EM VEZ DE 2,0, QUE OCORRERIA NA AUSÊNCIA DE QUOTAS). ASSIM, AUMENTAM PREÇOS E A EFICIÊNCIA DIMINUI. Em paralelo às quotas de importação, os países podem adotar restrições voluntárias às exportações. As restrições voluntárias às exportações funcionam de forma idêntica às quotas. Contudo, em vez de serem aplicadas no país importador, são aplicadas no país exportador. SAIBA MAIS Muitas vezes, os países exportadores podem ter interesse em adotar as restrições voluntárias como forma de negociação, para evitar a aplicação de outras medidas de política comercial que possam ser mais danosas. Essas são as principais políticas comerciais adotadas globalmente. Contudo, ainda há várias outras políticas comerciais que podem ser aplicadas e para as quais caberia muito mais discussão, como os requisitos de conteúdo nacional, os subsídios de crédito, as barreiras burocráticas e as barreiras técnicas não alfandegárias. Tais temas são de suma importância nos dias atuais, com uma profusão de medidas de desvio de comércio sendo propostas entre as principais economias globais. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. SOBRE OS INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: Subsídios à exportação diminuem o excedente do produtor e do consumidor da economia exportadora. A soma da arrecadação do governo com os excedentes do produtor e do consumidor nunca aumentarão após a imposição de uma tarifa alfandegária. A imposição de quotas de importação é sempre mais eficiente do que a imposição de tarifas alfandegárias. Políticas comerciais não geram efeito sobre os termos de comércio de um país. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. CONSIDERE AS SEGUINTES EQUAÇÕES DE OFERTA E DEMANDA POR UM BEM: QD=8-4PD QS=4PS-4 O PREÇO INTERNACIONAL DA MERCADORIA É 1,0, E O GOVERNO LOCAL RESOLVE IMPOR UMA TARIFA ALFANDEGÁRIA DE 0,5 POR UNIDADE IMPORTADA, QUE NÃO AFETA O PREÇO INTERNACIONAL. MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: O equilíbrio resultante é equivalente ao da situação de autarquia. A economia reduz suas importações em 50%. Como o preço internacional não é afetado pela tarifa, a arrecadação do governo mais do que compensa a perda de excedente do consumidor gerada com o tributo. A demanda dos consumidores cai 25% com a imposição da tarifa. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Sobre os instrumentos de política comercial, marque a alternativa correta: A alternativa "A " está correta. Ao discutir os efeitos das políticas comerciais, na seção Tarifa aduaneira, mostramos como o impacto dos subsídios à exportação sobre os termos de troca faz com que eles sempre piorem a alocação de recursos da economia. 2. Considere as seguintes equações de oferta e demanda por um bem: QD=8-4PD QS=4PS-4 O preço internacional da mercadoria é 1,0, e o governo local resolve impor uma tarifa alfandegária de 0,5 por unidade importada, que não afeta o preço internacional. Marque a alternativa correta: A alternativa "A " está correta. Ao explicar o funcionamento da tarifa alfandegária, na seção Tarifa aduaneira, mostramos como resolver numericamente o equilíbrio de mercado após a imposição do imposto. No caso, a quantidade demandada sai de 4 para 2, que é exatamente a quantidade que seria demandada na ausência de comércio. A produção das firmas sai de zero para 2 (aumenta a produção em duas unidades), de modo que não há importação. Não havendo importação, não há arrecadação. A economia simplesmente deixou de aproveitar os ganhos do comércio global. MÓDULO 2 Descrever a política comercial nos contextos da economia política e da história ECONOMIA POLÍTICA E COMÉRCIO INTERNACIONAL Na prática, as discussões sobre política comercial nos países são bem mais complexas do que o cálculo de eficiência, ganhadores e perdedores. PARTE DESSA COMPLEXIDADE VEM DA DIFICULDADE DE MENSURAR EMPIRICAMENTE OS EFEITOS DA POLÍTICA COMERCIAL. CONTUDO, O CONTEXTO EM QUE CADA PAÍS ESTÁ INSERIDO TAMBÉM PODE MUDAR A FORMA COMO AS DISCUSSÕES SÃO CONDUZIDAS. Fonte: Gearstd/ShutterStock Ainda que o arsenal teórico que tenhamos desenvolvido seja aplicável independentemente do contexto em que está inserido, os debates políticos em torno dos temas da política comercial dependem bastante dos atores envolvidos, daquilo que se tem a ganhar e perder e da força política de grupos de interesse organizados. Em várias localidades, a política comercial ainda é discutida e aplicada como se fosse um indutor do crescimento. Nesse sentido, é natural que haja uma diferença no debate das políticas comerciais que podem ser implantadas quando estamos falando de países desenvolvidos e países em desenvolvimento. INDUSTRIALIZAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES Um orientador clássico para a política comercial é a chamada industrialização de substituição de importações. EXEMPLO O Brasil, por exemplo, adotou essa estratégia comercial diversas vezes ao longo da história. Em algum momento, tais expedientes também foram utilizados no Sudeste Asiático, neste caso com resultados melhores. A base da ideia de substituição de importações é o argumento da indústria nascente. Segundo a versão mais sólida dessa ideia, que se manifestou com diversos embasamentos teóricos ao longo dos anos, o mundo desenvolvido tem um nível de produção maior do que o mundo em desenvolvimento simplesmente porque se desenvolveu primeiro. Consequentemente, não houve tempo para que a indústria local pudesse atingir a escala necessária à maturidade. POR CONTA DA FALTA DE MATURIDADE DA INDÚSTRIA LOCAL, SERIA NECESSÁRIO COLOCAR RESTRIÇÕES ÀS IMPORTAÇÕES (NA FORMA DE QUOTAS E TARIFAS, POR EXEMPLO) PARA QUE AS EMPRESAS DO MERCADO DOMÉSTICO ESTIVESSEM PROTEGIDAS DA CONCORRÊNCIA E, COM ISSO, PUDESSEM CRESCER ATÉ O PONTO DE FICAREM COMPETITIVAS GLOBALMENTE. Uma vez competitivas globalmente, as barreiras comerciais poderiam ser tiradas, pois as importações já teriam sido naturalmente substituídas por conteúdo local. No vídeo a seguir o professor vai dar continuidade a esse assunto. Assista: ECONOMIA POLÍTICA E COMÉRCIO INTERNACIONAL Por outro lado, a ausência de mercados financeiros que permitamalocar recursos na construção de novas empresas (e setores), assim como as externalidades geradas pelo surgimento de uma indústria nova, podem servir de argumentos para favorecer a intervenção governamental. Afinal, esses são dois casos em que a intervenção estatal estaria agindo para corrigir falhas de mercado da alocação de recursos da economia, o que tipicamente faz com que o governo aumente a eficiência alocativa dos recursos disponíveis. ARGUMENTOS PARA SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES Os argumentos tipicamente empregados na defesa da substituição de importações têm raízes históricas importantes. Com o avanço da industrialização ao longo do século XX, muitos países consideravam extremamente importante o crescimento do setor manufatureiro (pela sua capacidade de adicionar valor às commodities) e, ao mesmo tempo, consideravam que a concorrência internacional inviabilizaria essa expansão. Fonte: kentoh/ShutterStock Nesse sentido, não haveria espaço para, por exemplo, promover uma estratégia de expansão das exportações de manufatura. Pelo contrário, a solução da política comercial deveria ser a substituição das importações por produção doméstica. O FATO DE GRANDE PARTE DO FLUXO COMERCIAL GLOBAL TER SIDO SUSPENSO DURANTE AS DUAS GRANDES GUERRAS MUNDIAIS TAMBÉM CONTRIBUIU PARA QUE MUITOS VISSEM A SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES COMO UM ELEMENTO EXTREMAMENTE IMPORTANTE DA ESTRATÉGIA COMERCIAL, QUASE UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA NACIONAL. Em outras palavras, para evitar que os países sofram desabastecimento durante uma eventual guerra, a estratégia seria ter sempre uma indústria nacional capaz de suprir as necessidades locais. SAIBA MAIS Não é, em última instância, muito distinto do argumento que permeia a estratégia de America First da administração Trump nos EUA. No início, a proteção se concentrou nos bens finais, aqueles vendidos diretamente aos consumidores. Uma vez esgotada a proteção que se poderia fornecer a esses setores, começou-se também a proteger a produção de bens intermediários em cada país. Evidentemente, essa estratégia acaba por limitar o acesso dos países a novas tecnologias, muitas vezes compartilhadas por meio da importação de produtos. Além disso, com o avanço tecnológico e a especialização de uma série de indústrias, tem sido cada vez mais custoso manter uma estratégia de fechamento dos mercados domésticos para a produção estrangeira. Uma consequência natural desse fechamento é a exclusão dos países fechados das cadeias globais de valor, o que acaba por restringir não só as suas importações como também as suas exportações e o seu crescimento. Perde-se eficiência de forma acelerada. Fonte: Rawpixel.com/ShutterStock Por outro lado, o fechamento dos mercados para os produtores estrangeiros acaba por realmente expandir o tamanho das indústrias locais. Nesse sentido, a política atende ao seu objetivo de manter um núcleo de empresas especializadas na produção das manufaturas protegidas. Contudo, essa expansão ocorre ao custo de uma produtividade menor, que pode dificultar, inclusive, o crescimento da nação no longo prazo. Logo, ainda que alguns setores sejam vitoriosos, dificilmente pode-se dizer que a política aumentou o nível de desenvolvimento dos países que a adotaram. A história e os modelos têm narrativas incrivelmente parecidas para estes casos. EXEMPLO De 1950 a 1980, a Índia adotou a estratégia de substituição de importações. Nesse período, o país só se tornou mais pobre, em relação ao nível de renda dos Estados Unidos. Exemplos como esse ajudaram a diminuir a importância da estratégia ao longo do tempo, mostrando como a tentativa de forçar a criação de uma indústria nacional pode não ser tão benéfica ao crescimento como se supunha. Além dos pontos já discutidos, problemas mais estruturais como a falta de mão de obra qualificada, de ambiente institucional e de infraestrutura, para citar somente alguns exemplos, mostraram-se suficientemente grandes para impedir que a indústria nacional deslanchasse. As dificuldades de mensuração adequada da necessidade de proteção de cada setor e do quanto cada setor estava sendo protegido também facilitaram a atuação de grupos de interesse que acabaram por fazer com que a proteção aplicada às indústrias fosse extremamente alta. ATENÇÃO Em vários casos, a importação acaba substituída por uma produção local em escala diminuta, ineficiente. E a escala é ineficiente não só pela diferença de tamanho entre o mercado global e o mercado doméstico, mas porque, muitas vezes, diversas empresas acabam competindo pelo mercado doméstico por conta de ganhos de monopólio gerados pela proteção comercial. Diante de todas essas críticas e considerando o sucesso de países asiáticos que tiveram períodos de forte crescimento, apesar de suas economias serem bastante abertas, ao longo da década de 1980, foi-se construindo um consenso sobre a necessidade de aumentar a liberalização do comércio nas economias em desenvolvimento. CONSENSO LIBERAL O consenso pela liberalização acabou resultando em diminuição das quotas de importação, redução das alíquotas de importação e de barreiras não alfandegárias ao comércio. Como resultado, o comércio global aumentou significativamente. Além disso, países em desenvolvimento deixaram de exportar somente commodities e passaram a exportar também produtos manufaturados. CONTUDO, AINDA NÃO EXISTE CLAREZA DE QUE OS RESULTADOS DA POLÍTICA LIBERAL DE COMÉRCIO TENHAM SIDO MUITO MELHORES DO QUE OS RESULTADOS DO PERÍODO ANTERIOR. ENTRE O EXTREMO DA POLÍTICA DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES E O EXTREMO DA LIBERALIZAÇÃO COMPLETA DO COMÉRCIO, EXISTE ESPAÇO PARA QUE POSSAMOS DISCUTIR AS CONTROVÉRSIAS DA LIBERALIZAÇÃO E DA PROTEÇÃO COMERCIAL. No meio-termo entre as duas políticas, existe a possibilidade de a política comercial atuar exclusivamente para a correção de falhas nos mercados. A complexidade de implantação dessa ideia é a identificação de quais são as falhas relevantes a serem corrigidas. Como vimos anteriormente, muitas políticas comerciais ruins podem ser justificadas com argumentos teóricos de falhas de mercado que, na prática, podem não ser relevantes o bastante para justificar uma intervenção. Nesse sentido, a complexidade do debate nos fez dar um passo atrás. Em vez de discutirmos as políticas comerciais e quais falhas de mercado as justificam, passamos a discutir quais são as falhas de mercado relevantes para, então, pensarmos quais políticas comerciais podem fazer sentido nesse contexto. FALHAS DE MERCADO A primeira falha de mercado que parece ser relevante é a presença de retornos externos de escala no setor de tecnologia. Ou seja, a concentração de empresas de tecnologia produz benefícios dos quais essas empresas não são capazes de se apropriar. A segunda falha de mercado que parece ser relevante é a presença de lucros de monopólio em indústrias muito concentradas. EM PARTICULAR, O ARGUMENTO DOS RETORNOS DE ESCALA NO SETOR DE TECNOLOGIA PARECE SER BASTANTE RELEVANTE. AFINAL, O DESENVOLVIMENTO DE INDÚSTRIAS DE ALTA TECNOLOGIA GERA EXTERNALIDADES TANTO EM PAÍSES DESENVOLVIDOS COMO NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO. Tipicamente, as empresas de tecnologia têm um núcleo central responsável pelo desenvolvimento tecnológico, e esse núcleo gera benefícios que acabam sendo transferidos para o restante da economia, seja por meio de parcerias que este núcleo fomente com universidades e entidades de pesquisa, seja pelo desenvolvimento profissional das pessoas que trabalhem nesta unidade de pesquisa e depois passem a trabalhar em outros setores da atividade econômica. O fluxo de trabalhadores ao longo do tempo e o financiamento de pesquisa são dois elementos que ajudam a explicar como as externalidades operam, e este é um mecanismo por meio do qual elas fazem com que os investimentos da empresa se traduzam em benefícios para a sociedade. Fonte: metamorworks/ShutterStock Outro mecanismo importante para aprendizado são as técnicas de engenharia reversa que esses centros de pesquisa conseguem aplicar no desenvolvimento tecnológico feito pela concorrência.Considerando que a proteção dada pelas patentes é sempre frágil, a aplicação de engenharia reversa a um produto que adote uma nova tecnologia pode fazer com que rapidamente a inovação de uma empresa seja transferida às demais. EXEMPLO Parte relevante do desenvolvimento do setor ferroviário chinês durante as duas últimas décadas veio da aplicação de engenharia reversa, particularmente relevante no caso dos trens-bala (“aprendendo” com os trens japoneses e europeus). Evidentemente, o caso da engenharia reversa ajuda a mostrar como políticas que restringem as importações podem acabar comprometendo o desenvolvimento tecnológico e o avanço econômico do país. Sempre que há externalidades, há falhas de mercado que podem demandar a atuação governamental. No caso, poderíamos discutir a necessidade de algum tipo de subsídio para essas empresas. A maior dificuldade de fazer isso, na prática, é que o subsídio precisaria se direcionar exatamente para a atividade de pesquisa. Ou seja, é preciso que o governo o direcione às empresas corretas e, dentro dessas empresas, às áreas que estão gerando o benefício público. Consequentemente, apesar das externalidades da indústria de tecnologia, essas restrições deixam muito difícil desenhar qualquer tipo de política pública que seja eficaz em promover a geração de conhecimento sem gerar distorções. INTERVENÇÃO ESTATAL A questão da intervenção estatal em virtude de presença de lucros de monopólio nas indústrias concentradas é relativamente recente, da década de 1980, e tem por base a ideia de que há setores nos quais somente algumas empresas operam em concorrência perfeita, gerando retornos em excesso. SAIBA MAIS A essa análise dá-se o nome de Análise Brander-Spencer, por ter sido desenvolvida pelos economistas Barbara Spencer e James Brander, da Universidade de British Columbia. Nessa situação, seria possível que a imposição de subsídios à produção doméstica transferisse os ganhos excedentes dos produtores no estrangeiro para as firmas locais, de modo que esse ganho superasse, inclusive, o valor gasto com os subsídios. Consequentemente, seria possível desenvolver uma política comercial para ampliar a renda nacional doméstica por meio da captura dessa renda no estrangeiro. PARA COMPREENDER A ESTRUTURA DESSE ARGUMENTO, VAMOS ANALISAR UM CASO HIPOTÉTICO DE COMPETIÇÃO ENTRE EMPRESAS DO SETOR AÉREO. Consideremos que só há duas grandes empresas produtoras de aviões na economia global, empresas A e B. Consideremos, também, que o retorno que cada empresa tem por entrar no mercado, sozinha, seja de 100. Evidentemente, quem não entra no mercado não ganha nada. Contudo, se ambas as empresas entrarem no mercado, elas perdem 5 cada uma. Se ambas as empresas decidirem não entrar no mercado, ninguém ganha nem perde nada. O equilíbrio que determinará a decisão de entrar ou não no mercado não é mais um equilíbrio competitivo, em que as firmas tomam os preços como dados e decidem suas quantidades de produção a partir disso. Aqui temos uma situação em que o equilíbrio de mercado é estratégico, vem da solução de um jogo. Veja a seguir quatro perguntas chave para entender melhor o exemplo apresentado: QUAL É A SOLUÇÃO DO JOGO COLOCADO? Estará no mercado e produzirá aviões a firma que começar primeiro. Ou seja, estamos num caso clássico em que há forte vantagem de uma empresa ser a primeira a estar no ramo de atuação. Uma vez no ramo, a outra empresa não tem incentivo algum para entrar, pois não entrar envolve não perder nada, e entrar envolve perder 5. Logo, ela opta por não entrar, o que deixa a empresa que já está operando numa situação privilegiada. COMO O GOVERNO PODE MUDAR ESSA SITUAÇÃO? Digamos que o governo da empresa que não opera resolva estabelecer um subsídio de 25 para a empresa entrar no mercado. Como isso afeta seus payoffs ? Agora, quando a empresa doméstica produz avião sozinha, ela ganha 125. Quando a empresa doméstica produz avião e a empresa estrangeira também produz, ela ganha 20. Ao não produzir avião, a empresa doméstica nunca ganha nada. Portanto, é fácil ver que o subsídio faz com que a produção de aviões seja uma estratégia dominante para a empresa que o recebe. Por ser uma estratégia dominante, a empresa entra no mercado. QUAIS SÃO OS RESULTADOS ECONÔMICOS DE ESSA EMPRESA ENTRAR NO MERCADO? Com a entrada da empresa doméstica no mercado, não compensa mais para a empresa estrangeira permanecer nele. Logo, o benefício da empresa doméstica em entrar no mercado passa a ser 125. Vale notar como o subsídio nos fez sair da situação em que a empresa doméstica tinha zero para a situação em que ela tem 125. Como 125 está muito acima do valor do subsídio aplicado, houve uma apropriação de excedente estrangeiro que mais do que compensou a intervenção estatal. Evidentemente, esta é uma análise simplificada do problema, na qual os exemplos funcionam facilmente. Na prática, há uma série de outros fatores que dificultam uma aplicação dessa estratégia. Afinal, é bastante difícil saber os ganhos e perdas possíveis de cada decisão de produção que a empresa toma, tornando inviável a calibragem adequada do subsídio (como fizemos no exemplo). No nosso exemplo, ambas as empresas eram idênticas e tinham condições de competir entre si. MAS, E SE A EMPRESA ESTRANGEIRA TEM UMA TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO MUITO MELHOR DO QUE A EMPRESA DOMÉSTICA E, POR ISSO, FOI LÍDER DE MERCADO DURANTE TANTO TEMPO? Nesse caso, pode ser que a empresa estrangeira decida permanecer no mercado mesmo com a implantação do subsídio, o que diminuiria a eficiência da economia e geraria um grande desperdício de recursos: o governo estaria subsidiando uma empresa com o objetivo de fazê-la ter prejuízos no mercado internacional. Esses elementos ainda nem levam em consideração os efeitos que a aplicação de subsídios em um setor tem sobre os demais. No caso, é perfeitamente possível que a aplicação de subsídios ao comércio de aviões eleve os custos de outros setores da atividade econômica e, consequentemente, tenha efeitos de equilíbrio geral relevantes. De todo modo, a ausência de informação completa dificulta muito o desenho de políticas comerciais efetivas. E, mesmo quando as questões informacionais estão superadas, ainda existe o risco de retaliação estrangeira. Tipicamente, essas políticas comerciais são políticas de empobrecimento do vizinho, aumentando o bem-estar doméstico à custa do bem-estar estrangeiro. Um risco dessa estratégia é justamente a possibilidade de retaliação que ela traz, por exemplo, com a imposição mútua de tarifas e quotas. Na prática, a imposição de tarifas de importação para os bens tipicamente exportados de um país pode fazer com que esse país resolva aumentar suas tarifas de importação também. Nesse caso, temos uma situação em que o equilíbrio se desloca de uma situação de livre comércio para uma situação em que ambos os países passam a comercializar muito menos bens na economia global e, consequentemente, na qual o bem-estar de ambos os países acaba sendo muito menor do que antes de as políticas comerciais começarem a ser implantadas. PAYOFFS Payoff é o termo genérico para o resultado obtido por um agente econômico – por exemplo, a utilidade de um consumidor ou o lucro de uma firma. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. SOBRE O COMÉRCIO INTERNACIONAL, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: A política de substituição de importações foi implantada com sucesso em diversos países em desenvolvimento, sendo a principal causa do alto crescimento econômico desses países ao longo da segunda metade do século XX. Não existe nenhuma situação teórica na qual a política de substituição de importações possa ser aplicada. Embora os ganhos tecnológicos possam representar externalidades que justifiquem a oferta de subsídios para as empresas de tecnologia, é bastante difícil desenhar um instrumento de subsídio efetivo na prática. Políticas de empobrecimento do vizinho são uma estratégia eficaz e incontroversa de se aumentar a renda nacional. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2.SOBRE O COMÉRCIO INTERNACIONAL, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: O modelo Brander-Spencer mostra como mercados em concorrência perfeita podem gerar ganhos de monopólio eventuais. A estratégia de substituição de importações não tem efeito sobre as exportações de um país. Políticas protecionistas criadas com o objetivo de retirar excedente do estrangeiro e trazê-lo para o país doméstico podem gerar uma retaliação que, ao fim do processo, faz com que ambos os países acabem com menos comércio e menos bem-estar. A proteção da indústria nacional é a chave para o desenvolvimento econômico dos países subdesenvolvidos. Parte inferior do formulário GABARITO 1. Sobre o comércio internacional, marque a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. Ao discutir se o governo deveria subsidiar os setores com economias externas de escala, mostramos como é difícil ter instrumentos que possam atuar especificamente na atividade que gera esses ganhos, no caso, pesquisa e desenvolvimento. Por isso, apesar de o desenho desses mecanismos ter valor teórico, ele acaba tendo pouca utilidade prática. 2. Sobre o comércio internacional, marque a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. Ao discutir a política de empobrecimento do vizinho, discutimos os efeitos que a retaliação pode ter no equilíbrio de comércio mundial. Em particular, discutimos como esse processo, após algumas etapas, pode terminar fazendo com que todos estejam em situação pior do que estavam antes de a estratégia começar a ser implantada. Na prática, ela pode reduzir os níveis de comércio entre os países e, como resultado dessa redução, fazer com que o bem-estar de seus consumidores diminua. Como resultado desse processo, a alocação de recursos da economia se torna mais ineficiente. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Este tema apresentou as políticas comerciais adotadas a partir do Comércio Internacional. Tratamos não apenas da estruturação e funcionamento das tarifas aduaneiras e das quotas de importação, mas também trouxemos para o debate a economia política e como ela pode afetar todos esses fatores. Por fim, trouxemos para o debate o consenso liberal, que aprofundou o comércio global. Com isso, esperamos que você tenha compreendido de que maneira políticas comerciais afetam o Comércio Internacional e de que forma seus mecanismos são implementados com base em instrumentos políticos. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson do Brasil, 2015. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, leia os artigos: · Measuring the Costs of Protection in Europe: European Commercial Policy in the 2000s, de Patrick Messerlin. · Calculating the Consumer and Net Welfare Costs of Import Relief, de Donald Rousslang e John Suomela. DEFINIÇÃO Apresentação dos conceitos de comércio internacional, organismos multilaterais, globalização e acordos internacionais. PROPÓSITO Conhecer os principais organismos multilaterais, assim como suas funções e estrutura. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir o contexto histórico e as razões teóricas que justificam a existência de instituições internacionais multilaterais de comércio MÓDULO 2 Definir os principais fatores e controvérsias envolvendo a globalização, a forma como ela afeta a relação entre os países e o papel dos acordos e organismos internacionais nesse ecossistema INTRODUÇÃO Trataremos dos organismos e acordos internacionais, que surgem para coordenar e auxiliar o comércio internacional. No primeiro módulo, vamos falar sobre o contexto histórico e as teorias que fundamentam as instituições multilaterais de comércio. Além disso, vamos elencar diversas instituições e debater sobre a globalização no segundo módulo. MÓDULO 1 Definir o contexto histórico e as razões teóricas que justificam a existência de instituições internacionais multilaterais de comércio INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS MULTILATERAIS DE COMÉRCIO: CONTEXTO E TEORIAS Há uma série de argumentos teóricos que, às vezes, favorecem o livre comércio ou algum grau de protecionismo. Ao mesmo tempo, há motivos para que esses argumentos sejam dificilmente aplicáveis, tendo consequências distributivas que podem inviabilizar a sua implantação. Autor: Rvector/Fonte: Shutterstock Considerando a proliferação de casos de excesso de protecionismo, fica ainda mais difícil de acreditar que a teoria de comércio possa efetivamente ser usada para a elaboração de políticas econômicas no “mundo real”. No entanto, apesar de todos os argumentos de economia política que mostram como a abertura comercial pode ser difícil, de fato, houve uma liberalização comercial em vários países ao longo do último século. A integração comercial aumentou muito nas últimas décadas, ainda que haja dúvidas sobre a capacidade dessa expansão de se manter por muito mais tempo. NESSE SENTIDO, QUAL FOI A FÓRMULA MÁGICA DE ECONOMIA POLÍTICA QUE OCORREU NESSE PERÍODO PARA QUE A LIBERALIZAÇÃO OCORRESSE? AFINAL, CONSIDERANDO AS DIFICULDADES POLÍTICAS, DISTRIBUTIVAS E DE IMPLANTAÇÃO DAS POLÍTICAS COMERCIAIS, ERA ESPERADO QUE NUNCA HOUVESSE AVANÇO NESSAS ÁREAS. RESPOSTA Parte significativa desse avanço pode ser explicada pelas rodadas internacionais de negociação. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, várias instituições internacionais têm surgido, com o objetivo de promover a solução pacífica de conflitos e a negociação diplomática. O surgimento dessas organizações abre espaço para que haja uma racionalização maior da relação entre os países. Além das questões políticas envolvidas nesse processo, certamente, afetam-se as negociações comerciais entre as nações. Ao longo das últimas décadas, foi possível que os países chegassem a acordos em que, mutuamente, reduziriam suas barreiras alfandegárias e não alfandegárias, ao passo que também diminuiriam os incentivos dados às indústrias locais. AGORA PENSE. O QUE AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS TÊM QUE FACILITA A NEGOCIAÇÃO COMERCIAL? Para entender esse problema, precisamos nos debruçar sobre os elementos estratégicos da política comercial. TEORIA DAS INSTITUIÇÕES MULTILATERAIS DE COMÉRCIO As tarifas comerciais aplicadas no país doméstico, em algumas situações, geram uma transferência de renda do resto do mundo para o país doméstico. Isso faz com que a adoção de medidas protecionistas possa gerar retaliação por parte dos outros países. Ao fim desse processo, chegamos a uma situação em que nenhuma das partes tem incentivos para reduzir o seu grau de protecionismo. Afinal, a parte que reduzir protecionismo primeiro acabará prejudicando a sua indústria local e transferindo rendimentos diretamente à indústria do país estrangeiro. Em outras palavras, temos uma situação muito parecida com a que, em teoria dos jogos, se denomina: DILEMA DO PRISIONEIRO Esta é uma situação gerada por um jogo no qual há dois suspeitos, que têm a opção de confessar, ou não, o crime que se investiga. No caso, ambos são culpados. Os prisioneiros estão em salas separadas, de modo que não há qualquer possibilidade de comunicação, negociação ou conluio entre eles. Se nenhum dos dois confessar, ambos saem livres. Nesse cenário, eles têm o maior retorno possível. Se um deles confessar, mas o outro não, aquele que confessa acaba se tornando um delator e tendo a pena perdoada. Ele sai melhor do que se não tivesse confessado, pois sai do interrogatório com a consciência tranquila. Se ambos confessarem, ambos cumprem a pena integral. A PERGUNTA QUE FICA É: QUAL DECISÃO OS SUSPEITOS TOMARÃO? Para responder a essa pergunta, precisamos recorrer aos conceitos de equilíbrio em teoria dos jogos. O mais aplicado a esse tipo de problema é o equilíbrio de Nash, no qual observamos que o equilíbrio é a situação em que cada jogador, dada a estratégia dos demais jogadores, não se arrepende da decisão tomada. VOLTEMOS AO NOSSO EXEMPLO, PARA APLICAR O CONCEITO DE EQUILÍBRIO DE NASH A ELE. Se um prisioneiro não confessar, a melhor estratégia para o outro é confessar. Se um prisioneiro confessar, a melhor estratégia parao outro é, também, confessar. Logo, para este jogo, o equilíbrio é que ambos os prisioneiros confessem. Nesse caso, é interessante perceber que o equilíbrio de Nash ocorre em um ponto que não é o melhor resultado possível do jogo para ambos. Ou seja, considerando que esse seja o resultado real do jogo, pode-se dizer que ambos os envolvidos perdem a oportunidade de melhorar seu bem-estar, pois há outra estratégia que levaria os jogadores a um ótimo de Pareto em relação ao equilíbrio de Nash. COMENTÁRIO Se os suspeitos pudessem conversar e negociar uma saída (e prestar o depoimento em conjunto), provavelmente escolheriam não confessar. Contudo, os incentivos que cada um deles encontra, individualmente, na solução do problema, levam ambos a confessarem o crime. Situação semelhante ocorre no comércio internacional. A solução de escolher a via do protecionismo, da guerra comercial, pode ser um equilíbrio de Nash: Enquanto todos os países estiverem escolhendo o protecionismo, ou a guerra comercial, a melhor escolha para um país isolado é, também, proteger a sua economia local. Contudo, essa não é a melhor situação para os países em conjunto. Caso fosse possível que todos abrissem as suas economias, a eficiência econômica global aumentaria. Claro que, além da negociação, é necessário haver instâncias onde se possa verificar o cumprimento dos acordos firmados. Como no caso dos prisioneiros, não bastaria que ambos negociassem uma solução (pois ambos teriam incentivos para desviar da solução negociada). Para que o ótimo de Pareto fosse atingido, eles precisariam prestar o depoimento em conjunto, de modo a cada um observar o que o outro fala. Nesse sentido, a existência de organismos internacionais de comércio é muito bem-vinda, funcionando como um mecanismo de coordenação e informação entre os países. CONTEXTO HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES MULTILATERAIS DE COMÉRCIO Historicamente, a redução de tarifas, como uma política de comércio, remonta à década de 1930. Naquela época, os EUA editaram um normativo aumentando vertiginosamente as tarifas alfandegárias de uma série de produtos. Após esse aumento, o governo reconheceu que a medida foi excessiva, pois o fluxo de comércio diminuiu sensivelmente com ela. Contudo, reverter esse aumento de tarifas se tornou uma tarefa muito difícil, pois toda tarifa beneficiava os produtores de alguma região. Como consequência, havia bastante resistência no congresso para que as tarifas fossem voluntariamente reduzidas. Era necessário que os produtores que perderiam com a redução tarifária fossem compensados. Como alternativa de recompensa a esses produtores, o governo americano começou a negociar reduções de tarifas que fossem bilaterais. Dessa forma, os EUA reduziriam a proteção de seu mercado doméstico, mas os países parceiros comerciais dos americanos deveriam, também, reduzir os custos de importação. MAS E AS RELAÇÕES QUE CADA UM DELES TEM COM OUTROS PAÍSES? Uma dificuldade desse tipo de acordo, no entanto, é que cada um dos dois parceiros que está negociando tem relações comerciais com muitos outros países do mundo. Consequentemente, as negociações bilaterais têm efeitos secundários, muitas vezes, bastante relevantes. Vale destacar que, geralmente, eles envolvem vantagens e desvantagens para países que não fizeram parte do acordo. Como forma de ter negociações comerciais que levassem melhor em consideração a complexidade do comércio internacional, foram propostas as negociações multilaterais, a ocorrerem em um organismo internacional que nunca saiu do papel (a Organização de Comércio Internacional). Entre a proposta da Organização de Comércio Internacional e a criação da Organização Mundial do Comércio, após algumas décadas, um grupo de 23 países se reuniu (em 1974) para instituir o que ficou conhecido como Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT). Este pacto estabeleceu regras gerais para a condução da política comercial nos países. Ele permanece em vigor até hoje e funciona de forma coordenada com a OMC. O sistema estabelecido para proteção do comércio tem dois componentes principais: incentivos ao livre comércio e desincentivos ao protecionismo. Para desestimular o protecionismo, as tarifas comerciais em um país podem ser vinculadas. Uma vez vinculadas, elas não podem subir (a menos de circunstâncias específicas que envolvam a negociação e anuência dos demais membros). A maior parte delas, nos países desenvolvidos, já está vinculada, assim como uma proporção significativa das tarifas dos países em desenvolvimento. O sistema, também, impõe limites às restrições não tarifárias ao comércio. Em linhas gerais, evita-se a criação de novas quotas de importação, assim como se trabalha pela conversão das quotas de importação em tarifas. Para incentivar a abertura comercial, são feitas rodadas de negociação envolvendo diversos países simultaneamente. Já ocorreram oito rodadas desde 1947, cada qual cobrindo um conjunto de países e temas ligados ao comércio de bens e, mais recentemente, (tentativamente) serviços: 1947 Rodada Genebra, envolvendo 23 países; 1ª RODADA Rodada Annecy (1949), envolvendo 13 países; 2ª RODADA Rodada Torquay (1950 a 1951), envolvendo 38 países; 3ª RODADA Rodada Genebra (1955-1956), envolvendo 26 países; 4ª RODADA Rodada Dillon (1960-1961), envolvendo 26 países; 5ª RODADA Rodada Kennedy (1964-1967), envolvendo 62 países; 6ª RODADA Rodada Tóquio (1973-1979), envolvendo 102 países; 7ª RODADA Rodada Uruguai (1986-1993), envolvendo 123 países; 8ª RODADA Rodada Doha (2001-2010?), envolvendo 149 países. As cinco primeiras rodadas cobriram, unicamente, questões tarifárias. Os encontros eram organizados de forma que os países poderiam fazer várias reuniões bilaterais e negociar uma série de mudanças na sua política comercial de uma só vez. Assim, se um país fosse fazer concessões que beneficiassem mais de um participante, ele poderia negociar contrapartidas com todos os envolvidos. A partir da sexta rodada, a pauta dos encontros só foi se expandindo. Na Rodada Kennedy (1964-1967), já foram tratados temas associados ao antidumping. Somente nessa rodada, as tarifas médias foram reduzidas em torno de 35%. Vários setores tiveram reduções de tarifa da ordem de 50%. Na Rodada Tóquio (1973-1979), foram discutidas medidas não tarifárias e cláusulas de habilitação. Na Rodada Uruguai (1986-1993), foram discutidos os temas: tarifas, agricultura, serviços, propriedade intelectual e investimento. Agendada para terminar em 1990, a Rodada Uruguai produziu seu resultado somente em 1993, com um amplo acordo em que os países-membros assumiram diversos compromissos relativos a mercado e a produtos. O pacto foi assinado em 1994 e ratificado pelos principais países — inclusive com tensos debates políticos domésticos, como ocorreu no caso dos EUA. Como resultado dessa rodada, a agenda de liberalização do comércio avançou e, também, ocorreram algumas reformas administrativas importantes. A tarifa média imposta pelos países desenvolvidos caiu mais de 40% nessas negociações. Contudo, vale destacar que a base de comparação já estava mais baixa, por conta do sucesso na redução das tarifas obtido nas rodadas anteriores. Além da redução tarifária, foram discutidos avanços em dois setores críticos: agrícola e têxtil. O setor agrícola é alvo de intensas políticas comerciais em todo o mundo, por diversas razões. Como resultado da Rodada Uruguai, os subsídios agrícolas foram reduzidos em 36% e as exportações subsidiadas em 21%. Quotas de importação, comumente adotadas no Japão, foram substituídas por tarifas alfandegárias vinculadas. A Rodada Uruguai ainda previu o fim do Acordo Multifibras em um horizonte de dez anos, eliminando as restrições quantitativas no setor têxtil. Como parte do resultado dessa política, houve um aumento vertiginoso na exportação dessa área para os países desenvolvidos, notadamente os EUA e os países europeus. A China foi, em grande parte, beneficiada pela medida. Evidentemente, essa mudança foi alvo de intensos debates políticos ao longo dos anos.A grande reforma administrativa promovida com a Rodada Uruguai foi a criação da Organização Mundial do Comércio, a OMC. Até à criação da OMC, o GATT tinha um secretariado, em Genebra, que basicamente organizava as obrigações referentes ao acordo. Além da questão administrativa, a criação da OMC, uma organização internacional permanente voltada ao comércio, representa um grande avanço institucional em relação ao GATT, que era um acordo temporário entre países. Além disso, a criação da OMC permitiu: 1. A revisão das regras de comércio internacional de serviços, que não eram muito relevantes na época da assinatura do GATT, mas se tornaram importantes ao longo do tempo. A revisão dessas se concretizou na instituição do Acordo Geral sobre Comércio de Serviço (GATS). 2. A incorporação dos mecanismos internacionais de proteção ao comércio partindo do pressuposto de que as economias globais estão cada vez menos dependentes do capital físico para produzir seus bens e serviços, e cada vez mais dependentes do capital intelectual. A incorporação desses elementos se concretizou no Acordo sobre os Aspectos Comerciais da Propriedade Intelectual (TRIPS). A OMC também exerce um papel essencial na resolução de disputas entre os países. Afinal, mais do que estabelecer as regras, é importante ter mecanismos para saber se elas foram violadas e apurar se isso, de fato, ocorreu. Antes da OMC, havia mecanismos para garantir o cumprimento das regras do GATT em tribunais internacionais, mas esses mecanismos eram mais burocráticos e menos efetivos do que poderiam ser. Na OMC, as controvérsias são tipicamente resolvidas em menos de um ano e envolvem painéis de especialistas, apelações e recursos. NO CASO DA APURAÇÃO DE UMA VIOLAÇÃO DAS REGRAS DA OMC, O QUE ACONTECE? Como todos os organismos internacionais, a OMC não dispõe de meios diretos para forçar um país a cumprir os acordos internacionais vigentes. No entanto, ela dispõe de legitimidade para, diante de uma violação do pacto estabelecido, autorizar o país afetado a retaliar o país que descumpriu as normas vigentes. Apesar das dificuldades inerentes ao avanço da agenda, pode-se dizer que a Rodada Uruguai constitui um caso concreto em que a liberalização comercial reduziu os benefícios de pequenos grupos de produtores e beneficiou consumidores espalhados no mundo inteiro. A proteção comercial no setor têxtil sempre foi uma das mais relevantes para a economia americana, assim como a proteção da produção agrícola é muito importante para o Japão e diversos países europeus. Conseguir implantar mecanismos que ataquem esses privilégios e distribuam os ganhos aos consumidores é uma grande realização da rodada de diálogo multilateral. Nesse sentido, apesar de todas as dificuldades políticas envolvendo a liberalização comercial, essa não é uma agenda perdida. Autor: Freepik/Fonte: Freepik Embora sejam estimativas sempre controversas, há quem defenda que os efeitos da Rodada Uruguai são superiores a US$200 bilhões/ano. Em contraposição ao sucesso da Rodada Uruguai, temos a Rodada Doha, a maior rodada de negociações comerciais da história. RODADA DOHA Ela começou em 2001, aparentemente terminou por volta de 2010 e, pela primeira vez desde o início do GATT, não gerou nenhum acordo comercial. Parte da ausência de um novo acordo comercial vem da sequência de sucessos obtida nas negociações anteriores. Com reduções tarifárias algumas vezes entre 30% e 50% em uma única etapa, as rodadas anteriores reduziram significativamente o volume de protecionismo no mundo. Nesse sentido, sobrou menos protecionismo a combater. Além disso, o próprio combate ao protecionismo mostrou seus retornos decrescentes de escala: enquanto havia muitas distorções a eliminar, era mais fácil avançar do que agora. ESTIMATIVAS DO BANCO MUNDIAL SUGEREM QUE MESMO UMA RODADA DE NEGOCIAÇÕES AMBICIOSA EM DOHA PODERIA AUMENTAR O PIB MUNDIAL EM SOMENTE 0,18%. Autor: Flaticon/Fonte: Freepik O principal setor em que se concentram proteções comerciais relevantes é a agricultura, que é politicamente bastante sensível. Ao mesmo tempo, os mecanismos para evitar a elevação das restrições ao comércio continuam em prática, de modo que a agenda comercial global permanece em um ponto de alta liberalização. Zonas de Livre Comércio e União Aduaneira Neste vídeo, abordaremos os Acordos de Comércio Preferencial. VERIFICANDO O APRENDIZADO Parte superior do formulário 1. SOBRE O GATT E A OMC, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: O GATT surgiu após a OMC, em 1974. Todas as rodadas de negociação do GATT geraram acordos que acabaram por tornar o comércio mais livre em todo o mundo. A OMC foi criada na Rodada do Uruguai, em 1995, e representou um avanço institucional importante à agenda estabelecida no GATT. Apesar dos avanços nos mecanismos de negociação para liberar o comércio entre países, ainda não há mecanismos eficazes para se garantir que os acordos pactuados sejam cumpridos. Parte inferior do formulário Parte superior do formulário 2. SOBRE OS ACORDOS DE COMÉRCIO PREFERENCIAL, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: Toda zona de livre comércio é também uma união aduaneira. A instituição de zonas de livre comércio sempre melhora a eficiência de uma economia. O GATT proíbe acordos de comércio preferencial que não resultem na liberação do comércio. O MERCOSUL é uma união monetária. Parte inferior do formulário MÓDULO 2 Definir os principais fatores e controvérsias envolvendo a globalização, a forma como ela afeta a relação entre os países e o papel dos acordos e organismos internacionais nesse ecossistema INSTITUIÇÕES MULTILATERAIS Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, várias instituições multilaterais surgiram com o objetivo de aproximar os países, buscando soluções diplomáticas para os problemas de coordenação que surgem na política internacional. ENTRE AS DIVERSAS INSTITUIÇÕES CRIADAS, A PRINCIPAL É A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Fundada, em 1945, por cinquenta e um países (entre eles o Brasil), em substituição à Liga das Nações, a ONU tem a missão de fomentar a paz entre as nações, cooperar com o desenvolvimento sustentável, monitorar o cumprimento dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais, e organizar reuniões e conferências em prol desses objetivos. Atualmente, a ONU tem mais de 180 países-membros. Além dela, há diversas outras organizações internacionais, que se dividem em diversos tipos (com e sem vinculação com o Sistema ONU de agências). LIGA DAS NAÇÕES Liga das Nações - Foi uma organização internacional, idealizada em 28 de abril de 1919, em Versalhes, nos subúrbios de Paris, onde as potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial se reuniram para negociar um acordo de paz. Sua última reunião ocorreu em abril de 1946. Há órgãos do Alto Comissariado das Nações Unidas: · Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR); · Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH). Fundos: · Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA); · Fundo Monetário Internacional (FMI); · Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA); · Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Organizações internacionais: · Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); · Organização Internacional para as Migrações (OIM); · Organização Internacional do Trabalho (OIT); · Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI); · Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS); · Organização Mundial da Saúde (OMS); · Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO); · Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); · Organização dos Estados Americanos (OEA). Programas de desenvolvimento: · Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT); · Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); · Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA); · Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). Escritórios: · Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR); · Escritório dasNações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC); · Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS); Centros, comissões, grupos financeiros, entidades e uniões: · Centro de Informações das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio); · Centro de Excelência contra Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP); · Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL); · Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD); · Grupo Banco Mundial (BM); · Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres); · União Internacional de Telecomunicações (UIT). Evidentemente, a quantidade de organismos internacionais criada desde 1945 estabelece uma agenda forte em torno do que se convencionou chamar de globalização, ainda que esse seja um fenômeno anterior às grandes guerras mundiais. GLOBALIZAÇÃO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS: CONTROVÉRSIAS E DESAFIOS Nesse sentido, a agenda de liberalização comercial, que ampliou largamente as trocas entre países ao longo das últimas décadas, está inserida em um contexto mais amplo: ela, ao mesmo tempo, é influenciadora e influenciada pela agenda internacional. Em diversas localidades, a globalização é considerada uma agenda negativa. Apesar de todos os ganhos de comércio que já estudamos, a globalização é, muitas vezes, vista como uma ameaça à soberania nacional dos países, ou como uma forma de os países ricos aumentarem os mecanismos de exploração de países pobres (seja com mão de obra mais barata ou com recursos naturais). Crescentemente, uma narrativa antiglobalização tem sido construída também nos países ricos, centrada em práticas xenofóbicas e em defesa de empregos, produção e cultura nacionais. Todos os debates em torno da agenda de globalização recaem sobre os organismos internacionais. Por isso, a discussão da relação entre a globalização e o comércio é essencial para que possamos entender melhor o papel da OMC no mundo contemporâneo, e as ameaças que estão postas à liberalização comercial das últimas décadas. EXPLORAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS UM DOS GRANDES DEBATES DA GLOBALIZAÇÃO DO COMÉRCIO ENVOLVE A QUESTÃO DOS BAIXOS SALÁRIOS. Países em desenvolvimento estão, atualmente, bastante especializados na produção de manufaturas. Em particular, as têxteis localizadas nos países de renda mais baixa da África e da Ásia. Na produção dessas mercadorias, é comum que aos trabalhadores sejam pagos salários de valores muito inferiores aos do mundo desenvolvido. Não somente isso, como, muitas vezes, as condições de trabalho desses lugares são absolutamente deploráveis. A esse respeito, veja alguns aspectos importantes: VANTAGEM COMERCIAL CONDIÇÕES DE TRABALHO VANTAGEM COMERCIAL Até a década de 1990, grande parte do debate em torno desses fatos se centrava na questão sobre como essas condições de trabalho geravam uma vantagem comercial excessiva para os países em desenvolvimento. Ou seja: era um debate sobre a proteção da indústria dos países importadores, especialmente os mais rico. CONDIÇÕES DE TRABALHO Desde meados da década de 1990, em grande parte com a ajuda de movimentos estudantis, o debate em torno desses fatos começou a mudar de epicentro: em vez de se questionar as eventuais vantagens que o produtor estrangeiro teria sobre o produtor nacional, começou-se a questionar a aceitação em tolerar que trabalhadores estrangeiros estivessem naquelas condições. Esses fatos geraram um grande debate no mundo desenvolvido. Considerando o ambiente institucional e as normas trabalhistas dos países desenvolvidos: Seria aceitável importar produtos de localidades onde os padrões mínimos de segurança do trabalho não eram respeitados? Seria razoável permitir regulamentos tão distintos de fornecedores locais e estrangeiros para a produção dos bens consumidos no país? Tais ideias começaram a fomentar movimentos antiglobalização, que cresceram até o ponto de levar ao fracasso a tentativa de diversos países em estabelecer uma rodada de negociação entre a Rodada do Uruguai e a Rodada de Doha, em 1999. Na época, os movimentos antiglobalização defendiam exatamente que a OMC estaria atacando a soberania nacional dos países e prejudicando os trabalhadores do mundo subdesenvolvido. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial também enfrentaram problemas parecidos com os eventos antiglobalização, que têm crescido desde então. O grande argumento por trás dessa visão de mundo é que o comércio internacional deixava os trabalhadores do mundo subdesenvolvido em uma condição extremamente precária, de baixos salários e pouca proteção no emprego. Nesse sentido, o comércio internacional não estaria beneficiando as pessoas, e sim as prejudicando. Tal debate, originalmente centrado na China, tem sido progressivamente desviado para as nações mais pobres do Sudeste Asiático e do subcontinente indiano. O que essa análise ignora é que os países subdesenvolvidos têm condições econômicas muito precárias e, nesse sentido, o que a teoria econômica sugere é que os trabalhadores dessas localidades estariam piores, na ausência de comércio internacional. No caso, vale destacar, não somente os trabalhadores das empresas que exportam, mas também os consumidores dos países que importam estariam piores. Uma alternativa a esses problemas seria a inclusão de cláusulas de proteção salarial e de condições de trabalho nos acordos comerciais. São as chamadas cláusulas sociais da OMC. Tal possibilidade possibilitaria que a expansão do comércio viesse acompanhada de ganhos constantes e reais para os trabalhadores do mundo em desenvolvimento. Contudo, existe risco significativo de que uma negociação dessa natureza abra margem para que os países ampliem seu protecionismo. Afinal, em vez de aumentar as tarifas de importação, eles poderiam negociar condições de trabalho irreais para as economias em desenvolvimento e acabar por retirá-las do mercado global. EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS Além das questões salariais, o ambiente institucional dos países em desenvolvimento favorece a exploração excessiva de recursos naturais para competir no mercado global. Nesse sentido, a globalização também tem preocupações de caráter ambiental. Ao derrubar uma floresta para atender a uma demanda global por produtos florestais, os países em desenvolvimento estão gerando externalidades negativas que acabam por afetar todos os outros países. A narrativa da China como refúgio de poluição (pollution haven) também se enquadra nesse debate. POLLUTION HAVEN A hipótese do paraíso da poluição postula que, quando grandes nações industrializadas buscam estabelecer fábricas ou escritórios no exterior — geralmente — buscam a opção mais barata em termos de recursos e mão de obra que oferece o acesso à terra e ao material de que necessitam. É importante notar que a ausência de regulação ambiental adequada é um problema apartado da globalização. Países altamente protecionistas sem tal regulação podem causar tanto ou mais dano ao meio ambiente do que países globalizados. Os acordos comerciais, também, poderiam incluir cláusulas de proteção ambiental. Contudo, esse tipo de inclusão ainda é controverso. Quem a defende argumenta que as cláusulas de proteção ambiental diminuiriam as externalidades negativas geradas pelo crescimento econômico excessivo. Já o outro grupo teme que essa seja uma ação protecionista com o objetivo de retirar do mercado indústrias em desenvolvimento que deixariam de ter condições de competir se tivessem que cumprir as exigências ambientais de países desenvolvidos. A agenda climática é uma das que mais tem crescido ao redor do mundo, em grande parte por causa dos riscos climáticos que se acumula para as próximas décadas. Como parte significativa da poluição vem da produção de bens e serviços, existe uma relação entre o consumo e a poluição. Logo, com o comércio internacional favorecendo essa relação, existiria outra entre o comércio e o meio ambiente. Porém, essa discussão ignora que o enriquecimento de um país, geralmente, vem acompanhado de maior preocupação ambiental e,consequentemente, uma tendência a causar menos impacto ambiental por unidade de produto gerada. O crescimento também permite aos países endurecer a sua política ambiental e ter um controle melhor dos recursos naturais disponíveis. Na prática, existe evidência empírica de que crescimento e poluição estão relacionados por meio de uma curva chamada curva ambiental de Kuznets: Figura 1 – Curva ambiental de Kuznets A PARTIR DA ANÁLISE DA CURVA AMBIENTAL DE KUZNETS, O QUE PODEMOS CONCLUIR? VER COMENTÁRIO Ela estabelece que o dano ambiental causado pelo crescimento de um país é aumenta gradativamente até determinado ponto, a partir do qual esse dano começa a diminuir. Países pobres que estejam em desenvolvimento tendem a aumentar seu grau de poluição, enquanto países ricos tendem a se desenvolver, aumentando sua eficiência no uso dos recursos naturais. Consequentemente, uma análise mais cuidadosa dos efeitos da liberalização comercial sobre a poluição pode indicar a existência de efeitos ambíguos: OS IMPACTOS DEPENDEM DE CADA PAÍS E SUA POSIÇÃO ORIGINAL NA CURVA AMBIENTAL DE KUZNETS. No líquido, considerando que a China é um dos maiores vencedores da globalização, os efeitos dessa sobre o meio ambiente possivelmente são negativos, ainda que eles tenham retirado milhões de chineses da pobreza extrema ao longo das últimas décadas. Contudo, a curva ambiental de Kuznets nos mostra que essa situação não vigorará sempre. Um aspecto ambiental que escapa à curva de Kuznets é que o comércio internacional promova a existência de refúgios de poluição (pollution havens). Diversas indústrias têm como subproduto uma série de produtos altamente tóxicos, cujo descarte é extremamente caro e sujeitos a regulações bastante restritivas. O que a globalização de certo modo facilita é que as empresas desses setores procurem países onde possam descartar esses resíduos tóxicos de maneira mais barata, seja por conta da menor regulação, seja por conta de vantagens naturais daquela região. Considerando as externalidades negativas que o descarte de produtos tóxicos pode ter na natureza, essa é uma questão com potencial para trazer diversos problemas para a agenda comercial. Em paralelo, a agenda comercial, também, trouxe algumas esperanças para a agenda ambiental, com a possibilidade de instauração dos créditos de carbono. Os créditos de carbono seriam uma espécie de imposto colocado sobre as importações dos países que falharem no cumprimento de regras mínimas de proteção ambiental. Ainda que a adoção da economia de carbono seja limitada a alguns países — o que naturalmente limitaria o potencial dessa iniciativa de conter as emissões de gases nocivos para a nossa atmosfera — uma possibilidade abre para que o comércio internacional possa internalizar no preço das mercadorias os danos ao meio ambiente causados pela sua produção. Com isso, pode-se criar um sistema de incentivos econômicos que torne economicamente rentável a adoção das tecnologias verdes. Ainda que haja muito a avançar nessa agenda, os créditos de carbono representam uma possibilidade de prover incentivos reais para a redução dos danos ambientais do crescimento econômico. HOMOGENEIZAÇÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL Os aspectos culturais são também objeto de controvérsia nas negociações comerciais. Afinal, a integração comercial, de certa maneira, aumentou a homogeneidade de gostos musicais, moda e produção cinematográfica, diminuindo a proeminência e relevância da produção cultural local. Essa perda de diversidade cultural pode ser vista como uma externalidade negativa da globalização. E nesse sentido, poderiam ser pensadas políticas públicas para corrigir a falha de mercado. Contudo, o debate da correção dessa falha de mercado se torna ainda mais complexo que os anteriores, pois envolve a promoção estatal de um ou outro tipo de produção artística e cultural. A PMC é uma ameaça à soberania? Neste vídeo, falaremos sobre a OMC e a soberania nacional. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste tema, conhecemos os principais organismos multilaterais, bem como estudamos suas funções e analisamos sua estrutura. No primeiro módulo, desenhamos um panorama histórico dos organismos internacionais multilaterais de comércio. Destacamos não apenas seu surgimento, mas sua importância e evolução. No segundo módulo, elencamos esses organismos e debatemos sobre a globalização, considerando os efeitos do comércio internacional nos dias de hoje. Vimos que diversas agendas políticas e ambientais podem afetar o comércio entre países, e que organismos multilaterais podem agir de forma eficiente para intermediar e regular esse comércio. PODCAST AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS KRUGMAN, P.; MELITZ, M.; OBSTFELD, M. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2015. EXPLORE+ Visite os sites dos principais organismos internacionais e acordos multilaterais estudados (OMC; GATT; MERCOSUL; NAFTA; ONU) para conhecer melhor a atuação de cada um no mundo contemporâneo. Leia sobre os principais organismos internacionais do Sistema Nações Unidas, no site da ONU no Brasil.