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<p>7 Uma aproximação -existencial da experiência do pânico LUCIANA DA SILVA MENDES FERREIRA A paciente que ensinou o autor a ver e pensar de uma maneira Em Medard Boss (2002) relata do um caso caso da Dra. clínico Cobbling, que mudou que sofria a sua conduta diferente, como psiquiatra. com um quadro Trata-se de alucinações a e das ideias alucinações suicidas. visu- Boss de esquizofrenia esforçava-se para afastar paciente até justificação (2002, p.09-10) sofria, afirmando-as como irreais, neuronais a sua que poderiam como ais e consequência meio de eletroencefalograma. A paciente a sua insustentabi- retrucava auditivas que de distúrbios metabólicos ar- provados por afirmações de Boss, mostrando derivassem de gumentativamente ser afinal, como as seria possível que fenômenos transformação mentais mágica? processos lidade, físicos senão por meio de de uma Boss eram então aprofundadas científicas e detalhadamente As explicações enriquecidas fisiológicas forma pelas mais inteligente recentes pela pesquisas afirmando Devido e, igualmente, contestadas aderiu de às interpretações psicológicas, interna psíquica que ao seu as insucesso, alucinações Boss corresponderiam sobre realidade a uma externa, realidade porém, sem forte conexão reação inconsciente real com essa projetada realidade. A nova a explicação provocou outra da paciente: vocês, psiquiatras, sabem da realidade? e classificam Nada, absolu- orde- nadamente tamente nada! E sobre o qual vocês não têm sobre a mínima uma reali- o que depois vocês vão adiante noção. Vocês algo subjetivo e o objetivo, vinculada falam sobre o uma realidade verdadeira como ao dade mundo psíquica exterior, interior ousando e jogar uma contra a outra Boss 1 Para acompanhamento detalhado da argumentação tanto de como da paciente, sugere-se a leitura do texto em questão. Situações Clínicas I 197</p><p>fosse verdadeira e a outra puramente dizer com fictícia e alu- se uma Mas o que é que você quer a palavra alucinação, cinatória. já que você ignora totalmente o que é a chamada realidade alucinatória? Palavras, nada mais que palavras atrás delas não há nada, precisamente nada; nenhuma com- e preensão real de qualquer espécie! (Boss, 2002, p. Boss colocou em questão toda a sua atitude como psiquiatra iniciou um diálogo aprofundado com a filosofia de Após e uma revisão de sua conduta, disse à paciente: Você está perfeitamente certa. Não faz sentido dar realidade prioridade sobre a outra. Seria bastante a uma nossa do parte sustentar que esta mesa diante de nós é fútil da eles que iludirem os seus a espiões de simplesmente mais real mente minha percepção e serem por os a você. Por que não os deixamos se fenômenos que revelam ser? Existe somente manterem como digna se de nossa atenção, que é considerar o sentido uma coisa que piões a desvela para nós. Se você continua encontrando daquilo cada esquina e se um psiquiatra tenta reduzir es- percepções de a meras alucinações fictícias [...] então essas concordar com você plenamente, que ele eu teria de coisas sem sentido, que absolutamente não estaria falando nossa compreensão das suas (Boss, 2002, promovem p. 14). a Boss defende ainda: Nada se apresenta mais urgente, do que desistir de uma vez por todas, e com sinceridade, de 0 ser humano de respeito psicológicas. sempre decompor com a ajuda de teorias Antes trata- se recuperar o devido diante da autenticidade originalidade dada de cada fenômeno humano. Temos que permitir que exista o que se manifesta, como aquilo que ele mesmo revela. (1988, p. 25). A crise de Boss retrata bem a profunda transformação pela qual segunda psiquiatria, a psicologia e a psicopatologia passaram durante de a Husserl metade do século XX, por influência das fenomenologias 198 Luciana da Silva Mendes Ferreira</p><p>e Heidegger. que há em comum entre as diferentes fundamentação filosófica da compreensão das psicopatologias iniciativas e do é a humano, e a adoção da fenomenologia para esclarecimento do ser vivenciado pelo paciente. Assim, não se adota a orientação das ciências que é naturais, ciências (Cardinalli, 2002, p. 76-77). recusando-se, portanto, modelo explicativo causal típico dessas Sob a influência da filosofia e das iniciativas da psiquiatria, em de Binswanger e Boss, surgiram diversas abordagens em particular, que buscavam uma alternativa ao modelo das ciências natu- psicologia a prática psicoterápica. De acordo com Feijoo (2011a, p. 21), rais para e o behaviorismo representam as vertentes do idealismo a psicanálise empirismo e o positivismo, contra as quais se orientava a fenomenologia diante das restrições dessas psicologias, nascem May: as moderno, o de Husserl e, posteriormente, a de Heidegger. Posicio- psicolo- gias nando-se humanista e existencial-humanista. Como afirma nova proposta] não nega, entretanto, a validade estudo do de condicionamento, [essa a formulação de impulsos, o so- mecanismos individualizados, e assim por diante. Ela mente sustenta que nós nunca podemos explicar ou enten- der qualquer ser humano existente, em tais bases. E o pe- baseada em tais métodos. Parece que existe a seguinte lei rigo surge quando a imagem do homem é exclusivamente atividade: quanto mais acurada e pormenorizadamente pudermos em descrever um dado mecanismo, tanto mais per- deremos de vista a pessoa existente. 16-17). Porém, argumenta Feijoo: "Embora essas perspectivas critiquem a posição da psicanálise e behaviorismo clássicos pelo modo como pensaram o psíquico por meio de uma estrutura e funcionamento mecanizados -, elas continuam partindo de uma forma ou de outra da noção de sujeito interiorizado". (2011a, p. 17-18). Isso se dá por meio da noção de pessoa que preserva o valor de der um "eu" ou "mundo psíquico". Ora, como Boss (1988) ajuda a enten- pois, em Angústia, culpa e libertação, é propriamente esse o problema, todos eles se fundam em um conceito comum e pré- por mais que exista uma variedade de psicologias e de métodos que é conceito de de origem grega, que inicialmente 100</p><p>remetia a um modernidade, modo de ser sendo determinado compreendido e que avançou, por Descartes com modifica- como res cogitans, ções, até a o sujeito fundante segundo do Boss, conhecimento. foi posteriormente assimilada A res de cogitans, Freud como "aparelho por fim, sofrendo pela psicologia para os conceitos de sujeito, pessoa, personalidade, nas psicologias ções existenciais-humanistas. Seja qual for a forma assumida, o fato é esse conceito foi sempre admitido como uma formação psíquica que sulada, existente por si, portanto, insistindo na cisão sujeito-objeto encap. Heidegger efetivamente desconstruiria. a fenomenologia de Husserl propunha superar e que o que de A concepção de uma formação psíquica encapsulada ou de sujeito constituinte do conhecimento funda toda ciência um tudo isso interessa diretamente às psicologias surgidas sob E ência. Boss denuncia, em consonância com o pensamento de sua influ. ger, essa mentalidade cartesiana que se expande na técnica Heideg. que pode ser a origem dos "distúrbios da sociedade industrial", "neurose de Ou seja: a compreensão da existência humana como a essa influência determina não apenas a nossa maneira de entender sob psicopatologia (o que, por si só, já é fundamental que se perceba), mas, a igualmente, constitui psicopatologias. A saída somente é possível por meio de um salto do subjetivismo e psicologismo para um solo novo, onde, afirma Boss, já se existe sem saber. O salto é fenomenológico e deixa as coisas serem como são. Esse novo relacionamento com o mundo não é mais mas sereno. Nesse novo relacionamento fenomenológico com 0 mun- do, desaparece a concepção de uma psiquê encapsulada em favor de "um estar aberto no sentido de um poder perceber a presença dos fatos de nosso mundo e de ser capaz de corresponder a seus significados especiais" (Boss, 1988, p. 60). Portanto, fundamental decisivo escapar também da inte- é de um psiquismo e dicotomizado em ser e aparência, de 2 Para de Boss, o aprofundamento publicado em Daseinsanalyse, do tema, sugere-se revista a leitura da Associação do texto Neurose tédio, de Daseinsanalyse, n. 1, 2 e 3, 1997, p. 50-53.</p><p>rioridade e exterioridade, normalidade e anormalidade, etc. Neste ponto, os projetos de Heidegger e Husser] foram de grande auxílio, porque encontramos nesses projetos uma crítica a tais pressuposições. (Feijoo, 2011, p. seriam os princípios norteadores de uma clínica Clínica psicológi- Quais No capítulo propões intitulado psicoló- ca e suas determinações Feijoo gica psicológica de que trataremos se sustenta tal em como três A clínica a fenomenologia-hermeneutica mes- grandes desenvolvida pilares: por Heidegger; sobre as considerações a existência em deste seu cará- mo filósofo indeterminação em Ser e tempo e a consequente homem/mundo liberdade, finitude em e ter poder-ser; de tonalidades e, por fim, afetivas a articulação da angústia, do tédio e do te- meio às mor. (2011a, p. 57). então, que a implica a suspen- diz são respeito de A todos autora ao método, hermenêutica os esclarece, preconceitos em que implica a e atitude teorias que fenomenológica acerca toda interpretação do fenômeno deste se em funda método, questão, no enquanto a todos estão imersos. A partir horizonte histórico identificatórios", no qual como os diagnósticos, fenômeno são desconside- que se rados, os "processos enquanto há uma concentração na escuta do pois: mostra meio da fala daquele que procurou a psicoterapia, Essas por identificações criam uma barreira para que se possa apreen- der 0 fenômeno tal como ele se mostra nos modos de ser do analisan- do. Procedendo a tal desconsideração dos processos identificatórios, passamos a tentar devolver ao analisando a tutela, o cuidado pela sua (Feijoo, 2011a, p. 58). 3 Tanto a questão do modelo subjetivista cartesiano quanto a sua descons- trução pela fenomenologia são exaustivamente discutidas por Feijoo em A exis- para a para além do sujeito a crise da subjetividade moderna e suas repercussões possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológi- do Recomenda-se a leitura do texto para o aprofundamento</p><p>a primeira tarefa dessa clínica consistiria no fato de Portanto, analisando precisa se demorar mais detidamente que suas descrições e de que o analista deve atentar para as em interpretações do paciente, tentando, assim, alcançar uma compreensão daquilo que está em jogo na descrição do ana- lisando". (Feijoo, 2011a, p.58). Essa atitude é o nosso fio condutor. A partir e por meio dela, na-se possível, então, dispor-se a uma escuta atenta do te singular, ou seja, mergulhar na experiência única que se desvela no encontro terapêutico. Nesse ponto, nenhuma teoria mais servirá de orientação. Estar-se-á diante de um rosto que partilhará a sua lida com o mundo a partir das suas possibilidades e, com ele, o desvelamento do sentido das suas experiências será trabalhado. Ora, essa existência somente pode ser compreendida como abso- lutamente singular propriamente porque é entendida como uma aber- tura de possibilidades, um poder-ser, e não como algo simplesmente dado que possui propriedades determinadas. A analítica existencial de Ser e Tempo dedica-se, por meio da desconstrução de uma compreen- são metafísica da existência humana, a descortinar essa Diante de uma experiência singular que se abre em um contex- to clínico, considerada enquanto possibilidade de um ser-aí que se dá como uma abertura não determinada, todo o conhecimento filosófico e as reflexões psicológicas por ele motivadas estão presentes, mas como meros "indicadores formais". Para Heidegger (2003), em Conceitos Fundamentais da Metafísica, os conceitos filosóficos são sempre indica- ções de que se deve desprender da concepção vulgar dos entes para se transformar no ser-aí5 no ente: Em todos esses conceitos - morte, decisão, história, existência reside a requisição por esta transformação; e, em verdade, não como uma espécie de aplicação ética ulterior do que foi 4 existencial. Remetemos o leitor a Ser e Tempo, de Heidegger (2000a; Não podemos nos dedicar, no momento, ao esclarecimento da analítica 2000b), livro fundamental para o aprofundamento do tema. de O ser-aí, o termo alemão Dasein, diz respeito de ao Ser modo e tempo. 5 ser do ente humano, tradução tal como para esclarecido na analítica existencial</p><p>que concebido, é mas como Porque uma os abertura prévia da dimensão do conquistar só deixam uma sempre vez que se deixam cursivamente esta requisição por interpelar dis- podem eles mesmos provocar acontecimento da mas transfor- nunca mação, eles são indicadores (Heidegger, 2003, que é sinalizado é que tem a possibilidade de autoescla- e do esclarecimento do seu ser-no-mundo em meio às suas recimento e relações. Porém, Heidegger adverte que cabe a cada ser- possibilidades "seu" caminho para a auto-transparência e, é propriamente abrir finalidade de proteger a apropriação pessoal dessa possibilidade com a introduz os seus conceitos como "indicadores ou formais", determinado", ou seja, que ele indicar "algo dado de forma definitiva" "algo antes de evocam uma experiência e possibilitam a sua compre- ensão. que somente podem ser assumidos de 1998, p.169). particular, Eles esses conceitos Portanto, os conceitos filosóficos, na ontologia modo fundamental, são indicadores e responsabilidade pessoal (Grondin, assume o cará- por empenho apenas a uma compreensão possível que dizem respeito palavras de Grondin, de indicação hermenêutica. nas Pode-se ampliar a compreensão dos conceitos filosóficos também como formais para todo o conhecimento teórico, o psi- indicadores cológico. Assim, no contexto clínico, enquanto indicador formal, todo conhecimento teórico se anuncia sempre em atraso, e somente a partir do encontro terapêutico e na medida em que é exigido por ele. Os co- inhecimentos teóricos não são pressupostos considerados previamente e independentemente da experiência que se mostra, como "princípios universais" que possam ser aplicados indiscriminadamente Da mes- ma forma, a estrutura ontológica compartilhada por todo ser-aí, por exemplo, de ser-para-a-morte ou de ser-no-mundo pode ser experi- mentada de forma totalmente diferente por pessoas distintas, pois as- sume nuances e tonalidades absolutamente singulares. viamente são apenas indicadores sem conteúdo determinado pre- Esses "indicadores formais", como o próprio nome sugere e como que surgem no rastro da experiência, na medida ela exige como elementos que podem ajudar em que em Esse esclarecimento, contudo, é absolutamente a esclarecê-la singulari-</p><p>zado e, de sentido daquele rosto particular, irremissível e cujo portanto, dependente da experiência mesma. que possibilita Adentra-se, singula- então, no universo cada acontecimento como irrepetível, sentido é rizar e individual. Portanto, a atitude inicial, em um contexto psico- situado é, de fato, de suspensão fenomenológica. Porém, iniciado 0 encontro, terapêutico, o horizonte hermenêutico entra em jogo regido pela ência singular daquele que procurou a psicoterapia. Assim, é fundamental entender que: O "deixar-ser" fenomenológico refere-se ao Dasein [ser-ai], é clínico ontológico, deve ser mas compreendido cada fenômeno a partir que vem do à contexto luz no diálogo factual concreto em que surge e nunca reduzido genericamente uma estrutura existencial. (Mattar et.al., 2008, p. 10). a A clínica fenomenológico-existencial envolve a análise desse con- texto factual concreto, ou seja, daquilo que é trazido para 0 contex- to psicoterápico. Mas o termo "análise" precisa ser compreendido de forma particular. Como defende Heidegger em Seminários de Zollikon, análise não necessariamente remete à compreensão freudiana do ter- mo. Para Freud, a análise é o meio pelo qual os sintomas são decompos- tos em elementos que terminariam por explicar os sintomas, ou seja, a análise freudiana pretende alcançar a explicação Porém, 0 ter- mo análise pode assumir outros sentidos: O uso mais antigo da palavra análise encontra-se em Ho- mero e, exatamente, no segundo livro de Ela é usa- da ali para aquilo que Penélope faz todas as noites, a saber, desfazer a trama que ela tecera durante o dia. [...] significa aqui o desfazer de uma trama em seus componentes. Em grego significa também soltar, por exemplo, soltar as alge- mas de um preso, libertar alguém da prisão. (Heidegger 2009, p.152). esse A análise, na clínica remete constitutivos a destecer do que foi tecido, não para chegar a elementos desvelar 0 senti- caráter explicativo causal, mas para portanto, que do daquilo assumam que um se mostra no encontro terapêutico. Trata-se,</p><p>chamou de soltar, de de "pensamento liberar sentido. do sentido"6 Está-se e em que um se torna âmbito possível que Heidegger da atitude que se constitui método, por meio ou seja, "caminho" da psicoterapia. Como sustenta Fogel (2014), todo fazer implica método, pois mé- é meio. método moderno, tradicionalmente assumido pela psi- todo e pela psicologia, é o procedimento que garante que real seja quiatria de maneira verdadeira. Nele, testemunha-se uma inversão, representado é real aquilo que o método legitima, ou seja, o fenômeno é submeti- pois enquanto o método passa a ser a própria questão do pen- do ao Porém, quando se fala de pensamento do sentido, encontra-se samento. do método originário que, diferentemente do método moderno, diante com o fazer, com o acontecimento da própria coisa, ou seja, a própria caminha coisa se torna método, a coisa é caminho compreendida, para a compreensão mergulha no do sentido. A análise, como método, assim a análise en- da experiência que permanece incontornável para causais. quanto vigor método moderno que se dedica às explicações consideração dessas questões, traz-se a situação clínica de Com médico a bem sucedido, 35 anos, casado, sem filhos, que pro- Carlos, a psicoterapia por indicação de seu psiquiatra. Foi diagnosticado há cura síndrome de pânico. Relata uma primeira crise ocorrida apro- ximadamente com três meses. Em uma situação familiar normal, sentiu o coração disparar, falta de ar e dormência nos braços, com a sensação clara de morte iminente. Foi socorrido em um hospital sem que fosse evidenciado, do ponto de vista orgânico e funcional, qualquer alteração que justificasse o episódio. Na ocasião, foi encaminhado a um psiquia- tra que fez 0 diagnóstico e prescreveu a medicação. Desde então, teve dois episódios mais brandos e é acompanhado por sentimentos de medo, fantasias de morte na família ou de doenças pessoais graves que possam conduzi-lo a óbito. Ao ter conhecimento do diagnóstico, a analista, em uma atitude fenomenológica, suspende todo o conhecimento prévio adquirido nos 6 mento Para do 0 aprofundamento do tema sugere-se leitura de Ciência e pensa- 7 0 sentido, em Ensaios e conferências (Heidegger, a 2002). servar 0 sigilo nome do analisando e seus dados pessoais foram alterados para pre-</p><p>manuais de psicopatologia. Caso não o fizesse, perderia de vista a expe- riência aberta por Carlos. Uma classificação e uma descrição da sinto- matologia apenas ajudariam a tratar o acontecimento em questão como dado de forma geral, portanto, como um "geral pensado" que algo mina um "dado objetivo", fazendo com que se perdesse de vista o meno, ou melhor, o sentido da sua experiência. Como defende Feijoo, Neste momento, o importante é manter o foco de interesse voltado para aquilo que o analisando diz, sem se importar com o diagnóstico. Esse diagnóstico, caso seja tomado referência, que o apareça. É escuta, o que acontece na a acompanhar impede daquilo fenômeno importante dinâmica como da situação clínica. (2011a, p. 174-175). Em Terror, medo, pânico, Rodrigues (2006) discute a do transtorno de pânico na psiquiatria e a sua desconstrução construção em com a filosofia de Heidegger. Como sustenta, para a psiquiatria diálogo cional o pânico se resume a uma doença classificável e nosologicamente tradi- Portanto, seria possível descrever a priori suas ticas, etiologia e tratamento, antes mesmo que a experiência de chegasse ao conhecimento dos médicos. Para esse conhecimento Carlos a ri, pouco importa que o transtorno aconteça com uma pessoa prio- como Carlos. A partir do seu acontecimento, será Carlos a ser explicado singular, com base no transtorno previamente esclarecido. problema, é que "o ser doente como um modo específico de ser no mundo portanto, não colocado em questão" (Rodrigues, 2006, p.33). Ou seja, A ideia de uma doença produz restrição, fechamento, limita o campo de possibilidades, na medida em que, aprioristi- camente, pressupõe que todos os "sujeitos" por ela acome- tidos deverão apresentar um conjunto predeterminado de sintomas. [...] Quando adotamos a noção de doença [...] retiramos do fenômeno de modo essencial, 0 caracteriza: o caráter de [...] Ao 0 diagnóstico, aquilo possibilidade. que, experiência fazermos singular, excluímos, no entanto, a a já que a doença, agora constituída como entidade, passa da- determinar sobre os comportamentos, ações e emoções 32-33). quele que é por ela acometido. (Rodrigues, 2006, p. 206 Luciana da Silva Mendes Ferreira</p><p>Ora, mas é propriamente a sar à psicoterapia. E, para tanto, essas experiência informações singular que deve interes- suspensas no encontro lecidas relativas ao diagnóstico, tão caras ao saber devem estabe- ser Todavia, apesar da atitude da analista, Carlos inicia as psicoterapia preocupado com o diagnóstico e sentindo-se fraco sessões in- de seguro, pois, como médico que conhece bem os processos orgânicos, e sempre acreditou poder controlar tudo e desprezou os transtornos emo- cionais, sendo muito cético acerca da sua ocorrência. Também, como médico, estava habituado a discutir todas as "ocorrências anormais" em de diagnósticos, prognósticos e tratamento. Queria controlar o termos acontecia consigo, e essas previsões e informações, comuns ao seu que profissional, traziam-lhe segurança e conforto. universo analista escuta a sua queixa e suas preocupações com atenção, continua A não valorizando o diagnóstico e evitando do seu emitir relato, qual- ob- mas parecer a respeito. Concentra-se na suas experiência impressões e seus receios. servando convidá-lo a centrar-se no fenômeno, sobre transtornos naquilo psi- se quer e explorando suas sensações, que mostrava A intenção na era experiência, e não prognósticos. em informações Como Carlos estava muito copatológicos, classificações e crise, a analista permitiu que falasse li- impressionado sobre com ela. Em a primeira meio à descrição do ocorrido, o sentimento evidenciava-se de que vremente mesmo tempo, 0 seu grande medo: próximo morrer. e que E, ao não poderia evitar. Aconteceria possuía a qual- a morte momento, era algo a despeito de todo o conhecimento técnico que e quer de todo o auxílio morte médico era que verbalizado pudesse encontrar. por Carlos. Não Carlos dizia queixava- respeito O medo da desenvolvida pela analista. dedica- se algum de tipo se submetido de associação a outras abordagens terapêuticas e de seu ter problema ter à de nexos causais que sugeriam que o senti- mento, não era algo a morte, diferente mas que simbolicamente experimentava como morte. do tempo procura algo diverso que estaria deslocado para esse o 8 implica negação da informação nem tampouco questão não reconhecimento A suspensão não do seu valor a em âmbito médico. obscurece que está o em sentido da é apenas que a sua consideração, no contexto clínico, não é con- experiência. Dessa forma e por esse motivo, esse tipo de informação siderada como relevante nesse contexto específico. Situações Clínicas 207</p><p>tudo isso pudesse parecer interessante como aliviava exercício a in- Por mais que Carlos não se sentia compreendido. Nada sensação presente telectual, inquestionável de que a morte o ameaçava. e disso, a analista apenas se dispôs a ouvi-lo com Diante estabelecer relações entre a sua experiência e Não procurou de outra ordem e tampouco supôs que todo transtorno de mentos nico se relaciona necessariamente à morte. Embora Rodrigues (2006) sustente, a partir de uma abordagem heideggeriana do relação entre finitude e pânico, entendemos que até mesmo essa a mação deva ser suspensa. Era importante estar diante de Carlos falava diretamente do seu medo da morte no contexto O que ocorreu foi apenas que a sua fala foi considerada com Afinal, que normalmente, no que diz respeito à morte, os próprios clínicos preferem não tocar na questão [...]. Ao fazerem isso, acabam por provocar um obscurecimento de possibilidades essenciais de compreensão. Ao contrário, 0 nosso estudo nos aponta a oportunidade de tematizarmos a morte, confrontando aquele que busca dela esquivar-se com a sua condição existencial (Rodrigues, 2006, p.160). Era o que se evidenciava na própria fala de Carlos: ele vivia uma dor profunda - a do seu fim. Algo que não podia de nenhum modo controlar. Descobria-se frente a frente com uma fissura, uma fragilida- de, a possibilidade de uma interrupção abrupta que escapava de todo 0 seu conhecimento e que não poderia ser manipulada por ele. Essa dura evidência foi trazida à tona como uma experiência fundamental que se mostrava na crise e que, de fato, parecia corresponder a uma realidade que diz respeito a todos nós, mas que era dura, porque a morte anun- ciada era a sua morte. Evitou-se, no contexto psicoterápico, todo tipo de consolo deparava ou abrandamento da angústia suscitada pela questão. Carlos se isso pre- lhe pertencia de forma inalienável e profunda, fato e de ter com cisava algo ser que considerado com seriedade e respeito. simples medo já fez com encontrado um para falar abertamente do seu tentavam distral- que lo, sempre se sentisse o tratavam melhor. Ninguém como se tivesse vivido algo espaço conseguia ouvi-lo, anormal, que não</p><p>remetia a nenhuma realidade plausível, do". Por outro lado, dar-se conta que O afinal, seu ele "não estava afinal, falava de uma possibilidade verdadeiramente sentimento sua, era terror, pois não suportava a ideia de morrer: era ainda jovem, vida, queria ter filhos, vê-los crescer, e tinha um grande caminho amava pro- a fissional pela frente do qual já se Pouco importava, no contexto psicoterapêutico, se a morte havia se anunciado orgânico) ou não. De nada ajudava considerar, como faziam efetivamente (do ponto de vista de algum comprome- timento próximas a Carlos, que ele não estava morrendo "de verda- as pessoas como possibilidade, havia se anunciado verdadeiramente de". A morte, pessoa singular, Carlos. Era essa possibilidade anunciada e para gerava uma toda a angústia. Essa possibilidade era real e constituía a sua que mais legítima. em um mergulho na experiência de Carlos, a saber, o que a Testemunha-se, menciona como a "dor a finitude. de negar Em a dor Ser e Tempo, Heidegger Fogel de (2010) negar a indeterminação estruturas e existenciais do ser-aí na temporali- de o (2000a; dor 2000b) funda nosso as existir é finito. A finitude emerge existindo do fato finita- dade e revela que o aquele que é para a morte, Mas mente. ser-para-o-fim Não remete a um como término pontual, que o mas a um existir finito. defendido fun- também aqui é preciso considerar como nossa condição ontológica formal. Nas damental, por Heidegger precisa em ser Ser compreendido e tempo como um indicador palavras do filósofo, conceitos filosóficos são indicações eles formais, fornecem e, so- a Todos os são tomados deste modo, se tem em vista mente quando possibilidade do conceber. que filosóficos, em com este caráter conceitos científicos em geral, pode opres- ser autêntica fundamental dos conceitos explicitado contraposição através aos de um exemplo particularmente da morte huma- sor - o de modo ou de outro, o ser-aí do alguma um problema da morte, e, em verdade, homem é na. [...] morte. um O homem sempre se relaciona de reside maneira ser para a com a morte, isto é, com a sua morte. Nisto em 0 seguinte: o homem pode caminhar antecipativamente Situações Clínicas I 209</p><p>direção à morte como a possibilidade mais extrema de seu ser-aí e se compreender a partir daí em toda a ipseidade mais própria do seu Compreender o ser-aí significa: [...] poder ser-aí. [...] este ser livre para a própria morte foi caracterizado [...] como a autenticidade da existência em contraposição à inautenticidade das perambulações coti- dianas esquecidas de (Heidegger, 2003, p. 336-337). Em Ser e tempo, o ser-aí é compreendido como um te, como um ser para uma possibilidade, que é a possibilidade da impos- sibilidade da existência. A antecipação da morte, como a possibilidade mais própria, permite o desvencilhar do impessoal cotidiano, pois, uma vez que a morte é irremissível, reivindica o ser-aí como O que permite ao ser-aí encontrar a si mesmo é a recuperação de uma escolha que se dá na antecipação angustiada da morte. Esta escolha é a que possibilita a passagem para a autenticidade, abrindo 0 poder-ser em seu poder-ser-próprio. No entanto, defende Heidegger, também o ser-para-a-morte é mal interpretado como se houvesse, para existir autenticamente, a necessidade de se pensar constantemente na morte, o que conduziria a uma situação insuportável que deveria culminar no suicídio. Pensar constantemente na morte tornaria a autenticidade em si mesma absur- da, uma concepção de vida impossível (Heidegger, 2003, p. 337). Para Heidegger, o engano reside no seguinte: Esta postura é aquela da vida corrente e natural, a partir da qual se toma desde o início a nossa interpretação como um relato sobre propriedades do homem; um ente que se dá também ao lado das pedras, das plantas e dos animais. Uma relação com a morte está simplesmente dada ao ho- mem. Desta relação afirma-se o fato dela perfazer a existên- cia autêntica do homem. Ou seja, exige-se que esta relação verbo 9 De-cisão = Entschlossenheit. "A palavra é um derivado a ideia do de mo- schliessen que significa fechar, trancar. prefixo ent acrescenta abrir. Uma das vimento em sentido contrário e daí o significado de destrancar, para que, no de exercício do ser-aí é o destrancar-se e abrir-se determinação, reso- modalidades tocante à dinâmica de si mesmo, designe a experiência de N8). lução" (Nota da tradução de Ser e Tempo, 2000b, p. 259,</p><p>simplesmente dada com a morte torne-se um estado douro no homem. [...] a morte e a relação com a morte dura- já são tomadas como algo simplesmente dado, (2003, p. 337). Porém, para Heidegger, de fato, o caráter fundamental da existência reside na decisão, mas que a decisão não é um estado simplesmente dado que eu tenho. Ao contrário, é ela que antes me tem. Todavia, a de- cisão enquanto tal sempre só é o que é enquanto instante, enquanto instante do agir real. (2003, p. 338-337). finitude diz o manter-se na "negatividade", ou seja, no inquieto estado, inseguro. A Manter-se, porém, não como abertura constância de possibilita um o e no permanência temporal, mas Enquanto na instante, que a essência da instante não como se que traduz, torna portanto, a decisão no possível. salto para o sem o homem fundo para de um a respon- abismo finitude como fundamento devolve existir. sabilidade 0 ser que, e as possibilidades (2010), em concordância abertas pelo seu com Heidegger, É uma condição a finitude que é Para Fogel uma dor também estrutural. segunda dor a estrutural e implica ou negociada. Porém, existe é o uma chama de von- não pode ser negada estrutural. A segunda dor que não se dor de de negar essa e constitui dor a "grande doença", estrutural. querer Esta ser seria o que a origem tade infinito como condição compreendido, a pode de ser, recusar o limite toda angústia, e poderia ser nosso todo ver, sofrimento, como o esclarecimento de ontológico e existencial do que co- nhecemos como 10 "Como ser-aí é um ente marcado pelo caráter subsistente modal da e não pode ser, ele não possui nenhuma propriedade simplesmente específica. À pergunta 'o que é em 0 consequência, precisamos determinado imediatamente em sua responder quididade com o termo quididade, nada. mas O ser-aí um poder-ser coisa que incessantemente que conquista a si mesmo em sua dinâmica não é nenhuma pudesse ser determinada em sua existen- cial" (Casanova, 2006, p. 17). 11 Este tema foi aprofundado no texto problema da psicopatologia Psicopatologia: na psi- fenomenologia, literatura e hermenêutica pelas Edições IFEN (no coterapia fenomenologico-existencial, a ser publicado no livro prelo). Clínicas I 211</p><p>certamente, tanto a afirmação grande doença do ser-para-a-morte são, como já se quanto apon- negação Ora, da finitude como que a surgem no rastro da experiência é-se remetido aberta tou, a indicadores formais são tomados previamente, mas a no eles a partir da do sentido daquilo que se apresenta. Porém, em ne- contexto clínico. experiência Não de Carlos, como indicações que ajudam no esclarecimento abandona-se a experiência singular de Carlos para nhum momento, em explicações filosóficas. Precisa-se lidar com a sua dor singular enquadrá-lo na sua existência particular, assume nuances próprias. Foi que, dito que não se dedicou, no caso de Carlos, à investigação de supostas relações entre o episódio de pânico e outros fatos ocorridos na sua vida (históricos ou circunstanciais) que pudessem esclarecer a origem do transtorno. Essa atitude foi motivada pela pergunta pelo sentido da experiência, que rege a abordagem fenomenológica-existen- cial, ao invés do interesse por nexos causais. Obviamente, se elementos factuais ou históricos auxiliassem no desvelamento do sentido da ex- periência, seriam considerados. Mas, para tanto, não precisariam ser investigados como possíveis causas ocultas que deveriam ser trazidas à tona. Tudo aquilo que constitui o sentido de uma experiência está manifesto na própria experiência e se mostra quando a ela se dedica a atenção terapêutica devida. Não é preciso que haja qualquer esforço de investigação, mas apenas a disposição à escuta e a disponibilidade de compreensão. Não há nada oculto por trás dos fenômenos que tenha que ser alcançado pela habilidade do analista. Muito mais do que isso, é necessária a sua disponibilidade a um encontro autêntico, ou seja, a disposição à escuta. O próprio fenômeno se mostra na sua inteireza no contexto clínico, desde que haja disposição para o desvelamento e a compreensão do seu E tudo aquilo que concorre para o escla- recimento desse sentido é constitutivo do próprio Ora, o próprio Carlos relatava outras experiências clínicas em que não se sentia compreendido no seu medo da morte, pois ele era sempre desviado dessa questão para supostas relações implícitas que deveriam ser conscientizadas. Assim, seu grande medo nunca era sinceramente considerado e a sua angústia persistia. Sentia-se sozinho e desampara- do na indagação daquilo que lhe havia acontecido. Quando seu medo da morte foi considerado enquanto tal, o alívio por ter sido finalmente ouvido com seriedade foi reconfortante. A morte se mostrava como 212 Luciana da Silva Mendes Ferreira</p><p>Era uma fragilizante, descoberta para aterradora ele, ser e tratado essa era como a sua alguém que não mais vivia dizia sinceramente viver. O que Além das possíveis questões ou situações implicadas lamento do sentido da experiência, existe ainda problema no do desve- fator desencadeante da crise. Como discute Rodrigues, temos observado uma relação extremamente frequente en- tre alguma experiência de morte de uma pessoa próxima, um acidente automobilístico, ou mesmo um processo gico, ou uma doença cardiológica, com o início do apareci- mento de episódios agudos de angústia. Muitas vezes, não encontramos uma relação direta com a morte, mas pode- mos observar a presença de fatos que rompem com cren- ças ilusórias de sermos especiais e invulneráveis, como, por exemplo, pode ocorrer frente ao fracasso de um empreendi- mento financeiro, afetivo ou profissional. Todos esses fatos [...] desestruturam a nossa representação da realidade, com tentativa de termos um mundo e uma existência previsível e a coerente, sob nosso permanente controle. (2006, p. 95). dúvida, reconhece-se essas questões. O fato é que todos esses acontecimentos Sem fazem emergir aquilo mesmo que merece ser conside- rado, 0 próprio fenômeno que está em questão, no caso, a morte. Expli- car essa experiência, como o medo da morte, a partir das relações com um fator desencadeante parece retirar a força mesma da experiência, como se fosse algo secundário em decorrência de um acontecimento mais relevante como um fracasso pessoal, um acidente ou um proble- ma de saúde. A questão é que esse acontecimento pessoal proporciona 0 enfrentamento daquilo que efetivamente merece e precisa ser con- siderado. Falar abertamente sobre a morte - antes de justificá-la com outros eventos distraindo a atenção sobre ela é aquilo que é solicitado no contexto terapêutico por aquele que com ela se angustia. Rodrigues certamente 0 reconhece e por esse motivo dedica o seu estudo às rela- ções entre pânico e finitude. As sessões seguiram respeitando o tema que Carlos trazia para a passou À medida que tempo passava e não tinha mais crises, também a evitar falar do seu medo da morte. Dedicava-se a Situações Clínicas I 213</p><p>questões sobre a sua vida, seus projetos, elas. as coisas que faziam sentido outras para ele e o modo como lidava com Questões te e consideradas como tal. A preocupação da analista era sempre legítimas lidar com aquilo que se mostrava na experiência, esclarecendo seu sentido e, perseguindo uma atitude terapêutica de liberadora, o criando o espaço para que Carlos cada vez mais assumisse cuidado consigo mesmo e com tudo o que dizia respeito à sua 0 Dois esclarecimentos são necessários: o que vem a ser "anteposi- ção liberadora" e, consequentemente, "cuidado". Segundo Heidegger. ser-aí, o modo de ser do ente humano, em sua estrutura existencial 0 portanto, ontológica, desvela-se como ser-com. Isso significa que e, ser humano encontra-se sempre, por sua condição ontológica, todo aos outros entes, mesmo quando parece isolar-se ou não se relacionar junto abertamente com os outros e com o mundo. Caso esteja em com as coisas, os entes simplesmente dados que não possuem relação de ser do ser humano, o ser-com é compreendido como ocupação. 0 modo caso essa relação se dê com um ente que também tem o modo de Mas do ser-aí, portanto, um ente humano, então Heidegger fala de ser tude ou preocupação. Porém, esse modo de ser junto com outro humano pode assumir formas distintas, autênticas ou ente Nas formas autênticas, o ser-aí compreende ser. Nas inautênticas, modo de ser encontra-se obscurecido e o outro pode ser considerado como algo simplesmente dado. Assim, quando o encontro com outro é inautên- tico, acontece algo a que Heidegger chama de "substituição dominado- ra", ou seja: retirar o "cuidado" do outro e tomar-lhe lugar nas ocupa- ções, substituindo-o. Essa preocupação assume a ocupação que outro deve realizar. Este é deslocado de sua posição, re- traindo-se, para posteriormente assumir a ocupação como algo disponível e já pronto ou então se dispensar dependen- totalmente dela. Nessa preocupação, o outro pode tornar-se silencioso e dominado mesmo que esse domínio seja 2000a, te permaneça e encoberto para o dominado. (Heidegger, p. 173-174). de convivência é aquela que lece na Segundo maior parte Heidegger, das vezes. esse Porém, tipo há outra possibilidade</p><p>outro ente humano, aquela autêntica, que Heidegger chama de "ante- posição liberadora", ou seja: uma preocupação que não tanto substitui outro, mas que se lhe em sua possibilidade de ser, não para lhe retirar o "cuidado" e sim para devolvê-lo como tal. Essa preocupação que, em sua essência, diz respeito à cura propriamente dita, ou seja, à existência do outro e não uma coisa de que se ocupa, ajuda o outro a tornar-se, em a transparente a si mesmo e livre para ela. (Heide- sua gger, 2000a, p. 174). cuidado, por sua vez, remete à cura, a referindo-se estrutura ontológica à sua lida fundamental A psicoterapia de orientação atitude do ser-aí enquanto ser-no-mundo, cial, em particular, liberadora, uma vez com mundo. de inspiração heideggeriana, mais, persegue como como uma indica- terapêutica a anteposição orienta a sua prática. A forma que essa atitude do contexto terapêu- formal assumirá que dependerá exclusivamente dos conteúdos das experiências e sin- gulares do tica encontro daquele que procura a psicoterapia, específico, a partir como se fará clínica notar. Feitos esses esclarecimentos, retoma-se a situação consi- Em meio ao processo descrito, aconteceu um fato inesperado. derada. Carlos estava em um teatro e soou uma sirene de emergência. Houve e todos correram. Carlos também foi tomado pelo pânico. Ao final, descobriram que havia sido apenas um problema técnico, sem nenhuma ameaça real. Carlos sentiu-se mal e angustiado, reviveu as crises anteriores e a sensação de ameaça à sua vida. Trouxe a questão para a terapia: C Estou angustiado. Tinha muito tempo que não tinha crises de Tive nesta semana. Estava em um teatro e, de repente, soou uma 12 de Ser Existenciário é uma expressão adotada por Márcia Schuback na tradução existencial e tempo para referir-se àquilo que Heidegger chama de ôntico; enquanto tológico da remete dimensão às possibilidades ontológicas, ou seja, ao esclarecimento on- 13 Cura é a dito estrutura existencial fundamental do ser-aí, constituindo o ser modo de ser do do ser-aí ser-aí, e remetendo somente se a dá sua enquanto lida com cura. o mundo. O "ser-no-</p><p>correram. Fui tomado por um desespero não ia mais enorme sentir e corri sirene. Todos nada. Estou triste. Pensei que isso... também. Não era como você conseguiria não sentir isso? A sirene tocou e todos correram. A Mas Parecia que algo grave estava acontecendo. C- É, parecia... A E como não sentir medo diante disso? C É verdade. A Nós sentimos medo, pânico, nós nos desesperamos. Muitas situ- ações nos assustam. Viver é também experimentar esses sentimentos. São possibilidades nossas. C- É verdade, eu sei. Mas eu estou acostumado, por causa do diag- nóstico, a pensar que nunca mais posso sentir essas coisas, do não estou conseguindo me curar... A Você precisa se curar de quê? Da sua condição humana? C É, isso parece absurdo! Outras situações aconteceram que trouxeram à tona novamente o medo da morte. Como médico, Carlos viajava muito para participar de congressos em diversas partes do Brasil e do mundo. Eram comuns, portanto, as viagens de avião: C Vou viajar. Sinto medo do Penso que algo pode acontecer... A De fato, pode. Mas pode acontecer algo a qualquer momento. Dizem até que é mais fácil acontecer um acidente de carro do que um acidente aéreo e, no entanto, andamos de carro todo dia... C É, eu sei, mas sinto medo de Sinto um pânico. A Você costuma pensar na morte? C Evito sempre. A Será que a viagem de avião não acaba se transformando nessa oportunidade? C Talvez... A Não te parece importante pensar na morte, já medo que é para algo falar que não podemos evitar? Por que não aproveitamos assusta? seu vez disso? Por não olhamos para aquilo que te Dedicava-se cada que mais tempo As sessões ao esclarecimento de psicoterapia do seu medo da morte, que mas mente se evidenciava: de morte. Não é a crise de Algumas uma ideia C Voltei de que a ter estou fantasias doente, talvez uma parada</p><p>vezes sinto isso. Não entro em pânico, não penso que está acontecendo, mas imagino que possa acontecer Mas o pior são as fantasias de morte do meu pai. Não suporto a Ele tem diabetes. Não anda muito bem... A Em algum momento irá acontecer, não é algo que possamos evitar. Mas eu não you suportar! C Nós fazemos muita força para negar a morte. Temos dificuldade de pensar A Tenho nela como muito parte medo da dela. nossa Não existência, gosto de não falar é mesmo? sobre isso. Muitas C vezes, prefiro Mas nem mesmo pensar... evitando pensar, parece que ela está sempre presen- A é? te para C - Sim, não seria eu tenho melhor essas que fantasias. falássemos abertamente é uma condição sobre que isso? parece Não A Não acolher essa possibilidade escapar? já que poderíamos nos definir Talvez. e da qual Mas não não podemos sei como fazer.. Às vezes prefiro pensar Você que não vai C acontecer. problema é que, na verdade, possibilidade você não real. acredita Vou partilhar nisso. descobri com A morte é uma era criança e por saber que a Eu lembro de quando sofre me falar com meus pais, Fui que você a uma morte queria existia. que Vivi eles uma morressem. angústia disseram Queria que que eles "ia jurassem demorar muito!". que era não tão pois iam morrer. não um Eles consolo. não juraram, Eu entendi, mas na verdade, E parei de que pensar esse demorar nisso. Foi mui- E foi distante Aquilo to pior. foi Só de pude mim me "que dar não conta ia acontecer". desse engano há muito quando tempo meu e tive pai dificuldade faleceu. é real. de aceitá-la. muito difícil, Então, pois eu adulta, negava pude a morte finalmente descobrir algo que que, a morte na verdade, Nós somos desencorajados já tempo todo a enfrentar nos é parte da nossa pertence, que foi assim. vida. Sempre fui estimulado diante a não da pensar morte. nisso. C Comigo também oportunidade verdadeira de ficar tornou uma Mas, depois Nunca que tive tive a a crise de pânico, parece que a morte se possibilidade real. A Ela é de fato real. Situações Clínicas I 217</p><p>Nesse momento do diálogo, acontece uma passagem que e im- portante esclarecer. A analista partilha uma experiência pessoal para ajudar Carlos a fazer o enfrentamento da sua experiência. Como de- fende Feijoo: É ingênuo pensar que a lida do psicoterapeuta é pura, pois as suas concepções e histórias se fazem presentes. Um ana- lista não deve jamais desprezar os horizontes cos que estão sempre presentes na situação Quando o fundir dos horizontes se dá de maneira integral, essa fusão abre o espaço para que o outro apareça para ele Este choque de horizontes é o horizonte mesmo de aparição [...] do que acontece no encontro clínico, ou seja, da aparição da coisa. (2011a, p. 86, 141). Obviamente não se trata de uma sugestão de que o analista deva partilhar suas experiências com o analisando. O que aconteceu foi lo que fez sentido em um contexto particular. aqui- Cada encontro terapêutico deve ser considerado desse modo - um contexto absolutamente único, a partir do qual, uma vez analista e analisando imersos em seu sentido e suas possibilidades, abre-se o acontecimento do encontro. O diálogo continua: C E a vida fica tão grave depois disso... [da morte se tornar uma possibilidade real]. Queria que meu pai demorasse a morrer. A - Não sabemos quando acontecerá. Só sabemos que acontecerá. C - É... A Mas você já pensou que agora, neste exato momento, seu pai está aqui? C - É verdade. Ele está aqui. Tenho vontade de viver tudo 0 que puder com ele. De estar verdadeiramente ao seu lado, com todo 0 meu afeto. Sinto que não faço Sou superficial na nossa relação, estou muito envolvido com trabalho e outras preocupações. Gostaria de estar mais perto. A Acolher a morte como uma possibilidade nos ajuda a acolher a nossa vida como possibilidade. C Penso que deveria viver de uma forma melhor, que fizesse sen- tido para mim.</p><p>Fica evidente, no processo de Carlos, a abertura de uma possibi- lidade apontada por Rodrigues: Não é incomum que dar-se conta da própria impotência - acei- tar-se como alguém que não pode tudo controlar seja recebido com e alívio. [...] nos retira muitas vezes de uma posição de asfixia qual nos por acreditar ser nosso "destino" ou a nos- na A serenidade somente é possível na impotência, no não sa no não poder: o não querer controlar, o não poder prever e de- querer e o futuro. É alicerçada ainda no desapego a compreensão de terminar mais que desejemos um caminho, por mais que esse caminho que pareça por vital e necessário, temos sempre a capacidade e a possibili- nos lidar com horizontes diversos daqueles que planejamos. Essa dade de de entrega, esse estar pronto para "o que der e vier", constitui disposição fundamenta a serenidade. (2006, p. 149-150). seguiram e se aprofundaram no enfrentamento, meio de aco- Os diálogos e esclarecimento do seu medo. Após dois anos e psi- coterapia, Carlos muito teve um fazer sonho: uma segunda graduação, um vestibular. curso de his- De Eu queria Então sonhei que tinha passado mesmo no dia à tarde. tória, repente, só soube por prazer. que o mundo ia acabar. Era com naquele a minha esposa, a minha todos morrer. não havia Eu nada me preocupava a fazer. Sabia que não podia vestibular? evitar. Pensei Então família, angustiado mas e impotente: mas logo agora que passei comigo no mesmo: não pre- subitamente e falei com serenidade me acalmei esse projeto, um projeto importa até onde fui com ciso preocupar. Não me vestibular, então, o proje- não se realiza só quando termina. bem, Eu passei E no acordei bem. Foi a primeira to vez que tive contato com a morte sem me sentir roubado. já foi realizado. Está tudo Encerra-se o relato clínico com esse sonho. Carlos, acolhendo a morte como uma possibilidade, acolhia também o fato que o possível havia sido Portanto, acolhia as suas possibilidades mais próprias ea sua finitude. Durante o processo psicoterapêutico, observa-se que a analista, em sua atitude de escuta atenta com suspensão das informa- ções prévias acerca do diagnóstico de Carlos, sustentava, ao invés, a angústia, permitindo que o esclarecimento da experiência se desse em seu sentido, Pois, segundo Heidegger, a angústia é a disposição afetiva fundamental que abre a possibilidade da compreensão do ser, posto que 219</p><p>suspende mundo das ocupações, arrancando do Sabendo disso, a analista evita consolos e distrações. Mas aqui acontece o passo de volta que retorna, com um olhar transformado, da filosofia enquanto indicação formal exigida pela experiência em direção à riência mesma, singular, que se descortina. Esse sentido desvelado expe- angústia, portanto, não é um sentido geral, mas situado, o sentido pela da experiência de Carlos a respeito da sua condição finita. Sustentar a angústia constitui uma atitude de anteposição radora, devolvendo para o analisando o próprio cuidado, a libe- lida com o mundo. O convite para o enfrentamento da própria fundamental ocorria toda vez que o medo se experiência qualquer tema trazido pelo analisando era tratado com a Mas todo e com sua história se de buscou vida possíveis causas para o medo, nem Não mesma riam da que também serviriam de consolo relações se questão fundamental, o seu medo. Elas seriam e distrai- em se apresentassem como constitutivas da experiência consideradas jogo. Igualmente, não se supôs que havia uma causa fundamental inconsciente, mas se tentou compreender o aquilo consciente ou que sua se mostrava na experiência de Carlos, o medo da morte. mesmo vez, entendida como uma possibilidade fundamental, por antecipada, abre todas as demais possibilidades existenciais, aquela que que, se esclarecia à medida que o seu sentido era Portanto, 0 Na situação clínica, o analista apenas caminhou de modo a não facilitar, como acontece nas determinações do impes- soal, o abafar dessa [da negatividade e da finitude] e 0 aplacar do anúncio da angústia. Assim, abriu-se a possibi- 14 O impessoal, grosso modo, é uma forma de ser da decadência que se pauta em uma lida inautêntica com o mundo e as pessoas. É regido pelo falatório, onde "se faz, se pensa e se compreende" conforme "se diz" que se deve fazer, pensar compreender. Esse "se", que é, como diz Heidegger, "todos e ninguém", corres- ponde à vivência do impessoal e impede uma lida autêntica com mundo. 15 Como já sinalizamos, de acordo com Heidegger, somos um "ser-para-a medida em morte" e a antecipação dessa possibilidade, sempre angustiada, na saia do jugo que é nossa possibilidade mais própria e irremissível, faz com Antecipando que se a do impessoal, sendo uma abertura para a autenticidade. ser-ai, angustiado, bilidade é a impossibilidade de todas as possibilidades, o dá-se conta que das suas possibilidades mais próprias enquanto</p><p>mindo lidade a de incapacidade manter, na medida [do analisando] do de suportar tal supri- âmbito indeterminação. do ser-aí Só assim (Feijoo, ele pôde, 2011a, então, p. 148). se rearticular tamanha no Pode parecer que se propõe a autenticidade como meta psicote- para si mesmo e compreensão do seu modo de ser a partir da sua Mas não é o caso. A autenticidade, como um olhar transpa- rente singular é, de fato, apenas caminho, meio, Mas experiência não é meta. Como defende Heidegger, quando fala dos indicado- meio res formais, retorno à inautenticidade é, sim, muito mais a dissipação do instante. Esta dissipação não tem lugar a partir de causas extrínsecas quaisquer, mas está fundada essencialmente na instantaneidade do instante. Também a cotidianidade do ser-aí, contudo, ao se reter na inautenticidade, é, em ver- dade, uma recaída ante o instante e sua irrupção brilhante. Esta recaída não é em si nada negativa e jamais se mostra mesmo como algo simplesmente dado: ela não é um estado duradouro, que seria interrompido pelos instantes do agir autêntico. Toda a conexão entre existência autêntica e inau- instante e ausência de instante não diz respeito a algo simplesmente dado que se passa com o homem, mas a uma conexão própria ao ser aí. (2003, p. 328). A psicoterapia não pretende assumir uma atitude valorativa e normatizante. 0 meio não determina o fim e, assim, a autenticidade não é meta e tampouco norma. Não se entende que a autenticidade que possa ser conquistado, mas uma possibilidade, uma experiência que ora se apresenta, ora não. Aquele que procura a psico- terapia, após concluí-la, permanecerá imerso na sua lida com o mundo jogo que abarcará todas as possibilidades, autênticas e inautênticas, em um em contínuo sem determinação e asseguramento. O se cias psicoterapia que se é, na verdade, o desvelamento do sentido que das persegue transparencia apresentam e somente isso. Para tanto, uma experiência de seja, processo, consigo mas jamais mesmo como pode fim. se constituir como meio, método,</p><p>O que se pretendeu com a discussão empreendida até aqui foi uma aproximação da experiência do pânico considerada a partir de uma situ- ação clínica singular, com todos os limites que isso pode implicar. Limites não apenas devidos à dificuldade de relatar a experiência viva que se dá em uma situação clínica, e que parece perder força e ser sempre traída quando traduzida em uma escrita póstuma ao e capaz de abarcá-lo em sua plenitude. Mas esses limites são também que é siderados em sentido positivo na medida em que decorrem con- da clareza de que toda experiência clínica é fundamentalmente singular portanto, não pode ser generalizada. O que se pretende é apenas a e, de uma experiência que deve ser compreendida na sua partilha tido de fazê-la é o ganho que se pode ter com reflexões que, sen- surjam provocadas por essa partilha e que possam aguçar a terapêutica. Também constituem o seu sentido, os novos desafios sensibilidade e encontrados na situação considerada e que emergem apenas limites com outros profissionais que se inquietam com as mesmas no diálogo seguem amadurecendo sua postura clínica e vislumbrando caminhos. questões e Obviamente, a discussão não pretende esgotar o tema, que tra em constante construção. Assume, antes, o caráter impulsionador se mos- dentro de um debate que vem sendo desenvolvido e vem reflexão de psicólogos de orientação ocupando a cupados com uma aproximação menos objetivante, menos mecanicista preo- e menos reducionista dos fenômenos considerados psicopatológicos. Tempos depois do término do atendimento de Carlos, a analista leu um poema de Ferreira Gullar (2008, p. 472) que a fez lembrar-se dele. Pensou então que, se Carlos tivesse lido esse poema, provavel- mente o teria ajudado mais do que o seu diagnóstico. Eis 0 poema: Na poltrona da sala as mãos sob a nuca sinto nos dedos a dureza do osso da cabeça a seda dos cabelos que são meus A morte é uma certeza invencível mas o tato me dá a consciente realidade de minha presença no mundo 222 Luciana da Silva Mendes Ferreira</p><p>REFERÊNCIAS Boss, 5-21. M. (1997). Encontro com Boss. Revista (1, 2, 4), Boss, M. (1988). Paulo: Livraria Angústia, culpa e (Trad. Barbara São Duas Cidades, (Original publicado Spanoudis) em Boss, M. (2002) A paciente que ensinou o autor a ver e pensar de 1972) maneira diferente. (Trad. Márcia P.Sztamfater Feldon) Revista uma Daseinsanalyse, 11, 5-36. (Original publicado em 1978) Boss, M. & Condrau, G. (1997). Análise existencial - Daseinsanalyse: como a Daseinsanalyse entrou na psiquiatria. Revista Daseinsa- nalyse, (1,2,4), 23-35. (Original publicado em 1975) Cardinalli, (2002). A psiquiatria fenomenológica - um breve histó- rico. Revista Daseinsanalyse, (11), 72-84. Casanova, M. A. (2006). Nada a caminho. 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Rio de Janeiro: 7Letras.</p><p>Situações clinicas I: Análise Fenomenológica de Discursos Clínicos conteúdo na íntegra, de cada capítulo, é de responsabilidade única e exclusiva do COORDENAÇÃO EDITORIAL Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Myriam Moreira Protasio CONSELHO EDITORIAL Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Andrés Eduardo Aguirre Antúnez Adriano Holanda Carmem Lucia Barreto Henriette Tognetti Penha Morato José Paulo Giovanetti Roberto Novaes de Sá Tommy Akira Goto SÉRIE Psicologia Existencial e Suas Práticas ORGANIZADORES DA SÉRIE Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Myriam Moreira Protasio REVISÃO TÉCNICA E DE PADRONIZAÇÃO As organizadoras CAPA, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Ana Luisa Videira S623 Situações clínicas I : análise fenomenológica de discursos clínicos / organização Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo, Myriam Moreira - Rio de Janeiro, RJ : IFEN, 2015. 336 p. (Psicologia Existencial e Suas Práticas) ISBN 978-85-63850-06-5 1. Psicologia existencial. 2. Psicologia_fenomenológica 3. Psicologia clínica. I. Instituto de Psicologia do Rio de Janeiro. II. Feijoo, Ana Maria Lopez Calvo de. III. Protasio, Myriam Moreira. IV. CDD 150.192 0020/2015 CDU 159.9 Todos os direitos desta edição reservados ao Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro (Editora Rua Barão de Pirassinunga, 62 - Tijuca - Rio de Janeiro Brasil www.ifen.com.br e-mail: edicoesifen@ifen.com.br</p>

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