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CONCLUSÃO – FOLHA 15 PRIMEIRA FASE DO TRABALHO DE BINSWANGER: Influência de Husself, focada na descrição fenomenológica da experiencia ( estudos de temporalidade e espacialidade). 1) Ludwing Binswanger e Medard Boss: Contato com a psicanálise ( Freud, Jung) e dificuldades clínicas: Binswanger teve contato direto com a Psicanálise clássica, mas encontrou limites nela, especialmente diante de casos clínicos mais graves. Sua prática no hospital Bellevue trouxe a necessidade de buscar novas formas de compreensão dos pacientes. (Ex: sobre temporalidade: feriado prolongado. Foi para todos, mas a vivência foi diferente ou estamos todos na mesma sala, mas cada qual pensando algo diferente). 2) Crítica a psiquiatria cientifica e apresentação a fenomenologia: Ao perceber os limites da abordagem médica tradicional (Objetivista e mecanicista), Binswanger passou a criticar a psiquiatria científica. Ele considerava que a divisão cartesiana do mundo era prejudicial a Psiquiatria constituindo “um verdadeiro câncer da ciência” 3) Influência de Husself, Heidegger, Jaspers e outros pensadores: Trouxe pensamentos importantes sobre as questões de temporalidade e das especialidade sobre o ser e o seu sofrimento (Ele propôs um olhar fenomenológico para a experiencia do adoecer, resgatando a subjetividade do paciente. ) Karl Jaspers apresenta a obra Psicopatologia Geral ( descrição fenomenológica das funções psíquicas). Binswanger se inspirou na fenomenologia de Husself para valorizar a experiencia vivida e depois aprofundou-se em Heidegger para discutir o “ser-no-mundo”. E dialogou com Minkowski e com as obras de Kierkegaard, Dilthey, , Nietzsche, abordando questões sobre temporalidade e da espacialidade sobre o ser e o adoecer. ( Nota do João: O primeiro a falar sobre espacialidade foi o Minkowski e quando se estuda um curso de Psicologia, a diferença entre o tempo e temporalidade, espaço e espacialidade, corpo e corporeidade; nós carregamos no curso de psicologia aquilo que a ciência trás e oferece ( tempo, espaço e corpoé uma demarcação feita por nós, mas podemos compartilhar o mesmo tempo e espaço, porém cada um vai ter sua vivência). A psicologia do Desenvolvimento vai estudando o corpo, espaço e tempo de acordo com demarcações e expectativas – universal- então as pessoas são desse jeito; então podemos entender que , as vezes desvios são causalidades que procuramos. Ao entrarmos no elevador ou recinto fechado, tem gente que passa mal, tem falta de ar, e tem gente que passa mal ao contrário, por excesso de espaço, a relação com o espaço é interessante; a relação com o tempo: Tem 27 nos? Já se casou? Já tem filhos? Expectativa do tempo e quando a pessoa fala que não quer, nos achamos a pessoa “bruta’ em sua resposta. Boss: O tempo não é uma linha objetiva, mas uma criação humana ligada a experiencia existencial . A perda do horizonte temporal( vicencia do presente, passado e futuro) caracteriza estados patológicos. 4) Adoecer como experiência existencial: Para Binswanger, adoecer não apenas um problema orgânico ou mental, mas uma transformação no modo de ser-no-mundo do sujeito. É uma ruptura na relação existencial com tempo, espaço e outros. SEGUNDA FASE DO TRABALHO DE BINSWANGER: Influência de Heidegger para o estudo da Psiquiatria, introduzindo a ontologia existencial ou daseinsanalítico para interpretar a esquizofrenia. Nota do professor: Lembrando Boss o Tempo e temporalidade: A esquizofrenia ou doenças psíquicas graves , há uma ruptura na percepção do tempo. a) Binswanger afastou-se de Heidegger ( O Ser e o Tempo) em relação a um aspecto que ele acrescentou nesta Daseinsanalyse: a questão do “amor”. b) Depois reconhece seu erro pois o Ser-ai ( dasein) é “Sorge” ( que significa cuidar, zelar, preocupar-se) em seu aspecto ontológico, incluindo todas as formas de relações afetivas.) Nota do professor: A sociedade explica o que é cuidar, proteger o outro.Faz parte do ser, não que nascemos assim, mas Heidegger diz que na convivência ao ser-no- mundo, ao ser-com-o-outro, ao se projetar no outro a gente já é Sorge. TERCEIRA FASE DO TRABALHO DE BINSWANGER: Fenomenologia antropológica, volta-se à uma aproximação ao pensamento de Edmund Husseri. a) A abordagem fenomenológica e a daseinsanalyse, não se limitam a uma .compreensão dos diferentes modos de ser doente; é uma nova prática terapêutica; abre caminho para uma medicina preventiva e para higiene mental. b) Com Binswanger, há uma nova possibilidade para a compreensão dos sonhos Nota do professor: Passado, presente e futuro existe? Em Augras (2004), Binswanger, ao comentar o conceito de “horizonte existencial” mostra que na vivência individual, não existe a separação entre passado e presente interpretam-se. Presente não é determinado pelo passado, mas pelo horizonte do qual são experimentados ao mesmo tempo passado e presente, e é o sentido da “trajetória do ser” que modifica a significação do passado e do presente. O futuro também atua, como esperança ou receio. Nota do professor: Obvio que vivemos um passado, posso até mentir sobre ele, quando alguém me pergunta o que vivi nele, mas a partir de uma percepção individual quando se conversa com um indivíduo na clínica, ele vai dizer sobre a significação dele hoje sobre o que ele tinha 10 anos de idade e nesse caso ele pode mudar todas as características desse passado. Ele pode não lembrar de fatos ou imaginar uma forma que não era real. É a individualidade dele agora diante do terapeuta. O Daseinsanalyse (o ser-aí), conta no presente o que ele tem que ser no passado. Existe o passado, mas o passado que eu quero que exista. É só o sei de hoje. O tempo é um artefato psicológica. É uma criação humana O futuro existe em planejamento, quando chegamos nele, ele já é presente. O futuro existe como perspectiva e esperança, com medo e temor de não conseguir, mas isso é como um estimulante para querer estar vivo. O propósito do ser-doente em sua patologia geral, os aspectos ‘corporais’ e ‘mentais’, se fundem. Neste sentido qualquer restrição afeta o todo da existência. Nota do professor: (Evangelista: A fratura é existencial) – Privações que podem acontecer em nossas vidas, lidar com isso é essencial porque isso angústia, traz culpa, ansiedade - Sobre ser-doente em sua quatro aspectos são destacados: 1 – Ser-doente caracterizado por uma perturbação evidente da corporeidade do existir humano ( ex. quebrou a perna ou insuficiência hepático – algum problema no corpo que vai acarretar determinada característica existencial) – 2- Ser-doente caracterizado por uma perturbação pronunciada da espacialidade e da temporalidade de seu ser-no-mundo ( Clínica – Pessoas que são exigidas , pessoas que se alto exigem, que tem que dar cabo das pressões externas, mas não conseguem tanto do ponto de vista da espacialidade – casa – trabalho- social e surta) ( quero estar na Inglaterra porque já tenho 18 anos e não posso pq minha família quer que eu termine a escola aqui – espacialidade)- 3- Modos de ser-doente constituindo privações importantes na afinação própria â essência da pessoa – AFINAÇÃO : Quando não existe congruência e coerência entre aquilo que sou e aquilo que faço. É difícil ser congruente. Ex: Vejo meu pai agir de uma forma que não é legal , mas amo e não consigo dizer. Penso, sente, e agir de acordo, é difícil. Odeio meu chefe, mas ao chegar na frente dele digo que ele é lindo. 4 _ Modos de ser-doente constituindo privações importantes na realização do ser-aberto e da liberdade. Pressão do automatismo da sociedade e opressão que existe para termos determinados comportamentos de que temos que fazer e cumprir. Não conseguimos ser abertos consigo mesmo porque temos que atender a exigências do outro, e como não somos separados do outro então ficamos confusos, se as exigências são minhas ou são do outro Os Sonhos Em ‘Na Noite Passada Eu Sonhei’, Boss destaca que os sonhos são reveladores de possibilidades existenciais que a pessoa em questão está incapaz de se apropriar de sua vida em vigília. Essa ideiavai na contramão de entender os sonhos como realizações de desejos ou de manifestações de arquétipos coletivos. Nota do professor: Na rotina parecemos duas pessoas. Uma na rotina e outra que deita par dormir – Há uma distinção que fazemos. Mas BOSS olha o horizonte existencial e diz que não tem separação entre o vigília e dormir na vida Onírica do ponto de vista de ser a mesma pessoa. Podem ser observados dois pontos pelo analista e cliente: a) Que fenômenos da existência estão abertos a ponto de terem ao mesmo tempo quais deles não são acessíveis no sonhar b) De que forma o sonhador conduz em relação ao que lhe é revelado em seu mundo onírico em especial a afinação que determina essa forma de se comportar. Notas do professor: Sonhos são curtíssimos, mas a vivência de temporalidades é diferente. Não sonhamos a noite inteira. É que foi intenso de tal forma que parece que sonhei a noite inteira. O fragmento que analisamos, é baseado na narração do indivíduo na psicoterapia do sonho que ele sonhou está longe do sonho sonhado, está desvelando a você o sonho que sonhou. Os institutos para compreender o problema do sonhos, eles medem quantitativamente, e isso só teria sentido se eu conversasse com ele enquanto isso é feito; O sonho só tem sentido de revelação e continuidade do dia em vigília. Temos atividade intensa psíquica enquanto dormimos. Jung colaborou muito para compreendermos os sonhos, somos o autor dessa peça. Quer compreender sua vida onírica, compreenda sua vida em vigília e vice-versa. No sonho damos vivacidade ao ser, ser-ai Muda a corporeidade, o psicológico, o estado existencial e conteúdo quando apenas se toca em uma pessoa com terror noturno, sonambulismo ou pesadelo. A FENOMENOLOGIA E A CRIANÇA – FOLHA 16 Fonte: A trajetória humana: uma perspectiva daseinsanalítica Maria Beatriz Cyrtrynowicz / A existência para além do sujeito – A.M. Feijó “Criança tida como problemática, por professor, pedagogo, colega, por vizinhos e pelo pediatra que receita conhecida droga, mas de nada adianta, tem a orientação para procurar psicoterapia. Os pais agendam esta psicoterapia com o profissional. Pergunta-se: 1) O que está em ‘tutela’ desta criança neste momento? R: A criança está sob tutela do olhar social e médico-pedagógico, que a define como “problemática”. Não é escutada em sua existência, mas classificada e encaminhada como um caso. 2) No dia seguinte, pais e criança vão para este encontro; chamam um uber para levá-los. De quem é a ‘tutela’ deste transporte que levará toda a família? R: A tutela logística é do motorista/plataforma, mas a tutela existencial e afetiva segue com os pais, que conduzem o sentido desse deslocamento na vida da criança. 3) Chegando no local, se apresentam na sala da clínica. A recepcionista acomoda os pais na sala e leva a criança até a sala do profissional. Neste trajeto, de quem é a ‘tutela’ da criança? R: A recepcionista assume a tutela física e institucional. A criança transita entre mundos: do familiar para o clínico. Ainda não há encontro existencial, apenas mediação. 4) O (a) profissional está esperando na porta, recebe e convida a criança a entrar, e fecha a porta. De quem é a ‘tutela’ da criança a partir deste momento?” R: A tutela existencial passa ao profissional, que a acolhe não como um caso, mas como um ser em manifestação. Abre-se um espaço ético de escuta, onde a criança pode se revelar. Essa tutela é, portanto, um ato ético e ontológico: criar espaço para que a criança possa se revelar, ser acolhida em sua forma própria de ser-no-mundo. A fenomenologia exige do profissional uma suspensão dos saberes prévios (epoché) para que não se antecipe um diagnóstico, mas se habite o mistério daquela existência O terapeuta fenomenológico oferece presença, disponibilidade e escuta — não como um técnico, mas como alguém que co-habita o mundo com ela, mesmo que por breve tempo. Normalmente quem busca psicoterapia para criança parte de uma atitude natural. • Atitude antinatural: presença e acompanhamento, deixando que ela mesma, a criança, tutele suas escolhas e decisões. • A sutileza deste estar sempre presente, que pode parecer uma estar ausente, mas é uma espécie de sendo e não-sendo. Não se trata de fingir ou de se esconder.Uma presença sutil do terapeuta — ele está ali, mas sem ocupar todo o espaço. É um estar com que não invade. O “SENDO e NÃO SENDO” significa estar presente de forma discreta, aberta e respeitosa, permitindo que o outro apareça como ele é. Não é fingimento nem omissão, mas uma presença verdadeira, silenciosa e ética • ‘Não’ fazer o que se pensa ou o que se planeja como hábito. • ‘Não’ assumir o lugar da criança, subtraindo dela o caráter de responsabilidade por existir. • Permitir à criança a experiência de permanecer consigo mesma. • Permitir que ela possa desvelar-se. • Permitir que esta seja uma oportunidade de seu poder-se. Em seu dasein, este poder-ser é ‘sorge’: um zelo, cuidado, ocupação. • Trata-se de sensibilizar com suas ‘responsabilidades’. • É uma ação que lida com o modo de ser que se manifesta. • Esta postura e modo de ser do profissional está calcada na fenomenologia e na psicologia existencial. Na Psicologia, os chamados de Desenvolvimentos têm diferentes sentidos e contextos. • Desenvolvimento como Caminhar não tem projetos prévios. • Des-Envolvimento • Sobre o mundo do brincar e da fantasia. Segundo Maria Beatriz Cyrtrynowicz, na perspectiva daseinsanalítica, desenvolvimento não é cumprir etapas previstas, mas um “des-envolvimento” — um desembrulhar-se do ser no tempo, sem projeto fixo No brincar e na fantasia, a criança não busca um fim, mas vive o instante. O adulto, muitas vezes, tenta dirigir esse processo, impondo metas, o que empobrece a experiência. O verdadeiro desenvolvimento, então, é caminhar sem roteiro, como a criança que brinca aberta ao mundo, e não como o adulto que exige resultados. • Sobre o Adulto e a Criança. • Substratos / Subsídios da Psicologia Existencial. • “Se a criança não aprende do jeito que ensinamos, tentemos de ensiná-la do jeito que ela aprende.” – Ignácio Estrada A frase de Ignácio Estrada valoriza a escuta da singularidade da criança. Em vez de impor um método fixo, convida o educador a se abrir ao modo próprio de aprender de cada criança. Na fenomenologia, isso é reconhecer o outro em sua forma única de ser-no-mundo. Ensinar, então, é encontrar um caminho comum, onde o aprender acontece no encontro, não na imposição • “As pessoas educam para a competição e este é o princípio de qualquer guerra. Educar para a cooperação e solidariedade, e este é o princípio da Paz” – Maria Montessori • Escola da Tristeza: pergunta imbecil que te diz que ela não é nada. A “escola da tristeza” é aquela que apaga o aluno, NÃO O RECONHECE EM SUA PRESENÇA, história e modo singular de estar no mundo. NA FENOMENOLOGIA, ISSO É UMA VIOLÊNCIA ONTOLÓGICA: NEGAR O SER DO OUTRO O professor critica uma escola que não escuta a existência do aluno. A “pergunta imbecil” é aquela que ignora quem a criança é e sugere, SUTILMENTE, que ela não tem valor ou sentido próprio — como se fosse um vazio a ser preenchido. Fonte: Martin Heidegger/Søren Kierkegaard /Medard Boss – FOLHA 14 SENTIMENTO DE CULPA – CULPABILIDADE · Schuld (culpa) deriva do alemão Sculd, que simplesmente significava aquilo que ‘carece e falta’. · Shuld em inglês é ficar ‘devendo’. Dívida no sentido de não ter cumprido algo, por não ter feito algo. (Heidegger diz que a culpa não é apenas moral, ela é uma estrutura do ser) Ser culpado é estar lançado no mundo, com possibilidade de que nunca darmos conta totalmente · Em certo aspecto, ‘estar devendo’ pode ter uma conotação positiva, pois é aquilo que o indivíduo quer realizar, quer fazer. A conotação positiva, mostra que ainda nos importamos, que estamos em relação com valores e com o outro e conosco. · Há uma ligação íntima de culpa com responsabilidade (spondere = prometer). · Nietzsche: “o ser humano é o único animal capaz de prometer”. Essa frase complementa que “prometeré se comprometer com o futuro, mas se somos finitos, nunca cumprimos tudo.” · Pode ser natural sentirmos culpa, pois sempre estamos prometendo a nós mesmos. · Mas ressalta-se: é importante lembrarmos que temos limites. Sentir culpa é humano, mas o essencial é assumir essa responsabilidade sem negar nossos limites. · O sentimento de culpa se liga diretamente ao da angústia, vem junto ou logo após. Essa dívida é existencial: Viver é escolher, e ao escolher, deixamos outras possibilidades de lado, isso que gera CULPA E ANGÚSTIA. · O ser humano é essencialmente culpado e assim permanece até sua morte, pois sua essência não se realiza antes dele ter levado a termo todas as possibilidades de exploração de seu futuro. Para Heidegger e Boss : A culpa é parte estrutural da existência, lançados ao mundo de escolhas sem darmos conta de tudo. Ao deixarmos de fazer algo, ficamos devendo a nós mesmos aquilo que poderia ter sido. · ‘Da superação da carga de culpa’: => ao negarmos a culpa, também negamos esta condição humana. Negar esse sentimento é tentar escapar da condição existencial. Somos seres incompletos, em processo, e assumir culpa é assumir a liberdade e responsabilidade de existir => ‘deixar-se necessitar’… que o ser humano ‘deve’ aquilo que é que há de ser; ficar-a-dever, a culpabilidade existencial. É reconhecer que devemos a nós mesmos a realização do nosso ser – e que essa realização nunca é total. => culpa X responsabilidade. Culpa existencial não é moralismo e nem punição. É só reconhecer que temos escolhas e somos responsáveis por elas, mesmo dentro dos limites. A Responsabilidade nasce entre o que somos e o que poderíamos ser. => meta: ‘culpa zero’ (em relação às conotações sociais históricas e atuais). A proposta é distinguir a culpa existencial da culpa social/moral histórica ( ligadas a normas, castigos, controle). Buscar “culpa zero” aqui é liberta-se das culpas impostas por fora, sem perder a consciência ética interna. · Boss traz o pensamento que, durante muito tempo não pudemos distinguir tão facilmente o sentimento de culpa do medo aos castigos: obediência aos pais, aos deuses, à sociedade, ao Estado, segundo ele, aspectos totalmente sem fundamento. Boss alerta que , historicamente confundimos culpa com medo de punição, o que desvia o sentido existencial da culpa. A fenomenologia propõe reconectar esse sentimento com a liberdade e a autenticidade, e não com medo ou submissão. · Raízes sociais podem trazer também as seguintes conotações ou consequências, geralmente, preconceituosas: • ‘Sentir Pena’. • ‘Sentir Dó’. • ‘Sentir Remorso’. · Expressões que sub julgam: ‘coitado’, ‘judiação’. Em vez de reconhecer o outro, essas expressões reduzem o outro a uma condição inferiorizada, criam uma relação de superioridade e dominação. · Ações de desconsideração: as chamadas ‘chantagens emocionais’, que trazem uma relação autoritária de negativa. Rompimento com a relação ética e autêntica com o outro. Impedem o encontro genuíno entre pessoas. Substituem a escuta e o reconhecimento por culpa e controle. · Reflexão: Realidade x Alienação. O que é realidade? É tudo o que nos incumbe! – Realidade não é o que está fora, mas o que nos chama e nos afeta existencialmente, só é Real aquilo que percebemos e nos toca. Mas o que é que nos incumbe? O que nós percebemos! O que percebemos entra no nosso campo de consciência · Daí derivando, por exemplo, a negação daquilo que se dá, ou se manifesta, casos da tal ‘negacionismo’, bastante vigente; e da inobservância das relações Quando ignoramos ou negamos o que entra no nosso campo de consciencia, o que se apresenta, então essa é uma forma de negacionismo, de alienação. Ignora a responsabilidade de estar-no-mundo-com SER-COM: no Umwelt, Mitwelt, Eigenwelt. Umwelt: Mundo físico – ambiente ( natural) Mitwelt: Mundo com os outro ( social) Eigenwelt: Mundo próprio - interior Mulher não existe: Solidão e Cristalização da Identidade Feminina”, de Ana Maria L. C. Feijoo e Maria Márcia Protasio, publicado no livro Situações Clínicas I. 1. A identidade feminina como construção histórica As autoras argumentam que a identidade feminina não é determinada biologicamente, mas é uma construção social e histórica. Desde o período neolítico, a posição social da mulher foi se modificando e cristalizando, influenciada por normas culturais e sociais que moldaram expectativas e papéis de gênero ao longo do tempo. 2. A solidão como queixa clínica Muitas mulheres, ao buscarem a clínica psicológica, relatam sentimentos de solidão e dificuldades em estabelecer ou manter relacionamentos amorosos. Essas queixas são frequentemente interpretadas pela psicologia tradicional como sinais de menos-valia ou fissuras psíquicas. No entanto, as autoras propõem compreender esses sentimentos como manifestações de uma identidade feminina cristalizada por expectativas sociais hegemônicas. 3. A crítica à naturalização da identidade feminina A psicologia tradicional tende a naturalizar a identidade feminina, associando-a diretamente ao biológico. As autoras criticam essa abordagem, argumentando que tanto o biológico quanto o psíquico são interpretados dentro de uma configuração historicamente constituída. Assim, a identidade feminina é vista como algo que se constitui e pode se cristalizar no próprio existir. 4. A abordagem fenomenológico-existencial na clínica Ao adotar uma perspectiva fenomenológico-existencial, inspirada na ontologia fundamental de Heidegger, as autoras propõem uma escuta clínica que abandona a ideia de estruturas psíquicas fixas. Essa abordagem permite acompanhar o fenômeno da solidão e da identidade feminina como algo que se desvela na experiência singular de cada mulher, possibilitando a libertação de aprisionamentos impostos por discursos hegemônicos. 5. A importância de resgatar sentidos originários As autoras destacam a necessidade de retornar aos sentidos originários das palavras e conceitos para compreender como determinados significados foram obscurecidos ao longo do tempo. Por exemplo, a palavra “análise”, que em grego comportava os sentidos de “destecer” e “libertar”, teve o sentido de “libertar” obscurecido, prevalecendo o de “dividir em partes”. Esse resgate é fundamental para desvelar possibilidades de compreensão que foram suprimidas pelas determinações hegemônicas. Em suma, o capítulo propõe uma reflexão sobre como a identidade feminina foi historicamente construída e cristalizada, influenciando as experiências de solidão relatadas por mulheres na clínica psicológica. Ao adotar uma abordagem fenomenológico-existencial, as autoras buscam compreender essas experiências em sua singularidade, desvelando possibilidades de libertação dos aprisionamentos impostos por discursos sociais hegemônicos Mulher não existe: Solidão e Cristalização da Identidade Feminina”, de Ana Maria L. C. Feijoo e Maria Márcia Protasio, publicado no livro Situações Clínicas I.