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<p>O�cina literária</p><p>Aula 1: O que é literatura?</p><p>Apresentação</p><p>Nesta aula serão apresentadas as diferenças entre o texto literário e não literário. Além disso, veremos algumas questões</p><p>fundamentais como o papel da palavra e a interação existente entre o texto, seu autor e seu leitor.</p><p>Objetivo</p><p>Conhecer as características do texto literário.</p><p>Reconhecer a literatura como um tipo de discurso.</p><p>Conotação e denotação</p><p>Para entendermos o que é literatura, temos de ter, como ponto de partida, a noção de conotação e denotação.</p><p>Leia os textos a seguir:</p><p>Texto 01</p><p>“Mas não há literatura que não tenha seus campeões de mentira – real ou imaginária. O escritor francês Alphonse Daudet</p><p>(1840-1897) celebrizou-se graças às aventuras mentirosas de seu personagem Tartarin de Tarascon, um burguês baixinho,</p><p>com certa tendência à obesidade, que se imaginava um valente herói e saía contando peripécias nunca vividas. No Brasil,</p><p>o mentiroso Macunaíma, de Mário de Andrade, nem fez questão de �ngir ser herói: covarde como só ele e sem nenhum</p><p>caráter, Macunaíma mentia o tempo inteiro para se safar de qualquer problema – dizer a verdade, aliás, lhe dava preguiça.”</p><p>(Fonte: Superinteressante, São Paulo, ago., 1993).</p><p>Texto 02</p><p>“Dizem que �njo ou minto</p><p>Tudo que escrevo. Não.</p><p>Eu simplesmente sinto</p><p>Com a imaginação.</p><p>Não uso o coração.</p><p>Tudo o que sonho ou passo,</p><p>O que me falha ou �nda,</p><p>É como que um terraço</p><p>Sobre outra coisa ainda.</p><p>Essa coisa é que é linda.</p><p>Por isso escrevo em meio</p><p>Do que não está de pé,</p><p>Livre do meu enleio,</p><p>Sério do que não é.</p><p>Sentir? Sinta quem lê!”</p><p>Fernando Pessoa</p><p>Fonte: Disponível em: //www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=15728</p><p>Acesso em: jul. 2019.</p><p>Fica claro que os dois textos falam do mesmo assunto, ou seja, os dois veem a construção literária como algo que é fruto</p><p>da imaginação, ou melhor dizendo, que nasce de doses de mentiras. No entanto, isso é dito de formas diferentes.</p><p>Vejamos:</p><p>Clique nos botões para ver as informações.</p><p>Neste texto, a linguagem é informativa, objetiva, apresentando dados precisos como datas e nomes de escritores.</p><p>Trata-se de uma linguagem direta e impessoal. Não há nenhum tipo de exploração de imagens ou �guras de</p><p>linguagem.</p><p>TEXTO 01 </p><p>Neste texto, a linguagem é subjetiva. Há uma multiplicidade de signi�cações, opondo-se a linguagem informativa. O</p><p>que signi�ca, por exemplo, a palavra terraço? Ora, signi�ca a vida do eu lírico. Debaixo desse terraço, ou seja, a partir</p><p>das experiências que tem ou daquilo que sonha, caminha sua imaginação, sua inspiração de poeta.</p><p>Cabe ao leitor ter a sensibilidade necessária para usufruir o resultado da criação: “Sentir? Sinta quem lê!”.</p><p>TEXTO 02 </p><p>javascript:void(0);</p><p>Com a breve leitura desses dois textos, queremos mostrar que a</p><p>linguagem do texto 1 é denotativa e a linguagem do texto 2 é conotativa.</p><p>Mas, a�nal, o que é denotação e o que é conotação?</p><p>DENOTAÇÃO</p><p>DENOTAÇÃO é a linguagem informativa,</p><p>comum a todos. Tem por objetivo</p><p>expressar um conhecimento prático,</p><p>cienti�co. Nesse tipo de linguagem, as</p><p>palavras são sempre empregadas em</p><p>sentido real.</p><p></p><p>CONOTAÇÃO</p><p>Por outro lado, a CONOTAÇÃO é a</p><p>linguagem afetiva, individual e subjetiva.</p><p>Tem por objetivo a apreciação estética.</p><p>Apresenta o uso da palavra no seu</p><p>sentido �gurado ou poético.</p><p>Sendo assim, a partir desse dois conceitos, podemos estabelecer a diferença entre</p><p>literário e não literário.</p><p>Texto literário e texto não literário</p><p>Nessa nossa conversa, é preciso dizer que a palavra texto deriva do latim textus, (-us) que signi�ca laçar, entrelaçar.</p><p>Portanto, o texto é um elemento do processo comunicativo que apresenta um entrelaçamento de ideias, as quais</p><p>são costuradas através das palavras.</p><p> Fonte: Marisa Sias por Pixabay</p><p>Todo texto é portador de um sentido, de um signi�cado próprio e singular, e pode ser falado ou escrito.</p><p> Texto não literário (Fonte: Zoran Stupar por</p><p>Pixabay ).</p><p>Texto não literário</p><p>É informativo, objetivo e apresenta uma linguagem denotativa, direta e impessoal. Um texto não literário está preso à</p><p>realidade, a algo que pode ser comprovado como verdade. A nossa comunicação de todos os dias, ou seja, a nossa fala</p><p>do cotidiano, com nossos amigos, com nossa família ou no nosso trabalho, é um exemplo de texto não literário. São</p><p>textos que visam apenas à informação e à ação.</p><p> Texto literário (Fonte: Mystic Art Design por</p><p>Pixabay ).</p><p>Texto literário</p><p>Por isso, o leitor é induzido a trilhar um caminho de múltiplas signi�cações. Os sentidos nascem do texto. Os signi�cados</p><p>de determinadas palavras ou frases não têm comprovação imediata na nossa realidade.</p><p>Leia, a seguir, um exemplo de texto literário.</p><p>A �or e a náusea</p><p>(...)</p><p>Uma �or nasceu na rua!</p><p>Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.</p><p>Uma �or ainda desbotada</p><p>ilude a polícia, rompe o asfalto.</p><p>Façam completo silêncio, paralisem os negócios,</p><p>garanto que uma �or nasceu.</p><p>Sua cor não se percebe.</p><p>Suas pétalas não se abrem.</p><p>Seu nome não está nos livros.</p><p>É feia. Mas é realmente uma �or.</p><p>(...)</p><p>Carlos Drummond de Andrade</p><p>Fonte: Disponível em: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13222.pdf Acesso em: jul. 2019.</p><p>Como você pôde ver, a �or do texto não é uma �or de verdade. A palavra �or, ganha, aqui, outras dimensões. No �uir da</p><p>vida agitada que vivemos, pode nascer uma �or no meio da rua. O que isso signi�ca? Vivemos inseridos num cenário de</p><p>trânsito acelerado, de preocupação com o trabalho, de pessoas que se cruzam sem se enxergarem. Porém, no meio de</p><p>tudo isso, pode nascer a esperança de transformação. Essa esperança é a �or que nasce no meio da rua!</p><p>Fica claro, assim, que as palavras são símbolos. Elas ganham outros signi�cados que vão muito além daqueles que têm</p><p>na realidade.</p><p>Discurso</p><p>1</p><p>falante/ouvinte</p><p>2</p><p>escritor/leitor</p><p>Eles são os agentes do discurso. E você sabe o que é Discurso?</p><p>O discurso é um elemento que compõe o processo comunicativo. Trata-se de uma articulação de palavras que comporta</p><p>uma intenção. Quando lemos um texto e percebemos as intenções do autor, é sinal de que o discurso está se realizando.</p><p>Quando o receptor decifra o que está por trás do escrito ou do dito, o texto se transforma em discurso.</p><p>O texto não muda, mas o discurso muda. O discurso é algo dinâmico, pois um texto pode ser lido em diferentes épocas,</p><p>por diferentes pessoas e pode estar sujeito a uma plurissigni�cação.</p><p>O discurso trafega entre emissor e receptor e põe em jogo as</p><p>vivências de cada um. No momento de leitura, entram em jogo as</p><p>javascript:void(0);</p><p>vivências reais ou imaginárias, isto é, experiências que podem ter</p><p>sido vividas ou adquiridas através de outras leituras.</p><p>Podemos dizer, então, que o discurso é um fato social, pois liga dois sujeitos situados em momentos históricos precisos e</p><p>refere-se à situações localizáveis e datáveis. Como assim?</p><p>Ora, se pensarmos no romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, vamos nos deparar com a transição de um Brasil</p><p>Império para um Brasil República.</p><p>Exemplo</p><p>Na obra Esaú e Jacó, Machado de Assis, na qualidade de sujeito-autor, situado historicamente no século XIX, fala desse</p><p>tempo, interagindo com os sujeitos-leitores da atualidade. Temos, portanto, uma situação histórica perfeitamente localizável</p><p>e datável. É visível que as palavras não têm signi�cados �xos, mas signi�cações possíveis.</p><p>Nos capítulos LXII e LXIII, a dúvida, que atormenta o personagem Custódio em relação ao nome de sua confeitaria, induz o</p><p>leitor a pensar que a mudança de regime político, no Brasil, não passou de uma troca de tabuleta, ou seja, o nome mudou de</p><p>Império para República e as práticas continuaram as mesmas.</p><p>Clique aqui para acessar a obra Esaú e Jacó, de Machado de Assis, disponível no site Domínio Público.</p><p>A palavra é a mola mestra do discurso. Ela está vinculada ao movimento social porque traduz as práticas de um</p><p>determinado grupo ou classe. Trata-se de um signo neutro, mas que perde sua neutralidade quando inserido nas</p><p>realidades discursivas. Ninguém fala de</p><p>graça.</p><p>Toda palavra está sempre direcionada ao outro, portanto podemos dizer que a palavra estabelece relações dialógicas.</p><p>As relações dialógicas nascem do confronto estabelecido entre posições</p><p>assumidas por diferentes sujeitos e expressas na linguagem. A palavra é</p><p>sempre dialógica, pois a vida social é uma discussão permanente. O</p><p>discurso só se realiza no contexto social se estiver sempre direcionado</p><p>ao outro. Em todo texto é possível ser ouvida a voz do seu autor. As</p><p>relações dialógicas só existem quando se escuta a voz do outro.</p><p>javascript:void(0);</p><p> Diálogo (Fonte: Free-Photos por Pixabay ).</p><p>Há duas operações essenciais na construção do discurso: seleção e combinação. São processos de escolha nos quais as</p><p>opções assumidas delineiam os valores e a ideologia que presidem a produção de discurso. Por isso, é fundamental o</p><p>leitor perceber quem fala e para quem fala o texto.</p><p>Ao produzir um texto, o autor escolhe e combina o que vai escrever. Aquilo que ele pretende dizer é o que estará inserido</p><p>na voz do narrador. Dessa forma, o texto expõe as opções assumidas e encobre as rejeitadas. Logo, um texto nunca é</p><p>neutro. Há sempre a representação dos valores que se quer expressar.</p><p>Relação autor-texto-leitor</p><p>Devemos considerar que, no ato de leitura, o texto traz as marcas de quem o produziu. Tanto quem escreve quanto quem</p><p>lê produz signi�cados. No processo de produção, entram em jogo os problemas pessoais, as emoções, as limitações de</p><p>quem o produziu. E a leitura?</p><p>Se o texto é uma rede de relações que transmite possíveis signi�cações, cada leitura estabelece um novo viés de</p><p>entendimento do texto.</p><p>O leitor produz os sentidos possíveis do texto a partir de suas experiências reais ou imaginárias.</p><p>Sendo assim, o grau de desenvolvimento da leitura vai depender do acervo simbólico do leitor. Quanto maior for</p><p>esse acervo, maior será o envolvimento estabelecido com o texto. Assim, a segunda leitura nunca será igual a</p><p>primeira, pois as experiências do leitor mudam. A vida segue e, em seu curso, promove o amadurecimento do leitor.</p><p>O que se pode dizer é que a primeira leitura produz signi�cações que funcionam como repertório para a segunda.</p><p> Fonte: Nino Carè por Pixabay</p><p>Discurso da história</p><p>Não só o discurso literário é organizado por seleção e combinação como também o discurso da história. Você sabe o que</p><p>é o discurso da história?</p><p>O conceito de história vai muito além da história o�cial que aprendemos na escola. Não são apenas grandes líderes e</p><p>grandes fatos que fazem parte da história. A história é a vida de cada um de nós. Todos os dias escrevemos a história</p><p>com nossos atos e valores.</p><p>A literatura se apropria desses atos e valores que formam as sociedades de diferentes épocas para dar vida a</p><p>personagens dentro dos mais diversos contextos. Por isso, a literatura, considerada por muitos como a arte da palavra,</p><p>pode ser conceituada como um tipo de discurso que tenta dar conta da história.</p><p>Atividade Dissertativa</p><p>QUESTÃO 1</p><p>O texto é um elemento do processo comunicativo que apresenta um entrelaçamento de ideias, as quais são costuradas</p><p>através das palavras. Todo texto é portador de um sentido, de um signi�cado próprio e singular, e pode ser falado ou escrito.</p><p>Quais são as características dos textos literários e dos textos não literários?</p><p>QUESTÃO 2</p><p>A literatura pode ser conceituada como um tipo de discurso que tenta dar conta da história. Explique a diferença entre texto e</p><p>discurso.</p><p>Aula Teletransmitida em LIBRAS</p><p>Assista a versão na Linguagem Brasileira de Sinais da Aulateletransmitida.</p><p>Notas</p><p>Referências</p><p>Próxima aula</p><p>Literatura e cultura;</p><p>Literatura e sociedade;</p><p>Mímesis e catarse;</p><p>Mímesis e universalidade;</p><p>Linguagem da obra literária e representação do real.</p><p>Explore mais</p><p>Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu</p><p>professor online, utilizando os recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.</p>