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<p>LILIAN FERNANDES DA SILVA</p><p>TÉCNICAS DE RESTAURAÇÃO DO</p><p>PATRIMÔNIO HISTÓRICO</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso</p><p>apresentado à Universidade</p><p>Anhembi Morumbi no âmbito do</p><p>Curso de Engenharia Civil com</p><p>ênfase Ambiental.</p><p>SÃO PAULO</p><p>2004</p><p>LILIAN FERNANDES DA SILVA</p><p>TÉCNICAS DE RESTAURAÇÃO DO</p><p>PATRIMÔNIO HISTÓRICO</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso</p><p>apresentado à Universidade</p><p>Anhembi Morumbi no âmbito do</p><p>Curso de Engenharia Civil com</p><p>ênfase Ambiental.</p><p>Orientador:</p><p>Prof. Fernando José Relvas</p><p>SÃO PAULO</p><p>2004</p><p>i</p><p>Dedico esse trabalho aos meus pais e ao Pedro que sempre me apoiaram em todas</p><p>as minhas decisões.</p><p>ii</p><p>AGRADECIMENTOS</p><p>Esse trabalho é fruto do apoio recebido da Universidade Anhembi Morumbi, na</p><p>pessoa de seu professor Fernando José Relvas e do estímulo dos demais</p><p>professores do curso de Engenharia Civil. Deve-se ressaltar o trabalho das</p><p>professoras coordenadoras, profª Dra. Gisleine Coelho de Campos e profª. Jane L.</p><p>Vieira.</p><p>Agradecimentos à empresa CONCREJATO Serviços Técnicos de Engenharia S.A.</p><p>pela atenção dispensada pelos seus colaboradores, em especial a Engª Maria</p><p>Aparecida Soukef Nasser, que contribuíram com manuais de técnicas de</p><p>restauração, informações gerais, empréstimos de projetos e autorização de visita às</p><p>suas obras.</p><p>iii</p><p>RESUMO</p><p>Esse trabalho aborda o que é um bem tombado, como funcionam as leis de incentivo</p><p>à cultura, focando a preservação do patrimônio histórico no Brasil e indicando órgãos</p><p>onde é possível obter maiores esclarecimentos sobre o assunto. Além disso, trata</p><p>sobre o desenvolvimento de obras em prédios tombados relacionando algumas</p><p>técnicas de restauração, entre elas, restauro de argamassa, granito e vitral. Por fim,</p><p>apresenta dois estudos de caso que visam traçar um comparativo entre a realidade e</p><p>a bibliografia encontrada sobre esse assunto.</p><p>Palavras Chave: incentivo à cultura; patrimônio histórico; restauração</p><p>iv</p><p>ABSTRACT</p><p>This monograph treats about tumble building, how does work the cultural incentive</p><p>laws, focusing the historical patrimony preservation in Brazil and pointing</p><p>departments where is possible to obtain information about this subject. In addition,</p><p>treats about the development of works in tumble buildings relating some restoration</p><p>techniques, for example, mortar and granite restoration. Finally, presents two cases</p><p>with the objective to compare the reality and the bibliography about this subject.</p><p>Key Words: cultural incentive; historical patrimony, restoration</p><p>v</p><p>LISTA DE ILUSTRAÇÕES</p><p>Figura 1 - Consolidação dos vidros danificados ........................................................25</p><p>Figura 2 - Pintura com grisalha castanha..................................................................26</p><p>Figura 3 - Montagem com calha de chumbo .............................................................28</p><p>Figura 4 - Montagem dos fragmentos de vidro da figura...........................................29</p><p>Figura 5 – Fixação das varetas de reforço ...............................................................30</p><p>Figura 6 – Antiga Igreja da Sé .................................................................................38</p><p>Figura 7 – Praça da Sé tendo ao fundo a Catedral em construção .........................39</p><p>Figura 8 – Antiga Igreja da Sé .................................................................................41</p><p>Figura 9 – Desenho da matriz feito no começo do séc. XIX.....................................41</p><p>Figura 10 – Foto da Catedral antes do início dos serviços de restauração .............45</p><p>Figura 11 – Ilustração sobre a as principais intervenções........................................48</p><p>Figura 12 – Exemplo de trinca encontrada...............................................................49</p><p>Figura 13 – Exemplo de trinca encontrada em alvenaria .........................................50</p><p>Figura 14 – Serviços de reparo em trincas...............................................................50</p><p>Figura 15 – Limpeza do granito................................................................................51</p><p>Figura 16 – Situação do granito após a limpeza ......................................................52</p><p>Figura 17 – Remoção do vitral .................................................................................54</p><p>Figura 18 – Restauração do vitral ............................................................................55</p><p>Figura 19 – Vitral após restauração .........................................................................56</p><p>Figura 20 – Foto antiga do grupo escolar Rodrigues Alves......................................58</p><p>Figura 21 – Situação antes do início das obras de restauração...............................64</p><p>Figura 22 – Remoção da argamassa deteriorada ....................................................64</p><p>Figura 23 – Situação da argamassa.........................................................................65</p><p>Figura 24 – Execução de requadros das esquadrias ...............................................65</p><p>Figura 25 – Execução de frisos da fachada .............................................................66</p><p>Figura 26 – Vista geral da obra ................................................................................67</p><p>Figura 27 – Restauro da argamassa concluído........................................................67</p><p>Figura 28 – Instrumentos ..........................................................................................72</p><p>Figura 29 – Diversos tipos de pincéis e escovas utilizadas na limpeza do vitral .......72</p><p>Figura 30 – Ferramentas para limpar o vidro e chegar ao cantos mais difíceis ........73</p><p>vi</p><p>Figura 31 – Consolidação dos vidros danificados .....................................................73</p><p>Figura 32 – Retirada do caixilho removendo o betume que o segura .......................74</p><p>Figura 33 – Desmontagem do vitral ..........................................................................74</p><p>Figura 34 – Detectar o local exato de cada peça – sobre prancha de vidro incolor ..75</p><p>Figura 35 – Montagem dos fragmentos de vidro da figura ........................................75</p><p>Figura 36 – Fixação dos pedaços de vidro sobre a prancha transparente................76</p><p>Figura 37 – Pintura das peças contra a luz. ..............................................................76</p><p>Figura 38 – Pintura com grisalha castanha e posterior colocação em forno 600º C .77</p><p>Figura 39 – Situação após ser retirada do forno .......................................................77</p><p>Figura 40 – Restituição da peça ao seu lugar correspondente no vitral....................78</p><p>Figura 41 – Painel montado com calhas de chumbo e pronto para sua colocação...78</p><p>Figura 42 – Fixação do arame de suporte aos reforços do painel.............................79</p><p>Figura 43 – Fixação das varetas de reforço .............................................................79</p><p>Figura 44 – Vitral a ser restaurado ............................................................................80</p><p>Figura 45 – Extração do betume que segura o vitral.................................................80</p><p>Figura 46 – Desmontagem do vitral e montagem do mesmo sobre o decalque........81</p><p>Figura 47 – Situação após desmontagem das calhas de chumbo ...........................81</p><p>Figura 48 – Montagem com calha de chumbo ..........................................................82</p><p>Figura 49 – Colocação dos reforços..........................................................................82</p><p>Figura 50 – Colocação do vitral no caixilho com a ajuda de cunhas de madeira ......83</p><p>Figura 51 – Aplicação de cordão de betume no perímetro do vitral ..........................83</p><p>Figura</p><p>de sabão neutro e 18332 escovas</p><p>de cerdas de nylon.</p><p>Figura 16 – Situação do granito após a limpeza</p><p>VITRAIS</p><p>Os primeiros vitrais da Catedral começaram a ser colocados no início da década de</p><p>40, concebidos pelo artista José Wasth Rodrigues e executados pela tradicional</p><p>Casa Conrado, de São Paulo. Nos anos 50, já no término das obras, com um novo</p><p>53</p><p>plano geral de decoração do templo, outros vitrais foram encomendados da Itália,</p><p>reunindo trabalhos de vários artistas, tendo uma linguagem e qualidade diferenciada</p><p>daquelas utilizadas pela nacional Casa Conrado.</p><p>Os vitrais europeus trazem a história contada quadro a quadro. Cada um de seus</p><p>pintores manteve a tradição de estilo gótico, onde o importante não é a rápida</p><p>compreensão da imagem e sim o efeito luminoso que ela representa. Nos nacionais,</p><p>a linguagem proposta é mais moderna e clara, com um desenho central detalhado e</p><p>moldura de figuras geométricas que se repetem objetivando a total compreensão da</p><p>mensagem do vitral. Os vidros utilizados possuem qualidade inferior em relação aos</p><p>italianos, motivada provavelmente pela dificuldade de importação do material</p><p>existente na época.</p><p>Com seu plano original ainda incompleto – 21 vitrais da fachada da Praça João</p><p>Mendes e 8 das torres frontais não foram realizados – a Catedral apresenta</p><p>atualmente 54 conjuntos, sendo 13 envolvendo o altar-mor (realizados pela Casa</p><p>Conrado), 16 no pavimento térreo (12 são importados) e 20 no nível do coro, todos</p><p>importados. Dois outros vitrais também realizados na Itália ocupam os portais da</p><p>frente e dos fundos da construção, além da grande rosácea da fachada, com oito</p><p>metros de diâmetro, realizada pela Casa Conrado. Mais simples em sua concepção,</p><p>dois conjuntos localizam-se ao redor da grande cúpula e no seu lanternim, a 65</p><p>metros de altura. Na primeira fase das obras de recuperação, foram restaurados 51</p><p>conjuntos, correspondendo a uma área de 750m².</p><p>54</p><p>No início dos trabalhos de restauro ficou constatado que as peças apresentavam</p><p>maior grau de degradação, principalmente pela ausência de um processo contínuo</p><p>de preservação especializada. No minucioso mapeamento realizado em cada um</p><p>dos vitrais foram identificados vidros quebrados ou trincados com o impacto de</p><p>pombos e vandalismo pela ausência de vidros de proteção, peças faltantes, enxertos</p><p>com adesivo a base epóxi, pinturas deterioradas pela poluição ambiental e pela</p><p>ausência de procedimentos técnicos adequados em sua fabricação original, além da</p><p>desestabilização das estruturas de sustentação.</p><p>A primeira fase de recuperação compreendeu a remoção das fixações em chumbo e</p><p>retirada de todos os vitrais da área de exposição para embalagem em caixas</p><p>especiais e transporte para o Ateliê Artístico Sarasá, responsável pelos serviços de</p><p>restauro. Sem os vitrais, nos caixilhos de fixação removeu-se a corrosão com a</p><p>aplicação de produto antiferruginoso e posterior pintura de proteção, sendo a</p><p>vedação provisória dos vãos realizada com vidro comuns.</p><p>Figura 17 – Remoção do vitral</p><p>55</p><p>No Ateliê, as peças foram desmontadas, limpas com uso de solventes e executadas</p><p>novas “baguetes” de chumbo. Em alguns casos, conforme a qualidade do vitral,</p><p>ocorreram retoques de pintura, pois com a ação dos raios solares, a tinta original</p><p>havia se desintegrado.</p><p>Figura 18 – Restauração do vitral</p><p>Quando constatadas quebras muito significativas ou perda das partes em cada um</p><p>dos vitrais, os restauradores executaram novas peças mantendo, a partir das</p><p>referências encontradas, a linguagem do original. Na ausência de referências,</p><p>montou-se uma nova peça com apenas um jogo de cores seguindo o mesmo padrão</p><p>do resto do vitral ou desenvolveu-se um novo projeto de imagem. Essa decisão</p><p>coube ao arquiteto responsável pela restauração, ficando marcante a intervenção</p><p>realizada. Em quebras de menor intensidade, utilizou-se de cola especial no mesmo</p><p>índice de refração do vidro, visando à preservação da originalidade do vitral.</p><p>56</p><p>Após essa fase, todas as peças retornaram as suas diagramações originais, sendo</p><p>unidas com a soldagem das novas “baguetes” de chumbo, amaciadas com</p><p>cimentação para consolidação da estrutura física do vitral e realizada uma nova</p><p>limpeza para a transferência definitiva para a Catedral. Em seus locais de origem, os</p><p>diversos conjuntos foram recolocados em seus caixilhos e fixados com massa de</p><p>vidro, agora preservados com a instalação de vidros de proteção e telas de arame.</p><p>Figura 19 – Vitral após restauração</p><p>Vale a pena lembrar que, além dos apresentados na referência bibliográfica, outros</p><p>diversos serviços foram executados nessa obra, entre eles:</p><p>• Revisão e adequação às normas da instalação elétrica e hidráulica;</p><p>• Serviços de pintura;</p><p>57</p><p>• Readequação do sistema de iluminação com a execução de novo projeto</p><p>luminotécnico;</p><p>• Readequação do som ambiente;</p><p>• Implantação de novo sistema de prevenção e combate a incêndio;</p><p>• Reforma e modernização do elevador existente facilitando o acesso de</p><p>deficientes;</p><p>• Instalação de novo elevador hidráulico que servirá para atendimento à área</p><p>destinada ao museu;</p><p>• Limpeza e recuperação da cobertura de cobre;</p><p>• Instalação de rede de lógica e telefonia em uma sala que futuramente</p><p>abrigará um museu com exposição permanente de materiais religiosos</p><p>recolhidos ou gerados durante a restauração;</p><p>• Execução de 14 torres completando assim o projeto original;</p><p>• Remoção de sujidades das áreas revestidas em mármore;</p><p>• Limpeza dos elementos em bronze;</p><p>• Restauração do mobiliário em jacarandá-da-Bahia;</p><p>• Descupinização e restauração de todos elementos em madeira;</p><p>• Restauração dos elementos metálicos</p><p>• Restauração dos ornamentos dourados;</p><p>• Restauração dos elementos escultóricos.</p><p>58</p><p>6.2 Caso 2 – Grupo Escolar Rodrigues Alves</p><p>Esse estudo de caso visa apresentar uma situação real que retrate o que foi</p><p>discutido na referência bibliográfica sobre restauro de argamassa, serviço esse que</p><p>não consta da obra apresentada no Caso 1.</p><p>6.2.1 Histórico do Grupo Escolar Rodrigues Alves</p><p>O edifício em questão, localizado na Av. Paulista, 227 – Capital – São Paulo, é de</p><p>função escolar em dois pavimentos, executado como parte do programa de</p><p>construções escolares do Estado nos primeiros decênios do século XX, visando à</p><p>disseminação da instrução primária . É um dos exemplares desta fase da nossa</p><p>história.</p><p>Figura 20 – Foto antiga do grupo escolar Rodrigues Alves</p><p>59</p><p>O projeto do Arquiteto Carlos J. Rosencrantz, datado de 1911 com inspiração</p><p>neoclássica, foi tombado em 11-04-1985 pelo CONDEPHAAT, processo de</p><p>tombamento nº 22106 e pelo CONPRESP, através da resolução de nº</p><p>19/CONPRESP/92 .</p><p>Os documentos remanescentes dos arquivos do antigo D.O.P. (Departamento de</p><p>Obras Públicas) apresentam uma “Lista de Documentos” onde consta um projeto do</p><p>arquiteto para o local com 14 classes e 3 andares que, entretanto, não corresponde</p><p>ao que foi efetivamente construído. Consta também uma peça gráfica que</p><p>compreende plantas dos andares, fachada principal, cortes, plantas dos passadiços</p><p>e do galpão e a planta de situação com referências ao Escritório Técnico Ramos de</p><p>Azevedo, sem especificar se trata-se da autoria do projeto ou da construção do</p><p>edifício, concluída em 1919, ou de ambos.</p><p>O desenvolvimento da política educacional utilizava-se de “projetos tipos” e as</p><p>escolas de Vila Mariana, Bom Retiro e Perdizes possuem plantas e fachadas</p><p>idênticas, porém o exemplar da Av. Paulista recebe um tratamento mais elaborado</p><p>devido a sua localização na importante avenida.</p><p>Em 1982 o CONDEPHAAT abre o processo de estudo de tombamento nº 22.106/82</p><p>do edifício e em 1983 são executadas as obras de reforma e restauração sob</p><p>orientação desse órgão. As características arquitetônicas originais foram quase</p><p>que</p><p>integralmente preservadas.</p><p>60</p><p>No final da década de 70 foi construído um prédio anexo na parte posterior do</p><p>edifício devido a necessidade de ampliação da escola. A intervenção evidencia,</p><p>hoje, a necessidade de se procurar soluções mais criteriosas, e em especial, atender</p><p>as diretrizes fundamentais de preservação.</p><p>O processo de tombamento é aprovado pelo CONDEPHAAT sob a Resolução nº</p><p>021 de 10 de abril de 1985 da Secretaria de Estado da Cultura, inscrita no Livro de</p><p>Tombo nº 236.</p><p>Da mesma forma o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico,</p><p>Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – CONPRESP, considera o bem</p><p>tombado “ex-officio” pela Resolução nº 05/91 e, posteriormente, sob a Resolução nº</p><p>019/92 ficam submetidas a aprovação desse órgão qualquer intervenção em áreas</p><p>envoltórias ao EEPG Rodrigues Alves.</p><p>6.2.2 Restauração do Grupo Escolar Rodrigues Alves</p><p>Hoje, o Grupo Escolar Rodrigues Alves é chamado de “Escola Estadual de Primeiro</p><p>Grau Rodrigues Alves”, sendo a única instituição de ensino público que permanece</p><p>na Avenida Paulista, eleita pela população “Símbolo da Cidade” em 1990 e por onde</p><p>circulam mais de um milhão de pessoas e mais de cem mil veículos todos os dias.</p><p>No meio de tanta tecnologia, edifícios inteligentes e sofisticadas estações de metrô,</p><p>o edifício do início do século passado e seu anexo atende a uma média de 2.500</p><p>alunos por ano indo desde o ensino fundamental até o supletivo, reforçando assim</p><p>sua grande importância no dia-a-dia da cidade de São Paulo.</p><p>61</p><p>O projeto de Restauração do Grupo Escolar Rodrigues Alves, elaborado pela</p><p>FORMARTE, em parceria com a CONCREJATO, foi escolhido pelo ABNAMRO Bank</p><p>/ Banco REAL como um de seus investimentos culturais, e recebeu da Prefeitura a</p><p>chancela das comemorações dos 450 anos da Cidade de São Paulo.</p><p>Sob orientação da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) e do</p><p>CONDEPHAAT, a Restauração tem o apoio da Lei Mendonça (Lei de incentivo do</p><p>Município de São Paulo – 10.923/90).</p><p>Restaurar não apenas o Edifício, mas também desenvolver a cidadania de seus</p><p>usuários. Professores, alunos e comunidade estiverem envolvidos desde o início,</p><p>através de pesquisas que deixaram claras suas necessidades, e de ações sócio-</p><p>culturais para que entendam a importância do projeto, por meio do conhecimento e</p><p>valorização de sua história, objetivando a preservação do patrimônio.</p><p>O envolvimento da comunidade desenvolveu diferentes modos de apropriação da</p><p>experiência cultural e, trouxe à tona a identidade do espaço físico, permitindo o</p><p>exercício da cidadania, através da utilização consciente do bem cultural.</p><p>Os funcionários da obra e toda comunidade envolvida participaram de palestras,</p><p>aulas de história, cursos de formação profissional, noções de cidadania e educação.</p><p>O projeto de restauração desse edifício foi dividido em 2 fases, sendo que a 1ª fase,</p><p>nesse momento, já está concluída, e a 2ª fase ainda aguarda arrecadação suficiente</p><p>que libere o seu início.</p><p>62</p><p>Serviços executados na 1ª FASE:</p><p>• Restauração dos revestimentos e ornamentos das fachadas;</p><p>• Impermeabilização do embasamento e recuperação das ventilações do porão;</p><p>• Recuperação dos gradis;</p><p>• Projetos executivos de restauro, instalações prediais, informática, segurança,</p><p>luminotecnia e comunicação visual;</p><p>• Pesquisas junto aos usuários para caracterização do uso e sugestões de</p><p>alterações;</p><p>• Aulas de História e Segurança no Trabalho para os operários da obra,</p><p>professores, pais e alunos;</p><p>• Palestras e atividades sócio-culturais visando a compreensão da importância</p><p>do projeto;</p><p>• Formação de interlocutores na divulgação do projeto e seus resultados;</p><p>• Restauração das esquadrias externas;</p><p>• Descupinização e imunização contra insetos xilófagos;</p><p>• Restauro da Cobertura;</p><p>• Iluminação Monumental da fachada;</p><p>• Paisagismo e adequações externas.</p><p>Serviços previstos para a 2ª FASE:</p><p>• Reforma das instalações elétricas, hidráulicas, telefonia, informática,</p><p>iluminação e segurança;</p><p>63</p><p>• Cursos de formação de adolescentes aprendizes em restauração e</p><p>conservação de objetos de madeira incluindo noções básicas de carpintaria;</p><p>• Restauração dos revestimentos internos;</p><p>• Restauração dos pisos e escadas de madeira e ladrilhos de cerâmica;</p><p>• Restauração das pinturas – externas e internas;</p><p>• Luminotecnia – interna e externa;</p><p>• Remodelação das estruturas de acesso ao edifício;</p><p>• Cursos de formação de aprendizes em restauração e conservação de</p><p>revestimentos históricos com ênfase na utilização de argamassas e tintas de</p><p>base mineral, inclusive noções gerais de pintura;</p><p>• Implantação dos dados levantados nas pesquisas da 1ª fase.</p><p>Restauração da Fachada.</p><p>Toda vez que pretende-se executar um serviço de restauração é preciso fazer</p><p>previamente um mapeamento e cadastramento dos danos. Devido ao grau de</p><p>deterioração em que se encontrava a argamassa desse prédio, conforme mostra</p><p>Figura 21, após o mapeamento, toda a argamassa até a camada de alvenaria foi</p><p>removida como ilustrada a Figura 22. Em seguida, procedeu-se a escarificação</p><p>superficial das juntas dos tijolos, a limpeza da superfície através de hidrojateamento,</p><p>execução de novo chapisco aditivado no traço 1:3 e aplicação de emboço em massa</p><p>única com a reprodução de frisos e molduras. O traço da massa única - 1:2:7</p><p>(cimento:cal:areia) – foi definido através de testes laboratoriais.</p><p>64</p><p>Figura 21 – Situação antes do início das obras de restauração</p><p>Figura 22 – Remoção da argamassa deteriorada</p><p>65</p><p>Figura 23 – Situação da argamassa</p><p>Figura 24 – Execução de requadros das esquadrias</p><p>No caso dos ornatos, executou-se inicialmente a limpeza superficial das peças para</p><p>remoção da tinta e massa acrílica e em seguida procedeu-se a reintegração das</p><p>partes das peças para possibilitar a fabricação de moldes. Os moldes foram</p><p>executados com forma de silicone com contracapa em fibra de vidro. A partir dessas</p><p>66</p><p>formas foram confeccionados os ornatos que posteriormente foram fixados na</p><p>fachada com pinos de aço e resina. Após a fixação foi executado um estucamento a</p><p>fim de equalizar a superfície.</p><p>Para frisos, molduras e cimalhas, os moldes foram confeccionados em madeira com</p><p>posterior aplicação de chapa de aço galvanizado (0,5mm). A execução dos novos</p><p>elementos foi realizada com enchimento em argamassa e posterior remoção do</p><p>excesso com a utilização de formas. Essas formas são chamadas de carrinhos,</p><p>devido sua aparência, conforme aparece na Figura 25, e por deslizarem pela</p><p>fachada.</p><p>As anomalias encontradas na fachada de um modo geral e os seus respectivos</p><p>procedimentos de restauro encontram-se ilustradas através de algumas plantas no</p><p>apêndice.</p><p>Figura 25 – Execução de frisos da fachada</p><p>67</p><p>Figura 26 – Vista geral da obra</p><p>Figura 27 – Restauro da argamassa concluído</p><p>68</p><p>7 ANÁLISE CRÍTICA</p><p>A preservação do patrimônio histórico é muito importante para a história do local</p><p>onde o mesmo está inserido. Os dois estudos de caso apresentados tratam de obras</p><p>de restauração de edificações históricas que só foram possíveis mediante a atuação</p><p>das leis de incentivo à cultura. Os responsáveis por essas edificações não possuíam</p><p>dinheiro suficiente para pagar as obras e, através de uma empresa de captação de</p><p>recursos, executaram um projeto argumentando a importância das obras de</p><p>restauração, e o aprovaram junto ao Ministério da Cultura e a partir daí foram captar</p><p>recursos na iniciativa privada. As empresas que patrocinam esse tipo de obra têm</p><p>além de incentivos fiscais, sua logomarca associada a uma ação social e/ou cultural,</p><p>o que valoriza a empresa, bem como seus produtos.</p><p>No Brasil, essa preferência do consumidor por empresas preocupadas em</p><p>questões</p><p>sociais ainda está começando, porém, percebe-se que nos últimos anos essa</p><p>preocupação vem aumentando.</p><p>Por se tratar de edificações bastante antigas, quase não se tem arquivos de projetos</p><p>ou outros documentos. Sendo assim, esse tipo de obra requer muito estudo por</p><p>parte da equipe da obra para resgatar qualquer tipo de informação que seja útil para</p><p>definições, como por exemplo, de técnicas a serem utilizadas. No caso da Catedral</p><p>da Sé, já durante as obras, foram encontrados, no meio de papéis que seriam</p><p>destruídos, os projetos originais da construção, o que pode ser considerado hoje</p><p>uma relíquia.</p><p>69</p><p>8 CONCLUSÕES</p><p>A falta de manutenção é, sem dúvida, o maior problema dos edifícios históricos do</p><p>Brasil. Por questões sociais ou culturais, a intervenção só é feita quando o processo</p><p>de deterioração já está muito avançado, inclusive oferecendo riscos aos usuários. Ao</p><p>atingir determinado estágio de deterioração, há que se investir consideráveis somas</p><p>de dinheiro para recompor as condições originais das edificações.</p><p>Após análise dos estudos de caso, é possível perceber que, embora a pequenos</p><p>passos, começa a existir no Brasil a preocupação com a restauração do patrimônio</p><p>histórico tanto das empresas que estão investindo nesse setor quanto do governo</p><p>através das leis de incentivo.</p><p>Com as leis de incentivo à cultura abriu-se a possibilidade de restaurar alguns</p><p>prédios com a ajuda de empresas. Porém, é necessário que exista uma</p><p>conscientização, tanto da população quanto dos órgãos responsáveis pelo bem,</p><p>para que inicie-se uma manutenção permanente a fim de preservar as edificações.</p><p>Essa preservação fará com que a história ainda seja possível de ser contada daqui</p><p>alguns anos.</p><p>É importante ressaltar que um dos fatores fundamentais para a qualidade da</p><p>restauração é a procedência dos materiais e sua permanência ao longo da obra, ou</p><p>seja, a partir da escolha de um determinado fornecedor, por exemplo de areia, deve</p><p>seguir com o mesmo de modo a evitar diferenças de características.</p><p>70</p><p>Ao se deparar com o desafio de uma obra de restauração, os profissionais</p><p>envolvidos devem ter em mente a importância dos estudos referentes ao momento</p><p>histórico em que aquela edificação foi construída, bem como as técnicas utilizadas</p><p>nessa determinada época. Esse estudo nem sempre é fácil devido à falta de</p><p>arquivos e/ou elementos gráficos, porém deve-se insistir na pesquisa bibliográfica</p><p>além de levantamento de informações junto aos órgãos de apoio, tais como IPHAN,</p><p>DPH, CONPRESP, entre outros.</p><p>As prospecções também auxiliam nessa etapa, paralela a mão-de-obra</p><p>especializada que inicialmente advinha de profissionais estrangeiros, principalmente</p><p>da Europa, e que hoje, devido aos treinamentos, embora em pequena escala, já é</p><p>encontrada aqui.</p><p>Vale ressaltar que quando da execução de uma restauração será de grande valor</p><p>para as próximas gerações a complementação do histórico da edificação, através de</p><p>registros do mapeamento das intervenções e as respectivas técnicas que ali foram</p><p>utilizadas, além dos procedimentos de conservação necessários a manutenção do</p><p>bem.</p><p>71</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>DELELLIS, R. Catedral da Sé – Arte e Engenharia. São Paulo: Editora Formarte,</p><p>2002. 155p.</p><p>FILHO, R.M. São Paulo de Piratininga – de pouso de tropas a metrópole. São</p><p>Paulo: Editora Terceiro Nome, 2002. 256 p. Disponível em:</p><p><www.estadao.com.br/piratininga>, acesso em: 20/09/04</p><p>OLIVEIRA, T.C.M. ”Argamassas Bastardas” e suas características físicas,</p><p>químicas e tecnológicas. 1995, 130f. Dissertação de Mestrado – Faculdade de</p><p>Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador.</p><p>PIMENTA, S. Um estudo sobre a constituição de antigas argamassas de cal.</p><p>1992, 226f. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Arquitetura, Universidade</p><p>Federal da Bahia, Salvador.</p><p>VALLDEPÉREZ, P. O vitral. Lisboa: Editora Estampa, 2001. 160 p.</p><p>São Paulo (Estado). Decreto Lei nº 10923, 30 de dezembro de 1990. Lex: Lei</p><p>Mendonça – lei estadual de incentivo à cultura</p><p>Brasil. Decreto Lei nº 8313, 23 de dezembro de 1991. Lex: Lei Rouanet – lei federal</p><p>de incentivo à cultura</p><p>São Paulo (Estado). Decreto Lei 10.032, 27 de dezembro de 1985. Lex: Lei que cria</p><p>o CONPRESP</p><p>FOSROC – Guia de Produtos, 1999. 105 p.</p><p>MBT Brasil – Manual Técnico, 2001. 108 p.</p><p>72</p><p>APÊNDICE</p><p>1. Ilustrações do livro “O Vitral”</p><p>a) Ferramentas</p><p>Figura 28 – Instrumentos</p><p>Lupa vulgar (A), lápis elétrico para marcar vidro (B) e lupa 300% de aumento (C)</p><p>Figura 29 – Diversos tipos de pincéis e escovas utilizadas na limpeza do vitral</p><p>73</p><p>Figura 30 – Ferramentas para limpar o vidro e chegar ao cantos mais difíceis</p><p>b) Seqüência para reposição de vidros desaparecidos</p><p>Figura 31 – Consolidação dos vidros danificados</p><p>A fita serve para proteger durante o transporte</p><p>74</p><p>Figura 32 – Retirada do caixilho removendo o betume que o segura</p><p>Figura 33 – Desmontagem do vitral</p><p>O vitral é desmontado e colocado sobre decalque previamente desenhado</p><p>75</p><p>Figura 34 – Detectar o local exato de cada peça – sobre prancha de vidro incolor</p><p>Figura 35 – Montagem dos fragmentos de vidro da figura</p><p>Com essa montagem, executa-se o desenho da parte faltante da peça. Esse procedimento</p><p>deve ser repetido para todas as partes danificadas</p><p>76</p><p>Figura 366 – Fixação dos pedaços de vidro sobre a prancha transparente</p><p>Essa fixação é feita aplicando uma mistura, pré-aquecida, líquida, de cera virgem com</p><p>colofónia, utilizando um pouco de chumbo como cânula</p><p>Figura 37 – Pintura das peças contra a luz.</p><p>A fixação dos vidros permitem que a prancha seja colocada na vertical</p><p>77</p><p>Figura 388 – Pintura com grisalha castanha e posterior colocação em forno 600º C</p><p>Figura 399 – Situação após ser retirada do forno</p><p>Em seguida cataloga-se a peça, marcando a data de realização e o nome da pessoa que</p><p>executou o trabalho</p><p>78</p><p>Figura 40 – Restituição da peça ao seu lugar correspondente no vitral</p><p>Montagem com a utilização de calhas de chumbo</p><p>Figura 41 – Painel montado com calhas de chumbo e pronto para sua colocação</p><p>79</p><p>Figura 42 – Fixação do arame de suporte aos reforços do painel</p><p>O arame deve ser soldado com estanho.</p><p>Figura 43 – Fixação das varetas de reforço</p><p>Após a limpeza das soldaduras, com um alicate, enrola-se o arame até prender a vareta de</p><p>reforço</p><p>80</p><p>c) Seqüência do restauro de um vitral montado com calhas de chumbo</p><p>Figura 44 – Vitral a ser restaurado</p><p>Diversas rupturas e vidros substituídos não foram pintados</p><p>Figura 45 – Extração do betume que segura o vitral</p><p>Os arames de cobre que prendem o vitral a estrutura devem ser cortados</p><p>81</p><p>Figura 46 – Desmontagem do vitral e montagem do mesmo sobre o decalque</p><p>O decalque do vitral é feito previamente colocando-se o vitral sob um papel e friccionando um</p><p>lápis para registrar o desenho</p><p>Figura 47 – Situação após desmontagem das calhas de chumbo</p><p>82</p><p>Figura 48 – Montagem com calha de chumbo</p><p>Após a modelação, os vidros são colocados são levados ao forno de 600º C</p><p>Figura 49 – Colocação dos reforços</p><p>83</p><p>Figura 50 – Colocação do vitral no caixilho com a ajuda de cunhas de madeira</p><p>Figura 51 – Aplicação de cordão de betume no perímetro do vitral</p><p>84</p><p>Figura 52 – Restauração do vitral concluída</p><p>52 – Restauração do vitral concluída .............................................................84</p><p>vii</p><p>LISTA DE TABELAS</p><p>Tabela 5.1: Dedução de Imposto de Renda – Doador ou Patrocinador ....................12</p><p>Tabela 5.2: Exemplo de Aplicação da Lei Rouanet...................................................12</p><p>viii</p><p>LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS</p><p>IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional</p><p>DPH Departamento do Patrimônio Histórico</p><p>MinC Ministério da Cultura</p><p>CONPRESP</p><p>Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico,</p><p>Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo</p><p>CONDEPHAAT</p><p>Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico,</p><p>Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo</p><p>PRONAC Programa Nacional de Apoio à Cultura</p><p>FNC Fundo Nacional da Cultura</p><p>ix</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1</p><p>2 OBJETIVOS.........................................................................................................3</p><p>2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................3</p><p>2.2 Objetivo Específico ...................................................................................................3</p><p>3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................4</p><p>4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................5</p><p>5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................6</p><p>5.1 Tombamento e Leis de Incentivo a Cultura........................................................6</p><p>5.1.1 Histórico.................................................................................................6</p><p>5.1.2 Processo de Tombamento.....................................................................7</p><p>5.1.3 Restauração.........................................................................................10</p><p>5.1.4 Lei Rouanet .........................................................................................10</p><p>5.1.5 Lei Mendonça ......................................................................................14</p><p>5.2 Técnicas de Restauração ......................................................................................17</p><p>5.2.1 Argamassa...........................................................................................17</p><p>5.2.2 Vitral.....................................................................................................21</p><p>5.2.3 Limpeza de Sujidades do Granito ........................................................31</p><p>5.2.4 Remoção de Eflorescências ................................................................32</p><p>5.2.5 Tratamento de trincas em abóbadas – alvenaria .................................33</p><p>6 ESTUDO DE CASO...........................................................................................37</p><p>6.1 Caso 1 – Catedral da Sé.........................................................................................37</p><p>6.1.1 Um pouco de história ...........................................................................37</p><p>6.1.2 Uma Nova Sé.......................................................................................45</p><p>x</p><p>6.2 Caso 2 – Grupo Escolar Rodrigues Alves ........................................................58</p><p>6.2.1 Histórico do Grupo Escolar Rodrigues Alves .......................................58</p><p>6.2.2 Restauração do Grupo Escolar Rodrigues Alves.................................60</p><p>7 ANÁLISE CRÍTICA............................................................................................68</p><p>8 CONCLUSÕES..................................................................................................69</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................71</p><p>APÊNDICE................................................................................................................72</p><p>1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Em alguns países, notadamente na Europa, a conservação do patrimônio histórico</p><p>faz parte do cotidiano das pessoas, tanto como usuários quanto como</p><p>representantes de iniciativa privada e governo.</p><p>No Brasil, esta prática está dando os seus primeiros passos, porém com chances e</p><p>incentivos de atingir patamares de destaque.</p><p>Sendo assim, restaurar e conservar o patrimônio torna-se uma atividade, do ponto</p><p>de vista operacional, de muita responsabilidade, pois trata-se da história de um</p><p>povo, de uma determinada época ou situação, o que não admite erros na sua</p><p>execução, ou seja, a qualidade dos serviços deve ser acompanhada com muito</p><p>critério.</p><p>Todo o processo está ligado a um estudo e investigação de como a edificação foi</p><p>construída, quais materiais foram utilizados e a partir dessa análise, traçar um</p><p>planejamento de como executar uma obra de restauração fazendo um paralelo com</p><p>as técnicas e materiais disponíveis atualmente no mercado.</p><p>Pensando nisso, esse trabalho apresenta as leis de incentivo que estão envolvidas</p><p>em tombamento, conservação e restauração do patrimônio, bem como algumas</p><p>técnicas de execução desse serviço. Os materiais de destaque escolhidos –</p><p>argamassa, granito e vitral – foram motivados pela sua presença em quase todas</p><p>obras que envolvem restauração.</p><p>2</p><p>A argamassa pode ser vista em grande parte das fachadas, o vitral e o granito</p><p>principalmente nas obras que envolvem monumentos religiosos.</p><p>Com esse trabalho, espera-se despertar o interesse de engenheiros para esse</p><p>assunto, tendo em vista que, é cada vez mais comum encontrar esse tipo de obra e</p><p>a literatura existente ainda é bastante escassa.</p><p>3</p><p>2 OBJETIVOS</p><p>2.1 Objetivo Geral</p><p>Há pouco tempo, no Brasil, iniciou-se uma movimentação a fim de preservar o</p><p>patrimônio histórico, como por exemplo, edificações que de algum modo contam</p><p>uma história e merecem serem preservadas para que gerações futuras tenham a</p><p>chance de conhecê-las, admirá-las e identificar qual sua parcela de contribuição</p><p>para os dias de hoje.</p><p>2.2 Objetivo Específico</p><p>O desenvolvimento do projeto de preservação do patrimônio histórico é realizado</p><p>normalmente por um arquiteto, porém a execução necessita de engenheiros</p><p>capacitados e especializados, pois, além de restauros artísticos existem serviços de</p><p>recuperação estrutural, ampliações, “retrofit”, enfim um conjunto de serviços que</p><p>requer harmonia entre os profissionais envolvidos. Esse trabalho apresenta trâmites</p><p>gerais, tais como, locais onde pesquisar sobre patrimônio histórico, como funcionam</p><p>as leis de incentivo e as técnicas existentes para esse tipo de serviço.</p><p>4</p><p>3 METODOLOGIA DA PESQUISA</p><p>Para o desenvolvimento dessa pesquisa foram lidas as leis que regem o patrimônio</p><p>histórico tombado, bem como alguns livros técnicos que tratam de restauração de</p><p>edifícios. Essa literatura é bastante escassa, pois a prática de restauração no nosso</p><p>país ainda é muito recente.</p><p>Em conversa com especialistas foi possível detectar técnicas que estão sendo</p><p>utilizadas nas obras que envolvem restauração.</p><p>Para verificar e complementar os estudos descritos acima, foram realizados dois</p><p>estudos de caso, onde por um período pequeno, foi possível acompanhar o dia-a-dia</p><p>de uma obra onde essas técnicas estão sendo aplicadas e com essa experiência</p><p>estabelecer um paralelo entre a teoria e a prática.</p><p>É interessante dizer que as atividades descritas acima se complementam, sendo que</p><p>a ausência de algum deles poderia comprometer as conclusões aqui apresentadas.</p><p>5</p><p>4 JUSTIFICATIVA</p><p>A busca na preservação dos bens históricos é uma prática comum nos países</p><p>desenvolvidos. No Brasil, ainda está apenas começando,</p><p>porém o interesse está</p><p>cada vez mais intenso.</p><p>Considerando que qualidade, preço e prazo formam o tripé de sustentação de um</p><p>empreendimento de sucesso, o engenheiro responsável pelo mesmo deve saber</p><p>onde encontrar informações sobre processos de tombamento, bem como, as</p><p>técnicas utilizadas em obras de restauração e seus respectivos resultados.</p><p>Pensando nesses aspectos, esse trabalho tenta despertar o interesse dos</p><p>engenheiros falando um pouco sobre esse o assunto. O que está aqui descrito pode</p><p>ser considerado apenas o começo de muitos outros estudos que poderão surgir a</p><p>partir daqui, pois a diversidade do assunto faz com que o mesmo não seja esgotado</p><p>tão facilmente.</p><p>6</p><p>5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA</p><p>5.1 Tombamento e Leis de Incentivo a Cultura</p><p>Antes da abordagem das técnicas de restauração propriamente ditas, segue um</p><p>breve relato sobre o que significa um prédio tombado e as leis de incentivo a cultura</p><p>que prevêem em seus artigos os imóveis considerados patrimônios históricos</p><p>(imóveis tombados).</p><p>5.1.1 Histórico</p><p>Em 1936, Mário de Andrade elaborou um anteprojeto de Lei para proteger os bens</p><p>históricos a pedido de Gustavo Capanema, então Ministro da Educação e Saúde. E</p><p>Rodrigo Melo Franco de Andrade ficou com a responsabilidade de implantar o</p><p>Serviço do Patrimônio. Para isso redigiu, com a ajuda de ilustres da época, como</p><p>Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, uma legislação específica,</p><p>preparou técnicos e realizou tombamentos, garantindo assim a permanência da</p><p>maior parte do nosso acervo arquitetônico e urbanístico brasileiro.</p><p>Em 13 de janeiro de 1937, pela Lei nº 378, no governo de Getúlio Vargas, criou-se o</p><p>IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com a finalidade de</p><p>fiscalizar, proteger, identificar, restaurar e revitalizar sítios e bens móveis do país.</p><p>Atualmente, o IPHAN está vinculado ao Ministério da Cultura – MinC.</p><p>Em 30 de novembro de 1937, foi promulgado o Decreto-Lei nº 25, que passa a</p><p>organizar como deveria acontecer a proteção do nosso patrimônio histórico e</p><p>7</p><p>artístico, que diz “constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos</p><p>bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse</p><p>público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por</p><p>seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (art 1º)”.</p><p>Além da legislação nacional específica, a legislação ambiental, de arqueologia e de</p><p>turismo cultural também auxilia o trabalho do IPHAN. A preservação de bens</p><p>culturais também é orientada por Cartas, Declarações e Tratados Nacionais e</p><p>Internacionais.</p><p>5.1.2 Processo de Tombamento</p><p>O tombamento é um ato administrativo, realizado pelo Poder Público, a fim de</p><p>preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e afetivo</p><p>impedindo que sejam descaracterizados ou destruídos.</p><p>A legislação permite que o tombamento seja aplicado aos bens móveis e imóveis, de</p><p>interesse cultural ou ambiental. A responsabilidade dessa ação, pela União, é do</p><p>Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e pelo Governo Estadual, por</p><p>meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, no caso do Estado de</p><p>São Paulo, pelo CONDEPHAAT, ou pelas administrações municipais, utilizando leis</p><p>específicas ou a legislação federal, no caso da cidade de São Paulo, pelas Leis nº</p><p>10.032 de 27 de dezembro de 1985 e nº 10.326 de 16 de dezembro de 1986.</p><p>8</p><p>O primeiro passo é fazer um pedido de abertura de processo, por iniciativa de</p><p>qualquer cidadão ou instituição pública. Este processo, após avaliação técnica</p><p>preliminar, é submetido à deliberação dos órgãos responsáveis pela preservação.</p><p>Caso a intenção de proteger o bem em questão seja aprovada, faz-se uma</p><p>notificação ao proprietário. A partir desta notificação, o bem já se encontra protegido</p><p>legalmente, contra destruições ou descaracterizações, até que seja tomada a</p><p>decisão final. A última fase do processo acontece com a inscrição no Livro Tombo e</p><p>comunicação formal aos proprietários.</p><p>“O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do</p><p>Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei, sendo</p><p>que as obras do nosso estudo são registradas no Livro do Tombo Histórico, (coisas</p><p>de interesse histórico e as obras de arte histórica); categoria das artes aplicadas,</p><p>nacionais ou estrangeiras (Decreto Lei nº 25 - art 4º)”</p><p>Todas e quaisquer obras que sejam necessárias a partir de então deverão passar</p><p>primeiramente pela aprovação do órgão responsável pelo tombamento do mesmo.</p><p>“As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum, ser destruídas, demolidas ou</p><p>mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico</p><p>e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de</p><p>cinqüenta por cento do dano causado (Decreto Lei nº 25 art 17)”.</p><p>9</p><p>Essa aprovação depende do nível de preservação do bem e da necessidade de</p><p>serem mantidas as características que justificaram o tombamento.</p><p>Os órgãos de preservação costumam atender as pessoas que tenham dúvidas sobre</p><p>os trâmites legais de se executar obras de conservação ou restauração em bens</p><p>tombados. Além do IPHAN, já citado anteriormente, existem:</p><p>• CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico,</p><p>Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo – criado pela Constituição</p><p>do Estado em 1967, é o órgão estadual responsável pela identificação,</p><p>classificação, restauração e preservação dos bens móveis e imóveis</p><p>existentes no território do Estado, e que integram o patrimônio histórico,</p><p>arqueológico, artístico e turístico. Estes bens que compõem o patrimônio são</p><p>preservados através do instrumento jurídico tombamento.</p><p>• DPH - Departamento do Patrimônio Histórico – tem a atribuição de preservar</p><p>e divulgar os documentos relativos à memória da cidade de São Paulo,</p><p>formular e implementar políticas de preservação e valorização dos conjuntos</p><p>documentais, dos acervos tridimensionais e do patrimônio edificado e</p><p>ambiental de significado histórico e cultural.</p><p>• CONPRESP - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico,</p><p>Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo - é o órgão municipal</p><p>responsável pela preservação dos bens culturais paulistanos, está vinculado à</p><p>10</p><p>Secretaria Municipal de Cultura e tem como órgão técnico de apoio o DPH</p><p>(Departamento do Patrimônio Histórico).</p><p>5.1.3 Restauração</p><p>Executar obras em prédios de valor cultural, com a finalidade de conservar e revelar</p><p>seus valores estéticos ou históricos é chamado de restauração.</p><p>O ideal é que exista uma conservação constante para que a necessidade de</p><p>restauração ocorra excepcionalmente. O dinheiro gasto na conservação se justifica,</p><p>pois se o imóvel encontra-se muito deteriorado, por falta de manutenção, torna-se</p><p>necessário executar intervenções de maior porte, o que com certeza significarão</p><p>investimentos maiores. Quando o prédio contém materiais, elementos decorativos,</p><p>ou técnicas construtivas excepcionais, a mão-de-obra utilizada também deverá ser</p><p>especializada, elevando o custo dos serviços.</p><p>Além das obras relativas ao prédio em si, qualquer obra na vizinhança também</p><p>deverá ser aprovada previamente pelo IPHAN, pois a construção não pode impedir</p><p>ou reduzir a visibilidade do prédio tombado.</p><p>5.1.4 Lei Rouanet</p><p>A Lei nº 8313, 23 de dezembro de 1991 (Brasil, 1991), que restabelece os princípios</p><p>da Lei nº 7505 (“Lei Sarney”) de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de</p><p>Apoio à Cultura – PRONAC e dá outras providências.</p><p>Após a leitura da lei, destacam-se alguns pontos, relativos a patrimônio histórico,</p><p>que são relevantes para o entendimento da mesma:</p><p>11</p><p>• O PRONAC tem</p><p>a finalidade de “captar e canalizar recursos para o setor”,</p><p>entre eles, preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e</p><p>histórico brasileiro (art 1º).</p><p>• A lei estabelece diversos critérios para o incentivo da cultura nos mais</p><p>variados “campos” (cinema, televisão, exposições, cursos, festivais de arte, e</p><p>o aspecto do patrimônio cultural)</p><p>• No art 3º, aparece como um dos objetivos que deve ser atendido pelo projeto</p><p>cultural, a preservação e difusão do patrimônio artístico, cultural e histórico</p><p>mediante:</p><p>o Conservação e restauração de prédios, monumentos, logradouros,</p><p>sítios e demais espaços, inclusive naturais tombados pelo poder</p><p>público;</p><p>o Restauração de obras de arte e bens móveis e imóveis de reconhecido</p><p>valor cultural</p><p>• Fundo Nacional da Cultura (FNC) – capta e destina recursos para projetos</p><p>culturais compatíveis com as finalidades de o PRONAC dentre elas contribuir</p><p>para a preservação e proteção do patrimônio cultural e histórico brasileiro</p><p>• O FNC é administrado pelo Ministério da Cultura – MinC. Os recursos só</p><p>podem ser utilizados com o parecer de órgão técnico competente. O FNC</p><p>financia até 80% do valor do projeto (art 6º).</p><p>12</p><p>• Com o objetivo de incentivar as atividades culturais, os contribuintes poderão</p><p>deduzir do imposto de renda devido, as quantias efetivamente despendidas</p><p>nos projetos.</p><p>• O contribuinte, tanto pessoa física quanto jurídica, pode fazer uma doação ou</p><p>patrocinar uma obra de restauração (ver Tabela 5.1), sendo que a doação é</p><p>uma transferência. A diferença entre doação e patrocínio é que a doação é</p><p>uma transferência gratuita, caráter definitivo, vedado o uso de publicidade, já</p><p>o patrocínio tem finalidade promocional, ou seja, propaganda.</p><p>• Uma Medida Provisória - MP n° 1.589/97 - veio permitir o abatimento do valor</p><p>integral, até os tetos estabelecidos em relação ao imposto devido, para</p><p>projetos considerados “especiais”. (ver comparativo na Tabela 5.2)</p><p>Tabela 5.1: Dedução de Imposto de Renda – Doador ou Patrocinador</p><p>Tipo de Pessoa % de dedução de imposto de renda</p><p>Física 80% para doações e 60% para patrocínio</p><p>Jurídica 40% para doações e 30% para patrocínio</p><p>• As empresas poderão, ademais, incluir o valor total das doações e patrocínios</p><p>como despesa operacional, diminuindo, assim, o lucro real da empresa no</p><p>exercício, com conseqüências na redução do valor do imposto a ser pago.</p><p>13</p><p>Tabela 5.2: Exemplo de Aplicação da Lei Rouanet</p><p>LALUR Sem incentivo</p><p>cultural</p><p>Com incentivo Lei Rouanet</p><p>convencional: "30% de</p><p>dedução"</p><p>Com incentivo via MP</p><p>1.739/98: "Rouanet</p><p>100%"</p><p>Lucro antes do incentivo à</p><p>cultura</p><p>20.000.000,00 20.000.000,00 20.000.000,00</p><p>(-) Incentivo à Cultura - 120.000,00</p><p>4% do IRPJ</p><p>120.000,00</p><p>4% do IRPJ</p><p>=Lucro Antes do IR 20.000.000,00 19.880.000,00 19.880.000,00</p><p>(+) Adições - - 120.000,00</p><p>(-) Exclusões - - -</p><p>=LUCRO REAL 20.000.000,00 19.880.000,00 20.000.000,00</p><p>IRPJ (15% sobre o Lucro</p><p>Real)</p><p>3.000.000,00 2.982.000,00 3.000.000,00</p><p>(-) dedução do incentivo no</p><p>IR</p><p>- 36.000,00 120.000,00</p><p>(-) Adicional do IR (Lucro</p><p>Real - R$ 240,000 x 10%)</p><p>1.976.000,00 1.964.000,00 1.976.000,00</p><p>=LUCRO LÍQUIDO 15.024.000,00 14.970.000,00 15.144.000,00</p><p>SOMA DOS IMPOSTOS</p><p>(IR + AIR)</p><p>4.976.000,00 4.910.000,00 4.856.000,00</p><p>Economia nos impostos</p><p>promovido pelo incentivo à</p><p>cultura</p><p>- 66.000,00 120.000,00</p><p>Percentual de dedução</p><p>do incentivo no IRPJ</p><p>55,00% 100,00%</p><p>• Os projetos são apresentados no MinC, em formulário próprio, com uma</p><p>justificativa e com um demonstrativo de custos. Esse projeto será submetido à</p><p>análise de viabilidade e idoneidade do mesmo, bem como sua real</p><p>importância do ponto de vista cultural.</p><p>14</p><p>• O Ministério da Cultura promove a publicação dos projetos aprovados em</p><p>Portaria, determinando o montante e o prazo de captação previsto, que pode</p><p>ser prorrogável. Cada captação deverá ser informada ao Ministério da Cultura</p><p>no prazo de cinco dias úteis da data de sua efetivação e, encerrada a</p><p>captação, deverá ser encaminhada, no prazo de trinta dias, a prestação de</p><p>contas referente ao projeto. Existe uma conta específica para a</p><p>movimentação desse dinheiro e uma regra para prestação de contas com o</p><p>poder público.</p><p>• O valor total a ser abatido do imposto devido não pode ultrapassar a 4% do</p><p>valor total no caso das pessoas jurídicas, percentual que se eleva a 6% no</p><p>caso das pessoas físicas.</p><p>• Há um teto da renúncia fiscal, que é definido anualmente pelo Presidente da</p><p>República, sendo que os últimos valores foram:</p><p>o 2003 – 160 milhões</p><p>o 2004 – 320 milhões</p><p>5.1.5 Lei Mendonça</p><p>A Lei nº 10.923 de 30 de Dezembro de 1990 – lei municipal (São Paulo,1990)</p><p>Prevê a associação de recursos privados com os do Município de São Paulo, por</p><p>meio de incentivos fiscais, com a finalidade de patrocinar iniciativas culturais de</p><p>todos os gêneros.</p><p>15</p><p>Para se valer dos benefícios fiscais, os projetos devem ser encaminhados para</p><p>aprovação de uma comissão, formada por membros indicados pela Secretaria</p><p>Municipal da Cultura e por Entidades Culturais, a qual também será responsável</p><p>pelo acompanhamento do desenvolvimento desses projetos.</p><p>A Lei Mendonça (São Paulo, 1990) oferece como benefício fiscal à pessoa física ou</p><p>jurídica a dedução de 70% do valor investido no projeto, até o limite de 20% do total</p><p>devido de ISS (Imposto Sobre Serviço) e IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).</p><p>O contribuinte pode lançar a diferença entre o investimento e o desconto do imposto,</p><p>a seu favor, em outros pagamentos de impostos, num prazo de 24 meses, podendo</p><p>nesse período resgatar o total de descontos a quem tem direito.</p><p>O que diz a lei:</p><p>• Fica instituído, no âmbito do Município de São Paulo, incentivo fiscal para a</p><p>realização de projetos culturais, a ser concedida a pessoa física ou jurídica</p><p>domiciliada no Município. (art 1º)</p><p>• A Câmara Municipal de São Paulo fixará anualmente, o valor que deverá ser</p><p>usado como incentivo cultural, que não poderá ser inferior a 2% (dois por</p><p>cento) nem superior a 5% (cinco por cento) da receita proveniente do ISS e</p><p>do IPTU.</p><p>• Acervo e patrimônio histórico e cultural, museus e centros culturais são áreas</p><p>abrangidas por esta lei (art 2º).</p><p>16</p><p>• É criada uma Comissão, independente e autônoma, formada maioritariamente</p><p>por representantes do setor cultural a serem enumerados pelo Decreto</p><p>regulamentador da presente lei e por técnicos da administração municipal que</p><p>ficará incumbida da averiguação e da avaliação dos projetos culturais</p><p>apresentados, analisando principalmente os aspectos orçamentários do</p><p>projeto (art 3º).</p><p>• A Comissão receberá cópia do projeto cultural, com uma explicação dos</p><p>objetivos e recursos financeiros e humanos envolvidos, para fins de fixação</p><p>do valor do incentivo e fiscalização posterior.</p><p>• Aprovado o projeto o Executivo providenciará a emissão dos respectivos</p><p>certificados para a obtenção do incentivo fiscal. (art 5º)</p><p>• Os certificados terão prazo de validade para sua utilização, de 2 (dois) anos, a</p><p>contar de sua expedição, corrigidos mensalmente pelos mesmos índices</p><p>aplicáveis na correção do imposto.(art 6º)</p><p>• As obras resultantes dos projetos culturais beneficiados por esta lei, serão</p><p>apresentadas, prioritariamente, no âmbito territorial do Município, devendo</p><p>constar a divulgação do apoio institucional da Prefeitura do Município de São</p><p>Paulo. (art 9º)</p><p>Com esse breve relato sobre tombamento e leis de incentivo a cultura é possível</p><p>saber o que existe e onde procurar maiores informações sobre o assunto.</p><p>17</p><p>Agora, seguem alguns desafios encontrados em obras de restauração e respectivas</p><p>técnicas que vêem sendo utilizadas com sucesso.</p><p>5.2 Técnicas de Restauração</p><p>Esse trabalho tem o objetivo de abordar técnicas de restauração de alguns</p><p>elementos: argamassa,</p><p>vitral, granito, trincas em abóbodas de alvenaria.</p><p>Vale lembrar que esse assunto é muito diversificado, existindo, portanto inúmeros</p><p>outros elementos que possam necessitar de restauro. Só para citar alguns:</p><p>restauração de madeira, ferro, elementos escultóricos, mármore, móveis, pintura</p><p>artística, entablamentos em ouro, cobertura em telha francesa, elementos em cobre,</p><p>fachadas em pastilhas, entre outros.</p><p>5.2.1 Argamassa</p><p>5.2.1.1 Breve Histórico</p><p>Segundo os historiadores, os egípcios foram um dos primeiros povos a utilizarem um</p><p>elemento ligante, o gesso, nas suas argamassas.</p><p>A civilização grega não contribuiu significativamente para o desenvolvimento e à</p><p>aplicação das argamassas, pois em sua arquitetura o trabalho de aparelhamento da</p><p>pedra ficou tão bom que as alvenarias dispensavam o uso da camada regularizadora</p><p>de argamassa.</p><p>18</p><p>Já a civilização romana, criou novas técnicas de construção melhorando os</p><p>processos de fabricação da cal e de aplicação das argamassas.</p><p>Conforme Pimenta (1992, pág.21)</p><p>“Foram os romanos que descobriram as propriedades hidráulicas das argamassas,</p><p>quando adicionaram cinzas vulcânicas às cais, obtendo-se assim o que os romanos</p><p>chamavam de “concretum””.</p><p>A maioria das argamassas que constituem edifícios históricos é à base de cal. A cal</p><p>era obtida facilmente através da queima das rochas calcárias, de conchas marinhas,</p><p>cascas de ostras. Misturada com areia e água, formava uma argamassa, com a qual</p><p>se assentavam tijolos e pedras. O processo era bastante rudimentar: formavam-se</p><p>montes, cobertos de areia e palha, com as ostras extraídas do fundo do mar e</p><p>depois esses montes eram queimados durante dias até que o resultasse pó de cal.</p><p>Com a descoberta do cimento - no início do século XIX – a cal entra em desuso,</p><p>sendo substituída por ser esse novo material de maior trabalhabilidade, pega rápida</p><p>e grande resistência mecânica. A cura lenta destas argamassas deve ter colaborado</p><p>bastante para favorecer a substituição da mesma pelo cimento.</p><p>5.2.1.2 Restauro da argamassa</p><p>Ao se deparar com uma obra de restauro de argamassa é necessário primeiramente</p><p>que sejam executados testes na argamassa do imóvel em questão. Esses testes</p><p>19</p><p>servem para definir qual será o traço compatível que deverá ser desenvolvido para</p><p>que não ocorram problemas quando do contato entre a argamassa nova e a antiga.</p><p>As amostras das argamassas existentes são submetidas à caracterização química,</p><p>física, mineralógica e mecânica. Definir exatamente o traço original é bastante difícil,</p><p>pois as argamassas antigas eram misturadas manualmente o que as tornavam</p><p>heterogêneas, conforme Oliveira (1995).</p><p>Segundo Pimenta (1992), é necessário lembrar que nem sempre o material retirado</p><p>para análise é representativo de uma parede, devido aos problemas de</p><p>heterogeneidade da massa.</p><p>Para se rebocar ou assentar uma parede, eram necessárias várias preparações de</p><p>argamassa devido à grande quantidade de material exigida aumentando assim a</p><p>heterogeneidade da amostra. Dos estudos em documentos antigos pode-se</p><p>observar o uso freqüente do traço 1:3.</p><p>“A homogeneidade é praticamente impossível de se obter, principalmente no século</p><p>passado, quando as tecnologias construtivas eram rudimentares e a argamassa era</p><p>misturada à mão” (PIMENTA, 1992 pág.08).</p><p>Um dos problemas das argamassas de cal é a cura muito lenta e provavelmente</p><p>esse fator foi decisivo na hora da substituição pelo cimento.</p><p>Conhecer as composições e as proporções dos componentes das argamassas</p><p>tradicionais e tentar estabelecer uma cronologia da sua utilização é um recurso</p><p>20</p><p>indispensável a uma correta abordagem do processo de restauração, de leitura e</p><p>avaliação de um organismo arquitetônico.</p><p>O engenheiro deve ter ciência da existência desses aspectos. A definição do traço</p><p>da argamassa é um serviço especializado que, portanto será subcontratado para</p><p>uma empresa especializada no assunto. Cabe ao engenheiro fazer com que as</p><p>definições obtidas em laboratório sejam aplicadas na obra de forma correta</p><p>utilizando materiais de qualidade garantida e mão de obra qualificada.</p><p>Existem grupos de estudo desenvolvendo pesquisas, com objetivo de estabelecer</p><p>uma correlação entre as características que determinam a época do edifício, a idade</p><p>das argamassas nele utilizadas e suas características. A partir daí caracterizar a</p><p>argamassa a ser usada na restauração.</p><p>Para que uma obra de restauro tenha sucesso é necessário que exista uma</p><p>preocupação com o estudo de como proceder a interferência, o aproveitamento do</p><p>material, a busca de materiais compatíveis e o impacto dos materiais novos com os</p><p>antigos.</p><p>Segundo Pimenta (1992), com base nos resultados encontrados nas análises de</p><p>caracterização química, prepara-se em laboratório uma argamassa com</p><p>características químicas semelhantes a analisada, e depois molda-se corpos de</p><p>prova de acordo com as exigências das normas técnicas para então determinar suas</p><p>características mecânicas e físicas.</p><p>21</p><p>Na hora da execução da argamassa deve estar atento a areia a ser utilizada, pois</p><p>ela será a responsável pela coesão e resistência da argamassa diminuindo a</p><p>retração (areias silicosas são melhores, pois não absorvem água adicionada para a</p><p>mistura da argamassa) e a água que deve ser límpida e isenta de impurezas como</p><p>sais, ácidos ou gorduras.</p><p>A água atua na argamassa de duas formas: quimicamente, ao reagir com</p><p>aglomerante – para que este desencadeie o processo químico de pega que irá</p><p>aglutinar os componentes da argamassa – e fisicamente, causando tensões internas</p><p>que darão trabalhabilidade à massa no momento de sua aplicação.</p><p>5.2.2 Vitral</p><p>Toda a parte desse trabalho que trata de vitral foi baseada no livro “O Vitral”, de Pere</p><p>Valldepérez (2001).</p><p>5.2.2.1 Breve Histórico</p><p>Têm-se relatos do uso de vitral desde a Antiguidade, porém seu grande</p><p>desenvolvimento aconteceu com o Cristianismo. Nos séc XVII e XVII ocorreu um</p><p>período de decadência para os vitrais, voltando a ser utilizado nos séc XIX e XX,</p><p>voltando a ser considerada uma arte forte.</p><p>Existem vários tipos de vitrais estando bastante ligados com o momento da história</p><p>em que foram produzidos. Esse trabalho não tem a intenção de estudar a história da</p><p>22</p><p>arte, porém para fazer uma relação com o tempo, seguem como são conhecidos e</p><p>em que épocas aconteceram:</p><p>• Pré-românico – séc. IX, X, XI</p><p>• Românico – séculos XI, XII e XIII</p><p>• Gótico – séc. XIV</p><p>• Renascimento – séc XV e XVI</p><p>• Declínio – séc. XVII e XVIII – marcada pelos conflitos religiosos</p><p>• Romantismo – séc. XIX e XX – ocorreu uma revalorização do vitral</p><p>• Modernismo – séc XX – universalização do vitral</p><p>Os pioneiros na arte de vitral foram: França, Alemanha, Itália e Espanha. No séc.</p><p>XX, os profissionais da arte são requisitados por todo o mundo e seus trabalhos</p><p>passam a ser divulgado em revistas e livros técnicos. Além disso, surgiram novos</p><p>materiais e técnicas. Com isso, os vitrais passam a ser utilizado, além das igrejas,</p><p>em residências e edifícios civis.</p><p>Junto com a decadência manifestou-se também o desinteresse pelas peças já</p><p>existentes, ficando estas deterioradas.</p><p>Sobre como eram confeccionados os vitrais, Valldepérez (2001, pág.08) descreve:</p><p>“As limalhas de ferro e respectivo óxido eram aplicados sobre o vidro para criar</p><p>desenhos. Depois de seca a pasta, os vidros eram cobertos com cal e colocados</p><p>num forno de lenha, para ir ao forno a uma temperatura que não atingisse o ponto</p><p>de fusão. O betume, aplicado nas junturas entre o vidro e o chumbo para impedir a</p><p>23</p><p>penetração da água da chuva no interior, era elaborado com cinzas e óleo de</p><p>linhaça”.</p><p>5.2.2.2 Restauro</p><p>Quando um engenheiro se deparar com a necessidade de restaurar um vitral</p><p>precisará da ajuda de um vitralista. Na maioria das vezes</p><p>esse serviço também</p><p>acaba sendo subcontratado. Outra opção é contratar o restaurador e fornecer o</p><p>material para ele. Mesmo assim, é necessário conhecimento de como executar esse</p><p>serviço para que a fiscalização garanta que os resultados atendam as expectativas.</p><p>“Enfim, a actuação do restaurador deve ajustar-se à consolidação da parte</p><p>conservada e à restituição das zonas deterioradas, partindo da análise total da obra</p><p>numa perspectiva técnica, histórica e artística” (VALLDEPÉREZ, 2001 pág. 134)</p><p>Os três serviços mais freqüentes para a restauração de um vitral são:</p><p>a) Consolidação</p><p>• Consolidação da Estrutura</p><p>Fazer a verificação de como está o caixilho que sustenta o vitral. Caso esteja com</p><p>problema, o mesmo deverá ser corrigido ou até mesmo optar pela substituição do</p><p>caixilho. Para ajustar o vitral ao caixilho, é comum utilizar-se de cunhas (de madeira,</p><p>pedra ou metal). Outra verificação é saber se o vitral, devido agentes atmosféricos,</p><p>não está curvo.</p><p>24</p><p>• Consolidação do Chumbo</p><p>É importante descobrir de que época é o vitral. Isso poderá ser feito através da ajuda</p><p>de um especialista ou através de arquivos da edificação (data da obra, possíveis</p><p>restaurações que já podem ter ocorrido)</p><p>Deve-se executar o reforço das soldaduras e troca dos bocados de chumbo que</p><p>estejam muito deteriorados. Caso o chumbo apresente rupturas transversais à calha</p><p>do chumbo isso poderá ser resolvido utilizando uma gota de estanho para reforçar a</p><p>rede de chumbos.</p><p>Levantam-se as abas de chumbo com muito cuidado, e incorporam-se pequenos</p><p>bocados de abas de chumbo novo entre o chumbo antigo e o velho. Fazer o mesmo</p><p>na outra face do vitral. Depois se nivela o chumbo com a intenção de ficar um corpo</p><p>só.</p><p>Raspar a superfície do chumbo velho, soldar o chumbo com estanho e aplicar</p><p>estearina na união. A união da ruptura é efetuada com o ferro de soldas e uma barra</p><p>de estanho.</p><p>A estearina é uma pasta que contém ácidos inorgânicos, como ácido nítrico,</p><p>sulfúrico e fosfórico. Esses ácidos fazem com que a estearina seja uma boa</p><p>condutora do estanho nas soldaduras.</p><p>25</p><p>O estanho é um metal branco e brilhante, ductil e maleável. Quando fundido</p><p>transforma-se em óxido estanhoso e depois, estânico. Quando misturado com</p><p>chumbo, serve para soldar metais.</p><p>• Consolidação dos Vidros</p><p>Retirar os chumbos que sustentam os vidros partidos. Aderir a testa com resina ou</p><p>cola, os fragmentos de vidro. Fazer previamente um teste para a escolha da melhor</p><p>cola ou resina para cada caso. Reforçar utilizando um vidro incolor. A fita adesiva</p><p>auxiliará segurando as peças até a perfeita consolidação.</p><p>Figura 1 - Consolidação dos vidros danificados</p><p>A fita serve para proteger durante o transporte</p><p>É preciso tomar cuidado para que na hora da remoção do vitral e o seu transporte</p><p>até a oficina não ocorra a desmontagem dos vidros, utilizando para isso fita adesiva.</p><p>26</p><p>• Consolidação da Grisalha</p><p>“A grisalha consiste numa pintura vitrificável que, de um modo geral se apresenta de</p><p>cor negra ou castanha. É composta de óxido de ferro ou cobre e de um fundente, o</p><p>boráz. Após um processo de cozedura a aproximadamente 610º C, adere à</p><p>superfície do vidro”. (VALLDEPÉREZ, 2001, pág.29)</p><p>A consolidação da grisalha é feita através da aplicação de resina sintética misturada</p><p>com 2,5 a 3% de acetona. Esta resina, misturada com a grisalha nova serve para</p><p>recuperar partes específicas ou traços da grisalha debilitada. Para proteger a</p><p>grisalha debilitada, pode-se selar a peça em questão com um vidro incolor.</p><p>Figura 2 - Pintura com grisalha castanha</p><p>Após a pintura a peça é colocada em forno 600º C</p><p>27</p><p>b) Restituição de Elementos</p><p>“Antes da operação de substituição de um material deve-se analisar todos os</p><p>elementos e verificar a sua autenticidade. Qualquer substituição ou troca deve ser</p><p>efetuada somente depois de um minucioso estudo da peça” (VALLDEPÉRZ, 2001</p><p>pág.138).</p><p>• Restituição de uma estrutura</p><p>O material mais utilizado é o aço inoxidável. Quando se detectar alto grau de</p><p>deterioração nas varetas de reforço, elas devem ser restituídas utilizando-se um</p><p>alicate em forma de bico.</p><p>• Restituição de chumbos</p><p>Os chumbos só devem ser substituídos quando estes não oferecem um perfeito grau</p><p>de solidez devido a rupturas ou estarem muito maleáveis.</p><p>Quando a restituição é parcial pode-se usar chumbo de largura menor que o original</p><p>com a finalidade de distingui-lo facilmente. Sempre que possível evita-se a</p><p>substituição total do chumbo evitando-se assim o risco de quebra do vidro.</p><p>28</p><p>Figura 3 - Montagem com calha de chumbo</p><p>• Restituição de Vidros</p><p>Quando ocorrer a necessidade de substituir os vidros deve se manter as suas</p><p>características e tonalidades. Antigamente utilizavam-se vidros procedentes de</p><p>outros restauros para restituir os vidros irrecuperáveis. Atualmente, é mais freqüente</p><p>adicionar um vidro neutro para repor a perda de massa vítrea. A união dos vidros</p><p>novos não precisa necessariamente ser feita com chumbo, pode ser realizada com</p><p>cola sintética permitindo uma melhor leitura do desenho.</p><p>29</p><p>Figura 4 - Montagem dos fragmentos de vidro da figura</p><p>Com essa montagem, executa-se o desenho da parte faltante da peça. Esse procedimento</p><p>deve ser repetido para todas as partes danificadas</p><p>c) Limpeza</p><p>A limpeza correta do vitral é importantíssima para um restauro com êxito. A parte</p><p>externa do vitral costuma estar um pouco mais limpa que a do interior por causa das</p><p>chuvas, porém estão mais favoráveis ao ataque de fungos que retiram luminosidade</p><p>do vitral. Uma raspagem da parte externa é o suficiente para impedir o processo de</p><p>deterioração.</p><p>30</p><p>Figura 5 – Fixação das varetas de reforço</p><p>Após a limpeza das soldaduras, com um alicate, enrola-se o arame até prender a vareta de</p><p>reforço</p><p>O processo consisti em raspar com um bisturi uma extremidade da peça, podendo</p><p>assim determinar o grau de dureza da camada que a cobre. Em seguida, esfrega-se</p><p>em sentido rotativo com pincéis ou escovas. Caso esse procedimento não seja</p><p>suficiente, utiliza-se um cotonete umedecido em água para ajudar a amolecer a</p><p>camada de sujeira. Como última opção, adiciona-se sabão neutro ao processo.</p><p>Esse procedimento deve ser aplicado dos dois lados do vitral, tomando-se o cuidado</p><p>que pelo lado de dentro existe a grisalha. Uma lupa ajuda a distinguir a grisalha dos</p><p>fungos propriamente ditos.</p><p>Outro método que pode ser utilizado, porém com muitas precauções devido perigo</p><p>de intoxicação, é a submersão da peça numa solução de oxálico a 10% e água</p><p>destilada. Toda vez que se utiliza produtos químicos recomenda-se a execução de</p><p>testes prévios a fim de verificar qual o comportamento do vidro perante a solução.</p><p>31</p><p>Segundo Valldeperez (2001, pág.140):</p><p>“O mais aconselhável será utilizar simplesmente água destilada ou água potável</p><p>misturadas com uma pequena proporção de sabão neutro”.</p><p>Independente do método escolhido, a operação de limpeza utiliza cotonetes de</p><p>algodão, gaze, esponja ou pano de algodão dependo da delicadeza do local. O</p><p>restaurador deve sempre utilizar luvas.</p><p>A base para a montagem dos textos a seguir foi a partir da leitura do Manual Interno</p><p>de Procedimentos de Restauro da empresa CONCREJATO, desenvolvido pelo Arq.</p><p>Milton Kaor.</p><p>5.2.3 Limpeza de Sujidades do Granito</p><p>Na maioria dos prédios históricos encontramos revestimentos em granito, que na</p><p>maioria das vezes encontram-se muito sujos.</p><p>Para proceder a limpeza são necessários escovas, pincel 2”, baldes, máquina de</p><p>hidrojatear (tipo WAP) e sabão neutro.</p><p>Inicia-se o processo de limpeza das sujidades do granito, deve-se saturar toda a sua</p><p>superfície com auxílio de uma máquina hidrojateadora de alta pressão.</p><p>32</p><p>Em seguida,</p><p>prepara-se uma solução diluindo-se o produto detergente em água</p><p>numa proporção 1:3, ou seja, para cada parte do produto adiciona-se 3 partes iguais</p><p>de água.</p><p>Aplica-se essa solução à superfície do granito utilizando-se pincel, e em seguida,</p><p>esfregar a superfície com uma escova de cerdas de nylon, deixando o produto agir</p><p>por alguns minutos.</p><p>Formará uma “borra” amarronzada que deverá ser removida com a aplicação do</p><p>hidrojateamento, deixando a água escorrer abundantemente, com a finalidade de</p><p>não restar nenhum resíduo de sabão.</p><p>5.2.4 Remoção de Eflorescências</p><p>Iniciar o procedimento através da saturação da área de ataque, bem como as áreas</p><p>adjacentes. Com a superfície saturada, aplica-se a solução de agente ácido para</p><p>limpeza e preparação de superfícies de concreto, tipo reebaklens (fabricante MBT)</p><p>dissolvido com água, na proporção de 1:4, com ajuda de um pincel. Essa solução é</p><p>bastante agressiva, sendo assim a aplicação não deve ser excessiva e é preciso</p><p>tomar cuidado para que não ocorram respingos e nem que o produto escorra ao</p><p>longo da superfície.</p><p>Após a aplicação sobre a eflorescência ocorrerão reações químicas onde serão</p><p>liberados gases e surgirão pequenas bolhas sobre as manchas de incrustação. Ao</p><p>aparecerem essas bolhas inicia-se a raspagem e escovação da superfície.</p><p>33</p><p>Às vezes, há necessidade da utilização de uma espátula, principalmente quando a</p><p>mancha é muita espessa, e depois se utiliza escova de aço. O movimento da</p><p>espátula deve ser no sentido vertical. A escova de aço retira os últimos resquícios de</p><p>eflorescência.</p><p>Quando a “borra” branca atrapalhar a visualização do tratamento, usa-se um</p><p>esguicho d’água para limpar a área de trabalho e continuar o procedimento. O</p><p>esguicho d’água pode ser feito com uma garrafa de plástico, tipo pet, com um furo</p><p>na tampa.</p><p>Quando a superfície estiver totalmente esfregada faz-se um novo hidrojateamento,</p><p>com água abundante para retirar todo o resíduo da solução.</p><p>Para executar esse trabalho são necessários escovas de aço, espátulas, solução de</p><p>reebaklens com água, pincel 2”, baldes, hidrojateadora e garrafa pet com água e</p><p>tampa furada.</p><p>5.2.5 Tratamento de trincas em abóbadas – alvenaria</p><p>Após detectar a trinca, deve-se fazer um mapeamento e levantamento da mesma</p><p>para verificação da espessura e em seguida a definição do procedimento. Vamos</p><p>descrever procedimento para trinca com espessura igual ou superior a 1cm.</p><p>Lavagem da área, com jato d’água, a uma distância segura (em torno de 1,50m)</p><p>para evitar o arrancamento do rejunte. Essa lavagem tem a intenção de remover</p><p>poeira e impurezas. O jato deve ser estar aberto e não direcionado.</p><p>34</p><p>Após essa primeira lavagem, retira-se o rejunte para a aplicação da argamassa de</p><p>shim set. Com essa retirada produz-se poeira que logo se deposita na superfície</p><p>interna da trinca; portanto há a necessidade de uma nova lavagem, não só para</p><p>limpar essa poeira, mas também para saturar a superfície, que tão logo receberá a</p><p>ponte de aderência.</p><p>A retirada do rejunte, preferencialmente, pode ser feita com serra tipo makita a fim</p><p>de evitar trauma mecânico no painel. A aplicação deve ser feita em trechos</p><p>intercalados da trinca.</p><p>O shim set é um produto fabricado e comercializado pela empresa FOSROC. Trata-</p><p>se de uma argamassa seca isenta de retração, utilizada para reparos profundos, que</p><p>deve ser aplicada a partir do seguinte traço:</p><p>30kg de shim set</p><p>4,2 l de água</p><p>30% de pedrisco</p><p>Retirada do rejunte danificado e limpeza da região a ser tratada, até chegar no tijolo.</p><p>Esse procedimento pode ser realizado com serra tipo makita e requer muita cautela.</p><p>Para a ponte de aderência, preparar uma composto pastoso com um adesivo à base</p><p>de resina acrílica, tipo NITOBOND AR (fabricante FOSROC), cimento e água, na</p><p>proporção 1:3:1 e aplicá-la utilizando pincel nas superfícies internas da trinca.</p><p>Posteriormente, proceder a aplicação do shim set.</p><p>35</p><p>O objetivo é que o shim set ocupe ao menos 1/3 da profundidade do vão, tendo</p><p>assim, além da função de consolidação, a função de vedante para permitir a</p><p>aplicação de outra argamassa por cima da abóbada costurada.</p><p>A aplicação do shim set é feita com as mãos. Faz-se um “bolinho” para empurrá-lo</p><p>para dentro do vão e com o dedo vai comprimindo a argamassa até certificar-se de</p><p>que pelo menos, 1/3 da profundidade foi preenchida. Em seqüência, coloca-se o</p><p>pedrisco da mesma forma empurrando com o dedo. O volume do pedrisco irá fazer</p><p>com que o composto se espalhe por dentro do vão com maior eficácia. Pode-se</p><p>misturar o pedrisco antes da aplicação.</p><p>Estando o vão já tratado com a massa de shim set, limpa-se a área marginal com</p><p>um pano úmido, deixando os tijolos livres de resíduos do composto. Deve-se tomar o</p><p>cuidado para não esbarrar na massa já colocada, pois poderá se soltar, ao menor</p><p>trauma. Após a aplicação do shim set faz-se aplicação do NITOBOND AR. A cura</p><p>completa se dá em torno de quarenta minutos.</p><p>Para finalizar o trecho em tratamento, aplica-se duas demãos de NITOBOND puro,</p><p>com o pincel, num intervalo de trinta minutos entre demãos. Limpar as áreas</p><p>adjacentes dando um perfeito acabamento.</p><p>Após o tratamento por baixo do vão, procede-se o tratamento sobre o vão. Do lado</p><p>externo da abóbada, retira-se cuidadosamente o piche existente sobre ela. O sentido</p><p>para remoção do piche deve ser paralelo à abertura da trinca, de baixo para cima. O</p><p>piche deve ser removido na faixa de 30cm. Para facilitar a remoção, o piche é</p><p>36</p><p>recortado em tiras utilizando-se serra tipo makita. Após a retirada total do piche,</p><p>deve-se varrer a superfície, retirando a poeira mais grossa. Feito isso, procede-se a</p><p>lavagem da área a fim de remover a poeira.</p><p>A fenda poderá ser biselada para facilitar a aplicação da argamassa aditivada</p><p>formando uma canaleta, utilizando serra tipo makita. A argamassa aditivada, em</p><p>volume, é composta de cimento, areia média lavada, água e NITOBOND AR, na</p><p>proporção 1:3:1:1.</p><p>Antes da aplicação da argamassa, executa-se a ponte de aderência. Em seguida,</p><p>preenche-se o vão, coloca-se uma tela de aço soldada, tipo Telcon EQ 98 e a</p><p>prende com argamassa de cura rápida. Revestir a tela com argamassa executando o</p><p>acabamento.</p><p>37</p><p>6 ESTUDO DE CASO</p><p>6.1 Caso 1 – Catedral da Sé</p><p>A Catedral da Sé começou a ser construída em 1913. Suas obras consumiram</p><p>décadas, sendo seu ritmo dificultado durante o período das guerras mundiais que</p><p>marcaram a primeira metade do século XX. A sua inauguração, ainda incompleta,</p><p>aconteceu em 1954 devido às comemorações do 4o centenário da cidade de São</p><p>Paulo.</p><p>Em 1999, devido o desgaste e a falta de manutenção em que a Catedral se</p><p>encontrava, foi preciso fechá-la, pois estava apresentando riscos de acidentes aos</p><p>usuários.</p><p>A recuperação da Catedral exigiu também sua conclusão: construção das 14 torres</p><p>menores. A falta dessas torres estava contribuindo significativamente para o</p><p>processo de deterioração da Catedral, pois através desses espaços a água infiltrava</p><p>com facilidade.</p><p>6.1.1 Um pouco de história</p><p>Em 1913, São Paulo já era pólo político e econômico do Estado e já estava marcada</p><p>pelas várias culturas de seus imigrantes. Possuía em torno de 400mil habitantes. Em</p><p>6 de julho desse ano, em uma capela estilo gótico no local onde hoje se encontra a</p><p>Catedral, o arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva, em solenidade pública,</p><p>procedeu a benção da primeira pedra e colocou-a no terreno com alicerces já</p><p>38</p><p>delineados. O orador oficial da solenidade, Dom Sebastião Leme proclamou: “Está</p><p>lançada a primeira pedra da Catedral de São Paulo. É um monumento comemorativo</p><p>de fé, comemorativo de patriotismo”.</p><p>Figura 6 – Antiga Igreja da Sé (AZEVEDO,1862)</p><p>Em 1954, não mais dependente da economia cafeeira, São</p><p>Paulo havia se</p><p>transformado no maior centro industrial do país, com 2,7 milhões de habitantes, sete</p><p>vezes a população da primeira década do século XX. Para comemorar seus 400</p><p>anos, em 25 de janeiro desses anos, a nova metrópole contou com inúmeras</p><p>solenidades. Entre muitos eventos, aquela simbólica pedra lançada havia 40 anos</p><p>finalmente se concretizava e, na presença de uma multidão de fiéis e de muitas</p><p>autoridades, inclusive Getúlio Vargas, Presidente da República, aconteceu a</p><p>inauguração oficial da nova Catedral de São Paulo.</p><p>39</p><p>Figura 7 – Praça da Sé tendo ao fundo a Catedral em construção (ROSENTHAL, 1940)</p><p>A cidade que recebia a nova catedral era, no entanto, muito diferente daquela que</p><p>engendrou as primeiras discussões que permitiram que a obra viesse a acontecer.</p><p>No final do Império e início da República, com o forte desenvolvimento econômico</p><p>resultante das exportações do café, em São Paulo, uma cidade nova tendia a</p><p>substituir a antiga.</p><p>“O último quarto do século dezenove foi marcado por muita demolição, reforma e</p><p>construção na cidade e em seus arredores. As próprias edificações religiosas não</p><p>escaparam a esse processo de substituição. E quase todas as igrejas mais</p><p>tradicionais da cidade foram desaparecendo – inclusive a do colégio – algumas para</p><p>dar lugar, no começo do século atual, a templos monumentais, de linhas mais</p><p>modernas, embora estranhas ao passado da povoação.</p><p>Nesse período, na parte central da cidade, a maioria das igrejas tinha origem no</p><p>período colonial, não possuíam de ornamentos, ou grandes curvas pesadas. O</p><p>crescimento urbano juntamente com o crescimento econômico exigia que São Paulo</p><p>40</p><p>pudesse ostentar uma nova Catedral compatível com o progresso da futura</p><p>metrópole e mais grandiosa do que muitas que já haviam sido construídas no interior</p><p>paulista e em outros estados.</p><p>Em 1888 criou-se a comissão responsável pela construção, sendo seu presidente o</p><p>senador Antonio Prado. Os recursos iniciais da obra teriam origem em uma Loteria</p><p>Provincial, prática comum no Governo Imperial para beneficiar construções civis e</p><p>religiosas, com a colaboração da população, como ocorreu, entre outras, com o</p><p>Museu Paulista. Em 1889, nova reunião confirmou a Praça dos Curros (atual Praça</p><p>da República) como o local para a construção e o seu estilo, gótico.</p><p>As turbulências políticas do período, porém, impediram que o projeto da nova</p><p>Catedral se concretizasse. Com o regime republicano, foi decretada a separação da</p><p>Igreja e do Estado, expressando-se em vários políticos um sentimento anticlerical.</p><p>Os recursos arrecadados pela Loteria Pró-Catedral, 200 contos de réis, foram</p><p>destinados à construção de uma nova Escola Normal, no local definido para a</p><p>Catedral. Os protestos das autoridades religiosas não foram suficientes para</p><p>sensibilizar os novos dirigentes.</p><p>Os planos de uma nova Catedral retornariam com maior intensidade com Dom</p><p>Duarte Leopoldo e Silva, que tomou posse na Diocese de São Paulo em abril de</p><p>1907. Uma de suas primeiras decisões foi indicar um novo local para a construção,</p><p>com a demolição da antiga Sé - Figura 6 – Antiga Igreja da Sée Figura 8 - mesmo</p><p>que mais de dois séculos estivessem representados em suas paredes. Para</p><p>41</p><p>obtenção dos recursos financeiros, Dom Duarte mobilizou, a partir de 1912, as ricas</p><p>famílias da cidade, organizando uma Comissão Executiva presidida pelo Conde de</p><p>Prestes.</p><p>Figura 8 – Antiga Igreja da Sé (BECHERINI,1907)</p><p>Foi demolida para dar lugar a nova Catedral</p><p>O projeto aprovado pelas autoridades religiosas foi desenvolvido, em dois anos, pelo</p><p>engenheiro Maximiliano Emílio Hehl, professor de arquitetura na Escola Politécnica</p><p>de São Paulo e de Arte Sacra no Seminário Provincial, também responsável pelos</p><p>projetos da Igreja Nossa Senhora da Consolação, em São Paulo e da Catedral da</p><p>cidade de Santos. Seu estilo, que provocaria grandes debates nas décadas</p><p>posteriores, coroava o desejo de que a cidade pudesse apresentar obra compatível</p><p>com outras grandes metrópoles.</p><p>Figura 9 – Desenho da matriz feito no começo do séc. XIX</p><p>42</p><p>A construção orçada em 6 mil contos de réis, conforme documentos da época, era</p><p>assim descrita: “O corpo da igreja está dividindo em 5 naves longitudinais do</p><p>comprimento de 35 metros, medindo a nave central 12 metros de largura e 27 de</p><p>altura. Estas cinco naves estão em combinação com um corpo central de 30 metros</p><p>de diâmetro coroado por uma cúpula octogonal, que é apoiada sobre 12 colunas de</p><p>3 metros de diâmetro e se eleva a 30 metros de altura. O corpo central comunica a</p><p>nave do meio com a capela-mor e, lateralmente, com as capelas do S.S.</p><p>Sacramento e de S. Pedro. A capela-mor, da mesma largura da nave central, tem 26</p><p>metros de comprimento, achando-se 2 metros acima do nível da nave central, sendo</p><p>a diferença de nível vencida pela larga escadaria. As naves laterais continuam além</p><p>do corpo central, girando com a mesma largura em torno da capela-mor, nos</p><p>pavimentos altos da Segunda nave lateral. Embaixo da capela-mor, guardando as</p><p>mesmas dimensões, aloja-se a cripta ou igreja subterrânea, dividida em três naves,</p><p>com altura de 7 metros. A fachada principal do grandioso templo compõe-se de um</p><p>frontão central, ricamente decorado por motivos característicos do estilo, em meio</p><p>dos quais figura uma rosácea de cerca de 8 metros de diâmetro, em cuja frente</p><p>ocupa lugar uma grande estátua do apóstolo S. Paulo, de 5 metros e meio de altura.</p><p>Duas torres laterais, tendo a largura de 12 metros e meio na base e elevando-se a</p><p>altura de 92 metros, completam a decoração da fachada principal, comunicando-lhe</p><p>nobre e magnificiente efeito estético”.</p><p>Para o início das obras, a Comissão Executiva contou, além dos recursos originados</p><p>pela Loteria Pró-Catedral (que após longa negociação foram repassados pelo</p><p>Governo) e da venda do terreno onde se encontrava a Igreja de São Pedro</p><p>(demolida para a construção da Caixa Econômica Federal), com as doações de 210</p><p>43</p><p>famílias, que realizaram subscrições para pagamentos em 10 parcelas anuais,</p><p>totalizando as receitas em mais de 330 contos de réis em 1913.</p><p>Pelo volume grandioso de pedras que a construção exigiria, nesse mesmo ano foi</p><p>adquirida uma pedreira em Ribeirão Pires onde foram extraídas e preparadas as</p><p>pedras para os alicerces e toda a cantaria lavrada para a cripta e para o plinto</p><p>inferior do perímetro externo da catedral.</p><p>Nos primeiros dez anos de obras, concluídos os alicerces, os relatórios repetem as</p><p>dificuldades com a técnica construtiva adota, a cantaria lavrada era um serviço muito</p><p>caro e lento. A mão de obra disponível era pequena e deficiente tornando o</p><p>andamento da obra cada vez mais lento. O piso em mármore preto e branco era</p><p>importado da Itália, além de dois monumentos foram executados na Itália e trazidos</p><p>para cá.</p><p>Em 1919, Dom Duarte inaugurou oficialmente a cripta ou igreja subterrânea para a</p><p>sepultura de arcebispos e bispos de São Paulo.</p><p>Em 1930, foram colocados na cripta os restos mortais do cacique Tibiriçá e do Padre</p><p>Diogo Antônio Feijó. Além desses ilustres encontram-se lá também os restos mortais</p><p>que estavam na antiga catedral da Sé demolida em 1911.</p><p>Para aumentar as contribuições para a execução da nova Catedral, em 1927 foi</p><p>criada a Semana Pró-Catedral, que acontecia do Domingo que antecede ao que</p><p>sucede o dia 25 de janeiro, ficando os vigários de todas as paróquias da cidade</p><p>44</p><p>responsáveis pela arrecadação de donativos. Nesse ano, os custos das obras já</p><p>haviam totalizado mais de 4mil contos de réis.</p><p>Na década de 30, período conturbado pela crise econômica de 1929 e as revoluções</p><p>de 30 e 32, as obras continuaram a se desenvolver em ritmo lento. No final de 1938,</p><p>a morte de Dom Duarte Leopoldo e Silva, grande incentivador e líder da</p><p>iniciativa,</p><p>abalou a todos aqueles que aguardavam o término da construção.</p><p>Diversas colunas com os respectivos capitéis, para a sustentação da cúpula, já se</p><p>encontravam concluídas. As famílias paulistas foram convocadas para a doação dos</p><p>recursos para aquisição dos vitrais que iriam ornamentar a Catedral.</p><p>No final dos anos 40, além das críticas pela morosidade das obras, retornou o</p><p>debate para que a cúpula prevista no projeto original de Maximiliano Hehl fosse</p><p>suprimida.</p><p>Por problemas políticos, em maio de 1951, foi extinta a Comissão Executiva das</p><p>obras, passando sua coordenação para a Legião de São Paulo Pró-Catedral que,</p><p>mantendo também as atividades de arrecadação de recursos, criou uma Comissão</p><p>de Arte para a conclusão dos trabalhos de decoração interna da Catedral. Em Roma,</p><p>o arquiteto Bruno Apolonj Chetti projetou os altares, os púlpitos, a pia batismal, o</p><p>trono para o Cardeal Arcebispo e trinta vitrais.</p><p>Mesmo não concluída, em janeiro de 1954, a Catedral de São Paulo abriu as portas</p><p>para a população de São Paulo.</p><p>45</p><p>6.1.2 Uma Nova Sé</p><p>Figura 10 – Foto da Catedral antes do início dos serviços de restauração (KAOR,2000)</p><p>Monumental, criticada por seu eclético estilo gótico com uma cúpula originária da</p><p>arquitetura românica e, ao mesmo tempo, admirada pela suntuosidade e</p><p>ornamentação, a Catedral dos paulistanos renasceu quando São Paulo já era “a</p><p>cidade que não pode parar”. Seu entorno, transformado na grande praça da</p><p>metrópole, passou por um intenso processo de reurbanização em 1952. Mantinha,</p><p>todavia, sua referência como “marco zero” da cidade e local de grandes</p><p>manifestações políticas, como o comício organizado pelos sindicatos no 1o de maio</p><p>de 1914, as manifestações contra a ditadura de Getúlio Vargas em 1932 e os atos</p><p>públicos na década de 40 pela democratização política do país.</p><p>A falta de recursos e o lento processo da construção durante quatro décadas não</p><p>impediram que sua inauguração ocorresse, porém com a ausência de alguns</p><p>elementos que integram o projeto original do início do século, principalmente 14</p><p>torres e vários detalhes de sua decoração interna. A sagração solene da nova</p><p>Catedral aconteceu somente em setembro e a instalação definitiva de seu órgão em</p><p>novembro de 1954. O conjunto dos sinos teve sua instalação definitiva e sagração</p><p>em janeiro de 1959.</p><p>46</p><p>A nova Catedral integrou-se ao cotidiano da cidade e cumprindo suas funções</p><p>religiosas também se transformou em cenário e símbolo das manifestações que</p><p>resistiram ao autoritarismo do Golpe Militar de 1964. Tão importante quanto sua</p><p>arquitetura e simbolismo religioso foram fatos que marcaram a história</p><p>contemporânea do Brasil, como o ato ecumênico de 1975 em protesto pelo</p><p>assassinato do jornalista Wladimir Herzog, após sua prisão por setores do regime</p><p>militar. Em 1984, a Praça da Sé, com sua imponente Catedral, foi palco do primeiro</p><p>comício do movimento Diretas Já, que exigia eleições para a Presidência da</p><p>República.</p><p>No final do século XX, o grande símbolo da arquitetura religiosa de São Paulo já</p><p>apresentava ameaçadores indícios de comprometimento. Uma grande intervenção</p><p>em seu entorno com a inauguração em fevereiro de 1978 da principal estação de</p><p>Metrô praticamente sob suas fundações, o crescente fluxo de veículos</p><p>(principalmente ônibus) ao seu redor e o tipo de solo daquela região da cidade</p><p>provocaram, direta ou indiretamente, interferências em sua estrutura. Em julho de</p><p>1999, a Prefeitura Municipal de São Paulo constatou a necessidade do fechamento</p><p>da Catedral por falta de segurança aos seus freqüentadores, verificando-se</p><p>posteriormente que existiam mais de quatro quilômetros de fendas e trincas.</p><p>Um novo desafio apresentava-se na história da Catedral. Agora ele seria enfrentado</p><p>pelo arcebispo Dom Claudio Hummes. Mais do restaurá-la, Dom Claudio resolveu</p><p>concluir o projeto original de Maximiliano Hehl. Repetindo a mobilização que havia</p><p>garantido a suas construção, diversas empresas privadas e públicas, por meio dos</p><p>mecanismos de isenção fiscal previstos na legislação de incentivo à Cultura,</p><p>47</p><p>realizaram doações para desenvolvimento do projeto de recuperação. A Catedral de</p><p>São Paulo com novas torres construídas com a tecnologia do século XXI, será ainda</p><p>mais gótica.</p><p>A falta de manutenção especializada desde a inauguração em 1954, as obras</p><p>incompletas (principalmente em sua cobertura e torres), a poluição ambiental, a</p><p>acomodação do solo por oscilação do nível do lençol freático e as grandes</p><p>alterações em seu entorno e subsolo com a construção de uma estação do Metrô,</p><p>entre outros fatores, contribuíram para em julho de 1999 a Prefeitura concluísse que</p><p>a monumental Catedral da Sé oferecia riscos à segurança de seus visitantes, sendo</p><p>necessária sua interdição.</p><p>Em maio de 2000, a Mitra Arquidiocesana de São Paulo iniciou o desenvolvimento</p><p>de amplo projeto de restauro e reforma da Catedral da Sé, tendo como principais</p><p>fases a recuperação física, estrutural e artística de construção e a conclusão de suas</p><p>torres, com a execução de 14 novos torreões com técnicas atuais, porém mantendo</p><p>a concepção do projeto original.</p><p>Entre as patologias encontradas no início das obras, destacaram-se principalmente</p><p>trincas e fissuras teto e nas alvenarias com risco de queda e recalque em sua</p><p>estrutura principal, como aparece na Figura 12 por exemplo. Na cobertura,</p><p>constataram-se infiltrações generalizadas, serviços inacabados e corrosão nas</p><p>ferragens das torres. Com suas instalações prediais ultrapassadas e com risco de</p><p>colapso, a Catedral apresentava também perda do rejunte estrutural peças de</p><p>48</p><p>granito e efeitos do ataque de agentes externos nas fachadas, coberturas, vitrais,</p><p>elementos artísticos, pisos, portas e mobiliário em madeira.</p><p>Figura 11 – Ilustração sobre a as principais intervenções</p><p>Consolidação da Estrutura</p><p>A movimentação da estrutura da Catedral por recalque diferencial nas fundações,</p><p>além de diversos outros fatores externos, deu origem a 4472 metros de trincas e</p><p>fendas, com grandes extensões e aberturas, localizadas nas abóbodas, nas paredes</p><p>de fechamento laterais da construção - Figura 13 - e nas cúpulas, entre outros</p><p>49</p><p>locais. O grande desafio para a realização dos serviços de recuperação ocorreu pela</p><p>dificuldade de acesso, exigindo a construção de andaimes com até 60 metros de</p><p>altura.</p><p>Figura 12 – Exemplo de trinca encontrada</p><p>50</p><p>Figura 13 – Exemplo de trinca encontrada em alvenaria</p><p>Figura 14 – Serviços de reparo em trincas</p><p>51</p><p>Em relação às superfícies revestidas em granito, a Catedral possuía quatro</p><p>situações específicas. Os pilares centrais foram executados com “camisas” de</p><p>granito segmentadas e os núcleos preenchidos com concreto. Nas abóbodas, o</p><p>sistema estrutural é constituído por costelas de granito, formando dois arcos</p><p>cruzados. As paredes laterais, executadas em alvenaria de tijolos maciços,</p><p>receberam externamente revestimento em granito. E finalmente as áreas de</p><p>cobertura fechada são parcialmente encobertas por adornos, passadiços, beirais e</p><p>balaústres em granito, circundando as laterais da Catedral.</p><p>Figura 15 – Limpeza do granito</p><p>52</p><p>De modo geral, as juntas entre as peças de granito encontravam-se vazias ou</p><p>deterioradas. Após lavagem com sabão, conforme a Figura 15, a superfície pode</p><p>receber o trabalho de rejuntamento que, além da função estética, preserva o aspecto</p><p>estrutural e de estanqueidade. Esses serviços consumiram 312 quilômetros de fita</p><p>adesiva (utilizada para proteção de arremate) e 32 toneladas de argamassa. A área</p><p>em granito, estimada em 53 mil m², consumiu em sua limpeza e remoção de</p><p>eflorescências, entre outros materiais, 3630 litros</p>