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<p>UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO</p><p>MEDICINA VETERINÁRIA</p><p>AMANDA ANTONIOLI DA SILVA</p><p>ATLAS DE ANATOMIA VETERINÁRIA II</p><p>ITATIBA</p><p>2024</p><p>2</p><p>SUMÁRIO</p><p>LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................ 3</p><p>1. Sistema digestório ........................................................................................................................ 7</p><p>2. Boca ................................................................................................................................................ 7</p><p>2.1. Língua ................................................................................................................................... 10</p><p>2.2. Glândulas salivares ............................................................................................................ 14</p><p>2.3. Dentes .................................................................................................................................. 16</p><p>3. O esôfago .................................................................................................................................... 24</p><p>4. O estômago unicavitário ............................................................................................................ 24</p><p>5. O estômago pluricavitário .......................................................................................................... 29</p><p>5.1. Rúmen .................................................................................................................................. 29</p><p>5.2. Retículo ................................................................................................................................ 30</p><p>5.3. Omaso .................................................................................................................................. 31</p><p>5.4. Abomaso .............................................................................................................................. 32</p><p>6. O intestino .................................................................................................................................... 33</p><p>6.1. O intestino delgado ............................................................................................................ 33</p><p>6.2. O intestino grosso ............................................................................................................... 34</p><p>7. Reto .............................................................................................................................................. 36</p><p>8. Canal anal .................................................................................................................................... 36</p><p>9. Estruturas peritoneais ................................................................................................................ 37</p><p>10. Sistema Urinário ..................................................................................................................... 38</p><p>11. Rins ........................................................................................................................................... 38</p><p>11.1. Localização ...................................................................................................................... 38</p><p>11.2. Formatos .......................................................................................................................... 39</p><p>11.3. Estruturas ......................................................................................................................... 39</p><p>11.4. Unidades funcionais ....................................................................................................... 42</p><p>11.5. Vascularização ................................................................................................................ 43</p><p>11.6. Pelve renal ....................................................................................................................... 43</p><p>12. Ureter ........................................................................................................................................ 45</p><p>13. Vesícula urinária ..................................................................................................................... 46</p><p>14. Uretra ........................................................................................................................................ 47</p><p>15. Referências bibliográficas ........................................................................................................ 50</p><p>3</p><p>LISTA DE FIGURAS</p><p>Figura 1 - Representação esquemática do aparelho digestório no cão. 1, boca; 2,</p><p>glândulas salivares; 3, faringe; 4, esôfago; 5, estômago; 6, fígado; 7, duodeno; 8,</p><p>pâncreas; 9, jejuno; 10, íleo; 11, ceco; 12, cólon; 13, reto; 14, ânus.</p><p>Figura 2 - Vista geral da cavidade oral do cão. 1, vestíbulo; 2, dente canino; 2′, filtro;</p><p>3, palato duro; 4, palato mole; 5, língua; 6, carúncula sublingual; 7, arco palatoglosso;</p><p>8, tonsila palatina; 9, frênulo.</p><p>Figura 3 - Representação esquemática da boca de carnívoro.</p><p>Figura 4 - Palato duro e palato mole do cão. 1, filtro; 2, papila incisiva; 3, palato duro</p><p>com cristas; 4, palato mole; 5, arco palatoglosso; 6, óstio intrafaríngeo; 7, arcos</p><p>palatofaríngeos; 8, esôfago.</p><p>Figura 5 - Representação esquemática do palato duro de cão.</p><p>Figura 6 - Representação esquemática do palato duro de cão.</p><p>Figura 7 - Língua do cão. O palato mole e o esôfago estão seccionados no plano</p><p>mediano. 1, ápice; 2, corpo; 3, raiz, formando o assoalho da orofaringe; 4, sulco</p><p>mediano; 5, papila valada; 6, papilas fungiformes; 7, arco palatoglosso; 8, tonsila</p><p>palatina na fossa tonsilar; 9, epiglote; 10, frênulo.</p><p>Figura 8 - Estruturas da língua de cão (esquerda) e gato (direita).</p><p>Figura 9 - Língua e mandíbula bovina. 1, Palato mole, seccionado; 2, arco</p><p>palatoglosso; 3, papilas valadas; 4, 4’ e 4”, papilas filiformes, lenticulares e cônicas,</p><p>respectivamente; 5, fossa lingual; 6, papilas bucais; 7, primeiro pré-molar inferior (P2);</p><p>8, primeiro molar inferior (M1).</p><p>Figura 10 - Vista dorsal da língua e epiglote de cão (ca), gato (fe), suíno (su), bovino</p><p>(bo) e equino (eq). 1, tonsila palatina; 2, sulco mediano; 3, papilas filiformes; 4, papilas</p><p>folhadas; 5, epiglote; 6, seio tonsilar; 7, raiz da língua; 8, papila valada; 9, toro da</p><p>língua; 10, fossa lingual; 11, papilas fungiformes.</p><p>Figura 11 - Papilas de bovino.</p><p>Figura 12 - Papilas linguais de bovino.</p><p>Figura 13 - As principais glândulas salivares do cão, suíno, bovino e equino. Laranja:</p><p>glândula parótida; branco: glândula mandibular; amarelo: glândulas sublinguais;</p><p>vermelho: glândulas bucais. 1, ducto parotídeo; 2, ducto mandibular; 3, parte</p><p>compacta (monostomática) da glândula sublingual; 4, parte difusa (polistomática) da</p><p>glândula sublingual; 5, glândulas bucais dorsais (glândula zigomática no cão); 6,</p><p>glândulas bucais médias; 7, glândulas bucais ventrais.</p><p>4</p><p>Figura 14 - As glândulas salivares do cão. 1, glândula parótida; 2, ducto parotídeo; 3,</p><p>glândula mandibular; 4, ducto mandibular; 5, parte caudal da glândula sublingual</p><p>compacta; 6, parte rostral da glândula sublingual compacta; 7, ducto sublingual</p><p>principal; 8, glândula zigomática.</p><p>Figura 15 - Secção longitudinal esquemática de um dente simples. 1, esmalte; 2,</p><p>dentina; 3, cemento; 4, polpa; 5, forame apical; 6, ligamento periodontal; 7, alvéolo; 8,</p><p>bochecha.</p><p>Figura 16 - Face oclusal de um equino mais jovem (A) com cálice visível e de um</p><p>equino mais velho (B), onde o cálice desapareceu, mas a estrela dentária ainda é</p><p>visível.</p><p>Figura 17 - Arcada mandibular e maxilar de um equino durante erupção (raízes dos</p><p>dentes expostas).</p><p>Figura 18 - Arcada mandibular de um equino durante erupção (raízes dos dentes</p><p>expostas).</p><p>Figura 19</p><p>- Representação esquemática dos dentes de cão.</p><p>Figura 20 - Representação esquemática dos dentes de cão.</p><p>Figura 21 - Vista lateral da dentição permanente do cão.</p><p>Figura 22 - Palato duro de um bovino.</p><p>Figura 23 - Dentição permanente do suíno, maxila (A) e mandíbula (B). 1, superfície</p><p>lingual; 2, superfície vestibular; 3, superfície distal; 4, superfície mesial.</p><p>Figura 24 - Dentição permanente do cavalo, maxila (A) e mandíbula (B). 1, dente de</p><p>lobo (P1); 2, diastema.</p><p>Figura 25 - Dentição permanente do bovino, maxila (A) e mandíbula (B).</p><p>Figura 26 - Secção de um dente incisivo (esquerdo) e molar (direito) de equino.</p><p>Figura 27 - Dente incisivo do equino, dente canino do gato e primeiro molar inferior do</p><p>cão.</p><p>Figura 28 - Dentição de um suíno (vista lateral).</p><p>Figura 29 - Vista lateral do pescoço bovino. Na parte média, o esôfago situa-se na</p><p>face dorsolateral esquerda da traqueia. 1, esôfago; 2, traqueia; 3, musculatura</p><p>faríngea; 4, músculo esternocefálico; 5, ligamento da nuca.</p><p>Figura 30 - (A) Superfície visceral do estômago (cão). 1, cárdia; 2, piloro. (B) Interior</p><p>do estômago (cão). 1, abertura cárdica; 2, fundo; 3, corpo; 4, antro pilórico.</p><p>Figura 31 - Estômago de equino, região cárdica e pilórica.</p><p>5</p><p>Figura 32 - Projeção visceral da parede abdominal ventral de equino. A posição do</p><p>ápice é variável. 1, cartilagem xifoide; 2, corpo do ceco; 3, ápice do ceco; 4, cólon</p><p>ventral, direito; 5, flexura diafragmática ventral; 6, cólon ventral esquerdo; 7, flexura</p><p>diafragmática dorsal.</p><p>Figura 33 - Estômago de suíno, região cárdica.</p><p>Figura 34 - Estômago completamente aberto (parte cárdica à direita) de suíno. 1,</p><p>região não glandular; 2a, região glandular da parte cárdica; 2b, região com as</p><p>glândulas gástricas propriamente ditas; 2c, região com glândulas pilóricas.</p><p>Figura 35 - Tratos gastrointestinais do cão (A) e do cavalo (B) dispostos em um plano.</p><p>1, estômago; 2, intestino delgado; 3, ceco; 4, cólon ascendente; 5, cólon descendente.</p><p>Figura 36 - A, Estômago bovino, lado esquerdo. B, Estômago bovino, lado direito. 1,</p><p>retículo; 2, omaso; 3, abomaso; 4, rúmen.</p><p>Figura 37 - Papilas ruminais de bovino.</p><p>Figura 38 - Interior do retículo bovino.</p><p>Figura 39 - Secção de um omaso bovino.</p><p>Figura 40 - Interior do abomaso ovino.</p><p>Figura 41 - Trato intestinal do cão (esquemático). 1, estômago; 2, duodeno</p><p>descendente; 3, flexura caudal; 4, duodeno ascendente; 5, jejuno; 6, íleo; 7, ceco; 8,</p><p>cólon ascendente; 9, cólon transverso; 10, cólon descendente; 11, ampola retal; 12,</p><p>linfonodos jejunais.</p><p>Figura 42 - Desenho esquemático do intestino grosso dos mamíferos domésticos:</p><p>carnívoros (Car), suínos (su), ruminantes (Ru), e equinos (eq). A parte cranial é a</p><p>superior direita. 1, íleo; 2, ceco; 3, cólon ascendente; 4, cólon transverso; 5, cólon</p><p>descendente; 6, reto e ânus; 7, aorta; 8, artéria celíaca; 9, 9′, artérias mesentéricas</p><p>cranial e caudal; 10, 10′ flexuras pélvica e diafragmática dorsal do cólon ascendente.</p><p>Figura 43 - A junção ileocólica e sua relação com o ceco no cão. 1, íleo; 2, ceco; 3,</p><p>cólon ascendente; 4, orifício ileal circundado por prega anular; 5, orifício cecocólico.</p><p>Figura 44 - Ceco e colo do equino.</p><p>Figura 45 - Reto, canal anal e ânus de cão.</p><p>Figura 46 - Canal anal do cão.</p><p>Figura 47 - Peritônio revestindo a parede abdominal internamente.</p><p>Figura 48 - Rins dos mamíferos domésticos com pelve renal, ureter e artéria e veia</p><p>renais.</p><p>6</p><p>Figura 49 - Secção do rim multipiramidal de um bovino.</p><p>Figura 50 - Rim bovino dissecado para mostrar seu interior, semiesquemático.</p><p>Figura 51 - Rins direito (A) e esquerdo (B) de um equino (vista ventral).</p><p>Figura 52 - Rins esquerdo e direito de cão com cápsula renal.</p><p>Figura 53 - Rim de suíno seccionado pelos polos e pelo hilo.</p><p>Figura 54 - Estrutura das unidades funcionais do rim.</p><p>Figura 55 - Vascularização do rim.</p><p>Figura 56 - Pelve renal e artérias renais de um cão (preparado de corrosão).</p><p>Figura 57 - Pelve renal de cão (preparado de corrosão).</p><p>Figura 58 - Pelve renal do rim esquerdo de um equino (preparado de corrosão).</p><p>Figura 59 - Rins, ureteres e vesícula urinária no teto da cavidade abdominal de cadela.</p><p>Figura 60 - Interior da vesícula urinária do cão (esquerda) e intersecção ureterovesical</p><p>(direita).</p><p>Figura 61 - Vesícula urinária e origem da uretra (preparado de corrosão).</p><p>Figura 62 - Uretra de cão no interior do pênis com osso peniano (preparado de</p><p>corrosão).</p><p>Figura 63 - Vesícula urinária de um bovino (vista interna).</p><p>7</p><p>1. Sistema digestório</p><p>O sistema digestório é responsável pela quebra dos alimentos em partes</p><p>menores, de forma que possa ser utilizado para gerar energia, para o crescimento e</p><p>para a renovação celular. Os órgãos que pertencem a esse aparelho são capazes de</p><p>receber alimentos, degradá-los química e mecanicamente até seus componentes</p><p>moleculares e então absorvê-los. Por fim, o aparelho elimina resíduos excretados e</p><p>que não foram absorvidos. As células do sistema digestório são importantes para esse</p><p>processo e podem possuir funções hormonais. Tecido nervoso e vasos sanguíneos e</p><p>linfáticos desempenham um papel importante na digestão.</p><p>O sistema digestório compõe-se do canal alimentar, que se prolonga desde a</p><p>boca até o ânus e também inclui glândulas anexas, glândulas salivares, o fígado e o</p><p>pâncreas, cujas secreções digestivas penetram o canal alimentar.</p><p>O canal alimentar pode ser dividido em cinco segmentos:</p><p>● Boca e faringe;</p><p>● Esôfago e estômago;</p><p>● Intestino delgado;</p><p>● Intestino grosso;</p><p>● Canal anal.</p><p>Figura 1 - Representação esquemática do aparelho digestório no cão. 1, boca; 2, glândulas salivares;</p><p>3, faringe; 4, esôfago; 5, estômago; 6, fígado; 7, duodeno; 8, pâncreas; 9, jejuno; 10, íleo; 11, ceco;</p><p>12, cólon; 13, reto; 14, ânus.</p><p>2. Boca</p><p>O termo boca designa não somente a cavidade e suas paredes, mas também</p><p>as estruturas acessórias que se projetam (dentes, língua) e drenam (glândulas</p><p>salivares) para dentro dela. A boca tem como principais funções a apreensão, a</p><p>mastigação e a insalivação do alimento. A cavidade oral se inicia entre os lábios e</p><p>continua em direção à faringe, por meio de um estreitamento caudal na região dos</p><p>arcos palatoglossais. É dividida pelos dentes e margens das maxila e mandíbula em</p><p>um vestíbulo externo, limitado pelos lábios e bochechas externamente, e a cavidade</p><p>oral propriamente dita, centralmente. Quando a boca está fechada, essas divisões se</p><p>comunicam por meio de espaços, atrás e entre os dentes. O vestíbulo se estende</p><p>caudalmente em direção ao ramo da mandíbula e o músculo masseter.</p><p>8</p><p>A proporção de suas paredes formadas pelos lábios varia com os hábitos</p><p>alimentares; uma grande abertura é necessária nas espécies que se alimentam</p><p>vorazmente ou utilizam os dentes para segurar a presa ou em lutas, enquanto uma</p><p>abertura menor é suficiente na maioria dos herbívoros e roedores.</p><p>Figura 2 - Vista geral da cavidade oral do cão. 1, vestíbulo; 2, dente canino; 2′, filtro; 3, palato duro; 4,</p><p>palato mole; 5, língua; 6, carúncula sublingual; 7, arco palatoglosso; 8, tonsila palatina; 9, frênulo.</p><p>Figura 3 - Representação esquemática da boca de carnívoro.</p><p>Amanda (2024).</p><p>A dieta e os hábitos alimentares também determinam a forma dos lábios. Em</p><p>algumas espécies, como os equinos, os lábios são usados para apreender o alimento</p><p>e introduzi-lo na boca; para essa finalidade, devem ser sensíveis e móveis. Quando</p><p>outras partes são mais importantes na apreensão, os lábios podem ser menos móveis</p><p>9</p><p>e de menor tamanho (p. ex., felinos) ou espessados e insensíveis (p. ex., bovinos).</p><p>Os lábios dos cães são longos, porém finos, e, embora possam ser afastados dos</p><p>dentes, não são capazes de outros movimentos intencionais.</p><p>Nos animais recém-nascidos, os lábios formam uma vedação ao redor da</p><p>papila mamária, necessária para a sucção bem-sucedida.</p><p>Modificações do lábio superior são mais</p><p>frequentes. Algumas vezes, uma área</p><p>mediana, glabra, está presente continuamente na pele modificada ao redor das</p><p>narinas. O extenso plano nasolabial úmido e glandular dos bovinos e o disco rostral</p><p>dos suínos são bons exemplos disso. A área de pele modificada frequentemente é</p><p>muito mais estreita e pode ser dividida em um sulco mediano (filtro) como nos cães.</p><p>E nos equinos, um tegumento piloso se estende por todo o lábio superior.</p><p>A cavidade no interior das arcadas dentárias — a cavidade oral propriamente</p><p>dita — é recoberta pelo palato, limitada lateralmente pelos dentes, gengivas e</p><p>margens das maxila e mandíbula, assoalhada pela língua e a pequena área de</p><p>mucosa não coberta pela língua.</p><p>A maioria de suas paredes é rígida e, quando a boca está fechada, o tamanho</p><p>da cavidade pode ser alterado apenas por meio do levantamento ou abaixamento da</p><p>língua e assoalho.</p><p>A parte rostral do teto, mais ampla, assenta-se sobre uma prateleira óssea</p><p>formada pelos processos palatinos dos ossos incisivo, maxilar e palatino e é</p><p>conhecida como palato duro. Este se continua caudalmente, sem demarcação</p><p>externa, com o palato mole, no qual uma aponeurose de tecido conjuntivo substitui o</p><p>osso.</p><p>O palato duro é geralmente chato e é coberto por espessa mucosa moldada</p><p>em uma série de cristas mais ou menos transversas (rugas), as quais podem guiar o</p><p>alimento para trás.</p><p>Figura 4 - Palato duro e palato mole do cão. 1, filtro; 2, papila incisiva; 3, palato duro com cristas; 4,</p><p>palato mole; 5, arco palatoglosso; 6, óstio intrafaríngeo; 7, arcos palatofaríngeos; 8, esôfago.</p><p>10</p><p>Figura 5 - Representação esquemática do palato duro de cão.</p><p>Amanda (2024).</p><p>Figura 6 - Representação esquemática do palato duro de cão.</p><p>Amanda (2024).</p><p>2.1. Língua</p><p>A língua ocupa a maior parte da cavidade oral, mas também se estende para a</p><p>orofaringe. Apresenta raiz e corpo fixos, o ápice livre e é um órgão altamente</p><p>muscular, capaz realizar movimentos vigorosos e precisos, como na apreensão de</p><p>alimentos, na sucção de líquidos, na higiene do corpo e manipulação do alimento</p><p>dentro da boca.</p><p>A mobilidade é obtida pela limitação das fixações à parte mais caudal, o que</p><p>deixa o ápice livre para se movimentar tanto dentro quanto fora da boca. A raiz se fixa</p><p>ao osso hioide, e o corpo à região da sínfise da mandíbula.</p><p>11</p><p>Figura 7 - Língua do cão. O palato mole e o esôfago estão seccionados no plano mediano. 1, ápice; 2,</p><p>corpo; 3, raiz, formando o assoalho da orofaringe; 4, sulco mediano; 5, papila valada; 6, papilas</p><p>fungiformes; 7, arco palatoglosso; 8, tonsila palatina na fossa tonsilar; 9, epiglote; 10, frênulo.</p><p>Figura 8 - Estruturas da língua de cão (esquerda) e gato (direita).</p><p>12</p><p>Figura 9 - Língua e mandíbula bovina. 1, Palato mole, seccionado; 2, arco palatoglosso; 3, papilas</p><p>valadas; 4, 4’ e 4”, papilas filiformes, lenticulares e cônicas, respectivamente; 5, fossa lingual; 6, papilas</p><p>bucais; 7, primeiro pré-molar inferior (P2); 8, primeiro molar inferior (M1).</p><p>De forma geral, a língua corresponde à cavidade oral. O ápice é achatado</p><p>dorsoventralmente; a parte média que se segue é de certa forma triangular, de um</p><p>lado a outro (juntando-se ao assoalho oral por uma prega de mucosa ou frênulo); e a</p><p>raiz é uniformemente larga para permitir a entrada dos músculos que seguem à frente</p><p>a partir do osso hióide.</p><p>Grande parte da superfície é coberta por uma variedade de papilas. Algumas,</p><p>como as delicadas papilas filiformes, que são espalhadas largamente sobre a língua,</p><p>oferecem proteção adicional; as papilas cônicas duras, que tornam as línguas dos</p><p>felinos tão eficientes para raspar, são uma versão maior delas. Outras papilas</p><p>possuem botões gustativos e têm distribuição mais restrita,característica para cada</p><p>espécie, como por exemplo, papilas fungiformes, folhadas e valadas.</p><p>13</p><p>Figura 10 - Vista dorsal da língua e epiglote de cão (ca), gato (fe), suíno (su), bovino (bo) e equino (eq).</p><p>1, tonsila palatina; 2, sulco mediano; 3, papilas filiformes; 4, papilas folhadas; 5, epiglote; 6, seio tonsilar;</p><p>7, raiz da língua; 8, papila valada; 9, toro da língua; 10, fossa lingual; 11, papilas fungiformes.</p><p>Figura 11 - papilas de bovino.</p><p>14</p><p>Figura 12 - Papilas linguais de bovino.</p><p>2.2. Glândulas salivares</p><p>Numerosas glândulas salivares drenam para o interior da cavidade oral. Sua</p><p>secreção, a saliva, mantém úmido o interior da boca e, quando misturada ao alimento,</p><p>facilita a mastigação. Quando o alimento é finalmente transformado em um bolo para</p><p>a deglutição, a saliva lubrifica sua passagem.</p><p>Pequenas glândulas salivares têm sido mencionadas como características dos</p><p>lábios, bochechas e língua; outras estão presentes no palato mole, faringe e esôfago.</p><p>Diferentemente das glândulas menores, as quais produzem principalmente</p><p>uma secreção mucosa, algumas dessas glândulas maiores produzem secreção mais</p><p>fluida (serosa) contendo a enzima ptialina, que desempenha um papel menor na</p><p>digestão de carboidratos.</p><p>Como a secreção serosa da parótida é importante para umedecer e amolecer</p><p>o alimento, a glândula é maior, e o fluxo mais copioso, nos herbívoros.</p><p>15</p><p>Figura 13 - As principais glândulas salivares do cão, suíno, bovino e equino. Laranja: glândula</p><p>parótida; branco: glândula mandibular; amarelo: glândulas sublinguais; vermelho: glândulas bucais. 1,</p><p>ducto parotídeo; 2, ducto mandibular; 3, parte compacta (monostomática) da glândula sublingual; 4,</p><p>parte difusa (polistomática) da glândula sublingual; 5, glândulas bucais dorsais (glândula zigomática</p><p>no cão); 6, glândulas bucais médias; 7, glândulas bucais ventrais.</p><p>Figura 14 - As glândulas salivares do cão. 1, glândula parótida; 2, ducto parotídeo; 3, glândula</p><p>mandibular; 4, ducto mandibular; 5, parte caudal da glândula sublingual compacta; 6, parte rostral da</p><p>glândula sublingual compacta; 7, ducto sublingual principal; 8, glândula zigomática.</p><p>A glândula mandibular produz secreção mista mucosa e serosa. Em geral</p><p>menor que a parótida, é mais compacta e se localiza próximo ao ângulo da mandíbula.</p><p>É uma estrutura ovóide muito regular, moderadamente grande no cão. É muito maior</p><p>nos herbívoros, nos quais tem posição mais profunda. Essa glândula também drena</p><p>por meio de um ducto grande e único que corre ventral à membrana mucosa do</p><p>assoalho da boca, próximo ao frênulo da língua, abrindo-se na carúncula sublingual.</p><p>A glândula sublingual é também comumente mista e, algumas vezes,</p><p>constituída de partes: uma é compacta (monostomática) drenada por um ducto único,</p><p>e a outra é difusa (polistomática) e abre-se por vários ductos pequenos.</p><p>16</p><p>2.3. Dentes</p><p>A dentição dos mamíferos possui certas características que, em combinação,</p><p>ou mesmo individualmente, são diagnósticas da classe. O complemento dos dentes</p><p>limita-se a um razoavelmente pequeno número, raramente excedendo 44 na dentição</p><p>permanente, a qual é determinada para cada espécie — embora variações pequenas</p><p>possam ocorrer.</p><p>Ao contrário da maioria dos outros vertebrados, os dentes se desenvolvem</p><p>diferentemente nas diversas regiões da boca, para melhor desempenho em funções</p><p>especiais; essa característica, conhecida como heterodontia, permite o</p><p>reconhecimento dos grupos incisivos, caninos, pré-molares e molares.</p><p>Uma única substituição dos dentes da primeira erupção é proporcionada por</p><p>um segundo conjunto, mais forte, mais bem adaptado a maxila e mandíbula maiores</p><p>e à mastigação mais vigorosa do adulto, conhecido como difiodontia.</p><p>Finalmente, os dentes são implantados em alvéolos dispostos ao longo das</p><p>margens da maxila e mandíbula.</p><p>Um dente consiste em coroa e raiz, de fácil distinção entre si. A coroa é</p><p>revestida pelo esmalte, um material branco muito resistente, calcificado, ligeiramente</p><p>opalescente, enquanto a raiz é revestida pelo cemento, um tecido mais flexível, menos</p><p>brilhante e amarelado. A dentina, que é também conhecida como marfim, fornece a</p><p>maior parte da substância do dente e contém uma pequena cavidade central que</p><p>abriga a polpa de tecido conjuntivo. A polpa se continua por um canal na raiz do dente</p><p>para se unir com o tecido conjuntivo na profundidade do alvéolo dentário.</p><p>Figura 15 - Secção longitudinal esquemática de um dente simples. 1, esmalte; 2, dentina; 3, cemento;</p><p>4, polpa; 5, forame apical; 6, ligamento periodontal; 7, alvéolo; 8, bochecha.</p><p>17</p><p>Figura 16 - Face oclusal de um equino mais jovem (A) com cálice visível e de um equino mais velho</p><p>(B), onde o cálice desapareceu, mas a estrela dentária ainda é visível.</p><p>As gengivas podem se retrair com o avanço da idade, expondo a parte cervical</p><p>da raiz, que é uma condição familiar em muitas pessoas mais velhas, ditas portadoras</p><p>de “dentes longos”. A condição contrária, na qual parte da coroa revestida pelo</p><p>esmalte está escondida abaixo da linha da gengiva, ocorre em muitos mamíferos; em</p><p>alguns, grande parte da coroa é inicialmente mantida reservada e exposta</p><p>gradualmente como compensação pelo atrito à superfície mastigatória. Esses dentes</p><p>com coroa alta são chamados de hipsodontes (ou hipseledontes) e são característicos</p><p>dos herbívoros, que ingerem alimento abrasivo. Mesmo nas espécies como os</p><p>primatas ou cães, com dentes de coroa baixa (braquidontes) adaptados a dieta mais</p><p>mole que produz menos corrosão, é comum que a parte da região coberta pelo</p><p>esmalte situe-se abaixo da gengiva quando o dente começa a ser usado. Por essas</p><p>razões, é útil a distinção entre a “coroa clínica” e a coroa anatômica: o primeiro termo</p><p>especifica a parte exposta do dente independentemente de sua estrutura, e o segundo</p><p>especifica a parte revestida pelo esmalte independentemente de sua localização.</p><p>Figura 17 - Arcada mandibular e maxilar de um equino durante erupção (raízes dos dentes expostas).</p><p>18</p><p>Figura 18 - Arcada mandibular de um equino durante erupção (raízes dos dentes expostas).</p><p>A dentição do cão, embora relativamente simples, é bem adaptada aos hábitos</p><p>alimentares do animal. Os dentes incisivos são pequenos e semelhantes a estacas, e</p><p>comprimidos juntos na parte rostral da maxila ou mandíbula.</p><p>O nome incisivo sugere que esse dente é usado para dividir o alimento antes</p><p>que seja levado para o interior da boca, mas nessa espécie o corte mais eficaz é</p><p>fornecido por dentes localizados mais atrás na boca. Os incisivos no cão são</p><p>empregados principalmente para mordiscar e fazer higiene do corpo.</p><p>Os caninos são dentes grandes, curvados e lateralmente comprimidos de forma</p><p>simples, e capazes de causar um ferimento profundo; são usados para fins agressivos</p><p>e de preensão. Grande parte de cada dente canino está implantada na maxila; a</p><p>extensão e a posição da parte embutida do canino superior são reveladas por uma</p><p>crista óssea sobre o alvéolo.</p><p>Os pré-molares do cão formam uma série irregular, mas regularmente</p><p>espaçada, de tamanho e complexidade crescentes. O prolongamento da lâmina</p><p>permite uma divisão mais rápida e nítida, enquanto as fendas ajudam a manter o</p><p>alimento no lugar.</p><p>Os molares mais caudais também possuem um potencial cortante, mas são</p><p>desenvolvidos principalmente para trituração e se distinguem pelas suas superfícies</p><p>mastigatórias mais largas e extensas.</p><p>19</p><p>Figura 19 - Representação esquemática dos dentes de cão.</p><p>Amanda (2024).</p><p>Figura 20 - Representação esquemática dos dentes de cão.</p><p>Amanda (2024).</p><p>20</p><p>Figura 21 - Vista lateral da dentição permanente do cão.</p><p>Uma peculiaridade evidente nos ruminantes é o pulvino dentário, um toro rígido,</p><p>porém flexível, na posição geralmente ocupada pelos dentes incisivos superiores</p><p>(ausentes nesses animais); o pulvino age como um equivalente aos incisivos inferiores</p><p>durante a pastagem.</p><p>Figura 22 - Palato duro de um bovino.</p><p>Na dentição do suíno, as coroas largas dos molares e pré-molares carregam</p><p>uma formação elaborada de duras cúspides que os tornam instrumentos de trituração</p><p>bastante eficazes; os dentes desse tipo são chamados bunodontes (Fig. 3-18). Os</p><p>dentes caninos dessa espécie permanecem abertos na extremidade embutida (raiz),</p><p>de forma que o acréscimo de tecidos dentários persiste por toda a vida do animal.</p><p>21</p><p>Figura 23 - Dentição permanente do suíno, maxila (A) e mandíbula (B). 1, superfície lingual; 2, superfície</p><p>vestibular; 3, superfície distal; 4, superfície mesial.</p><p>As outras espécies são mais restritas à dieta herbívora do que à onívora, e a</p><p>dentição dos equinos e ruminantes deve permitir desgaste contínuo e considerável</p><p>nas superfícies mastigatórias. Essa necessidade é obtida pelo alargamento dessas</p><p>superfícies, aumento na altura das coroas, as quais são exteriorizadas apenas</p><p>gradualmente (o desenvolvimento retardado das raízes permite que o crescimento</p><p>continue por alguns anos após a ocorrência do desgaste dos dentes) e, sobretudo,</p><p>pelo complexo enrugamento do esmalte. Esse enrugamento tem duas importantes</p><p>consequências. Aumenta a quantidade do componente mais rígido e durável do dente</p><p>que é exposto e, portanto, reduz a porcentagem de atrito.</p><p>Oferece uma alternância entre materiais mais rígidos e mais flexíveis, os quais,</p><p>sofrendo desgaste em velocidades diferentes, produzem uma irregularidade na</p><p>superfície mastigatória, o que lhe concede uma qualidade de lima.</p><p>22</p><p>Figura 24 - Dentição permanente do cavalo, maxila (A) e mandíbula (B). 1, dente de lobo (P1); 2,</p><p>diastema.</p><p>Figura 25 - Dentição permanente do bovino, maxila (A) e mandíbula (B).</p><p>23</p><p>Figura 26 - Secção de um dente incisivo (esquerdo) e molar (direito) de equino.</p><p>Figura 27 - Dente incisivo do equino, dente canino do gato e primeiro molar inferior do cão.</p><p>Figura 28 - Dentição de um suíno (vista lateral).</p><p>24</p><p>3. O esôfago</p><p>O esôfago conduz alimento da faringe ao estômago. Esse tubo relativamente</p><p>estreito tem início dorsalmente à cartilagem cricoide da laringe e segue a traqueia ao</p><p>longo do pescoço. Segue então seu caminho sobre a margem dorsal do fígado, onde</p><p>se junta ao estômago na região da cárdia. Portanto, é constituído de partes cervical,</p><p>torácica e abdominal, embora a última seja muito curta.</p><p>Figura 29 - Vista lateral do pescoço bovino. Na parte média, o esôfago situa-se na face dorsolateral</p><p>esquerda da traqueia. 1, esôfago; 2, traqueia; 3, musculatura faríngea; 4, músculo esternocefálico; 5,</p><p>ligamento da nuca.</p><p>4. O estômago unicavitário</p><p>O estômago, intercalado entre o esôfago e o intestino delgado, é a parte</p><p>dilatada do trato digestório na qual se inicia o processo de digestão. É sucedido pelo</p><p>intestino, que consiste em intestino delgado cranial (o principal órgão de digestão e</p><p>absorção na maioria das espécies) e intestino grosso caudal (geralmente muito mais</p><p>curto e especialmente relacionado com a desidratação dos resíduos alimentares).</p><p>Entretanto, entre os mamíferos há diversidade considerável na forma e na</p><p>estrutura dessas duas partes do sistema digestório, que são intimamente associados</p><p>quanto à função e coletivamente conhecidos como trato gastrointestinal. Muita dessa</p><p>diversidade é claramente adaptativa e reflete a dieta habitual dos vários grupos. A</p><p>dieta concentrada dos carnívoros é mais facilmente digerível, e esses animais têm</p><p>estômago pequeno e simples (Fig. 3-35, A) e intestino relativamente curto e não</p><p>complexo. O alimento dos herbívoros não é tão facilmente trabalhado; tem valor</p><p>nutritivo menor e deve ser consumido em grande quantidade. Além disso, a maior</p><p>parte consiste em celuloses e outros carboidratos complexos que não são suscetíveis</p><p>à ação das enzimas digestivas dos mamíferos. Essas substâncias podem ser</p><p>utilizadas somente se forem primeiramente quebradas</p><p>por microorganismos</p><p>simbióticos; esse é um processo relativamente lento que requer a provisão de uma</p><p>grande câmara de fermentação onde o alimento pode ser estocado em um ambiente</p><p>favorável à multiplicação e à atividade dos micro-organismos. Em algumas espécies</p><p>de herbívoros, tal câmara é suprida pelo estômago grande e subdividido, em outras</p><p>25</p><p>por um volumoso e complicado intestino grosso. Os ruminantes ilustram a primeira</p><p>alternativa; os equinos, a segunda.</p><p>Figura 30 - (A) Superfície visceral do estômago (cão). 1, cárdia; 2, piloro. (B) Interior do estômago (cão).</p><p>1, abertura cárdica; 2, fundo; 3, corpo; 4, antro pilórico.</p><p>Figura 31 - Estômago de equino, região cárdica e pilórica.</p><p>26</p><p>Figura 32 - Projeção visceral da parede abdominal ventral de equino. A posição do ápice é variável. 1,</p><p>cartilagem xifoide; 2, corpo do ceco; 3, ápice do ceco; 4, cólon ventral, direito; 5, flexura diafragmática</p><p>ventral; 6, cólon ventral esquerdo; 7, flexura diafragmática dorsal.</p><p>Figura 33 - Estômago de suíno, região cárdica.</p><p>27</p><p>Figura 34 - Estômago completamente aberto (parte cárdica à direita) de suíno. 1, região não</p><p>glandular; 2a, região glandular da parte cárdica; 2b, região com as glândulas gástricas propriamente</p><p>ditas; 2c, região com glândulas pilóricas.</p><p>Figura 35 - Tratos gastrointestinais do cão (A) e do cavalo (B) dispostos em um plano. 1, estômago; 2,</p><p>intestino delgado; 3, ceco; 4, cólon ascendente; 5, cólon descendente.</p><p>Considerando sua forma, eles podem ser divididos em estômago unicavitário,</p><p>com apenas um compartimento, e pluricavitário, com diversos compartimentos.</p><p>O revestimento mucoso do estômago glandular (simples) é composto por uma</p><p>mucosa glandular com um epitélio colunar simples. Estômagos compostos</p><p>apresentam uma área de mucosa glandular, e outra revestida por uma mucosa</p><p>aglandular coberta por um epitélio escamoso estratificado.</p><p>Gatos e cães apresentam estômago unicavitário simples. O equino e o suíno</p><p>possuem estômago unicavitário composto, sendo que a maioria do estômago é</p><p>28</p><p>revestida por mucosa glandular e uma pequena parte cranial por mucosa aglandular.</p><p>Os ruminantes apresentam um estômago pluricavitário composto, o qual compreende</p><p>quatro compartimentos, três dos quais (rúmen, retículo, omaso) são revestidos por</p><p>mucosa aglandular e um (abomaso) por mucosa glandular.</p><p>O estômago (ventrículo) recebe o alimento do esôfago e o retém por algum</p><p>tempo antes de descarregá-lo no duodeno, a primeira parte do intestino delgado. O</p><p>estômago unicavitário é uma dilatação em forma de saco do canal alimentar. As</p><p>principais divisões do estômago são:</p><p>● Parte cárdica;</p><p>● Fundo gástrico;</p><p>● Corpo gástrico;</p><p>● Parte pilórica.</p><p>Ele possui uma face visceral e outra parietal e uma curvatura maior e outra</p><p>menor.</p><p>A entrada do estômago é denominada cárdia e a saída se chama piloro, ambas</p><p>controladas por esfíncteres. A cárdia, onde o esôfago se une ao estômago, situa-se à</p><p>direita do plano mediano do abdome; o piloro, que prossegue em direção ao duodeno,</p><p>situa-se mais à esquerda. A forma e a posição exatas do estômago dependem do grau</p><p>de preenchimento.</p><p>O corpo é a parte média maior do estômago, a qual se prolonga desde o fundo</p><p>gástrico à esquerda até o piloro na direita.</p><p>A parte pilórica pode ser dividida em antro pilórico e canal pilórico em direção</p><p>ao duodeno. O fundo gástrico é uma invaginação cega que emerge acima do corpo e</p><p>da cárdia. Ele tem a forma de um saco cego no equino e forma o divertículo ventricular</p><p>ou gástrico no suíno.</p><p>A face parietal do estômago se situa contra o diafragma e o fígado, enquanto a</p><p>face visceral está em contato com os órgãos abdominais adjacentes situados na</p><p>direção caudal.</p><p>A curvatura maior é a margem convexa ventral do estômago que se prolonga</p><p>desde a cárdia até o piloro, o qual propicia fixação para o omento maior. A curvatura</p><p>menor é a margem dorsal côncava do estômago e também segue o trajeto da cárdia</p><p>até o piloro. Ela está conectada ao fígado pelo omento menor. A curvatura menor não</p><p>é uniformemente côncava, pois apresenta a incisura angular. Em alguns indivíduos,</p><p>especialmente em gatos, essa incisura é bastante pronunciada e pode causar</p><p>dificuldades durante gastroscopia.</p><p>A arquitetura geral da parede gástrica corresponde à do esôfago. Ela compõe-</p><p>se das seguintes camadas, desde a mais interna até a mais externa:</p><p>● Mucosa;</p><p>● Submucosa;</p><p>● Camada muscular;</p><p>● Peritônio.</p><p>A mucosa, próxima ao local onde o esôfago se une ao estômago, é aglandular,</p><p>enquanto a mucosa glandular reveste o restante do estômago. A mucosa aglandular</p><p>é esbranquiçada e costuma estar ligeiramente dobrada; sua superfície consiste em</p><p>um epitélio escamoso estratificado e cornificado. No equino, a união entre a mucosa</p><p>aglandular e a mucosa glandular é marcada por uma ondulação, a margem</p><p>pregueada. A mucosa glandular forma pregas e caracteriza-se por uma grande</p><p>quantidade de sulcos e depressões microscópicos.</p><p>29</p><p>5. O estômago pluricavitário</p><p>O estômago dos ruminantes domésticos é composto por quatro câmaras:</p><p>● Rúmen;</p><p>● Retículo;</p><p>● Omaso;</p><p>● Abomaso.</p><p>O rúmen, o retículo e o omaso costumam ser referidos coletivamente como</p><p>proventrículos, os quais possuem uma mucosa aglandular e são responsáveis pela</p><p>destruição enzimática dos carboidratos complexos, especialmente a celulose, a qual</p><p>constitui uma grande parte da dieta regular de ruminantes, e a produção de ácidos</p><p>graxos de cadeia curta (propionato, butirato e acetato) com auxílio de micróbios.</p><p>A última câmara, o abomaso, possui uma mucosa glandular e é comparável ao</p><p>estômago unicavitário dos outros mamíferos domésticos.</p><p>Todas as quatro câmaras se derivam de uma construção gástrica fusiforme</p><p>durante o desenvolvimento embrionário sem a contribuição do esôfago, o que já havia</p><p>sido proposto antigamente devido ao revestimento aglandular dos proventrículos.</p><p>As diferentes câmaras podem ser identificadas como expansões dessa</p><p>construção fusiforme no embrião em estágios iniciais.</p><p>Elas apresentam taxas de crescimento desiguais durante o desenvolvimento</p><p>embrionário e fetal. No momento do nascimento, o abomaso é a maior parte do</p><p>estômago, o que é adequado, já que é a única parte com função imediata para a</p><p>recepção e a digestão de leite, desviando os proventrículos.</p><p>O estômago volumoso domina a topografia abdominal dos ruminantes ao</p><p>ocupar quase a totalidade da metade esquerda do abdome e uma parte significativa</p><p>da metade direita. O rúmen situa-se na metade esquerda do abdome, o retículo na</p><p>parte cranial e o omaso, na metade direita.</p><p>Dependendo do tamanho do animal, a capacidade total do estômago bovino</p><p>adulto é de 60 a 100 litros, 80% dos quais se referem ao rúmen.</p><p>Figura 36 - A, Estômago bovino, lado esquerdo. B, Estômago bovino, lado direito. 1, retículo; 2, omaso;</p><p>3, abomaso; 4, rúmen.</p><p>5.1. Rúmen</p><p>O rúmen se parece com um saco grande e comprimido lateralmente que</p><p>preenche quase a totalidade da metade esquerda do abdome e cruza a linha média</p><p>para a metade direita com sua parte caudoventral. Ele se prolonga a partir do</p><p>diafragma cranialmente até a abertura pélvica cranial caudalmente. O rúmen possui</p><p>30</p><p>uma face parietal, adjacente ao diafragma e à parede abdominal lateral esquerda e</p><p>ventral, e uma face visceral, contra o fígado, os intestinos, o omaso e o abomaso.</p><p>Essas faces se encontram na curvatura dorsal, em oposição ao teto da</p><p>cavidade abdominal, e na curvatura em direção ao assoalho da cavidade abdominal.</p><p>O rúmen é dividido em várias partes por inflexões das paredes, os pilares do</p><p>rúmen, os quais se projetam para o lúmen.</p><p>Figura 37 - Papilas ruminais de bovino.</p><p>5.2. Retículo</p><p>O retículo está intimamente relacionado ao rúmen no que se refere à estrutura</p><p>e função, e muitos autores preferem descrever um compartimento combinado</p><p>ruminorreticular. O retículo esférico</p><p>é muito menor que o rúmen e se situa</p><p>imediatamente cranial a este último em contato com a face caudal do diafragma. Ele</p><p>se posiciona imediatamente ventral à junção gastroesofágica e acima do processo</p><p>xifóide do esterno.</p><p>A mucosa reticular é aglandular e revestida com um epitélio estratificado,</p><p>semelhante ao da mucosa do rúmen. Ela apresenta um padrão de fava característico</p><p>formado por cristas que delineiam células de 4, 5 e 6 lados. Essas cristas e os</p><p>assoalhos celulares entre elas apresentam papilas curtas. O músculo liso da parede</p><p>ruminorreticular se dispõe em duas camadas, uma camada externa mais fina e outra</p><p>interna mais espessa, cujas fibras se orientam em um ângulo quase perpendicular</p><p>umas às outras. A sequência regular das contrações ruminorreticulares mescla e</p><p>redistribui o conteúdo do estômago e desempenha uma função importante na</p><p>regurgitação do alimento para remastigação.</p><p>31</p><p>Figura 38 - Interior do retículo bovino.</p><p>5.3. Omaso</p><p>O omaso se situa dentro da parte intratorácica do abdome à direita do</p><p>compartimento ruminorreticular. Ele tem o formato de uma esfera achatada</p><p>bilateralmente no bovino e forma de feijão no caprino e no ovino. O omaso se</p><p>comunica com o retículo pelo óstio reticulomasal e com o abomaso pelo amplo óstio</p><p>omasoabomasal oval. O óstio omasoabomasal é acompanhado de cada lado por duas</p><p>pregas mucosas.</p><p>Acredita-se que tais pregas são capazes de fechar essa abertura para impedir</p><p>o refluxo do abomaso para o omaso.</p><p>As duas aberturas são conectadas pelo sulco omasal. O interior é ocupado por</p><p>uma profusão de lâminas paralelas que emergem do teto e dos lados e se projetam</p><p>para o assoalho, deixando espaço para o canal omasal, cujo assoalho é o sulco</p><p>omasal. As lâminas em forma de meia-lua possuem comprimentos e tamanhos</p><p>diferentes e dividem o lúmen em uma série de recessos estreitos. As lâminas são</p><p>camadas musculares delgadas cobertas com uma mucosa aglandular, a qual forma</p><p>papilas curtas.</p><p>As contrações do omaso são bifásicas. A primeira fase pressiona o alimento do</p><p>canal omasal para os recessos omasais, onde ocorre a reabsorção de água. A</p><p>segunda fase descarrega os conteúdos desidratados dos recessos omasais para o</p><p>abomaso.</p><p>32</p><p>Figura 39 - Secção de um omaso bovino.</p><p>5.4. Abomaso</p><p>O abomaso corresponde ao estômago unicavitário dos outros mamíferos</p><p>domésticos e, de forma análoga, pode ser dividido em fundo gástrico, corpo gástrico</p><p>e piloro. Ele apresenta uma curvatura maior voltada para a direção ventral e uma</p><p>curvatura menor voltada para a direção dorsal. O abomaso é revestido por uma</p><p>mucosa glandular que contém as glândulas gástricas próprias e as glândulas pilóricas.</p><p>Durante o período de amamentação o bovino produz renina, essencial para a digestão</p><p>do leite. A área da face mucosa se expande com a presença de pregas, as quais</p><p>apresentam orientação espiral e não desaparecem quando o estômago se distende.</p><p>A posição e a relação do abomaso apresentam grande variação e dependem</p><p>do grau de preenchimento dos proventrículos e de suas atividades. A idade e a</p><p>gestação são outros fatores que influenciam sua topografia, embora existam limites</p><p>para variações normais além das quais as anormalidades produzem perturbações</p><p>digestivas e podem colocar a vida em risco. O deslocamento abomasal, seja para a</p><p>esquerda ou para a direita, é um distúrbio reconhecido, especialmente em vacas</p><p>leiteiras.</p><p>Figura 40 - Interior do abomaso ovino.</p><p>Abomaso</p><p>33</p><p>6. O intestino</p><p>O intestino inicia-se no piloro e continua até o ânus. É dividido em intestino</p><p>delgado cranial e intestino grosso caudal, porções que nem sempre diferem muito em</p><p>calibre, como seus nomes sugerem. Entretanto, o limite se torna óbvio pelo</p><p>crescimento de um divertículo cego, o ceco, na origem do intestino grosso. O intestino</p><p>delgado consiste em três partes: um duodeno inicial, que é curto e estritamente fixo</p><p>na posição; e o jejuno e o íleo, que são sustentados pelo grande mesentério. O</p><p>intestino grosso também compreende três partes; o reconhecimento do ceco de fundo</p><p>cego não apresenta problema, mas a separação entre o cólon e o reto é</p><p>arbitrariamente situada na abertura pélvica. O reto se une ao curto canal anal que leva</p><p>ao exterior, mas esse canal não é parte do intestino em senso estrito.</p><p>Figura 41 - Trato intestinal do cão (esquemático). 1, estômago; 2, duodeno descendente; 3, flexura</p><p>caudal; 4, duodeno ascendente; 5, jejuno; 6, íleo; 7, ceco; 8, cólon ascendente; 9, cólon transverso; 10,</p><p>cólon descendente; 11, ampola retal; 12, linfonodos jejunais.</p><p>6.1. O intestino delgado</p><p>As principais funções do intestino delgado são digestão e absorção. A digestão</p><p>é definida como a degradação enzimática do material ingerido em partículas prontas</p><p>para absorção. Abrem-se ductos pancreáticos e biliares no intestino delgado: a</p><p>secreção do pâncreas é a maior fonte de enzimas, e a bile é responsável pela</p><p>emulsificação da gordura, essencial para a digestão.</p><p>O intestino delgado se inicia no piloro e termina na junção cecocólica. Ele se</p><p>compõe de três partes:</p><p>● Duodeno;</p><p>● Jejuno;</p><p>● Íleo.</p><p>A parte inicial prossegue do piloro do estômago e passa em direção à parede</p><p>abdominal direita antes de se desviar caudalmente em direção à abertura pélvica</p><p>cranial. O duodeno então passa medialmente ao redor da raiz cranial do mesentério</p><p>34</p><p>antes de se dirigir no sentido cranial por uma pequena extensão. Ele termina ao se</p><p>voltar ventralmente, onde prossegue como jejuno.</p><p>O jejuno é a parte mais extensa do intestino delgado entre o duodeno e o íleo.</p><p>Ele também apresenta a maior mobilidade e liberdade de todo o canal alimentar</p><p>devido ao longo mesojejuno, o qual suspende o jejuno e o íleo do teto abdominal. O</p><p>mesojejuno se une ao mesoíleo e apresenta a forma de um grande leque pendurado</p><p>no teto abdominal (mesentério próprio), sendo que as alças do jejuno e o íleo se</p><p>situam em sua margem distal livre.</p><p>O íleo é a porção terminal bastante curta do intestino delgado. A distinção entre</p><p>jejuno e íleo é definida pela extensão proximal da prega ileocecal.</p><p>Ele termina na união ileocecocólica com o óstio ileal na papila ileal, cuja</p><p>localização exata varia de acordo com a espécie. A forte camada muscular o deixa</p><p>mais firme que o jejuno e a mucosa é rica em tecido linfoide, o qual se agrega para</p><p>formar os nódulos linfáticos agregados (placas de Peyer). Essa mesma camada</p><p>muscular bem-desenvolvida é responsável pelo transporte unidirecional do material</p><p>ingerido até o ceco.</p><p>6.2. O intestino grosso</p><p>O intestino grosso pode ser dividido nas seguintes partes em todos</p><p>os mamíferos domésticos:</p><p>● Ceco;</p><p>● Colo (cólon), subdividido em:</p><p>– Colo ascendente;</p><p>– Colo transverso;</p><p>– Colo descendente;</p><p>● Reto.</p><p>Figura 42 - Desenho esquemático do intestino grosso dos mamíferos domésticos: carnívoros (Car),</p><p>suínos (su), ruminantes (Ru), e equinos (eq). A parte cranial é a superior direita. 1, íleo; 2, ceco; 3,</p><p>cólon ascendente; 4, cólon transverso; 5, cólon descendente; 6, reto e ânus; 7, aorta; 8, artéria celíaca;</p><p>9, 9′, artérias mesentéricas cranial e caudal; 10, 10′ flexuras pélvica e diafragmática dorsal do cólon</p><p>ascendente; 11, 11′, alças proximal e distal do cólon ascendente.</p><p>35</p><p>O ceco costuma ser descrito como a primeira parte do intestino grosso. Trata-</p><p>se de um tubo cego, cuja delimitação do colo é marcada pela entrada do íleo. Ele se</p><p>comunica com o íleo pelo óstio ileal e com o colo pelo óstio cecocólico.</p><p>Em carnívoros, em ruminantes e no equino, o ceco posiciona-se na metade</p><p>direita do abdome; no suíno ele se encontra na metade esquerda. Ele se fixa ao íleo</p><p>pela prega ileocecal, a qual define a extensão proximal do íleo. No cão, o ceco é curto</p><p>e apresenta forma espiral. Ao contrário dos outros mamíferos domésticos, ele não</p><p>possui uma comunicação direta com o íleo, mas se une ao colo, formando um tubo</p><p>contínuo com o íleo para um dos lados. No</p><p>gato o ceco é ainda menor e tem o formato</p><p>de uma vírgula.</p><p>Figura 43 - A junção ileocólica e sua relação com o ceco no cão. 1, íleo; 2, ceco; 3, cólon ascendente;</p><p>4, orifício ileal circundado por prega anular; 5, orifício cecocólico.</p><p>Conforme a nomenclatura adotada para anatomia humana, o colo do intestino</p><p>se divide em três segmentos:</p><p>● Colo ascendente;</p><p>● Colo transverso;</p><p>● Colo descendente.</p><p>A disposição anatômica que forma a base dessa divisão se encontra apenas</p><p>em cães e em gatos. Nessas espécies, o colo ascendente é curto e passa</p><p>cranialmente na direita; o colo transverso corre da direita para a esquerda, cranial à</p><p>raiz do mesentério. O colo descendente é longo e passa à esquerda da raiz de</p><p>mesentério caudalmente, onde, ao atingir a cavidade pélvica, prossegue como o reto.</p><p>Nos outros mamíferos domésticos, a forma e a topografia do colo são mais complexas,</p><p>sendo que o colo ascendente apresenta as modificações mais significativas.</p><p>O colo ascendente se inicia com o colo ventral direito no óstio cecocólico.</p><p>O colo transverso é curto e passa da direita para a esquerda no sentido cranial</p><p>à raiz do mesentério. Ele se caracteriza por duas faixas e se afunila rapidamente até</p><p>alcançar o diâmetro do colo descendente.</p><p>O colo descendente é semelhante ao jejuno quanto ao seu diâmetro e mede</p><p>cerca de 2 a 4 metros. Ele também está suspenso por um longo mesentério, mas pode</p><p>ser distinguido do mesojejuno por seu alto teor de gordura.</p><p>36</p><p>Figura 44 - Ceco e colo do equino.</p><p>7. Reto</p><p>Ao entrar na pelve, o colo descendente se torna o reto, o qual passa</p><p>caudalmente como a parte mais dorsal das vísceras pélvicas. Grande parte do reto é</p><p>suspensa pelo mesorreto, mas o segmento terminal é totalmente retroperitoneal. O</p><p>espaço retroperitoneal é preenchido com tecido mole rico em gordura. Antes de se</p><p>unir ao canal anal curto, o qual se abre para fora com o ânus, ele se dilata e forma a</p><p>ampola retal.</p><p>Figura 45 - Reto, canal anal e ânus de cão.</p><p>8. Canal anal</p><p>O canal anal é curto e constitui a parte terminal do canal alimentar, o qual se</p><p>abre para o exterior pelo ânus. O ânus é controlado por esfincteres anais externo e</p><p>interno. O esfincter interno compõe- se de músculo liso e é uma modificação da</p><p>camada circular da cobertura muscular do reto; o esfincter externo é um músculo</p><p>Cavidade do reto</p><p>Canal anal</p><p>Ânus</p><p>37</p><p>estriado que emerge das vértebras caudais. Na altura do ânus, o epitélio intestinal</p><p>colunar é substituído pelo epitélio cutâneo estratificado da pele.</p><p>Figura 46 - Canal anal do cão.</p><p>9. Estruturas peritoneais</p><p>O peritônio é composto por uma única camada de células mesoteliais</p><p>achatadas e sustentadas por um tecido fibroelástico que se insere, de maneira mais</p><p>ou menos firme, de acordo com a posição, nas estruturas subjacentes. De modo geral,</p><p>há quantidade considerável de gordura armazenada abaixo do peritônio e alguns</p><p>locais são mais favorecidos. Em animais saudáveis, a cavidade peritoneal é reduzida</p><p>a uma série de espaços entre os órgãos abdominais bastante próximos. A maioria</p><p>destes espaços tem dimensões capilares; o volume total de fluido peritoneal é,</p><p>portanto, pequeno — alguns mililitros em cães. Ainda assim, o fluido tem importância</p><p>vital, já que lubrifica as vísceras e permite que deslizem livremente umas sobre as</p><p>outras ou contra a parede abdominal no desempenho de suas funções ou caso sejam</p><p>deslocadas por outras atividades.</p><p>Figura 47 - Peritônio revestindo a parede abdominal internamente.</p><p>Peritônio (brilhante)</p><p>38</p><p>10. Sistema Urinário</p><p>Os órgãos urinários estão intimamente relacionados aos órgãos reprodutores</p><p>no que diz respeito ao desenvolvimento embrionário e à topografia anatômica. Eles</p><p>também compartilham segmentos terminais comuns, situados na cavidade pélvica.</p><p>Portanto, os dois conjuntos de órgãos costumam ser descritos sob uma única rubrica,</p><p>o aparelho urogenital.</p><p>Os órgãos urinários são os rins, ureteres, vesícula ou bexiga urinária e uretra. Os</p><p>rins pares produzem urina a partir do sistema circulatório por meio de filtração,</p><p>secreção, reabsorção e concentração. Os ureteres transportam a urina desde os rins</p><p>até a vesícula urinária, onde ela é armazenada até sua eliminação pela uretra.</p><p>11. Rins</p><p>Os órgãos urinários são os rins, ureteres, vesícula ou bexiga urinária e uretra.</p><p>Os rins pares produzem urina a partir do sistema circulatório por meio de filtração,</p><p>secreção, reabsorção e concentração. Os ureteres transportam a urina desde os rins</p><p>até a vesícula urinária, onde ela é armazenada até sua eliminação pela uretra.</p><p>A função principal do rim é manter a composição dos líquidos corporais dentro</p><p>do âmbito fisiológico. Ele remove produtos finais do metabolismo e excreta</p><p>substâncias do sangue pela filtração do plasma, inicialmente obtendo um grande</p><p>volume de líquidos, o ultrafiltrado, que também é chamado de urina primária. O</p><p>ultrafiltrado é sujeito a um novo processamento mediante o qual substâncias úteis (p.</p><p>ex., água, glicose, eletrólitos e aminoácidos) são reabsorvidas de forma seletiva e</p><p>substâncias desnecessárias são concentradas para eliminação. O produto final</p><p>desses processamentos é a urina secundária, que apresenta apenas 1-2% do volume</p><p>da urina primária.</p><p>Os rins também possuem funções endócrinas. Eles produzem o hormônio</p><p>renina, que converte a proteína plasmática angiotensinógena em angiotensina I. No</p><p>rim, a enzima de conversão transforma angiotensina I em angiotensina II, a qual causa</p><p>constrição arterial, aumentando a pressão sanguínea. A bradicinina é outro hormônio</p><p>produzido pelos rins, e causa dilatação dos vasos sanguíneos. A eritropoietina,</p><p>produzida pelos rins, intensifica a eritropoiese.</p><p>11.1. Localização</p><p>Os rins são estruturas pares que se situam retroperitonealmente comprimidos</p><p>contra a parede abdominal dorsal dos dois lados da coluna vertebral. Eles se situam</p><p>predominantemente na região lombar, mas se projetam cranialmente sob as últimas</p><p>costelas para a parte intratorácica do abdome. Sua posição muda em metade da</p><p>extensão de uma vértebra com o movimento do diafragma.</p><p>Nos mamíferos domésticos, com exceção do suíno, o rim direito se situa mais</p><p>cranialmente que o esquerdo e seu polo cranial faz contato com o processo caudado</p><p>do fígado e com o lobo hepático direito. Ele se posiciona em uma fossa do fígado ou</p><p>impressão renal, a qual ajuda a limitar sua movimentação. O rim esquerdo possui</p><p>maior mobilidade, já que não há uma impressão equivalente no fígado. Nos</p><p>ruminantes, o tamanho consideráveldo rúmen empurra o rim esquerdo em direção à</p><p>metade direita do abdome, onde ele é suspenso pelo longo e móvel mesonefro, caudal</p><p>ao rim direito. Cada rim é envolto em tecido adiposo, o qual o protege contra a pressão</p><p>dos órgãos vizinhos.</p><p>39</p><p>11.2. Formatos</p><p>Os rins são órgãos de cor pardoavermelhada, cuja forma varia</p><p>consideravelmente entre os mamíferos domésticos. A forma básica se assemelha a</p><p>um feijão como ocorre no cão, no gato, no ovino e no caprino. Os rins do suíno são</p><p>mais achatados, o rim direito do equino possui forma de coração, enquanto o rim</p><p>esquerdo apresenta forma intermediária entre um grão de feijão e uma pirâmide. O</p><p>rim bovino possui uma forma oval irregular e sua superfície apresenta fissuras que</p><p>dividem o órgão em diversos lobos. Os rins dos outros mamíferos domésticos, como</p><p>o cão, gato e pequenos ruminantes, possuem uma superfície lisa.</p><p>O rim pode ser descrito em termos de suas faces dorsal e ventral, margens</p><p>lateral e medial, e polos ou extremidades cranial e caudal. A margem medial do rim</p><p>possui uma depressão que forma o hilo renal, por onde a origem dilatada do ureter, a</p><p>pelve renal, deixa o rim, e vasos e nervos renais o penetram.</p><p>11.3. Estruturas</p><p>O parênquima renal é envolvido por uma cápsula fibrosa resistente, a qual o</p><p>adentra na face medial do rim para revestir as paredes do seio renal.</p><p>O parênquima do rim é visível e pode</p><p>ser dividido em:</p><p>● Córtex renal com:</p><p>– Zona periférica;</p><p>– Zona justamedular;</p><p>● Medula renal com:</p><p>– Zona externa;</p><p>– Zona interna.</p><p>O córtex renal é pardoavermelhado e possui uma aparência granular fina. O</p><p>córtex é recortado em lóbulos corticais por linhas radiadas, as quais identificam o</p><p>caminho das artérias radiadas.</p><p>A medula renal compõe-se de uma zona externa escura e uma zona interna</p><p>mais pálida, a qual possui estrias radiadas e se projeta até o seio renal.</p><p>Durante o desenvolvimento embrionário, todos os mamíferos atravessam um</p><p>estágio no qual os rins apresentam uma estrutura multilobular, embora na maioria das</p><p>espécies a quantidade de lobos se reduza consideravelmente pela fusão de lobos</p><p>individuais. O grau de fusão varia conforme a espécie.</p><p>No bovino e no suíno, a medula e seu córtex associado se dividem em lobos</p><p>piramidais. O ápice de cada lobo se volta para o seio renal e forma uma papila, a qual</p><p>se encaixa no cálice renal no seio renal ou no ureter. Os rins que retêm essa estrutura</p><p>recebem a denominação multipiramidal ou multilobado. Embora o rim do suíno</p><p>apresente uma superfície lisa, no bovino a organização multipiramidal do rim é</p><p>revelada pelas fendas que penetram o órgão entre os diferentes lobos da superfície.</p><p>No cão, no equino e no ovino, todos os lobos se fundem para formar uma única</p><p>massa medular envolvida por uma concha cortical contínua. A fusão une as papilas</p><p>em uma crista renal comum. Mesmo nessa categoria unipiramidal de rim, há</p><p>evidências de sua origem complexa: no cão e no gato, pseudopapilas se projetam</p><p>dorsal e ventralmente à crista renal, separadas por recessos da pelve renal.</p><p>Os seguintes tipos de rim podem ser diferenciados conforme o grau de fusão:</p><p>● Rins unilobados com uma superfície lisa e uma única papila renal: gato, cão, equino,</p><p>pequenos ruminantes;</p><p>40</p><p>● Rins multipiramidais com uma superfície lisa e múltiplas papilas: suíno;</p><p>● Rins multipiramidais com uma superfície lobulada e múltiplas papilas: bovino.</p><p>Figura 48 - Rins dos mamíferos domésticos com pelve renal, ureter e artéria e veia renais.</p><p>Figura 49 - Secção do rim multipiramidal de um bovino.</p><p>41</p><p>Figura 50 - Rim bovino dissecado para mostrar seu interior, semiesquemático. 1, ramos principais do</p><p>ureter; 2, cálice; 3, papilas renais; 4, córtex renal; 5, artéria interlobular.</p><p>Figura 51 - Rins direito (A) e esquerdo (B) de um equino (vista ventral).</p><p>Figura 52 - Rins esquerdo e direito de cão com cápsula renal</p><p>42</p><p>Figura 53 - Rim de suíno seccionado pelos polos e pelo hilo. 1, córtex; 2, medula; 3, papila; 4, pelve;</p><p>5, ureter; 6, artéria renal; 7, veia renal.</p><p>11.4. Unidades funcionais</p><p>As unidades funcionais do rim são os néfrons, ou túbulos renais, que são</p><p>responsáveis pela produção de urina. Túbulos coletores subsequentes são</p><p>responsáveis pela condução da urina para a pelve renal.</p><p>Eles formam um sistema de túbulos contorcidos contínuos dentro do rim, cuja</p><p>quantidade varia entre os diferentes mamíferos domésticos.</p><p>Cada néfron se inicia proximalmente com uma expansão cega, a cápsula</p><p>glomerular (cápsula de Bowman) de dupla camada que sofre uma depressão pelo</p><p>plexo esférico decapilares sanguíneos, o glomérulo.</p><p>Figura 54 - Estrutura das unidades funcionais do rim.</p><p>43</p><p>11.5. Vascularização</p><p>Mais de 20% do sangue arterial que é bombeado pelo ventrículo esquerdo para</p><p>as artérias passa pelos rins. Há uma variação significativa quanto à arquitetura</p><p>vascular exata entre as diferentes espécies, e uma descrição detalhada pode ser</p><p>encontrada na literatura especializada. O conhecimento do princípio básico da</p><p>vascularização renal é necessário para que se possa compreender os mecanismos</p><p>funcionais do rim.</p><p>Cada rim é irrigado por uma artéria renal, um ramo da aorta abdominal. A artéria</p><p>renal se divide em várias artérias interlobares no hilo do rim.</p><p>Figura 55 - Vascularização do rim.</p><p>11.6. Pelve renal</p><p>Nos mamíferos domésticos, com exceção do bovino, o ureter proximal se inicia</p><p>com uma expansão comum, a pelve renal, na qual se abrem todos os ductos papilares.</p><p>A pelve renal é localizada no interior do seio renal, mas está fusionada com o tecido</p><p>renal apenas ao redor das papilas. No cão e no gato, a pelve renal pode ser avaliada</p><p>por radiografias em estudos de contraste. Nessas espécies, a pelve renal se molda</p><p>ao redor da crista renal e se prolonga ventral e dorsalmente para formar recessos da</p><p>pelve, os quais se separam uns dos outros por projeções de tecido renal</p><p>(pseudopapilas). Recessos vizinhos também são separados pelos vasos</p><p>interlobulares.</p><p>Não há pelve renal no bovino. Nesse caso, a papila de cada lobo medular se</p><p>encaixa em um cálice formado pelos ramos terminais do ureter. Esses ramos se unem</p><p>44</p><p>em dois canais principais, os quais convergem dos dois polos do rim para formar um</p><p>único ureter.</p><p>Figura 56 - Pelve renal e artérias renais de um cão (preparado de corrosão).</p><p>Figura 57 - Pelve renal de cão (preparado de corrosão).</p><p>45</p><p>Figura 58 - Pelve renal do rim esquerdo de um equino (preparado de corrosão).</p><p>12. Ureter</p><p>O ureter é um tubo muscular posicionado caudalmente no espaço retroperitoneal</p><p>na extensão da parede corporal dorsal. Ele pode ser dividido em uma parte abdominal</p><p>e uma parte pélvica. Ao alcançar a cavidade pélvica, volta-se medialmente para entrar</p><p>no ligamento largo do útero nas fêmeas e no mesoducto deferente nos machos. O</p><p>ureter termina em uma inserção na face dorsolateral da vesícula urinária dentro de</p><p>seu ligamento lateral. No macho, cruza dorsalmente ao ducto deferente</p><p>correspondente. O ureter penetra a vesícula urinária em sentido oblíquo próximo ao</p><p>pescoço e corre intramuralmente entre a camada muscular e a mucosa da vesícula</p><p>urinária por cerca de 2 cm antes de abrir-se no lúmen da vesícula urinária por dois</p><p>óstios.</p><p>O comprimento do trajeto intramural impede o refluxo da urina para o ureter</p><p>quando a pressão se eleva dentro da vesícula urinária, mas não atrapalha a</p><p>continuação de seu preenchimento, já que a resistência costuma ser superada por</p><p>contrações peristálticas da parede uretérica.</p><p>46</p><p>Figura 59 - Rins, ureteres e vesícula urinária no teto da cavidade abdominal de cadela.</p><p>13. Vesícula urinária</p><p>A vesícula urinária é um órgão musculomembranoso oco cuja forma, tamanho</p><p>e posição variam conforme a quantidade de urina que contém. Quando contraída, a</p><p>vesícula é pequena e globular e se situa sobre ossos púbicos. Ela se prolonga em</p><p>direção ao abdome em carnívoros, mas está confinada à cavidade pélvica em animais</p><p>de grande porte. Durante seu preenchimento, aumenta gradualmente de tamanho e</p><p>assume formato de pera.</p><p>A vesícula urinária é revestida por um epitélio de transição. A mucosa da</p><p>vesícula possui pregas em padrão irregular quando a vesícula está vazia. Essas</p><p>pregas desaparecem durante a distensão, com exceção de duas pregas, as quais se</p><p>prolongam da abertura ureteral até o colo da vesícula urinária, onde se unem para</p><p>formar a crista uretral que é contínua com a uretra. A área triangular delimitada por</p><p>essas pregas recebe a denominação de trígono da vesícula urinária, e possui</p><p>sensibilidade intensificada pelo fato de ser uma região onde se localizam a maioria</p><p>das infecções.</p><p>47</p><p>Figura 60 - Interior da vesícula urinária do cão (esquerda) e intersecção ureterovesical (direita).</p><p>14. Uretra</p><p>Na fêmea, a uretra serve exclusivamente para o transporte de urina, enquanto</p><p>no macho ela canaliza a urina, o sêmen e secreções seminais. A uretra feminina se</p><p>projeta caudalmente no assoalho pélvico ventral ao trato reprodutor. Ela atravessa a</p><p>parede da vagina em sentido oblíquo e se abre com o óstio externo da uretra</p><p>ventralmente na união entre vagina e vestíbulo. O comprimento e o diâmetro da uretra</p><p>variam consideravelmente</p><p>entre os mamíferos domésticos. Ela é curta e larga no</p><p>equino e comparativamente longa no cão, no qual se abre em uma pequena elevação</p><p>cercada por dois sulcos. Na vaca e na porca, o músculo uretral envolve o divertículo</p><p>suburetral, o qual se abre juntamente com a uretra na vagina. Essa disposição pode</p><p>dificultar a cateterização. A estrutura da uretra feminina é contínua com a vesícula</p><p>urinária.</p><p>A uretra masculina se prolonga desde uma abertura interna no colo da vesícula</p><p>urinária até uma abertura externa na extremidade do pênis. Ela pode ser dividida em:</p><p>● Parte pélvica com:</p><p>– Parte pré-prostática ou intramural;</p><p>– Parte prostática; e</p><p>● Parte peniana.</p><p>A parte pélvica da uretra se inicia na abertura interna no colo da vesícula</p><p>urinária. Sua parte pré-prostática se prolonga da abertura interna até o colículo</p><p>seminal, um alargamento oval da crista uretral, a qual se projeta no lúmen da uretra.</p><p>Ele é acompanhado por aberturas na forma de ranhura dos ductos deferentes. A parte</p><p>prostática recebe a companhia dos ductos deferentes e vesiculares e atravessa a</p><p>próstata. A parte peniana da uretra se inicia no arco isquiático e sua descrição</p><p>acompanha a descrição do pênis no capítulo seguinte.</p><p>A parede uretral contém um plexo venoso em sua submucosa, a qual apresenta</p><p>propriedades eréteis e auxilia na continência urinária. A uretra é envolvida pelo</p><p>músculo uretral estriado em grande parte de sua extensão. Caudalmente, as fibras</p><p>musculares estão presentes nas faces ventral e lateral. A contração desses fascículos</p><p>musculares fecha o óstio externo da uretra. O controle voluntário do músculo uretral é</p><p>48</p><p>alcançado por meio de fibras somáticas do nervo pudendo, o qual também contém</p><p>fibras simpáticas e parassimpáticas.</p><p>Figura 61 - Vesícula urinária e origem da uretra (preparado de corrosão).</p><p>Figura 62 - Uretra de cão no interior do pênis com osso peniano (preparado de corrosão).</p><p>49</p><p>Figura 63 - Vesícula urinária de um bovino (vista interna).</p><p>50</p><p>15. Referências bibliográficas</p><p>1. DONE, Stanley H. Atlas colorido de anatomia veterinária do cão e</p><p>gato. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. Disponível em:</p><p>https://www.cemevcursos.com/uploads/5/0/2/1/5021635/atlas_colorido_de_anatomia</p><p>_veterinária_do_cão_e_gato.pdf. Acesso em: 22 mar. 2024.</p><p>2. KÖNIG, Horst Erich. Anatomia dos animais domésticos: texto e atlas</p><p>colorido. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Disponível em:</p><p>https://pt.slideshare.net/pauloviana8/anatomia-dos-animais-domesticos-konig-</p><p>6edpdf. Acesso em: 22 mar. 2024.</p><p>3. DYCE, K. M. Tratado de anatomia veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Elsevier, 2010. Disponível em: https://www.meulivro.biz/medicina-</p><p>veterinaria/anatomia-animal/1644/tratado-de-anatomia-veterinaria-4-edicao-pdf/.</p><p>Acesso em: 28 mar. 2024.</p><p>4. SINGH, Baljit. Tratado de Anatomia Veterinária. Rio de Janeiro: Grupo</p><p>GEN, 2019. E-book. ISBN 9788595157439. Disponível em:</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595157439/. Acesso em: 12</p><p>abr. 2024.</p>