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<p>RAFAEL JOSÉ NADIM DE LAZARI</p><p>CESAR AUGUSTO ARTUSI BABLER</p><p>VIVIANE DE ARRUDA PESSOA OLIVEIRA</p><p>MARIA CAROLINA GERVÁSIO ANGELINI DE MARTINI</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>2023</p><p>Rafael José Nadim de Lazari</p><p>Cesar Augusto Artusi Babler</p><p>Viviane de Arruda Pessoa Oliveira</p><p>Maria Carolina Gervásio Angelini de Martini</p><p>PRESIDENTE</p><p>Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM</p><p>DIRETOR GERAL</p><p>Jorge Apóstolos Siarcos</p><p>REITOR</p><p>Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM</p><p>VICE-REITOR</p><p>Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM</p><p>PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO</p><p>Adriel de Moura Cabral</p><p>PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO</p><p>Dilnei Giseli Lorenzi</p><p>COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD</p><p>Franklin Portela Correia</p><p>CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CISE</p><p>Franklin Portela Correia</p><p>REVISÃO TÉCNICA</p><p>Carolina Piccolotto Galib</p><p>PROJETO GRÁFICO</p><p>Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE</p><p>CAPA</p><p>Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE</p><p>DIAGRAMADOR</p><p>Andréa Ercília Calegari</p><p>© 2023 Universidade São Francisco</p><p>Avenida São Francisco de Assis, 218</p><p>CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP</p><p>CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA</p><p>FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –</p><p>ORDEM DOS FRADES MENORES</p><p>CESAR AUGUSTO ARTUSI BABLER</p><p>Mestre em Educação. Advogado com formação de bacharelado pela Pontifícia Universi-</p><p>dade Católica de Campinas. Especialista em Direito Constitucional, Direito Administrati-</p><p>vo e Direito Previdenciário. Atua na docência há mais de 10 anos, ministrando aula para</p><p>o Exame de OAB, Concursos Públicos e no ensino Universitário. Coordenador da Pós</p><p>Graduação em Direito Público pela Escola Superior de Direito. Coordenador do Curso</p><p>Proordem Campinas (Preparatório para Exame de OAB e Concursos)</p><p>RAFAEL JOSÉ NADIM DE LAZARI</p><p>Advogado, consultor jurídico e parecerista na área de Direito Público (OAB/SP n</p><p>296.538). Pós-Doutor em Democracia e Direitos Humanos pelo Centro de Direitos Hu-</p><p>manos da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra/Portugal (2017). Está-</p><p>gio Pós-Doutoral pelo Centro Universitário Eurípides Soares da Rocha, de Marília/SP</p><p>(2017). Doutor em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica, de São</p><p>Paulo/SP (2015). Mestre em Teoria do Estado pelo Centro Universitário Eurípides Soa-</p><p>res da Rocha, de Marília/SP (2012). Graduado em Direito pelas Faculdades Integradas</p><p>Antônio Eufrásio de Toledo, de Presidente Prudente/SP (2009). Professor da Gradua-</p><p>ção, do Mestrado e do Doutorado em Direito da Universidade de Marília/SP - UNIMAR.</p><p>Professor da Graduação em Direito da Rede Gonzaga de Ensino Superior - REGES,</p><p>de Dracena/SP. Professor convidado de Pós-Graduação (LFG, EBRADI, Projuris Es-</p><p>tudos Jurídicos, Aprovação PGE, dentre outros), da Escola Superior de Advocacia e</p><p>de Cursos preparatórios para concursos e exame da Ordem dos Advogados do Brasil</p><p>(LFG, G7, Vipjus, Vocação Concursos, PCI Concursos, dentre outros). Professor dos</p><p>Programas Saber Direito e Academia, na TV Justiça, em Brasília/DF. Membro da UJU-</p><p>CASP - União dos Juristas Católicos de São Paulo. Palestrante no Brasil e no exterior.</p><p>Autor, organizador e participante de inúmeras obras jurídicas, no Brasil e no exterior.</p><p>Tem experiência em: Direito Constitucional, Direitos Humanos, Direito Administrativo,</p><p>Direito Regulatório e Direito Tributário.</p><p>VIVIANE DE ARRUDA PESSOA OLIVEIRA</p><p>Doutoranda em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da Universidade de São</p><p>Paulo -USP. Mestrado em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP-</p><p>2018), vinculada ao núcleo de relações internacionais com pesquisa na área de</p><p>migrações e refúgio, tendo defendido a dissertação com o tema “Criança e o Refúgio</p><p>na América Latina: entre a invisibilidade e proteção dos Direitos Humanos. É também</p><p>OS AUTORES</p><p>MARIA CAROLINA GERVÁSIO ANGELINI DE MARTINI</p><p>Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mes-</p><p>tra em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba com bolsa CAPES/PROSUC</p><p>(2018). Especialista em Direito Constitucional pela Universidade Estadual de Campinas</p><p>(2019). Bacharel em Direito pela PUC de Campinas (julho/2014).Atualmente trabalha</p><p>com pesquisas relacionadas aos seguintes temas: Proteção dos Direitos Fundamentais,</p><p>Difusos e Coletivos, Controle do Tabaco, Migrações Internacionais, Direitos Humanos</p><p>e Direito Internacional. Professora de Direito Internacional, Constitucional, Metodologia</p><p>Jurídica, Prática de Direitos Humanos e Linguagem Jurídica na Pontifícia Universidade</p><p>Católica de Campinas (PUC-Campinas).</p><p>especialista em Direito administrativo pela Universidade Federal de Pernambuco e em</p><p>Direito Constitucional Aplicado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP-</p><p>2019). Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), onde</p><p>exerceu função de Monitoria Discente. Foi aluna especial do Mestrado em Educação</p><p>na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em</p><p>2017. Possui Curso de Formação em Migrações e Refúgio pela CSVM da UFABC</p><p>(2018). Participou como pesquisadora colaboradora do Projeto de Pesquisa Conjunto</p><p>(UNICAMP e Cardiff University), Examining poverty in a polarised and unequal society:</p><p>the potential of the Consensual Approach to poverty research in Brazil - UK Global</p><p>Challenges Research Fund (GCRF). Doutoranda em Direitos Humanos pela Faculdade</p><p>de Direito -USP(início em 2020).</p><p>A REVISORA TÉCNICA</p><p>CAROLINA PICCOLOTTO GALIB</p><p>Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP (2012).</p><p>Mestra em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP (2018, Bolsis-</p><p>ta CAPES). Foi integrante do Grupo de Estudos sobre Refugiados e Migrações, GERM</p><p>(2017). Especialista em Direito Constitucional Aplicado pela FCA-UNICAMP (2019). Dou-</p><p>toranda em Direito pela PUC-SP (2019). Professora da Pontifícia Universidade Católica</p><p>de Campinas (PUC-Campinas) nos cursos de Direito e Relações Internacionais.</p><p>SUMÁRIO</p><p>[Disponível no livro completo]</p><p>8</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>UNIDADE 1</p><p>DIREITOS HUMANOS: HISTÓRICO,</p><p>PRINCÍPIOS E A REALIDADE</p><p>BRASILEIRA</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Pensar os direitos humanos significa refletir sobre o modo como, ao longo do tempo,</p><p>as sociedades foram organizando sua vida coletiva e de que maneira esta organização</p><p>exigia o estabelecimento de regras fundamentais que garantissem condições de vida</p><p>digna do indivíduo dentro do grupo. O reconhecimento dos Direitos Humanos e o con-</p><p>sequente estabelecimento de suas regras não é algo que pode ser pensado como tendo</p><p>um movimento único ou um ponto exato que possa ser considerado central. Pensar</p><p>os Direitos Humanos é entender a construção histórica que vai se dando segundo as</p><p>necessidades de cada contexto. Tais contextos é que definem princípios e valores que</p><p>devem nortear toda a concepção do direito humano. Neste sentido é que, nesta unida-</p><p>de, lançaremos olhar também para a realidade brasileira, no modo como os Direitos</p><p>Humanos são garantidos e como se relacionam com as normas internacionais.</p><p>1. JUSTIFICANDO UM ESTUDO DE DIREITOS HUMANOS</p><p>Trazemos, de nossa história de estudos, diferentes vivências educacionais; porém, uma</p><p>coisa é certa: quase 100% de nossa experiência vem do ensino presencial. Significa</p><p>que, durante muito tempo, entendemos que a educação apenas era possível dentro do</p><p>modelo que coloca professor e alunos em um mesmo espaço e tempo (sala de aula),</p><p>a partir do que um conteúdo era ensinado. Mas isto não tem nada de novo, já que há</p><p>séculos assim se dá.</p><p>A pergunta que fazemos, então, é: se o contexto mudou e diferentes tecnologias foram</p><p>desenvolvidas, por que continuar a realizar a educação do mesmo modo? A Universi-</p><p>dade São Francisco – USF entende que, além de importante, a mudança é necessária.</p><p>Mas, já que se trata de uma proposta diferenciada, é importante entender de que modo</p><p>é possível alcançar sucesso nos estudos por meio dela.</p><p>Direitos Humanos é um dos componentes que constituem o Núcleo de Formação Ge-</p><p>ral – juntamente com Iniciação à Estudo do Ser Humano Contemporâneo, Iniciação à</p><p>Pesquisa Científica, Ética e Cidadania e Empreendedorismo Social, que são oferecidos</p><p>integralmente a distância. Estes componentes serão trabalhados de forma interdisci-</p><p>plinar: os conteúdos de cada um servirão para construir um entendimento de mundo</p><p>e uma maneira de problematizar a realidade. Eles, conjuntamente, oferecerão novas</p><p>chaves para que você possa reinterpretar a realidade.</p><p>9</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Queremos, aqui, apresentar alguns elementos importantes para que você bem entenda</p><p>de que modo os componentes curriculares do Núcleo de Formação Geral estão estru-</p><p>turados a fim de oferecer uma experiência significativa de aprendizagem, contribuindo,</p><p>assim, para sua formação profissional.</p><p>1.1. CONECTAR</p><p>Direitos Humanos e a interdisciplinaridade</p><p>Os Direitos Humanos estão intrinsecamente vinculados a um olhar complexo, inter e</p><p>transdisciplinar. Seus grandes princípios e suas profundas problemáticas surgem no</p><p>bojo das grandes e constantes transformações históricas e, assim, encontram-se mer-</p><p>gulhados em múltiplas dimensões. Não se pode pensar, portanto, em Direitos Humanos</p><p>sem olharmos para a História, a Sociologia, a Filosofia e o Direito. Mas, mais do que</p><p>isso, não se pode compreender sua importância sem refletirmos sobre a economia, a</p><p>tecnologia, a biologia, as artes, o urbanismo, as engenharias.</p><p>Mais do que um componente que apresenta e nos faz conhecer os grandes valores e di-</p><p>retrizes da humanidade, os Direitos Humanos têm um forte compromisso com o desen-</p><p>volvimento de nossas competências éticas e atitudinais, promovendo encontros com</p><p>as diversidades culturais e étnicas, respeito às diferentes formas de compreensão e de</p><p>existência no mundo bem como o reconhecimento de que a ação humana no mundo e</p><p>para com os demais deve ser pautada em fundamentos sólidos, sustentáveis e críticos.</p><p>A potência e a importância desse estudo podem ser ainda mais confirmadas, quando</p><p>a compreendemos a partir do escopo do Núcleo de Formação Geral. As temáticas,</p><p>questões e reflexões dos Direitos Humanos possibilitam e fortalecem a participação dos</p><p>profissionais e estudantes em sua sociedade, contribuindo para a construção de uma</p><p>vivência coletiva, solidária e humanizada.</p><p>Desta forma, um dos grandes caminhos para que possamos vislumbrar essas relações</p><p>é relacionarmos esses temas aos de outros componentes do NFG.</p><p>` Em Estudo do Ser Humano Contemporâneo somos convidados a refletir sobre as</p><p>dimensões culturais, antropológicas e religiosas da humanidade. Aprendemos so-</p><p>bre a multiplicidade de vivências e ambientações que podemos experimentar em</p><p>nossas vidas. Esse conteúdo é base geral para os Direitos Humanos, que agora se</p><p>propõe a mostrar caminhos e propostas para a materialização desta diversidade.</p><p>` Em Ética e Cidadania somos convidados a refletir sobre nossas ações e seu</p><p>impacto na sociedade e nos grandes processos de formação da cidadania. Nos</p><p>Direitos Humanos aprenderemos sobre o processo de formação histórica dos</p><p>valores e princípios jurídicos, como estes tiveram impacto na modelagem da so-</p><p>ciedade e movimentos sociais no Brasil e, mais tarde, no desenho constitucional</p><p>nacional de direitos e deveres. Todos, parâmetros fundamentais para nosso de-</p><p>senvolvimento pessoal.</p><p>` Em Iniciação à Pesquisa Científica somos convidados a olhar o mundo a partir</p><p>do olhar científico. Compreender os processos de formação dos conhecimentos,</p><p>10</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>os procedimentos necessários para comunicarmos nossas ideias e, sobretudo,</p><p>para desenvolvermos nossa autonomia e nossa criatividade. Em todos os mo-</p><p>mentos, os Direitos Humanos nos auxiliarão com a proposição de temáticas e</p><p>problemáticas universais - com validade em todas as culturas -, mas, também,</p><p>com a compreensão do quão importante são as pesquisas para a promoção do</p><p>bem-estar na sociedade e o fortalecimento do projeto constitucional.</p><p>` No Empreendedorismo Social somos chamados a materializar nossos projetos</p><p>em oportunidades profissionais, criativas e com objetivos bem estabelecidos –</p><p>sempre olhando para a atuação profissional como resposta às necessidades da</p><p>sociedade. No estudo dos Direitos Humanos veremos como as nossas decisões</p><p>pessoais profissionais podem dialogar com projetos nacionais de desenvolvi-</p><p>mento de políticas públicas e de desenvolvimento e contribuir para ampliação</p><p>da acessibilidade, da inclusão, da preservação do meio ambiente e, sobretudo, a</p><p>minoração de atos discriminatórios.</p><p>Enfim, no Núcleo de Formação Geral, o componente Direitos Humanos ocupa mais um</p><p>espaço privilegiado para a formação profissional. A complexidade do mundo, sua dinâmi-</p><p>ca e seu apelo cada vez maiores por respostas inovadoras, eticamente fundamentadas</p><p>e com respeito ao ser humano em sua integridade são temas presentes em todos os</p><p>momentos reflexivos deste componente e estarão presentes em sua vida profissional.</p><p>1.2. DESENVOLVER</p><p>O desenvolvimento de competências</p><p>A USF adota, como diretriz pedagógica, a educação por competências. Mas, você sabe</p><p>o que é a competência, ou quando alguém pode se entender competente?</p><p>A competência trata da maneira como lidamos com as situações que nos aparecem na vida</p><p>cotidiana. Neste sentido, é competente aquela pessoa que consegue dar conta das exigên-</p><p>cias que as diferentes situações impõem.</p><p>Mas, é possível aprender sobre todas as situações que a vida – profissional ou não – vai nos</p><p>apresentar? Claro que não; não há um curso sequer que possa dar conta disso.</p><p>Quando se fala em desenvolver competências, mais do que uma prática, o que se objetiva</p><p>é ensinar um modo de compreender as situações. A pergunta que deve ser feita não é “Eu</p><p>aprendi a fazer isso?”, mas sim “Que tipo de raciocínio eu aprendi, a partir deste caso, e que</p><p>vai me possibilitar resolver outros (mesmo que não sejam iguais)?”</p><p>SAIBA MAIS</p><p>11</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>IMPORTANTE</p><p>Figura 01. O desenvolvimento de competências</p><p>Desenvolver competências é desenvolver a habilidade de resgatar esquemas mentais que</p><p>possam ser encaixados em diferentes situações. O célebre autor que tratou da temática das</p><p>competências é Philippe Perrenoud (1944-).</p><p>Para conhecer mais, assista ao vídeo Pensadores na Educação: Perrenoud e o desenvolvi-</p><p>mento de competências:</p><p>Fonte: Elaborada pelo autor / Imagens: pixabay.com</p><p>Conheça as competências que devem ser desenvolvidas por meio dos estudos que o</p><p>componente Direitos Humanos incitará:</p><p>01. Reconhecer a importância e os fundamentos dos direitos humanos, refletindo</p><p>sobre a realidade e respeitando as diferenças.</p><p>02. Compreender a ação social, considerando o indivíduo e os direitos fundamen-</p><p>tais na sociedade.</p><p>03. Analisar a garantia dos direitos a liberdade, informação, expressão e existência</p><p>digna, compreendendo a luta social por sua conquista e manutenção.</p><p>04. Compreender a importância do respeito e da empatia, nos moldes previstos</p><p>pelas diferentes Cartas que regem os direitos humanos, a partir do critério de</p><p>fraternidade.</p><p>Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal construído de forma</p><p>aleatória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em que a USF acredita, for-</p><p>mando você como profissional. São competências possíveis, mas que apenas podem ser</p><p>desenvolvidas se você se aplicar aos estudos e atividades propostos.</p><p>Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lYvoCDRCfOw</p><p>12</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>1.3. PRATICAR</p><p>a. DIFERENTES OBJETOS DE APRENDIZAGEM PARA DIFERENTES FORMAS DE</p><p>APRENDER</p><p>O desenvolvimento de competências pode se dar de diferentes modos, de acordo com</p><p>o objetivo que se tem. Cada componente curricular, em cada unidade, tem objetivos</p><p>específicos pensados a partir das competências estabelecidas para o profissional que</p><p>está sendo formado – você! –, não importando a área</p><p>de conhecimento. Mas, antes dos</p><p>objetivos de cada componente, temos de pensar as competências necessárias para</p><p>bem cursar um componente oferecido a distância, já que ele é diferente dos que são</p><p>oferecidos presencialmente.</p><p>E você, sabe como você aprende?</p><p>Possivelmente, você já ouviu dizer que uma pessoa aprende mais ouvindo, enquanto outra o</p><p>faz escrevendo, e ainda outra, lendo e anotando.</p><p>Leia o artigo:</p><p>Os quatro estilos de aprendizagem − ou por que alguns leem os manuais e outros não</p><p>SAIBA MAIS</p><p>SAIBA MAIS</p><p>b. O CONHECIMENTO – TEORIA E PRÁTICA</p><p>A competência pode ser entendida como um conjunto de elementos que, no todo, tratam</p><p>de um saber prático; trata-se de três elementos: conhecimento, habilidade e atitude. Di-</p><p>ficilmente conseguimos dizer que um profissional é competente sem ter estes elemen-</p><p>tos como base sólida. A partir deste entendimento é que este componente curricular é</p><p>compreendido e proposto com significativa importância para sua formação profissional.</p><p>A USF entende que ser profissional deve ser mais que ser um fazedor técnico.</p><p>Avalie suas competências, verificando:</p><p>` Conhecimento – você tem os conhecimentos necessários, que possibilitarão uma vivência</p><p>profissional humana e responsável consigo, com o outro e com a sociedade?</p><p>` Habilidade – você sabe se utilizar dos conhecimentos para realizar uma prática que seja</p><p>eficiente, fazendo aquilo que se espera de um(a) bom(a) profissional?</p><p>` Atitude – a partir do conteúdo assimilado e da boa prática desenvolvida, você se motiva a</p><p>agir de modo eficaz, buscando a melhor em cada situação?</p><p>Ao longo das unidades, as temáticas apresentadas têm sempre o objetivo de possibili-</p><p>tar uma prática profissional, carregada de sentido e que possa responder aos anseios</p><p>Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476119828_530014.html</p><p>13</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>da sociedade, sem deixar de lado a realização pessoal. Neste sentido, pense sobre as</p><p>competências deste componente – indicadas acima –, e procure verificar se você já as</p><p>tem desenvolvidas. Inicie o curso deste componente, já tendo em mente suas compe-</p><p>tências e entendendo que elas devem ser metas a se alcançar. Ao final do módulo, você</p><p>terá oportunidade de se avaliar, verificando quanto aprendeu e desenvolveu, e o que</p><p>ainda restará como necessidade.</p><p>c. OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL</p><p>No ano de 2015, pensando a necessidade de ações que pudessem melhorar a vida</p><p>no planeta como um todo, líderes mundiais se reuniram na ONU e estabeleceram a</p><p>chamada Agenda 2030 – tratou-se de um plano para erradicar a pobreza e promover o</p><p>desenvolvimento da vida humana e do planeta.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Conheça mais sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, pesquisando em:</p><p>Disponível em: https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/embaixadores-da-juventude/</p><p>conhea-mais/a-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentvel.html</p><p>Da Agenda 2030, foram pensados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a partir</p><p>dos quase são delineadas áreas mais específicas para atuação das nações. São 17 ODS:</p><p>Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs</p><p>Veja que os ODS abarcam diferentes áreas e problemas que a humanidade enfrenta</p><p>como um todo. E, considerando-se que a USF objetiva oferecer uma formação integral,</p><p>entendemos a importância de que a formação seja ampla e geral, ligada aos problemas</p><p>e situações diversas que você como profissional vai enfrentar. Neste sentido, ao longo do</p><p>semestre, os ODS serão trazidos nas problematizações dos componentes curriculares.</p><p>https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/embaixadores-da-juventude/conhea-mais/a-agenda-2030-para-o</p><p>https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/embaixadores-da-juventude/conhea-mais/a-agenda-2030-para-o</p><p>14</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1 Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, pesquisando em:</p><p>https://brasil.un.org/pt-br/sdgs</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Aproveite as oportunidades que forem ofertadas para o desenvolvimento deste compo-</p><p>nente: textos, fóruns, vídeos etc. Tudo é desenvolvido para seu melhor aproveitamento</p><p>e sucesso na formação profissional!</p><p>2. DIREITOS HUMANOS NA HISTÓRIA DA SOCIEDADE</p><p>2.1. DIREITOS HUMANOS E SUA TERMINOLOGIA</p><p>Os Direitos Humanos podem ser pensados como inerentes à sociedade, mas também como</p><p>conquistas históricas e fruto de uma luta social. Desde que as pessoas convivem entre si, códi-</p><p>gos regulatórios (não necessariamente escritos) se fazem necessários. Com os Direitos Huma-</p><p>nos a lógica é, rigorosamente, a mesma: eles começam como direitos inerentes ao ser humano</p><p>(ou frutos de conquista) e, gradativamente, fixam-se em documentos escritos (são positivados,</p><p>portanto), que ajudam a mantê-los na História. Neste material, serão vistas: percepções formais</p><p>e materiais dos Direitos Humanos, bem como as suas gerações ou dimensões.</p><p>A visão geracional deixa de falar sobre algo mais importante: respeito, proteção e cumpri-</p><p>mento; que são as bases para que todo e qualquer direito humano deixe de ser violado. Ainda</p><p>assim, é importante lembrar que a discussão geracional existe, mas com o devido cuidado/</p><p>crítica para que não seja tomada como referência plenamente útil.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>A terminologia “Direitos Humanos” serve, meramente, para fins de etiquetamento, que,</p><p>com finalidades formais, refere-se ao conjunto de normas, institutos e sistemas aptos a</p><p>protegerem a dignidade humana. Ainda para fins formais, os Direitos Humanos são um</p><p>“braço”, ou melhor, vertentes do Direito, tal como o são o Direito Civil, o Direito Penal, o</p><p>Direito Constitucional, o Direito do Trabalho etc. – ainda que seja mais apropriado vê-lo</p><p>como um ramo que penetra e condiciona todos os outros.</p><p>Recomenda-se uma percepção dos Direitos Humanos pelo aspecto material, entretanto.</p><p>Não que a percepção formal esteja errada (pelo contrário, é bastante correta). Mas, a per-</p><p>cepção material é aquela que permite compreender para que servem os Direitos Humanos.</p><p>a. PRIMEIRO ASPECTO MATERIAL: DIREITOS HUMANOS E SUA</p><p>INTERDISCIPLINARIDADE</p><p>Por um prisma material, em primeira análise, pode-se verificar que os Direitos Humanos</p><p>não são restritos ao ambiente jurídico. Há forte multidisciplinaridade em torno da temáti-</p><p>ca. Da mesma maneira que um operador do Direito atua em sede de Direitos Humanos,</p><p>assim também o fazem Físicos, Matemáticos, Biólogos, Filósofos, Políticos etc.</p><p>https://brasil.un.org/pt-br/sdgs</p><p>15</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Toma-se como exemplo os avanços da Ciência, que permitem que em um solo climati-</p><p>camente hostil “brotem alimentos” a moradores que, antes, sofriam com a fome e com</p><p>as secas. Ou, então, o desenvolvimento de purificadores portáteis de água, cada vez</p><p>mais eficazes, que conseguem combater doenças como a cólera. Ou, mesmo, as mo-</p><p>dernas técnicas de Engenharia que conseguem edificar casas com materiais de baixo</p><p>custo e alta durabilidade. Repare-se que tudo isso entra no conceito de Direitos Huma-</p><p>nos. Todas as vezes em que a dignidade das pessoas é assegurada, por qualquer que</p><p>seja o ramo da Ciência, aí estão os Direitos Humanos.</p><p>b. SEGUNDO ASPECTO MATERIAL: DIREITOS HUMANOS E SUA DINAMICIDADE</p><p>Também pelo prisma material, é preciso lembrar que o conceito de Direitos Humanos é</p><p>dinâmico (e, não, estático). Todos os dias, ocorrem novas manifestações sociais, que</p><p>desencadeiam novos problemas, os quais, por sua vez, ensejam novas necessidades</p><p>de proteção.</p><p>EXEMPLO</p><p>Há cinquenta ou sessenta anos, os Direitos Humanos se preocupavam mais com questões</p><p>atômicas, pois o mundo vivia bipartido pela Guerra Fria (de um lado estavam os norte-ameri-</p><p>canos, do outro os soviéticos), ao passo que, nos dias de hoje, os Direitos Humanos também</p><p>precisam se preocupar com os avanços das redes sociais, com a proteção de dados pesso-</p><p>ais, com a disseminação de informações falsas, com os riscos e benefícios da inteligência</p><p>artificial etc. O que há de interessante</p><p>no exemplo acima? O fato de que, cinquenta anos</p><p>atrás, sequer se imaginava que um dia se viveria em uma sociedade da hiperexposição, de</p><p>modo que, de lá para cá, os Direitos Humanos precisaram evoluir para proteger, também, tais</p><p>novas necessidades.</p><p>Quanto a essa segunda abordagem material que se acaba de mencionar, juridicamente,</p><p>dão-se os nomes técnicos de historicidade/mobilidade/dinamismo (expressões sinôni-</p><p>mas), para designar uma estrutura social que está, sempre, em movimento, com maior</p><p>ou menor velocidade.</p><p>c. TERCEIRO ASPECTO MATERIAL: DIREITOS HUMANOS E SUA UNIVERSALIDADE</p><p>Finalmente, em última abordagem material, é preciso lembrar que os Direitos Humanos são</p><p>para todos, independentemente de suas crenças, etnias, ideologias, posicionamentos polí-</p><p>ticos ou condições financeiras. Isso remete a uma característica chamada universalidade.</p><p>A ideia é básica, mas precisa ser compreendida com cuidado: Direitos Humanos são</p><p>universais. Mas, a necessidade de cuidado decorre do fato de que indivíduos podem</p><p>estar em situação desigual. Há ricos e pobres no mundo; gente que vive em países</p><p>geograficamente estáveis e gente que vive em países que sofrem com vulcões e terre-</p><p>motos; pessoas que tiveram uma vida tranquila e pessoas que lidam com um histórico</p><p>de perseguições e discriminações negativas. Dessa maneira, exemplificativamente, é</p><p>preciso conferir doses especiais de proteção, promoção e respeito aos negros, índios,</p><p>homossexuais, mulheres e pessoas com deficiência – pessoas que têm de lidar com</p><p>situações históricas de diminuição da sua humanidade (enfim, conferir doses especiais</p><p>de proteção a quem está em situação desigual).</p><p>16</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>O termo técnico que se dá a essas “doses especiais” de proteção é igualdade subs-</p><p>tancial, que significa conferir tratamento jurídico pontual (que é a ferramenta) a quem</p><p>sempre sofreu com condições de desigualdade. Trata-se de discriminações positivas,</p><p>de ações afirmativas, de políticas inclusivas, que buscam reparar injustiças históri-</p><p>cas praticadas contra minorias e grupos vulneráveis. É por isso, dentre tantas ilustra-</p><p>ções possíveis, que existe um Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015)</p><p>ou uma Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), a saber, o fato de que, pessoas com</p><p>deficiência e mulheres em situação de violência doméstica/familiar, respectivamente,</p><p>precisam de uma atenção especial do Estado para que suas dignidades sejam protegi-</p><p>das (e, mais do que isso, promovidas).</p><p>2.2 GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE DIREITOS HUMANOS</p><p>Para lembrar quais são as gerações ou dimensões de Direitos Humanos, basta fazer uma</p><p>associação com o lema da Revolução Francesa: Liberté, Egalité, Fraternité (em tradução</p><p>livre, Liberdade, Igualdade e Fraternidade). Cada uma dessas palavras remonta a uma</p><p>geração ou dimensão. A primeira geração corresponde aos direitos de Liberdade; a se-</p><p>gunda geração corresponde aos direitos de Igualdade; a terceira geração, por fim, corres-</p><p>ponde aos direitos de Fraternidade. É comum, além disso, que os livros de Direito tragam</p><p>mais gerações para se referir em democracia, informação, pluralismo, paz, água potável,</p><p>informática, dentre tantos outros. Essas outras gerações não são pacíficas, contudo, ra-</p><p>zão pela qual, aqui, concerne-se, apenas, sobre as três que são absolutamente aceitas</p><p>(aceitas como um dado histórico que foram assim uma vez qualificadas por acadêmicos,</p><p>mas problemáticas para o real entendimento de Direitos Humanos).</p><p>a. DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: LIBERDADE</p><p>A Liberdade é o princípio básico de todos os direitos (sejam eles humanos ou não).</p><p>Nele, engloba-se vários aspectos, como a liberdade de ir e vir; a liberdade de ter um tra-</p><p>balho, ofício ou profissão; a liberdade de consciência e de crença; a liberdade de definir</p><p>um núcleo familiar; a liberdade de expressão; a liberdade artística etc. Convém pensar,</p><p>para facilitar a compreensão, no exemplo a seguir: a menos que haja uma restrição de</p><p>ordem pública, como aquelas decorrentes do enfrentamento da pandemia de Covid-19,</p><p>todos são livres para ir e vir aonde quiserem, para entrar e sair do país, dentre outros.</p><p>Ou, então, um ser humano tem o livre direito a escolher sua religião, a trocar de religião,</p><p>bem como a não seguir qualquer religião. A Liberdade, além disso, tem desdobramen-</p><p>tos proibitivos, como a vedação da escravidão, a vedação de que alguém seja preso ou</p><p>privado de seus bens sem um devido processo legal, dentre outros.</p><p>b. DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: IGUALDADE</p><p>Liberdade é essencial, mas, por si só, não é suficiente. É preciso que os direitos e deve-</p><p>res sejam vividos em sociedade, nas suas múltiplas intensidades e variáveis. Posto de</p><p>outro modo, a cunho de exemplificação, um homem ou uma mulher, por exemplo, tem</p><p>liberdade para escolher um(a) companheiro(a) e, a partir disso, constituir uma família.</p><p>Contudo, isso não basta, se aqueles que compõem o núcleo familiar não puderem exer-</p><p>cer, em igualdade de condições, a criação dos filhos. Ou, então, a todos os brasileiros</p><p>são assegurados os mesmos direitos políticos, com a ressalva de que alguns cargos</p><p>17</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>eletivos são privativos de brasileiros natos (como é o caso do cargo de Presidente da</p><p>República).</p><p>Em ambos os exemplos dados, verificam-se abordagens diferentes para a Igualdade.</p><p>No primeiro exemplo, trata-se da igualdade formal (homem ou mulher, nas mesmas</p><p>condições, podem definir como será a educação de seus filhos). No segundo exemplo,</p><p>menciona-se a igualdade material ou substancial (os cargos políticos são acessíveis</p><p>a todos os brasileiros, mas, para ser Presidente da República, o indivíduo deve ser bra-</p><p>sileiro nato, não se admitindo que o brasileiro naturalizado postule esse cargo).</p><p>c. DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: FRATERNIDADE</p><p>Liberdade e Igualdade são essenciais, mas, sozinhas, não bastam. É necessário lem-</p><p>brar que a vida em sociedade é, inevitavelmente, plural, diversificada. Em um am-</p><p>biente de trabalho, por exemplo, é comum que haja Católicos, Evangélicos, Espíritas,</p><p>Agnósticos etc. Do mesmo modo, é comum que haja pessoas “apartidárias”, “de direi-</p><p>ta”, “de esquerda”, “de centro” etc. E, para completar, é comum que estas preferências</p><p>sejam interligadas, havendo “Católicos de direita”, “Católicos de esquerda”, “Espíritas</p><p>apartidários”, “Evangélicos de centro” etc. É aqui que entra a noção de Fraternidade.</p><p>Quando se refere a dimensão, uma é somada à outra:</p><p>PARA REFORÇAR!</p><p>Há quem prefira a expressão “geração” de Direitos Humanos; por outro lado, há quem utilize</p><p>a expressão “dimensão” de Direitos Humanos. Para entender a diferença entre uma expres-</p><p>são e outra, convém trazer um singelo esquema.</p><p>Quando se trata de geração uma vem após a outra:</p><p>Primeira geração:</p><p>Liberdade</p><p>Segunda geração:</p><p>Igualdade</p><p>Terceira geração:</p><p>Fraternidade</p><p>Fonte: elaborada pelo próprio autor.</p><p>Não basta ser livre para escolher uma religião ou posicionamento, nem basta que</p><p>as escolhas sejam feitas com igualdade, se o indivíduo for incapaz de respeitar as</p><p>escolhas alheias. Os direitos de Fraternidade, por isso, pluralizam os Direitos Huma-</p><p>nos, ao promoverem uma vivência cotidiana dos mais diferentes tipos de escolha que</p><p>os serem humanos podem fazer. Como se pode observar, os Direitos Humanos obser-</p><p>vam um processo evolutivo constante. Eles evoluem junto com a sociedade. E, tão</p><p>importante quanto, eles ajudam a sociedade a evoluir. Trata-se de um processo de</p><p>crescimento recíproco que permite à disciplina ser plural, inclusiva e multidisciplinar.</p><p>18</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>Liberdade</p><p>Igualdade</p><p>Fraternidade</p><p>Figura 02. Dimensões de Direitos Humanos</p><p>Fonte: elaborada pelo autor.</p><p>A expressão dimensão parece mais interessante. Na verdade, os Direitos Humanos devem</p><p>ser somados e, não, substituídos (tal como ocorre com as gerações). Apesar de ser possível</p><p>encontrar nos</p><p>livros quem fale, somente, em “gerações”, e quem fale, somente, em “dimen-</p><p>sões”, a segunda expressão é preferível, por ter um significado mais protetivo e abrangente.</p><p>Link:</p><p>Recomenda-se a leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, um dos</p><p>documentos mais importante para a matéria (mas não do único, vale frisar), elaborado após</p><p>a Segunda Guerra Mundial, e que norteia todas as questões correlatas atuais.</p><p>Dados para acesso:</p><p>FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA – UNICEF. Declaração Universal dos</p><p>Direitos Humanos – adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (re-</p><p>solução 217-A-III), em 10 de dezembro 1948. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/</p><p>declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 31 out. 2021.</p><p>Indicação de filme:</p><p>A sugestão que se faz é do filme “Hotel Ruanda”, que descreve o conflito entre Tutsis e Hutus,</p><p>em Ruanda (país africano), e que encontrou o seu ápice em 1994. O filme é forte, marcante,</p><p>mas descreve o tipo de problema internacional que pode ocorrer quando se tem o desrespei-</p><p>to sistemático aos Direitos Humanos.</p><p>Dados do filme:</p><p>HOTEL Ruanda. Hotel Rwanda (Original). Direção: Terry George. Ano de produção: 2004.</p><p>Duração: 121 minutos. Filme não recomendado para menores de 14 anos.</p><p>Texto complementar:</p><p>Uma discussão constante que existe atina à diferença entre Direitos Humanos e Direitos Fun-</p><p>damentais. Essencialmente, os Direitos Fundamentais nada mais são que os Direitos Humanos</p><p>19</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>internalizados nas Constituições dos países que se prezam democráticos. Para mais esclareci-</p><p>mentos terminológicos, recomenda-se a leitura de artigo a título de leitura complementar.</p><p>Dados do artigo:</p><p>TRIVISONNO, Alexandre Travessoni Gomes. Direitos humanos e direitos fundamentais:</p><p>questões conceituais.Espaço Jurídico Journal of Law, [S. l.], v. 21, n. 1, p. 7-18, jan-jun 2020.</p><p>Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/24359.</p><p>Acesso em: 31 out. 2021.</p><p>Caso de aplicação:</p><p>Com base na matéria aqui indicada, tem-se ênfase à inclusão das pessoas com deficiência</p><p>(Igualdade em seu substrato material). Convida-se o(a) leitor(a) a reflexão: por qual motivo</p><p>as cidades começaram a se preocupar com acessibilidade, como a construção de rampas de</p><p>acesso e corrimãos em prédios públicos? Por qual motivo os programas televisivos têm se</p><p>importado tanto com a língua de sinais na transmissão de seus conteúdos? Tudo isso tem a</p><p>ver com os direitos relacionados à Igualdade, com a necessidade de ações afirmativas e com</p><p>a implementação de políticas públicas e privadas, a fim de que pessoas com os mais va-</p><p>riados tipos de deficiência tenham os mesmos direitos que aquelas que não possuem</p><p>deficiência alguma.</p><p>Isso ajuda a entender, aliás, como os Direitos Humanos transcendem ao ambiente jurídico.</p><p>Cada obra de Engenharia destinada a melhorar a acessibilidade é, também, uma manifesta-</p><p>ção de Direitos Humanos.</p><p>3. DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE CULTURAL</p><p>3.1. DIREITOS HUMANOS E MULTICULTURALISMO (OU RELATIVISMO</p><p>CULTURAL)</p><p>A diversidade é uma das tantas “palavras-chave” que embasam os Direitos Humanos.</p><p>A noção de diversidade pode ser compreendida de inúmeras maneiras e é importante,</p><p>desde já, ressaltar isso.</p><p>Qualquer que seja a maneira, é indispensável ter em mente a distinção entre discri-</p><p>minações positivas e discriminações negativas. Nos tempos atuais, o termo “dis-</p><p>criminação” ganhou sentido popular de desrespeito, de intolerância. Este, contudo, é</p><p>apenas o conceito de discriminação negativa. Exemplificativamente, quando se veta a</p><p>contratação de indivíduo para cargo de vendedor em uma loja, pelo simples fato dele</p><p>ser portador do vírus HIV, por exemplo, então, se está diante de uma discriminação ne-</p><p>gativa (isto é, que cria um conceito injustificável de exclusão e desrespeito).</p><p>Ocorre, por outro lado, a discriminação positiva quando ela se dá com o fim de assegu-</p><p>rar igualdade material (ou substancial). Exemplificativamente, quando se estabelece</p><p>cota em Universidades Públicas para estudantes advindos do ensino público, isso é</p><p>forma de garantir que o contingente estudantil tenha acesso a um ensino de qualidade,</p><p>nada obstante tenha se preparado em condições mais desfavoráveis que aqueles que</p><p>se prepararam em escolas particulares.</p><p>20</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1 Quando se afirma que Direitos Humanos são universais, fica estabelecido que eles são</p><p>válidos para todas as pessoas do mundo, independentemente de onde elas sejam. As-</p><p>sim, basta ser pessoa para ter os Direitos Humanos reconhecidos internacionalmente.</p><p>Devido ao universalismo dos Direitos Humanos, firma-se a ideia de cooperação in-</p><p>ternacional e toma-se um aspecto positivo da globalização (OLIVEIRA; LAZARI, 2019,</p><p>p. 80). As teorias relativistas (ou multiculturalistas), em outro aspecto, pregam o</p><p>atrelamento da proteção dos Direitos Humanos às peculiaridades de dos diferentes</p><p>segmentos da sociedade, em dado local e em dado tempo (parte-se da ideia de que a</p><p>definição de regras-padrão de proteção aos Direitos Humanos pode desconsiderar tais</p><p>peculiaridades). Isso gera “problemas” de ordem prática, dos mais variados tipos.</p><p>Em síntese, a discriminação negativa exclui, ao passo que a discriminação positiva inclui.</p><p>Seguindo preceitos religiosos, em vários lugares do mundo, as mulheres têm de usar (como</p><p>recomendação ou como obrigação) vestimentas específicas (como Burca, Niqab, Xador e</p><p>Hijab) que cobrem (total ou parcialmente) seus corpos, ao passo que em outros lugares não</p><p>há tal recomendação/obrigação. É importante lembrar que a utilização de tais vestimentas</p><p>nem sempre está atrelada a um local e tampouco está sempre atrelada ao dever, existindo</p><p>mulheres que o fazem por opção devido a suas particularidades culturais.</p><p>EXEMPLO</p><p>Figura 03. Vestimentas religiosas femininas</p><p>Burca Niqab Xador Hijab</p><p>Em outro exemplo, também envolvendo preceitos religiosos, em determinadas crenças ve-</p><p>da-se o recebimento de transfusão de sangue ou de fluidos sanguíneos (sobretudo, se quem</p><p>segue tal crença expressamente se recusar a isso).</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e</p><p>12</p><p>3r</p><p>f</p><p>21</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Observando os dois exemplos acima, ficam as indagações, reflexivas: se uma mulher se</p><p>recusar a usar vestes especiais e sofrer reprimendas sociais por isso, tal contexto se encon-</p><p>tra protegido pelos Direitos Humanos? Até que ponto uma pessoa tem o livre arbítrio de se</p><p>recusar a receber transfusão de sangue, ainda que, dessa forma, arrisque sua vida? Pelo</p><p>ponto de vista do multiculturalismo, todas as peculiaridades devem ser observadas pelos</p><p>Direitos Humanos; já pelo ponto de vista do universalismo, os Direitos Humanos não podem</p><p>admitir relativizações quando está em jogo a defesa constante da dignidade humana.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Quando em potencial conflito, existe uma necessidade de sopesamento, que é exercida por</p><p>governos, judiciários e órgãos de direitos humanos. Caso clássico é o das escolas italianas</p><p>e a utilização do crucifixo. Há que notar também que a visão universalista não significa a pa-</p><p>dronização sociocultural da humanidade, cabendo variações de comportamento desde que</p><p>respeitada a dignidade da pessoa humana.</p><p>Visões baseadas em relativismo cultural que sejam utilizadas para violações da dignidade da</p><p>pessoa humana, ainda que dentro de um espectro cultural diverso e promovido pela socieda-</p><p>de, são avessas ao regime de direitos humanos.</p><p>Frisa-se que os dois entendimentos sobre os exemplos são possíveis, atualmente,</p><p>conforme as mais variadas concepções doutrinárias dentro da disciplina dos Direitos</p><p>Humanos. De todo modo, a Organização das Nações Unidas (ONU), em oportunidade</p><p>marcante, manifestou-se favoravelmente ao universalismo (posição com a qual se con-</p><p>corda aqui, com o devido respeito a todos os pontos de vista em torno da questão). Tan-</p><p>to que, no item I.5, da Declaração e Programa de Ação de Viena,</p><p>de 1993, decorrente</p><p>da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, embasou-se que</p><p>[t]odos os Direitos Humanos são universais, indivisíveis, interdependentes</p><p>e interrelacionados. A comunidade internacional deve considerar os Direitos</p><p>Humanos, globalmente, de forma justa e equitativa, no mesmo pé e com</p><p>igual ênfase. Embora se deva ter sempre presente o significado das es-</p><p>pecificidades nacionais e regionais e os diversos antecedentes históricos,</p><p>culturais e religiosos, compete aos Estados, independentemente dos seus</p><p>sistemas políticos, econômicos e culturais, promover e proteger todos os</p><p>Direitos Humanos e liberdades fundamentais (ONU, 1993, [n. p.]).</p><p>3.2. DIREITOS HUMANOS, DIVERSIDADE E DIREITOS CULTURAIS</p><p>Outra maneira importante de compreender diversidade é aquela que parte do respeito</p><p>à cultura de um povo, em suas mais variadas formas. É preciso pontuar, neste aspec-</p><p>to, que a cultura é um dos elementos de identificação de um povo. Quais são os seus</p><p>pratos típicos? Quais são as suas origens? Quem são seus principais artistas? Quais</p><p>são os seus principais monumentos arquitetônicos? Tudo isso (dentre outras coisas,</p><p>obviamente) ajuda a significar as particularidades de um povo.</p><p>Há normativas internacionais que protegem a cultura de um povo. Pelo artigo 27, item</p><p>1, da Declaração Universal dos Direitos Humanos (UNICEF, 1948, [n. p.]), “[t]odo ser</p><p>humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir</p><p>22</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios”. Já nos termos do</p><p>artigo 15, do Pacto Internacional sobre Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (BRA-</p><p>SIL, 1992, [n. p.]), defende-se que</p><p>[o]s Estados Partes do presente Pacto reconhecem a cada indivíduo o direi-</p><p>to de: a) Participar da vida cultural; b) Desfrutar o processo científico e suas</p><p>aplicações; c) Beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais de-</p><p>correntes de toda a produção cientifica, literária ou artística de que seja autor</p><p>Essa questão cultural é especialmente importante para o Brasil, país que tem uma</p><p>pluralidade cultural devido a contínua existência diferenciada dos povos originários, de</p><p>povos remanescentes de negros autodeterminados em quilombos, de um grande fluxo</p><p>migratório durante o processo colonizador e posteriormente, além do surgimento de</p><p>culturas endêmicas no vasto e diverso território nacional, como as contempladas pelo</p><p>Decreto Federal 6.040 de 2007 e seus complementos normativos.</p><p>Neste sentido, a sua Constituição, vigente desde cinco de outubro de 1988, protege</p><p>a cultura a partir do seu artigo 215. De maneira consoante, o artigo 216, por exemplo,</p><p>prevê que constituem patrimônio cultural brasileiro</p><p>[...] os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em</p><p>conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos di-</p><p>ferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I</p><p>- as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações</p><p>científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edi-</p><p>ficações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;</p><p>V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,</p><p>arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988, [n. p.]).</p><p>Os Direitos Humanos culturais, portanto, também são manifestação de diversidade.</p><p>3.3. SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>A fim de tentar organizar tantas variáveis (e infinitas combinações) no processo de</p><p>afirmação e proteção dos Direitos Humanos, foram estruturados sistemas de proteção.</p><p>Esses sistemas buscam proteger os Direitos Humanos em sua máxima amplitude, ain-</p><p>da que dentro de peculiaridades regionalizadas.</p><p>Figura 04. Sistemas de proteção dos Direitos Humanos que o Brasil integra</p><p>Sistema Global</p><p>Trata-se do sistema que se desenvolve na Organização das Nações</p><p>Unidas (ONU)</p><p>` Estruturado por: Carta da ONU (1945)</p><p>` Principais documentos protetivos: Declaração Universal dos Direitos Hu-</p><p>manos (1948) + Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966) + Pac-</p><p>to Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (1966)</p><p>23</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Sistema</p><p>Regional</p><p>Interamericano</p><p>Sistema</p><p>Nacional</p><p>Brasileiro</p><p>Sistema</p><p>Europeu</p><p>Sistema</p><p>Africano</p><p>Trata-se do sistema que se desenvolve na Organização dos Estados</p><p>Americanos (OEA)</p><p>` Estruturado por: Carta da OEA (1948)</p><p>` Principais documentos protetivos: Declaração Americana de Direitos Hu-</p><p>manos (1948) + Convenção Americana de Direitos Humanos (1969 – este úl-</p><p>timo documento é comumente conhecido como “Pacto de San José da Costa</p><p>Rica”) + Protocolo de San Salvador</p><p>Trata-se do sistema que se desenvolve no Brasil, através dos seus orga-</p><p>nismos nacionais (como o Ministério Público e a Defensoria Pública), bem</p><p>como de seus Poderes Republicanos (Executivo, Legislativo e Judiciário)</p><p>` Estruturação e principal documento protetivo: Constituição Federal</p><p>(1988)</p><p>Trata-se do sistema que se desenvolve no Conselho da Europa</p><p>` Estruturado por: Tratado de Londres (1949)</p><p>` Principal documento protetivo: Convenção Europeia de Direitos Humanos</p><p>(1950)</p><p>Trata-se do sistema que se desenvolve na União Africana (UA). A UA foi</p><p>fundada em 2002, em substituição à Organização da Unidade Africana</p><p>(1963)</p><p>` Principal documento protetivo: Carta Africana de Direitos Humanos e dos</p><p>Povos (1981)</p><p>Para fins de complementação, vale lembrar que existem mais dois sistemas regionais</p><p>(dos quais o Brasil, obviamente, não faz parte, por envolverem regiões geográficas que</p><p>nosso país não integra). São eles:</p><p>Fonte: Elaborada pelo autor.</p><p>Fonte: Elaborada pelo autor.</p><p>Figura 05. Outros sistemas regionais existentes</p><p>Como se pode observar, visto que os Direitos Humanos possuem suas particularidades</p><p>regionais, culturais e inclusive temporais (mesmo dentro de sua universalidade), fo-</p><p>ram estruturados sistemas de proteção (global + regional interamericano + regional</p><p>24</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>europeu + regional africano + sistema nacional de cada país que se preze demo-</p><p>crático, como é o caso do Brasil), a fim de que a diversidade dos Direitos Humanos</p><p>seja respeitada. Os sistemas de proteção são, portanto, mais uma manifestação da</p><p>diversidade dos Direitos Humanos.</p><p>O sistema de arranjo político conhecido como democracia não é reconhecido, pacificamente,</p><p>como um direito humano. Lembremos que o sistema internacional de direitos humanos tam-</p><p>bém inclui em seu nascimento a então URSS, até hoje a China e outros países que, sim, pos-</p><p>suem políticas públicas de direitos humanos e participam do sistema universal e regionais.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>PARA REFORÇAR!</p><p>Vimos, assim, que, ainda que os Direitos Humanos tenham um compromisso com a di-</p><p>versidade, a própria ideia de diversidade contempla múltiplas facetas. Assim, foram vis-</p><p>tas questões concernentes às dinâmicas do universalismo frente ao multiculturalismo, os</p><p>Direitos Humanos culturais como manifestações de diversidade, bem como a estrutura-</p><p>ção de sistemas de proteção de Direitos Humanos com o objetivo de atender às várias</p><p>peculiaridades pertinentes aos Direitos Humanos. De todo modo, sempre que se estiver</p><p>diante de um dilema, deve-se priorizar, na dúvida, o respeito à dignidade humana e a</p><p>um mínimo ético que seja comum a todos os seres humanos.</p><p>Links para leituras</p><p>Recomenda-se a leitura de algumas normativas protetivas de Direitos Humanos menciona-</p><p>das neste material:</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 22 de novembro de</p><p>2021.</p><p>BRASIL. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa</p><p>Rica) – Internalizada pelo Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm.</p><p>Acesso em: 15 nov. 2021.</p><p>BRASIL. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – internalizado pelo Decreto</p><p>nº 592, de 6 de julho de 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decre-</p><p>to/1990-1994/d0592.htm. Acesso em: 15 nov. 2021.</p><p>BRASIL. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – interna-</p><p>lizado pelo Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm. Acesso em: 15 nov. 2021.</p><p>FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA – UNICEF. Declaração Universal dos</p><p>Direitos Humanos – adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (re-</p><p>solução 217-A-III), em 10 de dezembro 1948. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/</p><p>declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 18 nov. 2021.</p><p>25</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Indicação de filme:</p><p>O filme 12 Anos de Escravidão trata da questão escravagista nos Estados Unidos da Améri-</p><p>ca. O filme é forte, marcante, mas ajuda a entender a necessidade atual de promover discri-</p><p>minações positivas, a fim de reparar danos históricos (como os decorrentes da escravidão no</p><p>continente americano como um todo).</p><p>Dados do filme:</p><p>12 ANOS de Escravidão. 12 Years a Slave (Original). Direção: Steve McQueen. Ano de</p><p>produção: 2013. Duração: 135 minutos. Filme não recomendado para menores de 14 anos.</p><p>Texto complementar:</p><p>Os direitos culturais são parte integrante dos Direitos Humanos, como visto. Não à toa, eles</p><p>compõem o segundo grupo de Direitos Humanos em espécie, ao lado dos direitos econô-</p><p>micos (os direitos civis e políticos) e dos direitos sociais (os direitos relacionados à frater-</p><p>nidade). Nesse sentido, recomenda-se a leitura de artigo a seguir, que pontua as questões</p><p>inerentes aos direitos culturais.</p><p>Dados do artigo:</p><p>LELIS, Henrique Rodrigues; LÔBO, Edilene. A dimensão cultural dos direitos humanos e a</p><p>efetivação do Estado democrático de direito. Revista Jurídica UNICURITIBA, Curitiba, v.</p><p>3, n. 44, p. 734-758, 2016. Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/</p><p>article/view/1894. Acesso em: 15 nov. 2021.</p><p>Caso de aplicação:</p><p>Das temáticas aqui estudadas (Direitos Humanos culturais, vedação a práticas discrimina-</p><p>tórias negativas, sistemas de proteção e diversidade), convém relacioná-las aos limites da</p><p>liberdade de expressão. Como caso prático, toma-se a situação de um “especial de Natal”</p><p>de um importante canal de comédia no YouTube, que caracterizou Jesus Cristo de forma</p><p>satírica, o que desencadeou protestos de vários grupos religiosos Brasil afora. Independen-</p><p>temente do ponto de vista que se adote, chama-se à reflexão do quanto uma questão assim</p><p>envolve os Direitos Humanos. Eis algumas perguntas que ficam para reflexão:</p><p>` A liberdade de expressão autoriza “brincadeiras” com determinadas religiões?</p><p>` O fato de ser um canal de comédia autoriza maiores “flexibilidades morais” em nome do</p><p>humor?</p><p>` Se a religião é um fator cultural do país, satirizar uma ou alguma religião pode ser visto</p><p>como ofensa aos Direitos Humanos culturais?</p><p>` Uma manifestação satírica de questão religiosa é positiva ou negativa para a noção de</p><p>diversidade que se busca nos tempos atuais?</p><p>26</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>4. PROTEÇÃO JURÍDICA DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>4.1. DIREITOS HUMANOS</p><p>Os Direitos Humanos são, basicamente, os direitos essenciais, aqueles que todos os</p><p>seres humanos possuem, pela própria condição de ser humano em si. Eles independem</p><p>de positivação, embora, em geral, estejam positivados. Aqui temos valores inerentes à</p><p>dignidade humana, que asseguram condições mínimas de existência, independente-</p><p>mente de raça, cor, credo, opinião política etc.</p><p>O direito à vida, considerado o direito básico, do qual todos os demais decorrem, é um exem-</p><p>plo de direito humano.</p><p>EXEMPLO</p><p>Babler (2019, p. 29), sobre o direito à vida, aduz que:</p><p>[...] não basta ter direito a sobreviver, é preciso ter direito a uma vida decente,</p><p>compreendendo a dignidade de cunho espiritual e material, no sentido de a</p><p>pessoa desfrutar um mínimo necessário à sua condição humana, traduzindo</p><p>a tese do mínimo existencial [...].</p><p>Em resumo, direitos humanos são aqueles que se conquistam simplesmente pela con-</p><p>dição de ser humano, independentemente do país a que pertença ou de qualquer outra</p><p>característica.</p><p>Desde uma visão estadocêntrica das relações internacionais, os direitos humanos são</p><p>aqueles positivados na ordem internacional, ou seja, nas relações do país com os ou-</p><p>tros países, o que se faz, principalmente, mediante a celebração de tratados e conven-</p><p>ções internacionais.</p><p>O aspecto temporal é um traço marcante dos direitos humanos, uma vez que eles foram</p><p>sendo incorporados com características diversas, conforme a época de um povo. Isso é</p><p>o que se denomina de historicidade e marca, isto é, ao mesmo tempo, a existência de</p><p>gerações e/ou as dimensões desses direitos.</p><p>Os direitos humanos, conforme mencionado anteriormente, são classificados em gera-</p><p>ções, não se confundem com os direitos fundamentais. Sarlet, Marinoni e Mitidiero (2012,</p><p>p. 297) diferenciam os direitos fundamentais e os direitos humanos da seguinte forma:</p><p>[...] o termo ‘direitos fundamentais’ se aplica àqueles direitos (em geral atri-</p><p>buídos à pessoa humana) reconhecidos e positivados na esfera do direito</p><p>constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão</p><p>‘direitos humanos’ guarda relação com os documentos de direito interna-</p><p>cional, por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser</p><p>humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada</p><p>ordem constitucional, e que, portanto, aspiram à validade universal, para</p><p>todos os povos e em todos os lugares, de tal sorte que revelam um caráter</p><p>supranacional (internacional) e universal.</p><p>EXEMPLO</p><p>27</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Embora semelhantes, as terminologias não se confundem, pois, enquanto “direitos hu-</p><p>manos” é, em síntese, a terminologia utilizada para indicar o conjunto de direitos do ho-</p><p>mem protegidos na ordem internacional, a expressão “direitos fundamentais” é o conjun-</p><p>to de direitos do homem já reconhecidos e positivados na ordem interna de cada país.</p><p>` Os direitos e as garantias fundamentais no artigo 5º da CF</p><p>As constituições brasileiras anteriores tratavam do tema nos seus últimos artigos, ao</p><p>final do texto legal. Na Constituição de 1988, o tema dos direitos e das garantias funda-</p><p>mentais é tratado logo no início do texto, com 77 previsões de direitos, o que mostra a</p><p>preocupação dos elaboradores do texto com a proteção de direitos e garantias funda-</p><p>mentais, bem como a importância da proteção à pessoa humana nos dias atuais.</p><p>Essa é uma das razões pelas quais a nossa Constituição é denominada de “Constituição</p><p>Cidadã”, em homenagem à relevância do tema da proteção dos direitos do ser humano</p><p>na nossa atual Constituição. Nesse sentido, dizia o então presidente da Assembleia</p><p>Constituinte, senhor Ulisses Guimarães, quando da elaboração da Constituição:</p><p>A Constituição é caracteristicamente o estatuto do homem. É sua marca de fá-</p><p>brica. O inimigo mortal do homem é a miséria. O estado de direito, consectário</p><p>da igualdade, não pode conviver com estado de miséria. Mais miserável do</p><p>que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a misé- ria. Tipografica-</p><p>mente é hierarquizada a precedência e a preeminência do homem, colocan-</p><p>do-o no umbral da Constituição e catalogando-lhe o número não superado, só</p><p>no art. 5º, de 77 incisos e 104 dispositivos. Não lhe bastou, porém, defendê-los</p><p>contra os abusos originários do Estado e de outras procedências. Introduziu o</p><p>homem no Estado, fazendo-o credor de direitos e serviços, cobráveis inclusive</p><p>com o mandado de injunção. Tem substância popular e cristã o título que a</p><p>consagra: “a Constituição cidadã”. (GUIMARÃES, 1988, p. 14.380)</p><p>Leia o discurso completo de Ulisses Guimarães no site da</p><p>Câmara dos Deputados.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/</p><p>escrevendohistoria/25-anos-da-constituicao-de-1988/constituinte-1987-1988/pdf/</p><p>Ulysses%20Guimaraes%20-%20DISCURSO%20%20REVISADO.pdf. Acesso em: 9</p><p>nov. 2021.</p><p>Entretanto, o fato de ter o direito não significa que esse direito não poderá sofrer abusos</p><p>ou violações pelo próprio Estado, ou até mesmo por outros indivíduos da sociedade.</p><p>Assim, pensando nas possíveis violações, o legislador previu instrumentos ou mecanis-</p><p>mos de proteção dos direitos contra abusos. São as denominadas garantias fundamen-</p><p>tais ou os denominados remédios constitucionais.</p><p>Portanto, ao passo que os direitos são situações de vantagem conferidas a um indiví-</p><p>duo pelo Estado, as garantias, por sua vez, são instrumentos de proteção desses direi-</p><p>tos quando estiverem ameaçados ou já estiverem sofrendo violações.</p><p>28</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Imagine, por exemplo, a liberdade de locomoção. É um direito fundamental. Temos o direito</p><p>de andar livremente pela sua cidade, ir para o trabalho, ir para a academia, ir ao cinema etc.</p><p>(liberdade de locomoção – artigo 5º, XV, da Constituição). Certo dia, no caminho do trabalho,</p><p>você foi surpreendido com uma blitz policial que, de forma inesperada, o conduziu à prisão.</p><p>O que fazer? É exatamente para isso que servem as garantias. Nesse caso, o habeas corpus</p><p>(artigo 5º, LXVIII, Constituição) é a garantia que assegura a sua liberdade pelo juiz se verifi-</p><p>cado o abuso do encarceramento.</p><p>Para reforçar, vale ressaltar que enquanto os direitos são situações de vantagem con-</p><p>feridas a um indivíduo pelo Estado, as garantias, por sua vez, são instrumentos de pro-</p><p>teção desses direitos quando estiverem ameaçados ou já estiverem sofrendo violações.</p><p>O artigo 5º da Constituição é uma norma de grande envergadura entre as normas cons-</p><p>titucionais. Tanto é assim que a própria Constituição traz uma proteção contra altera-</p><p>ções futuras da Constituição que venham a prejudicar o conteúdo dos direitos e das</p><p>garantias previstos no artigo 5º. Assim, o Congresso Nacional não pode prejudicá-lo ao</p><p>alterar ou retirar qualquer direito ou garantia previsto nesse artigo. Trata-se da proteção</p><p>denominada de “cláusula pétrea”.</p><p>Portanto, nenhuma alteração prejudicial de qualquer direito ou garantia previsto no ar-</p><p>tigo 5º poderá ser realizada, sob pena de a alteração ser declarada inconstitucional, ou</p><p>seja, contrária à nossa própria Constituição.</p><p>Figura 06. Os direitos</p><p>DIREITOS DIREITOS HUMANOS</p><p>DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>INTERNOS</p><p>CONSTITUIÇÃO DO PAÍS BRASIL (ART. 5°, CF/88)</p><p>CONSTITUIÇÃO</p><p>''CIDADÃ''</p><p>CLÁUSULA PÉTREA</p><p>PROTEÇÃO DO</p><p>CIDADÃO CONTRA</p><p>ABUSOS DO ESTADOPROTEÇÃO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA</p><p>INTERNACIONAIS</p><p>DIREITOS DO HOMEM</p><p>DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>DIREITO HUMANITÁRIO</p><p>FASES</p><p>TRATADOS E CONVENÇÕES</p><p>1ª GERAÇÃO (LIBERDADE)</p><p>4ª GERAÇÃO (''NOVOS DIREITOS'')</p><p>2ª GERAÇÃO (IGUALDADE)</p><p>3ª GERAÇÃO (FRATERNIDADE)</p><p>GERAÇÕES</p><p>Elaborada pelo autor.</p><p>29</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>4.2. RECONHECIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS</p><p>PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988</p><p>Segundo a Constituição Federal de 1988, o Brasil, nas suas relações internacionais,</p><p>terá como princípio regente, dentre outros, a prevalência dos Direitos Humanos. Assim,</p><p>preceitua o artigo 4º, CF:</p><p>“A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos se-</p><p>guintes princípios: [...] II - prevalência dos direitos humanos [...]”.</p><p>Se não bastasse a previsão na ordem interna, a Constituição federal reconhece a exis-</p><p>tência de diplomas internacionais com status constitucional. Assim, alguns tratados in-</p><p>ternacionais, embora não estejam escritos na Constituição, é como se lá estivessem,</p><p>pois têm a mesma força das normas constitucionais. Ocorre que os tratados de direitos</p><p>humanos que, assinados pelo presidente, passarem pelo crivo do Congresso Nacional</p><p>com a aprovação qualificada de 3/5 dos deputados e senadores com 2 sessões em</p><p>cada Casa (duplo turno), terão status de norma constitucional. Trata-se de votação para</p><p>cuja aprovação se exige um número elevado de deputados e senadores, em razão da</p><p>importância do tema.</p><p>Atualmente, existem dois tratados internacionais que possuem força constitucional no Brasil:</p><p>01. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2007);</p><p>02. Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas,</p><p>com Deficiência Visual ou com Outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto (2013).</p><p>EXEMPLO</p><p>IMPORTANTE</p><p>São, portanto, tratados de direitos humanos (internacionais) que entram no Brasil e aqui</p><p>são incorporados com força de direitos fundamentais (internos). Nesse momento, há</p><p>uma verdadeira simbiose entre direitos humanos e fundamentais nesse ponto.</p><p>É importante destacar que, caso os tratados internacionais não sejam aprovados com a vo-</p><p>tação qualificada de 2 turnos em cada Casa por 3/5 dos votos dos deputados e senadores,</p><p>eles então terão força supralegal. Isso significa que, embora não possuam força constitu-</p><p>cional, são capazes de revogar a lei que esteja em sentido contrário à sua determinação.</p><p>A Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas</p><p>de Intolerância já foi aprovada pelo Congresso Nacional em 2021 e está pendente de ratifi-</p><p>cação por decreto do presidente da República. Em breve, será o próximo tratado de direitos</p><p>humanos com força constitucional em nosso país.</p><p>30</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>SAIBA MAIS</p><p>A prisão civil do depositário infiel não foi revogada e está prevista na Constituição Federal.</p><p>Entretanto, não mais se compatibiliza com os valores supremos assegurados pelo estado</p><p>constitucional. A convenção americana sobre direitos humanos — pacto de San José da</p><p>Costa Rica —celebrado pelo Brasil, acarretou o impedimento legal à prisão civil do deposi-</p><p>tário infiel. O tratado de direitos humanos, que não foi aprovado no congresso nacional em</p><p>2 turnos e 3/5 dos votos, adquiriu eficácia supralegal capaz de impedir a eficácia da lei que</p><p>determina a prisão do depositário.</p><p>Figura 07. Status Constitucional e Status Supralegal</p><p>Elaborada pelo autor.</p><p>TRATADOS</p><p>DE DIREITOS</p><p>HUMANOS STATUS</p><p>CONSTITUCIONAL</p><p>STATUS</p><p>SUPRALEGAL</p><p>2 TURNOS</p><p>2 TURNOS</p><p>3/5 VOTAÇÃO</p><p>3/5 VOTAÇÃO</p><p>TRATADOS</p><p>DE DIREITOS</p><p>HUMANOS</p><p>31</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>` A POSITIVAÇÃO E A CRISE DE EFETIVIDADE DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>NA SOCIEDADE BRASILEIRA</p><p>Um dos grandes desafios do Direito e também dos direitos humanos é a sua efetivação</p><p>ou concretização. Muitas vezes já ouvimos algumas expressões como “essa lei não</p><p>funciona”, “esse direito não pegou”.</p><p>O mesmo ocorre em relação aos tratados de direitos humanos que, embora sejam</p><p>respeitados externamente, não são compridos internamente. A ideia de prevalência dos</p><p>direitos humanos (artigo 4º, II, da Constituição), deve ocorrer externa e internamente,</p><p>em homenagem ao princípio da coerência do Estado.</p><p>Se não bastasse, a nossa Constituição trata expressamente da efetividade no artigo 5º,</p><p>§1º, nos seguintes termos: “[...] as normas definidoras dos direitos e garantias funda-</p><p>mentais têm aplicação imediata.”</p><p>Segundo Lênio Streck (2011, p. 69), o direito é um saber prático e uma das principais</p><p>tarefas é a sua concretização:</p><p>Numa palavra: se o direito é um saber prático, a tarefa de qualquer teoria</p><p>jurídica é buscar as condições para: a) a concretização de direitos – afinal, a</p><p>Constituição (ainda) constitui – e, b) ao mesmo tempo, evitar decisionismos,</p><p>arbitrariedades e discricionariedades (espécies do mesmo gênero, o positi-</p><p>vismo) interpretativas.</p><p>Em relação aos direitos humanos, o problema da sua concretização assume contornos</p><p>mais sensíveis, levando em conta que os direitos humanos constituem regras de prote-</p><p>ção à dignidade humana que passam</p><p>por diferentes culturas, mas somente podem ser</p><p>considerados como “efetivos” à medida que são incorporados pelos sistemas jurídicos</p><p>nacionais e respeitados pelos órgãos de aplicação do país.</p><p>A nossa Constituição não pode ser uma simples “folha de papel”, ela deve ser realizada</p><p>na sociedade e ter força suficiente para sua efetivação. Entretanto, o grande desafio, no</p><p>Brasil e no mundo, é o déficit de concretização dos direitos humanos. O primeiro passo</p><p>para isso é a sua ratificação internacional. O segundo, a sua incorporação, positivando</p><p>o direito na sociedade brasileira. O terceiro passo, o mais difícil, é a sua concretização.</p><p>É difícil porque, até hoje, temos a existência de crimes graves como o tráfico de pesso-</p><p>as, o trabalho escravo, o trabalho infantil, a pedofilia, a tortura, além de episódios vexa-</p><p>tórios de violência doméstica e outras violências motivadas por discriminações em ra-</p><p>zão de orientação sexual, gênero, etnia, idade ou crença religiosa. Bobbio (2004, p. 25)</p><p>já alertava para esse fenômeno mundial da falta de efetividade dos direitos humanos:</p><p>[...] o problema que temos diante de nós não é filosófico, mas jurídico e,</p><p>num sentido mais amplo, político. Não se trata de saber quais e quantos</p><p>são esses direitos, qual é sua natureza e seu fundamento, se são direitos</p><p>naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais</p><p>seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações,</p><p>eles sejam continuamente violados.</p><p>A concretização dos direitos humanos fundamentais exige uma postura mais huma-</p><p>nizada dos profissionais do direito e de cidadãos em geral. Isso ocorre por meio de</p><p>32</p><p>Direitos Humanos: Histórico, Princípios e a Realidade Brasileira</p><p>1</p><p>uma formação que fomente a empatia, a sensibilidade, a compaixão. São direitos que</p><p>transcendem o espaço de um país, com pautas comuns entre os países, e valores mui-</p><p>tas vezes universais num determinado momento histórico da sociedade, que exigem a</p><p>consciência para a concretização.</p><p>Assim, se, por exemplo, tivermos externamente um tratado internacional assinado e ra-</p><p>tificado pelo Brasil, cuja promessa seja coibir a discriminação, e se considerarmos que</p><p>esse tratado seja incorporado na sociedade brasileira, então todas as políticas internas</p><p>deverão caminhar para efetivar as medidas necessárias para tanto.</p><p>Lutar pela efetividade dos direitos humanos é lutar pelo respeito à dignidade das pes-</p><p>soas. Uma luta de todos os cidadãos que, pode, dentre outras medidas de efetivação</p><p>direta, tais como protestos e exercício da liberade de expressão, também valer-se dos</p><p>três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) para buscar a realização de uma so-</p><p>ciedade mais livre, justa e solidária, demonstrando a coerência daquilo que se promete</p><p>no plano internacional em relação àquilo que se realiza no plano interno.</p><p>Link:</p><p>Site do Senado Federal. Promulgação da Constituição Federal de 1988. Disponível em: ht-</p><p>tps://www.youtube.com/watch?v=_WCPIr1Ff0U. Acesso em: 9 nov. 2021.</p><p>Texto complementar:</p><p>Artigo</p><p>“Direitos Humanos Fundamentais e Dignidade da Pessoa Humana: evolução e efetividade</p><p>no estado Democrático de direito”. http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/</p><p>article/viewFile/1687/1605. Acesso em: 9 nov. 2021</p><p>Casos de aplicação:</p><p>O “Ilha das Flores” à luz dos direitos humanos.</p><p>Ilha das Flores é um documentário nacional que narra um local na cidade de Porto Alegre</p><p>destinado ao depósito de lixo, apresentando, de forma clara e coerente, a trajetória de um</p><p>tomate, desde a etapa de colheita até o seu descarte e seu destino ao lixão da ilha. No lixão,</p><p>as crianças disputam os alimento, aquilo que seria rejeitado anteriormente pelos porcos.</p><p>Dessa forma, o curta consegue manejar os aspectos do capital e do consumo desenfreado,</p><p>no cenário em que o ser humano se transofrma e se inferioriza de tal forma a se transformar</p><p>em coisa, em detrimento direto ao princípio da dignidade da pessoa humana.</p><p>Leitura Complementar:</p><p>ILHA DAS FLORES: O HOMEM, O PROGRESSO E O DESENVOLVIMENTO HUMA-</p><p>NO. https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/fiped/2012/1871278fa8293e3deebc-</p><p>6735f7408e6e_1583.pdf. Acesso em: 08 set. 2022.</p><p>PARA REFORÇAR!</p><p>http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/1687/1605</p><p>http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/1687/1605</p><p>33</p><p>1</p><p>Direitos Humanos</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>_GoBack</p>