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1 Prioridades Axiológicas e Expectativa de Sucesso: um Estudo com os CEO’S do Futuro Autoria: Pedro Marcos Roma de Castro, Marcello Vinicius Doria Calvosa, James Wright, Tânia Casado O estudo trabalha com a perspectiva de investigar os valores individuais e mais especificamente as prioridades axiológicas dos executivos premiados no concurso CEO do futuro; busca-se desenhar o quadro dos valores existentes no contexto dessa indicação de um ‘talento’ e na identificação dos executivos tidos como com alto potencial para se chegar à presidência de uma empresa. A pesquisa de campo ocorreu com a aplicação do Inventário de Valores de Schwartz junto a uma amostra selecionada por acessibilidade com a participação de 21 CEO’s do Futuro, homens e mulheres com idade média de 36,78 anos, participantes e vencedores do concurso nas edições dos anos de 2001 a 2008. Foram analisados os valores individuais e as prioridades no nível de cada um dos dez tipos motivacionais de valores, bem como ao nível de cada um dos quatro fatores de segunda ordem. Os resultados vão na direção de apontar que o escore geral é superior no tipo motivacional autodeterminação, enquanto que preliminarmente escores dos executivos que possuem filhos foram superiores em poder, conformidade e segurança e ao nível dos fatores de alta ordem foi observado que estes enfatizam mais os valores de conservação do que aqueles que não possuem filhos. Em relação a autotranscendência esta integra o perfil, mas há oscilação no grau da importância atribuída. 1. Introdução Pesquisas recentes ressaltam a importância da mensuração e da investigação dos valores no ambiente organizacional, a exemplo dos estudos de Tamayo (2000) que ressalta a relação das prioridades axiológicas com a satisfação no trabalho e de Demo (2008) que avalia o papel dos valores pessoais sobre a percepção de políticas de gestão de pessoas. Somando nesse cenário que ressalta a relevância do estudo dos valores no contexto organizacional o objetivo da presente pesquisa é mapear a configuração dos valores em termos das prioridades axiológicas das pessoas premiadas nos últimos anos nos concursos do CEO do futuro, buscando identificar e desenhar o quadro os valores existentes no contexto da identificação de um “talento”; e na indicação dos executivos que possuem alto potencial para se chegar à presidência de uma empresa. O concurso do CEO (Chief Executive Officer) do futuro é realizado anualmente pela revista Você S/A da editora Abril, em parceria com o Programa de Estudos do Futuro (PROFUTURO-FIA) e a consultoria Korn/Ferry International. O concurso bastante disputado conta, em algumas edições com a premiação de 15 executivos dentre uma população que beira os 1.000 inscritos. Como premiação, a FIA (Fundação Instituto de Administração) oferece para os agraciados a matrícula em um curso desenvolvido e ministrado por professores doutores da FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e que oferece vagas limitadas ao público em geral. “Você acredita em seu potencial de liderança? Acha que tem o perfil para ser presidente de uma empresa? Se a resposta é sim, não perca a chance de mostrar seu valor para o mercado. Inscreva-se no concurso CEO do futuro”. Assim com essa chamada, a revista Você S/A canal de grande circulação e prestígio no meio executivo, alerta para a abertura do concurso e convida os interessados para a inscrição. Os premiados, a cada edição, são amplamente divulgados pela mídia, o que inclui a própria revista promotora. O concurso tem como público alvo executivos em geral, gerentes e diretores de empresas de todas as áreas funcionais. Como pré-requisito o candidato deve ser um profissional atuante em empresa estabelecida no Brasil ou América Latina, possuindo no mínimo três e no máximo dez anos de experiência, no papel de liderança. 2 Em relação ao curso [ prêmio ] oferecido que também é ofertado com vagas limitadas para o público em geral, com o custo médio de R$ 1.600,00, os interessados após o preenchimento e envio da ficha de inscrição, é realizado uma etapa de Análise Curricular onde os interessados serão avaliados e selecionados, de acordo com o número de candidatos pré-selecionados conforme requisitos, a FIA pode solicitar uma entrevista pessoal para completar o processo seletivo, em determinados casos e complementar o processo com uma análise conjunta com a qualidade e variedade da experiência profissional do executivo candidato. Para os vencedores do concurso ‘CEO do futuro’ a vaga e a participação no curso são preliminarmente garantidas. O CEO do Futuro, conforme as agências promotoras, é um profissional que apresenta “Iniciativa, Competência Técnica/Funcional, Compatibilidade - Capacidade de Formar, Liderar e Trabalhar em Grupos, e Discernimento. O profissional qualificado para ser o CEO do Futuro deve ser capaz de temperar estas habilidades com a experiência em negócios competitivos, que desafiam, estimulam e desenvolvem o talento gerencial”. (VOCÊ S/A, 2008). Desta forma, diante das características ressaltadas, que demanda das pessoas, basicamente prontidão e polivalência, o objetivo deste estudo é analisar o desenho do quadro dos valores existentes no contexto da indicação de um ‘talento’, no cenário dos executivos tidos como com alto potencial para se tornar com êxito CEO de uma empresa. 1.1 Problema da Pesquisa Para que o profissional alcance o patamar de CEO em uma empresa, algumas características e competências devem ser evidentes em suas ações e práticas, assim como demandadas, também, pela organização. No escopo dessas características, entre outras, devem estar presente a sua plena prontidão, intensiva qualificação e multidisciplinaridade. O concurso CEO do futuro premia o potencial de “sucesso” do profissional, mas o que é ter sucesso? Num mercado altamente instável, onde os valores subjacentes não são claramente ressaltados, que valores seriam levados em consideração? Há um perfil de tipologias de valores predominante? Que variáveis interferem nesse cenário? O escrutínio dessas questões leva a uma pergunta-problema: será que haveria diferenças significativas, ao longo do tempo, nos valores imbuídos no desenho do que se qualifica como um executivo do futuro? 2. Concurso CEO do Futuro O concurso CEO do futuro é um projeto inédito da revista VOCÊ S/A, da Korny/Ferry International e do programa Profuturo da FIA/USP e visa reconhecer jovens talentos, dar visibilidade desenvolvendo uma cadeia de relacionamentos e promover o crescimento profissional e pessoal desses jovens talentos. O prêmio do concurso caminha, também, nessa direção e consiste em implementar o programa de capacitação que preza pela multiplicação do conhecimento e estimula o desenvolvimento de aspectos críticos de liderança, com o foco voltado para o auto-desenvolvimento. Embora esteja explícito nas regras do concurso que o mesmo “não está relacionado a uma oportunidade de trabalho específica ou a uma posição em um dos clientes da Korn/Ferry International (K/FI), nem garante aos participantes qualquer privilégio em oportunidades futuras” (VOCÊ S/A, 2008); a premiação e divulgação, caminha na direção do aumento da empregabilidade dos participantes, quando da abertura de uma [nova] cadeia de relacionamentos, acessos a diversos parceiros, abrindo oportunidades e criando “expectativa” de um futuro profissional melhor. 3 O processo de seleção, a escolha dos finalistas e dos indicados como CEOs do Futuro é realizada em três etapas: • Avaliação Preliminar de Currículos Após o encerramento do período de inscrições o currículo que foi inscrito e encaminhado por meio do site da eKornFerry é avaliado por profissionais dos três principais parceiros promotores com o objetivo de identificar aqueles cujo perfil profissional mais se aproxime das características descritas como competências globais (Iniciativa, CompetênciaTécnica/Funcional, Compatibilidade). Nessa análise do conjunto de currículos, cerca de 200 serão selecionados para a próxima etapa, conforme informações da revista Você S/A (2008). • Avaliação das Competências Globais Os candidatos selecionados para esta etapa preparam um relatório onde devem descrever detalhadamente a sua carreira desde a data em que assumiram a primeira posição gerencial. Também nessa etapa são “convidados a fazer uma descrição detalhada de realizações-chave ou que consideram marcantes em sua carreira como gerentes/diretores, com foco nos aspectos ligados a Satisfação do Cliente, Retorno para o Acionista e Rentabilidade, e uma pequena dissertação sobre como atuaram ou podem atuar de forma a resgatar o ‘gap’ social no país.” (VOCÊ S/A, 2008). Nesta etapa de avaliação a seleção dos candidatos se dá com base no que a Korn/Ferry International atribui a um conjunto de habilidades a denominação de “Competências Globais”, que inclui a competência técnica/funcional, capacidade de iniciativa e compatibilidade. A avaliação com base na competência técnica/funcional envolve identificar se os candidatos mantêm um foco permanente na atualização profissional e possuem habilidades para compreender situações, saber argumentar com lógica e serem capaz de correlacionar fatores e problemas complexos. Busca-se também analisar a capacidade de observar, definir e adaptar prioridades, resolver problemas e implementar soluções no ambiente organizacional, sabendo administrar o tempo, manter-se focado na essência do problema e não deixar-se levar por assuntos secundários. Um profissional de alta produtividade no ambiente do ‘futuro’ também deve se preocupar em dar retorno (feedback) constante, deve ser resistente ao estresse e possuir capacidade de atuar em situações críticas sem perder a vitalidade e a estabilidade emocional. Como iniciativa o candidato deve possuir capacidade de influir de forma efetiva em processos de decisão, aceitar desafios (após a adequada avaliação dos riscos) e procurar alternativas para executar as atividades ao seu redor A compatibilidade é entendida como saber interagir com superiores, pares e subordinados, estabelecendo relações construtivas e duradouras. No quesito compatibilidade é avaliado, em conseguinte, a capacidade de mobilizar pessoas, de contribuir para o desenvolvimento da empresa e das pessoas, saber integrar e formar equipe. A demonstração de interesse em desenvolver-se, ser capaz de lidar com a rejeição e de responder às críticas, a capacidade de julgamento para distinguir o que é relevante do irrelevante e antecipar tendências e seus desdobramentos, também são importantes requisitos para uma boa avaliação no quesito compatibilidade, enquanto competência global de um executivo do futuro. Segundo informações da Você S.A. (2008), dos cerca de 200 candidatos, são selecionados cerca de 40 que seguem para a etapa final. • Seleção dos Candidatos Finalistas Os semifinalistas passam por entrevistas individuais com profissionais da Você S.A., da FIA/USP e da Korn/Ferry International. Nestes encontros pessoais, serão estudados com mais profundidade as Competências Globais descritas e a contribuição dos candidatos à 4 empresas onde trabalham. Cada uma das entrevistas possui duração de cerca de uma hora e 30 minutos, sendo que os candidatos passam por pelo menos duas entrevistas com diferentes entrevistadores (VOCÊ S/A, 2008). Dependendo da edição e do ano do concurso são considerados CEOs do Futuro e premiados, de 15 a 20 candidatos dentre os melhores qualificados. A pesquisa CEO do futuro realizada pela FIA (2001), utiliza técnica prospectiva para levantar quais seriam os atributos e características de um CEO no Brasil. Castro, Limad e Almeida (2005), pontuam que imerso no jogo da arte e da ciência, as técnicas e métodos de prognóstico se desenvolvem na busca de processos sistemáticos para se produzir julgamentos sobre contextos emergentes, rotas de desenvolvimento e tendências, dentre as técnicas qualitativas de forecasting destacam-se os jogos de simulação, a técnica Delphi e matrizes de impacto cruzado. Propriamente à técnica Delphi utilizada, FIA (2001) ressalta tratar-se de uma técnica prospectiva que obtém um prognóstico com base na opinião de especialistas, tentando-se obter uma “convergência” no juízo intuitivo de peritos quanto aos possíveis progressos em um determinado campo. “Na Grécia o futuro era predito nos oráculos, o jogo de Delphos, ou método Delphi, homenageia o oráculo de Delphos” (NEVES CRISTO, 2002 p. 2). Participaram da pesquisa Delphi, 255 respondentes formados por CEOs (18), diretores (56) e gerentes (105), dentre outros especialistas (76). O resultado aponta que o CEO do Futuro deve ser é um profissional que combina iniciativa, competência técnica-funcional, discernimento e capacidade de formar e liderar o trabalho em grupos/equipes (FIA, 2001), um resultado que aponta um profissional bem próximo dos requisitos constantes nas etapas de avaliação e seleção. Além destas competências, ao focar apenas os respondentes CEOs e Diretores de RH surgem características consideradas importantes, e que não apareceram nos resultados da pesquisa geral, que são a atuação em prol da sociedade, trabalhos comunitários, etc. e a condução de inovações em produtos e processos (FIA, 2001). Em termos gerais, o que sobressai é que o profissional qualificado para ser o CEO do Futuro, como um executivo, é um profissional pró-ativo, polivalente, capaz de mesclar habilidades e capaz de se adaptar-se às constantes mudanças nos negócios competitivos, que desafiam, estimulam e desenvolvem o talento gerencial e o perfil de liderança. 3. Teoria dos valores O precursor das propostas de medição empírica dos valores foi Allport (1969) que ao entender valores como crenças segundo as quais as pessoas preferem agir, salientou a relevância de se distinguir atitudes e traços. Sendo em traços que os valores estariam, então, incluídos. Sua contribuição foi extremamente relevante pela demonstração da centralidade [e importância] dos valores no sistema das pessoas, e ainda pela apresentação de um propósito de forma inovadora tratando da medida de valores como constructo legítimo e específico. Atualmente os valores são ainda entendidos em consonância com Allport, possuindo um conceito com uma estruturação diferenciada do conceito de atitudes (TAMAYO, 2000, p.41), entretanto os valores são entendidos diferentemente de traços, tendo em vista que indivíduos podem ter determinados valores como prioritários na vida, e não apresentar o traço de personalidade correspondente (TAMAYO; PORTO, 2005). De acordo com Schwartz (1992), quando falamos de valores, referimo-nos ao que é considerado importante para a nossa vida. Para o autor, apesar de ser um conceito que pode ser abordado por diversos enfoques, existem características que são comuns em quase todas as definições: os valores são crenças, transcendem a situações de contexto, guiam a seleção e julgamento de atos e eventos e também possuem diferentes intensidades de importância. 5 A fonte dos valores são exigências ou necessidades universais do ser humano (ROKEACH, 1973; SCHWARTZ; BILSKY, 1987), assim os valores desenham convicções e expressam alvos que a pessoa quer atingir em sua vida. Schwartz (2005) avalia e reforça a idéia de que os valores consistem em metas que transcendem situações e ações específicas, variam em sua importância e guiam a seleção e julgamento de eventos e comportamentos funcionando, portanto, como padrões pelos quais as pessoas se guiam. Em seu tempo Rokeach (1973), explica que valores determinam tanto atitudes, quanto comportamentos, sendo um conceito não estático que inclui componentes afetivos, cognitivos e comportamentais. Para Rokeach, os valores são metas que o indivíduo fixa para si mesmo e se referem a estados desejados de existência (valores terminais) ou modos desejáveis deconduta (valores instrumentais). Para Rokeach (1973) uma pessoa prefere um comportamento ou estado final não apenas quando comparado com seu comportamento ou estado final oposto, mas também com outros valores do sistema de valores desta pessoa. Um valor será preferido a outros que estiverem abaixo na hierarquia de valores de um indivíduo. Logo para o autor, os valores são crenças e, também, metas que variam em importância, servem como guia e estão integrados em um sistema pessoal organizado no qual estão ordenados em ordem de prioridade, com relação a outros valores. Para Schwartz (1992) os valores servem como guias para a seleção e avaliação de ações, pois se apresentam como critérios para avaliar, de maneira positiva ou negativa, as ações, eventos e experiências. Geralmente, aquilo que se aproxima de um valor que julgamos importante tende a ser mais bem avaliado. No entanto, essa nem sempre é consciente; ficando mais evidente quando as ações ou decisões levam a um conflito entre valores, em que se destaca que os valores possuem, também, uma ordem hierárquica no sistema de valores pessoais. No entanto para Schwartz é necessário compreender o pressuposto de que comportamentos são guiados não apenas pela prioridade dada a um valor, como expresso em Rokeach (1973), mas para Schwartz a noção de ‘prioridade’ ocorre pelas trocas no sistema integrado entre valores que estão simultaneamente implicados em decisão ou em um comportamento (SCHWARTZ, 1996). O sistema de valores de uma pessoa é nada mais do que uma disposição hierárquica de valores, uma classificação ordenada de valores ao longo de um contínuo de importância (ROKEACH, 1969, 1973). A organização hierárquica de valores pressupõe que o indivíduo se relaciona com o mundo físico e social como ator que participa, toma partido e se envolve. Os valores implicam necessariamente, em preferência e distinção, entre o que é importante para o indivíduo e o que é secundário, entre o que tem valor e o que não tem. Um sistema de valores por sua vez é considerado uma organização de princípios que agem na escolha de alternativas, ajuda a resolver conflitos e a tomar decisões. Para Schwartz (1994), valores são metas hierarquicamente estabelecidas e incorporadas que definem o desejável e o aceito; são agentes motivacionais e sua natureza é cognitiva e emocional. Os sistemas de valores das pessoas são relativamente estáveis e agem como princípios que guiam o seu comportamento (SELIGMAN; KATZ, 1996). Braithwaite (1994) mostrou que o sistema pessoal de valores está relacionado de forma altamente coerente com o sistema social de valores. Baseado em 30 anos de pesquisas Hofstede (1991) ao comparar as culturas com base nos valores identifica cinco dimensões: • Alta distância do Poder X Baixa distância do Poder • Individualismo X coletivismo • Quantidade X qualidade de vida (ou masculino X feminino) • Incerteza X Certeza (previsibilidade) 6 • Longo Prazo X Curto Prazo (Dinamismo Confuciano) Para se chegar a essa estrutura de cinco dimensões Hofstede (1991) analisou os dados coletados pela empresa IBM elaborando a mensuração com mais de 116.000 pessoas em 40 países sendo que, outros autores ampliaram os resultados para 85 países (MOOIJ, 1998). A “distância do poder” pode ser definida como o quanto os membros menos poderosos de uma sociedade aceitam e esperam que o poder seja distribuído de forma não igualitária. Essa dimensão influencia o modo como as pessoas aceitam a autoridade; em culturas com grandes distâncias de poder se desenha um sistema de ‘castas’ que não permite uma grande mobilidade dos cidadãos. Por outro lado em culturas com baixos índices na dimensão distância do poder, a autoridade pode possuir conotação negativa e a igualdade de oportunidades é enfatizada. Nesse ambiente, de baixa distância do poder, Holt (1998) expõe que pessoas de nível mais altos na hierarquia estão mais propensas a compartilhar com os subordinados a tomada de decisão. O contraste entre “individualismo e coletivismo” foca o quanto a sociedade possui valores associados ao sucesso individual ou quanto as pessoas se preocupam com as questões de natureza das relações coletivas. De acordo com Chang (2003), as culturas mais individualistas (como a americana e canadense), valorizam altamente a realização pessoal, a inovação, criatividade e autonomia. Culturas mais coletivistas (como a japonesa e chinesa) enfatizam a ordem social, a lealdade, as contribuições individuais serão mais valorizadas se estiverem em acordo com os interesses do grupo. Com base nas dimensões de Hofstede (1991) em acordo com a ITIM International (2008), o Brasil – em uma medida que varia de 0 a 100 – possui um score de individualismo de 38, sendo mais alto que a média dos países latinos que é igual a 21. Entretanto todos os países latinos podem ser considerados coletivistas ao serem comparados com as demais culturas individualistas (a maioria dos países ocidentais). Para Triandis (1995), a dimensão Individualismo versus Coletivismo, ganha grande projeção nas pesquisas empíricas, tornando-se a mais freqüentemente investigada. Para Tamayo e Porto (2005), a dimensão relaciona-se as preferências ou prioridades dadas pelos membros de uma cultura a determinadas metas axiológicas. Tamayo (2000), também ressalta que a dicotomia individualismo-coletivismo tem sido freqüentemente utilizada como marco de referência para explicar as principais prioridades axiológicas, mas a ênfase na dimensão parece, porém, ser insuficiente para explicar as prioridades axiológicas de uma pessoa. Schwartz (1992) salienta que ao focalizar a análise exclusivamente em torno do conflito entre metas individuais e coletivas, vários valores podem não receber a atenção que merecem; Schwartz tem mostrado empiricamente que a estrutura dos valores é bidimensional e essas dimensões expressam motivações diferenciadas. A dimensão masculinidade versus feminilidade envolve os valores dominantes reforçando o papel masculino de realização, sucesso, controle e poder; ou reforçando valores de feminilidade (qualidade inter-relacional) como o cuidado para com as pessoas e a qualidade de vida (HOSFSTEDE, 1991). Por sua vez, um baixo escore na dimensão quantidade versus qualidade indica que o país possui um baixo nível de diferenciação social e de discriminação entre os sexos (MOOIJ, 1998). A dimensão aversão à incerteza define o quanto as pessoas se sentem subjetivamente ameaçadas pela incerteza, pelo risco ou pela ambigüidade e, por conseguinte, tentam evitar essas situações; a dimensão reflete a ênfase que diferentes sociedades dispensam para a previsibilidade de acontecimentos futuros. Culturas com baixos escores nessa dimensão, como a americana, tendem a não mostrar emoções, são mais generalistas, acreditam mais no bom senso e toleram mais conflitos e a competição (HOSFSTEDE, 1991). Para Mooij (1998) as culturas com alta aversão à incerteza sentem necessidade em estruturar a realidade e quando combinadas com culturas individualistas, há a valorização de 7 regras que sejam explícitas e escritas; quando combinadas com culturas coletivistas as regras tendem a ser mais implícitas e muitas vezes fundamentadas na tradição. A última dimensão de Hofstede (1991) longo prazo versus curto prazo surge do conceito original cujo nome era “dinamismo confuciano”, pois abrange valores da filosofia confuciana. Confúcio foi um pensador que viveu na china (aproximadamente, ano 500 a. c.) e traz um conjunto de normas práticas, que em acordo com Redpath e Nielsen (1997) os valores confucianos incluem a poupança, a persistência, bem como, a adaptação das tradições sem perder a preocupação com a virtude. Hofstede (1991) incluiu essa dimensão no modelo que era composto pelas quatro dimensões descritas anteriormente e a denominou “orientação para o longo prazo” que representa o grau pelo qual uma sociedade exibe valores com uma perspectiva pragmática,orientada para o futuro, em vez de um ponto de vista voltado para resultados de curto prazo. Para Rokeach (1973), elementos como semelhanças culturais, sistema social, classe sócio-econômica, sexo, ocupação, formação, educação religiosa e orientação política podem moldar em modos semelhantes os sistemas de valores de um grande número de pessoas. Enquanto os fatores de personalidade aumentam as variações entre os sistemas de valores individuais, os fatores culturais, institucionais e sociais tendem a reduzir e restringir essas variações. Os valores dos indivíduos são fortemente influenciados pelo sistema social ou cultural no qual as pessoas são criadas (EREZ; EARLEY, 1993), por isso expandindo-se essa questão para aspectos, não apenas do presente, mas também relacionados com características da história para Casado et. al. (2005) os valores presentes em indivíduos em países latino- americanos são discrepantes em virtude da socialização e dos valores endossados pelo processo de colonização portuguesa ou espanhola, enquanto um processo histórico. A herança cultural em termos de valores deixada pelos países colonizadores ainda tem presença marcante no ambiente empresarial. Os executivos de Portugal – Brasil e Macau apresentam valores e estratégias semelhantes de ascensão na carreira e nota-se semelhanças entre os executivos do bloco Espanha – Argentina e México. Essa constatação é feita empiricamente numa pesquisa em que foram levantados valores de 1.350 executivos desses seis países (CASADO et. al., 2005). Rohan (2000) ressalta que os valores individuais são subdivididos em pessoais e sociais. Os valores pessoais referem-se aos princípios que guiam à vida dos indivíduos, enquanto os valores sociais estão relacionados aos princípios que o indivíduo percebe que o grupo defende, endossa e/ou aprova. Assim, além de identificarem seu próprio sistema de valores, as pessoas podem descrever os valores dos outros considerando o que é endossado e/ou promovido pelos grupos/instituições. Sendo assim, tais pesquisas passam a enfocar as diferenças nos valores das pessoas como uma direção promissora para se caracterizar as culturas. Destaca-se, então, que o nível de análise é imprescindível para compreensão das teorias; uma vez que a sociedade compõe-se de sistemas sociais de múltiplos níveis, como por exemplo, nível individual, organizacional, cultural, entre outros, os valores podem ser investigados em qualquer um destes níveis. Nota- se, contudo, que na literatura a maior parte dos estudos sobre valores focam os níveis individual e cultural, sendo que no nível individual de análise, as teorias sobre valores visam caracterizar as prioridades que orientam as pessoas (TAMAYO; PORTO, 2005). Apoiado em diversos estudos empíricos e apresentando uma estrutura robusta para investigar os valores e dimensões relativas às prioridades axiológicas individuais, Saving e Schwartz (2005) defendem que embora a estrutura de valores de Schwartz seja diferenciada, a mesma não deva ser considerada uma contradição ao trabalho de Hofstede, percebe-se que a estrutura multidimensional de valores seja considerando-se o individual, seja considerando-se 8 o cultural, apresenta estreitas relações com as dimensões de Hofstede (1991), existindo paralelo entre constructos. Considerando-se o nível individual de análise dos valores, os estudos de Schwartz (1992, 1994) ganham destaque nos últimos anos. O arcabouço desenvolvido sobre valores mostra-se de utilidade na medida em que estabelece relações entre as prioridades axiológicas, as disposições motivacionais e o comportamento dos indivíduos. Para Schwartz (1996), é necessário compreender o pressuposto de que os comportamentos são guiados não apenas pela prioridade dada a um valor, mas pela relação dinâmica de valores que estão simultaneamente implicados em um determinado tipo motivacional. O estudo dos valores que se baseava numa abordagem em que o impacto deles não era investigado de forma global ou estrutural, mas considerando um ou dois valores de cada vez. Desta forma, os valores não apresentavam uma dimensão estrutural a partir da qual pudesse ser estudada a influência do conjunto das prioridades axiológicas. A abordagem estrutural dos valores foi desenvolvida por Schwartz e Bilsky (1987) e Schwartz (1994) ela é orientada não pela prioridade dada pela pessoa a um único valor, mas pela prioridade dada a conjuntos de valores que apresentam relações entre si. Com base em elaborações teóricas recentes e em resultados de pesquisas interculturais (SCHWARTZ; BILSKY, 1987, SCHWARTZ, 1992, 1994, SCHWARTZ; BARDI, 2001) considera-se que as exigências universais do ser humano que constituem a fonte dos valores se expressam através de tipos motivacionais. Os tipos motivacionais de valores, observados em praticamente todas as culturas estudadas, encontra-se na Tabela 1. Tipos Metas Serve Interesses Hedonismo Prazer e gratificação sensual para si mesmo Individuais Realização O sucesso obtido por uma demonstração de competência Individuais Poder Social Controle sobre pessoas e recursos, prestígio Individuais Autodeterminação Independência de pensamento, ação e opção Individuais Estimulação Excitação, novidade, mudança, desafio Individuais Conformidade Controle de impulsos e ações que podem violar normas sociais ou prejudicar os outros Coletivos Tradição Respeito e aceitação dos ideais e costumes da sociedade Coletivos Benevolência Promoção do bem estar das pessoas e do grupo de referência Coletivos Segurança Integridade pessoal, estabilidade da sociedade, do relacionamento e de si mesmo Mistos Universalismo Tolerância, compreensão e promoção do bem-estar de todos na sociedade e da natureza Mistos Tabela 1 – Tipos motivacionais de valores Os cinco tipos motivacionais que expressam metas e interesses individuais (autodeterminação, estimulação, hedonismo, realização e poder social) ocupam, no espaço multidimensional, áreas contíguas opostas àquelas reservadas aos tipos motivacionais que expressam primariamente metas e interesses coletivos (benevolência, tradição e conformidade). Os tipos motivacionais segurança e universalismo, constituídos por metas e interesses tanto individuais quanto coletivos, são opostos e situam-se nas fronteiras destas duas áreas (TAMAYO; SCHWARTZ, 1993). Schwartz (1994) postula compatibilidade entre os tipos motivacionais que são adjacentes no espaço multidimensional (por exemplo, estimulação e hedonismo, tradição e conformidade) e conflito entre as metas motivacionais dos tipos situados em direções opostas (por exemplo, estimulação e conformidade/tradição). A busca simultânea de alvos pertencentes a áreas adjacentes é compatível porque esses alvos satisfazem interesses afins, enquanto que a procura de alvos pertencentes a motivações opostas pode ser conflitante, já que estas visam interesses díspares. (Figura 1) 9 Assim, a prioridade axiológica trata-se de uma abordagem estrutural dos valores que foi desenvolvida inicialmente por Schwartz e Bilsky (1987) e é orientada não pela prioridade dada pela pessoa a um único valor, mas pela prioridade dada a conjuntos de valores que apresentam entre si relações formando uma tipologia motivacional. Os valores se agrupam em dez tipologias (fatores de primeira ordem) e em duas dimensões bipolares (fatores de segunda ordem ou de ordem superior). No modelo os valores estão organizados formando um continuum de motivações que se relacionam, dando origem a uma estrutura com duas dimensões básicas denominadas de ordem superior, compostas de dois eixos bipolares e ortogonais entre si. Figura 1 – Estrutura bidimensional dos valores Os tipos motivacionais de valores estão organizados em duas dimensões. A dimensão abertura à mudança versus conservação opõe valores que enfatizam pensamento e ação independentes (Estimulação, Autodeterminação e Hedonismo), favorecendo a mudança, e, do outro lado, valores quedão ênfase a auto-restrição, preservação de práticas tradicionais e proteção da estabilidade (Segurança, Conformidade e Tradição). A dimensão autopromoção versus autotranscendência apresenta, no primeiro pólo, os valores relativos aos tipos motivacionais Poder, Realização e Hedonismo, e no pólo da autotranscendência, os valores de Universalismo e Benevolência. Essa dimensão contrasta valores que privilegiam os interesses do indivíduo, mesmo à custa dos outros, em oposição à 10 preocupação com o bem-estar dos outros e da natureza. O Hedonismo é componente tanto da abertura à mudança quanto da autopromoção. As pesquisas de Schwartz (1992, 1994) e Schwartz e Bardi (2001) têm demonstrado a validade universal desse modelo. Esta estruturação dos tipos motivacionais tem sido verificada repetidas vezes em numerosas culturas de todos os continentes. A estrutura motivacional e a dinâmica dos seus componentes foram estudadas empiricamente por meio do método da análise do espaço menor (smallest space analysis), a qual consiste numa técnica de análise estatística multidimensional indicada para determinar a estrutura da similaridade de dados. Por meio dela os valores são representados como pontos no espaço multidimensional, de tal forma que as distâncias entre eles expressam as relações empíricas entre os valores, determinadas a partir das correlações entre os seus graus de importância. Na abordagem de Schwartz, a estrutura bidimensional dos valores oferece boas oportunidades para o estudo das prioridades dos CEOs do futuro. As duas dimensões axiológicas são relevantes para o posicionamento dos executivos, diante da atual instabilidade do mercado, a orientação abertura à mudança vs conservação pode ser relevante para o êxito. A segunda de dimensão é relevante em vista que os valores de autotranscendência enfatizam a tolerância, a aceitação, a compreensão dos outros e a preocupação com o bem-estar de todos. As metas dos valores de autopromoção, pelo contrário, visam a promoção dos interesses de si mesmo, autoridade, reconhecimento social e sucesso pessoal. 3. Método Os valores podem ser mensurados de diferentes maneiras. No Brasil os estudos quantitativos que versam sobre o estudo de valores individuais utilizam basicamente como instrumentos de coleta: (1) Escala de Valores de Rokeach (1973), traduzida para o contexto brasileiro por Günther (1981); (2) Portrait Value Questionnaire – PVQ de Schwartz et al. (2001), validado para aplicação na população brasileira por Pasquali e Alves (2004); e (3) Inventário de Valores de Schwartz adaptado e validado no Brasil por Tamayo e Schwartz (1993), utilizado no presente estudo. As escalas podem ser ordinais ou intervalares, porém, a literatura científica acerca de valores, atualmente contém, em sua maioria, trabalhos publicados que empregam escalas intervalares de avaliação. Schwartz (1994) justifica a superioridade da forma de mensuração com base em avaliação intervalar de importância, pois permite ao pesquisador coletar em menos tempo listas mais longa de valores, capturar dados com notas negativas a certos valores (aspecto importante em estudo trans e inter-culturais) e permite aos respondentes relacionar valores que julgue igualmente importantes. 3.1 Instrumento de Medida O instrumento de medida utilizado na pesquisa foi o Inventário de Valores de Schwartz, adaptado e validado por Tamayo e Schwartz (1993). Este instrumento consta de 61 valores sendo 57 transculturais e 4 característicos dos brasileiros. A importância dos valores foi avaliada por meio de uma escala de 0 a 6. Quanto mais alto o número, mais importante é o valor para a pessoa. Além disso, foram utilizados os pontos -1 e 7. O primeiro, para avaliar quaisquer valores opostos aos da pessoa e 7 para avaliar um valor de suprema importância para o respondente. 3.2 Amostra Foi utilizada uma amostra composta de 21 CEOs do futuro, sendo 18 (85,7%) do sexo masculino e 3 (14,3%) do sexo feminino. Esta amostra é pequena e deve ser ampliada no 11 futuro próximo, para dar mais consistência às análises e resultados quantitativos, que na literatura são aceitáveis com um número mínimo de 30 respondentes. Feito essa ressalva, ressalta-se que os resultados descritos a seguir, são parciais no momento. A grande maioria 16 (76%) dos respondentes concorreu ao prêmio de CEO do futuro, ganhando o concurso na primeira vez e 5 (24%) foram premiados ao participar do concurso pela segunda vez. A idade média dos respondentes foi de 36,78 anos, com desvio padrão de 3,22 anos, sendo o mínimo de 31 anos e máximo de 43 anos. Os respondentes em sua maioria (81%) são casados e 66,7% do total são casados e tem filhos, não houve registro de solteiros na amostra, houve um divorciado/separado e três que se declaram como tendo outro estado civil (viúvo, etc.). Quando da realização da pesquisa 100% da amostra estavam trabalhando, sendo que vários dos respondentes de forma adicional à pesquisa quantitativa, incluíam e ressaltavam que assumiram e trabalhavam atualmente como um CEO, efetivamente. 4. Resultados e Discussão Antes de qualquer menção aos resultados acerca dos valores [objeto desse estudo], cabe ressaltar que o primeiro resultado que aparece é que 100% dos pesquisados, estavam trabalhando, ou seja, o dado caminha da direção de apontar que efetivamente a premiação do CEO do futuro, tem a ver com o aumento da empregabilidade. O concurso ao ser amplamente divulgado, possuindo visibilidade e credibilidade, além do prêmio em si, amplia a rede de relacionamentos, de contatos, de acessos a diversos parceiros e abre novas oportunidades e pelo que parece ao criar a “expectativa” de futuro, essa pode não ser meramente uma expectativa, pois o registro é que vários CEOs do futuro, tornaram-se efetivamente CEOs no presente. A figura 2 seguinte apresenta para a amostra a hierarquia dos princípios/valores. A figura ilustra apenas os principais valores individuais (igual ou superior a 4,5), no que diz respeito ao grau de importância atribuída pelos premiados no CEOs do futuro. A escala vertical representa a média dos graus de importância atribuída aos valores, sendo que à esquerda da escala, encontram-se valores terminais e, à direita, os valores instrumentais. Cada valor encontra-se disposto espacialmente e foi colocado no seu lugar correspondente, de acordo com seu escore médio de importância atribuída. Figura 2 – Ranking com os principais valores individuais em importância para os CEOs do futuro Fonte: dados da pesquisa Dentre os 61 valores, como pode ser observado ao situar dessa forma os valores na escala vertical forma-se um região distinta que delineia o nível hierárquico de valores típico dos CEOs do futuro. O principal nível em termos de importância foi constituído por três valores terminais: "liberdade" (liberdade de ação e pensamento), ter "sentido da vida" (um 12 propósito na vida), obter “segurança familiar" (proteção para a família) e cinco instrumentais: "honesto" (ser sincero, autêntico), "saudável" (gozar de boa saúde física e mental), ser “bem- sucedido” (atingir meus objetivos), ser “capaz” (ser competente, eficaz, eficiente) e “ambicioso” (trabalhar arduamente, ter aspirações). Esses valores podem ser considerados como os valores maiores. De fato, eles obtiveram as mais elevadas freqüências do grau 6 e também do grau 7 que, como foi explicado anteriormente, significa que o valor é de suprema importância para o indivíduo. A busca por valores não agrupados tem-se mostrado como um verdadeiro resgate por valores, que no senso comum, parecem esquecidos ou que caíram em desuso. Um estudo realizado por Covey (2002), nos EUA, com 54.000 entrevistados, define que a principal ansiedade dos colaboradores de um líder também é em si um valor instrumental: a integridade. Os indivíduos acabam buscando a aderência a valores instrumentais em seus próprios modelos de eficácia esucesso. Covey (2003) também elenca pontos coletivos e individuais para que um profissional atinja o sucesso profissional, que são: (1) a pró-atividade e/ou iniciativa; (2) começar um trabalho com um fim já em mente; (3) priorizar o mais importante; (4) pensar em vitória coletiva; (5) compreender para posteriormente ser compreendido; (6) criar sinergia; e por último, (7) buscar a renovação. Este autor ainda esclarece que os princípios não mudam independente das condições e circunstâncias externas, e que são manifestos a partir da motivação presente nos indivíduos (COVEY, 2003). Motivação não é um traço pessoal ou apenas uma energia canalizada, mas sim um direcionamento do indivíduo num esforço para alcançar um objetivo específico, em que ele veja significado em sua movimentação; por isso está sempre interligada a valores individuais e/ou um conjunto de valores (CALVOSA, 2008). Resgatando-se os postulados por Schwartz (1992, 1994), que o perfil motivacional pode ser visto não apenas orientado pela importância dada pela pessoa a um único valor, mas pela prioridade dada a conjuntos de valores que apresentam entre si relações; a hierarquia para os tipos motivacionais (Tabela 2) revela as prioridades axiológicas desenhada para a amostra total, a partir dos escores médios de importância, e que permite um mapeamento demonstrando um – perfil CEO do futuro – com base nas intensidades conforme figura 3. Tipos motivacionais/fatores Média Desvio Padrão Autodeterminação 4,91 0,68 Benevolência 4,62 0,84 Conformidade 3,97 1,02 Estimulação 4,05 0,99 Hedonismo 3,98 0,97 Poder Social 3,45 0,92 Realização 4,56 0,8 Segurança 4,11 0,83 Tradição 2,7 1,08 Universalismo 4,32 0,85 Tabela 2 – Escores médios nos tipos motivacionais de valores (fatores de primeira ordem) obtidos com os premiados CEOs do Futuro. Fonte: dados da pesquisa No entanto o desenho geral ilustrado graficamente na figura 3, não é fixo, sofre a influência de algumas variáveis. Questões como sexo, idade, estado civil, não demonstram diferenças significativas, mas independentemente dessas, o fato dos CEOs do futuro ter ou não ter filhos, pelo que parece, faz com que algumas prioridades axiológicas possuam uma configuração diferenciada. Ressaltando-se as limitações, já expostas, no capítulo acerca do método quantitativo, em especial ao tamanho da amostra; o que os dados parciais sugerem é que Ter filhos 13 interfere nas prioridades de Conformidade, Poder e Segurança de primeiras ordens e no fator de Alta Ordem – Conservação. Group Statistics Tem Filhos ? n Mean Std. Deviation Std. Error Mean Sim 12 4,2500 1,10268 0,31832Conformidade Não 6 3,4167 0,60553 0,24721 Sim 12 3,6675 0,974379 0,281279Poder Não 6 3,0278 0,678498 0,276996 Sim 12 4,2500 0,92406344 0,2667541Segurança Não 6 3,8333 0,58145917 0,2373797 Sim 12 3,765625 0,9266896 0,2675122Conservação Não 6 3,375000 0,4575751 0,1868043 Quadro 1 – Crostab Ter filhos confrontado com Conformidade, Poder, Segurança e Conservação. Fonte: dados parciais da pesquisa. A leitura preliminar é que os CEOs do Futuro que possuem filhos tendem a ter escores mais altos nos fatores, conformidade, poder e segurança. Tenderiam também a ser mais conservadores do que os demais (Quadro 1). A ampliação da amostra e uso da One-way Anova como tratamento estatístico dos dados será útil para confirmar e/ou para lançar luz à questão. Figura 3 – Ilustração gráfica das prioridades axiológicas dos CEOs do futuro, com predominância para a Autodeterminação. Fonte: elaboração própria. Em relação ao ano de realização do concurso, embora a preocupação social, a sustentabilidade, olhar para o meio ambiente, etc. seja uma ótica dos anos mais recentes, os 14 dados não são consistentes, há casos de anos em que os CEOs do futuro já possuíam valores de universalismo, benevolência e autotranscendência mesmo nas versões iniciais do concurso, e esses índices parciais não são constantes, nem mostram um sentido de crescimento. O que ocorre é uma grande oscilação, “um sobe e desce”. A instabilidade dos escores ao longo do tempo das edições do concurso parece indicar, entre outras coisas, que realmente essas questões revelam ser uma tônica importante no mundo contemporâneo, que surgem no cenário dos executivos estudados, mas, ainda, em fase de consolidação (Gráfico 1). Gráfico 1 – Intensidade média dos valores de Benevolência, Universalismo e Autotranscendência de acordo com o ano de realização do concurso. 5. Considerações Finais Na filosofia, os valores eram referenciados desde a Antiguidade como axiologias, termo que vem do grego axios e cujo significado é “aquilo que é precioso e digno de ser estimado”. De fato, os valores têm uma posição central, e em virtude dessa centralidade, muitos pesquisadores com diversos enfoques buscam estabelecer relações, mensurar e relacionar os valores com as redes sociais e culturais sendo utilizados para explicar predisposições, comportamento, para julgar ações e também para diferenciar nações e grupos. O perfil axiológico dos CEOs do futuro apresenta semelhanças com o dos individualistas, no sentido em que eles enfatizam os tipos motivacionais de valores a serviço de interesses individuais, com exceção do Poder. Mas, o perfil dos CEOs difere também do individualista extremo, na importância dada aos valores do tipo motivacional Filantropia/Benevolência e também conformidade que servem a interesses coletivos. Do ponto de vista motivacional, a prioridade foi para os conjuntos de valores que têm como meta a procura de autodeterminação e o bem-estar das pessoas íntimas. No que diz respeito à preocupação com segurança, conformidade e poder, bem como, os elementos de conservação versus abertura, estas podem estar sofrendo influência situacional da variável ter ou não ter filhos. Por fim, os resultados caminham na direção de que as preocupações mais sociais voltadas para a sustentabilidade já são uma realidade no perfil dos CEOs do futuro, mas essa presença não é tão forte e incisiva. Por conta das transformações no mundo do trabalho, há uma preocupação crescente com a construção de um sistema que seja compatível com a dignidade humana, que seja permeado pelo compromisso com o bem-estar das organizações e com a sustentabilidade, incluindo o meio ambiente, os CEOs do futuro, demonstram valores condizentes com essas novas realidades, mas as várias edições do concurso, mostram uma 15 grande oscilação no que diz respeito à importância, há o reconhecimento da importância, mas há grande dispersão no grau dessa importância atribuída. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLPORT, G. Personalidade: padrões e desenvolvimento. São Paulo: Ed. Herder, 1969. BRAITHWAITE, V. Beyond Rokeach’s equality-freedom model: Two-dimensional values in a one-dimensional world. Journal of Social Issues. v. 50, n. 4, p. 67-94. 1994. CALVOSA, M. Gerência de Vendas: o ambiente organizacional. Rio de Janeiro:CECIERJ, 2008. 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