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<p>AVA UNIDADE I – FARMACOTÉCNICA AVANÇADA</p><p>Suzana Gonçalves Carvalho</p><p>Autora</p><p>1. Introdução</p><p>Você está na unidade Formas farmacêuticas líquidas e sistemas dispersos. Conheça, aqui, o conceito, os principais componentes que compõem esses sistemas e quais são as funções farmacotécnicas de cada um nas formulações, assim como as características físico-químicas envolvidas nessas formulações, quando se aplicam, bem como as instabilidades envolvidas e como evitá-las. Aprenda como delinear e desenvolver soluções, suspensões, emulsões e géis, além da diferença básica entre elas, quando e como escolher a forma farmacêutica de acordo com as características físico-químicas do fármaco e as necessidades do paciente.</p><p>2. Formas Farmacêuticas Líquidas</p><p>Formas farmacêuticas líquidas são preparações farmacêuticas constituídas por, pelo menos, um princípio ativo e se encontram no estado líquido. Podem ser de uso oral, oftálmico, tópico, nasal, otológico e paranteral. São preferíveis no tratamento de pessoas com dificuldade de deglutição, como, por exemplo, crianças, idosos e enfermos pela facilidade de deglutição e pela possibilidade de ser edulcorado e flavorizado, aumentando, assim, sua adesão ao tratamento. São exemplos de formas farmacêuticas líquidas as soluções, os xaropes e os elixires (ANSEL, POPOVICH ALLEN, 2000).</p><p>· Soluções</p><p>Uma solução pode ser definida como forma farmacêutica, uma vez que todos os constituintes se encontram dispersos em um determinado veículo, podendo ser aquosas ou oleosas. Conhecer a solubilidade do fármaco a ser trabalhado é essencial no desenvolvimento dessas formulações.</p><p>Os principais adjuvantes farmacêuticos utilizados na manipulação de soluções são: o co-solvente, os conservantes, os antioxidantes, os agentes complexantes, os edulcorantes, os flavorizantes e os corantes (ANSEL; POPOVICH ALLEN, 2000). A tabela 1 mostra um exemplo de formulação de solução indicando os adjuvantes farmacêuticos e sua devida função farmacotécnica.</p><p>#ParaCegoVer: Na tabela, temos o exemplo de uma formulação de solução indicando os componentes com sua devida função farmacotécnica. Sendo a cafeína como fármaco, o propilparabeno e o metilparabeno os conservantes, o propilenoglicol o co-solvente, metabissulfito de sódio o antioxidante, o EDTA dissódico o agente complexante, a sacarose o edulcorante, a água purificada o veículo, e o flavorizante o corante.</p><p>· Veículo: É um constituinte essencial no preparo de soluções, uma vez que é o responsável por dispersar os componentes presentes nessa formulação. São exemplos de veículo a água e os óleos vegetais.</p><p>· Co-solventes: São aqueles responsáveis por dispersar componentes específicos da formulação que não são solúveis no veículo. São exemplos de co-solventes o propilenoglicol, a glicerina, o polietilinoglicol, o sorbitol e o álcool.</p><p>· Conservantes: São essenciais em formulações aquosas uma vez que a presença de água favorece o crescimento microbiano, responsáveis por favorecer uma maior estabilidade aos medicamentos. Soluções oleosas não necessitam do uso de conservantes. São exemplos de conservantes os parabenos, o benzoato de sódio e o ácido benzoico.</p><p>· Antioxidantes: São necessários tanto em soluções aquosas quanto em oleosas, devendo ser escolhidos os antioxidantes de acordo com essa característica em hidrofílicos e em lipofílicos, que são responsáveis por evitar com que ocorra oxidação nas formulações. São exemplos de antioxidantes hidrofílicos o metabissulfito de sódio e a vitamina C, e de antioxidantes lipofílicos o butilhidroxitolueno (BHT) e a vitamina E.</p><p>· Agentes complexantes: Também denominados quelantes, são compostos responsáveis pela retirada de íons metálicos de uma formulação, pois podem prejudicar na estabilidade de um produto. O agente quelante mais usual no preparo de formulações farmacêuticas é o ácido etilenodiamino tetraacético (EDTA).</p><p>· Edulcorantes, flavorizantes e corantes: São adjuvantes farmacêuticos utilizados para melhorar características organolépticas e para aumentar a aceitabilidade de determinado medicamento. Os edulcorantes são responsáveis por atribuir o sabor doce a uma formulação. São exemplos de edulcorantes utilizados no desenvolvimento de medicamentos a sacarose, a sacarina e o aspartame. Os flavorizantes possuem como principal função farmacotécnica o mascaramento de sabor, e como exemplos de flavorizantes são os sabores: laranja, morango, cereja, limão, entre outros. Os corantes são responsáveis por atribuir cor a uma determinada formulação.</p><p>· Xaropes</p><p>Xarope é uma forma farmacêutica com alta concentração de açucares. Formulações de xaropes contendo acima de 85% de açucares – conforme o xarope base preconizado pela farmacopeia brasileira – não necessitam da adição de conservantes, pois a alta concentração de açucares faz com que atuem como conservantes por efeito osmótico (AULTON, 2005). São caracterizados por possuírem um sabor bastante adocicado e a possibilidade de flavorizar, isto é, dar sabor. Os xaropes são ideais para crianças com dificuldade de aderir a algum tratamento, além de serem ótimos para o mascaramento de sabor dos fármacos com gosto ruim. Existem, também, xaropes dietéticos para uso de pessoas com diabetes. O processo de fornecimento de temperatura é essencial no preparo de xaropes. A tabela 2 mostra um exemplo de formulação base de xarope indicando os adjuvantes farmacêuticos e sua devida função farmacotécnica.</p><p>#ParaCegoVer: Na tabela, temos o exemplo de uma formulação de xarope base indicando os componentes com sua devida função farmacotécnica. Sendo a glicerina um agente plastificante, a sacarose edulcorante e água purificada o veículo.</p><p>· Elixires</p><p>Os elixires são formas farmacêuticas compostas por solução hidroalcoólica e geralmente com sabor adocicado. São utilizados principalmente em formulações que o ativo não seja solúvel em água e tenha solubilidade em álcool. Os antissépticos bucais são um exemplo simples de elixir (AULTON, 2005). São compostos farmacotécnicos utilizados em formulações de elixires os veículos, co-solventes (álcool etílico), edulcorantes, flavorizantes e corantes. Edulcorantes e flavorizantes são incluídos geralmente para mascarar o sabor do álcool. A tabela 3 mostra um exemplo de formulação de elixir indicando os adjuvantes farmacêuticos e sua devida função farmacotécnica.</p><p>#ParaCegoVer: Na tabela, temos exemplo de uma formulação de elixir indicando os componentes com sua devida função farmacotécnica. Sendo o timol e o mentol os ativos, a sacarina sódica o edulcorante, o álcool etílico o co-solvente, a água purificada como veículo e, além disso, a adição de corante verde e de flavorizante de menta.</p><p>· Sistemas dispersos</p><p>São preparações farmacêuticas cujos fármacos insolúveis ou imiscíveis ( ) se encontram distribuídos sob determinado veículo ( ). Elas possuem mais de uma fase. São exemplos de sistemas dispersos as suspensões, as emulsões e os géis.</p><p>· Suspensões</p><p>Suspensões são dispersões heterogêneas, bifásicas compostas por duas fases principais, sendo elas: dispersa ou interna (sólido insolúvel) e dispersante ou externa (veículo de alta viscosidade). São utilizadas para a administração de fármacos insolúveis quando eles possuem sua estabilidade comprometida no preparo de soluções e/ou para melhorar a aceitabilidade durante o tratamento, uma vez que sistemas líquidos facilitam a deglutição (ANSEL; POPOVICH ALLEN, 2000). Os principais adjuvantes farmacêuticos utilizados na manipulação de suspensões são: veículo, agente suspensor, agentes molhantes, agentes eletrolíticos, conservantes, antioxidantes, agentes complexantes. Além disso, outros agentes, que podem estar presentes nessas formulações, são corretores do pH, dos flavorizantes, dos edulcorantes e dos corantes (AULTON, 2005).</p><p>A tabela 4 mostra um exemplo de formulação base de suspensão indicando os adjuvantes farmacêuticos e sua devida função farmacotécnica.</p><p>#ParaCegoVer: Na tabela, temos exemplo de uma formulação de suspensão indicando os componentes com sua devida função farmacotécnica. Sendo</p><p>a carboximetilcelulose sódica o agente suspensor, o metabissulfito de sódio o antioxidante, o EDTA dissódico o agente complexante, o propilparabeno e o metilparabeno os conservantes, o polissorbato 80 o agente molhante, o cloreto de alumínio o agente eletrolítico, o ácido cítrico corretor de pH e a água purificada o veículo.</p><p>O veículo é um constituinte básico das suspensões. Podem ser utilizados como veículo de suspensões: a água purificada, o xarope simples, os óleos, entre outros. Agora, conheceremos os agentes.</p><p>· Agente suspensor</p><p>Também denominado agente viscosante ou espessante, é o responsável por atribuir viscosidade à formulação, característica essa muito importante no desenvolvimento de suspensões por garantir a floculação do sistema. Como exemplo de agentes suspensores pode-se citar a CMC-Na (carboximetilcelulose sódica), a goma xantana, a goma arábica, a gelatina, entre outros.</p><p>· Agente molhante</p><p>Também denominado agente umectante, é utilizado nas suspensões para reduzir o ângulo de contato entre os sólidos e os líquidos e para, dessa forma, facilitar sua molhabilidade. Exemplos de agentes molhantes são os tensoativos (lauril sulfato de sódio, polissorbatos etc), a glicerina, o sorbitol, o polielilenoglicol, o propilenoglicol, entre outros.</p><p>· Agente eletrolítico</p><p>Também é um dos agentes responsáveis por favorecer a floculação do sistema, eles estão ligados diretamente à carga superficial e ao potencial zeta do sistema.</p><p>São exemplos de agentes eletrolíticos utilizados usualmente o cloreto de sódio (NaCl), o cloreto de alumínio (AlCl3) e o fosfato diácido de potássio (K2HPO4).</p><p>· Agente eletrolítico</p><p>Também é um dos agentes responsáveis por favorecer a floculação do sistema, eles estão ligados diretamente à carga superficial e ao potencial zeta do sistema.</p><p>São exemplos de agentes eletrolíticos utilizados usualmente o cloreto de sódio (NaCl), o cloreto de alumínio (AlCl3) e o fosfato diácido de potássio (K2HPO4).</p><p>· Agente conservante</p><p>É necessário em suspensões devido à grande quantidade de água presente nessas formulações, pois atua evitando contaminação microbiológica.</p><p>Entre os conservantes mais utilizados como adjuvantes farmacêuticos estão os parabenos, o benzoato de sódio, o ácido benzoico, os sulfitos e os bissulfitos, entre outros.</p><p>Suspensões devem apresentar propriedades físicas adequada a fim de garantir uniformidade de dose (AULTON, 2005). Tais características devem ser levadas em consideração durante todo o delineamento e o desenvolvimento farmacotécnico dessas formulações, a equação de Stokes, a seguir, apresenta alguns parâmetros que podem influenciar diretamente na sedimentação em suspensões diluídas.</p><p>#PraCegoVer: Na figura, temos a equação de Stokes.</p><p>· Vs</p><p>É a velocidade de sedimentação.</p><p>· g</p><p>É a constante gravitacional.</p><p>· ρp</p><p>É a densidade da partícula.</p><p>· ρw</p><p>É a densidade do meio.</p><p>· d</p><p>É o diâmetro das partículas;</p><p>· μ</p><p>É a viscosidade do meio.</p><p>Ao analisarmos a equação de Stokes, é possível observar que a viscosidade é um parâmetro inversamente proporcional à velocidade de sedimentação, dessa forma, quanto maior a viscosidade da suspensão, menor sua velocidade de sedimentação. Em contrapartida, o diâmetro das partículas é um parâmetro proporcional à velocidade de sedimentação, ou seja, quanto maior o diâmetro de partícula, maior a velocidade de sedimentação. A viscosidade do meio e o diâmetro das partículas são propriedades possíveis de ajustar, do ponto de vista farmacotécnico, para a obtenção de propriedades físicas desejadas e um sistema floculado.</p><p>Entender as propriedades físicas das suspensões, bem como a classificação do resultado final é importante, uma vez que isso permite identificar se o sistema apresenta características de um sistema floculado ou defloculado.</p><p>· Sistemas floculados</p><p>São preferíveis do ponto de vista farmacotécnico, caracterizados por apresentarem velocidade de sedimentação rápida, fácil redispersibilidade, sobrenadante límpido e sedimento volumoso. Desse modo, sistemas floculados podem ser obtidos por meio da adição correta de agentes suspensores, responsáveis por manterem a viscosidade adequada, evitando que o sedimento fique compactado pela sedimentação muito rápida ou que a velocidade de sedimentação seja lenta e com difícil redispersibilidade, caracterizada por uma formulação muito viscosa. Ademais, agentes molhantes e eletrolíticos também influenciam na floculação do sistema (AULTON, 2005).</p><p>· Sistemas defloculados</p><p>Ao contrário dos sistemas floculados, são caracterizados por formulações com velocidade de sedimentação lenta, sobrenadante turvo, de difícil redispersibilidade e sedimento compactado. Sistemas desfloculados possuem sedimentos compactados denominados caking (AULTON, 2005).</p><p>· Caking</p><p>Pode ser definido como uma instabilidade física que ocorre em suspensões, sendo responsável pelo sedimento compactado não redispersível. A formação de caking pode ser impedida pelos agentes eletrolíticos que ocorrem devido à presença de forças repulsivas decorrentes e ao potencial zeta das partículas.</p><p>Assim, são análises imprescindíveis na caracterização e no controle de qualidade físico-químico de suspensões:</p><p>#ParaCegoVer: Na tabela, temos exemplo de uma formulação de suspensão indicando os componentes com sua devida função farmacotécnica. Sendo a carboximetilcelulose sódica o agente suspensor, o metabissulfito de sódio o antioxidante, o EDTA dissódico o agente complexante, o propilparabeno e o metilparabeno os conservantes, o polissorbato 80 o agente molhante, o cloreto de alumínio o agente eletrolítico, o ácido cítrico corretor de pH e a água purificada o veículo.</p><p>· Elaboração de suspensões</p><p>Para a elaboração de suspensões é necessário saber quais os fatores que interferem nessa formulação, podendo causar problemas de instabilidade como a formação de caking, sendo eles a viscosidade, o tamanho de partícula, os agentes eletrolíticos e os tensoativos.</p><p>Para contornar tais problemas, é necessário se certificar que há: a adição do tensoativo adequado na quantidade correta, o ajuste da viscosidade, a redução no tamanho de partícula, o agente eletrolítico adequado na quantidade correta e o armazenamento adequado. Seguem, abaixo, os passos de como elaborar um creme simples:</p><p>1) Delinear a formulação e os componentes que serão utilizados.</p><p>2) Pesar todos componentes da formulação.</p><p>3) Aos poucos, adicionar o agente suspensor ao veículo sob ligeiro aquecimento.</p><p>4) Em outro béquer, dispersar o agente conservante, complexante e antioxidante com seu devido co-solvente.</p><p>5) Após o agente suspensor estar totalmente disperso no veículo, adicionar os componentes dispersos, no passo quatro, sob a solução.</p><p>6) Adicionar o fármaco em um gral e reduzir ao máximo seu tamanho de partícula.</p><p>7) Adicionar o agente molhante sob o fármaco no gral.</p><p>8) Incorporar o fármaco na dispersão contendo agente suspensor em gral.</p><p>9) Adicionar o agente eletrolítico.</p><p>10) Corrigir o PH, se for aplicável.</p><p>11) Adicionar edulcorante, flavorizante e corante, se aplicável.</p><p>12) Embalar e envazar.</p><p>FIQUE DE OLHO</p><p>A embalagem é um cuidado muito importante quando se trata de suspensões e, para garantir uniformidade de dose, ela precisa necessariamente de agitação. Sendo assim, a embalagem deve conter espaço suficiente para agitação e escrito “agite antes de usar” em seu rótulo.</p><p>· Emulsões</p><p>Emulsões são sistemas heterogêneos, termodinamicamente instáveis, constituídas por duas fases imiscíveis: oleosa e aquosa, necessitando, por sua vez, de uma terceira fase composta por um agente emulsificante (tensoativo). Eles podem ser do tipo A/O (água/óleo) ou O/A (óleo/água), caracterizados por possuírem uma aparência branca, leitosa e opaca. Além disso, podem ser de uso interno ou externo (ANSEL; POPOVICH ALLEN, 2000).</p><p>Emulsões do tipo A/O possuem componentes hidrossolúveis (oleosos) em sua fase externa e componentes hidrossolúveis (aquosos) em sua fase interna. Possuem uma grande quantidade se compostos lipossolúveis e, dessa maneira, são indicados no preparo de cosméticos, como demaquilantes.</p><p>Emulsões do tipo O/A possuem componentes lipossolúveis (oleosos) em sua fase externa e em sua fase interna, possuem quantidade reduzida de óleos, o que lhe confere uma propriedade emoliente menor, além de serem emulsões de fácil obtenção e relativamente baratas.</p><p>Os principais adjuvantes farmacêuticos utilizados na manipulação de emulsões são: veículo de fase aquosa, veículo de fase oleosa, agente emulsificante (tensoativo), agente de consistência, conservante, antioxidante, agentes complexantes, agentes sensoriais, agentes umectantes, agentes emolientes, flavorizantes (emulsões orais), edulcorantes (emulsões orais) e aromatizantes (emulsões tópicas). A tabela 5 mostra um exemplo de formulação base de emulsão para uso tópico indicando os adjuvantes farmacêuticos e sua devida função farmacotécnica.</p><p>#ParaCegoVer: Na tabela, temos exemplo de uma formulação de emulsão tópica indicando os componentes com sua devida função farmacotécnica. Os componentes foram divididos em fase aquosa e fase oleosa.</p><p>Os veículos de fase aquosa e oleosa são constituintes básicos e imprescindíveis de uma emulsão, uma vez que sem a presença dos dois não é possível a obtenção de uma emulsão. São exemplos de veículos de fase aquosa a água, o xarope (para emulsões orais), a glicerina e o sorbitol. Como exemplo de veículos de fase oleosa, podemos citar os óleos vegetais e a vaselina.</p><p>· Agente emulsificante ou tensoativo</p><p>É responsável pela formação de emulsões por meio da redução da tensão superficial entre os dois líquidos imiscíveis, promovendo a dispersão entre eles.</p><p>A escolha do tensoativo, bem como a quantidade de tensoativo utilizar consistem em uma etapa muito importante no processo de desenvolvimento de emulsões, pois a escolha incorreta ou a quantidade insuficiente pode prejudicar sua formação.</p><p>São exemplos de tensoativos utilizados no preparo de emulsões os polissorbatos.</p><p>· Agente de consistência</p><p>É um adjuvante farmacotécnico de fase oleosa utilizado para dar viscosidade à formulação, facilitando sua espalhabilidade. São exemplos de agentes de consistência o álcool cetílico, o álcool cetoestearílico e o álcool estearílico.</p><p>A nova geração de emulsões conta com ceras autoemulsionantes, ou seja, não há necessidade do uso do tensoativo, pois o mesmo está presente juntamente com agente de consistência.</p><p>Um exemplo de cera autoemulsionante é o Lanette, utilizado na produção de cremes aniônicos, composto por álcool cetoestearílico e tensoativo.</p><p>· Conservantes hidrofílicos</p><p>São adicionados à fase aquosa da formulação, ambientes aquosos são tendenciosos ao crescimento microbiano.</p><p>São exemplos de conservantes utilizados em emulsões os parabenos, os sulfitos e os bissulfitos.</p><p>· Antioxidantes lipofílicos</p><p>São adicionados à fase oleosa da formulação, pois óleos são mais susceptíveis à oxidação. São utilizados usualmente como antioxidantes lipofílicos em emulsões: o BHT e a vitamina E.</p><p>· Agentes sensoriais</p><p>São adjuvantes destinados ao aprimoramento do sensorial da formulação e, consequentemente, da adesão.</p><p>São exemplos de agentes sensoriais a lanolina anidra, a lanolina etoxilada e a lanolina acetilada.</p><p>· Agentes umectantes</p><p>Possuem como função principal a retenção de água na formulação, favorecendo, assim, a hidratação. Eles são essenciais para evitar a perda de água por evaporação.</p><p>São exemplos de agentes umectantes o sorbitol, a glicerina, o propilenoglicol, o polietilenoglicol e o butilenoglicol.</p><p>· Agentes emolientes</p><p>Excipiente utilizado em formulações de emulsão. Atuam atenuando ou evitando o ressecamento da pele.</p><p>Os óleos vegetais, como o óleo de macadâmia, o óleo de coco, o óleo de uva, entre outros, são exemplos de agentes emolientes.</p><p>· Aromatizantes ou fragrâncias</p><p>São utilizadas em formulações de emulsões para uso tópico, como loções e cremes. Servem principalmente para mascarar o odor de emulsões que possuem em sua grande maioria, odor característico de óleo, devido à grande quantidade em sua composição, é utilizada também para aumentar a aderência, podendo atender às preferências de aroma do usuário.</p><p>As emulsões devem ser bem delineadas, principalmente em relação à escolha, à quantidade dos excipientes utilizados e à técnica de preparo, a fim de evitar problemas de instabilidade física. Os principais problemas relacionados à instabilidade física em emulsões são denominados cremagem e coalescência.</p><p>· Cremagem</p><p>É uma instabilidade física reversível, na qual ocorre a formação de uma camada fina na superfície da emulsão, que ocorre principalmente devido ao tempo de armazenamento ou à temperatura excessiva.</p><p>· Coalescência</p><p>É uma instabilidade física irreversível, na qual ocorre a separação total das fases, decorrente principalmente da temperatura excessiva, da agitação excessiva ou deficiente, do tipo e da quantidade de agente emulsificante (tensoativo).</p><p>FIQUE DE OLHO</p><p>A concentração micelar crítica (CMC) é a concentração mínima para que ocorra formação de micelas. Emulsões devem estar com a concentração acima da CMC.</p><p>Outro parâmetro importante no delineamento de emulsões é conhecer os mecanismos de hidratação (oclusão, umectação e emoliência) da pele, assim como os excipientes responsáveis por promover cada uma delas. A hidratação por oclusão atua formando uma camada oclusiva na pele, impedindo ou retardando a evaporação de água e, dessa forma, hidratando a pele. São exemplos de excipientes que promovem hidratação por oclusão: manteigas, ceras, óleos fixos e oleato de oleila. A hidratação por umectação também retém água na epiderme, todavia, diferentemente da hidratação por oclusão, esse mecanismo fixa as moléculas de água pelas ligações /pontes de hidrogênio. Os glicóis e a glicerina são utilizados como agentes que promovem a umectação. A hidratação por emoliência promove a retenção de água na epiderme, aumentando a capacidade oclusiva natural da própria pele. São exemplos de adjuvantes farmacêuticos que hidratam por emoliência os óleos vegetais como o óleo de amêndoas, óleo de algodão, entre outros.</p><p>São análises importantes na caracterização da eficácia de emulsões:</p><p>· a avaliação de características organolépticas da formulação (aspecto, cor, brilho, toque, cobertura e cor na pele);</p><p>· a determinação do pH;</p><p>· a análise da textura;</p><p>· a espalhabilidade;</p><p>· a centrifugação e o estresse térmico;</p><p>· o tamanho de gotícula.</p><p>Novos estudos permitiram a descoberta de novos tipos de emulsões, as microemulsões e as nanoemulsões. Ambas têm sido amplamente estudadas como sistemas de liberação de fármacos, apresentando como principais vantagens seu tamanho reduzido, que permite maior contato com local de ação, o aumento da biodisponibilidade, o aumento da solubilidade, além da capacidade de direcionamento. Pesquisas e emulsões convencionais vêm sendo desenvolvidas, tanto para a aplicação farmacêutica quanto para a aplicação cosmética (GUPTA et al., 2019).</p><p>As microemulsões e as nanoemulsões apresentam características organolépticas bem diferentes das emulsões convencionais, elas se caracterizam por serem transparentes ou opalescentes, com baixa viscosidade. Apesar da faixa de tamanho entre ambas ser parecida, sua principal diferença está na sua estabilidade. As microemulsões são termodinamicamente estáveis, portanto, possuem menores chances de ocorrerem instabilidades físicas tais como a coalescência e a cremagem. Essas novas bases tecnológicas ainda estão em fase de estudos e de pesquisas, não sendo desenvolvidas em farmácias magistrais. Assim como as emulsões convencionais, a microemulsão e a nanoemulsão também devem se encontrar acima da CMC.</p><p>· Elaboração de cremes</p><p>Para a elaboração de cremes, é necessário saber quais os fatores que interferem nessa formulação, podendo causar problemas de instabilidade tais como a cremagem e a coalescência, sendo eles:</p><p>· o tempo de agitação;</p><p>· a velocidade de agitação;</p><p>· o tamanho das gotículas;</p><p>· a viscosidade do meio e temperatura.</p><p>Para contornar tais problemas é necessária a adição do tensoativo adequado na quantidade correta, o controle do tempo e da velocidade</p><p>de agitação, a armazenagem em condições adequadas de temperatura, bem como o ajuste da viscosidade das fases. Dessa forma, o desenvolvimento de cremes é um método simples e que requer bastante atenção a fim de evitar problemas de instabilidade física. Seguem abaixo os passos de como elaborar um creme simples:</p><p>1) Delinear a formulação e os componentes que serão utilizados.</p><p>2) Pesar todos componentes da formulação.</p><p>3) Dispersar os agentes antioxidantes, conservantes e complexantes nos seus devidos cosolventes.</p><p>4) Colocar todos componentes da fase aquosa para aquecer (inclusive os agentes conservantes e complexantes já dispersos) até temperatura de 80ºc (regular temperatura utilizando termômetro)</p><p>5) Colocar todos componentes da fase oleosa para aquecer (inclusive o antioxidante já disperso) até temperatura entre 70ºc e 80ºc.</p><p>6) Quando ambos estiverem sob mesma temperatura, adicionar fase oleosa na fase aquosa.</p><p>7) Em banho de gelo, fornecer agitação constante para a formulação até consistência de creme.</p><p>8) Triturar em gral os aditivos e dispersar no seu devido co-solvente (quando necessário).</p><p>9) Incorporar os aditivos na formulação base.</p><p>10) Adicionar aromatizante (quando aplicável).</p><p>11) Embalar e envasar a formulação e manter sob temperaturas amenas ideais.</p><p>3. Géis</p><p>Géis são formas farmacêuticas semissólidas, de uso principalmente tópico, existindo também géis de uso oral. Eles apresentam vantagens para o uso tópico tais como boa espalhabilidade, podem incorporar fármacos hidrossolúveis e não são oleosos. Seu mecanismo de hidratação é por umectação. Os principais adjuvantes farmacêuticos utilizados na manipulação de géis são: o veículo, o , o co-solvente, os conservantes, os antioxidantes, o agente complexante, o agente alcalinizante e os aromatizantes. A tabela 6 mostra um exemplo de formulação base de gel para o uso tópico, indicando os adjuvantes farmacêuticos e sua devida função farmacotécnica.</p><p>#ParaCegoVer: Na tabela, temos o exemplo de uma formulação de gel indicando os componentes com sua devida função farmacotécnica. Sendo o carbopol® 940 o agente gelificante, o hidróxido de sódio o agente alcalinizante, metilparabeno e propilparabeno os conservantes, a glicerina co-solvente, vitamina C o antioxidante, EDTA o agente complexante e a água purificada o veículo.</p><p>O veículo é composto em praticamente todos os casos de preparo de gel por água ou solução hidroalcoólica, fundamental no preparo de gel, pois sem o veículo o processo de gelificação responsável por originar o gel não acontece. O agente gelificante é responsável pela doação de viscosidade à determinada formulação. Os polímeros comumente utilizados como agentes geleificantes entre eles são: o carboxivinílico (Carbopol 940), o hidroxi-etil-celulose (Natrosol) e a gelatina. O agente alcalinizante é fundamental, uma vez que a adição faz com ocorra a formação de gél. Um exemplo de adjuvante farmacêutico utilizado como agente gelificante é o hidróxido de sódio (NaOH).</p><p>· Elaboração de géis</p><p>1) O desenvolvimento de géis é um método simples e que requer bastante atenção. Seguem abaixo os passos de como elaborar um gel simples:</p><p>2) Delinear a formulação e os componentes que serão utilizados.</p><p>3) Pesar todos componentes da formulação.</p><p>4) Hidratar o agente gelificante previamente no veículo da formulação por pelo menos 3 horas.</p><p>5) Após hidratação, incluir os demais componentes na formulação (com exceção do aditivo e aromatizante).</p><p>6) Adicionar o agente alcalinizante, gota por gota e com agitação vigorosa até a gelificação. Esse passo é o mais importante na formação de gel, pois o agente alcalinizante em falta acarreta na não formação do gel, e em excesso pode acarretar na denominada “quebra do gel” um processo irreversível. A dica é adicionar gota por gota e agitar após a adição de cada gota.</p><p>7) Dispersar o aditivo em quantidade suficiente de co-solvente e incorporar essa dispersão no gel. O ideal é que a incorporação seja realizada em gral de vidro ou porcelana.</p><p>8) Após o gel preparado e incorporado, adicionar o aromatizante (quando aplicável).</p><p>9) Embalar e envasar.</p><p>· Boas práticas de manipulação</p><p>Toda e qualquer elaboração de medicamentos deve seguir as boas práticas de manipulação de medicamentos (BPFM), previstos na RDC nº 67 de 8 de outubro de 2007, que dispõe sobre boas práticas de manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias. Além disso, deve-se seguir formulações de acordo com instruções da farmacopeia brasileira mais atualizada (2019) aprovada pela RDC nº 298 de 12 de agosto de 2019. As boas práticas de manipulação dividem as atividades em cinco grupos, sendo o grupo I, responsável pela manipulação de medicamentos contendo insumos de origem animal, o grupo II, responsável pela manipulação de medicamentos contendo insumos de baixo índice terapêutico, grupo três, responsável pela manipulação de hormônios, antibióticos, citostáticos e produtos especiais, grupo IV, responsável pela manipulação de produtos estéreis, grupo V, responsável pelos medicamentos homeopáticos e, grupo VI, responsável pelos medicamentos de doses unitárias. As BPFM preconizam sobre a limpeza de espaços e superfícies, o controle de qualidade da matéria-prima e do produto acabado, os equipamentos de proteção individual, entre outros. O controle de qualidade de matéria-prima deve ser realizado inclusive com a água de produção, pelo menos, a cada seis meses. Ademais, as BPFM preconizam também sobre a importância do procedimento operacional padrão (POPs), com a finalidade de garantir qualidade no processo de limpeza e de padronizar a qualidade de formulações farmacêuticas mais usuais.</p><p>É isso ai!</p><p>Nesta unidade, você teve a oportunidade de:</p><p>· entender sobre as formas farmacêuticas líquidas e sistemas dispersos;</p><p>· compreender as diferenças entre soluções, xaropes, elixires, suspensões, emulsões e géis;</p><p>· saber quais são os componentes essenciais para cada forma farmacêutica estudada;</p><p>· saber quais são os fatores influenciam na estabilidade dos sistemas estudados;</p><p>· aprender a elaborar suspensões, cremes e géis.</p><p>image6.png</p><p>image7.png</p><p>image8.png</p><p>image1.png</p><p>image2.png</p><p>image3.png</p><p>image4.png</p><p>image5.png</p>