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<p>1</p><p>A INQUISIÇÃO PORTUGUESA E OS RITUAIS SAGRADOS INDÍGENAS: Um</p><p>estudo de caso sobre Jurema</p><p>THE PORTUGUESE INQUISITION AND INDIGENOUS SACRED RITUALS: A</p><p>CASE STUDY ON JUREMA</p><p>Caroline Copetti1</p><p>Resumo</p><p>O culto da Jurema durante os séculos XVII e XVIII foi uma prática religiosa indígena constante-</p><p>mente questionada e perseguida pela Inquisição Portuguesa.O uso de plantas alucinógenas</p><p>dentro do ritual tem o objetivo de despertar o contato com a natureza e com seres espirituais</p><p>aumentando a percepção do individuo que o bebe. A noção do Tribunal de Inquisição que qual-</p><p>quer prática ou ritual indígena estava ligada a práticas demoníacas tem origem na Inquisição</p><p>Medieval. Entretanto, o ritual permanece como sinal de resistência da cultura até a atualidade.</p><p>Abstract</p><p>The cult of Jurema during the seventeenth and eighteenth centuries was an indigenous religious</p><p>practice constantly questioned and persecuted by the Portuguese Inquisition. The use of</p><p>hallucinogenic plants within the ritual aims to arouse contact with nature and spiritual beings</p><p>increasing the perception of the individua that drinks it. The Inquisition Court’s notion that</p><p>any indigenous practice or ritual was linked to demonic practices originates in the Medieval</p><p>Inquisition. However, the ritual remains a sign of cultural resistance to the present day.</p><p>Palavras-chave: Inquisição Portuguesa- Jurema - Bebida alucinógena- Indíos</p><p>Keywords: Jurema; Portuguese Inquisition;Hallucinogenoc Drink;Indians</p><p>1) INTRODUÇÃO</p><p>O presente trabalho tem como objetivo fornecer uma breve análise sobre o</p><p>uso da panta Jurema pelos povos indígenas do sertão nordestino, e as medidas</p><p>tomadas pela Inquisição Portuguesa para combater a prática dos rituais sagrados e</p><p>usos da planta. Na primeira parte, descrevemos um pouco da composição da Jurema</p><p>e quais os componentes que fazem do seu uso, uma prática espiritual. Também se</p><p>explana sobre a preparação da bebida da Jurema. No segundo tópico, apresentamos</p><p>um contexto histórico sobre a Inquisição Portuguesa e as políticas de repressão do</p><p>uso de plantas em rituais sagrados indígenas. No terceiro tópico, vemos as ações</p><p>tomadas pela Inquisição com objetivo de reprimir o uso da Jurema como prática religiosa</p><p>1 PPG-HIS – Universidade Federal da Integração Latino Americana – carolinecopetti@gmail.com</p><p>2</p><p>pelos indígenas da Paraíba. Entende-se que a Jurema possui um caráter polissêmico,</p><p>não podendo ser compreendida apenas como uma planta, mas sim desde espécies</p><p>botânicas, divindades indígenas, bebidas sagradas e cultos religiosos. Aparecendo</p><p>como elemento central da mitologia e da cosmogonia indígena.</p><p>2. O Ritual da Jurema</p><p>A planta Jurema é utilizada desde o período colonial em rituais sagrados indíge-</p><p>nas, a partir dela é preparada uma bebida alucinógena, ela também é utilizada para</p><p>banhos e defumagens. Dentre as variedades de plantas, a mais utilizadas são a Mimosa</p><p>Tenuiflora ( Wild) Poiret, comumente chamada de jurema preta, são em suas cascas</p><p>que se encontra em quantidade mais concentrada o alcaloide N, N-dimetiltriptamina (</p><p>DMT), pela medicina moderna ele é considerado um alucinógeno, porém, do ponto de</p><p>vista dos experimentadores e juremeiros, pode ser considerado um enteógeno, por sua</p><p>capacidade de levar quem a consome a experiências místicas(1)</p><p>As primeiras referências sobre o uso e consumo da Jurema vem do semiárido</p><p>Nordestino, mais especificamente Paraíba e Pernambuco. Registros pré-coloniais sobre</p><p>o uso da Jurema são raros, segundoGrünewald(1), houve um silenciamento proposital</p><p>na historiografia dos usos da planta por evangelizadores jesuítas e franciscanos.</p><p>O preparo da bebida e o uso em rituais, geralmente aparece da seguinte forma:</p><p>“Para tais rituais, a casca da raiz (preferencialmente) ou do caule da jurema –</p><p>geralmente a jurema preta sem espinhos (Grünewald 2008) – é colhida em</p><p>matas, pilada ou macerada com pedras, esfregadas com as mãos em água</p><p>fria e postas a descansar. Mais tarde, o bagaço da jurema será retirado e</p><p>a bebida, consagrada (geralmente com fumaça de cachimbo) para uso em</p><p>rituais, nos quais os indígenas entram em contato com os encantados e outros</p><p>seres invisíveis. A cura é a bebida da jurema misturada a alho e cachaça.</p><p>Sobre esta bebida se coloca fogo para evaporar o álcool – embora o gosto</p><p>alcoólico permaneça presente.</p><p>Os responsáveis por fazer o bebida eram os líderes do movimento, chamados</p><p>de Mestres da Jurema. Enquanto preparavam a solução entoavam cantos e tocavam</p><p>seus marácas. SegundoWadsworth(2), esses líderes cumpriam o papel de xamãs</p><p>e podem ser considerados como líderes espirituais. Também eram os responsáveis</p><p>por disseminar a cultura da Jurema por outros povos indígenas. Outro componente</p><p>importante dentro do ritual é a dança, os participantes dançam em círculos até desmaiar</p><p>ou se deitarem no chão, só poderiam se levantar quando o Mestre tocava o maráca na</p><p>frente deles.</p><p>A ingestão da bebida, tem como efeito a alteração da percepção e um contato</p><p>mais amplo com fenômenos espirituais e mediúnicos aqueles que o consomem buscam</p><p>uma comunhão espiritual “com os invisíveis, sejam eles do céu, das matas, dos rios ou</p><p>do mar”. Outro componente do ritual, é o cachimbo feito a partir da raiz da Jurema,</p><p>3</p><p>é realizado desenhos que alimentam o significado do ritual, ele é usado para afastar</p><p>energias negativas e purificar o local.</p><p>Padre Calvatam registrou suas observações sobre o Culto da Jurema no século</p><p>XVII, de acordo com a sua visão, aqueles que participavam do ritual, e bebiam do</p><p>líquido deveriam ser curados primeiros. O processo de cura feito antes de ingerir a</p><p>bebida era realizado em volta de uma fogueira em que o individuo deitava em cima de</p><p>um buraco onde era defumado pelas ervas queimadas no fogo. Segundos os indígenas</p><p>se esse passo não fosse cumprido a pessoa poderia morrer ao tomar a Jurema.(2)</p><p>3 - A Inquisição Portuguesa e o Tribunal do Santo Ofício.</p><p>No final do século XV, foi pensado e criado na Espanha, o Tribunal do Santo</p><p>Ofício da Inquisição, inspirado na Inquisição instaurada durante a Época Medieval,</p><p>mais pra frente, o Tribunal do Santo Ofício foi instaurado em Portugal e suas ações se</p><p>estenderam por todo Império Português com características e técnicas próprias que</p><p>diferenciavam do que foi visto durante a Idade Média.(3)</p><p>A Santa Inquisição de Portugal foi fundada em 1536 e durou até o ano de 1821.</p><p>Segundo Mott, houve diversas tentativas da instalação de um tribunal do Santo Ofício,</p><p>do mesmo modelo dos que existiram em Lima, México e Cartagena de Índias, porém a</p><p>sua efetivação nunca foi finalizada, De acordo com Mott(4), a instalação de um Tribunal</p><p>no Brasil, seria uma consequência terrível para a economia açucareira nordestina, já</p><p>que significaria uma perseguição ainda maior e mais violenta de índios “ feiticeiros”,</p><p>afro-descendentes e outras formas de desvios de condutas consideradas “crimes contra</p><p>fé”: heresias, judaísmo, protestantismo, feitiçarias, irreligiosidade, e “crimes conta a</p><p>moral sexual”: sodomia, bigamia e a imoralidade sacerdotal. De acordo com Novinsky</p><p>(3) foram processados e presos 1076 pessoas da América Portuguesa pelo Tribunal de</p><p>Lisboa.</p><p>O Herege - aquele que vai ser processado e julgado pelo Tribunal de Santo</p><p>Ofício - é visto dentro da historiografia como o crítico dos valores espirituais de uma</p><p>sociedade, em sua obra“ A Inquisição” , Novinsky(3) traz a importância do estudo desse</p><p>sujeito na sociedade:</p><p>A história das heresias constitui hoje um dos objetos principais do estudo</p><p>das mentalidades, abordagem relativamente nova da história. O estudo das</p><p>mentalidades procura conhecer principalmente as visões de mundo, as pai-</p><p>xões, os comportamentos dos marginais, que eram no passado julgados pela</p><p>Igreja. A heresia é uma ruptura com o dominante, ao mesmo tempo, que</p><p>é uma adesão a outra mensagem. É contagiosa e em determinadas condi-</p><p>ções dissemina-se facilmente na sociedade. Daí o perigo que representa para</p><p>a ordem estabelecida, sempre preocupada em preservar a estrutura social</p><p>tradicional.(p.11)</p><p>Além do herege que é um lado da moeda há também o Inquisidor,</p><p>responsável</p><p>4</p><p>pela acusação. De acordo Siqueira (5), para se compreender o poder da inquisição é</p><p>preciso “pensar-se na força da crença, das convicções profundas, para se entender o</p><p>poder da Inquisição num clima no qual os homens criam, crer, como uma adesão total</p><p>do ser”.</p><p>O papel do inquisidor é central para o entendimento do funcionamento do Tribunal</p><p>do Santo Ofício, responsável pela parte de acusação, segundo o Santo ofício de 1552</p><p>deviam ser: “letrados, de boa consciência, prudentes, constantes, e os mais altos e</p><p>idôneos que se puderem haver, cuja vida e honesta conversação dê exemplo de sua</p><p>pureza e bondade[. . . ] ” (SANTO OFÍCIO, 1552. Cap. 1). SegundoLima(6), “o modelo</p><p>concebido para o inquisidor se inspira nos do pai e sacerdote” era responsável pela</p><p>punição e também por consolar os réus, para que confessem e peçam perdão pelos</p><p>seus crimes.</p><p>Portanto, a instituição da Inquisição pensada neste trabalho se define como uma</p><p>instituição para diplomática e para-eclesiástica que tem como norte e guia de suas</p><p>ações aos Regimentos, ainda segundo Siqueira, o poder inquisicional se ajustava a ao</p><p>ordenamento político pré-existente:</p><p>“A montagem da instituição e o tempo que durou traduziu a mentalidade dos</p><p>homens seus criadores. Cada época tem a Inquisição que merece, e a merece</p><p>na medida em que consente na sua existência. Numa época de esvaziamento</p><p>da autoridade tradicional, ao Santo Ofício recriou uma autoridade que de certa</p><p>forma se inspirava em velhas ideias teocráticas. Compôs toda uma hierarquia</p><p>para exerce-la.” (p.85)</p><p>As Inquisições Portuguesas junto com as autoridades episcopais portuguesas</p><p>tinham como objetivo principal controlar qualquer desvio religioso que poderia ir de</p><p>contra com a doutrina católica, ou com os interesses da coroa. A legitimidade do poder</p><p>inquisitório vinha poder jurisdicional das Bulas papais sobre as coisas de matérias</p><p>espirituais e na figura do Papa como chefe supremo da Igreja. Duas Bulas, foram</p><p>essenciais na criação da Inquisição Portuguesa, a Cum ad nihil magis do ano de</p><p>1536 e Meditatio cordis do ano de 1547. Assim, a Inquisição combateu “as heresias</p><p>cometidas pelos cristãos novos que continham gravíssima ofensa a divina majestade,</p><p>eram escândalos da fé ortodoxa, ruína e perdição irreparável da salvação das almas.”(5)</p><p>Até o século XVII não havia no Brasil, oficiais inquisitoriais, e após ela ficou con-</p><p>centrada nas cidades litorâneas, isso fez com que os assuntos tratados pela Inquisição</p><p>deveriam ser escolhidos de forma cuidadosa, já que não havia condições de investigar</p><p>e tratar de todo os casos de desvio religioso na época. Portanto, a Inquisição Portu-</p><p>guesa trabalhava em um sistema de rede, junto com o apoio popular de portugueses e</p><p>outras instituições políticas, econômicas e religiosas permitindo assim o controle dos</p><p>“comportamentos subversivos”(2).</p><p>5</p><p>Percebe-se que a inquisição era flexível em adaptar seus métodos e práticas de</p><p>acordo com cada caso, escolhendo ou não quais práticas, ou cultos eram passíveis</p><p>de perseguição, dependendo se eles traziam ou não instabilidade a ordem colonial,</p><p>escolhendo aqueles que tinham mais potencial para romper com a ordem política,</p><p>social e econômica . Portanto, importante ressaltar que no contexto colonial, não havia</p><p>uma diferenciação clara entre pecado e crime.</p><p>4 - O uso da Jurema nos séculos XVIII e a Retaliação do Santo Ofício</p><p>A maior parte das acusações encontradas nos registros do Tribunal do Santo</p><p>(2) Ofício referentes a processos contra índio tem como principal acusação a bruxaria.</p><p>Desde do século XVI havia por parte dos portugueses o entendimento de que as práti-</p><p>cas religiosas indígenas e africanas estavam associadas com “ rituais demoníacos”.</p><p>As relações interétnicas entre europeus e indígenas perpassam diferentes face-</p><p>tas, se por um momento temos alianças políticas e militares sendo assumidas temos</p><p>conflitos armados. O europeu por vezes se aproveita das guerras entre grupos indíge-</p><p>nas tribais para se aliarem a determinado lado, e após escravizar índios que perderam</p><p>o conflito. Dessa forma, garantiram uma grande expansão de suas fronteiras coloniais</p><p>e o domínio de terras férteis e regiões perto de correntes de água. Outra questão</p><p>importante a ser mencionada para se entender o contexto das relações euro-indígenas,</p><p>foi a transposições de bactérias e vírus presentes do Velho Mundo para o Novo Mundo.</p><p>O fator bacteriológico causou uma significativa diminuição no número de habitantes</p><p>indígenas(7, 8)</p><p>Outro momento importante dentro do contexto das relações entre europeus e</p><p>indígenas foi a chamada Guerra dos Bárbaros, conflito gerado pelo avanço da expansão</p><p>do império português dentro de territórios indígenas após o fim do conflito com os</p><p>holandeses. No estado da Paraíba a guerra durou entre 1680 a aproximadamente 1720.</p><p>Em que uma rebelião de índios, a maioria deles conectados ao culto da Jurema, contra</p><p>o domínio colonial. O fim do conflito se deu com uma violenta pacificação dos povos</p><p>indígenas pelos Bandeirantes. Segundo, Wadsworth(2) a pacificação não significou a</p><p>dominação. Outras rebeliões, manifestações e conflitos continuaram por toda a região</p><p>até o século XIX.</p><p>Os primeiros registros de uso da Jurema datam a partir do Século XVIII, mais</p><p>especificamente com a notícia mais antiga datando de um documento escrito em Recife</p><p>no ano de 1739 em uma reunião da Junta das Missões em Pernambuco. A Junta</p><p>de Pernambuco, servia como um órgão consultivo da Inquisição ao bispo que ficou</p><p>encarregado de reprimir os índios que faziam parte do culto. Segundo, “a principal</p><p>preocupação dos representantes eclesiásticos e estatais ali presentes, foi a de procurar</p><p>os meios mais eficazes para reprimir e extirpar aquelas práticas que então estava ocor-</p><p>rendo no âmbito das aldeias missionárias da Paraíba, e considerada por aqueles como</p><p>6</p><p>“ diabólica” e “deturpadora“ dos “verdadeiros princípios” expostos pelo Catolicismo. (8)</p><p>A partir desse momento (8) expõe duas premissas: a primeira, é que notícia</p><p>fomenta questionamentos em relação às origens étnicas e espaciais da Jurema, po-</p><p>dendo indicar“ a transposição geográfica de um traço cultural”, através da migração</p><p>do semi-árido nordestino a capital. Outra premissa, é o culto parece já existir antes da</p><p>chegada dos portugueses, que questionando o porquê da demora no aparecimento</p><p>dessas práticas na documentação colonial:</p><p>“ No que se refere ao período colonial, a descrição do uso ritual da Jurema feita</p><p>na documentação de 1739 e 1741, parece indicar elementos muito próximos</p><p>das práticas xamânicas, com a utilização de espécies botânicas, por outros</p><p>povos indígenas da América, registradas também desde o período colonial e</p><p>até os dias atuais. Podemos citar, entre outros, o uso ritual da bebida sagrada</p><p>chamada Ayahuasca, Yajé ou Caapi ( uma associação do cipó Mariri, Baniste-</p><p>riopsis caapi, e da folha da Chacruna, Psychotria viridis), e o uso do Paricá ou</p><p>Rapé dos Índios ( Maquira sclerophylla), ambos na floresta amazônica; o uso</p><p>do cacto Peyote( Lophophora williamsii), pelos povos indígenas do norte do</p><p>México e do sudoeste dos Estados Unidos e ainda o uso de cogumelos psico-</p><p>ativos ( Amanita muscaria Pers.) pelos povos indígenas do México, América</p><p>Central e dos Andes e ainda do cacto San Pedro ( Trichocereus pachanoi),</p><p>também pelos povos indígenas dos Andes. ( MEDEIROS, 132)</p><p>Como notícia mais antiga sobre o uso da Jurema estão, duas cartas do Go-</p><p>vernador de Pernambuco de 1741, citam a Jurema. Outro, é uma adaptação pelo</p><p>Marquês de Pombal, endereçado ao Estado do Grão -Párá e Maranhão. De acordo</p><p>comMedeiros(8)“Nas orientações do Marquês de Pombal concernente à aplicação do</p><p>Diretório, havia a indicação para que se adaptassem os seus artigos para cada região</p><p>da Colônia.“ Assim, o governador de Pernambuco, Henrique Luis Pereira Freire de</p><p>Andrade em reunião em uma cláusula específica proíbe o uso da Jurema pelos Índios</p><p>ou qualquer pessoa, segundo a ata da Reunião a Junta das Missões de Pernambuco</p><p>queriam que “se buscassem os meios precisos para se remediar os erros que se tem</p><p>introduzido</p><p>entre os índios, tomando certas bebidas às quais chamam Jurema, ficando</p><p>com ela ilusos e com visões.”</p><p>No ano de 1743, José de Calvatam, um missionários capuchinho italiano, se-</p><p>guindo ordens do conselho da Missão de Coremas denunciou o culto a Inquisição.</p><p>Segundo o missionário a prática se estendeu pelas vilas de Panaty, Jacoca e Pegas,</p><p>além de outras regiões do estado da Paraíba. Uma nova denúncia feita pelo padre</p><p>da missão de Cariri na Paraíba em 1755 e 1759, denúnciou que os índios retomaram</p><p>com a prática da Jurema, e que dessa vez estava se espalhando rapidamente pela</p><p>região pois os índios não estavam mais no controle da tutelagem devido a expulsão de</p><p>jesuítas em 1759.(2)</p><p>Segundo o registro dos missionários, enquanto os participantes estavam em-</p><p>briagados, o diabo aparecia em forma de anjo e anunciava e eventos que ocorreriam</p><p>7</p><p>no futuro. Outra visão que tinham era que o diabo surgia como uma cabra e dançava</p><p>em volta dos participantes, a cabra falava apenas com os Mestres Juremeiros que era</p><p>os únicos capazes de entender-la. As alucinações causadas pela ingestão da bebida,</p><p>poderiam variar de pesadelos como ver cadáveres com cabelos em forma de serpentes.</p><p>Já outros participantes tinham alucinações positivas e viam palácios, pinturas e igrejas.</p><p>Segundo registros sobre as denúncias pelo Padre Calvatam em 1743:</p><p>“ Reported that the Indians did not believe in either heaven or hell but that all the</p><p>souls of the deade wnadered trrough the fields and were the phantasms that</p><p>they saw at night. Some Indians also refused to acept the sacramentes and</p><p>did not believe that Christ was in the Eucharist. The old Indians were the most</p><p>obstinate, he claimed, and they disrupted the performance of commununion,</p><p>catcalling the priests while they performed it. Father Calvatam clearly saw the</p><p>Jurema Cult as one more manifestation of the faithlessness of members os his</p><p>flock and their dangerous tendency to persist in their heathen ways.(2)</p><p>A partir das informações obtidas compreendemos que a perseguição em relação</p><p>ao culto da Jurema foi realizado com objetivo a desestruturar comunidades indíge-</p><p>nas que conseguiam através do Culto da Jurema manter suas identidades enquanto</p><p>indígenas resistindo a imposição do catequismo.</p><p>5 - Considerações Finais</p><p>No final do século XVII, os indígenas da Paraíba já haviam passado por um</p><p>processo demasiado longo e violento de conquista, ocupação e evangelização, em que</p><p>suas aldeias foram destruídas e substituídas por vilas sobre o comando colonial. A per-</p><p>seguição da Inquisição ao Culto da Jurema demonstra como a população indígena não</p><p>se rendia ao domínio colonial e a imposição do catolicismo, pelo contrário, buscavam</p><p>maneiras de recriar e e afirmar suas identidades próprias e suas crenças em relação ao</p><p>divino assim como seus ancestrais. Apesar dos esforços da Inquisição Portuguesa de</p><p>repressão ao culto da Jurema, o movimento sobrevive até hoje, e incorporou durante o</p><p>tempo elementos da cultura africana e católica.</p><p>Referências</p><p>1 GRÜNEWALD, R. de A. Nas trilhas da Jurema. Religião e Sociedade, Rio de</p><p>Janeiro, v. 38, n. 1, p. 110 – 135, 2018. Citado na página 2.</p><p>2 WADSWORTH, J. E. Jurema and Batuque: Indians, Africans, and the</p><p>Inquisition in Colonial Northeastern Brazil. History of Religions,, The University</p><p>of Chicago Press, v. 46, n. 2, p. 140 – 162, 11 2006. Disponível em: http:</p><p>//www.jstor.org/stable/10.1086/511448. Acesso em: 14/12/2019. Citado 6 vezes nas</p><p>páginas 2, 3, 4, 5, 6 e 7.</p><p>http://www.jstor.org/stable/10.1086/511448</p><p>http://www.jstor.org/stable/10.1086/511448</p><p>8</p><p>3 NOVINSKY, A. A Inquisição. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. v. 1. 92 p.</p><p>Disponível em: https://pt.scribd.com/document/376283010/A-Inquisicao-Anita-</p><p>Novinsky-pdf. Acesso em: 15/12/2019. Citado na página 3.</p><p>4 MOTT, L. Bahia: inquisição e sociedade. 1. ed. Salvador: EDUFBA, 2010. v. 1.</p><p>ISBN 978-85-232-0580-5. Citado na página 3.</p><p>5 SIQUEIRA, S. O PODER DA INQUISIÇÃO E A INQUISIÇÃO COMO PODER.</p><p>Revista Brasileira de História das Religiões, v. 1, n. 1, p. 84 – 93, 01 1988. Citado</p><p>na página 4.</p><p>6 LIMA, L. L. da G. O Tribunal do Santo Ofício da Inquisição: o suspeito é o</p><p>culpado. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=</p><p>S0104-44781999000200002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 14/12/2019. Citado na</p><p>página 4.</p><p>7 BREEN, B. Meio ambiente e trocas atlãnticas. In: ESGUERRA LUIZ ESTEVAM DE</p><p>O. FERNANDES, M. C. B. M. J. C. (org.). As Américas na Primeira Modernidade</p><p>( 1492-1750). 1. ed. Curitiba: Prismas, 2017. v. 1, cap. 5, p. 245 – 276. ISBN</p><p>978-85-5507-655-8. Citado na página 5.</p><p>8 MEDEIROS, G. O uso ritual da Jurema entre os indígenas do Brasil colonial e as</p><p>dinâmicas das fronteiras territoriais do Nordeste no século XVIII. CLIO Arqueológica,</p><p>Recife-PE, v. 150, n. 20, p. 123 –, 2006. ISSN 0102-6003. Citado 2 vezes nas páginas</p><p>5 e 6.</p><p>https://pt.scribd.com/document/376283010/A-Inquisicao-Anita-Novinsky-pdf</p><p>https://pt.scribd.com/document/376283010/A-Inquisicao-Anita-Novinsky-pdf</p><p>http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44781999000200002&lng=en&nrm=iso</p><p>http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44781999000200002&lng=en&nrm=iso</p><p>Resumo</p><p>Abstract</p><p>Referências</p>

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