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<p>Caso clínico envolvendo problemas de saúde mental, sendo possível abordar drogadição e etilismo, depressão, ansiedade, psicoses, esquizofrenia e risco de suicídio.</p><p>ETILISMO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO</p><p>2.1 EXPERIÊNCIA:</p><p>Escolha uma situação clínica que você tenha vivido recentemente e que tenha gerado dúvidas e descreva o caso clínico do paciente em questão, detalhando informações clínicas relevantes, como morbidades, terapêutica em uso, condições de vida, situação familiar e autocuidado.</p><p>O estudo de caso clínico relatado é sobre um paciente do sexo masculino S.S.A.F. 39 anos, branco, natural de Juazeiro e residente a 4 meses, na zona rural de Belém de Cachoeira -BA, comunidade da Boa Vista. Vem a consulta ambulatorial com queixa de dor em ombro esquerdo e quadril refere que faz uso de medicação regular para dores músculo esqueléticas, por acidente de motocicleta a 8 meses. Refere tabagismo e etilismo, Refere que tem desejo de realizar consulta com ortopedista para tratamento das dores, no ombro e no quadril, refratárias ao uso de medicação. Refere após 2 meses sem ingerir álcool, vem sofrendo picos de Hipertensão Arterial, muita agitação, já até apresentou um episódio de febre e começou a ter alucinações de que estava falando com entes queridos que estavam distantes. Tem desejo de fazer uso de medicações para ficar mais calmo.</p><p>Nega outras queixas. Refere que não realiza atividade física regularmente. Refere HAS. Faz o primeiro acompanhamento nessa unidade de saúde. Foi cadastrado recentemente nessa UBS pois atualmente está residindo a 4 meses em uma casa de recuperação de dependentes químicos, em uma área adstrita a nossa UBS.</p><p>Ao Exame físico apresentava-se:</p><p>– BEG,LOTE, corado, Hidratado, afebril, anictérico e acianótico,eupneico</p><p>– PA: 150/90mmHg, Glicemia: 132 (pós brandial), Peso: 93 Kg, Altura: 1,74</p><p>- AP: Murmúrio vesicular preservado sem ruídos adventícios,</p><p>– AC: Bulhas normofonéticas em 2 tempos sem sopro,</p><p>- Abd: semi globoso, flácido, indolor a palpação superficial e profunda, blumberg e giordano negativo</p><p>- extremidades: bem perfundidas sem edema, Tônus muscular: força muscular preservada, dor a mobilização ativa e passiva do ombro, dor a movimentação ativa de quadril</p><p>Foi então solicitados exames de rotina mais comuns de sangue, fezes e urina e eletrocardiograma, bem como exames de imagem do ombro e quadril, para avaliar possíveis sequelas após o acidente de motocicleta a 8 meses.</p><p>2.2 LACUNAS:</p><p>Descreva quais foram as dificuldades que você enfrentou ao lidar com este paciente e destaque quais foram as necessidades de cuidado do paciente que ficaram por sanar – Patient Unmet Needs (PUNs).</p><p>A dificuldade central ao avaliar essa paciente, foi elucidar após a história clínica, e o exame físico, foi revisar sobre a conduta na prevenção e tratamento de pacientes com dependência severa ao álcool, uma patologia tão comum, mas que muitas vezes, mas que nem sempre vem com manifestações graves dos sinais de abstinência alcoólica.</p><p>2.3 ORIGEM:</p><p>Descreva quais as suas necessidades de aprendizado para lidar melhor com este paciente – Doctor Educational Needs (DENs).</p><p>As necessidades de aprendizado foram revisar os conceitos, etiologias, bem como o manejo em pacientes com dependência alcóolica, bem como o manejo com crises de abstinência severa.</p><p>2.4 OBJETIVOS:</p><p>Defina os objetivos formativos que serão trabalhados. Lembre-se de deixá-los SMART (Específico, Mensurável, Alcançável, Relevante e Temporizado)!</p><p>Identificar o impacto do alcoolismo na vida social e familiar do indivíduo.</p><p>Evidenciar de que forma o profissional da saúde pode contribuir para o tratamento do alcoolismo.</p><p>Elaborar um plano de ação para o tratamento do alcoolismo de forma efetiva com apoio da Equipe de Saúde da Família.</p><p>2.5 SÍNTESE DO ESTUDO:</p><p>Sintetize o estudo realizado e descreva quais foram as fontes bibliográficas que embasaram seu estudo.</p><p>Introdução</p><p>O uso de bebidas alcoólicas está associado a gestos de comemoração em diversas festividades, atos religiosos, comerciais ou complementos culinários. Contudo, o uso inapropriado e excessivo do álcool acarreta complicações para a vida do indivíduo. O alcoolismo tem aumentado progressivamente em toda sociedade, tornando-se um grande problema de saúde pública, e seu uso constante está ligado aos fatores de fácil acesso e baixo custo.</p><p>Considerada uma droga lícita, o álcool é um dos principais responsáveis pelas causas de óbitos por abuso de drogas no Brasil. De oito mil mortes por ano, o álcool é responsável por 85% delas. O número de dependentes cresce substancialmente, afetando tanto jovens quanto adultos.</p><p>Após a instalação da dependência, o tratamento é de crucial importância para que o indivíduo alcoolista consiga sua reinserção no meio social após os danos causados pelo vício. A literatura científica evidencia dados importantes sobre o uso e tratamento de alcoolistas, como, por exemplo, o fato de que 11,2% da população brasileira faz parte do grupo de dependentes.</p><p>Por meio deste tratamento, será possível que o alcoolista volte para suas relações familiares, sociais e a ter acesso a atividades profissionais, ou seja, ele começaria a retornar à sua vida com as atividades que fossem interrompidas. É necessário identificar os problemas acarretados pelo consumo excessivo do álcool, bem como as consequências que ele traz, principalmente, para a família.</p><p>Efeitos do álcool no organismo</p><p>Sistema cardiovascular:</p><p>O uso crônico de bebidas alcoólicas é considerado um fator responsável pela elevação sistólica e diastólica da pressão decorrente do aumento na irrigação dos vasos sanguíneos, causando hipertensão, arritmia cardíaca e miocardiopatia.</p><p>Músculo Esquelético:</p><p>Os efeitos do álcool nos músculos esqueléticos dos etilistas ou não, é devido ao uso agudo ou crônico do álcool, fazendo com que tenha uma menor força muscular, ocasionado por uma diminuição da síntese de proteínas musculares, caracterizando uma atrofia nas fibras dos músculos</p><p>Sistema Gastrintestinal e Fígado:</p><p>Estudos relatam que a ingestão do etanol em longo tempo, como no uso crônico, pode ocasionar grandes problemas, dentre eles a gastrite, devido às secreções gástricas estarem aumentadas, podendo levar a um refluxo gastroesofágico. O quadro pode ser revertido com o uso de inibidores da bomba de prótons e a retirada do álcool. A hepatopatia é a doença diagnosticada pelo uso abusivo do álcool principalmente de uso crônico levando a um comprometimento do fígado podendo causar uma esteatose hepática alcoólica e, consequentemente, o quadro pode evoluir causando uma cirrose, impossibilitando o órgão de sua função, sendo necessário o transplante de fígado</p><p>Sistema Nervoso Central:</p><p>A ação do álcool sobre o organismo centraliza principalmente no sistema nervoso central (SNC), embora tenha ação ansiolítica, assim como os barbitúricos e benzodiazepínicos, e seus efeitos causam depressão. Essa ação ocorre simultaneamente conforme a concentração sanguínea aumenta, provocando desde sensações prazerosas a um estado de embriaguez ou intoxicação.</p><p>Dependência, Tolerância e Síndrome de Abstinência</p><p>A tolerância é caracterizada por uma resistência que o organismo apresenta devido à adaptação no uso contínuo do álcool em uma mesma dose, no qual o SNC torna-se tolerável a uma rotina de nível alcoólico na corrente sanguínea. Clinicamente, é representada por indivíduos que conseguem fazer uso da bebida sem apresentar sinais de embriaguez, diferentemente daquele que apresenta efeitos indesejáveis, ou seja, não tolerantes</p><p>No Brasil, pesquisas mostram que cerca de 70% dos adultos desenvolvem dependência da droga devido à resistência que o organismo atribui ao uso repetido em mesma quantidade de álcool. Determina-se então, fator desencadeante pelo uso crônico da substância, que leva a um ato compulsivo de beber, sendo esta causada por uma dependência física, que resultam uma síndrome de abstinência do álcool (SAA), no qual é diagnosticada por sinais e sintomas específicos.</p><p>Estudos relatam que a SAA tem início após 6 horas da retirada ou diminuição do álcool de indivíduos</p><p>dependentes, ocasionando um quadro clínico por manifestações desde insônia, tremores, náuseas, inquietação, a complicações mais graves, como convulsões em aproximadamente 5% dos pacientes, e delirium tremens (DT), caracterizado por uma confusão mental que se apresenta entre 72 a 96 horas após a abstinência alcoólica, devido à disfunção motora e autonômica. A taxa de mortalidade no DT é de 2 a 25%</p><p>Intervenções farmacológicas no tratamento do Alcoolismo</p><p>A farmacoterapia é um método utilizado tendo como principais objetivos tratar pacientes alcoólatras de forma que se reintegrem à sua vida social, sendo um meio no qual vai depender da autoestima e dedicação pessoal. Trata-se a SAA por meio de medicamentos que podem ser associados a grupos de apoio chamado de Alcoólicos Anônimos.</p><p>Entre os medicamentos mais utilizados para tratamento do alcoolismo destacam-se o dissulfiram, o acamprosato e a naltrexona.</p><p>Dissulfiram</p><p>O uso do dissulfiram se diferencia entre os demais fármacos para o tratamento do alcoolismo, pois é considerado de uso antigo e era utilizado sem o consentimento do indivíduo alcoólatra, levando a uma diminuição no seu uso devido apresentar vários efeitos colaterais, quando associado com o álcool. Causa disso é o seu efeito aversivo, devido à inibição da enzima aldeídodesidrogenase, levando, então, ao aumento da concentração de acetaldeído na corrente sanguínea de 5 a 10 vezes, causando sintomas indesejáveis de leve a grave. As manifestações indesejáveis após o uso do álcool costumam levar de 15 a 30 minutos para aparecerem, provocando taquicardia, falta de ar, diminuição da pressão arterial e outros efeitos, no qual é necessário informar o indivíduo das reações colaterais que ocorrem se o mesmo for associado com o etanol, ou seja, o paciente deve permanecer abstêmio pelo menos 12 horas para poder ter boa resposta ao tratamento. A dose administrada do medicamento é de 500mg ao dia, e depois, pode variar de 125 a 500mg/dia.</p><p>Acamprosato</p><p>É uma droga que tem a ação de bloquear o neurotransmissor glutamato, produzido em maior quantidade devido o uso crônico do álcool. O acamprosato possui efeito semelhante ao do GABA, pois age diminuindo a atividade excitatória do SNC quando houver a abstinência alcoólica. De certa forma, é bem tolerado pelo organismo e a reação adversa mais comum encontrada é a diarreia. O tratamento com esse fármaco é feito através de comprimidos de 333mg sendo administrado 3 vezes por dia</p><p>Naltrexona</p><p>Medicamento aprovado em 1994 para tratamento do alcoolismo, tem como principal objetivo inibir os receptores opióides para que a sensação de prazer reforçado pelo álcool, principalmente de uso crônico, ocasionado pelo aumento da dopamina seja reduzida. É um medicamento que age diretamente antagonizando esses receptores, fazendo com que a vontade de consumir bebidas alcoólicas diminua, facilitando com isso na prevenção de recaídas, por aumentar o tempo de abstinência. Mesmo ingerindo álcool, a pessoa consegue ter um controle sobre a droga devido o efeito da naltrexona. O tratamento da doença é feito pela administração de uma dose diária de 50mg, ressaltando que vários estudos relatam a associação do tratamento medicamentoso com terapia psicossocial para um melhor resultado. Pode apresentar efeito colateral como náuseas, principalmente em mulheres. É necessária uma grande atenção sobre a associação da naltrexona com dissulfiram, pois ambos são potencialmente hepatotóxicos. A naltrexona e o acamprosato são consideradas drogas não-aversivas.</p><p>Distúrbios Psiquiátricos Relacionados ao Uso de Álcool</p><p>O alcoolismo de fato é considerado uma doença, cuja OMS determina como toxicomania, ou seja, resulta na dependência que a droga causa ao organismo, quando essa é administrada frequentemente, gerando, então, uma compulsão pela substância deforma contínua, com o propósito de sentir os efeitos psíquicos ou até mesmo para evitar algum desconforto da SAA, quando o alcoólatra interrompe o uso do álcool. Segundo dados epidemiológicos psiquiátricos, a Síndrome da Dependência Alcoólica (SDA) envolve um grande número de indivíduos que apresentam alguns transtornos do SNC, como epilepsia e esclerose múltipla, em que a substância é vista como a solução para o desconforto causado pelos transtornos. Por outro lado, o uso excessivo do álcool é o principal causador das perturbações da saúde mental e física</p><p>Conclusão</p><p>O impacto do alcoolismo é um dos principais problemas enfrentados pela família e sociedade atualmente, bem como o aumento do número de usuários da substância etílica. O rompimento de laços afetivos motivado por brigas, afastamento de seus membros e até mesmo rompimento matrimonial, constatando-se ainda as perdas físicas, materiais e morais são alguns dos vários problemas acarretados pelo consumo exacerbado do álcool.</p><p>O alcoolista e sua a família sofrem diante da situação de dependência do álcool. O processo de reconhecimento do vício dá-se como o mais difícil na busca por ajuda e enfrentamento.</p><p>As intervenções farmacológicas podem ter um papel crucial na redução consumo de álcool. Durante vários anos, as intervenções farmacológicas ficaram restritas ao tratamento da Síndrome de Abstinência do Álcool e ao uso de drogas aversivas. Nos últimos 10 anos, a naltrexona e o acamprosato foram propostos para o tratamento da Síndrome de Dependência do Álcool como importantes intervenções adjuvantes ao tratamento psicossocial.</p><p>O uso inadequado de bebidas alcoólicas representa um sério problema de saúde pública em todo o mundo, o que tem fomentado inúmeras investigações buscando uma melhor compreensão dos problemas relacionados ao consumo de etanol e das suas formas de tratamento. Sabendo-se que cerca da metade dos pacientes com Síndrome de Dependência de Álcool recaem após curto período de desintoxicação e que estudos o desenvolvimento de novos modelos farmacológicos de tratamento tem-se tornado área de interesse crescente em todo o mundo.</p><p>FONTES BIBLIOGRÁFICAS</p><p>GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. Jamoulle, Marc Tratado de Medicina de Família e Comunidade-: Problemas relacionados ao consumo de álcool, Erika Siqueira da Silva, Gustavo Sérgio de Godoy Magalhães, Vitor Hugo Lima Barreto, Caroline Bourbon p. 6319-6353.</p><p>LARANJEIRA, Ronaldo; PINSKY, Ilana. O alcoolismo. In: O alcoolismo. 1998. p. 61-61. MELO, Maria do Carmo Barros de et al. Parasitoses intestinais. Rev. Med. Minas Gerais, p. 3-12, 2004.</p><p>REIS, Gecivaldo Alves et al. Alcoolismo e seu tratamento. Revista Científica do ITPAC, v. 7, n. 2, p. 1-11, 2014.</p><p>FILIZOLA, Carmen Lúcia Alves et al. Compreendendo o alcoolismo na família. Escola Anna Nery, v. 10, p. 660-670, 2006.</p><p>2.6 SANAR LACUNAS:</p><p>Agora que você sanou as suas lacunas de conhecimento, o que você pretende fazer no próximo encontro com o paciente que motivou este estudo? Descreva o plano das ações e condutas que você irá adotar para os próximos encontros com o paciente/família.</p><p>No próximo encontro com esse paciente e outros pacientes etilistas da UBS, meu objetivo é prevenir, identificar e tratar casos de alcoolismo, é a proposta da ação a ser desenvolvida pela equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) da Unidade Básica de Saúde que atendem a comunidade da Zona Rural de Belém de Cachoeira, consiste na aplicação de Teste de Transtorno por Uso de Álcool para paciente voluntários que desejam identificar o nível de risco relacionado ao álcool e realizar as intervenções necessárias de acordo com cada caso. Esse teste na forma de questionário, que deverá ser previamente autorizado pelo paciente, poderá ser aplicado por todos os membros da Equipe de Saúde da Família que tenha contato com usuário de álcool e que tenham interesse em realizar alguma intervenção. Conforme o interesse do paciente também poderá ser agendado a consulta médica, para aprofundar sobre o assunto. Conforme o resultado, será feita uma intervenção breve, que consiste em alertar sobre o etilismo e se o comportamento da pessoa pode ser nocivo à saúde, bem como encaminhar para o tratamento adequado, quando necessário.</p><p>Segue o link para download do modelo do teste:</p><p>https://subpav.org/download/prot/Question%C3%A1rio%20AUDIT</p>