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<p>A atenção à diversidade na sala de 15 aula e as adaptações do currículo ROSA BLANCO A educação escolar tem como objetivo sala de aula: dar mais tempo ao aluno para a fundamental promover, de forma intencional, aprendizagem de determinados conteúdos, o desenvolvimento de certas capacidades e a utilizar outras estratégias ou materiais educa- apropriação de determinados conteúdos da tivos, planejar atividades complementares, etc. cultura, necessários para que os alunos pos- Em alguns casos, no entanto, determinadas ne- sam ser membros ativos em seu âmbito socio- cessidades individuais não podem ser resolvi- cultural de referência. Para atingir o objetivo das pelos meios indicados, sendo necessário pôr indicado, a escola deve conseguir o difícil equi- em prática uma série de ajudas, recursos e me- líbrio de oferecer uma resposta educativa, tanto didas pedagógicas especiais ou de caráter ex- compreensiva quanto diversificada, proporcio- traordinário, diferentes das que requer habi- nando uma cultura comum a todos os alunos, tualmente a maioria dos alunos. Nesse caso, que evite a discriminação e a desigualdade de pode-se falar de necessidades educativas espe- oportunidades e, ao mesmo tempo, que res- ciais para referir-se aos alunos que apresentam peite suas características e suas necessidades dificuldades de aprendizagem ou defasagens individuais. em relação ao currículo que corresponde à sua Existem necessidades educativas comuns, Para serem atendidas, essas dificulda- compartilhadas por todos os alunos, relacio- des requerem modificações que facilitem e re- nadas às aprendizagens essenciais para o seu forcem o progresso destes alunos, tanto na or- desenvolvimento pessoal e sua socialização, ganização e no funcionamento da escola, como que se expressam no currículo escolar. Nem nas adaptações no currículo e nos meios para todos os alunos, porém, enfrentam com a mes- ter acesso a ele. ma bagagem e da mesma forma as aprendiza- capítulo enfoca a resposta educativa à gens estabelecidas nele, visto que têm capaci- diversidade dos alunos e dá uma atenção es- dades, interesses, ritmos, motivações e expe- pecial às adaptações curriculares individuais. riências diferentes que medeiam seu processo O primeiro item tem um caráter mais amplo e de aprendizagem. conceito de diversidade aborda a educação na diversidade a partir do remete-nos ao fato de que todos os alunos têm currículo escolar e da escola. Em seguida, re- necessidades educativas individuais próprias e flete-se sobre a tarefa educativa na sala de aula. específicas para ter acesso às experiências de No terceiro item, desenvolvem-se o significa- aprendizagem necessárias à sua socialização, do, as características e as fases das adaptações cuja satisfação requer uma atenção psicológi- curriculares. Finalmente, indicam-se as carac- ca individualizada. Nem toda necessidade in- terísticas de um modelo de intervenção que dividual, porém, é especial. Algumas necessi- favorece a resposta educativa aos alunos com dades individuais podem ser atendidas pelo necessidades educativas especiais. trabalho individual que o professor realiza na</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 291 A EDUCAÇÃO NA DIVERSIDADE que permite tomar decisões refletidas e ajus- tadas às diferentes realidades sociais, culturais A resposta à diversidade e individuais, mas não é uma condição suficien- no currículo escolar te. Além disso, a resposta à diversidade impli- ca um currículo amplo e equilibrado quanto Tradicionalmente, a escola centrou-se na ao tipo de capacidades e conteúdos que con- satisfação das necessidades educativas comuns, templa. Os currículos tradicionais centraram- que se expressavam em objetivos traçados em se no desenvolvimento de capacidades de tipo função do enganoso e inexistente "aluno mé- cognoscitivo e no de conteúdos de tipo concei- dio", sem preocupar-se com as necessidades in- tual, em detrimento de outro tipo de capaci- dividuais. Dessa perspectiva, os alunos que não dades e de conteúdos, que também são essen- conseguem alcançar os objetivos estabelecidos ciais para o desenvolvimento integral e a in- são segregados das mais variadas formas: serção na sociedade. Esse enfoque deu lugar criando grupos dentro da turma para os mais ao desenvolvimento de currículos paralelos para lentos ou atrasados; classes especiais para aten- os alunos de educação especial que incluíam ob- der os alunos com dificuldades de aprendiza- jetivos, áreas e conteúdos diferentes do currícu- gem ou de conduta; ou enviando os alunos para lo comum, com um enfoque mais reabilitador. escolas especiais. A esse tipo de medidas subjaz O conceito de necessidades educativas a ideia de que os problemas de aprendizagem especiais implica que os grandes objetivos da têm sua origem em variáveis ou fatores indivi- educação devem ser os mesmos para todos os duais, motivo pelo qual se tomam medidas alunos, de modo a assegurar a igualdade de centradas nos alunos, em vez de rever e modi- oportunidades e a futura inserção na socieda- ficar os aspectos da prática educativa que po- de. Portanto, se no currículo se expressam as dem gerar ou acentuar suas dificuldades. Essa aprendizagens consideradas essenciais para concepção, no âmbito curricular, deu lugar a serem membros da sociedade, este deve ser o propostas rígidas e homogeneizadoras, nas referencial da educação de todos os alunos, quais o planejamento educacional estabelece fazendo as adaptações que sejam necessárias e nos mínimos detalhes as decisões sobre o quê, proporcionado-lhes as ajudas e os recursos que como e quando ensinar e avaliar, sem levar em favoreçam a obtenção das aprendizagens nele conta que os processos de ensino e de aprendi- estabelecidas. zagem ocorrem em contextos bastante diver- sos, o que gera muitas dificuldades de aprendi- zagem, repetências, absenteísmo e fracasso A resposta à diversidade escolar. no contexto da escola Atualmente, existe uma tendência cada vez maior para os currículos abertos e flexí- Para melhorar a qualidade do ensino e veis, que permitem responder ao duplo desa- assegurar a igualdade de oportunidades é pre- fio da compreensibilidade e da diversidade. Em ciso que cada escola reflita a respeito e planeje geral, nessas propostas, são estabelecidas de forma conjunta a ação educacional mais aprendizagens mínimas, para assegurar que adequada ao seu contexto. Isso implica que as todos os alunos adquiram certos elementos decisões, tanto curriculares como de definição básicos da cultura, e as escolas, a partir desses e de funcionamento da escola, devem ser to- mínimos, constroem uma proposta curricular, madas por aqueles que vão implementá-las em adequando, desenvolvendo e enriquecendo o função da sua realidade, adequando às suas currículo oficial em função das características características concretas as propostas que os de seus alunos e do contexto sociocultural de gestores estabeleçam. referência. A resposta à diversidade, como todo pro- Um currículo aberto e flexível é condição cesso de inovação educacional, afeta a globa- fundamental para responder à diversidade, já lidade da escola e implica questionar a prática</p><p>292 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. educativa tradicional e introduzir mudanças Em primeiro lugar, é importante refletir substanciais nela. Essas mudanças podem cau- e debater sobre a visão que a escola tem do sar certos temores e alguma insegurança nos desenvolvimento, da aprendizagem e da diver- professores, que podem ser evitadas, em gran- sidade. A definição de um marco conceitual de medida, se a tomada de decisões for com- compartilhado, a partir da reflexão sobre a prá- partilhada. A experiência demonstra que a res- tica, é um passo fundamental, porque condi- posta à diversidade e à educação dos alunos ciona a tomada de decisões organizacionais e com necessidades educativas especiais deve ser curriculares: agrupamentos de alunos, opções um projeto da escola, e não de professores iso- metodológicas, avaliação, etc. As decisões são lados, já que um dos fatores de êxito da in- muito diversas quando se concebe o desenvol- tegração está em que ela seja debatida ampla- vimento e a aprendizagem a partir de uma con- mente e assumida por toda a comunidade cepção interativa ou de um enfoque determi- educacional. nista. Também as opções são diversas quando É fato bastante demonstrado, por outro se percebem as diferenças como uma oportu- lado, que as escolas que respondem melhor à nidade para o enriquecimento do processo de diversidade dos alunos não apenas favorecem ensino e de aprendizagem e para o desenvol- seu adequado desenvolvimento como também vimento profissional, do que quando se consi- são as que mais crescem como instituição. Por deram como um problema ou um obstáculo isso, quando as escolas enfrentam a tarefa de do processo educacional. Nesta reflexão, é ex- elaborar seus projetos educacionais e curri- tremamente importante rever os processos e culares, a resposta à diversidade deve ser o eixo as medidas que possam favorecer qualquer tipo central na tomada de decisões dos diversos de exclusão dos alunos, de forma que se bus- componentes que os dois processos envolvem. quem estratégias para evitá-la. São várias as razões que justificam tal necessi- Em segundo lugar, é preciso assegurar que dade: facilitar um maior grau de integração e o currículo da escola seja o mais amplo, equili- de participação dos alunos na dinâmica esco- brado e diversificado possível. As equipes do- lar; prevenir a aparição ou a intensificação de centes devem fazer uma análise profunda do dificuldades de aprendizagem decorrentes de currículo oficial para verificar em que medida formulações rígidas ou excessivamente homo- as necessidades dos alunos são contempladas geneizadoras; fazer com que os ajustes educa- e para tomar as decisões adequadas. Será que cionais que determinados alunos possam re- as capacidades e os conteúdos estabelecidos no querer de forma individual sejam o menos nu- currículo captam suficientemente as necessi- merosos e significativos possível. dades dos alunos? Que capacidades e conteú- As decisões tomadas no âmbito da escola dos seria preciso matizar, desenvolver, ampliar são ainda mais gerais e dirigidas a oferecer um ou introduzir? Que critérios metodológicos se primeiro nível de resposta à totalidade dos alu- devem contemplar para atender à diversida- nos. São imprescindíveis, porém, para criar as de? Como organizar os grupos de modo a ob- condições necessárias que favoreçam uma edu- ter a plena participação de todos os alunos? cação personalizada na classe. O planejamen- Como se avaliará o processo de ensino e de to da ação educativa a ser seguida na escola aprendizagem? Que ajudas e recursos são ne- deve levar em conta as necessidades de todos cessários para facilitar a aprendizagem de to- os alunos, incluindo as daqueles que perten- dos os alunos? cem a outras culturas, provêm de ambientes Uma escola para a diversidade implica o sociais carentes ou têm algum tipo de deficiên- aproveitamento máximo dos recursos materiais cia. Os elementos que devem ser revistos, por e humanos disponíveis e sua organização ade- sua importância particular para responder à di- quada. É preciso chegar a acordo sobre os cri- versidade no âmbito da escola, são comenta- térios que devem orientar a seleção, a aquisi- dos a seguir. ção e a elaboração de materiais que facilitem o</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 293 processo de ensino e de aprendizagem de to- rão condicionadas pelas orientações e pelas dos os alunos da escola. Em alguns casos, pode prescrições estabelecidas em cada país. ser necessário adquirir materiais, mobiliário e Finalmente, é importante criar na escola equipamentos específicos, além de estabelecer um bom clima, que favoreça o desenvolvimen- critérios de adaptação de materiais de uso to institucional. É preciso rever as atitudes com mum para atender as necessidades de deter- relação às diferenças, o tipo e a qualidade de minados alunos. relações entre os diferentes atores, a liderança Com relação aos recursos humanos, é de do diretor, os espaços dedicados à participa- vital importância rever as relações e a capaci- ção e à reflexão conjunta, etc. trabalho dade de trabalho conjunto dos professores, o colaborativo entre os vários envolvidos no pro- nível de participação dos pais, a relação com a cesso educacional é um fator essencial para comunidade e com os profissionais que desem- responder à diversidade. Também é importan- penham funções de apoio e assessoramento. te criar um ambiente físico agradável e acolhe- Com relação a estes últimos, é importante dor, que favoreça a aprendizagem, as relações mar decisões compartilhadas com relação aos interpessoais e a autonomia e a mobilidade de seguintes aspectos: definir as funções e as res- todos os alunos. ponsabilidades dos diferentes profissionais; de- cidir de comum acordo o modelo de interven- ção; estabelecer os critérios gerais para deci- A RESPOSTA À DIVERSIDADE dir que alunos devem receber apoio e de que NO CONTEXTO DA SALA DE AULA tipo; estabelecer as coordenações fundamen- tais, especificando seu conteúdo e sua duração As decisões tomadas no projeto da escola e definir os horários levando em conta os tem- para responder às diversidades materializam- pos de apoio de que os alunos precisam. -se na sala de aula, já que é principalmente nela Um quarto aspecto a contemplar está re- que ocorrem os processos de ensino e de apren- lacionado com a definição das dificuldades de dizagem, e é o contexto que tem uma influên- aprendizagem, a avaliação das necessidades cia mais intensa e direta no desenvolvimento educativas especiais e as adaptações curricu- dos alunos. A programação anual e o conjunto lares individualizadas. Esses processos se con- de unidades didáticas que a concretizam cons- cretizarão de modo diferente em cada escola tituem o nível de planejamento curricular que em função da experiência dos professores, da orienta e guia os processos de ensino e de apren- trajetória de trabalho conjunto, dos recursos dizagem que ocorrem nas salas de aula. O pla- de apoio disponíveis, da concepção e do grau nejamento deve conseguir o difícil equilíbrio en- de formação no que se refere às dificuldades tre responder ao grupo como tal e a cada aluno de aprendizagem, etc. Contudo, alguns acor- dentro dele. Isso implica o conhecimento tanto dos importantes nesse tema podem ser os se- das características e das necessidades educativas guintes: definir critérios para determinar em que gerais do grupo (níveis de competência casos se pode afirmar que um problema requer curricular, interesses, tipos de relações que se um processo de avaliação especializada ou uma estabelecem, etc.), como das características e intervenção muito específica; estabelecer pro- das necessidades mais específicas que determi- cedimentos e instrumentos para a identificação nados alunos possam apresentar. precoce das dificuldades de aprendizagem e Responder à diversidade significa romper para a avaliação das necessidades educativas com o esquema tradicional em que todas as especiais; definir as funções e os significados crianças fazem a mesma coisa, na mesma hora, das adaptações curriculares; estabelecer as fa- da mesma forma e com os mesmos materiais. ses e os componentes que tal processo contem- A questão central é como organizar as situa- plará; determinar quem vai intervir em sua ela- ções de ensino de forma que seja possível perso- boração, como se fará o acompanhamento e nalizar as experiências de aprendizagem co- qual será o formato para registrá-las. É preciso muns, isto é, como conseguir o maior grau de levar em conta que as decisões tomadas esta- interação e de participação de todos os alu-</p><p>294 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. nos, sem perder de vista as necessidades con- gens e o que já sabem. Atribuir um sentido cretas de cada um. Quanto mais flexível for pessoal à aprendizagem implica que compre- essa organização, mais fácil será, em contrapar- endam não apenas o que têm de fazer, mas tida, a incorporação dos professores de apoio também por que e para quê. Dessa maneira, à dinâmica da sala de aula para facilitar o pro- será muito mais fácil que tenham uma partici- cesso de aprendizagem de todos os alunos. pação ativa no processo. Existem diferentes Expressar os diferentes aspectos a serem meios para conseguir isso: explicações a todo considerados para responder à diversidade está o grupo, demonstrações, conversas com os alu- além das possibilidades deste capítulo, dada a nos em grupos pequenos ou individualmente. extrema complexidade que caracteriza os pro- Outro fator essencial é que todos os alunos sin- cessos de ensino e de aprendizagem que ocor- tam que podem ter êxito em sua aprendiza- rem na sala de aula. Por isso, destacaremos gem, particularmente quando têm dificuldades alguns elementos que podem ser mais relevan- ou uma história de fracasso, e, para isso, devem tes para alcançar o propósito assinalado. ser propostas atividades que eles sejam capa- zes de resolver, com as ajudas necessárias, e encorajar o esforço, não apenas os resultados. A competência dos professores Os professores devem conhecer bem as A organização do ensino possibilidades de aprendizagem dos alunos, os fatores que a favorecem e as necessidades mais Elaborar as situações de aprendizagem específicas deles. Somente com tal conhecimen- de forma que todos os alunos participem e to poderão ser ajustadas as ajudas pedagógi- avancem em função de suas possibilidades é cas ao processo de construção pessoal de cada uma tarefa difícil. Aqueles que têm objetivos aluno. Conhecer bem os alunos implica inte- ou conteúdos diferentes dos de seu grupo de ração e comunicação intensas com eles, uma referência não devem trabalhar paralelamen- observação constante de seus processos de te, e sim participar o máximo possível das ati- aprendizagem e uma revisão da resposta edu- vidades da classe. Há diversos meios para al- cativa que lhes é oferecida. Esse conhecimento cançar tal objetivo: é um processo contínuo, que não se esgota no momento inicial de elaborar a programação 1. Utilizar estratégias metodológicas anual. Sempre que se inicia um novo processo diversificadas, com base em alguns de aprendizagem, mediante as diversas unida- princípios pedagógicos essenciais, des didáticas, é fundamental explorar os co- que permitam ajustar a ajuda peda- nhecimentos, as ideias e as experiências ante- gógica às diferentes necessidades, riores dos alunos acerca dos novos conteúdos, aos estilos de aprendizagem e aos e durante o próprio processo observar como processos de construção de cada alu- avançam, de modo a proporcionar-lhes as aju- no. A concepção construtivista não das necessárias. prescreve métodos, mas uma série trabalho do professor competente é aju- de princípios que orientam e dão dar todos os alunos a construir aprendizagens sentido às diferentes estratégias uti- significativas. A forma como se propõem as si- lizadas. Vale lembrar que a forma de tuações de ensino e de aprendizagem é deter- aprender das crianças com necessi- minante para conseguir ou não uma aprendi- dades educativas especiais não é zagem significativa. A construção de aprendi- muito diferente, ainda que, em mui- zagens significativas implica que todos os alu- tos casos, necessitem de mais aju- nos tenham uma predisposição favorável para das ou ajudas diferentes de seus aprender, atribuam um sentido pessoal às ex- demais colegas. periências de aprendizagem e estabeleçam re- 2. Utilizar estratégias de aprendizagem lações substanciais entre as novas aprendiza- cooperativa. É um fato já bastante</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 3 295 demonstrado que as crianças não alunos vão requerer maior ajuda e aprendem apenas com o professor, estratégias específicas para genera- mas também com seus iguais. As es- lizar as aprendizagens e aplicá-las tratégias de aprendizagem coopera- de forma autônoma. tiva têm efeitos positivos no rendi- 6. Utilizar uma ampla gama de mate- mento acadêmico, na autoestima, riais que possibilitem diferentes ati- nas relações sociais e no desenvol- vidades, que abordem determinados vimento pessoal. A utilização desse temas ou conteúdos com diferentes tipo de técnica representa uma gran- níveis de complexidade e permitam de ajuda para o professor, porque diferentes formas de utilização. É facilita o trabalho autônomo dos alu- importante levar em contra o mate- nos, e o docente pode dedicar mais rial específico ou adaptado que pos- atenção àqueles que mais precisam. sam requerer certos alunos com ne- 3. Oferecer experiências e atividades cessidades educativas especiais. diversificadas que permitam traba- 7. Combinar diferentes tipos de agru- lhar determinados conteúdos com pamento, tanto no que se refere ao diversos graus de complexidade e, tamanho como aos critérios de ho- inclusive, conteúdos distintos. Ela- mogeneidade ou heterogeneidade borar atividades que tenham dife- que permitam proporcionar respos- rentes graus de dificuldade e permi- tas diferenciadas em função dos ob- tam diferentes possibilidades de exe- jetivos que persigam, da natureza cução e expressão; propor várias dos conteúdos a trabalhar e das ca- atividades para trabalhar um mes- racterísticas e dos interesses dos alu- mo conteúdo; apresentar uma mes- nos. É importante assegurar que ma atividade para trabalhar conteú- aqueles que têm maiores dificulda- dos com diferentes graus de dificul- des se integrem nos grupos que me- dade; utilizar metodologias que in- lhor respondam às suas necessidades. cluam atividades de tipo diverso, 8. Utilizar procedimentos de avaliação como, por exemplo, o trabalho por distintos que se adaptem a diferen- meio de projetos, de oficinas, etc. tes estilos, capacidades e possibili- 4. Abrir a possibilidade de que os alu- dades de expressão dos alunos. A nos escolham entre diferentes ativi- avaliação por meio das atividades de dades e decidam a forma de realizá- ensino e de aprendizagem e das pro- -las. Para conseguir maior autono- duções dos alunos é um meio extre- mia é preciso dar oportunidades mamente útil para que os docentes para que os alunos tomem decisões possam ajustar a ajuda pedagógica sobre o planejamento de seu traba- ao processo de construção de cada lho e se responsabilizem pela apren- um. É importante que os alunos co- dizagem. A escolha de atividades nheçam os critérios mediante os permite que elas se adaptem às di- quais suas produções serão avalia- ferenças individuais e que os alunos das para que possam regulá-las. É conheçam a si mesmos como apren- necessário dialogar com eles não só dizes. acerca de suas potencialidades e di- 5. Dar oportunidades para que os alu- ficuldades como também sobre as nos pratiquem e apliquem de forma estratégias que poderão trazer me- autônoma o que aprenderam. Saber lhores resultados para sua aprendi- quando os alunos alcançaram o ní- zagem. Dessa forma, eles se conhe- vel suficiente de aprendizagem que cerão melhor como aprendizes e se lhes permita trabalhar com menos responsabilizarão por sua aprendi- supervisão e ajuda. Determinados zagem.</p><p>296 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. 9. Organizar o espaço da sala de aula vel de ajuste da oferta educativa comum é cons- de forma que seja agradável, facili- tituído pelas adaptações curriculares individua- te a autonomia e a mobilidade dos lizadas. Estas são uma outra via de resposta à alunos e possa adaptar-se aos dife- diversidade e, por isso, será preciso realizá-las rentes tipos de atividades e agrupa- quando a programação diversificada da turma mentos. Os alunos com maiores di- não for suficiente para responder a determi- ficuldades terão de ocupar os luga- nadas necessidades de um aluno. res onde tenham maior acesso à in- Em um sentido amplo, qualquer aluno ou formação e possam comunicar-se e aluna pode requerer, em um determinado mo- relacionar-se melhor com seus cole- mento, uma série de ajustes individuais do cur- gas e o professor. Se na sala de aula rículo comum, já que isso faz parte da lógica há crianças com problemas senso- de ajuste da ajuda pedagógica ao processo de riais ou motores, é necessário criar construção de cada aluno. Convém, todavia, condições adequadas de lumino- reservar o conceito de adaptações curriculares sidade, acesso e sonorização. individualizadas para os casos em que as ne- 10. Organizar o horário da classe levan- cessidades educativas dos alunos requerem do em conta o tipo de metodologia ações, recursos ou medidas de caráter especial e de atividades a realizar, como tam- ou extraordinário durante toda sua escola- bém as necessidades de apoio de que rização ou em algum momento dela. possam necessitar determinados alu- Em sentido restrito, as adaptações curri- nos. importante estabelecer certos culares individualizadas podem ser entendidas momentos para a realização de ati- como um processo compartilhado de tomada vidades individuais, que podem ser de decisões, cujo objetivo é ajustar e comple- de reforço ou de aprofundamento. mentar o currículo comum de modo a respon- 11. Criar um clima de respeito e de valo- der às necessidades educativas especiais dos rização entre os alunos: estabelecer alunos e conseguir seu máximo desenvolvimen- canais de comunicação; propor ati- to pessoal e social. Trata-se de construir um vidades que propiciem a coesão do currículo sob medida para o aluno, tomando grupo e a regulação da vida da classe, decisões a respeito do que ele tem de aprender como por exemplo as assembleias ou e em que sequência, de como se deve ensinar- os debates; emitir mensagens que -lhe, de quais serão os critérios para avaliar não sejam desabonadoras nem impli- seus avanços e de como ele será avaliado. O quem situações comparativas entre fato de se tratar de um planejamento indivi- os alunos. dual não significa que seja um currículo para- lelo ou separado daquele seguido por seus co- legas, já que é feito em estreita relação com o AS ADAPTAÇÕES planejamento de seu grupo e da escola que fre- CURRICULARES INDIVIDUAIS quenta. Trata-se de julgar a proposta curricular da turma em interação com as necessidades o conceito de adaptação curricular especiais do aluno. Tal juízo se traduzirá na possibilidade de compartilhar determinadas Ainda que se leve em conta a diversidade aprendizagens com seu grupo de referência, nos processos de planejamento da escola e da de ter de introduzir outros, dar prioridade a turma, pode ocorrer que certas necessidades alguns, renunciar de forma temporária ou per- dos alunos não sejam contempladas nesses ní- manente a certas aprendizagens, trabalhar com veis de planejamento, sendo necessário adap- algumas estratégias distintas, adaptar material tar o currículo de forma individual. Em um de uso comum ou modificar os critérios de currículo compreensivo e aberto, o último ní- agrupamento de alunos.</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 3 297 Há várias perguntas muito frequentes A consideração das adaptações curricu- com relação a esse tema: que alunos requerem lares como uma medida extraordinária impli- adaptações curriculares individualizadas?; ca sua justificativa. Isso supõe que se deve de- quais são as adaptações para as diferentes pro- cidir após um processo de avaliação psicope- blemáticas?; quando é preciso fazer uma adap- dagógica ou interdisciplinar do aluno em tação curricular individualizada?; que função interação com o contexto que fundamenta a cumprem as adaptações curriculares? são al- necessidade de realizá-las. Quando um aluno gumas delas. começa a apresentar dificuldades de aprendi- A resposta às duas primeiras questões é zagem, é importante não encaminhá-lo auto- que não se pode estabelecer por antecipação maticamente para um processo de avaliação quem são os alunos e quais são as adaptações psicopedagógica e de adaptação curricular. Ao necessárias para eles. Pela concepção das adap- contrário, é preciso pôr em prática um conjun- tações curriculares que se defendem neste ca- to de medidas pedagógicas que possam com- pítulo, não existem categorias de alunos pre- pensar tais dificuldades. Se as medidas não viamente estabelecidas, é preciso elaborá-las. derem resultado e o aluno continuar apresen- O que existem são condições do desenvolvi- tando dificuldades importantes, é o momento mento e da aprendizagem dos alunos que, de colocar-se a necessidade da intervenção de junto com as condições de ensino que lhes ofe- outros profissionais que possam fazer uma ava- recem, tornam necessário que se façam mo- liação psicopedagógica para orientar o tipo de dificações no currículo ou se ofereçam meios adaptações a serem realizadas. de acesso a ele. A partir destas reflexões, é possível esta- As adaptações curriculares constituem um belecer as funções das adaptações no processo processo de tomada de decisões para cada educacional dos alunos que apresentam neces- criança no contexto concreto no qual ela se de- sidades educativas especiais: senvolve e aprende. Portanto, não há adapta- ções previamente concebidas, como receitas, 1. Assegurar que o aluno receba os para as diversas necessidades ou problemáti- meios e a resposta educativa de que cas. Obviamente, existem algumas condições necessita para progredir no sistema do desenvolvimento dos alunos com algum tipo educativo em igualdade de condi- de deficiência que têm repercussões em seu ções. Os alunos que contam com um processo de aprendizagem e que exigirão cer- processo de adaptação curricular to tipo de adaptações; contudo, não se podem podem beneficiar-se de certas me- estabelecer a priori as modificações necessá- didas estabelecidas pelos gestores rias nas diferentes áreas curriculares ou nas es- educacionais, como por exemplo a tratégias metodológicas, visto que os alunos e possibilidade de se eliminar quase os contextos educativos são diferentes. por completo toda uma área do cur- Vale lembrar, finalmente, que as adapta- rículo, e ainda assim poder obter o ções curriculares não se restringem apenas aos título, ou a possibilidade de contar alunos que apresentam algum tipo de deficiên- com o apoio de certos especialistas. cia, mas podem ser requeridas por muitos ou- 2. Estabelecer uma relação entre as ne- tros que, por suas condições de desenvolvimen- cessidades educativas individuais e a to pessoal e por sua experiência educacional, programação comum do grupo de re- apresentam dificuldades de aprendizagem ou ferência do aluno para assegurar a ele defasagens com relação ao currículo correspon- o maior grau possível de participação dente à sua idade. De resto, muitos alunos com nas atividades e na dinâmica da classe. deficiência podem acompanhar o currículo co- 3. Coordenar as atuações dos diferen- mum apenas acrescido de algumas ajudas téc- tes profissionais e serviços que in- nicas ou materiais. tervêm junto ao aluno.</p><p>298 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. 4. Favorecer a colaboração com a fa- 3. São elaborados por especialistas e mília. não estão vinculados às propostas da 5. Promover, gradativamente, o aluno turma. para situações mais normalizadoras. As adaptações curriculares, ao contrário, têm uma concepção mais educacional do que Características das reabilitadora. Isso não significa que, para cer- adaptações curriculares tos alunos, não seja necessário tomar decisões voltadas a compensar ou a reduzir as dificul- A elaboração de programações individuais dades decorrentes de sua própria deficiência, não é algo novo na educação, já que, sob mas estas se demarcam em uma perspectiva diferentes denominações, foi uma prática ha- educativo-curricular As características que bitual no âmbito da educação especial. A novi- definem as adaptações curriculares são as se- dade das adaptações curriculares está na con- guintes: cepção e no enfoque que subjazem a esse pro- cesso. Por esse motivo, pode ser de grande 1. São um nível a mais do planejamen- utilidade caracterizar previamente os progra- to curricular e, portanto, têm os mas de desenvolvimento individual para iden- mesmos componentes que qualquer tificar que mudanças as adaptações curri- programação (objetivos, conteúdos, culares representam em comparação com es- orientações metodológicas, etc.); ses programas. contudo, têm algumas peculiarida- Como característica geral, pode-se assi- des que as diferenciam de outras nalar que os programas de desenvolvimento programações: individual têm uma concepção mais psicológi- ca ou evolutiva do que curricular. Tais progra- a) Maior importância da avaliação inicial para a tomada de decisões. mas partem de uma avaliação centrada basi- Como já se assinalou, as adapta- camente na obtenção de informação acerca das dificuldades ou das alterações nas diferentes ções curriculares são decididas depois de uma avaliação psicope- áreas do desenvolvimento (cognitivo, social, dagógica. emocional, motor, etc.), praticamente ignoran- do a influência do contexto escolar no desen- b) Não é preciso explicitar todos os ele- mentos com a mesma exausti- volvimento e na aprendizagem dos alunos. Esse vidade, mas apenas aqueles em que ponto de partida condiciona a proposta de tais é necessário apresentar situações programas, que se caracterizam pelos seguin- não habituais e particularmente tes aspectos: importantes para o processo de de- 1. O ponto de partida para a tomada senvolvimento e aprendizagem do aluno. vezes será necessário de decisões é o desenvolvimento psi- cológico, e não o currículo escolar. centrar-se principalmente em estra- Esses programas estabelecem objeti- tégias metodológicas ou meios de vos de desenvolvimento e costumam acesso; em outras, em objetivos e conteúdos de diversas áreas ou de realizar-se a partir de currículos pa- uma área concreta. ralelos que têm um enfoque mais reabilitador do que educacional. c) São elaboradas conjuntamente 2. Centram-se em compensar as difi- entre o professor e os especialis- culdades dos alunos, mas não se preo- tas que desempenham funções cupam com as modificações que de apoio e de assessoramento. devem ser introduzidas na resposta 2. Devem ser refletidas por escrito educativa para facilitar o desenvol- mo qualquer programação, de forma vimento e aprendizagem dos alunos. que se possa sistematizar e sintetizar</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 299 todo o processo, e como única via processo tenha fases claras avalia- para rever a adequação das decisões ção inicial, especificação das neces- adotadas. No documento fica refle- sidades especiais, proposta curri- tida uma visão particular do aluno cular adaptada e provisão de recur- estreitamente relacionada com a pro- SOS e ajudas não se devem aplicá- gramação de seu grupo, de forma que -las de forma linear e rígida. As é fácil identificar os aspectos que adaptações podem ser decididas à compartilha com seus colegas, os que medida que se avaliam determina- compartilha parcialmente e os que dos aspectos, mesmo sem terem sido são específicos para ele. O formato avaliados todos os que se incluem do documento deve adequar-se ao na avaliação inicial. estilo dos professores de cada esco- 5. As decisões que se tomem devem ser la, de forma que seja útil, ágil e com- funcionais e realistas. Não se deve preensível para todos os envolvidos; considerá-las como um trâmite for- entretanto, qualquer que seja o for- mal e burocrático, mas sim, e sobre- mato, é importante que contemple os tudo, como um instrumento que componentes básicos do processo: oriente a ação educativa a adotar a) informação relevante do proces- com um aluno. SO de avaliação; b) definição das necessidades edu- cativas especiais; o contínuo da adaptação do currículo c) proposta curricular que especifi- que as decisões relativas ao quê, Existem diversas possibilidades para clas- como e quando ensinar e avaliar sificar as diferentes formas que pode assumir a nas diversas áreas que necessita; adaptação do currículo. Neste capítulo, optou- d) provisão de recursos materiais, -se por diferenciar as adaptações em função ajudas pessoais e modalidades dos elementos que são objeto de ajustes ou de de apoio; modificações, isto é, meios de acesso ao currí- e) colaboração com a família; culo e adaptações nos diferentes componentes f) acompanhamento das decisões do currículo. Por sua vez, as adaptações po- adotadas. dem ser classificadas por seu maior ou menor grau de significação, que está relacionado com 3. Devem ser consideradas não apenas o grau de distância que representam com rela- como um produto ou um fim em si ção às ações ordinárias que seguem com os mesmo, mas sobretudo como um pro- demais alunos. Quanto mais afastem o aluno cesso que serve para refletir conjun- das propostas educacionais típicas do ensino tamente e unificar critérios com res- comum, mais significativa será a adaptação. peito à resposta educativa de um alu- no. Não se trata de uma ação pon- tual, já que o aprofundamento na res- Meios de acesso ao currículo posta de que um aluno precisa serve para enriquecer a tomada de decisões Algumas necessidades educativas espe- de caráter mais geral. A experiência ciais, para serem atendidas, requerem uma sé- demonstra que muitas decisões que rie de meios, recursos ou ajudas técnicas que se tomam para um aluno passam a possibilitarão ao aluno acompanhar em gran- fazer parte da resposta educativa da de medida o currículo comum, facilitando sua turma ou da escola, de modo que autonomia e seu processo de aprendizagem. todos os alunos se beneficiam dela. Os meios de acesso ao currículo favorecerão o 4. Devem ser entendidas como um pro- desenvolvimento e a aprendizagem de deter- cesso dinâmico e flexível. Embora o minadas capacidades e conteúdos que de ou-</p><p>300 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. tra forma apresentariam sérias dificuldades sino e de aprendizagem com um maior grau para o aluno. de autonomia. Condições físico-ambientais. Eliminação Entre os meios de acesso, a adaptação de barreiras arquitetônicas; insonoridade das mais completa é a aprendizagem de um códi- salas; instalação do aluno em lugares onde te- go de comunicação. Embora conceitualmente nha pleno acesso à informação e possa interagir seja um meio de acesso, é preciso fazer modi- com seus colegas; distribuição do espaço, con- ficações no currículo que permitam a aprendi- dições adequadas de luminosidade, etc. zagem desse código. É necessário introduzir Materiais, equipamentos e suportes técni- objetivos, conteúdos, critérios de avaliação, Compensam as dificuldades decorrentes estratégias instrutivas e materiais específicos da deficiência dos alunos e lhes permitem par- referentes a tal código, o que pode levar, pelo ticipar das atividades de ensino e de aprendi- menos durante um tempo, à eliminação de for- zagem com maior grau de autonomia: máqui- ma temporária ou permanente, de outro tipo na Perkins; materiais técnicos de audição, como de conteúdos menos prioritários para o aluno. próteses ou equipamentos de frequência mo- Os meios de acesso têm um caráter permanen- dulada; tabuleiros de sistema de comunicação; te porque são imprescindíveis para que o pro- emuladores de teclado; sintetizadores de voz; cesso de ensino e de aprendizagem e de socia- etc. Em outros casos, serão necessárias modifi- lização, particularmente dos alunos com defi- cações nos materiais de uso comum: incorpo- ciências sensoriais ou motoras, ocorra nas me- rar ímãs em aumentar o ta- lhores condições possíveis. manho ou a espessura das letras de um texto; simplificar a estrutura gramatical de um texto para torná-lo mais acessível; substituir alguns Adaptações nos componentes termos por outros mais compreensíveis para o do currículo aluno; etc. Códigos de comunicação. Há alunos cujas São as modificações ou os ajustes que se dificuldades de comunicação limitam seu aces- fazem com relação a quê, como e quando ensi- SO ao currículo, necessitando aprender um có- nar e avaliar, ou seja, com relação aos objeti- digo alternativo à linguagem oral ou escrita. A vos, aos conteúdos e à sua sequência, à me- comunicação em suas diversas modalidades todologia e aos critérios e procedimentos de está presente em qualquer atividade escolar, já avaliação. Em função dos componentes modi- que os processos de ensino e de aprendizagem ficados, pode-se falar de adaptações curricu- são basicamente processos de relação e comu- lares mais ou menos significativas. nicação. Por isso, é fundamental dar uma aten- As adaptações não significativas são as que ção particular às dificuldades que pode acar- se fazem nos elementos não prescritivos do cur- retar esse processo e aos suportes que é preci- rículo oficial. Embora estes variem conforme os SO proporcionar aos alunos para compensá-las. países, costumam referir-se a como ensinar e Muitos alunos com problemas motores, senso- avaliar: planejar atividades complementares, riais ou alterações graves do desenvolvimento aprender um conteúdo mediante uma estraté- necessitam aprender um código de comunica- gia metodológica diferente ou avaliar o aluno ção alternativo, aumentativo ou complemen- por um procedimento distinto. Há também tar à linguagem oral ou escrita: linguagem de adaptações que afetam os elementos prescritivos sinais; palavra complementada; bimodal; Bliss; do currículo que podem ser consideradas como sistema pictográfico de comunicação; Braille; não significativas: introduzir, matizar ou ampli- programa de comunicação total; A apren- ar alguns conteúdos, dedicar mais tempo à dizagem desses códigos permitirá que dispo- aprendizagem de certos conteúdos, eliminar nham de um veículo linguístico que lhes pos- alguns não essenciais dentro da área, etc. Esse sibilitará representar a realidade, comunicar- tipo de adaptações é frequente para a maioria -se e expressar-se, facilitando seu acesso ao cur- dos alunos de uma turma e deveria fazer parte rículo e sua participação nas atividades de en-</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 301 da prática habitual dos professores no contexto rante um longo período, a determi- da resposta à diversidade. nadas aprendizagens. Em outros ca- As adaptações significativas, ao contrário, porém, é preciso eliminar de- são aquelas que afetam os elementos prescri- terminadas aprendizagens porque tivos do currículo oficial e, como consequência, há uma grande distância entre es- podem ter efeitos na titulação do aluno. Na tas e o nível de competência do realidade, é mais apropriado falar de um currí- aluno. culo significativamente adaptado quando é ne- cessário fazer várias das seguintes adaptações: Fases do processo de 1. Priorizar algumas das capacidades adaptação curricular contempladas nos objetivos gerais e, consequentemente, determinados O processo de ajuste da oferta educacio- conteúdos e critérios de avaliação. Em nal para responder às necessidades especiais alguns casos, esse tipo de adaptação de um aluno segue a mesma lógica do planeja- pode implicar o abandono temporá- mento da ação educativa com todos os alunos rio ou definitivo de outras aprendiza- da turma ou da escola, embora com certos gens menos relevantes para o aluno. matizes. Podem-se considerar quatro etapas 2. Introduzir ou ampliar determinados fundamentais no processo de adaptação cur- aspectos contemplados em objeti- ricular: avaliação inicial psicopedagógica, iden- vos, conteúdos e critérios de avalia- tificação das necessidades educativas especiais, ção. Alguns alunos têm de aprender resposta educativa e acompanhamento (ver certos aspectos que não são contem- Quadro 15.1). plados no currículo comum, ou que fazem parte da proposta curricular do ciclo ou da etapa anterior e, por- Realização de uma avaliação do aluno em tanto, devem ser introduzidas de for- interação com contexto escolar ma individual. Por exemplo, a apren- dizagem de um código de comuni- Estabelecer as necessidades especiais e as cação diferente da linguagem oral correspondentes adaptações implica fazer um que não está presente no currículo julgamento baseado em uma avaliação psicope- comum ou a resolução de problemas dagógica ampla do aluno em interação com o com a aplicação das operações bási- contexto escolar em que se desenvolve e apren- cas (própria da etapa de ensino fun- de. A avaliação coletará informações relevan- damental) para um aluno que está tes para tomar decisões ajustadas e fundamen- no ensino médio. tadas quanto à proposta curricular mais ade- 3. Eliminar objetivos, conteúdos e cri- quada para o aluno, aos recursos materiais e térios de avaliação do currículo ofi- ajudas pessoais que se deve oferecer a ele e às cial, chegando, em alguns casos, a modificações que se deve fazer no contexto praticamente eliminar uma área ou educativo. O importante é identificar, por meio áreas curriculares inteiras. Em toda da avaliação, as necessidades do aluno com re- área curricular há conteúdos essen- lação ao currículo escolar e os apoios (tipo e ciais ou nucleares e conteúdos que grau de ajuda) de que necessita para avançar poderiam ser chamados de detalhe na escola e ser competente na vida social. ou aprofundamento. Quando a eli- A avaliação psicopedagógica deve ser minação afeta os primeiros, deve-se feita por profissionais especializados, que po- considerar uma adaptação significa- dem variar segundo os países (equipes psico- tiva. Em alguns casos, a eliminação pedagógicas ou interdisciplinares, orienta- decorre da introdução de outros dores, etc.), em colaboração com os professo- conteúdos, ou de dar prioridade, du- res que atendem o aluno. As dimensões que</p><p>302 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. QUADRO 15.1 Etapas no processo de adaptação curricular Necessidades Avaliação educativas Resposta psicopedagógica especiais educativa Acompanhamento Avaliação do aluno em Estabelecer as necessida- Decisões sobre: Registro dos avanços e re- interação com o contexto des educativas individuais Proposta curricular. visão das medidas adota- em que ele se desenvolve que se consideram espe- Modificações no contex- das para introduzir os ajus- e aprende para identificar ciais à medida que, para se- to educativo. tes necessários. suas necessidades educa- rem atendidas, requerem Provisão de ajudas pes- tivas e fundamentar a res- recursos e medidas de ca- soais e modalidades de posta educativa: ráter extraordinário, de for- apoio. Nível de desenvolvimen- ma temporária ou perma- Colaboração com a to e de competência cur- nente. família. ricular do aluno. Fatores que facilitam sua aprendizagem. Contexto e resposta educativa da turma e da escola. Contexto sociofamiliar. devem ser consideradas na avaliação, desen- avançar com relação às capacidades expressa- volvidas no capítulo anterior, são o nível de das no currículo escolar. competência curricular, o nível geral de desen- A formulação das necessidades educativas volvimento, os fatores do próprio aluno que especiais deve ser muito genérica, para que não facilitam sua aprendizagem, a avaliação do se confunda com as próprias adaptações. Além contexto educativo, especialmente da turma, disso, não deve ser muito numerosa, já que sua e a avaliação do contexto sociofamiliar. finalidade é identificar, em linhas gerais, aque- las necessidades que requerem uma atenção prioritária por sua repercussão no desenvolvi- Determinação das necessidades mento e no processo de aprendizagem do alu- educativas especiais no, e que, além disso, implicam algumas medi- das de caráter extraordinário, seja de forma Uma vez concluída a avaliação, deve-se temporária ou permanente. Algumas necessi- fazer a análise e a síntese da informação obtida dades especiais só poderão ser atendidas por para determinar quais são as necessidades meios de acesso ao currículo; outras, modifi- educativas específicas do aluno. A formulação cando o contexto; outras, mediante adaptações de tais necessidades constitui o elo de ligação significativas e outras, finalmente, por meio de entre processo de avaliação e a resposta adaptações em todos os aspectos assinalados. educativa. Às vezes, os profissionais têm difi- Também ocorre que uma mesma adaptação culdades para formulá-las porque costumam se possa responder a mais de uma necessidade confundir com as próprias adaptações. É normal educativa. que isso ocorra, levando-se em conta que as Convém dar um exemplo para esclarecer necessidades especiais são definidas como os este ponto. Para um aluno em um momento recursos e as ajudas pedagógicas que se devem determinado, uma necessidade educativa es- proporcionar ao aluno para compensar suas pecial pode ser a de "aumentar suas possibili- dificuldades de aprendizagem e ajudá-lo a dades de comunicação por diversos meios de</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 303 expressão". Para responder a tal necessidade, ensinar e avaliar e, entre estas, a eli- podem se propor as seguintes adaptações: si- minação deve ser a última decisão a tuar o aluno em um lugar onde tenha acesso a se tomar. Nem sempre é preciso se- toda a informação; apresentar os conteúdos e guir processo de maneira rígida, as tarefas com apoios visuais; reforçar suas pro- porque às vezes a própria avaliação duções linguísticas; introduzir conteúdos refe- proporciona dados suficientes para, rentes a um código de comunicação alternati- de início, tomar decisões sobre o que VO ou complementar da linguagem oral; dar ensinar, inclusive eliminando alguns prioridade aos conteúdos referentes à com- objetivos e conteúdos que o aluno preensão de leitura; dar prioridade aos conteú- não poderia alcançar, mesmo fazen- dos de expressão oral, corporal e artística. do outro tipo de adaptações. 3. Levar em conta vários critérios para tomar decisões ajustadas sobre quais Concretização da proposta curricular são as aprendizagens mais relevan- para responder às necessidades do aluno tes e pertinentes para um aluno em um momento determinado, tendo Uma vez estabelecidas as necessidades do sempre como meta oferecer-lhe uma aluno com relação ao currículo, devem-se de- proposta curricular mais ampla, terminar que ajustes ele deve sofrer para equilibrada e enriquecedora possí- atendê-las, isto é, deve-se responder às pergun- vel. É fundamental não restringir, de tas sobre o quê, como e quando ensinar e ava- início, o tipo e nível de liar. Neste momento do processo, é importan- cias oferecidos. te considerar os seguintes aspectos: Um critério fundamental é o nível de de- 1. A tomada de decisões é um proces- senvolvimento do aluno e seu nível de com- SO constante de ida e vinda entre a petência com relação ao currículo. Tal critério situação e as necessidades do alu- determina os demais, já que, por mais rele- no, que deve seguir seu próprio pro- vantes que sejam determinados conteúdos cesso evolutivo, e a oferta educacio- para o aluno, se existe uma grande distância nal do grupo de referência e da es- entre estes e suas possibilidades de raciocínio cola que frequenta. É preciso julgar e seus níveis de competência atuais, será a proposta curricular da turma em preciso adiar sua aprendizagem ou, inclusive, interação com as necessidades do renunciar a eles. É importante lembrar que a aluno para identificar quais podem construção do conhecimento não se dá em ser resolvidas mediante essa progra- termos de tudo ou nada, ou seja, podem se mação, quais não ou apenas parcial- fazer aprendizagens de maior ou menor mente, e decidir, como consequên- complexidade com relação a um mesmo cia disso, os ajustes que devem ser conteúdo, o que implica determinar qual deve feitos. Às vezes, o processo de adap- ser o passo seguinte para o aluno em função tação pode levar a uma proposta de seu nível atual de competência. muito diferente do currículo de re- Um segundo critério é contemplar as ferência, mas é importante que este aprendizagens que compensem as dificulda- seja o ponto de partida para assegu- des decorrentes da problemática do aluno e rar um processo educacional o mais que favoreçam o conhecimento e a aceita- normalizado possível. ção de si mesmo. Tal aspecto redundará nas 2. Tentar fazer adaptações o menos sig- capacidades relacionadas com o equilíbrio nificativas possível. É aconselhável pessoal, melhorando sua autonomia e seu começar fazendo adaptações de autoconceito, como por exemplo, a aprendi- acesso e no como ensinar e avaliar, zagem de um código de comunicação com- antes de fazer adaptações no que plementar ou aumentativo à linguagem oral</p><p>304 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. ou aqueles relacionados com a mobilidade e Outra decisão importante está relaciona- a orientação. da com a definição e o tipo de modalidade de Um terceiro critério refere-se à funciona- apoio de que o aluno precisa, que estará con- lidade das aprendizagens, selecionando aque- dicionada pelos recursos humanos de que a las que tenham um maior nível de aplicação escola disponha, por sua localização nela (fi- na vida social, que favoreçam a autonomia e o XOS ou itinerantes) e pela capacidade de res- controle sobre o ambiente e que tenham um posta do professor da turma. Com relação à caráter mais geral e polivalente. Entre tais modalidade de apoio, é necessário estabelecer aprendizagens, as mais relevantes serão as que em que áreas é preciso oferecer apoio ao alu- sirvam também para continuar avançando no no, quem vai proporcioná-lo, em que momen- conhecimento das diferentes áreas curriculares tos será oferecido com relação à atividade ge- e aquelas relacionadas a aprender a aprender. ral da aula (apoio prévio, durante ou posterior Por exemplo, conteúdo procedimental refe- à atividade), se deve ser individual ou em gru- rente à "utilização de planos para orientar-se po, e os momentos em que será realizado. É e situar-se no espaço" favorece a autonomia e fundamental que o apoio seja prestado, na o controle sobre ambiente, tendo um caráter medida do possível, na sala de aula, para que mais geral e uma maior aplicação do que o con- o aluno não se desvincule das experiências de teúdo de "localização no mapa de agrupamen- aprendizagem que ocorrem nela, e para que tos de população e representação de movimen- professor modifique sua prática, favorecendo tos de população". assim a aprendizagem de todos os alunos. Se a Um quarto critério é o de selecionar tendência geral é que o aluno receba apoio es- aprendizagens que favoreçam a interação e a pecífico fora da sala, reproduz-se o enfoque clí- inserção na sociedade e, de forma particular, nico da educação especial no contexto da edu- aquelas que sirvam de base para a futura for- cação comum. mação profissional e a inserção no trabalho na Em alguns casos, será necessário estabe- etapa de ensino médio: participação responsá- lecer o tipo de materiais, mobiliário ou equi- vel nas tarefas do grupo, utilização dos recur- pamento específico que o aluno requer para SOS sociocomunitários, etc. Finalmente, é im- facilitar seu processo de aprendizagem ou os portante dar atenção às aprendizagens que critérios que é preciso levar em conta para a motivem o aluno e sejam adequadas às suas utilização e a adaptação do material de uso características pessoais (idade cronológica, in- comum. teresses, etc.). A motivação, em muitos casos, contribui para superar as dificuldades dos alu- nos em relação ao acesso a determinados con- Colaboração com a família teúdos. A colaboração com a família é mais ne- cessária ainda no caso dos alunos que reque- Provisão de recursos materiais, ajudas rem ajudas mais específicas e intensas para pessoais e modalidade de apoio compensar suas dificuldades. É importante in- formar os pais sobre as decisões adotadas para A atenção a certas necessidades pode re- orientá-los sobre o tipo de ajudas que podem querer a provisão de uma série de serviços proporcionar a seu filho e promover sua parti- educativos de caráter extraordinário (pessoais, cipação com relação à aprendizagem de deter- materiais, de acessibilidade, etc.), que se en- minados conteúdos. A colaboração da família contram em algumas escolas, e não em outras. é de vital importância para favorecer a contex- É importante decidir que profissionais podem tualização e a generalização de determinadas oferecer-lhe apoio, levando em conta que al- aprendizagens e conseguir que estas sejam mais gumas de suas necessidades terão de ser aten- significativas para a criança, já que pode rela- didas por recursos ou serviços que estão fora cionar o que faz em casa e o que faz na escola. da escola. Em muitos casos, se poderá, além disso, pro-</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 305 por certas modificações no meio familiar, de te. Os apoios mais frequentes são as equipes modo a promover o adequado desenvolvimento psicopedagógicas ou interdisciplinares, os pro- do aluno. O Capítulo 17 desenvolve amplamen- fessores de apoio gerais ou específicos, os te esse aspecto. terapeutas da linguagem, etc. A forma como se organizam os apoios é bastante variada. Al- guns são incorporados de forma permanente Acompanhamento das na escola, outros atendem várias escolas de ma- adaptações realizadas neira itinerante e outros, finalmente, atuam em uma perspectiva setorial. As adaptações curriculares, como toda O problema mais importante não é tanto programação, devem estar abertas a modifica- a variedade de figuras que dão apoio, a forma ções constantes em função dos dados propor- como se organizam ou as funções que lhes são cionados pela prática. acompanhamento atribuídas. O fundamental é o modelo que implica registrar os avanços do aluno e avaliar orienta sua intervenção. Contar com um a qualidade das decisões adotadas não só no modelo proporciona uma base de referência que se refere ao conteúdo como também ao que permite identificar quando se está ou não processo que o acompanha. Em que medida as diante de um problema, interpretar e elaborar adaptações facilitaram o progresso do aluno possíveis soluções para esses problemas, ajustar com relação às capacidades estabelecidas nos expectativas a respeito do que pode fazer o objetivos? Até que ponto a adaptação do currí- assessor ou especialista, definir as finalidades culo facilitou sua participação em situações e e os âmbitos da intervenção e deixar claro o atividades de ensino e de aprendizagem tipo de relação que se vai estabelecer. É funda- muns a todos os alunos? Em que medida a mental que todos os profissionais que desem- adaptação significou um processo compartilha- penham funções de apoio especializado e os do de tomada de decisões? A modalidade de professores compartilhem o mesmo modelo de apoio adotada permitiu a máxima participa- intervenção para assegurar a continuidade e a ção do aluno na dinâmica da classe? coerência do processo educacional dos alunos e o entendimento entre todos os profissionais. As funções e as tarefas relacionadas com a in- A RESPOSTA À DIVERSIDADE: UM tervenção psicopedagógica ou especializada, TRABALHO EM COLABORAÇÃO seja qual for o seu caráter, inscrevem-se em uma série de eixos conceituais básicos que as englo- A atenção à diversidade, mediante as di- bam e dão significado: a natureza de seus ob- versas estratégias de individualização do ensi- jetivos, a modalidade da intervenção, o âmbi- no e a progressiva integração dos alunos com to preferencial e o estilo de intervenção. necessidades educativas especiais à escola mum, coloca novas exigências e competências aos professores. A situação requer um traba- Natureza dos objetivos da intervenção lho colaborativo entre todos os envolvidos no processo educacional: professores, pais, alunos, Nesse eixo, pode-se encontrar desde uma profissionais de apoio e recursos da comuni- postura clínica ou reabilitadora até uma aberta- dade. Na maioria dos países, não se concebe a mente educacional. Situar-se em um plano clíni- integração dos alunos com necessidades CO implica dar mais atenção às características educativas especiais à escola comum sem uma individuais e evolutivas dos alunos e às suas difi- série de apoios especializados que possam, em culdades ou deficiências específicas. Enfatizar conjunto com o professor da turma, atender mais o polo pedagógico supõe dar mais impor- às necessidades de todos os alunos. Os recur- tância a aspectos relacionados com os processos SOS são variados conforme os países e, embora educacional gerais, a metodologia do ensino, a com as mesmas denominações, desempenham revisão e adaptação do currículo, a interação pro- funções distintas e intervêm de forma diferen- fessor-aluno e a interação entre os alunos.</p><p>306 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. Na nova concepção da educação especial vas, voltadas à detecção precoce das dificulda- e das necessidades educativas especiais, as fun- des e à sua atenção imediata com o objetivo ções relacionadas com o assessoramento e o de impedir sua generalização. apoio especializado devem ter uma vertente Colaborar com as escolas para que atin- claramente educativa, já que um aspecto fun- jam seus objetivos implica uma intervenção damental do conceito de necessidades educa- dirigida preferencialmente a facilitar o desen- tivas especiais é que as dificuldades de apren- volvimento e o enriquecimento da instituição dizagem têm uma natureza interativa; ou seja, escolar, de forma que seja cada vez mais capaz não dependem apenas das limitações do alu- de favorecer o desenvolvimento adequado de no, mas também da resposta educativa que se seus alunos. Isso não significa que não se rea- oferece a ele. Por outro lado, a educação espe- lizem ações dirigidas à prevenção dos fatores cial já não é considerada como um sistema que possam estar dificultando o adequado de- paralelo que só atende às crianças com defi- senvolvimento pessoal dos alunos, ou ações ciência, mas sim como o conjunto de recursos voltadas à atenção de problemas que já se ma- especializados que se colocam a serviço da edu- nifestaram, mas tais ações devem sempre ser cação comum para proporcionar uma educa- implementadas de uma perspectiva institucio- ção de maior qualidade para todos. nal. Na etapa de educação infantil, a dimen- Os profissionais que cumprem funções de são preventiva e de atenção a alunos com difi- assessoramento devem contribuir, junto com culdades assume uma importância extraor- os professores, para a melhoria dos processos dinária, em que a detecção de situações e cir- educacionais gerais, de forma que não apenas cunstâncias de risco deve ser feita precoce- se beneficiem os alunos com necessidades mente para que se possa atendê-las de forma educativas especiais, mas todos os alunos da adequada. escola. É preciso colaborar com as escolas na definição e na implementação de uma oferta curricular que dê uma resposta educativa ade- Âmbito preferencial da intervenção quada às diferentes necessidades de seus alu- nos, contribuindo para a melhoria dos proces- Em um extremo, a ênfase recai sobre o SOS educacionais e prevenindo os aspectos que aluno ou a turma, deslocando-se progressiva- possam impedir que esses processos ocorram mente para a instituição escolar, considerada nas melhores condições possíveis. A interven- em seu conjunto, e a comunidade. Como já se ção desses profissionais deve ser um recurso comentou, o núcleo prioritário da intervenção para a instituição escolar considerada em seu deve ser a instituição escolar. Esta pode situar- conjunto, ocorrendo dentro dela, comparti- -se nos diferentes subsistemas que configuram lhando os mesmos objetivos que esta persegue a escola (alunos, professores, pais) em função e dando assessoria sobre os diversos elemen- das necessidades ou dos problemas a resolver. tos da ação O peso educativo que tem a família nos pri- meiros anos faz com que esta seja um âmbito de atuação muito direto nas tarefas de apoio e Modalidade de intervenção de assessoramento. Embora os alunos sejam um subsistema Em um polo, encontra-se uma interven- da instituição escolar, e todas as ações que nela ção ampla e enriquecedora que potencializa se realizem devam ser dirigidas a favorecer seu tanto o adequado desenvolvimento dos alunos desenvolvimento, é importante destacar a aten- quanto o da escola como instituição. No extre- ção individual a alunos com algum tipo de di- mo oposto, estaria uma intervenção corretiva ficuldade como um âmbito importante de in- ou assistencial, que consiste em aplicar os tra- tervenção nos apoios. É preciso conseguir um tamentos adequados aos problemas ou às difi- equilíbrio entre as ações centradas na melho- culdades que já se manifestaram. Entre os dois ria dos processos educacionais gerais e a aten- extremos, situam-se as intervenções preventi- ção às necessidades individuais dos alunos. Vale</p><p>DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E V. 307 destacar que a intervenção nunca é exclusiva- Transmissora, hierárquica e es- mente institucional ou individual, pois quan- pecialista dá a solução aos problemas, estabe- do se atua no âmbito global da escola, a finali- lecendo uma relação de hierarquia e desigual- dade última deve ser sempre melhorar o pro- dade, de tal forma que as mudanças que se cesso educativo dos alunos, e quando se inter- produzem estão condicionadas pela sua pre- vém junto a um aluno concreto ou um grupo sença. A instituição ou os membros que a com- de alunos, isto não pode ser feito à margem do não assume como suas as estratégias que contexto educativo no qual aprende. permitem o avanço e a evolução, criando-se Um último âmbito de atuação importan- um alto grau de dependência na solução dos te está relacionado com a comunidade. É im- problemas e na melhoria das práticas. Quando portante assinalar que as ações que se imple- as mudanças vêm de fora, em geral não respon- mentem nesse âmbito devem ter como objeti- dem a uma necessidade interna da instituição, facilitar e potencializar o adequado desen- mas sim do assessor e, consequentemente, pro- volvimento da instituição escolar e dos alunos, duz-se uma falta de responsabilização por par- e não a solução de problemas do contexto so- te daqueles diretamente envolvidos, que faz com cial, para os quais deve haver outros recursos que as mudanças não sejam reais nem efica- sociocomunitários. zes, mas pouco permanentes e superficiais. Finalmente, é preciso escolher entre um Construtiva ou em colaboração. Esse ní- tipo de intervenção direta ou imediata sobre o vel de relação implica que as soluções são bus- aluno ou atuar preferencialmente sobre os cadas conjuntamente entre o especialista e os agentes educativos, sendo esta intervenção professores, que contribuem de perspectivas bre o aluno bem mais indireta ou mediada. As distintas e complementares. Cria-se uma re- ações dos profissionais devem ser dirigidas lação de participação, de envolvimento e de prioritariamente aos diversos agentes educa- responsabilidade compartilhadas entre os tivos, como via de influência indireta sobre o membros da instituição e o assessor. As mu- aluno. A atenção direta ao aluno estará condi- danças ou alterações vêm dos próprios pro- cionada por diversos fatores: a capacidade de fessores, e a instituição incorpora progressi- resposta do docente, o número de alunos que vamente as estratégias e os conteúdos que lhe requerem apoio, o tipo de necessidades edu- permitem avançar e evoluir em função de seu cativas especiais e a idade. No caso de alunos nível de maturação. Existe um alto grau de com necessidades muito graves ou específicas autonomia na resolução dos problemas, além e nos primeiros anos, a atenção direta ao alu- disso as mudanças são reais porque são senti- no terá maiores peso e importância. das como uma necessidade pela própria insti- tuição, e seus membros estão envolvidos em todo o processo. Estilo da intervenção Não há dúvida de que a melhora da prá- tica educativa, por parte daqueles que estão Os profissionais que desempenham fun- diretamente envolvidos nela, torna necessária ções de apoio e de assessoramento devem con- uma metodologia de trabalho em colaboração, tribuir para a melhoria da qualidade do ensino em que se abordem os problemas das diferen- oferecendo sua especialização em certos âmbi- tes perspectivas que os professores e os asses- tos de conhecimento. fato de serem especia- sores possam oferecer. Dessa forma, estabele- listas em certas áreas não significa adotar uma ce-se uma relação de igualdade quanto ao ní- "atitude de expert", porque os professores tam- vel de relação, mas complementar e diferencia- bém são experts em outros âmbitos de conheci- da no que se refere às contribuições, à expe- mento acerca dos processos educacionais. Nes- riência profissional e à formação dos diferen- se sentido, pode-se falar de duas formas opos- tes profissionais envolvidos. A interação e a tas no que se refere à utilização do conhecimento complementaridade de diferentes perspectivas por parte dos profissionais que desempenham para a melhoria da qualidade do ensino é a funções de apoio especializados nas escolas. característica fundamental do assessoramento</p><p>308 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. em colaboração, que poderia ser definido como maior relação de igualdade e complementa- um processo de construção conjunta que per- ridade entre assessor e professores; outras, no mite a grupos de sujeitos com diversos graus entanto, pode haver uma maior distância, que de conhecimento, vivências e pontos de vista leva a aumentar a responsabilidade do asses- detectar necessidades e gerar soluções para a sor para promover as mudanças que permitam resolução de problemas definidos mutuamente. o progresso. Em função do que foi dito antes, o asses- trabalho em colaboração não afeta ape- soramento em colaboração poderia caracteri- nas as relações entre os professores e o asses- zar-se como um processo de aprendizagem sor psicopedagógico. A resposta à diversidade cooperativa de construção conjunta de signifi- é mais efetiva nas escolas em que há um traba- cados compartilhados, mediante o qual os pro- lho em colaboração entre os professores, entre fessores e os assessores vão adquirindo novos os professores e os pais, entre os professores e conhecimentos que redundam na melhoria dos os alunos e entre os próprios alunos. processos educacionais da instituição escolar. Aprender de forma cooperativa implica incor- porar o ponto de vista dos outros ao próprio NOTAS ponto de vista, em um processo que conduz a uma melhor compreensão da situação e a uma 1. o Capítulo 1 desenvolve amplamente o con- representação compartilhada, em que o asses- ceito de necessidades educativas especiais. sor e os professores trazem diferentes conhe- 2. Os Capítulos 9 e 11 desenvolvem os sistemas cimentos, experiências e perspectivas para o de comunicação com crianças surdas e com êxito de objetivos comuns. Isso se concretiza- crianças que apresentam alterações motoras, respectivamente. rá de maneira distinta conforme o tipo de es- 3. o livro de Marchesi e Martín (1998) desenvol- cola, as características dos professores e a na- ve essas funções no capítulo dedicado ao tureza da tarefa. vezes, pode haver uma assessoramento psicopedagógico.</p>