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<p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ</p><p>6ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS</p><p>Autos nº. 0003342-95.2022.8.16.9000</p><p>Agravo de Instrumento n° 0003342-95.2022.8.16.9000 AI</p><p>Juizado Especial da Fazenda Pública de Chopinzinho</p><p>MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁAgravante(s):</p><p>ESTADO DO PARANÁAgravado(s):</p><p>Relator: Luciana Fraiz Abrahão</p><p>AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PEDIDO DE</p><p>FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. RECURSO DO MINISTÉRIO</p><p>PÚBLICO ESTADUAL. MANUTENÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA</p><p>ESTADUAL. LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO DO PARANÁ.</p><p>DESNECESSIDADE DE INCLUSÃO DA UNIÃO NO POLO PASSIVO.</p><p>TEMA 1.234 STF. REPERCUSSÃO GERAL (RE 1.366.243). MÉRITO.</p><p>PACIENTE PORTADORA DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E</p><p>HIPERATIVIDADE. TDAH – CID 10 – F90.0. INDICAÇÃO DO</p><p>MEDICAMENTO VENVANSE. NECESSIDADE COMPROVADA POR</p><p>PRESCRIÇÃO MÉDICA. FÁRMACO NÃO CONTEMPLADO PELO</p><p>RENAME (SUS). NECESSÁRIA APRECIAÇÃO DO MÉRITO ATÉ O</p><p>JULGAMENTO DO IAC Nº 14. DETERMINAÇÃO PARA QUE</p><p>MEDICAMENTOS DEVIDAMENTE REGISTRADOS NA ANVISA</p><p>TRAMITEM PERANTE A JUSTIÇA ESTADUAL. DEVER DO ESTADO NA</p><p>GARANTIA E PROVIMENTO DO DIREITO À SAÚDE. ART. 196 DA</p><p>CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MANUTENÇÃO DA LIMINAR. RECURSO</p><p>CONHECIDO E PROVIDO.</p><p>Trata-se de com pedido de liminar interposto pelo Ministérioagravo de instrumento</p><p>Público do Estado do Paraná contra a decisão de mov. 37.1 dos autos originários, visando a</p><p>reforma da decisão recorrida, a qual indeferiu o pedido de antecipação de tutela para o Estado</p><p>do Paraná, ora recorrido, fornecer o medicamento Venvanse 30mg.</p><p>O pedido, em sede de liminar nos presentes autos de Agravo de Instrumento, foi</p><p>deferido, determinando o fornecimento do fármaco, sob pena de multa diária.</p><p>Em sede de contrarrazões, o Estado do Paraná pugnou pela remessa dos autos à Justiça</p><p>Federal, bem como salientou a existência de alternativas disponíveis de medicamentos</p><p>fornecidos pelo SUS.</p><p>O Ministério Público apresentou parecer pelo provimento do recurso apresentado.</p><p>Após, os autos foram redistribuídos a esta 6ª Turma Recursal.</p><p>É o relatório.</p><p>Observados os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.</p><p>A controvérsia cinge-se acerca da manutenção dos autos na esfera da Justiça Estadual,</p><p>vez que se trata de medicamento não incorporado pelo SUS, bem como determinação do</p><p>fornecimento do medicamento pelo Estado do Paraná.</p><p>Da manutenção da tramitação dos autos na Justiça Estadual</p><p>Conforme a jurisprudência do STJ, "o funcionamento do Sistema Único de Saúde – SUS</p><p>é de responsabilidade solidária da União, estados-membros e municípios de modo que qualquer</p><p>destas entidades tem legitimidade ad causam para figurar no polo passivo de demanda que</p><p>objetiva a garantia do acesso à medicação para pessoas desprovidas de recursos financeiros"</p><p>(STJ, AgRg no REsp 1.225.222/RR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de</p><p>05/12/2013).</p><p>Tramita pelo Superior Tribunal de Justiça o Incidente de Assunção de Competência nº</p><p>14, o qual submeteu a julgamento a seguinte questão:</p><p>“Tratando-se de medicamento não incluído nas políticas públicas, mas</p><p>devidamente registrado na ANVISA, analisar se compete ao autor a</p><p>faculdade de eleger contra quem pretende demandar, em face da</p><p>responsabilidade solidária dos entes federados na prestação de saúde, e,</p><p>em consequência, examinar se é indevida a inclusão da União no polo</p><p>passivo da demanda, seja por ato de ofício, seja por intimação da parte</p><p>para emendar a inicial, sem prévia consulta à Justiça Federal”.</p><p>Desse modo, considerando a deliberação para que, até o julgamento definitivo do IAC, o</p><p>Juiz Estadual deve abster-se de praticar qualquer ato judicial de declinação de competência nas</p><p>ações que versem sobre tema idêntico à questão levada à julgamento, o processo deve</p><p>prosseguir perante esta jurisdição até deliberação posterior.</p><p>Sob este aspecto, vale citar que o ministro Gilmar Mendes, relator do Tema 1.234 da</p><p>sistemática da repercussão geral (RE 1.366.243), deferiu em parte a tutela provisória</p><p>incidental, estabelecendo alguns parâmetros quanto à legitimidade passiva da União e a</p><p>competência da Justiça Federal nas demandas que versam sobre fornecimento de</p><p>medicamentos.</p><p>A medida cautelar foi referendada, por unanimidade e restou assim ementada:</p><p>Ementa: REFERENDO NA TUTELA PROVISÓRIA INCIDENTAL. RECURSO</p><p>EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 1.234.</p><p>LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL</p><p>NAS DEMANDAS QUE VERSAM SOBRE FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS</p><p>REGISTRADOS NA ANVISA, MAS NÃO PADRONIZADOS NO SUS. DECISÃO</p><p>DO STJ NO IAC 14. DEFERIMENTO PARCIAL DA MEDIDA CAUTELAR</p><p>PLEITEADA. 1. O julgamento do IAC 14 pelo Superior Tribunal de Justiça</p><p>constitui fato novo relevante que impacta diretamente o desfecho do Tema</p><p>1234, tanto pela coincidência da matéria controvertida – que foi</p><p>expressamente apontada na decisão de suspensão nacional dos processos</p><p>– quanto pelas próprias conclusões da Corte Superior no que concerne à</p><p>solidariedade dos entes federativos nas ações e serviços de saúde. 2.</p><p>Reflexões conduzidas desde o julgamento da STA 175, em 2009, inclusive</p><p>da respectiva audiência pública, incentivaram os Poderes Legislativo e</p><p>Executivo a buscar organizar e refinar a repartição de responsabilidades no</p><p>âmbito do Sistema Único de Saúde. Reporto-me especificamente (i) às</p><p>modificações introduzidas pelas Leis 12.401/2011 e 12.466/2010 na Lei</p><p>8.080/1990, (ii) ao Decreto 7.508/2011; e (iii) às sucessivas pactuações</p><p>no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite. 3. Há um esforço de</p><p>construção dialógica e verdadeiramente federativa do conceito</p><p>constitucional de solidariedade ao qual o Poder Judiciário não pode</p><p>permanecer alheio, sob pena de incutir graves desprogramações</p><p>orçamentárias e de desorganizar a complexa estrutura do SUS, sobretudo</p><p>quando não estabelecida dinâmica adequada de ressarcimento. O conceito</p><p>de solidariedade no âmbito da saúde deve contemplar e dialogar com o</p><p>arcabouço institucional que o Legislador, no exercício de sua liberdade de</p><p>conformação, deu ao Sistema Único de Saúde. 4. No julgamento do Tema</p><p>793 da sistemática a repercussão geral, a compreensão majoritária da</p><p>Corte formou-se no sentido de observar, na composição do polo passivo de</p><p>demandas judiciais relativas a medicamentos padronizados, a repartição de</p><p>atribuições no SUS. A solidariedade constitucional pode ter se revestido de</p><p>inúmeros significados ao longo do desenvolvimento da jurisprudência desta</p><p>Corte, mas não se equiparou, sobretudo após a reforma do SUS e o</p><p>julgamento do Tema 793, à livre escolha do cidadão do ente federativo</p><p>contra o qual pretende litigar. 5. Tutela provisória concedida em parte para</p><p>estabelecer que, até o julgamento definitivo do Tema 1.234 da</p><p>Repercussão Geral, sejam observados os seguintes parâmetros: 5.1. nas</p><p>demandas judiciais envolvendo medicamentos ou tratamentos</p><p>padronizados: a composição do polo passivo deve observar a repartição de</p><p>responsabilidades estruturada no Sistema Único de Saúde, ainda que isso</p><p>implique deslocamento de competência, cabendo ao magistrado verificar a</p><p>correta formação da relação processual; 5.2. nas demandas judiciais</p><p>relativas a medicamentos não incorporados: devem ser processadas e</p><p>julgadas pelo Juízo, estadual ou federal, ao qual foram direcionadas pelo</p><p>cidadão, sendo vedada, até o julgamento definitivo do Tema 1234 da</p><p>Repercussão Geral, a declinação da competência ou determinação de</p><p>inclusão da União no polo passivo; 5.3. diante da necessidade de evitar</p><p>cenário de insegurança jurídica, esses parâmetros devem ser observados</p><p>pelos processos sem sentença prolatada; diferentemente, os processos</p><p>com sentença prolatada até a data desta decisão (17 de abril de 2023)</p><p>devem permanecer no ramo da Justiça do magistrado sentenciante até o</p><p>trânsito em julgado e respectiva execução (adotei essa regra de</p><p>julgamento em: RE 960429 ED-segundos Tema 992, de minha relatoria,</p><p>; 5.4. ficam mantidas as demais determinações contidasDJe de 5.2.2021)</p><p>na decisão de suspensão nacional de processos na fase de recursos</p><p>especial e extraordinário. 6. Tutela provisória referendada.</p><p>(RE 1366243 TPI-Ref,</p><p>Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado</p><p>em 19/04/2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 24-04-</p><p>2023 PUBLIC 25-04-2023)</p><p>Destaco que os itens n 5.2 e 5.3, os quais possuem relevância para o presente julgado,</p><p>haja vista que se trata de medicamento não incorporado ao SUS, restaram assim</p><p>estabelecidos:</p><p>“5.2. nas demandas judiciais relativas a medicamentos não incorporados:</p><p>devem ser processadas e julgadas pelo Juízo, estadual ou federal, ao qual</p><p>foram direcionadas pelo cidadão, sendo vedada, até o julgamento definitivo</p><p>do Tema 1234 da Repercussão Geral, a declinação da competência ou</p><p>determinação de inclusão da União no polo passivo.”</p><p>“5.3. diante da necessidade de evitar cenário de insegurança jurídica,</p><p>esses parâmetros devem ser observados pelos processos sem sentença</p><p>prolatada; diferentemente, os processos com sentença prolatada até a data</p><p>desta decisão (17 de abril de 2023) devem permanecer no ramo da Justiça</p><p>do magistrado sentenciante até o trânsito em julgado e respectiva</p><p>execução (adotei essa regra de julgamento em: RE 960429 ED-segundos</p><p>Tema 992, de minha relatoria, DJe de 5.2.2021)”</p><p>Com o fim de se evitar cenário de insegurança jurídica, entendo que deve ser seguido o</p><p>contido no recente julgado, acima citado, para fim de manter a tramitação perante a Justiça</p><p>Estadual.</p><p>Desta feita, afasto pedido de remessa dos autos à Justiça Federal.</p><p>Quanto ao mérito</p><p>Compulsando detidamente os autos, verifica-se que a paciente é portadora de</p><p>Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH (CID10 F90.0), motivo pelo qual</p><p>lhe foi receitado o medicamento Venvanse (Lisdexanfetamina) 30 mg para tratamento,</p><p>conforme documento de mov. 1.8.</p><p>Da análise dos autos, verifica-se que a parte autora juntou à inicial documentos</p><p>firmados por profissional habilitado que lhe prescreveu o medicamento pleiteado, confirmando</p><p>a eficácia do medicamento em questão para seu tratamento, restando certo o fato de que</p><p>houve análise acerca de qual fármaco seria o mais eficaz para o quadro da paciente.</p><p>Assim, descabida a alegação do ente estatal de que a “parte autora socorreu-se do</p><p>Poder Judiciário para burlar o Protocolo Clínico”, vez que, conforme declaração expressa do</p><p>médico houve “melhora da atenção, da hiperatividade motora e mental, diminuição da</p><p>compulsão alimentar com manutenção ponderal e melhora da dor crônica".</p><p>Ademais, não cabe ao Judiciário discutir a necessidade, a eficácia ou a existência de</p><p>outros medicamentos que poderiam ser utilizados pelo paciente. A existência de prescrição</p><p>médica, por si só, impõe o seu devido cumprimento, considerando que o direito ao devido</p><p>acesso à saúde é garantia constitucional em favor de todos.</p><p>Desse modo, em se tratando de medicamento fundamental à manutenção do tratamento</p><p>da enfermidade que possui a autora, cuja garantia da integridade de saúde depende da</p><p>utilização do referido fármaco, pertinente o seu fornecimento.</p><p>Tem-se que, atualmente, para disponibilização e dispensação de medicamentos pela</p><p>rede pública, necessário se mostra o preenchimento dos requisitos estabelecidos no Tema 106</p><p>do Superior Tribunal de Justiça.</p><p>Assim, conforme restou decidido pelo E. Superior Tribunal de Justiça, quando do</p><p>julgamento do Tema 106, foi fixada a tese de que constitui obrigação do Poder Público o</p><p>fornecimento de medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS, desde que</p><p>presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos:</p><p>1 - Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido</p><p>por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento,</p><p>assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;</p><p>2 - Incapacidade financeira do paciente de arcar com o custo do medicamento prescrito;</p><p>e</p><p>3 - Existência de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária</p><p>(Anvisa), observados os usos autorizados pela agência.</p><p>No mesmo sentido dispõe o Enunciado nº 12 da I Jornada de Direito da Saúde: "A</p><p>inefetividade do tratamento oferecido pelo Sistema Único de Saúde – SUS, no caso concreto,</p><p>deve ser demonstrada por relatório médico que a indique e descreva as normas éticas,</p><p>sanitárias, farmacológicas (princípio ativo segundo a Denominação Comum Brasileira) e que</p><p>estabeleça o diagnóstico da doença (Classificação Internacional de Doenças), indicando o</p><p>tratamento eficaz, periodicidade, medicamentos, doses e fazendo referência ainda sobre a</p><p>situação do registro ou uso autorizado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa,</p><p>fundamentando a necessidade do tratamento com base em medicina de evidências” (STJ –</p><p>Recurso Especial Resp. nº 1.657.156, Relatoria do Ministro Benedito Gonçalves - 1ª Seção</p><p>Cível – julgamento repetitivo dia 25.04.2018 - Tema 106). (Redação dada pela III Jornada de</p><p>Direito da Saúde – 18.03.2019).</p><p>Desse modo, Observa-se que o fármaco pleiteado se encontra devidamente registrado</p><p>na ANVISA sob o nº 106390304 (Venvanse), bem como a parte autora demonstrou a</p><p>incapacidade financeira para seguir com o tratamento indicado, cabendo aos entes federados a</p><p>adoção das medidas necessárias para o seu fornecimento gratuito perante o SUS.</p><p>Registre-se, ademais, que a saúde é um direito fundamental de todos, previsto nos</p><p>artigos 6º e 196 do texto constitucional, estando intimamente relacionada ao direito à vida</p><p>(artigo 5º, caput, da CF) e à dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III, CF), os quais</p><p>devem ser garantidos a todos pelos entes federativos, independentemente de sua condição</p><p>financeira ou outras questões individuais.</p><p>Ainda, os entes federados são responsáveis solidários pelo fornecimento de</p><p>medicamentos aos cidadãos através do Sistema Único de Saúde, é possível que a demanda</p><p>seja proposta em face de um ente ou outro, ou contra quem a autora entende como devido.</p><p>Nesse sentido, oportuno transcrever o Enunciado nº 16 da Quarta e Quinta Câmaras</p><p>Cíveis do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:</p><p>“As medidas judiciais visando a obtenção de medicamentos e afins podem ser propostas</p><p>em face de qualquer ente federado diante da responsabilidade solidária entre a União,</p><p>Estados e Municípios na prestação de serviços de saúde à população”.</p><p>Logo, não pode o agravado se eximir do dever que lhe foi constitucionalmente imposto,</p><p>com a ressalva de que, posteriormente no caso de ser verificado a inexistência de</p><p>responsabilidade do ente estatal, poderá este cobrar o ressarcimento pelo custeio do</p><p>tratamento em face da União através do ajuizamento de ação regressiva.</p><p>Nesse sentido os seguintes julgados:</p><p>1) DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE</p><p>INSTRUMENTO. NECESSIDADE DO MEDICAMENTO VENVANSE.</p><p>COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. PARÂMETROS ESTABELECIDOS</p><p>PELO STJ, EM SEDE DE RECURSO REPETITIVO. REQUISITOS</p><p>PREENCHIDOS NO CASO.</p><p>a) Com base no Tema 793 do STF, os entes são solidariamente</p><p>responsáveis, ausente justificativa para inclusão da União no polo passivo,</p><p>sendo reconhecida a competência da Justiça Estadual.</p><p>b) O STJ, ao proferir acórdão no Recurso Especial nº 1.657.156/RJ, definiu</p><p>que “a concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos</p><p>do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: (i)</p><p>Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado</p><p>expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou</p><p>necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento</p><p>da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; (ii) incapacidade financeira</p><p>de arcar com o custo do medicamento prescrito; (iii) existência de registro</p><p>na ANVISA do medicamento”.</p><p>c) Nos termos do artigo 300 do Código de Processo Civil de 2015, a tutela</p><p>de urgência de natureza antecipada será concedida quando houver</p><p>elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou</p><p>do risco ao resultado útil do processo.</p><p>d) Nesta fase processual, além de comprovada a existência da doença,</p><p>houve demonstração do registro do fármaco na ANVISA, da incapacidade</p><p>financeira do paciente arcar com os custos do medicamento</p><p>e da</p><p>imprescindibilidade do tratamento.</p><p>e) Dessa forma, em análise perfunctória própria deste recurso, há</p><p>elementos que evidenciam a probabilidade do direito, sendo de rigor a</p><p>reforma da decisão agravada.</p><p>2) AGRAVO DE INSTRUMENTO A QUE SE DÁ PROVIMENTO.</p><p>(TJPR - 5ª Câmara Cível - 0045226-41.2022.8.16.0000 - Cornélio Procópio</p><p>- Rel.: DESEMBARGADOR LEONEL CUNHA - J. 02.05.2023)</p><p>RECURSO INOMINADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PEDIDO DE FORNECIMENTO</p><p>DE MEDICAMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CONFIGURADO.</p><p>RECEITUÁRIO E RELATÓRIO MÉDICO QUE DISPENSA A PRODUÇÃO DE</p><p>PROVA PERICIAL. MÉRITO. PACIENTE PORTADORA DE DÉFICIT DE</p><p>ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE, TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E</p><p>TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA. INDICAÇÃO DOS</p><p>MEDICAMENTOS PROZAC E VENVANSE. NECESSIDADE COMPROVADA POR</p><p>PRESCRIÇÃO MÉDICA. FÁRMACOS NÃO CONTEMPLADOS PELO RENAME</p><p>(SUS). NECESSÁRIA APRECIAÇÃO DO MÉRITO ATÉ O JULGAMENTO DO IAC</p><p>Nº 14. DETERMINAÇÃO PARA QUE MEDICAMENTOS DEVIDAMENTE</p><p>REGISTRADOS NA ANVISA TRAMITEM PERANTE A JUSTIÇA ESTADUAL.</p><p>DEVER DO ESTADO NA GARANTIA E PROVIMENTO DO DIREITO À SAÚDE.</p><p>ART. 196 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.</p><p>RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.</p><p>(TJPR - 4ª Turma Recursal - 0005506-56.2021.8.16.0112 - Marechal</p><p>Cândido Rondon - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS</p><p>JUIZADOS ESPECIAIS ALDEMAR STERNADT - J. 24.10.2022)</p><p>Diante do exposto, deve ser provido o Agravo de Instrumento interposto pelo Ministério</p><p>Público do Estado do Paraná, a fim de manter os presentes autos tramitando pela Justiça</p><p>Estadual, bem como manter a liminar de mov. 10.1 para viabilizar o fornecimento do</p><p>medicamento na quantidade e tempo necessário.</p><p>É o voto que proponho.</p><p>Oficie-se ao Juízo .a quo</p><p>Intimações e diligências necessárias.</p><p>Ante o exposto, esta 6ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade</p><p>dos votos, em relação ao recurso de MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, julgar pelo</p><p>(a) Com Resolução do Mérito - Provimento nos exatos termos do voto.</p><p>O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Haroldo Demarchi Mendes, com voto, e dele</p><p>participaram os Juízes Luciana Fraiz Abrahão (relator) e Gisele Lara Ribeiro.</p><p>30 de junho de 2023</p><p>Luciana Fraiz Abrahão</p><p>Juiz (a) relator (a)</p>