Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

<p>E U ALAN BARBIERI</p><p>Ao longo de mais de uma década estou à frente do Templo Escola Casa de Lei, cujo mentor espiritual é um Exu, portanto a oportunidade dada pela Editora de escre- ver esse livro é maior presente que eu poderia receber do plano es- piritual, pois me fez recordar grandes lições, as quais aprendi como médium e sacerdote Umbandista. Assim, é com muito carinho e satis- poder fação organizar que agradeço ensinamentos chance mil- de a esses em uma obra que chegará a hares de outros irmãos de fé que estão em busca das mesmas respos- tas que um dia também procurei.</p><p>Introdução - um convite para conhecer exu 13 Exu ensina lições a Oxalá 21 Orixá Exu 25 Diabo: a falsa reputação de Exu 33 sacrifício animal - a tradição e a deturpação 45 papel Exu na vida das pessoas 51 Exu e Pombagira: os mantenedores da energia vital 59 Há quem afirme que Exu faz o mal 63 mistério magístico do fumo e da bebida 69 As falanges de Exu na umbanda 73 Exus de Oxalá 77 Exus de Oxóssi, Ossain, Obá e Ewá 83 Exus de Ogum 89 Exus de Xangô e 95 Exus de Obaluaiê 101 Exus de Omolu 107 Exus de Oxumarê, Oxum, lemanjá e Nanã 113 Fundamentos da oferenda 119 Assentamento e firmeza 127 Os três pilares que fundamenta uma firmeza 131 Elementos e seus significados 141 Ervas de Exu 177 Pedras que vibram a força de Exu 185 Firmezas de sustentação de Exu 187 Dúvidas mais recorrentes 197 Conclusão 251 9</p><p>PREFÁCIO " Recebo de meu marido a missão - desafiadora, como é toda missão - de prefaciar a sua mais nova Paro para pensar sobre a imensidão do conteúdo e sobre quais os principais aspectos da reflexão trazida por ele neste livro que deveriam ser colocadas em destaque, mas a resposta já estava diante dos meus Sim: na capa. EXU, essa palavra de apenas três letras, já é, por si só, um uma provocação e eu não seria capaz de evidenciar apenas alguns trechos, porque o livro inteiro é repleto de profundidade, desmistificação, amor e verdade. Conviver com o Alan me trouxe, indiretamente, a oportunidade de conhecer mais intimamente esse mistério e aplicar seus ensinamentos em minha vida. conteúdo apresentado por ele, a partir da proximidade com este guia, e um vasto conhecimento sobre seus fundamentos farão com que o leitor desenvolva sua própria capacidade crítica para desconstruir inverdades que, há muito tempo, vêm sendo disseminadas a fim de demonizar EXU. Se é utopia ou não esperar que um dia todas as pessoas (umbandistas e não umbandistas) conheçam a verdadeira face dessa importante entidade de Umbanda, ao menos sairemos deste livro com a certeza de que devemos dar a ela todo respeito, honra e admiração que EXU merece. Aline 11</p><p>INTRODUÇÃO UM CONVITE PARA CONHECER EXU</p><p>T HA UMA ENORME DISCREPÂNCIA ENTRE COMO SE CONSTRUIU FENÔMENO EXU NO BRASILEA SUA REAL NATUREZA ENQUANTO DIVINDADE</p><p>Dizer que o tema Exu é complexo e repleto de controvérsias seria uma enorme redundância, pois já é do entendimento da maioria dos adeptos das religiões afro-brasileiras que há inúmeras "verdades" e "inverdades" disseminadas e, equivocadamente, consideradas como "fundamentos inquestionáveis" sobre o Infelizmente vemos um desserviço ao culto a Exu quando uma informação não legítima se propaga e se torna, para alguns, verdade absoluta. Normalmente, quando se argumenta sobre determinado tema em uma ótica religiosa específica, tende-se a ignorar alguns elementos do próprio tema em questão por não se encaixarem nos ideais filosóficos e morais do argumentador. Isso ocorre em absolutamente tudo, até mesmo em debates sobre Deus nas diferentes culturas e tradições. No caso de Exu, não raro, quando alguém se a explicá-lo, isso é feito de modo condicionado a uma compreensão limitada, cuja base reside em experiências, valores, crenças e, algumas vezes, achismos, sem qualquer embasamento teórico ou histórico sobre o assunto. O conceito sobre a força Exu sofreu (e continua sofrendo) transformações constantes em meio aos vários aspectos da sociedade e das religiões contemporâneas e, em alguns casos, distancia-se da verdadeira essência sagrada e primordial junto a Olorum e aos outros Há uma enorme discrepância entre como se construiu o fenômeno Exu no Brasil e a sua real natureza enquanto divindade africana. Há quem afirme que Exu faz trabalhos para o mal e compactua com os desejos e interesses mundanos do homem, estando à disposição para atender pedidos e solicitações de qualquer natureza, desde que seja bem pago. Esses costumam rebaixá-lo a uma posição de serviçal e escravo dos Orixás e dos homens. Quanta ignorância! INTRODUÇÃO UM CONVITE PARA CONHECER EXU 15</p><p>Seguramente sabemos que Exu faz o bem, é benevolente, caridoso, e cumpre o papel de pai para com seus filhos e amigo leal para com sua comunidade. Ele é um servidor da Lei e da Justiça Divinas e nunca trai ou corrompe esses desígnios. A demonização da sua figura em meio à diáspora africana se fortaleceu de tal forma que, ao longo da história, criou-se um "personagem" diabólico em torno dessa divindade, o que ocasionou a transformação de Exu na personificação do mal para os leigos e religiosos. Consequentemente, é inegável que haja uma enorme confusão entre o certo e o errado acerca dessa divindade, sendo inevitável que existam, por todo o mundo, opiniões e divergentes sobre essa mesma questão. No entanto, no caso de Exu, por mais estranho e confuso que isso possa parecer, essa aparente "bagunça" gerada em torno da sua imagem é a expressão mais fiel e legítima da sua natureza divina e sagrada. Exu é a controvérsia em si, a dúvida, a convicção ambígua, a dualidade. Isso é visto claramente retratado nos Itãs da cultura nagô iorubá, como o seguinte: Conta um mito que certo dia, Exu pintou metade de seu corpo de vermelho e a outra metade de preto e apostou com dois amigos qual deles conseguia adivinhar qual era sua cor exata. Os amigos, porém, só conseguiam enxergar um dos lados: um observava e via o preto, outro e via vermelho. Cada um falou a cor que lhe aparecia e ambos erraram. Exu ganhou a aposta e disse: "vocês não saberão como eu sou se não derem a volta ao meu redor". Esse reforça que tudo é Duplo: tudo tem polos, tudo tem o seu oposto, o igual e o desigual são a mesma coisa, os opostos são idênticos em natureza (mas diferentes em grau), os extremos se tocam, todas as verdades são meias-verdades e todos os paradoxos podem ser reconciliados.</p><p>L m ELE E UM SERVIDOR DA LEI E DA JUSTIÇA DIVINAS E NUNCA TRAI OU CORROMPE ESSES</p><p>EXU E A EM SI, A DÚVIDA, A CONVICÇÃO AMBÍGUA, A DUALIDADE</p><p>Segundo esse princípio, tudo na natureza existe a partir de uma dualidade. Todas as coisas devem ter necessariamente dois lados: o dia e a noite, o bem e o mal, o nascimento e a morte, o claro e o escuro, o quente e o frio, o alto e o baixo, a direita e a esquerda, o positivo e o negativo, a juventude e a velhice, dentre muitos outros. Assim, todos os opostos seguem-se um ao outro e um não vive sem o seu contrário. Por isso, como dito no início do texto, Exu é a controvérsia em si. Como o vemos é de acordo com a nossa própria perspectiva e realidade, as quais, mutáveis e evolutivas, podem também ser parciais. Ouso dizer, ainda, que Exu é a extensão do bem e do mal que habita em cada um de nós, portanto, como externamos Exu dirá mais sobre nós do que sobre ele mesmo. Desse modo, amigo e irmão de Fé, esteja aberto aos questionamentos que farei direta e indiretamente no decorrer dessa obra e se permita a uma significativa mudança de perspectiva sobre essa entidade. Mergulharemos juntos na imensidão do mistério Exu, em sua mais original essência e natureza, com ênfase nas particularidades da religião de Umbanda, suas práticas e ritualística, contudo, sem ignorar sua origem africana e sua passagem por outros cultos que tornaram esse fenômeno religioso tão popular no Brasil. Laroyê, Mojubá! INTRODUÇÃO - UM CONVITE PARA CONHECER EXU 19</p><p>EXU E A CONTROVERSIA EM</p><p>CAPÍTULO 1 EXU ENSINA LIÇÕES A</p><p>Segundo um Itan foi encarregado por Olorum de criar 0 mundo. Para cumprir sua missão, antes da partida, Olorum " da criar, dar forma e vida ao mundo. criação" para que, com os elementos contidos nele, pudesse "saco Esse poder confiado não dispensava Oxalá, entretanto, de se submeter a certas regras e de respeitar diversas obrigações, inclusive para com outros Em razão de seu caráter altivo, ele se recusou a fazer alguns sacrificios oferendas a Exu antes de iniciar sua viagem para criar e Oxalá se pôs a caminho, apoiado num grande cajado de estanho osorò). No momento em que ultrapassou a porta do encontrou Exu que, entre suas obrigações, deve fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Exu, descontente com a recusa de Oxalá em fazer as oferendas prescritas, vingou-se, fazendo-o sentir uma sede Nada era capaz de aplacar a sede de até que ele usou seu cajado para furar a casca do tronco de um dendezeiro com o intuito de se refrescar com um que escorria dele, o vinho de palma. 22 EXU</p><p>Ele bebeu-o abundantemente, ficou bêbado, não sabia mais onde estava e caiu Veio, então, Odudua, criado por Olorum depois de Oxalá, e seu maior rival. Vendo Oxalá adormecido, furtou-lhe o "saco da dirigiu-se à presença de Olorum para mostrar seu achado e contar em que estado se encontrava Olorum exclamou: "Se ele está neste estado, vá você, Odudua, criar mundo!" Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o "saco da criação Chateado, voltou a Olorum e este, como castigo pela sua embriaguez, proibiu-o, assim como os outros de sua família - os funfun de beber vinho de palma e usar azeite de No entanto, confiou-lhe, como consolo, a tarefa de modelar no barro os corpos dos seres humanos, aos quais Olorum insuflaria a vida posteriormente. EXU ENSINA LIÇÕES A 23</p><p>Os Itãs cumprem o papel de explicar - de forma lúdica e simbólica - as características e os atributos dos Orixás, além de apresentarem reflexões e aprendizados para os adeptos do culto africano. Nesse em questão, Exu ensina lições valiosas que nos ajudam a entender um pouco sobre seu fundamento e sua atuação. Um dos ensinamentos que podemos extrair é que, segundo Exu, ninguém é tão importante que não deve respeito aos outros, ou seja, as regras e a lei divina aplicam-se a todos, sem exceção, mesmo para aqueles que estão acima hierarquicamente. Exu também é aquele que nos leva a conhecer os nossos vícios e as nossas fraquezas para que possamos corrigi-los. No mito, Exu não embriagou Oxalá, apenas o fez sentir sede. Foi o próprio Oxalá que perdeu o controle no consumo do vinho de palma e chegou naquele estado de embriaguez. É uma lição sobre os excessos, sobre ultrapassar os nossos próprios limites e permitir que alguns atos e decisões prejudiquem nossa missão. Hoje, graças à lição dada por Exu, Oxalá é o orixá da sobriedade. 24 EXU</p><p>EXU</p><p>T INDEPENDENTEMENTE DAS DIFERENÇAS CULTURAIS, ÉTNICAS E RELIGIOSAS, EXU SE MOSTRA O MESMO EM TODOS OS CASOS, SENDO O ELO ENTRE AS DIVINDADES E OS SERES HUMANOS. O MENSAGEIRO ENTRE O (TERRA) E O (CEU), QUE ATUA, PORTANTO, COMO INTERMEDIÁRIO ENTRE OS AS DIVINDADES</p><p>Exu tem sua origem mitológica na cultura iorubana (ou formada por povos que habitavam principalmente o sudoeste da Nigéria, o reino de Ketu (atual Benim) e o Império de Oyo, na África Ocidental. As suas Divindades eram os Orixás, os quais estavam ligados originalmente a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais, a saber: Xangô em Oyó, Yemanjá na região de Egbá, Ewá em Egbado, Ogum em Ekiti e Ondo, Oxum em Ijexá, Osogbo e Ijebu Odé, Erinlé em Ilobu, Logunedé em Ijexá e Oxalá-Obatalá em Ifé. No caso de Exu, notamos a sua massiva presença em praticamente todos os povos, ou seja, ele recebia culto junto aos outros Orixás, o que mostra a sua forte influência e popularidade em toda a sociedade É possível encontrar Divindades com atribuições e características similares a Exu em outros grupos étnicos e linguísticos da África, como na cultura do povo Fon, por exemplo. Sua maior expressão histórica, política e social advém do Reino do Daomé, localizado no sul do Benim, na África Ocidental. Cultuam-se os Voduns, sendo aquele com maior semelhança com o Exu Nagô denominado Legbá, Vodun geralmente assentado na entrada da aldeia e que cumpre o papel de afastar todos os maus espíritos. É invocado antes de qualquer cerimônia para garantir a calma e o bom andamento do ritual. Um outro exemplo é visto entre os bantus, povos que habitaram regiões de Angola, Congo, Benguela, Ovambo, Cabinda, Macua, Angico e outras. Suas divindades são os Nkisi, representados pelos elementos e pelas forças da natureza, e a deidade que se assemelha a Exu é conhecida por vários nomes, como: Pambu N'jila, Mavambo, Pavenã. Independentemente das diferenças culturais, sociais, étnicas e religiosas, Exu se mostra o mesmo em todos os casos, sendo o elo entre as divindades e os seres humanos, o mensageiro entre o àiyé (terra) e o (céu), e que atua, portanto, como intermediário entre os orixás, as divindades e Deus. EXU 27</p><p>No candomblé de tradição lorubá, Exu pode ser invocado sob diferentes nomes (ou qualidades). Esses nomes fazem referência a títulos, funções, atributos míticos, lugares ou esfera de regência da divindade em questão. Vejamos a seguir alguns desses nomes e atribuições. Exú Ajonan tinha o seu culto forte na antiga região Fundamento com Exú Akesan fundamento com Oxumaré e Oxóssi. Exú fundamento com Oxóssi. Exú fundamento com Omolú. Exú fundamento com Oxum. Exú Asanà fundamento com Oxum. Exú ou fundamento com Oyá e vários orixás. Exú fundamento com Yemanjá e Exú Ijedé fundamento com Logun. Exú fundamento com Exú Ína responsável pela cerimônia do Ipade, na qual regulamenta o ritual. 28 EXU</p><p>Exú Irokô fundamento com Exú Jelu ou Ijelu fundamento com Osolufun. Exú Jeresú fundamento com Exú Jinà fundamento com Oxumaré. Exú L'Okè fundamento com Obá. Exú ou Bára Lajikí fundamento com Ogun, Oyá e atua nas porteiras. Exú Lálú fundamento com Odé, Ogun e Oxalá. Exú Langirí fundamento com Osogiyan. Exú Odará fundamento com Oxalá e Odé e encaminha o carrego do Ebó. Exú OnanOnan fundamento com Oxun, Oyá e Ogun, responsável pela porteira do Ketu. Exú fundamento com Odé e Logun. Exú fundamento com Omolú e Nanã. Exú Tirírí fundamento com Ogun Exú fundamento com Ossain. EXU 29</p><p>Umbanda, convencionalmente, não se faz referência a Exu no seu Na como citado até aqui. Normalmente sendo a complexidade restrita dessa a aspecto é "ignorada" nos fundamentos doutrinários, apenas Cultos força de Nação. Em raríssimas ocasiões, ouve-se dizer que, em Umbanda, há filhos de Exu como há filhos de outros Orixás, mas isso precisa ser questionado! Se, na sua cultura originária, Exu é Orixá como todos os outros, por que então ele não é citado e cultuado, diretamente? Se existe uma linha de trabalho que se intitula com o nome da própria Divindade, será que a Divindade em si está realmente ausente da Umbanda ou apenas não está sendo notada? Essa "exclusão" ocorreria por qual motivo: falta de conhecimento, tradição, medo, preconceito? Preciso lhe revelar uma coisa... Infelizmente, as pessoas do mundo moderno têm Exu como uma deidade inferior em relação a outras entidades e divindades. Sim, tratam-no de modo inferior. Talvez tal comportamento não seja consciente, mas há essa postura, não só na Umbanda. Para alguns, Exu é visto e tratado como um subordinado, menos evoluído, de caráter duvidoso, que atrapalha a vida das pessoas, que só pode ficar do lado de fora da casa, que tem que ser firmado no chão e abaixo dos outros, que precisa ser doutrinado para não causar desordem e que ainda está preso aos vícios e hábitos carnais. 30 EXU</p><p>E m PARA ALGUNS, EXU É VISTO E TRATADO COMO UM SUBORDINADO, MENOS EVOLUÍDO, DE CARÁTER DUVIDOSO, QUE ATRAPALHA A VIDA DAS PESSOAS, QUE PODE FICAR DO LADO DE FORA DA CASA, QUE TEM QUE SER FIRMADO NO E ABAIXO DOS OUTROS, QUE PRECISA SER DOUTRINADO PARA NÃO CAUSAR E QUE AINDA ESTÁ PRESO AOS VÍCIOS E HÁBITOS</p><p>Para alguns, Exu realmente faz o mal e se vende por garrafas de pinga, sendo capacho de "pais e mães de poste". Para alguns, quanto mais diabólico Exu se apresentar na sua manifestação, mais poderoso ele seria e, caso fosse educado, gentil, respeitoso e "normal", não teria tanta força assim. Há os que acreditam, ainda, que Exu não pode ser Pai de cabeça, Guia de frente e Chefe de terreiro, pois isso seria uma desgraça na vida de alguém! Nesse sentido, com base nesse breve vislumbre da perspectiva popular de Exu nos tempos atuais, é importante nos perguntarmos: será que as pessoas entenderam realmente a natureza dessa divindade ou a distorceram da sua originalidade? Será que se renderam - ainda que inconscientemente ao arquétipo do diabo criado propositalmente pela igreja durante a diáspora africana? Exu ser considerado a personificação do mal por algumas denominações religiosas não é aceitável, mas é compreensível, pois falta nessas organizações o entendimento da sua real força e poder, somado a uma carga de preconceito e discriminação. No entanto, um adepto das religiões de matriz africana, como a Umbanda, reforçar equívocos como esse é completamente incabível e repudiante. Por isso estamos aqui, para ressignificar a distorção feita com a mais antiga entre as entidades, aquela que é a representação viva de toda ancestralidade, aquela que é o princípio e o fim de todas as coisas e que, mesmo em meio ao caos, manteve-se viva e resistente por milhares de anos. 32 EXU</p><p>DIABO: A FALSA REPUTAÇÃO DE EXU</p><p>ENQUANTO SUA VERDADEIRA NATUREZA É ROBUSTA, INTOLERANTE COM INJUSTIÇAS E PROTETORA DOS HOMENS; UM LEGÍTIMO DEFENSOR DAQUELES QUE TEM POUCO OU NENHUM PODER.</p><p>Falaremos agora da maior "fake news" da história das religiões africanas. Um acontecimento que, talvez, não seja do seu conhecimento, mas, se você for um adepto de alguma religião africana, possivelmente ainda vive as consequências que advieram desse fato até hoje. Em 1843, surgiu a primeira tradução da bíblia cristã em língua iorubá e ela foi feita por Samuel Ajayi Crowther, nigeriano, ex-escravo, bispo da Igreja Anglicana e ferrenho defensor do combate às trevas. Samuel, fascinado pela ideia de assimilação entre as entidades iorubás e os personagens bíblicos, cometeu o erro de associar Exu ao Diabo. Essa oficialização tomou proporções absurdas e, nos tempos atuais, tornou-se argumento para atrair fiéis e mascarar o preconceito. Exu é descrito, em várias de suas lendas, como impiedoso, cruel, de temperamento difícil e trapaceiro, entretanto essas características apenas foram fabricadas para amedrontar os descrentes e as tribos rivais daqueles que o cultuam. Enquanto Orixá, sua verdadeira natureza é robusta, intolerante com injustiças e protetora dos homens; um legítimo defensor daqueles que tem pouco ou nenhum poder. Satanás é caracterizado como vilão dos céus e de toda bondade, responsável pela incitação do pecado e da luxúria desmedida, sendo o rei do inferno. Seu coração, vazio de qualquer sentimento positivo, deseja a corrupção daqueles que considera inferiores e dignos de punição pela simples existência inoportuna. Orgulhoso, o Diabo jamais se curvaria em Amor e serviço à prole humana. Em 313 E.C, Constantino, imperador romano, publicou o Édito de Milão (Edictum mediolanense), no qual era assegurado o fim das perseguições contra os cristãos e, em 391 E.C, o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, tendo início, assim, o processo de expansão dessa Caso invertêssemos a ampulheta da história e fossem os espíritos ancestrais africanos no lugar dos seguidores de Cristo, não há dúvidas de DIABO: A FALSA REPUTAÇÃO DE EXU 35</p><p>que, nos dias de hoje, veríamos terreiros a cada esquina e apenas uma ou duas igrejas bem escondidas. A colonização trouxe o inferno à África em nome de Deus, arrancou a vida e a escravizou, regozijou-se no mar de lágrimas dos negros já moribundos e sem terras, banalizou as crenças divergentes apenas pelo prazer de se sentir superior. Aqueles que orgulhosamente alegavam erradicar o mal foram esses sim - a personificação perfeita de Satanás. A divindade Exu chegou no Brasil já demonizado pelos europeus e ficou conhecido em todo o país como a personificação do mal. Essa visão se tornou legítima para os descendentes africanos e para os novos adeptos das religiões afro que se formavam no país. Daí em diante, Exu já não era mais visto e tratado pela sua natureza e essência original, mas como um personagem maligno, conforme criado pelo homem branco. As religiões afro-brasileiras surgiram após a junção da cultura de diversos povos africanos trazidos ao país durante a diáspora que ocorreu entre os séculos XVI e XIX. Como as religiões foram se formando em diversas regiões e estados do Brasil, elas foram se constituindo de formas diferentes umas das outras, inclusive em relação aos seus nomes. Muitas possuem influências de religiões vindas da Europa, como o Catolicismo e o Entre as religiões com influência principal das culturas "sudanesas", isto é, dos povos iorubás ("nagôs") e daomeanos estão: Babaçuê (PA) Batuque (RS) Candomblé jeje (BA) Candomblé ketu (BA, RJ, SP) 36 EXU</p><p>LL SEM DIREITO DE SE DEFENDER, EXU SE TORNOU A EXPRESSÃO DO OPOSTO DE DEUS EM MEIO A MUITAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS FORA DELAS), CARREGANDO PESO DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO. DESSE MODO, ELE REPRESENTADO POR IMAGENS COM CHIFRES, RABO, PÉ DE BODE E ALGUMAS VEZES ATÉ COM DENTES DE VAMPIRO, COMO HA NOS DEMÔNIOS DAS LENDAS</p><p>Tambor-de-mina (MA, PA) Xangô (PE) Entre as religiões com influência dos povos bantos (quimbundos), estão: Cabula (ES) Candomblé bantu ou angola (BA, RJ, SP) Candomblé de caboclo (BA) Catimbó (PB, PE) Macumba (RJ, SP) Pajelança (AM, PA, MA) Toré (SE) Umbanda (RJ, SP e todo Brasil) Xambá (AL, PB, PE) Outras religiões afro-brasileiras: Culto aos egunguns (BA) Encantaria Jurema sagrada Quimbanda Omolokô 38 EXU</p><p>FREQUENTEMENTE ELE CULTUADO EM AMBIENTES SOMBRIOS, SUJOS E EM CENÁRIOS MACABROS E TRATADO COMO SE FOSSE UM MARGINAL DA ESPIRITUALIDADE, AO QUAI NEM OLHAR PARA O ALTAR COM A IMAGEM DE CRISTO SERIA</p><p>EXU INFERNO</p><p>Em praticamente todas elas, Exu está presente, ora como força da natureza e ancestral (Orixá, Inkisi, Vodun), ora como espírito humano encantado (Entidade). Essas religiões foram se formando espontaneamente e todo conhecimento intrínseco a elas era transmitido por meio oral dos anciãos para os mais novos. Isso significa que, entre as muitas sabedorias disseminadas pelos adeptos, havia informações distorcidas que se perpetuaram como fundamentos e verdades. Entre elas, a demonização de Exu, formalizada em 1843, como descrito no início desse capítulo. Sem direito de se defender, Exu se tornou a expressão do oposto de Deus em meio a muitas religiões afro-brasileiras (e fora delas), carregando o peso do preconceito e da discriminação. Desse modo, ele é representado por imagens com chifres, rabo, pé de bode e algumas vezes até com dentes de vampiro, como há nos demônios das lendas europeias. Frequentemente ele é cultuado em ambientes sombrios, sujos e em cenários macabros e tratado como se fosse um marginal da espiritualidade, ao qual nem olhar para o altar com a imagem de Cristo seria permitido. Nesse processo de assimilação e transformação, as Entidades foram ganhando nomes populares para a igreja, como Exu Belzebu, Exu do Inferno, Exu Lúcifer, Exu pagão, entre outros. Suas companheiras, denominadas inicialmente "Exu Mulher", posteriormente foram conhecidas por e ganharam nomes com as mesmas conotações: Rainha do Inferno, Maria do Cabaré, entre outras. Tudo isso é resquício de um ato preconceituoso e maldoso do passado, o qual transformou a mais popular entre as divindades africanas no mais temido personagem da igreja e do homem na terra: o diabo. Mesmo sendo rejeitado, insultado e ignorado pelos próprios praticantes da Umbanda e das outras religiões afins, Exu se mostra a mais generosa, compreensível e adaptativa dentre todas as divindades, pois em nenhum momento deixou de se fazer presente na história da religião, sendo fiel a sua missão de guardião do homem e das forças de Deus. DIABO: A FALSA REPUTAÇÃO DE EXU 41</p><p>SE EXU NÃO E O ELE SERIA ENTÃO UM ANJO?</p><p>Em vista disso, se Exu não é o demônio, ele seria então um anjo? Não, muito menos um anjo! Exu não é nem uma coisa nem outra, ele não está nem lá em cima nem lá embaixo; ele não é nem do bem nem do mal, nem do céu e nem do inferno. Poeticamente, definiríamos Exu como: Luz quando há escuridão; Força quando há fraqueza; quando há tristeza; Justiça quando há desigualdade; Verdade quando há ilusão; Caminho quando há perturbação; Amizade quando há solidão; Segurança quando há desespero; Reviravolta quando há conformismo; Amor quando há o vazio. Exu é uma força progressista e transgressora contra a uniformidade e a aversão. É atemporal e evolucionista, rígido combatente da estagnação e da regressão. Exu é a mais legítima expressão da lei e da ordem em meio ao caos no mundo criado pelo homem. Assim, resumir Exu à figura do diabo como a igreja o fez, além de anular toda força e poder que ele traz em si, é dar ao tal do Diabo uma honra que ele jamais será merecedor. Pombajira, Pombojira, Pambujira, Pombujira, Bombogira, Pombagiro ou mesmo somente Inzila são todos nomes variantes regionais de uma mesma Entidade, derivados da palavra pambu ia-njila (língua quimbundo), que significa literalmente Encruzilhada. DIABO: A FALSA REPUTAÇÃO DE EXU 43</p><p>LUZ QUANDO HA ESCURIDÃO FORCA QUANDO HA FRAQUEZA ÂNIMO QUANDO HA TRISTEZA JUSTICA QUANDO HA DESIGUALDADE VERDADE QUANDO ILUSÃO CAMINHO QUANDO HA PERTURBACAO AMIZADE QUANDO SOLIDÃO SEGURANCA QUANDO HA DESESPERO REVIRAVOLIA QUANDO HA COMP ORMISMO AMOR QUANDO HA VAZIO</p><p>O SACRIFÍCIO ANIMAL: A TRADIÇÃO E A DETURPAÇÃO</p><p>É DE SUMA IMPORTÂNCIA ENTENDER QUE O PROBLEM NÃO NO SACRIFÍCIO ANIMAL EM SI, PORQUE O ABATE EXISTE DESDE A PRÉ-HISTÓRIA, TANTO PARA CUNHO RELIGIOSO COMO PARA</p><p>Em relação a esse assunto, procuro sempre ser imparcial no meu julgamento, pois tenho um profundo respeito à tradição de todos os cultos, mas costumo, igualmente, ser incisivo contra a deturpação existente, dentro e fora das religiões afro-brasileiras, acerca do sacrifício animal. Ressalto, já de início, que, no ritual de Umbanda, convencionalmente, não há o sacrifício animal. Desde sua fundação, há a determinação de que tal prática não é parte do complexo de fundamentos da religião. No Templo Escola Casa de Lei terreiro que dirijo -, regido por um Exu e sob a sua orientação, dispensam-se tanto a prática do abate quanto o uso do ejé (sangue) em suas oferendas, firmezas e assenta- mentos, pois se crê que há formas de se alcançar um nível energético equiparável a esse emprego mediante a combinação de outros itens. No entanto, acredito que, apesar de não haver essa prática em nosso ritual, podemos buscar a compreensão do seu real fundamento. É de suma importância entender que o problema não está no sacrifício animal em si, porque o abate existe desde a pré-história, tanto para cunho religioso como para sobrevivência. Inclusive, a título de informação e curiosidade, o consumo de carne no Brasil cresce absurdamente a cada ano, o que torna o país uma das maiores potências em produção e distribuição agropecuária no mundo. Nesse sentido, convenhamos que é hipocrisia criticar a galinha morta em um ato religioso e, simultaneamente, promover o crescimento do mercado da carne ao se consumir o que vendem no açougue, certo?! Apesar de banalizada, a matança ritualizada é um dos rituais religiosos mais difundidos da história humana. conceito sagrado iminente nesse ato, segundo religiões e tradições antigas, é o compartilhamento mútuo do alimento entre os Deuses e antepassados e a comunidade, como uma forma de relação e integração entre si. SACRIFÍCIO ANIMAL A TRADIÇÃO E A DETURPAÇÃO 47</p><p>A prática básica, com variações locais, aparece em diversas culturas ao longo da história humana. Por exemplo, algumas das primeiras evidências arqueológicas que sugerem o sacrifício de animais vêm do Egito. Os mais antigos cemitérios egípcios com restos de animais datam de 4.400 e 4.000 a.C. e neles ovelhas e cabras foram encontradas enterradas em seus próprios túmulos, mas, igualmente, foram encontradas gazelas aos pés de vários enterros humanos. o que deve ser criticado é a crueldade que existe tanto dentro quanto fora das religiões e esta não se confunde com o sacrifício sagrado. A distorção está, portanto, no maltrato, que ocorre quando, em um ritual, o animal é queimado vivo, tem sua pata ou língua cortada, é espancado como tantos domesticados são diariamente por seus tutores ou quando são submetidos a outras violências movidas por intenções macabras e imorais. Esses atos se dizem religiosos e sagrados, mas no fundo são cruéis, inconcebíveis e devem ser denunciados às autoridades, conforme o inciso VII do art. 225 da Constituição Federal, que incrementa com força normativa constitucional o art. 32 da Lei n. 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais, que trata do desprestigiado crime de maus-tratos, com vistas à defesa jurídica dos animais. Devemos entender que o ato religioso do abate animal tem fundamento para algumas tradições e culturas, cabendo a quem não o faz, apenas respeitá-lo. que não se pode acreditar é que os fundamentos de Exu se resumem ao sacrifício animal, como se o sangue fosse o combustível que desse força a Ele, como se os Exus precisassem de sangue para existirem e, somente por meio desse elemento, eles pudessem realizar os seus feitos e ajudar com eficiência seus assistidos. Há quem leve isso tão ao pé da letra que, quando os Exus se manifestam nos terreiros, chegam a ingerir o sangue diretamente do pescoço do animal, um ato horripilante que mais se assemelha aos filmes europeus de vampiros do que a verdadeira natureza de Exu, como já dito anteriormente. 48 EXU</p><p>O QUE NÃO SE PODE ACREDITAR É QUE FUNDAMENTOS DE EXU SE RESUMEM AO SACRIFÍCIO ANIMAL, COMO SE O SANGUE FOSSE O COMBUSTÍVEL</p><p>Respeitemos a prática bem fundamentada por tradições e culturas que se multiplicaram pelo mundo, buscando compreender sua real importância e função junto a suas comunidades, mas sem cometer o trágico engano de generalizar e compará-la à barbárie repugnante e inaceitável feita por algumas pessoas nas encruzilhadas urbanas e templos não reconhecidos. 50 EXU</p><p>O PAPEL DE EXU NA VIDA DAS PESSOAS</p><p>NESSE CICLO NATURAL DE CAUSA E EFEITO, ESTÁ EXU COMO O EXECUTOR DO DESTINO, CONDUZINDO E RESGATANDO CADA UM AO SEU ESTÁGIO PARTICULAR DE EVOLUÇÃO E MERECIMENTO. E ELE QUEM TÃO LEI DO RETORNO: "AQUI SE FAZ, AQUI SD PAGA". NINGUEM SAI IMPUNE DE QUALQUER MALDADE, DESGRAÇA PENSAMENTO NEGATIVO QUE EMITE PARA OS OUTROS. ISTO NÃO CASTIGO, É LIEN UNIVERSAL!</p><p>Exu, além de também cumpre o papel de agente do destino na vida das Ao reencarnar, cada um traz consigo caminhos que deverão ser percorridos para que lições necessárias sejam aprendidas. percurso de cada jornada reencarnatória é incerto, mas o destino final, invariavelmente, será sempre a evolução do sujeito. A existência humana física não é uma aventura aleatória, um jogo de sorte feito por Deus, em que uns são mais beneficiados que outros. Todos os seres humanos encarnados e desencarnados encontram-se em algum estágio de evolução e vivenciam experiências que os levarão a curar algo em si mesmo e no mundo, no plano material ou espiritual. Nada (ou quase nada) que acontece é um acaso, um algo que não seja uma reação de uma ação anterior. Tudo aquilo que colocamos no dia de hoje será devolvido de alguma maneira, neste ou noutros tempos num ciclo muito semelhante que vemos na natureza: "o que plantamos, colhemos", segundo diziam nossas avós. Nesse ciclo natural de Causa e Efeito, está Exu como o executor do destino, conduzindo e resgatando cada um ao seu estágio particular de evolução e merecimento. É ele quem aplica a tão Lei do Retorno: "Aqui se faz, aqui se paga". Ninguém sai impune de qualquer maldade, desgraça ou pensamento negativo que emite para os outros. Isto não é castigo, é lei universal! Do mesmo modo, a sorte e a bonança não cruzam o caminho de alguém sem que haja real merecimento. Sem pensar em um tempo presente que está ligado ao passado e ao futuro seria difícil explicar fatos que parecem mais "injustiças" cometidas por um Deus inconsequente do que um destino inevitável e necessário para cada um: crianças nascem com limitações físicas ou doenças incuráveis, pessoas vivem em países onde a escassez e as condições de vida chegam a ser desumanas, famílias inteiras são dizimadas em catástrofes naturais. O PAPEL EXU NA VIDA DAS PESSOAS 53</p><p>T EXU TEM UM TRABALHOSO PAPEL JUNTO AOS ENCARNADOS: VEM NOS ENSINAR A ENCONTRAR O NOSSO CAMINHO, AS MOTIVAÇÕES QUE RÃO FAZER COM QUE TENHAMOS FORÇA PARA RECOMECAR QUANTAS VEZES FOREM NECESSÁRIAS, QUE MOMENTOS DOLOROSOS SEJAM GRANDES APRENDIZADOS NA VIDA E QUE SAIAMOS DELES AINDA MAIS FORTES</p><p>Como explicar isso se não pela Lei de Ação e Reação ou resgate de débitos anteriores? Exu, como manifestador dessa lei, ensina que não há vítimas, mas consequências ainda que duras de aceitar. Que as dificuldades não são para destruir, mas para nos elevar. Que o sofrimento é um dos caminhos para a redenção. Que os desafios existem para gerar movimento, não Que a doença é parte do processo de cura e que, às vezes, só a destruição é capaz de nos fazer enxergar a luz. Cada etapa dificil superada na vida transforma o ser e, frequentemente, quem está a sua volta. É como entrar em um e esperar sair ileso. Há momentos na vida em que o aprendizado e a mudança só acontecem quando ocorre uma reviravolta e se modifica tudo de lugar, às vezes, sem aviso prévio. Muitas pessoas precisam ficar muito mal, "chegar ao fundo do como se diz, para perceberem que precisam mudar, para que suas vidas se alterem. A sensação causada por estar preso a um problema que não parece ter solução pode ser a mola propulsora que faltava para impulsionar a transformação. Obviamente, o ideal é não se chegar a esse ponto para existir uma atitude de mudança, contudo, cada indivíduo tem os seus motivos e necessidades, e nisso não cabe nosso julgamento. Exu tem um trabalhoso papel junto aos encarnados: vem nos ensinar a encontrar o nosso caminho, as motivações que irão fazer com que tenhamos força para recomeçar quantas vezes forem necessárias, que os momentos dolorosos sejam grandes aprendizados na vida e que saiamos deles ainda mais fortes e resilientes. O poder de Exu ensina que, em vez de nos focar na dificuldade, devemos nos concentrar na solução. Que o passado é importante por ter trazido também ensinamentos e experiências, entretanto, não há nada que se possa fazer para O PAPEL EXU NA VIDA DAS PESSOAS 55</p><p>alterá-lo, logo sofrer pelos erros cometidos ou por eventualidades apenas fará com que se fique estagnado no tempo, sem possibilidades de Exu, enquanto e protetor na vida, não vem falar de desgraça, tristeza infelicidade. Não vem motivar o conformismo ou a aceitação, promover calvário, ou a dor ou a angústia. Não suscita o ódio ou o fracasso. Pelo contrário! Ele vem para nos empoderar diante da vida, tornando-nos donos de nós mesmos e protagonistas do próprio destino. Exu é a personificação viva e latente da força e coragem que nos leva a percorrer o caminho ascendente rumo à felicidade e ao sucesso em todas as áreas da vida. Saiba que existem fortes vínculos ancestrais e familiares com as Entidades que nos acompanham. Todoseles, além de terem escolhido espontaneamente estar ao nosso lado e vice-versa -, também possuem vínculos afetivos e de amor genuíno, o que torna a relação entre eles e nós íntima e familiar, o que acaba por revelar que a missão espiritual não se relaciona com obrigatoriedade ou condições que sejam aceitas unilateralmente. Ainda acho estranha a necessidade de se afirmar algo tão óbvio nos tempos atuais, mas não posso ignorar que essa deturpação da relação do homem com o sagrado e, especialmente com Exu, também seja resquício daquilo que busco descontruir com esta obra: toda espiritualidade que envolve 0 ser está em perfeita sintonia com o que sua alma precisa, sendo uma junção de afinidade, necessidade, resgate, evolução e destino. Desde os Orixás que regem a coroa até as Entidades que os assistem, todos compõem a egrégora espiritual particular de cada ser, na qual se inter- relacionam energias, mentores de luz, espíritos obsessores e encarnados, que juntos cumprem um só papel, de forma recíproca e espontânea, movimentando um sistema cármico coletivo que age de forma ininterrupta, impactando todos os envolvidos. Nada é, completamente, um acaso. Ninguém está onde não deveria estar. Pessoas não cruzam caminhos sem que haja uma Há sempre um porquê - ainda que sem muita lógica 56 EXU</p><p>+++ EXU, ENQUANTO GUARDIÃO E PROTETOR NA VIDA, NÃO VEM FALAR DE DESGRAÇA, TRISTEZA OU INFELICIDADE. NÃO VEM MOTIVAR O CONFORMISMO OU A PROMOVER O CALVARIO, A DOR OU A NÃO SUSCITA O ÓDIO OU O FRACASSO.</p><p>aparente para as coisas serem como são. Tudo tem seu tempo e sua necessidade de existir e essa é a essência da vida. Em vista disso, compreendemos que Exu é parte da nossa egrégora e nós, consequentemente, somos parte da egrégora de Exu. Essa verdade está além de religião, prática mediúnica, nível de conhecimento, estágio evolutivo, idade, gênero ou vontade pessoal. Simplesmente existe e nada ou ninguém é capaz de modificá-la. A Umbanda como religião proporciona que encarnados e desencarnados se unam para ajudar o próximo, sendo uma intermediadora para causas e propósitos, entre os quais o principal é que Médiuns e Entidades atuem em harmonia, trabalhando e se ajudando simultaneamente, em busca de um bem maior que ressoará por toda a eternidade. 58 EXU</p>