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<p>CAP Í T U LO 4 8</p><p>Estômago</p><p>Ezra N. Teitelbaum</p><p>Eric S. Hungness</p><p>David M. Mahvi</p><p>SUMÁRIO</p><p>Anatomia</p><p>Fisiologia</p><p>Doença Ulcerosa Péptica</p><p>Gastrite de Estresse</p><p>Síndromes Pósgastrectomia</p><p>Câncer Gástrico</p><p>Outras Lesões Gástricas</p><p>Anatomia</p><p>Anatomia Macroscópica</p><p>Divisões</p><p>O estômago começa como uma dilatação no intestino embrionário tubular anterior durante a quinta semana de gestação.</p><p>Por volta da sétima semana, ele desce, gira e dilata‑se ainda mais, com um alongamento desproporcional da grande</p><p>curvatura, até a sua forma anatômica e posição normais. Após o nascimento, é o órgão abdominal mais proximal do trato</p><p>alimentar. A região mais proximal do estômago é chamada cárdia e faz continuidade com o esôfago. Imediatamente</p><p>proximal à cárdia está um esfíncter esofagiano inferior fisiologicamente competente. Distalmente, o piloro conecta a parte</p><p>distal do estômago (antro) à parte proximal do duodeno. Apesar de o estômago ser fixo no nível da junção gastroesofágica</p><p>(GE) e do piloro, sua grande porção média é móvel. O fundo representa a cúpula do estômago e é flexível e distensível. O</p><p>estômago é limitado superiormente pelo diafragma e lateralmente pelo baço. O corpo do estômago representa a sua maior</p><p>porção. O corpo também contém a maior parte das células parietais e tem como limites, à direita, a pequena curvatura,</p><p>relativamente reta, e à esquerda, a grande curvatura, mais longa. Na incisura angular, a curvatura menor abruptamente se</p><p>volta para a direita. É neste ponto que o corpo do estômago termina e o antro começa. Outro ângulo anatômico importante</p><p>(ângulo de His) é formado pelo fundo gástrico com a borda esquerda do esôfago (Fig. 48‑1).</p><p>FIGURA 481 Divisões do estômago. (De Yeo C, Dempsey DT, Klein AS et al, editors: Shackelford’s surgery of the</p><p>alimentary tract, ed 6, Philadelphia, 2007, Saunders.)</p><p>Quase todo o estômago encontra‑se na parte superior da cavidade abdominal. O lobo esquerdo do fígado recobre grande</p><p>parte do estômago anteriormente. O diafragma, o tórax e a parede abdominal fazem limites com as demais porções do</p><p>estômago. Inferiormente, o estômago estabelece relações com o cólon transverso, com o baço, com o lobo caudado do</p><p>fígado, com as cruras diafragmáticas e com os nervos e vasos retroperitoneais. Superiormente, a junção GE está situada a</p><p>aproximadamente 2 a 3 cm abaixo do hiato esofagiano, no plano horizontal da sétima articulação costocondral, um plano</p><p>apenas levemente superior ao que contém o piloro. O ligamento gastroesplênico une a grande curvatura proximal ao baço.</p><p>Suprimento Sanguíneo</p><p>O tronco celíaco é a principal fonte do suprimento sanguíneo para o estômago (Fig. 48‑2). Existem quatro artérias principais</p><p>– as artérias gástricas esquerda e direita, ao longo da pequena curvatura, e as artérias gastroepiploicas direita e esquerda ao</p><p>longo da grande curvatura. Além disso, uma quantidade substancial de sangue pode ser suprida ao estômago proximal</p><p>pelas artérias frênicas inferiores e pelos vasos curtos que ligam o estômago ao baço. A mais calibrosa artéria para o</p><p>estômago é a artéria gástrica esquerda, e não é incomum (15% a 20%) que uma artéria hepática esquerda aberrante se</p><p>origine dela. Consequentemente, a ligadura proximal da artéria gástrica esquerda ocasionalmente pode resultar em</p><p>isquemia hepática aguda do lobo esquerdo do fígado. A artéria gástrica direita provém da artéria hepática (ou da artéria</p><p>gastroduodenal). A artéria gastroepiploica esquerda origina‑se da artéria esplênica, e a gastroepiploica direita origina‑se da</p><p>artéria gastroduodenal. A extensa rede anastomótica entre esses dois grandes vasos assegura que, na maioria dos casos, o</p><p>estômago permanecerá viável se três de quatro artérias forem ligadas, contanto que as arcadas ao longo das curvaturas</p><p>menor e maior sejam preservadas. Em geral, as veias do estômago são paralelas às artérias. As veias gástricas (coronária)</p><p>esquerda e direita geralmente drenam para a veia porta. A veia gastroepiploica direita drena para a veia mesentérica</p><p>superior, e a veia gastroepiploica esquerda drena para a veia esplênica.</p><p>FIGURA 482 Suprimento sanguíneo para o estômago e duodeno, mostrando as relações anatômicas com o</p><p>baço e o pâncreas. O estômago está refletido cefalicamente. (De Yeo C, Dempsey DT, Klein AS et al,</p><p>editors: Shackelford’s surgery of the alimentary tract, ed 6, Philadelphia, 2007, Saunders.)</p><p>Drenagem Linfática</p><p>A drenagem linfática do estômago faz‑se em paralelo com a vascularização arterial e venosa e drena para quatro zonas de</p><p>linfonodos (Fig. 48‑3). O grupo gástrico superior drena a linfa da porção superior da pequena curvatura para os nódulos</p><p>gástricos esquerdos e paracárdicos. O grupo suprapilórico de linfonodos drena o segmento antral da pequena curvatura</p><p>para os linfonodos suprapancreáticos direitos. O grupo pancreaticolienal de linfonodos drena a linfa da porção alta da</p><p>grande curvatura para os linfonodos gastroepiploicos esquerdos e esplênicos. O grupo de linfonodos gástricos inferiores e</p><p>subpilóricos drena a linfa ao longo do pedículo vascular gastroepiploico direito. Todas as quatro zonas de linfonodos</p><p>drenam para o grupo celíaco e para o ducto torácico. Embora esses linfonodos drenem áreas diferentes do estômago, os</p><p>cânceres gástricos podem se metastatizar para qualquer um dos quatro grupos de linfonodos, independentemente da sua</p><p>localização. Além disso, o extenso plexo submucoso de linfáticos facilita a disseminação de células malignas e,</p><p>frequentemente, há evidência de doença microscópica a vários centímetros de distância do tumor.</p><p>FIGURA 483 Drenagem linfática do estômago.</p><p>Inervação</p><p>Conforme mostrado na Figura 48‑4, a inervação extrínseca do estômago é parassimpática (via vago) e simpática (pelo plexo</p><p>celíaco). O nervo vago tem origem no núcleo vagal situado no assoalho do quarto ventrículo e percorre o pescoço, na bainha</p><p>carotídea, para penetrar no mediastino, onde se divide em vários ramos em torno do esôfago. Esses ramos coalescem acima</p><p>do hiato esofagiano para formarem os nervos vagos esquerdo e direito. No entanto, não é incomum encontrar mais de dois</p><p>troncos vagais no esôfago distal. No nível da junção GE, o vago esquerdo é anterior e o vago direito é posterior (EADP).</p><p>FIGURA 484 Inervação vagal do estômago. A linha de secção para vagotomia troncular é mostrada; está</p><p>acima dos ramos hepático e celíaco dos nervos vagos esquerdo e direito, respectivamente. A linha de secção</p><p>para a vagotomia seletiva é mostrada; está abaixo dos ramos hepáticos e celíacos.(De Mercer D, Liu T: Open truncal</p><p>vagotomy. Oper Tech Gen Surg 5:8–85, 2003.)</p><p>O vago esquerdo dá origem ao ramo hepático e caminha ao longo da curvatura menor como o nervo anterior de Latarjet.</p><p>Apesar de não ser visualizado, o nervo “criminoso” de Grassi é o primeiro ramo do nervo vago direito ou posterior, e é</p><p>reconhecido��como responsável potencial pelas recorrências ulcerosas quando não seccionado. O nervo direito também dá</p><p>um ramo para o plexo celíaco e continua posteriormente ao longo da curvatura menor. Uma vagotomia troncular é</p><p>executada acima dos ramos celíacos e hepáticos dos vagos, enquanto uma vagotomia seletiva é realizada abaixo destes.</p><p>Uma vagotomia superseletiva é realizada seccionando‑se os ramos do vago para o estômago até a pata de ganso</p><p>preservando, assim, a inervação motora antral e pilórica do estômago. A maioria (> 90%) das fibras vagais é aferente,</p><p>conduzindo os estímulos do intestino para o cérebro. As fibras vagais eferentes originam‑se nos núcleos dorsais do bulbo e</p><p>fazem sinapses com os neurônios nos plexos mioentéricos e submucosos. Esses neurônios utilizam acetilcolina como seu</p><p>neurotransmissor e influenciam a função motora gástrica e a secreção gástrica. Em contraste, o suprimento nervoso</p><p>simpático</p><p>Quase 70%</p><p>dos pacientes com úlceras duodenais têm um débito ácido dentro da faixa normal. Os níveis isolados de ácido fornecem</p><p>poucas informações e o teste de secreção ácida tem pouco valor no diagnóstico de úlcera duodenal.</p><p>Para as úlceras gástricas dos tipos I e IV, que não estão associadas à secreção excessiva de ácido, este atua como um</p><p>cofator importante, exacerbando o dano ulceroso subjacente e diminuindo a capacidade de cicatrização. Para pacientes com</p><p>úlceras gástricas tipo II ou III, a hipersecreção ácida gástrica parece ser mais comum, e consequentemente estas úlceras se</p><p>comportam como as úlceras duodenais.</p><p>Úlcera Duodenal</p><p>A úlcera duodenal é uma doença com inúmeras causas. Os únicos requisitos são a secreção de ácido e pepsina em</p><p>combinação com infecção por H. pylori ou a ingestão de AINEs.</p><p>Manifestação Clínica</p><p>Dor abdominal</p><p>Os pacientes com doença ulcerosa duodenal podem se apresentar de várias maneiras. O sintoma mais comum é a</p><p>queimação mesoepigástrica, que geralmente é bem localizada. A dor em geral é tolerável e, com frequência, é aliviada com a</p><p>alimentação. A dor pode ser episódica, sazonal na primavera e no outono e se exacerba durante os períodos de estresse</p><p>emocional. Muitos pacientes não procuram atendimento médico, embora tenham a doença por muitos anos. Quando a dor</p><p>se torna constante, isso sugere que há uma úlcera terebrante para um órgão vizinho. A referência de dor para as costas</p><p>geralmente é um sinal de terebração para o pâncreas. A irritação peritoneal difusa costuma ser um sinal de perfuração em</p><p>peritônio livre.</p><p>Diagnóstico</p><p>A história e o exame físico são de valor limitado para distinguir entre a ulceração gástrica e a duodenal. Os exames</p><p>laboratoriais de rotina incluem hemograma completo, bioquímica hepática e creatinina sérica, amilase sérica e níveis de</p><p>cálcio. Um nível de gastrina sérica também deve ser obtido em pacientes com úlceras que sejam refratárias à terapia clínica</p><p>ou necessitem de operação. Uma radiografia de tórax na posição ereta geralmente é realizada para pesquisar</p><p>pneumoperitôneo e descartar uma perfuração. Os dois principais métodos de diagnóstico de úlceras pépticas são as</p><p>radiografias do trato gastrointestinal superior e a endoscopia digestiva alta. A endoscopia do trato GI superior é menos</p><p>dispendiosa, e a maioria das úlceras (90%) pode ser diagnosticada com precisão por este meio. No entanto,</p><p>aproximadamente 5% das úlceras que radiologicamente parecem benignas são malignas. Em decorrência da necessidade de</p><p>se realizar biópsias para excluir malignidade, a endoscopia substituiu a radiografia do trato GI superior como teste primário</p><p>para o diagnóstico e a avaliação da DUP. Além disso, a endoscopia tem a vantagem de ser capaz de avaliar outras doenças</p><p>do esôfago, estômago e duodeno além da DUP, que possam estar causando os sintomas do paciente, como esofagite e</p><p>gastrite. O teste do H. pylori também deve ser feito em todos os pacientes com suspeita de DUP.</p><p>Radiologia do trato gastrointestinal superior</p><p>O diagnóstico de úlcera péptica pela radiografia gastrointestinal superior requer o depósito do bário na cratera da úlcera,</p><p>que geralmente é redonda ou oval e que pode ou não estar circundada por edema. Esse estudo é útil para determinar a</p><p>localização e a profundidade de penetração da úlcera, e a extensão da deformidade pela fibrose crônica. Uma radiografia</p><p>baritada característica de uma úlcera péptica é mostrada na Figura 48‑9. A capacidade para detectar úlceras nas radiografias</p><p>exige habilidades técnicas do radiologista, mas depende também do tamanho e da localização da úlcera. Com as técnicas</p><p>radiológicas de contraste único, 50% das úlceras duodenais podem deixar de ser diagnosticadas, enquanto nos estudos com</p><p>duplo contraste 80% a 90% das crateras ulcerosas podem ser detectadas. Apesar desse aumento de precisão com técnicas de</p><p>duplo contraste, a radiografia do trato GI superior foi substituída amplamente pela endoscopia alta flexível como método</p><p>de escolha para o diagnóstico e avaliação das úlceras duodenais e gástricas.</p><p>FIGURA 489 Uma grande úlcera gástrica de aparência benigna projetase medialmente pela pequena curvatura</p><p>do estômago (seta) logo acima da incisura angularis. (Cortesia de Dr. Agnes Guthrie, Department of Radiology, University</p><p>of Texas Medical School, Houston, TX.)</p><p>Endoscopia alta flexível</p><p>A endoscopia é o método mais confiável para diagnosticar úlceras duodenais e gástricas. Além de fornecer um diagnóstico</p><p>visual, a endoscopia permite a coleta de tecido para avaliar malignidade e infecção por H. pylori e pode ser usada para</p><p>propósitos terapêuticos no contexto de hemorragia ou obstrução do trato GI.</p><p>A avaliação endoscópica do estômago e do duodeno foi capaz de confirmar o diagnóstico visual de mais de 90% das</p><p>úlceras pépticas, e esse valor é provavelmente mais elevado hoje em dia com a utilização dos endoscópios de alta definição.</p><p>Quando uma úlcera é detectada endoscopicamente, a biópsia está recomendada em todos os casos para excluir</p><p>malignidade. As úlceras maiores e aquelas com bordas irregulares têm maior probabilidade de abrigar câncer. Devem ser</p><p>realizadas múltiplas biópsias da úlcera para um rendimento diagnóstico máximo. Um estudo antigo sobre a utilidade da</p><p>biópsia endoscópica mostrou que a primeira amostra de uma úlcera tinha uma sensibilidade de apenas 70% na detecção de</p><p>câncer gástrico, enquanto quatro biópsias aumentavam essa capacidade para 95% e várias biópsias aumentavam para 98%.</p><p>Teste do Helicobacter pylori</p><p>O padrão‑ouro para o diagnóstico do H. pylori é a biópsia da mucosa realizada durante a endoscopia digestiva alta, mas os</p><p>testes não invasivos oferecem uma ferramenta de rastreio efetiva e não necessitam do procedimento endoscópico. Se a</p><p>endoscopia for realizada, a avaliação das biópsias, tanto com teste da urease ou com exame histológico, tem uma acuidade</p><p>diagnóstica excelente. A avaliação dos anticorpos séricos é o teste de escolha para o diagnóstico inicial quando a endoscopia</p><p>não é necessária, mas tem a desvantagem de permanecerem positivos após o tratamento e a erradicação da infecção. Para o</p><p>monitoramento da eficácia do tratamento, a pesquisa do antígeno nas fezes e o teste respiratório da ureia são as melhores</p><p>escolhas.</p><p>Testes Invasivos</p><p>Teste da urease</p><p>As biópsias endoscópicas devem ser realizadas no corpo e no antro gástricos e são então testadas para urease. A</p><p>sensibilidade do diagnóstico da infecção é superior a 90%, e a especificidade é de 95% a 100%, o que significa que quase</p><p>nunca há resultados falso‑positivos. No entanto, a sensibilidade do teste se reduz em pacientes que estão tomando IBP,</p><p>antagonistas H2 ou antibióticos. Os kits de teste rápido da urease estão disponíveis comercialmente e podem detectar a</p><p>urease nas biópsias gástricas em 1 hora, com um nível semelhante de acuidade diagnóstica.</p><p>Histologia</p><p>A endoscopia com biópsias da mucosa gástrica pode também ser realizada, com visualização histológica do H.</p><p>pylori usando o corante hematoxilina‑eosina ou outros corantes especiais (p. ex., prata, Giemsa, Genta) para melhorar a</p><p>acuidade do exame. A sensibilidade é de aproximadamente 95% e a especificidade de 99%, tornando a histologia um pouco</p><p>mais precisa do que o teste da urease. De forma semelhante ao teste da urease, a sensibilidade da avaliação histológica é</p><p>menor em pacientes que tomam IBP ou antagonistas H2, mas continua sendo o teste mais preciso disponível nesse contexto.</p><p>A histologia também permite avaliar a gravidade da gastrite e confirmar a presença ou ausência do microrganismo; no</p><p>entanto, é uma opção mais cara para a avaliação das biópsias do que o teste da urease.</p><p>Cultura</p><p>A cultura da mucosa gástrica obtida na endoscopia também pode ser realizada para diagnosticar</p><p>o H. pylori. A sensibilidade</p><p>é de cerca de 80% e a especificidade, 100%. No entanto, a cultura necessita de laboratório especializado, não está</p><p>amplamente disponível, é relativamente cara e o diagnóstico requer 3 a 5 dias. Apesar disso, fornece a oportunidade de</p><p>realizar o teste de sensibilidade antibiótica nos isolados, se necessário.</p><p>Testes não Invasivos</p><p>Sorologia</p><p>Existem vários ensaios laboratoriais de imunoadsorção enzimática disponíveis e alguns testes rápidos por imunoensaio</p><p>para a realização em consultório que são usados para testar a presença de anticorpos IgG para o H. pylori. A sorologia tem</p><p>90% de sensibilidade, mas uma taxa de especificidade mais variável, entre 76% e 96%, e os testes necessitam ser localmente</p><p>validados com base na prevalência de cepas bacterianas específicas. As titulações dos anticorpos podem permanecer</p><p>elevadas por 1 ano ou mais e, consequentemente, esse teste não pode ser usado para avaliar a erradicação após o</p><p>tratamento. Por estas razões, o antígeno nas fezes e o teste respiratório de ureia são as modalidades preferidas para o</p><p>diagnóstico e a avaliação da eficácia do tratamento em pacientes com DUP e suspeita de infecção por H. pylori.</p><p>Teste respiratório da ureia</p><p>O teste respiratório da ureia com carbono marcado baseia‑se na capacidade do H. pylori de hidrolizar a ureia como</p><p>resultado da sua produção de urease. Tanto a sensibilidade quanto a especificidade são superiores a 95%. Tal como com</p><p>outras modalidades de teste, a sensibilidade do teste respiratório da ureia está reduzida em pacientes que tomam</p><p>medicações antissecretoras e antibióticos. Recomenda‑se que os pacientes descontinuem os antibióticos por 4 semanas e IBP</p><p>por 2 semanas para assegurar acuidade diagnóstica ótima. O teste respiratório da ureia é menos caro do que a endoscopia e</p><p>avalia todo o estômago. Na avaliação da eficácia do tratamento podem ocorrer falso‑negativos se o teste for realizado muito</p><p>precocemente após o tratamento, sendo recomendável realizá‑lo 4 semanas após o fim do tratamento.</p><p>Antígeno das fezes</p><p>O H. pylori está presente nas fezes dos pacientes infectados, e vários ensaios desenvolvidos usam anticorpos monoclonais</p><p>para antígenos de H. pylori para testar espécimes fecais. Esses testes demonstraram sensibilidade de mais de 90% e</p><p>sensibilidade de 86% a 92%.1 Vários estudos confirmaram que o teste de antígenos fecais tem uma acuidade superior a 90%</p><p>na detecção da erradicação da infecção após tratamento, comparado com a histologia invasiva e teste de ureia não invasivo.</p><p>Além disto, este teste é, provavelmente, o método mais custo‑efetivo para avaliar a eficácia do tratamento.</p><p>Tratamento</p><p>Tratamento médico</p><p>As medicações antiulcerosas são disponibilizadas em três categorias – as direcionadas contra H. pylori, aquelas que reduzem</p><p>os níveis de ácido por meio da diminuição da sua secreção ou da sua neutralização química e aquelas que elevam a barreira</p><p>protetora da mucosa. Em pacientes com doença ulcerosa péptica e H. pylori, o foco da terapia é a erradicação das bactérias.</p><p>Além de medicamentos, alterações no estilo de vida, como parar de fumar, interromper o uso de ácido acetilsalicílico e de</p><p>AINEs e evitar café e álcool, ajudam a promover a cicatrização da úlcera.</p><p>Antiácidos</p><p>Os antiácidos são a forma mais tradicional de terapia para a doença ulcerosa péptica. Reduzem a acidez gástrica reagindo</p><p>com o ácido clorídrico, formando um sal e elevando o pH do suco gástrico. Os antiácidos diferem enormemente na sua</p><p>capacidade de tamponamento, absorção, paladar e efeitos adversos. Os antiácidos com magnésio tendem a ser os melhores</p><p>neutralizantes, mas podem causar diarreia significativa, enquanto ácidos precipitados com fósforo podem, ocasionalmente,</p><p>resultar em hipofosfatemia e, às vezes, constipação. Eles são mais eficazes quando ingeridos uma hora após as refeições,</p><p>pois podem ficar retidos no estômago e exercer sua ação ‘tampão’ por períodos mais longos. Se ingeridos com o estômago</p><p>vazio, os antiácidos são eliminados rapidamente e têm apenas um efeito de tamponamento transitório. Em virtude dessa</p><p>eficácia transitória, o uso de antiácidos tampão foi amplamente substituído pela terapia antissecretora (antagonistas dos</p><p>receptores H2 ou IBP) para o tratamento da DUP.</p><p>Sucralfato</p><p>O sucralfato é estruturalmente relacionado com a heparina, mas não tem qualquer efeito anticoagulante. Demonstrou‑se</p><p>que ele é bastante eficaz no tratamento da doença ulcerosa, apesar de seu mecanismo exato de ação não ser completamente</p><p>compreendido. Ele é um sal de alumínio de sacarose sulfatada que se dissocia sob as condições ácidas do estômago.</p><p>Especula‑se que a sacarose polimeriza e liga‑se a proteínas na cratera ulcerosa para produzir um tipo de revestimento</p><p>protetor que pode durar até 6 horas. Também foi sugerido que ele pode se ligar e concentrar o fator básico do crescimento</p><p>do fibroblasto, o que parece ser importante na cicatrização da mucosa. O tratamento com sucralfato por 4 a 6 semanas</p><p>resulta em cicatrização da úlcera duodenal, que é superior ao placebo e comparável com o tratamento com antagonistas dos</p><p>receptores H2, como a cimetidina. No entanto, a eficácia e o papel do sucralfato na cicatrização das úlceras gástricas</p><p>causadas por infecção por H. pylori não foram totalmente estabelecidos e o sucralfato não está incluído nas diretrizes do</p><p>tratamento inicial para DUP.</p><p>Antagonistas do receptor H2</p><p>Os antagonistas do receptor H2 são estruturalmente similares à histamina. As variações no anel estrutural e nas cadeias</p><p>laterais causam diferenças na potência e nos efeitos adversos. Atualmente, os antagonistas do receptor H2 disponíveis</p><p>diferem na sua potência, mas apenas modestamente na sua meia‑vida e biodisponibilidade. Todos sofrem metabolismo</p><p>hepático e são excretados pelos rins. A famotidina é a mais potente e a cimetidina é a mais fraca. A infusão intravenosa</p><p>contínua dos antagonistas do receptor H2 demonstrou produzir inibição mais uniforme dos ácidos do que a administração</p><p>intermitente. Muitos estudos randomizados e controlados indicam que todos os antagonistas do receptor H2 resultam em</p><p>taxas de cicatrização das úlceras duodenais de 70% a 80% após 4 semanas de terapia e de 80% a 90% após 8 semanas.</p><p>Inibidores da bomba de prótons</p><p>Os mais potentes agentes antissecretores são IBP. Esses agentes anulam a secreção ácida de todos os tipos de secretagogos.</p><p>Como resultado, eles propiciam uma inibição mais completa e prolongada da secreção de ácido do que os antagonistas de</p><p>receptor H2. Os antagonistas de receptores H2 e IBP são eficazes durante a noite, mas os IBP são mais eficazes durante o dia.</p><p>O IBP tem uma taxa de cura de 85% em 4 semanas e 96% em 8 semanas e produz cicatrização mais rápida das úlceras em</p><p>comparação com os antagonistas de receptores H2 padrão (vantagem de 14% em 2 semanas e a vantagem de 9% em 4</p><p>semanas). Por essa razão, os IBP substituíram, de modo geral, os antagonistas dos receptores H2 como terapia primária para</p><p>a DUP na presença e na ausência de infecção por H. pylori. Os IBP necessitam de um ambiente ácido no interior do lúmen</p><p>gástrico para que se tornem ativados; assim, os antiácidos ou antagonistas do receptor H2 em combinação com IBP</p><p>poderiam ter efeitos deletérios pela promoção de um ambiente alcalino impedindo a ativação dos IBP. Consequentemente,</p><p>os antiácidos e os antagonistas do receptor H2 não devem ser usados em associação com IBP.</p><p>Tratamento da infecção por Helicobacter pylori</p><p>Antes da descoberta da infecção por H. pylori como o agente associado a mais de 95% das úlceras pépticas duodenais, a</p><p>principal forma de tratamento era a redução de ácido no estômago, com ou sem aumento da barreira protetora com</p><p>fármacos como o sucralfato. Depois que ficou</p><p>claro que o aumento da secreção ácida era um efeito da infecção por H. pylori,</p><p>houve uma mudança de paradigma já que a DUP foi vista como uma doença infecciosa, em vez de uma consequência da</p><p>secreção ácida patológica. Por conseguinte, a filosofia de tratamento passou a focar na erradicação do agente infeccioso.</p><p>A terapia atual utiliza a combinação de antibióticos contra H. pylori com medicamentos antiácidos. O principal objetivo</p><p>dos antiácidos é promover a rápida cicatrização reduzindo os níveis de acidez patológica, e melhorando os sintomas. A</p><p>erradicação do H. pylori complementa a cura inicial, mas sua eficácia primária é na prevenção da recorrência. Numerosos</p><p>estudos compararam a terapia de erradicação com fármacos isolados para cicatrização da úlcera ou nenhum tratamento. A</p><p>erradicação do H. pylori mostrou taxas de recidiva de 2%, com taxas de cicatrização inicial de 90%. As taxas de erradicação</p><p>após um curso inicial de tratamento têm diminuído, provavelmente como resultado de um aumento da prevalência das</p><p>cepas de H. pylori resistentes aos antibióticos; atualmente cerca de 20% dos pacientes cursam com falha na terapia inicial.</p><p>Por essa razão, o monitoramento da erradicação da infecção com o teste respiratório de ureia, antígeno das fezes ou</p><p>repetição de endoscopia com biópsias 4 a 6 semanas após o tratamento é importante, e muitos pacientes irão requerer</p><p>tratamento posterior com regimes alternativos.</p><p>O tratamento da úlcera duodenal H. pylori‑positiva é a terapia tripla com o objetivo de erradicar o H. pylori, em conjunto</p><p>com a supressão ácida (Quadro 48‑1). Essa terapia tripla inclui um IBP e dois antibióticos, normalmente amoxicilina (1 g</p><p>duas vezes ao dia) com claritromicina (500 mg duas vezes ao dia). Em pacientes com alergia a penicilina, o metronidazol</p><p>(500 mg duas vezes ao dia) é usado em substituição à amoxicilina. Em áreas com elevadas taxas de resistência à</p><p>claritromicina (> 15% a 20%), pode ser benéfico substituí‑la por tetraciclina ou outro antibiótico, para a terapia inicial. As</p><p>diretrizes clínicas geralmente recomendam o tratamento com um curso de 14 dias de terapia tripla4; no entanto isso é</p><p>controverso, uma vez que uma metanálise de ensaios randomizados comparando tempos de tratamento não constatou</p><p>aumento significativo das taxas de erradicação quando os regimes de 7 dias foram comparados com 10 ou 14 dias.5 Os</p><p>efeitos adversos, que são geralmente leves e se resolvem com a cessação do tratamento, incluem diarreia, náusea e vômitos,</p><p>eritema e alterações do paladar. Para os 20% de pacientes com doença refratária, um curso de tratamento com novos</p><p>antibióticos como o metronidazol e a tetraciclina deve ser instituído, e é recomendável a terapia quádrupla com a adição de</p><p>bismuto.</p><p>Quadr o 4 8 1 Recomendações do Pa ine l de Consenso dos Ins t i tu to s Nac iona i s de</p><p>Saúde pa ra T ra t amento de Hel i cobac t e r pylo r i</p><p>Pacientes com doença ulcerosa péptica ativa H. pylori positivos</p><p>• O uso de AINEs não deve alterar o tratamento</p><p>• Documentar a erradicação nos pacientes com complicações</p><p>Pacientes com úlcera em remissão com H. pylori positivo, incluindo pacientes em tratamento de manutenção com</p><p>antagonista de receptor H2</p><p>Pacientes H. pylori‑positivos com linfoma MALT</p><p>Questões controversas em pacientes H. pylori‑positivos:</p><p>• Parentes de primeiro grau de pacientes com câncer gástrico</p><p>• Imigrantes de países com alta prevalência de câncer gástrico</p><p>• Indivíduos com lesões precursoras de câncer gástrico (metaplasia intestinal)</p><p>• Pacientes com dispepsia sem úlcera que insistem na erradicação (benefícios versus riscos)</p><p>• Pacientes em terapia de supressão ácida a longo prazo para doença do refluxo</p><p>Doença Ulcerosa Complicada</p><p>A doença ulcerosa era, há até poucos anos, do âmbito de atuação do cirurgião geral, com a cirurgia da úlcera, constituindo a</p><p>maior parte da sua prática clínica. Com a mudança na compreensão da doença ulcerosa, que partiu de um conceito de</p><p>fisiologia de secreção ácida aberrante para uma doença infecciosa, alterou‑se significativamente o modelo de tratamento da</p><p>maioria dos pacientes com úlcera, que passaram a ser tratados e curados clinicamente. O papel do cirurgião atualmente é o</p><p>de tratar os cerca de 20% de pacientes que evoluem com complicação de sua doença, e que inclui hemorragia, perfuração e</p><p>obstrução (Quadro 48‑2). Frequentemente incluída nas discussões sobre DUP complicada está a úlcera intratável. Embora a</p><p>doença intratável exista, sem dúvida, sua definição é nebulosa e a determinação exata sobre quando e sobre que tipo de</p><p>intervenção cirúrgica é necessária, é primariamente uma questão de julgamento. Na era atual de excelentes opções de</p><p>tratamento para a infecção por H. pylori e de supressão ácida, poucos pacientes com boa adesão ao tratamento clínico</p><p>desenvolvem úlceras intratáveis, na ausência de malignidade.</p><p>Quadr o 4 8 2 Recomendações de T ra t amento C i rú rg i co pa ra Compl i ca ções</p><p>Re la c ionadas com Doença U l ce rosa Pép t i c a Duodena l</p><p>Intratabilidade: vagotomia de células parietais ± antrectomia</p><p>Hemorragia: sutura do vaso sangrante e tratamento para H. pylori</p><p>Perfuração: rafia com patch de omento e tratamento para H. pylori</p><p>Obstrução: afastar malignidade e gastrojejunostomia com tratamento para H. pylori</p><p>Hemorragia</p><p>O sangramento gastrointestinal do trato superior é um problema relativamente comum, com uma incidência anual de cerca</p><p>de 1/1.000. A maioria dos sangramentos não varicosos (70%) é atribuída à úlcera péptica. A maior parte dos sangramentos</p><p>cessa espontaneamente e não requer intervenção; a hemorragia persistente, no entanto, está associada a uma mortalidade</p><p>de 6% a 8%. Várias escalas clínicas foram criadas para estratificar o risco dos pacientes com hemorragia digestiva alta e para</p><p>predizer o risco de ressangramento, morbidade e mortalidade globais. As escalas mais frequentemente usadas são as de</p><p>Blatchford e Rockall.6,7 A escala de Blatchford (Tabela 48‑3) incorpora ureia, hemoglobina, pressão arterial e outros</p><p>parâmetros clínicos do paciente para prever a necessidade de intervenção terapêutica com transfusão, endoscopia ou</p><p>cirurgia. Uma pontuação superior a zero tem uma sensibilidade de 99% na previsão da necessidade dessa intervenção, e a</p><p>pontuação pode servir como ferramenta de rastreio útil para determinar quais os pacientes que estão em risco para</p><p>hemorragia grave na apresentação inicial. A escala de Rockall (Tabela 48‑3) usa variáveis clínicas e achados da endoscopia</p><p>alta inicial para prever o risco de ressangramento e mortalidade intra‑hospitalar e é mais útil para determinar se uma</p><p>intervenção cirúrgica pode ser necessária após o paciente ter sido inicialmente reanimado e avaliado.</p><p>Tabela 483</p><p>Escalas de Blatchford e Rockall para Hemorragia Gastrointestinal Alta</p><p>ESCALA CLÍNICA DE BLATCHFORD PARA HEMORRAGIA GI ALTA6</p><p>VARIÁVEL</p><p>PONTUAÇÃO</p><p>0 1 2 3 4 6</p><p>Ureia sérica</p><p>(mmol/L)</p><p>25</p><p>Hemoglobina</p><p>(g/dL) em</p><p>homens</p><p>>13 12‑13 10‑12 12 10‑12 109 100‑109 90‑99 100, forma de</p><p>apresentação:</p><p>melena</p><p>Forma de apresentação: síncope,</p><p>doença hepática, insuficiência</p><p>cardíaca</p><p>ESCALA CLÍNICA DE ROCKALL PARA HEMORRAGIA GI ALTA7</p><p>VARIÁVEL</p><p>PONTUAÇÃO</p><p>0 1 2 3</p><p>Idade 79</p><p>Choque PA sistólica ≥100 mmHg e pulso</p><p>de</p><p>hemorragia</p><p>recente</p><p>Nenhum ou apenas ponto</p><p>escuro</p><p>Sangue no trato GI</p><p>superior, coágulo</p><p>aderente, visível ou</p><p>vaso sangrante</p><p>PA, pressão arterial.</p><p>A abordagem inicial da hemorragia digestiva alta é semelhante à do paciente vítima de trauma. Garantir um acesso</p><p>venoso de grosso calibre com restauração rápida do volume intravascular com fluidos e hemoderivados conforme a</p><p>situação clínica o ditar, e monitoração rigorosa de sinais de ressangramento, são essenciais para o tratamento efetivo destes</p><p>pacientes. O papel da lavagem nasogástrica (NG) permanece discutível; no entanto, pode ser útil como preditor em</p><p>pacientes de alto risco e ajudar caso uma intervenção endoscópica posterior seja necessária. Os pacientes com sangue</p><p>vermelho vivo na lavagem NG, ao contrário da lavagem em borra de café, estão em muito maior risco de hemorragia</p><p>persistente ou ressangramento e necessitam de intervenção endoscópica. Se na lavagem NG retornar líquido bilioso, sem</p><p>sangue, representando conteúdos duodenal e gástrico normais, uma fonte de hemorragia digestiva mais baixa (i. e., distal ao</p><p>ligamento de Treiἀ) deve ser considerada. Além da sua utilidade diagnóstica, o tubo NG pode ser usado para lavar o</p><p>estômago e o duodeno antes da endoscopia, removendo coágulos e sangue velho que possam dificultar a visualização da</p><p>fonte de hemorragia. Dado o seu risco relativamente baixo e potencial benefício, a colocação de tubo NG deve ser uma parte</p><p>do algoritmo de tratamento para esses pacientes após o acesso vascular apropriado ter sido estabelecido e a reanimação</p><p>iniciada.</p><p>A endoscopia alta flexível é o melhor procedimento inicial para o diagnóstico da fonte da hemorragia digestiva alta e para</p><p>intervenção terapêutica, especialmente no contexto de úlceras hemorrágicas. Quase todos os pacientes com um</p><p>sangramento agudo substancial do trato GI devem passar por endoscopia nas primeiras 24 horas. Embora os dados não</p><p>sejam conclusivos, a endoscopia precoce tem se mostrado uma estratégia custo‑efetiva na triagem de pacientes para uma</p><p>intervenção mais rápida, se necessária, e para identificar pacientes de baixo risco sem a necessidade de observação</p><p>prolongada (e, portanto, menos tempo de internação). Além disso, dados recentes de séries retrospectivas que usaram</p><p>análises de regressão multivariadas para ajustar variáveis conflitantes sugere que a intervenção endoscópica precoce (nas</p><p>primeiras 12 horas de apresentação) resulta em tempo de internação mais curto e, possivelmente, menor mortalidade nos</p><p>pacientes de alto risco.8</p><p>Os pacientes à endoscopia apresentam sangramento ativo com jato arterial ou gotejamento, coágulo aderente ou vaso</p><p>visível dentro da úlcera, são de alto risco e a intervenção é necessária. Os pacientes sem sangramento ativo, sem vaso</p><p>visível, que têm uma úlcera com base limpa, são de baixo risco e não necessitam de intervenção. O sistema mais</p><p>frequentemente utilizado para classificar a aparência endoscópica das úlceras hemorrágicas é a classificação de Forrest</p><p>(Tabela 48‑4), que estratifica o risco de ressangramento com base nos “estigmas de hemorragia recente” observados. As</p><p>úlceras de baixo risco são encontradas com muito mais frequência do que as com hemorragia ativa, mesmo no contexto de</p><p>pacientes internados submetidos à endoscopia para diagnóstico de hemorragia digestiva alta. Todos os pacientes</p><p>submetidos a exame endoscópico devem ser pesquisados para H. pylori. Nos pacientes de alto risco que necessitam de</p><p>intervenção, a melhor abordagem é a endoscópica, que resulta na hemostasia primária em aproximadamente 90% dos</p><p>pacientes. O método mais comum de controle é a injeção de um vasoconstritor no local do sangramento. Com este método</p><p>isolado as taxas de hemostasia primária são altas, mas cerca de até 30% dos pacientes apresentam ressangramento. Essa</p><p>situação levou ao desenvolvimento de novas técnicas, incluindo o uso de um segundo agente vasoconstritor ou</p><p>esclerosante, coagulação térmica e colocação de grampos no local do sangramento. Uma metanálise realizada em 2009</p><p>comparou o uso de epinefrina isolada com outras formas de monoterapia endoscópica, particularmente terapia térmica ou</p><p>clipes, e mostrou que estas outras abordagens são mais efetivas na prevenção do ressangramento.9 Uma abordagem dupla,</p><p>utilizando a injeção de epinefrina em conjunto com terapia térmica ou clipes, mostrou uma redução ainda melhor na taxa</p><p>de ressangramento, com um risco relativo de 0,3 comparado com a injeção de epinefrina isolada.</p><p>Tabela 484</p><p>Classificação de Forrest dos Estigmas de Hemorragia Recente no Exame Endoscópico das Úlceras</p><p>Pépticas e Prevalência Relativa</p><p>ESTIGMAS DE</p><p>HEMORRAGIA</p><p>RECENTE</p><p>CLASSIFICAÇÃO</p><p>DE FORREST</p><p>PREVALÊNCIA (%) NA ENDOSCOPIA DO PACIENTE</p><p>INTERNADO REALIZADA POR HEMORRAGIA GI ALTA*</p><p>Hemorragia ativa 10,7 (tanto em jato quanto difusa)</p><p>Jato ativo IA</p><p>Difusa ativa IB</p><p>Hemorragia recente</p><p>Vaso não sangrante IIA 7,2</p><p>Coágulo aderente IIB 7,1</p><p>Ponto pigmentado</p><p>plano</p><p>IIC 14,3</p><p>Sem sinais de</p><p>hemorragia</p><p>Úlcera de base limpa III 48,6</p><p>* A aparência da úlcera não foi descrita em 12,1% dos pacientes.</p><p>De Enestvedt BK, Gralnek IM, Ma埯�ek N et al: An evaluation of endoscopic indications and findings related to nonvariceal upper‑GI</p><p>hemorrhage in a large multicenter consortium. Gastrointest Endosc 67:422–429, 2008.</p><p>Diretrizes para o controle endoscópico de hemorragia publicadas em 2010 defendem o uso de epinefrina associada a um</p><p>método adicional ou monoterapia com termocoagulação ou clipagem, mas desencorajam o uso de isolado de epinefrina.</p><p>Embora a endoscopia repetida não tenha se mostrado benéfica, para pacientes que têm ressangramento, a endoscopia</p><p>repetida não aumenta a mortalidade e deve ser tentada antes da intervenção cirúrgica, desde que o paciente permaneça</p><p>hemodinamicamente estável.</p><p>Todos os pacientes de alto risco devem ser colocados em um ambiente com monitoração, preferivelmente em uma</p><p>unidade de terapia intensiva, até que todo sangramento tenha cessado por 24 horas. Como parte das diretrizes do consenso</p><p>de 2010, todos os pacientes de alto risco devem ser tratados com injeção intravenosa de IBP, com um bolus inicial seguido</p><p>por infusão contínua ou intermitente por até 72 horas. Quando comparado com um bloqueador de histamina e com</p><p>placebo, o IBP intravenoso mostrou uma taxa menor de ressangramento, diminuição das taxas de cirurgia de emergência e</p><p>diminuição da mortalidade. Adicionalmente, doses elevadas de IBP intravenosos mostraram ser mais efetivas do que os IBP</p><p>em dose‑padrão na prevenção da hemorragia recorrente. Pacientes considerados de alto risco com base em fatores clínicos</p><p>que estão aguardando endoscopia devem iniciar a terapia com IBP antes da endoscopia.</p><p>Embora a endoscopia alta flexível continue sendo a terapia de primeira linha padronizada para a hemorragia digestiva</p><p>alta, outra opção para o controle não cirúrgico das úlceras duodenais sangrantes é a angiografia dirigida por cateter e</p><p>embolização endovascular (Fig. 48‑10). Uma metanálise de estudos que examinaram o uso da embolização arterial na</p><p>hemorragia digestiva alta verificou uma taxa de sucesso técnico de 84% na interrupção da hemorragia, com prevenção de</p><p>ressangramento em 67% dos pacientes.10 Outro estudo comparou retrospectivamente a efetividade da embolização arterial</p><p>e da cirurgia para hemorragia recorrente de úlcera péptica após terapia endoscópica inicial. A embolização endovascular</p><p>teve taxas de ressangramento superiores (34% versus 13%, P = 0,01), mas com menos complicações pós‑operatórias</p><p>(41% versus 68%, P = 0,01). Mortalidade, necessidades transfusionais e tempo de internação foram semelhantes</p><p>nas duas</p><p>abordagens. Apesar de ser uma modalidade intervencional relativamente nova, a terapia endovascular para hemorragia por</p><p>úlcera oferece uma abordagem atraente para pacientes com hemorragia recorrente após endoscopia que permanecem</p><p>hemodinamicamente estáveis, em especial pacientes que são maus candidatos cirúrgicos com base em outras comorbidades</p><p>médicas.</p><p>FIGURA 4810 Controle endovascular de uma úlcera duodenal sangrante. A, A angiografia mostra</p><p>extravasamento de contraste por um ramo da artéria gastroduodenal. B, Aspecto final da angiografia após</p><p>embolização do vaso com cola, mostrando resolução da hemorragia com preservação do fluxo pela artéria</p><p>gastroduodenal. (De Loffroy R, Guiu B, Cercueil JP et al: Refractory bleeding from gastroduodenal ulcers: Arterial embolization in</p><p>highoperativerisk patients. J Clin Gastroenterol 42:361–367, 2008.)</p><p>Apesar do uso de IBP e da melhora dos métodos de controle endoscópico, 5% a 10% dos pacientes têm hemorragia</p><p>persistente e requerem intervenção cirúrgica. Esse grupo inclui pacientes que se tornam hemodinamicamente instáveis e</p><p>aqueles que continuam sangrando e necessitam de múltiplas transfusões de sangue (normalmente > 6 U de concentrado de</p><p>hemácias). O vaso que mais frequentemente sangra é a artéria gastroduodenal em decorrência de erosão por uma úlcera da</p><p>parede posterior. Embora as úlceras duodenais sangrantes possam ser tratadas por via laparoscópica, a abordagem mais</p><p>típica é por meio de uma laparotomia mediana superior, particularmente em pacientes que estão hemodinamicamente</p><p>instáveis. Uma manobra de Kocher é realizada para mobilizar o duodeno. A parede anterior do bulbo duodenal é aberta</p><p>longitudinalmente e a incisão é continuada pelo piloro. A artéria gastroduodenal é suturada com três pontos em U, que</p><p>laqueia de forma efetiva o vaso principal (pontos superior e inferior) e previne a hemorragia retrógrada por quaisquer</p><p>pequenos ramos (ponto médio), como a artéria pancreática transversa, que se dirige para a esquerda do paciente na direção</p><p>do corpo do pâncreas. Deve‑se ter cuidado para evitar incorporar o colédoco nos pontos. A posição do colédoco pode ser</p><p>identificada pela inserção de uma sonda através da ampola de Vater por via transduodenal ou colangiografia peroperatória</p><p>realizada por via retrógrada ou anterógrada. Após a hemorragia ter sido controlada, a duodenotomia é fechada</p><p>transversalmente para evitar estenose (Fig. 48‑10).</p><p>Perfuração</p><p>Os pacientes com perfuração, tipicamente se queixam de dor epigástrica aguda, repentina e, em geral, intensa. Para muitos,</p><p>é o primeiro sintoma da doença ulcerosa. Os pacientes geralmente apresentam pneumoperitônio, visualizado na radiografia</p><p>de tórax e, ao exame, apresentam sinais de peritonite localizada. Aqueles com vazamento mais acentuado de conteúdo</p><p>gastroduodenal evoluem com peritonite difusa. Para um pequeno subgrupo de pacientes, suas perfurações podem selar</p><p>espontaneamente; no entanto, a intervenção cirúrgica é necessária em quase todos os casos. A perfuração tem maior taxa de</p><p>mortalidade do que qualquer outra complicação da doença ulcerosa péptica, podendo chegar a 15%.</p><p>A perfuração é uma complicação cirúrgica e o tratamento é a operação de emergência. A perfuração ocorre geralmente na</p><p>primeira porção do duodeno e pode ser acessada por uma incisão mediana supraumbilical. As perfurações menores que</p><p>1 cm geralmente podem ser fechadas primariamente e reforçadas com um retalho de omento vascularizado. Para</p><p>perfurações de maiores dimensões ou úlceras com margens fibróticas que não podem ser fechadas sem tensão, realiza‑se</p><p>um reparo com patch de omento (patch de Graham). Múltiplos pontos de sutura pegando tecido saudável próximo às bordas</p><p>proximal e distal da úlcera são confeccionados. O omento é colocado por baixo destes pontos, que são amarrados, fixando‑o</p><p>sobre a lesão e selando a perfuração (Fig. 48‑11). Para perfurações muito grandes (> 3 cm), o controle do defeito duodenal</p><p>pode ser difícil. A perfuração deve ser fechada mediante a sobreposição de tecido são, como o omento ou a serosa jejunal de</p><p>uma alça em Y de Roux. Nesses casos, a exclusão pilórica é normalmente realizada mediante a sutura do piloro com fio</p><p>absorvível ou do grampeamento com um grampeador linear não cortante. Uma gastrojejunostomia é realizada para fazer</p><p>um bypass ao duodeno nos moldes de uma reconstrução em Billroth II ou Y de Roux. Ao longo de várias semanas, a</p><p>exclusão pilórica com pontos ou grampos se desfaz, restaurando a anatomia normal do trato digestivo após o local de</p><p>perfuração ter tido tempo de cicatrizar. Como alternativa, um tubo de duodenostomia pode ser colocado mediante a</p><p>perfuração com drenagem peritoneal ampla. A drenagem do conteúdo GI para o dreno deve ocorrer e, na maior parte dos</p><p>casos, a sepse se resolve. Uma alternativa para essa difícil situação é a antrectomia e a reconstrução com Billroth II ou Y de</p><p>Roux.</p><p>FIGURA 4811 Reparação com retalho de Graham de uma úlcera duodenal perfurada. Uma “lingueta” de omento</p><p>é utilizada para cobrir o defeito da úlcera e fixála nessa posição com uma série de pontos separados. Na</p><p>descrição original de Graham, o defeito da úlcera não é fechado, mas, se as bordas do tecido estiverem</p><p>saudáveis e puderem ser aproximadas sem tensão, um fechamento primário pode ser realizado e reforçado com</p><p>um retalho de omento. (De Baker RJ: Operation for acute perforated duodenal ulcer. In Nyhus LM, Baker RJ, Fischer JE,</p><p>editors: Mastery of surgery, London, 1997, Little, Brown and Company.)</p><p>As perfurações também podem ser tratadas por laparoscopia. Os resultados de dois ensaios randomizados controlados</p><p>mostraram que os pacientes submetidos ao reparo laparoscópico têm, conforme esperado, menos dor e menor necessidade</p><p>de analgésicos opioides por via parenteral. Eles também têm alta mais precocemente. No entanto não houve diferença nas</p><p>complicações pulmonares e/ou sépticas abdominais. Uma metanálise de estudos que compararam o reparo</p><p>laparoscópico versus o reparo aberto, que incluiu estudos randomizados controlados, juntamente com estudos prospectivos</p><p>e retrospectivos, mostrou resultados gerais semelhantes, com tempos operatórios mais longos para o reparo</p><p>laparoscópico.11 Todavia, estes tempos operatórios têm diminuído em estudos realizados após 2001; em um recente estudo</p><p>randomizado controlado, o tratamento laparoscópico foi mais rápido que o reparo aberto. A taxa de conversão variou de</p><p>10% a 15% na maioria dos trabalhos. Uma análise de correspondência de casos da base de dados do National Surgical</p><p>Quality Improvement Program (Programa Nacional de Melhora da Qualidade Cirúrgica), que comparou as duas</p><p>abordagens, encontrou um tempo de internação hospitalar mais curto após a reparação laparoscópica com uma tendência</p><p>no sentido de diminuição das complicações infecciosas no pós‑operatório.12 Com base nestes dados, em mãos experientes, a</p><p>laparoscopia parece ser a melhor abordagem em pacientes com perfurações duodenais que estão hemodinamicamente</p><p>estáveis.</p><p>Para pacientes sabidamente negativos para H. pylori, para usuários crônicos de AINEs e que não conseguem interromper</p><p>sua utilização ou para aqueles que não responderam ao tratamento clínico no passado para sua doença ulcerosa, um</p><p>procedimento redutor da produção de ácido pode ser adicionado no momento da operação. Esses procedimentos são</p><p>tratados mais adiante no capítulo e devem ter como base a situação clínica do paciente e a experiência do cirurgião.</p><p>No pós‑operatório, deve‑se manter a descompressão gástrica até que a atividade intestinal seja retomada. Os drenos</p><p>devem ser mantidos no local até que os pacientes tenham se alimentado sem que haja alguma alteração na quantidade e/ou</p><p>na qualidade da drenagem que possa sugerir a presença de fístula.</p><p>Radiografia com contraste oral de rotina não é necessária</p><p>antes do início da alimentação, mas pode ser realizada para avaliar a eficácia do fechamento da perfuração se o paciente</p><p>tiver sintomas ou sinais de fístula entérica. Todos os pacientes H. pylori‑positivos devem ser submetidos à erradicação com</p><p>esquemas de terapia tripla apropriados.</p><p>Obstrução pilórica</p><p>A inflamação aguda do duodeno pode levar à obstrução mecânica à saída do conteúdo gástrico, manifestada por retardo no</p><p>esvaziamento gástrico, anorexia, náuseas e vômitos. Em casos de vômitos prolongados, os pacientes podem ficar</p><p>desidratados e desenvolver uma alcalose metabólica hipoclorêmica hipocalêmica, secundária à perda do suco gástrico rico</p><p>em hidrogênio e cloreto. A inflamação crônica do duodeno pode gerar episódios recorrentes de cicatrização, seguidos de</p><p>cura e recorrência da úlcera, levando à fibrose e estenose do lúmem duodenal. Nessa situação, a obstrução é acompanhada</p><p>por vômitos indolores de grandes volumes, com anormalidades metabólicas similares àquelas vistas na obstrução aguda.</p><p>Neste cenário, o estômago pode ficar extremamente dilatado e rapidamente perder seu tônus muscular. Perda acentuada de</p><p>peso e desnutrição também são comuns.</p><p>A obstrução distal do estômago por doença ulcerosa, na atualidade, é menos comum que a obstrução por câncer. A</p><p>doença maligna deve ser descartada com o exame endoscópico. A dilatação endoscópica e a erradicação do H. pylori são os</p><p>pilares da terapêutica nas estenoses benignas. Um estudo com um acompanhamento de quase 5 anos mostrou que os</p><p>pacientes que têm uma causa identificável (p. ex., infecção por H. pylori), passível de tratamento, mostraram bons resultados</p><p>a longo prazo com a dilatação endoscópica, com uma média de cinco seções de dilatação, e não necessitaram de terapia</p><p>cirúrgica subsequente.13 Pacientes com doença ulcerosa duodenal idiopática e obstrução distal do estômago que vinham</p><p>sendo tratados com supressão ácida, também tiveram bons resultados a longo prazo com a dilatação endoscópica. Os</p><p>pacientes com obstrução refratária devem ser tratados com vagotomia e antrectomia.</p><p>Doença ulcerosa péptica intratável</p><p>A intratabilidade é definida como a incapacidade da úlcera em cicatrizar após terapêutica inicial por 8 a 12 semanas ou se os</p><p>pacientes apresentam recidiva após a interrupção do tratamento. Isso é incomum para doença ulcerosa duodenal na era</p><p>do H. pylori. As úlceras gástricas benignas que persistem após tratamento precisam ter afastada a possibilidade de</p><p>malignidade. Para qualquer úlcera duodenal considerada intratável, a duração adequada da terapia, a erradicação de H.</p><p>pylori e a eliminação do uso de AINEs devem ser confirmadas. Também se deve obter o nível sérico de gastrina em</p><p>pacientes com úlceras refratárias à terapêutica clínica, para excluir gastrinoma. Embora raramente vista hoje, a úlcera</p><p>duodenal intratável deve ser submetida a uma operação de redução de ácido. Isso pode ser feito por meio de vagotomia</p><p>troncular, vagotomia seletiva ou superseletiva, com ou sem antrectomia.</p><p>Procedimentos cirúrgicos para úlcera péptica</p><p>A intervenção cirúrgica eletiva se tornou rara desde que a terapia médica se tornou mais eficaz. O reconhecimento do H.</p><p>pylori e a sua erradicação sugerem que a intratabilidade como indicação operatória pode aplicar‑se apenas aos pacientes nos</p><p>quais os microrganismos não podem ser erradicados ou aqueles que não podem suspender os AINEs. Os pacientes que não</p><p>aderem à terapêutica de supressão ácida também podem estar incluídos nessa categoria.</p><p>O objetivo do tratamento cirúrgico da úlcera é reduzir a secreção ácida gástrica, e isso pode ser feito pelo bloqueio da</p><p>estimulação vagal via vagotomia, por inibição da secreção de gastrina mediante antrectomia, ou ambos. A vagotomia reduz</p><p>o pico de secreção ácida em aproximadamente 50%, enquanto a vagotomia mais antrectomia o diminui em</p><p>aproximadamente 85%.</p><p>Vagotomia troncular</p><p>Conforme mostrado na Figura 48‑4, a vagotomia troncular é realizada pela secção dos nervos vagos esquerdo e direito</p><p>acima dos ramos hepático e celíaco, imediatamente acima da junção gastroesofágica. A vagotomia troncular provavelmente</p><p>é a operação mais realizada para a doença ulcerosa duodenal. A maioria dos cirurgiões emprega algum tipo de</p><p>procedimento de drenagem em associação com a vagotomia troncular. O relaxamento pilórico é mediado por estimulação</p><p>vagal, e uma vagotomia sem procedimento de drenagem pode causar retardo do esvaziamento gástrico. A vagotomia</p><p>troncular clássica, associada à piloroplastia de Heineke‑Mikulicz, é mostrada na Figura 48‑12. Quando o bulbo duodenal</p><p>está muito deformado e fibrosado, uma piloroplastia a Finney, ou uma gastroduodenostomia a Jaboulay, podem ser</p><p>alternativas úteis. Em geral, há pouca diferença nos efeitos colaterais associados ao tipo de procedimento de drenagem</p><p>realizado, embora o refluxo biliar possa ser mais comum após a gastroenterostomia e a diarreia ser mais comum após a</p><p>piloroplastia. A incidência de dumping é a mesma para ambos.</p><p>FIGURA 4812 AE, piloroplastia de HeinekeMikulicz. (De Soreide JA, Soreide A: Pyloroplasty. Oper Tech Gen</p><p>Surg 5:65–72, 2003.)</p><p>Vagotomia seletiva</p><p>Na vagotomia seletiva seccionam‑se os nervos vagos principais direito e esquerdo logo abaixo dos ramos celíaco e hepático,</p><p>e um procedimento de drenagem também deve ser realizado. No entanto, a vagotomia seletiva resulta em taxas de recidiva</p><p>ulcerosa mais elevadas do que a vagotomia troncular, sem vantagens quanto à diminuição dos sintomas pós‑gastrectomia.</p><p>Por essas razões, a vagotomia seletiva foi praticamente abandonada como opção para cirurgia de redução de ácido.</p><p>Vagotomia superseletiva (vagotomia de células parietais)</p><p>A vagotomia superseletiva também é chamada de vagotomia de células parietais ou vagotomia gástrica proximal. Esse</p><p>procedimento foi desenvolvido após se reconhecer que a vagotomia troncular, em combinação com um procedimento de</p><p>drenagem ou de ressecção gástrica, afetava adversamente a função da bomba antropilórica. Na vagotomia superseletiva,</p><p>seccionam‑se apenas os ramos vagais que suprem a porção produtora de ácido do estômago no corpo e fundo. Esse</p><p>procedimento preserva a inervação vagal do antro gástrico e do piloro, de modo que não há necessidade de procedimentos</p><p>de drenagem. Portanto, ocorrem menos complicações pós‑operatórias. Em geral, identificam‑se os nervos de Latarjet</p><p>anterior e posterior e, seccionam‑se os ramos que inervam o fundo e o corpo do estômago até a pata de ganso. Esses nervos</p><p>são seccionados até um ponto a aproximadamente 7 cm do piloro ou à área próxima ao antro gástrico. Cranialmente, a</p><p>secção desses nervos é executada até um ponto pelo menos 5 cm proximal à junção GE, sobre o esôfago (Fig. 48‑</p><p>13). Idealmente, dois ou três ramos para o antro e o piloro devem ser preservados. O “nervo criminoso de Grassi” emana do</p><p>tronco posterior do vago, e é importante identificá‑lo e seccioná‑lo, pois ele é frequentemente referenciado como fator de</p><p>predisposição à recorrência da úlcera, se deixado intacto.</p><p>FIGURA 4813 Visualização anterior do estômago e do nervo anterior de Latarjet. Observe a linha de dissecção</p><p>para vagotomia de células parietais ou vagotomia superseletiva (linha tracejada). Os últimos ramos maiores do</p><p>nervo são deixados intactos e a dissecção começa a 7 cm do piloro. Na junção GE, a dissecção está bem longe</p><p>da origem dos ramos hepáticos do vago esquerdo. (De Kelly KA, Teotia SS: Proximal gastric vagotomy. In Baker RJ,</p><p>Fischer JE, editors: Mastery of surgery, Philadelphia, 2001, Lippincott Williams & Wilkins.)</p><p>As taxas de recorrência após uma vagotomia superseletiva são variáveis e dependem da habilidade do cirurgião e do</p><p>tempo de acompanhamento.</p><p>É necessário um seguimento de longo prazo para avaliar os resultados desse procedimento,</p><p>devido aos relatos de elevação das taxas de recorrência com o passar do tempo. As taxas de recorrência variam de 10% a</p><p>15% quando esse procedimento é realizado por cirurgiões experientes. Estas são ligeiramente superiores àquelas relatadas</p><p>após a vagotomia troncular em combinação com piloroplastia; no entanto, a vagotomia superseletiva apresenta taxas</p><p>menores de dumping e diarreia.</p><p>Vagotomia troncular e antrectomia</p><p>A antrectomia geralmente não é realizada para as úlceras duodenais e é mais comumente utilizada nas úlceras gástricas. As</p><p>contraindicações relativas são cirrose e estenose do duodeno proximal, que dificultam um fechamento duodenal, e</p><p>operações prévias no duodeno proximal, como uma coledocoduodenostomia. Quando realizada junto com vagotomia</p><p>troncular, ela é muito mais eficaz na redução da secreção ácida e na recidiva do que a vagotomia troncular associada a um</p><p>procedimento de drenagem ou a uma vagotomia superseletiva. A taxa de recorrência ulcerosa após vagotomia troncular e</p><p>antrectomia é baixa, variando de 0% a 2%. No entanto, esta baixa taxa de recidiva precisa ser cotejada com os 20% de</p><p>incidência de síndromes pós‑gastrectomia e pós‑vagotomia em pacientes submetidos a antrectomia, aos tempos operatórios</p><p>mais prolongados e à elevação da morbidade pós‑operatória.</p><p>A antrectomia requer uma reconstrução da continuidade do trânsito GI que pode ser realizada por meio de</p><p>gastroduodenostomia (Billroth I [Fig. 48‑14]) ou gastrojejunostomia (tanto Billroth II [Fig. 48‑15] quanto reconstrução em Y</p><p>de Roux). Nas doenças benignas, a gastroduodenostomia geralmente é a escolhida, já que evita os problemas da síndrome</p><p>do antro residual, a deiscência do coto duodenal e a obstrução da alça aferente, associados à gastrojejunostomia. Se o</p><p>duodeno estiver significativamente fibrosado, a gastroduodenostomia pode se tornar tecnicamente mais difícil, sendo</p><p>indicada a gastrojejunostomia. Se for realizada uma gastrojejunostomia, a alça do jejuno escolhida para a anastomose deve</p><p>passar através do mesocólon transverso, de forma retrocólica. A anastomose retrocólica permite a redução do comprimento</p><p>da alça aferente e reduz a probabilidade de torção ou acotovelamento, o que poderia potencialmente levar a uma obstrução</p><p>da alça aferente e predispor às devastadoras complicações de uma deiscência do coto duodenal. Embora a vagotomia e a</p><p>antrectomia sejam bastante eficazes no tratamento das úlceras, hoje elas são raramente utilizadas no tratamento de</p><p>pacientes com doença ulcerosa péptica. Em geral, operações de menor magnitude são realizadas mais frequentemente na</p><p>era do H. pylori. A taxa de mortalidade global para antrectomia é de aproximadamente 2%, mas é maior em pacientes com</p><p>comorbidades, como diabetes insulinodependente ou imunossupressão. Aproximadamente 20% dos pacientes</p><p>desenvolvem algum tipo de complicação pós‑gastrectomia ou pós‑vagotomia (ver adiante).</p><p>FIGURA 4814 Hemigastrectomia com anastomose a Billroth I (gastroduodenal). (De Dempsey D, Pathak A:</p><p>Antrectomy. Oper Tech Gen Surg 5:86–100, 2003.)</p><p>FIGURA 4815 Gastrectomia subtotal com anastomose a Billroth II.</p><p>Úlceras gástricas</p><p>O sistema modificado de classificação anatômica de Johnson para úlceras gástricas (i. e., tipos I a V, descritos na Tabela 48‑</p><p>5) foi desenvolvido antes da compreensão moderna de que a maior parte das úlceras são uma consequência da infecção</p><p>por H. pylori ou do uso de AINEs. No entanto, apesar de ter aumentado o conhecimento sobre os mecanismos de como e</p><p>por que a maior parte das úlceras se desenvolve, este sistema de classificação histórico ainda é relevante para o tratamento</p><p>cirúrgico porque dita qual a operação a ser realizada no contexto de complicações dessas úlceras, mais frequentemente a</p><p>perfuração.</p><p>Tabela 485</p><p>Tipos de Úlcera Gástrica</p><p>TIPO LOCALIZAÇÃO NÍVEL DE ÁCIDO</p><p>I Pequena curvatura na incisura Baixo a normal</p><p>II Corpo gástrico com úlcera duodenal Aumentado</p><p>III Pré‑pilórica Aumentado</p><p>IV Alta na pequena curvatura Normal</p><p>V Em qualquer lugar Normal, induzido por AINE</p><p>AINE, antiinflamatórios não esteroidais.</p><p>As úlceras gástricas podem ocorrer em qualquer local no estômago, apesar de geralmente estarem presentes na pequena</p><p>curvatura, perto da incisura angularis. Aproximadamente 60% das úlceras estão nessa localização e são classificadas como</p><p>úlceras gástricas tipo I. Essas úlceras, em geral, não estão associadas à secreção excessiva de ácido e podem ocorrer com</p><p>baixo débito ácido. A maior parte ocorre em até 1,5 cm da zona de transição histológica entre as mucosas do fundo/corpo e</p><p>do antro, e não está associada a anormalidades das mucosas duodenais, pilóricas ou pré‑pilóricas. Em contrapartida, as</p><p>úlceras gástricas tipo II (cerca de 15%) estão localizadas no corpo do estômago, em combinação com uma úlcera duodenal.</p><p>Esses tipos de úlceras geralmente estão associados a uma elevada secreção de ácido. As úlceras gástricas do tipo III são</p><p>úlceras pré‑pilóricas e responsáveis por cerca de 20% das lesões. Elas também se comportam como úlceras duodenais e</p><p>estão associadas à hipersecreção de ácido gástrico. As úlceras gástricas do tipo IV ocorrem em uma parte alta da pequena</p><p>curvatura, próximas à junção esofagogástrica. A incidência das úlceras gástricas do tipo IV é menor que 10%, e estas não</p><p>estão associadas a uma secreção elevada de ácido. As úlceras gástricas do tipo V podem ocorrer em qualquer local e estão</p><p>associadas ao uso prolongado de AINEs. Finalmente, algumas úlceras podem aparecer na grande curvatura do estômago,</p><p>mas a incidência é menor que 5%.</p><p>As úlceras gástricas raramente se desenvolvem antes dos 40 anos de idade, e o pico de incidência ocorre entre 55 e 65</p><p>anos. Elas ocorrem em maior frequência em pacientes de classe socioeconômica baixa e são um pouco mais comuns na</p><p>população não branca. A patogênese exata da úlcera gástrica benigna é menos compreendida do que a das úlceras</p><p>duodenais, mas a maior parte é causada por H. pylori ou pelo uso de AINEs. Algumas condições clínicas que podem</p><p>predispor à ulceração gástrica incluem ingestão crônica de álcool, tabagismo, terapia com corticosteroides de longa duração,</p><p>infecção e terapêuticas intra‑arteriais. No que concerne à secreção de ácido e de pepsina, a presença de ácido parece ser</p><p>essencial à produção de úlcera gástrica; no entanto, o débito secretor total parece ser menos importante. Ao contrário da</p><p>acidificação do duodeno que leva à formação de úlceras, os pacientes com úlceras gástricas causadas por H. pylori têm</p><p>produção ácida gástrica normal ou reduzida. A formação das úlceras deve‑se mais provavelmente a uma resposta</p><p>inflamatória à infecção bacteriana em si, que é mais densamente concentrada na junção entre o corpo e o antro gástricos.</p><p>Entretanto, uma cicatrização rápida segue‑se ao tratamento com antiácido, com agentes antissecretores ou após vagotomia,</p><p>mesmo quando a porção do estômago que contém a úlcera é deixada intacta porque, na presença de lesão da mucosa</p><p>gástrica, o ácido é ulcerogênico mesmo quando presente em quantidades normais ou abaixo do normal.</p><p>Apresentação Clínica</p><p>O desafio do tratamento clínico da úlcera gástrica é a diferenciação entre carcinoma gástrico e úlcera benigna. Isso contrasta</p><p>com as úlceras duodenais, nas quais a malignidade é extremamente rara. Como as úlceras duodenais, as úlceras gástricas</p><p>também se caracterizam por episódios recorrentes de quiescência e recidiva. Elas também causam dor, sangramento e</p><p>obstrução e podem perfurar. Em algumas ocasiões, as úlceras benignas podem evoluir e apresentar complicações como</p><p>fístulas gastrocólicas espontâneas. A intervenção cirúrgica é necessária em 8% a 20% dos pacientes</p><p>que evoluem com</p><p>complicações de sua doença ulcerosa gástrica. A hemorragia ocorre em aproximadamente 35% a 40% dos pacientes.</p><p>Geralmente, os pacientes que desenvolvem sangramento significativo de úlceras gástricas são de faixa etária mais avançada,</p><p>apresentam menor probabilidade de pararem de sangrar e têm maiores taxas de morbidade e mortalidade do que os</p><p>pacientes que sangram por úlcera duodenal. A complicação mais frequente da ulceração gástrica é a perfuração. A maioria</p><p>das perfurações ocorre ao longo da face anterior da pequena curvatura. Em geral, os pacientes idosos têm maiores taxas de</p><p>perfurações, e as úlceras maiores estão associadas à maior morbimortalidade. Analogamente à úlcera duodenal, a obstrução</p><p>distal do estômago pode também ocorrer em pacientes com úlcera gástrica tipos II ou III. No entanto, deve‑se diferenciar</p><p>cuidadosamente entre a obstrução benigna e a obstrução secundária ao carcinoma do antro.</p><p>Diagnóstico e Tratamento</p><p>O diagnóstico e o tratamento das úlceras gástricas geralmente são semelhantes aos da doença ulcerosa duodenal. A</p><p>diferença mais significativa é a possibilidade de malignidade em uma úlcera gástrica. Essa diferença fundamental exige que</p><p>o câncer seja descartado em apresentações agudas e crônicas de úlcera gástrica. A supressão de ácido e a erradicação do H.</p><p>pylori são dois aspectos importantes de qualquer tratamento.</p><p>Como ocorre com as úlceras duodenais, as úlceras intratáveis, que não cicatrizam, estão se tornando cada vez menos</p><p>comuns. É importante assegurar que o tempo adequado e o tratamento apropriado tenham sido utilizados para permitir a</p><p>cicatrização da úlcera. Isso inclui a confirmação de que o H. pylori foi erradicado e que foram eliminados os AINEs como</p><p>causa potencial. A presença de uma úlcera gástrica que não cicatriza, na era do H. pylori, deve levantar suspeitas sérias</p><p>sobre a possibilidade de malignidade subjacente. Esses pacientes devem ser submetidos a uma avaliação segura, com</p><p>múltiplas biópsias, para excluir malignidade antes de qualquer intervenção cirúrgica (Fig. 48‑16). A abordagem para a</p><p>úlcera gástrica complicada varia com o tipo de úlcera e sua associação fisiopatológica com níveis de ácido. As úlceras tipo I</p><p>e IV, que não estão associadas a níveis elevados de ácido, não necessitam de vagotomia. A Figura 48‑17mostra um algoritmo</p><p>para o tratamento de úlceras gástricas complicadas.</p><p>FIGURA 4816 Algoritmo para avaliação, tratamento e acompanhamento do paciente com úlcera gástrica.</p><p>FIGURA 4817 Algoritmo para o tratamento de úlcera gástrica complicada.</p><p>Úlcera gástrica tipo I</p><p>Para as úlceras gástricas de tipo I, mesmo com avaliação pré‑operatória apropriada, a malignidade é uma grande</p><p>preocupação, sendo necessária a excisão das úlceras que não cicatrizam. A excisão pode ser feita por meio de uma ressecção</p><p>em cunha que inclua a úlcera, embora isso dependa da localização anatômica exata da úlcera, de sua proximidade à junção</p><p>GE ou ao piloro e do comprimento da pequena curvatura do estômago. A ressecção em geral é curativa e permite um exame</p><p>histopatológico mais minucioso da peça cirúrgica. A gastrectomia distal sem vagotomia também pode ser realizada, mas</p><p>apresenta taxa de morbidade de 3% a 5%, com mortalidade variando de 1% a 2%. A recidiva é menor que 5%. Não há</p><p>evidências de que a gastrectomia seja superior à ressecção isolada da úlcera.</p><p>Úlceras gástricas tipo II e III</p><p>Como as úlceras gástricas tipos II e III estão associados a níveis elevados de ácido, a cirurgia para doença intratável precisa</p><p>basear‑se na ácido‑redução. Deve ser realizada uma gastrectomia distal em associação à vagotomia troncular. Demonstrou‑</p><p>se que pacientes submetidos à vagotomia superseletiva para os tipos II ou III, de úlceras gástricas, tiveram resultados piores</p><p>quando comparados com os submetidos às ressecções. No entanto, alguns médicos defendem a realização de uma</p><p>vagotomia de células parietais por intervenção laparoscópica e reservam a ressecção gástrica para aqueles que desenvolvem</p><p>recidiva da úlcera.</p><p>Úlceras gástricas tipo IV</p><p>A úlcera gástrica tipo IV apresenta um problema de difícil tratamento. O tratamento cirúrgico depende do tamanho da</p><p>úlcera, da distância da junção GE e do grau de inflamação circunjacente. Sempre que possível, a úlcera deve ser ressecada.</p><p>A abordagem preferida é ressecção da úlcera sem gastrectomia e sem a morbidez resultante do pequeno coto gástrico</p><p>remanescente. Às vezes isso não é possível, e uma gastrectomia é necessária. A abordagem mais agressiva seria a realização</p><p>de uma gastrectomia total, que inclua uma pequena porção da parede esofagiana e da úlcera, seguida por uma</p><p>esofagojejunostomia em Y de Roux para restabelecer a continuidade do trânsito intestinal. Nas úlceras do tipo IV</p><p>localizadas de 2 a 5 cm da junção GE, pode ser realizada uma gastrectomia distal com ressecção vertical da pequena</p><p>curvatura incluindo a úlcera (procedimento de Csendes). Após a ressecção, a continuidade intestinal é restabelecida</p><p>mediante uma gastroduodenostomia terminoterminal ou de uma gastrojejunostomia.</p><p>Úlceras gástricas hemorrágicas</p><p>O tratamento das úlceras gástricas hemorrágicas depende de sua causa e localização; no entanto, a abordagem inicial é</p><p>semelhante à da úlcera duodenal. Pacientes requerem medidas de reanimação, monitoramento e investigação endoscópica.</p><p>Até 70% das úlceras gástricas são H. pylori‑positivas, e assim, uma tentativa deve ser feita para controlar a hemorragia</p><p>endoscopicamente, com obtenção de múltiplas biópsias da úlcera para excluir malignidade e, ao mesmo tempo, realização</p><p>de biópsias do corpo e do antro para avaliação de infecção por H. pylori. Pacientes cuja hemorragia pode ser controlada e</p><p>que são H. pylori‑positivos devem ser submetidos a tratamento subsequente para infecção por H. pylori. Para a hemorragia</p><p>que não pode ser controlada, a intervenção cirúrgica depende novamente do tipo de úlcera gástrica. Em todos os casos, a</p><p>úlcera deve ser excisada com a inclusão de uma vagotomia dependendo da causa da úlcera (essencialmente para úlceras</p><p>intratáveis, não decorrentes de infecção por H. pylori ou do uso de AINEs que podem ser suspensos).</p><p>Úlceras gástricas perfuradas</p><p>Para as úlceras gástricas perfuradas do tipo I que ocorrem em pacientes estáveis, a gastrectomia distal com anastomose a</p><p>Billroth I é recomendada. Em pacientes instáveis, a sutura simples com patch de omento associada à biópsia e tratamento</p><p>do H. pylori, se positivo, é a conduta recomendada. Entretanto, mesmo que a biópsia seja negativa, o risco de malignidade</p><p>ainda existe e deve ser afastado; portanto, é necessário documentar a cura mediante nova endoscopia com biópsias.</p><p>Acrescentar vagotomia nas úlceras gástricas perfuradas tipo I é improvável que traga algum benefício. Tendo em vista que</p><p>as úlceras gástricas dos tipos II e III se comportam como úlceras duodenais, elas podem ser simplesmente tratadas com</p><p>fechamento da perfuração associada a um patch, com ou sem vagotomia troncular e piloroplastia, dependendo das</p><p>condições clínicas do paciente, do seu estado hemodinâmico e da extensão da peritonite. Em seguida, estes pacientes, caso</p><p>positivos para H. Pylori, devem ser tratados.</p><p>Úlceras gástricas gigantes</p><p>Úlceras gástricas gigantes são definidas como úlceras com diâmetro de 2 cm ou maior. Geralmente estão localizadas na</p><p>pequena curvatura e têm maior incidência de malignidade (10%) do que as úlceras menores. Muitas vezes, essas úlceras</p><p>penetram em estruturas contíguas, como baço, pâncreas, fígado ou cólon transverso, e são falsamente diagnosticadascomo</p><p>uma lesão maligna irressecável, apesar dos resultados normais da biópsia. A incidência de malignidade provavelmente</p><p>varia de 6% a 30% e cresce com o tamanho da úlcera. As úlceras</p><p>gástricas gigantes apresentam uma grande probabilidade</p><p>de desenvolver complicações (p. ex., perfuração, sangramento). O tratamento clínico cura 80% dessas úlceras, mas nova</p><p>endoscopia deve ser realizada em 6 a 8 semanas. Para complicações ou insucesso da cicatrização, a operação de escolha é a</p><p>gastrectomia incluindo o leito da úlcera, com vagotomia reservada para as úlceras gástricas dos tipos II e III. No paciente de</p><p>alto risco, com comorbidades significativas, pode‑se considerar uma ressecção local combinada com vagotomia e</p><p>piloroplastia; fora isto, a ressecção apresenta a maior chance de um resultado bem‑sucedido.</p><p>Síndrome de ZollingerEllison</p><p>A síndrome de Zollinger‑Ellison (SZE) é uma tríade clínica, que consiste de hipersecreção de ácido gástrico, doença ulcerosa</p><p>péptica grave e tumor de células nãoβ das ilhotas pancreáticas. Estes tumores se encontram na família mais numerosa de</p><p>tumores neuroendócrinos. O tumor de células das ilhotas produz hipergastrinemia e doença ulcerosa péptica. A</p><p>hipergastrinemia da SZE é responsável pela maioria, se não todos, os sintomas clínicos apresentados pelos pacientes. Dor</p><p>abdominal e doença ulcerosa péptica são característicos da síndrome e ocorrem em mais de 80% dos casos. Os pacientes</p><p>também podem apresentar perda de peso, diarreia, esteatorreia e esofagite. A endoscopia, em geral, mostra pregas gástricas</p><p>proeminentes, refletindo o efeito trófico da hipergastrinemia sobre o corpo e o fundo gástrico, além de evidência de doença</p><p>ulcerosa péptica. Aproximadamente um quarto dos pacientes com SZE são portadores de neoplasia endócrina múltipla tipo</p><p>1, uma síndrome autossômica dominante.</p><p>Os testes provocativos da secreção gástrica em geral não são necessários para estabelecer o diagnóstico de SZE porque os</p><p>níveis de gastrina plasmática em jejum em geral estão elevados. A maioria dos pacientes com gastrinoma apresenta níveis</p><p>de gastrina sérica em jejum elevados (> 200 pg/mL), e valores acima de 1.000 pg/mL são diagnósticos. No entanto, dois</p><p>terços dos pacientes com gastrinomas têm níveis de gastrina de jejum entre 150 e 1.000 pg/mL.14 O diagnóstico de SZE</p><p>nesses pacientes é difícil porque o uso de IBP, infecção por H. pylori e insuficiência renal, podem causar elevação da gastrina</p><p>de jejum nestes níveis. Em pacientes com níveis de gastrina dentro destes valores duvidosos, o teste diagnóstico mais</p><p>sensível é a avaliação dos níveis de gastrina após estímulo da secretina. As amostras de gastrina sérica são avaliadas antes e</p><p>após a administração intravenosa de secretina (2 U/kg) em intervalos de 5 minutos durante 30 minutos. Uma elevação da</p><p>gastrina sérica de mais de 200 pg/mL acima dos níveis basais é altamente sugestivo de gastrinoma, em comparação com</p><p>outras causas de hipergastrinemia, que não produzem essa resposta.</p><p>Com o diagnóstico de gastrinoma, a terapêutica de supressão ácida é iniciada, preferencialmente com um IBP em altas</p><p>doses. O tratamento clínico está indicado pré‑operatoriamente e para pacientes com gastrinoma metastático ou irressecável.</p><p>O próximo passo no tratamento é a localização e o estadiamento do tumor. A maior parte dos gastrinomas está localizada</p><p>no duodeno ou no pâncreas, no “triângulo do gastrinoma”; os pontos deste triângulo são constituídos pela junção do ducto</p><p>cístico com a via biliar principal, pela junção entre cabeça e corpo do pâncreas e pela junção entre a segunda e a terceira</p><p>porções do duodeno (Fig. 48‑18). O melhor estudo de imagem inicial para localizar o tumor secretor de gastrina é a</p><p>tomografia computadorizada (TC) ou a RM do abdome. No entanto, essas modalidades de imagem têm uma sensibilidade</p><p>relativamente baixa na detecção de tumores que têm menos de 1 cm de diâmetro, bem como de metástases hepáticas de</p><p>pequenas dimensões.15 Se a imagem inicial não for diagnóstica, a localização pode por vezes ser conseguida com a</p><p>cintilografia de receptores de somatostatina ou com o ultrassom endoscópico (USE). A cintilografia de receptores de</p><p>somatostomia usa o octreotide marcado com radionucleotídeos que se liga às células tumorais e pode detectar metástases</p><p>hepáticas em 85% a 95% dos pacientes, contra os 70% a 80% com exame de imagem convencional.</p><p>FIGURA 4818 Localização dos gastrinomas, no momento da cirurgia, que não foram detectados na imagem</p><p>préoperatória. A maior parte dos tumores estava localizada na primeira e na segunda porções do duodeno e na</p><p>cabeça do pâncreas, dentro do chamado triângulo do gastrinoma. (De Norton JA, Fraker DL, Alexander HR et al: Value of</p><p>surgery in patients with negative imaging and sporadic ZolingerEllison syndrome. Ann Surg 256:509–517, 2012.)</p><p>O gastrinoma localizado deve ser ressecado; no entanto, taxas de cura a longo prazo são de menos de 40%. Embora a</p><p>imagem pré‑operatória seja útil no planejamento da ressecção cirúrgica, não é necessária em todos os casos. Em pacientes</p><p>com SZE confirmada pelos níveis de gastrina mas com exames de imagem negativos, o tumor primário pode ser localizado</p><p>na exploração cirúrgica em 98% dos casos.16 Uma vez que o tumor seja localizado intraoperatoriamente, uma ressecção de</p><p>acordo com princípios oncológicos deve ser realizada (em vez de uma enucleação do tumor), tendo em vista que metástases</p><p>linfonodais estão presentes em 43% a 82% dos casos; no entanto esse ponto é controverso. O papel da cirurgia em pacientes</p><p>com SZE e neoplasia endócrina múltipla tipo I é também tema de debate, uma vez que estes pacientes têm taxas de recidiva</p><p>mais elevadas e a ressecção é raramente curativa. Os pacientes com recorrência tumoral ou doença metastática devem ser</p><p>tratados com quimioterapia (estreptozotocina e 5‑fluorouracil ou doxorrubicina ou ambos), com taxas de resposta clínica de</p><p>20% a 45%, mas nunca é curativa.</p><p>Gastrite de estresse</p><p>A gastrite de estresse, por definição, ocorre após trauma, choque, sepse, hemorragia ou insuficiência respiratória e pode</p><p>resultar em sangramento gástrico com risco de vida. Ela se caracteriza por múltiplas erosões superficiais (não ulcerativas)</p><p>que começam na porção proximal ou secretora de ácido do estômago e progridem distalmente. Também podem ocorrer no</p><p>contexto de doença do sistema nervoso central (úlcera de Cushing) ou como resultado de queimadura térmica envolvendo</p><p>mais de 30% da superfície corporal (úlcera de Curling).</p><p>As lesões de gastrite de estresse se modificam com o decorrer do tempo. Elas são consideradas lesões precoces caso</p><p>ocorram nas primeiras 24 horas e caracterizadas por erosões múltiplas, rasas e com áreas discretas de eritema, associadas a</p><p>uma hemorragia focal ou a um coágulo aderente. Se a lesão erosar para a submucosa, que contém o suprimento vascular,</p><p>pode ocorrer sangramento importante. No exame microscópico, essas lesões apresentam aspecto cuneiforme, com necrose</p><p>de coagulação das células superficiais da mucosa. Elas quase sempre são observadas no fundo do estômago e apenas</p><p>raramente na porção distal do estômago. A gastrite de estresse aguda pode ser classificada como tardia se houver reação ou</p><p>organização tecidual ao redor de um coágulo, ou se um exsudato inflamatório estiver presente. Esse quadro pode ser</p><p>visualizado pela microscopia 24 a 72 horas após o trauma. As lesões tardias parecem idênticas à mucosa em regeneração em</p><p>torno de uma úlcera gástrica em cicatrização. Ambos os tipos de lesão podem ser visualizados endoscopicamente.</p><p>Fisiopatologia</p><p>Ainda que os mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da gastrite de estresse não sejam completamente conhecidos,</p><p>as evidências atuais sugerem uma etiologia multifatorial. Essas lesões gástricas induzidas pelo estresse parecem necessitar</p><p>da presença de ácido. Outros fatores que podem predispor ao seu desenvolvimento incluem o comprometimento dos</p><p>mecanismos de defesa da mucosa que atuam contra o ácido gástrico, como redução no fluxo de sangue, do</p><p>muco, da</p><p>secreção de bicarbonato pelas células mucosas, ou da prostaglandina endógena. Todos esses fatores tornam o estômago</p><p>mais suscetível ao dano proveniente do ácido, com a resultante gastrite hemorrágica. O estresse é considerado presente</p><p>quando ocorre hipóxia, sepse ou falência de órgãos. Na vigência de um estresse, acredita‑se que a isquemia da mucosa seja</p><p>o principal fator responsável pela degradação desses mecanismos normais de defesa. Existem poucas evidências que</p><p>sugiram que haja aumento da secreção gástrica de ácido nessa situação. No entanto, a presença de ácido parece ser um pré‑</p><p>requisito para que essa forma de gastrite possa se desenvolver. Além disso, a neutralização completa do ácido ou a terapia</p><p>antissecretora impedem o desenvolvimento de gastrite de estresse experimental.</p><p>Manifestação e Diagnóstico</p><p>Mais de 50% dos pacientes desenvolvem sua gastrite de estresse 1 a 2 dias após o evento traumático. O único sinal clínico</p><p>pode ser um sangramento gastrointestinal alto, tardio e indolor. O sangramento geralmente é lento e intermitente, e pode</p><p>ser detectado apenas por umas poucas manchas de sangue no cateter nasogástrico e/ou uma queda inexplicável dos níveis</p><p>de hemoglobina. Ocasionalmente, pode haver importante hemorragia gastrointestinal alta acompanhada por hipotensão e</p><p>hematêmese. As fezes geralmente são positivas para o teste do guáiaco, apesar de a melena e a hematoquezia serem raras. A</p><p>endoscopia é fundamental para confirmar o diagnóstico e diferenciar a gastrite de estresse de outras fontes de hemorragia</p><p>gastrointestinal.</p><p>Profilaxia</p><p>Por causa da elevada taxa de mortalidade em pacientes com gastrite de estresse aguda que desenvolvem hemorragia GI alta</p><p>maciça, os pacientes de alto risco devem ser tratados de forma profilática. Uma vez que a isquemia da mucosa pode alterar</p><p>muitos mecanismos de defesa que permitem que o estômago resista aos irritantes luminais e se proteja da lesão, todos os</p><p>esforços devem ser feitos no sentido de corrigir quaisquer déficits de perfusão secundários ao choque. Os dois principais</p><p>fatores de risco para o desenvolvimento de hemorragia clinicamente significativa de úlceras gástricas de estresse são a</p><p>coagulopatia e a insuficiência respiratória, que requer ventilação mecânica prolongada (> 48 horas). Pacientes na unidade de</p><p>tratamento intensivo sem esses fatores de risco são menos suscetíveis de desenvolver hemorragia significativa (incidência</p><p>de 0,1%). Além disso, o aumento profilático do pH gástrico pode aumentar as taxas de pneumonia associada à ventilação</p><p>mecânica e de infecção por Clostridium difficile. Por essas razões, apenas os pacientes criticamente doentes com coagulopatia</p><p>ou ventilação mecânica prolongada devem receber profilaxia.17 A nutrição enteral reduz o risco de formação de úlcera de</p><p>estresse e deve ser iniciada logo que possível. Alguns especialistas defendem a não administração de profilaxia em</p><p>pacientes que estão sendo alimentados por via enteral, mesmo que eles tenham fatores de risco, embora isso seja</p><p>controverso. Se a profilaxia estiver indicada, um IBP, em vez de antagonistas H2 ou sucralfato, deve ser usado, embora a</p><p>evidência para isso seja fraca, e mais estudos comparativos sejam necessários.</p><p>Tratamento</p><p>Qualquer paciente com sangramento gastrointestinal alto necessita de reposição imediata de líquidos e correção de</p><p>quaisquer anormalidades da coagulação ou de plaquetas. O tratamento da sepse subjacente exerce um papel importante no</p><p>tratamento das erosões gástricas. Mais de 80% dos pacientes que apresentam hemorragia gastrointestinal alta param de</p><p>sangrar apenas com medidas de suporte clínico. Existem poucas evidências sugerindo que a endoscopia com eletrocautério</p><p>ou coagulação por sonda de aquecimento (heater probe) apresente qualquer benefício na terapia do sangramento pela</p><p>gastrite aguda de estresse. No entanto, alguns estudos sugerem que o sangramento agudo pode ser eficazmente controlado</p><p>pela infusão seletiva de vasopressina na circulação esplâncnica via artéria gástrica esquerda. A vasopressina é administrada</p><p>por infusão contínua por meio de cateter a uma velocidade de 0,2 a 0,4 UI/min, durante um período máximo de 48 a 72</p><p>horas. Se o paciente tiver uma doença cardíaca ou hepática subjacente, este tipo de tratamento não deve ser utilizado.</p><p>Apesar de a vasopressina poder reduzir a perda de sangue, não se demonstrou que resulte em melhora da sobrevida. Outra</p><p>técnica angiográfica que pode ser utilizada é a embolização da artéria gástrica esquerda se o sangramento for identificado</p><p>na angiografia. No entanto, o extenso plexo de vasos arteriais submucosos do estômago torna essa abordagem menos</p><p>atraente e não tão bem‑sucedida.</p><p>O sangramento que recorre ou persiste, precisando de mais de 6 U de sangue (3.000 mL), constitui indicação para</p><p>cirurgia. Pelo fato de a maioria das lesões estar na parte proximal ou no fundo do estômago, deve ser executada uma</p><p>gastrotomia anterior ampla nessa área. Deve‑se remover completamente o sangue do lúmen gástrico e inspecionar a</p><p>superfície mucosa à procura de pontos de sangramento. As áreas de sangramento são suturadas com pontos em oito,</p><p>passados profundamente na parede gástrica. A maioria das erosões superficiais normalmente não está sangrando</p><p>ativamente e não precisam de ligadura, a menos que se visualize um vaso sanguíneo na sua base. A operação é encerrada</p><p>fechando‑se a gastrotomia anterior e realizando‑se vagotomia troncular e piloroplastia para reduzir a secreção ácida. A</p><p>incidência de ressangramento é menor que 5% se os pontos sangrantes forem cuidadosamente identificados e ligados.</p><p>Menos comumente, uma gastrectomia parcial em combinação com vagotomia precisa ser realizada. Raramente, e apenas em</p><p>pacientes com hemorragia ameaçadora à vida e refratária a outras formas de tratamento, a gastrectomia total poderá ser</p><p>realizada.</p><p>Síndromes pósgastrectomia</p><p>A cirurgia gástrica resulta em numerosas alterações fisiológicas causadas pela perda da função de reservatório, interrupção</p><p>do mecanismo esfincteriano do piloro e secção do nervo vago. Essas alterações fisiológicas geralmente não causam sintomas</p><p>em longo prazo. Sintomas gastrointestinais e cardiovasculares podem resultar em distúrbios denominados genericamente</p><p>de síndromes pós‑gastrectomia. Aproximadamente 25% dos pacientes que se submetem a uma operação para a doença</p><p>ulcerosa péptica subsequentemente desenvolvem algum grau de síndrome pós‑‑gastrectomia, apesar de essa frequência ser</p><p>muito menor na vagotomia superseletiva. As alterações fisiológicas não são específicas da DUP e podem ocorrer após</p><p>gastrectomias para ressecção de neoplasias ou após bypass em Y de Roux para tratamento de obesidade mórbida. Apenas</p><p>aproximadamente 1% dos pacientes tornam‑se permanentemente incapacitados pelos seus sintomas.</p><p>Síndrome de Dumping</p><p>A síndrome de Dumping pode ser precoce (20 a 30 minutos após a ingestão) ou tardia (2 ou 3 horas após uma refeição).</p><p>O dumping precoce é mais comum, com sintomas gastrointestinais mais intensos e menos efeitos cardiovasculares. Os</p><p>sintomas GI incluem náuseas e vômitos, sensação de plenitude epigástrica, dor abdominal em cólicas e frequentemente</p><p>diarreia explosiva. Os sintomas cardiovasculares incluem palpitações, taquicardia, diaforese, desmaios, tonturas, rubor e,</p><p>ocasionalmente, visão turva. Esse complexo sintomático pode desenvolver‑se após qualquer operação do estômago, mas é</p><p>mais comum após gastrectomia parcial com reconstrução a Billroth II. É bem menos observado após a gastrectomia com</p><p>reconstrução a Billroth I ou após vagotomia com procedimentos de drenagem.</p><p>O dumping precoce ocorre em razão da rápida passagem do alimento de alta osmolaridade do estômago para o intestino</p><p>delgado.</p><p>provém de T5 a T10, caminhando no nervo esplâncnico para o gânglio celíaco. As fibras pós‑ganglionares</p><p>caminham com o sistema arterial para inervar o estômago.</p><p>O sistema nervoso mioentérico do estômago consiste de neurônios nos plexos neuronais autonômicos de Auerbach e de</p><p>Meissner. Nesses pontos, estão presentes os neurônios colinérgicos, serotoninérgicos e peptidérgicos. No entanto, a função</p><p>desses neurônios é pouco compreendida. Todavia, numerosos neuropeptídeos foram localizados nesses neurônios, entre</p><p>eles a acetilcolina, a serotonina, a substância P, o peptídeo relacionado com o gene da calcitonina, a bombesina, a</p><p>colecistocinina (CCK) e a somatostatina. Consequentemente, seria excessivamente simplista pensar no estômago como</p><p>contendo apenas um fornecimento parassimpático (estímulo colinérgico) e simpático (estímulo adrenérgico). Além do mais,</p><p>o sistema nervoso parassimpático contém neurônios adrenérgicos, e o sistema simpático contém neurônios colinérgicos.</p><p>Morfologia Gástrica</p><p>O estômago é revestido pelo peritônio, que forma a sua serosa. Abaixo está a muscular própria ou muscular externa, que é</p><p>composta de três camadas de músculos lisos. A camada média de músculo liso é circular, e é a única camada muscular</p><p>completa da parede gástrica. No piloro, essa camada muscular média circular torna‑se progressivamente mais espessa e</p><p>funciona como um verdadeiro esfíncter anatômico. A camada muscular externa é longitudinal e continua com a camada</p><p>externa longitudinal lisa do esôfago. Dentro das camadas da muscular externa encontra‑se um rico plexo nervoso autônomo</p><p>e de gânglios, denominado plexo mioentérico de Auerbach. A submucosa encontra‑se entre a muscular externa e a mucosa, e é</p><p>uma camada de tecido conjuntivo rica em colágeno, que é a parte mais resistente da parede gástrica. Além disso, ela contém</p><p>a rica rede anastomótica de vasos sanguíneos e de linfáticos e o plexo de Meissner. A mucosa consiste em epitélio</p><p>superficial, lâmina própria e muscular da mucosa. Esta última está do lado luminal da submucosa e, provavelmente, é</p><p>responsável pelas rugas que ampliam enormemente a área da superfície epitelial. Ela também demarca os limites</p><p>microscópicos para o carcinoma gástrico invasivo e não invasivo. A lâmina própria representa uma pequena camada de</p><p>tecido conjuntivo e contém capilares, vasos, linfáticos e nervos necessários para manter a superfície epitelial.</p><p>Anatomia Microscópica Gástrica</p><p>A mucosa gástrica é formada por epitélio constituído de glandulares colunares. A população de células (e funções) que</p><p>formam este epitélio glandular variam de acordo com a sua localização no estômago (Tabela 48‑1). O epitélio glandular é</p><p>dividido em células que secretam produtos para digestão no lúmen gástrico (células parietais, células principais e células</p><p>mucossecretoras) e células que controlam as atividades funcionais (células G secretoras de gastrina, células D secretoras de</p><p>somatostatina). Na cárdia, a mucosa é organizada em glândulas ramificadas e as criptas são curtas. No fundo e no corpo, as</p><p>glândulas são mais tubulares e as criptas são mais longas. No antro, as glândulas são mais ramificadas. As terminações</p><p>luminais das glândulas gástricas e das criptas são revestidas por células epiteliais superficiais secretoras de muco, que se</p><p>estendem ao longo do colo das glândulas por distâncias variáveis. Na cárdia, as glândulas são predominantemente</p><p>secretoras de muco. No corpo, as glândulas são revestidas do colo até a base principalmente por células parietais</p><p>e principais (Fig. 48‑5). Existem umas poucas células parietais no fundo gástrico e na parte proximal do antro, mas</p><p>nenhuma na cárdia ou no antro pré‑pilórico. As células endócrinas G estão presentes em maior quantidade nas glândulas</p><p>antrais.</p><p>Tabela 481</p><p>Tipos, Localização e Função das Células Gástricas</p><p>TIPO DE CÉLULA LOCALIZAÇÃO FUNÇÃO</p><p>Parietal Corpo Secreção de ácido e fator intrínseco</p><p>Mucosa Corpo, antro Muco</p><p>Principal Corpo Pepsina</p><p>Superfície epitelial Difusa Muco, bicarbonato, prostaglandinas (?)</p><p>Semelhantes às enterocromafins Corpo Histamina</p><p>G Antro Gastrina</p><p>D Corpo, antro Somatostatina</p><p>Interneurônios da mucosa gástrica Corpo, antro Peptídeo liberador de gastrina</p><p>Neurônios entéricos Difusa Peptídeo relacionado com o gene de calcitonina, outros</p><p>Endócrinas Corpo Grelina</p><p>FIGURA 485 Células que se situam dentro de uma glândula gástrica. (De Yeo C, Dempsey DT, Klein AS et al,</p><p>editors: Shackelford’s surgery of the alimentary tract, ed 6, Philadelphia, 2007, Saunders.)</p><p>Fisiologia</p><p>A principal função do estômago é preparar o alimento ingerido para a digestão e absorção à medida que é impulsionado</p><p>para o intestino delgado. O período inicial da digestão requer que os componentes sólidos de uma refeição sejam</p><p>armazenados por várias horas, enquanto sofrem uma redução em seu tamanho e se degradam em seus constituintes</p><p>metabólicos básicos.</p><p>O relaxamento receptivo do estômago proximal capacita o estômago a funcionar como um órgão de armazenamento. O</p><p>relaxamento receptivo refere‑se a um processo pelo qual a porção proximal do estômago relaxa‑se em antecipação à</p><p>ingestão do alimento. Esse relaxamento possibilita aos líquidos passarem facilmente pelo estômago ao longo da curvatura</p><p>menor, enquanto os alimentos sólidos se acomodam ao longo da curvatura maior. Em contraste com o que ocorre com os</p><p>líquidos, o esvaziamento de alimentos sólidos é facilitado pelo antro, que bombeia os componentes dos alimentos sólidos</p><p>pelo piloro. O antro e o piloro funcionam de maneira coordenada, tornando possível a entrada de componentes alimentares</p><p>no duodeno e retornando o material para o estômago proximal, até que seja apropriada a sua liberação para o duodeno.</p><p>Além de armazenar alimentos, o estômago inicia a digestão de uma refeição. Amidos sofrem degradação enzimática pela</p><p>atividade da amilase salivar. A digestão péptica metaboliza a refeição em gorduras, proteínas e carboidratos pela ruptura</p><p>das paredes celulares. Embora o duodeno e o intestino delgado proximal sejam primariamente os responsáveis pela</p><p>digestão de uma refeição, o estômago facilita esse processo.</p><p>Regulação da Função Gástrica</p><p>A função gástrica está sob o controle neural (simpático e parassimpático) e hormonal (peptídeos ou aminas que interagem</p><p>com as células‑alvo no estômago). Uma compreensão dos papéis de regulação endócrina e neural da digestão é</p><p>fundamental para o entendimento da fisiologia gástrica. Achava‑se que a secreção anormal de gastrina e pepsina era o</p><p>principal fator etiológico na doença ulcerosa péptica (DPU). A descoberta do Helicobacter pylori e o efeito desse organismo</p><p>na doença ulcerosa tornou discutíveis diversos argumentos teóricos para hipersecreção ácida. Uma noção geral da fisiologia</p><p>gástrica e do impacto específico dos peptídeos na secreção ácida, no entanto, é ainda fundamental para compreender os</p><p>efeitos fisiológicos dos procedimentos cirúrgicos gástricos na digestão. Vamos inicialmente focar na regulação dos</p><p>peptídeos sobre a função gástrica e, em seguida, descrever as interações desses peptídeos com as estimulações neurais e sua</p><p>relação com a secreção ácida e com a função gástrica.</p><p>Peptídeos Gástricos</p><p>Gastrina</p><p>A gastrina é produzida pelas células G localizadas no antro gástrico (Tabela 48‑1). Ela é sintetizada como pré ou pró‑</p><p>peptídeo e sofre um processamento pós‑translacional para produzir peptídeos de gastrina biologicamente reativos. Existem</p><p>várias formas moleculares de gastrina. A G‑34 (gastrina grande), a G‑17 (gastrina pequena) e a G‑14 (minigastrina) foram</p><p>identificadas; 90% da gastrina antral é liberada como peptídeo de 17 aminoácidos, apesar de a G‑34 predominar na</p><p>circulação, pois a sua meia‑vida metabólica é</p><p>Isso ocorre porque a gastrectomia ou qualquer procedimento que interrompa o mecanismo esfincteriano pilórico,</p><p>impede o estômago de preparar o seu conteúdo e de liberá‑lo para o intestino proximal sob a forma de pequenas partículas</p><p>em solução isotônica. O bolo alimentar hipertônico resultante passa para o lúmen do intestino delgado, o que induz a uma</p><p>passagem rápida de líquido extracelular para a luz intestinal para tentar obter isotonicidade. Com este aporte de líquido</p><p>extracelular, ocorre distensão do lúmen intestinal e as respostas autonômicas listadas previamente.</p><p>A alteração básica no dumping tardio também é o esvaziamento gástrico rápido; no entanto, ele está relacionado</p><p>especificamente com a liberação acelerada dos carboidratos no interior do intestino delgado. Quando os carboidratos</p><p>penetram no intestino delgado, eles são rapidamente absorvidos, resultando em hiperglicemia, processo este que</p><p>desencadeia a liberação de grande quantidade de insulina para controlar a elevação da glicose sanguínea. Esta resposta</p><p>excessiva resulta em hipoglicemia profunda em resposta à insulina. A hipoglicemia estimula a glândula adrenal a liberar</p><p>catecolaminas, o que resulta em diaforese, tremores, tonturas, taquicardia e confusão mental. O complexo sintomático é</p><p>indistinguível do choque insulínico ou hipoglicêmico.</p><p>Os sintomas associados à síndrome de dumping precoce parecem ser secundários à liberação de vários agentes humorais,</p><p>como serotonina, substâncias semelhantes à bradicinina, neurotensina e enteroglucagon. As medidas dietéticas, em geral,</p><p>são suficientes para tratar a maioria dos pacientes. Essas condutas dietéticas incluem evitar alimentos que contenham</p><p>grande quantidade de açúcar, ingestão a intervalos menores de pequenas refeições ricas em proteínas e gorduras, e</p><p>separação de líquidos dos sólidos durante as refeições.</p><p>Em alguns pacientes sem resposta às medidas dietéticas, os agonistas de ação prolongada de octreotide têm melhorado os</p><p>sintomas. Esses peptídeos não só retardam o esvaziamento gástrico, como também afetam a motilidade do intestino</p><p>delgado tornando o trânsito intestinal da refeição ingerida mais prolongado. Os efeitos colaterais associados à</p><p>administração desses peptídeos sintéticos são relativamente brandos; no entanto, são medicamentos caros. Muitos</p><p>procedimentos foram preconizados para o tratamento cirúrgico desses pacientes. Mas o pequeno número de pacientes que</p><p>requerem tratamento para doença ulcerosa péptica mediante vagotomia ou gastrectomia tem tornado os procedimentos</p><p>cirúrgicos para síndrome de dumping extremamente raros.</p><p>Distúrbios Metabólicos</p><p>O distúrbio metabólico mais comum após gastrectomia é a anemia. A anemia está relacionada com a deficiência de ferro</p><p>(mais comum) ou o comprometimento do metabolismo da vitamina B12. Mais de 30% dos pacientes submetidos à</p><p>gastrectomia sofrem de anemia por deficiência de ferro. A causa exata ainda não é totalmente compreendida, mas parece</p><p>estar relacionada com a combinação de ingestão reduzida de ferro, absorção deficiente de ferro e perda crônica de sangue.</p><p>Em geral, a adição de suplementos de ferro à dieta do paciente corrige esse problema metabólico.</p><p>A anemia megaloblástica por deficiência de vitamina B12 desenvolve‑se apenas raramente após gastrectomia parcial, mas</p><p>depende da quantidade de estômago removido. A deficiência de vitamina ocorre pela má absorção de B12 da dieta pela falta</p><p>de fator intrínseco. Os pacientes submetidos à gastrectomia subtotal devem ser colocados sob suplementação vitalícia com</p><p>vitamina B12. Se um paciente desenvolve anemia macrocítica, os níveis séricos de vitamina B12 devem ser determinados e,</p><p>caso anormais, o paciente deve iniciar tratamento de longa duração com B12.</p><p>Osteoporose e osteomalacia também foram observadas após ressecção gástrica, e parecem estar relacionadas com a</p><p>deficiência de cálcio. Caso haja absorção deficiente de gordura concomitante, a má absorção de cálcio será agravada ainda</p><p>mais porque os ácidos graxos se ligam ao cálcio. A incidência desse problema também aumenta com a extensão da</p><p>ressecção gástrica, e geralmente está associada à gastrectomia com reconstrução à Billroth II. A doença óssea geralmente se</p><p>desenvolve aproximadamente de 4 a 5 anos após a cirurgia. O tratamento deste distúrbio geralmente requer suplementos</p><p>de cálcio (1 a 2 g/dia) em associação à vitamina D (500 a 5.000 U diariamente). Os pacientes com reconstrução à Billroth II ou</p><p>Y de Roux, que deixam o duodeno isolado do trânsito alimentar, devem também receber suplementação com vitaminas</p><p>lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K).</p><p>Síndrome da Alça Aferente</p><p>A síndrome da alça aferente ocorre como resultado de uma obstrução parcial da alça aferente, que é incapaz de esvaziar os</p><p>seus conteúdos. Com a obstrução da alça aferente, há um acúmulo de secreções pancreáticas e hepatobiliares no lúmen da</p><p>alça, resultando em sua distensão, o que causa desconforto epigástrico e cólicas. A pressão intraluminal eventualmente</p><p>aumenta o suficiente para esvaziar o conteúdo da alça aferente, com força, para o estômago, resultando em vômitos biliosos</p><p>e alívio imediato dos sintomas. Se a obstrução estiver presente por um período mais longo, o quadro também pode ser</p><p>agravado pelo desenvolvimento da síndrome da alça cega. Nessa situação, ocorre grande proliferação bacteriana na alça</p><p>parética, e as bactérias se ligam à vitamina B12 e aos ácidos biliares desconjugados. Isso resulta em deficiência sistêmica de</p><p>vitamina B12, com desenvolvimento de anemia megaloblástica.</p><p>Em contraste com o diagnóstico de obstrução intestinal aguda, o diagnóstico de obstrução crônica da alça aferente pode</p><p>ser problemático. A não visualização da alça aferente na endoscopia é sugestiva do diagnóstico. Exames por imagem da</p><p>árvore hepatobiliar com a utilização de radionuclídeos também têm sido empregados com certo sucesso no diagnóstico</p><p>dessa síndrome. Normalmente, o radionuclídeo deve passar para o estômago ou para o intestino delgado distal após ter</p><p>sido excretado na alça aferente. Caso isto não ocorra, deve ser considerada a possibilidade de uma obstrução da alça</p><p>aferente.</p><p>A correção indicada para este problema mecânico é cirúrgica. Uma alça aferente longa geralmente é o problema</p><p>subjacente, e o tratamento, portanto, envolve a eliminação dessa alça. As soluções incluem a conversão da reconstrução a</p><p>Billroth II em anastomose a Billroth I, uma jejunojejunostomia entre as alças aferente e eferente e a realização de um Y de</p><p>Roux. A reconstrução em Y de Roux é uma boa combinação de eficácia e facilidade, especialmente em pacientes com</p><p>vagotomia troncular prévia. A úlcera de boca anastomótica, decorrente do desvio do conteúdo duodenal alcalino, da</p><p>anastomose gastrojejunal, é uma complicação potencial da conversão em Y de Roux.</p><p>Obstrução da Alça Eferente</p><p>A obstrução da alça eferente é rara. A obstrução do ramo eferente pode ocorrer em qualquer momento após a operação; no</p><p>entanto, em mais de 50% dos casos ocorre no primeiro mês de pós‑operatório. É difícil estabelecer o diagnóstico. As queixas</p><p>iniciais podem incluir dor abdominal no quadrante superior esquerdo, tipo cólica, vômitos biliosos e distensão abdominal.</p><p>O diagnóstico geralmente é confirmado por meio de exame radiológico contrastado do trato GI alto, que mostra falha de</p><p>penetração do bário na alça eferente. A intervenção cirúrgica é quase sempre necessária e consiste na redução da hérnia</p><p>retroanastomótica, se for esta a causa da obstrução, e no fechamento do anel retroanastomótico para prevenir a recorrência</p><p>do quadro obstrutivo.</p><p>Gastrite Alcalina de Refluxo</p><p>Após gastrectomia, o refluxo de bile é comum. Em uma pequena porcentagem de pacientes esse refluxo está associado à dor</p><p>epigástrica forte, acompanhada</p><p>de vômitos biliosos e perda de peso. Embora o diagnóstico possa ser realizado mediante</p><p>uma história clínica cuidadosa, o exame com ácido hepatoiminodiacético normalmente demonstra refluxo de secreção biliar</p><p>para o estômago e por vezes para o esôfago. A endoscopia alta mostra mucosa avermelhada e friável.</p><p>A maior parte dos pacientes com gastrite por refluxo alcalino foi submetida à ressecção gástrica com anastomose à</p><p>Billroth II. Apesar de o refluxo biliar parecer ser o evento incitante, numerosas questões permanecem sem resposta no que</p><p>diz respeito ao papel da bile na sua patogênese. Por exemplo, muitos pacientes apresentam refluxo de bile para o estômago</p><p>após gastrectomia sem algum sintoma. Além do mais, não há correlação nítida entre o volume da bile ou de sua composição</p><p>e o desenvolvimento subsequente de gastrite alcalina. Embora a síndrome realmente exista, é preciso ter cautela para</p><p>garantir que este diagnóstico não seja superestimado. Uma vez diagnosticada, o tratamento é direcionado para o alívio dos</p><p>sintomas. A maioria dos tratamentos clínicos para controle da gastrite alcalina não mostrou qualquer benefício definitivo.</p><p>Para pacientes com sintomas intratáveis, o procedimento cirúrgico de escolha é a conversão da anastomose à Billroth II em</p><p>Y de Roux, com a jejunojejunostomia situada a mais de 40 cm da gastrojejunoanastomose. De maneira geral, a reconstrução</p><p>em Y de Roux deve ser preferida em relação ao Billroth II nas gastrectomias parciais ou subtotais, de modo a diminuir a</p><p>probabilidade de refluxo alcalino. Uma metanálise de ensaios randomizados concluiu que as reconstruções em Y de Roux e</p><p>Billroth II resultaram nas mesmas taxas de complicações no período pós‑operatório imediato, mas que os pacientes que</p><p>foram submetidos a procedimentos em Y de Roux tiveram qualidade de vida superior a longo prazo em razão das taxas</p><p>mais baixas de esofagite de refluxo.</p><p>Atonia Gástrica</p><p>O esvaziamento gástrico fica retardado após vagotomias tronculares e seletivas, mas não após a vagotomia superseletiva ou</p><p>de células parietais. Com a vagotomia seletiva ou troncular, os pacientes perdem a função da bomba antral e apresentam</p><p>redução na sua capacidade de esvaziar o conteúdo gástrico de sólidos. Em contraste, o esvaziamento dos líquidos fica</p><p>acelerado por causa da perda do relaxamento receptivo no estômago proximal, que regula o esvaziamento de líquidos.</p><p>Embora a maioria dos pacientes submetidos a vagotomia e a um procedimento de drenagem acabe por conseguir esvaziar</p><p>adequadamente o estômago, alguns pacientes apresentam estase gástrica persistente que resulta em retenção do alimento</p><p>dentro do estômago por várias horas. Isso pode ser acompanhado de uma sensação de plenitude gástrica e, ocasionalmente,</p><p>dor abdominal. Em casos ainda mais raros, isso pode estar associado a uma obstrução funcional do esvaziamento gástrico.</p><p>O diagnóstico de gastroparesia é confirmado por cintilografia do esvaziamento gástrico. No entanto, outras causas de</p><p>retardo no esvaziamento gástrico, como o diabetes melito, o desequilíbrio eletrolítico, a toxicidade medicamentosa e os</p><p>distúrbios neuromusculares, precisam também ser excluídas. Além disso, uma causa mecânica da obstrução do trânsito</p><p>gástrico, como aderências pós‑operatórias, obstrução da alça aferente ou eferente e herniações internas, deve ser descartada.</p><p>O exame endoscópico do estômago também precisa ser realizado para excluir obstruções anastomóticas.</p><p>Em pacientes com obstrução funcional do esvaziamento gástrico e gastroparesia comprovada, a farmacoterapia deve ser</p><p>utilizada. Os agentes mais empregados são os pró‑cinéticos, como a metoclopramida e a eritromicina. A metoclopramida</p><p>exerce seu efeito pró‑cinético agindo como antagonista da dopamina e tem efeitos colinérgicos resultantes da facilitação da</p><p>liberação de acetilcolina pelos neurônios colinérgicos entéricos. Em contrapartida, a eritromicina acelera acentuadamente o</p><p>esvaziamento gástrico por sua ligação aos receptores da motilina nas células dos músculos lisos gastrointestinais, onde ela</p><p>age como um agonista da motilina. Um desses dois agentes geralmente é suficiente para excitar o tônus gástrico e melhorar</p><p>o seu esvaziamento. Em casos raros de atonia gástrica persistente refratária ao tratamento clínico, a gastrectomia pode ser</p><p>necessária.</p><p>Câncer gástrico</p><p>Epidemiologia e Fatores de Risco</p><p>Incidência</p><p>O câncer gástrico é a 14ª causa de morte por câncer nos Estados Unidos, com uma estimativa de 22.000 novos casos e com</p><p>mais de 10.000 mortes por ano.18 A doença é desproporcionalmente mais comum em homens, nos quais ocorrem mais de</p><p>60% dos novos casos. É uma doença mais comum em idosos, com pico de incidência na sétima década de vida. Entre os</p><p>grupos raciais, a doença é mais comum e tem uma mortalidade maior em afro‑americanos, asiáticos americanos e</p><p>hispânicos em comparação com os brancos.</p><p>O câncer gástrico, em todo o mundo, é o quarto câncer mais comum e a segunda principal causa de morte por câncer. É</p><p>especialmente prevalente no Leste da Ásia e América do Sul e tem aumentado nos países em desenvolvimento, que agora</p><p>têm quase 2/3 dos casos de câncer gástrico distal. Em contraste, as taxas vêm diminuindo nos Estados Unidos (Fig. 48‑</p><p>19). Entre os países desenvolvidos, Japão e Coreia têm as maiores taxas da doença. O câncer gástrico é o câncer mais comum</p><p>no Japão. Diante disto, o rastreamento do câncer gástrico no Japão foi iniciado na década de 1970, e a taxa de mortalidade</p><p>caiu em 50% desde aquela época. Embora tenha havido um aumento dos tumores gástricos proximais no Japão, a maioria é</p><p>de câncer distal.</p><p>FIGURA 4819 Incidência ajustada por idade do câncer gástrico, 19922011. (De National Cancer Institute,</p><p>Surveillance Research Program: Fast Stats, 2009. , [Accesado em outubro de</p><p>2014.])</p><p>Fatores de Risco</p><p>Os principais fatores de risco para câncer gástrico são discutidos aqui; incluem fatores ambientais e genéticos (Quadro 48‑3).</p><p>Quadr o 4 8 3 F a to re s Assoc i ados ao Maio r R i s co de Desenvo lv imento de Cânce r</p><p>de Es tômago</p><p>Nutricionais</p><p>Baixo consumo de gorduras ou proteínas</p><p>Carnes ou peixes salgados</p><p>Alto consumo de nitratos</p><p>Alto consumo de carboidratos complexos</p><p>Ambientais</p><p>Mau preparo de alimentos (defumados, salgados)</p><p>Falta de refrigeração</p><p>Deficiência de água potável (p. ex., água de poço contaminada)</p><p>Tabagismo</p><p>Sociais</p><p>Classe social baixa</p><p>Médicos</p><p>Cirurgia gástrica prévia</p><p>Infecção por H. pylori</p><p>Gastrite e atrofia gástrica</p><p>Pólipos adenomatosos</p><p>Outros</p><p>Sexo masculino</p><p>Infecção por Helicobacter pylori</p><p>Em 1994, a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (International Agency for Research on Cancer) classificou o H.</p><p>pylori como agente carcinógeno. Numerosos estudos prospectivos longitudinais mostraram sua relação com o</p><p>desenvolvimento de câncer gástrico. Em estudos epidemiológicos, a soropositividade para H. pylori foi associada a um risco</p><p>relativo de desenvolvimento de câncer gástrico entre 3,6 e 17 vezes. Acredita‑se que o mecanismo primário seja o</p><p>desenvolvimento de inflamação crônica. A infecção a longo prazo pela bactéria leva a gastrite, primariamente no corpo</p><p>gástrico, com atrofia gástrica. Em alguns pacientes, a gastrite progride para metaplasia intestinal, displasia e finalmente</p><p>para adenocarcinoma do tipo intestinal. Uma ampla gama de alterações moleculares na metaplasia intestinal foi descrita e</p><p>pode resultar na transformação em câncer gástrico. Estas incluem a superexpressão da ciclo‑oxigenase‑2 e da ciclina D2,</p><p>mutações de p53, instabilidade microssatélite, diminuição da expressão de p27 e alterações nos fatores de transcrição como</p><p>CDX1 e CDX2. A metaplasia intestinal é um fator de risco para o desenvolvimento de carcinoma gástrico; no entanto, nem</p><p>todos os pacientes com metaplasia intestinal desenvolvem câncer. As respostas</p><p>inflamatórias do hospedeiro desempenham</p><p>um papel importante nesse processo. Especificamente, indivíduos com altos níveis de interleucina‑1 têm riscos aumentados</p><p>de desenvolvimento de câncer gástrico.</p><p>Algumas variações regionais no desenvolvimento do câncer podem ser atribuídas à prevalência e à virulência do H.</p><p>pylori. Ela é mais comum em áreas carentes, com deficiência de saneamento básico, e as taxas de infecção permanecem</p><p>elevadas em países em desenvolvimento, com um aumento concomitante na incidência de câncer gástrico. Ao contrário, a</p><p>prevalência em países mais desenvolvidos está diminuindo. A presença do gene A associado a citotoxina (cagA) está</p><p>relacionada com o aumento da virulência e do risco de câncer gástrico. Países com altos níveis de câncer gástrico, como o</p><p>Japão, têm uma taxa muito maior de infecção por H. pylori cagA‑positivo do que países com taxas menores de câncer</p><p>gástrico, como os Estados Unidos.</p><p>Fatores Dietéticos</p><p>Alimentos ricos em sal, particularmente aqueles com carnes salgadas ou defumadas, que contêm altos níveis de nitrato,</p><p>juntamente com baixo consumo de frutas e vegetais, são associados a um risco aumentado de câncer gástrico. Acredita‑se</p><p>que o mecanismo é a conversão de nitratos nos alimentos em compostos N‑nitrosos por bactérias no estômago. Os</p><p>compostos N‑nitrosos são também encontrados na fumaça do cigarro, outro fator de risco conhecido para câncer gástrico.</p><p>Frutas frescas e vegetais contêm ácido ascórbico, que pode remover compostos N‑nitrosos carcinogênicos e radicais livres</p><p>de oxigênio.</p><p>Aparentemente, existe um sinergismo entre dieta e infecção por H. pylori, com as bactérias aumentando a produção de</p><p>carcinógeno e inibindo sua remoção. Foi demonstrado que o H. pylori promove o crescimento das bactérias que geram</p><p>compostos N‑nitrosos carcinogênicos. Ao mesmo tempo, H. pylori pode inibir a secreção de ácido ascórbico, impedindo a</p><p>eliminação eficaz de radicais livres de oxigênio e compostos N‑nitrosos. O aumento da refrigeração de alimentos ao longo</p><p>dos últimos 70 anos provavelmente contribuiu para a diminuição do câncer gástrico, por meio da redução da quantidade de</p><p>carnes conservadas por salgamento, isoladamente, e permitindo o melhor armazenamento e o aumento do consumo de</p><p>frutas e vegetais frescos.</p><p>Fatores de Risco Hereditários e Genética do Câncer</p><p>O câncer gástrico está associado a vários distúrbios hereditários raros. O câncer gástrico difuso hereditário é uma forma</p><p>herdada de carcinoma gástrico. Pacientes com este distúrbio, resultante de uma mutação do gene para a molécula de adesão</p><p>celular E‑caderina, têm 80% de possibilidade de desenvolver câncer gástrico no decorrer de sua vida. A gastrectomia total</p><p>profilática deve ser considerada para pacientes com essa mutação. Na polipose adenomatosa familiar, aproximadamente</p><p>85% dos pacientes têm pólipos das glândulas fúndicas, com 40% destes tendo algum tipo de displasia e mais de 50%</p><p>contendo mutação somática no gene polipose adenomatosa cólica (APC), o que coloca esses pacientes em alto risco de</p><p>desenvolver câncer gástrico. Esses pólipos, associados à maior frequência de pólipos duodenais potencialmente malignos,</p><p>justificam uma maior vigilância do trato GI alto. A síndrome de Li‑Fraumeni é um distúrbio autossômico dominante</p><p>causado por uma mutação do gene supressor tumoral p53. Esses pacientes estão em risco de inúmeras doenças malignas,</p><p>incluindo o câncer gástrico. O câncer colorretal hereditário sem polipose, ou síndrome de Lynch, que responde por 2% a 3%</p><p>de todos os cânceres de cólon e reto e está associado à instabilidade microssatélite, está também associado a um risco</p><p>aumentado de câncer gástrico e de ovário.</p><p>Várias alterações genéticas associadas ao adenocarcinoma gástrico foram identificadas. Essas alterações podem ser</p><p>classificadas como ativação de oncogenes, inativação de genes supressores de tumor, redução da adesão celular, reativação</p><p>da telomerase e presença de instabilidade microssatélite. O proto‑oncogene c‑met é o receptor para o fator de crescimento do</p><p>hepatócito, e frequentemente é hiperexpresso no câncer gástrico, assim como os oncogenes k‑sam e c‑erbB2. Inativação dos</p><p>genes supressores tumorais p53 e p16 foi descrita nos tipos difuso e intestinal de câncer gástrico, enquanto mutações nos</p><p>genes da polipose adenomatosa cólica tendem a ser mais frequentes no tipo intestinal. Além disso, a redução ou perda da</p><p>molécula de adesão celular E‑caderina pode ser encontrada em aproximadamente 50% dos tumores gástricos do tipo</p><p>difuso. Instabilidade microssatélite pode ser encontrada em aproximadamente 20% a 30% dos cânceres gástricos do tipo</p><p>intestinal. Os microssatélites são extensões de DNA nos quais um curto (um a cinco nucleotídeos) padrão é repetido várias</p><p>vezes. A instabilidade microssatélite reflete um ganho ou uma perda de unidades de repetição em um alelo microssatélite</p><p>da linhagem germinativa, indicando a expansão clonal típica de uma neoplasia.</p><p>Outros Fatores de Risco</p><p>Pacientes com anemia perniciosa também têm um aumento no risco de desenvolvimento de câncer gástrico. A acloridria é a</p><p>característica definidora dessa condição; ela ocorre quando as células principais e parietais são destruídas por uma reação</p><p>autoimune. A mucosa se torna muito atrófica e desenvolve metaplasia antral e intestinal. O risco relativo para um paciente</p><p>com anemia perniciosa de desenvolver câncer gástrico é de 2,1 a 5,6 vezes o da população geral.</p><p>Pólipos</p><p>Os pólipos adenomatosos apresentam alto risco para o desenvolvimento de malignidade. A atipia mucosa é frequente, e</p><p>observou‑se progressão de displasia para carcinoma in situ. O risco para o desenvolvimento de carcinoma é de</p><p>aproximadamente 10% a 20% e cresce com o aumento do tamanho do pólipo. A remoção endoscópica é indicada para as</p><p>lesões pedunculadas, e é suficiente se o pólipo for completamente removido e não existirem focos de câncer invasivo no</p><p>exame histopatológico. Se o pólipo for maior que 2 cm, séssil, ou apresentar foco comprovado de carcinoma invasivo,</p><p>justifica‑se a ressecção cirúrgica.</p><p>Os pólipos das glândulas fúndicas (Fig. 48‑20) são lesões benignas e parecem ser resultado de hiperplasia glandular e</p><p>diminuição do fluxo luminal. Eles estão fortemente associados ao uso de inibidores de bomba de próton e ocorrem em 1/3</p><p>dos pacientes em 1 ano de uso destas medicações. A displasia, apesar de comum em pacientes com pólipos na polipose</p><p>adenomatosa familiar, só foi descrita em relatos de casos individuais de pacientes cujos pólipos resultaram de tratamento</p><p>com inibidores de bomba de próton. Esses casos não exigem ressecção, acompanhamento regular ou cessação da terapia.</p><p>FIGURA 4820 TC de pólipos das glândulas fúndicas. (Cortesia de Dr. David Bentrem, Department of Surgery,</p><p>Northwestern University Feinberg School of Medicine, Chicago, IL.)</p><p>Inibidores da bomba de prótons</p><p>O uso de IBP aumentou dramaticamente nos últimos 20 anos porque eles têm se mostrado um tratamento eficaz para</p><p>pacientes com doença do refluxo. Eles são frequentemente prescritos empiricamente como tratamento de primeira linha</p><p>para a dispepsia. O impacto dos IBPs sobre a incidência de câncer gástrico ainda não foi determinado.</p><p>Fisiologicamente, os IBPs, como seu nome sugere, bloqueiam a bomba de hidrogênio‑potássio dentro das células</p><p>parietais, efetivamente bloqueando toda secreção ácida do estômago. Como resultado, os pacientes de IBP desenvolvem</p><p>hipergastrinemia, que reverte com a suspensão dos IBPs. O potencial para o câncer está na intersecção entre H. pylori, já</p><p>considerado um carcinógeno para o câncer gástrico, e as alterações fisiológicas consequentes ao uso de IBPs. Em pacientes</p><p>portadores de H. pylori que usam IBPs a longo prazo, o ambiente de baixa</p><p>acidez permite que as bactérias colonizem o</p><p>corpo gástrico, levando à gastrite do corpo. Um terço desses pacientes desenvolve gastrite atrófica, que é significativamente</p><p>mais comum em pacientes com H. pylori que estão tomando IBP. Essa gastrite atrófica rapidamente desaparece após a</p><p>erradicação do H. pylori. Até o momento, nenhum estudo mostrou que a gastrite atrófica, neste subgrupo de pacientes,</p><p>esteja associada a um risco aumentado de câncer. Entretanto, em geral, a gastrite atrófica é considerada um importante fator</p><p>de risco para o desenvolvimento de câncer gástrico. Além disto, vários estudos epidemiológicos encontraram associação</p><p>entre a terapia com IBP e o desenvolvimento de câncer gástrico, embora nenhuma evidência de causalidade tenha sido</p><p>ainda provada.19 Portanto, os IBPs são eficazes agentes de primeira linha para dispepsia e permanecem como terapêutica</p><p>efetiva a longo prazo para pacientes com doença do refluxo GE. No entanto, dada a relação entre a supressão de ácido, H.</p><p>pylori e o desenvolvimento de gastrite atrófica, um conhecido fator de risco para o câncer gástrico, em pacientes com</p><p>sintomas persistentes ou que requerem terapia a longo prazo, vigilância e erradicação do H. pylori são necessárias.</p><p>Patologia</p><p>Várias classificações patológicas para o câncer gástrico foram descritas. O sistema de classificação de Borrmann foi</p><p>desenvolvido em 1926 e permanece útil atualmente, para a descrição dos achados endoscópicos. Este sistema divide o</p><p>carcinoma gástrico em cinco tipos, dependendo da aparência macroscópica da lesão (Fig. 48‑21). Um tipo, a linite plástica,</p><p>refere‑se a uma lesão difusamente infiltrante envolvendo todo o estômago. Outros sistemas de classificação foram</p><p>propostos, mas o sistema mais útil e mais amplamente utilizado é o proposto por Lauren em 1965. Este sistema separa o</p><p>adenocarcinoma gástrico nos tipos intestinal ou difuso, com base na histologia, com ambos tendo patologia, epidemiologia</p><p>e prognóstico distintos (Tabela 48‑6).</p><p>FIGURA 4821 Classificação patológica de Borrmann de câncer gástrico com base na aparência</p><p>macroscópica. (De Iriyama K, Asakawa T, Koike H et al: Is extensive lymphadenectomy necessary for surgical treatment of</p><p>intramucosal carcinoma of the stomach? Arch Surg 124:309–311, 1989.)</p><p>Tabela 486</p><p>Sistema de Classificação de Lauren</p><p>INTESTINAL DIFUSO</p><p>Ambiental Familiar</p><p>Atrofia gástrica, metaplasia intestinal Sangue tipo A</p><p>Homens > Mulheres Mulheres > Homens</p><p>Aumento da incidência com a idade Grupo etário mais jovem</p><p>Formação de glândulas Pouco diferenciado, células em anel de sinete</p><p>Disseminação hematogênica Disseminação linfática, transmural</p><p>Instabilidade de microssatélite Diminuição de E‑caderina</p><p>Mutações do gene APC</p><p>Inativação de p53, p16 Inativação de p53, p16</p><p>APC, Polipose adenomatosa coli.</p><p>A variante intestinal é mais bem diferenciada e tipicamente se desenvolve no contexto de uma condição pré‑cancerosa</p><p>reconhecível, como a atrofia gástrica ou a metaplasia intestinal. Os homens são mais afetados que as mulheres, e a</p><p>incidência de adenocarcinoma gástrico tipo intestinal aumenta com o envelhecimento. Estas lesões são geralmente bem</p><p>diferenciadas, com tendência à formação de glândulas. A disseminação metastática, geralmente, é hematogênica para os</p><p>órgãos distantes. O tipo intestinal é, também, o tipo histológico dominante em áreas nas quais o câncer gástrico é</p><p>epidêmico, sugerindo uma etiologia ambiental. As taxas locais de prevalência de H. pylori aparentemente têm um papel</p><p>importante nesse aumento do risco ambiental, uma vez que a infecção tem sido associada especificamente ao</p><p>desenvolvimento de câncer gástrico do tipo intestinal.</p><p>A forma difusa de adenocarcinoma gástrico consiste em minúsculos agrupamentos de pequenas e uniformes células em</p><p>anel de sinete; pouco diferenciada e não possui glândulas. Tende a se disseminar pela submucosa, com menos infiltração</p><p>inflamatória do que o tipo intestinal, com disseminação metastática precoce por via transmural e invasão linfática. Em geral</p><p>não está associada à gastrite crônica, é mais comum em mulheres e afeta um grupo de pacientes ligeiramente mais jovens. A</p><p>forma difusa também apresenta uma associação com o tipo sanguíneo A e com o câncer familiar, sugerindo uma etiologia</p><p>genética. As metástases peritoneais são frequentes e, em geral, o prognóstico é menos favorável do que para pacientes com</p><p>adenocarcinoma do tipo intestinal.</p><p>Em 2010, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revisou seu sistema de classificação para o câncer gástrico, que se</p><p>baseava nas características morfológicas. No sistema da OMS, o câncer gástrico é dividido em cinco categorias principais –</p><p>adenocarcinoma, carcinoma de células adenoescamosas, carcinoma de células escamosas, carcinoma indiferenciado e</p><p>carcinoma não classificado. Os adenocarcinomas são subdivididos em cinco tipos de acordo com seu padrão de</p><p>crescimento: papilar, tubular, mucinoso, pouco coeso (incluindo carcinoma de células em anel de sinete) e adenocarcinoma</p><p>misto. Apesar de ser amplamente empregado, o sistema de classificação da OMS oferece pouco em termos de tratamento, e</p><p>existe um número significativo de cânceres gástricos que não se encaixam nessas categorias. Há pouca evidência de que</p><p>qualquer um dos sistemas de classificação citados possa adicionar informação prognóstica à fornecida pelo sistema de</p><p>estadiamento tumor‑linfonodo‑metástase (TNM) do American Joint Commi埯�ee on Cancer (AJCC).</p><p>Diagnóstico e Investigação</p><p>Sinais e Sintomas</p><p>Os sintomas do câncer gástrico são geralmente inespecíficos, o que contribui, frequentemente, para seu diagnóstico em fase</p><p>avançada de doença. Os principais sintomas incluem dor epigástrica, saciedade precoce e perda de peso e são</p><p>frequentemente confundidos com causas benignas mais comuns de dispepsia, como doença ulcerosa péptica e gastrite. A</p><p>dor associada ao câncer gástrico tende a ser constante, não irradiada e geralmente não é aliviada pela alimentação. As lesões</p><p>mais avançadas podem manifestar‑se com obstrução ou disfagia dependendo da localização do tumor. Algum grau de</p><p>sangramento GI é comum, e 40% dos pacientes apresentam alguma forma de anemia e 15% hematêmese franca.</p><p>Uma história completa e um exame físico minucioso devem ser realizados, com atenção especial para quaisquer</p><p>evidências de doença avançada, incluindo doença metastática linfonodal, supraclavicular (linfonodo de Virchow) ou</p><p>periumbilical (irmã Maria José) e evidências de metástases intra‑abdominais como hepatomegalia, icterícia ou ascite. As</p><p>metástases transcelômicas para os ovários (tumor de Krukenberg) podem ser detectáveis no exame pélvico e as metástases</p><p>peritoneais podem ser sentidas como espessamento firme do peritônio do fundo de saco (prateleira de Blummer) ao toque</p><p>retal. Hemograma completo, testes de função hepática e estudos da coagulação devem ser realizados.</p><p>Estadiamento</p><p>Atualmente, o sistema de estadiamento mais amplamente utilizado é o sistema TNM da AJCC, que se baseia na</p><p>profundidade da invasão do tumor (T), número de linfonodos envolvidos (N) e na presença ou ausência de doença</p><p>metastática (M) (Tabela 48‑7). Antes de 1997, o estágio N era determinado pela localização anatômica dos nódulos em</p><p>relação ao tumor primário, em vez do número absoluto de linfonodos. Este estadiamento, com base na anatomia, era</p><p>intimamente relacionado com o debate entre linfadenectomia D1 versus D2 (ver adiante). O atual sistema não leva em conta</p><p>a localização anatômica dos linfonodos positivos e sim um número mínimo de linfonodos (15) que precisa ser avaliado para</p><p>um estadiamento acurado. Alguns especialistas sugeriram que outros fatores deveriam ser incluídos na avaliação</p><p>T e N,</p><p>como a localização do tumor primário (tumor da cárdia comparado com tumores distais), já que isto pode ser um fator</p><p>independente de sobrevida, e com a porcentagem de nódulos positivos (proporção de linfonodos positivos) em vez do</p><p>número absoluto de nódulos positivos. No entanto, o atual sistema de estadiamento AJCC não contempla esses fatores.</p><p>Tabela 487</p><p>Classificação TNM para o Carcinoma do Estômago</p><p>Tumor (T) Primário†</p><p>TX Tumor primário não pode ser avaliado</p><p>T0 Nenhuma evidência de tumor primário</p><p>Tis Carcinoma in situ; tumor intraepitelial sem invasão da lâmina própria</p><p>T1 Tumor invade lâmina própria, muscular da mucosa ou submucosa</p><p>T1a Tumor invade lâmina própria ou muscular da mucosa</p><p>T1b Tumor invade a submucosa</p><p>T2 Tumor invade a muscular própria*</p><p>T3 Tumor penetra o tecido conjuntivo subseroso sem invasão do peritônio visceral ou</p><p>estruturas adjacentes†,‡</p><p>T4 Tumor invade a serosa (peritônio visceral) ou estruturas adjacentes†,‡</p><p>T4a Tumor invade a serosa (peritônio visceral)</p><p>T4b Tumor invade estruturas adjacentes</p><p>Linfonodos Regionais (N)*</p><p>NX Linfonodos regionais não podem ser avaliados</p><p>N0 Nenhuma metástase em linfonodo regional§</p><p>N1 Metástase em um ou dois linfonodos regionais</p><p>N2 Metástase em três a seis linfonodos regionais</p><p>N3 Metástase em sete ou mais linfonodos regionais</p><p>N3a Metástase em sete a 15 linfonodos regionais</p><p>N3b Metástase em 16 ou mais linfonodos regionais</p><p>Metástases a Distância (M)</p><p>M0 Sem metástases a distância</p><p>M1 Metástases a distância</p><p>ESTÁGIO</p><p>ANATÔMICO GRUPO DE PROGNÓSTICO</p><p>0 Tis N0 M0</p><p>IA T1 N0 M0</p><p>IB T2 N0 M0</p><p>T1 N1 M0</p><p>IIA T3 N0 M0</p><p>T2 N1 M0</p><p>T1 N2 M0</p><p>IIB T4a N0 M0</p><p>T3 N1 M0</p><p>T2 N2 M0</p><p>T1 N3 M0</p><p>IIIA T4a N1 M0</p><p>T3 N2 M0</p><p>T2 N3 M0</p><p>IIIB T4b N0 M0</p><p>T4b N1 M0</p><p>T4a N2 M0</p><p>T3 N3 M0</p><p>IIIC T4b N2 M0</p><p>T4b N3 M0</p><p>T4a N3 M0</p><p>IV Qualquer T Qualquer N M1</p><p>* Um tumor pode invadir a muscular própria com extensão para os ligamentos gastrocólico ou gastrohepático, ou para o omento maior ou</p><p>menor, sem perfuração do peritônio visceral que cobre essas estruturas. Nesse caso, o tumor é classificado como T3. Se houver perfuração do</p><p>peritônio visceral que cobre os ligamentos gástricos ou o omento, o tumor deve ser classificado como T4.</p><p>† As estruturas adjacentes ao estômago incluem baço, cólon transverso, fígado, diafragma, pâncreas, parede abdominal, glândula suprarrenal,</p><p>rim, intestino delgado e retroperitônio.</p><p>‡ A extensão intramural para o duodeno ou esôfago é classificada de acordo com a profundidade da maior invasão em qualquer um desses</p><p>locais, incluindo o estômago.</p><p>§ A designação pN0 deve ser usada se todos os linfonodos examinados forem negativos, independentemente do número total removido e</p><p>examinado.</p><p>De Edge S, Byrd D, Compton C et al, editors: AJCC cancer staging manual, ed 7, New York, 2010, Springer.</p><p>O sistema de classificação de Siewert baseia‑se na localização anatômica dos adenocarcinomas (esofágicos e gástricos) que</p><p>estão próximos da junção GE. Essa é uma importante distinção, porque esses cânceres gástricos são naturalmente mais</p><p>agressivos e são tratados de forma semelhante aos adenocarcinomas esofágicos. Existem três tipos de Siewert: tumores tipo</p><p>I são do esôfago distal, situados entre 1 e 5 cm acima da junção GE; os do tipo II têm seu epicentro tumoral localizado entre</p><p>1 cm acima da junção GE e 2 cm abaixo dela; os tumores de tipo III são chamados subcárdicos e estão localizados entre 2 e</p><p>5 cm abaixo da junção GE. De forma geral, os tumores tipos I e II de Siewert são tratados de modo semelhante ao</p><p>adenocarcinoma esofágico, enquanto os tumores tipo III podem ser tratados de acordo com as diretrizes para</p><p>adenocarcinoma gástrico descritas aqui, desde que o tumor não se estenda para a junção GE.</p><p>Embora não faça parte formal do sistema de estadiamento AJCC, o termo status R, primeiramente descrito por</p><p>Hermaneck em 1994, é usado para descrever o remanescente tumoral após ressecção e é importante para determinar a</p><p>adequação da operação. R0 se refere a uma ressecção com margens microscopicamente negativas, na qual nenhum tumor</p><p>macro ou microscópico permanece no leito tumoral. R1 indica a remoção de toda a doença macroscópica, mas as margens</p><p>microscópicas são positivas para o tumor. R2 indica doença macroscópica residual. Pelo fato de a extensão da ressecção</p><p>poder influenciar na sobrevida, alguns autores incluem essa designação para complementar o sistema TNM. A sobrevida a</p><p>longo prazo pode ser esperada apenas após uma ressecção R0.</p><p>O sistema AJCC não é específico para localização nodal, mas o debate com relação à linfadenectomia no câncer gástrico</p><p>continua. Na versão anterior do sistema TNM da Union Internationale Contre le Cancer (UICC), as categorias N eram</p><p>definidas pela localização das metástases linfonodais em relação ao tumor primário, com pN1 definido como nódulos</p><p>positivos a 3 cm ou menos do tumor primário e pN2 como linfonodos positivos a mais de 3 cm do tumor primário ou ao</p><p>longo dos principais troncos vasculares. O sistema de estadiamento da Japanese Classification for Gastric Carcinoma</p><p>(JCGC) foi projetado para descrever as localizações anatômicas dos linfonodos removidos durante a gastrectomia. Dezesseis</p><p>localizações anatômicas distintas de linfonodos são descritas, com a recomendação de dissecção das cadeias linfonodais, na</p><p>dependência da localização do tumor primário (Fig. 48‑22). As estações linfonodais, ou cadeias linfonodais, são numeradas</p><p>e classificadas em grupos de cadeias correspondentes à localização do tumor primário e refletem a probabilidade de</p><p>abrigarem metástases. A presença de metástases para cada grupo de linfonodos determina a classificação N. Por exemplo,</p><p>metástases em qualquer linfonodo do grupo 1 na ausência de doença em grupos de linfonodos mais distantes é classificada</p><p>como N1. Essas cadeias de linfonodos regionais e suas classificações N de acordo com a localização do tumor primário estão</p><p>representadas na Tabela 48‑8. Esse sistema não foi adotado pelo AJCC. O sistema de estadiamento patológico da AJCC tem</p><p>sido amplamente adotado nos Estados Unidos.</p><p>FIGURA 4822 Números das estações linfonodais de acordo com a Japanese Gastric Cancer Association. (De</p><p>Japanese Gastric Cancer Association: Japanese Classification of Gastric Carcinoma, 2nd English edition. Gastric Cancer 1:10–24,</p><p>1998.)</p><p>Tabela 488</p><p>Organização dos Linfonodos Regionais (Grupos 1 a 3) de acordo com a Localização do Tumor</p><p>Primário*</p><p>ESTAÇÃO</p><p>LINFONODAL (N.°) DESCRIÇÃO</p><p>LOCALIZAÇÃO DO TUMOR PRIMÁRIO NO</p><p>ESTÔMAGO</p><p>TERÇO</p><p>SUPERIOR</p><p>TERÇO</p><p>MÉDIO</p><p>TERÇO</p><p>INFERIOR</p><p>1 Paracárdico direito 1 1 2</p><p>2 Paracárdico esquerdo 1 3 M</p><p>3 Pequena curvatura 1 1 1</p><p>4sa Vasos curtos 1 3 M</p><p>4sb Gastroepiploica esquerda 1 1 3</p><p>4d Gastroepiploica direita 2 1 1</p><p>5 Suprapilórica 3 1 1</p><p>6 Infrapilórica 3 1 1</p><p>7 Artéria gástrica esquerda 2 2 2</p><p>8a Artéria hepática comum</p><p>anterior</p><p>2 2 2</p><p>8p Artéria hepática comum</p><p>posterior</p><p>3 3 3</p><p>9 Tronco celíaco 2 2 2</p><p>10 Hilo esplênico 2 3 M</p><p>11p Artéria esplênica proximal 2 2 2</p><p>11d Artéria esplênica distal 2 3 M</p><p>12a Ligamento hepatoduodenal</p><p>esquerdo</p><p>3 2 2</p><p>12b, p Ligamento hepatoduodenal</p><p>posterior</p><p>3 3 3</p><p>13 Retropancreático M 3 3</p><p>14v Veia mesentérica superior M 3 2</p><p>14a Artéria mesentérica superior M M M</p><p>15 Artéria cólica média M M M</p><p>16al Hiato aórtico 3 M M</p><p>16a2, b1 Para‑aórtico, médio M 3 3</p><p>16b2 Para‑aórtico, caudal M M M</p><p>M, Linfonodos considerados metástases a distância.</p><p>* De acordo com a Classificação Japonesa para o carcinoma gástrico (Japanese Gastric Cancer Association: Japanese Classification of</p><p>Gastric Carcinoma—2nd English edition. Gastric Cancer 1:10–24, 1998).</p><p>Exames para Estadiamento</p><p>São dois os objetivos de qualquer estadiamento. O primeiro é obter informações sobre o prognóstico para orientar o</p><p>paciente e a família. O segundo é determinar a extensão da doença para estabelecer o curso do tratamento mais apropriado.</p><p>Os três</p><p>caminhos principais do tratamento são a ressecção (com ou sem terapia adjuvante subsequente), terapia</p><p>neoadjuvante seguida de ressecção ou tratamento de doença sistêmica sem ressecção (Fig. 48‑23).</p><p>FIGURA 4823 Estadiamento clínico e estratégia de tratamento para o adenocarcinoma gástrico. TC, tomografia</p><p>computadorizada. USE, ultrassonografia endoscópica.</p><p>As principais modalidades para estadiar o adenocarcinoma gástrico e para orientar o tratamento são endoscopia,</p><p>ultrassonografia endoscópica (USE), imagens seccionais cruzadas, como TC, RM, ou tomografia por emissão de pósitrons</p><p>(PET) e laparoscopia diagnóstica. Seus papéis são discutidos aqui.</p><p>Endoscopia e ultrassonografia endoscópica</p><p>A endoscopia flexível é a ferramenta essencial para o diagnóstico de câncer gástrico. Ela permite a visualização do tumor,</p><p>fornece material para diagnóstico histopatológico e pode orientar e/ou tratar pacientes com obstrução ou sangramento</p><p>(Fig. 48‑24). Na endoscopia diagnóstica inicial, se for encontrada no estômago uma massa ou úlcera suspeitas, é essencial</p><p>obter tecido adequado para confirmar o diagnóstico correto histologicamente. Múltiplas biópsias (seis a oito) devem ser</p><p>realizadas em áreas diferentes da lesão usando pinças de biópsia endoscópica. Uma única biópsia tem sensibilidade</p><p>diagnóstica de 70%, enquanto sete biópsias aumentam esse rendimento para 98%.20 Lesões pequenas ( N0). Quando este</p><p>sistema de classificação foi usado, o valor preditivo positivo de USE para identificar doença avançada foi de 76% e o valor</p><p>preditivo negativo para identificar a doença de baixo risco foi de 91% (Fig. 48‑26).21 Do ponto de vista do prognóstico e do</p><p>tratamento, essa classificação pode ser clinicamente mais relevante, pois um achado de USE indicativo de doença avançada</p><p>se correlaciona fortemente com diminuição das taxas de ressecabilidade e com pior sobrevida específica da doença.</p><p>FIGURA 4826 Acurácia da ultrassonografia endoscópica (USE) no câncer gástrico. De 71 pacientes</p><p>identificados como de baixo risco (T1/2 N0) pelo USE, 56 foram corretamente estadiados e 15 foram</p><p>subestadiados. De 150 pacientes identificados como de alto risco (T3/4, qualquer N, ou qualquer T, N + ) pelo</p><p>USE, 114 foram corretamente estadiados e 36 foram superestadiados. (De Bentrem D, Gerdes H, Tang L et al: Clinical</p><p>correlation of endoscopic ultrasonography with pathologic stage and outcome in patients undergoing curative resection for gastric</p><p>cancer. Ann Surg Oncol 14:1853–1859, 2007.)</p><p>Outro estudo mais recente, de 960 pacientes de uma base de dados multicêntrica de câncer gástrico nos Estados Unidos</p><p>no período de 2000 a 201222, mostrou que apenas 23% dos pacientes foram submetidos à avaliação pré‑operatória com USE.</p><p>Dos pacientes que realizaram USE no pré‑operatório e depois foram submetidos à ressecção sem quimioterapia</p><p>neoadjuvante ou radioterapia, a acuidade diagnóstica do USE na determinação do estágio T no exame patológico foi de</p><p>apenas 46,2% e de 66,7% para o estágio N. Além disso, a capacidade do USE para diferenciar tumores em estágio inicial</p><p>(T1/2) versus estágio avançado (T3/4) foi apenas leve, com uma área sob a curva de 0,66; isso tem importância vital porque</p><p>essa distinção é, muitas vezes, utilizada para orientar a decisão pela quimioterapia neoadjuvante dos pacientes.</p><p>Com a melhora da sua acuidade, o USE provavelmente desempenhará um papel crescente na determinação de algoritmos</p><p>para tratamento do câncer gástrico, assim como o faz no câncer retal. No momento, embora falte acurácia nos</p><p>estadiamentos T e N, o USE tem‑se mostrado uma ferramenta útil na diferenciação entre pacientes de alto e baixo riscos, e</p><p>esta diferenciação se correlaciona com o prognóstico.</p><p>Tomografia computadorizada</p><p>TC de tórax, abdome e pelve, com contraste oral e venoso é um componente mandatório na avaliação dos pacientes com</p><p>câncer gástrico e desempenha um papel importante na avaliação de doença metastática. A TC é o primeiro método para</p><p>detecção de doença metastática intra‑abdominal, com uma taxa de detecção global de aproximadamente 85%. A</p><p>sensibilidade da TC para revelar metástases peritoneais é de apenas 51%, com uma especificidade elevada, de 96%, se o</p><p>estudo for positivo.</p><p>A TC também tem sido utilizada no estadiamento locorregional. A acuidade nos estadiamentos T e N pela TC é menos</p><p>precisa que pela USE. Embora avanços tecnológicos possam aumentar o papel da TC na avaliação locorregional e na</p><p>definição acerca de tratamento neoadjuvante, seu papel primário permanece sendo a avaliação de doença metastática.</p><p>Tomografia por emissão de pósitrons</p><p>O uso da PET/TC para estadiamento inicial é limitado, visto que apenas 50% dos cânceres gástricos são PET‑ávidos. No</p><p>entanto, em pacientes com PET positiva, presumivelmente com doença</p><p>avançada, e em pacientes considerados para terapia</p><p>neoadjuvante, pode haver um papel para a PET. A resposta ao tratamento neoadjuvante, evidenciada pela PET,</p><p>correlaciona‑se fortemente com a sobrevida, com uma resposta na PET observada em 14 dias de tratamento. A PET pode ser</p><p>uma modalidade efetiva para monitoramento da resposta a estes tratamentos, poupando os pacientes não respondedores de</p><p>tratamentos tóxicos. Além disso, em um estudo de pacientes com tumores localmente avançados (T3/4) ou N‑positivos no</p><p>USE, a PET/TC foi capaz de detectar metástases ocultas que não foram observadas na TC normal em 10% dos</p><p>pacientes.23 Com base nestes dados, as diretrizes da National Comprehensive Cancer Network recomendam agora a</p><p>PET/TC como parte da rotina de estadiamento para pacientes sem evidência de doença metastática na TC inicial.</p><p>Laparoscopia</p><p>O emprego da laparoscopia para estadiamento é parte integrante da investigação para o câncer gástrico. A alta taxa de</p><p>doença metastática oculta faz da laparoscopia uma modalidade de estadiamento atraente. Na década de 1990, dois grandes</p><p>estudos avaliaram a laparoscopia como modalidade de estadiamento para pacientes com câncer gástrico.24,25Ambos os</p><p>estudos mostraram altas taxas de doença metastática oculta (37% e 23%, respectivamente) em pacientes submetidos à</p><p>laparoscopia de estadiamento para o câncer gástrico, nos quais se supunha não haver doença metastática, conforme</p><p>avaliado pela TC. A sensibilidade geral da laparoscopia para detectar doença metastática foi superior a 95%. Para pacientes</p><p>que tinham doença metastática, menos de 15% passaram a exigir a gastrectomia paliativa. Como resultado desses estudos, o</p><p>estadiamento com a laparoscopia tem sido defendido como parte da avaliação para o câncer gástrico para evitar</p><p>laparotomias desnecessárias em pacientes com doença metastática e sem uma clara necessidade de intervenção cirúrgica.</p><p>Como a tecnologia da TC tem avançado, a necessidade de estadiamento com a laparoscopia tem sido reavaliada. No</p><p>entanto, uma revisão dos estudos que avaliaram sua utilidade mostrou que a laparoscopia alterou o tratamento em 9% a</p><p>60% dos casos e permitiu, especificamente, que pacientes evitassem uma laparotomia desnecessária mediante a detecção de</p><p>doença metastática não visualizada no estadiamento pré‑operatório, em 9% a 44% dos casos. A laparoscopia para</p><p>estadiamento é um processo seguro e de baixo risco que pode ser planejado como procedimento único, de estadiamento</p><p>associado à ressecção; ela pode ser feita com mínimo risco adicional para os pacientes submetidos à laparotomia e sem risco</p><p>adicional para aqueles que se submetem a uma ressecção totalmente laparoscópica. Entretanto, existem muitos benefícios</p><p>em se evitar uma laparotomia, o que inclui evitar retardo no início da quimioterapia para pacientes com doença metastática</p><p>e expectativa de vida limitada. Tendo em vista a persistência de altas taxas de doença metastática não detectada pela</p><p>avaliação pré‑operatória em muitos centros, mesmo com a melhora das modalidades de exames de imagem, acreditamos</p><p>que estes benefícios superam os riscos, e que a laparoscopia de estadiamento deva fazer parte do estudo da maioria dos</p><p>pacientes com câncer gástrico.</p><p>Tratamento</p><p>Tratamento Cirúrgico</p><p>A ressecção completa do tumor gástrico com ampla margem de estômago normal permanece sendo o tratamento padrão</p><p>quando há intenção curativa. Todos os pacientes sem doença metastática ou invasão de estruturas vasculares irressecáveis</p><p>como aorta, tronco celíaco, artéria hepática comum proximal ou esplênica proximal, são candidatos à ressecção curativa. A</p><p>extensão da ressecção depende da localização do tumor no estômago e das dimensões do tumor. Para os tumores T4,</p><p>qualquer órgão com invasão deve ser removido em bloco com a peça de gastrectomia para se conseguir uma ressecção</p><p>curativa. A técnica‑padrão é por laparotomia; entretanto, técnicas minimamente invasivas, incluindo laparoscopia e</p><p>ressecção endoscópica completa para tumores precoces, provaram ser métodos eficazes de tratamento.</p><p>Para carcinomas do estômago distal, incluindo o corpo e o antro, uma gastrectomia distal é a operação apropriada. O</p><p>estômago proximal é seccionado no nível da incisura angularis com margem de pelo menos 6 cm, pois vários estudos</p><p>mostraram a possibilidade de disseminação tumoral por até 5 cm lateralmente ao tumor primário, embora alguns</p><p>especialistas indiquem que uma margem de 4 cm é adequada. O exame histopatológico por congelação deve ser realizado</p><p>antes da reconstrução. A margem distal é o duodeno proximal. A possibilidade de recidiva no leito tumoral (na linha de</p><p>sutura duodenal e na superfície do pâncreas) justifica uma reconstrução à Billroth II em vez de Billroth I, o que resultará em</p><p>menor risco de obstrução gástrica secundária à recidiva tumoral. Se o paciente ficar com um coto gástrico remanescente</p><p>pequeno, uma reconstrução em Y de Roux deve ser realizada para diminuir o risco de esofagite por refluxo alcalino.</p><p>Para lesões proximais, do fundo ou da cárdia, uma gastrectomia total com esofagojejunostomia em Y de Roux ou uma</p><p>gastrectomia proximal são equivalentes do ponto de vista oncológico. A taxa de deiscência anastomótica pós‑operatória é</p><p>mais elevada nas esofagojejunostomias, mas as margens de ressecção são maiores do que nas gastrojejunostomias. Quando</p><p>uma margem negativa é obtida, realiza‑se uma gastrojejunostomia. Entretanto, para realizar uma anastomose livre de</p><p>tensão com o esôfago distal, uma esofagojejunostomia em Y de Roux é geralmente necessária, seja pela técnica de sutura</p><p>manual ou por grampeamento.</p><p>As técnicas minimamente invasivas têm sido utilizadas para muitos tumores do trato GI, e o câncer gástrico não é uma</p><p>exceção. Vários estudos têm mostrado bons resultados a curto e a longo prazo para a abordagem laparoscópica. Uma</p><p>metanálise de trabalhos que compararam gastrectomia distal aberta com laparoscópica para o tratamento do câncer gástrico</p><p>mostrou que a abordagem laparoscópica resultou em tempos operatórios mais longos, mas com menores índices de</p><p>complicações e com tempo de internação hospitalar mais curto.26 Nesta análise, a laparoscopia resultou em ressecção de</p><p>menos 3,9 linfonodos em média. No entanto, uma metanálise separada, de oito estudos nos quais a linfadenectomia D2</p><p>(explicado mais adiante) foi especificamente realizada, não mostrou diferença no número de linfonodos ressecados entre as</p><p>abordagens laparoscópica e aberta.</p><p>No geral, a gastrectomia laparoscópica mostrou ser segura e eficaz no tratamento do câncer gástrico. Apesar de parecer</p><p>haver uma curva de aprendizado, quando realizada por um cirurgião experiente, tem resultados oncológicos equivalentes,</p><p>com menos dor pós‑operatória, início precoce da alimentação oral e alta hospitalar mais precoce.</p><p>Ressecção Endoscópica</p><p>Para o câncer gástrico precoce, com invasão limitada da parede gástrica e sem evidências de metástases linfonodais, a</p><p>ressecção endoscópica pode ser realizada. Isso tem sido amplamente praticado no Japão há décadas e tem sido avaliado nos</p><p>Estados Unidos e na Europa. Não houve um estudo randomizado controlado comparando a ressecção endoscópica da</p><p>mucosa com a gastrectomia por câncer gástrico precoce. A prática atual tem como base estudos não randomizados</p><p>prospectivos e revisões retrospectivas. A vantagem mais significativa da ressecção endoscópica é evitar a necessidade de</p><p>gastrectomia, por laparotomia ou laparoscopia. A principal desvantagem é a ressecção incompleta por causa do tamanho do</p><p>tumor ou por metástases linfonodais não reconhecidas. Para evitar tratamento inadequado, vários estudos foram realizados</p><p>para identificar os fatores de risco para a disseminação</p><p>das metástases linfonodais. Um estudo japonês de 1.196 pacientes</p><p>com câncer gástrico intramucoso, sem doença linfonodal conhecida, submetidos à ressecção cirúrgica apurou, na análise</p><p>multivariada, que a invasão dos vasos linfáticos, a ulceração histológica do tumor e o tamanho ≥ 30 mm foram fatores de</p><p>risco independentes para metástases para linfonodos regionais. Pacientes sem qualquer um desses fatores de risco tinham</p><p>apenas 0,36% de chance de ter metástases linfonodais.27 Com base nesses dados, as diretrizes gerais para a ressecção</p><p>endoscópica do câncer gástrico precoce passaram a ser as seguintes: (1) tumor limitado à mucosa; (2) nenhuma invasão</p><p>linfovascular; (3) tumor menor que 2 cm; (4) sem ulceração e (5) e tumores bem ou moderadamente diferenciados na</p><p>avaliação histopatológica. O achado de qualquer um destes fatores na biópsia inicial ou durante a ressecção endoscópica</p><p>são indicações tácitas para a realização de gastrectomia com linfadenectomia.</p><p>A ressecção endoscópica pode ser realizada usando uma de duas técnicas: EMR (ressecção endoscópica da mucosa) ou</p><p>ESD (dissecção endoscópica submucosa). O princípio básico para EMR envolve elevar o tumor por meio de injeção de</p><p>solução salina e depois rodear a mucosa afetada com um dispositivo de ressecção para excisá‑la com eletrocautério. As</p><p>taxas de perfuração são baixas, e as de sangramento são de aproximadamente 15%; estes geralmente podem ser controlados</p><p>sem a necessidade de intervenção adicional (Fig. 48‑27).</p><p>FIGURA 4827 Ressecção endoscópica da mucosa: solução salina é injetada na camada submucosa, e a área</p><p>é elevada (1). O topo do monte é puxado para cima com fórceps e o laço é colocado na base da lesão (2 e 3). A</p><p>corrente eletrocirúrgica é aplicada pelo laço para ressecar a mucosa, e a remoção da lesão (4). (De Tanabe S,</p><p>Koizumi W, Kokutou M et al: Usefulness of endoscopic aspiration mucosectomy as compared with strip biopsy for the treatment of</p><p>gastric mucosal cancer. Gastrointest Endosc50:819–822, 1999.)</p><p>São bons os resultados a longo prazo para pacientes adequadamente selecionados. Uma revisão retrospectiva</p><p>multicêntrica de 2007 com 516 pacientes coreanos mostrou que a ressecção completa ocorreu em 77% dos pacientes, a taxa</p><p>de recorrência foi de 6% para pacientes que tiveram uma ressecção completa, sem mortalidade específica pela doença com</p><p>acompanhamento médio de 39 meses.28 Os dados da experiência japonesa têm mostrado taxas semelhantes de ressecção</p><p>completa e de recorrência.</p><p>Alguns autores propuseram a expansão dos critérios de elegibilidade para a ressecção endoscópica com base nos</p><p>resultados de vários estudos de câncer gástrico ressecado. Um estudo japonês com mais de 5.000 pacientes submetidos à</p><p>ressecção evidenciou que pequenos tumores, independente de ulcerados ou não, e tumores não ulcerados,</p><p>independentemente do tamanho, não tiveram doença linfonodal associada.29 Também foi verificado que pacientes com</p><p>invasão submucosa inferior a 500 μm se comportam similarmente a pacientes que tinham tumores intramucosos. Em vista</p><p>destes achados, os critérios propostos foram estendidos e passaram a incluir todos os tumores intramucosos sem ulceração,</p><p>tumores intramucosos bem diferenciados menores do que 3 cm, independente de ulcerados ou não, e tumores com invasão</p><p>limitada da submucosa (SM1) menores que 3 cm e sem ulceração.</p><p>Para o tratamento de tumores maiores ou daqueles com invasão SM1, as técnicas EMR‑padrão são geralmente ineficazes.</p><p>Tendo em vista o tamanho e a profundidade, os médicos que tratam pacientes sob estes critérios estendidos têm usado a</p><p>técnica ESD. Nesta técnica, marcam‑se os limites da lesão com eletrocautério. Uma injeção submucosa de epinefrina com o</p><p>corante índigo carmim hidrodisseca a lesão, e uma “faca de dissecção” com ponta isolada é usada para remover a lesão</p><p>dissecando o plano submucoso profundo ao tumor e removendo‑o em bloco. Qualquer hemorragia é controlada com</p><p>eletrocautério (Fig. 48‑28).</p><p>FIGURA 4828 Procedimento de dissecção endoscópica submucosa. A, Um câncer gástrico precoce tipo</p><p>IIa + IIc foi localizado na pequena curvatura do antro. B, Corante índigo carmim foi borrifado ao redor da lesão</p><p>para definir com precisão a margem. C, Pontos de marcação foram feitos circunferencialmente a</p><p>aproximadamente 5 mm das laterais das margens da lesão. D, Depois de uma injeção submucosa de solução</p><p>salina com epinefrina misturada com índigo carmin, foi realizada uma incisão circunferencial da mucosa fora dos</p><p>pontos de marcação para separar a lesão da mucosa circundante não neoplásica. E e F, Após uma injeção</p><p>submucosa adicional, o tecido conjuntivo submucoso logo abaixo da lesão foi diretamente dissecado usando</p><p>uma faca eletrocirúrgica em vez de usar um laço. G, A lesão foi completamente ressecada, e a consequente</p><p>úlcera artificial pôde ser observada. H, Espécime ressecado com um câncer gástrico precoce no centro. (De Min</p><p>BH, Lee JH, Kim JJ et al: Clinical outcomes of endoscopic submucosal dissection (ESD) for treating early gastric cancer:</p><p>Comparison with endoscopic mucosal resection after circumferential precutting (EMRP). Dig Liver Dis41:201–209, 2009.)</p><p>Existem dados limitados sobre os resultados dos pacientes submetidos a EMR ou ESD pelos critérios estendidos. Uma</p><p>grande série de 1.627 pacientes submetidos à ressecção usando técnicas de EMR ou ESD mostrou que tanto os pacientes</p><p>com critérios‑padrão como aqueles com critérios estendidos para ressecção endoscópica tiveram taxas de recorrência local</p><p>igualmente baixas (0,9% e 1,1%) com uma mediana de tempo de seguimento de 32 meses.30 No entanto, para pacientes</p><p>submetidos à ressecção com critérios estendidos, a ESD resultou em taxas de ressecção completa significativamente</p><p>superiores em comparação com a EMR (83% versus 91%, P</p><p>completa dos linfonodos do tronco celíaco e periaórticos em uma linfadenectomia superestendida D3.</p><p>Vários estudos randomizados compararam os resultados de pacientes submetidos à linfadenectomia D1 versus D2, com</p><p>resultados conflitantes. Se estes resultados conflitantes são resultado de diferente biologia tumoral ou da técnica cirúrgica, é</p><p>uma questão de debate. Os dois grandes ensaios randomizados não japoneses (ensaios MRC e D1D2 holandês) mostraram</p><p>que a linfadenectomia D2 resultou em taxas mais elevadas de morbidade perioperatória e aumento da mortalidade.31,32 O</p><p>ensaio MRC constatou não haver diferença nos resultados de sobrevida global ou sobrevida livre de recorrência para um</p><p>seguimento superior a 5 anos.33 Embora o ensaio holandês D1D2 tenha mostrado taxas de recorrência mais baixas e</p><p>sobrevida livre de doença aos 15 anos de seguimento no grupo D2, não houve diferença na sobrevida global, possivelmente</p><p>por causa do aumento da mortalidade perioperatória nos pacientes D2. Os resultados de ambos os ensaios se tornam</p><p>confusos pelo fato de que os pacientes submetidos à esplenectomia concomitante tiveram taxas mais elevadas de morbidade</p><p>e mortalidade perioperatória e, por isto, atualmente o grupo do ensaio holandês D1D2 defende uma linfadenectomia D2</p><p>com preservação esplênica.</p><p>Ao contrário, os japoneses mostraram um aumento da sobrevida nos pacientes submetidos à linfadenectomia D2, sem</p><p>aumento ou com aumento mínimo da morbidade. Uma metanálise de 12 ensaios randomizados comparando as dissecções</p><p>ganglionares mostrou que quando o baço é preservado, a dissecção D2 resultou em uma sobrevida livre de recorrência</p><p>superior, com uma tendência no sentido do aumento da sobrevida global.34 Quando avaliados em conjunto, estes dados</p><p>demonstram que, na ausência de invasão tumoral, o baço deve ser preservado durante a gastrectomia para câncer gástrico e</p><p>que provavelmente a linfadenectomia D2 é oncologicamente superior mas deve ser realizada de modo seguro, sem</p><p>acréscimo na mortalidade perioperatória, para que tenha benefício a longo prazo para o paciente.</p><p>Em 1997, o AJCC mudou o sistema de estadiamento TNM de modo que o estadiamento N foi definido não pela</p><p>localização dos nódulos, mas pelo número de nódulos. Juntamente com esta mudança, foi feita a recomendação de que pelo</p><p>menos 15 linfonodos sejam removidos para fins de estadiamento adequado. Vários estudos têm avaliado o impacto desta</p><p>mudança com relação ao prognóstico e os resultados. Em análises multivariadas, somente o número de linfonodos</p><p>comprometidos, e não a localização, foi um importante preditor de mortalidade. Quando o número de linfonodos foi usado</p><p>para o estadiamento, houve maior consistência nas taxas de sobrevida, proporcionando melhor qualidade na informação</p><p>prognóstica para pacientes dentro de um determinado estágio (Tabela 48‑9).</p><p>Tabela 489</p><p>Sobrevida Média de acordo com a Localização dos Linfonodos Positivos versus Número de</p><p>Linfonodos Positivos</p><p>TAMANHO</p><p>SOBREVIDA MÉDIA (MESES)</p><p>1‑6 NP 7‑15 NP >PN 15</p><p>3 cm (n = 233) 35,5 (n = 81) 19,7 (n = 96) 12,5 (n = 56)</p><p>NP, linfonodos positivos.</p><p>Adaptada de Karpeh MS, Leon L, Klimstra D et al: Lymph node staging in gastric cancer: Is location more important than number?</p><p>An analysis of 1038 patients. Ann Surg 232: 362–371, 2000.</p><p>A melhora nas taxas de sobrevida pode ser causada pela migração do estadiamento. Os pacientes que previamente</p><p>estavam subestadiados passaram a ser classificados como tendo status de nódulo positivo, melhorando assim o prognóstico</p><p>de ambos os grupos. Independentemente disso, a melhor homogeneidade no estadiamento e a redução do subestadiamento</p><p>são fundamentais para a tomada de decisões clínicas com relação ao prognóstico e ao tratamento.</p><p>Quinze linfonodos tornaram‑se um marcador para linfadenectomia adequada. O número de nódulos removidos está</p><p>relacionado com o volume de cirurgias em um hospital e se este é uma instituição do National Comprehensive Cancer</p><p>Network‑National Cancer Institute (Tabela 48‑10).35 Entretanto, mesmo nos centros do National Comprehensive Cancer</p><p>Network‑National Cancer Institute de alto volume de atendimento, a porcentagem de pacientes que têm mais de 15</p><p>linfonodos examinados é inferior a 50%. Em geral, apenas 23,8% dos pacientes entre mais de 3.000 estudados, tinham mais</p><p>de 15 linfonodos examinados. Há claramente espaço para melhoras, independentemente do tipo de instituição.</p><p>Tabela 4810</p><p>Taxas de Ressecção de Linfonodos no Câncer Gástrico*</p><p>VARIÁVEL</p><p>QUANTIDADE MÉDIA DE LINFONODOS</p><p>EXAMINADOS (FAIXA DE PERCENTIS)</p><p>PACIENTES COM PELO MENOS 15</p><p>LINFONODOS EXAMINADOS (%)</p><p>Todos os</p><p>hospitais</p><p>7 (3‑14) 23,2</p><p>Tipo de hospital</p><p>NCCN‑NCI 12 (6‑20) 42,3</p><p>Outros</p><p>acadêmicos</p><p>8 (4‑15) 25,5</p><p>Hospitais</p><p>comunitários</p><p>6 (3‑12) 17,7</p><p>Volume</p><p>hospitalar</p><p>Muito alto 10 (5‑18) 34,7</p><p>Alto 8 (4‑14) 22,2</p><p>Moderado 6 (2‑13) 17,8</p><p>Baixo 6 (3‑12) 16,8</p><p>NCCNNCI, National Comprehensive Cancer Network – National Cancer Institute</p><p>* Estratificado por tipo de hospital e volume.</p><p>De Bilimoria KY, Talamonti MS, Wayne JD et al: Effect of hospital type and volume on lymph node evaluation for gastric and</p><p>pancreatic cancer. Arch Surg 143:671–678, 2008.</p><p>Como se alcança uma ressecção adequada de 15 linfonodos? Alguns autores argumentam que os estudos citados indicam</p><p>evidências de que uma linfadenectomia D2 formal deve ser o padrão. Mas isto também é uma questão de sistematização em</p><p>uma determinada instituição e não depende apenas do cirurgião, mas também do departamento de patologia. Para o</p><p>cirurgião o foco deve estar na obtenção de uma dissecção suficientemente alargada de linfonodos para estadiar o paciente</p><p>adequadamente. Dada a predominância da linfadenectomia D1 nos Estados Unidos e a falha em remover 15 linfonodos</p><p>para análise, a simples ressecção de tecido perigástrico parece inadequada. Deve‑se atentar para a remoção de tecido</p><p>fibroadiposo ao longo dos troncos vasculares. Em centros especializados de alto volume de atendimento, que</p><p>rotineiramente podem realizar linfadenectomia D2 sem aumento da morbidade, as ressecções mais amplas tendem a se</p><p>tornar o padrão de tratamento.</p><p>Terapia Neoadjuvante e Adjuvante</p><p>O câncer gástrico permanece como um câncer biologicamente agressivo, com altas taxas de recorrência e mortalidade. Uma</p><p>revisão de mais de 2.000 pacientes submetidos à ressecção R0 demonstrou taxas de recidiva de quase 30%, com a maioria</p><p>dos pacientes tendo a recorrência nos primeiros 2 anos (média de 21,8 meses).36 Para pacientes com recorrência, o</p><p>prognóstico era quase sempre fatal, com uma taxa de mortalidade de 94% e um tempo médio de sobrevida após a</p><p>recorrência de apenas 8,7 meses. Outras grandes séries mostraram resultados semelhantes.</p><p>Por trás desses resultados insatisfatórios está o fato de que os regimes de quimioterapia inicial para o câncer gástrico</p><p>proporcionam pouco benefício. Diversos estudos primários e metanálises mostraram resultados inconclusivos. Em geral, a</p><p>sobrevida dos pacientes que recebem terapia adjuvante não é melhor que a cirurgia isoladamente.</p><p>O Southwest Oncology Group (9008/INT‑0116) relatou um estudo controlado randomizado de 556 pacientes que haviam</p><p>sido submetidos à gastrectomia curativa isolada ou gastrectomia combinada com 5‑fluorouracil e radioterapia</p><p>adjuvantes.37 Esse estudo mostrou um benefício significativo da terapia adjuvante para a sobrevida global (41% versus 50%)</p><p>e sobrevida livre de recidiva (41% versus 64%). Como resultado, a quimio e a radioterapia adjuvante se tornaram o padrão</p><p>de tratamento para pacientes submetidos à gastrectomia curativa nos Estados Unidos. Diversos autores têm criticado estes</p><p>resultados, pela observação de altas taxas de linfadenectomia inadequada</p><p>(54% dos pacientes foram submetidos à uma</p><p>ressecção D0). Esses achados sugerem ser possível que um dos benefícios da irradiação seja a eliminação de doença</p><p>linfonodal residual nas cadeias perigástricas. Além disso, apenas 64% dos pacientes randomizados para este tipo de</p><p>tratamento conseguiram finalizar a terapia; 17% tiveram que interromper o tratamento em razão dos efeitos tóxicos e 5%</p><p>tiveram progressão de doença em vigência do tratamento.</p><p>Algumas destas deficiências no desenho dos estudos foram abordadas no estudo CLASSIC, que randomizou 1.035</p><p>pacientes submetidos à gastrectomia com linfadenectomia D2 para cirurgia isolada ou cirurgia seguida de oito ciclos de três</p><p>semanas de capecitabina mais oxaliplatina.38 O ensaio foi interrompido precocemente depois que os pacientes do grupo da</p><p>terapia adjuvante apresentaram taxas de sobrevida livre de doença significativamente superiores</p><p>(74% versus 59%, P</p><p>mais longa que a da G‑17. A sequência de pentapeptídeo do terminal</p><p>carboxila da gastrina é o componente biologicamente ativo e é idêntico ao encontrado em outro peptídeo intestinal, o CCK.</p><p>O CCK e a gastrina diferem pelos sítios de sulfatação da tirosina. A liberação da gastrina é estimulada pelos componentes</p><p>alimentares de uma refeição, especialmente por produtos da digestão das proteínas. O ácido gástrico intraluminal inibe a</p><p>liberação de gastrina. No antro, a liberação de somatostatina e gastrina estão funcionalmente ligadas, e existe uma relação</p><p>inversa recíproca entre esses dois peptídeos.</p><p>A gastrina é o principal regulador hormonal da fase gástrica da secreção ácida após uma refeição. A histamina, liberada</p><p>pelas células semelhantes às enterocromafins (enterochromaffin‑like – ECL) também é um estimulante potente da liberação de</p><p>ácido pela célula parietal. A gastrina também apresenta efeitos tróficos consideráveis nas células parietais e nas células</p><p>gástricas ECL. A hipergastrinemia prolongada por qualquer causa leva à hiperplasia da mucosa e ao aumento no número</p><p>de células ECL e, em algumas circunstâncias, está associada ao desenvolvimento de tumores carcinoides gástricos.</p><p>A hipergastrinemia pode sugerir um estado patológico de hipersecreção ácida, mas geralmente é o resultado do</p><p>tratamento com substâncias para diminuir a secreção ácida, como os inibidores da bomba de prótons (IBP). A Tabela 48‑</p><p>2 mostra causas comuns de hipergastrinemia crônica. A hipergastrinemia, que resulta da administração de medicamentos</p><p>inibidores da secreção ácida, é uma resposta decorrente da perda do feedback da inibição da liberação de gastrina pelo ácido</p><p>gástrico. A ausência de ácido causa redução na liberação da somatostatina, o que leva a aumento na liberação de gastrina</p><p>pelas células G antrais. A hipergastrinemia também pode ocorrer na vigência de anemia perniciosa e/ou de uremia, ou após</p><p>procedimentos cirúrgicos, como a vagotomia ou o antro gástrico residual após gastrectomia. Em contrapartida, os níveis de</p><p>gastrina estão inapropriadamente elevados em pacientes com gastrinomas (síndrome de Zollinger‑Ellison). Esses tumores</p><p>secretores de gastrina não estão localizados no antro e secretam gastrina autonomamente.</p><p>Tabela 482</p><p>Causas de Hipergastrinemia</p><p>CAUSAS ULCEROGÊNICAS CAUSAS NÃO ULCEROGÊNICAS</p><p>Hiperplasia das células G antrais ou hiperfunção Agentes antissecretores (IBP)</p><p>Antro retido excluso Gastrite atrófica</p><p>Síndrome de Zollinger‑Ellison Anemia perniciosa</p><p>Obstrução gástrica Cirurgia ácido‑redutora (vagotomia)</p><p>Síndrome do intestino curto Infecção por Helicobacter pylori</p><p>Insuficiência renal crônica</p><p>IBP, inibidores da bomba de prótons.</p><p>A gastrina inicia sua ação biológica pela ativação dos receptores de membrana da superfície celular. Estes receptores são</p><p>membros da clássica família de receptores transmembrana dos sete transmissores acoplados à proteína G e são classificados</p><p>como receptores CCK tipo A ou B. O receptor de gastrina ou CCK‑B tem elevada afinidade pela gastrina e pelo CCK,</p><p>enquanto os receptores CCK‑A têm afinidade para análogos CCK sulfatados e baixa afinidade para a gastrina. A ligação da</p><p>gastrina com o receptor CCK‑B tem sido associada a níveis elevados de cálcio intracelular.</p><p>Somatostatina</p><p>A somatostatina é produzida pelas células D e existe endogenamente como peptídeo com 14 ou 28 aminoácidos. A forma</p><p>molecular predominante no estômago é a somatostatina 14. Ela é produzida pelas células neuroendócrinas difusas</p><p>localizadas tanto no fundo quanto no antro. Nessas localizações, as extensões citoplasmáticas das células D estão em</p><p>contato direto com as células parietais e com as células G, nas quais a somatostatina presumivelmente exerce suas ações por</p><p>meio dos seus efeitos parácrinos sobre a secreção ácida e a liberação de gastrina.1 A somatostatina é capaz de inibir</p><p>diretamente a secreção do ácido da célula parietal, mas também pode bloquear indiretamente a secreção do ácido pela</p><p>inibição da liberação de gastrina e pela redução da liberação da histamina pelas células ECL. O principal estímulo para a</p><p>liberação da somatostatina é a acidificação antral, enquanto a acetilcolina proveniente das células vagais inibe sua liberação.</p><p>Os receptores da somatostatina também são os sete receptores transmembrana acoplados. A ligação da somatostatina</p><p>com seus receptores é acoplada a uma ou mais proteínas inibidoras vinculadas ao nucleotídeo guanina. Os receptores de</p><p>somatostatina da celular parietal parecem ser uma única subunidade de glicoproteínas com peso molecular de 99 kDa, com</p><p>afinidade igual para somatostatina 14 e somatostatina 28. A somatostatina pode inibir a secreção da célula parietal por</p><p>mecanismos dependentes ou independentes da proteína G. No entanto, a capacidade da somatostatina de exercer suas</p><p>ações inibidoras sobre a função celular parece ser mediada principalmente pela inibição da adenilato ciclase, com resultante</p><p>redução nos níveis de AMP cíclico.</p><p>Peptídeo Liberador de Gastrina</p><p>A bombesina foi descoberta em 1970 em um extrato de pele de anfíbio Bombina bombina (sapo europeu). A sua contraparte</p><p>nos mamíferos é o peptídeo liberador de gastrina (GRP). GRP é particularmente proeminente nas terminações nervosas das</p><p>porções secretoras de ácido e secretora de gastrina do estômago e é encontrada na camada muscular circular. Na mucosa</p><p>antral, o GRP estimula a liberação de gastrina e de somatostatina por intermédio de sua ligação com receptores localizados</p><p>nas células G e D, respectivamente. Ele é rapidamente eliminado da circulação por uma endopeptidase neutra, e tem uma</p><p>meia‑vida de aproximadamente 1,4 minuto. A administração periférica do GRP exógeno estimula a secreção ácida gástrica,</p><p>enquanto sua administração central, nos ventrículos, inibe a secreção ácida. Essa via inibitória não é mediada por um fator</p><p>humoral, não é afetada pela vagotomia e parece envolver o sistema nervoso simpático.</p><p>Histamina</p><p>A histamina exerce um papel proeminente na estimulação da célula parietal. A administração de antagonistas de receptores</p><p>de histamina 2 (H2) quase abole completamente a secreção de ácido gástrico em resposta à gastrina e à acetilcolina. Esses</p><p>dados sugerem que a histamina pode atuar como um intermediário necessário à secreção de ácido estimulado pela gastrina</p><p>e pela acetilcolina. A histamina é armazenada em grânulos ácidos de células ECL e em mastócitos residentes. A sua</p><p>liberação é estimulada pela gastrina, pela acetilcolina e pela epinefrina após interações com o receptor‑ligante nas células</p><p>ECL. Em contrapartida, a somatostatina inibe a liberação de histamina estimulada pela gastrina por meio de interações com</p><p>os receptores da somatostatina localizados na célula ECL. A célula ECL exerce um papel essencial na ativação da célula</p><p>parietal, que apresenta tanto vias de retroalimentação estimuladoras quanto inibidoras que modulam a liberação de</p><p>histamina e, portanto, a secreção ácida.</p><p>Grelina</p><p>A grelina é um peptídeo de 28 aminoácidos produzidos predominantemente pelas células endócrinas da mucosa oxíntica</p><p>do estômago, com quantidades substancialmente menores derivadas do intestino, pâncreas e outros órgãos. A remoção da</p><p>parte produtora de ácido do estômago reduz a grelina circulante em torno de 80%. A grelina parece estar sob controle</p><p>endócrino e metabólico, tem ritmo diurno, provavelmente desempenha um papel importante na resposta neuroendócrina e</p><p>metabólica às alterações do estado nutricional e pode ser um hormônio anabólico importante.</p><p>Em voluntários humanos, a administração de grelina aumenta o apetite e a ingestão de alimento. Em pacientes que se</p><p>submeteram ao bypass gástrico, os níveis de grelina são 77% inferiores aos dos obesos de controle, um achado não</p><p>observado após outras formas de operação antiobesidade. Embora o mecanismo responsável</p><p>ácido levofolínico e irinotecano; estudo FOLCETUX) ou doxatel e cisplatina (estudo DOCETUX). Nesses</p><p>ensaios de eficácia limitada, houve um aumento na taxa da resposta geral, mas nenhuma melhora na sobrevida global.</p><p>Ensaios de fase III serão necessários para determinar o papel do cetuximabe no câncer gástrico com mais exatidão.</p><p>Câncer Gástrico Complicado</p><p>O câncer gástrico avançado representa um desafio difícil para o cirurgião. A doença avançada é caracterizada por sintomas</p><p>graves, como dor, obstrução ou sangramento. A determinação da estratégia de tratamento ideal para cada paciente pode ser</p><p>complexa e requer disponibilidade e o envolvimento de uma equipe multidisciplinar de oncologia. A abordagem geral para</p><p>estes problemas será debatida em seguida.</p><p>Câncer gástrico localmente avançado</p><p>Os pacientes com doença avançada considerada como irressecável em decorrência do envolvimento de órgãos adjacentes,</p><p>geralmente o pâncreas ou o baço, ou com doença linfonodal extensa, incluindo gânglios para‑aórticos, são particularmente</p><p>desafiadores. Os dados dos dois ensaios randomizados e controlados, mencionados anteriormente, os ensaios holandês e</p><p>britânico, comparando a linfadenectomia D1 e D2, incluindo a pancreatoesplenectomia como parte da linfadenectomia D2,</p><p>indicaram que esta ressecção múltipla aumenta significativamente a mortalidade perioperatória e a morbidade. Como</p><p>resultado, a ressecção de múltiplos órgãos foi, em geral, abandonada em pacientes com câncer gástrico. Entretanto, em</p><p>ambos os estudos, as ressecções multiorgânicas foram realizadas independente do estágio T do tumor. No estudo britânico</p><p>MRC, nenhum paciente tinha doença T4 confirmada patologicamente, sugerindo que a maioria dos pacientes (talvez todos)</p><p>que tiveram uma ressecção multiorgânica teria alcançado uma ressecção R0, mesmo sem pancreatoesplenectomia. Isso</p><p>contrasta com os dados de vários estudos retrospectivos, incluindo uma revisão de 1.133 pacientes submetidos à ressecção</p><p>R0 no Memorial Sloan Ke埾�ering Cancer Center. Nesse estudo, apenas o sexo masculino, a profundidade da invasão e o</p><p>estado linfonodal foram preditores de mau prognóstico na análise multivariada.44 Dos 268 pacientes que se submeteram</p><p>ressecção multiorgânica R0, a sobrevida global em 5 anos foi de 32%, com uma sobrevida média de 32 meses.</p><p>Em todos esses estudos, o objetivo de realizar a ressecção múltipla de órgãos, em geral, é o desejo de atingir uma</p><p>ressecção R0. Os pacientes com doença comprovadamente T4, submetidos à ressecção R0, têm benefício clínico e</p><p>estatisticamente significante de sobrevida sobre aqueles submetidos apenas à ressecção paliativa, com o grupo de ressecção</p><p>paliativa tendo taxas de sobrevida semelhantes às da quimioterapia isolada.</p><p>Em um esforço para aumentar o número de pacientes passíveis de ressecção R0, vários pesquisadores têm avaliado o</p><p>papel da neoadjuvância na doença irressecável. Em um ensaio de fase II de 2009 realizado por Sym et al.45, quarenta e nove</p><p>pacientes com câncer gástrico clinicamente irressecável foram tratados com cisplatina, docetaxel e capecitabina, e tiveram</p><p>uma taxa de ressecção R0 de 63%, em comparação com as taxas históricas de 30% a 60%. Esses pacientes foram</p><p>prospectivamente estratificados de acordo com seus critérios de irressecabilidade, ou seja, envolvimento de órgãos</p><p>adjacentes, massa linfonodal para‑aórtica ou doença peritoneal limitada. Para os pacientes sem doença peritoneal, a taxa de</p><p>ressecção R0 foi superior a 70%. De todos os pacientes que tiveram ressecção R0, aqueles com envolvimento de órgãos</p><p>adjacentes foram os que tiveram resultados significativamente melhores. Em um acompanhamento médio de 51 meses, a</p><p>média de progressão livre de doença e de sobrevida global ainda está por ser alcançada, com uma sobrevida global prevista</p><p>em 5 anos de 54%. Esse pequeno ensaio de fase II mostrou resultados promissores, especialmente para pacientes com</p><p>doença T4, ainda que esses resultados necessitem ser validados em estudos de fase III.</p><p>Todos estes dados sugerem que a ressecção multiorgânica é benéfica em pacientes adequadamente selecionados. A</p><p>dificuldade é como selecionar adequadamente os pacientes. A porcentagem de pacientes com doença clínica T4 e que têm</p><p>verdadeiramente doença T4 nos exames histopatológicos, varia de 14% a 38,5%, com a TC tendo apenas um valor preditivo</p><p>positivo de 50% para doença T4 verdadeira. Na medida em que os métodos de estadiamento pré‑operatório aumentam suas</p><p>acurácias, o mesmo ocorrerá com a capacidade de selecionar adequadamente os pacientes para as diversas opções de</p><p>tratamento, incluindo a ressecção múltipla de órgãos. Por enquanto, pacientes em que se pode realizar uma ressecção R0, o</p><p>tratamento cirúrgico agressivo parece desejável. Entretanto, em pacientes que, no momento da laparoscopia ou</p><p>laparotomia, têm doença considerada irressecável e sem sintomas que justifiquem a ressecção, a ressecção paliativa deve ser</p><p>evitada.</p><p>Complicações</p><p>Pacientes com doença irressecável podem desenvolver complicações como sangramento, perfuração e obstrução. O</p><p>tratamento deve ser focado na melhor paliação com morbidade mínima. Para pacientes com sangramento, as abordagens</p><p>endoscópicas (p. ex., cautério, clipagem, injeção) devem ser consideradas como de primeira linha e, de forma semelhante a</p><p>qualquer hemorragia gastrointestinal aguda, várias tentativas são aceitáveis em pacientes hemodinamicamente estáveis. Se</p><p>a endoscopia não for bem‑sucedida, a angiografia com embolização com molas é uma opção razoável, ainda que mostre</p><p>pouco sucesso. Se o paciente estiver instável e outros métodos não tiverem sucesso, a intervenção cirúrgica é justificada. A</p><p>ressecção deve ser adaptada à situação clínica. Para pacientes com uma previsão de sobrevida curta, a ressecção limitada</p><p>com margens tumorais macroscopicamente negativas é o indicado. Pacientes com doença mais localizada podem ser</p><p>tratados com a ressecção gástrica mais agressiva.</p><p>Para pacientes com obstrução gástrica, várias opções estão disponíveis. A dilatação endoscópica e a colocação</p><p>de stent pode oferecer boa paliação a curto prazo; no entanto, a progressão tumoral e a migração do stent limitam a eficácia</p><p>a longo prazo. A quimiorradioterapia mostrou taxas de êxito global de 50% e pode aliviar a obstrução do trânsito. Para</p><p>pacientes considerados como passíveis de terem uma sobrevida mais longa (p. ex., aqueles sem metástases à distância e sem</p><p>elevado volume de doença peritoneal), uma gastrojejunostomia para derivação do trânsito ou uma gastrectomia paliativa</p><p>são abordagens razoáveis.</p><p>O câncer gástrico perfurado requer intervenção cirúrgica. O fechamento primário da perfuração, em tecido tumoral</p><p>frequentemente necrótico, não possível na maioria das vezes. Tendo em vista o pobre estado funcional e o prognóstico</p><p>precário de muitos desses pacientes, um fechamento com omento saudável é uma abordagem razoável. Se puder ser feita</p><p>sem maior morbidade, como nas ressecções de múltiplos órgãos, a gastrectomia pode também ser realizada.</p><p>A linite plástica é uma forma particularmente agressiva da doença. Esses pacientes frequentemente têm mais dores,</p><p>obstrução e má função gástrica. O controle dos sintomas e a quimiorradioterapia paliativa devem ser considerados como</p><p>tratamento primário. Para pacientes com sintomas intratáveis, que não respondem a outras medidas, pode ser realizada</p><p>uma gastrectomia total.</p><p>Resultados</p><p>A taxa global de mortalidade para o câncer gástrico é 3,7 mortes/100.000 pessoas, uma queda de 35% desde 1992. Essa</p><p>incidência vem diminuído desde 1930, e, provavelmente, é decorrente de alterações na dieta, como menor ingestão de</p><p>sódio, alterações no preparo e armazenamento dos alimentos além da diminuição</p><p>do tabagismo. Não obstante, a sobrevida</p><p>em termos gerais em 5 anos permanece inferior a 25%. Muitos destes pacientes se apresentam com doenças em fase</p><p>avançada. Para pacientes submetidos a uma ressecção potencialmente curativa, os índices de sobrevida em 5 anos variam de</p><p>24% a 57% e para o subgrupo com câncer gástrico precoce, as taxas de cura são superiores a 80%. Para pacientes que</p><p>apresentam doença com disseminação a distância, a sobrevida a longo prazo é apenas de 4% (Fig. 48‑29).Mais de 63% dos</p><p>pacientes se apresentam com doença localmente avançada ou com metástases à distância.</p><p>FIGURA 4829 Taxas relativas de sobrevida em 5 anos de pacientes com tipos de câncer selecionados por raça</p><p>e estágio ao diagnóstico, Estados Unidos, 19962004. (De Jemal A, Siegel R, Ward E et al: Cancer statistics. CA Cancer J</p><p>Clin 59:225–249, 2009.)</p><p>Recorrência</p><p>As taxas de recidiva após gastrectomia são altas, variando de 40% a 80%, dependendo das séries. A maior parte das</p><p>recidivas ocorre nos primeiros 3 anos. A recorrência locorregional varia de 38% a 45%, enquanto a disseminação peritoneal</p><p>ocorre em 54% dos pacientes em diversas séries. As metástases isoladas à distância são incomuns, pois a maioria dos</p><p>pacientes com comprometimento à distância também apresenta recidiva locorregional. Os locais mais comuns de recidiva</p><p>locorregional são o coto gástrico remanescente no nível da anastomose, no leito gástrico e nos linfonodos regionais. A</p><p>disseminação hematogênica ocorre para o fígado, pulmões e ossos.</p><p>Vigilância</p><p>Ainda que os pacientes devam ser sistematicamente acompanhados, a maneira como isto deva ser feito não está clara. Pelo</p><p>fato de a maioria das recidivas ocorrerem nos primeiros 3 anos, o acompanhamento é mais frequente nos primeiros anos. O</p><p>seguimento deve incluir história e exame físico completos a cada 4 meses durante o primeiro ano, a cada 6 meses por 2 anos</p><p>e, depois, anualmente. Exames laboratoriais, incluindo hemograma completo e testes de função hepática, devem ser</p><p>realizados conforme o quadro clínico. Muitos médicos solicitam radiografias de tórax, TC do abdome e da pelve</p><p>rotineiramente, enquanto outros realizam estudos apenas quando existem suspeitas clínicas de recidiva. A endoscopia</p><p>anual deve ser considerada para pacientes submetidos à gastrectomia subtotal.</p><p>Linfoma Gástrico</p><p>Epidemiologia</p><p>O estômago é o sítio mais frequente de linfomas do aparelho digestório. No entanto, o linfoma gástrico primário é ainda</p><p>relativamente incomum, sendo responsável por menos de 15% das doenças malignas do estômago e 2% do total de</p><p>linfomas. Os pacientes frequentemente se apresentam com sintomas vagos, como dor epigástrica, saciedade precoce e</p><p>fadiga. Sintomas B (febre, sudorese noturna, perda de peso) são raros. Apesar de raramente haver sangramento franco, mais</p><p>da metade dos pacientes se apresenta com anemia. Os linfomas ocorrem nos pacientes mais idosos, com um pico de</p><p>incidência na sexta e na sétima décadas de vida, e são mais comuns em homens (relação homem:mulher de 2:1). Os</p><p>linfomas gástricos, como os carcinomas, ocorrem mais comumente no antro, mas podem surgir em qualquer parte do</p><p>estômago. Os pacientes são considerados como tendo linfoma gástrico se o estômago for o local exclusivo ou predominante</p><p>da doença.</p><p>Patologia</p><p>No tratamento do linfoma gástrico, assim como nos outros linfomas, é importante determinar não somente o estágio da</p><p>doença, mas também o subtipo do linfoma. Existem muitos sistemas de classificação para linfomas (Tabela 48‑11). O linfoma</p><p>gástrico mais comum é o linfoma de grandes células B difuso (55%), seguido pelo linfoma MALT (40%), linfoma de Burki埾�</p><p>(3%) e linfomas de células do manto e linfomas de células foliculares (cada um</p><p>para os pacientes com linfoma gástrico. O papel</p><p>da ressecção é controverso, e a maior parte dos pacientes é tratada apenas com quimioterapia. O risco de perfuração em</p><p>pacientes tratados com quimioterapia foi exageradamente valorizado no passado e atualmente é de aproximadamente 5%.</p><p>A combinação quimioterápica mais comum é CHOP (ciclofosfamida, hidroxidaunomicina [doxorrubicina], Oncovin</p><p>[vincristina], prednisona). Um estudo prospectivo e randomizado avaliou várias estratégias de tratamento – ressecção</p><p>cirúrgica, ressecção mais radioterapia, ressecção mais quimioterapia, e quimioterapia isolada – em pacientes com doença</p><p>em estágio inicial (Estágio IE ou IIE).43 A adição da quimioterapia foi essencial, e os grupos com cirurgia e quimioterapia e</p><p>com quimioterapia isoladamente, apresentaram sobrevida significativamente maior que os grupos com operação isolada e</p><p>com cirurgia mais radioterapia. A adição de cirurgia à radioterapia ou quimioterapia não melhorou os resultados. O papel</p><p>principal da cirurgia é para pacientes com doença gástrica limitada, para pacientescom recidiva sintomática após insucesso</p><p>do tratamento e para aqueles que desenvolvem complicações, como sangramento, obstrução ou perfuração.</p><p>O diagnóstico de um linfoma detectado inesperadamente durante uma cirurgia pode ser confirmado no exame</p><p>histopatológico por congelação. Ademais, deve‑se enviar para análise tecido fresco para a pesquisa de células ativadas por</p><p>fluorescência, imuno‑histoquímica e análise genética. Deve‑se considerar a aspiração de medula óssea no momento da</p><p>cirurgia. Se for encontrado um linfoma isolado estágio IE ou IIE, a remoção cirúrgica de toda a doença macroscópica é ideal.</p><p>Pacientes com linfoma disseminado não podem ser curados cirurgicamente, e a operação deve focar na obtenção de tecido</p><p>suficiente para o diagnóstico e na reparação de perfurações.</p><p>Linfomas de Tecido Linfoide Associado à Mucosa</p><p>Várias superfícies mucosas têm tecido linfoide associado, incluindo pulmões, intestino delgado e estômago. Em 1983,</p><p>Isaacson e Wright observaram que a histologia de linfomas de células B de baixo grau se assemelhava ao MALT. A partir</p><p>deste achado inicial, ficou determinado que no contexto de uma inflamação prolongada, esses restos de tecido linfoide</p><p>podem evoluir para linfomas de baixo grau. O conceito de linfoma MALT foi estendido para além do estômago, e passou a</p><p>incluir outros linfomas de células B extranodais de baixo grau das glândulas salivares, pulmão e tireoide. Esses órgãos não</p><p>possuem tecido linfoide nativo; assim, os linfomas nesses locais provêm de MALT adquirido como resultado de uma</p><p>inflamação crônica.</p><p>O linfoma MALT gástrico é geralmente precedido por gastrite associada ao H. pylori. Evidências de infecção por H.</p><p>pylori podem ser encontradas em quase todos os casos de linfoma MALT gástrico. Estudos epidemiológicos também</p><p>vincularam a infecção por H. pylori aos linfomas gástricos. Geneticamente, o linfoma MALT é caracterizado por</p><p>translocações t(1;14)(p22;q32) e t(11;18) (q21;q21), ambas resultando em resposta prejudicada à sinalização apoptótica e</p><p>aumento na atividade do fator nuclear κB. Tem sido sugerido que a expressão nuclear de t(11;18) (q21;q21) e BCL‑10 pode</p><p>predizer a falta de resposta ao tratamento de erradicação do H. pylori e da regressão do linfoma.</p><p>Tratamento</p><p>A forte associação de H. pylori com linfoma MALT de baixo grau, despertou o interesse em tratar o linfoma MALT sem</p><p>quimioterapia. Foi sugerido que os linfomas MALT em estágio inicial e alguns casos de linfomas de grandes células B</p><p>difuso limitados, podem ser efetivamente tratados por erradicação do H. Pylori isoladamente. A erradicação bem‑sucedida</p><p>resultou na remissão em mais de 75% dos casos. No entanto, é necessário um acompanhamento cuidadoso, com endoscopia</p><p>a cada 2 meses, para documentar a eliminação da infecção, assim como endoscopias bianuais por 3 anos para documentar a</p><p>regressão. Alguns pacientes continuam a mostrar o clone do linfoma após a erradicação do H. pylori, sugerindo que o</p><p>linfoma se tornou inativo, em vez de desaparecer.</p><p>Presença de extensão transmural do tumor, comprometimento linfonodal, transformação em um fenótipo de grandes</p><p>células, t(11;18), e a expressão nuclear BCL‑10, são capazes de predizer o fracasso do tratamento com a erradicação do H.</p><p>pylori isoladamente. Além disso, um pequeno número de portadores de linfoma MALT é H. pylori‑negativo. Nesses</p><p>pacientes, deve‑se considerar a ressecção cirúrgica, irradiação e quimioterapia. A sobrevida em 5 anos livre de doença com</p><p>o tratamento multimodal é maior que 95% na doença no estágio IE, e maior que 75% na doença no estágio IIE.</p><p>Tumores Estromais Gastrointestinais</p><p>Os tumores estromais gastrointestinais (GIST) são os tumores sarcomatosos mais comuns do trato GI. Inicialmente</p><p>considerados um tipo de sarcoma da musculatura lisa, agora são conhecidos como um tumor distinto, derivado das células</p><p>intersticiais de Cajal, uma célula do marca‑passo intestinal. Eles podem se desenvolver em qualquer segmento do trato GI,</p><p>embora geralmente sejam encontradas no estômago (40% a 60%), intestino delgado (30%) e cólon (15%). Os GISTs variam</p><p>consideravelmente em sua apresentação e curso clínico, variando de pequenos tumores benignos a lesões volumosas com</p><p>necrose, hemorragia e grandes metástases. Os aspectos patológicos, formas de apresentação e condutas terapêuticas dos</p><p>GISTs gástricos são aqui discutidos.</p><p>Os GISTs gástricos podem aparecer em qualquer idade, mas tipicamente se manifestam em pacientes com mais de 50</p><p>anos. Eles geralmente têm uma relação homem‑mulher igual ou uma ligeira predominância em homens. Raramente estão</p><p>associados a síndromes familiares, como síndrome GIST‑paraganglioma (tríade de Carney), neurofibromatose tipo 1 e</p><p>doença de von Hippel‑Lindau, mas muitos têm um desenvolvimento de novo. A maioria dos GISTs se apresenta,</p><p>sintomaticamente, com sangramento ou com dor abdominal vaga ou desconforto. O sangramento geralmente se apresenta</p><p>sob a forma de melena ou, menos frequentemente, de hematêmese franca. A ruptura do tumor com hemorragia intra‑</p><p>abdominal é incomum, mas, quando ocorre, frequentemente requer intervenção cirúrgica de emergência. Muitos pacientes</p><p>permanecem assintomáticos e seus tumores são descobertos incidentalmente no momento de outras cirurgias ou, de forma</p><p>cada vez mais frequente, durante exames de imagem realizados por outras indicações.</p><p>A endoscopia digestiva alta, costuma identificar um tumor submucoso, com superfície lisa, macia e arredondada, por</p><p>vezes contendo uma área de ulceração central. Pela natureza submucosa do tumor, a obtenção de tecido para análise</p><p>histológica por meio de biópsia convencional com pinça endoscópica resulta em baixo rendimento diagnóstico. A aspiração</p><p>com agulha fina guiada por USE resulta em uma acuidade diagnóstica superior, com sensibilidade de 82% e especificidade</p><p>de 100% no diagnóstico de GIST.46 Tendo em vista os custos e a necessidade de profissionais especializados para a</p><p>realização de aspiração com agulha fina dirigida por USE, e o fato de que a maior parte dos tumores submucosos do trato</p><p>GI necessitam de ressecção cirúrgica independentemente da histologia, alguns especialistas sugerem que o diagnóstico pré‑</p><p>operatório de rotina não é necessário para esses tumores. TC do abdome e pelve com contraste venoso é o método utilizado</p><p>para avaliar doença metastática. Do ponto de vista histopatológico, os GISTs têm músculo liso e características</p><p>neuroendócrinas, consistentes com a sua origem nas células intersticiais de Cajal. Eles são, com frequência, identificados por</p><p>coloração imuno‑histoquímica do proto‑oncogene c‑kit (CD117), que é superexpresso em 95%</p><p>destes tumores, e para CD34,</p><p>que é positivo em 60% a 70% dos GISTs.</p><p>O princípio do tratamento é a ressecção cirúrgica completa. Os tumores com mais de 2 cm de diâmetro devem ser</p><p>ressecados, mas o tratamento para tumores com menores dimensões é controverso. Os tumores que têm menos de 2 cm e</p><p>têm características de alto risco na endoscopia e no USE, como bordas irregulares, ulceração e heterogeneidade, devem ser</p><p>ressecados, enquanto tumores sem essas características podem ser observados com endoscopias repetidas e USE em</p><p>intervalos de 6 a 12 meses. Dependendo das dimensões do tumor, a ressecção pode incluir ressecção local extensa,</p><p>enucleação, gastrectomia vertical ou gastrectomia total, com ou sem ressecção em bloco de órgãos adjacentes. Nenhum</p><p>tamanho específico de margens cirúrgicas está definido, desde que se obtenha uma ressecção R0. A ressecção anatômica de</p><p>acordo com as cadeias linfonodais não é necessária, uma vez que as metástases para os linfonodos são raras.</p><p>As taxas de recorrência são de aproximadamente 40%, e a maioria dos pacientes com recorrência tem metástases para o</p><p>fígado, e apenas um terço tem recidiva local isolada. A recorrência pode ocorrer até 20 anos depois, de modo que o</p><p>acompanhamento a longo prazo se justifica. A sobrevida livre de doença a longo prazo é de aproximadamente 50%, ee 20%</p><p>a 80% morrem da doença. Embora não existam critérios dicotômicos que sejam capazes de definir lesões</p><p>benignas versus malignas histologicamente, os fatores de risco mais importantes para malignidade são dimensões do tumor</p><p>superiores a 10 cm e mais de cinco mitoses/50 campos de alta definição (HPF). Com base em um estudo de</p><p>acompanhamento a longo prazo de 1.700 pacientes com GISTs gástricos, foram desenvolvidas diretrizes para avaliar o</p><p>potencial de malignidade com base na combinação desses dois fatores (Quadro 48‑4).47</p><p>Quadr o 4 8 4 D i r e t r i ze s Suge r idas pa ra a Ava l i a ção do Po tenc i a l Ma l igno de</p><p>Tumores Es t roma i s Gas t ro in t e s t ina i s Gás t r i co s de Di fe ren te s Tamanhos e</p><p>At iv idade Mi tó t i c a</p><p>Benigno (nenhuma mortalidade relacionada com tumor)</p><p>• No máximo 2 cm, no máximo 5 mitoses/50 HPF</p><p>Provavelmente benigno ( 5 mitoses/50 HPF</p><p>Potencial maligno baixo a moderado (12% a 15% de mortalidade relacionada ao tumor)</p><p>• > 10 cm; no máximo 5 mitoses/HPF</p><p>• Entre 2 e 5 cm; > 5 mitoses/50 HPF</p><p>Alto potencial de malignidade (49% a 86% de mortalidade relacionada ao tumor)</p><p>• Entre 5 e 10 cm; > 5 mitoses/50 HPF</p><p>• > 10 cm; > 5 mitoses/50 HPF</p><p>HPF, campo de alta definição.</p><p>De Mie埾�inen M, Sobin L, Lasota J: Gastrointestinal stromal tumors of the stomach: A clinicopathologic, immunohistochemical,</p><p>and molecular genetic study of 1765 cases with long‑term follow‑up. Am J Surg Pathol 29:52–58, 2005.</p><p>Terapia Adjuvante</p><p>Tendo em vista as taxas relativamente elevadas de recidiva com aumento da mortalidade específica da doença para</p><p>pacientes com lesões maiores e taxa mitótica aumentada, a operação isolada para esses pacientes parece inadequada. A</p><p>terapia adjuvante, entretanto, não foi eficaz até a descoberta do inibidor da tirosina quinase, imatinibe (Gleevec®).</p><p>Originalmente utilizado para tratar leucemia mieloide crônica, foi provado, em ensaios randomizados controlados, ser uma</p><p>modalidade de tratamento eficaz para pacientes com doença metastática ou doença com elevado risco de recidiva. Em</p><p>pacientes com doença irressecável ou metastática, o imatinibe (400 mg por dia) propiciou uma sobrevida global em 2 anos</p><p>de 70%, em comparação com 25% para aqueles submetidos à quimioterapia tradicional.48 No cenário de adjuvância,</p><p>pacientes com tumores de 3 cm ou mais, c‑kit positivos que foram completamente ressecados e tratados com imatinibe</p><p>durante 1 ano, apresentaram taxa de recorrência de 8% em comparação com os 20% para pacientes não tratados.49 Essa</p><p>diferença foi ainda mais pronunciada em pacientes com tumores maiores. Os efeitos colaterais eram geralmente leves,</p><p>sendo que menos de 1% dos pacientes tiveram toxicidades de grau 3 ou 4.</p><p>O XVIII ensaio do Scandinavian Sarcoma Group (SSG) comparou um curso estendido de 36 meses de imatinibe</p><p>adjuvante versus um curso de 12 meses após a ressecção de GIST de alto risco (definidos como tumor > 10 cm, contagem de</p><p>mitoses > 10/50 HPF, tumor > 5 cm e contagem mitótica > 5/50 HPF, ou ruptura do tumor).50 Os pacientes no braço de</p><p>tratamento estendido tiveram uma sobrevida livre de recorrência superior (65,6% versus 47,9%) e maior sobrevida global</p><p>(92,0% versus 81,7%) em 5 anos após cirurgia. Os resultados deste ensaio estabeleceram um curso de 3 anos como o padrão</p><p>de tratamento após ressecção cirúrgica do GIST de alto risco. O imatinibe também se mostrou eficaz no tratamento</p><p>neoadjuvante de pacientes com doença irressecável, mas não metastática, embora isso ainda não tenha sido avaliado em</p><p>ensaios prospectivos randomizados. Entretanto, como resultado de estudos atuais, pacientes com doença metastática e</p><p>aqueles com doença primária ressecada com risco moderado de recidiva, o tratamento contínuo com imatinibe foi aprovado</p><p>pela U.S. Food and Drug Administration. A Figura 48‑30 apresenta um algoritmo para o uso de imatinibe no tratamento do</p><p>GIST em cenários de neoadjuvância, adjuvância e paliação.</p><p>FIGURA 4830 Algoritmo para avaliação e tratamento dos GISTs.</p><p>Outras Neoplasias</p><p>Carcinoides Gástricos</p><p>Tumores carcinoides (atualmente mais apropriadamente classificados como tumores neuroendócrinos [TNEs]) são uma</p><p>doença maligna rara (0,49% de todas as malignidades) que se originam das células precursoras neuroendócrinas e podem‑</p><p>se manifestar em qualquer lugar do corpo. A localização mais comum é o trato GI, abrangendo quase 68% de todos os</p><p>TNEs. Os locais mais comuns do trato gastrointestinal são o intestino delgado, o reto e o apêndice.</p><p>Historicamente, o estômago era considerado um local raro de TNE gastrointestinal; no entanto, um aumento acentuado</p><p>foi observado nas últimas décadas. Atualmente, é a localização de quase 8% dos TNEs do trato GI, em comparação com 2%</p><p>em 1950. Também tem havido uma elevação percentual em relação a todos os tumores gástricos, de 0,3% para 1,77% nos</p><p>últimos 50 anos. Existem três tipos, dois dos quais estão associados à baixa secreção de ácido e à secreção aumentada de</p><p>gastrina, e derivam das células gástricas ECL (enterochromaffin‑like). O tipo I, o mais comum, está associado à gastrite atrófica</p><p>crônica e tem um prognóstico benigno. Esses tumores são geralmente pequenos e apresentam uma sobrevida geral em 5</p><p>anos de mais de 95%. O tipo II está associado com SZE e à neoplasia endócrina múltipla do tipo 1. O prognóstico é ainda</p><p>bom, com sobrevida a longo prazo de 70% a 90% e níveis ligeiramente mais elevados de metástases. Os tumores do tipo III</p><p>são lesões esporádicas com poucas células ECL. Eles têm mais de 50% de taxa de disseminação metastática e uma sobrevida</p><p>de 5 anos de menos de 35%. A sobrevida global combinada de 5 anos para todos os TNEs gástricos localizados é de 63%.</p><p>O tratamento dos TNEs localizados é a remoção completa. Para pequenas lesões pediculadas, isso pode ser realizado</p><p>endoscopicamente. As lesões maiores podem exigir ressecção em cunha ou gastrectomia parcial. Pacientes com múltiplos</p><p>TNEs gástricos podem necessitar de gastrectomia total. Para pacientes com doença metastática ou recorrente, os análogos</p><p>da somatostatina podem ser usados para diminuir a carga de doença e tratar a síndrome carcinoide.</p><p>A incidência de TNEs gástricos e do intestino delgado aumentou oito vezes nos últimos 5 a 10 anos.</p><p>Embora o maior</p><p>número de endoscopias por queixas gastrointestinais seja responsável por parte desse aumento, também parece estar</p><p>ocorrendo um aumento do desenvolvimento da doença. Tendo em vista a relação entre hipergastrinemia, condições de</p><p>hipoacidez gástrica e TNEs, alguns autores têm questionado se o uso de IBPs pode ser responsável. A profunda supressão</p><p>do ácido gástrico observada com IBP tem resultado em hipergastrinemia e formação de TNEs gástricos em estudos in</p><p>vivo em animais. Embora uma ligação causal direta não tenha sido demonstrada em humanos, estudos de coorte de bases</p><p>de dados têm mostrado que o uso de IBP pode ser um fator de risco independente para o desenvolvimento de TNEs</p><p>gástricos e do intestino delgado. O significado clínico não é claro. Com relação aos TNEs do intestino delgado associados ao</p><p>uso de IBP, eles tendem a apresentar uma evolução clínica benigna, sem qualquer evidência de metástases, de invasão da</p><p>camada muscular ou alta taxa mitótica. Eles podem ser tratados com sucesso com excisão endoscópica, com baixa taxa de</p><p>recidiva. Estudos em andamento devem definir os efeitos a longo prazo de IBP e fornecer recomendações para vigilância</p><p>desses pacientes.</p><p>Pâncreas Heterotópico</p><p>O pâncreas heterotópico (i. e., tecido pancreático funcionante, encontrado em uma localização anatômica anormal) é</p><p>extremamente raro, encontrada em menos de 0,2% de todas as autópsias. A maioria ocorre no trato GI proximal, com o</p><p>estômago sendo o local mais comum. Pacientes sintomáticos geralmente apresentam dor abdominal vaga. Há relatos de</p><p>pancreatite, tumores de células das ilhotas e adenocarcinoma pancreático nessas lesões. Na endoscopia e na TC,</p><p>apresentam‑se como pequenas massas submucosas e podem ser confundidas com GIST. O tratamento é a excisão cirúrgica e</p><p>o diagnóstico deve ser confirmado histopatologicamente.</p><p>Outras lesões gástricas</p><p>Gastrite Hipertrófica (Doença de Ménétrier)</p><p>A doença de Ménétrier (gastropatia hipertrófica hipoproteinêmica) é uma doença rara, adquirida, pré‑maligna,</p><p>caracterizada por pregas gástricas gigantes no fundo e no corpo do estômago, dando à mucosa uma aparência de pedras de</p><p>pavimentação ou cerebriforme. O exame histopatológico revela hiperplasia foveolar (expansão das células mucosas</p><p>superficiais), com ausência de células parietais. Está associada à perda proteica pelo estômago, produção excessiva de muco</p><p>e hipocloridria ou acloridria. A etiologia da doença de Ménétrier é desconhecida, mas tem sido associada à infecção por</p><p>citomegalovírus em crianças e por H. pylori em adultos. Além disso, níveis aumentados de fator de crescimento</p><p>transformador α foram observados na mucosa gástrica dos portadores da doença. Os pacientes frequentemente se</p><p>apresentam com dor epigástrica, vômitos, perda de peso, anorexia e edema periférico. As alterações típicas da mucosa</p><p>gástrica podem ser detectadas pelo exame radiológico ou endoscópico. A biópsia deve ser realizada para afastar a</p><p>possibilidade de carcinoma gástrico ou linfoma. Um teste de albumina marcada pelo crômio revela um aumento da perda</p><p>proteica gastrointestinal e a monitoração do pH de 24 horas mostra hipocloridria ou acloridria. O tratamento médico tem</p><p>produzido resultados inconsistentes; no entanto, algum benefício tem sido mostrado com o uso de medicações</p><p>anticolinérgicas, supressão de ácido, octreotide e erradicação de H. pylori. A gastrectomia total está indicada em pacientes</p><p>que continuam a apresentar perda proteica maciça, apesar do tratamento clínico adequado, ou quando se desenvolve</p><p>displasia ou carcinoma.</p><p>Laceração de MalloryWeiss</p><p>As lacerações de Mallory‑Weiss estão relacionadas com vômitos vigorosos, esforço excessivo para vomitar ou tosse, que</p><p>resultam na ruptura da mucosa gástrica na região mais alta da pequena curvatura no nível da junção GE. Elas são</p><p>responsáveis por 15% das hemorragias gastrointestinais altas agudas e raramente estão associadas a um sangramento</p><p>vultuoso. A mortalidade global para a lesão é de 3% a 4%, com o maior risco de hemorragia ocorrendo em alcoólatras com</p><p>hipertensão portal preexistente. A maioria dos pacientes com sangramento ativo pode ser tratada com métodos</p><p>endoscópicos, como a eletrocoagulação multipolar, a injeção de epinefrina, a ligadura com banda elástica ou a</p><p>hemoclipagem endoscópica. A infusão intra‑arterial angiográfica de vasopressina ou a embolização transcateter pode ser</p><p>útil em casos selecionados de alto risco. A necessidade de uma intervenção cirúrgica é rara. Se a cirurgia for necessária, a</p><p>lesão da junção GE deve ser abordada mediante uma gastrotomia anterior e o local do sangramento tratado com suturas</p><p>profundas de seda 2‑0, para reaproximar a mucosa gástrica de maneira anatômica.</p><p>Lesão Gástrica de Dieulafoy</p><p>As lesões de Dieulafoy são responsáveis por 0,3% a 7% das hemorragias gastrointestinais não varicosas. O sangramento de</p><p>uma lesão gástrica de Dieulafoy é causado por uma artéria tortuosa, anormalmente dilatada (1 a 3 mm), de trajeto</p><p>submucoso. A erosão da mucosa superficial sobrejacente à artéria ocorre secundariamente às pulsações do volumoso vaso</p><p>submucoso. A artéria então é exposta ao conteúdo gástrico com erosão e sangramento. Geralmente, o defeito mucoso tem</p><p>um tamanho de 2 a 5 mm e é circundado por mucosa gástrica de aparência normal. As lesões usualmente ocorrem de 6 a</p><p>10 cm da junção GE, geralmente no fundo gástrico, próximas à cárdia. Em uma série, 67% estavam localizadas em região</p><p>alta do corpo do estômago, sendo 25% no fundo gástrico. As lesões de Dieulafoy são mais comuns em homens (2:1), com</p><p>um pico de incidência na quinta década. A maioria dos pacientes se apresenta com hematêmese. A apresentação clássica de</p><p>um paciente com uma lesão de Dieulafoy é o início súbito de hematêmese maciça, indolor e recorrente, com hipotensão.</p><p>A detecção e a identificação da lesão de Dieulafoy podem ser difíceis. A melhor maneira de diagnosticá‑la é por meio da</p><p>esofagogastroduodenoscopia, que identifica corretamente a lesão em 80% dos pacientes. Em decorrência da natureza</p><p>intermitente do sangramento, podem ser necessárias endoscopias repetidas para localizar corretamente a lesão. Se a lesão</p><p>puder ser identificada endoscopicamente, devem ser feitas tentativas para parar o sangramento por meio de modalidades</p><p>endoscópicas como a eletrocoagulação multipolar, sonda térmica (heater probe), ou a fotocoagulação a laser sem contato, a</p><p>escleroterapia por injeção, a ligadura elástica ou a hemoclipagem endoscópica. A angiografia pode ser útil em casos em que</p><p>a endoscopia falha na identificação da origem do sangramento. Os achados angiográficos podem visualizar uma artéria</p><p>tortuosa, ectasiada, tributária da artéria gástrica esquerda, mostrando extravasamento de contraste nos casos de</p><p>sangramento agudo. A embolização com gelfoam (esponjas de gelatina) tem sido uma alternativa válida para controlar com</p><p>sucesso o sangramento em pacientes com lesão de Dieulafoy, ainda que se disponha de uma experiência limitada.</p><p>No passado, a cirurgia era o único tratamento disponível para a lesão de Dieulafoy, mas atualmente é reservada para</p><p>pacientes nos quais outras alternativas fracassaram. O tratamento cirúrgico consiste em uma ressecção gástrica em cunha</p><p>com a inclusão do vaso responsável pela lesão. A dificuldade no ato operatório é a localização da lesão, a menos que ela</p><p>esteja sangrando ativamente. O procedimento cirúrgico pode ser enormemente facilitado pedindo ao endoscopista para</p><p>tatuar o local da lesão. A abordagem cirúrgica tradicional tem sido a laparotomia com gastrotomia para a identificação da</p><p>lesão e subsequente ampla ressecção em cunha. A lesão também pode ser abordada laparoscopicamente, em combinação</p><p>com endoscopia intraoperatória. Uma ressecção em cunha pode ser realizada com um grampeador linear, utilizando‑se a</p><p>transiluminação endoscópica para determinar as margens de ressecção.</p><p>Varizes Gástricas</p><p>As varizes gástricas são amplamente classificadas em dois tipos: varizes gastroesofagianas (GE) e varizes gástricas isoladas.</p><p>As varizes gástricas isoladas são subclassificadas em tipo 1, localizadas no fundo do estômago, e tipo 2, varizes ectópicas</p><p>isoladas localizadas em qualquer parte do estômago.</p><p>As varizes gástricas podem desenvolver‑se secundariamente à hipertensão portal, em conjunto com as varizes</p><p>esofagianas, ou secundariamente à hipertensão portal esquerda em virtude de trombose da veia esplênica. Na hipertensão</p><p>portal generalizada, a pressão portal aumentada é transmitida pela veia gástrica esquerda para as varizes esofagianas, e</p><p>pelos vasos curtos e pelas veias gástricas posteriores para o plexo fúndico e para as veias cárdicas. As varizes gástricas</p><p>isoladas tendem a ocorrer secundariamente à trombose da veia esplênica, que normalmente resulta de pancreatite. O fluxo</p><p>sanguíneo esplênico flui retrogradamente pelos vasos curtos e das veias gástricas posteriores para as varizes e, então,</p><p>hepatopetalmente pela veia coronária estomáquica para a veia porta. O fluxo retrógrado da esquerda para a direita por</p><p>meio da veia gastroepiploica para a veia mesentérica superior pode explicar o desenvolvimento de varizes ectópicas no</p><p>estômago.</p><p>A incidência de sangramento por varizes gástricas tem sido relatada como sendo de 3% a 30%, mas na maioria das séries</p><p>é menor que 10%. No entanto, este percentual pode chegar a 78% em pacientes com trombose da veia esplênica e varizes</p><p>fúndicas. Existem dados limitados sobre os fatores de risco associados à hemorragia em pacientes com varizes gástricas,</p><p>embora o aumento do tamanho das varizes ou um estágio mais alto na classificação de Child elevem o risco de</p><p>sangramento.</p><p>As varizes gástricas, consequentes à trombose da veia esplênica, são prontamente tratadas por meio da esplenectomia. Os</p><p>pacientes com varizes gástricas sangrantes devem ser submetidos a estudos de imagem para a comprovação da trombose de</p><p>veia esplênica antes da intervenção cirúrgica, pois as varizes gástricas estão mais frequentemente associadas à hipertensão</p><p>portal generalizada.</p><p>As varizes gástricas no contexto de hipertensão portal devem ser tratadas como as varizes esofagianas. O paciente deve</p><p>ser submetido à reposição de volume, com atenção à correção de estados anormais de coagulação. O tamponamento</p><p>temporário pode ser tentado com um balão de Sengstaken‑Blakemore. A endoscopia serve como uma ferramenta</p><p>diagnóstica e terapêutica. A erradicação bem‑sucedida das varizes esofagianas pela ligadura elástica ou pela escleroterapia</p><p>frequentemente resulta em obliteração das varizes gástricas. Como as varizes gástricas surgem na submucosa, a ulceração é</p><p>uma complicação comum associada à escleroterapia das varizes gástricas. Um problema importante com as varizes</p><p>gástricas é o ressangramento, que em 50% dos casos é secundário às ulcerações. A ligadura elástica endoscópica das varizes</p><p>pode obter hemostasia em aproximadamente 89% dos pacientes; no entanto, preocupações quanto às perfurações gástricas</p><p>com essa técnica arrefeceram o seu uso. A derivação portossistêmica intra‑hepática transjugular pode ser eficaz no controle</p><p>da hemorragia varicosa gástrica, com taxas de ressangramento em torno de 30%. Um shunt gastrorrenal entre as varizes</p><p>gástricas e a veia renal esquerda está presente em 85% dos pacientes com varizes gástricas. Essa derivação espontânea</p><p>descomprime o sistema portal e reduz a eficácia da derivação portossistêmica intra‑hepática transjugular. Um cateter com</p><p>balão pode ser inserido na derivação gastrorrenal pela veia renal esquerda, e a derivação pode ser ocluída inflando‑se o</p><p>balão. Um material esclerosante (p. ex., oleato de etanolamina) é injetado e depositado no local até que se formem coágulos</p><p>no interior das varizes. Tem sido relatado que a obliteração transvenosa retrógrada com oclusão por balão apresenta uma</p><p>elevada taxa de sucesso (100%), com uma baixa taxa de recidiva (0% a 5%). A principal complicação desse procedimento é o</p><p>agravamento das varizes esofagianas secundário ao aumento da pressão portal como consequência da oclusão da derivação</p><p>gastrorrenal. Além disso, o oleato de etanolamina pode causar hemólise (tratada com a administração de haptoglobina) com</p><p>dano renal subsequente.</p><p>Volvo Gástrico</p><p>O volvo gástrico é uma ocorrência incomum. A torção ocorre ao longo do eixo longitudinal do estômago (organoaxial) em</p><p>aproximadamente 2/3 dos casos, e ao longo do eixo vertical (mesenteroaxial) em 1/3 (Fig. 48‑31). Mais comumente, o volvo</p><p>gástrico organoaxial ocorre agudamente e está associado a um defeito diafragmático, enquanto o volvo mesenteroaxial é</p><p>parcial (</p><p>exigirá a remoção cirúrgica.</p><p>Os tricobezoares são concreções de cabelos, geralmente encontradas em meninas ou mulheres de cabelos longos, que</p><p>frequentemente negam comer os seus próprios cabelos (tricofagia). Os sintomas incluem dor pela ulceração gástrica e</p><p>plenitude pela obstrução da saída do trato gástrico, com perfurações gástricas ocasionais e obstrução do intestino delgado.</p><p>Os tricobezoares tendem a formar um molde do estômago, e fios de cabelo já foram observados até mesmo no cólon</p><p>transverso. Os pequenos tricobezoares podem responder a uma fragmentação endoscópica, lavagem intensa, ou terapia</p><p>enzimática. No entanto, essas técnicas são de utilidade limitada, e os tricobezoares maiores precisam de remoção cirúrgica.</p><p>O intestino delgado deve ser examinado para se assegurar que bezoares adicionais não estão presentes. Pacientes com</p><p>tricofagia requerem cuidados psiquiátricos porque a formação de bezoar recorrente é comum.</p><p>Leitura sugerida</p><p>Ahn JY, Jung HY, Choi KD, et al. Endoscopic and oncologic outcomes after endoscopic resection for early gastric cancer: 1370 cases</p><p>of absolute and extended indications. Gastrointest Endosc. 2011;74:485–493.</p><p>Esta é uma grande série retrospectiva de pacientes submetidos à ressecção endoscópica (tanto ressecção endoscópica da</p><p>mucosa quanto dissecção endoscópica submucosa) para cânceres gástricos em estágio inicial, geralmente confinados à</p><p>mucosa. Este estudo mostrou uma taxa de recidiva local muito baixa de aproximadamente 1% durante um seguimento</p><p>de quase 3 anos, sugerindo que estas técnicas são oncologicamente bem‑sucedidas, evitando a necessidade de</p><p>gastrectomia na maioria dos pacientes. A maior parte da experiência e dos dados com estes procedimentos vem da Ásia</p><p>Oriental, e mais estudos são necessários para determinar a aplicabilidade destes procedimentos em populações</p><p>ocidentais, nas quais o câncer gástrico em estágio precoce é muito menos frequente e os programas de rastreio</p><p>endoscópico não existem.</p><p>Bang YJ, Kim YW, Yang HK, et al. Adjuvant capecitabine and oxaliplatin for gastric cancer after D2 gastrectomy (CLASSIC): A</p><p>phase 3 open‑label, randomised controlled trial. Lancet. 2012;379:315–321.</p><p>Lee J, Lim do H, Kim S, et al. Phase III trial comparing capecitabine plus cisplatin versus capecitabine plus cisplatin with concurrent</p><p>capecitabine radiotherapy in completely resected gastric cancer with D2 lymph node dissection: The ARTIST trial. J Clin</p><p>Oncol. 2012;30:268–273.</p><p>Estes dois ensaios controlados randomizados examinaram o papel da terapia adjuvante após ressecção cirúrgica para</p><p>câncer gástrico localizado. O ensaio CLASSIC mostrou que a quimioterapia adjuvante (capecitabina mais oxaliplatina)</p><p>melhorou a sobrevida livre de doença a longo prazo e a sobrevida global quando comparada com a cirurgia isolada. O</p><p>ensaio ARTIST avaliou a adição de radioterapia adjuvante com quimioterapia e não mostrou melhoria quando</p><p>comparada com a quimioterapia adjuvante isolada. No entanto, a radioterapia resultou em melhora dos resultados em</p><p>pacientes que tinham metástases ganglionares durante a ressecção cirúrgica.</p><p>Barkun AN, Bardou M, Kuipers EJ, et al. International consensus recommendations on the management of patients with nonvariceal</p><p>upper gastrointestinal bleeding. Ann Intern Med. 2010;152:101–113.</p><p>Esta excelente visão geral da prevalência da hemorragia gastrointestinal alta inclui uma avaliação baseada em</p><p>evidências de várias terapias. São feitas recomendações com relação ao papel da endoscopia, métodos de controle</p><p>endoscópico, intervenções farmacológicas, acompanhamento e triagem adequados, fatores de risco de ressangramento,</p><p>e que grupos de pacientes têm maior mortalidade.</p><p>Cunningham D, Allum WH, Stenning SP, et al. Perioperative chemotherapy versus surgery alone for resectable gastroesophageal</p><p>cancer. N Engl J Med. 2006;355:11–20.</p><p>Este grande estudo mostrou o benefício da quimioterapia no câncer gástrico. Os pacientes foram submetidos a</p><p>tratamento neoadjuvante, e uma porcentagem muito maior foi capaz de completar o tratamento em comparação com</p><p>pacientes que completaram o ensaio adjuvante. Um número maior de pacientes teve linfadenectomia adequada quando</p><p>comparado com o ensaio SWOG Intergroup 0116.</p><p>Cuschieri A, Weeden S, Fielding J, et al. Patient survival after D1 and D2 resections for gastric cancer: Long‑term results of the MRC</p><p>randomized surgical trial. Surgical Co‑operative Group. Br J Cancer. 1999;79:1522–1530.</p><p>Songun I, Pu埾�er H, Kranenbarg EM, et al. Surgical treatment of gastric cancer: 15‑year follow‑up results of the randomised</p><p>nationwide Dutch D1D2 trial. Lancet Oncol. 2010;11:439–449.</p><p>Estes dois estudos controlados e randomizados, foram os principais desafios para o papel da linfadenectomia D2 na</p><p>população não japonesa. Ambos os estudos mostraram aumento da morbidade e da mortalidade perioperatória com a</p><p>dissecção D2, sem benefício na sobrevida a longo prazo. Eles foram criticados com base no fato de que os pacientes no</p><p>grupo D2 não foram estratificados em relação a realização ou não de esplenectomia, cuja análise posterior mostrou ser</p><p>um contribuinte para o aumento da morbidade operatória. Em 15 anos de seguimento, no ensaio holandês, houve</p><p>benefício da dissecção D2 quanto à recorrência do câncer e sobrevida livre de doença, sugerindo que se uma dissecção</p><p>D2 sem esplenectomia puder ser realizada com segurança sem acrescentar morbidade perioperatória, provavelmente</p><p>resultará em resultados oncológicos superiores a longo prazo.</p><p>DeMa埾�eo RP, Ballman KV, Antonescu CR, et al. Adjuvant imatinib mesylate after resection of localised, primary gastrointestinal</p><p>stromal tumour: A randomised, double‑blind, placebo‑controlled trial. Lancet. 2009;373:1097–1104.</p><p>Joensuu H, Eriksson M, Sundby Hall K, et al. One vs three years of adjuvant imatinib for operable gastrointestinal stromal tumor: A</p><p>randomized trial. JAMA. 2012;307:1265–1272.</p><p>Estes dois ensaios controlados randomizados estabeleceram o papel do imatinibe adjuvante após ressecção cirúrgica</p><p>para o tratamento de tumores estromais gastrointestinais (GIST) localizados. O primeiro estudo, por DeMa埾�eo et al.,</p><p>revelou uma recorrência significativamente menor em pacientes que receberam imatinibe se comparados com pacientes</p><p>que não receberam; isso foi especificamente pronunciado para pacientes de alto risco de desenvolverem doença</p><p>metastática. O segundo ensaio, por Joensuu et al., mostrou que um curso de 36 meses de imatinibe adjuvante foi</p><p>superior a um curso de 12 meses no que se refere à sobrevida livre de doença e à sobrevida global. Estes estudos</p><p>estabeleceram um tratamento adjuvante a longo prazo com imatinibe como o padrão de tratamento para pacientes com</p><p>GIST.</p><p>DeMa埾�eo RP, Lewis JJ, Leung D, et al. Two hundred gastrointestinal stromal tumors: Recurrence pa埾�erns and prognostic factors for</p><p>survival. Ann Surg. 2000;231:51–58.</p><p>Primeiro estudo principal de coorte a caracterizar a progressão natural dos pacientes com tumores estromais</p><p>gastrointestinais. Ele demonstrou uma taxa relativamente alta de recidiva e de metástases subsequentes, o que levou ao</p><p>foco maior sobre o desenvolvimento de melhoras nas terapias adjuvantes.</p><p>Fuccio L, Minardi ME, Zagari RM, et al. Meta‑analysis: Duration of first‑line proton‑pump inhibitor based triple therapy</p><p>for Helicobacter pylori eradication. Ann Intern Med. 2007;147:553–562.</p><p>O estudo por Fuccio et al. é uma metanálise de ensaios comparando durações mais curtas de terapia tripla para</p><p>erradicação do H. pylori (7 e 10 dias) com o padrão atual de 14 dias. Este estudo não encontrou diferenças nas taxas de</p><p>erradicação, sugerindo que cursos mais curtos de terapia podem ser suficientes como tratamento inicial desses</p><p>pacientes.</p><p>Malfertheiner P, Megraud F, O’Morain</p><p>CA, et al. Management of Helicobacter pylori infection—the Maastricht IV/Florence Consensus</p><p>Report. Gut. 2012;61:646–664.</p><p>O Masstricht Consensus Report é um conjunto de diretrizes desenvolvidas por um painel internacional de peritos para</p><p>o diagnóstico e o tratamento do H. pylori. Estas diretrizes sumarizam a evidência mais atual sobre o tratamento da</p><p>doença ulcerosa péptica causada por infecção por H. pylori.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>1. Vaira D, Malfertheiner P, Megraud F, et al. Diagnosis of Helicobacter pylori infection with a new non‑</p><p>invasive antigen‑based assay HpSA European study group. Lancet. 1999;354:30–33.</p><p>2. Toro JP, Lytle NW, Patel AD, et al. Efficacy of laparoscopic pyloroplasty for the treatment of</p><p>gastroparesis. J Am Coll Surg. 2014;218:652–660.</p><p>3. Abell T, McCallum R, Hocking M, et al. Gastric electrical stimulation for medically refractory</p><p>gastroparesis. Gastroenterology. 2003;125:421–428.</p><p>4. Malfertheiner P, Megraud F, O’Morain CA, et al. Management of Helicobacter pylori infection—the</p><p>Maastricht IV/Florence Consensus Report. Gut. 2012;61:646–664.</p><p>5. Fuccio L, Minardi ME, Zagari RM, et al. Meta‑analysis: Duration of first‑line proton‑pump inhibitor</p><p>based triple therapy for Helicobacter pylori eradication. Ann Intern Med. 2007;147:553–562.</p><p>6. Blatchford O, Murray WR, Blatchford M. A risk score to predict need for treatment for upper‑</p><p>gastrointestinal haemorrhage. Lancet. 2000;356:1318–1321.</p><p>7. Rockall TA, Logan RF, Devlin HB, et al. Risk assessment after acute upper gastrointestinal</p><p>haemorrhage. Gut. 1996;38:316–321.</p><p>8. Lim LG, Ho KY, Chan YH, et al. Urgent endoscopy is associated with lower mortality in high‑risk but</p><p>not low‑risk nonvariceal upper gastrointestinal bleeding. Endoscopy. 2011;43:300–306.</p><p>9. Laine L, McQuaid KR. Endoscopic therapy for bleeding ulcers: An evidence‑based approach based on</p><p>meta‑analyses of randomized controlled trials. Clin Gastroenterol Hepatol. 2009;7:33–47: quiz 31‑32,.</p><p>10. Mirsadraee S, Tirukonda P, Nicholson A, et al. Embolization for non‑variceal upper gastrointestinal</p><p>tract haemorrhage: A systematic review. Clin Radiol. 2011;66:500–509.</p><p>11. Lunevicius R, Morkevicius M. Systematic review comparing laparoscopic and open repair for</p><p>perforated peptic ulcer. Br J Surg. 2005;92:1195–1207.</p><p>12. Byrge N, Barton RG, Enniss TM, et al. Laparoscopic versus open repair of perforated gastroduodenal</p><p>ulcer: A National Surgical Quality Improvement Program analysis. Am J</p><p>Surg. 2013;206:957–962: discussion 962‑963,.</p><p>13. Cherian PT, Cherian S, Singh P. Long‑term follow‑up of patients with gastric outlet obstruction related</p><p>to peptic ulcer disease treated with endoscopic balloon dilatation and drug therapy. Gastrointest</p><p>Endosc. 2007;66:491–497.</p><p>14. Berna MJ, Hoffmann KM, Serrano J, et al. Serum gastrin in Zollinger‑Ellison syndrome: I Prospective</p><p>study of fasting serum gastrin in 309 patients from the National Institutes of Health and comparison</p><p>with 2229 cases from the literature. Medicine (Baltimore). 2006;85:295–330.</p><p>15. Ito T, Igarashi H, Jensen RT. Zollinger‑Ellison syndrome: Recent advances and controversies. Curr</p><p>Opin Gastroenterol. 2013;29:650–661.</p><p>16. Norton JA, Fraker DL, Alexander HR, et al. Value of surgery in patients with negative imaging and</p><p>sporadic Zollinger‑Ellison syndrome. Ann Surg. 2012;256:509–517.</p><p>17. Dellinger RP, Levy MM, Rhodes A, et al. Surviving sepsis campaign: International guidelines for</p><p>management of severe sepsis and septic shock: 2012. Crit Care Med. 2013;41:580–637.</p><p>18. Jemal A, Bray F, Center MM, et al. Global cancer statistics. CA Cancer J Clin. 2011;61:69–90.</p><p>19. Ahn JS, Eom CS, Jeon CY, et al. Acid suppressive drugs and gastric cancer: A meta‑analysis of</p><p>observational studies. World J Gastroenterol. 2013;19:2560–2568.</p><p>20. Graham DY, Schwar埆� JT, Cain GD, et al. Prospective evaluation of biopsy number in the diagnosis of</p><p>esophageal and gastric carcinoma. Gastroenterology. 1982;82:228–231.</p><p>21. Bentrem D, Gerdes H, Tang L, et al. Clinical correlation of endoscopic ultrasonography with</p><p>pathologic stage and outcome in patients undergoing curative resection for gastric cancer. Ann Surg</p><p>Oncol. 2007;14:1853–1859.</p><p>22. Spolverato G, Ejaz A, Kim Y, et al. Use of endoscopic ultrasound in the preoperative staging of gastric</p><p>cancer: A multi‑institutional study of the US Gastric Cancer Collaborative. J Am Coll</p><p>Surg. 2015;220:48–56.</p><p>81</p><p>82</p><p>pela supressão dos níveis de</p><p>grelina após o bypass gástrico não seja conhecido, esses dados sugerem que a grelina possa ser responsiva ao fluxo normal</p><p>de nutrientes através do estômago. Outros estudos sugeriram que a grelina promove a glicólise em detrimento à oxidação</p><p>de ácidos graxos, o que favoreceria a deposição de gordura. Parece que a grelina é regulada positivamente em momentos de</p><p>equilíbrio negativo de energia e regulada negativamente em momentos de equilíbrio energético positivo, embora o seu</p><p>papel preciso no metabolismo de energia permaneça obscuro. A grelina pode vir a ter um papel importante no tratamento e</p><p>na prevenção da obesidade.</p><p>Secreção do Ácido Gástrico</p><p>A secreção ácida gástrica pela célula parietal é regulada por três estímulos locais – acetilcolina, gastrina e histamina. Esses</p><p>três estímulos são responsáveis pela secreção gástrica basal e estimulada. A acetilcolina é o principal neurotransmissor</p><p>modulador da secreção gástrica, e é liberada pelo vago e pelas células dos gânglios parassimpáticos. As fibras vagais</p><p>inervam não somente as células parietais, mas também as células G e ECL para modular a liberação dos seus peptídeos. A</p><p>gastrina apresenta efeitos hormonais sobre a célula parietal e estimula a liberação de histamina. A histamina apresenta</p><p>efeitos semelhantes aos parácrinos sobre a célula parietal, conforme demonstrado na Figura 48‑6, e exerce um papel central</p><p>sobre a regulação da secreção ácida pela célula parietal, após a sua liberação pelas células ECL. Conforme descrito, a</p><p>somatostatina exerce ações inibidoras sobre a secreção do ácido gástrico. A liberação da somatostatina pelas células D do</p><p>antro é estimulada por um pH igual ou inferior a 3 determinado pela presença de ácido intraluminal. Após a sua liberação,</p><p>a somatostatina inibe a secreção ácido‑gástrica por meio de efeitos parácrinos e modifica a liberação de histamina a partir de</p><p>células ECL. Em alguns pacientes com doença ulcerosa péptica, essa resposta de retroalimentação negativa é defeituosa.</p><p>Consequentemente, o estado preciso da secreção ácida pela célula parietal depende da influência dos estímulos positivos e</p><p>negativos.</p><p>FIGURA 486 Papel central da célula ECL (enterochromaffinlike) na regulação da secreção ácida pela célula</p><p>parietal. Conforme demonstrado, a ingestão de uma refeição estimula as fibras vagais a liberarem acetilcolina</p><p>(fase cefálica). A ligação da acetilcolina aos receptores M3, localizados na célula ECL, na célula parietal e na</p><p>célula G resulta na liberação da histamina, ácido clorídrico e gastrina. A ligação da acetilcolina aos receptores</p><p>M3 das células D resulta na inibição da liberação da somatostatina. Após uma refeição, as células G também</p><p>são estimuladas a liberar gastrina, que interage com os receptores localizados nas células ECL e nas células</p><p>parietais para causar a liberação de histamina e ácido clorídrico (fase gástrica). A liberação de somatostatina</p><p>pelas células D diminui a liberação de histamina e de gastrina pelas células ECL e pelas células G. Além disso,</p><p>a somatostatina inibe a secreção de ácido pela célula parietal (não mostrado). O principal estímulo para a</p><p>ativação das células D é a acidificação luminar antral (não mostrado). (De Yeo C, Dempsey DT, Klein AS et al,</p><p>editors: Shackelford’s surgery of the alimentary tract, ed 6, Philadelphia, 2007, Saunders.)</p><p>Na ausência de alimento, há sempre um nível basal de secreção ácida que é de aproximadamente 10% do débito ácido</p><p>máximo. Sob condições basais, 1 a 5 mmol/h de ácido clorídrico são secretados, e isso é reduzido após vagotomia ou</p><p>bloqueio do receptor H2. Portanto, parece provável que a secreção ácida basal aconteça em razão de uma combinação de</p><p>estímulos colinérgicos e histaminérgicos.</p><p>Secreção Ácida Estimulada</p><p>Fase cefálica</p><p>A ingestão de alimentos é o estímulo fisiológico para a secreção ácida. As três fases da resposta secretória ácida a uma</p><p>refeição são descritas como cefálica, gástrica e intestinal. Essas três fases estão inter‑relacionadas e ocorrem associadamente,</p><p>e não consecutivamente.</p><p>A fase cefálica origina‑se da visão, do olfato, pensamento, ou gosto do alimento, que estimula os centros neurais no córtex</p><p>e no hipotálamo. Apesar de o mecanismo exato pelo qual os sentidos que estimulam a secreção ácida permanecer ainda não</p><p>completamente elucidado, acredita‑se que vários locais são estimulados no cérebro. Esses centros superiores transmitem</p><p>sinais ao estômago pelos nervos vagos, que liberam a acetilcolina e ativam os receptores muscarínicos localizados nas</p><p>células‑alvo. A acetilcolina aumenta diretamente a secreção ácida pela célula parietal e pode tanto inibir quanto estimular a</p><p>liberação da gastrina, sendo o efeito global um ligeiro aumento nos níveis de gastrina. Apesar de a intensidade da resposta</p><p>secretória ácida na fase cefálica ultrapassar a das outras fases, ela é responsável por apenas 20% a 30% do volume total do</p><p>ácido gástrico produzido em resposta a uma refeição em humanos, em razão da curta duração da fase cefálica.</p><p>Fase gástrica</p><p>A fase gástrica da secreção ácida tem início quando o alimento penetra no lúmen do estômago. Os produtos da digestão do</p><p>alimento ingerido interagem com as vilosidades das células G antrais para estimular a liberação da gastrina. O alimento</p><p>também estimula a secreção ácida por causar a distensão mecânica do estômago. A distensão gástrica ativa os receptores de</p><p>estiramento no estômago para desencadear o longo arco reflexo vagovagal. Ele é abolido pela vagotomia gástrica proximal e</p><p>é, pelo menos em parte, independente das alterações nos níveis séricos de gastrina. No entanto, a distensão antral também</p><p>provoca a liberação de gastrina em humanos, e esse reflexo foi denominado reflexo piloro‑oxíntico. Em humanos, a distensão</p><p>mecânica do estômago é responsável por aproximadamente 30% a 40% da resposta secretória máxima a uma refeição com</p><p>peptona, com o restante sendo decorrente da liberação de gastrina. A fase gástrica completa é responsável pela maior parte</p><p>(60% a 70%) do débito ácido estimulado pela refeição, pois dura até o estômago se esvaziar.</p><p>Fase intestinal</p><p>A fase intestinal da secreção gástrica continua pouco compreendida, mas parece ser iniciada pela penetração do quimo no</p><p>intestino delgado. Ela ocorre após o esvaziamento gástrico e dura até que os componentes alimentares parcialmente</p><p>digeridos permaneçam no interior do intestino delgado proximal. Ela é responsável por apenas 10% da resposta ácido‑</p><p>secretória a uma refeição e não parece ser mediada por níveis séricos de gastrina. Existe a hipótese de que um outro</p><p>hormônio peptídeo estimulador de ácido (êntero‑oxintina), liberado pela mucosa do intestino delgado, seja capaz de mediar</p><p>a fase intestinal da secreção ácida.</p><p>Ativação e Secreção pela Célula Parietal</p><p>Os dois segundos mensageiros envolvidos na estimulação do ácido gástrico pelas células parietais são o AMP cíclico</p><p>intracelular (cAMP) e o cálcio. A síntese desses dois mensageiros, por sua vez, ativa proteínas quinases e cascatas de</p><p>fosforilação. Os eventos intracelulares que se seguem à ligação dos ligandos (moléculas ou íons específicos) aos receptores</p><p>da célula parietal são mostrados na Figura 48‑7. A histamina causa um aumento no cAMP intracelular, que ativa as</p><p>proteínas quinases para iniciarem uma cascata de eventos de fosforilação que culminam na ativação da H+, K+‑ATPase. Em</p><p>contrapartida, a acetilcolina e a gastrina estimulam a fosfolipase C, que converte os fosfolipídios da membrana em trifosfato</p><p>de inositol para mobilizar o cálcio das reservas intracelulares. O aumento do cálcio intracelular ativa outras proteínas</p><p>quinases que finalmente ativam H+, K+‑ATPase de maneira semelhante para iniciar a secreção de ácido clorídrico.</p><p>FIGURA 487 Eventos de sinalização intracelular na célula</p><p>parietal. Conforme mostrado, a histamina se liga</p><p>aos receptores H2, estimulando a adenilato ciclase mediante um mecanismo ligado à proteína G. A ativação da</p><p>adenilato ciclase causa um aumento nos níveis de monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) intracelular, que,</p><p>por sua vez, ativam as proteínas quinases. As proteínas quinases ativadas estimulam uma cascata de</p><p>fosforilação com um aumento resultante nos níveis de fosfoproteínas que ativam a bomba de próton. A ativação</p><p>da bomba de prótons leva à extrusão do hidrogênio citosólico em troca pelo potássio extracitoplasmático. Além</p><p>disso, o cloreto é secretado por um canal de cloreto localizado no lado luminar da membrana. A gastrina ligase</p><p>aos receptores da colecistoquinina tipo B e a acetilcolina ligase aos receptores M3. Após a interação da gastrina</p><p>e da acetilcolina com seus receptores, a fosfolipase C é estimulada por um mecanismo ligado à proteína G a</p><p>converter os fosfolipídios, ligados à membrana, em trifosfato de inositol (IP3). O IP3 estimula a liberação de</p><p>cálcio das reservas de cálcio intracelulares, levando a um aumento do cálcio intracelular que ativa as proteínas</p><p>quinases, que ativam a H+/K+ATPase. ATP, Adenosina trifosfato; ATPase, adenosina trifosfatase; Gi, proteína</p><p>inibidora do nucleotídeo guanina; Gs, proteína estimuladora do nucleotídeo guanina; PIP2, fosfatidilinositol 4,5</p><p>difosfato; PLC, fosfolipase C (De Yeo C, Dempsey DT, Klein AS et al, editors: Shackelford’s surgery of the alimentary tract, ed</p><p>6, Philadelphia, 2007, Saunders.)</p><p>A H+/K+‑ATPase é a via final comum para a secreção ácida gástrica pela célula parietal. Ela é composta por duas</p><p>subunidades, uma subunidade‑α catalítica (100 kDa) e uma subunidade‑β glicoproteína (60 kDa). Durante o repouso, ou</p><p>estado não secretante, as células gástricas parietais armazenam a H+, K+‑ATPase dentro dos elementos tubulovesiculares</p><p>intracelulares. A relocação celular das subunidades da bomba de prótons mediante os rearranjos citoesqueléticos deve</p><p>ocorrer para que a secreção ácida aumente em resposta aos fatores estimuladores. A inserção subsequente e a reunião dos</p><p>heterodímeros das subunidades da H+/K+‑ATPase dentro das microvilosidades dos canalículos secretórios causam um</p><p>aumento na secreção do ácido gástrico. É necessário que exista uma via de efluxo de KCl para suprir potássio no lado</p><p>extracitoplasmático da bomba. O hidrogênio citosólico é secretado pela H+/K+‑ATPase em troca do potássio extracelular</p><p>(Fig. 48‑7), que é uma troca eletroneutra e não contribui para a diferença de potencial transmembrana da célula parietal. A</p><p>secreção do cloreto é realizada por um canal específico, mobilizando o cloreto do citoplasma da célula parietal para o lúmen</p><p>do estômago. A secreção ou troca do hidrogênio pelo potássio, no entanto, requer energia sob a forma de ATP, pois o</p><p>hidrogênio está sendo secretado contra um gradiente de mais de 1 milhão de vezes. Em decorrência dessa grande</p><p>necessidade energética, a célula parietal também apresenta o maior conteúdo mitocondrial de qualquer célula mamífera,</p><p>com um compartimento mitocondrial representando 34% do seu volume celular. Em resposta a um secretagogo, a célula</p><p>parietal sofre uma modificação conformacional e a área de superfície canalicular aumenta várias vezes (Fig. 48‑8). Em</p><p>contrapartida, com a secreção ácida estimulada, a cessação da secreção ácida requer a endocitose da H+, K+‑ATPase, com a</p><p>regeneração das túbulo‑vesículas citoplasmáticas contendo as subunidades, e isso ocorre por um sinal com base na tirosina.</p><p>A sequência que contém a tirosina está localizada na cauda citoplasmática da subunidade β, e é altamente homóloga ao</p><p>mecanismo responsável pela internalização do receptor transferrina.</p><p>FIGURA 488 Representação esquemática da célula parietal em repouso e estimulada. Note a transformação</p><p>morfológica entre a célula parietal não secretora e a célula parietal estimulada, com aumento na área da</p><p>superfície de membrana canalicular secretora.</p><p>Mais de 1 bilhão de células parietais são encontradas no estômago humano normal e são responsáveis por cerca de</p><p>20 mmol/h de ácido clorídrico em resposta a uma refeição de proteína. Cada célula parietal individual secreta 3,3 bilhões de</p><p>íons de hidrogênio/segundo, e há uma relação linear entre o débito ácido máximo e o número de células parietais. No</p><p>entanto, as taxas de secreção ácida gástrica podem estar alteradas nos pacientes com doenças gastrointestinais (GI) altas.</p><p>Por exemplo, o ácido gástrico frequentemente está aumentado em pacientes com úlcera duodenal ou gastrinoma, enquanto</p><p>está diminuído em pacientes com anemia perniciosa, atrofia gástrica, úlcera gástrica ou câncer gástrico. As menores taxas</p><p>secretórias observadas nos pacientes com úlceras gástricas estão associadas, normalmente, a úlceras gástricas proximais,</p><p>enquanto as úlceras distais, antrais ou pré‑pilóricas, estão associadas a taxas de secreção de ácido similares àquelas</p><p>observadas nos pacientes com úlceras duodenais.</p><p>O ácido gástrico desempenha um papel crítico na digestão de uma refeição. Ele é necessário para converter o</p><p>pepsinogênio em pepsina, desencadeia a liberação de secretina pelo duodeno e limita a colonização do trato GI superior por</p><p>bactérias.</p><p>Regulação Farmacológica</p><p>A diversidade dos mecanismos que estimulam a secreção ácida resultou no desenvolvimento de muitos medicamentos com</p><p>alvos específicos, com o objetivo de reduzir a produção ácida pela célula parietal. Os antagonistas alvo‑específicos mais</p><p>conhecidos são o grupo coletivamente conhecido como antagonistas do receptor H2. O mais potente dos antagonistas do</p><p>receptor H2 é a famotidina, seguida por ranitidina, nizatidina e cimetidina. A meia‑vida da famotidina é de 3 horas, sendo a</p><p>dos outras fármacos de aproximadamente 1,5 hora. Todos os antagonistas do receptor H2 sofrem metabolismo hepático, são</p><p>excretados pelos rins e não diferem muito em biodisponibilidade.</p><p>A mais nova classe de agentes antissecretores é a dos inibidores da bomba de prótons (IBP). Esses benzimidazóis, do qual</p><p>o omeprazol é um típico exemplo, impedem a secreção ácida quase completamente por causa de sua inibição irreversível da</p><p>bomba de prótons. Os IBP são ácidos fracos, com um pKa de 4, e ficam seletivamente localizados nos canalículos secretores</p><p>da célula parietal, que é a única estrutura no corpo com um pH menor que 4. Após a administração oral, esses agentes são</p><p>absorvidos na corrente sanguínea como pró‑fármacos e seletivamente se concentram nos canalículos secretores. Em um pH</p><p>baixo, eles se tornam ionizados e ativados, com formação de um grupo de enxofre. Pelo fato de a bomba de prótons estar</p><p>localizada na superfície luminal, as proteínas transmembrana da bomba também são expostas ao ácido ou ao baixo pH. Os</p><p>resíduos de cisteína sobre a subunidade α formam uma ligação dissulfídica covalente com benzimidazóis ativados, que</p><p>inibe irreversivelmente a bomba de prótons. Em virtude da natureza covalente dessa ligação, esses IBPs levam à inibição</p><p>mais prolongada da secreção ácida gástrica do que os bloqueadores H2. Para que ocorra a recuperação da secreção gástrica,</p><p>precisam ser sintetizadas novas bombas de prótons. Como resultado, esses agentes apresentam ação mais prolongada do</p><p>que a sua meia‑vida plasmática, o que mantém o pH intragástrico maior que 3 por 18 horas ou mais.</p><p>Um efeito colateral notável de todos os agentes antissecretores é a elevação dos níveis séricos de gastrina, que são maiores</p><p>após o tratamento com IBP do que com antagonistas do receptor H2. Este efeito é acompanhado por hiperplasia das células</p><p>G e das células ECL, com a administração prolongada destes agentes. Foi verificado que a administração a longo prazo de</p><p>omeprazol causa hiperplasia das células ECL que podia progredir para o desenvolvimento de tumores carcinoides</p><p>em</p><p>ratos. Este efeito, entretanto, não era específico para o omeprazol e foi reproduzido por outros agentes que causavam</p><p>inibição prolongada da secreção ácida e consequente hipergastrinemia.</p><p>Outros Produtos de Secreção Gástrica</p><p>Suco gástrico</p><p>O suco gástrico é o resultado da secreção das células parietais, células principais e células mucosas, além da saliva deglutida</p><p>e do refluxo duodenal. A composição eletrolítica da secreção gástrica das células parietais e não parietais varia com a taxa</p><p>de secreção gástrica. As células parietais secretam uma solução eletrolítica que é isotônica com o plasma e contém</p><p>160 mmol/litro. O pH dessa solução é de 0,8. O pH intraluminar mais baixo comumente medido no estômago é 2 por causa</p><p>da diluição da secreção da célula parietal por outras secreções gástricas, que também contêm sódio, potássio e bicarbonato.</p><p>Fator intrínseco</p><p>O fator intrínseco é uma mucoproteína de 60‑kDa, secretada pela célula parietal que é essencial para a absorção da vitamina</p><p>B12 no íleo terminal. Ele é secretado em quantidades que excedem em muito as necessidades de absorção da vitamina B12.</p><p>Em geral, a secreção do fator intrínseco acompanha a secreção do ácido gástrico, embora sua resposta secretora não esteja</p><p>ligada à secreção ácida. Por exemplo, os IBP não bloqueiam a secreção do fator intrínseco em humanos nem os fazem alterar</p><p>a absorção de vitamina B12. A deficiência do fator intrínseco pode se desenvolver em pacientes com anemia perniciosa ou</p><p>naqueles submetidos a gastrectomia total, e ambos os grupos de pacientes necessitam de suplementação de vitamina B12.</p><p>Pepsinogênio</p><p>Os pepsinogênios são proenzimas proteolíticas com peso molecular de 42.500 secretados pelas glândulas da mucosa</p><p>gastroduodenal. São secretados dois tipos de pepsinogênios. Os pepsinogênios do grupo 1 são secretados pelas células</p><p>principais e pelas células mucosas do colo localizadas nas glândulas da porção secretora de ácido do estômago. Os</p><p>pepsinogênios do grupo 2 são produzidos pelas células epiteliais superficiais ao longo da porção secretora de ácido do</p><p>estômago, antro e duodeno proximal. Consequentemente, os pepsinogênios do grupo 1 são secretados pelas mesmas</p><p>glândulas que secretam o ácido, enquanto os pepsinogênios do grupo 2 são secretados pela mucosa secretora de ácido e</p><p>secretora de gastrina. Na presença de ácido, ambas as formas de pepsinogênio são convertidas em pepsina pela remoção de</p><p>um curto peptídeo de terminal‑amino (N‑terminal). As pepsinas ficam inativadas em pH maior que 5, embora os</p><p>pepsinogênios do grupo 2 permaneçam ativos ao longo de uma ampla gama de valores de pH, diferentemente dos</p><p>pepsinogênios do grupo 1. Como resultado, os pepsinogênios do grupo 2 podem estar envolvidos na digestão péptica na</p><p>presença de um pH gástrico aumentado, o que comumente ocorre em condições de estresse ou em pacientes com úlcera</p><p>gástrica.</p><p>Muco e bicarbonato</p><p>O muco e o bicarbonato combinam‑se para neutralizar o ácido gástrico na superfície da mucosa gástrica. Eles são secretados</p><p>pelas células mucosas superficiais e pelas células mucosas do colo, localizados nas porções secretoras de ácido e no antro. O</p><p>muco é um gel viscoelástico que contém aproximadamente 85% de água e 15% de glicoproteínas. Ele cria uma barreira</p><p>mecânica à lesão por meio da camada não oscilante de água encontrada na superfície da mucosa gástrica. Ele também</p><p>fornece um bloqueio ao movimento iônico do lúmen para a membrana da célula apical, e é relativamente impermeável às</p><p>pepsinas. O muco está em um estado constante de fluxo, pois é secretado continuamente pelas células mucosas, por um</p><p>lado, e por outro lado solubilizado pela pepsina do lúmen. A produção do muco é estimulada por excitação vagal, agonistas</p><p>colinérgicos, prostaglandinas e algumas toxinas bacterianas. Em contrapartida, os fármacos anticolinérgicos e as anti‑</p><p>inflamatórios não esteroidais (AINEs) inibem sua secreção. O H. pylori secreta várias proteases e lipases que degradam a</p><p>mucina, o que prejudica a função protetora da camada mucosa.</p><p>Na porção ácido‑secretora do estômago, a secreção de bicarbonato é um processo ativo, enquanto no antro ocorre tanto</p><p>secreção ativa quanto passiva. No entanto, a magnitude da secreção de bicarbonato é consideravelmente menor que a da</p><p>secreção ácida. Embora o pH do lúmen seja 2, o pH observado na superfície da célula epitelial geralmente é 7. O gradiente</p><p>de pH encontrado na superfície epitelial decorre da camada não oscilante de água no gel da mucosa e da secreção contínua</p><p>de bicarbonato pelas células epiteliais superficiais. O pH da superfície da célula gástrica permanece acima de 5 até que o pH</p><p>do lúmen seja menor que 1,4. Entretanto, o pH do lúmen nos pacientes com úlcera duodenal é frequentemente menor que</p><p>1,4, e assim, a superfície celular fica exposta a um pH mais baixo nesses pacientes. Essa redução no pH pode ser decorrente</p><p>da diminuição das secreções gástrica e duodenal de bicarbonato, e pode explicar por que alguns pacientes com úlcera</p><p>duodenal apresentam maiores taxas de recidiva após o tratamento.</p><p>Motilidade Gástrica</p><p>A motilidade gástrica é regulada por mecanismos neurais extrínsecos e intrínsecos e pelo controle miogênico. Os controles</p><p>neurais extrínsecos são mediados pelas vias parassimpáticas (vago) e simpáticas, enquanto os controles intrínsecos</p><p>envolvem o sistema nervoso entérico (ver “Anatomia”). Em contrapartida, o controle miogênico se faz dentro das</p><p>membranas excitatórias das células do músculo liso do estômago.</p><p>Motilidade Gástrica em Jejum</p><p>A base elétrica da motilidade gástrica começa com a despolarização das células do marca‑passo localizadas na parte medial</p><p>do corpo do estômago ao longo da curvatura maior. Uma vez iniciada, as ondas lentas cursam a três ciclos/minuto de</p><p>maneira circunferencial e anterógrada na direção do piloro. Além dessas ondas lentas, as células da musculatura lisa do</p><p>estômago são capazes de produzir potenciais de ação, que estão associados a alterações maiores no potencial da membrana</p><p>do que as ondas lentas. Em comparação com as ondas lentas, que não estão associadas às contrações gástricas, os potenciais</p><p>de ação estão associados às contrações gástricas reais. Durante o jejum, o estômago passa por um padrão cíclico de</p><p>atividade elétrica, composto de ondas lentas e picos elétricos que foi denominado complexo migratório mioelétrico (CMM).</p><p>Cada ciclo de CMM dura 90 a 120 minutos. A rede de efeitos do CMM envolve a limpeza frequente do conteúdo gástrico</p><p>durante os períodos de jejum. Os exatos mecanismos regulatórios das atividades do complexo migratório mioelétrico são</p><p>desconhecidos, mas essas atividades permanecem intactas após a denervação vagal.</p><p>Motilidade Gástrica Pósprandial</p><p>A ingestão de uma refeição resulta em redução no tônus de repouso do estômago proximal e do fundo,</p><p>denominado relaxamento receptivo e acomodação gástrica, respectivamente. Por serem mediados pelo nervo vago, a</p><p>interrupção da inervação vagal para o estômago proximal decorrente de uma vagotomia troncular ou da vagotomia gástrica</p><p>proximal, pode eliminar esses reflexos, resultando em saciedade precoce e esvaziamento rápido dos líquidos ingeridos.</p><p>Além da sua função de armazenamento, o estômago é responsável pela mistura e trituração de partículas sólidas dos</p><p>alimentos ingeridos. Essa atividade envolve contrações repetidas e potentes das porções medial e antral do estômago,</p><p>levando as partículas alimentares a serem propelidas contra um piloro fechado, com uma subsequente retropulsão de</p><p>sólidos e de líquidos. Esse comportamento resulta em uma mistura geral de sólidos e líquidos e um cisalhamento</p><p>sequencial das partículas de alimentos sólidos para dimensões menores</p><p>que 1 mm.</p><p>O esvaziamento gástrico está sob a influência de mediadores neurais e hormonais bem coordenados. Fatores sistêmicos,</p><p>como ansiedade, medo, depressão e exercício, podem afetar a frequência da motilidade e do esvaziamento gástricos. Além</p><p>disso, as propriedades químicas e mecânicas e a temperatura dos conteúdos intraluminais podem influenciar a velocidade</p><p>do esvaziamento gástrico. Em geral, os líquidos são processados mais rapidamente que os sólidos, e os carboidratos mais</p><p>rapidamente que as gorduras. Um aumento na concentração ou na acidez de refeições líquidas causa retardo do</p><p>esvaziamento gástrico. Além disso, líquidos quentes e frios tendem a levar o estômago a se esvaziar a uma velocidade mais</p><p>lenta do que líquidos à temperatura ambiente. Essas respostas aos estímulos luminais são reguladas pelo sistema nervoso</p><p>entérico. Os osmorreceptores e os receptores sensíveis ao pH no intestino delgado proximal também estão envolvidos na</p><p>ativação da inibição do feedback do esvaziamento gástrico. Os peptídeos inibidores, supostamente ativos nesse contexto,</p><p>incluem o CCK, o glucagon, o peptídeo intestinal vasoativo e o polipeptídeo inibidor gástrico.</p><p>Motilidade Gástrica Anormal</p><p>Os sintomas de motilidade gástrica anormal são náuseas, sensação de plenitude gástrica, saciedade precoce, dor e</p><p>desconforto abdominal. Apesar de que se possa e se deva descartar uma obstrução mecânica com a endoscopia digestiva</p><p>alta e/ou com estudos radiológicos contrastados, a avaliação objetiva de um paciente com suspeita de distúrbio de</p><p>motilidade pode ser feita com cintilografia, ultrassonografia em tempo real e com ressonância magnética (RM). Os</p><p>distúrbios de motilidade gástrica encontrados com frequência na prática clínica são a dismotilidade gástrica após</p><p>vagotomia, gastroparesia (secundária ao diabetes, idiopática ou relacionada com medicação) e disfunção da motilidade</p><p>gástrica relacionada com infecção por H. pylori. A vagotomia resulta em perda do relaxamento receptivo e da acomodação</p><p>gástrica em resposta à ingestão de alimentos, com saciedade precoce, distensão pós‑prandial, esvaziamento acelerado de</p><p>líquidos e lentificado de sólidos. As manifestações clínicas de gastropatia diabética, que podem ocorrer em pacientes</p><p>dependentes ou independentes de insulina, assemelham‑se muito ao quadro clínico da gastroparesia pós‑‑vagotomia.</p><p>Ademais, foram identificadas alterações estruturais nos nervos vagos de pacientes com diabetes, sugerindo que uma</p><p>neuropatia diabética autonômica pode ser a responsável. No entanto, os efeitos metabólicos do diabetes também foram</p><p>implicados. Especificamente, a hiperglicemia tem sido mostrada como causa de redução da contratilidade do antro gástrico,</p><p>aumento da contratilidade pilórica e supressão do complexo motor migratório (CMM). A supressão da atividade do CMM é</p><p>responsável pela formação de bezoares gástricos observados em alguns pacientes diabéticos. Em contrapartida, a</p><p>hiperinsulinemia, que frequentemente está associada aos diabéticos não dependentes de insulina, pode exercer um papel na</p><p>gastroparesia observada no diabetes não dependente de insulina, já que ela também leva à supressão da atividade do CMM.</p><p>Pacientes com infecção por H. pylori e dispepsia não ulcerosa, também têm esvaziamento gástrico prejudicado, que é</p><p>acompanhado por redução da complacência gástrica. Em ratos, o lipopolissacarídeo derivado do H. pylori causa redução no</p><p>esvaziamento gástrico de uma refeição líquida por mais de 12 horas devido a um mecanismo desconhecido.</p><p>Avaliação do Esvaziamento Gástrico</p><p>Existem numerosas maneiras de se avaliar o esvaziamento gástrico. O teste da sobrecarga salina talvez seja o mais simples,</p><p>e é realizado instilando‑se um volume conhecido de solução salina no estômago e aspirando‑se a quantidade remanescente</p><p>após certo tempo. Os procedimentos fluoroscópicos também podem fornecer informações sobre o esvaziamento gástrico e</p><p>revelar causas mecânicas obstrutivas. No entanto, as cintilografias radionuclídeas computadorizadas são as mais</p><p>comumente empregadas para avaliação do esvaziamento gástrico. Este estudo cintilográfico é realizado utilizando uma</p><p>refeição de claras de ovos radiomarcadas. As imagens são obtidas imediatamente após a ingestão da refeição, e 1, 2 e 4</p><p>horas após a refeição. A medição do conteúdo gástrico residual 4 horas depois da refeição é a forma mais sensível de</p><p>diagnóstico da gastroparesia, uma vez que muitos pacientes têm resultados duvidosos após 2 horas. A retenção de mais de</p><p>60% da refeição 2 horas depois ou de 10% 4 horas depois indica um estudo anormal. Em 4 horas a retenção de 10% a 15%</p><p>significa gastroparesia leve; de 15% a 35%, moderada; e superior a 35% grave.</p><p>Tratamento</p><p>Independentemente da causa da gastroparesia, o tratamento inicial consiste na modificação da dieta e dos fatores</p><p>ambientais. Os pacientes devem ser encorajados a comer refeições múltiplas, pequenas e com pouca gordura ou fibra. As</p><p>medicações que afetam a motilidade gástrica, como opioides, bloqueadores dos canais de cálcio, antidepressivos tricíclicos e</p><p>agonistas da dopamina, devem ser evitadas e suspensas quando possível. O controle glicêmico deve ser otimizado nos</p><p>pacientes diabéticos. A terapia médica de primeira linha consiste na metoclopramida (Reglan), um antagonista da</p><p>dopamina que estimula as contrações antrais, e na eritromicina, um agonista da motilina que atua estimulando a contração</p><p>fúndica, tendo ambos mostrado algum benefício, embora as evidências sejam mais convincentes para os pacientes</p><p>diabéticos.</p><p>A cirurgia para gastroparesia é raramente necessária, em parte porque a pouca melhora dos sintomas foi observada,</p><p>historicamente, após operações abertas tradicionais, incluindo gastrojejunostomia e mesmo gastrectomia. No entanto, várias</p><p>opções mais efetivas e menos invasivas foram introduzidas mais recentemente, sugerindo que a cirurgia pode desempenhar</p><p>um papel maior no tratamento da gastroparesia no futuro. A piloromiotomia e piloroplastia são opções para o tratamento</p><p>cirúrgico da gastroparesia que funcionam em razão da diminuição da resistência do fluxo de saída pelo piloro e melhoram a</p><p>contratilidade gástrica remanescente. Estas operações podem ser realizadas por via laparoscópica, e um estudo de</p><p>piloroplastias a Heineke‑Mikulicz laparoscópicas mostrou melhora sintomática em 82% dos pacientes com uma redução de</p><p>180 minutos para 60 minutos de metade do esvaziamento gástrico, com poucas complicações perioperatórias.2 A</p><p>implantação cirúrgica de eletroestimuladores gástricos também foi usada como tratamento para gastroparesia idiopática e</p><p>diabética refratárias. Nessa técnica, eletrodos são colocados no antro, laparoscopicamente, e conectados a um estimulador</p><p>posicionado no subcutâneo, que transmite correntes de alta frequência e baixa energia. Em um estudo duplo‑cego, os</p><p>pacientes tiveram menos vômitos quando o seu estimulador foi ativado em comparação com o período do estudo em que</p><p>esteve desligado.3 Embora dois ensaios subsequentes, um envolvendo pacientes diabéticos e outro com pacientes com</p><p>gastroparesia idiopática, tenham sido incapazes de replicar estes resultados positivos durante os seus períodos de</p><p>cruzamento cego, ambos mostraram melhora dos sintomas no período de 1 ano de estimulação não cega. Com base nestes</p><p>dados, o papel definitivo e o benefício da estimulação gástrica no tratamento da gastroparesia ainda está por ser</p><p>determinado de forma conclusiva.</p><p>Função de Barreira Gástrica</p><p>A função de barreira gástrica depende de fatores anatômicos e fisiológicos. O fluxo sanguíneo também exerce um papel</p><p>crítico na defesa da mucosa gástrica por fornecer nutrientes e</p><p>liberar oxigênio para assegurar que os processos</p><p>intracelulares que sustentam a resistência da mucosa à lesão possam prosseguir sem interrupção. A redução do fluxo</p><p>sanguíneo para a mucosa gástrica apresenta efeitos mínimos sobre a produção de úlceras até se aproximar de 50% do</p><p>normal. Quando o fluxo sanguíneo é reduzido em mais de 75%, isso resulta em lesão da mucosa, que é exacerbado na</p><p>presença de ácido intraluminar. Uma vez que os danos tenham ocorrido, as células epiteliais superficiais lesadas são</p><p>substituídas rapidamente pela migração de células mucosas superficiais localizadas ao longo das membranas basais. Esse</p><p>processo é denominado restituição ou reconstituição. Ele ocorre em minutos, e não precisa de divisão celular.</p><p>A exposição do estômago a agentes nocivos causa redução na diferença de potencial através da mucosa gástrica. Na</p><p>mucosa gástrica normal, a diferença de potencial pela mucosa é −30 a −50 mV e resulta do transporte ativo de cloreto para o</p><p>lúmen e de sódio para o sangue pela atividade da Na+, K+‑ATPase. Com a lesão, rompem‑se as sólidas junções entre as</p><p>células mucosas, levando o epitélio a se tornar permeável aos íons (ou seja, Na+ e Cl–) e a uma perda resultante da elevada</p><p>resistência elétrica transepitelial normalmente encontrada na mucosa gástrica. Além disso, agentes lesivos, como os AINEs</p><p>ou a aspirina, apresentam grupos de carboxila que não são ionizados em pH intragástrico baixo, pois são ácidos fracos.</p><p>Consequentemente, eles penetram prontamente nas membranas celulares das células mucosas gástricas, já que agora elas</p><p>são lipossolúveis, mas não irão penetrar nas membranas celulares a um pH neutro, pois são ionizados. Com o ingresso em</p><p>um ambiente com pH neutro, encontrado dentro do citosol, eles se reionizam, não saem da membrana celular e são tóxicos</p><p>às células mucosas.</p><p>Doença ulcerosa péptica</p><p>Epidemiologia</p><p>As úlceras pépticas são definidas como erosões da mucosa gástrica ou duodenal que se estendem através da muscular da</p><p>mucosa. A incidência e a prevalência da DUP em países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos, vêm diminuindo</p><p>recentemente, assim como a progressão para DUP complicada, como a perfuração e a obstrução do esvaziamento gástrico.</p><p>Essa mudança deve‑se provavelmente a aumentos na detecção e erradicação da infecção por H. pylori, a causa primária da</p><p>DUP. Uma revisão sistemática dos estudos epidemiológicos da DUP reportou uma incidência anual de 0,10% a 0,19% e uma</p><p>prevalência global de 0,12% a 1,5%, com a maior parte dos estudos mostrando um declínio nas taxas de DUP nas últimas</p><p>décadas. Embora as taxas de incidência e de hospitalização da DUP tenham diminuído desde os anos 1980, esta continua</p><p>sendo uma das doenças GI mais prevalentes e dispendiosas. Os custos médicos relacionados com doença ulcerosa péptica</p><p>giram em torno de US$ 5,65 bilhões anualmente. Estima‑se que 15.000 operações sejam realizadas anualmente em pacientes</p><p>com doença ulcerosa péptica. O progresso significativo do tratamento que tem sido feito ao longo das últimas duas décadas</p><p>reduziu as internações por doença ulcerosa péptica em quase 30%. As internações por complicações da úlcera também</p><p>decresceram, o que levou a uma diminuição significativa na mortalidade relacionada com úlcera, de 3,9% em 1993 para</p><p>2,7% em 2006. Embora a mortalidade global permaneça baixa, isso ainda representa mais de 4.000 mortes causadas por</p><p>doença ulcerosa péptica anualmente.</p><p>O papel da cirurgia no tratamento da úlcera também diminuiu, principalmente por um declínio das cirurgias eletivas</p><p>para doença crônica; entretanto, o percentual de pacientes que necessitam de cirurgia de emergência permaneceu constante,</p><p>em um nível de 7% dos pacientes hospitalizados. Isso representa mais 11.000 intervenções cirúrgicas por ano.</p><p>Grande parte do declínio na incidência de úlcera e necessidade de hospitalização resultaram do maior conhecimento da</p><p>patogênese da úlcera. Especificamente, o papel do H. pylori foi definido e os riscos do uso a longo prazo de AINEs foram</p><p>mais bem elucidados. Espera‑se que o aumento da erradicação do H. pylori resulte não apenas na diminuição de</p><p>procedimentos cirúrgicos eletivos, mas também no declínio das complicações e da mortalidade.</p><p>Patogênese</p><p>As úlceras pépticas são causadas por aumento dos fatores agressivos e/ou redução dos fatores defensivos. Isso leva a um</p><p>dano mucoso com subsequente ulceração. Fatores protetores (ou defensores) incluem a secreção mucosa de bicarbonato, a</p><p>produção de muco, o fluxo sanguíneo, os fatores de crescimento, a renovação celular e as prostaglandinas endógenas. Os</p><p>agentes lesivos (ou agressivos) incluem a secreção de ácido clorídrico, as pepsinas, a ingestão de etanol, o tabagismo, o</p><p>refluxo duodenal de bile, a isquemia, os AINEs, a hipóxia e, mais notavelmente, o H. pylori. Embora seja agora claro que a</p><p>maior parte das úlceras são causadas por infecção por H. pylori ou uso de AINEs, ainda é importante perceber todos os</p><p>outros fatores protetores e causadores, a fim de otimizar o tratamento e a cicatrização da úlcera e prevenir a recorrência da</p><p>doença.</p><p>Infecção por Helicobacter pylori</p><p>Acredita‑se hoje que 80% a 95% das úlceras duodenais e aproximadamente 75% das úlceras gástricas estejam associadas à</p><p>infecção por H. pylori. A infecção por H. pylori mostrou preceder temporalmente a formação de úlcera, e quando este</p><p>organismo é erradicado como parte do tratamento, a recorrência da úlcera é extremamente rara. Essas observações</p><p>asseguraram o lugar do H. pylori como fator causador primário na patogênese da DUP. O H. pylori é um bastonete Gram‑</p><p>negativo helicoidal com quatro a seis flagelos que residem no epitélio gástrico dentro ou abaixo da camada mucosa. Essa</p><p>localização protege a bactéria de ácido e antibióticos. Seu formato e os flagelos ajudam o seu movimento através da camada</p><p>de muco, facilitando a produção de enzimas que a ajudam a se adaptar a este ambiente hostil. Mais notavelmente, ela é um</p><p>potente produtor de urease, que é capaz de dividir a ureia em amônia e bicarbonato, criando um microambiente alcalino</p><p>em um cenário de meio ácido do ambiente gástrico. A secreção desta enzima, no entanto, facilita a detecção do</p><p>microrganismo. H. pylori é uma bactéria microaerófila que só pode viver no epitélio gástrico. Assim, ela pode também ser</p><p>encontrada na mucosa gástrica heterotópica no esôfago proximal, no esôfago de Barre埯�, na metaplasia gástrica no duodeno,</p><p>no interior de um divertículo de Meckel e na mucosa gástrica heterotópica no reto.</p><p>Os mecanismos responsáveis pela lesão gastrointestinal induzida pelo H. pylori não estão ainda completamente</p><p>elucidados, mas os seguintes quatro mecanismos potenciais foram propostos e provavelmente interagem para causar um</p><p>desarranjo da fisiologia gástrica e duodenal que leva à formação subsequente da úlcera:</p><p>1. Produção de substâncias tóxicas que causam lesão tecidual local. Alguns dos mediadores tóxicos produzidos</p><p>localmente incluem produtos da degradação resultantes da atividade da urease (ou seja, amônia); citotoxinas;</p><p>uma mucinase que degrada o muco e as glicoproteínas; fosfolipases que danificam as células epiteliais e as células</p><p>mucosas; e o fator de ativação plaquetária, que, como se sabe, provoca dano à mucosa e trombose na</p><p>microcirculação.</p><p>2. Indução local de uma resposta imune da mucosa. H. pylori também pode causar uma reação inflamatória local na</p><p>mucosa gástrica, atraindo neutrófilos e monócitos, que, então, produzem inúmeras citocinas pró‑inflamatórias e</p><p>metabólitos reativos do oxigênio.</p><p>3. Aumento nos níveis de gastrina, com consequente aumento da secreção ácida. Em pacientes com infecção por H.</p><p>pylori, os níveis basais e estimulados de gastrina são significativamente aumentados, provavelmente pela redução</p><p>das células D antrais causada pela infecção por H. pylori.</p><p>Entretanto, a associação entre a secreção ácida e o H.</p><p>pylori não é assim tão linear. Apesar de voluntários saudáveis portadores de H. pylori apresentarem pequeno ou</p><p>nenhum aumento na secreção ácida, comparados com os voluntários saudáveis negativos para H. pylori, os</p><p>pacientes infectados por H. pylori com úlceras duodenais realmente apresentavam acentuado aumento na</p><p>secreção de ácido. Uma diminuição dos níveis séricos de somatostatina, como resultado da infecção por H. pylori e</p><p>que aumenta a secreção ácida de gastrina, pode ser o mecanismo causador subjacente por trás da hiperacidez</p><p>gástrica.</p><p>4. Metaplasia gástrica no duodeno. A reposição metaplásica de áreas de mucosa duodenal por epitélio gástrico</p><p>ocorre como uma resposta protetora ao baixo pH duodenal, resultado da hipersecreção ácida descrita acima; isso</p><p>permite que o H. pylori colonize estas áreas do duodeno, o que causa duodenite e provavelmente predispõe à</p><p>formação de úlcera duodenal. A presença do H. pylori no duodeno é mais comum em pacientes com úlcera em</p><p>comparação com pacientes com infecções assintomáticas restritas ao estômago.</p><p>As úlceras pépticas também estão fortemente associadas à gastrite antral. Estudos realizados antes da era do H.</p><p>pylori demonstraram que quase todos os pacientes com úlcera péptica apresentam evidências histológicas de gastrite antral.</p><p>Descobriu‑se, posteriormente, que os únicos pacientes com úlceras gástricas e sem gastrite eram aqueles que ingeriam ácido</p><p>acetilsalicílico. Sabe‑se agora que a maioria dos casos de gastrite histológica é causada por infecção por H. pylori. Entre os</p><p>pacientes com úlcera associada a AINE, 25% apresentam evidências histológicas de gastrite antral, comparado com 95% de</p><p>pacientes com úlceras não associadas a AINE. Na maioria dos casos, a infecção tende a ser confinada inicialmente ao antro e</p><p>resulta em inflamação antral. O papel causador da infecção por H. pylori na patogênese da gastrite e da DUP foi</p><p>primeiramente elucidado por Marshall e Warren na Austrália, em 1984. Para provar essa ligação, Marshall ingeriu inóculos</p><p>de H. pylori após confirmar que tinha mucosa gástrica grosseira e microscopicamente normal. Dias depois ele desenvolveu</p><p>dor abdominal, náusea e halitose, bem como presença histologicamente confirmada de infecção por H. pylori. A inflamação</p><p>aguda foi observada histologicamente nos dias 5 e 10. Em 2 semanas, a inflamação aguda tinha sido substituída por</p><p>inflamação crônica, com evidência de infiltrado de células mononucleares. Pelo seu trabalho pioneiro, Marshall e Warren</p><p>foram premiados em conjunto com o Prêmio Nobel de Medicina em 2005.</p><p>A infecção por H. pylori ocorre geralmente na infância, e a remissão espontânea é rara. Há uma relação inversa entre a</p><p>infecção e o status socioeconômico. As razões para isso ainda são pouco compreendidas, mas parecem ser o resultado de</p><p>fatores como condições sanitárias, agrupamento familiar e aglomeração. Esses fatores poderiam explicar o porquê de os</p><p>países em desenvolvimento apresentarem taxa comparativamente maior de infecção por H. pylori, especialmente em</p><p>crianças.</p><p>Numerosos estudos demonstram que parece haver um aumento linear constante na aquisição de infecção por H.</p><p>pylori com a idade, especialmente nos Estados Unidos e nações do norte da Europa. Nos Estados Unidos, a prevalência</p><p>de H. pylori também varia entre os grupos raciais e étnicos.</p><p>A infecção por H. pylori está associada a muitos distúrbios gastrointestinais superiores comuns, mas a maioria dos</p><p>indivíduos infectados é assintomática. Os doadores de sangue saudáveis nos Estados Unidos apresentam uma prevalência</p><p>global de cerca de 20% a 55%. A infecção por H. pylori quase sempre está presente no caso de gastrite crônica ativa e na</p><p>maioria dos pacientes com úlcera duodenal (80% a 95%) e gástrica (60% a 90%). Os pacientes com úlcera gástrica, não</p><p>infectados, tendem a ser usuários de AINEs. Há uma associação mais fraca com dispepsia. Além disso, a maioria dos</p><p>pacientes com câncer gástrico tem infecção atual ou prévia por H. pylori. Embora a associação entre H. pylori e câncer possa</p><p>ser forte, nenhuma relação causal foi comprovada. A gastrite crônica induzida por H. pylori e a metaplasia intestinal,</p><p>entretanto, parecem desempenhar algum papel. Uma metanálise de estudos caso‑controle comparando indivíduos H. pylori‑</p><p>positivos com H. pylori‑negativos mostrou que a infecção estava associada a um risco duas vezes superior de</p><p>desenvolvimento de câncer gástrico. Também existe uma forte relação entre o linfoma do tecido linfoide associado a mucosa</p><p>(MALT) com a infecção por H. pylori. A regressão destes linfomas foi demonstrada após a erradicação do H. pylori.</p><p>Dados limitados estão disponíveis para se estimar o risco de doença ulcerosa péptica em pacientes com infecção por H.</p><p>pylori. Em um estudo longitudinal da Austrália, com um período de avaliação média de 18 anos, 15% dos indivíduos H.</p><p>pylori positivos desenvolveram úlcera duodenal constatada em comparação com 3% dos indivíduos soronegativos. Em um</p><p>estudo de 10 anos de pacientes com gastrite assintomática, 11% dos pacientes com gastrite histológica desenvolveram</p><p>doença ulcerosa péptica durante um período de 10 anos, comparados com apenas 1% sem gastrite. Outro fator que mostra a</p><p>importância do H. pylori na gênese de úlcera é que a sua erradicação reduz drasticamente a recidiva da úlcera. Muitos</p><p>estudos prospectivos têm demonstrado que pacientes com infecção por H. pylori e com doença ulcerosa não associada a</p><p>AINE, que tiveram erradicação documentada do microrganismo, quase nunca (</p>