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Morfofisiologia do estômago O estômago é um alargamento do canal alimentar em formato de J diretamente inferior ao diafragma no abdome. O estômago liga o esôfago ao duodeno, a primeira parte do intestino delgado (TORTORA, DERRICKSON, 2017) O estômago é responsável pela digestão parcial dos alimentos e pela secreção de enzimas e hormônios (funções exócrinas e endócrinas). (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Como uma refeição pode ser consumida muito mais rapidamente do que os intestinos podem digeri-la e absorvê-la, uma das funções do estômago é servir como uma câmara de mistura e reservatório de retenção (TORTORA, DERRICKSON, 2017) No estômago, a digestão de amido e triglicerídios continua, a digestão das proteínas começa, o bolo alimentar semissólido é convertido em um líquido, e determinadas substâncias são absorvidas. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Um “tanque de armazenamento” temporário onde começa a degradação química das proteínas e o alimento é convertido em uma pasta cremosa chamada de quimo (“suco”). (MARIEB, HOEHN, 2009) Anatomia do estômago A posição e o tamanho do estômago variam continuamente; o diafragma o empurra inferiormente a cada inspiração e o puxa superiormente a cada expiração. Vazio, tem aproximadamente o tamanho de uma salsicha grande, mas é a parte mais distensível do canal alimentar e pode acomodar uma grande quantidade de comida (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Ele tende a estar elevado e mais horizontal em pessoas gordas e de baixa estatura (um estômago em forma de chifre de boi), sendo frequentemente alongado verticalmente em pessoas altas e magras (um estômago na forma de J) (MARIEB, HOEHN, 2009) O estômago está localizado no quadrante superior esquerdo da cavidade peritoneal, quase encoberto pelo fígado e pelo diafragma. Especificamente, ele se situa nas regiões do hipocôndrio esquerdo, epigástrica e umbilical. (MARIEB, HOEHN, 2009) O estômago vazio possui um volume de cerca de 50 mL, e o diâme- tro da secção transversal é apenas um pouco maior que o do intestino grosso; contudo, quando está realmente distendido, pode conter cerca de 4 L de alimento e pode se estender quase até a pelve (MARIEB, HOEHN, 2009) O estômago tem quatro regiões principais: a cárdia, o fundo gástrico, o corpo gástrico e a parte pilórica (TORTORA, DERRICKSON, 2017) A cárdia circunda a abertura do esôfago ao estômago. A porção arredondada superior e à esquerda da cárdia é o fundo gástrico. Inferior ao fundo gástrico está a grande parte central do estômago, o corpo gástrico. A parte pilórica pode ser dividida em três regiões. A primeira região, o antro pilórico, liga o corpo ao estômago. A segunda região, o canal pilórico, leva à terceira região, o piloro, que por sua vez se conecta ao duodeno. O piloro se comunica com o duodeno do intestino delgado por meio de um esfíncter de músculo liso chamado músculo esfíncter do piloro. Quando o estômago está vazio, a túnica mucosa forma grandes rugas, as pregas gástricas, que podem ser vistas a olho nu. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) A margem medial côncava do estômago é chamada curvatura menor; a margem lateral convexa é chamada curvatura maior. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Partindo das curvaturas, se estendem dois mesentérios, chamados de omentos, que ajudam a fixar o estômago aos outros órgãos digestórios e às paredes do corpo (MARIEB, HOEHN, 2009) O omento menor vai do fígado até a curvatura menor do estômago, onde se torna contínuo com o peritônio visceral que recobre o estômago. O omento maior desce da curvatura maior do estômago para cobrir as alças do intestino delgado. Depois ele se desloca dorsal e superiormente, envolvendo o baço e a porção transversa do intestino grosso antes de se fundir com o mesocolo, um me- sentério dorsal que liga o intestino grosso com o peritônio parietal da parede abdominal posterior . O omento maior é repleto de depósitos de gordura (omento = pele gordurosa), o que dá um aspecto de avental rendilhado. Ele também contém grande quantidade de linfonodos. As células do sistema imunológico e os macrófagos nesses linfonodos “policiam” a cavidade peritoneal e os órgãos intraperitoneais. (MARIEB, HOEHN, 2009) O estômago recebe inervação do sistema neurovegetativo. Fibras simpáticas dos nervos esplâncnicos torácicos chegam através do plexo celíaco. Fibras parassimpáticas são supridas pelo nervo vago. (MARIEB, HOEHN, 2009) O suprimento arterial do estômago é feito por ramos (gástrico e esplênico) do tronco celíaco As veias correspondentes são parte do sistema porta hepático que drena para a veia porta do fígado (MARIEB, HOEHN, 2009) Histologia do estômago A parede do estômago contém as quatro túnicas típicas da maioria do TGI, mas suas túnicas muscular e mucosa são modificadas para as funções específicas do estômago. (MARIEB, HOEHN, 2009) Além das camadas de músculo liso usuais, circular e longitudinal, a muscular externa contém uma camada mais interna de músculo liso disposto obliquamente Esse arranjo permite ao estômago não apenas mover o bolo alimentar ao longo do trato, mas também agitar, misturar e amassar, quebrando-o fisicamente em fragmentos menores (MARIEB, HOEHN, 2009) Mucosa A mucosa gástrica é formada por epitélio glandular, cuja unidade secretora é tubular e ramificada e desemboca na superfície, em uma área denominada fosseta gástrica (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Todo o epitélio gástrico está em contato com o tecido conjuntivo frouxo (lâmina própria), que contém células musculares lisas e células linfoides. Separando a mucosa da submucosa adjacente, existe uma camada de músculo liso, a muscular da mucosa (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) O epitélio que recobre a superfície do estômago e reveste as fossetas é colunar simples, e todas as células secretam muco alcalino, composto por água (95%), glicoproteínas e lipídios. Assim, o muco forma uma espessa camada que protege as células da acidez do estômago. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Esse revestimento é pontilhado com milhões de profundas fossetas ou fovéolas gástricas, que levam às glândulas gástricas, as quais produzem a secreção do estômago, chamada de suco gástrico. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Várias glândulas gástricas se abrem na base de canais estreitos chamadas criptas gástricas. Secreções de várias glândulas gástricas fluem para cada cripta gástrica e, em seguida, para dentro do lúmen do estômago. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) As células que formam as paredes das fovéolas gástricas são principalmente células mucosas superficiais, mas aquelas que formam as glândulas gástricas variam nas diferentes regiões do estômago. Por exemplo, as células das glândulas do cárdia e do piloro são principalmente secretoras de muco, enquanto as células do antro pilórico produzem muco e diversos hormônios, incluindo a maior parte do hormônio excitatório denominado gastrina. As glândulas do fundo e do corpo do estômago, onde grande parte da digestão química ocorre, são consideravelmente maiores e produzem a maioria das secreções do estômagp. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Células mucosas do colo As células mucosas do colo, encontradas na região superior das glândulas, ou no colo (“pescoço”), produzem um muco fino, bem diferente daquele secretado pelas células mucosas do epitélio da superfície. (MARIEB, HOEHN, 2009) Células parietais As células parietais, encontradas principalmente nas regiões intermediárias das glândulas, distribuídas entre as células principais, secretam simultaneamente ácido clorídrico (HCl) e fator intrínseco. (MARIEB, HOEHN, 2009) Embora as células parietais pareçam esféricas quando vistas ao microscópio óptico, elas possuem três pontas que apresentam densas microvilosidades (elasse parecem com um forcado, ou garfo de feno). Essa estrutura fornece uma enorme área de superfície para a secreção de H+ e Cl– para o lúmen do estômago. (MARIEB, HOEHN, 2009) O HCl deixa o conteúdo do estômago extremamente ácido (pH 1,5 a 3,5), uma condição necessária para a ativação da pepsina e para sua atividade ideal. A acidez também auxilia na digestão do alimento por desnaturar proteínas e por degradar a parede celular de alimentos vegetais, sendo forte o suficiente para matar muitas das bactérias ingeridas junto com o alimento. (MARIEB, HOEHN, 2009) O fator intrínseco é uma glicoproteína necessária para a absorção da vitamina B12 no intestino delgado (MARIEB, HOEHN, 2009) Células principais As células principais produzem o pepsinogênio, a forma inativa da pepsina, a enzima que digere proteínas. (MARIEB, HOEHN, 2009) As células principais ocorrem principalmente nas regiões basais das glândulas gástricas. (MARIEB, HOEHN, 2009) Quando as células principais são estimuladas, as primeiras moléculas de pepsinogênio que elas liberam são ativadas pelo HCl encontrado na região apical da glândula Contudo, uma vez que a pepsina está presente, ela também catalisa a conversão de pepsinogênio em pepsina. Esse processo de retroalimentação (feedback) positiva é limitado apenas pela quantidade de pepsinogênio presente. (MARIEB, HOEHN, 2009) As células principais também secretam quantidades insignificantes de lipases (enzimas que digerem as gorduras). (MARIEB, HOEHN, 2009) Células enteroendócrinas As células enteroendócrinas (“intestino endócrino”) liberam vários mensageiros químicos diretamente no líquido intersticial da lâmina própria. Alguns deles, como a histamina e a serotonina, agem localmente como fatores parácrinos. Outros, como a somatostatina, agem no local e também como hormônios, difundindo-se para dentro dos capilares e influenciando diversos órgãos-alvo do sistema digestório (MARIEB, HOEHN, 2009) A gastrina, um hormônio, tem um papel essencial na regulação da secreção e da motilidade do estômago(MARIEB, HOEHN, 2009) Submucosa A submucosa é composta por tecido conjuntivo moderadamente denso que contém vasos sanguíneos e linfáticos; além das células em geral encontradas no tecido conjuntivo, está infiltrada por células linfoides e macrófagos. (MARIEB, HOEHN, 2009) Musculares As camadas musculares são compostas por fibras musculares lisas orientadas em três direções principais. A camada externa é longitudinal, a média é circular e a interna é oblíqua. No piloro, a camada média encontra-se muito mais espessa para formar o esfíncter pilórico. O estômago é revestido por uma membrana serosa delgada. (MARIEB, HOEHN, 2009) Serosa A túnica serosa é composta por epitélio escamoso simples (mesotélio) e tecido conjuntivo areolar; a porção da túnica serosa que recobre o estômago é parte do peritônio visceral. Na curvatura menor do estômago, o peritônio visceral se estende para cima até o fígado como o omento menor. Na curvatura maior do estômago, o peritônio visceral continua para baixo como o omento maior e reveste os intestinos. (MARIEB, HOEHN, 2009) Fisiologia do estômago Alguns minutos depois de o alimento entrar no estômago, ondas de peristaltismo passam pelo estômago a cada 15 a 25 s. Poucas ondas peristálticas são observadas na região do fundo gástrico, que tem principalmente uma função de armazenamento. Em vez disso, a maior parte das ondas começa no corpo gástrico e se intensifica à medida que alcança o antro pilórico. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Cada onda peristáltica move o conteúdo gástrico do corpo gástrico para baixo para dentro do antro pilórico, em um processo conhecido como propulsão. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) O óstio pilórico normalmente permanece quase, mas não completamente, fechado. Como a maior parte das partículas de alimento no estômago inicialmente são demasiadamente grandes para passar através do estreito óstio pilórico, elas são forçadas para trás para o corpo gástrico, em um processo conhecido como retropulsão. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Ocorre então outra rodada de propulsão, movendo as partículas de alimentos de volta para o antro pilórico. Se as partículas de alimento continuam sendo demasiadamente grandes para passar através do óstio pilórico, a retropulsão ocorre novamente e as partículas são comprimidas de volta para o corpo gástrico. Em seguida, ocorre ainda outra rodada adicional de propulsão, e o ciclo continua se repetindo. O resultado líquido destes movimentos é que o conteúdo gástrico é misturado ao suco gástrico, por fim sendo reduzido a um líquido com consistência de sopa chamado quimo. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Uma vez que as partículas de alimento no quimo são suficientemente pequenas, elas podem passar através do óstio pilórico, em um fenômeno conhecido como esvaziamento gástrico. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Os alimentos podem permanecer no fundo gástrico durante aproximadamente 1 h sem serem misturados ao suco gástrico. Durante este tempo, a digestão pela amilase salivar das glândulas salivares continua. Logo, no entanto, a ação de agitação mistura o quimo com o suco gástrico ácido, inativando a amilase salivar e ativando a lipase lingual produzida pela língua, que começa a digerir os triglicerídios em ácidos graxos e diglicerídios. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Embora as células parietais secretem os íons hidrogênio (H+) e íons cloreto (Cl–) separadamente no lúmen do estômago, o efeito líquido é a secreção de ácido clorídrico (HCl). As bombas de prótons alimentadas pela H+-K+ ATPase transportam ativamente o H+ para o lúmen enquanto trazem os íons potássio (K+) para dentro da célula. Ao mesmo tempo, o Cl– e o K+ se difundem para fora para o lúmen através dos canais de Cl– e K+ da membrana apical. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) A enzima anidrase carbônica, que é especialmente abundante nas células parietais, catalisa a formação de ácido carbônico (H2CO3) a partir da água (H2O) e dióxido de carbono (CO2). Quando o ácido carbônico se dissocia, ele fornece uma fonte pronta de H+ para as bombas de prótons, mas também produz íons bicarbonato (HCO3–). Conforme o HCO3– se acumula no citosol, ele sai da célula parietal na troca por Cl– via antiportadores Cl–-HCO3– na membrana basolateral (próxima da lâmina própria). O HCO3– se difunde nos capilares sanguíneos próximos. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Esta “maré alcalina” de íons bicarbonato entrando na corrente sanguínea após uma refeição pode ser grande o suficiente para elevar ligeiramente o pH do sangue e deixar a urina mais alcalina. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) A secreção de HCl pelas células parietais pode ser estimulada por várias fontes: (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Acetilcolina (ACh) liberada pelos neurônios parassimpáticos, Gastrina secretada pelas células secretoras de gastrina e a histamina, que é uma substância parácrina liberada pelos mastócitos na lâmina própria das proximidades A acetilcolina e a gastrina estimulam as células parietais a secretar mais HCl na presença de histamina. Em outras palavras, a histamina atua sinergicamente, melhorando os efeitos da acetilcolina e da gastrina. Os receptores das três substâncias estão presentes na membrana plasmática das células parietais. Os receptores de histamina nas células parietais são chamados receptores H2; eles medeiam respostas diferentes do que os receptores H 1 envolvidos nas respostas alérgicas. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) O líquido fortemente ácido do estômago mata muitos microrganismos dos alimentos. O HCl desnatura parcialmente as proteínas dos alimentos e estimula a secreção de hormônios que promovem o fluxo da bile e do suco pancreático. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) A digestão enzimática das proteínas também começa no estômago. A única enzima proteolítica(que digere proteína) no estômago é a pepsina, que é secretada pelas células principais gástricas. A pepsina rompe certas ligações peptídicas entre os aminoácidos, fragmentando uma cadeia proteica de muitos aminoácidos em fragmentos peptídicos menores. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) O que impede que a pepsina digira as proteínas das células do estômago junto com os alimentos? (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Em primeiro lugar, a pepsina é secretada em uma forma inativa chamada pepsinogênio; nesta forma, ela não é capaz de digerir proteínas nas células principais gástricas que a produzem. O pepsinogênio não é convertido em pepsina ativa até que tenha entrado em contato com o ácido clorídrico secretado pelas células parietais ou moléculas de pepsina ativa Em segundo lugar, as células epiteliais do estômago são protegidas do suco gástrico por uma camada de 1 a 3 mm de espessura de muco alcalino secretado pelas células mucosas da superfície e células mucosas do colo. Outra enzima do estômago é a lipase gástrica, que cliva os triglicerídios (gorduras e óleos) das moléculas de gordura (como as encontradas no leite) em ácidos graxos e monoglicerídios. Um monoglicerídio é composto por uma molécula de glicerol ligada a uma molécula de ácido graxo. Esta enzima, que tem um papel limitado no estômago adulto, opera melhor a um pH entre 5 e 6. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Apenas uma pequena quantidade de nutrientes é absorvida no estômago, porque suas células epiteliais são impermeáveis à maior parte dos materiais. No entanto, as células mucosas do estômago absorvem um pouco de água, íons e ácidos graxos de cadeia curta, bem como determinados fármacos (especialmente o ácido acetilsalicílico) e álcool. (TORTORA, DERRICKSON, 2017) Aspectos microbiológicos da H. Pylori Morfologia bacteriana O Helicobacter pylori (H. pylori) é uma bactéria Gram-negativa espiralada que coloniza a mucosa gástrica dos seres humanos, desencadeando um processo inflamatório agudo (gastrite aguda) e, posteriormente, inflamação crônica, caracterizada como gastrite crônica (MARINHO et al., 2016) Possui de 4 a 6 flagelos revestidos partindo de um único pólo, sendo que cada um possui aproximadamente 30 μm de comprimento e 2,5 nm de espessura (GUIMARÃES et al., 2008) Uma vez ocorrida a colonização gástrica pelo H. pylori, suas propriedades ou fatores de virulência permitem-lhe perpetuar-se indefinidamente por toda a vida do hospedeiro. Após os dois primeiros anos de vida do indivíduo, a eliminação espontânea é considerada um fenômeno raro. (MARINHO et al., 2016) Prevalência da H. pylori A prevalência da infecção pelo H. pylori nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento é muito elevada, podendo atingir até 50% das crianças já aos 5 anos e acima de 70% aos 10 anos de idade.9 Esse fato deve-se à aquisição acelerada do microrganismo no início da infância e à sua perpetuação indefinidamente nos indivíduos contaminados (MARINHO et al., 2016) Em geral, a prevalência é muito elevada nos países subdesenvolvidos e bem mais baixa nos países e regiões bem desenvolvidos. (MARINHO et al., 2016) Fatores de virulência a) Flagelos: a motilidade flagelar tem sido demonstrada como sendo essencial na habilidade que a bactéria possui de mover-se no suco e muco gástrico, permitindo assim penetração na mucosa e sobrevivência do organismo no estômago humano (GUIMARÃES et al., 2008) b) Urease: a bactéria expressa altos níveis desta enzima que hidrolisa a uréia (CO(NH2 )2 ), fisiologicamente presente no suco gástrico, em bicarbonato (HCO3 − ) e amônia iônica (NH4 + ), elevando o pH da mucosa gástrica de 6,0 para 7,0 tornando-se básico, protegendo o microorganismo dos efeitos deletérios do pH ácido do estômago podendo ter acesso à camada protetora de muco. (GUIMARÃES et al., 2008) c) Proteínas de choque térmico: são homólogas as de humanos; acredita-se que a expressão de proteínas de choque térmico, como a HspA e HspB aumentem a atividade da urease e influenciem na habilidade da H. pylori tolerar as condições extremas do estômago (GUIMARÃES et al., 2008) d) Catalase e a Superóxido Dismutase: atuam na neutralização da ação oxidativa tóxica de radicais livres, conferindo proteção à bactéria contra a atividade lítica de macrófagos e neutrófilos polimorfonucleares, impedindo uma resposta inflamatória eficaz do hospedeiro (GUIMARÃES et al., 2008) e) Enzimas degradativas: a produção de proteases A e fosfolipases leva à degradação das membranas das células epiteliais e do complexo lipídico-glicoprotéico da camada de muco, aumentando a solubilidade do mesmo, acarretando danos à mucosa gástrica (GUIMARÃES et al., 2008) f) Adesinas: destacam-se a hemaglutinina fibrilar e a fímbria, que representam o passo final da associação do microorganismo com a mucosa gástrica. (GUIMARÃES et al., 2008) g) Mecanismos de escape: o lipopolissacarídeo (LPS) presente na parede celular bacteriana possui baixa imunogenicidade, importante no processo de escape da bactéria ao sistema imune do hospedeiro. (GUIMARÃES et al., 2008) h) Ilha de patogenicidade cag: lócus com 31 genes, responsáveis pela codificação de potentes fatores de virulência; seu principal marcador é o gene Cag A que codifica uma citotoxina que atua como antígeno de superfície imunodominante da Helicobacter pylori (GUIMARÃES et al., 2008) i) Gene da Citotoxina Vacuolizante (Vac A): a combinação em mosaico das duas regiões do gene Vac A é o que determina a produção da citotoxina e seu potencial patogênico. (GUIMARÃES et al., 2008) Fatores de risco para aquisição da H. pylori A fase da vida humana com maior risco para aquisição dessa infecção é durante a infância. De fato, as situações socioeconômicas insatisfatórias e as condições de vida precárias durante a infância favorecem a transmissão do microrganismo entre os seres humanos. (MARINHO et al., 2016) Os fatores de risco mais importantes que favorecem a transmissão pessoa a pessoa do H. pylori na infância são: (MARINHO et al., 2016) Elevada aglomeração de pessoas no domicílio; Crianças compartilhando a cama com um adulto ou outra criança mais velha; Ambientes insalubres; Precariedade das condições habitacionais e peridomicilares; Ausência de instalações sanitárias básicas (água potável, coleta de lixo, esgotamento sanitário); Práticas higiênicas inapropriadas; Reservatório e formas de transmissão O H. pylori coloniza apenas o estômago humano ou outro epitélio que tenha sofrido metaplasia da mucosa gástrica. (MARINHO et al., 2016) A transmissão do H. pylori ocorre de pessoa a pessoa, embora ainda seja desconhecido o modo de disseminação entre os seres humanos. Postula-se que as rotas de transmissão ocorram pelas vias oro-oral, feco-oral ou gastro-oral, veiculadas em meio aquático, tendo em vista que esse patógeno pode sobreviver por poucos dias em água fresca, água salgada, água destilada e água de torneira (MARINHO et al., 2016) A transmissão iatrogênica tem sido documentada; a alta prevalência da infecção entre os endoscopistas, particularmente, aqueles sem o hábito de usar luvas, sugere que a infecção pela bactéria pode ser transmitida por instrumentos contaminados com secreções gástricas, sobretudo quando a lavagem do equipamento é manual. (GUIMARÃES et al., 2008) Resposta imunológica à H. Pylori A resposta inicial do hospedeiro à infecção por H. pylori em adultos é caracterizada por intenso infiltrado de neutrófilos associado a períodos de acloridria. (GUIMARÃES et al., 2008) A infecção crônica é caracterizada por um infiltrado de células inflamatórias na lâmina própria da mucosa gástrica; como o H. pylori é pouco invasivo, resultam mediadores de resposta inflamatória, tais como fator ativador plaquetário e proteínas de superfície, que estão envolvidos no recrutamento de neutrófilos e leucócitosmononucleares, como macrófagos e monócitos para o sítio de infecção, uma vez que essa fase apresenta redução na produção de ácido, tornando benéfico para bactéria e facilitando o processo de colonização gástrica. (GUIMARÃES et al., 2008) A ação neutrofílica é persistente, porém, ineficaz na eliminação da H.pylori, devido à ação de enzimas bacterianas, como a catalase e superóxido dismutase, que protegem a bactéria. (GUIMARÃES et al., 2008) As células mononucleares e os neutrófilos em resposta a infecção pela H. pylori, liberam radicais livres de oxigênio, que juntamente com a redução nos níveis de antioxidantes levam ao stress com lesão oxidativa, importante na modificação estrutural do DNA e desequilíbrio do sistema de transdução de sinais das células epiteliais gástricas, considerado carcinogênico. (GUIMARÃES et al., 2008) Embora a resposta celular seja predominante na infecção por H. pylor,i a resposta humoral também é observada, normalmente uma resposta humoral sistêmica e estável, predominantemente do tipo IgG; no entanto, na inflamação crônica observa se presença de anticorpos específicos, também do tipo IgA contra o patógeno. Ambos têm sido usados para diagnosticar a infecção da H. pylori no soro e saliva dos pacientes, sendo que estes anticorpos diminuem somente após a eliminação da infecção, o que ,raramente, ocorre espontaneamente. 24 (GUIMARÃES et al., 2008) Gastrite O termo gastrite indica a presença de lesão epitelial gástrica associada à regeneração da mucosa, obrigatoriamente na presença de inflamação. Por sua vez, o termo gastropatia é atribuído ao achado de lesão e regeneração epitelial gástricas na ausência de inflamação. (MARTINS et al., 2016) Gastrite aguda Gastrite é um processo resultante da lesão mucosa. Quando os neutrófilos estão presentes, a lesão é denominada gastrite aguda. (KUMAR, 2018) As gastrites agudas apresentam algumas características especiais: surgem subitamente, apresentam curta duração e habitualmente são afecções transitórias. Podem acometer exclusivamente o corpo gástrico, somente a região antral ou ambos, simultaneamente. (MARTINS et al., 2016) As várias expressões encontradas na literatura, como gastrite aguda, gastrite hemorrágica, gastrite erosiva e úlcera aguda, designam o mesmo processo, que se apresenta sob diferentes formas. Além do mais, essa reação inflamatória aguda também pode acometer, isolada ou simultaneamente, a mucosa do duodeno, recebendo a denominação de duodenite hemorrágica. Por essa razão, muitos preferem a denominação genérica de lesões agudas da mucosa gastroduodenal (LA-MGD) para designar qualquer tipo de reação aguda da mucosa gastroduodenal. (MARTINS et al., 2016) Em geral, a gastrite aguda é um distúrbio autolimitado, com recuperação e cicatrização completas dentro de alguns dias depois da eliminação da condição ou do agente desencadeante. Epidemiologia da gastrite aguda Etiologia da gastrite aguda As principais causas são Lesões infecciosas As infecções bacterianas e virais estão entre as causas mais frequentes de agressão para o estômago. Os estafilococos, shigellas e salmonelas são comuns nas chamadas toxi-infecções alimentares, as gastroenterocolites agudas. (MARTINS et al., 2016) Ocorrem com mais frequência no verão, época em que os alimentos se deterioram mais facilmente. (MARTINS et al., 2016) A gastrite aguda associada ao H. pylori é uma situação que raramente tem sido descrita. Em geral, a infecção é adquirida na infância, mas passa despercebida, aparentemente sem sintomas nessa fase aguda. Quando adquirida na idade adulta, pode ocasionar dor ou desconforto epigástrico, náuseas, vômitos, halitose e astenia, sintomas que se iniciam em um período de três a sete dias após a infecção e persistem durante poucos dias ou poucas semanas. (MARTINS et al., 2016) Giardíase e estrongiloidíase em suas fases iniciais oca-sionam gastrite aguda e, por vezes, são responsáveis por gastroduodenites que podem mimetizar os sintomas de uma úlcera. (MARTINS et al., 2016) Lesão química O uso abusivo de etanol é uma das causas mais lembradas da gastrite aguda. A primeira descrição de gastrite aguda alcoólica foi feita por Beaumont, em 1833. As lesões produzidas pelo álcool resultam no rompimento da barreira da mucosa gástrica e consequente retrodifusão de íons H+ (MARTINS et al, 2016) Fármaco anti-inflamatórios O grande problema do uso contínuo desse tipo de medicamento, indiscriminado ou não, é quando sua ação agressiva supera a extraordinária capacidade de defesa da mucosa; sabe-se que a integridade da mucosa gástrica depende, fundamentalmente, da produção de prostaglandinas. Reconhece-se, hoje, a existência de duas isoformas de ciclo-oxigenase (COX): a constitutiva (COX-1) e a induzida (COX-2). A COX-1 tem funções fisiológicas bem definidas, como produzir prostaciclinas, que, quando liberadas na mucosa gástrica, têm papel protetor. A COX-2, identificada em 19916 , é expressa, em geral, como parte da resposta a um estímulo inflamatório em diferentes tecidos. A inibição da síntese de prostaglandinas pelo uso de AINE pode resultar no surgimento de lesões gástricas, a gastropatia secundária aos AINE. (KUMAR, 2018) Fármacos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) que inibem a síntese de prostaglandinas E2 e I2 dependente de cicloxigenase (COX), que estimulam quase todos os mecanismos de defesa acima mencionados, incluindo secreção de muco e bicarbonato, fluxo sanguíneo da mucosa e restituição epitelial. (KUMAR, 2018) Embora a COX-1 desempenhe um papel maior do que a COX-2, ambas as isoenzimas contribuem para a proteção da mucosa. Assim, enquanto o risco de desenvolvimento de lesão gástrica induzida por AINE é maior com inibidores não seletivos, como ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e naproxeno, a inibição seletiva da COX-2, por exemplo, por celecoxib, também pode resultar em gastropatia ou gastrite. (KUMAR, 2018) Lesão gástrica A lesão gástrica, que ocorre em pacientes urêmicos e em pacientes infectados pelo H. pylori secretor de urease, pode ser resultado da inibição de transportadores de bicarbonato gástrico por íons de amônio. (KUMAR, 2018) Secreção reduzida de mucina e bicarbonato A secreção reduzida de mucina e bicarbonato foi sugerida para explicar o aumento da suscetibilidade de idosos à gastrite. (KUMAR, 2018) Lesão hemorrágica O estresse agudo intenso (grandes cirurgias, queimaduras graves, fraturas múltiplas) pode provocar erosões e úlceras agudas na mucosa gástrica, que ocasionam hemorragia digestiva alta. (MARTINS et al., 2016) Hipoxemia e diminuição do suprimento de oxigênio A hipoxemia e a diminuição do suprimento de oxigênio podem ser responsáveis por uma maior incidência de gastropatia e gastrite em altas altitudes. (KUMAR, 2018) Infecções fúngicas As infecções fúngicas ocorrem usualmente em pacientes imunossuprimidos. O microrganismo encontrado com maior frequência nesses casos é a Candida albicans, muitas vezes associada ao citomegalovírus e, mais raramente e, ao herpes-vírus. (MARTINS et al., 2016) Ingestão de produtos químicos agressivos Ingestão de produtos químicos agressivos, particularmente ácidos ou bases, acidentalmente ou em uma tentativa de suicídio, levam a lesões graves na mucosa gástrica em virtude do dano direto às células epiteliais e estromais. (KUMAR, 2018) O dano celular direto também contribui para a gastrite induzida pelo consumo excessivo de álcool, uso de AINEs e radioterapia. Os agentes que inibem a síntese de DNA ou de aparelhos mitóticos, incluindo aqueles utilizados na quimioterapia contra o câncer, podem causar danos generalizados na mucosa devido à renovação epitelial insuficiente. (KUMAR, 2018) Fisiopatologia da gastrite aguda Manifestações clínicas da gastrite aguda As queixas dos pacientes com gastrite aguda são variadas. Alguns pacientescom gastrite causada por AAS podem ser totalmente assintomáticos, ou se queixar apenas de pirose ou acidez gástrica. (NORRIS, 2021) A queixa mais comum é o desconforto na região epigástrica, embora sejam relatados sintomas como náusea, vômito, perda de apetite e, em condições com maior gravidade, sangramentos ou dor abdominal aguda, decorrente da necrose das paredes gástricas ou gastrites flegmonosas. (QUILICI et al., 2019) A gastrite associada à ingestão excessiva de álcool geralmente é uma situação atípica; em muitos casos, essa condição causa um desconforto gástrico transitório que pode provocar vômitos e, nos casos mais graves, sangramento e hematêmese. (NORRIS, 2021) A gastrite causada por toxinas de microrganismos infecciosos, inclusive enterotoxinas estafilocócicas, geralmente tem início súbito e violento, com desconforto gástrico e vômitos que começam cerca de 5 h depois da ingestão de um alimento contaminado. (NORRIS, 2021) Os sintomas mais frequentes são: Desconforto na região superior do abdômen: pode ser representado por dor ou apenas um desconforto; Alguns pacientes podem relatar queimação; Náuseas e vômitos, geralmente acompanhando o desconforto; Saciedade precoce, ou seja, sensação de empanzinamento logo após a alimentação. Esse sintoma pode levar à redução e perda de apetite; Se a gastrite levar à formação de úlceras gástricas hemorrágicas, pode haver eliminação de sangue digerido, nas fezes (que ficam escuras) ou nos vômitos. Diagnostico da gastrite aguda A anamnese, especialmente o histórico medicamentoso, e o exame físico são importantes, contudo outros exames complementares podem ser indicados em situações específicas (MARTINS et al., 2016) O médico suspeita de gastrite quando a pessoa manifesta dor ou desconforto na região superior do abdômen ou náusea. Geralmente, não é necessário realizar exames. No entanto, o médico pode realizar uma endoscopia digestiva alta se ele não tiver certeza do diagnóstico ou se os sintomas não desaparecerem com tratamento. Durante a endoscopia digestiva alta, um médico utiliza um endoscópio (um tubo flexível para visualização) para examinar o estômago e uma parte do intestino delgado. Se necessário, o médico pode realizar uma biópsia (extração de uma amostra de tecido para exame ao microscópio) do revestimento gástrico. Gastrite crônica Gastrite crônica é uma condição diferente da gastrite aguda e caracteriza-se pela inexistência de erosões visíveis macroscopicamente e pela existência de alterações inflamatórias crônicas que, por fim, acarretam atrofia do epitélio glandular do estômago. (NORRIS, 2021) A gastrite crônica é hoje conceituada como uma entidade essencialmente histológica, caracterizada por infiltrado inflamatório mononuclear, com ou sem polimorfonucleares, que pode comprometer as mucosas do corpo e do antro ou ambas (MARTINS et al., 2016) Epidemiologia da gastrite crônica A prevalência da gastrite crônica na população em geral depende fortemente da idade. A prevalência total de gastrite crônica e a prevalência de gastrite crônica acompanhada por estádios de atro!a do antro e corpo aumentam com a idade. (MARINHO et al., 2016) É rara em crianças dos países industrializados, mas a sua frequência aumenta mais tarde, de maneira linear, com a idade. Em média, mais da metade da população, mesmo nesses países, tem alto grau de gastrite crônica nos grupos etários acima de 50 a 60 anos. (MARINHO et al., 2016) Estudos epidemiológicos mostram que a prevalência da gastrite crônica relacionada com o H. pylori depende da posição socioeconômica da população, sugerindo que a infecção é mais frequente em populações ou em países com baixo padrão de higiene ambiental, comparados com aqueles de padrão mais elevado. (MARINHO et al., 2016) Etiologia da gastrite crônica Existem três tipos de gastrite crônica: infecção por H. pylori, gastrite atrófica metaplásica e gastropatia química (NORRIS, 2021) Gastrite crônica associada ao Helicobacter pylori O reconhecimento de que o H. pylori é o responsável por mais de 95% das gastrites crônicas foi um marco na história dessa afecção, alterando completamente a compreensão da fisiopatologia da gastrite e sua interrelação clinicopatológica. (MARTINS et al., 2016) Helicobacter pylori é um bastonete gram-negativo diminuto, espiralado ou curvo (protobactéria), que pode colonizar as células epiteliais secretoras de muco do estômago (NORRIS, 2021) H. pylori tem vários flagelos que lhe possibilitam movimentar-se na camada mucosa do estômago; também secreta urease, que contribui para que produza amônia suficiente para tamponar a acidez do seu ambiente imediato. Essas peculiaridades ajudam a explicar por que esse microrganismo consegue sobreviver no ambiente ácido do estômago. (NORRIS, 2021) H. pylori produz enzimas e toxinas que têm a capacidade de interferir na proteção local da mucosa gástrica contra a ação do ácido, causar inflamação intensa e desencadear uma reação imune. Desse modo, há aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-8), que ajudam a recrutar e ativar neutrófilos. (NORRIS, 2021) Várias proteínas do H. pylori são imunogênicas e desencadeiam uma reação imune intensa na mucosa. Linfócitos B e T podem ser encontrados na gastrite crônica causada por esse microrganismo. Os linfócitos T podem ser responsáveis pela atenuação da resposta inflamatória contínua causada pelas citocinas, possibilitando que o H. pylori mantenha sua colonização do estômago por períodos longos. Embora as funções dos linfócitos T e B na etiologia da lesão epitelial ainda não tenham sido esclarecidas, a ativação das células B pelas células T pode estar envolvida na patogênese dos linfomas gástricos. (NORRIS, 2021) Ainda não está claro por que alguns pacientes infectados por H. pylori desenvolvem doença clínica e outros não. Hoje em dia, cientistas estudam as diferentes cepas da bactéria na tentativa de determinar se algumas são mais virulentas que outras e se fatores relacionados com o hospedeiro e o ambiente contribuem para o desenvolvimento da doença clínica (NORRIS, 2021) Gastrite atrófica crônica De acordo com a Updated Sydney System Classification, a gastrite atrófica é dividida em multifocal (H. pylori, fatores ambientais, dieta específica) e predominante no corpo do estômago (autoimune). (NORRIS, 2021) Como metaplasia é uma característica histológica crucial nas pessoas com gastrite atrófica, o uso do termo “metaplásco” é recomendado para as duas variantes da gastrite atrófica: gastrite atrófica metaplásica autoimune (GAMA) e gastrite atrófica metaplásica ambiental. (NORRIS, 2021) A gastrite atrófica autoimune representa menos de 10% dos casos de gastrite crônica e consiste em uma forma difusa de inflamação gástrica limitada ao corpo e ao fundo do estômago, com pouco ou nenhum acometimento do antro. Esse tipo de gastrite é causado por autoanticorpos dirigidos contra os componentes das células parietais das glândulas gástricas e o fator intrínseco. A atrofia das glândulas e da mucosa do estômago resulta na supressão da produção de ácido. Nos casos mais graves, a produção de fator intrínseco é bloqueada, resultando em deficiência de vitamina B12 e anemia perniciosa. Em muitos casos, esse tipo de gastrite crônica está associado a outros distúrbios autoimunes, inclusive tireoidite de Hashimoto, doença de Addison e tireoidopatia de Graves. (NORRIS, 2021) https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/diagn%C3%B3stico-de-dist%C3%BArbios-digestivos/endoscopia Gastrite atrófica multifocal é um distúrbio de etiologia desconhecida que acomete o antro e as áreas adjacentes do estômago. Essa doença é mais comum que a gastrite autoimune e é encontrada com mais frequência na raça caucasoide que nas demais raças. Esse tipo de gastrite é especialmente comum na Ásia, na Escandinávia e emregiões da Europa e América Latina. Como também ocorre com a gastrite autoimune, a gastrite atrófica multifocal está associada à redução da secreção de HCl, porém acloridria e anemia perniciosa não são incomuns. (NORRIS, 2021) Gastropatia química Gastropatia química é uma lesão gástrica crônica resultante do refluxo do conteúdo duodenal alcalino, das secreções pancreáticas e da bile para dentro do estômago. (NORRIS, 2021) É comum em pacientes submetidos a cirurgias de gastroduodenostomia ou gastrojejunostomia. Uma forma mais branda pode ocorrer nos pacientes com úlceras gástricas, doença da vesícula biliar ou vários distúrbios da motilidade do estômago distal. (NORRIS, 2021) Fisiopatologia da gastrite crônica Manifestações clínicas da gastrite crônica Embora a gastrite crônica seja considerada uma doença assintomática, mesmo quando acentuada, suas manifestações clínicas podem ser confundidas com outros processos, como a dispepsia funcional e a doença do refuxo gastroesofágico (DRGE). Na prática clínica, muitos pacientes com queixas funcionais do aparelho digestivo são erroneamente rotulados como portadores de gastrite (“gastrite nervosa”). (MARINHO et al., 2016) Quando o clínico é procurado, as queixas são muito variáveis, podendo ocorrer desconforto e estufamento pós-prandial, náuseas, vômitos e dor epigástrica, geralmente relacionadas com a ingestão de determinados alimentos, bebidas alcoólicas ou conflitos emocionais. (MARINHO et al., 2016) Diagnostico da gastrite crônica Complicações da gastrite Tratamento da infecção com H. pylori O tratamento da infecção por H. pylori não mudou significativamente na última década, embora outras promissoras alternativas tenham sido estudadas. Permanece como padrão-ouro o uso de amoxicilina, claritromicina e um inibidor da bomba de prótons Terapia tripla com IBP, amoxicilina e claritromicina Em muitas partes do mundo, a terapia tripla, que compreende um inibidor da bomba de prótons (IBP) com amoxicilina e claritromicina (IBP-AC), continua a ser o tratamento de primeira linha mais utilizado. (DIRETRIZES, 2021) Esta combinação foi a primeira terapia amplamente recomendada e substituiu as terapias triplas menos eficazes. Foi muito bem avaliada ao longo dos anos. O principal fator determinante do sucesso da erradicação com esta é a resistência à claritromicina antes do tratamento. (DIRETRIZES, 2021) IBP: inibidores da bomba de prótons. Estudos indicam que o uso de IBP de segunda geração (rabeprazol e esomeprazol), nesta situação, poderia aumentar as taxas de erradicação. Dose plena: omeprazol 20 mg, lansoprazol 30 mg, pantoprazol 40 mg, rabeprazol 20 mg, dexlansoprazol 60 mg, vonoprazan 20 mg ou esomeprazol 40 mg. Mecanismo de ação Inibidores da bomba de prótons Os IBPs se ligam à enzima H+/K+-ATPase (bomba de prótons) e suprimem a secreção de íons hidrogênio para o lúmen gástrico. A bomba de prótons ligada à membrana é a etapa final da secreção de ácido gástrico (WHALEN et al., 2016) Amoxicilina A amoxicilina é uma penicilina e, portanto, ela age sobre bactérias, interferindo na última etapa do processo de síntese da sua parede. Assim, com sua membrana mais instável, esses microrganismos acabam ficando mais vulneráveis e acabam morrendo. Então pode ocorrer lise celular, seja pela pressão osmótica, seja pela ativação de autolisinas. Esses antibacterianos são bactericidas e atuam de modo tempo-dependente. (WHALEN et al., 2016) Claritromicina A claritromicina é um antibiótico macrolídeo que atua se ligando ao ribossomo bacteriano e, com isso, inibe algumas etapas da síntese proteica.. Os macrolídeos se ligam irreversivelmente a um local na subunidade 50S do ribossoma bacteriano, inibindo, assim, etapas de translocação na síntese proteíca (WHALEN et al., 2016) Terapias quádruplas com bismuto O regime mais estudado inclui IBP, bismuto, tetraciclina e metronidazol (IBP-BTM). Este tratamento resistiu ao teste do tempo, alcançando taxas de erradicação confiáveis e aceitáveis (DIRETRIZES, 2021) As principais desvantagens desta terapia são a incomodidade do regime de doses (por ser geralmente administrada quatro vezes ao dia) e os efeitos adversos frequentes, mas leves, que podem prejudicar a adesão. (DIRETRIZES, 2021) Mecanismo de ação Subcitrato de Bismuto Este fármaco é usado como compo- nente de tratamento quádruplo para cicatrizar úlceras pépticas. Além da sua ação antimicrobiana, ele inibe a atividade da pepsina, aumenta a secreção de muco e interage com glicoproteínas na mucosa necrótica, revestindo e protegendo a úlcera. (WHALEN et al., 2016) Tetraciclina Elas se ligam reversivelmente à subunidade 30S do ribos- soma bacteriano. Essa ação impede que o RNA transportador (RNAt) se ligue ao complexo RNA mensageiro (RNAm)-ribossoma, inibindo, assim, a síntese de proteínas da bactéria (WHALEN et al., 2016) Metronidazol Seu mecanismo de ação envolve o armazenamento de elétrons, de modo a formar compostos citotóxicos que se ligam às proteínas e ao DNA, levando à morte celular. (WHALEN et al., 2016) Referencias DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo F. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição Grupo GEN, 2011. MARTINS, Mílton de A.; CARRILHO, Flair J.; ALVES, Venâncio Avancini F.; CASTILHO, Euclid. Clínica Médica, Volume 4: Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais. Editora Manole, 2016. JUNQUEIRA, Luiz Carlos U.; CARNEIRO, José. Histologia Básica - Texto e Atlas.: Grupo GEN, 2017 MARIEB, Elaine N.; HOEHN, Katja. Anatomia e Fisiologia: Grupo A, 2009. Tratado de gastroenterologia : da graduação à pós-graduação / editores Schlioma Zaterka, Jaime Natan Eisig. -- 2. ed. -- São Paulo : Editora Atheneu, 2016. GUIMARÃES, Jocilene; CORVELO, Tereza Cristina; BARILE, Katarine Antonia. Helicobacter pylori: fatores relacionados à sua patogênese. Revista Paraense de Medicina, v. 22, n. 1, p. 33-38, 2008. KUMAR, Vinay. Robbins Patologia Básica Grupo GEN, 2018. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia.: Grupo GEN, 2021. E-book. TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e Fisiologia.: Grupo GEN, 2016. E-book QUILICI, Flávio A.; SANTANA, Nelma Pereira de; GALVÃO-ALVES, José. A gastroenterologia no século XXI: manual do residente da Federação Brasileira de Gastroenterologia .Editora Manole, 2019. E-book.