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<p>Contratos comutativos e contratos aleatórios</p><p>Comutativos são aqueles em que os contraentes conhecem de imediato, no momento da feitura do</p><p>contrato, suas respectivas prestações. Se ofereço a caneta de quadro por R$ 2,00 a alguém, sei a</p><p>prestação do comprador, e sei qual é a minha. O contrato aleatório, por sua vez, poderemos entender</p><p>assim: alea, no latim, significa “sorte”. São aqueles em que o conteúdo da obrigação de pelo menos uma</p><p>das partes é desconhecido no momento de sua elaboração (de sua feitura).</p><p>Vamos imaginar, então, um contrato diferente com a Amanda. Ela quer alugar uma sala comercial num</p><p>shopping. Eu, dono do estabelecimento, pactuo que Amanda irá pagar 15% de seu faturamento bruto.</p><p>Qual é o conteúdo da minha obrigação? Entregar a sala para ela. Isso eu sei. E qual é o conteúdo da</p><p>obrigação da Amanda? Valor incerto! Então é um contrato aleatório, que depende de uma sorte, ou de</p><p>uma alea, no sentido de que algo em suspenso precisa acontecer.</p><p>O risco é para as duas partes. Esse é um contrato aleatório. Se Amanda nada vender, terei prejuízo, mas</p><p>não terei motivo justo para terminar a relação contratual. Se, por outro lado, o local for muito bom para</p><p>Amanda, de modo que o faturamento dela chegue a centenas de milhares de Reais, ela terá levado</p><p>vantagem em seu empreendimento comercial por ter escolhido uma ótima localização, mas acabará por</p><p>sentir o peso de 15% desse total que terá que me dar; em outras palavras, quando ela tiver lucro, ela vai</p><p>desejar ter celebrado um contrato de valor fixo.</p><p>Outro exemplo de contrato aleatório: Márcia planta soja, e me interesso em comprar sua safra. E</p><p>combino hoje de pagá-la R$ 1.000,00 por saca, da colheia de daqui a 6 meses. No total, quanto será</p><p>pago? Ninguém sabe. Será o total de sacas colhidas pela Márcia. As duas partes estão incertas quanto ao</p><p>lucro.</p><p>Os contratos aleatórios podem ser de duas espécies: primeiramente, os que tratam de coisas futuras,</p><p>como o caso da soja da Márcia, que ainda não foi colhida, ou também o valor apurado pela Amanda em</p><p>seu negócio, realizado na sala que lhe aluguei. Ótimo para concurso e nossa prova é que ainda há duas</p><p>sub-espécies de contrato futuro: emptio spei, aquele em que o adquirente compra o risco de as coisas</p><p>adquiridas virem ou não a existir, como a plantação de Márcia não prosperar. Atenção: aqui, mesmo se</p><p>não houver nada, comprei. Agora suponha que minha conversa com Márcia mudou, e ela agora está</p><p>relutante com relação ao preço futuro. Ela suspeita que, se acertar comigo um valor fixo hoje, ela poderá</p><p>estar perdendo muito mais no dia da colheia, daqui a seis meses, do que poderia colher numa eventual</p><p>“sorte na lavoura”. Então, adianto R$ 30 mil fixos, colhendo ou não colhendo nada. Se ela colher a safra</p><p>inteira, ela irá vender R$ 25 mil em grãos, sem contar com os 30 mil já adiantados. Se, entretanto, ela</p><p>nada colher, não ganharei nada, e ainda assim terei perdido os R$ 30.000,00 que adiantei.</p><p>Observação muito importante: essa ignorância quanto ao risco tem que ser das duas partes. A alea tem</p><p>que ser das duas partes. Se a Márcia, sabendo que me vendeu por R$ 30 mil qualquer tanto que ela vier</p><p>a colher daqui a 6 meses, ela pode optar por nem regar a plantação. Sabemos que esse risco, agora, só</p><p>está desconhecido para mim, pois ela já sabe o que deverá acontecer do lado de lá. O que é isso? Má-fé,</p><p>e com má-fé não há contrato válido.</p><p>Há também o contrato aleatório futuro emptio rei speratae: o risco do negócio será apenas será apenas</p><p>se a coisa avençada será em maior ou menor quantidade. Aqui não se fala mais em existência. A coisa</p><p>tem que existir. No caso do aluguel da sala para Amanda, se ela tem que me dar 15% do faturamento,</p><p>mas ela nada vender em determinado mês, não receberei nada. É um contrato emptio spei. Todavia</p><p>podemos fazer assim: “você me dará 15% do faturamento ou R$ 2.000,00, o que for maior.” esse será um</p><p>caso de contrato emptio rei speratae.</p><p>Contratos aleatórios que tratam de coisas já existentes: contratos agrícolas são os mais comuns. Márcia</p><p>já colheu e armazenou o excedente num silo. Não tenho certeza se a produção está deteriorada. Então</p><p>ofereço R$ 10 mil pelos bens armazenados “no estado em que estiverem”. Poderemos fazer assim. Mas,</p><p>ela não poderá saber que a soja já estava deteriorada. Isso caracteriza má-fé.</p><p>Outra observação importante: só se aplicam os vícios redibitórios aos contratos comutativos. Então, não</p><p>se aplicam vícios redibitórios a contratos aleatórios. Vamos entender. Vício é um defeito na coisa. Mas,</p><p>vendi para Lucas a caneta de quadro. Como é um contrato comutativo, era obrigação minha entregar a</p><p>caneta boa. E quanto à soja da Márcia? Era um contrato aleatório. Assim, não tenho o direito de</p><p>reclamar caso o produto apareça deteriorado.</p><p>Contratos típicos e atípicos</p><p>Contratos típicos também são chamados de nominados, que têm designação própria (têm nome) e são</p><p>regulados por lei. Não basta ter nome, claro; eles têm que estar regulados por lei, seja o Código Civil ou</p><p>um diploma extravagante. Contratos de apresentação artística, por exemplo: podemos dar um nome</p><p>para ele! Mas ele não está em nosso Código, então não é um contrato típico, nominado. Isso porque</p><p>além de ter nome, ele tem que ser regulado por lei. São 23 no nosso Código Civil.</p><p>E os atípicos? Aí fica fácil. São os que a lei não disciplina, mas, se lícitos, são permitidos. Contrato de</p><p>apresentação de dança é atípico, inominado, mas não tem nada de ilícito, a princípio.</p><p>Atenção: posso colocar qualquer cláusula num contrato inominado? Não. Não podemos colocar</p><p>vantagens excessivas para uma das partes. Por isso que, graças à teoria da absorção, o intérprete ou</p><p>redator do contrato deve procurar a categoria do contrato típico que mais se assemelha ao contrato em</p><p>análise. O que parece mais o contrato de apresentação artística? Parece mais com prestação de serviços.</p><p>Se a trupe também vende camisetas, o que usaremos? Regras do contrato de compra e venda.</p><p>Contratos solenes e não solenes</p><p>Para nós, aqui, os contratos solenes também são chamados de formais. Para alguns doutrinadores existe</p><p>uma diferença entre solene e formal. O que são? São contratos que dependem de forma prescrita em lei</p><p>para se aperfeiçoarem, para existirem, para terem validade. Lembrem-se do art. 104. Então, se no</p><p>contrato de compra e venda do imóvel a lei manda que se faça uma escritura pública, sem esta o</p><p>contrato não terá validade. Isso é um contrato solene, que tem forma. E o contrato de fiança? Precisa ser</p><p>feito por escrito? Não.</p><p>Contratos não solenes, portanto, são os que independem de forma para se aperfeiçoarem. Têm forma</p><p>livre; a lei não determina nenhuma forma específica para que eles existam. Será eficaz qualquer que seja</p><p>sua forma. A compra e venda de bens móveis, por exemplo, é um contrato não solene, também</p><p>chamado de informal. Em regra, a forma é livre.</p><p>Para alguns doutrinadores, solenes são os contratos que precisam de escritura pública, enquanto os</p><p>formais são os que precisam de forma escrita. Essa é a diferença para alguns autores. Não parece ser</p><p>uma discussão muito relevante. O excesso de detalhamento nos leva à ruína. A professora não pedirá</p><p>essa diferença. Mas cuidado com os concursos.</p><p>Pergunta: posso pegar um contrato informal e torná-lo formal? Sim, pois a lei não proíbe! Posso fazer a</p><p>escritura pública até mesmo da canetinha de quadro.</p><p>Contratos consensuais e reais</p><p>Já vimos antes, mas vamos detalhar. Os contratos consensuais são aqueles que se formam pelo mero</p><p>consentimento. Basta o consentimento para a perfeição do negócio. Assim, já temos a obrigação de</p><p>pagar. Para entender, imagine que combinei com Lucas de que lhe venderia minha caneta de quadro.</p><p>Significa que, se eu encontrar depois alguém que compre por mais, não poderei desfazer o negócio com</p><p>Lucas, para quem eu havia prometido a caneta. O direito de sequela se opera, e mesmo o terceiro de</p><p>boa-fé poderá ficar prejudicado, pelo menos a princípio.</p><p>Agora vislumbre um contrato de empréstimo. Combino</p><p>de emprestar a caneta semana que vem para o</p><p>Lucas. Ainda não é contrato. Chegou ao dia de emprestar a caneta, acabei esquecendo e emprestei para</p><p>minha prima. Neste caso, ele poderá ir atrás da caneta? Não, ele não tem direito real sobre ela! Na</p><p>melhor das hipóteses ele poderá pedir indenização, caso comprove alguma lesão. Daí a importância de</p><p>se saber se é um contrato real ou consensual.</p><p>Contrato real, portanto, é aquele que depende da entrega da coisa para se aperfeiçoar. Só se formam</p><p>com a tradição efetiva da coisa.</p><p>Podemos ter período pré-contratual, pré-contrato, e também o contrato propriamente dito. Cuidado</p><p>com o mero acordo de vontades.</p><p>Contratos principais e acessórios</p><p>Imaginem o vestuário, como um todo. Posso vestir apenas cueca, calça e camiseta para sair à rua. Essas</p><p>são as peças de roupa "principais". Mas também posso usar corrente, aliança, tênis, meia, relógio. Essas</p><p>peças não são essenciais. Não posso vestir apenas a meia e sair à rua. Aquelas são as principais,</p><p>enquanto estes são os acessórios. O acessório acompanhará o principal. O acessório acompanha o</p><p>principal no sentido de que ele deverá, ao menos, combinar um pouco com o principal. Vamos ao</p><p>conceito de contrato principal: são aqueles cuja existência independe de qualquer outro. É só lembrar da</p><p>ideia de obrigação principal e bem principal. Art. 92 do Código Civil: “Principal é o bem que existe sobre</p><p>si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.” Tem autonomia</p><p>jurídica. O contrato acessório, então, tem dependência jurídica de outro, e não tem autonomia. Por</p><p>exemplo: contrato de fiança. A primeira coisa a fazer com quem te propõe tamanho problema é</p><p>perguntar, pelo menos por educação, do que será essa fiança. Outro exemplo é a cláusula penal, que</p><p>depende de um outro contrato, que é o principal, para existir.</p><p>Importantíssimo: entenda isto e você entenderá todas as outras notas importantes: o contrato acessório</p><p>acompanha o principal. Isso quer dizer que, nula a obrigação principal, nula a acessória; prescrita a</p><p>principal, prescrita a acessória! Anulável a principal, anulável a acessória.</p><p>Outra coisa: não pode o contrato acessório permitir nada além do principal. Já que acompanha, não</p><p>pode trazer novos elementos. Nem exceder em valor. Contrato de locação de R$ 2.000,00 não pode ter a</p><p>ele associado um contrato de fiança de R$ 3.500,00. E não poderei ter dois fiadores com valor de R$</p><p>1.200,00, também. E mais: se o contrato principal vai até hoje, o acessório não pode ir até amanhã.</p><p>Poderá ir até hoje ou ontem. Extinto o principal, extinto o acessório.</p><p>Contrato de execução imediata e execução diferida</p><p>Contrato de execução imediata ou instantânea é aquele em que as partes cumprem suas obrigações no</p><p>mesmo momento da celebração do contrato. Entrego a caneta, pego o dinheiro. Nunca mais quero ver</p><p>Lucas na minha frente.</p><p>E o de execução diferida? Conceitua-se por contrato em que uma das partes ou ambas deve cumprir sua</p><p>obrigação em momento futuro, lá na frente. É aquele exemplo de entrega da coisa na semana que vem.</p><p>Execução sucessiva, diferida, ou de execução continuada. Todos esses termos podem ser cobrados em</p><p>prova, OAB ou concursos.</p><p>Os contratos de execução instantânea podem ser transformados em execução diferida? Sim, desde que</p><p>acordado pelas partes. Mas existem contratos de execução diferida que não têm como serem</p><p>convertidos para execução instantânea. Como os contratos de prestação periódica.</p><p>Nota importante: a revisão do contrato em razão de excessiva onerosidade só pode ser feita em contrato</p><p>de execução diferida. Lembram do pacta sunt servanda e a rebus sic stantibus? A revisão do contrato por</p><p>excessiva onerosidade só pode se operar em contrato de execução diferida. Significa que posso ir a juízo</p><p>pedindo a revisão do contrato por excessiva onerosidade, desde que as circunstâncias mudem com o</p><p>tempo. Não faz sentido para contratos de execução imediata. Olhe a teoria da imprevisão. Se não for</p><p>imprevista, não pode ser excessiva.</p><p>Contratos pessoais e impessoais</p><p>Os contratos pessoais são chamados de personalíssimos ou intuitu personae. A pessoa que irá cumprir a</p><p>obrigação não poderá ser substituída. Claudia Leitte, depois de concordar em vir se apresentar no</p><p>churrasco que vou fazer lá em casa, não pode ser substituída por Alcione, Aerosmith ou César Menotti &</p><p>Fabiano. Em geral são usados em função das atribuições pessoais do prestador.</p><p>Os impessoais são aqueles cuja prestação pode ser cumprida por qualquer pessoa. Significa que ela pode</p><p>ser transmitida por sucessão. As personalíssimas não se transferem com a morte, e se extinguem com</p><p>ela.</p><p>Contratos impessoais podem ser transformados em impessoais.</p><p>http://www.angelfire.com/mt/ricardoprado/contrato.html</p><p>http://www.angelfire.com/mt/ricardoprado/contrato.html</p>