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<p>Direito Civil</p><p>Curso Profissionalizante</p><p>em Auxiliar Jurídico</p><p>Autor</p><p>Luciana W. de Paulo</p><p>Indaial – 2022</p><p>1a Edição</p><p>Copyright © UNIASSELVI 2022</p><p>Elaboração:</p><p>Luciana W. de Paulo</p><p>Revisão, Diagramação e Produção:</p><p>Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech</p><p>Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI</p><p>Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI</p><p>Apresentação</p><p>Olá, aluno!</p><p>As matérias a serem estudadas neste curso serão vistas a partir de uma</p><p>perspectiva à luz da Constituição de 1988, haja vista que nela se optou por uma</p><p>visão voltada para a pessoa humana e a sua dignidade.</p><p>No campo do Direito Civil, houve a despatrimonialização e a repersonaliza-</p><p>ção dos institutos, em virtude da constitucionalização do Direito Civil. O Código Civil</p><p>adotou os princípios da eticidade, da sociabilidade e da operabilidade. Adotaram-se</p><p>cláusulas abertas com conceitos indeterminados.</p><p>Na Unidade 1, será estudada a parte geral do Código, os temas das pessoas</p><p>naturais e das pessoas jurídicas e o domicílio. Além disso, veremos o tema que trata</p><p>dos bens e da sua classificação. Por fim, serão estudados os negócios jurídicos, as</p><p>espécies, a classificação, a interpretação dos negócios jurídicos, os atos ilícitos,</p><p>bem como a prescrição e a decadência.</p><p>Em seguida, na Unidade 2, serão estudados alguns dos temas da parte</p><p>especial do Código Civil de 2002, como as obrigações, as suas classificações, o</p><p>adimplemento e o inadimplemento delas. Também será estudada a teoria geral dos</p><p>contratos e a extinção deles. Por fim, trataremos da responsabilidade civil, contra-</p><p>tual, extracontratual e do dano moral.</p><p>Na Unidade 3, serão estudados os temas de direitos reais, família e suces-</p><p>sões. Dentro do tema casamento, serão estudados os regimes de bens, que in-</p><p>fluenciam o direito das sucessões.</p><p>Bons estudos!</p><p>Luciana W. de Paulo</p><p>SUMÁRIO</p><p>UNIDADE 1 PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL .............................................9</p><p>TÓPICO 1 DAS PESSOAS .......................................................................................... 11</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11</p><p>2 DAS PESSOAS NATURAIS ............................................................................ 11</p><p>2.1 CONCEITO DE PESSOA NATURAL ...........................................................12</p><p>2.2 DA PESSOA JURÍDICA ............................................................................... 17</p><p>2.2.1 ASSOCIAÇÕES .......................................................................................... 18</p><p>2.2.2 FUNDAÇÕES .............................................................................................19</p><p>2.2.3 DEMAIS PESSOAS JURÍDICAS .............................................................21</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1 .............................................................................................22</p><p>AUTOATIVIDADE .......................................................................................................23</p><p>TÓPICO 2 DO DOMICÍLIO E DOS BENS ................................................................25</p><p>1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................25</p><p>2 DO DOMICÍLIO .................................................................................................25</p><p>2.1 DOMICÍLIO E RESIDÊNCIA .........................................................................25</p><p>2.2 DOS BENS .................................................................................................... 27</p><p>2.3 DIFERENTES CLASSES DOS BENS ........................................................28</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................33</p><p>AUTOATIVIDADE .......................................................................................................34</p><p>TÓPICO 3 DOS FATOS JURÍDICOS ........................................................................ 37</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 37</p><p>2 FATOS JURÍDICOS ......................................................................................... 37</p><p>2.1 DOS ATOS JURÍDICOS ...............................................................................38</p><p>3 DO NEGÓCIO JURÍDICO................................................................................39</p><p>3.1.1 DOS ATOS ILÍCITOS ..................................................................................43</p><p>4 DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA .......................................................43</p><p>4.1 PRESCRIÇÃO ................................................................................................44</p><p>4.1.1 DECADÊNCIA .............................................................................................44</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................46</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................50</p><p>AUTOATIVIDADE ........................................................................................................51</p><p>REFERÊNCIAS ...........................................................................................................53</p><p>UNIDADE 2 PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO CIVIL ................................... 55</p><p>TÓPICO 1 DOS DIREITOS DA OBRIGAÇÃO........................................................... 57</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 57</p><p>2 OBRIGAÇÕES .................................................................................................. 57</p><p>2.1 TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES .........................................................64</p><p>2.2 ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES .............................66</p><p>2.3 INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES .................................................69</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................. 73</p><p>AUTOATIVIDADE ....................................................................................................... 74</p><p>TÓPICO 2 CONTRATOS ............................................................................................ 77</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 77</p><p>2 OS PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS ............................................................. 78</p><p>2.1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS........................................................... 79</p><p>2.1.1 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS .................................................................83</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................ 87</p><p>AUTOATIVIDADE ...................................................................................................... 88</p><p>TÓPICO 3 RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................................................91</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................91</p><p>2 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ...........................................91</p><p>2.1 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................94</p><p>3 DANO MORAL ................................................................................................98</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ...........................................................................100</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 105</p><p>AUTOATIVIDADE ..................................................................................................... 106</p><p>REFERÊNCIAS .........................................................................................................108</p><p>UNIDADE 3 DIREITOS DAS COISAS ..........................................................111</p><p>material ou imaterial para outra pessoa” (MELLO, 2022, p. 818). O abuso de um</p><p>direito será estudado na Unidade 2.</p><p>Não se consideram atos ilícitos (BRASIL, 2002, Art. 188) os praticados em</p><p>legítima defesa, pois trata-se de uma reação imediata a uma injusta e iminente</p><p>agressão a si ou ao seu patrimônio. Contudo, os meios utilizados devem ser pro-</p><p>porcionais.</p><p>Diante disso, “[...] a legítima defesa não pode ser excessiva e se verifica na</p><p>utilização de meios que causem menor dano, segundo o princípio da proporcio-</p><p>nalidade” (LÔBO, 2022, p. 939). Quem agiu no exercício regular do direito terá que</p><p>demostrar que o fez dessa maneira, a fim que possa excluir a ilicitude (LÔBO, 2022).</p><p>4 DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA</p><p>A prescrição e a decadência são institutos que se delimitam no tempo para</p><p>que sejam exercidos determinados direitos. Não haverá prescrição e decadência</p><p>em relação aos direitos inerentes à pessoa, ou seja, aos direitos não patrimoniais.</p><p>Incluem-se, nessas situações, os direitos da personalidade e as pretensões à repa-</p><p>ração por dano patrimonial (LÔBO, 2022).</p><p>FIGURA 12 – PASSAGEM DO TEMPO</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>O tempo tem a sua relevância no Direito Civil, pois é um fenômeno que pro-</p><p>porciona que se adquiram, exercitem-se e se cessem relações jurídicas. Assim, o</p><p>decurso do tempo é um fato jurídico em sentido estrito.</p><p>44</p><p>4.1 PRESCRIÇÃO</p><p>O Art. 189 do Código de 2002 explicita que a prescrição é a perda de uma</p><p>pretensão, ou seja, de exigir de alguém determinado comportamento. Nesse sen-</p><p>tido: “[...] violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela</p><p>prescrição, nos prazos a que aludem os Arts. 205 e 206” (BRASIL, 2002, Art. 189).</p><p>As principais características da prescrição são: podem ser renunciadas e os prazos</p><p>prescricionais não podem ser modificados pelas partes. Uma vez iniciada a prescri-</p><p>ção, ela continua a correr contra o seu sucessor (BRASIL, 2002, Art. 196).</p><p>Outras situações em que não corre a prescrição (BRASIL, 2002, Art. 199):</p><p>pendendo condição suspensiva; não estando vencido o prazo; pendendo ação de</p><p>evicção. Recomenda-se a leitura dos demais artigos na íntegra.</p><p>4.1.1 DECADÊNCIA</p><p>A decadência é resultado de um não exercício de um direito dentro do prazo</p><p>estabelecido em lei ou pelas partes (BRASIL, 2002, Art. 211). Não é possível que se</p><p>renuncie à decadência prevista em lei (BRASIL, 2002, Art. 209); em razão disso, se</p><p>o fizer, será considerado nulo.</p><p>O juiz pode reconhecer de ofício a decadência fixada em lei, ou seja, não</p><p>precisa ser alegada pela parte (BRASIL, 2002, Art. 210). Dessa forma, pode ser re-</p><p>conhecida a qualquer tempo ou grau de jurisdição.</p><p>Na decadência convencional, por sua vez, a parte que se beneficia dela pode</p><p>alegá-la em qualquer grau de jurisdição. Contudo, o juiz não pode fazer isso de</p><p>ofício, isto é, suprir a alegação da parte a quem aproveita (BRASIL, 2002, Art. 211).</p><p>FIGURA 13 – DECADÊNCIA</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>45</p><p>À anulação de um negócio jurídico aplica-se o prazo decadencial para ser</p><p>pleiteada. O prazo para anulação dos negócios jurídicos, em regra, é de dois anos.</p><p>O prazo máximo decadencial de quatro anos aplica-se para a anulação de negócios</p><p>jurídicos eivados de erro, dolo, coação, fraude contra credores, lesão, estado de</p><p>perigo e de atos que tenham sido praticados pelos relativamente incapazes.</p><p>A decadência não se interrompe e não se suspende por ser de ordem públi-</p><p>ca. Porém, como mencionado, as partes podem criar decadência voluntária, con-</p><p>tratual ou convencional.</p><p>Para aprofundar o seu conhecimento, recomenda-se a leitura complemen-</p><p>tar do seguinte texto, devido ao impacto que o Estatuto da Pessoa com Deficiência</p><p>(Lei nº 13.146/2015) representou no Código Civil de 2002, no que diz respeito à</p><p>capacidade civil.</p><p>46</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA TRAZ</p><p>INOVAÇÕES E DÚVIDAS</p><p>Atalá Correia</p><p>No último dia 6 de julho foi promulgada a Lei 13.146, que institui o Estatuto</p><p>da Pessoa com Deficiência, adaptando nosso sistema legal às exigências da Con-</p><p>venção de Nova York de 2007. Após o decurso da vacatio legis de 180 dias, con-</p><p>taremos com novos instrumentos legais, que visam, no seu conjunto, proporcionar</p><p>igualdade, acessibilidade, o respeito pela dignidade e autonomia individual, o que</p><p>inclui a liberdade de fazer suas próprias escolhas.</p><p>Uma primeira análise e diversos aspectos positivos do Estatuto foram apre-</p><p>sentados nessa Coluna de Direito Civil atual, em excelente artigo do professor Mau-</p><p>rício Requião. Há, no entanto, dúvidas que precisam ser esclarecidas. Assim, esta</p><p>coluna se propõe inicialmente a apresentar as principais inovações da nova lei, os</p><p>dilemas existentes e as soluções possíveis.</p><p>Pois bem, para os fins da lei, “considera-se pessoa com deficiência aque-</p><p>la que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou</p><p>sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua par-</p><p>ticipação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais</p><p>pessoas” (Art. 2º).</p><p>Na esfera civil, estabeleceu-se que “a deficiência não afeta a plena capaci-</p><p>dade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exer-</p><p>cer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número</p><p>de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamen-</p><p>to familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;</p><p>V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer</p><p>o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em</p><p>igualdade de oportunidades com as demais pessoas” (Art. 6º).</p><p>Parte-se da premissa que a deficiência não é, em princípio, causadora de</p><p>limitações à capacidade civil. Diante desse panorama, o EPD irá revogar expres-</p><p>samente os incisos II e III do Art. 3º do Código Civil. Doravante haverá apenas uma</p><p>causa de incapacidade absoluta, qual seja, ser a pessoa menor de 16 anos. Não</p><p>serão mais considerados absolutamente incapazes “os que, por enfermidade ou</p><p>deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses</p><p>atos” e “os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade”.</p><p>47</p><p>A incapacidade relativa passará a abranger as seguintes hipóteses: a) maio-</p><p>res de 16 e menores de 18 anos; b) ébrios habituais e os viciados em tóxico (a lei</p><p>deixa de fazer menção aos que, por deficiência mental, tenham discernimento re-</p><p>duzido); d) e aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem ex-</p><p>primir sua vontade (foi excluída a menção aos excepcionais, sem desenvolvimento</p><p>mental completo); e) os pródigos.</p><p>Ao lado da curatela, passará a existir o processo de “tomada de decisão</p><p>apoiada”, ou seja, “o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo me-</p><p>nos duas pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua</p><p>confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil,</p><p>fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer</p><p>sua capacidade” (Art. 1.783A do Código Civil, introduzido pelo EPD).</p><p>Assim, em síntese, a pessoa com deficiência que tenha qualquer dificuldade</p><p>prática na condução de sua vida civil, poderá optar pela curatela, diante de incapa-</p><p>cidade relativa, ou pelo procedimento de tomada de decisão apoiada. Deve-se frisar</p><p>que pessoas com deficiência mental severa continuam sujeitas à interdição quando</p><p>relativamente incapazes. A alteração legislativa, que excluiu a expressão “deficiên-</p><p>cia mental” do texto do Art. 4º, CC, não veda a interdição quando o deficiente não</p><p>possa, por causa transitória ou permanente, manifestar sua vontade. O Art. 84, §1º,</p><p>EPD, enfatiza que, “quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida a</p><p>curatela”, “proporcional às necessidades às circunstâncias de cada caso”, durando</p><p>o menor tempo possível (§3º). A manutenção</p><p>da legitimidade ativa do Ministério</p><p>Público para ajuizar a interdição nos casos de “deficiência mental ou intelectual”,</p><p>nos termos do Art. 1.769, Código Civil, apenas explicita a manutenção dessa possi-</p><p>bilidade de interdição de deficientes que não consigam expressar sua vontade.</p><p>Vistas essas inovações, apresenta-se a primeira questão relevante. É ne-</p><p>cessário reconhecer que a elogiosa iniciativa não muda a realidade biológica dos</p><p>fatos. Hoje, centenas de pessoas são declaradas por peritos judiciais absolutamente</p><p>incapazes, no sentido biológico, de compreender a realidade que as cercam e de</p><p>manifestar vontade. A triste realidade das demências senis, que se torna mais fre-</p><p>quente com o envelhecimento da população, é apenas um dos exemplos possíveis.</p><p>A pessoa que se tornou deficiente por moléstia incurável e que não consegue sequer</p><p>escrever seu nome não passará, após a vigência da lei, a manifestar sua vontade.</p><p>Ocorre que essa hipótese fática, de incapacidade de manifestação de von-</p><p>tade, foi deslocada do Art. 3º, III, CC, para o Art. 4º, III, CC e, com isso, ensejará mera</p><p>incapacidade relativa. Como se sabe, a validade do ato jurídico, nessas situações,</p><p>exige a assistência do curador. Isso quer dizer que o curatelado deve manifestar,</p><p>conjuntamente com o curador, seus interesses, não podendo a vontade deste</p><p>substituir a daquele.</p><p>48</p><p>Contudo, se o interditado não detém qualquer possibilidade de manifesta-</p><p>ção de vontade, a nova legislação o colocou diante de um impasse: seu curador não</p><p>pode representá-lo, pois ele não é absolutamente incapaz, e tampouco conseguirá</p><p>praticar qualquer ato da vida civil, pois não conseguirá externar seus interesses</p><p>para que alguém lhe assista. Caso o quadro legislativo não se altere, será razoável</p><p>tolerar uma hibridização de institutos, para que se admita a existência de incapaci-</p><p>dade relativa na qual o curador representa o incapaz, e não o assiste. Entendida a</p><p>questão de maneira literal, a interdição de pessoas teria pouco significado prático.</p><p>O dilema desdobra-se, entretanto, em outro. Haveria aí, nessa situação “sui</p><p>generis”, nulidade ou mera anulabilidade? Como se sabe, o regime de incapacidade</p><p>relativa, leva à anulabilidade. Por outro lado, quem haveria de manifestar a vontade</p><p>para, antes do prazo decadencial, impedir a convalidação? Acredito, nesse campo</p><p>de primeiras reflexões, que deva prevalecer o regime de nulidade, mais benéfico</p><p>ao deficiente.</p><p>Anote-se, ainda, que nos termos do Art. 76, EPD, o poder público deverá</p><p>garantir à pessoa com deficiência todos os direitos políticos e a oportunidade de</p><p>exercê-los em igualdade de condições com as demais pessoas, assegurando-lhe</p><p>não só acessibilidade aos locais de votação, mas, essencialmente, o direito de votar</p><p>e de ser votada. Diz-nos, ainda, o Art. 85, EPD, que “a curatela afetará tão somente</p><p>os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial”, não alcan-</p><p>çando o “direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à</p><p>educação, à saúde, ao trabalho e ao voto”. Não faz sentido, no entanto, que defi-</p><p>cientes interditados por incapacidade de manifestar sua vontade tenham acesso à</p><p>urna juntamente com seus curadores, pois, se não há como conhecer a vontade do</p><p>deficiente, também não há como garantir que o curador atua no interesse alheio.</p><p>Passaria a haver, de fato, pessoas com dois ou mais votos.</p><p>Por fim, é inquietante a ausência de um regime claro de transição. Aquelas</p><p>pessoas que hoje, tendo deficiência mental ou intelectual, se encontram sob inter-</p><p>dição por incapacidade absoluta passarão automaticamente, com a vigência da lei</p><p>nova, a serem consideradas capazes? A tradicional exegese da regra intertemporal,</p><p>nessas situações, indica a eficácia imediata da lei nova. Não haveria por que manter</p><p>toda uma classe de pessoas sob um regime jurídico mais restritivo quando ele foi</p><p>abolido. Não há razão para que existam deficientes capazes e absolutamente inca-</p><p>pazes sem distinção fática a justificar o tratamento diverso. Por outro lado, pode</p><p>a lei nova desconstituir automaticamente a coisa julgada já estabelecida? Cremos,</p><p>que dada a natureza constitutiva da sentença, o mais razoável é que, por iniciativa</p><p>das partes ou do Ministério Público, haja uma revisão da situação em os interdi-</p><p>tados se encontram, para que possam migrar para um regime de incapacidade</p><p>relativa ou de tomada de decisão apoiada, conforme for o caso.</p><p>49</p><p>Por suscitar essas questões e dúvidas, o novo Estatuto, que em muito au-</p><p>xiliará as pessoas com deficiências diversas, precisará ser objeto de atenção redo-</p><p>brada da comunidade jurídica.</p><p>FONTE: CORREIA, A. Estatuto da pessoa com deficiência traz inovações e dúvidas.</p><p>CONJUR, São Paulo, 3 ago. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3FQrJN9. Acesso</p><p>em: 24 abr. 2022.</p><p>50</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• Fatos jurídicos são classificados em sentido amplo e em sentido estrito.</p><p>• Fatos jurídicos em sentido amplo são aqueles fatos naturais ou realizados por um</p><p>indivíduo que criam, modificam, conservam ou extinguem as relações jurídicas.</p><p>• O negócio jurídico advém da manifestação de vontade e da autonomia privada.</p><p>• Os negócios jurídicos podem ser classificados em unilaterais, bilaterais e plu-</p><p>rilaterais.</p><p>• Os negócios jurídicos podem ser consensuais ou reais, formais ou informais;</p><p>gratuitos ou onerosos.</p><p>• São requisitos para a validade do negócio jurídico: agente capaz, objeto lícito,</p><p>possível, determinado ou determinável, forma prescrita ou não defesa em lei</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 104).</p><p>• É possível estipular que o negócio jurídico deve ser feito por instrumento público,</p><p>ainda que a lei não exija (BRASIL, 2002, Art. 109).</p><p>• Admite-se o silêncio. Em certos casos, o silêncio pode importar em anuência,</p><p>mas, para isso, as circunstâncias ou os usos devem autorizar (BRASIL, 2002,</p><p>Art. 111).</p><p>• Nas declarações de vontade, leva-se mais em conta a vontade nelas consubs-</p><p>tanciadas do que o sentido literal da linguagem (BRASIL, 2002, Art. 112).</p><p>• Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 114).</p><p>• É nulo o negócio jurídico: celebrado por pessoa absolutamente incapaz; se for</p><p>ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; se o motivo determinante, co-</p><p>mum a ambas as partes for ilícito; se não revestir a forma prescrita em lei; se for</p><p>preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; se</p><p>tiver por objetivo fraudar lei imperativa; se a lei taxativamente o declarar nulo ou</p><p>proibir-lhe a prática, sem cominar sanção (BRASIL, 2002, Art. 166).</p><p>51</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1. Pode-se dizer que fato jurídico em sentido amplo é considerado todo</p><p>acontecimento, natural ou humano, capaz de criar, modificar ou extinguir</p><p>relações jurídicas. Quanto a esse tema, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. O fato jurídico em sentido estrito é todo acontecimento natural</p><p>que não tem relevância para o direito.</p><p>b. Pode-se dizer, resumidamente, que o ato jurídico é considerado</p><p>um fato jurídico que contém elemento volitivo e conteúdo lícito.</p><p>c. Nem todos os negócios jurídicos demandam uma manifestação</p><p>de vontade, como no caso dos contratos de adesão.</p><p>d. O ato-fato decorre de um comportamento humano; portanto, é</p><p>desprovido de voluntariedade e de efeitos jurídico, por conse-</p><p>quência.</p><p>2. Para o Direito Civil: “A nulidade se caracteriza como uma sanção pela</p><p>ofensa a determinados requisitos legais, não devendo produzir efeito jurí-</p><p>dico, em função do defeito que carrega em seu âmago”. Com base nessa</p><p>explicação, analise as sentenças a seguir:</p><p>FONTE: PAMPLONA FILHO; GAGLIANO. Novo curso de direito civil –</p><p>parte geral. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 836.</p><p>I. O negócio celebrado por absolutamente incapaz, sem que seja</p><p>devidamente representado, será nulo.</p><p>II. Realizado um negócio jurídico, o objeto é ilícito; portanto, será ei-</p><p>vado de nulidade.</p><p>III. Apenas a lei pode estipular que um negócio jurídico seja realizado</p><p>por instrumento</p><p>público.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e III estão corretas.</p><p>b. As sentenças I e II estão corretas.</p><p>c. Somente a sentença I está correta.</p><p>d. Somente a sentença II está correta.</p><p>52</p><p>3. O professor Paulo Lôbo afirma que: “A prescrição e a decadência também</p><p>exercem função positiva no sentido de pressão educativa contra o deslei-</p><p>xado que deixou de exercer o seu direito em momento adequado”. Diante</p><p>disso, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:</p><p>FONTE: LÔBO, P. Direito Civil: parte geral. 9. ed. São Paulo: Saraiva Edu-</p><p>cação, 2020. p. 954.</p><p>( ) Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal, não corre a</p><p>prescrição.</p><p>( ) Os prazos de prescrição podem ser alterados por acordo entre as partes.</p><p>( ) O juiz deve conhecer de ofício a decadência quando estabelecida por lei.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. F – F – F.</p><p>b. V – F – F.</p><p>c. F – V – V.</p><p>d. V – F – V.</p><p>4. A manifestação da vontade é um elemento importante na formação do</p><p>negócio jurídico. O Código Civil admite diversas formas de manifestação</p><p>de vontade. Disserte sobre o silêncio e a reserva mental.</p><p>5. A prescrição e a decadência são consideradas sanções no âmbito do Di-</p><p>reito Civil. Elenque as principais diferenças entre esses dois institutos.</p><p>53</p><p>BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução</p><p>às normas do Direito brasileiro. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1942.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3yBNChz. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 6.001 de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do</p><p>Índio. Brasília, DF: Presidência da República, 1973a. Disponível em: https://bit.</p><p>ly/3PB5AHl. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 6.015 de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros pú-</p><p>blicos, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1973b. Dis-</p><p>ponível em: https://bit.ly/3yF8HYu. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 9.140 de 4 de dezembro de 1995. Reconhece como morta, pes-</p><p>soas desaparecidas em razão de participação, acusação de participação, em ativi-</p><p>dades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, e dá</p><p>outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1995. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/38s33hM. Acesso em: 21 abr. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,</p><p>DF: Presidência da República, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3MfSY6i. Acesso</p><p>em: 19 abr. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão</p><p>da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF: Pre-</p><p>sidência da República, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3MfSY6i. Acesso em: 19</p><p>abr. 2022.</p><p>BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Bra-</p><p>sil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://</p><p>bit.ly/3N7Pxyq. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>LÔBO, P. Direito Civil: parte geral. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.</p><p>MELLO, C. M. Direito Civil: parte geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2022.</p><p>PAMPLONA FILHO, R.; GAGLIANO, P. S. Novo curso de direito civil – parte geral.</p><p>24. ed. São Paulo: Saraiva, 2022.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>UNIDADE 2</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• conhecer o conceito e as classificações das obrigações.</p><p>• conhecer as modalidades de transmissão das obrigações.</p><p>• entender as formas de adimplemento e de inadimplemento das obriga-</p><p>ções e as suas consequências.</p><p>• conhecer a teoria geral dos contratos, o conceito de contratos e a classifi-</p><p>cação dos negócios jurídicos.</p><p>• aprender a formação e a extinção dos contratos.</p><p>• conhecer o conceito de responsabilidade civil, os elementos e espécies da</p><p>responsabilidade civil.</p><p>• entender o conceito de dano moral.</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você en-</p><p>contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado</p><p>TÓPICO 1 – DOS DIREITOS DA OBRIGAÇÃO</p><p>TÓPICO 2 – CONTRATOS</p><p>TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE CIVIL</p><p>PARTE ESPECIAL DO</p><p>CÓDIGO CIVIL</p><p>57</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>O estudo deste tópico será sobre o direito das obrigações, o qual disciplina</p><p>as relações pessoais entre credor e devedor.</p><p>FIGURA 1 – ELEMENTOS DOS DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES</p><p>Sujeito</p><p>ativo</p><p>Sujeito passivo</p><p>devedor</p><p>Direito das obrigações</p><p>Responsabilidade pessoal</p><p>FONTE: A autora</p><p>As obrigações podem ter início com um fato jurídico, que também se deno-</p><p>mina a fonte das obrigações. Consideram-se fontes das obrigações os atos jurídi-</p><p>cos negociais (contratos), os atos unilaterais de vontade (promessa de recompen-</p><p>sa), atos ilícitos (dano).</p><p>2 OBRIGAÇÕES</p><p>Os elementos das obrigações podem ser divididos em objetivos, subjetivos</p><p>e vínculo abstrato. O elemento subjetivo refere-se ao credor ou devedor, ou seja,</p><p>os sujeitos da relação obrigacional. O elemento objetivo, por sua vez, refere-se à</p><p>prestação. E, por fim, o elemento abstrato corresponde ao vínculo jurídico que une</p><p>credores e devedores.</p><p>A prestação pode ser positiva, ou seja, dar ou fazer algo; negativa, que seria</p><p>um não fazer. Portanto, “[...] prestação é uma conduta que o credor tem direito a</p><p>obter e que o devedor deve realizar” (MELLO, 2022, p. 67). Geralmente, as presta-</p><p>ções têm cunho patrimonial.</p><p>TÓPICO 1</p><p>DOS DIREITOS DA</p><p>OBRIGAÇÃO</p><p>58</p><p>FIGURA 2 – ESPÉCIES DE PRESTAÇÕES</p><p>Obrigação positiva</p><p>Prestação</p><p>• Dar</p><p>• Fazer</p><p>Obrigação negativa• Não</p><p>fazer</p><p>FONTE: A autora</p><p>A obrigação pode ser conceituada como “[...] a própria relação jurídica</p><p>pessoal que vincula duas pessoas, credor e devedor, em razão da qual uma fica</p><p>‘obrigada’ a cumprir uma prestação patrimonial de interesse da outra” (GAGLIANO;</p><p>PAMPLONA FILHO, 2022, p. 475).</p><p>O objeto da obrigação divide-se em direto e indireto: o objeto direto é a pres-</p><p>tação (dar, fazer e não fazer). O objeto indireto da prestação, por outro lado, é o</p><p>bem da vida propriamente dito. Existem as obrigações naturais, que não podem ser</p><p>reclamadas em juízo, ainda que lícitas, como as dívidas prescritas e dívidas de jogo.</p><p>“Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não</p><p>se pode recobrar a quantia que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha</p><p>por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito” (BRASIL, 2002a).</p><p>IMPORTANTE</p><p>A classificação denominada obrigação de dar consiste no objeto da pres-</p><p>tação de uma coisa, ou seja, transfere-se a propriedade para outra pessoa. Essa</p><p>classificação subdivide-se em obrigação de dar coisa certa e coisa incerta.</p><p>A obrigação de dar coisa certa abrange os seus acessórios, ainda que não se-</p><p>jam mencionados. Denomina-se como princípio de que o acessório segue o principal</p><p>(Art. 233), exceto se de outra forma resultar das circunstâncias ou do título. Além</p><p>disso, o Art. 313 do mesmo Código assegura que “[...] o credor não é obrigado a rece-</p><p>ber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa” (BRASIL, 2002a).</p><p>59</p><p>FIGURA 3 – EXEMPLO DE OBRIGAÇÃO DE ENTREGA DE COISA CERTA</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>Nas obrigações de dar coisa certa, podem ocorrer perdas e danos, todavia,</p><p>pressupõe-se a culpa do devedor. Dessa forma, deteriorada a coisa sem culpa do</p><p>devedor, resolve-se a obrigação ou pode-se aceitar a coisa com abatimento do seu</p><p>preço ou do valor que se perdeu (referente ao Art. 235). Nesse caso, trata-se de um</p><p>prejuízo parcial da coisa (BRASIL, 2002a).</p><p>“Art. 492. Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do</p><p>vendedor e os do preço, por conta do comprador” (BRASIL, 2002a).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Situações em que a coisa se perde, ou seja, prejuízo total (Art. 234 do Có-</p><p>digo Civil):</p><p>• Sem culpa do devedor e antes da tradição ou pendente à condição sus-</p><p>pensiva: resolve-se a obrigação para ambas as partes.</p><p>• Com culpa do devedor: este responderá pelo equivalente mais perdas</p><p>e danos.</p><p>Perda da coisa com culpa do devedor: credor, de acordo</p><p>com o Art. 236 pode</p><p>exigir o equivalente à coisa no estado em que se encontra, podendo reclamar, se</p><p>achar necessário, indenização do seu dano. Portanto, se houver culpa do devedor,</p><p>é possível, ainda, pleitear indenização. Melhoramentos e acrescidos da coisa até a</p><p>60</p><p>tradição (Art. 237) pertencem ao devedor, por isso, poderá exigir o aumento no preço.</p><p>Caso o credor não concorde, poderá o devedor resolver a obrigação (BRASIL, 2002a).</p><p>Deve-se entender perda como perecimento total da coisa (Art. 238). Aplica-</p><p>-se a regra de que a coisa perece para o dono. Portanto, se a coisa se perder antes da</p><p>tradição, sem culpa do devedor, o credor sofrerá a perda. Se houver culpa do deve-</p><p>dor, ele responderá pelo equivalente mais perdas e danos (Art. 239) (BRASIL, 2002a).</p><p>Na obrigação de restituir a coisa (por exemplo, locação), se houver o me-</p><p>lhoramento ou acréscimo a ela, não será possível requerer a indenização se isso</p><p>adveio sem trabalho ou despesa do devedor (Art. 241). Se houve o emprego de</p><p>trabalho ou dispêndio, aplica-se o Art. 242 do Código Civil.</p><p>A obrigação de dar coisa incerta, também chamada de obrigação genérica,</p><p>é aquela que se indica apenas pelo gênero e quantidade (Art. 243). A escolha per-</p><p>tence ao devedor, se não houver outra disposição. Contudo, não se pode escolher</p><p>coisa pior nem tem a obrigação de prestar a melhor (Art. 244). Aplicam-se as mes-</p><p>mas regras para a obrigação de entrega de coisa certa (BRASIL, 2002a).</p><p>Antes da concentração da coisa (especificação da coisa), da prestação não</p><p>se pode alegar perda ou deterioração (Art. 246), ainda que por força maior ou caso</p><p>fortuito. Isso se deve ao fato de apenas ter sido indicado o gênero e a quantidade an-</p><p>teriormente. Costuma-se dizer no Direito que o gênero não perece (BRASIL, 2002a).</p><p>FIGURA 4 – OBRIGAÇÃO PECUNIÁRIA</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>Obrigação pecuniária, ou seja, de dar quantia certa, a fim de pagar dívidas</p><p>em dinheiro, no Brasil deve ser feito em moeda corrente, pelo valor nominal e no</p><p>vencimento (Art. 315) (BRASIL, 2002a).</p><p>61</p><p>FIGURA 5 – OBRIGAÇÃO DE FAZER INFUNGÍVEL</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>Uma obra de arte feita por um pintor famoso é considerada infungível. Se</p><p>não o fizer, cabe indenização em perdas e danos (Art. 247). Pode ocorrer nas obri-</p><p>gações de fazer fungíveis de a pessoa não a executar; nesses casos, é possível que</p><p>outra pessoa o faça à custa do devedor. Não obstante a isso, é possível indeniza-</p><p>ção, se cabível (Art. 249, caput). Contudo, não precisará de autorização judicial nas</p><p>situações de urgência e, dessa forma, o credor pode executar ou mandar executar</p><p>e, posteriormente, ser ressarcido (BRASIL, 2002a).</p><p>QUADRO 1 – INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO DE FAZER</p><p>Inadimplemento</p><p>Sem culpa Com culpa</p><p>Obrigação fungível Obrigação infungível Obrigação fungível Obrigação infungível</p><p>Resolve-se o pacto,</p><p>as partes voltam ao</p><p>status quo anterior.</p><p>Resolve-se o pacto, as</p><p>partes voltam ao status</p><p>quo anterior.</p><p>Manda realizar por</p><p>terceiro ou perdas e</p><p>danos (CC 2002, art.</p><p>249). Por exemplo,</p><p>a reforma de um</p><p>telhado.</p><p>Perdas e danos (CC</p><p>2002, art. 248).</p><p>FONTE: Mello (2022, p. 130)</p><p>Obrigações de não fazer têm como objeto uma prestação negativa, portan-</p><p>to, é um comportamento omissivo por parte devedor. Extingue-se essa obrigação</p><p>desde que sem culpa do devedor caso se torne impossível de se abster de fazer o</p><p>que se obrigou (Art. 250). As obrigações podem ser ainda alternativas, a escolha</p><p>competirá ao devedor se as partes não tiverem estipulado de maneira diversa (Art.</p><p>62</p><p>252). Nas obrigações alternativas, o devedor exonera-se ao cumprir uma delas.</p><p>Extingue-se essa obrigação se todas as prestações se tornarem impossíveis de</p><p>realizar sem culpa do devedor (Art. 256) (BRASIL, 2002a).</p><p>Existem outras modalidades especiais de obrigações, tais como: alternativas,</p><p>facultativas, cumulativas, divisíveis e indivisíveis, líquidas e ilíquidas (GAGLIA-</p><p>NO; PAMPLONA FILHO, 2022).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Nas obrigações solidárias, há mais de um credor ou devedor, ou seja, há</p><p>várias pessoas, dizem respeito ao elemento subjetivo. As pessoas são tratadas</p><p>como se fossem um só. São mais de um credor ou devedor que tenha um direito ou</p><p>seja obrigado à dívida toda (Art. 264) (BRASIL, 2002a).</p><p>FIGURA 6 – OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>A solidariedade só pode advir da previsão legal (solidariedade legal) ou ser</p><p>convencionada pelas partes (solidariedade convencional).</p><p>63</p><p>Há solidariedade extracontratual: “Art. 942. Os bens do responsável pela</p><p>ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano</p><p>causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidaria-</p><p>mente pela reparação” (BRASIL, 2002a).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Nas obrigações divisíveis e indivisíveis (Art. 527-263) há multiplicidade de</p><p>pessoas e, por isso, faz-se necessário verificar se o objeto é divisível. À obrigação</p><p>em que o objeto pode ser dividido entre os sujeitos pode-se citar a prestação de dar</p><p>quantia. Um celular é exemplo de objeto indivisível (BRASIL, 2002a).</p><p>As obrigações podem ser indivisíveis por sua natureza, pela convenção das</p><p>partes ou por ordem legal (Art. 258). Pode ocorrer de existir mais de um devedor</p><p>que seja obrigado pela dívida toda. Diante disso, o devedor que paga a dívida toda</p><p>se sub-roga no direito do credor, ou seja, quem pagou pode cobrar dos demais de-</p><p>vedores o restante da dívida. Significa que se divide em tantas obrigações, iguais e</p><p>distintas, quantos forem os credores ou devedores (BRASIL, 2002a).</p><p>Pode-se citar como exemplo o seguinte: quatro pessoas devem entregar</p><p>uma ovelha, um dos devedores a entrega ao credor. O valor da ovelha (R$ 4 mil)</p><p>divide-se em quatro, e o devedor passa a ser credor dos devedores em R$ 1 mil.</p><p>Portanto, receberá R$ 3 mil.</p><p>A pluralidade de credores faz com que qualquer um deles possa exigir a dí-</p><p>vida toda do devedor. Os devedores se desobrigarão se pagarem ao mesmo tempo</p><p>os credores ou um deles, que prestará caução de retificação dos demais credores.</p><p>O credor que recebeu deverá ainda repassar a quota de cada um dos credo-</p><p>res em dinheiro (Art. 260). Por ser indivisível, a obrigação perde-se e resolve-se em</p><p>perdas e danos (Art. 263). Respondem por partes iguais se houver culpa de todos</p><p>os devedores (Art. 263). Os demais devedores serão desonerados se houver culpa</p><p>de um dos devedores, o qual responde pelas perdas e danos (BRASIL, 2002a).</p><p>Esse foi o estudo da classificação das obrigações. Recomenda-se a leitura</p><p>dos dispositivos do CC/2002 sobre esse tema, Arts. 233-285.</p><p>64</p><p>2.1 TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES</p><p>As modalidades de transmissão das obrigações contribuem para a circu-</p><p>lação de bens. O Código Civil traz expressamente as seguintes modalidades de</p><p>transmissão das obrigações: cessão de crédito, cessão de débito, cessão de con-</p><p>trato e assunção de dívida.</p><p>FIGURA 7 – MODALIDADES DE TRANSMISSÕES DAS OBRIGAÇÕES</p><p>Transmissão</p><p>das obrigações</p><p>Cessão de crédito</p><p>Cessão de débito</p><p>Cessão de contrato</p><p>FONTE: Gagliano e Pamplona Filho (2022, p. 791)</p><p>A cessão de crédito é uma forma de transmissão do polo ativo de uma rela-</p><p>ção obrigacional em que o cedente cede total ou parcialmente um crédito ao ces-</p><p>sionário, que é o devedor. Conceitua-se a cessão como um negócio jurídico bilateral.</p><p>Transfere-se o crédito do credor para um terceiro. Assim, o terceiro passa a assumir</p><p>o lugar do credor. Entende-se que todo crédito pode ser cedido, contudo, não po-</p><p>derá caso exista uma proibição decorrente do próprio negócio jurídico, em razão</p><p>de convenção das partes ou de uma vedação legal, por fim, se for da natureza da</p><p>obrigação o obste. Ademais disso, a cessão pode ocorrer antes ou depois do ven-</p><p>cimento da obrigação, até mesmo se houver ação em curso (LÔBO, 2022a, p. 385).</p><p>Em regra, a cessão abrange todos os seus acessórios, exceto se houver dis-</p><p>posição em contrário (Art. 287). Os acessórios são os juros, os frutos, rendimentos</p><p>e garantias. A cessão</p><p>pode ser gratuita ou onerosa, assim como pode ser parcial ou</p><p>total (BRASIL, 2002a).</p><p>QUADRO 2 – ESPÉCIES DE CESSÃO</p><p>Cessão legal</p><p>Cessão convencional</p><p>Cessão judicial (sentença)</p><p>FONTE: A autora</p><p>O cedente não responde pela solvência do devedor, salvo se houver estipu-</p><p>lação em sentido diverso (Art. 296). Para ser eficaz perante terceiros, a cessão de</p><p>crédito deve ser celebrada mediante instrumento público ou particular (Art. 288).</p><p>A cessão de débito é denominada de assunção de dívida (Art. 299). Na cessão de</p><p>65</p><p>débito, se transmite o débito a terceiro, com expresso consentimento do credor.</p><p>Mantém-se a mesma relação obrigacional no que diz respeito aos prazos e termos</p><p>(BRASIL, 2002a).</p><p>ATENÇÃO</p><p>Aqui o silêncio do credor é entendido como recusa (BRASIL, 2022).</p><p>Restabelece a relação primitiva se o credor não souber da insolvência</p><p>preexistente à celebração da cessão (Art. 299) (BRASIL, 2002a). Requisitos da</p><p>cessão do débito:</p><p>a. a presença de uma relação jurídica obrigacional válida (o que pressu-</p><p>põe a existência, nos planos do negócio jurídico);</p><p>b. a substituição do devedor, mantendo-se a relação jurídica originária;</p><p>c. a anuência expressa do credor (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b,</p><p>p. 807).</p><p>Por fim, será estudada a cessão de contrato, que consiste na transmissão</p><p>da posição no contrato a um terceiro que a aceita, além disso, o cedente deve ter a</p><p>anuência da outra parte.</p><p>Assim como na assunção de dívida, faz-se necessária a autorização do outro</p><p>contratante, haja vista que a posição do devedor é cedida em contrato (GAR-</p><p>CIA JUNIOR, 2021).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Pode-se citar como exemplo o contrato de locação em que se admita a</p><p>sublocação. A cessão de contrato não tem previsão em lei, e, diante disso, trata-se</p><p>de uma forma de contrato atípico (Art. 425) (BRASIL, 2002a).</p><p>QUADRO 3 – Partes que figuram na cessão do contrato</p><p>1. Cedente: contratante originário.</p><p>2. Cessionário: substitui o contratante originário.</p><p>3. Cedido: é a pessoa que ingressa no contrato.</p><p>FONTE: A autora</p><p>Os requisitos para a cessão de contrato são: celebração do negócio jurídico</p><p>entre cedente e cessionário; cessão integral; anuência da outra parte.</p><p>66</p><p>2.2 ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS</p><p>OBRIGAÇÕES</p><p>O pagamento significa o cumprimento da obrigação, ou seja, o adimple-</p><p>mento da obrigação e, por conseguinte, a extinção dela. Importante esclarecer</p><p>o significado de pagamento: “[...] paga não apenas aquele que entrega a quantia</p><p>em dinheiro (obrigação de dar), mas também o indivíduo que realiza uma atividade</p><p>(obrigação de fazer) ou, simplesmente, se abstém de um determinado comporta-</p><p>mento (obrigação de não fazer)” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b, p. 654).</p><p>O pagamento de uma dívida pode ser feito por qualquer interessado. Há o</p><p>terceiro não interessado, que pode fazer o pagamento que o faz em nome do de-</p><p>vedor (Art. 304, Parágrafo Único do Código Civil). O devedor pode ser opor a esse</p><p>pagamento do terceiro não interessado, por exemplo, se tem o valor para pagar a</p><p>dívida. Assim, não é devido o reembolso. Isso também se aplica se o devedor não</p><p>tem conhecimento de que esse terceiro não interessado efetuou o pagamento.</p><p>FIGURA 8 – PAGAMENTO</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>Uma pessoa que não tem interesse na dívida e faz o pagamento em seu</p><p>nome terá direito ao reembolso do que pagou. No entanto, não sub-roga no direito</p><p>do credor. Diante disso, terá direito ao reembolso no vencimento.</p><p>Terceiro interessado é o fiador, por exemplo, pois, em caso de descumpri-</p><p>mento da obrigação, responderá com o seu patrimônio. Por isso, sub-roga nos di-</p><p>reitos do credor, como ações, privilégios e garantias do credor originário. Tem direito</p><p>também pelo que pagou.</p><p>67</p><p>Por fim, há a possibilidade de o terceiro não interessado pagar em nome do</p><p>devedor que não tem direito a nada. Contudo, pode demandar contra o devedor</p><p>o que pagou.</p><p>QUADRO 4 – A QUEM SE DEVE PAGAR</p><p>A quem se deve pagar:</p><p>• credor;</p><p>• representante do credor;</p><p>• terceiro.</p><p>FONTE: A autora</p><p>Credor aparente é o credor putativo, situação em que será considerado váli-</p><p>do o pagamento se feito de boa-fé (Art. 309). Pagamento feito ao incapaz de quitar</p><p>não será válido, contudo, o credor pode ratificar o pagamento ou ser provado que</p><p>o valor a ele se reverteu (Art. 310). Os herdeiros só respondem pela dívida de quem</p><p>faleceu na medida do que receberem de herança (Art. 1997) (BRASIL, 2002a).</p><p>O devedor deve tomar as cautelas devidas ao efetuar o pagamento; se pagar</p><p>para um sujeito qualquer sofrerá as consequências do seu ato, pois “[...] quem</p><p>paga mal paga duas vezes” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b, p. 654).</p><p>IMPORTANTE</p><p>As dívidas em dinheiro devem ser pagas em moeda corrente na data do</p><p>vencimento, em valor nominal. Todo pagamento precisa ser provado, e isso é feito</p><p>mediante quitação. É um direito do devedor a quitação. Por isso, se não for dada a</p><p>quitação ao devedor, ele pode reter o pagamento até que lhe seja dada a quitação.</p><p>Na quitação feita por documento particular, deve constar:</p><p>QUADRO 5 – DEVEM CONSTAR NO DOCUMENTO DA QUITAÇÃO</p><p>Quitação por instrumento particular deve conter:</p><p>• o valor;</p><p>• a espécie da dívida que se dá a quitação;</p><p>• o nome do devedor (ou quem por este pagou);</p><p>• o tempo do pagamento;</p><p>• o lugar do pagamento;</p><p>• a assinatura do credor ou de seu representante.</p><p>FONTE: A autora</p><p>Nas situações em que o devedor tiver direito a receber o título que paga,</p><p>como uma nota promissória ou um cheque, e o credor se recusa a entregar ou a</p><p>tenha perdido, o devedor pode reter o pagamento e exigir que o credor declare que</p><p>inutiliza o título se perdido.</p><p>68</p><p>É importante a devolução do título ao devedor, pois há a presunção de</p><p>que pagou a referida dívida do título. É possível provar o pagamento se de seus</p><p>termos ou das circunstâncias se verificar que a dívida foi paga (Art. 320, Parágra-</p><p>fo Único do Código Civil).</p><p>ATENÇÃO</p><p>Existem formas de pagamento que não serão objeto de estudo nesta uni-</p><p>dade, como novação, consignação em pagamento, dentre outras, que são</p><p>denominadas de pagamento indireto, haja vista que o pagamento é feito de</p><p>forma diferente daquela que havia sido estipulada anteriormente.</p><p>Em regra, o pagamento efetua-se no domicílio do devedor, e as partes</p><p>podem convencionar outro local. O local do pagamento pode estar previsto em</p><p>lei, advir da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Compete a escolha ao</p><p>credor se o pagamento tiver sido estipulado em mais de um lugar. Pagamento</p><p>feito em local diverso, reiteradamente, entende-se que houve renúncia ao local</p><p>previsto em um contrato.</p><p>FIGURA 9 –TEMPO DO PAGAMENTO</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>Não estipulado prazo para o pagamento, presume-se que podem ser exigi-</p><p>das imediatamente (arts. 331-332). Contudo, a regra consiste em que o pagamento</p><p>deve ser feito na data do seu vencimento.</p><p>69</p><p>2.3 INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES</p><p>O descumprimento de uma obrigação pode ocorrer por desídia, negligência</p><p>ou dolo. Nesses casos, cabe indenização por ser o inadimplemento culposo (GA-</p><p>GLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b).</p><p>O inadimplemento pode ocorrer por um fato não imputável ao devedor, ou</p><p>seja, por caso fortuito ou força maior. No denominado inadimplemento fortuito da</p><p>obrigação, não há direito à indenização, portanto, extingue-se a obrigação sem</p><p>perdas e danos (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b).</p><p>QUADRO 6 – DIFERENÇA ENTRE CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR</p><p>Caso fortuito: evento imprevisível e inevitável. Pode ser, ainda,</p><p>classificado como o ato humano, imprevisível e inevitável.</p><p>Força maior: evento previsível, mas inevitável. São aqueles</p><p>decorrentes das forças da natureza, como tempestades, raios, fu-</p><p>racões, que são previsíveis em seu acontecimento, mas inevitáveis.</p><p>FONTE: Garcia Junior (2021, p. 104)</p><p>Veja um exemplo de caso fortuito ou força maior: “Imagine que o sujeito se</p><p>obrigou a prestar um serviço, e, no dia convencionado, é vítima de um sequestro”</p><p>(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b, p. 884). O inadimplemento pode ser abso-</p><p>luto nas situações culposa</p><p>e nos casos fortuitos. Por exemplo, a entrega de um</p><p>vestido de noiva que não ocorre a tempo da celebração do casamento.</p><p>O inadimplemento relativo ocorre à mora, isto é, não são observados o tem-</p><p>po, o lugar e a forma convencionada (Art. 394), mas é possível que o devedor realize</p><p>o pagamento. No inadimplemento voluntário, com culpa do devedor, há responsa-</p><p>bilidade civil. Aplica-se o Art. 398: juros, perdas e danos, atualização monetária,</p><p>honorários advocatícios, cláusula penal e mora (BRASIL, 2002a).</p><p>Perdas e danos são: “Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas</p><p>em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efe-</p><p>tivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar” (BRASIL, 2002a).</p><p>IMPORTANTE</p><p>A mora é o retardamento culposo de uma obrigação e a prestação continua</p><p>a ser útil ao credor. O devedor que está em mora e não paga por sua culpa também</p><p>responde em caso de fortuito ou foça maior. Contudo, poderá provar que, mesmo</p><p>que não estivesse em mora, o dano ocorreria, neste caso se exime da mora. A</p><p>70</p><p>mora do credor caracteriza-se pela sua recusa em receber o que lhe é devido (Art.</p><p>394). Responderá pelo que for gasto para a conservação da coisa, por exemplo,</p><p>pois não a recebeu no prazo devido. O devedor terá direito de ser ressarcido pelo</p><p>que gastou (BRASIL, 2002a).</p><p>“[...] purga-se a mora por parte do devedor, oferecendo este a presta-</p><p>ção mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta;</p><p>por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujei-</p><p>tando-se aos efeitos da mora até a mesma data” (GARCIA JUNIOR, 2021, p.</p><p>108, grifo original).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Diante disso, o inadimplemento pode ser absoluto, relativo, voluntário ou</p><p>involuntário.</p><p>FIGURA 10 – JUROS</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>Os juros são rendimentos de capital, como já visto na Unidade 1, frutos civis</p><p>da coisa. Trata-se de coisas acessórias (Art. 95). Os juros podem ser legais ou con-</p><p>vencionais, os quais subdividem-se em: compensatórios e moratórios. Os juros são</p><p>rendimentos em virtude de ter sido utilizado capital de outra pessoa, e são denomi-</p><p>nados juros remuneratórios ou compensatórios. Por exemplo, o mútuo feneratício.</p><p>Juros compensatórios remuneram o credor por ter concedido o seu patrimônio a</p><p>outra pessoa e deve ter sido estipulado pelos contratantes (BRASIL, 2002a).</p><p>71</p><p>Juros moratórios são uma indenização, uma vez que houve o atraso em</p><p>adimplir uma obrigação. Os juros são devidos a partir do inadimplemento, seja ab-</p><p>soluto ou relativo. Verifica-se que a mora incide devido à demora no pagamento.</p><p>ATENÇÃO</p><p>Os juros moratórios estão previstos no Art. 389, devidos por causa de um</p><p>inadimplemento. “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas</p><p>e danos mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regular-</p><p>mente estabelecidos, e honorários de advogado” (BRASIL, 2002a).</p><p>A sentença também aplica juros, os quais são chamados de juros legais.</p><p>A cláusula penal é denominada pena convencional, multa convencional ou multa</p><p>contratual. A cláusula penal é estipulada pelas partes com a finalidade de antecipar</p><p>uma indenização em caso de inadimplemento, seja ele absoluto ou relativo (arts.</p><p>408-416). Portanto, a cláusula penal é acessória, referente a uma obrigação princi-</p><p>pal prevista em um contrato, ou pode estar prevista em um instrumento separado.</p><p>QUADRO 7 – RESUMO DA CLÁUSULA PENAL</p><p>Cláusula penal</p><p>• Compensatória –</p><p>inadimplemento absoluto</p><p>• Moratória - inadimplemento</p><p>FONTE: A autora</p><p>A cláusula penal tem funções coercitivas, punitivas e reparatórias. Geral-</p><p>mente, é estipulada em forma de pagamento, ou seja, de pagar determinada quan-</p><p>tia. Pode ainda ser estipulada para que seja feito algo ou se abstenha.</p><p>A cláusula penal tem como característica ter sido estipulada com antece-</p><p>dência pelas partes. Ela deve ser determinável e não pode exceder a obrigação</p><p>principal. A prestação principal ainda assim é exigível. Todavia, em caso de inadim-</p><p>plemento absoluto da obrigação, a cláusula penal equivalerá a uma indenização à</p><p>parte prejudicada.</p><p>72</p><p>FIGURA 11 – ESPÉCIES DE CLÁUSULA PENAL</p><p>Espécies de</p><p>cláusula</p><p>penal</p><p>Compensatória</p><p>Moratória</p><p>Estipulada no caso de</p><p>total inadimplemento</p><p>da obrigação</p><p>Estipulada para evitar</p><p>o retardamento da</p><p>obrigação (mora)</p><p>Estipulada para</p><p>assegurar o cumpri-</p><p>mento de outra</p><p>cláusula</p><p>FONTE: Garcia Junior (2021, p. 117)</p><p>Cláusula penal tem objetivo de assegurar o cumprimento de outra cláusula</p><p>ou para evitar a mora (Art. 411). O credor poderá cobrar a pena convencional cumu-</p><p>lada com a prestação em caso de inadimplemento (BRASIL, 2002a).</p><p>Vejamos o seguinte exemplo: para a entrega de um bufê de um casa-</p><p>mento, se possível a entrega do bufê a tempo do casamento, exige-se a multa</p><p>compensatória.</p><p>Agora, se não for entregue o bufê para o dia do casamento, é devida a multa</p><p>contratual no valor estipulado pelas partes, que pode ser de R$ 50 mil (GARCIA</p><p>JUNIOR, 2021). Caberá perdas e danos se tornar impossível o cumprimento da obri-</p><p>gação. Nessa situação, cabe a multa moratória cumulada com perdas e danos.</p><p>Multa compensatória não pode ser cumulada com perdas e danos, pois tem</p><p>como objetivo a compensação dos danos causados. Portanto, exige-se perdas e</p><p>danos ou a multa compensatória.</p><p>QUADRO 8 – RESUMO CLÁUSULA PENAL</p><p>Multa moratória Multa compensatória</p><p>Obrigação principal + multa Obrigação principal ou multa</p><p>FONTE: A autora</p><p>Encerramos este tópico. Acompanhe na sequência um resumo sobre ele e,</p><p>em seguida, faça a autoatividade para testar os conhecimentos adquiridos até aqui.</p><p>73</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• Consideram-se fontes das obrigações os atos jurídicos negociais (contratos), os</p><p>atos unilaterais de vontade (promessa de recompensa) e atos ilícitos (dano).</p><p>• As prestações podem ser positivas, ou seja, dar ou fazer algo, ou negativas,</p><p>um não fazer.</p><p>• Obrigação de dar consiste no objeto da prestação de uma coisa, ou seja, trans-</p><p>fere-se a propriedade para outra pessoa.</p><p>• Há obrigação de dar coisa certa e coisa incerta.</p><p>• A cessão de crédito transfere um polo ativo de uma relação obrigacional; o ce-</p><p>dente cede total ou parcialmente um crédito ao cessionário, que é o devedor.</p><p>• Os juros podem ser legais ou convencionais, os quais subdividem-se em com-</p><p>pensatórios e moratórios.</p><p>• A cláusula penal é denominada pena convencional; as partes a estipulam com</p><p>a finalidade de antecipar uma indenização em caso de inadimplemento, seja ele</p><p>absoluto ou relativo.</p><p>• As perdas e danos estão previstas no Art. 402 do Código Civil de 2002 e con-</p><p>sistem nas perdas e danos devidos ao credor que abrangem, além do que ele</p><p>efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.</p><p>• Obrigação pecuniária a dar quantia certa, a fim de pagar dívidas em dinheiro,</p><p>deve ser feita em moeda corrente, pelo valor nominal e no vencimento (Art.</p><p>315 do Código Civil).</p><p>• O credor aparente é o credor putativo, situação em que será considerado válido</p><p>o pagamento se feito de boa-fé, previsto no Art. 309 do Código Civil de 2002.</p><p>• O pagamento feito ao incapaz de quitar não será válido; contudo, o credor pode</p><p>ratificar o pagamento ou ser provado que o valor a ele se reverteu, segundo o</p><p>Art. 310 do Código Civil de 2002.</p><p>74</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1. O termo obrigação significa um dever jurídico, bem como um dever de</p><p>prestação. Sobre o tema das obrigações, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. O credor não pode se recusar a receber prestação diversa da que</p><p>lhe é devida, ainda que mais valiosa.</p><p>b. A classificação denominada obrigação de dar consiste no objeto</p><p>da prestação de uma coisa, a qual deve ser certa e determinada.</p><p>c. A prestação de uma obrigação é positiva, ou seja, dar ou fazer</p><p>algo, não se admite uma prestação negativa, um não fazer.</p><p>d. Os elementos das obrigações são os seguintes: o elemento subje-</p><p>tivo refere-se ao credor ou devedor, o elemento objetivo refere-se</p><p>à prestação, e o elemento abstrato corresponde ao</p><p>vínculo jurídi-</p><p>co entre eles.</p><p>2. O professor Anderson Schreiber (2002, p. 607) leciona que “[...] exige-se</p><p>que o objeto da relação obrigacional seja uma prestação patrimonial. A</p><p>patrimonialidade é atributo referente à prestação, e não ao interesse do</p><p>credor na obrigação, que poderá ser extrapatrimonial [...]”. Com base nes-</p><p>sa afirmação, analise as sentenças a seguir:</p><p>FONTE: SCHREIBER, A. Manual de direito contemporâneo. 5. ed. São Paulo:</p><p>SaraivaJur, 2002. p. 607.</p><p>I. As prestações podem ser de três modalidades: dar, fazer e não</p><p>fazer.</p><p>II. O objeto da obrigação divide-se em direto que se refere à presta-</p><p>ção e objeto indireto da prestação, que se trata do bem da vida.</p><p>III. A obrigação de fazer consiste em uma abstenção por parte do</p><p>devedor.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e III estão corretas.</p><p>b. Somente a sentença II está correta.</p><p>c. As sentenças I e II estão corretas.</p><p>d. Somente a sentença III está correta.</p><p>75</p><p>3. A transmissão das obrigações contribui para a circulação de bens. O Có-</p><p>digo Civil de 2002 elenca expressamente as seguintes modalidades de</p><p>transmissão das obrigações: cessão de crédito, cessão de débito, cessão</p><p>de contrato e assunção de dívida. Classifique V para as sentenças verda-</p><p>deiras e F para as falsas:</p><p>( ) A cessão de crédito é negócio jurídico unilateral em que se transfere</p><p>um crédito de um credor para terceiro, que assume sua posição.</p><p>( ) A Abepro Jovem é responsável pela congregação de todos os profis-</p><p>sionais inativos de Engenharia de Produção e busca articular com empre-</p><p>sas e instituições de ensino.</p><p>( ) Para que a cessão de crédito tenha validade perante terceiro, deve ser</p><p>celebrada mediante instrumento público ou particular.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. V – F – F.</p><p>b. V – F – V.</p><p>c. V – V – F.</p><p>d. F – V – F.</p><p>4. O descumprimento de uma obrigação pode ocorrer por desídia, negli-</p><p>gência ou por dolo. É cabível indenização nos casos de inadimplemento</p><p>culposo. Disserte sobre o inadimplemento, em que situações ele pode</p><p>ocorrer e quais resultam ou não em indenização.</p><p>5. O pagamento representa o cumprimento de uma obrigação, em outras</p><p>palavras, o adimplemento da obrigação e, por conseguinte, a extinção</p><p>dela. Em regra, o pagamento de uma dívida pode ser feito por qualquer in-</p><p>teressado. Nesse contexto, disserte sobre o pagamento das obrigações.</p><p>77</p><p>TÓPICO 2</p><p>CONTRATOS</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico será abordado o tema da teoria geral dos contratos. O contrato</p><p>é o meio que as partes utilizam para manifestar a sua vontade e exercer a autono-</p><p>mia privada.</p><p>Para os professores Pablo Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2022a, p. 64) o</p><p>contrato é “[...] um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas</p><p>pelos princípios da função social e da boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos pa-</p><p>trimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia as suas próprias vontades”.</p><p>Portanto, a autonomia privada deve ser exercida de maneira que observe</p><p>os valores constitucionais. Tendo em vista a constitucionalização do Direito Civil,</p><p>nesse sentido, deve-se:</p><p>1. respeitar a dignidade da pessoa humana – traduzida sobretudo nos</p><p>direitos e garantias fundamentais;</p><p>2. admitir a relativização do princípio da igualdade das partes contra-</p><p>tantes – somente aplicável aos contratos verdadeiramente paritá-</p><p>rios, que atualmente são minoria;</p><p>3. consagrar uma cláusula implícita de boa-fé objetiva – ínsita em todo</p><p>contrato bilateral, e impositiva dos deveres anexos de lealdade, con-</p><p>fiança, assistência, confidencialidade e informação;</p><p>4. respeitar o meio ambiente;</p><p>5. respeitar o valor social do trabalho (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,</p><p>2022a, p. 69).</p><p>Dentro desse contexto, deve-se observar a função social do contrato, pre-</p><p>vista no Art. 421 do Código Civil de 2002.</p><p>78</p><p>2 OS PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS</p><p>Os princípios exercem diversas funções, como de interpretação, e ainda têm</p><p>força normativa. Eles podem ser expressos ou implícitos. Paulo Lôbo (2022b, 106-</p><p>109) ensina que:</p><p>A força normativa dos princípios se expressa de forma peculiar, pois seu</p><p>conteúdo é propositalmente indeterminado, de modo a realizar-se ple-</p><p>namente em cada caso concreto, as circunstâncias deste delimitam-lhe</p><p>o alcance. Outro ponto importante da contemporânea concepção dos</p><p>princípios jurídicos é a sua primazia na hierarquia normativa, invertendo-</p><p>-se a destinação supletiva a que estavam relegados na Lei de Introdução</p><p>às Normas do Direito brasileiro.</p><p>Os princípios clássicos que regulam a autonomia privada e a igualdade for-</p><p>mal são: princípio da força obrigatória do contrato e princípio da autonomia privada</p><p>negocial. O princípio da força obrigatória do contrato consigna que é obrigatória a</p><p>observância do contrato pelas partes. Por isso, costuma-se dizer que o contrato</p><p>faz lei entre as partes. Contudo, esse princípio é mitigado pela teoria da imprevisão.</p><p>O princípio da autonomia privada negocial propicia que as partes autorregulem os</p><p>seus interesses. A função social do contrato tem natureza principiológica, é uma</p><p>cláusula geral em que se limita a autonomia privada: “Art. 421.  A liberdade contra-</p><p>tual será exercida nos limites da função social do contrato” (BRASIL, 2002a).</p><p>Dessa forma, afirma Paulo Lôbo (2022b) que toda atividade econômica deve</p><p>ser exercida conforme os ditames da justiça social. Por conseguinte, a ativi-</p><p>dade é livre, mas deve orientar-se para a realização da justiça social.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Em 2019, o Art. 421 foi acrescido de um parágrafo único, com a seguinte re-</p><p>dação: “Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção</p><p>mínima e a excepcionalidade da revisão contratual” (BRASIL, 2002a).</p><p>Não obstante a isso, os princípios constitucionais e a função social do contra-</p><p>to continuam a nortear as relações privadas. Como destaca Mello (2022b), há ainda</p><p>que se observar o Art. 2.035, parágrafo único do Código Civil: “Nenhuma convenção</p><p>prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos</p><p>por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.</p><p>79</p><p>FIGURA 12 – CONTRATOS</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>O princípio da boa-fé objetiva está expresso no Art. 422: “Os contratan-</p><p>tes são obrigados a guardar, na conclusão do contrato como em sua execução,</p><p>os princípios de probidade e boa-fé”. A boa-fé subjetiva é considerada um estado</p><p>psicológico, um desconhecimento. A boa-fé objetiva, por sua vez, tem conteúdo</p><p>ético, consiste em uma regra de conduta.</p><p>ATENÇÃO</p><p>“Ladeando, pois, esse dever jurídico principal, a boa-fé objetiva impõe também</p><p>a observância de deveres jurídico anexos ou de proteção, não menos relevan-</p><p>tes, a exemplo dos deveres de lealdade e confiança, assistência, confidencia-</p><p>lidade ou sigilo, informação etc.” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p. 997).</p><p>Denomina-se violação dos deveres anexos quando há violação positiva do</p><p>contrato. Em outras palavras, é uma espécie de inadimplemento (Enunciado 24 da</p><p>I Jornada de Direito Civil) (BRASIL, 2002b, p. 40).</p><p>2.1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS</p><p>O contrato resulta da manifestação da vontade das partes. A proposta, em</p><p>regra, obriga o proponente (Art. 427). Os contratos vinculam apenas os contraentes</p><p>e em relação a eles surte os seus efeitos. Pode-se fazer estipulação em favor de</p><p>terceiro, prevista no Código Civil de 2002 (Art. 436); há a promessa de fato de ter-</p><p>ceiro, e essas são algumas das exceções previstas em lei. Há prazo para que a outra</p><p>parte manifeste interesse, caso contrário deixará de ser obrigatória a proposta (Art.</p><p>428) (BRASIL, 2002a).</p><p>80</p><p>FIGURA 13 – PROPOSTA POR TELEFONE</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>O prazo da proposta varia se as pessoas estão presentes ou ausentes. A</p><p>proposta entre presentes é considerada quando as pessoas estão em contato di-</p><p>reto uma com a outra ou quando a resposta pode ser dada imediatamente, como</p><p>em uma ligação telefônica e em salas virtuais. Na proposta entre ausentes, as</p><p>pessoas não estão em contato direto e imediato, ela pode ser enviada pelo correio</p><p>ou por e-mail.</p><p>QUADRO 9 – PRAZOS DAS PROPOSTAS</p><p>Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:</p><p>I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se tam-</p><p>bém presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;</p><p>II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a</p><p>resposta ao conhecimento do proponente;</p><p>III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;</p><p>IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retrata-</p><p>ção do proponente.</p><p>FONTE: Brasil (2002)</p><p>A oferta ao público é dirigida para um número indeterminado de pessoas</p><p>e equivale a uma proposta se houver os requisitos de um contrato (Art. 429). A</p><p>revogação da proposta pode se dar pela mesma via em que foi feita a oferta, mas</p><p>essa possibilidade deve constar na oferta apresentada (Art. 429, Parágrafo Único</p><p>do Código Civil).</p><p>A aceitação é a manifestação de vontade que deve ser externalizada sem</p><p>vícios de consentimento, sob pena de ser anulada. Aceita a proposta fora do prazo</p><p>com adições, restrições ou modificação, será considerada nova proposta (Art. 431).</p><p>Considera-se celebrado o contrato no lugar em que foi proposto (Art. 435). Trans-</p><p>fere-se a proposta aos sucessores caso o proponente venha a falecer, desde que</p><p>não seja uma prestação personalíssima e infungível (BRASIL, 2002a).</p><p>81</p><p>FIGURA 14 – PROPOSTA E ACEITAÇÃO</p><p>FONTE: . Acesse em: 1 jun. 2022.</p><p>Agora serão apresentadas algumas das classificações dos contratos. Eler</p><p>podem ser unilaterais, bilaterais ou plurilaterais, e essa classificação diz respeito às</p><p>obrigações para as partes contratantes.</p><p>Os contratos unilaterais criam obrigações apenas para uma das partes; nos</p><p>contratos bilaterais, as obrigações são recíprocas e interdependentes, como no</p><p>contrato de compra e venda. O contrato plurilateral cria pluralidade de obrigações</p><p>para as partes e pode-se citar como exemplo a constituição de uma sociedade.</p><p>Os contratos podem ser onerosos ou gratuitos. No primeiro, as partes têm</p><p>uma prestação a cumprir (uma diminuição patrimonial) e ambas têm uma vanta-</p><p>gem (recebem algo). Há o contrato de adesão, em que as cláusulas estão preesta-</p><p>belecidas, e o contrato paritário, em que as partes discutem as cláusulas contra-</p><p>tuais anteriormente. Há também o denominado contrato-tipo, no qual as cláusulas</p><p>também são prefixadas, contudo, foram discutidas entre os contratantes.</p><p>Contratos podem ser consensuais, reais, formais e solenes. No contrato</p><p>consensual, há o consentimento das partes. No contrato real, por sua vez, deve</p><p>ser entregue alguma coisa, bem como deve existir o consentimento das partes. Os</p><p>contratos formais fazem-se necessários à vontade das partes e à forma prevista</p><p>em lei. Por fim, o contrato solene exige que a vontade seja externalizada, como de-</p><p>termina a lei. Por último, a classificação dos contratos pode ser típica e o contrato</p><p>está regulado em lei. O contrato atípico ou inominado não tem uma regulamenta-</p><p>ção específica no ordenamento jurídico.</p><p>A fase preliminar do contrato confere a possibilidade de as partes exigirem o</p><p>seu cumprimento. Pode ser exigido que se assine o contrato, por exemplo. Podem</p><p>ser exigidos perdas e danos pelo não cumprimento e pode-se mencionar a situação</p><p>de compromisso de compra e venda irretratável. A fase do contrato preliminar tem</p><p>força vinculante e efeitos jurídicos (arts. 462-466) e deve ter todos os requisitos de</p><p>82</p><p>validade de um contrato definitivo. Podem as partes, na fase preliminar, firmar acor-</p><p>dos de confidencialidade quando trocam informações estratégicas que não devem</p><p>se tornar públicas (BRASIL, 2002a).</p><p>No contrato de confidencialidade, as partes assumem uma obrigação nega-</p><p>tiva, ou seja, de não fazer. Portanto, as partes devem se abster de divulgar</p><p>para terceiros as informações que tenham obtido na fase de negociações</p><p>preliminares. A obrigação persiste ainda que não se realize o contrato futuro</p><p>(SCHREIBER, 2022).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Na fase contratual ou do contrato definitivo, a parte que não cumpre o que</p><p>foi combinado responde pelo descumprimento (Art. 389) (BRASIL, 2002a). Na so-</p><p>ciedade contemporânea há os contratos eletrônicos, que são firmados em ambien-</p><p>te virtual. A manifestação de vontade nesses contratos não pode ser presumida.</p><p>Paulo Lôbo (2022b) ensina que os contratos eletrônicos não são uma nova espécie</p><p>de contrato, pois os elementos essenciais são os mesmos que os demais. Não se</p><p>trata de um contrato atípico. O que os torna diferentes é o meio em que se faz a</p><p>declaração de vontade. Dessa forma, “[...] qualquer contrato em espécie pode ser</p><p>utilizado no meio eletrônico ou, ainda, como contrato de consumo ou contrato de</p><p>adesão a condições gerais. Do mesmo modo, condutas negociais típicas também</p><p>estão presentes no meio virtual” (LÔBO, 2022b, p. 82).</p><p>De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, Súmula 308: “A hipoteca firma-</p><p>da entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebra-</p><p>ção da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes</p><p>do imóvel” (BRASIL, 2005, p. 3).</p><p>INTERESSANTE</p><p>Estipulação em favor de terceiro é uma exceção ao princípio de que o contra-</p><p>to só vincula as partes, ou seja, do princípio da relatividade do contrato. Nesse caso,</p><p>estipula-se um benefício a favor de terceiro (Art. 436). Pode-se citar o seguro de</p><p>vida, em que se beneficia um terceiro em caso de falecimento do segurado. Distin-</p><p>guem-se essas situações da seguinte forma: “[...] enquanto a estipulação em favor</p><p>de terceiro traz benefícios ao não contratante – que tem, em certas hipóteses, o</p><p>direito de exigir seu cumprimento –, a promessa de fato de terceiro não gera nenhum</p><p>efeito em relação a este, o qual não se obriga” (SCHREIBER, 2022, p. 957). A promes-</p><p>83</p><p>sa por fato de terceiro consiste em uma obrigação na qual o promitente faz em face</p><p>do promissário de obter uma prestação de um terceiro (Art. 439) (BRASIL, 2002a).</p><p>O contrato com pessoa a declarar consiste naquele em que uma das partes</p><p>tem a possibilidade de indicar outra pessoa para figurar como contratante (Art.</p><p>467). Trata-se de uma cessão de posição contratual que foi anteriormente estipu-</p><p>lada entre os contratantes originais (BRASIL, 2002a).</p><p>2.1.1 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS</p><p>Existem diversas maneiras pelas quais pode ocorrer a extinção dos con-</p><p>tratos. Na extinção normal de um contrato verifica-se que houve a execução do</p><p>que as partes estipularam. A extinção de maneira anormal do contrato decorre da</p><p>nulidade, anulabilidade, redibição e do exercício do direito de arrependimento, e</p><p>são causas que ocorrem anteriormente ou são concomitantes à formação de um</p><p>contrato (MELLO, 2022b, 192).</p><p>ATENÇÃO</p><p>Ao adquirir coisa defeituosa, é possível redibir o contrato em virtude de um</p><p>vício oculto (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022).</p><p>A resilição, a resolução e a rescisão extinguem o contrato após a sua for-</p><p>mação, o que se denominada de dissolução contratual. A resilição do contrato,</p><p>também denominada de resilição unilateral, ocorre quando há uma declaração de</p><p>vontade de uma ou das duas partes a fim de extinguir o contrato. Na resilição bila-</p><p>teral ou distrato, há um acordo entre ambos os contratantes.</p><p>A resilição unilateral pode ser feita mediante denúncia notificada à outra par-</p><p>te (Art. 473). A resolução do contrato decorre de um descumprimento dele. Conside-</p><p>ra-se a rescisão contratual como o desfazimento de um contrato (BRASIL, 2002a).</p><p>“Sob a expressão ‘descumprimento’ compreende-se o inadimplemento tanto</p><p>culposo quanto involuntário e, bem assim, a inexecução absoluta e relativa”</p><p>(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022a, p. 437).</p><p>IMPORTANTE</p><p>O distrato também é conhecido como resilição bilateral e deve ser feito pela</p><p>mesma forma exigida para o contrato (Art. 472). Observa-se o Art. 108 do CC/2002</p><p>se exigida alguma solenidade para a realização do</p><p>negócio jurídico.</p><p>84</p><p>FIGURA 15 – EXTINÇÃO DO CONTRATO</p><p>FONTE: . Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>A cláusula resolutiva prevê no próprio contrato que ele será extinto se hou-</p><p>ver inadimplemento. Vejamos: “Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de</p><p>pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial” (BRASIL, 2002a).</p><p>A cláusula resolutiva tácita encontra-se implícita, pois decorre do inadimple-</p><p>mento (MELLO, 2022b).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Por fim, a parte pode pedir a resolução do contrato caso não opte por exigir</p><p>o cumprimento dele (Art. 475). De qualquer forma, há o direito de exigir perdas e</p><p>danos pelo inadimplemento. A resolução contratual por onerosidade excessiva (Art.</p><p>478) não se trata de um inadimplemento das partes propriamente dito, mas de um</p><p>desequilíbrio superveniente do contrato (BRASIL, 2002a).</p><p>Entende a doutrina que para a resolução do contrato por onerosidade ex-</p><p>cessiva se deve observar os seguintes requisitos: “(a) contrato ‘de execução con-</p><p>tinuada ou diferida’; (b) excessiva onerosidade para uma das partes; (c) ‘extrema</p><p>vantagem’ da outra parte; e (d) ‘em virtude de acontecimentos extraordinários e</p><p>imprevisíveis” (SCHREIBER, 2022, p. 1010). O contrato de execução continuada ou</p><p>diferida consiste no cumprimento dele se perdurar no tempo.</p><p>85</p><p>De acordo com o Enunciado nº 365 da IV Jornada de Direito Civil: “A extre-</p><p>ma vantagem do Art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental</p><p>da alteração das circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou</p><p>revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua</p><p>demonstração plena” (BRASIL, 2007, p. 45).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Sobre acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, pode dizer que:</p><p>[...] se o desequilíbrio do contrato é exorbitante, isso por si só deve fa-</p><p>zer presumir a imprevisibilidade e extraordinariedade dos antecedentes</p><p>causais que conduziram ao desequilíbrio. O que se afigura indispensável</p><p>à atuação da ordem jurídica é que o desequilíbrio seja suficientemente</p><p>grave, afetando fundamentalmente o sacrifício econômico representa-</p><p>do pelas obrigações assumidas939 (SCHREIBER, 2022, p. 1024).</p><p>Nesses casos, é possível que as partes consigam conservar a execução do</p><p>contrato, aplicando-se o princípio da conservação dos contratos. Assim, o réu mo-</p><p>difica equitativamente as condições do contrato para evitar a sua resolução (GAR-</p><p>CIA JUNIOR, 2021, p. 140).</p><p>A exceção do contrato não cumprido não se trata de meio de extinção dele,</p><p>mas um meio de defesa a fim de que a outra parte não possa exigir o cumprimento</p><p>pelo outro sem que tenha antes cumprido a sua obrigação (Art. 476). Por conse-</p><p>guinte, trata-se de uma defesa e acarreta a suspensão da exigibilidade da obriga-</p><p>ção do contrato (BRASIL, 2002a).</p><p>Convém destacar que ao contratante que se recusa a cumprir uma obriga-</p><p>ção principal em virtude de ter sido descumprida uma obrigação acessória não cabe</p><p>a exceção. Por exemplo, há a compra e venda de um automóvel, mas o vendedor</p><p>deixa de entregar o manual do veículo. O comprador entende que houve um des-</p><p>cumprimento da outra parte e deixa de efetuar o pagamento da parcela referente</p><p>à compra do veículo (SCHREIBER, 2022, p. 1039). Uma outra situação diz respeito</p><p>às prestações interdependentes, em que se aplica “[...] a teoria do adimplemento</p><p>substancial, não se admitindo a suspensão da exigibilidade diante de descumpri-</p><p>mento de pouca importância” (SCHREIBER, 2022, p. 1039).</p><p>É importante esclarecer que o adimplemento substancial consiste em não</p><p>ser causa para a extinção de um contrato se existir um descumprimento conside-</p><p>rado irrisório, por exemplo, se houve a estipulação de um contrato em 36 (trinta</p><p>e seis) parcelas, mas quando do pagamento das duas últimas a pessoa teve um</p><p>86</p><p>problema de saúde e não pôde efetuar o pagamento delas dentro do prazo. Então,</p><p>durante toda a vigência do contrato a pessoa cumpre as suas obrigações, mas por</p><p>uma eventualidade atrasa, não pode ser causa para a uma atitude desproporcional.</p><p>Assim, já tem sido o entendimento jurisprudencial há algum tempo. Não se defere</p><p>a reintegração de posse de um carro se a pessoa deixou de pagar as seis últimas</p><p>parcelas de um contrato. Essa situação não tem o condão de resolver o contrato</p><p>(Recurso Especial 1581505/SC).</p><p>Os vícios redibitórios também extinguem os contratos e são denominados</p><p>de redibição quando existirem vícios em um bem objeto de contrato comutativo,</p><p>doação onerosa, por exemplo. Conceitua-se vício redibitório aquele vício ou defeito</p><p>oculto que torne a coisa imprópria para o uso a que se destina (Art. 441) ou, ainda,</p><p>diminua o valor dela. “A compra de um carro com defeito no limpador de para-brisa</p><p>ou de um apartamento com falhas em sua instalação hidráulica são exemplos de</p><p>contratações maculadas por vícios redibitórios” (SCHREIBER, 2022, p. 1044).</p><p>87</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• Os principais princípios que regulam a autonomia privada e a igualdade formal</p><p>são o princípio da força obrigatória do contrato e o princípio da autonomia pri-</p><p>vada negocial.</p><p>• O contrato resulta da manifestação da vontade das partes, a partir de uma</p><p>proposta.</p><p>• A proposta entre presentes é considerada quando as pessoas estão em contato</p><p>direto uma com a outra e a resposta pode ser dada imediatamente.</p><p>• Na proposta entre ausentes, as pessoas não estão em contato direto e imediato;</p><p>por exemplo, a proposta enviada pelo correio ou e-mail.</p><p>• A resilição, a resolução e a rescisão extinguem o contrato após a sua formação.</p><p>• A resilição do contrato decorre de uma declaração de vontade de uma ou das</p><p>duas partes a fim de extinguir o contrato.</p><p>• Rescisão contratual significa o desfazimento de um contrato em virtude de um</p><p>descumprimento dele.</p><p>• O princípio da boa-fé objetiva consta no Art. 422: “Os contratantes são obri-</p><p>gados a guardar, assim, na conclusão do contrato como em sua execução, os</p><p>princípios de probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002a).</p><p>• Considera-se boa-fé subjetiva um estado psicológico, um desconhecimento.</p><p>Tem conteúdo ético, consiste em uma regra de conduta.</p><p>• A cláusula resolutiva tácita encontra-se implícita, haja vista que consiste em um</p><p>inadimplemento</p><p>• Há o direito de exigir perdas e danos pelo inadimplemento.</p><p>88</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1. Sobre a classificação dos contratos, tem-se que: “Classificações tendem</p><p>[...] a estimular um tratamento estrutural e estático das relações contra-</p><p>tuais, em oposição a um tratamento funcional e dinâmico, mais consen-</p><p>tâneo com o Direito Civil contemporâneo” (SCHREIBER, 2022, p. 850).</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>FONTE: SCHREIBER, A. Manual de direito contemporâneo. 5. ed. São</p><p>Paulo: SaraivaJur, 2002. p. 850.</p><p>a. No contrato real há a entrega de alguma coisa, bem como há o</p><p>consentimento das partes.</p><p>b. Os contratos solenes têm-se a vontade das partes e a forma pre-</p><p>vista em lei, por isso não precisam que a vontade seja externali-</p><p>zada, como determina a lei.</p><p>c. Nos contrato de adesão, as partes discutem as cláusulas contra-</p><p>tuais previamente.</p><p>d. No contrato-tipo, as cláusulas não estão prefixadas e foram dis-</p><p>cutidas entre os contratantes.</p><p>2. Em relação aos princípios dos contratos, pode-se dizer que: “Toda essa</p><p>trajetória histórica do contrato reflete-se nos princípios do direito con-</p><p>tratual. Os três princípios do direito dos contratos, forjados no liberalismo</p><p>jurídico, são (a) a liberdade de contratar; (b) a obrigatoriedade dos contra-</p><p>tos; e (c) a relatividade dos contratos”. Com base nessa afirmação, analise</p><p>as sentenças a seguir (SCHREIBER, 2002, p. 812):</p><p>FONTE: SCHREIBER, A. Manual de direito contemporâneo. 5. ed. São</p><p>Paulo: SaraivaJur, 2002. p. 812.</p><p>I. A função social do contrato tem natureza principiológica, trata-se</p><p>de uma cláusula geral em que se limita a autonomia privada.</p><p>II. Nas relações contratuais privadas, não prevalece o princípio da</p><p>intervenção.</p><p>III. O princípio da força obrigatória do contrato consigna que é obri-</p><p>gatória a observância do contrato pelas</p><p>partes. Equivale dizer que</p><p>o contrato faz lei entre as partes.</p><p>89</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e III estão corretas.</p><p>b. Somente a sentença II está correta.</p><p>c. As sentenças II e III estão corretas.</p><p>d. Somente a sentença III está correta.</p><p>3. O contrato resulta da manifestação da vontade das partes; a proposta,</p><p>em regra, obriga o proponente. Contudo, existem prazos para que a ou-</p><p>tra parte manifeste interesse, caso contrário deixará de ser obrigatória a</p><p>proposta. Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:</p><p>( ) Entende-se que a proposta entre presentes é aquela em que pessoas</p><p>estão em contato direto uma com a outra e a resposta pode ser dada</p><p>imediatamente.</p><p>( ) A proposta entre ausentes ocorre nas situações em que as pessoas</p><p>não estão em contato direto e imediato.</p><p>( ) A oferta ao público é dirigida para um número indeterminado e não</p><p>pode ser revogada.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. V – F – F.</p><p>b. V – V – F.</p><p>c. F – V – F.</p><p>d. F – F – V.</p><p>4. Considera-se extinção normal de um contrato quando se verifica que</p><p>houve a execução do que as partes estipularam. A extinção anormal do</p><p>contrato decorre da nulidade e anulabilidade, por exemplo, são causas</p><p>que ocorrem anteriormente ou concomitantemente à formação de um</p><p>contrato. Disserte sobre a extinção de um contrato.</p><p>5. O princípio da boa-fé objetiva está expresso no Art. 422: “Os contratantes</p><p>são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua</p><p>execução, os princípios de probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002a). Disserte</p><p>sobre a boa-fé objetiva e a boa-fé subjetiva.</p><p>91</p><p>TÓPICO 3</p><p>RESPONSABILIDADE</p><p>CIVIL</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste último tópico será abordado o tema da responsabilidade civil, a</p><p>qual decorre de uma violação de uma norma civil. Ao causador do dano há o</p><p>dever de indenizar.</p><p>A responsabilidade civil pode ser contratual (violação de um contrato) ou</p><p>extracontratual (violação de uma norma legal). O abuso de direito também tem</p><p>como consequência a responsabilidade civil, basta a ilicitude objetiva (Art. 187 do</p><p>Código Civil). Portanto, na responsabilidade civil:</p><p>[...] o agente que cometeu o ilícito tem a obrigação de reparar o dano</p><p>patrimonial ou moral causado, buscando restaurar o status quo ante,</p><p>obrigação esta que, se não for mais possível, é convertida no pagamento</p><p>de uma indenização (na possibilidade de avaliação pecuniária do dano)</p><p>ou de uma compensação (na hipótese de não se poder estimar patrimo-</p><p>nialmente este dano) [...] (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p. 1856).</p><p>Diante disso, a responsabilização visa reparar o dano causado. Por conse-</p><p>guinte, a reponsabilidade civil exerce três funções, basicamente: a de compensar</p><p>a vítima pelo dano que sofreu, punir o causador do dano, e, por último desmotivar</p><p>socialmente a conduta lesiva (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022).</p><p>A responsabilidade pode advir de um dano causado por ato lícito ou um ato</p><p>ilícito.</p><p>2 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL</p><p>Aqui na responsabilidade civil, assim como foi estudado em outros temas,</p><p>como na formação dos negócios jurídicos e dos contratos, a voluntariedade tam-</p><p>bém é importante. Além disso, a conduta humana pode ser positiva ou negativa,</p><p>em outras palavras, pode advir de uma ação ou uma omissão que causa um dano.</p><p>Como visto na Unidade 1, o ato ilícito decorre da violação de um direito que</p><p>causa o dano, e assim determina o Art. 186: “Aquele que, por ação ou omissão vo-</p><p>92</p><p>luntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda</p><p>que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002a).</p><p>Nota-se que a voluntariedade é importante, não significa a intenção de pra-</p><p>ticar o dano, mas ter consciência do que se pratica. À vista disso “[...] nessa cons-</p><p>ciência, entenda-se o conhecimento dos atos materiais que se está praticando,</p><p>não se exigindo, necessariamente, a consciência subjetiva da ilicitude (GAGLIANO;</p><p>PAMPLONA FILHO, 2022, p. 1903).</p><p>Portanto, há um fato jurídico antecedente que pode ser lícito ou ilícito, e o</p><p>fato é considerado um fato jurídico consequente.</p><p>A eficácia jurídica em consequência do dano é causada pela conduta que</p><p>acarreta responsabilidade civil, ou seja, trata-se de uma relação jurídica obrigacional.</p><p>Por fim, há o ressarcimento dos danos, que é considerado a eficácia jurídica reflexa.</p><p>ATENÇÃO</p><p>Vê-se, portanto, que, sem o condão da voluntariedade, não há que se falar</p><p>em ação humana, e, muito menos, em responsabilidade civil (GAGLIANO;</p><p>PAMPLONA FILHO, 2022).</p><p>Os elementos da responsabilidade civil são: conduta humana; nexo de cau-</p><p>salidade; e dano ou prejuízo. O dano resulta de uma lesão a um interesse jurídico, o</p><p>qual pode ser patrimonial ou um dano moral. Podem ser assim conceituados:</p><p>O dano patrimonial é entendido como a lesão a um interesse jurídico</p><p>passível de valoração econômica. O dano moral, por sua vez, deve ser</p><p>compreendido como a lesão a um interesse jurídico atinente à persona-</p><p>lidade humana, e, por isso mesmo, insuscetível de valoração econômica</p><p>(SCHREIBER, 2022, p. 1322).</p><p>Assim determina o Código Civil de 2002: Art. 186 – Ato ilícito = dano + vio-</p><p>lação de um direito.</p><p>Os danos patrimoniais dividem-se em danos emergentes e lucros cessantes</p><p>e, segundo o artigo: “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas</p><p>e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que</p><p>razoavelmente deixou de lucrar” (BRASIL, 2002a).</p><p>Em vista disso, os danos emergentes são aqueles em que efetivamente</p><p>se perdeu e os lucros cessantes os que razoavelmente se deixou de lucrar, por</p><p>exemplo, o caminhoneiro que tem o seu veículo envolvido em acidente e não pode</p><p>trabalhar até que ele seja consertado. Nesse caso, o trabalhador perde os dias de</p><p>trabalho, ou seja, os lucros cessantes.</p><p>93</p><p>Existe a possibilidade de haver indenização em situações em que o dano é</p><p>reflexo ou ricochete. Um exemplo de uma situação em que é possível a indenização</p><p>em caso de dano ser reflexo é o seguinte: “[...] o pai de família que vem a perecer</p><p>por descuido de um segurança de banco inábil, em uma troca de tiros. Note-se que,</p><p>a despeito de o dano haver sido sobreido diretamente pelo sujeito que pereceu, os</p><p>filhos, alimentados, sofreram os seus reflexos, por ausência do sustento paterno”</p><p>(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b, p. 1944).</p><p>Nexo de causalidade é o liame ou vínculo entre o agente e o resultado dano-</p><p>so. Assim prescreve o Art. 403: “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor,</p><p>as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito</p><p>dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual” (BRASIL, 2002a).</p><p>FIGURA 16 – NEXO DE CAUSALIDADE</p><p>Agente</p><p>Conduta</p><p>Dano</p><p>Prejuízo</p><p>Vínculo</p><p>FONTE: A autora</p><p>A vítima que contribui para o dano terá a indenização reduzida, na propor-</p><p>ção em contribuir para ele. Denomina-se de concorrência de causas ou de culpas.</p><p>Assim dispõe o Código Civil de 2002: “Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culpo-</p><p>samente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a</p><p>gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”.</p><p>As concausas, por sua vez, ocorrem anteriormente, concomitantemente ou</p><p>supervenientemente ao antecedente que deflagrou a cadeia causal ao evento da-</p><p>noso (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b).</p><p>É o clássico exemplo do sujeito que, ferido por outrem, é levado</p><p>de ambulância para o hospital, e falece no caminho, por força do</p><p>tombamento do veículo. Esta concausa, embora relativamente indepen-</p><p>dente em face da conduta do agente infrator (se este não houvesse feri-</p><p>do a vítima, esta não estaria na ambulância, e não morreria no acidente),</p><p>determina, por si só, o evento fatal, de forma que o causador do ferimen-</p><p>to apenas poderá ser responsabilizado, nas searas civil e criminal, pela</p><p>lesão corporal causada (GAGLIANO; FILHO, 2022, p. 1979).</p><p>Diante disso, só haverá o rompimento do nexo causal se o dano advier de</p><p>concausa relativamente independente superveniente.</p><p>TÓPICO 1 DIREITO DAS COISAS ...........................................................................113</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................113</p><p>2 POSSE .............................................................................................................114</p><p>3 DIREITOS REAIS ............................................................................................116</p><p>3.1 PROPRIEDADE ............................................................................................ 117</p><p>3.1.1 CONDOMÍNIO .............................................................................................119</p><p>3.1.2 DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS ..................................... 120</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................... 123</p><p>AUTOATIVIDADE ..................................................................................................... 124</p><p>TÓPICO 2 DIREITO DE FAMÍLIA ............................................................................127</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................127</p><p>2 CASAMENTO ................................................................................................. 128</p><p>2.1 UNIÃO ESTÁVEL ......................................................................................... 132</p><p>3 TUTELA E CURATELA ................................................................................ 134</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 136</p><p>AUTOATIVIDADE ..................................................................................................... 137</p><p>TÓPICO 3 DIREITO DAS SUCESSÕES ................................................................ 139</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 139</p><p>2 SUCESSÃO EM GERAL ...............................................................................140</p><p>2.2 SUCESSÃO LEGÍTIMA E TESTAMENTÁRIA ......................................... 142</p><p>3 INVENTÁRIO E PARTILHA ...........................................................................147</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ...........................................................................148</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................... 151</p><p>AUTOATIVIDADE ..................................................................................................... 152</p><p>REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 154</p><p>UNIDADE 1</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• compreender o conceito de pessoa natural, desde a concepção até a ex-</p><p>tinção da personalidade jurídica;</p><p>• compreender o conceito de pessoa jurídica e os requisitos para a sua</p><p>constituição;</p><p>• entender o conceito de domicílio e seus elementos;</p><p>• conhecer o conceito de bens e a classificação deles;</p><p>• compreender o conceito de fatos jurídicos, os seus elementos e a sua</p><p>classificação;</p><p>• entender as causas de invalidade e os atos ilícitos dos negócios jurídicos;</p><p>• compreender o conceito e os prazos de prescrição e decadência;</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará</p><p>autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado</p><p>TÓPICO 1 – Das Pessoas</p><p>TÓPICO 2 – Do Domicílio E Dos Bens</p><p>TÓPICO 3 – Dos Fatos Jurídicos</p><p>PARTE GERAL DO</p><p>CÓDIGO CIVIL</p><p>11</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>No Tópico 1, serão abordados os temas da pessoa natural e da pessoa jurí-</p><p>dica, previstos a partir do Art. 1º do Código Civil de 2002, o qual deve ser interpre-</p><p>tado à luz da Constituição de 1988. O referido Código tem como objetivo reger as</p><p>relações privadas. Ademais, essa legislação tem uma abordagem com uma visão</p><p>menos patrimonialista e menos individualista do que o Código Civil de 1916.</p><p>O jurista Miguel Reale, que supervisionou a Comissão Elaboradora e Reviso-</p><p>ra do Código Civil de 2002, trouxe os princípios fundamentais desse Código, quais</p><p>sejam: o princípio da operabilidade; o princípio da concretude; o princípio da socia-</p><p>lidade; e o princípio da eticidade.</p><p>Em síntese, pode-se dizer que significa que o princípio da socialidade visa</p><p>assegurar que a implementação dos institutos do direito civil observe os direitos</p><p>da coletividade e não apenas uma visão individualista daqueles envolvidos direta-</p><p>mente na relação jurídica. O princípio da eticidade propicia que as condutas sejam</p><p>regidas pela boa-fé e pela ética, assim como pela interpretação do Direito Civil.</p><p>Por fim, o princípio da operabilidade objetiva que os institutos sejam acessíveis de</p><p>compreender e de aplicar.</p><p>2 DAS PESSOAS NATURAIS</p><p>Na lei, não há um conceito de pessoa natural; apenas afirma-se que é ela</p><p>toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil (BRASIL, 2002, Art. 1º), a</p><p>qual é dotada de personalidade jurídica (BRASIL, 2002, Art. 2º). Pode-se afirmar</p><p>que se considera pessoa natural o ser humano e a sua dignidade como fundamen-</p><p>tos do Estado Democrático de Direito, Art. 1º, III (MELLO, 2022).</p><p>TÓPICO 1</p><p>DAS PESSOAS</p><p>12</p><p>2.1 CONCEITO DE PESSOA NATURAL</p><p>As pessoas jurídicas assim, como as pessoas naturais, são sujeitos de di-</p><p>reitos. Contudo, os animais não são dotados de personalidade jurídica, não são su-</p><p>jeitos de direitos nem de deveres. Há uma diferenciação entre a personalidade e a</p><p>capacidade. Entende-se que pode existir a personalidade sem a capacidade. Isso</p><p>se verifica nos casos dos nascituros, uma vez que ainda não têm capacidade.</p><p>A personalidade civil da pessoa natural inicia-se com o nascimento com</p><p>vida; no entanto, a própria lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos dos nas-</p><p>cituros (BRASIL, 2002, Art. 2º). Portanto, desde a concepção a pessoa natural pode</p><p>auferir direitos e ser sujeito de obrigações, bem como o nascituro (MELLO, 2022, p.</p><p>125). A aptidão de uma pessoa para ser titular de direitos e deveres é denominada</p><p>capacidade de direito ou capacidade de gozo (MELLO, 2022, p. 137).</p><p>QUADRO 1 – O QUE COMPÕE A CAPACIDADE PLENA</p><p>Capacidade plena:</p><p>Capacidade de direito</p><p>+</p><p>Capacidade de fato</p><p>ou de exercício</p><p>FONTE: A autora</p><p>Em relação à capacidade de fato ou de exercício, por sua vez, é a aptidão</p><p>para a prática de atos jurídicos, mediante os quais é possível obter, modificar ou</p><p>extinguir relações jurídicas (MELLO, 2022).</p><p>Legitimidade e capacidade são termos com significados diferentes. Segundo</p><p>Mello (2022, p. 138, grifos do autor): “A legitimidade é a posição em que a pes-</p><p>soa se encontra em relação a um interesse, bens ou situação jurídica, sobre</p><p>os quais possa agir. Melhor dizendo, a legitimidade é a possibilidade que a</p><p>pessoa tem de agir, de manifestar sua vontade, autorizada pela lei, sobre um</p><p>interesse, bens ou situação jurídica”.</p><p>IMPORTANTE</p><p>A incapacidade significa que a pessoa não pode realizar atos da vida civil. O</p><p>incapaz tem restrições para a realização de tais atos. As incapacidades dividem-se</p><p>entre absoluta e relativa nos Arts. 3º e 4º, respectivamente.</p><p>13</p><p>QUADRO 2 – INCAPACIDADES</p><p>Absolutamente incapazes</p><p>Menores de 16 (dezesseis) anos (Art. 3º).</p><p>* A incapacidade dos indígenas será</p><p>regulada por legislação especial.</p><p>Relativamente incapazes</p><p>Maiores de 16 (dezesseis) anos e</p><p>menores de 18 (dezoito) anos.</p><p>Ébrios habituais e viciados em</p><p>tóxicos.</p><p>Aqueles que, por causa transitória ou</p><p>permanente, não puderem exprimir</p><p>sua vontade.</p><p>Os pródigos.</p><p>FONTE: A autora</p><p>Para a prática de atos civis, o incapaz será assistido ou representado. São</p><p>considerados absolutamente incapazes os menores de 16 (dezesseis) anos, que</p><p>deverão ser representados. Portanto, os atos civis a serem praticados serão reali-</p><p>zados por intermédio de seu representante legal.</p><p>ATENÇÃO</p><p>“É inadmissível a declaração de incapacidade absoluta</p><p>Existem situações que ex-</p><p>cluem a responsabilidade civil, são elas: o estado de necessidade, legítima defesa,</p><p>exercício regular de direito e estrito cumprimento do dever legal, caso fortuito e</p><p>força maior, culpa exclusiva da vítima e fato de terceiro. Há ainda o abuso do direito</p><p>94</p><p>que também gera responsabilidade civil e se configura por um exercício irregular</p><p>de um direito ou o exercício imoderado. Trata-se de um conceito aberto: “Art. 187.</p><p>Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede mani-</p><p>festamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou</p><p>pelos bons costumes” (BRASIL, 2002a). Os termos fim econômico, social ou boa-fé</p><p>são conceitos indeterminado. Há duas espécies de boa-fé, a objetiva e a subjetiva.</p><p>A que interessa aqui é a boa-fé objetiva como regra de conduta. Em virtude disso:</p><p>Como princípio, é norma cogente se incorpora ao negócio jurídico, tendo</p><p>como consequência a nulidade de qualquer estipulação das partes que</p><p>a contrarie. Como regra de interpretação, infunde em todas as estipula-</p><p>ções das partes o sentido que melhor realiza os deveres de lealdade, de</p><p>probidade, de correção, de confiança (LÔBO, 2020, p. 663).</p><p>A propaganda abusiva, prevista no Código de Defesa do Consumidor (Lei</p><p>nº 9.078/1990), é considerada um ato abusivo, assim como a prática de spam pelo</p><p>correio eletrônico. Portanto, para a caracterização do abuso do direito há a neces-</p><p>sidade de dano, mas não de culpa. Trata-se de responsabilidade objetiva.</p><p>QUADRO 10 – RESUMO: ABUSO DE DIREITO</p><p>Abuso do direito</p><p>Exercício irregular de um direito (fins sociais, econômicos ou da boa-fé)</p><p>+</p><p>Dano</p><p>FONTE: A autora</p><p>A maneira como o ato é realizado é que causa a ilicitude.</p><p>2.1 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL</p><p>Como mencionado anteriormente, as espécies de responsabilidade civil são</p><p>contratuais e extracontratuais. A primeira tem previsão legal nos Arts. 389 e 395</p><p>do CC/2002. A responsabilidade extracontratual está prevista nos Arts. 186 a 188 e</p><p>927 e seguintes do CC/2002. Para a responsabilidade civil decorrente de um con-</p><p>trato basta demonstrar o inadimplemento. Diante disso, a violação do contrato é</p><p>um inadimplemento daquilo que tinha sido pactuado. A responsabilidade extracon-</p><p>tratual advém de um dever geral de não causar dano a ninguém.</p><p>A reponsabilidade civil pode ser objetiva ou subjetiva. A responsabilidade</p><p>subjetiva decorre de um dano causado por ato doloso ou culposo. Culpa signifi-</p><p>ca “ter natureza civil, se caracterizará quando o agente causador do dano atuar</p><p>com violação de um dever jurídico, normalmente de cuidado (como se verifica</p><p>nas modalidades de negligência ou imprudência)” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,</p><p>2022b, p. 1886).</p><p>95</p><p>Há hipóteses de responsabilidade civil por ato de terceiro, ou seja, indireta.</p><p>Nesse caso, a culpa é presumida em virtude de um dever geral de vigilância. Trata-</p><p>-se da responsabilidade civil objetiva. Portanto, “[...] segundo tal espécie de respon-</p><p>sabilidade, o dolo ou culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante</p><p>juridicamente, haja vista que somente será necessária a existência do elo de cau-</p><p>salidade entre o dano e a conduta do agente responsável, para que surja o dever de</p><p>indenizar” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b, p. 1886). Por exemplo, os danos</p><p>causados pelos filhos e os pais são responsáveis, ou o empregador é responsável</p><p>pelos atos de seus empregados (Art. 932). Além disso, o Art. 927 é uma cláusula</p><p>geral de responsabilidade civil. A responsabilidade civil objetiva visa a reparação de</p><p>danos em virtude da atividade exercida pelo agente. No entanto, pode-se discutir a</p><p>circunstância da culpa na responsabilidade objetiva a fim de discutir a culpa exclu-</p><p>siva da vítima (BRASIL, 2002a).</p><p>Na responsabilidade civil extracontratual, decorrente da violação de uma</p><p>norma, a culpa deve ser provada pela vítima. Por outro lado, na responsabilidade</p><p>contratual presume-se a culpa, basta a prova de que a obrigação não foi cumprida.</p><p>“A natureza da responsabilidade civil é uma sanção, ou seja, há uma compensação</p><p>pecuniária ou indenização (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b, p. 1873)”. O Art.</p><p>944 traz os critérios para a quantificação da indenização, conforme a extensão do</p><p>dano (BRASIL, 2002a).</p><p>QUADRO 11 – CRITÉRIOS PAR FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO</p><p>Critérios para reparação – art. 944 do CC</p><p>Extensão do dano</p><p>Condições socioeconômicas</p><p>Condições psicológicas</p><p>Grau de culpa do agente, de terceiro ou da vítima (art. 945 do CC)</p><p>FONTE: Garcia Junior (2021, p. 167)</p><p>Quanto à responsabilidade objetiva em virtude do risco da atividade: “Ha-</p><p>verá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos espe-</p><p>cificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do</p><p>dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem (BRASIL, 2002,</p><p>Art. 927, Parágrafo único). As atividades econômicas por sua natureza têm um risco</p><p>inerente. Há outras atividades, como de motorista, em que a pessoa está exposta</p><p>a riscos no seu cotidiano. O artigo referido anteriormente é uma cláusula aberta,</p><p>indeterminada, por isso devem ser analisados os contornos da “atividade normal-</p><p>mente desenvolvida”.</p><p>96</p><p>Diante disso, convém esclarecer que, se não for um caso de excludente de</p><p>responsabilidade, haverá a responsabilidade objetiva pelos danos que causar em</p><p>virtude de uma atividade exercida. Portanto, “[...] se o evento danoso era potencial-</p><p>mente esperado, em função da probabilidade estatística de sua ocorrência” haverá</p><p>responsabilidade objetiva (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b, p. 2039). Além</p><p>disso, há a possiblidade de um terceiro responder pelo dano em virtude de um vín-</p><p>culo contratual, legal ou jurídico. Denota-se que a responsabilidade por ato próprio</p><p>é aquela em que a pessoa que praticou a conduta responde pelo dano (Arts. 186 e</p><p>942). Em outros casos, uma pessoa responde por ato de terceiro (BRASIL, 2002a).</p><p>É possível pleitear o direito de regresso pelo fato de terceiro, tendo em vista</p><p>primeiro reparar a vítima. Contudo, se o terceiro causador do dano for seu descen-</p><p>dente, menor incapaz, absolutamente ou relativamente incapaz, não se aplica o di-</p><p>reito de regresso. Em relação ao incapaz, ele pode responder pelo dano que causar</p><p>se os responsáveis por ele não o puderem fazer ou não tiverem meio suficientes.</p><p>Trata-se de uma responsabilidade subsidiária do menor. Contudo, a indenização</p><p>paga pelo menor nessas situações não pode privá-lo do que for necessário para a</p><p>sua sobrevivência ou às pessoas que dele dependem.</p><p>QUADRO 12 – ARTIGO 932</p><p>Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:</p><p>I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;</p><p>II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;</p><p>III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes</p><p>competir, ou em razão dele;</p><p>IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins</p><p>de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;</p><p>V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.</p><p>FONTE: A autora</p><p>Vamos a um exemplo de responsabilidade civil por fato da coisa com base</p><p>nos Arts. 937 e 938 que versam sobre quem responde pelos danos na construção</p><p>de um prédio e quem responde sobre o que do prédio cair ou for lançado em lugar</p><p>indevido. A responsabilidade pelos fatos das coisas decorre de um dano causado</p><p>por um bem corpóreo em que não necessariamente há uma conduta humana</p><p>que provoque a situação. Há a hipótese de responsabilidade civil pela ruína de</p><p>edifício ou construção.</p><p>97</p><p>O dono do prédio ou da construção responsável pela ruína responde pela</p><p>falta de reparos (Art. 937 do Código Civil). “Admitida, portanto, a responsabilidade</p><p>civil objetiva, o proprietário somente se eximirá se provar a quebra do nexo causal</p><p>por uma das excludentes de responsabilidade, por exemplo, evento</p><p>fortuito ou de</p><p>força maior, ou, ainda, culpa exclusiva da vítima” (GAGLIANO, PAMPLONA FILHO,</p><p>2022b, p. 2093). Outra hipótese de responsabilidade pelo fato da coisa são as situa-</p><p>ções em que caia um objeto de um prédio (Art. 938 do Código Civil).</p><p>ATENÇÃO</p><p>Salienta-se que, diferentemente do que dispõe o artigo antecedente, a res-</p><p>ponsabilidade pelas coisas caídas ou lançadas não é necessariamente do</p><p>proprietário da construção, mas, sim, do seu habitante, atingindo, dessa for-</p><p>ma, também, o mero possuidor (locador, comodatário, usufrutuário etc.).</p><p>Indiscutivelmente, cuida-se de responsabilidade civil objetiva, pois o agente</p><p>só se exime provando não haver participado da cadeia causal dos acontecimentos</p><p>(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b). Há, ainda, a responsabilidade por fato de</p><p>animal presente no Art. 936 que diz que o detentor do animal terá que ressarcir o</p><p>dano por este causado, se não for possível provar culpa da vítima ou força maior. A</p><p>responsabilidade por fato do animal é objetiva, devido ao risco criado pelos animais.</p><p>Não se afasta a responsabilidade ainda que o dono ou o detentor do animal prove</p><p>que empregou todo o cuidado possível. Afasta-se a responsabilidade apenas se</p><p>provada a culpa da vítima ou a força maior. Exemplo: a vítima provoca o animal ou</p><p>o agride (SCHREIBER, 2022).</p><p>FIGURA 17 - RESPONSABILIDADE OBJETIVA</p><p>Conduta</p><p>Dano</p><p>FONTE: A autora</p><p>98</p><p>3 DANO MORAL</p><p>O dano moral é uma lesão que atinge um direito da personalidade. Por isso,</p><p>costuma-se dizer que o mero aborrecimento não é considerado dano moral. Os</p><p>professores Pablo Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2022b, p. 1959) conceituam</p><p>o dano moral desta forma:</p><p>O dano moral consiste na lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniá-</p><p>rio, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, pode-</p><p>mos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalís-</p><p>sima da pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo,</p><p>sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados</p><p>constitucionalmente.</p><p>O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento sumulado de que “inde-</p><p>pende de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de ima-</p><p>gem de pessoa com fins econômicos ou comerciais” (BRASIL, 2009b, p. 3). O dano</p><p>moral está previsto na Constituição da República de 1988 no Art. 5º, incisos V e X.</p><p>QUADRO 13 – PREVISÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE</p><p>1988</p><p>Artigo 5º da Constituição da República de 1988:</p><p>V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização mate-</p><p>rial, moral ou à imagem;</p><p>[...]</p><p>X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegura-</p><p>do o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;</p><p>FONTE: adaptado de Brasil (1988)</p><p>Conforme o Superior Tribunal de Justiça, Súmula nº 387 “É lícita a cumulação</p><p>das indenizações de dano estético e dano moral” (BRASIL, 2009a, p. 3).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Considera-se dano estético aquele que implica deformidade física, como</p><p>uma cicatriz, a perda de um dos sentidos, a amputação de um membro. Convém</p><p>esclarecer que há uma diferença entre dano moral indireto e dano moral reflexo. O</p><p>dano moral indireto recai sobre um objeto ou um interesse patrimonial, por isso, de</p><p>modo reflexo, o prejuízo ocorre na esfera extrapatrimonial, por exemplo, furto de</p><p>um objeto que tem valor afetivo para a pessoa, como um anel da avó furtado, ou</p><p>em ambiente de trabalho a pessoa sofre um rebaixamento funcional e tem prejuízo</p><p>financeiro, com efeitos morais (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022).</p><p>99</p><p>QUADRO 14 – DIFERENÇA ENTRE DANOS</p><p>Dano moral indireto Dano moral reflexo</p><p>Dano a um direito da personalidade Dano (moral ou material) da vítima ou de</p><p>pessoa próxima a ela.</p><p>FONTE: A autora</p><p>O pagamento no dano moral tem natureza jurídica de sanção, ou seja, é uma</p><p>“consequência lógico-normativa de um ato ilícito” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,</p><p>2022b, p. 1963). No que diz respeito à reparação do dano moral: “[...] não se deve es-</p><p>quecer de que a indenização abrange, pela causalidade direta e imediata, os danos</p><p>efetivamente causados pelo autor da conduta, não abrangendo os prejuízos agra-</p><p>vados nem os que poderiam ser evitados ou reduzidos mediante esforço razoável</p><p>da vítima” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022b, p. 1967).</p><p>Recomenda-se a leitura do artigo “Os artigos 421 e 421-A do Código Civil e</p><p>sua duvidosa aplicabilidade no judiciário”, haja vista que em 2019 houve a alteração</p><p>dos artigos 421 e 421-A do Código Civil de 2002 em virtude do advento da Lei nº</p><p>13.874/2019, que instituiu a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica.</p><p>100</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>OS ARTIGOS 421 E 421-A DO CÓDIGO CIVIL E SUA</p><p>DUVIDOSA APLICABILIDADE NO JUDICIÁRIO</p><p>Rosa Malena Gahlen Peixoto de Oliveira</p><p>Em breve fará dois anos que a Medida Provisória 881 foi editada. Promulga-</p><p>da em 30 de abril de 2019, posteriormente convertida na Lei 13.874/2019, veio com</p><p>a missão de iluminar o princípio constitucional da livre iniciativa. Embora alvo de</p><p>calorosas discussões, variadas opiniões e de quatro ADIs 6.156, 6.184, 6.217 e 6.528,</p><p>não é possível negar que, no mínimo, trata-se de uma “norma de reforço”.</p><p>Entre a escolha de um modelo de estado liberal e de um modelo de estado</p><p>social, a atual Constituição de 1988 preferiu ao Estado democrático de Direito, no</p><p>ideal de compatibilizar interesses e direitos encontrando na “democracia a solução</p><p>para administrar as tensões entre a liberdade e a igualdade” (FRAZÃO, 2020, p. 105).</p><p>Dentre outros exemplos de compatibilização de direitos/interesses pro-</p><p>movida pela Constituição Federal tem-se a livre iniciativa, ora como fundamento</p><p>da República (Art. 1º, inciso IV), ora como princípio da ordem econômica (Art. 170,</p><p>caput), sempre justaposta com a valorização do trabalho e com o compromisso</p><p>de proteger o meio ambiente, dar função social à propriedade privada, respeitar o</p><p>direito do consumidor, primar pela livre concorrência, dentre outros.</p><p>A livre iniciativa assegura o “direito à não intromissão do Estado” (MONCADA</p><p>apud NETO; FREITAS, 2020, p. 311) no sentido que o “exercício de atividades eco-</p><p>nômicas e profissionais por particulares deve ser protegido da coerção arbitrária</p><p>por parte do Estado [...]” (BRASIL, 2019), de forma que a liberdade seja a regra e a</p><p>restrição, a exceção.</p><p>Nessa ambiência, a lei da liberdade econômica objetivou, ao realçar o princí-</p><p>pio constitucional da livre iniciativa, resgatar o vetor liberdade também como uma</p><p>diretriz estatal, ensejando interpretações condizentes com o texto constitucional, a</p><p>fim de reequilibrar os pesos na balança, por isso Cyrino (2020, p. 206) explica que:</p><p>“de maneira alguma a edição da LLE implicará a transformação do Brasil numa</p><p>nação liberal ao estilo laissez-faire” até porque a Constituição tem o seu modelo</p><p>econômico bem delineado, mas segundo ainda o doutrinador “cada cidadão possui,</p><p>diante da Constituição, uma margem de liberdade qualificada para que possa defi-</p><p>nir sua própria capacidade de trabalhar e empreender”.</p><p>Nessa órbita de ideias a norma promoveu o resgate da autonomia das partes,</p><p>do pacta sunt servanda, do princípio do consensualismo, alterou a redação do Art.</p><p>421, do Código Civil, inserindo-lhe um parágrafo, assim como incluiu o Art. 421-A.</p><p>101</p><p>Os referidos dispositivos legais deixaram mais claro que, sim, as partes</p><p>contratantes são dotadas de liberdade (de contratar e a contratual) como entoa o</p><p>princípio da livre iniciativa. Evidentemente não se pode perder de vista as balizas</p><p>delineadas pela eticidade e pela socialidade pretendidas pelo Código Civil, notada-</p><p>mente o princípio da boa-fé objetiva (com todos os seus desdobramentos interpre-</p><p>tativos e integrativos) e da função social dos contratos, inafastáveis e, porque não</p><p>dizer, mandatórios nos dias atuais.</p><p>No entanto, quando o Art. 3º, inciso VIII, da Lei nº 13.874/2019, estabeleceu</p><p>como um direito essencial para o desenvolvimento e o crescimento econômicos a</p><p>garantia de que</p><p>os negócios jurídicos empresariais paritários sejam objeto de livre</p><p>estipulação das partes pactuantes, ele reconheceu a liberdade e também a ex-</p><p>pertise com que as partes desenvolvem suas atividades, quando mais profissio-</p><p>nalmente, afinal os “empresários devem ter total liberdade para realizar negócios</p><p>– desde que lícitos, obviamente – bem como assumir os riscos das contratações</p><p>malfeitas” (CRUZ, 2021, p. 751).</p><p>A ideia reforça a temática de que o “excesso de dirigismo social implica es-</p><p>vaziamento da liberdade por incremento do intervencionismo. Exagero na noção de</p><p>decisionismo liberal implica graves efeitos colaterais aos mais fracos e desigualda-</p><p>de” (CYRINO, 2020, p. 206).</p><p>Nesta perspectiva, a alteração promovida no Art. 421-A, do Código Civil, es-</p><p>tabeleceu como regra básica de interpretação que os contratos civis e empresariais</p><p>sejam presumidos como paritários e simétricos.</p><p>Note-se que desde 2002, o Enunciado nº 21 da I Jornada de Direito Comer-</p><p>cial, do Conselho da Justiça Federal, já orientava neste mesmo sentido dizendo</p><p>que nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em</p><p>vista a simetria natural das relações interempresariais (BRASIL, 2002b).</p><p>Isso porque, em linhas gerais, o contrato entre partes paritárias é (ou pelo</p><p>menos é o que se espera) o resultado de uma ampla negociação, refletida e sope-</p><p>sada, externando-se não só no consenso entre o acordado (princípio do consen-</p><p>sualismo) como no reconhecimento da obrigatoriedade do avençado (princípio da</p><p>força obrigatória do contrato).</p><p>Na exposição de motivos da Medida Provisória 881/2019, convertida poste-</p><p>riormente na Lei 13.874/2019 consta que: “mais de 60% das 500 maiores empresas</p><p>do mundo estão registradas especificamente no Estado de Delaware, EUA. Isso</p><p>se dá em razão de aquela jurisdição constituir um dos melhores ambientes para</p><p>o desenvolvimento e preservação do direito empresarial. [...] Essa medida rapida-</p><p>mente permitirá que grandes empresas se sintam seguras [...] os empresários terão</p><p>respeitados os termos que acertarem entre si, sem prejudicar a soberania nos as-</p><p>suntos que de fato afetem terceiros e a coletividade [...]” (BRASIL, 2019, p. 3)</p><p>102</p><p>Aqui importa considerar a temática sob a Análise Econômica do Direito, isto</p><p>porque segundo ainda aponta Ferreira (2020, p. 267) uma transação comercial se</p><p>desdobra em três fases, a primeira é encontrar um parceiro, seguida da fase de</p><p>negociação pela qual se alinham os interesses na relação comercial que poderá</p><p>resultar num acordo (contrato) que, por sua vez, deverá ser cumprido pelas partes</p><p>envolvidas sendo esta, portanto, a última fase.</p><p>Em todas essas fases existem custos que lhe são inerentes, quais sejam</p><p>“custos de informação, monitoramento, registro e execução de contratos e negó-</p><p>cios (como são os contratos e acordos empresariais)” (MAIOLINO; TIMM, p. 289), de</p><p>modo que qualquer fator externo à justa expectativa lançada pelas partes acaba</p><p>acarretando um incremento destes custos de transação os quais, infelizmente,</p><p>“tendem a elevar o custo social” (MAIOLINO; TIMM, p. 290).</p><p>Como consectário, não só se justifica a introdução do novel Art. 421-A,</p><p>como também a redação atribuída ao parágrafo único do Art. 421, todos do Código</p><p>Civil, ditando que: “nas relações contratuais privadas prevalecerão o princípio da</p><p>intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual”, pois com base na</p><p>mesma razão em que se deve presumir a paridade e a simetria das partes civis e</p><p>empresárias o legislador também visou a “combater o excessivo intervencionismo</p><p>e a reforçar o pacta sunt servanda, restringindo a possibilidade de o julgador alterar</p><p>a vontade expressada pelas partes no contrato” (FORGIONI, 2022, p. 277).</p><p>Evidentemente há críticas na redação e na abstração da norma, mas a jus-</p><p>tificativa da uma intervenção mínima e da excepcionalidade da revisão contratual</p><p>é perceber que “além da elevação dos custos de transação, a interferência judicial</p><p>pode incorrer em externalidades negativas, como por exemplo, os efeitos que se-</p><p>rão suportados indiretamente, por terceiros que venham a participar de futuras</p><p>negociações, já que o risco de relativização do estabelecido no contrato (ou até o</p><p>seu efetivo descumprimento) poderá ser repassado para a coletividade [...]” (AZOIA;</p><p>RIBEIRO, 2016. p.10).</p><p>Como sustenta Rosenvald (2020, p. 4), o princípio da intervenção mínima</p><p>deve ser lido a contrario sensu, para se compreender que se trata de “uma reação</p><p>democrática ao intervencionismo estatal desmensurado [...]” quando não haja cau-</p><p>sa que lhe justifique, tais como os contratos de consumo em que a assimetria e a</p><p>vulnerabilidade de uma das partes são presumidas.</p><p>É a ideia, repita-se, de encontrar um caminho do meio entre a liberdade</p><p>e o excesso de intervencionismo. É adequar a legislação à Constituição Federal</p><p>também com vistas ao princípio da livre iniciativa. Perceba-se que além do incre-</p><p>mento dos custos de transação, absolutamente nocivos ao desenvolvimento da</p><p>economia e à circulação das riquezas, quando há ingerência judicial entre partes</p><p>paritárias, acarretando a quebra do pacta sunt servanda e fazendo cair por terra a</p><p>obrigatoriedade do contrato ou de parte dele, leva consigo, de arrasto, a segurança</p><p>103</p><p>jurídica, pondo em xeque os próprios objetivos constitucionais que apregoam a</p><p>garantia do desenvolvimento nacional e a erradicação da pobreza (Art. 3º, incisos</p><p>III e IV, da CF), afinal: quem dúvida que é pelos contratos que as riquezas circulam?</p><p>No entanto, andamos a passos lentos. Recentemente, o Superior Tribunal</p><p>de Justiça ao julgar o Agravo Interno no REsp 1.848.104-SP, debruçou-se sobre a</p><p>seguinte questão fática: contrato firmado entre partes empresárias paritárias com</p><p>previsão de cláusula penal para o caso de atraso no pagamento ou por falta de</p><p>entrega do produto pela vendedora, sem menção da possibilidade de aplicação de</p><p>multa para o caso de desistência da compra pela compradora. Inicialmente desig-</p><p>nado como relator, o ministro Luís Felipe Salomão apontou que:</p><p>o posicionamento esposado por este Tribunal Superior é no sentido de</p><p>permitir às instâncias inferiores rever as cláusulas contratuais pactua-</p><p>das, diante da mitigação do pacta sunt servanda, notadamente ante a</p><p>aplicação dos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contra-</p><p>to. [...] Ademais, afigura-se de lógica cartesiana o fato de que a mitigação</p><p>da força obrigatória dos contratos, considerada hodiernamente, conduz,</p><p>em consequência, à relativização da autonomia da vontade das partes</p><p>contratantes (BRASIL, 2021, p. 29-30).</p><p>Em voto vista, o ministro Antônio Carlos Ferreira divergiu indicando que a</p><p>possibilidade de revisão judicial e de mitigação da força obrigatória dos pactos,</p><p>em casos excepcionais, não permite ao Judiciário criar obrigação contratual não</p><p>avençada entre as partes, sobretudo no âmbito de uma avença para a qual não</p><p>se invoca a incidência da lei protetiva, como nos casos envolvendo o Código de</p><p>Proteção e Defesa do Consumidor. Nem mesmo a evolução da teoria dos contratos</p><p>parece-me autorizar tamanho dirigismo, notadamente à luz do novel parágrafo úni-</p><p>co do Art. 409 (sic), do CC/2002 (incluído pela Lei nº 13.874/2019) segundo o qual</p><p>“nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima</p><p>e a excepcionalidade da revisão contratual” (BRASIL, 2021, p. 5).</p><p>Acompanharam o voto divergente os ministros Raul Araújo e Maria Izabel</p><p>Galloti, conhecendo do agravo e dando provimento ao Recurso Especial para de-</p><p>clarar nula a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo lançada nos Embargos</p><p>Declaratórios do Recorrente do Especial. Esta decisão, que concluiu o julgamen-</p><p>to, é de 20 de abril de 2021. Os autos retornaram para novo julgamento, o que</p><p>de fato ocorreu em 14 de setembro de 2021, nos Embargos de Declaração Cível</p><p>nº 1008451-37.2018.8.26.0011/50002, pelo Tribunal de Justiça do Estado de São</p><p>Paulo, mas sem alterar o resultado do julgamento do recurso de apelação pretérito.</p><p>Da leitura da</p><p>nova decisão (lançada nos Embargos anteriormente referi-</p><p>dos), extrai-se o posicionamento meritório dos julgadores no sentido de respaldar</p><p>a tese acolhida em primeiro e em segundo grau para o fim de dar interpretação</p><p>extensiva à cláusula penal contratual que não previa aplicação de multa para o</p><p>caso de desistência da compra, reconhecendo como válido o seguinte argumen-</p><p>to: “a notificante observou que o contrato previa cláusula penal somente em seu</p><p>104</p><p>desfavor, mas observou que é sedimentado o entendimento jurisprudencial de que</p><p>se aplicam a ambas as partes da relação contratual, em razão da preservação e</p><p>respeito aos princípios da isonomia, boa-fé, função social e equilíbrio contratual”</p><p>(SÃO PAULO, 2021, p. 10).</p><p>A aplicabilidade da cláusula penal não pactuada para fins de desistência</p><p>da compra gerou um passivo (inesperado) no montante de aproximadamente um</p><p>milhão de reais. Sem adentrar a um critério subjetivo de justo/injusto, é fato que o</p><p>Judiciário elasteceu a cláusula contratual por interpretação extensiva para incluir</p><p>uma situação não avençada pelas partes, o que confronta claramente o desiderato</p><p>de intervir minimamente e revisar excepcionalmente o contrato entabulado entre</p><p>partes que são simétricas e paritárias.</p><p>Ao que tudo indica longo será o caminho até que as tensões entre igualdade</p><p>e liberdade sejam devidamente equacionadas como pretende o texto constitucional,</p><p>como bem realçado pela MP 881/2019 e a Lei nº 13.874/2019 na qual foi convertida.</p><p>FONTE: DE OLIVEIRA, R. M. G. P. Os artigos 421 e 421-A do Código Civil e sua duvi-</p><p>dosa aplicabilidade no judiciário. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 19 mar.</p><p>2022. Disponível em: https://bit.ly/3twuj6f. Acesso em: 1 maio 2022.</p><p>105</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• A responsabilidade civil pode ser pela violação de um contrato ou extracontra-</p><p>tual em que há uma violação de uma norma legal.</p><p>• O abuso de direito acarreta responsabilidade civil, basta a ilicitude objetiva (Art. 187).</p><p>• Os elementos da reponsabilidade civil são a conduta humana, o nexo de causa-</p><p>lidade, o dano ou prejuízo.</p><p>• A lesão a um interesse jurídico é denominada de dano, o qual pode ser patrimo-</p><p>nial ou um dano moral.</p><p>• Os danos patrimoniais são danos emergentes e lucros cessantes.</p><p>• É possível a responsabilização civil por ato de terceiro, ou seja, indireta.</p><p>• O dano moral é uma lesão que atinge um direito da personalidade.</p><p>• A Constituição da República de 1988 determina, no Art. 5º, inciso V, que “[...] é</p><p>assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização</p><p>por dano material, moral ou à imagem” (BRASIL, 1988).</p><p>• A Constituição da República de 1988 determina, no Art. 5º, inciso X, que “[...]</p><p>são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,</p><p>assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de</p><p>sua violação” (BRASIL, 1988).</p><p>• A reponsabilidade civil exerce três funções: uma de compensar a vítima pelo</p><p>dano que sofreu, outra de punir o causador do dano, bem como desmotivar so-</p><p>cialmente a conduta lesiva.</p><p>106</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1. A responsabilidade civil deriva de uma violação de uma norma civil. Dian-</p><p>te disso, o causador do dano tem o dever de indenizar, assinale a alter-</p><p>nativa CORRETA:</p><p>a. A responsabilização visa reparar o dano causado, contudo, disso não</p><p>decorre a função de desestimular socialmente a conduta lesiva.</p><p>b. O dano moral é uma violação dos direitos da personalidade, e essa</p><p>lesão dos direitos tem conteúdo pecuniário, em outras palavras, é</p><p>redutível a dinheiro.</p><p>c. A responsabilidade civil contratual decorre da violação de um</p><p>contrato. A responsabilidade civil extracontratual deriva da viola-</p><p>ção de uma norma legal.</p><p>d. O abuso de direito não é uma violação de um dever de conduta,</p><p>portanto, não tem como consequência a responsabilidade civil.</p><p>2. As condutas humanas podem ser positivas ou negativas, em outras pa-</p><p>lavras, são uma ação ou uma omissão que pode causar dano. Com base</p><p>nas definições, analise as sentenças a seguir:</p><p>I. Os elementos da reponsabilidade civil são: conduta humana, nexo</p><p>de causalidade e dano.</p><p>II. O ordenamento jurídico brasileiro não admite que sejam indeniza-</p><p>dos os lucros cessantes, isto é, aqueles em que a pessoa razoa-</p><p>velmente deixou de lucrar.</p><p>III. Os danos emergentes são aqueles em que a pessoa efetivamente</p><p>perdeu.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e II estão corretas.</p><p>b. As sentenças I e III estão corretas.</p><p>c. Somente a sentença II está correta.</p><p>d. Somente a sentença III está correta.</p><p>107</p><p>3. Entre as espécies de responsabilidade civil estão as contratuais e ex-</p><p>tracontratuais. A primeira tem previsão legal nos Arts. 389 e 395 do</p><p>CC/2002. A responsabilidade extracontratual está prevista nos Arts. 186</p><p>a 188, e 927 e seguintes do CC/2002. Considerando isso, classifique V</p><p>para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:</p><p>( ) Verifica-se que a conduta humana pose ser positiva ou negativa, por-</p><p>tanto, um dano pode advir de uma ação ou de uma omissão.</p><p>( ) O Código Civil de 2002 não admite a hipótese de responsabilidade civil</p><p>por ato de terceiro; por exemplo, o empregador não pode ser responsável</p><p>pelos atos de seus empregados.</p><p>( ) O nexo de causalidade é o liame, ou seja, o vínculo entre o agente e o</p><p>resultado danoso.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. V – F – F.</p><p>b. V – V – F.</p><p>c. F – V – F.</p><p>d. V – F – V.</p><p>4. O dano moral é uma espécie de responsabilidade civil que decorre de uma</p><p>lesão que atinge um direito da personalidade. Disserte sobre o tema do</p><p>dano moral.</p><p>5. Aquele que cometer um ato ilícito tem a obrigação de reparar o dano,</p><p>seja patrimonial ou moral, causado, buscando restaurar a situação da-</p><p>quele que o sofreu. Nesse contexto, disserte sobre as funções da res-</p><p>ponsabilidade civil.</p><p>108</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. [(1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.</p><p>Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://bit.ly/3M-</p><p>5GUn9. Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,</p><p>DF: Presidência da República, 2002a. Disponível em: https://bit.ly/3PRK699. Aces-</p><p>so em: 1 jun. 2022.</p><p>BRASIL. Poder Judiciário. Conselho da Justiça Federal. I Jornada de Direito Ci-</p><p>vil. Brasília, DF: Conselho da Justiça Federal, 2002b. Disponível em: https://</p><p>bit.ly/3PXolos. Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 308. A hipoteca firmada entre a</p><p>construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promes-</p><p>sa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel. Brasí-</p><p>lia, DF: Superior Tribunal de Justiça, [2005]. Disponível em: https://bit.ly/3900Ie4.</p><p>Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>BRASIL. Poder Judiciário. Conselho da Justiça Federal. IV Jornada de Direito</p><p>Civil. Brasília, DF: Conselho da Justiça Federal, 2007. Disponível em: https://</p><p>bit.ly/3x6He0y. Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 387. É lícita a cumulação das in-</p><p>denizações de dano estético e dano moral. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justi-</p><p>ça, [2009]. Disponível em: https://bit.ly/3PUO6FS. Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 403. Independe de prova do</p><p>prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com</p><p>fins econômicos ou comerciais. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, [2009].</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3x7Kx7T. Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>MELLO, C. de M. Direito civil: obrigações. 4. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2022a.</p><p>MELLO, C. de M. Direito civil: contratos. 4. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2022b.</p><p>FILHO, R. P.; GAGLIANO, P. S. Novo curso de direito civil - contratos. 5. ed. São</p><p>Paulo: Saraiva, 2022a. E-book.</p><p>GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de direito civil: volume único. 6.</p><p>ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022b.</p><p>109</p><p>GARCIA JUNIOR, V. Direito civil. São Paulo: Rideel,</p><p>2021.</p><p>LÔBO, P. Direito civil: volume 2: obrigações. 10. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022a.</p><p>LÔBO, P. Direito civil: volume 3: contratos. 8. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022b.</p><p>LÔBO, P. Direito civil: parte geral. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.</p><p>SCHREIBER, A. Manual de direito contemporâneo. 5. ed. São Paulo: SaraivaJur,</p><p>2002.</p><p>UNIDADE 3</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• entender o conceito de natureza da posse e a sua classificação;</p><p>• conhecer conceito e características da propriedade;</p><p>• conhecer o conceito de família e as suas espécies;</p><p>• entender o conceito de casamento e regime de bens;</p><p>• entender os institutos da tutela e da curatela;</p><p>• conhecer a abertura e as modalidades de sucessão;</p><p>• compreender inventário e partilha.</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você en-</p><p>contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado</p><p>TÓPICO 1 – DIREITO DAS COISAS</p><p>TÓPICO 2 – DIREITO DE FAMÍLIA</p><p>TÓPICO 3 – DIREITO DAS SUCESSÕES</p><p>DIREITOS DAS COISAS</p><p>113</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>O Direito das coisas tem como objeto de estudo a relação entre pessoas e</p><p>coisas, isto é, a relação de domínio sobre uma coisa. Tem como característica ser</p><p>oponível contra todos; além disso, é suscetível de apropriação. Essa parte do direito</p><p>disciplina a posse, a propriedade e outros direitos reais.</p><p>QUADRO 1 – RESUMO</p><p>Direitos das</p><p>coisas</p><p>Posse</p><p>Direitos reais</p><p>FONTE: A autora</p><p>Por serem direitos oponíveis contra todos, são considerados direitos abso-</p><p>lutos, contudo não ilimitados, haja vista que devem observar a função social. Nesse</p><p>sentido:</p><p>O conceito unívoco do modelo moderno liberal de titulação abstrata, in-</p><p>dividual e ilimitada sobre a coisa não prevaleceu, pois várias dimensões</p><p>de propriedade firmaram-se na contemporaneidade. Além de suas va-</p><p>riedades de sentido, convive com os direitos reais limitados sobre coisas</p><p>alheias e com os direitos reais de garantia, além da força jurígena própria</p><p>da posse, como ocorre no direito brasileiro. Na contemporaneidade, a</p><p>propriedade é considerada como “um poder que se legitima através do</p><p>uso pessoal da coisa, em atenção às finalidades econômicas e sociais”</p><p>(CHAMOUN, 1970, p. 14 apud LÔBO, 2022a, p. 62).</p><p>Em consonância a esse entendimento e à Constituição de 1988, o Art. 1228,</p><p>§1º do Código Civil determina que:</p><p>[...] o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as</p><p>suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preserva-</p><p>TÓPICO 1</p><p>DIREITO DAS</p><p>COISAS</p><p>114</p><p>dos, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fau-</p><p>na, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e</p><p>artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas (BRASIL, 2002).</p><p>Segundo o Código Civil de 2002, Art. 1225, são direitos reais: a propriedade,</p><p>as servidões e as superfícies, por exemplo. O rol de direitos reais apontados pela</p><p>legislação é taxativo, então não podem ser ampliados pela vontade, isto é, pela</p><p>autonomia privada. Os direitos reais também têm como características o direito</p><p>de sequela, direito de preferência a fato do seu titular, e pode ser abandonado,</p><p>renunciado. Podem ser incorporados por posse e são passíveis de usucapião, que é</p><p>o modo de aquisição originária da propriedade (BRASIL, 2002).</p><p>2 POSSE</p><p>A posse sobre uma coisa é um domínio fático, e o possuidor tem pelos me-</p><p>nos um dos atributos da propriedade, de acordo com o Art. 1196. A propriedade tem</p><p>como atributo usar (utilizar), dispor (alienar), gozar (fruir) e reaver (buscar). Diante</p><p>disso, pode-se dizer que todo proprietário é possuidor, e não o contrário.</p><p>Pode-se conceituar a posse da seguinte maneira: “[...] a posse não é um</p><p>direito real, mas, sim, uma situação de fato tutelada pelo Direito” (GAGLIANO; PAM-</p><p>PLONA FILHO, 2022, p. 2113). No exercício da posse, há somente os direitos de usar</p><p>ou utilizar e gozar (fruir). De acordo com o Art. 1198, o detentor não se confunde</p><p>com o possuidor, tendo em vista que o detentor conserva a posse em nome de ou-</p><p>trem e cumpre instruções suas. Em outras palavras, detentor é “[...] mero servidor</p><p>ou fâmulo da posse” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2002, p. 2117).</p><p>“[...] o fâmulo da posse ou detentor é aquele que, em razão de sua situação de</p><p>dependência econômica ou de um vínculo de subordinação em relação a</p><p>outra pessoa (possuidor direto ou indireto), exerce sobre o bem [...] em obediên-</p><p>cia a uma ordem ou instrução” (GARCIA JUNIOR, 2021, p. 174, grifos nossos).</p><p>NOTA</p><p>Pode-se citar como exemplos de detentores o bibliotecário e o caseiro. Em</p><p>virtude disso, não induzem a posse os atos de mera permissão ou tolerância, atos</p><p>violentos ou clandestinos, de acordo com o Art. 1208.</p><p>115</p><p>FIGURA 1 – BIBLIOTECA</p><p>FONTE: . Acesso em: 6 jun. 2022.</p><p>A partir desse momento, vamos estudar as possíveis classificações da pos-</p><p>se. O exercício da posse direta verifica-se quando a pessoa tem a coisa em seu</p><p>poder. A posse direta pode ser temporária e não impede o exercício da posse in-</p><p>direta, segundo o Art. 1197. Locação é um exemplo em que o proprietário, isto é, o</p><p>locador tem posse indireta do imóvel. Quanto ao vício, a posse pode ser justa ou</p><p>injusta conforme o Art. 1200. Entende-se por posse justa a que não seja violenta,</p><p>clandestina ou precária.</p><p>“O vício da precariedade surge, tornando a posse precária injusta, quando, em</p><p>violação à cláusula de boa-fé objetiva, o titular do direito exige o bem de volta</p><p>e o possuidor precário, em nítida e reprovável “quebra de confiança”, recusa a</p><p>sua devolução (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p. 2125).</p><p>IMPORTANTE</p><p>No que diz respeito ao título, a posse será de boa-fé se obtida de forma</p><p>legal, ou seja, sem violência, por exemplo. Posse injusta é adquirida com violência,</p><p>de maneira clandestina ou de maneira precária.</p><p>116</p><p>Segundo o Código Civil de 2002, na posse de boa-fé o possuidor ignora o</p><p>vício ou algum obstáculo que impede a aquisição da coisa. Exemplificativamente,</p><p>a pessoa que tem a posse de uma fazenda que recebeu de herança e ignora vício</p><p>existente no formal de partilha, ou seja, que o autor da herança havia falsificado</p><p>o registro imobiliário, sem que de nada soubesse (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,</p><p>2022, p. 2130-2132).</p><p>A posse pode ser transmitida aos herdeiros, legatários, consoante ao Art.</p><p>1206. Perde-se a posse, ainda que contra a vontade do possuidor, não pode mais</p><p>exercer os poderes sobre ela. Ou, ainda, pela prática de esbulho.</p><p>3 DIREITOS REAIS</p><p>Os direitos reais constam expressamente no Art. 1225: a propriedade; a su-</p><p>perfície; as servidões; o usufruto; o uso; a habitação; o direito do promitente com-</p><p>prador do imóvel; o penhor; a hipoteca; a anticrese, a concessão de uso especial</p><p>para fins de moradia; a concessão de direito real de uso; e a laje. Trata-se de rol</p><p>taxativo. É possível que os direitos reais recaiam sobre coisas móveis.</p><p>O direito à moradia está entre o rol de direitos fundamentais, previsto na</p><p>Constituição da República de 1988 (Art. 6º). “O direito real de uso deriva de um</p><p>contrato em que a Administração Pública transfere o uso remunerado ou gratuito</p><p>de um terreno público a um particular com finalidade de urbanização, industriali-</p><p>zação, edificação, cultivo ou qualquer outra exploração que tenha interesse social”</p><p>(MELLO, 2022a, p. 162).</p><p>Os direitos reais sobre imóveis são constituídos ou transmitidos por atos</p><p>entre vivos. No entanto, em regra, só se adquirem com o registro no Cartório de</p><p>Registro de Imóveis dos referidos títulos. Adquire-se o domínio da coisa móvel pela</p><p>tradição, portanto, a assinatura de um contrato não transfere o domínio; nessa</p><p>situação, há somente uma obrigação entre as partes.</p><p>ATENÇÃO</p><p>Ao firmarem um contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga</p><p>a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo</p><p>preço em</p><p>dinheiro. Isso está referenciado no Art. 481 do Código Civil.</p><p>Em regra, transfere-se a propriedade mediante registro no Cartório de Re-</p><p>gistro de Imóveis, portanto, não será considerado dono, e o alienante continua sen-</p><p>do o dono do imóvel se não realizado o registro do título translativo, conforme Art.</p><p>1245, §1º (BRASIL, 2002).</p><p>117</p><p>3.1 PROPRIEDADE</p><p>A Constituição garante a propriedade como um direito fundamental (Art. 5º,</p><p>XXII, CF/88). É garantido o direito de propriedade. O Código Civil estabelece que:</p><p>O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas</p><p>finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de</p><p>conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as bele-</p><p>zas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem</p><p>como evitada a poluição do ar e das águas” (BRASIL, 2002, Art. 1228, §1º).</p><p>Por conseguinte, “[...] aqui se desvela o aspecto funcional do direito de pro-</p><p>priedade que deve ser considerado juntamente com os elementos econômicos e</p><p>jurídicos do direito de propriedade” (MELLO, 2022a, p. 170, grifos do original).</p><p>As principais características da propriedade são a sua complexidade devido</p><p>aos poderes que podem ser exercidos sobre ela, o quais foram mencionados no</p><p>item 2 deste tópico. A propriedade será considerada plena quando o proprietário</p><p>dispõe de todos os poderes sobre a coisa. Considera-se limitada a propriedade se</p><p>há algum ônus sobre ela, como servidão e hipoteca.</p><p>A propriedade é absoluta no sentido de ser oponível contra todos. Trata-se</p><p>de um direito exclusivo, exceto nas situações de condomínio, conforme Art. 1231.</p><p>Perpétua, haja vista que é transmissível para outras gerações (BRASIL, 2002).</p><p>A elasticidade da propriedade “[...] pode ser distendida ou contraída na for-</p><p>mação de outros direitos reais sem perder sua essência” (GAGLIANO; PAMPLONA</p><p>FILHO, 2022, p. 2172).</p><p>FIGURA 2 – PROPRIEDADE</p><p>FONTE: .</p><p>Acesso em: 6 jun. 2022.</p><p>118</p><p>A propriedade abrange o solo, o espaço aéreo, o subsolo; há certas ativida-</p><p>des que podem ser desenvolvidas por terceiros, como quando se tratar de “profun-</p><p>didades úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que</p><p>sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele</p><p>interesse legítimo em impedi-las” (BRASIL, 2002, Art. 1.229,), tendo em vista que a</p><p>propriedade não abrange as jazidas e minas, por exemplo (BRASIL, 2002, Art. 1.230).</p><p>Os modos de aquisição da propriedade imóvel são originários, como pela</p><p>acessão natural ou artificial e usucapião, de acordo com o Art. 1238 (BRASIL, 2002).</p><p>Forma originária natural refere-se às formações de ilhas, por exemplo. O registro e a</p><p>sucessão são considerados formas derivadas de aquisição da propriedade.</p><p>Usucapião é o modo pelo qual se adquire uma propriedade de maneira ori-</p><p>ginária, também denominada de prescrição aquisitiva. Portanto, pelo lapso</p><p>de tempo, preenchidos os requisitos, se adquire a propriedade (referente ao</p><p>Art. 1238 do CC).</p><p>NOTA</p><p>Veja no quadro os motivos e modos pelos quais pode se dar a perda da</p><p>propriedade.</p><p>QUADRO 2 - PERDA DA PROPRIEDADE PODE SE DÁ POR (ART. 1.275, CC)</p><p>Alienação Renúncia Abandono Perecimento da coisa Desapropriação</p><p>Transferência Abdicação Deixar Destruição Direito Administrativo</p><p>Ato formal Ato informal</p><p>FONTE: A autora</p><p>Há outras formas de perda da propriedade móvel e imóvel previstas no Có-</p><p>digo Civil 2002, como usucapião. As hipóteses anteriormente mencionadas apli-</p><p>cam-se à perda dos bens móveis e móveis.</p><p>119</p><p>3.1.1 CONDOMÍNIO</p><p>No condomínio, a propriedade é exercida por mais de uma pessoa, simulta-</p><p>neamente. As espécies de condomínio são convencionais, em que ele é formado</p><p>em virtude da vontade de mais de uma pessoa. Pode o condomínio decorrer da</p><p>vontade de terceiros, como do testador. Por fim, o condomínio pode ser legal nas</p><p>situações em que há meação de paredes, muros.</p><p>FIGURA – ESPÉCIES DE CONDOMÍNIO</p><p>Convencional</p><p>Eventual</p><p>Legal</p><p>Condomínio</p><p>FONTE: A autora</p><p>Condomínio pode ser ainda tradicional, comum, conforme dispõe Art. 1314,</p><p>que compreende a copropriedade e o condomínio edilício, compostos de unidades</p><p>autônomas.</p><p>O condomínio tradicional ocorre no casamento, na união estável, pois há um</p><p>condomínio entre os bens do casal. A herança também forma um condomínio em</p><p>relação aos bens dos herdeiros.</p><p>Os condôminos podem usar a coisa e exercem sobre ela todos os direitos de</p><p>uso e fruição que independem da fração ideal de cada um. De acordo com o Art.</p><p>1314, podem reivindicar a coisa de terceiro, defender a posse, alhear a parte ideal</p><p>ou gravá-la. Os condôminos não podem alterar o destino da coisa ou dar posse a</p><p>terceiro sem o consenso de todos.</p><p>Os deveres dos condôminos são: contribuir para as despesas do condomínio</p><p>na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na conven-</p><p>ção; não realizar obras que comprometam a segurança da edificação; não alterar</p><p>a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; dar às suas partes a</p><p>mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao</p><p>sossego, salubridade e segurança dos possuidores ou aos bons costumes.</p><p>A administração: “[...] é atribuída a todos os condôminos em conjunto, mas</p><p>pode ser entregue a um deles ou a terceiro, de acordo com a decisão majoritária deles.</p><p>Os condôminos têm de se reunir para deliberar a respeito” (LÔBO, 2022a, p. 590).</p><p>120</p><p>FIGURA 3 – CONDOMÍNIO EDILÍCIO</p><p>FONTE: . Acesso em: 6 jun. 2022.</p><p>Condomínio edilício pode ser instituído por ato entre vivos ou por testamen-</p><p>to, o qual é registrado no Cartório de Registro de Imóveis, conforme o Art. 1332.</p><p>ATENÇÃO</p><p>De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, Súmula nº 260: a “convenção</p><p>de condomínio aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular as re-</p><p>lações entre os condôminos” (BRASIL, 2001).</p><p>O síndico escolhido em assembleia faz a administração do condomínio.</p><p>3.1.2 DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS</p><p>Os direitos reais sobre a coisa alheia recaem sobre o domínio, devido à com-</p><p>plexidade da propriedade e à possibilidade de se fracionar os poderes que podem</p><p>ser exercidos sobre ela. Esse direito pode decorrer da lei, da vontade ou por decisão</p><p>judicial. No entanto, esse direito não pode prejudicar terceiro, tampouco a coletivi-</p><p>dade. Esses direitos são subdivididos em:</p><p>a. Direitos de gozo ou fruição – superfície, servidão, usufruto, uso, ha-</p><p>bitação, concessão de uso especial para moradia, concessão de direito</p><p>real de uso e laje;</p><p>b. Direitos de garantia – penhor, anticrese e hipoteca;</p><p>c. Direito à coisa – promessa de compra e venda (GAGLIANO; PAMPLONA</p><p>FILHO, 2022. p. 2351-2353).</p><p>121</p><p>A superfície consiste em conceder a outra pessoa o direito de construir ou</p><p>plantar no terreno, por tempo determinado. É realizada mediante escritura pública</p><p>registrada no Cartório de Registro de Imóveis, conforme Art. 1369. Pode ser gratuita</p><p>ou onerosa. Essa concessão não permite que sejam realizadas obras no subsolo.</p><p>Servidão possibilita que se utilize “[...] o prédio dominante, e grava o prédio</p><p>serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se mediante declaração expres-</p><p>sa dos proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no Cartório de Re-</p><p>gistro de Imóveis, a teor do Art. 1.378.” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p. 2356).</p><p>Ademais disso, “[...] dono de uma servidão pode fazer todas as obras necessá-</p><p>rias à sua conservação e uso (1.380) (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p. 2356)”.</p><p>O usufruto tem como objetivo permitir que uma pessoa retire os frutos e</p><p>as utilidades da coisa, desde que não altere a sua substância. Pode incidir sobre</p><p>bens móveis ou</p><p>imóveis. Pode ser estipulado pela vontade das partes ou por força</p><p>de lei. Em virtude da lei são as situações em que os pais são usufrutuários dos</p><p>bens dos filhos enquanto durar o exercício do poder familiar, conforme dispõe o</p><p>Art. 1689 (BRASIL, 2002).</p><p>O direito real de uso permite que se utilize a coisa e tire as utilidades (como</p><p>frutos) para o usuário e a sua família. Pode ser a título gratuito ou oneroso.</p><p>A habitação é uma modalidade especial de uso para moradia, é intransferí-</p><p>vel, personalíssima. Não pode o titular desse direito emprestar ou alugar para outra</p><p>pessoa. O direito real de habitação pode ser concedido a mais de uma pessoa.</p><p>O direito do promitente comprador é um compromisso irretratável. Pode</p><p>ser feito por instrumento público ou particular. Trata-se de um contrato preliminar,</p><p>tendo como objeto um negócio futuro, ou seja, de venda e compra. Diante disso,</p><p>“o vendedor continua titular do domínio, o qual somente será transferido após a</p><p>quitação integral do preço” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO 2022, p. 2401).</p><p>O penhor recai sobre um bem móvel, é uma garantia real em razão de uma</p><p>dívida. O penhor exige que seja entregue o objeto, ou seja, a tradição. Existem as</p><p>seguintes modalidades de penhor: convencional, legal, rural, industrial ou mercantil,</p><p>de direitos e títulos de créditos, de veículos. A hipoteca, por sua vez, é uma garantia</p><p>sobre um imóvel e deve ser registrada em cartório. Navios e aeronaves podem ser</p><p>objetos de hipoteca.</p><p>ATENÇÃO</p><p>É possível que o bem hipotecado seja alienado, e o gravame permanece</p><p>no objeto. É nula cláusula que proíba a venda do bem hipotecado (BRASIL,</p><p>2002, Art. 1.475).</p><p>122</p><p>A anticrese é a possibilidade de o devedor, com a entrega do imóvel ao cre-</p><p>dor, ceder-lhe o direito de perceber, em compensação da dívida, os frutos e ren-</p><p>dimentos, de acordo com o Art. 1506. A concessão de uso especial para fins de</p><p>moradia é o direito que se “[...] confere ao seu titular o uso de um imóvel público,</p><p>insuscetível de usucapião509, em caráter real, com a finalidade de morar” (GAGLIA-</p><p>NO; PAMPLONA FILHO, 2022, p. 2437).</p><p>Ainda temos a concessão de direto real de uso para fins de regularização</p><p>fundiária, de interesse social, urbanização dentre outras (GAGLIANO; PAMPLONA</p><p>FILHO, 2022). Por último, o direito de laje: “Em síntese, o sujeito a quem a laje se vin-</p><p>cula não deve ser considerado ‘proprietário’ da unidade construída, mas, sim, titular</p><p>do direito real de laje sobre ela, o que lhe concederá faculdades amplas, similares</p><p>àquelas derivadas do domínio” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p. 2453).</p><p>123</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• O direito das coisas estuda a relação entre pessoas e coisas; o domínio sobre</p><p>uma coisa.</p><p>• Tem como característica ser oponível contra todos, além disso, é suscetível de</p><p>apropriação.</p><p>• Os direitos das coisas dividem-se em direitos reais e propriedade.</p><p>• São direitos reais: a propriedade; a superfície; as servidões; o usufruto; o uso;</p><p>a habitação; o direito do promitente comprador do imóvel; o penhor; a hipoteca;</p><p>a anticrese, a concessão de uso especial para fins de moradia; a concessão de</p><p>direito real de uso; e a laje.</p><p>• A posse sobre uma coisa é um domínio fático, em que o possuidor tem pelos</p><p>menos um dos atributos da propriedade.</p><p>• Os atributos da propriedade são usar (utilizar), dispor (alienar), gozar (fruir) e</p><p>reaver (buscar). Diante disso, pode-se dizer que todo proprietário é possuidor,</p><p>e não o contrário.</p><p>• Na posse de boa-fé o possuidor ignora o vício ou algum obstáculo que impede a</p><p>aquisição da coisa.</p><p>• A propriedade é absoluta, em outras palavras, é oponível contra todos. Trata-se</p><p>de um direito exclusivo, exceto nas situações de condomínio.</p><p>• A propriedade abrange o solo, o espaço aéreo, o subsolo. A propriedade não</p><p>abrange as jazidas e minas.</p><p>• A propriedade é exercida por mais de uma pessoa no condomínio, simulta-</p><p>neamente.</p><p>• Espécies de condomínio são convencionais, em que é formado em virtude da</p><p>vontade de mais de uma pessoa.</p><p>• O penhor recai sobre um bem móvel, é uma garantia real em razão de uma dívi-</p><p>da. A hipoteca é uma garantia sobre um imóvel.</p><p>124</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1. O direito das coisas visa tutelar a posse e a propriedade, ambas devem</p><p>observar a função social da propriedade. Embora seja oponível contra</p><p>todos não é um direito absoluto ou ilimitado. Sobre a posse, assinale a</p><p>alternativa CORRETA:</p><p>a. Nem todo proprietário é possuidor da coisa, pois nem sempre tem</p><p>a posse direta.</p><p>b. A posse está abrangida pelo direito real, embora seja uma situa-</p><p>ção de fato.</p><p>c. O detentor da coisa a conserva em nome de outrem e observa as</p><p>suas instruções.</p><p>d. A posse é um domínio que deve ser provado por registro no Car-</p><p>tório de Registro de Imóveis.</p><p>2. Segundo o Art. 1228, §1º do Código Civil, o direito de propriedade deve ser</p><p>exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais,</p><p>preservando-se a flora, a fauna, o equilíbrio ecológico, por exemplo. Com</p><p>relação ao tema do direito de propriedade, analise as sentenças a seguir:</p><p>I. O contrato em que a Administração Pública transfere o uso remu-</p><p>nerado ou gratuito de um terreno público a um particular denomi-</p><p>na-se direito real de uso.</p><p>II. A propriedade tem como atributo usar (utilizar), dispor (alienar),</p><p>gozar (fruir) e reaver (buscar).</p><p>III. Os direitos reais sobre imóveis são constituídos por atos entre vi-</p><p>vos. São adquiridos por contrato, que independe de ser registrado</p><p>no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos para prova</p><p>da propriedade.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e III estão corretas.</p><p>b. Somente a sentença I está correta.</p><p>c. As sentenças I e II estão corretas.</p><p>d. Somente a sentença II está correta.</p><p>125</p><p>3. “A propriedade ou domínio é o mais amplo dos direitos reais: plena in re</p><p>potesta, como queriam os romanos. É tradicionalmente definida do ponto</p><p>de vista exclusivamente estrutural, como situação jurídica complexa que</p><p>abrange as faculdades de usar, gozar e dispor da coisa, além de reivindicá-</p><p>-la” (SCHREIBER, 2002, p. 1540, grifo do original). Quanto ao tema da pro-</p><p>priedade, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:</p><p>FONTE: SCHREIBER, A. Manual de direito contemporâneo. 5. ed. São</p><p>Paulo: SaraivaJur, 2002, p. 1540).</p><p>( ) Somente com o registro do título translativo será considerado dono do</p><p>imóvel, senão o alienante continua sendo o dono do imóvel.</p><p>( ) A acessão natural e o usucapião não são modos de aquisição da pro-</p><p>priedade imóvel.</p><p>( ) Entende-se que os direitos reais sobre imóveis são constituídos ou</p><p>transmitidos por atos entre vivos, contudo, a assinatura de um contrato</p><p>não transfere o domínio.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. V – F – F.</p><p>b. V – F – V.</p><p>c. F – V – F.</p><p>d. F – F – V.</p><p>4. No condomínio, diversas pessoas exercem a propriedade ao mesmo tem-</p><p>po. Os condomínios podem ser são convencionais, pela vontade de ter-</p><p>ceiros ou do testador. Disserte sobre os deveres, a classificação e quais</p><p>direitos o condomínio exerce.</p><p>5. A propriedade é complexa e admite o seu exercício de várias maneiras,</p><p>podem ser fracionados os poderes exercidos sobre ela. Quanto a esses</p><p>direitos, disserte sobre a superfície e a servidão.</p><p>127</p><p>TÓPICO 2</p><p>DIREITO DE</p><p>FAMÍLIA</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>A Constituição da República de 1988 trouxe novos contornos a família plural</p><p>baseada no afeto, a solidariedade recíproca, por exemplo. Assegura que “a família,</p><p>base da sociedade, tem especial proteção do Estado” (BRASIL, 1988). A pluralidade</p><p>das entidades familiares denota-se no § 4º, em que dispõe que “Entende-se, tam-</p><p>bém, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus</p><p>descendentes” (BRASIL, 1988).</p><p>A igualdade de direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são re-</p><p>conhecidos na Constituição de 1988 ao assegurar que serão exercidos igualmente</p><p>pelo homem e pela mulher. Assim como o Código Civil de 2002 apresenta a re-</p><p>personalização das relações</p><p>civis, haja vista que valoriza os interesses da pessoa</p><p>humana e destaca a dignidade da pessoa humana à luz da Constituição de 1988.</p><p>Não obstante os avanços, há críticas também:</p><p>O CC/2002, apesar da apregoada mudança de paradigma, do individua-</p><p>lismo para a solidariedade social, manteve forte presença dos interesses</p><p>patrimoniais sobre os pessoais, em variados institutos do Livro IV, de-</p><p>dicado ao direito de família, desprezando-se o móvel da comunhão de</p><p>vida afetiva, inclusive no Título I destinado ao “direito pessoal”. Assim,</p><p>as causas suspensivas do casamento, referidas no Art. 1.523, são quase</p><p>todas voltadas aos interesses patrimoniais (principalmente, em relação</p><p>à partilha de bens) (LÔBO, 2022c, p. 33).</p><p>A família é um dos primeiros ambientes que a pessoa tem a oportunida-</p><p>de de desenvolver a sua personalidade, desenvolver as suas potencialidades. As</p><p>diversas modalidades de família são protegidas na Constituição de 1988, desde</p><p>a família decorrente do casamento em que se garante que o casamento é civil e</p><p>gratuito a celebração.</p><p>Ademais assegura que o casamento religioso tem efeito civil. O Estado re-</p><p>conhece a reconhece e protege a união estável entre o homem e a mulher como</p><p>entidade familiar, e a lei facilita a sua conversão em casamento. Por fim, a família</p><p>monoparental tem proteção pela Constituição da República, pois reconhece a en-</p><p>tidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.</p><p>128</p><p>Os princípios Constitucionais do Direito Familiar são a pluralidade das entida-</p><p>des familiares, igualdade entre homens e a mulher, igualdade entre os filhos, a facili-</p><p>tação de dissolução da entidade familiar pelo divórcio, e a responsabilidade dos pais.</p><p>Diante disso, “O direito de família é um conjunto de regras que disciplinam os</p><p>direitos pessoais e patrimoniais das relações de família. Caracteriza-se por ser pre-</p><p>dominantemente cogente, com espaço delimitado de autonomia privada” (LÔBO,</p><p>2022c, p. 65).</p><p>2 CASAMENTO</p><p>A modalidade de família que decorre do casamento é denominada de ma-</p><p>trimonial. A família que decorre da união estável é denominada de informal ou con-</p><p>vencional, são fatos sociais. A família monoparental advém da convivência entre</p><p>um dos pais e seus filhos. Pode-se conceituar o “casamento é um ato jurídico nego-</p><p>cial solene, público e complexo, mediante o qual o casal constitui família, pela livre</p><p>manifestação de vontade e pelo reconhecimento do Estado” (LÔBO, 2022c, p. 228).</p><p>Diante disso, exige determinadas formalidades para ter validade. Para isso,</p><p>deve observar os requisitos de manifestação de vontade dos nubentes e a declara-</p><p>ção do juiz de direito, juiz de paz ou ministro de confissão religiosa.</p><p>ATENÇÃO</p><p>Art. 1.514. O casamento se realiza quando o homem e a mulher manifestam,</p><p>perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os</p><p>declara casados (BRASIL, 2002, grifo nosso).</p><p>Devem ser observadas as regras acerca da capacidade para os nubentes,</p><p>plenamente capaz aos 18 anos e idade núbil a partir dos 16 anos, que tenham o</p><p>consentimento de seus pais. Devem ser observadas essas regras a fim de que o</p><p>ato seja considerado válido. Outro requisito para ser considerado válido é que a</p><p>autoridade para celebração seja competente, segundo as regras do Código Civil de</p><p>2002. Para ter eficácia o casamento deve ser registrado no registro público oficial.</p><p>Para que o casamento celebrado no religioso produza efeitos, deve ser le-</p><p>vado a registro público no prazo de 90 dias, conforme Art. 1515. O registro faz prova</p><p>do casamento. E os efeitos do casamento, civil ou religioso, são produzidos a partir</p><p>da celebração. Por conseguinte, o registro faz retroagir os efeitos do casamento</p><p>religioso (BRASIL, 2002).</p><p>Antecede ao casamento o processo de habilitação, deve ser feito por ambos</p><p>os nubentes perante o registro civil. Há a participação de duas testemunhas e do</p><p>129</p><p>Ministério Público. O oficial do registro esclarece aos nubentes sobre as causas de</p><p>invalidade do casamento e os possíveis regime de bens que podem ser escolhidos.</p><p>Verificada a documentação será publicado o edital dos proclamas durante</p><p>15 (quinze) dias. Por 90 (noventa) dias terá a eficácia de habilitação para o casa-</p><p>mento, conta-se esse prazo do dia em que for extraído o certificado.</p><p>“O certificado de habilitação expedido pelo oficial de registro público é docu-</p><p>mento indispensável para que haja celebração civil ou religiosa do casamen-</p><p>to” (LÔBO, 2022c, p. 272).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Por ser um ato solene, o casamento exige publicidade, há interesse da so-</p><p>ciedade e do Estado como se verifica das disposições constitucionais. Necessária</p><p>a presença de duas testemunhas, no entanto, se realizado em imóvel particular,</p><p>igreja serão necessárias quatro testemunhas. Depois de celebrado deverá ser la-</p><p>vrado no assento no livro de registro. Deve estar assinado pelo presidente do ato,</p><p>cônjuges, testemunhas e o oficial de registro.</p><p>FIGURA 4: FORMALIDADES DO CASAMENTO</p><p>FONTE: . Acesso em: 6 jun. 2022.</p><p>A habilitação para o casamento, assim como a celebração dele pode ser</p><p>realizado por procuração. Nessas situações os nubentes estão ausentes, em razão</p><p>disso, será realizado por instrumento público, deve conter poderes especiais para</p><p>tanto, de acordo com o Art. 1542 (BRASIL, 2002).</p><p>130</p><p>Em outras situações pode ser celebrado perante autoridade consular e di-</p><p>plomática, isto é, na repartição Consular brasileira. Por último, o casamento nun-</p><p>cupativo é realizado se um dos nubentes está em iminente risco de morte, não</p><p>contará com a presença da autoridade para a celebração, deverá ser realizado na</p><p>presença de seis testemunhas, com as quais não tenham parentesco.</p><p>São deveres do casamento a fidelidade, vida em comum, mútua assistência,</p><p>sustento, guarda e educação dos filhos e respeito e consideração mútua.</p><p>Em regra, o regime de bens é de livre escolha dos contratantes, podem ado-</p><p>tar um deles para ambos, não é possível que se tenha mais de um regime de bens</p><p>ao mesmo tempo. O regime de bens é mutável por vontade dos cônjuges.</p><p>É possível aos nubentes antes de celebrado o casamento elaborar um</p><p>contrato solene com a finalidade de escolher o regime de bens denominado pacto</p><p>antenupcial. Esse pacto é feito por escritura pública, a qual é lavrada no cartório de</p><p>notas. Podem adotar regime misto de bens, desde que seja o mesmo para ambos</p><p>Após a celebração do casamento só pode ser alterado via judicial, antes disso pode</p><p>ser alterado pelos nubentes.</p><p>ATENÇÃO</p><p>Para ter eficácia o pacto antenupcial é preciso que o casamento seja celebra-</p><p>do. Será nulo se não for feito por escritura pública.</p><p>Os nubentes que não escolhem o regime de bens aplicam-se o regime legal</p><p>supletivo denominado de comunhão parcial de bens. Há situações em que se aplica</p><p>o regime legal obrigatório ou de separação obrigatória de bens: “É obrigatório o</p><p>regime da separação de bens no casamento: das pessoas que o contraírem com</p><p>inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; da pessoa</p><p>maior de 70 (setenta) anos; e de todos os que dependerem de suprimento judicial</p><p>para se casarem” (BRASIL, 2002, Art. 1641).</p><p>Os bens adquiridos na constância do casamento, sob o regime da separação</p><p>obrigatória comunicam-se, entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal</p><p>Federal nº 377 (BRASIL, 2009).</p><p>DICA</p><p>O regime de comunhão parcial de bens prevê a meação dos bens adquiridos</p><p>na constância do casamento ou da união estável.</p><p>131</p><p>A administração dos bens cabe a qualquer um dos cônjuges. Para a cessão</p><p>dos bens comuns deve ter anuência de ambos. Deve-se ressaltar que as dívidas</p><p>contraídas por qualquer um na administração de seus bens particulares não obri-</p><p>gam os bens comum.</p><p>QUADRO 4 – COMUNHÃO PARCIAL DE BENS</p><p>Excluem-se da comunhão (Art. 1659) Entram na comunhão: (Art. 1660)</p><p>I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os</p><p>que</p><p>lhe sobrevierem, na constância do casamento, por</p><p>doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;</p><p>II - os bens adquiridos com valores exclusivamente</p><p>pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos</p><p>bens particulares;</p><p>III - as obrigações anteriores ao casamento;</p><p>IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo</p><p>reversão em proveito do casal;</p><p>V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos</p><p>de profissão;</p><p>VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;</p><p>VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras</p><p>rendas semelhantes.</p><p>I - os bens adquiridos na constância do casamento</p><p>por título oneroso, ainda que só em nome de um dos</p><p>cônjuges;</p><p>II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem</p><p>o concurso de trabalho ou despesa anterior;</p><p>III - os bens adquiridos por doação, herança ou</p><p>legado, em favor de ambos os cônjuges;</p><p>IV - as benfeitorias em bens particulares de cada</p><p>cônjuge;</p><p>V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de</p><p>cada cônjuge, percebidos na constância do casamen-</p><p>to, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.</p><p>FONTE: A autora</p><p>O regime de bens da comunhão universal de bens, há a meação de todos</p><p>os bens, exceto os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabili-</p><p>dade e os sub-rogados em seu lugar; os bens gravados de fideicomisso e o direito</p><p>do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; as dívidas</p><p>anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou</p><p>reverterem em proveito comum; as doações antenupciais feitas por um dos cônju-</p><p>ges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade; os bens referidos nos incisos</p><p>V a VII do Art. 1.659 (BRASIL, 2002). No regime da separação convencional de bens</p><p>não há meação, tendo em vista que todos os bens são particulares. Há obrigações</p><p>em relação às relações jurídicas que beneficiem a família. As obrigações assumidas</p><p>em benefício do casal são arcadas por ambos os cônjuges.</p><p>Por fim, o regime de participação final nos aquestos cada um dos consortes</p><p>tem patrimônio próprio. Na dissolução do casamento tem direito a metade dos bens</p><p>adquiridos pelo casal, desde que a título oneroso e na constância do casamento.</p><p>Extingue-se a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, pela nulidade ou</p><p>anulação, e pelo divórcio.</p><p>Com o advento da Emenda Constitucional nº 66 de 2010, a Constituição</p><p>da República de 1988 determina que “O casamento civil pode ser dissolvido pelo</p><p>divórcio” (BRASIL, 1988, Art. 226, § 6º). Diante disso:</p><p>Portanto, não sobrevive qualquer norma infraconstitucional que trate</p><p>da dissolução da sociedade conjugal isoladamente, por absoluta in-</p><p>compatibilidade com a CF/1988, de acordo com a nova redação do §</p><p>6º do Art. 226 da CF/1988. Não é dado ao legislador infraconstitucional,</p><p>132</p><p>tampouco, reintroduzir qualquer modalidade de separação judicial ou</p><p>extrajudicial que tenha por finalidade a dissolução da sociedade conju-</p><p>gal, permanecendo o vínculo do casamento, porque configura fraude à</p><p>Constituição, que apenas prevê a dissolução do casamento pelo divór-</p><p>cio. (LÔBO, 2022c, p. 365)</p><p>São admitidos o divórcio judicial litigioso; divórcio judicial consensual e o</p><p>divórcio extrajudicial consensual. Por ocasião do divórcio judicial litigioso não há</p><p>acordo entre os cônjuges sobre a separação, pode ser sobre os alimentos, sobre a</p><p>convivência com os filhos, por exemplo.</p><p>O divórcio judicial consensual deve ser feito por essa via por terem filhos</p><p>menores ou incapazes. Por fim, o divórcio extrajudicial deve ser consensual, feito</p><p>por escritura pública, devem estar assistidos por advogado.</p><p>É possível aos cônjuges obter o divórcio sem que façam a partilha dos</p><p>bens, pois essa pode ser feita em outra ocasião se assim decidirem, de acordo</p><p>com o Art. 1581.</p><p>2.1 UNIÃO ESTÁVEL</p><p>A União Estável tem como característica o fato de ser uma convivência pú-</p><p>blica com a finalidade de constituir família, de acordo com o Art. 1723. Pode ser</p><p>assim descrito:</p><p>Companheiros da união estável são o homem e a mulher, ou o casal de</p><p>mesmo sexo, sem impedimentos para casar-se, salvo se casados, mas</p><p>separados de fato ou judicialmente. O CC/2002 unificou a denominação</p><p>companheiro para o parceiro da união estável, dada a variedade de ter-</p><p>mos antes existente e que propiciava dúvidas de interpretação: compa-</p><p>nheiros, conviventes, concubinos, parceiros (LÔBO, 2022c, p. 417).</p><p>Reconhece-se a União Estável se não existir impedimentos que são os mes-</p><p>mos previstos para o casamento. Contudo, não se aplica o impedimento do Art.</p><p>1521, VI, haja vista que o separado de fato há mais de dois anos pode constituir</p><p>União Estável (BRASIL, 2002).</p><p>A lei proíbe que se casem os ascendentes com os descendentes, seja o</p><p>parentesco natural ou civil; os afins em linha reta; o adotante com quem foi cônju-</p><p>ge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; os irmãos, unilaterais ou</p><p>bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; o adotado com o filho</p><p>do adotante; as pessoas casadas; o cônjuge sobrevivente com o condenado por</p><p>homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte, conforme está disposto</p><p>no Art. 1521 (BRASIL, 2002).</p><p>Os requisitos para a União Estável são: relação de afeto entre os compa-</p><p>nheiros; convivência pública, continua e duradoura; objetivo de constituir família;</p><p>pode ser convertido em casamento.</p><p>133</p><p>ATENÇÃO</p><p>As causas suspensivas do Art. 1523 não impedem a caracterização da União</p><p>Estável.</p><p>FIGURA 5 – UNIÃO ESTÁVEL</p><p>FONTE: .</p><p>Acesso em: 6 jun. 2022.</p><p>Os deveres do casamento devem ser observados pelos companheiros. Em</p><p>regra, o regime de bens e o da comunhão parcial de bens é aplicado à União Es-</p><p>tável. Contudo, os companheiros podem fazer contrato escrito a fim de reger as</p><p>relações patrimoniais.</p><p>A Resolução do Conselho Nacional de Justiça nº 175 trata da habilitação,</p><p>celebração do casamento civil e da conversão da União Estável em casamento</p><p>(BRASIL, 2013).</p><p>Em suma, veda-se às autoridades competentes a recusa de habilitação; a</p><p>celebrar o casamento civil ou de conversão de união estável em casamento de</p><p>pessoas do mesmo sexo. Diante disso, a recusa prevista no Art. 1º implicará a</p><p>comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis (GARCIA</p><p>JUNIOR, 2021, p. 213).</p><p>A dissolução amigável da União Estável pode ser feita por instrumento par-</p><p>ticular, no qual podem estipular o pagamento de alimentos, guarda dos filhos, parti-</p><p>lha dos bens. Nesse caso não precisa ser homologado pelo juiz. Poderá ser feito via</p><p>judicial se houver litígio na extinção da União Estável.</p><p>134</p><p>A doutrina e a jurisprudência já sustentavam que o Art. 1790 estava em con-</p><p>fronto com a disposição constitucional do Art. 226, § 3º, pois não tratava os direi-</p><p>tos sucessórios entre os companheiros e os que optaram pelo casamento. Diante</p><p>disso, o Supremo Federal Decidiu que é inconstitucional a distinção de regimes de</p><p>regimes sucessórios entre companheiros e cônjuges (BRASIL, 2017a).</p><p>3 TUTELA E CURATELA</p><p>A tutela, a curatela e a tomada de decisão apoiada visam propiciar a repre-</p><p>sentação do incapaz na prática dos atos da vida civil. Tem natureza de um encargo</p><p>público (múnus público), quem o faz presta um serviço público à sociedade.</p><p>A tutela é o instituto que auxilia o menor, a curatela ocorrerá nas demais</p><p>situações de incapacidade. A tomada de decisão apoiada foi trazida pelo Estatuto</p><p>da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146/2015.</p><p>A tutela é um encargo imposto pela lei para que uma pessoa cuide de um</p><p>menor e administre os seus bens.</p><p>FIGURA 6 – TUTELA</p><p>FONTE: . Acesso em: 6 jun. 2022.</p><p>“A tutela é atribuída ao Estado, à sociedade, aos parentes, em virtude da so-</p><p>lidariedade e tem como características: suprir a incapacidade, é um encargo</p><p>público</p><p>obrigatório, é personalíssimo, temporário e exclusivo” (MELLO, 2022c, p. 485).</p><p>135</p><p>A tutela pode ser estipulada por testamento, pela lei ou dativo. O tutor pode</p><p>também ser nomeado por qualquer documento autêntico (Art. 1729, parágrafo úni-</p><p>co). A tutela dos filhos menores acorrerá se um dos pais falecer e o outro for ausen-</p><p>te, ou se um dos pais perder o poder familiar, conforme Art. 1728. Para a tutela legí-</p><p>tima será nomeado os ascendentes ou os colaterais até o terceiro grau, a depender</p><p>do caso concreto, de acordo com o Art. 1732. O tutor dativo é nomeado pelo juiz, se</p><p>não houver testamento, parentes, ou estejam excluídos da tutela se negligente ou</p><p>se escusar do encargo, por exemplo.</p><p>O curador administra os bens e defende uma pessoa maior que não possa</p><p>fazê-lo, em virtude de enfermidade ou de uma doença mental.</p><p>ATENÇÃO</p><p>O divórcio somente pode ser pedido pelos cônjuges. No entanto, se o cônjuge</p><p>for incapaz para propor o divórcio o curador, o ascendente e o irmão, poderão</p><p>fazê-lo (GARCIA JUNIOR, 2021, p. 207).</p><p>Estão sujeitos à curatela, de acordo com o Art. 1767, aquelas pessoas que,</p><p>por causa transitória ou permanente, não puderem expressar sua vontade; pessoas</p><p>com vícios compulsórios e os pródigos. A curatela é instituída por meio de um pro-</p><p>cedimento judicial (BRASIL, 2002).</p><p>Por último, a tomada de decisão apoiada consiste na possibilidade de a pes-</p><p>soa com deficiência eleger duas pessoas idôneas, para lhe prestar apoio na tomada</p><p>das decisões sobre os atos da vida civil. As pessoas escolhidas fornecerão elemen-</p><p>tos e informações para que a pessoa possa exercer a sua capacidade, de acordo</p><p>com o Art. 1723-A (BRASIL, 2002).</p><p>136</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• Nos termos da Constituição da República de 1988 a é família plural, baseada no</p><p>afeto, na solidariedade recíproca.</p><p>• A pluralidade das entidades familiares, segundo a Constituição, é a entidade fa-</p><p>miliar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.</p><p>• Os princípios aplicáveis as famílias são a pluralidade das entidades familiares,</p><p>igualdade entre homens e a mulher, igualdade entre os filhos, a facilitação de</p><p>dissolução da entidade familiar pelo divórcio e a responsabilidade dos pais.</p><p>• As modalidades de famílias decorrentes de casamento são denominadas de</p><p>matrimonial, da união estável é denominada de informal ou convencional. Esses</p><p>são fatos sociais. E a família monoparental advém da convivência entre um dos</p><p>pais e seus filhos.</p><p>• Extingue-se a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, pela nulidade</p><p>ou anulação, e pelo divórcio.</p><p>• A tutela, a curatela e a tomada de decisão apoiada visam propiciar a representa-</p><p>ção do incapaz na prática dos atos da vida civil. Elas têm natureza de um encar-</p><p>go público (múnus público), e quem o faz presta um serviço público à sociedade.</p><p>• Os nubentes devem observar as regras acerca da capacidade. Será plenamente</p><p>capaz aos 18 anos.</p><p>• Considera-se a idade núbil a partir dos 16 anos, devem ter o consentimento de</p><p>seus pais.</p><p>• Requisitos para a União Estável: relação de afeto entre os companheiros; con-</p><p>vivência pública, contínua e duradoura; objetivo de constituir família; pode ser</p><p>convertido em casamento.</p><p>• São admitidos o divórcio judicial litigioso; divórcio judicial consensual e o divórcio</p><p>extrajudicial consensual.</p><p>137</p><p>1. As diversas modalidades de família são protegidas na Constituição de</p><p>1988, garante que o casamento é civil e gratuita a celebração. Ademais,</p><p>assegura que o casamento religioso tem efeito civil. Sobre esse tema,</p><p>assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. O casamento pode ser realizado pelo delegado de polícia.</p><p>b. O casamento é gratuito, público, complexo e decorre de um fato</p><p>social.</p><p>c. O casamento por procuração é realizado perante a autoridade</p><p>consular.</p><p>d. O casamento nuncupativo é realizado se um dos contraentes está</p><p>em iminente risco de morte.</p><p>2. O casamento é um ato solene, um ato jurídico negocial solene, público e</p><p>complexo. Sobre a validade do casamento, analise as sentenças a seguir:</p><p>I. O casamento do maior dos 16 anos e menor de 18 anos pode ser</p><p>autorizado por um dos pais, ainda que o outro não concorde.</p><p>II. A capacidade matrimonial não se confunde com a capacidade ci-</p><p>vil, a qual se adquire aos 18 anos.</p><p>III. A idade núbil verifica-se a partir dos 12 anos, não há necessidade</p><p>de autorização dos pais, nem dos representantes legais.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e II estão corretas.</p><p>b. Somente a sentença II está correta.</p><p>c. As sentenças I e III estão corretas.</p><p>d. Somente a sentença III está correta.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>138</p><p>3. A União Estável caracteriza-se por ser uma convivência pública com a</p><p>finalidade de constituir família, não há prazo mínimo para a sua caracteri-</p><p>zação, sobre a União Estável. Classifique V para as sentenças verdadeiras</p><p>e F para as falsas:</p><p>( ) Na União Estável há direito a alimentos, a sucessão e a meação patri-</p><p>monial.</p><p>( ) Pessoas separadas de fato há mais de dois anos podem constituir</p><p>União Estável.</p><p>( ) Os bens adquiridos durante a União Estável são regidos pelo regime da</p><p>separação legal de bens.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. V – F – F.</p><p>b. V – F – V.</p><p>c. F – V – F.</p><p>d. V – V – F.</p><p>4. A tutela, a curatela e a tomada de decisão apoiada visam propiciar a re-</p><p>presentação do incapaz na prática dos atos da vida civil. Quem assume</p><p>esse encargo público (múnus público) presta um serviço público à socie-</p><p>dade. Disserte sobre a tutela e a curatela.</p><p>5. O regime de bens, em regra, é de livre escolha dos contratantes, em que</p><p>esses podem adotar um deles para ambos. O regime de bens é mutável</p><p>por vontade dos cônjuges. Nesse contexto, disserte sobre as principais</p><p>características regime da comunhão parcial de bens e do regime da se-</p><p>paração obrigatória.</p><p>139</p><p>TÓPICO 3</p><p>DIREITO DAS</p><p>SUCESSÕES</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>No Tópico 3 será abordado o tema Direitos das Sucessões. Entre os assuntos</p><p>a serem estudados, estão a sucessão, o inventário e a partilha. O direito à herança é</p><p>garantido no Art. 5º, inciso XX da Constituição da República de 1988. Ademais, dis-</p><p>põe que “a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela</p><p>lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes</p><p>seja mais favorável a lei pessoal do ‘de cujus’” (BRASIL, 1988, Art. 5º, inciso XXXI).</p><p>O termo “de cujos” refere-se ao autor da herança que deixa bens a serem</p><p>transmitidos diante da sua morte. O herdeiro é a pessoa que recebe a herança. Her-</p><p>deiros legítimos são os sucessores previstos em lei. Herdeiro necessário, além de</p><p>ser legítimo, recebe a garantia legal mínima da parte indisponível, isto é, referente à</p><p>metade do patrimônio deixado pelo autor da herança. Convém destacar que:</p><p>O CC/2002 procurou inserir-se nessa contemporânea mutação de con-</p><p>formação do direito sucessório aos valores e princípios sociais, inflec-</p><p>tindo tendencialmente para a sucessão legítima, que, por ser o modelo</p><p>escolhido pelo legislador, tem a presunção de conciliar os interesses in-</p><p>dividuais com os interesses sociais do grupo familiar e com a solidarie-</p><p>dade social. As alterações nele ocorridas apontam nessa direção, como</p><p>a ampliação do rol de herdeiros necessários, incluindo o cônjuge e o</p><p>companheiro, notadamente em razão de serem considerados herdeiros</p><p>concorrentes com os demais” (LÔBO, 2022b, p. 90).</p><p>A sucessão pode ser resultante da lei denominada de sucessão legítima,</p><p>haja vista que o autor da herança não deixa disposição de última vontade, Art. 1788</p><p>do Código Civil de 2002. A sucessão testamentária resulta da vontade do testador,</p><p>isto é, da disposição de última vontade (Arts. 1789 e 1846). Os herdeiros testamen-</p><p>tários são os indicados para receber a herança. O autor da herança só pode dispor</p><p>em testamento da metade da herança se houver herdeiros necessários, de acordo</p><p>com o Art. 1789 (BRASIL, 2002).</p><p>Existe uma relação à função social da propriedade e à sucessão hereditária,</p><p>às pessoas com en-</p><p>fermidade ou deficiência mental” (MELLO, 2022, p. 154).</p><p>Limita-se a prática de certos atos da vida civil aos relativamente incapa-</p><p>zes, que, em razão disso, são assistidos. Consideram-se assistentes os pais e os</p><p>tutores. O relativamente incapaz pode praticar os seguintes atos sem ser assistido</p><p>pelos seus representantes legais: ser eleitor, ser testemunha, casar-se, ser manda-</p><p>tário; fazer testamento (MELLO, 2022, p. 160-161).</p><p>Pródigo (BRASIL, 2002, Art. 3º, IV) é considerada a pessoa que dissipa o</p><p>seu patrimônio. Nesse caso, a restrição aos atos civis recai sobre o exercício do</p><p>patrimônio. Pode ser assim descrita: “O pródigo é, pois, uma pessoa perdulária, já</p><p>que dissipa imoderadamente o seu patrimônio, ou seja, é um gastador contumaz”</p><p>(MELLO, 2022, p. 162, grifo do autor). A restrição dos atos civis recai sobre o exer-</p><p>cício do patrimônio.</p><p>14</p><p>Com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146/2015,</p><p>alterou-se significativamente o tema das capacidades no Código Civil de 2002. A</p><p>partir dessa legislação, a regra é que “todas as pessoas com deficiências apontadas</p><p>nos incisos do Art. 3º revogado passam a ser plenamente capazes para os atos da</p><p>vida civil” (MELLO, 2022, p. 140, grifos do autor). Portanto, a curatela restringe-se</p><p>aos aspectos patrimoniais e negociais de uma pessoa.</p><p>Em relação aos indígenas, observa-se na Lei nº 6.001/1973, Estatuto do Ín-</p><p>dio, Art. 1º que: “Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das</p><p>comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los,</p><p>progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional” (BRASIL, 1973a). Ademais</p><p>disso, segundo o Art. 7º dessa lei: “Os índios e as comunidades indígenas ainda</p><p>não integrados à comunhão nacional ficam sujeitos ao regime tutelar estabelecido</p><p>nesta Lei” (BRASIL, 1973a).</p><p>Em regra, segundo o Art. 5º, Código Civil de 2002, a menoridade cessa aos</p><p>dezoito anos completos; portanto, estará a pessoa habilitada à prática de todos os</p><p>atos da vida civil. Contudo, há outras situações em que a menoridade cessará antes</p><p>dos 18 (dezoito) anos de idade. O parágrafo único do referido artigo as enumera.</p><p>Veja no Quadro 3 como se dá essa divisão:</p><p>QUADRO 3 – DIVISÃO DA EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA E LEGAL</p><p>Emancipação</p><p>voluntária</p><p>I – pela concessão dos pais ou de um deles na falta do outro, mediante instru-</p><p>mento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença</p><p>do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos.</p><p>Emancipação</p><p>II – pelo casamento;</p><p>III – pelo exercício de emprego público efetivo;</p><p>IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;</p><p>V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de</p><p>emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos</p><p>tenha economia própria.</p><p>FONTE: A autora</p><p>A emancipação, outorgada pelos pais ou por sentença, será registrada em</p><p>registro público (BRASIL, 2002, Art. 9º, inciso II).</p><p>ATENÇÃO</p><p>A dissolução da sociedade conjugal não restaura o status anterior à emanci-</p><p>pação, ou seja, não é capaz de restabelecer a incapacidade anterior à eman-</p><p>cipação legal.</p><p>15</p><p>A emancipação legal decorrente de emprego e estabelecimento civil ou co-</p><p>mercial não se trata de trabalhos esporádicos ou eventuais. Portanto, devem ser</p><p>observados os requisitos elencados no Art. 5º, V, “[...] pelo estabelecimento civil ou</p><p>comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles,</p><p>o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria” (BRASIL, 2002).</p><p>O fim da existência da pessoa natural se dá pela morte. O Art. 6º, caput, trata</p><p>da morte natural e da morte presumida. “A morte real é causa de extinção da per-</p><p>sonalidade natural” (MELLO, 2022, p. 179). O documento capaz de provar a morte de</p><p>uma pessoa é o atestado de óbito (BRASIL, 1973b, Art. 77). Considera-se desapare-</p><p>cida uma pessoa sem que se tenha notícia, e não tenha deixado representante ou</p><p>procurador a quem caiba administrar os seus bens (BRASIL, 2002). Poderá, o juiz, a</p><p>requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarar a ausência</p><p>e nomear um curador.</p><p>Há casos em que a lei considera a presunção da morte de uma pessoa; em</p><p>consequência disso, permite a abertura da sucessão definitiva. À declaração de morte</p><p>presumida, poderá ser dispensada a decretação de ausência (BRASIL, 2002, Art. 7º).</p><p>A curadoria dos ausentes diz respeito à administração dos bens deixados</p><p>pelo ausente. Para isso, serão fixados os poderes e obrigações do curador, obser-</p><p>vando-se também o que a legislação determina aos tutores e curadores (BRASIL,</p><p>2002, Art. 24). Em regra, será o cônjuge o legítimo curador do ausente, caso não</p><p>estejam separados judicialmente ou de fato por mais de 2 (dois) anos antes da de-</p><p>claração da ausência. Na falta do cônjuge do ausente, a curadoria caberá aos seus</p><p>pais ou aos seus descendentes, nesta ordem, segundo a legislação, e desde que</p><p>não haja impedimento para que possam exercer esse cargo (BRASIL, 2002, Art.</p><p>25, § 1º). A ausência de uma pessoa impacta a sociedade conjugal. Em razão disso,</p><p>implica a dissolução dela (BRASIL, 2002, Art. 1571).</p><p>A sucessão provisória ocorre depois de decorrido um ano da arrecadação</p><p>dos bens do ausente. Ao ausente que deixou representante ou procurador, o prazo</p><p>será após três anos da arrecadação dos bens.</p><p>Os interessados poderão requerer a declaração da ausência e que seja</p><p>aberta provisoriamente a sucessão. Consideram-se os interessados na sucessão</p><p>provisória somente o cônjuge não separado judicialmente; os herdeiros presumi-</p><p>dos, legítimos ou testamentários; os que tiverem sobre os bens do ausente di-</p><p>reito dependente de sua morte; e os credores de obrigações vencidas e não pa-</p><p>gas (BRASIL, 2002, Art. 27). Se, excepcionalmente, não existirem interessados na</p><p>sucessão provisória, caberá ao Ministério Público requerer ao juízo competente</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 28, §1º).</p><p>Há duas outras situações em que é possível que os interessados requeiram</p><p>a sucessão definitiva se provarem que o ausente conta oitenta anos de idade, e</p><p>cinco datam as últimas notícias da pessoa (BRASIL, 2002, Art. 38). Pode acontecer</p><p>16</p><p>de o ausente reaparecer ou ficar provada a sua existência depois de estabelecida</p><p>a posse provisória. Nesse caso, cessarão as vantagens dos sucessores imitidos na</p><p>posse dos bens. Provada a época exata em que ocorreu o falecimento do ausente,</p><p>se durante a posse provisória, será considerada, nessa data, aberta a sucessão dos</p><p>herdeiros (BRASIL, 2002, Art. 35).</p><p>QUADRO 4 – HIPÓTESES DE MORTE PRESUMIDA SEM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA</p><p>MORTE PRESUMIDA</p><p>SEM DECLARAÇÃO</p><p>DE AUSÊNCIA</p><p>I – se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;</p><p>II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for</p><p>encontrado até dois anos após o término da guerra;</p><p>Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente</p><p>poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo</p><p>a sentença fixar a data provável do falecimento.</p><p>FONTE: A autora</p><p>A comoriência é um instituto que visa suprir a dúvida sobre o momento em</p><p>que ocorreu a morte de uma pessoa, ou seja, dos comorientes, tendo em vista que</p><p>não se consegue estabelecer quem faleceu primeiro. Por isso, presume-se que</p><p>ocorreu simultaneamente a morte. Pode ser em relação a mais de duas pessoas,</p><p>bem como não há necessidade de que estejam presentes no mesmo local. Portan-</p><p>to, podem ser consideradas simultâneas, mas em locais diversos.</p><p>FIGURA 1 – UM ACIDENTE DE AVIÃO PODE SER MOTIVO DE COMORIÊNCIA</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>Há mais uma situação em que se considera como se morto fosse, por razões</p><p>legais: é a denominada morte civil. “Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão;</p><p>os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da</p><p>abertura da sucessão”.</p><p>17</p><p>O desaparecimento motivado por atividade política está previsto em legisla-</p><p>ção especial, Lei nº 9.140/1995.</p><p>pois ambas têm uma estreita relação, já que a Constituição da República garante</p><p>ambas (LÔBO, 2022b). Contudo, não se admite o exercício de um direito ilimitada-</p><p>mente e há a solidariedade entre gerações, assim ensina Paulo Lôbo (2022b).</p><p>140</p><p>2 SUCESSÃO EM GERAL</p><p>Considera-se a morte um fato jurídico em sentido estrito (LÔBO, 2022b).</p><p>Transmite imediatamente a titularidade dos bens para os sucessores. A herança</p><p>deixada representa o patrimônio ativo e passivo que a pessoa que faleceu deixou,</p><p>também podendo ser denominado espólio ou acervo.</p><p>O autor da herança, além de deixar bens patrimoniais pode deixar disposição</p><p>de última vontade que não tenham valor econômico, como o reconhecimento de</p><p>filhos (referente ao Art. 1.609), nomeação de tutor para os seus filhos (referente ao</p><p>Art. 1.634), perdão aos seus herdeiros, indignos e excluídos da sucessão (referente</p><p>ao Art. 1.818). Nessas situações, pode ser feito por testamento ou por qualquer ou-</p><p>tro meio (BRASIL, 2002). Pode instituir fundação (explicado na Unidade 1, Tópico1).</p><p>Esses são alguns exemplos de disposição de última vontade.</p><p>São excluídos da sucessão herdeiros ou legatários que houverem sido au-</p><p>tores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a</p><p>pessoa de cuja sucessão se tratar; seu cônjuge, companheiro, ascendente ou</p><p>descendente que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da heran-</p><p>ça ou incorrerem em crime contra a sua honra; ou ainda seu cônjuge ou compa-</p><p>nheiro que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da</p><p>herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade, conforme</p><p>Art. 1814 (BRASIL, 2002).</p><p>Os legatários recebem bem determinado (não é sobre parte do patrimônio).</p><p>São a pessoa física ou pessoa jurídica, entidades não personificadas que o testador</p><p>escolhe para receber bens.</p><p>“Entes não personificados são o nascituro, filhos futuros (de alguém, não</p><p>concebidos), entidades não personificadas, entidades futuras (associação)”</p><p>(LÔBO, 2022b, p. 65).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Em algumas situações, a Fazenda Pública (União, Estado, Distrito Federal e</p><p>Município) pode receber a herança, assim como os credores do autor da herança.</p><p>141</p><p>FIGURA 7 – TIPOS DE HERDEIROS</p><p>Herdeiro</p><p>Legatário</p><p>Herdeiro</p><p>testamentário</p><p>Herdeiro</p><p>legítimo</p><p>Bem</p><p>determinado</p><p>Parcela do</p><p>patrimônio</p><p>Direito à</p><p>meação</p><p>FONTE: A autora</p><p>Há regras para determinar o lugar da sucessão com finalidade de administra-</p><p>ção e para que os herdeiros e terceiros possam exercer os seus direitos. A abertura</p><p>da sucessão ocorre no último domicílio do autor da herança, independentemente</p><p>de ter deixado neste local seus bens ou ter falecido em outro local.</p><p>A Lei de Introdução às normas do Direito brasileiro estabelece que na su-</p><p>cessão por morte ou por ausência, aplica-se a Lei do domicílio da pessoa (BRASIL,</p><p>1942, Art. 10). Em relação aos bens de estrangeiros que tenham falecido e que</p><p>estejam no Brasil aplica-se a lei brasileira se esta for mais favorável ao cônjuge e</p><p>aos seus filhos brasileiros ou a quem os represente, desde que a lei do país de quem</p><p>faleceu não seja mais favorável (BRASIL, 1942, Art.  10, § 1º).  A sucessão por morte</p><p>ou por ausência obedece à lei do país ao domiciliado, defunto ou desaparecido,</p><p>qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.</p><p>Aplica-se a sucessão à lei vigente no tempo do falecimento. Dessa forma,</p><p>as leis que entrarem em vigor após a morte do autor da herança não incide sobre a</p><p>sucessão. Ademais, a abertura da sucessão ocorre no dia do falecimento. Em rela-</p><p>ção à lei aplicável à sucessão testamentária será a que estava vigente na época em</p><p>que foi feito o testamento, e não a lei vigente na abertura do testamento. Herdeiros</p><p>necessários são: os parentes em linha reta, cônjuge ou companheiro. A sucessão</p><p>testamentária não abrange todos os bens deixados, mas a parte disponível.</p><p>Na sucessão a título universal recebe a totalidade dos bens ou parte ideal da</p><p>herança. Na sucessão a título particular o herdeiro recebe bem determinado. Diante</p><p>disso, o legatário recebe bem determinado e, por isso, esse bem não responde pelo</p><p>pagamento das dívidas da massa hereditária. A herança abrange todo o patrimô-</p><p>nio, ativo e passivo do autor da herança. Os herdeiros respondem pelas dívidas no</p><p>limite do valor que venha a receber, conforme Art. 1792 (BRASIL, 2002). “A heran-</p><p>ça compreende os bens patrimoniais exceto os direitos meramente pessoais, não</p><p>econômicos, tais como os direitos da personalidade, da tutela e da curatela. Além</p><p>disso, não compreende certos direitos, embora sejam econômicos, como o seguro</p><p>de vida ou de acidentes pessoais (Art. 794, CC)” (LÔBO, 2022b, p.100).</p><p>142</p><p>O professor Paulo Lôbo ensina que não se admite no Direito brasileiro ne-</p><p>gócio jurídico, isto é, contrato que envolva herança de pessoa que está viva será</p><p>considerado nulo se o fizer. Contudo, é possível fazer doação mortis causa, a qual</p><p>produzirá efeitos após a morte das partes; a partilha em vida, como as doações. “As</p><p>sucessões de quotas sociais, com o ingresso do herdeiro do sócio na sociedade”</p><p>(LÔBO, 2022b, p. 105).</p><p>É possível que os bens deixados sejam digitais, situação que se denomina</p><p>herança digital. São bens imateriais, incorpóreos, mas que têm valor econômico.</p><p>São transmissíveis e se incluem na herança deixada pelo de cujus as</p><p>dimensões econômicas dessas contas, ou dos perfis, sites, blogs, tais</p><p>como: a) os valores de publicidade a eles transferidos por empresas para</p><p>veiculação de seus produtos e serviços; b) a exploração econômica au-</p><p>torizada dos direitos da personalidade do titular (por exemplo, da ima-</p><p>gem); c) contratos de uso ou de aquisição de bens digitais; d) direitos</p><p>patrimoniais de autor (LÔBO, 2022b, p. 110).</p><p>A transmissão da herança é automática, significa que a transmissão ocorre</p><p>quando ocorre o falecimento, denomina-se de princípio de saisine. Nesse sentido,</p><p>o Art. 1.784 dispõe que aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos</p><p>herdeiros legítimos e testamentários. Diante disso, evita-se que os bens fiquem</p><p>sem titularidade. Pode acontecer de não existir parentes do autor da herança ou</p><p>testamento, nesses casos os bens são repassados para o Município, Distrito Federal</p><p>ou União, a depender onde esteja localizado, conforme Art. 1844 (BRASIL, 2002).</p><p>A posse dos bens é transmitida aos herdeiros, os quais têm posse indireta</p><p>desde a abertura da sucessão (falecimento). Portanto, até que seja feita a partilha,</p><p>a herança é uma universalidade em condomínio. Terão uma quota ideal até a parti-</p><p>lha dos bens. Legitimados para suceder são os herdeiros, os legatários, e os herdei-</p><p>ros testamentários. São chamados a suceder os filhos nascidos ou não concebidos,</p><p>as pessoas jurídicas constituídas e as que forem organizadas conforme for deter-</p><p>minado no testamento, de acordo com 1.799. A administração da herança caberá</p><p>sucessivamente ao cônjuge, ao companheiro ou ao herdeiro que estiver na posse e</p><p>administração dos bens, sendo o testamenteiro. Na falta dessas, o juiz indicará uma</p><p>pessoa da sua confiança, de acordo com Art. 1797 (BRASIL, 2002). A administração</p><p>da herança ocorrerá até que seja feito o compromisso com o inventariante.</p><p>2.2 SUCESSÃO LEGÍTIMA E TESTAMENTÁRIA</p><p>A sucessão legítima decorre da lei, ou se não houver testamento, ou ainda se</p><p>este for considerado inválido, nulo ou tiver sido revogado. Conceitua-se a sucessão</p><p>legítima como “a sucessão legítima ou legal é a que se dá em observância à ordem de</p><p>vocação e aos critérios estabelecidos na legislação. A sucessão legítima divide-se em</p><p>sucessão necessária e sucessão legítima em sentido amplo” (LÔBO, 2022b, p. 181).</p><p>143</p><p>QUADRO 5 – FORMAS DE SUCESSÃO</p><p>Sucessão</p><p>legítima</p><p>Sucessão</p><p>testamentária</p><p>Lei</p><p>Testamento</p><p>FONTE: A autora</p><p>Denomina-se ordem de vocação hereditária a ordem de preferências da-</p><p>queles que herdarão. Na ordem de sucessão, observa-se o vínculo de parentesco.</p><p>Os herdeiros necessários são descendentes, ascendentes e o cônjuge ou compa-</p><p>nheiro. O companheiro passou a ser considerado</p><p>herdeiro necessário devido ao</p><p>entendimento do Supremo Tribunal Federal.</p><p>Diante disso, de acordo com o Art. 1829, os descendentes concorrem com</p><p>o cônjuge, companheiro, exceto se casados no regime da comunhão universal, da</p><p>separação obrigatória de bens, ou se casado em regime parcial de bens, se não</p><p>houver deixado bens particulares (BRASIL, 2002). Se não houver descendentes,</p><p>os ascendentes (pais do autor da herança) concorrem com o cônjuge ou compa-</p><p>nheiro. Se não houver ascendentes, o cônjuge ou o companheiro recebe sozinho a</p><p>herança. E, por fim, os colaterais.</p><p>Há a possibilidade de a herança ser por cabeça, por linha ou por estirpe. A</p><p>herança por cabeça significa que os herdeiros recebem de maneira igual, o que</p><p>normalmente acontece. A herança recebida por linha se refere à sucessão dos as-</p><p>cendentes, dividindo-se a herança em partes iguais, ou seja, recebendo, em iguais</p><p>condições, os herdeiros maternos e paternos. Na herança por estirpe, os filhos re-</p><p>presentam os pais, por exemplo, se estes já tiverem falecido, pré-morto ou excluí-</p><p>dos da sucessão.</p><p>Na classe dos descendentes, os filhos são os mais próximos, depois os netos,</p><p>depois os bisnetos, por exemplo. Na classe dos ascendentes, os mais próxi-</p><p>mos preferem aos mais remotos, de acordo com as linhas paterna e materna,</p><p>nas quais se biparte a herança (ou mais de duas linhas, na hipótese de multi-</p><p>parentalidade) (LÔBO, 2022b, p. 191).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Na falta dos pais, os avós não herdam igualmente, mas de acordo com sua</p><p>linha. Por isso, se existir um único avô paterno, este herda a metade, e os outros</p><p>144</p><p>dois avós maternos herdam a outra metade (LÔBO, 2022b). Na classe dos colate-</p><p>rais, alguns parentes de mesmo grau preferem a outros, como os sobrinhos que</p><p>preferem aos tios (são parentes em terceiro grau).</p><p>Nas linhas diretas dos descendentes e dos ascendentes não existe limite</p><p>de grau, “salvo as limitações biológicas da sobrevivência, diferentemente da linha</p><p>colateral (até o quarto grau, para os fins de sucessão)” (LÔBO, 2022b, p. 191).</p><p>Para que o cônjuge participe da sucessão, deve ser observado o que foi dito</p><p>anteriormente sobre o regime de bens, não devendo estar separado judicialmente</p><p>de fato há mais de dois anos.</p><p>Em 2017, o Supremo Tribunal Federal equiparou cônjuges e companheiros para</p><p>fins de sucessão, um do outro, inclusive em uniões homoafetivas. Declarou</p><p>inconstitucional o Art. 1790 (RE nº 646.721 e 878.694) (BRASIL, 2017a; 2017b).</p><p>INTERESSANTE</p><p>O Supremo Tribunal Federal fixou a tese de que é inconstitucional, no siste-</p><p>ma constitucional vigente, a diferença de regime sucessório entre companheiros e</p><p>cônjuges, devendo ser aplicado o regime estabelecido no Art. 1820 do Código Civil</p><p>nos dois casos. Ademais disso, deve-se destacar que o Supremo Tribunal Fede-</p><p>ral fixou a tese 622, na qual consolidou o entendimento da multiparentalidade, em</p><p>que a paternidade socioafetiva, quando declarada ou não em registro público, não</p><p>impossibilita o reconhecimento de vínculo de filiação concomitante com base em</p><p>origem biológica, com os efeitos jurídicos correspondentes.</p><p>FIGURA 9 – MULTIPARENTALIDADE</p><p>FONTE: . Acesso em: 6 jun. 2022.</p><p>145</p><p>Por conseguinte, os filhos socioafetivos têm direitos hereditários em igual-</p><p>dade com os filhos biológicos:</p><p>A sucessão hereditária legítima é assegurada ao filho de pais concomi-</p><p>tantes biológicos e socioafetivos, em igualdade de condições. Aberta a</p><p>sucessão de cada um deles é herdeiro legítimo de quota parte atribuída</p><p>aos herdeiros de mesma classe (direta ou por representação), imediata-</p><p>mente, em virtude da saisine (LÔBO, 2022b, p. 228).</p><p>Esses foram alguns dos temas relevantes da sucessão legítima. Passare-</p><p>mos a estudar, agora, a sucessão testamentária. Essa sucessão decorre de dis-</p><p>posição de última vontade, nesse caso só poderá o testador dispor da metade da</p><p>herança (referência ao Art. 1789), haja vista que a outra metade deve ser destinada</p><p>à sucessão legítima (herdeiros necessários). Trata-se de um negócio jurídico, per-</p><p>sonalíssimo, unilateral, revogável e gratuito (GARCIA JUNIOR, 2021, p. 228).</p><p>O testador pode revogar o testamento a qualquer momento, uma vez que</p><p>ainda não produziu efeitos. A revogação é feita “pelo mesmo modo e forma como</p><p>pode ser feito”, de acordo com o Art. 1969 (BRASIL, 2002).</p><p>Podem testar: qualquer pessoa que esteja em plena capacidade, maior de</p><p>18 (dezoito) anos, cego, analfabeto, pródigo, falido, maiores de 16 e maiores de 18</p><p>anos (GARCIA JUNIOR, p. 229).</p><p>Testamento “também é instrumento adequado para declarações em matérias</p><p>não patrimoniais, como as relativas ao direito de família [...], pai ou mãe podem</p><p>dele se utilizar para reconhecimento voluntário de filho” (LÔBO, 2022b, p. 526).</p><p>NOTA</p><p>Professor Paulo Lôbo (2022b) explica que essas declarações feitas em tes-</p><p>tamento, que não tenham cunho material, produzem efeitos definitivos. Em outras</p><p>palavras, prevalecerão ainda que o testamento venha ser revogado pelo próprio</p><p>testador. Os legitimados a serem nomeados no testamento são: pessoas físicas,</p><p>nascituros, pessoas físicas ainda não concebidas, pessoas jurídicas já constituídas</p><p>ou as que serão constituídas, bem como entidades não personificadas.</p><p>O testamenteiro é a pessoa física (pode ser mais de uma) designada pelo</p><p>testador, o qual dá cumprimento e vela pelo testamento, conforme Art. 1985. A</p><p>nomeação dele não é obrigatória. As modalidades de testamento são: testamento</p><p>público, particular, cerrado e especiais. O testamento público é elaborado pelo ta-</p><p>belião em livro de notas ou seu substituto. Deve ser lido em voz alta e assinado pelo</p><p>testador, pelas testemunhas e pelo tabelião. O testamento particular é escrito de</p><p>próprio punho ou por processo mecânico, também é lido em voz alta na presença</p><p>de testemunhas e assinado. O testamento cerrado é secreto e entregue ao tabelião</p><p>146</p><p>na presença de testemunhas, há outros requisitos no Art. 1868. Os testamentos</p><p>especiais são feitos pelo marítimo e militar aeronáutico (BRASIL, 2002).</p><p>São quatro os testamentos especiais: testamento simplificado, escrito à mão</p><p>e assinado apenas pelo testador; testamento marítimo: realizado a bordo de</p><p>navio civil ou militar; testamento aeronáutico: realizado a bordo de avião</p><p>civil ou militar; testamento militar: realizado por militares em campanha ou</p><p>guerra (LÔBO, 2022b).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Na sucessão, o cônjuge concorre à divisão da legítima, ou seja, em igual-</p><p>dade de condições com os descendentes e os ascendentes conforme o Art. 1830</p><p>(BRASIL, 2002). Não concorrerá na ordem de vocação hereditária se estivessem</p><p>casados em comunhão universal de bens (direito à meação), no regime da separa-</p><p>ção obrigatória e se casados em regime de bens da comunhão parcial, caso bens</p><p>particulares não tenham sido deixados.</p><p>Portanto, participa o cônjuge da sucessão, se casados fossem no regime de</p><p>separação convencional e no regime de bens da comunhão parcial, se quem faleceu</p><p>tinha bens particulares, existindo o direito à meação sobre o patrimônio comum. Se</p><p>o regime adotado foi o da participação final dos aquestos, terá direito à meação e à</p><p>herança, e se concorre com os ascendentes independe do regime de bens.</p><p>Na sucessão do cônjuge, em concorrência com os descendentes, de acordo</p><p>com o Art. 1832, pode ser explicado da seguinte maneira: “se o cônjuge supérstite</p><p>concorrer com um filho, herdará metade; com dois filhos, herdará 1/3; com quatro</p><p>filhos, 1/4 da herança; mas, se concorrer com cinco ou mais, terá garantido um</p><p>percentual mínimo de 1/4, cabendo aos demais sucessores dividir o restante” (GA-</p><p>GLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p. 3242).</p><p>O cônjuge sobrevivente concorre com os ascendentes, ou seja, com os pais</p><p>do cônjuge que faleceu, independe do regime de bens adotado pelo casal. Portanto,</p><p>o cônjuge sobrevivente ao concorrer com os pais, ou seja, o pai e a mãe do falecido,</p><p>terá direito a um terço da</p><p>herança. Agora, se o cônjuge falecido tiver apenas um dos</p><p>pais vivo, ou tiver um de maior grau, como avós, o cônjuge sobrevivente terá direito</p><p>à metade da herança (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022).</p><p>147</p><p>3 INVENTÁRIO E PARTILHA</p><p>O inventário é o procedimento de divisão dos bens e direitos aos herdeiros le-</p><p>gítimos, testamentário ou legatários. Tem como finalidade permitir que a partilha seja</p><p>feita conforme a lei e sejam individualizados os direitos dos sucessores. Pode ser</p><p>feito via judicial ou extrajudicial. Para a realização do inventário via extrajudicial, to-</p><p>dos os herdeiros devem ser capazes e devem estar de acordo quanto à partilha, bem</p><p>como não ter testamento. A presença de um advogado também se faz necessária.</p><p>A partilha é o resultado que advém do inventário, ou seja, a divisão dos bens</p><p>entre os herdeiros do seu quinhão de direito. Por fim, a sobrepartilha consiste em</p><p>uma nova partilha no caso de não terem sido divididos os bens entre os herdeiros.</p><p>Recomenda-se a leitura do artigo “O direito sucessório aplicável aos compa-</p><p>nheiros que vivem em união estável” que discute o direito sucessório dos cônjuges</p><p>e dos companheiros, tema estudado nesta unidade, no Tópico 2. Nele, é explicado</p><p>em quais regimes de bens, bem como quais bens entram na sucessão entre côn-</p><p>juges e entre companheiros. É um artigo bastante didático que explica também</p><p>quando se considera aberta a sucessão.</p><p>148</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>O DIREITO SUCESSÓRIO APLICÁVEL AOS</p><p>COMPANHEIROS QUE VIVEM EM UNIÃO ESTÁVEL</p><p>Maria Clara da Silveira Villasbôas Arruda</p><p>OS BENS ENVOLVIDOS NA SUCESSÃO ENTRE OS</p><p>CÔNJUGES E OS COMPANHEIROS</p><p>Antes de mais nada, deve-se esclarecer quais os bens do falecido são obje-</p><p>to da sua sucessão: os seus bens particulares, assim estabelecidos em decorrência</p><p>do regime de bens escolhido para o casamento. Há casais que decidem manter</p><p>bens comuns - dos quais o outro cônjuge ou companheiro será meeiro e não her-</p><p>deiro (porque já detém a propriedade da metade deles, desde o início da vida em</p><p>comum, com o casamento ou a união estável, independentemente do falecimento</p><p>do outro) - e bens particulares, dos quais o outro será coerdeiro.</p><p>Os regimes de bens do casamento que consideram os cônjuges ou compa-</p><p>nheiros como condôminos de bens havidos pelo casal são o regime da comunhão</p><p>total (arts. 1667/71, CC) e o regime da comunhão parcial de bens (Art. 1640, e arts.</p><p>1658/66, CC).</p><p>No primeiro, comunicam-se, entre o casal, todos os bens havidos pelas par-</p><p>tes, inclusive os adquiridos exclusivamente por um deles, por força de doação e por</p><p>herança de terceiros, antes ou durante o casamento. No segundo tipo de regime, o</p><p>da comunhão parcial de bens, comunicam-se, entre o casal, apenas os bens adqui-</p><p>ridos, por ambos, na constância do casamento.</p><p>Desse modo, os bens particulares de cada parte não são de propriedade</p><p>do outro, e serão objeto de herança quando do falecimento de uma das partes. Tal</p><p>herança será partilhada com os descendentes ou com os ascendentes do falecido,</p><p>se houver. No caso da adoção do regime da participação final nos aquestros, cada</p><p>parte mantém um patrimônio próprio durante a vida em comum, mas quando do</p><p>falecimento de um deles, o sobrevivente terá direito à metade dos bens adquiridos</p><p>pelo casal, de forma onerosa, durante a constância do casamento ou da união es-</p><p>tável, conforme Art. 1672.</p><p>Adotado o regime da separação convencional de bens (Arts. 1687/88 do CC),</p><p>os cônjuges ou companheiros não compartilham a propriedade de qualquer de seus</p><p>bens em vida, mas tornam-se herdeiros, um do outro, por ocasião do falecimento de</p><p>qualquer deles. Tal direito sucessório não é concedido aos cônjuges ou companhei-</p><p>149</p><p>ros quando o regime de bens adotado no casamento é o da separação obrigatória de</p><p>bens, caso qualquer das partes tenha 70 anos ou mais, quando do casamento ou do</p><p>início da vida em comum, de acordo com Art. 1641, em parágrafo único.</p><p>Assim, a sucessão do cônjuge ou companheiro falecido não envolve a mea-</p><p>ção - a metade dos bens comuns havidos pelo casal, de propriedade do cônjuge ou</p><p>companheiro sobrevivente, quando adotado, entre eles, o regime da comunhão de</p><p>bens, quando do casamento ou do início da vida em comum.</p><p>Desse modo, por ocasião do falecimento de um dos cônjuges ou compa-</p><p>nheiros, será objeto da sucessão a metade dos bens havidos pelo casal, assim</p><p>considerada após desprezada a meação. Tais bens objeto da sucessão do falecido</p><p>serão destinados, em partes iguais: (a) aos herdeiros necessários do falecido (o</p><p>cônjuge ou o companheiro e os descendentes do “de cujos”, conforme o Art. 1829,</p><p>I do CC). e (b) àqueles para quem o falecido tiver estabelecido que destinaria seus</p><p>bens disponíveis, conforme sua livre decisão. Há casais que já estabelecem, em</p><p>vida, por testamento, que seus bens disponíveis serão destinados exclusivamente</p><p>para o seu cônjuge ou companheiro.</p><p>De acordo com o Código Civil de 2002, os bens do falecido não se destinam</p><p>exclusivamente para seus descendentes, mas também para o respectivo cônjuge</p><p>ou companheiro, com base no Art. 1829, I, do CC.</p><p>Além disso, os descendentes do falecido serão afetados por outros direitos</p><p>concedidos aos cônjuges e companheiros do falecido, além dos previstos no Art.</p><p>1829, I, do CC, quais sejam: o Art.  1.831 do CC, que trata do direito real de habitação</p><p>vitalício do cônjuge ou companheiro sobrevivente, no imóvel onde o casal residia,</p><p>mesmo sendo de propriedade exclusiva do falecido; e o Art. 1.832 do CC, que esta-</p><p>belece os quinhões da herança destinados ao cônjuge: o mesmo cabível aos des-</p><p>cendentes dele, ou 25% da herança, no mínimo, se todos os filhos forem comuns ao</p><p>falecido e ao cônjuge ou companheiro sobrevivente.</p><p>Aberta a sucessão do falecido, no local do seu último domicílio, a herança</p><p>transmite-se aos herdeiros legítimos (também chamados de herdeiros necessários,</p><p>como determina a lei) e testamentários (de acordo com as disposições de última</p><p>vontade do falecido), como estabelece o Art. 1.784/6 do CC.</p><p>Apenas quando da abertura da sucessão, os herdeiros poderão aceitar ou</p><p>renunciar a herança, no seu todo, e não em parte, sob condição ou a termo, mas</p><p>sempre de forma irrevogável e irretratável (Art. 1.808/12, CC), não se admitindo</p><p>renúncia de herança de pessoa viva. A exclusão de herdeiros ou legatários da su-</p><p>cessão exige processo judicial e será declarada por sentença, de acordo com Art.</p><p>1.814/5 do Código Civil.</p><p>150</p><p>A sucessão do companheiro por força da união estável - a definição de união</p><p>estável e como se distingue da relação de namoro. Surge, como questão preliminar</p><p>ao estudo da sucessão entre os companheiros, a seguinte questão: como qualificar</p><p>a união estável e qual a distinção entre a união estável, havida entre companheiros,</p><p>e como identificá-la, distinguindo-a do contrato de namoro?</p><p>FONTE: ARRUDA, M. C. da S. V. O Direito Sucessório aplicável aos companheiros</p><p>que vivem em união estável. Migalhas, 20 abr. 2022. Disponível em: https://bit.</p><p>ly/3QixHeL. Acesso em: 8 maio 2022.</p><p>151</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• O direito à herança é garantido no Art. 5º, inciso XX, da Constituição da República</p><p>de 1988, portanto, um direito fundamental.</p><p>• A Constituição de 1988 determina que à sucessão de bens que pertençam a</p><p>estrangeiros e estejam situados no Brasil aplica-se a lei brasileira em benefício</p><p>do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a</p><p>lei pessoal do autor da herança.</p><p>• A sucessão legítima ou legal é a que se dá em observância à ordem de vocação</p><p>previstas em lei.</p><p>• A transmissão da herança é automática, no momento do falecimento, e decorre</p><p>do princípio de saisine.</p><p>• O inventário é o procedimento para a divisão dos bens e direitos, aos herdeiros</p><p>legítimos, testamentário ou legatários.</p><p>• A partilha é o resultado que advém do inventário, ou seja, a divisão dos bens</p><p>entre os herdeiros do seu quinhão de direito.</p><p>• A sobrepartilha consiste em uma nova partilha por não terem sido divididos</p><p>bens</p><p>entre os herdeiros por ocultação ou porque não se tinha notícias deles à época.</p><p>• Na sucessão, o cônjuge concorre à divisão legítima, ou seja, em igualdade de</p><p>condições com os descendentes e os ascendentes.</p><p>• Não se aplica a ordem de vocação hereditária se os cônjuges forem casados em</p><p>comunhão universal de bens (têm direito à meação).</p><p>• Não se aplica a ordem de vocação hereditária no regime da separação obriga-</p><p>tória se aos casados em regime de bens da comunhão parcial não tenham sido</p><p>deixados bens particulares.</p><p>152</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1. A sucessão é a transferência dos bens do autor da herança para os seus</p><p>herdeiros em virtude da morte dele. A sucessão legal ocorre quando o</p><p>autor da herança não deixa disposição de última vontade. Sobre o direito</p><p>sucessório, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. O herdeiro não responde pelas dívidas do autor da herança.</p><p>b. Os herdeiros em grau igual recebem em nome próprio a quota de</p><p>1/3 da herança.</p><p>c. Os herdeiros mais próximos excluem os mais remotos, exceto nas</p><p>situações de representação.</p><p>d. A herança é uma universalidade de direito, e até a partilha os bens</p><p>pertencem ao inventariante.</p><p>2. A pessoa que queira deixar testamento poderá fazê-lo desde que respei-</p><p>te a legítima, ou seja, a meação do patrimônio deve ser a eles destinados.</p><p>Com relação aos herdeiros legítimos, analise as sentenças a seguir:</p><p>I. No regime de comunhão universal, o cônjuge sobrevivente não</p><p>concorre com os descendentes.</p><p>II. Os herdeiros legítimos são os descendentes, os ascendentes, o</p><p>cônjuge sobrevivente e os municípios. Não estão incluídos o Es-</p><p>tado nem a União.</p><p>III. Os ascendentes concorrem com o cônjuge sobrevivente.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e II estão corretas.</p><p>b. Somente a sentença II está correta.</p><p>c. As sentenças I e III estão corretas.</p><p>d. Somente a sentença III está correta.</p><p>3. A sucessão dos descendentes ocorre por cabeça, ou seja, estão no mes-</p><p>mo grau de parentesco, ou por estirpe, o que significa que os herdeiros</p><p>têm graus diferentes. Sobre a sucessão dos descendentes, classifique V</p><p>para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:</p><p>153</p><p>( ) Na sucessão dos descendentes, os de graus mais próximos excluem</p><p>os mais remotos.</p><p>( ) Os descendentes que estejam na mesma classe têm os mesmos direi-</p><p>tos à sucessão que os seus ascendentes.</p><p>( ) O direito de representação ocorre na linha ascendente.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. V – V – F.</p><p>b. V – F – V.</p><p>c. F – V – F.</p><p>d. F – F – V.</p><p>4. O cônjuge sobrevivente concorre com os ascendentes do cônjuge fa-</p><p>lecido, segundo o Código Civil. Disserte a quanto ele terá de direito e as</p><p>implicações do regime de bens na sucessão dos ascendentes.</p><p>5. Disserte sobre a sucessão entre os filhos biológicos e adotivos e qual é o</p><p>entendimento que prevalece.</p><p>154</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução</p><p>às normas do Direito brasileiro. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1942.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3yBNChz. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Bra-</p><p>sil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://</p><p>bit.ly/3N7Pxyq. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,</p><p>DF: Presidência da República, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3MfSY6i. Acesso</p><p>em: 19 abr. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão</p><p>da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF: Pre-</p><p>sidência da República, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3MfSY6i. Acesso em: 19</p><p>abr. 2022.</p><p>Brasil. Poder Judiciário. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 175, de 14</p><p>de maio 2013. Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de</p><p>conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. Brasí-</p><p>lia, DF: CNJ, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3960sup. Acesso em: 19 abr. 2022</p><p>BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2. Turma). Recurso Extraordinário</p><p>878.694/MG. Direito Constitucional e Civil. Recurso Extraordinário. Repercussão</p><p>Geral. Inconstitucionalidade da distinção de regime sucessório entre cônjuges e</p><p>companheiros. Recorrente: Maria de Fátima Ventura. Recorrido: Rubens Coimbra</p><p>Pereira e Outros (a/s). Relatora: Min. Roberto Barroso, 10 de maio de 2017. Disponí-</p><p>vel em: https://bit.ly/3zoyapw. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2. Turma). Recurso Extraordinário</p><p>646.721/RS. Direito Constitucional e Civil. Recurso Extraordinário. Repercussão</p><p>Geral. Aplicação do artigo 1790 do código civil à sucessão em união estável ho-</p><p>moafetiva. Inconstitucionalidade da distinção de regime sucessório entre cônju-</p><p>ges e companheiros. Recorrente: São Martin Souza da Silva. Recorrido: Geni Quin-</p><p>tana. Relatora: Min. Roberto Barroso, 10 de maio de 2017. Disponível em: https://</p><p>bit.ly/3mmkjYW. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>155</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 260. A convenção de condo-</p><p>mínio aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular as relações entre os</p><p>condôminos. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, [2001]. Disponível em: ht-</p><p>tps://bit.ly/3mnTOm1. Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 377. O portador de visão mono-</p><p>cular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos de-</p><p>ficientes. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, [2009]. Disponível em: https://</p><p>bit.ly/3x7rdGC. Acesso em: 1 jun. 2022.</p><p>GAGLIANO, P.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de direito civil: volume único. 6. ed.</p><p>São Paulo: SaraivaJur, 2022.</p><p>GARCIA JUNIOR, V. Direito civil. São Paulo: Rideel, 2021.</p><p>LÔBO, P. Direito civil: coisas. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2022a. 4 v.</p><p>LÔBO, P. Direito civil: sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2022b. 6 v.</p><p>LÔBO, P. Direito civil: famílias. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2022c. 5 v.</p><p>MELLO, C. Direito civil: direitos das coisas. 4. ed. Rio de Janeiro: Processo 2022a.</p><p>MELLO, C. Direito civil: sucessões. 4. ed. Rio de Janeiro: Processo 2022b.</p><p>MELLO, C. Direito civil: famílias. 3. ed. Rio de Janeiro: Processo 2022c.</p><p>SCHREIBER, A. Manual de direito contemporâneo. 5. ed. São Paulo: SaraivaJur,</p><p>2002.</p><p>O Art. 1º estabelece que:</p><p>São reconhecidas como mortas, para todos os efeitos legais, as pes-</p><p>soas que tenham participado ou tenham sido acusadas de participa-</p><p>ção em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5</p><p>de outubro de 1988, e que, por esse motivo, tenham sido detidas por</p><p>agentes públicos, achando-se, deste então, desaparecidas, sem que</p><p>delas haja notícias.</p><p>No Quadro 5, temos as informações trazidas nos Arts. 9º e 10º:</p><p>QUADRO 5 – ARTIGOS</p><p>O Art. 9º do Código Civil de 2002 elenca que:</p><p>Serão registrados em registro público:</p><p>I – os nascimentos, casamentos e óbitos;</p><p>II – a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;</p><p>III – a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;</p><p>IV – a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.</p><p>Quanto à averbação, o Art. 10º determina que se fará averbação em registro público:</p><p>I – das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o resta-</p><p>belecimento da sociedade conjugal;</p><p>II – dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação.</p><p>FONTE: A autora</p><p>2.2 DA PESSOA JURÍDICA</p><p>Diferentemente das pessoas naturais, as pessoas jurídicas são detentoras</p><p>de capacidade de direito; todavia, não têm todas as formas de proteção da perso-</p><p>nalidade (MELLO, 2002, p. 124). Também são sujeitos de direitos e obrigações. Os</p><p>requisitos para a constituição de uma pessoa jurídica são (MELLO, 2022, p. 444-</p><p>445, grifos do autor):</p><p>a. união de várias pessoas com a intenção de criação de um ente jurí-</p><p>dico com personalidade jurídica distinta da dos seus membros (affectio</p><p>societatis);</p><p>b. elaboração de um ato constitutivo, requisito formal exigido por lei, que</p><p>poderá ser o estatuto (no caso das associações), o contrato social (quan-</p><p>do se tratar de sociedade simples ou empresárias) ou escritura pública</p><p>ou testamento (no caso das fundações);</p><p>c. o registro do referido ato constitutivo no órgão competente;</p><p>d. licitude de suas finalidades, ou do objeto social motivacional de sua</p><p>criação.</p><p>A partir do Art. 44 do Código, são elencadas as pessoas de direito privado;</p><p>no entanto, não se trata de um rol taxativo (Enunciado 144, Jornada de Direito Civil).</p><p>18</p><p>São pessoas jurídicas de direito privado, a saber: as associações, as sociedades, as</p><p>fundações, as organizações religiosas e os partidos políticos.</p><p>São consideradas pessoas jurídicas nacionais aquelas organizadas segundo</p><p>a legislação brasileira e que tenham a sua sede e administração no Brasil. As socie-</p><p>dades estrangeiras devem ter autorização do Poder Executivo para funcionarem no</p><p>Brasil (BRASIL, 2002, Art. 1.134).</p><p>O Código Civil de 2002, a partir do Art. 40, nas disposições gerais traz a</p><p>classificação das pessoas jurídicas de direito público e de direito privado. As pes-</p><p>soas jurídicas de direito público podem ser de direito interno ou de direito externo</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 40). Consideram-se pessoas jurídicas de direito público interno</p><p>a União; os estados, Distrito Federal e os territórios; os municípios; as autarquias,</p><p>inclusive as associações públicas; as demais entidades de caráter público criadas</p><p>por lei (BRASIL, 2002, Art. 41).</p><p>O início da existência legal das pessoas jurídicas de direito privado dá-se</p><p>com a inscrição do ato constitutivo no registro (Lei de Registros Públicos, Lei nº</p><p>6015/1973). Em algumas situações poderá ser necessário de ser precedido de au-</p><p>torização ou aprovação do Poder Executivo.</p><p>O Direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado,</p><p>por defeito do ato respectivo, decai em três anos. O referido prazo conta-se da</p><p>publicação de sua inscrição no registro (BRASIL, 2002, Art. 45).</p><p>2.2.1 ASSOCIAÇÕES</p><p>As associações são compostas por pessoas que se organizam com objeti-</p><p>vos não econômicos (BRASIL, 2002, Art. 53). Portanto, não há entre essas pessoas</p><p>direitos e obrigações recíprocas (BRASIL, 2002, Art. 53, Parágrafo único). Asso-</p><p>ciados têm iguais direitos, entretanto, o “estatuto poderá instituir categorias com</p><p>vantagens especiais” (BRASIL, 2002, Art. 55).</p><p>As associações e as cooperativas, segundo o Art. 5º, XVIII, da Constituição</p><p>de 1988, não precisam de autorização estatal. Veda-se a interferência estatal no</p><p>seu funcionamento. O estatuto deve ser levado a registro para que tenha persona-</p><p>lidade jurídica. Em regra, a qualidade é intransmissível, e o estatuto pode dispor de</p><p>maneira diversa (BRASIL, 2002, Art. 56).</p><p>No que diz respeito à exclusão de um associado, só será admissível se</p><p>ficar demonstrada a justa causa, a qual depende de procedimento em que seja</p><p>assegurado o direito de defesa e de recurso (BRASIL, 2002, Art. 57), observado o</p><p>que determinar o estatuto. Ademais, o associado não pode ser impedido de exercer</p><p>o seu direito ou função que lhe tenham sido legitimamente conferidos, exceto nos</p><p>casos previstos na legislação ou no estatuto (BRASIL, 2002, Art. 58).</p><p>19</p><p>QUADRO 6 – REQUISITOS DOS ESTATUTOS DAS ASSOCIAÇÕES</p><p>• Denominação, os fins e a sede da associação.</p><p>• Requisitos para a admissão, demissão e exclusão de associados.</p><p>• Fontes de recursos para sua manutenção.</p><p>• Modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos.</p><p>• Condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.</p><p>• Forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.</p><p>FONTE: A autora</p><p>A assembleia geral das associações tem competência para destituir os ad-</p><p>ministradores e alterar o estatuto, e deve ser especialmente convocada para esse</p><p>fim (BRASIL, 2002, Art. 59). Cabe ao estatuto estabelecer qual o quórum, bem como</p><p>quais serão os critérios para a eleição dos administradores.</p><p>2.2.2 FUNDAÇÕES</p><p>A constituição das fundações decorre da afetação de um patrimônio, que</p><p>pode se dar por escritura pública ou testamento (BRASIL, 2002, Art. 62). Será espe-</p><p>cificado o fim a que se destina a fundação. Caso queira, poderá declarar a maneira</p><p>como a fundação será administrada.</p><p>A lei determina que a fundação somente poderá se constituir para os fins de</p><p>assistência social, cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico,</p><p>educação e outros elencados no Código Civil de 2002.</p><p>A constituição de uma fundação será feita por escritura pública ou por</p><p>testamento. Verifica-se que, para constituir uma fundação, são necessários: ins-</p><p>tituidor; escritura pública ou testamento válido; dotação patrimonial; ter finalidade</p><p>específica; estatuto; aprovação do Ministério Público; e registro no Cartório de Pes-</p><p>soas Jurídicas (MELLO, 2022, p. 483). A dotação patrimonial é um requisito para</p><p>a constituição de uma fundação. Portanto, caso os bens a ela destinados sejam</p><p>insuficientes, eles serão incorporados em outra fundação que tenha uma finalida-</p><p>de igual ou semelhante se de outro modo não dispuser o instituidor da fundação</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 63).</p><p>A fundação deve ter um estatuto, o qual pode ser elaborado pelo instituidor</p><p>ou a quem ou aqueles que ele cometer à aplicação do patrimônio (BRASIL, 2002,</p><p>Art. 65), “[...] em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas</p><p>bases (BRASIL, 2002, Art. 62)”. Os requisitos para a alteração do estatuto da fun-</p><p>dação são, de acordo com o Art. 67: deliberação por dois terços dos competentes</p><p>para gerir e representar a fundação; não contrariar ou desvirtuar o fim da fundação;</p><p>aprovação pelo órgão do Ministério Público, que deve observar o prazo máximo de</p><p>45 (quarenta e cinco) dias para a aprovação do estatuto da fundação. Não sendo</p><p>feito nesse prazo ou o Ministério Público negando a alteração do estatuto, o juiz</p><p>poderá supri-la, a requerimento do interessado (BRASIL, 2002, Art. 67, III).</p><p>20</p><p>Aprovada a alteração do estatuto, mas não por votação unânime, os admi-</p><p>nistradores da fundação deverão submetê-lo ao órgão do Ministério Público, mo-</p><p>mento em que requererão que seja dada ciência à minoria vencida. Caso a minoria</p><p>vencida queira, poderá impugnar a alteração no prazo de 10 (dez) dias (BRASIL,</p><p>2002, Art. 68)</p><p>Tornando-se ilícita, impossível ou inútil</p><p>a finalidade a que visa a fundação</p><p>ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público ou qualquer in-</p><p>teressado promoverá a extinção dela. Quanto ao patrimônio, será observado o que</p><p>determinar o ato constitutivo ou o estatuto da fundação. Não havendo disposição</p><p>sobre esse tema, o patrimônio será incorporado em outra fundação que se propo-</p><p>nha a fim igual ou semelhante, designada pelo juiz.</p><p>O direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado</p><p>por defeito do ato respectivo decai em três anos. O referido prazo é contado da</p><p>publicação de sua inscrição no registro (BRASIL, 2002, Art. 45). Conforme o Art.</p><p>46, no registro da pessoa jurídica deve constar: a denominação, os fins, a sede, o</p><p>tempo de duração e o fundo social, quando houver; o nome e a individualização</p><p>dos fundadores ou instituidores e dos diretores; o modo pelo qual se administra</p><p>e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente; se o ato consti-</p><p>tutivo é reformável no que tange à administração e de que modo; se os membros</p><p>respondem ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; e as condições de</p><p>extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.</p><p>FIGURA 2 – DOCUMENTAÇÃO</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da</p><p>personalidade (BRASIL, 2002, Art. 52). Isso significa que as pessoas jurídicas não</p><p>têm os seus direitos da personalidade protegidos; contudo, são aplicáveis a ela</p><p>aqueles que lhe forem compatíveis. Concluída a liquidação, será feito o cancela-</p><p>mento da inscrição da pessoa jurídica (BRASIL, 2002, Art. 51, § 3º).</p><p>21</p><p>2.2.3 DEMAIS PESSOAS JURÍDICAS</p><p>Há outras pessoas jurídicas previstas no Código Civil de 2002, como as orga-</p><p>nizações religiosas e os partidos políticos, considerados pessoas jurídicas de direito</p><p>privado, conforme o Art. 44, IV. A Constituição de 1988, em seu Art. 5º, VI assegura</p><p>que “[...] é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o</p><p>livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos</p><p>locais de culto e a suas liturgias”.</p><p>FIGURA 3 – ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>Os partidos políticos também são pessoas jurídicas de direito privado, pre-</p><p>visto no Art. 44, inciso IV. A Constituição 1988, Art. 17, dispõe que os partidos polí-</p><p>ticos são de livre criação, fusão, incorporação e extinção.</p><p>Só o partido que tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral</p><p>pode participar do processo eleitoral e receber recursos do Fundo (MELLO,</p><p>2022, p. 488). Portanto, é assegurada “plena a liberdade de associação para</p><p>fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar”, conforme a Constituição de 1988,</p><p>Art. 5º inciso XVII.</p><p>NOTA</p><p>Os partidos políticos que adquirirem personalidade jurídica, na forma da</p><p>legislação civil, deverão registrar os seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 17, § 2º da Constituição de 1988).</p><p>22</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• Pode existir a personalidade sem a capacidade (ex. nascituros).</p><p>• A personalidade civil da pessoa natural se inicia com o nascimento com vida, e</p><p>a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos dos nascituros (BRASIL, 2002,</p><p>Art. 2º).</p><p>• São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os</p><p>menores de 16 anos (BRASIL, 2002, Art. 3º).</p><p>• São relativamente incapazes: os maiores de dezesseis e menores de dezoito</p><p>anos, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos, aqueles que, por causa tran-</p><p>sitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade e os pródigos.</p><p>• O incapaz será assistido ou representado, a depender do tipo de incapacidade,</p><p>para a prática de atos civis.</p><p>• São absolutamente incapazes os menores de 16 anos, que deverão ser repre-</p><p>sentados.</p><p>• Pródigo (BRASIL, 2002, Art. 3º, inciso IV) é considerado aquele que dissipa o seu</p><p>patrimônio.</p><p>• As associações são compostas por pessoas que se organizam com objetivos</p><p>não econômicos.</p><p>• As fundações são constituídas a partir da afetação de um patrimônio.</p><p>• A emancipação legal decorrente de emprego, estabelecimento civil ou comercial</p><p>não se trata de trabalho esporádico ou eventual.</p><p>• As pessoas de direito privado são (BRASIL, 2002, Art. 44) as associações, as</p><p>sociedades; as fundações, as organizações religiosas e os partidos políticos.</p><p>23</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1. A personalidade jurídica é a aptidão para ser titular de direitos e obrigações</p><p>na ordem jurídica; portanto, é a aptidão para ser sujeito de direito. Sobre</p><p>a pessoa natural, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. Ao nascituro não se reconhece direitos na ordem jurídica.</p><p>b. Adquire-se a personalidade jurídica da pessoa natural a partir do</p><p>nascimento com vida.</p><p>c. A capacidade plena da pessoa jurídica é denominada capacidade</p><p>de direito.</p><p>d. A falta de capacidade impede que a pessoa pratique atos da vida</p><p>civil.</p><p>2. O Art. 1º do Código Civil de 2002 assegura que: “Toda pessoa é capaz de</p><p>direitos e deveres na ordem civil”. Com base nesse artigo e no tema estu-</p><p>dado sobre a pessoa natural, analise as sentenças a seguir:</p><p>FONTE: BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o</p><p>Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3MfSY6i. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>I. São absolutamente incapazes os menores de 16 anos.</p><p>II. Os relativamente incapazes são assistidos para a sua própria pro-</p><p>teção.</p><p>III. Os viciados em tóxicos e os pródigos são relativamente incapazes.</p><p>IV. A menoridade cessa aos 18 anos completos.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e IV estão corretas.</p><p>b. As sentenças I, II, III, e IV estão corretas.</p><p>c. As sentenças I e III estão corretas.</p><p>d. As sentenças II, III, IV estão corretas.</p><p>24</p><p>3. “Podemos conceituar a pessoa jurídica como grupo humano, criado na</p><p>forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para realização</p><p>de fins comuns”. De acordo com as regras trazidas pelo referido Código,</p><p>classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:</p><p>FONTE: PAMPLONA FILHO, R. P.; GAGLIANO, P. S. Novo curso de direito</p><p>civil – parte geral. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2022, p. 421-423.</p><p>( ) Em regra, a personificação da pessoa jurídica decorre do registro do</p><p>seu ato constitutivo.</p><p>( ) São consideradas pessoas jurídicas de direito privado, pelo Código</p><p>Civil de 2002, apenas as associações, as sociedades e as fundações.</p><p>( ) A fundação, para ser constituída, tem como requisito a afetação de um</p><p>patrimônio, visando a uma finalidade ideal.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. V – V – F.</p><p>b. F – V – V.</p><p>c. V – F – V.</p><p>d. V – V – V.</p><p>4. Em regra, os relativamente incapazes devem ser assistidos para a prática</p><p>de atos na vida civil. Descreva alguns atos que eles podem praticar sem</p><p>serem assistidos.</p><p>5. As pessoas jurídicas constituem-se de uma reunião de pessoas para a</p><p>consecução de determinados fins, não necessariamente econômicos.</p><p>São sujeitos de direitos e obrigações. Nesse contexto, disserte sobre</p><p>quais são os principais requisitos para a sua constituição.</p><p>25</p><p>DO DOMICÍLIO E</p><p>DOS BENS</p><p>TÓPICO 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>No Tópico 2, serão estudados dois assuntos previstos na parte geral do Có-</p><p>digo Civil de 2002. Primeiramente, será estudado o tema dos bens, que tem im-</p><p>portância tanto para a disciplina de Direito Civil quanto para as matérias de Direito</p><p>Processual e Direito Tributário.</p><p>O segundo tema a ser estudado serão os bens e as diferentes classes de</p><p>bens. As classificações a serem apresentadas são importantes devido às formali-</p><p>dades que podem ser exigidas a depender da espécie de bem.</p><p>2 DO DOMICÍLIO</p><p>Entende-se por domicílio da pessoa natural o lugar onde ela estabelece a</p><p>sua residência com ânimo definitivo. As regras sobre o começo e o fim da persona-</p><p>lidade sobre o nome, a capacidade da pessoa e os direitos de família serão estabe-</p><p>lecidos pela legislação do país em que a pessoa considera o seu domicílio (BRASIL,</p><p>1942, Art. 7º).</p><p>2.1 DOMICÍLIO E RESIDÊNCIA</p><p>Os professores Rodolfo Pamplona Filho e Pablo Gagliano (2022, p. 572-574)</p><p>lecionam que o termo domicílio abrange duas hipóteses: uma que diz respeito à</p><p>vida privada e outra que se refere à vida profissional de uma pessoa.</p><p>Portanto, “[...] é também domicílio da pessoa natural, quanto às relações</p><p>concernentes à profissão, o lugar onde ela é exercida”. E “[...] se a pessoa exercitar</p><p>profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações</p><p>que lhe corresponderem”. Já morada e habitação têm conotação transitória (PAM-</p><p>PLONA FILHO; GAGLIANO, 2022, p. 574).</p><p>A pessoa pode ter diversas residências, “[...] onde, alternadamente, viva,</p><p>considerar-se-á domicílio seu qualquer delas” (BRASIL, 2002, Art. 71). Portanto,</p><p>26</p><p>denota-se, nesse caso, que há habitualidade, diferentemente da morada e da ha-</p><p>bitação. Admite-se, dessa forma, a pluralidade de domicílios.</p><p>Pode ocorrer de uma pessoa não ter uma residência habitual; nesse caso,</p><p>será considerado o seu domicílio o lugar onde for encontrada (BRASIL, 2002, Art.</p><p>73). Pode-se dizer que o domicílio é composto de dois elementos: um objetivo, que</p><p>significa o ato de fixação em determinado local, e outro subjetivo, que consiste no</p><p>ânimo definitivo de permanência (PAMPLONA FILHO; GAGLIANO, 2022).</p><p>FIGURA 4 – NÔMADES DIGITAIS</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>A mudança de domicílio transfere a residência, e para isso basta a intenção</p><p>da pessoa natural de mudar (BRASIL, 2002, Art. 74). A prova dessa intenção é re-</p><p>sultado das declarações da pessoa às municipalidades dos lugares, informações</p><p>de onde deixa de viver e para onde vai. Caso não faça tais declarações, a partir das</p><p>circunstâncias, será possível verificar a mudança.</p><p>As pessoas jurídicas de direito privado poderão eleger o seu domicílio espe-</p><p>cial no seu estatuto ou em seus atos constitutivos (BRASIL, 2002, Art. 75, IV). No</p><p>entanto, se não houver essa indicação, será o lugar onde funcionarem as respecti-</p><p>vas diretorias e administrações.</p><p>Se a pessoa jurídica tiver “[...] diversos estabelecimentos em lugares dife-</p><p>rentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados”</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 75, § 1º). Agora, “[...] se a administração, ou diretoria, tiver a sede</p><p>no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obriga-</p><p>ções contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito</p><p>no Brasil, a que ela corresponder” (BRASIL, 2002, Art. 75, § 2º).</p><p>27</p><p>FIGURA 5 – ESPÉCIES DE DOMICÍLIO</p><p>Espécies de</p><p>domicílio da</p><p>pessoa natural</p><p>Voluntário</p><p>Legal ou necessário</p><p>Da eleição</p><p>FONTE: A autora</p><p>Considera-se o domicílio voluntário aquele em que a pessoa fixa a sua resi-</p><p>dência com base na sua vontade e com ânimo definitivo. Domicílio legal ou neces-</p><p>sário está no Art. 76 e decorre das condições elencadas: o domicílio do incapaz, do</p><p>servidor público, do militar, do marítimo e do preso.</p><p>QUADRO 7 – DOMICÍLIO</p><p>DOMICÍLIO NECESSÁRIO</p><p>Incapaz Servidor</p><p>Público</p><p>Servidor</p><p>Público Militar Marítimo Preso</p><p>Representante</p><p>ou Assistente.</p><p>Onde exerce per-</p><p>manentemente</p><p>suas funções.</p><p>Onde servir.</p><p>Sede do comando a que se</p><p>encontrar imediatamente</p><p>subordinado.</p><p>O lugar em que</p><p>se cumprir a</p><p>sentença.</p><p>FONTE: A autora</p><p>Os agentes diplomáticos que forem citados no estrangeiro, mas alegarem</p><p>extraterritorialidade, sem designar onde têm domicílio no país, poderão ser deman-</p><p>dados no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o tiveram</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 77).</p><p>2.2 DOS BENS</p><p>Os bens, por sua própria essência natural, são escassos, daí serem objeto</p><p>frequente de litígio entre pessoas. Por isso, o Direito exerce o papel fundamental na</p><p>regulação de conflitos de interesses pela tutela jurisdicional (MELLO, 2022, p. 545).</p><p>FIGURA 6 – CLASSIFICAÇÃO DOS BENS</p><p>Objetos de direitos</p><p>Prestação Jurídica</p><p>Bem Jurídico Lato Sensu</p><p>Bens jurídicos imateriais</p><p>Coisas (bem jurídico materializado)</p><p>FONTE: Pamplona Filho e Gagliano (2022, p. 594-596).</p><p>Como se nota na Figura 6, à prestação jurídica não se confundem os bens,</p><p>pois são objetos dos direitos subjetivos (PAMPLONA FILHO; GAGLIANO, 2022).</p><p>28</p><p>2.3 DIFERENTES CLASSES DOS BENS</p><p>Entre os bens considerados em si mesmos estão os móveis, os imóveis,</p><p>os fungíveis e consumíveis, os divisíveis e, por fim, os singulares e coletivos</p><p>(Arts. 79 a 91).</p><p>É considerado bem imóvel o solo e tudo aquilo que a ele seja incorporado.</p><p>Essa incorporação pode ser por meios naturais ou artificiais (BRASIL, 2002, Art. 79).</p><p>Caso tenham de ser transportados, não podem ser destruídos, seja total ou</p><p>parcialmente, isto é, deve ser mantida a integridade do bem imóvel, como as casas</p><p>que podem ser transportadas de um lugar para outro, de madeira ou pré-fabricadas,</p><p>por exemplo. Assim, não perdem o caráter de imóveis as edificações que, separadas</p><p>do solo, conservarem a sua unidade ao serem removidas para outro local (BRASIL,</p><p>2002, Art. 81, I,). Além disso, não perdem o caráter de imóveis os materiais proviso-</p><p>riamente separados de um prédio para nele se reempregarem, conforme o Art. 81, II.</p><p>FIGURA 7 – BENS IMÓVEIS</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>Essa classificação é importante devido às formalidades que podem ser exi-</p><p>gidas a depender da espécie de bem. Por exemplo, os bens imóveis em que é exigi-</p><p>do o registro no cartório de imóveis. Além disso, devem ser observadas as regras do</p><p>regime de bens previstas no Direito de Família. Os bens móveis, por exemplo, não</p><p>exigem formalidade específica para a transferência deles; basta a tradição do bem,</p><p>ou seja, a entrega dele. Para ser considerado um bem imóvel, pode advir da natu-</p><p>reza do bem ou de previsão legislativa. Para efeitos legais, consideram-se imóveis</p><p>os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram, e o direito à sucessão</p><p>aberta (BRASIL, 2002, Art. 80, I e II). Por fim, Mello (2022, p. 552-553) apresenta a</p><p>seguinte classificação dos bens imóveis:</p><p>a) Imóveis por sua natureza, referindo-se ao solo, com sua superfície,</p><p>subsolo e espaço aéreo, já que tudo o que for aderido ao solo será con-</p><p>siderado, pois acessão;</p><p>b) Imóveis por acessão natural, aí incluído árvores e os frutos pendentes,</p><p>bem como todos os acessórios e adjacências naturais. [...]</p><p>29</p><p>c) Imóveis por acessão artificial ou industrial. A acessão significa a incor-</p><p>poração de bens móveis ao solo realizado pelo homem. São exemplos</p><p>acessão artificial ou industrial as construções e as sementes. Estes não</p><p>podem ser destacados do solo sem destruição, modificação ou dano.</p><p>Não estão incluídas aqui as construções desmontáveis, tais como as</p><p>barracas e tendas das feiras de exposição, parque de diversões, circo,</p><p>barracas de camping, já que não são destinadas à utilização permanente</p><p>do solo;</p><p>d) Imóveis por determinação legal. São as hipóteses previstas no artigo</p><p>80 do nosso Código Civil: I - os direitos reais sobre imóveis e as ações</p><p>que os asseguram; II - o direito à sucessão aberta.</p><p>Considera-se a sucessão aberta, a partir do falecimento, ou seja, há a trans-</p><p>ferência dos bens da herança aos herdeiros (princípio da saisine).</p><p>Os bens móveis são os bens suscetíveis de movimento próprio ou de ser</p><p>removido por força alheia. Entretanto, não há alteração da sua substância ou da</p><p>destinação econômico-social do bem considerado móvel. São chamados pela</p><p>doutrina de móveis por sua própria natureza. Contudo, o bem móvel dotado de</p><p>movimento próprio é denominado de semovente. Exemplos dessa espécie de bem</p><p>móvel são os animais.</p><p>“Vale destacar, porém, que há forte tendência a dar aos animais um status</p><p>diferenciado, não mais os identificando como “coisas”, embora não lhes seja</p><p>firmemente reconhecida ainda a condição de sujeitos de direitos” (PAMPLO-</p><p>NA FILHO; GAGLIANO, 2022, p. 615).</p><p>INTERESSANTE</p><p>Os bens móveis são classificados comumente pela doutrina em: móveis por</p><p>sua</p><p>própria natureza; móveis por antecipação; móveis por determinação legal:</p><p>a. bens móveis pela própria natureza, são aqueles que podem ser remo-</p><p>vidos de um lugar para o outro, bem como os animais (semoventes), sem</p><p>causar danos a sua substância.</p><p>b. bens móveis por determinação legal, são aqueles estabelecidos no</p><p>artigo 83 do nosso Código Civil e representam: I – as energias que te-</p><p>nham valor econômico; II – os direitos reais sobre objetos móveis e as</p><p>ações correspondentes; e, III – os direitos de caráter patrimonial e res-</p><p>pectivas ações. (...)</p><p>c. bens móveis por antecipação, são aqueles bens móveis por natureza,</p><p>mobilizados pela vontade do homem, em razão de sua função econômi-</p><p>ca, tais como as árvores para corte de lenha ou a safra futura” (MELLO,</p><p>2022, 555-556).</p><p>30</p><p>Portanto, para efeitos legais, consideram-se móveis para (BRASIL, 2002,</p><p>Art. 83) as energias que tenham valor econômico; os direitos reais sobre objetos</p><p>móveis e as ações correspondentes; os direitos pessoais de caráter patrimonial e</p><p>respectivas ações. Para concluir os bens móveis, os materiais destinados a alguma</p><p>construção, enquanto não forem empregados, são assim considerados. Contudo, a</p><p>partir do momento em que fazem parte de um prédio, passam a ser considerados</p><p>bens imóveis. No entanto, readquirem essa qualidade os materiais provenientes da</p><p>demolição de algum prédio (BRASIL, 2002, Art. 84).</p><p>“Todavia, os materiais retirados do prédio para manutenção ou conserto não</p><p>perdem a sua mobilidade jurídica. É o caso de portas, fechaduras, azulejos,</p><p>tijolos etc. retirados intencionalmente pelo homem visando a determinado</p><p>reparo não perdem, pois, o seu caráter de bem imóvel (MELLO, 2022, p. 557).</p><p>IMPORTANTE</p><p>A fungibilidade dos bens móveis significa que podem ser substituídos por</p><p>outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (BRASIL, 2002, Art. 85). A fun-</p><p>gibilidade do bem pode ser determinada pela lei, pela natureza do bem ou pela</p><p>vontade das partes.</p><p>FIGURA 8 – BEM FUNGÍVEL</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>Consideram-se bens naturalmente fungíveis os frutos e os produtos colhi-</p><p>dos da natureza (LÔBO, 2020). Bens naturalmente infungíveis, por sua vez, são sin-</p><p>gulares e não podem ser substituídos por outros, como um carro, que é identificável</p><p>pelo seu chassi e pelo licenciamento (LÔBO, 2020).</p><p>São considerados bens móveis consumíveis aqueles que, com o seu uso, im-</p><p>portam destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais</p><p>os destinados à alienação (BRASIL, 2002, Art. 86). Dessa forma, os bens que se des-</p><p>gastam com o tempo não são considerados bens móveis consumíveis (LÔBO, 2020).</p><p>31</p><p>Os bens divisíveis podem ser fracionados sem que seja alterada a sua subs-</p><p>tância, que diminua de maneira considerável o seu valor ou que acarrete prejuízo do</p><p>uso ao qual se destina (BRASIL, 2002, Art. 87). Isso decorre da vontade ou por força</p><p>de lei. A indivisibilidade dos bens que são naturalmente divisíveis, por sua vez, pode</p><p>advir por determinação legal ou pela vontade das partes (BRASIL, 2002, Art. 88).</p><p>Bens singulares, segundo o Código, são “[...] os bens que, embora reunidos,</p><p>consideram-se de per si, independentemente dos demais” (BRASIL, 2002, Art. 89),</p><p>como um livro de uma biblioteca. Por outro lado, os bens coletivos são aqueles que</p><p>“[...] são considerados em seu conjunto, agrupados, formando um todo, tais como a</p><p>biblioteca” (MELLO, 2022, p. 568).</p><p>Os bens coletivos podem ser divididos em universalidade de fato ou univer-</p><p>salidade de direito. As universalidades de fato são a pluralidade de bens singulares</p><p>que, “[...] pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária” (BRASIL, 2002,</p><p>Art. 90). Portanto, “[...] os bens que formam essa universalidade podem ser objeto</p><p>de relações jurídicas próprias” (BRASIL, 2002, Art. 90, Parágrafo único).</p><p>Diante disso, a universalidade de fato decorre da vontade humana. Já a</p><p>universalidade de direito advém de disposição legal, constitui-se o complexo de</p><p>relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico (BRASIL, 2002, Art.</p><p>91). Pode-se citar como exemplo a herança.</p><p>Os bens reciprocamente considerados abrangem os chamados bens prin-</p><p>cipais, os acessórios, as pertenças, as benfeitorias. Segundo o Art. 92 do Código,</p><p>considera-se bem principal aquele que existe sobre si, seja abstrata ou concreta-</p><p>mente. Esse mesmo artigo determina que bem acessório depende do principal para</p><p>existir. Diante disso, entende-se que o acessório segue a sorte do bem principal. Os</p><p>frutos, os produtos e as benfeitorias são considerados acessórios ao bem principal.</p><p>Em relação aos frutos, são eles de três espécies: naturais, civis e industriais. Paulo</p><p>Lôbo (2020, p. 635-638, grifos nossos) explica cada um deles da seguinte maneira:</p><p>Frutos naturais: “produzidos pelo bem principal sem participação ex-</p><p>terna; as frutas, as flores, a borracha natural, os ovos são exemplos”</p><p>Frutos civis: “proveitos econômicos da utilização de um bem, como os</p><p>aluguéis e os juros do capital emprestado”.</p><p>Frutos industriais: “produtos manufaturados pelas fábricas (para o di-</p><p>reito do consumidor são “produtos”)”.</p><p>Tendo em vista que os frutos e produtos são acessórios, eles podem ser ob-</p><p>jeto de negócio jurídico, ainda que não estejam separados do bem principal (BRA-</p><p>SIL, 2002, Art. 95). As pertenças são os bens que não integram ou se destinam</p><p>de modo duradouro ao uso da coisa, ao serviço ou ao aformoseamento de outro</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 93).</p><p>32</p><p>Podem embelezar ou facilitar o uso da coisa; elas têm autonomia individual</p><p>(LÔBO, 2020). Exemplos de pertença: “[...] móveis que guarnecem uma casa, os</p><p>aparelhos elétricos” (LÔBO, 2020, p. 638). Realizado um negócio jurídico, não se</p><p>presume que o bem principal abrange as pertenças; deve constar expressamente</p><p>pela manifestação da vontade ou por circunstâncias do caso. Pode vir a abranger</p><p>as pertenças ao bem principal, se a lei assim o determinar (BRASIL, 2002, Art. 94).</p><p>FIGURA 9 – BENFEITORIAS</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>As benfeitorias são melhoramentos ou beneficiamentos que agregam va-</p><p>lor ou utilidade à coisa principal. Portanto, não se consideram benfeitorias as que</p><p>advenham de fatos naturais ou realizados pela administração pública. Assim: “Não</p><p>se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem</p><p>sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor” (BRASIL, 2002, Art. 97).</p><p>As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias (BRASIL,</p><p>2002, Art. 96). As benfeitorias voluptuárias são as de mero deleite ou recreio, pois</p><p>não aumentam o uso habitual do bem. Pode ocorrer de tornarem o bem mais agra-</p><p>dável ou aumentarem o seu valor (BRASIL, 2002, Art. 96, §1º). Pode-se citar uma</p><p>piscina em uma residência. As benfeitorias úteis melhoram o bem, facilitam o uso</p><p>dele, mas não são indispensáveis (BRASIL, 2002, Art. 96, §2º). Por fim, as benfei-</p><p>torias necessárias visam à conservação do bem ou a evitar que ele se deteriore.</p><p>Para o melhor entendimento das benfeitorias, recomenda-se que sejam analisados</p><p>os casos concretos, haja vista que uma piscina em um clube é considerada útil. A</p><p>troca de fechadura em porta, se estragada, se faz necessária para a segurança,</p><p>mas se for uma fechadura para embelezamento de uma fachada entra em outra</p><p>categoria de benfeitoria.</p><p>33</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:</p><p>• A pessoa natural tem como domicílio o lugar onde ela estabelece a sua residên-</p><p>cia com ânimo definitivo.</p><p>• A pessoa pode ter diversas residências nas quais vive alternadamente; dessa</p><p>forma, considera-se domicílio seu qualquer delas (BRASIL, 2002, Art. 71).</p><p>• Têm domicílio legal ou necessário: o incapaz, o servidor público, o militar, o ma-</p><p>rítimo e o preso (BRASIL, 2002, Art. 76, caput).</p><p>• Bens podem ser materiais ou imateriais.</p><p>• Bens considerados em si mesmos são os móveis, os imóveis, os fungíveis e con-</p><p>sumíveis, os bens divisíveis, os singulares e coletivos (Arts. 79 a 91).</p><p>• Bens imóveis são o solo e tudo aquilo que a ele seja incorporado (BRASIL, 2002,</p><p>Art. 79).</p><p>• A incorporação dos bens imóveis pode ser por meios naturais ou artificiais (BRA-</p><p>SIL, 2002, Art. 79).</p><p>• Não perdem o caráter de imóveis os materiais provisoriamente separados de um</p><p>prédio para nele serem reempregados (BRASIL, 2002, Art. 81, II).</p><p>• Bens móveis são os bens suscetíveis de movimento próprio ou que podem ser</p><p>removidos por força alheia.</p><p>• Os bens móveis são classificados em móveis por sua própria natureza, móveis</p><p>por antecipação, móveis por determinação legal.</p><p>• As benfeitorias são melhoramentos ou beneficiamentos que agregam valor ou</p><p>utilidade à coisa principal.</p><p>34</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1. Os bens são considerados coisas úteis, suscetíveis de apropriação, os quais</p><p>têm valor econômico. Assinale a alternativa CORRETA sobre esse tema:</p><p>a. Consideram-se bens corpóreos aqueles que têm existência</p><p>material e abstrata.</p><p>b. Os bens imóveis são adquiridos, em regra, mediante tradição.</p><p>c. A sucessão aberta é considerada um bem corpóreo.</p><p>d. Semovente é dotado de movimento próprio, o qual é considerado</p><p>um bem móvel.</p><p>2. Considera-se que “os bens jurídicos podem ser definidos como toda utili-</p><p>dade física ou ideal que seja objeto de um direito subjetivo”. Com base no</p><p>que foi estudado sobre bens, analise as sentenças a seguir:</p><p>FONTE: PAMPLONA FILHO, R. P.; GAGLIANO, P. S. Novo curso de direito</p><p>civil – parte geral. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 591-594.</p><p>I. Os bens podem se enquadrar em mais de um critério de classifi-</p><p>cação.</p><p>II. As pertenças são partes que integram outros bens de modo du-</p><p>radouro para aformoseamento.</p><p>III. Os bens imóveis são o solo e tudo o que se incorporar a ele, seja</p><p>por meio natural ou artificial.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a. As sentenças I e II estão corretas.</p><p>b. As sentença I e III estão corretas.</p><p>c. A sentença I está correta.</p><p>d. A sentença III está correta.</p><p>35</p><p>3. Segundo o Código Civil de 2002, o domicílio da pessoa natural ou física</p><p>é considerado: “O lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo</p><p>definitivo” (BRASIL, 2002, Art. 70). De acordo com as regras trazidas</p><p>pelo referido Código, classifique V para as sentenças verdadeiras e F</p><p>para as falsas:</p><p>FONTE: BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o</p><p>Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3MfSY6i. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>( ) Admite-se que a pessoa física tenha pluralidade de residências e de</p><p>domicílios.</p><p>( ) Domicílio voluntário é aquele em que a pessoa natural se fixa por sim-</p><p>ples manifestação de vontade.</p><p>( ) Domicílio de eleição é fixado pela lei, por exemplo, o domicílio do di-</p><p>plomata.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a. V – F – F.</p><p>b. F – F – V.</p><p>c. F – V – F.</p><p>d. V – V – F.</p><p>4. Domicílio é o lugar onde a pessoa física, conforme o Art. 70 do Código</p><p>Civil, fixa residência com ânimo definitivo. Disserte sobre o conceito de</p><p>residência e quais são os domicílios necessários.</p><p>FONTE: BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o</p><p>Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3MfSY6i. Acesso em: 19 abr. 2022.</p><p>5. Paulo Lôbo (2020, p. 642 explica que: “As benfeitorias são melhoramen-</p><p>tos ou beneficiamentos que agregam valor ou utilidade à coisa principal.</p><p>Todas as coisas podem ser objeto de benfeitorias”. Nesse contexto, dis-</p><p>serte sobre as benfeitorias.</p><p>FONTE: LÔBO, P. Direito Civil: parte geral. 9. ed. São Paulo: Saraiva Edu-</p><p>cação, 2020. p. 642.</p><p>37</p><p>TÓPICO 3</p><p>DOS FATOS</p><p>JURÍDICOS</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>No Tópico 3, será abordado o tema dos fatos jurídicos a partir do Art. 104</p><p>do Código Civil de 2002: os negócios jurídicos, os atos jurídicos e os atos jurídicos</p><p>ilícitos. Para concluir esta Unidade 1, será estudado o tema da prescrição e da de-</p><p>cadência.</p><p>Os fatos jurídicos são os acontecimentos que têm relevância para o Direi-</p><p>to, tais como nascimento, morte de uma pessoa, a compra e venda de um bem,</p><p>o casamento. Os acontecimentos que produzem efeitos no mundo jurídico criam,</p><p>modificam ou extinguem relações jurídicas. Há outras classificações que serão</p><p>estudadas no próximo item.</p><p>O tempo é um fenômeno relevante para as relações jurídicas, pois afeta</p><p>a aquisição e as extinção delas. Institutos como a prescrição e a decadência são</p><p>afetadas pelo decurso do tempo, como será visto na sequência.</p><p>2 FATOS JURÍDICOS</p><p>Os fatos jurídicos são um ponto central do estudo do direito. Em virtude</p><p>disso, os professores Rodolfo Pamplona Filho e Pablo Gagliano (2022, p. 659) asse-</p><p>veram que “[...] fora da noção de fato jurídico, pouca coisa existe ou importa para o</p><p>Direito”.</p><p>Os fatos jurídicos são aqueles naturais ou realizados por um indivíduo e que</p><p>criam, modificam, conservam ou extinguem as relações jurídicas (PAMPLONA FI-</p><p>LHO; GAGLIANO, 2022). Os fatos jurídicos, em sentido estrito, são os naturais, os</p><p>quais podem ser ordinários ou extraordinários. Como dito anteriormente, apenas</p><p>os que forem relevantes para o direito, como uma queda de uma árvore em via</p><p>pública. Quanto aos fatos jurídicos estrito senso, ordinários e extraordinários, e a</p><p>sua classificação, afirma-se que:</p><p>Os fatos jurídicos ordinários são os fatos de ocorrência comum, costu-</p><p>meira, cotidiana, o nascimento, a morte, o decurso do tempo. Os segun-</p><p>38</p><p>dos, porém, ganham destaque pela nota da extraordinariedade, por se-</p><p>rem inesperados, às vezes imprevisíveis: um terremoto, uma enchente, o</p><p>caso fortuito e a força maior. (PAMPLONA FILHO; GAGLIANO, 2022, p. 672)</p><p>Na sequência, veremos os atos jurídicos.</p><p>2.1 DOS ATOS JURÍDICOS</p><p>O ato-fato jurídico não consta expressamente do Código Civil de 2002.</p><p>Por isso, “[...] com efeito, o ato-fato jurídico nada mais é que um FATO JURÍDICO</p><p>qualificado pela atuação humana” (PAMPLONA FILHO; GAGLIANO, 2022, p. 675). O</p><p>exemplo clássico desse assunto são a compra e venda realizadas por crianças, em</p><p>uma mercearia, de algum lanche. Portanto, a uma ação humana em que os efeitos</p><p>jurídicos independem da vontade dela.</p><p>A fixação de domicílio é exemplo de ato jurídico em sentido estrito, pois</p><p>há a manifestação da vontade e os efeitos disso decorrem da lei (PAMPLONA FI-</p><p>LHO; GAGLIANO, 2022), também conhecidos como atos jurídicos em sentido amplo.</p><p>Contudo, a depender da situação, são lícitos ou ilícitos (MELLO, 2022).</p><p>FIGURA 10 – RESUMO</p><p>Fato</p><p>Jurídico</p><p>Fato jurídico em</p><p>sentido estrito</p><p>Ato-fato</p><p>jurídico</p><p>Ação Humana</p><p>(Ato Jurídico em</p><p>Sentido Lato)</p><p>Ordinário</p><p>Extraordinário</p><p>ilícita ato ilícito</p><p>lícita (ato jurídico</p><p>lícito em</p><p>sentido amplo)</p><p>ato jurídico em</p><p>sentido estrito</p><p>(não negocial)</p><p>negócio</p><p>jurídico</p><p>FONTE: Adaptado de Pamplona Filho e Gagliano (2022).</p><p>A Figura 10 ilustra bem o que foi estudado até agora no que diz respeito aos</p><p>fatos jurídicos.</p><p>39</p><p>3 DO NEGÓCIO JURÍDICO</p><p>O negócio jurídico decorre da manifestação de vontade e da autonomia pri-</p><p>vada. Pode ser conceituado, segundo Mello (2022, p. 627), assim: “[...] o negócio</p><p>jurídico é por excelência o instrumento da autonomia privada, através do qual os</p><p>particulares autorregulam seus interesses privados”.</p><p>Quanto às classificações dos negócios jurídicos, pode ser unilateral a de-</p><p>pender de uma única manifestação de vontade, sem que tenha que ser recebida</p><p>por outra pessoa (LÔBO, 2020). Exemplo é a promessa de recompensa (BRASIL,</p><p>2002, Art. 854, 2002).</p><p>Os negócios jurídicos bilaterais precisam que vontades distintas sejam exte-</p><p>riorizadas. Dessa forma, são vontades distintas, com interesses distintos; contudo,</p><p>deve haver concordância entre as partes (LÔBO, 2020), por exemplo, compra e ven-</p><p>da. Finalmente, os negócios jurídicos plurilaterais são formados de manifestações</p><p>de vontades que objetivam fins comuns (LÔBO, 2020).</p><p>Para serem classificados em negócios jurídicos consensuais, precisam de</p><p>manifestação de vontade para a realização.</p><p>Os negócios jurídicos formais precisam de registro para a formalização. Os</p><p>negócios jurídicos informais podem ser verbais,</p><p>por exemplo, sem qualquer exigên-</p><p>cia para a formação. Outra classificação são os negócios jurídicos gratuitos, que</p><p>não têm uma contraprestação patrimonial ou econômica. Os onerosos, por sua vez,</p><p>dependem de uma contraprestação.</p><p>Os requisitos dos negócios jurídicos, para que sejam válidos, estão elenca-</p><p>dos no Art. 104 e requerem: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou</p><p>determinável; forma prescrita ou não defesa em lei. Se uma das partes objetiva a</p><p>anulabilidade do negócio jurídico, não pode invocar a incapacidade relativa da ou-</p><p>tra parte, que tenha conhecimento, em benefício próprio (BRASIL, 2002, Art. 105).</p><p>Essa situação não aproveita os cointeressados capazes, exceto se for indivisível</p><p>o objeto do direito ou da obrigação comum. Contudo, o negócio não será válido</p><p>apenas para o incapaz.</p><p>“Nessa hipótese, o negócio jurídico é considerado válido, para evitar que pre-</p><p>valeça a má-fé” (LÔBO, 2020, p. 729).</p><p>IMPORTANTE</p><p>40</p><p>Requisito quanto ao objeto ser lícito, possível, determinado ou determinável</p><p>diz respeito à licitude do objeto; assim, será nulo o negócio, por exemplo, da venda</p><p>de drogas ilícitas. A impossibilidade temporária do objeto não anula o negócio.</p><p>O objeto deve ser individualizado e descrito; dessa maneira, pode ser consi-</p><p>derado determinado ou determinável. Contudo: “A impossibilidade inicial do objeto</p><p>não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a</p><p>condição a que ele estiver subordinado” (BRASIL, 2002, Art. 106).</p><p>Em regra, o negócio jurídico, para ser válido, a declaração de vontade não</p><p>se exige forma especial, exceto se a legislação o fizer (BRASIL, 2002, Art. 107). Um</p><p>exemplo de exigência de formalidade é a escritura pública, essencial à validade dos</p><p>negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renún-</p><p>cia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário-</p><p>-mínimo vigente no País, exceto se a lei não dispuser de maneira diversa (BRASIL,</p><p>2002, Art. 108). As partes podem estipular que o negócio jurídico deva ser feito por</p><p>instrumento público, ainda que a lei não exija (BRASIL, 2002, Art. 109).</p><p>FIGURA 11 – NEGÓCIO JURÍDICO</p><p>FONTE: . Acesso em: 13 maio 2022.</p><p>A manifestação de vontade pode ocorrer de diversas maneiras; até mes-</p><p>mo o silêncio pode ser considerado uma manifestação de vontade. Portanto, o</p><p>comportamento dos indivíduos e as circunstâncias devem ser levadas em con-</p><p>sideração. Contudo, a reserva mental de não querer o que foi manifestado, em</p><p>regra, não é capaz de afetar um negócio jurídico, isto é, a manifestação de von-</p><p>tade subsistirá. No entanto, se o destinatário da manifestação de vontade souber</p><p>que houve um reserva mental da outra parte, ela pode prevalecer (BRASIL, 2002,</p><p>Art. 110). Deve-se ressaltar que: “[...] não poderá prevalecer quando confrontar</p><p>com a declaração de vontade, pois esta é exteriorização expressa que a torna</p><p>indiscutível” (LÔBO, 2020, p. 739).</p><p>41</p><p>Não se aplica no Direito o ditado “quem cala consente”; por isso, ao receber</p><p>ligações de propostas de telemarketing, por exemplo, o silêncio não configura</p><p>que se aceitou a proposta. Para que seja considerado anuência o silêncio,</p><p>este deve resultar de lei, da vontade das partes ou da convenção entre elas</p><p>(LÔBO, 2020).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Em 2019, houve uma mudança legislativa significativa ao incluir dois pa-</p><p>rágrafos no Art. 113 sobre o assunto da interpretação dos negócios jurídicos. Os</p><p>negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar</p><p>em que for celebrado (BRASIL, 2002, Art. 113, caput). No que diz respeito à interpre-</p><p>tação do negócio jurídico (BRASIL, 2002, Art. 113, § 1º), será atribuído o sentido que:</p><p>I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebra-</p><p>ção do negócio;</p><p>II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao</p><p>tipo de negócio;</p><p>III - corresponder à boa-fé;</p><p>IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identifi-</p><p>cável;</p><p>V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a</p><p>questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da ra-</p><p>cionalidade econômica das partes, consideradas as informações dispo-</p><p>níveis no momento de sua celebração.</p><p>Outra novidade trazida pelo legislador foi de privilegiar a autonomia da von-</p><p>tade em que “as partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de</p><p>preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daque-</p><p>las previstas em lei” (§ 2º, do Art. 113). Com relação aos negócios jurídicos benéficos</p><p>e à renúncia, interpretam-se estritamente (BRASIL, 2002, Art. 114). Exemplo de ne-</p><p>gócio benéfico é a fiança. A interpretação restritiva visa “[...] não agravar a situação</p><p>de quem os praticou em favor de terceiro” (LÔBO, 2020, p. 750).</p><p>O silêncio é admitido no âmbito jurídico, em certos casos, pois pode importar</p><p>em anuência, mas, para isso, as circunstâncias ou os usos devem autorizar desde</p><p>que não seja necessária a declaração de vontade expressa (BRASIL, 2002, Art. 111).</p><p>Existe o chamado silêncio eloquente, o qual significa que, ao se calar, aceita-se ou</p><p>quer os efeitos jurídicos de um negócio (LÔBO, 2020).</p><p>Nas declarações de vontade, leva-se mais em conta a vontade nelas con-</p><p>substanciadas do que o sentido literal da linguagem (BRASIL, 2002, Art. 112). Os ne-</p><p>gócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar em</p><p>42</p><p>que forem celebrados (BRASIL, 2002, Art. 113). A invalidade dos negócios jurídicos</p><p>ocorre quando não forem observadas as determinações legais. Determina o Código</p><p>de 2002 que é nulo o negócio jurídico quando (BRASIL, 2002, Art. 166):</p><p>QUADRO 8 – NULIDADES</p><p>Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:</p><p>I - Celebrado por pessoa absolutamente incapaz;</p><p>II - For ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;</p><p>III - O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;</p><p>IV - Não revestir a forma prescrita em lei;</p><p>V - For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;</p><p>VI - Tiver por objetivo fraudar lei imperativa;</p><p>VII - A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.</p><p>FONTE: A autora</p><p>O negócio jurídico realizado com objetivo de fraudar lei será nulo, haja vista</p><p>que estará eivado de má-fé. Na hipótese de a lei taxativamente o declarar nulo ou</p><p>proibir-lhe a prática, sem cominar sanção (BRASIL, 2002, Art. 166, VII), será nulo.</p><p>A lei pode dizer explicitamente que será nulo (por exemplo, Art. 489, CC) ou</p><p>pode ser implícita essa nulidade. Quando implícita, a lei utilizará das expressões</p><p>“não pode”, “fica proibido”, “é ilícito” (LÔBO, 2020).</p><p>A anulabilidade poderá ocorrer também (BRASIL, 2002, Art. 171) “[...] por in-</p><p>capacidade relativa do agente; vício resultante de erro, dolo, coação, estado de</p><p>perigo, lesão ou fraude contra credores”. Em relação aos relativamente incapazes,</p><p>o prazo decadencial de quatro anos inicia-se no dia em que cessar a incapacidade</p><p>(BRASIL, 2002, Art. 178, III).</p><p>O assunto da nulidade e da anulabilidade tem muitas regras; por isso, con-</p><p>vém utilizar um quadro para apontar as principais diferenças.</p><p>QUADRO 9 – DIFERENÇAS ENTRE NULIDADE E ANULABILIDADE</p><p>Nulidade Anulabilidade</p><p>Interesse</p><p>protegido Público Particular</p><p>Legitimidade</p><p>para requerer Apenas interesse do direito Parte interessada ou Ministério Público</p><p>Art. 168</p><p>Decretação De ofício pelo juiz Não pode ser decreta de ofício</p><p>Desconstituição</p><p>dos efeitos Absoluta Relativa</p><p>Convalidação Não é possível a convalidação (Art. 169) Por vontade do interessado ou pelo discurso do tempo</p><p>Prescrição e</p><p>decadência Pode ser requerida a qualquer tempo Prazo previsto em lei.</p><p>FONTE: A autora</p><p>43</p><p>3.1.1 DOS ATOS ILÍCITOS</p><p>Os atos ilícitos podem ser praticados por ação ou omissão voluntária e vio-</p><p>lam direitos e causam danos a outra pessoa, podendo ser conceituados como: “[...]</p><p>um ato jurídico praticado com infração de um dever legal ou contratual, resultando</p><p>dano</p>

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