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<p>70</p><p>Unidade II</p><p>Unidade II</p><p>5 EDUCOMUNICAÇÃO NO CONTEXTO DA DESINFORMAÇÃO</p><p>Figura 26 – Superabundância de informação e desinformação na era contemporânea</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/ymc6xf55. Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>Na sociedade contemporânea, as plataformas digitais ocupam o centro da disputa político‑ideológica</p><p>mundial e, nesse contexto, há uma superabundância de informação e um mercado de desinformação,</p><p>sobretudo das popularmente chamadas fake news. Conteúdos falsos produzidos com a intenção de</p><p>enganar e prejudicar a integridade de pessoas ou instituições e reforçar pensamentos e ideias por</p><p>meio de mentiras e propagação de ódio, as fake news também são caracterizadas por informações</p><p>manipuladas, imagens adulteradas e tiradas de contexto, com o objetivo de promover o caos social e</p><p>atrair acesso a sites e plataformas com vistas ao lucro com publicidade digital.</p><p>Embora seja um fenômeno da atualidade, objeto de preocupação de especialistas, famílias, instituições</p><p>educacionais e políticas, e colocado em debate na esfera pública em razão de suas consequências danosas à</p><p>sociedade, as notícias falsas não são uma novidade, nem uma peculiaridade da pós‑modernidade. Pelo</p><p>contrário: sua existência acompanha a construção da política e da própria história da humanidade.</p><p>Antes mesmo da invenção da prensa de Gutenberg, no século XV, já havia a produção de informações</p><p>de teor duvidoso e enganoso.</p><p>Durante a 2ª Grande Guerra Mundial, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels,</p><p>afirmou que “de tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade”. No Brasil,</p><p>71</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>notícias falsas na política, por exemplo, não são um fenômeno recente: desde o tempo da Colônia há</p><p>registros desse tipo de ação e sua influência na vida da população.</p><p>Precedendo a era dos conteúdos impressos, as informações eram registradas</p><p>em pergaminhos e armazenadas sob o controle de líderes de esferas sociais</p><p>privilegiadas, como clero e nobreza. Aqueles que tinham os conteúdos</p><p>informacionais sob seu controle, tinham, por consequência, domínio sobre</p><p>sua disseminação, o que facilitava a propagação de boatos e notícias</p><p>falsas, sem que houvesse maneiras acessíveis de validar o que estava sendo</p><p>propagado (Jardim; Zaidan, 2018, p. 3).</p><p>No entanto, a descentralização da circulação de notícias, antes restrita aos grandes conglomerados</p><p>jornalísticos, e a possibilidade de o cidadão comum ser também um produtor e propagador de conteúdo</p><p>fizeram com que a disseminação de fake news fosse potencializada por meio de sites, blogs, redes sociais</p><p>digitais e plataformas de relacionamentos e de compartilhamento.</p><p>Como nos lembra Lucia Santaella (2019, p. 30), “na era hegemônica da comunicação de massas,</p><p>as notícias eram fabricadas em fontes restritas”, no caso, os veículos jornalísticos. Com o advento da</p><p>internet, surgiram novas formas de produzir e consumir informação e conteúdos, “[...] que são pouco</p><p>submetidos a regulações ou padrões editoriais”. Conforme a autora, em sua obra A pós‑verdade é</p><p>verdadeira ou falsa?,</p><p>As redes operam de acordo com a lógica dos caça‑cliques (clickbaits) em</p><p>que o conteúdo online é valorizado pelo volume de tráfico de um post ou</p><p>de um site. Assim, pouco importa se a mensagem é falsa e mentirosa, sua</p><p>onipresença acaba por causar impacto, pois basta uma olhadela para ser</p><p>capturado por sua insistência. [...] O sensacional atrai o clique que atrai</p><p>mais compartilhamentos. Quanto mais tráfico houver, tanto maior será</p><p>a difusão do engano cujo modo de propagação é regido, sobretudo, pelo</p><p>apelo emocional não filtrado pela razoabilidade do bom senso (Santella,</p><p>2019, p. 30‑31).</p><p>Acontecimentos políticos recentes revelam a força das plataformas digitais, despertando a atenção</p><p>mundial para a grande influência delas no resultado de pleitos importantes: o Brexit (plebiscito que</p><p>decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia); as eleições presidenciais norte‑americanas de</p><p>2016, que elegeram Donald Trump contra todas as pesquisas de opinião pública; e outras eleições</p><p>majoritárias que transcorreram permeadas por fake news, como a do ex‑presidente do Brasil, Jair</p><p>Bolsonaro, em 2018.</p><p>Na eleição presidencial dos Estados Unidos de 2016, houve denúncias de roubo de dados e</p><p>interferência da Rússia visando privilegiar a campanha de Trump, republicano eleito. No ano seguinte,</p><p>os gigantes Google, Facebook e Twitter admitiram que operadores russos compraram anúncios e usaram</p><p>seus serviços para disseminar notícias falsas, que incluíam mensagens contra a então candidata do</p><p>partido democrata, Hillary Clinton.</p><p>72</p><p>Unidade II</p><p>Um novo escândalo veio à tona em março de 2018, quando o jornal The</p><p>New York Times revelou que a Cambridge Analytica, empresa responsável</p><p>pela campanha eleitoral de Donald Trump, usou dados roubados de milhões</p><p>de usuários do Facebook para traçar perfis psicológicos e moldar mensagens</p><p>personalizadas, capazes de influenciar o comportamento de eleitores.</p><p>A empresa obteve tais dados por meio de um suposto teste de personalidade,</p><p>sem revelar que o material seria usado com fins eleitorais, e valeu‑se de</p><p>informações de geolocalização para distribuir mensagens e monitorar sua</p><p>eficácia em plataformas como Facebook, YouTube e Twitter, conforme</p><p>reportagem do The Guardian (Costa; Romanini, 2019, p. 68).</p><p>Saiba mais</p><p>Notícias colocaram em debate a influência de informações falsas</p><p>produzidas e disseminadas com o objetivo de favorecer o candidato</p><p>republicano. Selecionamos algumas delas a seguir:</p><p>Revista Veja</p><p>NOTÍCIAS falsas tiveram êxito durante campanha nos EUA. Veja, 17 nov.</p><p>2016. Disponível em: https://tinyurl.com/mr3cxc6r. Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>BBC News</p><p>CELLAN‑JONES, R. Como o Facebook pode ter ajudado Trump a ganhar</p><p>a eleição. BBC News, 12 nov. 2016. Disponível em: https://tinyurl.com/</p><p>yf9f3xnc. Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>O Globo</p><p>FACEBOOK: 126 milhões de americanos viram posts ‘fake’ de russos na</p><p>eleição. O Globo, 30 out. 2017. Disponível em: https://tinyurl.com/4tyy5k36.</p><p>Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>BBC News</p><p>KIRBY, E. J. A cidade europeia que enriquece inventando notícias – e influenciando</p><p>eleições. BBC News, 10 dez. 2016. Disponível em: https://tinyurl.com/2zr7npr8.</p><p>Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>73</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>El País</p><p>FAUS, J. Facebook elimina 32 páginas e perfis antes das eleições legislativas</p><p>nos EUA. El País, 1º ago. 2018. Disponível em: https://tinyurl.com/ewfpawy4.</p><p>Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>Canaltech</p><p>HACKER explica como criou rede de fake news para impulsionar eleição de</p><p>Trump. Canal Tech, 20 out. 2021. Disponível em: https://tinyurl.com/mtvntxw2.</p><p>Acesso em: 12 set. 2023.2</p><p>Forbes Brasil</p><p>GREENBURG, Z. O. Como boatos ajudaram a eleger Donald Trump nos</p><p>EUA. Forbes Brasil, 18 nov. 2016. Disponível em: https://tinyurl.com/2xw5vkrk.</p><p>Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>G1</p><p>GUTIERREZ, F. Como Donald Trump venceu as eleições de 2016 com</p><p>3 milhões de votos a menos que a adversária Hillary Clinton. G1, 25 out. 2020.</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/3f2jtpnv. Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>Época Negócios</p><p>FRAGA, N. 80% dos perfis de fake news que assombraram os EUA ainda estão</p><p>no ar. Época Negócios, 6 out. 2018. Disponível em: https://tinyurl.com/2wpfxma5.</p><p>Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>Outro marco recente da história que assolou a humanidade com notícias falsas foi a pandemia do</p><p>novo coronavírus (covid‑19). A propagação de fake news levou pessoas a arriscarem suas vidas por</p><p>creditarem legitimidade a conteúdos que divulgavam o uso de alimentos ou substâncias supostamente</p><p>benéficos para prevenção ou cura da doença. O fenômeno foi reconhecido pela Organização Mundial de</p><p>Saúde (OMS) como uma “infodemia”, termo criado pelo jornalista americano David J. Rothkopf (2003),</p><p>que o mencionou, pela primeira vez em sua coluna sobre a epidemia da Sars (síndrome respiratória</p><p>aguda grave) no jornal Washington Post, em 2003.</p><p>Segundo ele, o termo se refere a:</p><p>Alguns fatos, misturados com medo, especulação e boato, amplificados</p><p>em espaços/</p><p>regiões que carecem de maior cobertura. O jornalista, ao se envolver com projetos de comunicação</p><p>comunitária, pode tanto produzir conteúdo quanto atuar como educomunicador, ampliando e aprimorando</p><p>a comunicação e as formas de expressão de uma comunidade, inclusive ensinando técnicas jornalísticas.</p><p>Observação</p><p>Comunicação comunitária é expressão de segmentos empobrecidos</p><p>e/ou marginalizados da população, mas em processo de mobilização,</p><p>visando suprir suas necessidades de sobrevivência e de participação política</p><p>e justiça social.</p><p>106</p><p>Unidade II</p><p>O Portal Imprensa (Sotto, 2019) apresenta em sua página projetos de jornalismo na periferia. Entre</p><p>eles, destacamos:</p><p>• Agência Mural de Jornalismo das Periferias (@agenciamural): agência de notícias sobre as</p><p>periferias das cidades da Grande São Paulo, que consideram como a área geográfica estendida</p><p>além do “centro” do poder político‑econômico paulistano e que alcança os municípios da região</p><p>metropolitana. O conteúdo é produzido por correspondentes locais – em sua maioria estudantes</p><p>ou formados em comunicação –, que trazem conteúdos da periferia da Grande São Paulo e</p><p>imediações. O projeto nasceu em 2010, inicialmente como blog Mural. O site foi lançado em</p><p>novembro de 2015 e depois ampliado para caber mais reportagens.</p><p>• Periferia em Movimento (@PeriferiaemMovimento): produtora de jornalismo que gera e distribui</p><p>informação a partir do extremo sul de São Paulo (Grajaú, Parelheiros, Marsilac e Cidade Dutra) até</p><p>os centros de poder. Foi fundada em 2009. Sua missão é “fazer um jornalismo sobre, para e a partir</p><p>das periferias, em nossa complexidade, para ocupar espaços que sempre nos negaram e garantir</p><p>o acesso a direitos”, informa sua página.</p><p>• Desenrola e Não Me Enrola (@desenrolaenaomenrola): criado em 2013, é um coletivo que atua</p><p>na veiculação de informações sobre os fatos socioculturais que acontecem na periferia de São</p><p>Paulo, destacando um olhar positivo nas reportagens escritas e em vídeo que abordam o que de</p><p>melhor acontece na música, teatro, esporte, literatura e ações desenvolvidas por articuladores</p><p>culturais das comunidades. O Desenrola desenvolve também o Você Repórter da Periferia, um</p><p>projeto de educomunicação para jovens da periferia, que alia a teoria e a prática do jornalismo</p><p>comunitário e cultural. O projeto foi pensado pelos jornalistas Ronaldo Matos e Thaís Siqueira em</p><p>2013, quando eles ainda eram estudantes de jornalismo. Em 2018, lançaram o livro Você repórter</p><p>da periferia: visões e vivências do jornalismo nas periferias.</p><p>• Nós, Mulheres da Periferia (@nosmulheresdaperiferia): coletivo jornalístico independente</p><p>formado por jornalistas moradoras de diferentes regiões periféricas da cidade de São Paulo.</p><p>A principal diretriz é disseminar conteúdos autorais produzidos por mulheres e a partir da</p><p>perspectiva de mulheres, tendo como fio condutor editorial a intersecção de gênero, raça, classe</p><p>e território. O website nasceu em março de 2014 com o intuito de contribuir para a construção</p><p>de narrativas jornalísticas mais humanas e contextualizadas. Em 2017, lançaram o documentário</p><p>Nós, Carolinas, que apresenta vivências de mulheres moradoras de quatro regiões diferentes da</p><p>capital paulista.</p><p>• Agência de Notícias das Favelas (@agenciadenoticiasdasfavelas / www.anf.org.br): fundada pelo</p><p>jornalista André Fernandes em janeiro de 2001 como um projeto, foi logo reconhecida pela Reuters</p><p>como a primeira agência de notícias de favelas do mundo. Foi criada para atender a demanda da</p><p>imprensa e da sociedade, que precisavam obter informações sobre o que acontecia no contexto das</p><p>favelas do Rio de Janeiro. Entre os projetos em andamento estão o jornal A Voz da Favela e o portal</p><p>da ANF. O jornal, com tiragem de 150 mil exemplares, é o maior impresso produzido pelas favelas no</p><p>país. Lançado em 2009, é mais uma forma de democratização da informação das favelas do Rio de</p><p>Janeiro. O portal tem a colaboração de pessoas que enviam artigos e matérias.</p><p>107</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Lembrete</p><p>A comunicação comunitária se caracteriza por não ter fins lucrativos;</p><p>propiciar a participação ativa da população; ter propriedade coletiva;</p><p>difundir conteúdos visando desenvolver a educação e a cultura; e ampliar</p><p>a cidadania.</p><p>Ressaltamos que a comunicação popular representa uma forma alternativa de comunicação e tem</p><p>sua origem nos movimentos populares dos anos de 1970 e 1980, no Brasil e na América Latina. Tem</p><p>caráter mobilizador coletivo na figura dos movimentos e organizações populares, que perpassa por</p><p>canais próprios de comunicação (Peruzzo, 2006). Submetidas a um processo de vulnerabilidade social</p><p>e/ou marginalização, as pessoas se agrupam para denunciar, resistir, pressionar e reivindicar melhores</p><p>condições de vida e o direito de participação política. E o jornalista de um veículo comunitário deve</p><p>enxergar com os olhos da comunidade.</p><p>São características da comunicação comunitária, popular e alternativa a valorização da realidade</p><p>local; a participação da comunidade durante o processo de produção; a consagração das ideias da</p><p>mobilização e da transformação; o resgate de um viés pedagógico e educativo; e a articulação com</p><p>a produção independente e de resistência. Importante salientar que nem todo meio de comunicação</p><p>local é comunitário apenas por se dirigir a uma audiência próxima, usar a mesma linguagem ou falar</p><p>das coisas do lugar. Pode simplesmente reproduzir os padrões da mídia comercial privada em termos de</p><p>interesses econômicos e políticos.</p><p>Saiba mais</p><p>Egresso da Universidade Paulista (UNIP) – Campus Rangel (Santos‑SP),</p><p>o jornalista Nicolas Pedrosa, morador da área continental do município</p><p>de São Vicente, desenvolveu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),</p><p>em 2021, na perspectiva do jornalismo comunitário. Trata‑se de um blog</p><p>multimídia, que você pode acessar no link a seguir:</p><p>CORREIO CONTINENTAL. Por dentro da história. [s.d.]. Disponível em:</p><p>https://cutt.ly/twvNPLOz. Acesso em: 26 set. 2023.</p><p>108</p><p>Unidade II</p><p>8.1 Imprensa alternativa</p><p>Em diferentes épocas da história do Brasil, os meios de comunicação reafirmaram valores hegemônicos,</p><p>no caso da imprensa oficial e das grandes corporações de mídia. Aqui, o conceito de hegemonia é</p><p>abordado na perspectiva do filósofo italiano Antonio Gramsci (1891–1937), que traz a ideia da aceitação</p><p>da ideologia das classes dominantes como um consenso consentido. Gramsci entende que o aparelho</p><p>responsável por esse consenso engloba escolas, igrejas, sindicatos e a comunicação social, esta última</p><p>sendo considerada o conjunto restrito de empresas gigantes, líderes das principais cadeias de produção,</p><p>que ditam os padrões da sociedade.</p><p>Os meios de comunicação exercem papel importante na expansão da hegemonia ao darem visibilidade</p><p>para acontecimentos, interpretações e ideias que dão sustentação ideológica à classe dominante. Ao</p><p>mesmo tempo, ao longo da história, os meios de comunicação criaram espaços de contestação e de</p><p>posicionamentos políticos na contramão da ideologia dominante, a exemplo de jornais e pasquins que</p><p>conclamavam a independência do país como uma das primeiras manifestações em território nacional e</p><p>que, posteriormente, tiveram sua grande importância no período de regime militar.</p><p>Um deles é o tabloide Pif‑Paf, lançado em junho de 1964 e dirigido por Millôr Fernandes, que, depois</p><p>de ser demitido de O Cruzeiro, criou uma publicação independente, marcando a primeira fase do chamado</p><p>ciclo alternativo. Fazia oposição pelo humor e durou apenas oito edições. Já O Pasquim, considerado o</p><p>periódico mais duradouro, foi um jornal semanal brasileiro editado entre junho de 1969 e novembro de</p><p>1991, e reconhecido por ser um meio de comunicação da contracultura e por sua oposição ao regime</p><p>ditatorial que o país vivia. Nasceu por iniciativa do jornalista Tarso de Castro para substituir A Carapuça,</p><p>tabloide humorístico editado pelo escritor e cronista Sérgio Porto até sua morte em 30 de setembro de</p><p>1968. Tarso convidou o cartunista Jaguar e o</p><p>jornalista Sérgio Cabral para a produção de O Pasquim, que</p><p>não seguia as formalidades tradicionais jornalísticas e tinha como objetivo a crítica e a sátira ao contexto</p><p>da época. O veículo é historicamente reconhecido como uma resistência contra o autoritarismo.</p><p>Saiba mais</p><p>A Fundação Biblioteca Nacional, em seu portal, disponibiliza ao público as</p><p>1.072 edições digitalizadas d’O Pasquim. Segundo informam na plataforma,</p><p>“o trabalho de digitalização contou com o apoio da Associação Brasileira</p><p>de Imprensa (ABI) e do cartunista Ziraldo, que cederam exemplares para</p><p>completar a coleção da Biblioteca Nacional”. O site apresenta, além do amplo</p><p>acervo, vasto material histórico e uma seção de memórias em que é possível</p><p>ter acesso a textos produzidos por colaboradores do periódico. Acesse em:</p><p>O PASQUIM. BN Digital Brasil, [s.d.]. Disponível em: https://tinyurl.com/23yzjrsb.</p><p>Acesso em: 26 set. 2023.</p><p>109</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Figura 43 – Capa da histórica edição de O Pasquim com Leila Diniz</p><p>Fonte: O Pasquim (1969b, p. 1).</p><p>Figura 44 – Primeiro número de O Pasquim</p><p>Fonte: O Pasquim (1969a, p. 1).</p><p>110</p><p>Unidade II</p><p>No site da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” (http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/),</p><p>o jornalista Bernardo Kucinski afirma que</p><p>Entre 1964 e 1980, nasceram e morreram cerca de 150 periódicos que</p><p>tinham como traço comum a oposição intransigente ao regime militar.</p><p>Ficaram conhecidos como imprensa alternativa ou imprensa nanica.</p><p>A palavra nanica, inspirada no formato tabloide adotado pela maioria dos</p><p>jornais alternativos, foi disseminada principalmente por publicitários, num</p><p>curto período em que eles se deixaram cativar por esses jornais. Já o radical</p><p>de alternativa contém quatro dos significados essenciais dessa imprensa:</p><p>o de algo que não está ligado a políticas dominantes; o de uma opção entre</p><p>duas coisas reciprocamente excludentes; o de única saída para uma situação</p><p>difícil e, finalmente, o do desejo das gerações dos anos de 1960 e 1970, de</p><p>protagonizar as transformações sociais que pregavam (Kucinski, s.d.).</p><p>O nome “Pasquim” foi escolhido por sugestão de Jaguar e significa “jornal difamador, de pouca</p><p>qualidade”. Juntaram‑se a esse grupo os cartunistas Ziraldo e Fortuna, o jornalista Paulo Francis e</p><p>Millôr Fernandes. A imprensa alternativa surge para designar tanto a comunicação popular como para</p><p>caracterizar o tipo de imprensa não alinhada às posturas da mídia tradicional, abrindo espaço para</p><p>outros temas e abordagens. É representada por pequenos jornais, que analisam criticamente a realidade.</p><p>Lembrete</p><p>O Pasquim é historicamente reconhecido no Brasil como uma resistência</p><p>contra o autoritarismo.</p><p>A imprensa alternativa e independente tem crescido e se consolidado. A diversidade de plataformas</p><p>digitais tem contribuído para que esse trabalho se fortaleça e se dissemine. Movimentos sociais e</p><p>determinados segmentos da sociedade também encontram nesses veículos o espaço de expressão e voz</p><p>para legitimar suas conquistas e lutas, conscientizar a sociedade e reivindicar direitos de cidadania. A</p><p>Agência Pública disponibiliza em seu site (https://apublica.org/) um mapa do jornalismo independente</p><p>da atualidade, onde constam, além da Agência Pública, veículos como The Intercept Brasil, Nexo, Jornal</p><p>Brasil de Fato, Jornalistas Livres, Portal Aprendiz, Centro de Mídia Independente e Observatório do Direito à</p><p>Comunicação, entre outros.</p><p>Por muito tempo, e podemos dizer ainda hoje em certa medida, a grande mídia se considerou soberana</p><p>da credibilidade noticiosa. Para o professor Dennis de Oliveira (2018), em artigo publicado no site Outras</p><p>Palavras, no atual contexto de superabundância de informação e do forte mercado de desinformação, a</p><p>grande mídia encontrou na luta contra as fake news uma forma de mostrar sua suposta “superioridade”</p><p>moral diante das mídias alternativas e independentes que cresceram com a internet.</p><p>Segundo ele, utilizaram duas ordens de argumentos: o jornalismo que produzem é “profissional”</p><p>(o que leva a opinião pública a considerar que o jornalismo praticado pela mídia alternativa é “amador”),</p><p>pois ele ocorre a partir de estruturas empresariais cristalizadas, com redações profissionalizadas e cujo</p><p>111</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>objetivo não é fazer “ativismo político”, mas “prestar um serviço ao seu público”; as plataformas de</p><p>redes sociais possibilitam uma equivalência de narrativas produzidas em condições diferentes, ou seja,</p><p>qualquer pessoa (sem qualificação necessária) pode produzir e disseminar informações.</p><p>Saiba mais</p><p>No link a seguir, você tem acesso ao artigo do Prof. Dr. Dennis de Oliveira:</p><p>OLIVEIRA, D. de. Fake news, fenômeno da internet? Portal Outras Palavras,</p><p>23 mar. 2018. Disponível em: https://tinyurl.com/46ja5n7t. Acesso em:</p><p>26 set. 2023.</p><p>Outro aspecto importante de destacar no âmbito da mídia alternativa é o que John Downing (2002)</p><p>denomina mídia radical: uma comunicação alternativa no âmbito dos movimentos populares que</p><p>extrapola jornais e o jornalismo. Inserindo nesse conceito, o autor considera mídia os pequenos jornais,</p><p>boletins informativos e outras formas de comunicação do circuito dos movimentos populares, como</p><p>panfletos, alto‑falantes, literatura de cordel, teatro experimental, música, outras performances artísticas</p><p>etc., pela força do sentido do seu conteúdo como meios alternativos à grande mídia e ao pensamento</p><p>da classe dominante.</p><p>Lembrete</p><p>A imprensa alternativa se caracteriza como um tipo de imprensa não</p><p>alinhada às posturas da mídia tradicional e hegemônica.</p><p>8.2 Jornalismo cidadão e colaborativo</p><p>A) B)</p><p>Figura 45 – O cidadão comum produz conteúdo e interage</p><p>com veículos de imprensa de forma mais ativa</p><p>Disponível em: A) https://tinyurl.com/349bja83; B) https://tinyurl.com/6kkbjysr.</p><p>Acesso em: 26 set. 2023.</p><p>112</p><p>Unidade II</p><p>Com o advento da internet e todas as possibilidades de acesso à informação e produção de conteúdo</p><p>que ela propicia, o jornalismo foi diretamente impactado, não sendo mais os veículos de imprensa – que</p><p>também tiveram que se reformular e se reinventar ante à nova realidade – os únicos e exclusivos meios</p><p>de obter (e produzir) informação. O jornalismo, hoje, atua de forma multimidiática: em uma mesma</p><p>plataforma o público tem acesso a informações em linguagens textual e audiovisual.</p><p>Embora haja profissionais que considerem esse contexto uma ameaça ao jornalismo tradicional, há</p><p>fatores positivos nessa mutação da comunicação, já que hoje qualquer cidadão comum pode produzir</p><p>conteúdo e interagir com os veículos de imprensa de forma mais ativa, diferentemente do passado,</p><p>quando eram meros e passivos consumidores.</p><p>Nesse sentido, os cidadãos comuns devem ser vistos pelos jornalistas como aliados e colaboradores</p><p>da imprensa, podendo auxiliar com sugestões de pauta, fontes, público e envio de materiais, muitas vezes</p><p>em áudio e vídeo que, após triagem interna dentro dos veículos de comunicação, podem ser utilizados</p><p>na produção do conteúdo noticioso veiculado. Nessa perspectiva, isso é um ganho ao jornalismo diário,</p><p>considerando redações enxutas que dificultam a presença dos jornalistas em todos os lugares onde a</p><p>notícia acontece. Não é raro, por exemplo, a imprensa tradicional utilizar vídeos enviados às redações</p><p>por pessoas comuns contendo imagens de um fato, que servem de substrato e subsídio ao material</p><p>apurado e produzido pelo jornalista.</p><p>Trata‑se do chamado jornalismo cidadão e colaborativo, que considera a participação do público no</p><p>seu noticiário. Podemos afirmar que ele existe desde o século XIX, com as cartas do leitor publicadas nos</p><p>jornais impressos. No entanto, com a internet, ele se notabilizou e se tornou ativo: o público comenta</p><p>publicações nas redes sociais, participa de debates nos portais de notícias e escolhe o que quer ou não</p><p>consumir. São exemplos de jornalismo cidadão os eventos noticiosos capturados em vídeo por leitores e</p><p>telespectadores, como ações policiais, acidentes ou outros flagrantes do dia a dia.</p><p>[...] A internet traz uma mudança fundamental: a possibilidade de pessoas,</p><p>organizações comunitárias, movimentos sociais, ONGs [organizações não</p><p>governamentais], grupos de comunicadores etc. tornarem‑se usuários</p><p>ativos, emissores de conteúdos, de maneira ilimitada e sem controle, por</p><p>parte dos canais tradicionais da mídia [...] (Peruzzo, 2004, p. 78).</p><p>Destacamos aqui exemplos de prática colaborativa na produção de notícias: o Slashdot</p><p>(http://slashdot.org), fundado em 1997, que tem um conteúdo segmentado focado em tecnologia e</p><p>informática; o Ohmynews (https://www.ohmynews.com/), agência de notícias criada no ano 2000 na</p><p>Coreia do Sul e considerada a primeira, nesse viés colaborativo, a conquistar visibilidade mundial – ela</p><p>nasce em um contexto em que conglomerados midiáticos e famílias com influência política no país</p><p>controlavam 80% dos jornais. E, ainda, a Wikinews (http://pt.wikinews.org/), criada em 2005 – em seu</p><p>site, é informado que a plataforma “existe graças à Fundação Wikimedia, entidade sem fins lucrativos</p><p>que gera projetos em diversos idiomas e de conteúdo livre” (Página principal, s.d.).</p><p>113</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>No Brasil, há o Centro de Mídia Independente – CMI (http://www.midiaindependente.org) e o</p><p>Overmundo (http://www.overmundo.com.br/). Este último traz a produção cultural do país e de</p><p>comunidades de brasileiros espalhadas pelo mundo. Na sociedade contemporânea, o jornalismo</p><p>colaborativo tem se mostrado uma importante ferramenta para democratizar o acesso à informação e</p><p>ampliar a diversidade de vozes na mídia.</p><p>Essa perspectiva nos remete ao campo da educomunicação e ao pensamento de Kaplún (1983),</p><p>que defende uma concepção de comunicação ligada à participação, interação e diálogo, propondo</p><p>um modelo de comunicação participativa, visando valorizar a autoexpressividade das pessoas. Nesse</p><p>modelo, os grupos e as comunidades assumem suas vozes para emitir mensagens e interferir no processo</p><p>comunicativo. A comunicação, então, passa a ser horizontal, favorecendo uma prática democrática.</p><p>114</p><p>Unidade II</p><p>Resumo</p><p>As plataformas digitais ocupam o centro da disputa político‑ideológica</p><p>mundial na sociedade contemporânea. Nesse cenário, nos relacionamos</p><p>cotidianamente com a superabundância de informação e com um mercado de</p><p>desinformação e fake news. Conteúdos falsos produzidos com a intenção</p><p>de enganar e prejudicar a integridade de pessoas ou instituições, as fake</p><p>news também são caracterizadas por informações manipuladas e imagens</p><p>adulteradas e tiradas de contexto, com o objetivo de promover o caos social</p><p>e atrair acesso a sites e plataformas, objetivando o lucro com publicidade.</p><p>Sabemos que fake news não são uma novidade: sua existência</p><p>acompanha a construção da política e da própria história da humanidade.</p><p>Em nosso país, por exemplo, notícias falsas na política existem desde o</p><p>tempo do Brasil Colônia. Um dos casos mais emblemáticos de desinformação</p><p>produzida pelo próprio jornalismo é o da Escola Base, cujos proprietários</p><p>foram acusados injustamente de violentar crianças sexualmente.</p><p>Com o advento das plataformas digitais, o fenômeno das fake news e</p><p>da desinformação se potencializou, e assistimos a uma tragédia resultante da</p><p>disseminação de boatos na internet: o caso da moradora do Guarujá‑SP,</p><p>Fabiane Maria de Jesus, linchada e morta por populares que, a partir de um</p><p>retrato‑falado na rede social Facebook, a confundiram com uma mulher</p><p>que supostamente sequestrava crianças para fazer magia negra. Além disso,</p><p>durante o período pandêmico, em que a sociedade mundial enfrentou a</p><p>covid‑19, foram inúmeras fake news disseminadas na internet divulgando</p><p>maneiras não prescritas (e perigosas à saúde pública) pela Organização</p><p>Mundial de Saúde (OMS) para combater a doença. Somada a esse cenário</p><p>está a produção de deepfakes com o uso de inteligência artificial.</p><p>Diante dessa conjuntura, o jornalista pode contribuir no enfrentamento</p><p>às fake news como um educador midiático, que é uma das áreas de</p><p>intervenção do campo da educomunicação. Pode atuar em comunidades,</p><p>escolas formais, centros culturais e de convivência, e na própria mídia,</p><p>desenvolvendo um trabalho contra‑hegemônico e que dialoga com a</p><p>comunicação popular, comunitária e alternativa e, ainda, com o jornalismo</p><p>cidadão e colaborativo.</p><p>115</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. Leia os quadrinhos e o texto a seguir:</p><p>Figura 46</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/53chjjkt. Acesso em: 26 set. 2023.</p><p>O Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna, foi escrito pelo filósofo Platão e está contido em</p><p>A república, no livro VII. Na alegoria, narra‑se o diálogo de Sócrates com Glauco e Adimato. É um dos</p><p>textos mais lidos no mundo filosófico.</p><p>A história narra a vida de alguns homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna e</p><p>ficavam voltados para o fundo dela. Ali contemplavam uma réstia de luz que refletia sombras no fundo</p><p>da parede. Esse era o seu mundo. Certo dia, um dos habitantes resolveu voltar‑se para o lado de fora da</p><p>caverna e logo ficou cego devido à claridade da luz. E, aos poucos, vislumbrou outro mundo com</p><p>natureza, cores, “imagens” diferentes do que estava acostumado a “ver”. Voltou para a caverna para narrar</p><p>o fato aos seus amigos, mas eles não acreditaram nele e, revoltados com a “mentira”, mataram‑no.</p><p>Com essa alegoria, Platão divide o mundo em duas realidades: a sensível, que se percebe pelos</p><p>sentidos, e a inteligível (o mundo das ideias). O primeiro é o mundo da imperfeição, e o segundo</p><p>encontraria toda a verdade possível para o homem. Assim, o ser humano deveria procurar o mundo da</p><p>verdade para que conseguisse atingir o bem maior para sua vida. Em nossos dias, muitas são as cavernas</p><p>em que nos envolvemos e pensamos ser a realidade absoluta.</p><p>Adaptado de: https://tinyurl.com/34jn6dne. Acesso em: 26 set. 2023.</p><p>Com base na leitura, avalie as afirmativas:</p><p>I – O personagem da charge afirma que vivemos na caverna de Platão porque ele não tem acesso às</p><p>modernas tecnologias.</p><p>II – A referência ao mito da caverna de Platão alude ao fato de que a vida virtual, com o uso de</p><p>modernos aparelhos, é intensa hoje.</p><p>116</p><p>Unidade II</p><p>III – Os quadrinhos enaltecem os modernos aparelhos como forma de ter acesso a informações, uma</p><p>vez que o personagem pode aprender filosofia por meio da internet.</p><p>IV – A expressão “caverna de Platão” na tirinha tem sentido positivo e enaltece a sociedade tecnológica</p><p>contemporânea.</p><p>É correto o que se afirma apenas em:</p><p>A) I e II.</p><p>B) II e IV.</p><p>C) III e IV.</p><p>D) II.</p><p>E) I e III.</p><p>Resposta correta: alternativa D.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a referência ao mito da caverna de Platão indica que vivemos em um mundo de</p><p>“reflexos”, que confundimos com a realidade.</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: o personagem aplica o conceito filosófico à atualidade, em que a virtualidade é intensa</p><p>e a realidade é conhecida, muitas vezes, pelas imagens virtuais.</p><p>III – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: não há a intenção de enaltecer os modernos aparelhos, mas de evidenciar que as</p><p>pessoas vivem atualmente de forma virtual.</p><p>IV – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a expressão “caverna de Platão” não tem a intenção de enaltecer a sociedade tecnológica</p><p>contemporânea; ela indica que as pessoas vivem no “mundo das sombras”.</p><p>117</p><p>Questão 2. (Enade 2009) Leia o texto a seguir.</p><p>Em nossas terras, certamente a “barriga” mais famosa ficou conhecida como o episódio do “boimate”</p><p>e foi protagonizada pela Veja, nossa revista líder de audiência. Até hoje, costuma‑se invocar este exemplo</p><p>(isto é feito, sobretudo, por pessoas que não militam na imprensa, pesquisadores em particular) para</p><p>qualificar negativamente ou mesmo para provocar os jornalistas.</p><p>O “boimate” foi publicado pela Veja em abril de 1983 e referia‑se a uma “sensacional” descoberta</p><p>ocorrida na Alemanha (mais precisamente na cidade de Hamburgo – o que, como iremos ver, nada tem</p><p>de acidental). Dizia respeito à pesquisa de investigadores alemães</p><p>que, respaldada em processo inédito</p><p>para a fusão de células animais e vegetais, culminou com um produto singular: o “boimate”, meio carne,</p><p>meio tomate, ou seja, algo que dava em árvore e que, em resumo, se constituía em um hambúrguer que</p><p>já vinha com ketchup.</p><p>BUENO, W. da C. Portal Imprensa, 24 set. 2007.</p><p>É correto afirmar que o texto está se referindo a:</p><p>A) Uma informação inverídica.</p><p>B) Um furo de reportagem.</p><p>C) Uma matéria inusitada.</p><p>D) Uma notícia plagiada.</p><p>E) Uma reportagem premiada.</p><p>Resposta correta: alternativa A.</p><p>Análise da questão</p><p>No jargão jornalístico, a barriga é uma informação incorreta, divulgada sem o adequado trabalho de</p><p>checagem por parte do jornalista. A barriga é um erro que seria evitado se houvesse a correta apuração.</p><p>Além disso, no próprio texto da questão, fica claro o absurdo da informação, sendo possível deduzir</p><p>o significado do termo.</p><p>118</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>Audiovisuais</p><p>AGÊNCIA Lupa: quem somos e o que checamos. 2016. 1 vídeo. (1 min). Publicado pelo canal Agência</p><p>Lupa. Disponível em: https://tinyurl.com/yc7tbmsx. Acesso em: 25 set. 2023.</p><p>EDUCOMUNICAÇÃO. YouTube, [s.d.]. Disponível em: https://tinyurl.com/vhhmws82. Acesso em: 8 set. 2023.</p><p>FAKE Obama created using AI video tool ‑ BBC News. 2017. 1 vídeo. (1 min). Publicado pelo canal BBC News.</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/nhdx9hw8. Acesso em: 4 out. 2023.</p><p>IMPRENSA mirim EMEI Cartola. YouTube, [s.d.]. Disponível em: https://tinyurl.com/yck58pcv.</p><p>Acesso em: 8 set. 2023.</p><p>MEMÓRIAS em rede na 14ª Conferência Anual da Rede de Cidades Criativas da Unesc em Santos. 2022.</p><p>1 vídeo. (8 min). 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Estão sendo</p><p>realizados testes com medicamentos, mas ainda não há nada que comprove</p><p>cientificamente sua eficácia</p><p>Gargarejar com água morna ou</p><p>salgada evita que o vírus vá para</p><p>os pulmões</p><p>Água morna ou salgada não evita que o vírus atinja os pulmões. Margareth</p><p>esclarece que o comprometimento dos pulmões vai depender de características</p><p>fisiológicas do indivíduo infectado pelo vírus</p><p>O novo coronavírus veio de</p><p>morcegos e cobras</p><p>De acordo com a Organização Mundial de Saúde, não há comprovação científica</p><p>de que o coronavírus veio de animais</p><p>O tempo em que vírus vive nas</p><p>mãos é de dez minutos</p><p>Não há evidências científicas que comprovem o tempo em que o vírus</p><p>permanece nas mãos, segundo Margareth. O indicado é fazer a lavagem</p><p>adequada das mãos, sempre que possível, com água e sabão</p><p>O vírus exposto a uma</p><p>temperatura superior a</p><p>26 °C morre</p><p>Não existe um limite de temperatura à qual o vírus não resiste, de acordo com a</p><p>pesquisadora</p><p>Álcool em gel pode ser feito</p><p>em casa com apenas dois</p><p>ingredientes</p><p>Não é indicado que se produza álcool em gel em casa, de acordo com</p><p>a pesquisadora. O material de limpeza mais indicado na eliminação do</p><p>coronavírus, segundo Margareth, é qualquer detergente, que se usa para lavar a</p><p>louça, ou água sanitária. “Pode ser feito um material de limpeza caseiro, diluindo</p><p>água sanitária na proporção de 1 litro de água sanitária para 3 litros de água.</p><p>Isso serve também para limpar superfícies lisas, sobretudo as de plástico, onde o</p><p>vírus pode permanecer mais tempo. A melhor maneira e padrão ouro de limpeza</p><p>é, ainda, água e sabão. O álcool em gel sozinho não pode ser utilizado todo o</p><p>tempo. As mãos precisam ser realmente lavadas”, destaca a pesquisadora</p><p>Chá de abacate com hortelã,</p><p>uísque quente com mel e</p><p>coquete antiviral são eficazes no</p><p>combate ao novo coronavírus</p><p>Não há comprovação, até o momento, de que esses alimentos e substâncias</p><p>previnem a infecção pelo novo coronavírus</p><p>Adaptado de: Monteiro (2010).</p><p>Nesse contexto complexo, a educomunicação, como estratégia de intervenção social multidisciplinar</p><p>e transversal, pode contribuir com o desenvolvimento de competências e habilidades nos sujeitos, sejam</p><p>eles crianças, jovens, adultos ou idosos, para que possam ter a reflexão e a criticidade necessárias sobre</p><p>conteúdos midiáticos, sobretudo os que estão inseridos nesse grande ecossistema de desinformação.</p><p>Embora tenhamos avanços significativos das tecnologias digitais, é sabido que o acesso à internet e</p><p>aos meios de comunicação ainda ocorre de forma desigual no Brasil. Nesse sentido, a educomunicação</p><p>também busca instruir os sujeitos sobre as diversas formas alternativas de comunicação, como, por</p><p>exemplo, incentivando a criação e a produção de conteúdo para veiculação em plataformas populares,</p><p>na contramão da chamada mídia hegemônica ou grande mídia, formada por grandes empresas de</p><p>comunicação que detêm o monopólio midiático.</p><p>75</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Como já mencionado na unidade I, a educomunicação, portanto, busca dar voz e escuta a quem</p><p>não encontra espaço de fala nos diferentes espaços da sociedade, visando à pluralidade de saberes,</p><p>expressões, ideias e opiniões, com ética e responsabilidade social.</p><p>Diante de complexas formas de manipulação da cultura, da comunicação e dos meios, a</p><p>educomunicação, como intervenção social, visa desenvolver o senso crítico e reflexivo dos sujeitos</p><p>envolvidos, bem como criar espaços de expressão, comunicação e participação política como exercício</p><p>de cidadania, visando a uma sociedade mais solidária, respeitosa e democrática, cujos princípios da boa</p><p>convivência sejam preservados no cotidiano da vida.</p><p>Como campo vasto e complexo, objetiva não só alfabetizar e letrar o público em relação aos meios</p><p>de comunicação, mas também propiciar a construção do conhecimento e da consciência cidadã e</p><p>planetária, transformando, primeiramente, o sujeito, e, nesse processo, o coletivo e toda a sociedade.</p><p>5.1 O mito da caverna e o fenômeno da pós‑verdade</p><p>Figura 27 – A sociedade precisa se libertar das cavernas da desinformação</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/rvcpma75. Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>Como já abordado, não é de hoje a preocupação com a desinformação e com a influência de</p><p>mensagens veiculadas na mídia em geral. Os pesquisadores Costa e Romanini (2019) nos lembram que</p><p>a atenção com a desinformação e o poder manipulador de mensagens vem de muito longe: data do</p><p>século VI a.C., com o mito da caverna de Platão, publicado no livro A república, no qual</p><p>um grupo de homens acorrentados em uma caverna, diante de uma parede</p><p>que reflete imagens projetadas a partir do exterior, vivem amedrontados</p><p>imaginando serem reflexos de seres perigosos que os aguardam do lado de</p><p>fora (Costa; Romanini, 2019, p. 72).</p><p>76</p><p>Unidade II</p><p>Um deles consegue sair da caverna, descobre a ilusão e avisa os demais, que ainda se veem envolvidos</p><p>pelas informações ruins, sem querer acreditar serem irreais. Tal mito serve de alerta para os equívocos</p><p>provocados pelo medo da mudança e de rever suas visões de mundo. Para os autores, trata‑se de um</p><p>mito que serve de exemplo para a vida pública e para a democracia, em uma pertinente analogia com</p><p>o fenômeno das fake news.</p><p>Em nossa sociedade são fundamentais as bases em que a comunicação é produzida.</p><p>“O desenvolvimento da educação e da ciência permitiu a organização de um pensamento voltado</p><p>para a defesa da liberdade e da desconstrução das formas possíveis de manipulação de ideias de</p><p>valores” (Costa; Romanini, 2019, p. 73). Para compreender a importância desse mito, que traz as</p><p>consequências para a democracia e a vida pública e participativa, destacamos a seguir o trecho do</p><p>livro A república, de Platão:</p><p>Destaque</p><p>Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza</p><p>relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea,</p><p>em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a</p><p>infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer‑se nem</p><p>ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz</p><p>chega‑lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o</p><p>fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada</p><p>está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de</p><p>títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.</p><p>Glauco – Estou vendo.</p><p>Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam</p><p>objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra,</p><p>madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam</p><p>e outros seguem em silêncio.</p><p>Glauco – Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.</p><p>Sócrates – Assemelham‑se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles</p><p>tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras</p><p>projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?</p><p>Glauco – Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante</p><p>toda a vida?</p><p>Sócrates – E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?</p><p>77</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Glauco – Sem dúvida.</p><p>Sócrates – Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que</p><p>tomariam por objetos reais as sombras que veriam?</p><p>Glauco – É bem possível.</p><p>Sócrates – E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos</p><p>transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?</p><p>Glauco – Sim, por Zeus!</p><p>Sócrates – Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos</p><p>objetos fabricados?</p><p>Glauco – Assim terá de ser.</p><p>Sócrates – Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados</p><p>das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros,</p><p>que seja ele obrigado a endireitar‑se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a</p><p>erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento</p><p>impedi‑lo‑á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que</p><p>responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que</p><p>agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se,</p><p>enfim, mostrando‑lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas,</p><p>a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe</p><p>parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?</p><p>Glauco – Muito mais verdadeiras.</p><p>Sócrates – E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não</p><p>desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são</p><p>realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?</p><p>Glauco – Com toda a certeza.</p><p>Sócrates – E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta</p><p>rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não</p><p>sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz,</p><p>poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora</p><p>denominamos verdadeiras?</p><p>Glauco – Não o conseguirá, pelo menos de início.</p><p>78</p><p>Unidade II</p><p>Sócrates – Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região</p><p>superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens</p><p>dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios</p><p>objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar</p><p>mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o</p><p>dia, o Sol e sua luz.</p><p>Glauco – Sem dúvida.</p><p>Sócrates – Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas</p><p>ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver</p><p>e contemplar tal qual é.</p><p>Glauco – Necessariamente.</p><p>Sócrates – Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as</p><p>estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa</p><p>de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.</p><p>Glauco – É evidente que chegará a essa conclusão.</p><p>Sócrates – Ora, lembrando‑se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa</p><p>e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a</p><p>mudança e lamentará os que lá ficaram?</p><p>Glauco – Sim, com certeza, Sócrates.</p><p>Sócrates – E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para</p><p>aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor</p><p>se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem</p><p>juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a</p><p>inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como</p><p>o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no</p><p>mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?</p><p>Glauco – Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.</p><p>Sócrates – Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar‑se no seu</p><p>antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente</p><p>da luz do Sol?</p><p>Glauco – Por certo que sim.</p><p>Sócrates – E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se</p><p>libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa</p><p>79</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar‑se à escuridão exigirá um</p><p>tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo</p><p>ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até</p><p>lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se</p><p>pudesse fazê‑lo?</p><p>Glauco – Sem nenhuma dúvida.</p><p>Sócrates – Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem</p><p>ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na</p><p>caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região</p><p>superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma</p><p>para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha ideia, visto que também tu</p><p>desejas conhecê‑la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é</p><p>esta: no mundo inteligível, a ideia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade,</p><p>mas não se pode apreendê‑la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo</p><p>existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível,</p><p>é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê‑la para se</p><p>comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.</p><p>Glauco – Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê‑la.</p><p>Fonte: Platão (2002, p. 287‑291).</p><p>Pensar o mito da caverna de Platão como metáfora ao fenômeno da desinformação e das fake</p><p>news nos leva a refletir sobre nossa sociedade complexa, caracterizada pela abundância de informação</p><p>difundida em inúmeras plataformas, em diferentes linguagens e com pluralidade de autorias. A esse</p><p>contexto somamos as recomendações dos algoritmos direcionadas aos usuários da internet que,</p><p>ao mesmo tempo que facilitam a curadoria de conteúdos e o consumo personalizado na acelerada</p><p>vida contemporânea, também propiciam aos sujeitos acreditarem em conteúdos que reafirmam suas</p><p>convicções e vão ao encontro de suas crenças e ideologias. É nesse aspecto que pode ocorrer o reforço</p><p>e a legitimação de preconceitos e discriminação, gerando discurso de ódio e violência, muitas vezes</p><p>comprometendo a democracia.</p><p>Embora a cultura helênica estivesse muito distante da sociedade da</p><p>informação, os gregos já compreendiam as consequências desse tipo de</p><p>mistificação numa sociedade que descobrira a vida pública e participativa e a</p><p>capacidade humana de pensar a realidade por meio de argumentos, muito</p><p>além da visão revelacionista dos demais povos antigos. Portanto, a importância</p><p>desse mito está em suas consequências para a democracia e a vida pública e</p><p>participativa. Essa herança helênica tem sido inestimável – à medida que a</p><p>sociedade se complexifica, no Ocidente, mais nos preocupamos em saber o que</p><p>constitui efetivamente a realidade e em defender uma comunicação pública,</p><p>livre e não manipuladora (Costa; Romanini, 2019, p. 72‑73).</p><p>80</p><p>Unidade II</p><p>Para Costa e Romanini (2019), os pesquisadores e especialistas tardaram a trazer ao centro do</p><p>debate o tema das informações falsas e seu impacto às democracias. Segundo eles, foram os próprios</p><p>veículos de comunicação que iniciaram o debate sobre os perigos das fake news em setembro de 2016,</p><p>com o artigo “Art of the lie” (“Arte da mentira”), publicado pela revista inglesa The Economist. O texto</p><p>destacava o termo post‑truth (pós‑verdade, em português), culpando a internet e as redes sociais</p><p>pela disseminação de mentiras por políticos. Mas seriam as plataformas digitais</p><p>o bode expiatório do</p><p>fenômeno das fake news?</p><p>Lucia Santaella (2019, p. 10) relaciona as notícias falsas com a ideia de bolhas informacionais, que</p><p>veremos mais adiante, também chamadas de câmaras de eco, que seriam “o ecossistema individual</p><p>e coletivo de informação viciada na repetição de crenças inamovíveis”. As bolhas, fortalecidas pelos</p><p>algoritmos, reforçam as crenças dos indivíduos motivados por um fator intrínseco à espécie humana: a</p><p>emoção. Todo esse fenômeno, sustentado pelo aspecto emocional das ideologias individuais, acaba por</p><p>redundar na chamada “era da pós‑verdade”.</p><p>A expressão foi eleita, em 2016, como a palavra do ano pelo Dicionário Oxford. Embora o conceito</p><p>de pós‑verdade exista desde a última década (anterior a 2016), os Dicionários Oxford observaram um</p><p>pico de frequência do termo, naquele ano, principalmente no contexto do referendo da União Europeia</p><p>no Reino Unido e da eleição presidencial nos Estados Unidos.</p><p>Pela definição do dicionário Oxford Languages, a palavra significa:</p><p>[...] algo que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos</p><p>influência para definir a opinião pública do que o apelo à emoção ou</p><p>crenças pessoais. Em outros termos: a verdade perdeu o valor. Não nos</p><p>guiamos mais pelos fatos. Mas pelo que escolhemos ou queremos acreditar</p><p>que é a verdade. [...] O terreno da internet tem se revelado fértil para a</p><p>propagação de mentiras – sempre interessadas –, trincheira dos haters.</p><p>Levamos tanto tempo para estabelecer uma visão “científica” dos fatos,</p><p>construir a isenção do jornalista, a independência editorial e, de repente,</p><p>vemos que o debate político se dá entre “socos e pontapés”. A pós‑verdade</p><p>arrasta a política, o jornalismo, a justiça, a economia, a nossa vida pessoal</p><p>(apud Pós‑verdade, s.d.).</p><p>No site da Academia Brasileira de Letras, o termo está definido como:</p><p>1. Informação ou asserção que distorce deliberadamente a verdade, ou algo</p><p>real, caracterizada pelo forte apelo à emoção, e que, tomando como base</p><p>crenças difundidas, em detrimento de fatos apurados, tende a ser aceita</p><p>como verdadeira, influenciando a opinião pública e comportamentos</p><p>sociais. 2. Contexto em que asserções, informações ou notícias verossímeis,</p><p>caracterizadas pelo forte apelo à emoção, e baseadas em crenças pessoais,</p><p>ganham destaque, sobretudo social e político, como se fossem fatos</p><p>comprovados ou a verdade objetiva (Pós‑verdade, s.d.).</p><p>81</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Santaella (2019) ressalta que a palavra, bem como bolhas e notícias falsas (fake news) entraram no</p><p>domínio público em rodas de conversas, conferências, pesquisas científicas, na imprensa e nas redes sociais</p><p>digitais. E que a verdade, no contexto da desinformação, já não é mais contestada; se tornou secundária</p><p>com a descentralização da produção de informação, não mais restrita às instituições tradicionais de</p><p>mídia. “Isso tem levado, por exemplo, ao extremo da descrença na crise climática e até a aberrações</p><p>lastimáveis, como a da Terra plana, de que resultam crenças parcialmente verdadeiras, majoritariamente</p><p>falsas e até as redondamente falsas” (Santaella, 2019, p. 52). Nessa lógica, a veracidade ou a falsidade</p><p>da informação é o que menos importa. O que sobressai são as crenças pessoais já pré‑concebidas</p><p>permeadas pela emoção.</p><p>5.2 Desinformação e fake news</p><p>Figura 28 – A informação está a um clique</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/ceytb3um. Acesso em: 12 set. 2023.</p><p>Com o avanço das tecnologias digitais, temos acesso a todo tipo de informação em um clique. Nessa</p><p>vasta gama, se misturam conhecimento científico, informações jornalísticas, conteúdos especializados,</p><p>entretenimento, desinformação e fake news. É importante, portanto, entendermos a abrangência do</p><p>conceito de desinformação e a diferença do termo fake news.</p><p>Costa e Romanini (2019) explicam que o termo fake news foi conceituado a partir da Comissão</p><p>Europeia (CE) como desinformação intencional gerada para promover vantagens econômicas ou para</p><p>enganar o público, formado por pessoas que, em geral, saciam sua necessidade de informação por</p><p>meio de notícias sem a preocupação de saber a credibilidade das fontes e a procedência e a autoria do</p><p>conteúdo. As fake news são veiculadas e consumidas por pessoas que não têm o conhecimento de como</p><p>funcionam os sistemas das plataformas digitais que elas próprias utilizam. Ou seja, não são leitores</p><p>críticos que buscam informação em veículos considerados idôneos.</p><p>82</p><p>Unidade II</p><p>O termo passou a ser usado popularmente principalmente depois das eleições presidenciais dos</p><p>Estados Unidos em 2016, ocasião em que o então candidato Trump o usava para se referir às notícias</p><p>negativas produzidas sobre ele pela mídia. Alguns estudiosos no tema consideram que o termo, em si,</p><p>é carregado de contradição, tendo em vista que é pressuposto do jornalismo uma notícia ser verídica.</p><p>Contudo, são muitas as formas de enganar e manipular a audiência, como, por exemplo, um</p><p>texto opinativo disfarçado de informação jornalística; uma notícia antiga ou imagens tiradas de contexto</p><p>como se fossem atuais; imagens adulteradas; vídeos editados; conteúdos que anunciam promoções</p><p>imperdíveis ou curas milagrosas que não passam de golpe, mas que deixam o público vulnerável quando</p><p>há um apelo publicitário que envolve emoção.</p><p>Alguns especialistas optam por usar o termo desinformação ao invés de fake news por entendê‑lo</p><p>ser mais abrangente. Portanto, podemos dizer que fake news estão inseridas no guarda‑chuva da</p><p>desinformação, que inclui, ainda, erros jornalísticos divulgados por jornais, telejornais, revistas e outros</p><p>veículos de imprensa. O equívoco jornalístico também pode gerar desinformação, no entanto, os</p><p>jornais, ao reconhecerem o erro, para repará‑lo, publicam a chamada errata, divulgando a informação</p><p>correta ao público.</p><p>A diferença, então, está na intenção: enquanto veículos jornalísticos idôneos estão sujeitos ao erro</p><p>e devem repará‑lo emitindo retificações, as fake news têm o intuito perverso de enganar e manipular</p><p>a opinião do público para promover o caos informacional e a hostilidade contra grupos da sociedade,</p><p>atingir reputações e a privacidade, e incitar a violência, a discriminação e o discurso de ódio.</p><p>Wardle e Derakhshan (2017) entendem que a desinformação é uma desordem informacional e a</p><p>classifica em sete tópicos: falsa conexão, falso contexto, manipulação do conteúdo, sátira ou paródia,</p><p>conteúdo enganoso, conteúdo impostor e conteúdo fabricado. Veja a seguir exemplos com os sete</p><p>tópicos da desordem informacional (Ferreira, 2022):</p><p>83</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>• Falsa conexão: acontece quando partes da informação não se conectam, por exemplo, em títulos,</p><p>legendas de imagens e fotografias que não confirmam o conteúdo de uma matéria, conforme</p><p>observamos na figura a seguir.</p><p>Figura 29 – O Portal R7 – Bebê Mamãe divulga postagem publicada na rede social dos atores</p><p>Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini na qual a atriz aparece com uma barriga de grávida.</p><p>No entanto, eles não estão esperando um filho juntos, conforme o título conota. Na foto eles</p><p>estavam caraterizados como os personagens de um filme que estão gravando</p><p>Fonte: Stuppiello (2022).</p><p>84</p><p>Unidade II</p><p>• Falso contexto: conteúdo confiável, mas divulgado sob um contexto falso, como, por exemplo,</p><p>uma notícia antiga que volta a circular como se fosse um fato recente. A imagem a seguir é de</p><p>conflitos ocorridos há décadas, como a guerra de Ruanda, e foi usada como propaganda para</p><p>acusar os rohingyas de serem violentos. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que os</p><p>rohingyas, povo muçulmano de Mianmar, foi alvo de limpeza étnica.</p><p>Figura 30 – Foto tirada em Bangladesh, em 1971, e compartilhada</p><p>nas redes sociais para descrever o povo rohingya como “terrorista”</p><p>Fonte: Três... (2018).</p><p>• Manipulação do conteúdo: quando a informação verdadeira é manipulada com o objetivo</p><p>de enganar. Como exemplo, conteúdos opinativos podem ser divulgados como se fossem</p><p>informação noticiosa ou quando uma versão do fato se torna mais</p><p>importante que o fato em si,</p><p>confundindo o público.</p><p>85</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>• Sátira ou paródia: conteúdo que se apresenta como jornalístico, mas que se trata de deboches</p><p>sobre informações noticiadas em veículos confiáveis. O objetivo não é enganar, mas divertir.</p><p>Contudo, podem confundir o público que não entende que se trata de um conteúdo satírico e até</p><p>mesmo de humor crítico. A figura a seguir ilustra esse tópico.</p><p>Figura 31 – No site Sensacionalista consta a informação “Humor. O jornal isento de verdade”,</p><p>deixando claro ao público o objetivo de seus conteúdos satíricos</p><p>Fonte: Famílias... (2023).</p><p>• Conteúdo enganos: informação tirada de contexto para prejudicar a imagem de alguém ou de</p><p>alguma instituição. São destacados trechos polêmicos, visando o sensacionalismo, comprometendo</p><p>a pessoa que fez alguma declaração.</p><p>86</p><p>Unidade II</p><p>• Conteúdo fabricado: conteúdo criado com a intenção de prejudicar uma pessoa, uma instituição</p><p>ou simplesmente para promover o caos, fomentar o discurso de ódio e a violência. São as</p><p>popularmente chamadas fake news.</p><p>5.2.1 O caso Escola Base</p><p>Na conjuntura atual do país, o jornalismo enfrenta uma crise de confiança e credibilidade diante do</p><p>fenômeno das notícias falsas. Ela é agravada quando são os próprios profissionais da imprensa e os veículos</p><p>de comunicação que produzem informações mal apuradas, gerando desinformação compartilhada nas</p><p>redes sociais digitais, levando a consequências devastadoras na vida de pessoas e instituições.</p><p>A história do jornalismo brasileiro registra um caso emblemático, resultado de apuração jornalística</p><p>incompleta, sensacionalismo e erros de investigação policial: as acusações improcedentes de pedofilia</p><p>na Escola Base, em 1994, no bairro da Aclimação, em São Paulo. Uma série de falhas cometidas pela</p><p>imprensa e pela polícia levou a escola infantil da rede privada à ruína e seus proprietários à reputação</p><p>e à integridade totalmente abaladas com a acusação falsa de abuso sexual infantil. Isso em uma época</p><p>em que a internet não tinha a dimensão e a complexidade de hoje.</p><p>Em março de 1994, os proprietários da instituição, Icushiro Shimada, sua esposa Maria Aparecida</p><p>Shimada, a professora Paula Milhim e o motorista da Kombi escolar Maurício Monteiro de Alvarenga</p><p>(marido de Paula) foram acusados injustamente de terem abusado sexualmente de crianças de 4 anos.</p><p>As denúncias foram feitas por mães das supostas vítimas e havia também queixas de que os quatro</p><p>aproveitavam o horário escolar para levar os estudantes para motéis.</p><p>Depois de denunciarem ao 6ª DP de São Paulo, as mães, não satisfeitas com a demora da investigação,</p><p>procuraram a imprensa para relatar o que supostamente acontecia na escola. A acusação foi noticiada</p><p>pelo Jornal Nacional, da TV Globo, como um furo de reportagem produzida pelo jornalista Valmir Salaro.</p><p>O delegado Edélcio Lemos contribuiu para o sensacionalismo em torno do caso com as informações</p><p>falsas repassadas, o que gerou ameaças de morte, tortura, depredação da escola, saques ao colégio,</p><p>fechamento da instituição de ensino, além de um prejuízo imensurável: reputações destruídas.</p><p>O sensacionalismo da imprensa era tanto, que os jornais se adiantavam</p><p>ao inquérito policial e até traziam informações que nem lá constavam.</p><p>A Escola Base foi depredada pela população e os suspeitos tiveram que se</p><p>esconder para não serem linchados. Tornava‑se muito mais fácil acreditar</p><p>na versão oficial do que correr atrás dos envolvidos, que se escondiam, não</p><p>por assunção de culpa, mas por medo dos juízes da opinião pública (Freire;</p><p>Fernandes, 2018, p. 10).</p><p>Na época, o caso foi parar no noticiário de vários veículos de imprensa, em manchetes como “Perua</p><p>escolar carregava crianças para a orgia” (Folha da Tarde), “Escola dos horrores” (Revista Veja), “Professor</p><p>ensinava a transar” e “Kombi era motel na escolinha do sexo” (Notícias Populares). Sem cautela e</p><p>87</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>critério de apuração, sem análise de dados e confronto de informações e versões, fomentando o ódio</p><p>na opinião pública.</p><p>Veja a seguir algumas páginas que retrataram a irresponsabilidade da imprensa:</p><p>Figura 32 – Manchete do jornal Notícias Populares</p><p>Fonte: Notícias... (1994, p. 1).</p><p>Figura 33 – Manchete do jornal Folha de S. Paulo</p><p>Fonte: Folha... (1994, p. S1).</p><p>88</p><p>Unidade II</p><p>Figura 34 – Manchete do jornal Folha da Manhã</p><p>Fonte: Folha... (1994, p. 5).</p><p>Após três meses, o inquérito foi arquivado por falta de provas e testemunhas, e os seis suspeitos foram</p><p>inocentados. Em 2007, Maria Aparecida Shimada morreu de câncer e seu marido, Icushiro Shimada,</p><p>sete anos depois, faleceu devido a um infarto. Paula não conseguiu mais trabalhar como professora e se</p><p>divorciou do motorista Maurício.</p><p>O caso Escola Base é um dos melhores exemplos para demonstrar como</p><p>a declaração de fontes consideradas oficiais e a falta de apuração</p><p>jornalística servem de combustível para a produção e disseminação de fake</p><p>news. As declarações do primeiro delegado do caso, Edélcio Lemos, que</p><p>asseguravam com convicção a culpa dos suspeitos, mesmo sem apresentar</p><p>nenhuma prova, já deveria ter acendido o sinal amarelo da apuração</p><p>jornalística. Edélcio Lemos afirmava ter fotos e vídeos que mostravam</p><p>os suspeitos fazendo sexo com os alunos, mas não apresentava nenhum</p><p>material alegando que poderia prejudicar as investigações. As crianças de</p><p>apenas 4 anos foram interrogadas sem a presença de um psicólogo sequer</p><p>e suas declarações tomadas como verdades absolutas. O laudo do Instituto</p><p>Médico Legal (IML) utilizado pelo delegado como prova cabal dos abusos era</p><p>inconclusivo, fato convenientemente não mencionado. A maior parte deles</p><p>foi condenada a pagar indenizações às seis vítimas, inclusive a própria Rede</p><p>Globo (Freire; Fernandes, 2018, p. 11).</p><p>89</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>O caso se transformou no documentário Escola Base: um repórter enfrenta o passado, dirigido por</p><p>Eliane Scardovelli e Caio Cavechini; na série de quatro episódios O caso Escola Base, dirigida por Paulo</p><p>Henrique Fontenelle; e ainda nos livros Caso Escola Base: os abusos da imprensa, de Alex Ribeiro, Escola</p><p>Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira, de Emílio Coutinho,</p><p>e O filho da injustiça, de Ricardo Shimada, filho dos proprietários da Escola Base. Esta última obra tem</p><p>prefácio do jornalista Valmir Salaro.</p><p>Diretor da série de quatro episódios, Paulo Henrique Fontenelle disse ao jornal O Povo, em matéria</p><p>de 2 de junho de 2023, acerca do trabalho audiovisual:</p><p>Acho que levanta a discussão não só sobre a imprensa, mas nosso papel</p><p>como cidadão na hora de compartilhar notícias sem checar. É um tema que</p><p>também toca a gente sobre o fenômeno da internet, esse tópico de fake</p><p>news em que a gente compartilhando uma informação falsa pode condenar</p><p>a vida de uma pessoa, como ocorreu no caso da Escola Base (Araujo, 2023).</p><p>Em setembro de 1994, a Revista Imprensa publicou reportagem sobre o caso, que foi reconhecida</p><p>com o Prêmio Esso na categoria “Melhor Contribuição à Imprensa” e agraciada com o XVII Prêmio</p><p>Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.</p><p>Saiba mais</p><p>Para mais informações sobre o documentário, a série e o livro sobre o</p><p>tema, acesse:</p><p>Revista Imprensa:</p><p>“IMPRENSA aprendeu com Escola Base, mas segue errando”, diz</p><p>autor de livro sobre caso. Portal Imprensa, 31 mar. 2017. Disponível em:</p><p>https://tinyurl.com/26hrn567. Acesso em: 4 out. 2017.</p><p>TEIXEIRA, M. 25 anos depois, livro dá voz ao filho dos donos da Escola Base.</p><p>Portal Imprensa, 29 mar. 2019. Disponível em: https://tinyurl.com/mv3x4tra.</p><p>Acesso em: 28 jun. 2023.</p><p>Matéria sobre o documentário Escola Base: um repórter enfrenta o</p><p>passado:</p><p>SANTOS, E. ‘Escola Base – Um repórter enfrenta o passado’: em documentário</p><p>Globoplay, Valmir Salaro revê caso que virou ‘cicatriz’ na história da imprensa</p><p>brasileira. G1, 9 set. 2022. Disponível em: https://tinyurl.com/4s2arpnv. Acesso</p><p>em: 21 set. 2023.</p><p>90</p><p>Unidade II</p><p>Podcast e reportagem sobre a série de quatro episódios</p><p>O caso</p><p>Escola Base:</p><p>SILVEIRA, R.; GOMES, K. Cinematório Café: “O caso Escola Base” e as</p><p>feridas (re)abertas da imprensa. Cinematório, 7 jun. 2023. Disponível em:</p><p>https://tinyurl.com/mpnj9mr8. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>PAULO Henrique Fontenelle e Ariadne Mazzetti comentam a série “Caso</p><p>Escola Base” | Cinejornal. 2023. 1 vídeo. (13 min). Publicado pelo Canal Brasil.</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/wmbryrj8. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>5.2.2 O caso boimate</p><p>A história de crise na credibilidade do jornalismo também registra o caso da descoberta do “boimate”,</p><p>combinação do gene do boi com o do tomate. A notícia foi uma brincadeira de 1º de abril da revista</p><p>inglesa New Scientist, que, tradicionalmente, em alusão ao Dia da Mentira, criou e circulou a “inventiva”</p><p>da ciência. A suposta descoberta foi divulgada na editoria de Ciência da revista Veja, em 1983, edição de</p><p>27 de abril, que destacou o fato, inclusive com entrevista de um engenheiro genético da Universidade</p><p>de São Paulo (USP) legitimando o grande feito científico. Conforme Bueno (s.d.),</p><p>O ridículo foi maior porque a revista inglesa deu inúmeras pistas: os biólogos</p><p>Barry MacDonald e William Wimpey tinham esses nomes para lembrar as</p><p>cadeias internacionais de alimentação McDonald’s e Wimpy. A Universidade</p><p>de Hamburgo, palco do “grande fato”, foi citada para que pudesse ser</p><p>cotejada com “hamburguer” e assim por diante. Mas nada adiantou.</p><p>A descoberta do engano foi feita pelo jornal O Estado de S. Paulo, que, após</p><p>esperar inutilmente pelo desmentido, resolveu “botar a boca no mundo” no</p><p>dia 26 de junho.</p><p>Observação</p><p>O caso é considerado uma grande “barriga” do jornalismo brasileiro,</p><p>expressão jornalística utilizada nas redações quando um veículo divulga</p><p>uma informação equivocada.</p><p>91</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Figura 35 – Página da edição de 27 de abril de 1983 da revista</p><p>Veja, onde foi divulgada a notícia do “boimate”</p><p>Fonte: Fruto... (1983, p. 84).</p><p>92</p><p>Unidade II</p><p>Figura 36 – Matéria original da New Scientist</p><p>Fonte: Scientists... (1983, p. 888).</p><p>5.2.3 O caso Fabiane Maria de Jesus</p><p>O primeiro caso de fake news que resultou em morte no Brasil foi o de Fabiane Maria de Jesus,</p><p>moradora do bairro Morrinhos, no município de Guarujá, litoral de São Paulo. A dona de casa foi vítima</p><p>de uma notícia falsa postada em maio de 2014 na página Guarujá Alerta, da rede social Facebook, ao ser</p><p>confundida com uma suposta sequestradora de crianças para rituais de magia negra. O retrato falado</p><p>da hipotética criminosa viralizou e Fabiane foi linchada e espancada por uma multidão e arrastada até</p><p>uma passarela. Foi encontrada por policiais militares em estado grave, foi socorrida, mas veio a falecer</p><p>dois dias depois, deixando duas filhas, na época com 13 anos e 1 ano de idade.</p><p>Segundo a Polícia Civil informou aos jornais, o retrato falado ligado equivocadamente a Fabiane era</p><p>de 2012. Tratava‑se de uma mulher acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua da</p><p>Zona Norte do Rio de Janeiro. O caso é exemplo de como as fake news, disseminadas nas redes sociais</p><p>digitais, são um fenômeno complexo de grande e acelerado alcance, articulando diferentes atores e</p><p>produzindo realidades paralelas em um ecossistema de desinformação que pode levar a tragédias.</p><p>Ao confrontar, diretamente, coletivamente e publicamente o sujeito que</p><p>cometeu um ato reprovável, os tribunais digitais comunicam e direcionam a</p><p>situação de forma a distribuir os sentimentos coletivos contra um indivíduo,</p><p>que passa a personificar todos os problemas que afligem uma sociedade. [...] Os</p><p>linchamentos são frutos de uma comunicação sem alteridade levada às últimas</p><p>consequências, de maneira a transformar a violência simbólica, exercida através</p><p>das palavras, em violência física, por meio dos golpes (Marques; Silva, 2021, p. 5).</p><p>93</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Figura 37 – Página do Guarujá Alerta, no Facebook</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/5czrcf7h. Acesso em: 5 out. 2023.</p><p>A publicação do boato foi curtida, comentada e compartilhada por inúmeros seguidores, contendo</p><p>discurso de ódio e provocando pânico coletivo e violência. O conteúdo falso produzido pela página</p><p>Guarujá Alerta teve o intuito de gerar engajamento (curtidas, comentários e compartilhamentos),</p><p>disseminando uma situação preocupante e recorrente para a população, permeada de forte</p><p>apelo à emoção.</p><p>Para Wolton (2011), o grande desafio do século XXI é ter alteridade, coabitar com o outro, dando</p><p>importância à sua existência e à sua identidade. Esses princípios norteiam a comunicação, tendo em</p><p>vista que se comunicar é estabelecer uma relação com o outro, sem reduzi‑lo ou submetê‑lo à força.</p><p>Nesse universo complexo de desafios e adversidades ocasionados pelo uso humano das tecnologias</p><p>de informação e comunicação (TICs), o papel da educomunicação é o de contribuir na busca por</p><p>soluções para o enfrentamento das fake news e da desinformação, do discurso de ódio e da violência,</p><p>desenvolvendo habilidades e competências que possibilitem a ampliação de repertório cultural, senso</p><p>crítico, diálogo, escuta e afetividade.</p><p>O primeiro passo para o enfrentamento do fenômeno é a conscientização do sujeito. Para isso,</p><p>práticas educomunicativas podem contribuir, por exemplo, ao proporcionarem o conhecimento dos</p><p>princípios e da função social do jornalismo a cidadãos comuns. Ao mesmo tempo, ao produzirem</p><p>conteúdos ou utilizarem os recursos das tecnologias digitais e da mídia como canais de expressão,</p><p>partindo de uma intencionalidade educativa, também passam a compreender a responsabilidade social</p><p>e ética na produção e no compartilhamento de informação.</p><p>Na perspectiva educomunicativa, o uso da mídia para consumo consciente e uso responsável, a</p><p>horizontalidade das relações na construção do conhecimento e a valorização e a conscientização</p><p>do sujeito como cidadão de direitos e deveres na sociedade são fatores profícuos para o combate a</p><p>informações falsas. Nesse viés, especialistas entendem que, nos atuais tempos em que as tecnologias da</p><p>informação e da comunicação (TICs) ocupam papel central na mediação das relações interpessoais, de</p><p>trabalho e de consumo, é urgente e necessária a educação midiática em espaços formais, não formais e</p><p>informais de aprendizagem, reforçando o valor da comunicação na educação.</p><p>94</p><p>Unidade II</p><p>6 ÁREA DE INTERVENÇÃO: EDUCAÇÃO MIDIÁTICA</p><p>Figura 38 – Educação midiática e sua urgência nos espaços de aprendizagem</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/zz7m7hxv. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>Na era da pulverização da autoria, saber ler a internet, com bom senso, reflexão e olhar crítico, é</p><p>uma habilidade cada vez mais necessária. É preciso partir do princípio de que todo conteúdo produzido</p><p>tem como objetivo informar, divertir ou convencer. Entre as áreas de intervenção da educomunicação</p><p>aqui já apresentadas está a educação midiática, que visa desenvolver nos sujeitos competências e</p><p>habilidades essenciais para lidar com o ambiente midiático, virtual e informacional, caracterizado pela</p><p>superabundância de conteúdos, entre os quais aqueles que integram o chamado mercado de fake news</p><p>e desinformação.</p><p>Vamos aqui destacar essa área, pois, na perspectiva da interface comunicação‑educação, o</p><p>jornalismo e os jornalistas podem contribuir muito com a educação midiática em diferentes espaços</p><p>de atuação, seja ele formal (escolas e instituições de ensino), não formal (centros culturais ou de</p><p>convivência, espaços de aprendizagem não formal) e informal (mídia, família etc.). Para isso, nos</p><p>validamos do pensamento de Ferreira (2022), para quem a inter‑relação do jornalismo e da educação</p><p>qualifica ambos mutuamente:</p><p>Essa inter‑relação qualifica a educação quando incorpora processos de</p><p>apuração, checagem e relato criativo sobre descobertas da realidade como</p><p>métodos de ensino e fomento à participação. Também beneficia o jornalismo,</p><p>ao ampliar e sofisticar as possibilidades de escuta e interlocução com a</p><p>sociedade e fontes de informação, a partir de estratégias educativas, como</p><p>a promoção</p><p>de oficinas consultivas ou a realização de processos de edição</p><p>mais participativos e dialógicos entre todos(as) os(as) envolvidos(as) na</p><p>produção do conteúdo jornalístico (Ferreira, 2022, p. 17‑18).</p><p>95</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>É da natureza do profissional do jornalismo ser um curador de conteúdo e um incansável checador</p><p>de informação com compromisso crítico e ético com a realidade dos fatos. Nesse sentido, o jornalista,</p><p>em seu papel de produtor de informação e conhecedor dos critérios de noticiabilidade e valor‑notícia,</p><p>pode atuar como um educador midiático ou um educomunicador em diversos espaços, seja em uma</p><p>escola ou outra instituição de ensino, no meio corporativo e na própria mídia.</p><p>A partir do jornalismo é possível levar, para contextos educativos, a leitura de mundo a partir da</p><p>mídia; o debate sobre questões complexas e sobre a própria realidade dos sujeitos; a livre expressão</p><p>a respeito do que foi lido, visto ou ouvido na imprensa; a ampliação de repertório de conhecimento;</p><p>e a interpretação de texto e a análise de conteúdos diversos, formando senso crítico e senso</p><p>de cidadania.</p><p>O jornalista pode contribuir, ainda, apresentando aos sujeitos as inúmeras possibilidades de obter</p><p>informação de qualidade, seja na mídia hegemônica ou na imprensa independente, comunitária, popular</p><p>e alternativa, mostrando a pluralidade de formas de relatar um acontecimento. E também conscientizar</p><p>os sujeitos a respeito de matérias jornalísticas com abordagens enviesadas e tendenciosas, produzidas a</p><p>partir de interesses econômicos, políticos e ideológicos do veículo.</p><p>Identificar expressões de cunho preconceituoso na mídia é outro papel importante do jornalista</p><p>atuante como educador midiático. A partir de expressões utilizadas em determinados textos, machistas,</p><p>homofóbicas, racistas, entre outras, é possível propor a reflexão nos sujeitos, muitas vezes impactados</p><p>socialmente por essas questões. Outra necessária conscientização do cidadão comum a respeito do</p><p>jornalismo é compreender que, embora o jornalista busque a isenção e a imparcialidade no seu exercício</p><p>profissional, ela não acontece em sua totalidade, haja vista que a própria escolha de determinadas</p><p>palavras ou o modo como se inicia um conteúdo jornalístico e a condução que se dá no relato da notícia</p><p>já apresenta uma escolha que revela a parcialidade intrínseca ao jornalismo.</p><p>O mito da imparcialidade é perigoso porque ludibria o público que nele</p><p>acredita e se relaciona ingenuamente com seus discursos, sem perceber o</p><p>lugar de fala e os interesses que mobilizam os veículos de comunicação que</p><p>se antagonizam, em muitos casos, com de outros grupos sociais, que também</p><p>devem ser escutados. [...] Ao demonizar a parcialidade, a imprensa pauta a</p><p>sociedade sobre o que pensar e como pensar sobre um fato ou questão,</p><p>retirando do público o direito ao contraditório, isto é, de entender que</p><p>determinado veículo tem um ponto de vista específico sobre a realidade,</p><p>que pode ser comparado com outras coberturas (Ferreira, 2022, p. 35).</p><p>Para Ferreira, ao mesmo tempo que os meios de comunicação educam ao produzirem sentido sobre</p><p>a realidade, eles restringem o público de confrontar informações com a ideia de uma imparcialidade</p><p>que não existe. Isso acaba por condicionar o público a determinados pontos de vista sobre um fato,</p><p>“inviabilizando uma leitura mais plural de mundo, que muitas pessoas ainda têm dificuldade em realizar”</p><p>(Ferreira, 2022, p. 35). Nesse sentido, o jornalista tem um papel importante, que é o de apresentar aos</p><p>envolvidos a ampla gama de veículos noticiosos existentes para além da mídia considerada hegemônica,</p><p>ampliando o repertório e desenvolvendo a criticidade midiática nos sujeitos.</p><p>96</p><p>Unidade II</p><p>O especialista em educação norte‑americano Mark Prensky criou e popularizou o termo nativo</p><p>digital para designar crianças e jovens que nasceram no berço da cibercultura, imersos no ambiente</p><p>digital e virtual. Para o autor, os sujeitos que vivenciaram a transição do mundo analógico para o digital</p><p>são os imigrantes digitais, tendo que se adaptar às novas linguagens. No entanto, o fato de crianças</p><p>e jovens terem nascido nesse contexto tecnológico e digital não significa que tenham a consciência e a</p><p>habilidade de lidar com todo o aparato midiático e tecnológico.</p><p>Em 2016, uma pesquisa nos Estados Unidos com mais de 7.800 estudantes</p><p>conduzida por Sam Wineburg, do Stanford History Education Group (SHEG),</p><p>mostrou que jovens estavam mais para “inocentes digitais”. [...] Uma das</p><p>conclusões da pesquisa é que “nossos nativos digitais” são capazes de ir e</p><p>voltar do Facebook para o Twitter ao mesmo tempo que fazem o upload de</p><p>uma selfie no Instagram e escrevem uma mensagem ao amigo. Mas, quando</p><p>o assunto é avaliar as informações que transitam pelas redes sociais, eles são</p><p>facilmente enganados (Ferrari; Ochs; Machado, 2020, p. 24).</p><p>Ao mesmo tempo que os nativos digitais precisam desenvolver habilidades e competências para</p><p>lidar com as múltiplas mídias e plataformas digitais, a geração chamada de imigrantes digitais também</p><p>requer atenção quanto ao uso instrumental desses aparatos, a fim de que possa desenvolver tais</p><p>habilidades e competências para consumir conteúdos e lidar com as mídias de forma mais responsiva,</p><p>cautelosa, reflexiva e crítica.</p><p>O portal Politize publicou orientações da Federação Internacional das Associações e Instituições</p><p>de Bibliotecária (IFA) sobre como verificar se um conteúdo é falso ou verdadeiro, apresentadas no</p><p>quadro a seguir:</p><p>Quadro 11 – Como saber se um conteúdo é falso ou verdadeiro?</p><p>Considere a fonte</p><p>da informação</p><p>Tente entender sua missão e propósito olhando para outras</p><p>publicações do site</p><p>Leia além do título Títulos chamam a atenção, mas não contam a história completa</p><p>Cheque os autores Verifique se eles realmente existem e se são confiáveis</p><p>Procure fontes de apoio Ache outras fontes que confirmem a notícia</p><p>Cheque a data</p><p>da publicação Veja se a história ainda é relevante e está atualizada</p><p>Questione se é uma piada O texto pode ser uma sátira</p><p>Revise seus preconceitos Seus ideais podem estar afetando seu julgamento</p><p>Consulte especialistas Procure uma confirmação de pessoas independentes com</p><p>conhecimento</p><p>Adaptado de: Mereles e Moraes (2017).</p><p>No mundo conectado, é urgente educar para a informação e para a mídia, no intuito de formar</p><p>cidadãos mais conscientes e com mais liberdade em suas escolhas. Nesse sentido, é objetivo da</p><p>97</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>educação midiática fazer com que todo cidadão, seja ele criança, jovem, adulto ou idoso, consuma</p><p>informação e produza conteúdo com responsabilidade social, reflexão e senso crítico, habilidades cada</p><p>vez mais necessárias na sociedade contemporânea. E o jornalista pode dar sua contribuição no papel de</p><p>educador midiático.</p><p>6.1 Bolhas informacionais</p><p>Figura 39 – Os algoritmos formam bolhas informacionais</p><p>de interesses pessoais, políticos e mercadológicos</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/3252h8aw. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>Em sua obra A pós‑verdade é verdadeira ou falsa?, Santaella (2019) discorre sobre o conceito de</p><p>bolhas‑filtro ou bolhas de filtro (filter bubbles), termo cunhado pelo ativista da internet Eli Pariser em</p><p>meados de 2010, ou seja, cinco anos antes dos dois acontecimentos marcantes na história recente das</p><p>chamadas fake news – o Brexit no Reino Unido e a eleição presidencial de Donald Trump.</p><p>Conforme versa Santaella, o autor traz à reflexão e ao debate o fato de o site de buscas Google</p><p>personalizar o que o usuário da internet obtém como resposta às suas pesquisas virtuais, fazendo</p><p>com que os algoritmos observem o que o público clica e compartilha, formando as chamadas bolhas</p><p>informacionais de interesses pessoais, políticos e mercadológicos.</p><p>Seja personalização dos filtros promovida por algoritmos ou não, esteja</p><p>o indivíduo ciente disso ou não, o pior prejuízo para o nível pessoal,</p><p>reverberando no nível coletivo, segundo Pariser, consiste no fechamento</p><p>que as bolhas filtradas promovem contra</p><p>novas ideias, assuntos e</p><p>informações importantes. No nível coletivo, os filtros são formas de</p><p>manipulação que colocam o usuário mal informado sobretudo a serviço</p><p>98</p><p>Unidade II</p><p>de interesses políticos escusos. De fato, pesquisas realizadas por fontes</p><p>confiáveis confirmaram que máquinas de buscas e mídias sociais</p><p>promovem a segregação ideológica, pois o usuário acaba por se expor</p><p>quase exclusivamente a visões unilaterais dentro do espectro político mais</p><p>amplo (Santaella, 2019, p. 15).</p><p>Dessa forma, o usuário da internet, cada vez mais inserido em bolhas personalizadas de acordo com</p><p>seus interesses, tende a se fechar a visões contrárias à sua, vivendo em um ecossistema comunicacional</p><p>caracterizado pelo chamado viés de confirmação e pela dissonância cognitiva. O viés de confirmação nada</p><p>mais é que a busca, pelo sujeito, de informação e conteúdos que reafirmam suas ideias, posicionamentos</p><p>e pensamentos sobre determinado assunto. Ele está associado ao conceito de dissonância cognitiva, que é</p><p>quando a pessoa se depara ou vive situações contraditórias, mas, para justificar a contradição, minimiza</p><p>a própria contradição, aliviando sentimentos negativos.</p><p>De acordo com Santaella (2019, p. 16), os algoritmos se baseiam nas escolhas que fazemos.</p><p>Deixamos rastros na internet a cada interação que realizamos, que levam empresas e instituições a</p><p>direcionarem seus anúncios, suas marcas e ideologias a públicos de interesse e que se alinham com os</p><p>valores e princípios de sua marca/visão. “Portanto, não é mais uma mera questão de apenas demonizar</p><p>o poder das redes, pois elas não fazem outra coisa a não ser nos devolver o retrato de nossas mentes,</p><p>desejos e crenças”.</p><p>Com os princípios jornalísticos de ouvir todas as versões de um fato e de não emitir opinião em</p><p>um texto noticioso, o jornalista, como educador midiático, pode contribuir com a conscientização do</p><p>público no que se refere à importância de respeitar a pluralidade de pontos de vista para evitar o</p><p>discurso de ódio e preservar a democracia.</p><p>6.2 Deepfakes</p><p>A inteligência artificial criou novas formas de produção de vídeos e áudios falsos: a chamada</p><p>deepfake. Essa tecnologia, que cria imagens fotográficas ou em movimento, também não é novidade –</p><p>não é de agora que ela é utilizada em diferentes setores e finalidades, em caráter tanto benéfico, como</p><p>na criação de vídeos divertidos ou na recriação de cenas de filmes, quanto perigoso, como em discursos</p><p>eleitorais que impactam diretamente a democracia ou na reputação da integridade de celebridades,</p><p>usadas em deepfakes envolvendo pornografia.</p><p>No entanto, o termo deepfake apareceu em 2017, quando um usuário da rede social Reddit, que</p><p>utilizava o codinome “deepfake”, começou a postar vídeos pornográficos envolvendo celebridades,</p><p>como as atrizes Gal Gadot e Emma Watson, estrelas do cinema norte‑americano. Contudo, o material</p><p>era uma montagem.</p><p>Os vídeos e as imagens, embora falsos, são extremamente realistas, o que gera dificuldade de</p><p>identificar a mentira. Com softwares de deep learning, o usuário aplica os rostos que quiser a clipes</p><p>existentes, manipulando imagens e sons. Isso é possível porque os algoritmos das plataformas digitais são</p><p>99</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>capazes de analisar traços humanos, detalhando movimentos. É o chamado algoritmo de “aprendizado</p><p>profundo”, que permite que computadores substituam o rosto de alguém pelo de outra pessoa. Pode,</p><p>inclusive, alterar cores, texturas e movimentos faciais.</p><p>Um exemplo disseminado nas redes sociais e que ficou conhecido mundialmente é o do discurso</p><p>fictício do ex‑presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.</p><p>Saiba mais</p><p>Nos links a seguir, você tem acesso a um vídeo da BBC News e uma</p><p>matéria da CBN em que estão publicadas imagens do discurso fictício do</p><p>ex‑presidente dos EUA, Barack Obama:</p><p>FAKE Obama created using AI video tool ‑ BBC News. 2017. 1 vídeo. (1 min).</p><p>Publicado pelo canal BBC News. Disponível em: https://tinyurl.com/nhdx9hw8.</p><p>Acesso em: 4 out. 2023.</p><p>CERDEIRA, R. ‘Deepfakes’ serão o principal desafio das eleições desse ano no</p><p>Brasil e nos EUA. CBN, 17 jan. 2020. Disponível em: https://tinyurl.com/yc4nw97r.</p><p>Acesso em: 4 out. 2023.</p><p>Segundo levantamento feito por reportagem da Agência Pública (Rudnitzki, 2020), os brasileiros</p><p>são o 2º maior público do mundo a utilizar aplicativo que altera rostos e expressões. Isso nos leva a</p><p>pensar sobre a importância ainda maior da educação midiática para conscientizar os cidadãos sobre</p><p>a necessidade de consumir conteúdos da internet de forma criteriosa, reflexiva e crítica, bem como</p><p>produzir informação com responsabilidade social.</p><p>Saiba mais</p><p>O site do Canaltech publicou, em 2022, dez exemplos de deepfakes que</p><p>geraram polêmica na internet. Confira no link a seguir:</p><p>SHIH, M. 10 deepfakes mais impressionantes que confundiram a internet.</p><p>Canaltech, 1º jul. 2022. Disponível em: https://tinyurl.com/yuxswedf. Acesso</p><p>em: 21 set. 2023.</p><p>100</p><p>Unidade II</p><p>6.3 Leitura lateral das mídias</p><p>Dentro do contexto de superabundância de informação e de desinformação, é importante</p><p>desenvolvermos uma leitura lateral das mídias, ou seja, navegar pela internet para buscar evidências da</p><p>confiabilidade de um site que publicou determinada informação, e não apenas avaliar o próprio site sem</p><p>sair dele. A leitura lateral consiste em verificar se em outros sites, portais e redes sociais digitais a mesma</p><p>informação também foi veiculada.</p><p>Importante, ainda, nessa averiguação de conteúdos, propor aos sujeitos participantes de uma ação</p><p>ou projeto de educação midiática que reflitam e criem o hábito de analisarem as mensagens na internet</p><p>e em plataformas digitais a partir do seguinte conjunto de perguntas sobre os seguintes aspectos:</p><p>• Autoria: quem criou essa mensagem? Quem é o autor (considerando a pessoa que produziu e o</p><p>veículo/plataforma que publicou)?</p><p>• Formato: quais os recursos criativos utilizados na mensagem/conteúdo para atrair a atenção do</p><p>público (é um vídeo, uma foto, um texto ou uma animação)?</p><p>• Público: para quem você acha que é destinada a mensagem? De que forma pessoas diferentes</p><p>podem entender a mensagem? Qual público você acha que será mais impactado – crianças,</p><p>adolescentes, adultos, idosos? De qual gênero e raça? De qual classe social?</p><p>• Conteúdo: quais pontos de vista, valores, opiniões e estilos de vida estão explícitos e implícitos no</p><p>conteúdo? Quais estão representados e quais foram omitidos? Por que foram explicitados e por</p><p>que foram omitidos?</p><p>• Propósito: essa mensagem foi criada para informar, entreter, convencer ou obter lucro ou poder?</p><p>Por que esse conteúdo foi publicado?</p><p>Nesse cenário complexo, em que contracenam profissionais de comunicação, pessoas públicas,</p><p>cidadãos comuns, veículos jornalísticos, páginas pessoais ou individuais e plataformas colaborativas de</p><p>publicação, é fundamental desenvolver nos sujeitos essas habilidades para que se relacionem com as</p><p>mídias de forma mais reflexiva, ética e consciente.</p><p>101</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>7 REDE NACIONAL DE COMBATE À DESINFORMAÇÃO (RNCD)</p><p>Figura 40 – O site da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD) reúne informações sobre as ações</p><p>desenvolvidas por universidades, pesquisadores, instituições da sociedade civil e coletivos sociais engajados no tema</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/tjbhfy78. Acesso em: 4 out. 2023.</p><p>Em setembro de 2020, foi criada a Rede Nacional de Combate à Desinformação, uma organização</p><p>virtual coletiva que reúne universidades, instituições do terceiro setor, instituições científicas,</p><p>pesquisadores, observatórios, revistas, coletivos, projetos sociais e de comunicação educativa, redes de</p><p>comunicação, aplicativos de monitoramento e agências de checagem (fact‑checking) de todo o Brasil</p><p>com um propósito em comum: o combate à desinformação e ao mercado de fake news.</p><p>102</p><p>Unidade II</p><p>A RNCD nasceu “da inquietação provocada pelo momento presente de potencialização das</p><p>narrativas desinformacionais nos ambientes da saúde e no campo político, além de outros</p><p>[...]” (RNCD,</p><p>s.d.). Inicialmente, a organização foi pensada dentro da pesquisa de pós‑doutorado da professora Ana</p><p>Regina Rêgo junto à Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2019.</p><p>Na pandemia da covid‑19, em 2020, a iniciativa foi apresentada dentro do Projeto Mandacaru, que</p><p>abriga voluntários de diversas áreas do conhecimento científico e que é vinculado ao Comitê Nordeste</p><p>de Combate à covid. Foi, então, ampliada ao longo de cinco meses de trabalho de busca de iniciativas e</p><p>projetos por todo o país.</p><p>As instituições e projetos que compõem a RNCD desenvolvem ações de diversas naturezas objetivando</p><p>o acesso à informação de qualidade, a conscientização do direito humano à comunicação e a preservação da</p><p>democracia. O intuito da organização é unir esforços, potencializar e dar mais visibilidade, em âmbito</p><p>nacional, ao trabalho de cada um dos parceiros que formam a rede.</p><p>Saiba mais</p><p>No link a seguir, você tem acesso ao site da RNCD e conhece os parceiros</p><p>envolvidos no propósito de combater o mercado de fake news:</p><p>Disponível em: https://rncd.org/. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>7.1 Fact‑checker e agências de checagem</p><p>Figura 41 – Agências de checagem exercem importante papel no combate às fake news</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/3s5d8zn9. Acesso em: 25 set. 2023.</p><p>Diante do fenômeno da desinformação e das fake news, potencializado com o advento e popularização</p><p>das redes sociais digitais, a chamada grande mídia ou mídia hegemônica implantou estratégias de</p><p>checagem em suas redações ou firmou parcerias com agências especializadas em identificar, investigar</p><p>e denunciar conteúdos e notícias falsas.</p><p>103</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>O trabalho de fact‑checking, ou seja, checagem de fatos, é premissa básica do jornalismo, afinal,</p><p>toda e qualquer reportagem ou matéria jornalística deve ter seus fatos e dados verificados, e as fontes</p><p>devem ser confiáveis. No entanto, com a disseminação de notícias falsas nas redes sociais digitais,</p><p>o fact‑checking se tornou um novo nicho de atuação para os jornalistas, cuja função é conferir a</p><p>veracidade das informações, se há algum exagero, informação inflada ou diminuída, as fontes, o método</p><p>de coleta de um dado ou estatística, entre outros.</p><p>A Agência Lupa é a primeira especializada em fact‑checking no país. Criada em 2015, é membro do</p><p>International Fact‑Checking (IFCN), fundado pelo Poynter Institute, uma organização de jornalismo sem</p><p>fins lucrativos dos Estados Unidos.</p><p>Saiba mais</p><p>No link a seguir, a agência apresenta seus mecanismos de checagem:</p><p>AGÊNCIA Lupa: quem somos e o que checamos. 2016. 1 vídeo. (1 min). Publicado</p><p>pelo canal Agência Lupa. Disponível em: https://tinyurl.com/yc7tbmsx. Acesso em:</p><p>25 set. 2023.</p><p>Outros exemplos são o projeto Comprova, a Agência Aos Fatos e a Boatos.org,</p><p>além de agências e projetos de checagem que são parceiros da Rede Nacional de</p><p>Combate à Desinformação (RNCD), tais como:</p><p>Bereia (Rio de Janeiro) – Disponível em: https://coletivobereia.com.br/. Acesso em:</p><p>13 nov. 2023.</p><p>Nujoc Checagem (Piauí) – Disponível em: https://tinyurl.com/bddxv3u3. Acesso</p><p>em: 13 nov. 2023.</p><p>Desminto (Tocantins) – Disponível em: https://l1nq.com/lqXB3. Acesso em:</p><p>13 nov. 2023.</p><p>Projeto Coar (Piauí) – Disponível em: https://coarnoticias.com/. Acesso em:</p><p>13 nov. 2023.</p><p>Avoador (Bahia) – Disponível em: https://tinyurl.com/4fzpm59z. Acesso em:</p><p>13 nov. 2023.</p><p>Duvide (Pará) – Disponível em: https://curtlink.com/KhsV. Acesso em: 13 nov. 2023.</p><p>Âncora dos Fatos – Disponível em: https://ancoradosfatos.com.br/. Acesso em:</p><p>13 nov. 2023.</p><p>Fakebook.ECO – Observatório do Clima – Disponível em: https://fakebook.eco.br/.</p><p>Acesso em: 13 nov. 2023</p><p>104</p><p>Unidade II</p><p>O trabalho incessante de checagem de dados é de extrema importância no contexto de desinformação</p><p>e fake news que a sociedade contemporânea enfrenta, tendo em vista que a informação é essencial para a</p><p>cidadania, para a conscientização e para a reivindicação de direitos e de políticas públicas. Hoje temos</p><p>excesso de informação, porém nem sempre acesso à informação de qualidade.</p><p>8 COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA, POPULAR E ALTERNATIVA</p><p>Figura 42 – Comunicação popular é uma forma alternativa à grande mídia</p><p>Disponível em: https://tinyurl.com/yj2u54bs. Acesso em: 25 set. 2023.</p><p>Com origem no seio da sociedade civil e nos movimentos populares dos anos 1970 e 1980 no</p><p>Brasil e na América Latina, a comunicação popular é uma forma alternativa de comunicação à</p><p>grande mídia. Também chamada de alternativa e comunitária, tem o propósito e sentido político de</p><p>mobilização e expressão de segmentos excluídos e marginalizados da sociedade, na busca por seus</p><p>interesses, necessidades e direitos. Fernando Reyes Matta, mencionado por Peruzzo (2006, p. 3), afirma</p><p>que “Essencialmente, essa comunicação a partir do social buscava alterar o injusto, alterar o opressor,</p><p>alterar a inércia histórica que impunha dimensões sufocantes, através de uma vocação libertadora que</p><p>se nutria por uma multiplicidade de experiências comunicativas”.</p><p>Muitos são os autores latino‑americanos que se debruçaram sobre o tema, entre os quais o argentino</p><p>Mario Kaplún, radialista e escritor já mencionado na unidade I, autor da obra El comunicador popular.</p><p>Em consonância com a perspectiva de Paulo Freire em relação à educação, ele promoveu a ideia de uma</p><p>comunicação libertadora em oposição à comunicação bancária e vertical. Kaplún refere‑se ao fenômeno</p><p>da comunicação popular e alternativa como “uma comunicação libertadora, transformadora, que tem o</p><p>povo como gerador e protagonista” (Kaplún, 1985, p. 7).</p><p>105</p><p>JORNALISMO INTEGRADO</p><p>Nessa perspectiva, os meios de comunicação se tornam ferramentas para uma educação popular e</p><p>para uma participação, de fato, ativa dos sujeitos com vistas à tomada de consciência social e política,</p><p>rompendo a lógica da dominação “de cima para baixo”. A comunicação popular objetiva ter o povo como</p><p>protagonista na busca de melhores condições de vida e igualdade social. Peruzzo ressalta que,</p><p>Se nos anos de 1970, 1980 e parte dos 1990 a contra‑comunicação aparecia</p><p>preponderantemente no âmbito dos movimentos populares, das organizações</p><p>de base, da imprensa alternativa, da oposição sindical metalúrgica, de</p><p>ONGs, de setores progressistas da igreja católica, ou realizada por militantes</p><p>articulados em núcleos de produção audiovisual, a partir dos últimos anos</p><p>pipocam experiências comunicacionais mais diversas, incluindo as do tipo</p><p>popular tradicional (hoje mais conhecidas como comunitárias e se baseiam</p><p>em premissas de cunho coletivo) e outras realizadas por associações, grupos</p><p>ou até por pessoas autonomamente. Os exemplos podem ser encontrados</p><p>em jornais e rádios comunitários, nas associações de usuários dos canais</p><p>comunitários na televisão a cabo, em Organizações não Governamentais</p><p>que desenvolvem projetos coletivos de desenvolvimento social por meio</p><p>da comunicação – muitos dos quais com propósitos similares àqueles</p><p>antes encabeçados por movimentos populares. Esses projetos em geral</p><p>envolvem adolescentes e jovens e assumem o misto de mídia comunitária</p><p>e alternativa, numa dinâmica em que se descobre a comunicação como</p><p>mediação no processo de formação da autoestima e da cidadania juvenil</p><p>em áreas carentes (Peruzzo, 2006, p. 5‑6).</p><p>Nesse sentido, conforme a autora, a comunicação popular e comunitária sempre denota uma</p><p>comunicação que tem o “povo” como protagonista principal e como destinatário. Ela se caracteriza por</p><p>processos de comunicação baseados em princípios públicos, como não ter fins lucrativos, possibilitar</p><p>a participação ativa da população, ter propriedade coletiva e difundir conteúdos com o objetivo de</p><p>educação, cultura e exercício de cidadania.</p><p>A comunicação comunitária e popular, nesse viés, propicia o direito de todo cidadão à informação de</p><p>qualidade e, ainda, à produção e difusão de conteúdo, considerando sua responsabilidade social. Nessa</p><p>vertente, integrando o jornalismo especializado, está o jornalismo comunitário realizado</p>