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<p>72</p><p>Unidade II</p><p>Unidade II</p><p>5 JORNALISMO ESPECIALIZADO EM MEIO AMBIENTE</p><p>Hoje, os jornalistas cobrem matérias de várias editorias, mas alguns são mais especializados que</p><p>outros – por exemplo, em política, polícia, economia ou meio ambiente. Jornalistas especializados</p><p>pesquisam e estudam mais profundamente determinadas temáticas e, quando surgem oportunidades</p><p>para cobrir matérias especiais, as chefias os solicitam para grandes reportagens.</p><p>Acreditamos que atualmente o mundo precisa de um olhar voltado mais especificamente para a</p><p>questão ambiental. Os países estão envolvidos em muitas guerras e disputas capitalistas; problemas</p><p>sanitários, pandemias e reveses sociais, como fome, drogas e violência, surgem e se agravam. A ganância</p><p>e a falta de respeito ao próximo ou à natureza causam desequilíbrios, e um futuro melhor e mais</p><p>sustentável fica cada vez mais distante.</p><p>A mídia testemunha a escassez de ideais mais nobres e muitas vezes ajuda a divulgar esse cenário</p><p>depressivo, sem ética nem solução. Alertamos que é preciso ter consciência da capacidade dos recursos</p><p>do planeta para que eles não acabem. Podemos perceber que existe dificuldade em tratar e analisar com</p><p>seriedade o tema do meio ambiente, de modo que não fique nas mãos de poucos empreendedores que</p><p>não respeitam a legislação.</p><p>O discurso deve ser aberto também a pessoas que não se preocupam com sustentabilidade e</p><p>desenvolvimento social equilibrado: deve ser aberto a todos, para que entendam a importância de</p><p>um mundo saudável. Lamentavelmente, até hoje a sociedade humana foi guiada por poucos grupos</p><p>difusos, difíceis de ser identificados, e cujas ideias são particularmente defendidas em alguns meios</p><p>de comunicação. Precisamos, portanto, de um olhar crítico para compreender o presente momento.</p><p>A lei da natureza garante o viver e o conviver, mas é necessário pensar mais sobre a relação atual</p><p>do ser humano com o ambiente, e se seria essa uma das maiores crises da humanidade. A sociedade</p><p>contemporânea é consumista e nem sempre se preocupa em preservar a natureza. Por isso, é preciso rever</p><p>conceitos com urgência – como o de felicidade, por exemplo, devido à inversão de valores observada no</p><p>fato de que muitas pessoas pensam encontrá‑la nos bens materiais.</p><p>Atrelada à questão da sustentabilidade, é grande a desigualdade social. Observamos uma escassez de</p><p>valores, ética e responsabilidade condutiva com relação àqueles que ainda estão por nascer, carecendo</p><p>de um laço de carinho com o futuro.</p><p>Um problema que atinge vários países e que deveria sensibilizar muitos governos, mas infelizmente</p><p>não sensibiliza, é a fome. Em 2021 foi divulgado o crescimento da fome e da insegurança alimentar</p><p>no Brasil, com um resultado desesperador: cerca de 117 milhões de pessoas ficaram sem acesso pleno</p><p>73</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>e permanente a alimentos, e mais de 19 milhões de brasileiros estão em um quadro de insegurança</p><p>alimentar grave, ou seja, efetivamente passando fome. Estes dados são do Inquérito Nacional sobre</p><p>Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid‑19 no Brasil (Vigisan), desenvolvido pela</p><p>Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (REDE PENSSAN, 2021).</p><p>Em abril do mesmo ano, a ONU alertou para a necessidade de baixar o risco de fome que afeta</p><p>246  milhões de africanos. Esse é um problema já acentuado por mudanças climáticas, conflitos e</p><p>pragas, e que foi ainda mais agravado com a pandemia da covid‑19 (ONU QUER BAIXAR…, 2021),</p><p>que desviou a atenção e muitos dos recursos antes devotados a crises humanitárias. Além disso, não</p><p>houve “cooperação [dos países ricos] quando se trata de acesso equitativo a vacinas” (CASADO, 2022),</p><p>o que dificulta o combate à pandemia, que precisa também de solidariedade para terminar.</p><p>A fome é um problema complexo e que já se arrasta há muitos anos, como evidencia essa matéria:</p><p>Figura 27</p><p>Fonte: Cruz… (2011).</p><p>74</p><p>Unidade II</p><p>Um relatório divulgado em 2021 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a</p><p>Agricultura (FAO) revela que a fome extrema deve aumentar em vários países. Em algumas regiões do</p><p>Sudão do Sul, da Nigéria e do Iêmen, famílias já morrem de fome (ONU ALERTA…, 2021). De acordo com</p><p>a FAO, uma em cada duas mortes de menores é causada pela fome (CINCO…, 2018).</p><p>A ONU publicou em seu portal de notícias uma matéria alertando sobre o aumento contínuo de</p><p>taxas de desnutrição aguda:</p><p>Figura 28</p><p>Fonte: PMA… (2020).</p><p>75</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Em 2019, antes da pandemia, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) encomendou</p><p>um estudo sobre desnutrição de crianças yanomami no Brasil. O levantamento foi realizado por</p><p>pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas,</p><p>o Ministério da Saúde e o Instituto Socioambiental. Foi constatado que 8 em cada 10 crianças menores</p><p>de 5 anos sofrem desnutrição crônica, o que pode comprometer seu desenvolvimento mental, motor e</p><p>cognitivo, ou mesmo levá‑las à morte. Além disso, ficou constatado que 67,8% das crianças que vivem</p><p>nas aldeias yanomamis estão anêmicas (REIS; COELHO, 2019).</p><p>Este retrato do Brasil é bem trágico, e o quadro se agrava. Em 2021, a imagem de um indígena</p><p>desnutrido a ponto de podermos ver seus ossos chocou o mundo e expôs a crise na assistência à saúde</p><p>dos yanomamis (JUCÁ, 2021).</p><p>Figura 29</p><p>Fonte: Jucá (2021).</p><p>76</p><p>Unidade II</p><p>Enquanto isso, crescem o lucro e a economia em muitos países.</p><p>A fome é uma questão política. Parece existir no mundo um modelo de governo desenvolvimentista,</p><p>pouco preocupado com o meio ambiente, que hoje dificulta e no futuro impossibilitará a vida no</p><p>planeta – e nada se faz para reverter esta situação. Várias políticas questionáveis reforçam este contexto,</p><p>como o desmatamento desenfreado.</p><p>Como acabar com esse problema? É preciso combater a pobreza para atenuar a fome e distribuir</p><p>alimentos em crises humanitárias, por exemplo. Os governos precisam ajudar as populações mais</p><p>vulneráveis.</p><p>Nossas escolhas de hoje também interferem no nosso futuro alimentar, que precisa ser assegurado.</p><p>Para isso, também precisamos adotar um estilo de vida sustentável.</p><p>A FAO estimou que cerca de 1 bilhão e 300 milhões de toneladas de comida são jogadas no</p><p>lixo anualmente, causando um prejuízo global de US$ 750 bilhões (BENÍTEZ, [s.d.]). Só no Brasil são</p><p>descartadas 15 milhões de toneladas por ano. Segundo o relatório, 54% do desperdício ocorre na fase</p><p>inicial da produção.</p><p>Nós precisamos olhar para a escassez e o desperdício de alimentos no mundo, alertando e pensando</p><p>em soluções urgentes. Precisamos economizar e dividir os recursos do planeta para não gerar mais fome.</p><p>Precisamos ter um olhar de jornalista para denunciar esses fatos, que muitos desconhecem.</p><p>O Dia Mundial da Alimentação é comemorado no dia 16 de outubro e visa estimular a reflexão sobre</p><p>o panorama atual da alimentação no mundo. Na campanha #FomeZero, a FAO listou ações para ajudar</p><p>a alcançar um mundo com alimentos para todos:</p><p>• Não desperdice comida: se você tiver sobras, congele para mais tarde ou utilize‑as como</p><p>ingrediente para fazer uma nova refeição. Quando comer num restaurante, peça uma meia porção</p><p>se não estiver com muita fome, ou peça para levar o que sobrou para casa.</p><p>• Produza mais, com menos: até 2050, estima‑se que o planeta chegue a mais de 9 bilhões de</p><p>habitantes. Por isso, agricultores precisam encontrar formas novas e mais eficientes de produzir</p><p>alimentos, além de diversificar as plantações. Uma abordagem integrada de agricultura pode ajudar</p><p>os produtores a aumentar as colheitas, e, assim, o lucro. Além disso, também pode contribuir para</p><p>melhorar a qualidade da terra.</p><p>• Adote uma dieta mais saudável e sustentável: encontrar tempo para preparar refeições</p><p>nutritivas pode ser um desafio numa rotina agitada, principalmente quando não se sabe como</p><p>fazer isso. Refeições nutritivas podem ser feitas de maneira rápida, fácil e utilizando poucos</p><p>ingredientes. Compartilhe suas receitas nutritivas</p><p>com sua família, amigos, colegas e on‑line. Use</p><p>a internet para seguir chefs de cozinha e blogueiros para aprender novas receitas ou converse com</p><p>seu fornecedor local para aprender como eles preparam o que produzem em casa (CINCO…, 2018).</p><p>77</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Vale aqui abrir um parêntese: o Sesc São Paulo publicou o Livro de receitas: boas formas para</p><p>evitar o desperdício, gratuito e disponibilizado na internet. Essa obra traz dicas para aproveitar bem os</p><p>alimentos, incluindo talos de verduras, cascas de frutas ou legumes que podem ser usados para preparar</p><p>comidas que, além de gostosas, são nutritivas. No próprio livro é citado que:</p><p>isso significa economia e, especialmente, respeito, porque o que é</p><p>desperdiçado em algum lugar pode estar faltando em outro. No Brasil ainda</p><p>existe muito desperdício de alimentos: são toneladas e toneladas que a</p><p>cada dia se perdem. Isso ocorre porque muitas vezes não sabemos como</p><p>armazenar e preparar corretamente os alimentos, ou por dificuldades para</p><p>realizar doações a instituições que cuidam de pessoas carentes. Por isso o</p><p>Sesc São Paulo implantou o programa Mesa Sesc, um projeto que combate</p><p>a  fome e o desperdício, unindo diariamente centenas de empresas que</p><p>podem doar alimentos a muitas instituições sociais (SESC‑SP, 2002, p. 6).</p><p>Vamos voltar à lista que a FAO preparou com as ações para alcançar um mundo sem fome:</p><p>Todos têm um papel na construção de um mundo com #FomeZero, mas</p><p>países, instituições e pessoas precisam trabalhar em conjunto para alcançar</p><p>este objetivo. A FAO estimula parcerias #FomeZero, o compartilhamento de</p><p>conhecimento e recursos, o desenvolvimento de estratégias e a descoberta</p><p>de novas oportunidades para combater a fome (CINCO…, 2018).</p><p>Mesmo onde o governo não entra, nós podemos fazer nossa parte. É muito importante ajudar</p><p>instituições que socorrem pessoas necessitadas, principalmente em épocas de crise, como a pandemia,</p><p>quando o desemprego é ainda maior. Podemos, por exemplo, ajudar com trabalho voluntário ou com</p><p>arrecadação de verbas para cestas básicas e distribuição de alimentos.</p><p>A lista da FAO dá ainda outra sugestão: discutir o assunto com autoridades locais e nacionais,</p><p>promover programas educacionais relacionados à questão e espalhar a mensagem do #FomeZero aos</p><p>seus conhecidos (CINCO…, 2018). No nosso caso, podemos contribuir como jornalistas, destacando</p><p>matérias importantes, denunciando e pautando esses temas para esclarecer a sociedade. Podemos fazer</p><p>documentários, reportagens especiais ou podcasts em série sobre a temática para sensibilizar as pessoas.</p><p>Muita gente não sabe, mas existe um Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e</p><p>Culturais. Ele foi estabelecido na Assembleia Geral das Nações Unidas em 16 de dezembro de 1966</p><p>e  ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992 (BRASIL, 1992). Neste pacto, entre outros pontos,</p><p>ficou decidido que o Estado não pode, em nenhuma circunstância, tomar qualquer ação que prejudique</p><p>ou restrinja o acesso da população ao alimento.</p><p>Apesar do pacto, contudo, ainda há muito o que fazer. Leia, por exemplo, o trecho de uma matéria</p><p>publicada em março de 2021:</p><p>78</p><p>Unidade II</p><p>O secretário‑geral da ONU, António Guterres, advertiu […] que, sem uma</p><p>“ação imediata”, “milhões de pessoas” estarão em risco de sofrer “fome</p><p>extrema e morte” no mundo.</p><p>“Os impactos climáticos e a pandemia da covid‑19 alimentam” o risco,</p><p>afirmou Guterres, durante uma reunião do Conselho [de Segurança da ONU]</p><p>sobre o vínculo entre fome e segurança organizada pelos Estados Unidos,</p><p>acrescentando que, em cerca de 30 países, “mais de 30 milhões de pessoas</p><p>estão a um passo de serem declaradas em situação de fome”.</p><p>“Tenho mensagem simples: se você não alimenta as pessoas, alimenta</p><p>o conflito”.</p><p>“Fome e inanição não são mais por falta de comida. Agora são em grande</p><p>parte causadas pelo homem […]” (CHEFE…, 2021).</p><p>Observação</p><p>Jornalistas de vários países e de todas as mídias participam de reuniões</p><p>como essa do Conselho de Segurança e têm informações suficientes para</p><p>produzir matérias elucidativas e prestar serviços à humanidade.</p><p>Nós não devemos desistir do meio ambiente. Mesmo que muitos caminhos levem ao negacionismo,</p><p>nós precisamos reagir, estudar, divulgar novas ideias e publicar muitas matérias sobre o assunto.</p><p>Precisamos transmitir notícias para tentar sensibilizar pessoas sobre os reais problemas, por exemplo,</p><p>do desmatamento, que acentua as mudanças climáticas e ameaça a produção de alimentos. E não só.</p><p>Com o desmatamento, perde‑se biodiversidade e aumenta o risco de doenças, de pandemias. Basta</p><p>analisar o que vivemos hoje. O jornalista, que tem facilidade para denunciar, pode, por exemplo, alertar</p><p>sobre os locais onde estão desmatando.</p><p>Hoje já existe consenso entre governos, instituições e pesquisadores de que é preciso encontrar</p><p>o modo correto de explorar a natureza para que permaneça em equilíbrio e não desestruture a vida</p><p>humana. É o modo sustentável de viver. E, ao falar em sustentabilidade, não podemos nos esquecer</p><p>de mencionar a educação ambiental. Políticas ambientais precisam urgentemente ser difundidas e</p><p>discutidas. Entre outras, nós precisamos conhecer a legislação sobre acesso, uso e repartição de recursos</p><p>genéticos da biodiversidade brasileira, e discutir com instituições e com o governo as mudanças que</p><p>interessam para defender o meio ambiente.</p><p>O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo, mas também é líder em desmatamento. Nós</p><p>temos seis biomas ricos em espécies animais e vegetais: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga,</p><p>Pantanal e Pampa. Biomas são regiões com grandes ecossistemas e comunidade biológica com</p><p>características semelhantes.</p><p>79</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Figura 30</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3ieOClY. Acesso em: 5 jan. 2023.</p><p>Não podemos destruir mais esses biomas e, se não cuidarmos deles, seus recursos acabam e o risco</p><p>de surgirem novas pandemias aumenta. Pode ser exatamente aqui que entra o olhar do jornalista</p><p>especializado: para produzir grandes matérias que mitiguem ou impeçam a destruição.</p><p>Mas como conter o desmatamento? Segundo a plataforma Global Forest Watch, o Brasil liderou</p><p>o desmatamento de florestas primárias no mundo em 2018, enquanto cientistas e pesquisadores do</p><p>meio ambiente alertavam para a importância de preservá‑las (MUNDO…, 2019). Mas alguns governos</p><p>não se preocupam – pelo contrário, praticamente incentivam a destruição.</p><p>Jornalistas deveriam ter laços estreitos com cientistas e pesquisadores para se aprofundar nos</p><p>assuntos, e aqui podemos fazer uma crítica ao modelo multifuncional que hoje predomina nas redações,</p><p>inclusive no rádio. Como o profissional precisa exercer várias funções, falta o tempo necessário para</p><p>desenvolver boas matérias.</p><p>80</p><p>Unidade II</p><p>Figura 31</p><p>Fonte: Mendes (2018).</p><p>Lembrete</p><p>De modo geral, o uso de fotos é importante para destacar o assunto, e</p><p>pode ser interessante também no contexto dos podcasts, para divulgação.</p><p>Podemos complementar a temática apontando que deve haver desenvolvimento, mas planejado e</p><p>sustentável, para não prejudicar a vida. Afinal, estamos todos interligados.</p><p>Todas as ações humanas impactam o ambiente. Quando não são sustentáveis, causam inundações,</p><p>erosões, poluição, mudanças climáticas, chuva ácida e pandemias, reduzem mananciais, destroem</p><p>a camada de ozônio, agravam o efeito estufa, destroem hábitats e extinguem espécies. Há muito</p><p>81</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>tempo o homem vem destruindo a natureza com queimadas, desmatamento e desenvolvimento</p><p>industrial excessivo, que se tornou o principal responsável pela degradação da natureza e do</p><p>meio ambiente.</p><p>Figura 32</p><p>Fonte: O descontrole… (2018).</p><p>O que pode ser um avanço para o empreendedorismo sem limites é um crime contra nosso meio</p><p>ambiente. O desmatamento desenfreado destrói nossas florestas, nossa fauna e flora, nossos alimentos,</p><p>os insumos para nossos remédios.</p><p>82</p><p>Unidade II</p><p>Saiba mais</p><p>Assista ao vídeo sobre desmatamento na pandemia</p><p>produzido pelo</p><p>Repórter Eco da TV Cultura:</p><p>ALERTAS de desmatamento da Floresta Amazônica crescem 61% em</p><p>2020. 27 maio 2020. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal Repórter Eco.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3IN0mHw. Acesso em: 17 jan. 2023.</p><p>Deixamos esta reflexão para que você entenda a importância do jornalismo ambiental. Nessa</p><p>modalidade especializada, você pode trabalhar em emissoras tradicionais que divulgam assuntos sobre</p><p>meio ambiente ou produzir podcasts sobre o tema.</p><p>Ouça, como exemplo, a entrevista concedida pelo professor Mohamed Habib, que atuava nas áreas</p><p>de ecologia e desenvolvimento. Nessa conversa, gravada em áudio e publicada como podcast em 2020,</p><p>no Dia do Meio Ambiente, no Notícias do dia do jornal BoqNews, o professor explica o surgimento</p><p>repentino de pandemias.</p><p>Figura 33</p><p>83</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Saiba mais</p><p>A entrevista pode ser ouvida a partir dos 32 minutos e 13 segundos</p><p>do programa:</p><p>MESMO sem data para retomada, volta às aulas será híbrida. BoqNews, 5 jun.</p><p>2020. Disponível em: https://bit.ly/3k53XGi. Acesso em: 18 jan. 2023.</p><p>Você pode, ainda, acessar o portal BoqNews para estudar a produção de</p><p>um jornalismo regional para web:</p><p>Disponível em: https://www.boqnews.com. Acesso em: 18 jan. 2023.</p><p>5.1 Jornalismo científico</p><p>Não se conhece completamente uma ciência enquanto não se souber</p><p>da sua história.</p><p>Auguste Comte</p><p>Em ciência, leia sempre os livros mais novos. Em literatura, os mais velhos.</p><p>Millôr Fernandes</p><p>Jornalistas também se especializam nos fatos da ciência, tecnologia, astronomia e outras atividades,</p><p>exercendo o jornalismo chamado científico para informar sobre projetos em andamento e descobertas</p><p>relacionadas ao mundo da pesquisa. É pelo trabalho deste jornalista que nos inteiramos da produção</p><p>científica no Brasil e no mundo – produção essa fundamental para evoluirmos e compreendermos</p><p>muitos acontecimentos.</p><p>Saiba mais</p><p>Em diversos livros você encontra técnicas para levar esta temática à</p><p>população de maneira singular e informativa, como na obra a seguir, de</p><p>Warren Burkett:</p><p>BURKETT, W. Jornalismo científico: como escrever sobre ciência,</p><p>medicina e alta tecnologia para os meios de comunicação. São Paulo:</p><p>Forense Universitária, 1990.</p><p>84</p><p>Unidade II</p><p>Figura 34</p><p>Fonte: Burkett (1990).</p><p>Saiba mais</p><p>Um artigo interessante sobre jornalismo científico no rádio foi publicado</p><p>no IX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte e analisa</p><p>o veículo como apoio à divulgação científica:</p><p>OLIVEIRA, E. M. M.; ARAÚJO, R. A. Rádio com ciência: divulgação da</p><p>ciência por meio da linguagem radiofônica. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS</p><p>DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORTE, 9., 2010, Rio Branco. Anais […].</p><p>São Paulo: Intercom, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3QGWObt. Acesso</p><p>em: 19 jan. 2023.</p><p>85</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>5.2 Radiojornalismo ético</p><p>A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido</p><p>acompanha o besouro.</p><p>Gabriel García Márquez</p><p>O jornalista deve ser o menos parcial possível ao produzir uma matéria. Cremos que a imparcialidade</p><p>no sentido literal da palavra não seja possível no trabalho jornalístico, porque o simples ato de selecionar</p><p>determinado assunto em meio a tantos outros já pode caracterizar parcialidade. A seleção das fontes</p><p>também é um critério.</p><p>Como regra básica, o repórter não deve se posicionar, pois não é comentarista. Pode, sim, fazer</p><p>uma produção mais analítica, com os vários lados da questão, e abrir o leque do assunto, mas a análise</p><p>final fica por conta do ouvinte. O repórter é um narrador, um contador de histórias, mas não precisa</p><p>inventar os acontecimentos: tem que partir de situações verdadeiras, que repercutam as fontes certas.</p><p>O editorialista, por sua vez, pode se posicionar e publicar ou gravar editoriais para emissoras e internet.</p><p>Saiba mais</p><p>É possível pesquisar artigos e livros sobre ética no Google Acadêmico,</p><p>cuja leitura é importante para nosso entendimento:</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3vXg5fr. Acesso em: 15 dez. 2022.</p><p>A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou o código de ética dos jornalistas:</p><p>Destaque</p><p>Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros</p><p>O Congresso Nacional dos Jornalistas Profissionais aprova o presente CÓDIGO</p><p>DE ÉTICA:</p><p>O Código de Ética dos Jornalistas fixa as normas a que deverá subordinar‑se a atuação</p><p>do profissional nas suas relações com a comunidade, com as fontes de informação e</p><p>entre jornalistas.</p><p>Do direito à informação</p><p>Art. 1º – O acesso à informação pública é um direito inerente à condição de vida em</p><p>sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo de interesse.</p><p>86</p><p>Unidade II</p><p>Art. 2º – A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de</p><p>divulgação pública, independentemente da natureza de sua propriedade.</p><p>Art. 3º – A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela</p><p>real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo.</p><p>Art. 4º – A apresentação de informações pelas instituições públicas, privadas e</p><p>particulares, cujas atividades produzam efeito na vida em sociedade, é uma obrigação</p><p>social.</p><p>Art. 5º – A obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação e a aplicação</p><p>de censura ou autocensura são um delito contra a sociedade.</p><p>Da conduta profissional do jornalista</p><p>Art. 6º – O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social e de</p><p>finalidade pública, subordinado ao presente Código de Ética.</p><p>Art. 7º – O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu</p><p>trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.</p><p>Art. 8º – Sempre que considerar correto e necessário, o jornalista resguardará a</p><p>origem e a identidade de suas fontes de informação.</p><p>Art. 9º – É dever do jornalista:</p><p>— Divulgar todos os fatos que sejam de interesse público;</p><p>— Lutar pela liberdade de pensamento e expressão;</p><p>— Defender o livre exercício da profissão;</p><p>— Valorizar, honrar e dignificar a profissão;</p><p>— Opor‑se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os</p><p>princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos do Homem;</p><p>— Combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando</p><p>exercida com o objetivo de controlar a informação;</p><p>— Respeitar o direito à privacidade do cidadão;</p><p>— Prestigiar as entidades representativas e democráticas da categoria.</p><p>87</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Art. 10 – O jornalista não pode:</p><p>— Aceitar oferta de trabalho remunerado em desacordo com o piso salarial da</p><p>categoria ou com tabela fixada pela sua entidade de classe;</p><p>— Submeter‑se a diretrizes contrárias à divulgação correta da informação;</p><p>— Frustrar a manifestação de opiniões divergentes ou impedir o livre debate;</p><p>— Concordar com a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais,</p><p>políticos, religiosos, raciais, de sexo e de orientação sexual;</p><p>— Exercer cobertura jornalística, pelo órgão em que trabalha, em instituições</p><p>públicas e privadas onde seja funcionário, assessor ou empregado.</p><p>Da responsabilidade profissional do jornalista</p><p>Art. 11 – O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu</p><p>trabalho não tenha sido alterado por terceiros.</p><p>Art. 12 – Em todos os seus direitos e responsabilidades, o jornalista terá apoio e</p><p>respaldo das entidades representativas da categoria.</p><p>Art. 13 – O jornalista deve evitar a divulgação dos fatos:</p><p>— Com interesse de favorecimento pessoal ou vantagens econômicas;</p><p>— De caráter mórbido e contrários aos valores humanos.</p><p>Art. 14 – O jornalista deve:</p><p>— Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações</p><p>não comprovadas, feitas por terceiros e não suficientemente demostradas ou</p><p>verificadas;</p><p>— Tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar.</p><p>Art. 15 – O jornalista deve permitir o direito de resposta às pessoas envolvidas ou</p><p>mencionadas em sua matéria, quando ficar demonstrada a existência de equívocos ou</p><p>incorreções.</p><p>Art. 16 – O jornalista</p><p>deve pugnar pelo exercício da soberania nacional, em seus</p><p>aspectos político, econômico e social, e pela prevalência da vontade da maioria da</p><p>sociedade, respeitados os direitos das minorias.</p><p>88</p><p>Unidade II</p><p>Art. 17 – O jornalista deve preservar a língua e a cultura nacionais.</p><p>Aplicação do Código de Ética</p><p>Art. 18 – As transgressões ao presente Código de Ética serão apuradas e apreciadas</p><p>pela Comissão de Ética.</p><p>1º – A Comissão de Ética será eleita em Assembleia Geral da categoria, por voto</p><p>secreto, especialmente convocada para este fim.</p><p>2º – A Comissão de Ética terá cinco membros com mandato coincidente com o da</p><p>diretoria do Sindicato.</p><p>Art. 19 – Os jornalistas que descumprirem o presente Código de Ética ficam sujeitos</p><p>gradativamente às seguintes penalidades, a serem aplicadas pela Comissão de Ética:</p><p>— Aos associados do Sindicato, de observação, advertência, suspensão e exclusão</p><p>do quadro social do Sindicato;</p><p>— Aos não associados, de observação pública, impedimento temporário e</p><p>impedimento definitivo de ingresso no quadro social do Sindicato.</p><p>Parágrafo Único – As penas máximas (exclusão do quadro social, para os sindicalizados,</p><p>e impedimento definitivo de ingresso no quadro social, para os não sindicalizados) só</p><p>poderão ser aplicadas após referendo da Assembleia Geral especialmente convocada</p><p>para este fim.</p><p>Art. 20 – Por iniciativa de qualquer cidadão, jornalista ou não, ou instituição atingida,</p><p>poderá ser dirigida representação escrita e identificada à Comissão de Ética para que seja</p><p>apurada a existência de transgressão cometida por jornalista.</p><p>Art. 21 – Recebida a representação, a Comissão de Ética decidirá sua aceitação</p><p>fundamentada ou, se notadamente incabível, determinará seu arquivamento, tornando</p><p>pública sua decisão, se necessário.</p><p>Art. 22 – A aplicação da penalidade deve ser precedida de prévia audiência do</p><p>jornalista, objeto de representação, sob pena de nulidade.</p><p>1º – A audiência deve ser convocada por escrito, pela Comissão de Ética, mediante</p><p>sistema que comprove o recebimento da respectiva notificação, e realizar‑se‑á no prazo</p><p>de 10 dias a contar da data de vencimento.</p><p>2º – O jornalista poderá apresentar resposta escrita no prazo do parágrafo anterior ou</p><p>apresentar suas razões oralmente, no ato da audiência.</p><p>89</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>3º – A não observância, pelo jornalista, dos prazos neste artigo implicará a aceitação</p><p>dos termos da representação.</p><p>Art. 23 – Havendo ou não resposta, a Comissão de Ética encaminhará sua decisão</p><p>às partes envolvidas, no prazo mínimo de dez dias, contados da data marcada para</p><p>a audiência.</p><p>Art. 24 – Os jornalistas atingidos pelas penas de advertência e suspensão podem</p><p>recorrer à Assembleia Geral, no prazo máximo de dez dias corridos, a contar do recebimento</p><p>da notificação.</p><p>Parágrafo Único – Fica assegurado ao autor da representação o direito de recorrer à</p><p>Assembleia Geral, no prazo de dez dias, a contar do recebimento da notificação, caso não</p><p>concorde com a decisão da Comissão de Ética.</p><p>Art. 25 – A notória intenção de prejudicar o jornalista, manifesta no caso de</p><p>representação sem o necessário fundamento, será objeto de censura pública contra</p><p>o seu autor.</p><p>Art. 26 – O presente Código de Ética entrará em vigor após homologação em</p><p>Assembleia Geral de jornalistas, especialmente convocada para este fim.</p><p>Art. 27 – Qualquer modificação deste Código somente poderá ser feita em Congresso</p><p>Nacional de Jornalista, mediante proposição subscrita no mínimo por 10 delegações</p><p>representantes de Sindicatos de Jornalistas.</p><p>Adaptado de: Código… (s.d.).</p><p>Observação</p><p>O jornalista que trabalha com ética ganha prestígio e audiência e exerce</p><p>sua verdadeira função, que é informar a sociedade democraticamente.</p><p>Hoje, uma das atribuições do jornalista é identificar notícias falsas para que elas não sejam</p><p>disseminadas, tanto na internet como nas emissoras de rádio tradicionais. É importante buscar fontes de</p><p>informações verdadeiras, com credibilidade, para que não haja problemas na divulgação. Desconfie</p><p>de imagens e vídeos que não tenham referências no conteúdo.</p><p>Existem agências de checagem de fake news, e a primeira delas no Brasil é a Lupa, que mantém</p><p>parcerias em projetos especiais de produção e conteúdo jornalístico. A Lupa integra a International</p><p>Fact‑Checking Network (IFCN), rede mundial de checagem associada ao Poynter Institute, nos</p><p>Estados Unidos.</p><p>90</p><p>Unidade II</p><p>Observe a seguir um exemplo de notícia checada pela agência, no dia 13 de janeiro de 2022:</p><p>Figura 35</p><p>Fonte: Pereira (2022).</p><p>Há ainda outros sites que validam notícias, como o Fato ou Fake, oferecido pelo grupo Globo, que</p><p>apura notícias compartilhadas nas redes sociais, e o Comprova, que reúne jornalistas de 43 veículos de</p><p>comunicação do Brasil para auxiliar na checagem e impedir a divulgação de informações enganosas.</p><p>Ao acompanhar o noticiário no dia a dia, o jornalista aprende a analisar a veracidade e a sequência dos</p><p>fatos; mesmo assim, deve sempre ficar atento para não cair na onda de desinformação que atualmente</p><p>atrapalha o trabalho jornalístico.</p><p>91</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Saiba mais</p><p>A matéria a seguir indica 10 serviços de apuração de fatos disponíveis</p><p>na atualidade, como os exemplos mencionados anteriormente:</p><p>SOTTO, G. 10 iniciativas de fact‑checking no Brasil. Os 10+ da comunicação,</p><p>[s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3W80e8b. Acesso em: 13 jan. 2023.</p><p>5.3 Emissoras jornalísticas e musicais</p><p>Existem emissoras de rádio all news e emissoras musicais que apresentam notícias em alguns horários.</p><p>Nas emissoras musicais, o jornalismo entra esporadicamente, e para algumas são produzidos boletins</p><p>jornalísticos de meia em meia hora, de hora em hora ou sempre que preciso, com resumos das principais</p><p>notícias e os fatos mais importantes do dia. Várias rádios ainda transmitem notícias com programas de</p><p>entrevistas, entretenimento, futebol, mesas‑redondas, debates, painéis.</p><p>Cada ouvinte se identifica com a programação de determinada emissora e até interage com ela,</p><p>pedindo músicas, comentando notícias ou dialogando com serviços de utilidade pública.</p><p>No caso das emissoras musicais, o formato de produção é planejado, e a sequência e combinação das</p><p>músicas deve expressar, a cada período, a imagem média da rádio, como destaca Ferraretto (2014, p. 62):</p><p>deve‑se considerar a estratégia de rotatividade das canções a serem</p><p>veiculadas. O programador define quantas vezes um lançamento, por</p><p>exemplo, vai tocar, e na sequência analisa se este tende a se transformar em</p><p>hit ou não. Tal permanência, portanto, pode ser transitória. Com o passar do</p><p>tempo, no entanto, alguns hits de outrora vão reaparecer como flashbacks</p><p>ou standards. Dependendo do formato escolhido, as músicas talvez sejam</p><p>classificadas com base em outros critérios: por décadas, gênero, tipos de</p><p>intérprete, entre outros.</p><p>Muitas vezes são produzidas para as emissoras musicais entrevistas com artistas, cineastas, produtores,</p><p>enfim, com pessoas voltadas principalmente à área cultural. Entrevistas com enfoque jornalístico entram</p><p>geralmente editadas nos boletins informativos se o assunto for de grande relevância.</p><p>As emissoras all news transmitem jornalismo ininterruptamente. Os programas e as notícias têm</p><p>audiência rotativa, e o noticiário é repercutido e atualizado de acordo com a necessidade e o perfil das</p><p>rádios. São selecionadas as principais notícias locais, nacionais e internacionais de várias editorias para</p><p>que os programas tenham maior abrangência e atinjam muitos ouvintes.</p><p>92</p><p>Unidade II</p><p>As notícias que merecem destaque e que prestam serviços à população são trabalhadas com um</p><p>número maior de profissionais, e a equipe se mobiliza para que a repercussão atinja o propósito de</p><p>informar os ouvintes de maneira transparente e objetiva. Citamos como exemplo o noticiário sobre o</p><p>início da pandemia, publicado pela BBC News Brasil em janeiro de 2020:</p><p>Figura 36</p><p>Fonte: Coronavírus… (2020b).</p><p>93</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Saiba mais</p><p>Foram publicados</p><p>também vários podcasts nos sites da BBC e no</p><p>YouTube para complementar o assunto. Veja alguns casos:</p><p>PRINCIPAIS perguntas e respostas sobre surto de coronavírus que</p><p>matou mais de cem pessoas. BBC News Brasil, 29 jan. 2020. Disponível</p><p>em: https://bbc.in/3CZ1Om8. Acesso em: 19 jan. 2023.</p><p>CORONAVÍRUS: moradores em quarentena cantam nas janelas</p><p>em solidariedade. BBC News Brasil, 29 jan. 2020a. Disponível em:</p><p>https://bbc.in/3QNyLI5. Acesso em: 19 jan. 2023.</p><p>Existe ainda uma outra modalidade: emissoras educacionais. A Rádio UFScar, por exemplo, transmite</p><p>programas educativos, culturais, musicais e independentes, com bate‑papo e entrevistas com artistas</p><p>e bandas. Também apresenta podcasts. A Rádio UFScar opera em São Carlos e região, no interior de</p><p>São Paulo, e pode ser sintonizada em 95,3 FM, ou 24 horas por dia pela internet.</p><p>Figura 37</p><p>Disponível em: http://radio.ufscar.br. Acesso em: 18 jan. 2023.</p><p>Uma rádio educativa transmite programas educativo‑culturais e atua em conjunto com sistemas</p><p>de ensino ou modalidades que tenham o objetivo de transmitir atividades educacionais, culturais,</p><p>pedagógicas ou até orientações profissionais.</p><p>Saiba mais</p><p>Ivete Roldão publicou um interessante artigo acerca da rádio educativa:</p><p>ROLDÃO, I. C. O papel de uma rádio educativa. In: SEMINÁRIO NACIONAL</p><p>“O PROFESSOR E A LEITURA DO JORNAL”, 1., 2002, Campinas. Anais […]. Campinas:</p><p>ALB, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3WaFInJ. Acesso em: 3 jan. 2023.</p><p>94</p><p>Unidade II</p><p>A Cultura FM, da Fundação Padre Anchieta, de São Paulo, é outra rádio educativa. Toca música clássica,</p><p>erudita e jazz, e apresenta alguns especiais e podcasts com conteúdo jornalístico no site da emissora.</p><p>Figura 38</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3waYmB0. Acesso em: 18 jan. 2023.</p><p>A Rádio USP, também de São Paulo, foi criada em 1977. A emissora educativa é um canal de</p><p>comunicação entre a Universidade de São Paulo (USP) e o público. Recebeu diversos prêmios por sua</p><p>linha de trabalho diferenciada, e seu jornalismo é voltado para as atividades da USP. Além de prestar</p><p>serviços, produz debates e programas de interesse da sociedade.</p><p>Figura 39</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3kH7aMu. Acesso em: 24 jan. 2023.</p><p>Atualmente, é mais fácil transmitir informações, porque emissoras de rádio all news se integraram</p><p>às plataformas de streaming de áudio.</p><p>Saiba mais</p><p>Nelia Del Bianco e Elton Pinheiro escreveram um artigo sobre</p><p>essa integração:</p><p>DEL BIANCO, N. R.; PINHEIRO, E. B. A integração de emissoras de rádio</p><p>all news brasileiras às plataformas de streaming de áudio. In: ENCONTRO</p><p>NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO, 18., 2020, [s.l.]. Anais</p><p>[…]. [S.l.]: SBPJor, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3WoStv3. Acesso em:</p><p>13 jan. 2023.</p><p>95</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>6 EMISSORAS DIGITAIS</p><p>Em 2017, a Noruega parou de transmitir rádio em FM. Foi o primeiro país a entrar totalmente na era</p><p>digital e, segundo o governo, os ouvintes têm agora acesso a um conteúdo mais diversificado, além da</p><p>melhor qualidade de áudio (O FIM…, 2017).</p><p>Figura 40</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3kuDimw. Acesso em: 24 jan. 2023.</p><p>Em outros países, o processo totalmente digital pode demorar, mas é irreversível. No Canadá, por</p><p>exemplo, se consome mais rádio digital que nos Estados Unidos (O RÁDIO HOJE…, 2020). Já no Brasil, o</p><p>sinal FM ainda é popular, mas algumas emissoras AM desapareceram. Os sinais das 1.781 emissoras AM</p><p>foram quase totalmente desligados em 2021.</p><p>Lembrete</p><p>Amplitude modulada (AM) e frequência modulada (FM) são técnicas de</p><p>modulação para transmitir sinais por rádio. FM opera com uma frequência</p><p>bem mais alta que AM.</p><p>De acordo com um relatório da Nielsen – empresa de pesquisa de informações de mercado, reconhecida</p><p>em mais de 100 países e que atua no Brasil há mais de 40 anos –, muitas empresas norueguesas</p><p>que atuam como anunciantes consideram as plataformas de rádio digital uma forma de alcançar o</p><p>público mais jovem. Ainda segundo essa pesquisa, com o surgimento de smart speakers – caixas de</p><p>som com inteligência artificial – e outros dispositivos conectados, “os ouvintes agora acessam suas</p><p>estações favoritas além dos meios tradicionais” (O RÁDIO…, 2021). Essa pesquisa ainda informa que os</p><p>96</p><p>Unidade II</p><p>smartphones são o dispositivo portátil mais popular para ouvir rádio, e, entre os que ouvem rádio pelo</p><p>celular, um quarto ouve diariamente e 71% ouvem pelo menos uma vez por semana.</p><p>Hoje são reconhecidos quatro sistemas de radiodifusão digital, que repercutem mundialmente:</p><p>• in‑band on‑channel (Iboc);</p><p>• digital audio broadcasting (DAB);</p><p>• digital radio mondiale (DRM);</p><p>• integrated services digital broadcasting, terrestrial sound broadcasting (ISDB‑Tsb).</p><p>Saiba mais</p><p>No portal Rádio Ao Vivo você pode ouvir emissoras de todo o Brasil,</p><p>com os melhores podcasts e a relação das músicas mais tocadas:</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3WG20xC. Acesso em: 16 dez. 2022.</p><p>6.1 Formatos de programas: o radiojornal</p><p>Um homem que tenha algo a dizer e não encontra ouvintes está em má situação.</p><p>Mas estão em pior situação ainda os ouvintes que não encontram quem tenha</p><p>algo a lhes dizer.</p><p>Bertolt Brecht</p><p>Diversos tipos de programas podem ser transmitidos tanto em emissoras de rádio tradicionais como</p><p>na internet, no formato podcast ou videocast. Entre eles estão radiojornais, programas de entrevistas,</p><p>debates, painéis, mesas‑redondas e programas esportivos. Uma equipe de produção jornalística</p><p>atualmente é multifuncional e se adequa aos vários tipos de programas, com noticiários, entrevistas e</p><p>prestação de serviços.</p><p>As emissoras all news têm jornais radiofônicos em vários horários. Algumas concentram os noticiários</p><p>no início da manhã ou no final da tarde – horários estudados para abranger o resumo das principais</p><p>notícias e suas repercussões. Um radiojornal tem início com as manchetes do momento, seguidas</p><p>das notícias separadas por editorias e localização.</p><p>Para produzir um jornal, toda a equipe da emissora se mobiliza, já que entram notícias locais,</p><p>nacionais e internacionais, além de blocos com matérias especiais e de utilidade pública. Repórteres</p><p>saem às ruas para produzir o material que será transmitido ao vivo ou gravado com vários tipos de</p><p>edições, que são reaproveitadas no decorrer da programação.</p><p>97</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Vamos tomar como exemplo a edição do radiojornal Primeira hora transmitida pela Rádio Bandeirantes</p><p>no dia 6 de janeiro de 2022, ao vivo e por streaming (PRIMEIRA…, 2022). Você pode observar que</p><p>o programa se inicia com os destaques das principais notícias e reportagens. Depois há a previsão</p><p>do tempo, prestando serviços logo na abertura, porque o ouvinte gosta de ter essa informação para</p><p>agendar seus compromissos. Perceba que durante o jornal entram vários comerciais, e os apresentadores</p><p>fazem chamadas do assunto que será divulgado depois do intervalo para prender a atenção do ouvinte,</p><p>para que ele não mude de emissora.</p><p>Saiba mais</p><p>Acompanhe a edição analisada:</p><p>PRIMEIRA hora: programa de 6/1/2022. 6 jan. 2022. 1 vídeo (60 min).</p><p>Publicado pelo canal Rádio Bandeirantes. Disponível em: https://bit.ly/3XGdgLp.</p><p>Acesso em: 19 jan. 2023.</p><p>Geralmente, os radiojornais são apresentados por dois ou mais profissionais. Isso ajuda a prender</p><p>a atenção pela diversidade de vozes, e ainda permite que os apresentadores não percam o fôlego ao</p><p>ler tantas notícias. Outra tática importante é sempre divulgar a hora no jornal. Além de informar</p><p>o ouvinte, demonstra a eficiência de um noticiário em tempo real. Repare que, além das notícias lidas</p><p>pelos apresentadores, entram comentários, editoriais e seções fixas, como mercado financeiro, mercado</p><p>imobiliário, meteorologia, trânsito etc.</p><p>Os redatores digitam as notícias que chegam nas redações por telefone, e‑mail e através de assessorias</p><p>de imprensa e de várias instituições. As principais são redigidas já no roteiro e são atualizadas em tempo</p><p>real, conforme outros fatos acontecem no decorrer do noticiário. As entrevistas entram no formato de</p><p>vídeo</p><p>ou áudio e dependem da maneira como os profissionais conseguem contatar os entrevistados.</p><p>As pautas são produzidas pelo pauteiro ou pelo chefe de reportagem e supervisionadas pela chefia</p><p>de redação. Além disso, os repórteres também levam informações das ruas, que se transformam</p><p>muitas vezes em matéria especial e até em furo de reportagem. Os editores dos radiojornais muitas</p><p>vezes são os próprios apresentadores, que têm acesso ao conteúdo para poder opinar e entrevistar os</p><p>convidados ao vivo.</p><p>No jornal de rádio, as notícias são produzidas pela ordem de importância e por editorias. O critério</p><p>de seleção do noticiário depende do público e do perfil da emissora, além da importância do assunto e</p><p>da quantidade de pessoas que pode abranger. Como disseram Chantler e Harris (1992, p. 16), “as pessoas</p><p>gostam de notícias locais, mas não das notícias locais dos outros”.</p><p>98</p><p>Unidade II</p><p>Ferraretto (2014, p. 145) aponta que a edição pode considerar a similaridade de assuntos, zonas</p><p>geográficas, divisão de editorias e o fluxo de informação:</p><p>Similaridade de assuntos exige menos recursos em termos de repórteres</p><p>especializados, correspondentes e comentaristas. Opta‑se por esse tipo na</p><p>impossibilidade de contar com um noticiário nacional ou internacional</p><p>frequente, que determinaria a opção pela edição por zonas geográficas,</p><p>ou na ausência constante de um noticiário político ou econômico, o qual,</p><p>caso contrário, implicaria a divisão do radiojornal em editorias. Nas zonas</p><p>geográficas as notícias são, em geral, separadas em blocos na ordem local,</p><p>nacional e internacional. Dentro deles, aparecem ordenadas em ordem</p><p>decrescente de importância. Como o usual é a informação próxima ser a de</p><p>maior interesse, a disposição dos blocos segue esse critério, com o radiojornal,</p><p>após a abertura, tendo continuidade com um ou mais blocos locais. Edição</p><p>com divisão por editorias depende de uma boa infraestrutura de pessoal, em</p><p>especial repórteres que, obrigatoriamente, devem atender às necessidades</p><p>de especialização das editorias em que o radiojornal é dividido. As mais</p><p>comuns são em geral, política, economia e internacional. Na edição em fluxo</p><p>de informação há adaptação para os radiojornais do tipo de programação</p><p>predominante nas emissoras all news dos Estados Unidos. Com base em</p><p>pesquisas indicando que os ouvintes do segmento de jornalismo se alteram</p><p>em períodos cada vez menores, sintonizando conforme necessidades</p><p>momentâneas – o início do dia, o deslocamento em meio ao trânsito das</p><p>grandes cidades etc. –, as rádios estabelecem uma programação dividida</p><p>em módulos, por exemplo, de 30 minutos. Nele, em momentos fixos, são</p><p>recuperadas informações já noticiadas. Assim, ao longo de cada edição, além</p><p>de serem apresentadas novas notícias, outras são repetidas ou atualizadas,</p><p>como manchetes de jornais, notícias mais importantes e situação do tempo,</p><p>dos aeroportos ou do tráfego.</p><p>No final, ao se despedir do ouvinte com chamada para anunciar o próximo programa, é preciso dar</p><p>os devidos créditos aos profissionais que participaram do jornal.</p><p>Para finalizar, a mesa‑redonda é um programa radiofônico com temas atuais mais aprofundados.</p><p>Os  participantes interpretam os assuntos para que o ouvinte entenda detalhadamente cada fato</p><p>analisado. Existem dois tipos de mesa‑redonda: painel e debate. No painel, cada integrante da mesa</p><p>expõe suas opiniões, que se completam. Nesse caso, não existe um argumento vencedor: o importante</p><p>é repercutir a temática. No caso do debate, pode existir opiniões divergentes, e os integrantes discutem</p><p>entre si com seus pontos de vista conflitantes. O objetivo do debate é buscar o conflito de opiniões.</p><p>Tanto para o painel como para o debate, podem ser convidadas duas ou mais pessoas para integrar a</p><p>mesa, e um jornalista fará a mediação.</p><p>99</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>6.2 O programa de rádio que virou livro</p><p>Figura 41</p><p>Fonte: Junqueira (2018).</p><p>O pulo do gato foi apresentado por 47 anos no mesmo horário pelo jornalista José Paulo de Andrade,</p><p>que faleceu em 2020, vítima da covid‑19. Considerado a maior voz da Rádio Bandeirantes, o jornalista</p><p>exerceu a profissão na emissora durante 57 anos.</p><p>O programa estreou em 1973 e está no ar até hoje – agora com novos apresentadores –, inclusive na</p><p>web. O pulo do gato traz informações sobre trânsito, tempo, estradas, aeroportos, hora certa, mercado</p><p>financeiro e reportagens de diversas editorias.</p><p>Saiba mais</p><p>Em 2018, o jornalista Claudio Junqueira reuniu as histórias do programa</p><p>em um livro:</p><p>JUNQUEIRA, C. O pulo do gato: esse gato ninguém segura: 45 anos de</p><p>sucesso no programa de rádio. Mauá: Letras do Pensamento, 2018.</p><p>Veja também uma reportagem que celebra o fato:</p><p>PROGRAMA ‘O pulo do gato’ vira livro. 6 dez. 2018. 1 vídeo (4 min).</p><p>Publicado pelo canal Band Jornalismo. Disponível em: https://bit.ly/3WoSU8F.</p><p>Acesso em: 17 jan. 2023.</p><p>100</p><p>Unidade II</p><p>O último programa apresentado por José Paulo de Andrade foi ao ar no dia 3 de julho de 2020.</p><p>Saiba mais</p><p>O áudio desse último programa está disponível no YouTube:</p><p>RÁDIO Bandeirantes: o último “Pulo do Gato” de José Paulo de Andrade</p><p>(3/7/2020). 17 jul. 2020. 1 vídeo (85 min). Publicado pelo canal Arquivos</p><p>Edu Cesar I. Disponível em: https://bit.ly/3H2mLPy. Acesso em: 20 dez. 2022.</p><p>6.3 A paixão pelo futebol no rádio</p><p>O rádio não é timbre, é emoção.</p><p>Gabriel Dias</p><p>Rádio e futebol são paixão e emoção.</p><p>Nuno Matos</p><p>Para narrar futebol no rádio é preciso sentir o acontecimento, expressar‑se com o coração, com</p><p>garra e coragem, e vibrar para atingir o torcedor. O melhor estudo para qualquer locução é ouvir e</p><p>falar. A narração esportiva requer muito treino e habilidade, já que a descrição do evento pede rapidez</p><p>e agilidade.</p><p>Existem cursos de narração esportiva. O Senac, por exemplo, oferece exercícios de locução esportiva,</p><p>de narração para rádio e TV, de fonoaudiologia, de respiração e relaxamento, entre outros.</p><p>O narrador precisa saber detalhes do jogo que vai apresentar e estudar os jogadores de cada time,</p><p>para poder falar com rapidez seus nomes e alertar o ouvinte das jogadas. O volume da voz é sempre</p><p>mais alto, e a transmissão precisa ser eufórica, para demonstrar emoções. Já o comentarista esportivo se</p><p>detém na análise de cada jogada, para depois inserir no todo o comentário final.</p><p>Muitos jornalistas hoje, de modo geral, e principalmente os locutores esportivos, procuram</p><p>fonoaudiólogos para aperfeiçoar a dicção e a interpretação. Existem técnicas já testadas que podem ser</p><p>seguidas para aprimorar o trabalho. Essas técnicas são normalmente divulgadas nos manuais de redação</p><p>de cada emissora, que, embora possam selecionar métodos diferentes, em geral seguem as mesmas</p><p>linhas de produção. Barbeiro e Lima (2013) dão algumas orientações para o jornalista que também</p><p>cobre esportes:</p><p>• Conheça as regras dos esportes e os regulamentos dos campeonatos.</p><p>• Não se esqueça dos detalhes. Eles enriquecem a transmissão de um jogo.</p><p>101</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>• Nada irrita mais o torcedor do que as mesmas e velhas perguntas dos repórteres e respostas dos</p><p>jogadores depois das partidas.</p><p>• Não use termos técnicos ao informar as lesões sofridas pelos atletas. O ouvinte não é obrigado a</p><p>conhecer o vocabulário médico.</p><p>• Fique atento à pronúncia dos nomes estrangeiros. A padronização é importante para evitar que</p><p>durante a transmissão de uma partida de futebol, por exemplo, cada jornalista pronuncie o nome</p><p>do jogador de um jeito diferente.</p><p>• Não especule. O esporte também é um negócio. Interesses milionários movimentam informações</p><p>plantadas por dirigentes e representantes de jogadores.</p><p>• Nada impede que sejam citadas empresas patrocinadoras de equipes e eventos esportivos, se</p><p>forem relevantes para o assunto.</p><p>• Repórter de campo não usa camisetas, bonés ou qualquer outra peça que divulgue patrocínio</p><p>comercial.</p><p>• Não se avança sobre a intimidade do jogador. Só se divulga valor de contrato e salário se a</p><p>iniciativa for do atleta, do clube ou do patrocinador.</p><p>• Jogadores e dirigentes têm sempre direito ao contraditório.</p><p>• A necessidade de improviso não é desculpa para atropelos do idioma. A verborragia precisa ser</p><p>varrida das transmissões esportivas, pois não acrescenta nada. Falar para impedir o silêncio é</p><p>um contrassenso.</p><p>• Na apresentação de um programa ou transmissão de uma partida deve haver distinção entre</p><p>narrador, repórter e comentarista.</p><p>• Não se faz piadas no ar entre colegas de trabalho.</p><p>• Os comentaristas esportivos não devem explorar frases como “o gol saiu como antecipei há pouco”</p><p>etc. O ouvinte tem espírito crítico, sabe quando o comentarista erra ou acerta.</p><p>• Os comentaristas devem conhecer as táticas. Para justificar uma opinião, é preciso saber do que</p><p>se está falando.</p><p>• Na transmissão esportiva o lugar‑comum é constante, mas deve haver limites para que não se</p><p>caia no ridículo. Fuja de frases e gírias que se desgastaram com o tempo.</p><p>• Não há necessidade de usar expressões que incitem a violência, como inimigo, matador, guerra etc.</p><p>• Desde que autorizado pela emissora – do contrário seria pirataria –, a narração de um evento</p><p>esportivo pode ser feita do estúdio, com o narrador assistindo à televisão. É o off tube. Contudo, o</p><p>ouvinte tem o direito de saber como se processa a transmissão e que o narrador não está no local.</p><p>102</p><p>Unidade II</p><p>Saiba mais</p><p>Para conhecer a história das transmissões esportivas em rádio e</p><p>televisão, deixamos um trabalho de pesquisa com detalhes significativos:</p><p>SCHETINI, V. O. Rádio e televisão: levando emoção ao torcedor de</p><p>futebol. 2006. Monografia (Projeto Experimental em Comunicação Social</p><p>e Jornalismo) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2006.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3GHSWm7. Acesso em: 11 jan. 2023.</p><p>Atualmente, você pode assistir futebol ao vivo e on‑line. A TV a cabo é um dos meios para quem se</p><p>interessa pelos jogos de futebol, e serviços de streaming oferecem essas opções tanto para campeonatos</p><p>nacionais como internacionais. Há ainda apps gratuitos e pagos para assistir futebol ao vivo, disponíveis</p><p>para Android e iOS.</p><p>A equipe esportiva se prepara com antecedência para cobrir jogos e campeonatos, e o trabalho é</p><p>redobrado em Copas do Mundo, que podem ser transmitidas por algumas emissoras, que conseguem os</p><p>direitos para isso.</p><p>Figura 42</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3j6YVJd. Acesso em: 24 jan. 2023.</p><p>103</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>As chefias de redação e reportagem selecionam os jornalistas que vão trabalhar no evento e a</p><p>administração já se encarrega de reservar hotéis com antecedência, porque a demanda é grande.</p><p>Muitos locutores esportivos escalados para a transmissão da Copa estudam a história dos times</p><p>dos vários países, e os repórteres logo começam um trabalho de pesquisa para poder entrevistar os</p><p>participantes após os jogos, informar corretamente a população e fazer a cobertura de maneira completa</p><p>e adequada para o evento mundial.</p><p>Provavelmente, o sonho de todo jornalista esportivo é cobrir uma Copa do Mundo. Para isso,</p><p>primeiro ele deve se especializar em jogos domésticos e se dedicar à profissão para ter as oportunidades</p><p>almejadas. Muitos jornalistas esportivos, narradores e comentaristas começaram suas carreiras no rádio.</p><p>Alguns permaneceram e se destacaram na época em que a emissora de rádio era a única bola da vez da</p><p>transmissão esportiva. Narradores de futebol famosos ficaram conhecidos também pelos bordões que</p><p>criaram para prender a atenção do ouvinte. Observe a seguir alguns exemplos:</p><p>• Fiori Gigliotti: “Abrem‑se as cortinas, começa o espetáculo”.</p><p>• Osmar Santos: “Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”.</p><p>• Januário de Oliveira: “Tá lá um corpo estendido no chão”.</p><p>• José Carlos Araújo: “Vai mais, vai mais, garotinho”.</p><p>• Silvio Luiz: “Pelas barbas do profeta”.</p><p>• José Silvério: “E que golaço”.</p><p>• Oscar Ulisses: “Pro gol”.</p><p>• Galvão Bueno: “Haja coração”.</p><p>O locutor esportivo Cléber Machado acredita que não tem um bordão próprio (OS BORDÕES…, 2019).</p><p>Observação</p><p>O Museu do Futebol é um dos mais visitados do Brasil. Foi inaugurado em</p><p>setembro de 2008 numa área de 6.900 m², no avesso das arquibancadas do</p><p>Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho (o Pacaembu), em São Paulo.</p><p>104</p><p>Unidade II</p><p>6.4 Esportes alternativos</p><p>O futebol é o principal esporte brasileiro, mas há espaço para outras modalidades, como natação,</p><p>tênis, basquete, rugby, beisebol. Existem sites para todos os gostos, dedicados a esportes alternativos, e,</p><p>se você se identifica com algum, pode começar a trabalhar nesse meio mais diversificado.</p><p>Observação</p><p>As técnicas de entrevistas e reportagens são as mesmas do</p><p>radiojornalismo, com exceção de alguns detalhes da cobertura esportiva,</p><p>que você já estudou.</p><p>Figura 43</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3JeyDQ2. Acesso em: 24 jan. 2023.</p><p>Saiba mais</p><p>Embora não seja um site dedicado ao tema, esta matéria do Portal R3</p><p>explora a diversidade do segmento:</p><p>ESPORTES alternativos conquistam cada vez mais espaço no país. Portal R3,</p><p>13 abr. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3X6Xmd6. Acesso em: 12 jan. 2023.</p><p>105</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Resumo</p><p>A unidade II trouxe conceitos e exemplos do jornalismo ambiental,</p><p>científico e esportivo, abordando os diversos formatos de programas</p><p>radiofônicos e discutindo meios tradicionais e on‑line. Mostrou ainda os</p><p>critérios para a produção do jornal radiofônico e demonstrou que para</p><p>isso é preciso entender como checar e triar as informações e repercutir</p><p>as fontes certas para fechar as matérias e derrubar as fake news.</p><p>No radiojornalismo, com a interatividade das multiplataformas, o grande</p><p>desafio está em produzir conteúdo diversificado, em tempo real e com</p><p>participação do repórter ao vivo. Estão inseridos ainda nesta unidade</p><p>os meios para trabalhar eticamente, considerando os vários lados de uma</p><p>notícia e mantendo uma postura o mais imparcial possível, sem vínculos</p><p>com pessoas, órgãos ou instituições.</p><p>106</p><p>Unidade II</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. (Enade 2006) A Vigilância Epidemiológica e o Departamento de Serviços Municipais de</p><p>Saúde detectaram que uma doença tropical se espalhou rapidamente pela região Norte do país. A área</p><p>rural, incluindo localidades onde não há energia elétrica, foi a mais atingida.</p><p>Considerando essa situação hipotética, o veículo de comunicação mais adequado para alertar</p><p>rapidamente o maior número de pessoas sobre os cuidados e a prevenção da doença mencionada é:</p><p>A) o rádio.</p><p>B) o jornal.</p><p>C) a televisão.</p><p>D) a revista.</p><p>E) o folheto.</p><p>Resposta correta: alternativa A.</p><p>Análise das alternativas</p><p>A) Alternativa correta.</p><p>Justificativa: vários tipos de aparelhos receptores de rádio comercializados não dependem de rede de</p><p>energia elétrica; o rádio à pilha, por exemplo, é muito popular em regiões rurais de difícil acesso, onde</p><p>outros meios de comunicação não chegam. O rádio ainda permite a transmissão rápida de informações,</p><p>além de conseguir comunicar com público amplo, independentemente do grau de alfabetização.</p><p>B, D e E) Alternativas incorretas.</p><p>Justificativa: o processo de produção e distribuição de impressos é potencialmente mais lento</p><p>do que a transmissão eletrônica. Além disso, levando em conta que em regiões rurais o índice de</p><p>analfabetismo é normalmente considerável, conclui‑se que a mídia escrita pode não ser a forma mais</p><p>eficaz de comunicação.</p><p>C) Alternativa incorreta.</p><p>Justificativa: os receptores de televisão normalmente dependem de energia elétrica. Logo, é possível</p><p>supor que em algumas das regiões afetadas não haja aparelhos de TV.</p><p>107</p><p>PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM RÁDIO</p><p>Questão 2. (Enade 2009, adaptada) Avalie as afirmativas a seguir:</p><p>I – O rádio utiliza imagem. Uma fotografia pode ser lida como um texto. A linguagem e expressão</p><p>em som e imagem têm paralelos com outras formas de comunicação.</p><p>II – O rádio obriga o ouvinte do noticiário a imaginar cenas e situações, que passam pela nossa</p><p>cabeça como um filme ou uma cena de televisão. A fotografia em jornal ou revista é lida de diversas</p><p>formas, dependendo</p><p>da profissão, do nível de cultura e do próprio tempo e ambiente em que vive o</p><p>leitor daquelas publicações.</p><p>III – Jornalistas especializados em ciência não podem usar o rádio para informar sobre projetos em</p><p>andamento e sobre descobertas relativas ao mundo da pesquisa.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>A) I, II e III.</p><p>B) II e III, apenas.</p><p>C) I e III, apenas.</p><p>D) I e II, apenas.</p><p>E) II, apenas.</p><p>Resposta correta: alternativa D.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: imagem não é apenas uma definição técnica de alguns tipos de representação visual,</p><p>mas é também uma figura criada pela imaginação humana. Assim, as linguagens sonoras têm a</p><p>capacidade de projetar imagens na mente de seus ouvintes. Da mesma maneira, texto não significa</p><p>apenas a construção de discursos por meio da linguagem verbal. Outras linguagens também podem ser</p><p>pensadas como enunciadoras de discursos, e alguns recursos textuais – como pressuposto, subentendido,</p><p>ironia, analogia, intertextualidade etc. – podem ser aplicados na produção e na interpretação de</p><p>mensagens não verbais. É possível, dessa maneira, estabelecer paralelos entre diferentes linguagens.</p><p>108</p><p>Unidade II</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: no caso do rádio, uma das características mais valorizadas de seu potencial comunicativo</p><p>é a capacidade de ativar a criação de imagens na mente do ouvinte. As fotografias são lidas como um</p><p>texto, ou seja, elas passam por um processo de interpretação no qual o contexto interfere e, portanto,</p><p>não têm um significado único.</p><p>III – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: vimos, no livro‑texto, que jornalistas podem se especializar nos fatos da ciência e da</p><p>tecnologia a fim de exercer o jornalismo científico para informar sobre projetos em andamento e sobre</p><p>descobertas relativas ao mundo da pesquisa. O rádio pode ser usado por tais profissionais para que</p><p>o público conheça dados da produção científica do Brasil e do mundo e fique ciente de temas desse</p><p>segmento, essenciais para a nossa evolução e para a compreensão de muitos acontecimentos.</p>

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