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<p>A adoção é uma das formas legais de convivência familiar, oferecendo um meio alternativo ao convívio com a família natural. Existem três modalidades de convivência familiar para pessoas que não são os pais biológicos: guarda, tutela e adoção. A principal diferença entre a guarda/tutela e a adoção reside no estado de filiação. Na guarda e na tutela, a criança mantém os vínculos com sua família natural, enquanto na adoção, o estado de filiação é modificado, criando um novo vínculo jurídico e familiar.</p><p>1. Enfoque inicial – principal diferença entre a guarda e a tutela, e dessas duas com a adoção.</p><p>Com base nos arts. 28 a 32, ECA, a principal diferença entre guarda e tutela está na preservação do poder familiar. Na guarda, os pais biológicos continuam exercendo seus direitos e deveres sobre a criança ou adolescente, mesmo que outra pessoa cuide diretamente do menor. A guarda é uma medida que busca garantir proteção imediata e cuidados, mantendo os laços de filiação com a família biológica intactos. O guardião, portanto, assume responsabilidades do dia a dia, como prover educação e sustento, mas sem alterar a filiação.</p><p>Já a tutela é aplicada quando os pais biológicos não estão mais presentes ou não podem exercer o poder familiar, seja por falecimento, destituição judicial ou outra causa. Nesse caso, o tutor recebe a responsabilidade legal completa pela criança, substituindo a função dos pais em questões de cuidados e administração de bens. No entanto, a tutela não cria um novo vínculo de filiação, ou seja, a criança ou adolescente permanece legalmente ligada à sua família biológica, sem a criação de um novo núcleo familiar.</p><p>Em contraste com essas duas formas, a adoção envolve uma alteração definitiva do estado de filiação. Com a adoção, a criança ou adolescente se desliga completamente da sua família biológica e passa a ter novos pais adotivos, igualmente aos filhos biológicos, com todos os direitos e deveres inerentes a essa nova condição. Diferente da guarda e da tutela, que são medidas temporárias ou limitadas em seus efeitos, a adoção estabelece uma nova filiação irrevogável, proporcionando ao adotado todos os direitos, como herança e nome de família, além de cortar os vínculos jurídicos com os pais biológicos.</p><p>Portanto, enquanto guarda e tutela preservam, de alguma forma, os laços biológicos e não criam uma nova família formalmente, a adoção estabelece um novo estado de filiação, rompendo os laços anteriores e criando uma nova família de forma permanente.</p><p>2. Conceito de adoção</p><p>A adoção é um instituto legal que permite a inserção definitiva de uma criança ou adolescente em uma nova família, atribuindo a eles a condição de filhos legítimos dos adotantes. Diferente de outras formas de colocação em família substituta, como a guarda ou a tutela, a adoção implica a criação de um novo vínculo de filiação, rompendo completamente os laços jurídicos com a família biológica.</p><p>Ao ser adotado, o menor passa a ter todos os direitos e deveres que qualquer filho biológico teria em relação aos pais adotivos, incluindo direitos sucessórios, o que significa que ele poderá herdar dos pais adotivos e vice-versa. A adoção transforma a família substituta em uma família natural, no sentido jurídico, com todos os efeitos permanentes e irrevogáveis.</p><p>Para que a adoção seja concretizada, é necessário o cumprimento de uma série de requisitos legais, como o consentimento dos pais biológicos, quando aplicável, e a observância do melhor interesse da criança. Além disso, é preciso que os adotantes estejam legalmente habilitados e passem por um processo judicial que formalize essa nova relação familiar. Após a sentença de adoção, um novo registro civil é emitido, sem qualquer menção à adoção, garantindo à criança o nome da nova família e uma filiação plena.</p><p>Portanto, a adoção vai além da simples convivência familiar; ela estabelece um novo estado jurídico para a criança ou adolescente, assegurando a proteção integral, o direito à convivência familiar e a possibilidade de desenvolver laços afetivos dentro de um ambiente seguro e legalmente reconhecido.</p><p>Formas de adoção:</p><p>1. Adoção individual: realizada por uma única pessoa.</p><p>2. Adoção conjunta: solicitada por duas pessoas, que precisam ser casadas ou estar em união estável.</p><p>Impacto na filiação:</p><p>1. Adoção plena: rompe todos os laços com a família biológica, criando um novo parentesco.</p><p>2. Adoção unilateral: altera apenas um dos ramos da família, mantendo o outro, como em casos de padrastos ou madrastas.</p><p>Deslocamento da criança:</p><p>1. Adoção nacional: prioriza manter a criança no Brasil, evitando sua transferência para o exterior.</p><p>2. Adoção internacional: regulada pela Convenção de Haia, ocorre quando a criança é adotada por estrangeiros ou quando brasileiros no exterior trazem a criança para o Brasil.</p><p>3. Pressupostos gerais</p><p>O art. 43 do ECA estabelece que a adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos para a continuidade e razões de seu procedimento, evitando que fins imorais e ilícitos sejam destinados a criança que passa por este processo delicado.</p><p>Ainda, tais pressupostos não podem seguir pura e simplesmente a perspectiva da intervenção adulta dos pais e de pessoas com quem aqueles se ajustem para determinar a entrega do filho a uma convivência não avaliada pelo sistema de justiça.</p><p>Por tais razões, a regra do art. 43, do ECA, precisa ser sempre perseguida em seus dois aspectos nos processos de adoção. Não raro, verdadeiras tentativas de fraudes são descobertas tendo como atores pessoas das mais variadas matizes sociais, “adoção à brasileira”, apelido internacionalmente aplicado a esse costume esdrúxulo, fundado nas mais variadas intenções, que vão desde o tráfico internacional (venda de bebês) até a pura e simples burla ao sistema oficial de cadastros, e isso seguidamente se dá entre pessoas que se ajustam após o nascimento para registrar civilmente um bebê sabidamente filho de outrem.</p><p>4. Características principais</p><p>A adoção, quando deferida, importa na desconstituição do vínculo de filiação da criança ou do adolescente, e na constituição de novo vínculo de paternidade e filiação, sendo, pois, um instituto de direito material que se organiza com inúmeros requisitos, consequências, e características que lhe são realmente próprias, únicas.</p><p>A) ascendentes e irmãos da criança ou adolescente encontram-se impedidos de adotá-lo: a finalidade da lei aqui é moral, já que a adoção se presta a romper o vínculo natural de filiação e parentesco. Com isso, a norma busca impedir a clara confusão que se estabeleceria no plano legal com a substituição de papéis entre familiares tão próximos, além da própria alteração da ordem sucessória; nada impedirá, contudo, que avós, bisavós, irmãos, assumam cuidados de criança ou adolescente, destinando-lhes afeto, valores morais e toda a assistência material, moral e educacional, e tornando aqueles seus dependentes para todos os fins, através das modalidades de guarda ou tutela (conforme a situação do poder familiar dos pais);</p><p>B) prévia prestação e aprovação de contas em caso de adoção por tutor ou curador: ao tratarmos da tutela, sustentamos que sua existência se justifica porque embora a família natural não seja uma potencial possibilidade de restabelecimento da convivência familiar, a tutela não pode em qualquer caso ser substituída pela adoção, seja porque o tutor talvez não deseje a constituição de um novo estado de filiação para o infante, seja porque legalmente o tutor talvez não possa adotar.</p><p>C) irrevogabilidade e excepcionalidade: a adoção é uma medida irrevogável, e se consolidada pela coisa julgada, somente um futuro processo de destituição do poder familiar sobre essa nova família formada pelo vínculo da adoção é que poderá romper o parentesco novamente.</p><p>5. Requisitos legais específicos da adoção:</p><p>Consentimento: a adoção depende do consentimento dos pais ou representante legal do adotando;</p><p>Fator etário – idade: O adotando (criança ou adolescente) deve contar com idade inferior a 18 anos completos</p><p>na data do pedido, e o adotante deverá contar com mais de 18 anos na data do pedido, independentemente do seu estado civil;</p><p>Estágio de convivência: A adoção será precedida de estágio de convivência pelo prazo máximo de 90 dias observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do caso, e pode ser prorrogado;</p><p>Estágio de convivência na adoção internacional: Tratando-</p><p>se de adoção internacional, é obrigatório o estágio de convivência e será de no mínimo 30 dias, e no máximo, 45 dias, prorrogável.</p><p>6. Direitos decorrentes da adoção:</p><p>A adoção determina o estabelecimento de novo vínculo de filiação, pois atribui a condição de filho ao adotado, com iguais direitos e deveres de eventuais filhos naturais da pessoa adulta adotante e também surge o direito conferido em razão da adoção é o da cessação dos vínculos jurídicos com os pais e membros da família natural de origem.</p><p>Como consequência da filiação plena e irrestrita, surge entre os parentes instituídos pela adoção o direito de sucessão recíproca, pois o adotado e seus descendentes, e o adotante, seus descendentes, ascendentes e colaterais até o 4o grau, passam a ter direitos sucessórios recíprocos, observada a ordem legal de vocação hereditária.</p>