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<p>modelo das gramáticas que até aquele momento eram produzidas, apesar de ter</p><p>um caráter normativo, que buscava “[…] propor uma norma para o português</p><p>do século XVI” (PINTO, 2004, documento on-line). Tinha também um caráter</p><p>linguístico e cultural, aludindo ao modo de falar dos portugueses daquele</p><p>período. A obra era composta de 50 capítulos, contendo normas gramaticais,</p><p>fonéticas, lexicológicas e, sobretudo, estudos etimológicos e sobre a sintaxe.</p><p>Tinha o objetivo de ser um primeiro registro da língua portuguesa, a fim</p><p>de perpetuá-la. Naquela época, Portugal estava buscando por uma “autonomia</p><p>nacional”. A gramática, então, seria uma forma de afirmar a identidade do</p><p>povo português, da nação portuguesa (PINTO, 2004).</p><p>Acesse o link a seguir e conheça a Grammatica da lingoagem portuguesa.</p><p>https://qrgo.page.link/3nN8N</p><p>Hoje, o conceito de gramática é muito amplo e debatido por teóricos, que</p><p>possuem distintas concepções sobre ela. É impossível falar de gramática</p><p>sem pensar em língua e sem trazer à tona a necessária relação entre elas.</p><p>As diferentes formas como a língua é concebida apontam para diferentes</p><p>concepções de gramática.</p><p>Uma das acepções de gramática é aquela que designa um livro, que possui</p><p>como assunto “[…] uma apresentação de elementos constitutivos de uma</p><p>língua” (FARACO; VIEIRA, 2016, p. 293). No entanto, os próprios autores</p><p>alertam para a abrangência do termo e da definição, refletindo sobre a ne-</p><p>cessidade de se manter aberta a pergunta o que é gramática? Isso ocorre</p><p>porque a língua é um objeto de estudo muito amplo e complexo, que suscita</p><p>diferentes reflexões e enfoques.</p><p>Uma gramática é um livro que, como tal, tem autoria e, consequentemente,</p><p>contém as percepções e os estudos de um determinado autor, sendo produzido</p><p>conforme as necessidades do momento histórico em que se insere. Não há,</p><p>portanto, apenas uma possibilidade de ver a língua, quer dizer, não há um</p><p>único conjunto de regras que a define.</p><p>Gramática2</p><p>Para estudar a língua, é necessário estudar o seu funcionamento. Segundo</p><p>Nasi (2007), a forma como as diferentes correntes teóricas dos estudos da lin-</p><p>guagem estudam os processos de fala e de escrita demonstra suas concepções</p><p>de língua e de gramática.</p><p>Gramatização</p><p>A gramatização das línguas foi abordada por Sylvain Auroux no livro A</p><p>revolução tecnológica da gramatização, e é um processo importante para o</p><p>estudo da gramática. A gramatização no mundo ocidental, que se dá a partir</p><p>do Renascimento na Europa, é equivalente a uma revolução tecnológica, como</p><p>o surgimento da escrita. Esse processo “[…] conduz a descrever e a instru-</p><p>mentar uma língua na base de duas tecnologias, que são ainda hoje os pilares</p><p>de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário” (AUROUX, 1992,</p><p>p. 65). Assim como o dicionário é, ainda hoje, um instrumento de consulta</p><p>sobre o certo e o errado na língua, a gramática também funciona como um</p><p>instrumento linguístico, uma vez que “[…] se torna simultaneamente uma</p><p>técnica pedagógica de aprendizagem das línguas e um meio de descrevê-las”</p><p>(AUROUX, 1992, p. 36).</p><p>Da gramaticalização, partem as noções de língua fluida e língua ima-</p><p>ginária, propostas por Orlandi e Souza (1988). Refletindo sobre a oposição</p><p>entre a língua “do mundo” — aquela falada no dia a dia, língua da interação</p><p>dos sujeitos — as autoras propuseram a ideia de língua fluida, ou seja, a</p><p>língua que não cabe em um conjunto de normas e, portanto, não é passível de</p><p>normatização. Por outro lado, a língua imaginária seria aquela sistematizada</p><p>pelos estudiosos da linguagem, que, a partir de certos artefatos, torna-se uma</p><p>língua da norma, um instrumento de coerção e de poder por parte daqueles</p><p>que possuem o domínio de seus saberes.</p><p>Essas propostas são relevantes para que você reflita, enquanto professor de língua</p><p>em formação, sobre a necessidade de estudar o funcionamento da língua e sobre o</p><p>papel das gramáticas, evitando abordá-las como um amontoado de regras passíveis</p><p>de serem apreendidas.</p><p>3Gramática</p>