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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA LIBRAS AULA 1 Profa. Joana Bonato Melegari 2 CONVERSA INICIAL Linguística e LIBRAS: língua natural versus língua artificial Nesta abordagem, exploraremos as nuances que perpassam tanto a Libras, como também a Língua Portuguesa1. Esse diálogo entre ambas as línguas se faz necessário para que você, enquanto pessoa Surda, possa descobrir os horizontes da língua que é tida como majoritária no Brasil, ou seja, de maior uso entre os cidadãos brasileiros, mas também será importante para que você, enquanto pessoa ouvinte, se alinhe à Libras, tida como artefato cultural da comunidade surda brasileira, conforme nos traz a Profa. Dra. Karin Strobel, em seu livro intitulado As imagens do outro sobre a cultura surda1 – é uma indicação de leitura que certamente te fará desenvolver um outro olhar acerca do mundo, um olhar surdo. Observe, também, as referências que constam na bibliografia deste capítulo, pois elas são uma espécie de material-base para todo estudo que permeia tanto a Libras como a Língua Portuguesa. Verdade é que, à medida que seus estudos avançam, você reconhecerá que se tratam de verdadeiros tesouros quando se tem um acesso inicial, e claramente, de forma posterior, mais aprofundado, ao estudo das Línguas que estão sendo tratadas aqui. Para esta abordagem, há uma divisão de dois grandes blocos: a Línguística como um todo e, então, um aprofundamento da Linguística da Língua de Sinais – e no nosso caso, a Libras. Você terá acesso a conceituações, aplicações e exemplos que elucidam o que lhe será ensinado, por meio de uma ramificação do que é o tema desta abordagem. Assim como a Libras possui toda uma trajetória até chegar às suas mãos, a Linguística também possui uma, e ela percorrerá uma trajetória até encontrar seu intelecto. 1 Editora UFSC, 2018 (4ª Edição, 1ª Reimpressão), 146 p. 3 TEMA 1 – LINGUÍSTICA: UMA BREVE INTRODUÇÃO Quando se fala em Língua, fala-se em Linguística; tratar sobre uma é tratar intrinsicamente sobre a outra. Basicamente – e não há nada básico no sentido como se conhece o sentido e significado desta palavra, ou seja, uma força de expressão –, a Linguística é o estudo da Linguagem Humana. Sim, trata- se de uma ciência com ramificações, cujo estudo, ainda que breve por aqui, se dará nesse espaço que dividiremos em conjunto. A ciência que é a Linguística também conversa com outras ciências, e seu estudo revela aspectos da interação humana, uma vez que é pelo uso da Língua e de diversas Linguagens que se estabelece a convivência social. Para seu breve entendimento, já definimos o que ela é, de forma superficial. Para compreendermos, alguns entendimentos são imprescindíveis. O primeiro entendimento é o que devemos ter por Linguagem. Entendemos que a Linguagem se trata de uma faculdade cognitiva, em que há possibilidade de produção de sentido. Partindo desse ponto, temos a subdivisão da Linguagem enquanto Não Verbal e Verbal. A Linguagem Não Verbal corresponde a elementos que não sejam linguísticos (e não iremos nos estender, entendendo que essa definição basta neste momento), como pintura, dança, símbolos, desenhos, teatros, entre outras formas. Já a Linguagem Verbal é aquela que se manifesta por meio do verbo, da palavra ou, então, da Língua (e é aqui a que estaremos nos atendo neste conteúdo), ou seja, escrita, fala e sinalização. 4 E, então, passamos para o linguista. Linguista é aquele que estuda a Língua em si e sua evolução ao longo do tempo, além do estudo de fenômenos linguísticos; o linguista não precisa ser usuário da Língua que está estudando, porque, muitas das vezes, não é a sua própria. Não há como considerar um linguista de outra forma que não seja, inicialmente, a acadêmica, pois é o meio formal que possibilita que se tenha acesso ao processo, unindo-se aos demais exploradores que trilham o mesmo caminho em busca de novas descobertas. Por fim, o entendimento que temos por Língua – e, mais adiante, aprenderemos melhor – é a sua formação por meio de módulos, de divisões, além de ser definida por seu léxico (conjunto de palavras, de sinais, de uma Língua) e sua gramática. Ferdinand de Saussure (1857-1913) é considerado o “Pai da Linguística Moderna”. Como dito anteriormente, faremos paralelos entre as línguas orais e sinalizadas, e parte de seus escritos, cuja organização se deu de forma póstuma, discute aspectos da Língua e Linguagem por meio das línguas orais. Portanto, termos como “acústica” e “som” (apesar de parecer, o significado não é o mesmo) são presentes, conforme consta no livro intitulado Curso de Linguística Geral, indicado na bibliografia do nosso estudo. Logo adiante, traremos uma fala da Linguística nas Línguas de Sinais. A Linguística, para Saussure, traz discussões relativas às impressões acústicas, à Linguagem – que se torna tão complexa ao ponto de não existir em si mesma, necessitando de uma estrutura mental –, à questão social – como bem foi colocado, a comunicação por meio da Língua e das diferentes Linguagens humanas, ou seja, não pode ser concebida sem a existência do outro –, e aos aspectos evolutivos da Linguagem e, por consequência, da Língua. A Língua é parte da Linguagem e é colocada à frente das demais, pois é considerada como uma faculdade inerente ao homem. Comum é a discussão entre linguistas acerca da Língua, tendo como base diferentes perspectivas e objetos específicos de estudo. 5 Avançando em nossa construção de conhecimento, a Linguística, quando escolhemos a Língua como enquanto objeto de estudo, estuda a Língua Natural e Humana, e, nesse aspecto, podemos conhecer a Linguística Estruturalista e a Linguística Gerativista. A Linguística explica fatos e, ao fazer isso, estuda a Linguagem e a Comunicação, ou seja, como ela se desenvolve internamente e como é a interação com o outro. A Língua pode ser tida como a “Linguagem regida por princípios, manifesta de forma oral/sinalizada”, de forma universal, não se restringindo ao território em que foram “criadas” e comunicadas naturalmente. TEMA 2 – LINGUÍSTICA: ESTRUTURALISMO E GERATIVISMO No estudo da Linguística, temos dois modelos linguísticos que giram em torno da Língua, estudadas por dois linguistas de renome: o já citado Ferdinand de Saussure e Avram Noam Chomsky (1928-), que, como bem se observa, não são contemporâneos. Entretanto, apesar de suas perspectivas distintas, há um enlace entre ambos os modelos linguísticos, fundamentais para entendimento da complexidade da relação do ser humano entre mundo interno-externo. 2.1 Estruturalismo A Linguística na sua forma Estruturalista é observada nos estudos de Saussure, colocando a Linguagem em formato de sistema cujas regras são necessárias para organização, estabelecimento de funções, internalização das mesmas pelos usuários de determinada Língua e posterior externalização para estabelecimento da Comunicação, que se dá por meio de interação social. Saussure enxerga a Língua como um sistema definido, interno, incapaz de existir senão por meio de uma rede de elementos. Partindo desse ponto, uma análise resultante de um recorte como objeto de estudo somente poderá ser realizada por meio de um conjunto de elementos, que, juntos, formam unidades maiores. A sistematização linguística permite uma investigação quanto à estruturação de uma língua (como de fato ela se organiza e é expressa), uma vez que há uma particularidade nas regras que permitem combinações, restrições e exceções de uma língua, variando de uma para outra. Seguindo o olhar de Saussure da Língua como um sistema, podemos citar aqui a sua Metáfora do Jogo de Xadrez. Para entendermos a metáfora, 6 precisamos primeiramente visualizar a importância que Saussure atribuía às concepções de langue e parole. Para Saussure,a langue é a parte importante, essencial, do estudo, enquanto a parole poderia ser deixada em um terreno à parte, porque, enquanto uma se manifesta de forma exterior, a outra se dá de forma interior, pois cada um dos sujeitos se expressa de determinada forma, dificultando a sistematização. A questão da parole não é observada em seus estudos, embora seja uma das quatro dicotomias tratadas por ele; as demais dicotomias são: Sincronia e Diacronia, Sintagma e Paradigma, e Significante e Significado, formando o Sign Primeira dicotomia – Sincronia e Diacronia: possuem relação com o aspecto temporal. A primeira se trata de um recorte do estudo da Língua, enquanto a outra se dá por um estudo ao longo do tempo. Segunda dicotomia – Língua e Fala: já aqui colocadas. De forma a reforçar seu entendimento, a Língua possui relação com o social, porque se manifesta entre falantes; já a Fala, apesar de também se manifestar entre 7 falantes, parte de escolhas individuais, e, portanto, não é sistematizada como a própria Língua o é, sendo tida como secundária em seus estudos. Terceira dicotomia – Sintagma e Paradigma: de um modo objetivo, Paradigma são as palavras do discurso, enquanto Sintagma é justamente a combinação das palavras do discurso, em um eixo linear, sendo a reprodução organizada e completa da escolha das palavras anteriormente realizada, resultando na materialização do pensamento, por meio da fala. Como também possui relação com a fala, que, como sabemos, não é o estudo-chave de Saussure, contentemo-nos com esta breve explanação. Quarta Dicotomia – Significante e Significado: a mais conhecida e importante dicotomia, na qual há formação do Signo Linguístico. Saussure traz que o Significante é a acústica ao que está se referindo e Significado é o conceito do que se refere. É importante ressaltar aqui que, como dito, o linguista suíço trabalhava com línguas orais, portanto, a presença do “acústico”. Nos conteúdos posteriores, em seu devido momento, trataremos acerca do Signo Linguístico. 2.2 Gerativismo A Linguística na sua forma Gerativista é observada nos estudos de Chomsky, chamada de Gramática Gerativa. Diferente da vertente de Saussure, o Gerativismo observava a Linguagem, representada pela Língua, como um aspecto cognitivo e humano, não mais manifesto em algum outro ser. A análise da Língua, por essa vertente, possui a cognição humana como centro. Para a explanação de sua concepção, Chomsky traz a Língua como elemento inato e restrito à espécie humana, de forma biologicamente natural. Neste modelo linguístico, os gerativistas entendem que os usuários de determinada língua conseguem produzir e compreender “partes” da língua, como palavras, por exemplo, sem que tenham de fato as ouvido em algum momento (ou então as visto em algum momento, caso das línguas de sinais, língua visual- espacial). Essa defesa corrobora com o fato de que a formação do indivíduo enquanto aquele que possui conhecimento seja indiferente, já que todas as pessoas, impreterivelmente, seriam potencialmente capazes de produzir e compreender palavras, frases, nesse contexto, desde as mais simples até as mais elaboradas. 8 O Gerativismo defende a ideia de que a Língua pode ser transmitida de forma genética, tendo o cérebro organizado por meio de módulos, partes em que é dividido. De forma abrangente, entende-se a gramática como interiorizada, como uma espécie de dicionário mental, em que regras são programadas de forma categorizada. O Diagrama Arbóreo de Chomsky: para facilitação do entendimento do Gerativismo de Chomsky, um diagrama ramificado é construído, de forma visual e detalhista, havendo melhor identificação das classes gramaticais quando são analisadas frases. Por conta de seu formato, que lembra raízes, chamamos de Diagrama Arbóreo. Diagrama 1 – Exemplo de aplicação do Diagrama Arbóreo de Chomsky Fonte: elaborado com base em Vernáculo da Física. O diagrama acima trata apenas de uma reprodução da análise sintáxica de determinada oração em Língua Portuguesa, para exemplificar como é feita uma análise sob a perspectiva do Gerativismo. Este ponto não será explorando, sendo apresentado apenas como uma forma de satisfação de curiosidade. Ambos os modelos linguísticos, o de Saussure, com o Estruturalismo, e o de Chomsky, com o Gerativismo, nos apontam que há diversos estudos dentro do campo da ciência Linguística e que, embora se apresentem com aparência 9 de serem diametralmente opostos, podem, sim, agregar valor um em relação ao outro. TEMA 3 – LINGUÍSTICA: METÁFORA DO JOGO DE XADREZ E A GRAMÁTICA UNIVERSAL (GU) Para que possamos melhor entender e fixar o estudo da Língua, conheçamos a Metáfora do Jogo de Xadrez; essa metáfora permitirá que você melhor entenda a Língua e a Linguagem. Consideramos, neste momento, que o estudo da Linguagem se trate de uma partida de xadrez. Durante uma partida, duas situações são possíveis: a observação do jogo de forma ampla (no sentido de início e fim) e por etapas, ou seja, a movimentação de cada peça. A observação ampla se trata da Diacronia, enquanto a Sincronia trabalha por partes. A Sincronia analisa parte do movimento, as estratégias, as possibilidades, e assim ocorre com a Língua. Você se lembra da langue e da parole? Pois então, elas também aparecem por aqui, sendo entendidas, de forma respectiva, sob a perspectiva Sincrônica e Diacrônica. Sabemos que Saussure dava à fala um lugar secundário, mas não nos esquecemos de que quem realiza o seu estudo é a Sociolinguística, que trabalha com a aplicação no social. Se você assim preferir, veja o movimento do jogo de xadrez por meio do olhar do jogador, aquele que faz com que as peças se movam, assim como os Linguistas estudam e analisam a língua por partes, enquanto você pode ver um espectador do lado de fora, observando os movimentos que estão sendo realizados. No bloco anterior, visualizamos duas vertentes que parecem ser opostas (e que, de fato, até mesmo podem ser), mas que agregam valor de forma mútua. Acabamos de visualizar algo que assevera a Teoria de Saussure. Agora, vejamos algo que vem para corroborar com a Teoria de Chomsky, a Gramática Universal, a qual nos referiremos como GU. O Gerativismo, como você aprendeu, lança âncora à questão da Linguagem como inata, ou seja, há uma predisposição por parte de qualquer indivíduo no desenvolvimento de sua Linguagem. Entendendo isso, há menção a estímulos que vêm do social, chamados de inputs, enquanto se formam estruturas linguísticas, internamente, chamadas de outputs. A GU é a parte em que se dá início à aquisição da Linguagem. Isso quer dizer que o indivíduo – no 10 caso, uma criança (já que estamos falando da Linguagem enquanto inata) – está em um ambiente em que a Linguagem ocorre e, logicamente, a Língua está presente, e onde ela assimila a mesma, em sua mente. Este é um processo que, apesar de social, externo, porque a Língua não se desenvolve sozinha, também é individual, interno, porque ocorre de forma particular. A partir da assimilação realizada, há ação por parte do saber linguístico para estabelecimento de comunicação com os demais indivíduos. O resultado desse processo é visto como uma relação entre a forma linguística (a sua aprendizagem e desenvolvimento) e a função linguística (para que ela é utilizada, no caso, para comunicação). Lembra-se do Diagrama Arbóreo de Chomsky? Esse diagrama possui relação com o que é tido por Gramática Popular. Seu entendimento é muito objetivo. Entende-se a Gramática como aquela dividida em módulos, em partes, em que os componentes gramaticais, de forma separada, passam por uma análise, enquanto a Sintaxe (estudo das regras que constroem frases nas línguas) se torna a parte central da Gramática. No nosso diagrama, a Sintaxe estava sendo representada pela Frase/Oração. A GUé uma espécie de detalhamento qualitativo do que entendemos como Linguagem. Chomsky sustenta que a Linguagem está presente em todos os seres humanos, de forma biológica, como uma herança, ou então, a título de comparação, a GU pode ser entendida como uma espécie de programação de um sistema em que há uma descrição do passo a passo de como se desenvolve uma língua. Tivemos bom acesso ao conhecimento da Linguística como um todo, tanto relativa às línguas orais como às línguas sinalizadas, uma vez que estivemos percorrendo questões teóricas. Em conteúdos posteriores, vamos conhecer as divisões da Linguística, tanto da Língua Portuguesa como da Libras, de forma mais palpável, com a aplicação de exemplos para maior entendimento. A partir deste momento, até o fim desta abordagem, adentraremos outros aspectos relativos à Língua, entendendo melhor algumas conceituações. TEMA 4 – LÍNGUA NATURAL Sendo bem objetivos, Língua Natural (como o próprio nome diz) é a Língua que se desenvolve de forma espontânea, por meio de um indivíduo em meio à comunidade em que há circulação desta mesma Língua e por meio de 11 falantes desta. Tratar sobre a espontaneidade de uma Língua é tratar sobre um campo que se origina da Linguística, a Sociolinguística, ou seja, a aplicação da Linguística em sociedade, por meio dos usuários da Língua. Uma Língua Natural ocorre em diferentes ambientes, sendo considerada um fenômeno histórico, já que a língua não apenas reproduz o que tanto foi utilizado, falado e sinalizado ao longo do tempo, mas também revela parte dos processos criativos da língua. Curiosamente, a Língua se autossupera, no sentido de que, de forma constante, a própria Língua permite novos conhecimentos, e, então, o que já é sabido continua se sabendo, mas novo valor é agregado. A Linguística passou por processos de delimitação, de sistematização e de implementação, sendo descrita e explicada em diferentes aspectos. A aplicação da Linguística por meio da Sociolinguística revela diversidade na Língua. A Língua é um registro histórico de um grupo, e citamos aqui a comunidade surda, composta por sujeitos surdos e ouvintes, usuários de Libras, que vivenciam a cultura e fazem uso dos artefatos culturais surdos – materiais ou imateriais (a Língua é tida como imaterial nesse contexto). A língua é herança, é produto de um uso que se estende ao longo do tempo, é interação, é o cumprimento de sua função que é a comunicação. Entendendo esses pontos, não é possível afirmar que uma comunidade – no caso, a surda, já que a todo tempo retomaremos à Libras – seja homogênea. Um indivíduo faz parte de uma mesma comunidade linguística quando internaliza a gramática da língua, o léxico da língua – claro, de forma natural, com o uso e com as formalidades que um ambiente formal de estudo proporciona –, e quando se vê como um potencial agregador de valor, de conhecimento, e de experiências linguísticas, fazendo parte de um meio em que enxerga seus pares. Portanto, é um conceito importante: 12 Reforçando, a Língua Natural é utilizada para comunicação. É não intencional no sentido de que não houve uma construção para que ela passasse a existir. Ela simplesmente surge. Há outras espécies de Linguagem que apresentam estrutura diferente da Língua, como a Linguística Computacional, por exemplo. As Línguas Naturais se valem da Fonética (línguas orais), Fonologia, Morfologia, Sintaxe, Semântica e Pragmática. É diametralmente oposta à Língua Artificial, que estudaremos no último bloco deste conteúdo, e evolui de forma natural. Todas as Línguas Naturais passam por processos de mudança, uma vez que não são efêmeras. Quando nos deparamos com pessoas conversando em Libras e temos acesso a registros anteriores, como no século passado, observamos claramente o uso de léxicos diferentes para expressar ideias, pensamentos, para a transmissão de dados e de informações. É o mesmo que assistir a um filme de época, no qual a linguagem utilizada é outra, mas completamente entendida em seu contexto. Os linguistas realizam a função de traçar um estudo do paralelo da Língua em determinado período comparada com a forma como é utilizada hoje. Uma discussão importante quanto às Línguas Naturais é a do Purismo Linguístico. O Purismo visa preservar elementos relativos à norma, objetivando conservar alguns aspectos que podem variar quanto à perspectiva de quem faz uso da língua – no caso, a Libras. Neste momento, traremos duas reflexões quanto a esse ponto. Aspecto A: respeito à herança linguística A primeira reflexão a nós posta é a não manutenção da língua, no sentido de que se defende que a língua seja utilizada, mas como forma de se respeitá- la, o uso do empréstimo linguístico, por exemplo, acaba não sendo incorporado, sendo considerado, até mesmo, grosso modo, uma espécie de mácula. Portanto, 13 principalmente em relação ao léxico, há um sentimento intrínseco de respeito, de permitir que sinais não passem por transformações naturais, como uma forma de manter o que um dia foi criado de forma natural. Exemplo 1A – Sinal de “Vila Izabel”2 em Libras Fonte: Melegari. Disponível em: <https://youtu.be/FR2P8_BzSwA>. Acesso em: 9 set. 2023. Exemplo 1B – Sinal de “Vila Izabel”3 em Libras Fonte: Melegari. Disponível em: <https://youtu.be/FR2P8_BzSwA>. Acesso em: 9 set. 2023. 2 Bairro da cidade de Curitiba, no estado do Paraná. 14 Que não sejam estranhos estes exemplos. Ambos os sinais para “Vila Izabel” são sinais convencionalizados, ou seja, um acordo comum entre os usuários da Libras, para o entendimento de que, quando estes sinais são realizados, o usuário faça relação com o bairro. A questão é: o primeiro sinal é um sinal que coloquialmente é chamado de “sinal antigo” e que foi (ou não, dependendo de quem está sinalizando) substituído pelo segundo sinal. Os que defendem o purismo de uma língua possuem tendências fortes de manter o uso do primeiro sinal, que remete a algo anterior, do que fazer o uso do “novo” sinal, mesmo que outras pessoas estejam realizando este e que tenham entendimento de que se referem ao sinal do bairro citado. Aspecto B: não introdução de elementos pertencentes a outra língua A segunda reflexão que reforça o Purismo por diferentes usuários da Libras (reforçando, nossa língua foco do estudo) é o não uso de elementos que são comuns a outra língua; em nosso caso, uma língua de modalidade diferente, como uma oral-auditiva, a Língua Portuguesa, com a presença de letras, do alfabeto manual, nos sinais. Ao processo em que há aquisição de palavras que pertencem a outra língua que não a que está sendo trabalhada, dá-se o nome de empréstimo linguístico; o alfabeto manual que se usa na Libras é tido como um empréstimo linguístico da Língua Portuguesa. Isso acontece porque há um entendimento de que o alfabeto manual, realizado por meio da datilologia em Libras, é equivalente à soletração que se tem em línguas orais, ou seja, há uma correspondência direta entre a letra do alfabeto da Língua Portuguesa e a sua representação por meio da Libras, com determinada Configuração de Mão (CM) – tópico este que será abordado em conteúdos posteriores. Há quem acredite que esse empréstimo linguístico acabe “contaminando” a Libras de alguma forma, visão esta que parece não ser adequada, mas é colocada aqui apenas para efeitos de conhecimento. 15 Estas são duas reflexões que se fazem necessárias quando damos um passo em direção ao estudo da “pureza” de uma língua, e você perceberá que o papel do linguista é estudar um fenômeno da língua, sob diferentes perspectivas e diante de diferentes embasamentos pós-análise, formulados ao longo do tempo. A Libras possui formas de empréstimo linguístico que não se apresentam como se pode ver nas línguas orais, e nem iremos nos estender por aqui, mas issoocorre pela modalidade da língua, mais uma vez, visual-espacial para a Libras e oral-auditiva para a Língua Portuguesa. Ainda assim, é comum haver um paralelo costumeiro entre as duas línguas e naturalmente influências existem, por conta do contato. A datilologia (uso do alfabeto manual) vem para suprir a necessidade de se reproduzir nomes próprios (pessoas e lugares, por exemplo), ou para, temporariamente, suprir a falta de uma equivalência de tal palavra, em Libras. Uma outra discussão que suscita outras discussões é a definição de pertencimento da língua, que pode se mostrar como um entrave no avanço desta. A quem pertence tal língua? Esse questionamento pode possuir uma resposta que possivelmente transformaria as reflexões anteriores em afirmativas. O nosso entendimento, prezado(a), é que a língua pertence a quem a quiser, de quem dela usufrui para se comunicar. A Língua Portuguesa tem suas origens do Latim, e a Libras (ou então, LSB3), da Língua de Sinais Francesa (LSF4). TEMA 5 – LÍNGUA ARTIFICIAL Aprendemos que a Língua Natural é espontânea, é utilizada por diferentes pessoas e evolui enquanto língua. A Língua Artificial é justamente o oposto de uma Língua Natural, ou seja, ela não é espontânea, e que até chega a evoluir, mas não como uma Natural. Uma Língua Artificial é uma língua que passa por estágios de construção, sempre tendo em vista algum objetivo para o qual ela está sendo criada. Vejamos dois exemplos: 3 Sigla para Língua Brasileira de Sinais. 4 Sigla para Langue des Signes Française. 16 O Esperanto5 é uma Língua Artificial de modalidade oral-auditiva, criada por Ludwik Lejzer Zamenhof, filólogo polonês, que possui suas bases no Latim, mas que inclui elementos eslavos (povos da região central e oriental da Europa), germânicos (povos da região norte da Europa) os oriundos da França e de Portugal. É um idioma do tipo que “se fala como se escreve”, pautada por regras fundamentais. Abaixo, você pode visualizar a bandeira do Esperanto enquanto movimento de divulgação, adotada em 1905. Imagem 1 – Bandeira do Movimento Esperanto Crédito: Atlantis/Adobe Stock. O Esperanto é uma língua para comunicação internacional, diferente da Língua Inglesa, língua comercialmente internacional, universal (por meio de processos políticos, econômicos e culturais), cuja gramática e estruturas são utilizadas assim como os falantes nativos. O Esperanto, muitas vezes, é considerada uma Língua Franca. 5 Para mais informações acerca do Esperanto, acesse: <https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2020/11/26/conheca-o-esperanto--lingua-planejada- mais-falada-do-mundo.html>. Acesso em: 9 set. 2023. 17 Uma Língua Franca é uma língua adotada, elegida, conhecida entre os grupos, para estabelecimento de comunicação, seja de forma temporária ou por um período de tempo maior. Consideremo-nos falantes da Língua Portuguesa. Deparamo-nos com falantes da Língua Inglesa. Descobrimos que nós e este outro grupo conhecem uma outra língua, a Libras, por exemplo. A partir desse momento, ambos os grupos se comunicam em Libras, porque supomos não conhecer a Língua Inglesa e o outro grupo não conhecer a Língua Portuguesa. Percebeu que uma terceira língua foi escolhida para que houve comunicação? O Esperanto pode ser uma Língua Franca em determinado contexto, mas sua definição é entendida como uma Língua Artificial. O outro exemplo é o Gestuno, também considerado uma Língua Artificial, mas na modalidade visual-espacial, ou seja, uma língua sinalizada. Como você bem deve saber, as línguas de sinais se apresentam no plural, porque, assim como as línguas orais, temos diferentes e diversas línguas de sinais, logo a Libras mesmo não é universal. A Libras é a língua de sinais utilizada pela comunidade surda brasileira6, como meio legal de comunicação e expressão. Vale colocar aqui que a Libras não é a segunda língua oficial brasileira, mas sim oficialmente reconhecida como 6 Para mais detalhes, acesse a Lei n. 10.436/02, por meio do link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 9 set. 2023. 18 língua de uso corrente da comunidade surda. Além disso, aqui no Brasil, temos registros de outras línguas de sinais, como a Língua de Sinais Urubu-Ka”apor, língua esta utilizada por surdos indígenas de um povo indígena do Maranhão, de mesmo nome que deu origem ao nome da língua de sinais, e uma recente estudada língua de sinais, Cena, língua utilizada por pessoas surdas e ouvintes, considerada compartilhada, em Várzea Queimada, povoado do Piauí. O Gestuno também é conhecido por sistema de Sinais Internacionais (SI)7. Essa forma de comunicação permite que usuários deste sistema, em diferentes contextos linguísticos, possam conversar entre si. Verdade é que o Gestuno (muito similar ao Esperanto, mas nas línguas sinalizadas) não é visto como os SI, pois este último não é tido como uma língua, mas sim um sistema em que há uso de iconicidade em conjunto com o uso de sinais de outras línguas de sinais; essa definição é estabelecida pela Federação Mundial de Surdos8. A diferença entre ambos reside no fato de que os SI, por exemplo, não apresentam um sistema fixo de regras. Aqui, estamos pincelando alguns tópicos curiosos. Uma Língua Artificial como o Gestuno, pela comunidade surda, não é considerada nem como uma língua, justamente pela sua característica de não ser natural. É importante aqui colocar que tanto para o Gestuno, como para os SI, há profissionais habilitados para atuação, estando presentes, comumente, em congressos. Conseguiu observar as diferenças entre uma Língua Natural e uma Língua Artificial? NA PRÁTICA Vamos recapitular os conhecimentos que adquirimos ao longo deste capítulo. Para a nossa Prática, construiremos uma nuvem de palavras, muito similar a um mapa mental. Um mapa mental é uma espécie de diagrama que traça diferentes caminhos, organiza ideias e conceitos. Uma nuvem de palavras não é um diagrama, mas reúne em um mesmo espaço, palavras que você deve se ater quando se lembrar do conteúdo deste primeiro capítulo. Vamos relembrar juntos. 7 International Sign. 8 World Federation of the Deaf (WFD). 19 Se pudermos fazer um breve levantamento do que estudamos até o momento, o faríamos da seguinte forma: A Linguagem é uma faculdade cognitiva que se subdivide em dois grupos, o Não Verbal e o Verbal, cujo um dos focos de nosso estudo se encontra na Língua. A Língua faz parte da Linguagem, e nela encontramos as que são Orais, ou seja, as que se manifestam pela fala, pelos sons das palavras, e as Sinalizadas, que se manifestam por meio das mãos, pelos sinais; essas modalidades de Língua, entendemos como Oral-Auditiva e Visual-Espacial, respectivamente. Em meio aos estudos linguísticos, conhecemos linguistas como Saussure e Chomsky, cujos estudos agregam valor entre si, fazendo com que se tornasse mais valioso o entendimento que temos por Língua. Para Saussure, a Língua é um sistema definido de regras, e seu estudo se baseia em si mesma, no que nada fala, presente na dicotomia langue – parole. Para Chomsky, ela é inata, com predisposição genética, biologicamente natural. Por meio dessas duas vertentes, conhecemos o Estruturalismo, no qual a língua é um sistema cujas regras são necessárias para organização, função e internalização/externalização, e o Gerativismo, que vê a Língua como uma transmissão genética. 20 Para que pudéssemos entender melhor o Estruturalismo e o Gerativismo, conhecemos, então, a Metáfora do Jogo de Xadrez e a G. U. (também presentes nos estudos da Aquisição da Linguagem). A Língua Natural é aquela que se desenvolve de forma espontânea, humana, não intencional, em que podemos encontrar elementos como o Purismo, com a preservação de elementos da norma, e o Empréstimo Linguístico, com a aquisição depalavras que pertencem a outra língua. Já a Língua Artificial não é espontânea, chegando até a evoluir, mas passando por estágios conscientes de construção. Por fim, estudamos sobre a Língua Franca, que se mostra como a adoção de uma língua para comunicação entre pessoas que estão em determinado local, podendo ser temporária ou se estender mais. Por fim, nos deparamos com o Esperanto, com o Gestuno e com o S.I., conhecendo estas línguas e sistema (os S. I.), enquanto Artificiais. Revisite esta parte do conteúdo quantas vezes forem necessárias. FINALIZANDO Este capítulo se mostrou mais teórico, porque era necessário que você entendesse, de forma inicial, as conceituações que nos permitirão avançar em nossos estudos iniciais. A partir do capítulo 2, você poderá entender melhor, com exemplos práticos, os estudos que estamos desenvolvendo. Prossigamos. 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA BÁSICA QUADROS, R. M. de.; KARNOPP, L. B. Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. 224 p. SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. 28. ed. Organização: Charles Bally e Albert Sechehaye; colaboração: Albert Riedingler; prefácio à edição brasileira: Isaac Nicolau Salum. Tradução: Antônio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 2012. 312 p. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR GESSER, Audrei. LIBRAS? que língua é essa: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. 88 p. McCLEARY, L. Sociolinguística. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2009. 59 p. MENGARDA, E. J. Fundamentos da Linguística. Indaial: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI, 2012. 207 p. STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. 4. ed. 1. reimp. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2018. 146 p. DEMAIS FONTES ALMEIDA-SILVA, A.; NEVINS, A. I. Observações sobre a estrutura linguística da Cena: a língua de sinais emergente da Várzea Queimada (Piauí, Brasil). Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 23, n. 4, out./dez. 2020. 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Esse diálogo entre ambas as línguas se faz necessário para que você, enquanto pessoa Surda, possa descobrir os horizontes da língua que é tida com... Observe, também, as referências que constam na bibliografia deste capítulo, pois elas são uma espécie de material-base para todo estudo que permeia tanto a Libras como a Língua Portuguesa. Verdade é que, à medida que seus estudos avançam, você reconhe... Para esta abordagem, há uma divisão de dois grandes blocos: a Línguística como um todo e, então, um aprofundamento da Linguística da Língua de Sinais – e no nosso caso, a Libras. Você terá acesso a conceituações, aplicações e exemplos que elucidam o q... TEMA 1 – LINGUÍSTICA: UMA BREVE INTRODUÇÃO Quando se fala em Língua, fala-se em Linguística; tratar sobre uma é tratar intrinsicamente sobre a outra. Basicamente – e não há nada básico no sentido como se conhece o sentido e significado desta palavra, ou seja, uma força de expressão –, a Linguí... Para compreendermos, alguns entendimentos são imprescindíveis. O primeiro entendimento é o que devemos ter por Linguagem. Entendemos que a Linguagem se trata de uma faculdade cognitiva, em que há possibilidade de produção de sentido. Partindo desse po... E, então, passamos para o linguista. Linguista é aquele que estuda a Língua em si e sua evolução ao longo do tempo, além do estudo de fenômenos linguísticos; o linguista não precisa ser usuário da Língua que está estudando, porque, muitas das vezes, n... Por fim, o entendimento que temos por Língua – e, mais adiante, aprenderemos melhor – é a sua formação por meio de módulos, de divisões, além de ser definida por seu léxico (conjunto de palavras, de sinais, de uma Língua) e sua gramática. Ferdinand de Saussure (1857-1913) é considerado o “Pai da Linguística Moderna”. Como dito anteriormente, faremos paralelos entre as línguas orais e sinalizadas, e parte de seus escritos, cuja organização se deu de forma póstuma, discute aspectos da Lí... A Linguística, para Saussure, traz discussões relativas às impressões acústicas, à Linguagem– que se torna tão complexa ao ponto de não existir em si mesma, necessitando de uma estrutura mental –, à questão social – como bem foi colocado, a comunicação por meio da Língua e das diferentes Linguagens humanas, ou seja, não pode ser concebida sem a existência do outro –, e aos aspectos evolutivos da... Avançando em nossa construção de conhecimento, a Linguística, quando escolhemos a Língua como enquanto objeto de estudo, estuda a Língua Natural e Humana, e, nesse aspecto, podemos conhecer a Linguística Estruturalista e a Linguística Gerativista. A L... TEMA 2 – LINGUÍSTICA: ESTRUTURALISMO E GERATIVISMO No estudo da Linguística, temos dois modelos linguísticos que giram em torno da Língua, estudadas por dois linguistas de renome: o já citado Ferdinand de Saussure e Avram Noam Chomsky (1928-), que, como bem se observa, não são contemporâneos. Entretan... TEMA 3 – LINGUÍSTICA: METÁFORA DO JOGO DE XADREZ E A GRAMÁTICA UNIVERSAL (GU) GESSER, Audrei. LIBRAS? que língua é essa: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. 88 p. STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. 4. ed. 1. reimp. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2018. 146 p. DEMAIS FONTES BAGNO, M. Língua. Glossário Ceale – Termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para educadores. Disponível em: <https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/lingua>. Acesso em: 9 set. 2023. BAGNO, M. Linguagem. Glossário Ceale – Termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para educadores. Disponível em: <https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/linguagem>. Acesso em: 9 set. 2023. CABRAL, M. da S. Um breve percurso sobre a história da Linguística e suas influências na Sociolinguística. UOX – Revista Acadêmica de Letras-Português, Santa Catarina, n. 2, jan. 2014. Disponível em: <https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/uox/article/vi... CRISTIANO, A. Urubu-Kaapor. Libras, 26 ago. 2018. Disponível em: <https://www.libras.com.br/urubu-kaapor>. Acesso em: 9 set. 2023. DETERMINISMO e Gramática Sintagmática (GS) – Parte 1. Disponível em: <https://alexandrehefren.wordpress.com/2010/03/14/determinismo-e-gramatica-sintagmatica-gs-parte-1/>. Acesso em: 9 set. 2023. ESPERANTO – La Internacia Lingvo. Disponível em: <https://esperanto.net/pt/esperanto-a-lingua-internacional/>. Acesso em: 9 set. 2023. FERNANDES, L. A. Empréstimo linguístico na Libras: lematização de sinais puramente datilológicos no dicionário Novo DEIT-Libras. 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Publicado pelo canal Educadores do Amanhã. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Q7lIwpcMmE0&>. Acesso em: 9 set. 2023. SOARES, N. L. De S. et al. Estruturalismo, Gerativismo e Funcionalismo: novas perspectivas para o ensino de Gramática da Língua Portuguesa na Escola. E-book I CONEIL, Campina Grande, Realize Editora, v. 2, p. 218-230, 2020. Disponível em: <https://www... VOCÊ SABE o que são os Sinais Internacionais usados pelos surdos? Disponível em: <https://petletras.paginas.ufsc.br/2021/04/22/voce-sabe-o-que-sao-os-sinais-internacionais-usados-pelos-surdos/>. Acesso em: 9 set. 2023. ZAMBONIM, D. J. Língua natural: enfoque sociolingüístico. ALFA: Revista de Linguística, v. 33, 1989. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/107641>. Acesso em: 9 set. 2023.
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