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<p>AULA 2</p><p>O ENSINO DE HISTÓRIA E SUAS</p><p>LINGUAGENS</p><p>Profª Amanda Cieslak Kapp</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Esta aula tratará sobre a relação entre o cinema e a história. Para iniciar,</p><p>abordaremos a presença das linguagens audiovisuais no cotidiano. A seguir</p><p>pensaremos sobre questões como ficção e efeito de real, para depois estudar as</p><p>produções fílmicas como fontes históricas. Em seguida, discutiremos sobre os</p><p>percursos teóricos-metodológicos para a utilização de filmes em sala de aula.</p><p>TEMA 1 – UM MUNDO DE SONS E IMAGENS</p><p>Não é nenhuma novidade afirmar que nosso cotidiano é dominado pela</p><p>profusão de cores, sons e imagens. Especialmente entre crianças e adolescentes,</p><p>o ouvir e o ver são sentidos que guiam a percepção de mundo e a própria</p><p>construção de suas identidades.</p><p>De formas diferenciadas, com maior ou menor intensidade, o dia a dia de</p><p>alunos tanto do ensino fundamental como do ensino médio é permeado por</p><p>linguagens audiovisuais, ficcionais ou não. Este cenário foi intensificado</p><p>drasticamente desde o início do nosso século, no entanto, já nos acompanha</p><p>desde os anos 1900.</p><p>Figura 1 – Cine Íris, Rio de Janeiro, 1921, fotografado por Augusto Malta</p><p>Fonte: Brasiliana Fotográfica, 2016.</p><p>3</p><p>As primeiras salas de cinema chegaram ao Brasil no início do século XX.</p><p>Eram poucas e existiam apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Vale lembrar</p><p>que a eletricidade ainda era novidade e uma realidade para pouquíssimas</p><p>pessoas e ambientes. Com sua gradativa popularização, as salas e projeções</p><p>cinematográficas passaram a fazer parte de outros locais do Brasil.</p><p>Dessa forma, se faz cada vez mais necessário refletir sobre a inserção</p><p>dessas linguagens na construção do conhecimento histórico em sala de aula. A</p><p>presente aula trata especificadamente do cinema. Não é de hoje que os</p><p>professores utilizam produções fílmicas em suas aulas. Tal prática se tornou mais</p><p>comum notadamente a partir das transformações ocorridas em torno do</p><p>entendimento do que são fontes histórias (tema abordado na aula 1).</p><p>A noção de que qualquer vestígio do passado é fonte histórica, desde que</p><p>contextualizado e questionado, abriu uma série de possibilidades ao professor. O</p><p>processo de ensino/aprendizagem deixou de estar focado apenas na utilização de</p><p>materiais didáticos escritos e impressos e em aulas completamente teóricas e</p><p>expositivas.</p><p>O cinema foi à escola, e a projeção de filmes e/ou de outras produções,</p><p>além de contribuir com os objetivos mais específicos de cada disciplina, favoreceu</p><p>também questões e habilidades mais amplas, tais como:</p><p> O trabalho interdisciplinar entre disciplinas como história, geografia, artes,</p><p>língua portuguesa, literatura, filosofia e sociologia;</p><p> A oportunidade de consumo de linguagens audiovisuais que, muitas vezes,</p><p>não fazem parte da realidade/cotidiano do aluno, e que possuem outros</p><p>fins além do entretenimento e de outras características dos meios de</p><p>comunicação de massas;</p><p> A capacitação para leitura de obras/produções ficcionais e suas relações</p><p>com as diversas áreas do conhecimento e esferas da sociedade.</p><p>TEMA 2 – PROBLEMATIZANDO O “EFEITO DE REAL”</p><p>Comecemos pelos significados de ficção:</p><p>1. “Ato ou efeito de fingir;</p><p>2. Invenção fabulosa ou engenhosa;</p><p>3. Criação de caráter artístico, baseada na imaginação, mesmo se idealizada</p><p>a partir de dados reais;</p><p>4</p><p>4. Fábula;</p><p>5. Interpretação ou relato subjetivo de um fato ou de uma ideia;</p><p>6. Suposição do orador para abrilhantar ou reforçar o discurso (Aurélio, 2018).</p><p>Tais definições, que se somam e se complementam, foram mobilizadas</p><p>logo de início porque nos auxiliam a questionar uma percepção ainda muito</p><p>recorrente de que algumas produções são reflexos fidedignos de determinados</p><p>contextos e realidades. Conforme apontou Marcos Napolitano, este é um</p><p>julgamento “errôneo e tradicional”.</p><p>Ele ocorre especialmente com relação a fontes audiovisuais que são</p><p>consideradas como testemunhos, provas diretas do passado. Esta visão é</p><p>denominada objetivista. Os filmes que servem de base para tal interpretação são,</p><p>notadamente, aqueles de caráter documental, que se propõem ao “(...) registro</p><p>direto de eventos e personagens históricos” (Napolitano, 2011, p. 236).</p><p>A ideia de que tais filmes podem ser entendidos e utilizados em sala de</p><p>aula como fontes de acesso à história é proveniente do “efeito de realidade”. Este</p><p>é resultado do trabalho com sons e imagens. Os procedimentos técnicos aliados</p><p>à representação de eventos que realmente ocorreram no passado criam no</p><p>expectador a impressão do real.</p><p>O efeito de real ocorre especialmente quando se tratam de:</p><p> Filmes documentários;</p><p> Filmes com tramas históricas;</p><p> Produções jornalísticas de diversas naturezas.</p><p>Essas produções são ainda muitas vezes entendidas como documentos</p><p>históricos que possibilitam acesso a determinadas realidades, especialmente em</p><p>razão da força das imagens, da criação de cenários, de caracterizações físicas</p><p>(uso de acessórios e vestimentas) e da inserção direta de relatos e documentos.</p><p>O grande problema se encontra na utilização dessas produções como</p><p>relatos certeiros do passado. Sabe-se que já foi prática comum de muitos</p><p>professores lançar mão de filmes como ilustrações de determinado contexto</p><p>histórico para dar conta do conteúdo ou temática.</p><p>Perceber que tais linguagens não podem ser entendidas como provas do</p><p>passado não impossibilita, de forma alguma, que continuem sendo utilizadas</p><p>pelos professores em sala de aula como recurso para o ensino/aprendizagem. É</p><p>sobre esta questão que o próximo item tratará.</p><p>5</p><p>TEMA 3 – A “NOVA HISTORIOGRAFIA” E A LINGUAGEM FICCIONAL</p><p>Até aqui, discutimos sobre um problema muito comum na utilização de</p><p>filmes, tanto por historiadores em suas pesquisas quanto por professores em sala</p><p>de aula. Trata-se de enxergá-los como representações diretas de algum contexto</p><p>específico.</p><p>Estudiosos da temática apontam que os principais problemas encontrados</p><p>em abordagens acadêmicas e didáticas que se ancoram em produções fílmicas</p><p>são:</p><p> O entendimento do filme como um documento, uma fonte bruta, um registro</p><p>do real;</p><p> A percepção do filme como um complemento do documento escrito, uma</p><p>espécie de acréscimo e/ou comparação;</p><p> A utilização do filme como ilustração de conteúdos e assuntos previamente</p><p>trabalhados em sala de aula a partir de outros meios.</p><p>Tais itens demonstram que questões antes altamente valorizadas, como a</p><p>autenticidade e a objetividade das produções fílmicas, precisam ser</p><p>problematizadas. Esta “virada” se relaciona com a própria alteração no</p><p>entendimento da historiografia no que diz respeito às fontes históricas de forma</p><p>geral.</p><p>Não importa mais se elas “retratam” ou não uma possível verdade. Sabe-</p><p>se que não existe apenas um passado ou uma verdade. Por isso, os historiadores</p><p>não se preocupam mais em extrair objetividade de documentos históricos. Nem</p><p>esperam que a partir deles possam entender exatamente o que ocorreu no</p><p>passado.</p><p>Os documentos históricos são utilizados, então, para compreender</p><p>diferentes posicionamentos, ideologias, representações, interesses. Justamente</p><p>por esta razão, até mesmo filmes que não se enquadram no gênero histórico ou</p><p>não são documentários, por exemplo, se constituem como fonte histórica e podem</p><p>ser utilizados para diversos fins em sala de aula.</p><p>Ao utilizar tais linguagens, o foco do professor deve estar em construir</p><p>juntamente com os alunos percepções sobre a produção dos filmes selecionados</p><p>e o porquê de tais criações. Um intuito muito válido é tentar entender que tipo de</p><p>representação é construída, ou seja, o que (e como) o filme diz sobre algum</p><p>aspecto do passado.</p><p>6</p><p>Trata-se de mobilizar reflexões que permitam perceber:</p><p> Os interesses e posicionamentos que marcam e definem tanto produções</p><p>fílmicas históricas e documentais como também filmes entendidos como</p><p>subjetivos</p><p>e ficcionais. É preciso pensar nas motivações ideológicas,</p><p>comerciais, religiosas, políticas, territoriais, identitárias, culturais etc.;</p><p> Os artefatos técnicos mobilizados: gênero, cenários, trilha sonora, direção,</p><p>fotografia, figurino, linguagem, entre outros.</p><p>TEMA 4 – FILMES EM SALA DE AULA: O ANTES</p><p>A linguagem utilizada pelo cinema, independentemente do gênero, é</p><p>completamente distinta da linguagem tradicional utilizada pelo professor em sala</p><p>de aula. O vídeo atinge diversos sentidos, desperta várias emoções. Seu poder</p><p>de sedução se encontra em uma combinação de formas discursivas:</p><p>O vídeo é sensorial, visual, linguagem falada, linguagem musical e</p><p>escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas,</p><p>não separadas. Daí a sua força. Somos atingidos por todos os sentidos</p><p>e de todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta</p><p>em outras realidades (no imaginário), em outros tempos e espaços.</p><p>(Morán, 1995, p. 28)</p><p>Utilizar tais linguagens em sala de aula é, sem dúvida, uma forma de atingir</p><p>o aluno, de chamar a sua atenção, de aproximar-se de suas realidades, que, na</p><p>maioria das vezes, são permeadas a todo o momento por sons e cores.</p><p>No entanto, para que a prática de inserção de filmes em sala de aula não</p><p>se torne apenas um mecanismo para tornar as aulas mais atrativas aos</p><p>educandos, algumas questões precisam ser observadas, no âmbito metodológico.</p><p>Podemos começar pensando em formas inadequadas e não indicadas de</p><p>utilização dos filmes em sala de aula. Morán pontuou algumas delas:</p><p>1. O vídeo tapa-buraco: quando a utilização de filmes é mobilizada</p><p>sempre que ocorre algum problema, como, por exemplo, a falta de</p><p>um professor. A constância desse tipo de prática pode fazer com que</p><p>o aluno associe o uso de filmes a não ter aula;</p><p>2. O vídeo-enrolação: quando o vídeo exibido não possuí ligação direta</p><p>com os assuntos que estão sendo abordados e a exibição ocorre per</p><p>si, sem nenhum tipo de introdução ou atividades relacionadas;</p><p>3. O vídeo-deslumbramento: quando o professor adota a utilização de</p><p>filmes em sala de aula como única linguagem para a construção do</p><p>conhecimento histórico. A metodologia pode funcionar no início, mas</p><p>com o decorrer do tempo perde sua eficácia;</p><p>4. O vídeo-perfeição: quando o professor questiona todas as fontes</p><p>audiovisuais a que tem acesso, tanto no que diz respeito ao conteúdo</p><p>como a forma. Possíveis lacunas, defasagens e outros problemas</p><p>não significam sempre um impedimento em se utilizar o filme. Ao</p><p>7</p><p>contrário, ele pode continuar a ser reproduzido, para que críticas a</p><p>analises sejam feitas em conjunto com os alunos;</p><p>5. Só-vídeo: quando o vídeo é reproduzido sem nenhum tipo de</p><p>discussões, de comentários sobre determinadas cenas e sem</p><p>integração com o assunto mais amplo que se encontra em questão.</p><p>(Morán, 1995, p. 29-30)</p><p>Evitadas tais posturas, cabe ao professor o trabalho anterior à reprodução</p><p>do vídeo. Antes de tudo, é preciso evidenciar que se trata de uma linguagem</p><p>alternativa para a construção do conhecimento histórico e também de uma fonte</p><p>histórica. Dessa forma, se faz necessário estimular os alunos a pensar e entender</p><p>sobre seu momento de produção. É preciso notar que, muitas vezes, dois</p><p>contextos podem ser analisados a partir da exibição de um filme.</p><p>Trata-se do episódio/acontecimento/história que está sendo retratada. Isto</p><p>vale até mesmo para produções que não almejam representar alguma faceta do</p><p>passado. E trata-se também dos objetivos, anseios e projetos de diretores, do</p><p>estúdio, da produtora. A forma como uma história é contada em forma de filme,</p><p>histórico ou não, diz muito também sobre o contexto em que estiveram inseridos</p><p>os seus produtores.</p><p>Por isso, deve-se pensar sobre a natureza do documento, como autoria e</p><p>datação, para depois contextualizá-lo e criticá-lo. Mesmo que pareçam</p><p>informações simples, são centrais para o entendimento da produção.</p><p>A autoria é central porque muitas vezes o idealizador principal do filme, ou</p><p>um coletivo de pessoas, divulga seus objetivos com determinada filmagem.</p><p>Também é possível saber muito sobre o filme a partir da trajetória e formação das</p><p>pessoas envolvidas nele.</p><p>Quanto à datação, não significa apenas indicar o ano de produção de</p><p>determinado filme, mas sim localizá-lo em uma temporalidade histórica, marcada</p><p>por conjunturas específicas. Feito isto, é necessário pensar no contexto de</p><p>produção daquela filmagem. A ideia, neste momento, não é interpretar de</p><p>antemão o filme para os alunos e “contar” qual é a visão e o posicionamento</p><p>desejados pela produção. No entanto, é preciso localizar o filme juntamente com</p><p>o aluno. Para isso, sugere-se apontar algumas informações essenciais sobre o</p><p>contexto de produção. Além disso, pode-se pensar em alguns questionamentos</p><p>que conduzam o aluno à interpretação.</p><p>Entre vários possíveis, a depender do objetivo da utilização da linguagem</p><p>fílmica, podem estar:</p><p>8</p><p> Que grupo de pessoas o filme busca atingir?</p><p> Que imagem/imagens o filme constrói sobre determinado contexto histórico</p><p>ou sobre algum assunto em específico?</p><p> Quais são as questões/assuntos evidenciados durante a produção?</p><p> Quais são os suportes técnicos utilizados (cenário, efeitos especiais,</p><p>enquadramento da câmera, trilha sonora) e para que fins são utilizados</p><p>(efeito de realidade, dramatização, sensibilização etc.)?</p><p>TEMA 5 – FILMES EM SALA DE AULA: O DURANTE E O DEPOIS</p><p>Realizada a preparação inicial, dois outros momentos precisam ser levados</p><p>em consideração no trabalho com a linguagem fílmica em sala de aula: a exibição</p><p>do filme e a conclusão do trabalho com este material.</p><p>Quanto à exibição do filme, há de se pensar: é preciso reproduzi-lo por</p><p>completo? Se sim, é necessário saber o porquê de assistir ao filme na íntegra e</p><p>explicar as motivações aos alunos. Muitas vezes, podem ser projetadas apenas</p><p>algumas cenas. Se este for o caso, é preciso sempre tomar o cuidado para não</p><p>descontextualizar as cenas selecionadas do todo do filme.</p><p>Vale lembrar de alguns cuidados básicos, mas que não podem ser</p><p>esquecidos: as questões técnicas. Elas parecem menos importantes, mas se não</p><p>observadas levam ao atraso da atividade e/ou à dispersão do foco. Referem-se à:</p><p> Checagem do funcionamento do filme a ser transmitido (caso sejam</p><p>utilizados formatos em DVD ou gravação em pendrive);</p><p> Verificação do acesso à internet e garantir condições de transmissão sem</p><p>interrupções;</p><p> Checagem do áudio e da possível necessidade de utilizar caixas de som;</p><p> Verificação do tempo disponível para exibição completa do filme ou das</p><p>cenas selecionadas. Caso não seja suficiente, o ideal é programar cortes,</p><p>finalizando em momentos específicos e que não cortem nenhuma cena ou</p><p>sequência.</p><p>Solicitar aos alunos respondam perguntas ou produzam textos ao longo da</p><p>exibição não é uma boa ideia. Tal prática faz com que percam o foco no filme em</p><p>si e se concentrarem prioritariamente na atividade exigida.</p><p>É preciso lembrar que a utilização da linguagem cinematográfica não serve</p><p>“apenas” como forma de contribuir para a construção do conhecimento histórico.</p><p>9</p><p>É também um momento e oportunidade para: experimentar sensorialmente;</p><p>conhecer diferentes “escolas” e influências cinematográficas; treinar a</p><p>concentração; “vivenciar” o diferente; ouvir músicas até então não conhecidas;</p><p>aprimorar o vocabulário e a interpretação de diferentes linguagens; ter contato</p><p>com produções que situam para além do simples entretenimento e que se</p><p>distanciam apenas do ideal da propaganda e do consumo.</p><p>Por esses e outros motivos, o ideal é que os alunos possam assistir aos</p><p>filmes sem o compromisso de entregar atividades, avaliativas ou não, logo após a</p><p>exibição. No entanto, para além de uma exploração inicial acerca do filme em</p><p>questão e de seu contexto de produção, algumas posturas podem ser solicitadas.</p><p>Uma sugestão é pedir aos alunos que</p><p>assistam ao filme apenas com uma</p><p>folha em branco e uma caneta/lápis em mãos. O exercício será anotar, em forma</p><p>de fichamento ou palavras-chave, os momentos mais significativos. O intuito não</p><p>é solicitar um resumo do filme, ou registro completo, de forma linear e completa.</p><p>Trata-se de registrar características que eles julgaram mais interessantes e</p><p>significativas, tais como: cenas específicas, diálogos, trilha sonora, efeitos</p><p>utilizados, caracterizações, frases, figurinos etc.</p><p>Ao final, os alunos podem ser convidados a apresentar suas primeiras</p><p>impressões. Neste momento, é importante verificar se as interpretações foram</p><p>parecidas, se os pontos que chamaram a atenção dos alunos foram consonantes</p><p>ou dissonantes e solicitar que justifiquem o porquê de seus apontamentos.</p><p>Apesar da importância da liberdade do aluno no momento de assistir ao</p><p>filme, e, depois, de falar sobre suas impressões, é também importante não perder</p><p>o foco sobre os motivos da utilização daquela produção. Todas essas etapas</p><p>devem ser sempre mediadas pelo professor.</p><p>Cabe a ele demonstrar aos alunos que muitas de suas indagações,</p><p>surpresas, encantamentos e dúvidas em relação ao filme exibido servem para a</p><p>compreensão das construções sociais ao longo do tempo, das continuidades e</p><p>das rupturas que marcaram a história. Por isso, perguntas, provocações e</p><p>questionamentos que dirijam o olhar e a interpretação dos alunos podem e devem</p><p>ser realizados.</p><p>A elaboração de um roteiro pode auxiliar neste processo. A partir dele,</p><p>pode-se perguntar aos alunos sobre:</p><p>10</p><p> Qual ou quais histórias são contadas/representadas;</p><p> Quais são os principais personagens do filme (protagonistas e</p><p>coadjuvantes) e quais são suas principais características;</p><p> Qual é(são) a(s) sociedades e/ou grupos sociais representados;</p><p> Quais são os valores/ideais/práticas defendidos ou contestados.</p><p>O professor deverá definir como tais questionamentos serão realizados.</p><p>Pode-se partir de uma conversa informal, pode-se solicitar uma apresentação em</p><p>grupos ou um trabalho por escrito. Tal decisão estará intrinsicamente ligada aos</p><p>demais objetivos relacionados à exibição de determinado filme ou cena(s). Por</p><p>isso, cada caso é um caso.</p><p>Porém, vale sempre – dependendo da disponibilidade de tempo que se tem</p><p>– projetar novamente determinadas cenas, com o cuidado de discutir e apontar</p><p>aspectos essenciais. Também é primordial que seja realizada uma comparação</p><p>entre o período/assunto que está sendo estudado e a forma como foi abordado</p><p>na produção fílmica selecionada.</p><p>Além se servir como mote de exploração de algum contexto em específico,</p><p>o filme deve servir para auxiliar o aluno no processo de leitura e interpretação de</p><p>qualquer tipo de produto audiovisual. Por isso, a utilização do filme no processo</p><p>de ensino:</p><p>deve ser no sentido de mostrar à maneira do conhecimento histórico – o</p><p>filme também é produzido, também ele irradia um processo de</p><p>pluralização de sentidos ou de verdades – e, da mesma forma que na</p><p>História, o filme é uma construção imaginativa que necessita ser</p><p>pensada e trabalhada interminavelmente. (...). Portanto, construir a</p><p>história na narrativa fílmica pode implicar, inclusive, destruir significados</p><p>estáveis, desmontar sentidos estabelecidos, desmistificar ilusões ou</p><p>mitos já cristalizados. (Saliba, 2005, p. 119-120)</p><p>Como conclusão, afirma-se que, desde que trabalhada metodologicamente</p><p>de forma correta, a inclusão da linguagem fílmica em sala de aula é sempre uma</p><p>boa pedida. A análise crítica, medida sempre pelas intervenções do professor,</p><p>estimula o aluno em seu olhar crítico e interpretativo, tanto do passado como do</p><p>presente.</p><p>11</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, M. J de. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Cortez, 1994.</p><p>CAINELLI, M.; SCHMIDT, M. A. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004.</p><p>O QUE significa ficção? Dicionário do Aurélio. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 16 fev. 2018.</p><p>MORÁN, J. M. O vídeo na sala de aula. In: Comunicação e educação. São Paulo,</p><p>jan./abr. 1995.</p><p>NAPOLITANO, M. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo: Contexto,</p><p>2009.</p><p>_____. A história depois do papel. In: PINSKY, C. B. (Org.). Fontes históricas.</p><p>São Paulo: Contexto, 2011.</p><p>SALIBA, E. T. Experiência e representações sociais: reflexões sobre o uso e o</p><p>consumo das imagens. In: BITTENCOURT, C. (Org.). O saber histórico em sala</p><p>de aula. São Paulo: Contexto, 2005.</p>