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<p>PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ</p><p>COMARCA DE GUARANIAÇU</p><p>JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DE GUARANIAÇU - PROJUDI</p><p>Rua Guido Lorençatto, 584 - centro - Guaraniaçu/PR - CEP: 85.400-000 - Fone: (45) 3232-1321</p><p>Autos nº. 0001368-29.2018.8.16.0087</p><p>Cuida-se de a Ação Declaratória cumulada com Cobrança ajuizada por</p><p>Divanira Aparecida Machado dos Santos Dambroso contra o Estado do Paraná.</p><p>Relatório dispensado a teor do art. 38 da Lei n. 9099/95.</p><p>Pois bem.</p><p>Por se tratar de matéria unicamente de direito, não havendo necessidade de</p><p>produção de outras provas, possível o julgamento antecipado da lide, em consonância com o art.</p><p>355, I do Código de Processo Civil.</p><p>Pretende o autor a decretação de nulidade dos contratos de trabalho firmados</p><p>com a Administração Pública e consequente condenação do reclamado ao pagamento do FGTS.</p><p>Bem analisando as argumentações tecidas nos autos e a documentação</p><p>juntada, verifica-se que foram formalizados diversos contratos sucessivos denominados</p><p>“temporários”.</p><p>Segundo o que dispõe o artigo 37, inciso X da Constituição Federal “a</p><p>administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito</p><p>Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,</p><p>publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) X - a lei estabelecerá os casos de contratação</p><p>por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público”.</p><p>Ou seja, para a validade dos contratos firmados com o autor deveriam estar</p><p>presentes: o caráter transitório e o excepcional interesse público, o que não se denota, vez que as</p><p>contratações através de Processos Seletivos Simplificados são cada vez mais recorrentes.</p><p>Conforme reiteradamente afirmado pelo Supremo Tribunal Federal, a</p><p>Constituição Federal reprova as contratações de pessoal pela Administração Pública sem a</p><p>observância de normas referentes a indispensabilidade da previa aprovação em concurso público,</p><p>cominando a sua nulidade nos termos do artigo 37, § 2º.</p><p>Não obstante a nulidade ora inafastável, o tomador do serviço deve ao</p><p>trabalhador a contraprestação pelo labor de que se aproveitou segundo o que estiver pactuado e o</p><p>saldo de FGTS.</p><p>Dessa forma, tem-se que a contratação de pessoal pela Administração</p><p>Pública sem concurso público leva ao entendimento de que mesmo o contrato sendo nulo produz</p><p>efeitos, no entanto o agente público apenas terá direito ao saldo salarial dos dias trabalhados e ao</p><p>levantamento de FGTS, visto o reconhecimento dessas verbas de caráter fundamental de direito</p><p>do trabalhador.</p><p>A esse respeito:</p><p>AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM</p><p>AGRAVO. CONSTITUCIONAL. CONTRATO TEMPORÁRIO. RENOVAÇÃO SUCESSIVA.</p><p>DIREITO AO DEPÓSITO DO FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO.</p><p>PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (ARE</p><p>880.073 AgR,Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, DJe de 09/09/2015) Agravo</p><p>regimental em recurso extraordinário. 2. Direito Administrativo. Contratação temporária. Direito</p><p>ao recebimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. 3. Contrato por tempo</p><p>indeterminado e inexistência de excepcional interesse público. Nulidade do contrato. 4. Efeitos</p><p>jurídicos: pagamento do saldo salarial e levantamento de FGTS. Precedentes: RE-RG 596.478,</p><p>red. do acórdão Dias Toffoli, e RE-RG 705.140, rel. min. Teori Zavascki. 5. Aplicabilidade dessa</p><p>orientação jurisprudencial aos casos de contratação em caráter temporário pela Administração</p><p>Pública. Precedentes. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE 863.125 AgR,</p><p>Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 06/05/2015).</p><p>E ainda:</p><p>AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO</p><p>TEMPORÁRIO DECLARADO NULO PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. FGTS.</p><p>OBRIGATORIEDADE DE PAGAMENTO. 1. O entendimento adotado pela Corte de origem</p><p>não destoa do posicionamento do STJ segundo o qual a declaração de nulidade do contrato de</p><p>trabalho em razão da ocupação de cargo público sem aprovação em concurso gera para o</p><p>trabalhador o direito ao levantamento das quantias depositadas em sua conta do FGTS.</p><p>Posicionamento extensível aos trabalhadores temporários. 2. Agravo regimental a que se nega</p><p>provimento. (AgRg no REsp 1.522.014/MG, Rel. Ministra DIVA MALERBI</p><p>(DESEMBARGADORA CONVOCADA TRF 3ª REGIÃO), SEGUNDA TURMA, julgado em</p><p>17/12/2015, DJe 10/02/2016).</p><p>O STJ realinhou sua jurisprudência para acompanhar o entendimento do STF</p><p>que, após reconhecimento da constitucionalidade do artigo 19-A da Lei 8036/90, sob o regime da</p><p>repercussão geral (RE 596.478/RR, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 28/2/2013), reconheceu serem</p><p>"extensíveis aos servidores contratados por prazo determinado (CF, art. 37, inciso IX) os direitos</p><p>sociais previstos no art. 7º da Carta Política, inclusive o FGTS, desde que ocorram sucessivas</p><p>renovações do contrato" (RE-AgR 752.206/MG, Rel. Min. Celso de Mello, DJe 29/10/2013).</p><p>Prevê o art. 19-A que “é devido o depósito do FGTS na conta vinculada do</p><p>trabalhador cujo contrato de trabalho seja declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, § 2o,</p><p>da Constituição Federal, quando mantido o direito ao salário”.</p><p>Na forma da jurisprudência do STJ, firmada, por ocasião do julgamento do</p><p>REsp. 1.110.848/RN (Rel. Min. Luiz Fux, DJe 3.8.2009), sob o regime do art. 543-C do CPC,</p><p>(...) a declaração de nulidade do contrato de trabalho em razão da ocupação de cargo público sem</p><p>a necessária aprovação em prévio concurso público, consoante previsto no art. 37, II, da CF,</p><p>equipara-se à ocorrência de culpa recíproca, gerando, para o trabalhador, o direito ao</p><p>levantamento das quantias depositadas na sua conta vinculada ao FGTS (STJ, REsp</p><p>1.665.174/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de</p><p>30/06/2017).</p><p>Diante do exposto, com fundamento no artigo 487, inciso I do Código de</p><p>Processo Civil, JULGO PROCEDENTE o pedido constante na inicial para o fim de decretar a</p><p>nulidade dos contratos citados na inicial, bem como reconhecer o direito do autor ao recebimento</p><p>de valores a título de FGTS durante o período trabalhado (limitado aos últimos cinco anos</p><p>anteriores à data da distribuição da ação).</p><p>Sinalizo que os valores deverão ser corrigidos monetariamente pelo índice</p><p>IPCA-E desde a data em que deveriam ter sido recolhidos e juros de mora nos termos do art. 1° F</p><p>da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei 11.960/2009, ou seja, em consonância com o índice</p><p>aplicado à caderneta de poupança, a contar da data da citação até a expedição do RPV.</p><p>Sem condenação em custas e honorários advocatícios, na forma do art. 55 da</p><p>Lei n. 9.099/95.</p><p>É o parecer que se requer a homologação de Vossa Excelência.</p><p>Guaraniaçu, 03 de novembro de 2018.</p><p>Gabriela Sunti Jesbick</p><p>Juíza Leiga</p>

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