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<p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>153</p><p>INSUBMISSÃO POR MEIO DA ABORDAGEM TRIANGULAR: UMA</p><p>PRATICA EDUCATIVA CRITICA, FREIRIANA, DECOLONIAL E</p><p>FEMINISTA</p><p>INSUBMISSION THROUGH THE TRIANGULAR APPROACH: A</p><p>CRITICAL, FREIRIAN, DECOLONIAL, AND FEMINIST EDUCATIONAL</p><p>PRACTICE</p><p>Annelise Nani da Fonseca1</p><p>Cleberson Diego Gonçalves - Maddox2</p><p>RESUMO</p><p>Este artigo objetiva demonstrar o vínculo da Abordagem Triangular sistematizada por Ana Mae Barbosa (1998)</p><p>com princípios teóricos do feminismo, da decolonialidade e com a teoria de Paulo Freire, principalmente sua</p><p>metodologia de alfabetização. O artigo analisa a insubmissão como estratégia de retomada de conquistas</p><p>históricas para a arte/educação, principalmente frente a implantação da BNCC e do novo Ensino Médio para a</p><p>área de arte. Neste sentido, buscamos fundamentação teórica em autoras como Ana Mae Barbosa (1998; 2008;</p><p>2018; 2020; 2021), Paulo Freire (1997; 2000; 2001; 2005; 2011), Bell Hooks (2013). Entendemos que a</p><p>Abordagem Triangular é arqueável, portanto ela dobra-se em direções diversas, constrói a crítica para a</p><p>liberdade, e é uma ferramenta potente para desmantelar o projeto de esvaziamento em arte educação proposto na</p><p>construção neoliberal do Brasil.</p><p>Palavras Chave: Abordagem Triangular; Feminismo; Decolonialidade; BNCC.</p><p>ABSTRACT</p><p>This article aims to demonstrate the link between the Triangular Approach systematized by Ana Mae Barbosa</p><p>(1998) with theoretical principles of feminism, decoloniality, and Paulo Freire's theory, especially his literacy</p><p>methodology. The article analyzes unsubmission as a strategy for resuming historical achievements for</p><p>art/education, especially in the face of the implementation of the BNCC and the new High School for art. In this</p><p>sense, we seek theoretical foundations in authors such as Ana Mae Barbosa (1998; 2008; 2018; 2020; 2021),</p><p>Paulo Freire (1997; 2000; 2001; 2005; 2011), Bell Hooks (2013). We understand that the Triangular Approach</p><p>is flexible, so it bends in different directions, builds the critique of freedom, and is a powerful tool to dismantle</p><p>the project of destruction of art education proposed in the neoliberal construction of Brazil.</p><p>Keywords: Triangular Approach; Feminism; Decoloniality; BNCC.</p><p>1 Doutora em Artes pela Escola de Comunicação e Artes- ECA da Universidade de São Paulo- USP. Mestra em</p><p>Design pela Anhembi Morumbi. e-mail: anne_nani@hotmail.com</p><p>2 Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Mestre em Educação pela Universidade</p><p>Estadual de Maringá – UEM. e-mail: maddoxcircus@gmail.com</p><p>151</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>mailto:anne_nani@hotmail.com</p><p>mailto:maddoxcircus@gmail.com</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>154</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>A Abordagem Triangular (BARBOSA, 1998), nasce de um ato de insubordinação,</p><p>desobediência e insubmissão. A triangulação, articulada como proposta metodológica para o</p><p>ensino de arte carrega em seu DNA a força, determinação e o olhar afetuoso de Ana Mae</p><p>Barbosa, mulher nordestina que sistematizou a Abordagem e foi aluna e seguidora dos</p><p>ensinamentos de Paulo Freire (1921-1997).</p><p>O vínculo de Ana Mae com Freire foi, durante muito tempo, omitido pela autora, pois</p><p>a mesma tinha receio de ser mal interpretada pelos pares, estes que poderiam fabular</p><p>conspirações e ideias sobre a literata tirar proveito de sua relação com seu orientador para</p><p>promover sua teoria. Devido este fato, somente no ano de 2021, na comemoração do</p><p>centenário de Paulo Freire e, coincidentemente a comemoração dos 30 anos da publicação da</p><p>Abordagem Triangular, que esse vínculo estreito é pormenorizado.</p><p>Pontuamos isso porque, em um contexto de ataques constantes ao ensino da arte, de</p><p>ascensão do conservadorismo, de ameaça à democracia, de desrespeito com a ciência, de</p><p>ataques ao legado de Paulo Freire, que Ana Mae revisa sua criação e credita seu vínculo,</p><p>agora livre de inseguranças, durante a abertura do “II Congresso Internacional Online entre</p><p>Arte, Cultura e Educação: Reconexões da Abordagem Triangular no Ensino das Artes”, em</p><p>comemoração aos 30 anos da Abordagem Triangular, na Universidade Federal de Goiás –</p><p>UFG3.</p><p>A afirmação da autora, junto aos ensinamentos de Paulo Freire, trazem a necessidade</p><p>de um olhar diferente e crítico para a Abordagem Triangular, pois nos coloca andarilhando</p><p>para uma nova vertente de pensar a liberdade (FREIRE, 2011) e a transgressão (hooks, 2013)</p><p>na arte/educação, algo que a própria Ana Mae Barbosa (2018) já vem realizando e discutindo:</p><p>Hoje a metáfora do triângulo já não corresponde mais à sua estrutura. Nos parece</p><p>mais adequado representá-la pela figura do zig-zag, pois os professores nos têm</p><p>3 O evento ocorreu em outubro de 2021. Para maiores informações disponíveis em:</p><p>https://www.youtube.com/playlist?list=PLTtVU0kdT_nJRRqpkk_CyM0ddeo4lphsu, acessado em 28 de Janeiro</p><p>de 2022.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>https://www.youtube.com/playlist?list=PLTtVU0kdT_nJRRqpkk_CyM0ddeo4lphsu</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>155</p><p>ensinado o valor da contextualização tanto para o fazer como para o ver”</p><p>(BARBOSA, 2018, p. 8).</p><p>Quando pontuamos o pensamento na prática pedagógica do triângulo, os três pilares:</p><p>ver/ler (a obra de arte), contextualizar e o fazer artístico ganham novas dimensões, visto a</p><p>realidade e o percurso histórico que o ensino da arte tomou no Brasil. Deste modo, a</p><p>Abordagem Triangular torna-se um zig-zag nas nossas práticas porque, na dimensão/relação e</p><p>no processo de ensino aprendizagem sujeito/objeto, todas as pessoas envolvidas são</p><p>protagonistas e mediadas para um pensamento crítico e libertário, nos indicando então, as</p><p>epistemologias chave do pensamento freiriano e os atravessamentos cruciais propostos por</p><p>Ana Mae para o ensino da arte.</p><p>Não é um triângulo engessado, mas um triângulo que se desmonta, como na obra</p><p>Bichos (1960) de Lygia Clark (Figura 01), na qual a artista produziu pequenas feras ou</p><p>animais que de alguma maneira eram formas animadas ou vivas. Assim como a escultura da</p><p>artista, a Abordagem Triangular vai se transfigurando de acordo com as realidades que estão</p><p>em processo de aprender a ler, fazer, pensar e refletir criticamente a arte, suas poéticas e</p><p>territorialidades.</p><p>Figura 1- Lygia Clark. Bicho linear. 1960</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>156</p><p>Fonte: https://www.moma.org/audio/playlist/181/2429 acessado em 06 de fev de 2022.</p><p>Ao olharmos para a história de Ana Mae Barbosa, ao processo arte alfabetizador (uma</p><p>alfabetização pela/para as imagens e pela poética) e ao contexto libertário, “bicho”</p><p>desdobrável e transgressor da Abordagem Triangular, perceberemos esta como insubmissa</p><p>por colocar o/a oprimido/a na posição de criador/a, leitor/a da poética que habita o mundo, de</p><p>alguém consciente dos traços e design impulsionados pelo projeto colonial moderno, portanto</p><p>de perspectiva decolonial, desmontando a hegemonia dominante, conectando alunos/as e</p><p>professores/as às demandas da vida cotidiana, aos problemas culturais, políticos e subjetivos</p><p>da América Latina e do Brasil, trazendo, deste modo, posições insubmissas frente aos abismos</p><p>da arte,</p><p>como por exemplo, a ausência de mulheres artistas, mulheres negras artistas,</p><p>LGBT+’s4, pessoas com necessidades especiais, populares, entre outras.</p><p>Ao elencarmos a Abordagem Triangular como decolonial, somos direcionadas para</p><p>como tal desdobramento ocorreu. Os estudos decoloniais surgem na América Latina a partir</p><p>do movimento Pós-Colonial das décadas de 1970 e 1980, este que estendeu-se em</p><p>4 Optamos pela sigla LGBT+’s por entender a dimensão política de Lébiscas, Gays, Bissexuais, Transsexuais,</p><p>Travestis, e o + assinala outras possíveis diversidades.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>https://www.moma.org/audio/playlist/181/2429</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>157</p><p>compreender como o mundo colonizado foi construído discursivamente a partir do olhar do</p><p>colonizador. No ano de 1993, o grupo Latino-Americano de Estudos Subalternos lança um</p><p>“Manifesto Inaugural” sob a coordenação de Eduardo Mendieta e Santiago Castro-Gómez</p><p>(BALLESTRIN, 2013), na qual tecem uma crítica ao sistema de pensamento e investigação</p><p>do norte global e aos modos de ruptura com os saberes eurocêntricos e estadunidenses, ou</p><p>seja, a crítica à modernidade, também imersa nas constituições dos saberes e das</p><p>subjetividades autorizadas nos espaços de ações educativas (MADDOX, 2021).</p><p>Dentro do “Manifesto Inaugural”, das demandas latinas americanas e dos movimentos</p><p>de rupturas no pensamento do norte, esses que se infiltraram no modo de vida do sul global,</p><p>Aníbal Quijano (2000), Walter Mignolo (2002), Catherine Walsh (2007) entre outros e outras</p><p>autores/as começam a questionar as epistemologias do norte no campo da educação e</p><p>sociedade, reconfigurando assim, as epistemes para a realidade do sul, como Paulo Freire já</p><p>vinha realizando no campo educacional brasileiro, com o sulear5, termo associado às</p><p>epistemes dos saberes do sul, a valorização dos conhecimentos latinos no processo</p><p>educacional de estudantes, no fortalecimento e na construção de práticas educativas</p><p>emancipatórias (CAMPOS, 2021; FREIRE, 2000), algo que Ana Mae Barbosa (2008a)</p><p>capturou na elaboração da proposta de ensino para o campo da arte.</p><p>Ana Mae, em seu discurso no InSEA – International Society of Education Through Art</p><p>no ano de 2021 enuncia que “a epistemologia de Paulo Freire está baseada na conscientização</p><p>e no diálogo que levam à decolonização de si e da história e nós o seguíamos”, neste sentido,</p><p>a autora não só elabora o modo como a humanização Paulo freiriana e saberes latinos estão</p><p>atravessados na Abordagem Triangular, como também seu caráter decolonial dentro do</p><p>contexto educativo.</p><p>É em razão disto que trazemos algumas reflexões sobre a Abordagem Triangular numa</p><p>perspectiva decolonial, enquanto práxis insubmissa e atuante na arte educação, desmantelando</p><p>5 Termo criado por Marcio D’Olne Campos importante porque enfrenta constructos sociais colonizadores e a</p><p>visão de mundo na qual coloca a Europa no centro e na parte superior do globo. Sulear é um convite para o</p><p>enfrentamento de epistemes norteadoras e colonizadoras.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>158</p><p>também as políticas neoliberais e reacionárias da BNCC - Base Nacional Curricular Comum,</p><p>aprovada após o Golpe de 2016, quando a presidenta Dilma Rousseff foi retirada da</p><p>presidência e cedeu lugar à Michel Temer, usurpador alinhado às demanda moralistas,</p><p>neoliberais e fascistas que se articularam ao novo governo e as novas demandas para o ensino</p><p>no país, estas alinhadas aos anseios e desejos do corporativismo, do Banco Mundial, da</p><p>agroindústria, das pressões neopentecostais e de instituições privadas.</p><p>Desmontar os apontamentos sobre o ensino da arte na BNCC é, como um gesto vital</p><p>de sobrevivência, reativar, na base da insubmissão, noções transgressoras para uma arte</p><p>alfabetização libertadora e crítica em tempos de fascismos atuantes, atravessando, em contra</p><p>mão ao arteanalfabetismo proposto pelas políticas emergidas atualmente, as noções,</p><p>epistemologias e métodos defasados que lançam as pessoas, a escola, as instituições de arte,</p><p>entre outras, no abismo da ignorância, numa cegueira epidêmica e perigosa.</p><p>2. INSUBMISSÃO: UM COMPORTAMENTO COMUM NA ARTE/EDUCAÇÃO E</p><p>VITAL PARA A DECOLONIALIDADE</p><p>A desobediência nos processos de pensamento, de epistemologias, de educação e</p><p>práticas poéticas e artísticas, já é algo fomentado por Walter Mignolo (2008), semiólogo</p><p>argentino, e encontramos essa desobediência em Ana Mae Barbosa (2020) e na sua teoria da</p><p>Abordagem Triangular, quando a mesma atualiza as proposições do Discipline Based Arte</p><p>Education (DBAE), desenvolvido nos Estados Unidos na década de 1980 para a realidade</p><p>brasileira (também no mesmo período).</p><p>Ao se aventurar nas perspectivas teóricas do Norte Global, Ana Mae observa na</p><p>realidade brasileira um atraso significativo (e ainda atual) no ensino da arte dentro das escolas</p><p>públicas do país. Ao retornar com uma “proposta”, a arte/educadora só não nos apresenta um</p><p>caminho para explorar, ou melhor, um novo território de práxis, como também articula sua</p><p>teoria com as demandas que Paulo Freire (2011) já fomentava em seus trabalhos, como a</p><p>importância do ato de ler, de observar criticamente o mundo, de abdicar, por meio da</p><p>educação, o papel de oprimido e tornar-se produtor e detentor de saberes, além de outras</p><p>metodologias desenvolvidas na América Latina.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>159</p><p>Ana Mae Barbosa incorpora a abordagem às necessidades reais e as lacunas que um</p><p>ensino defasado vinha (e ainda vem) deixando no cenário nacional, e desde então seu trabalho</p><p>suleou-se de várias experiências que a mesma adquiriu nos territórios da América, como por</p><p>exemplo, quando numa perspectiva decolonial, coloca em prática o conceito de sulear quando</p><p>estuda e resgata as “Escuelas de Pintura Al Aire Libre”, um método “esquecido” pelos</p><p>próprios mexicanos. Sua contribuição é tamanha que ela é chamada para ir ao México proferir</p><p>falas sobre o tema. O determinado método foi criado após a revolução mexicana de 1910.</p><p>José Vasconcelos, escritor, político, intelectual, educador e primeiro secretário de Educação</p><p>Pública do México, observou a necessidade de integrar os povos indígenas, rurais e de classe</p><p>operária à cultura concebida no país. Uma das formas foram escolas de arte ao ar livre, nas</p><p>ruas da cidade, em que tintas, papéis e outros materiais de pintura e desenho eram distribuídos</p><p>para que as crianças criassem em trânsito pelos espaços.</p><p>O método mexicano, estudado por Ana Mae (2020), aponta a desobediência nos povos</p><p>considerados habitantes dos terceiros mundos. A perspectiva para uma insubmissão é</p><p>percebida na desobediência de fazer com que alunos, alunas e professoras avancem pelo</p><p>espaço e criem por meio e através dele. As paredes e janelas da escola são o mundo,</p><p>constituem o vento, o sol, os bancos das praças, as pessoas circulando, a cor do céu, os</p><p>objetos do cotidiano. A arte como necessidade de emancipar a humanidade cultural de um</p><p>local, algo projetado no cerne educativo das “Escuelas de Pintura Al Aire Libre”, também</p><p>pincelado na desobediência da triangulação de Ana Mae, quando a autora traz o fazer artístico</p><p>como possibilidade libertadora, e não copista e industrial.</p><p>O aspecto desobediente, portanto</p><p>insubmisso da Abordagem Triangular, se dá na</p><p>vertente de, além de ser uma pirataria ousada de um método aplicado no norte, nos Estados</p><p>Unidos, num país dito de primeiro mundo, a arte educadora não engessa tal abordagem (como</p><p>muitos arte educadores entenderam erroneamente) em uma tríade fixa, mas sim como algo</p><p>mutável, em acordo com a realidade que está sendo aplicada, ou seja, a abordagem não é</p><p>mediadora dos saberes e nem instituí o que deve ser ensinado e aprendido, mas ela é mediada</p><p>a partir das relações culturais, sociais e políticas da sala de aula, da escola, portanto não é</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>160</p><p>pacífica, não é anestesiada, mas sim, questionadora, se impõe diante daquilo apresentando</p><p>como um saber absoluto.</p><p>A Abordagem Triangular e seus elementos constitutivos (leitura, contextualização e</p><p>fazer artístico) tornam-se parte da realidade, ela se une às demandas urgentes incorporadas</p><p>nas discussões que as obras de arte lançam no ambiente, sendo a contextualização detentora</p><p>de condições epistemológicas necessárias na construção de um olhar outro para a fruição e</p><p>também para o manuseio das materialidades locais e estrangeiras durante o fazer artístico, a</p><p>apreciação de obras e na experimentação do mundo.</p><p>O que queremos dizer é, a Abordagem Triangular reconfigura-se no Brasil e na</p><p>América Latina, a partir da relação Ana Mae Barbosa e Paulo Freire, como uma</p><p>democratização do conhecimento em arte, e nas atualizações epistemológicas e discursivas da</p><p>abordagem ao longo dos anos, ela apresenta-se como insubmissa ao engessamento de</p><p>métodos e aulas sem reflexão, autonomia e reconhecimento da cultura e saberes locais,</p><p>portanto, a triangulação flexível, dobrável, móvel, que lança rizomas no processo</p><p>arte/educação de alunos/as é decolonial.</p><p>A insubordinação faz parte da decolonialidade, e este é um grande feito de Ana Mae</p><p>Barbosa. Outro fato é que a arte educadora não cria uma metodologia, uma cartilha de como</p><p>ensinar arte, mas ela traz apontamentos para que seja possível forjar nas diversas realidades</p><p>brasileiras métodos diferentes de ensinar, de modo desobediente e insubmisso, ela propõe</p><p>condições de ação a partir do território local, dos saberes constituídos no cerne da realidade.</p><p>A Abordagem Triangular, torna-se então um Bicho (parafraseando a obra de Lygia</p><p>Clark) na mão de arte educadoras, um Bicho sem forma (Figura 01), sem identidade, que vai</p><p>se constituindo no percurso do ensino, por meio de imagens/palavras/gestos e saberes</p><p>geradores, em que aluna e professora tornam-se uno e a aula ganha alguma forma dentro da</p><p>contextualização, da leitura e do fazer artístico. Na emergência local, a Abordagem Triangular</p><p>vai desencadeando a alfabetização visual e desmontando o projeto engessado de aprender arte</p><p>a partir de verdades e epistemologias solidificadas no norte global, nas cartilhas de história da</p><p>arte sem mulheres artistas, sem pessoas negras, sem representatividade, sem minorias sociais,</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>161</p><p>sem a história local daquelas que estão buscando sua emancipação pelo saber e pelo</p><p>conhecimento.</p><p>As aberturas no cenário da arte educação, precedidas por Ana Mae, vão muito além da</p><p>esfera pedagógica, ela é decolonial porque implica e atua no contexto social, político e</p><p>cultural do currículo. A trajetória da arte/educadora encontra sororidade, escava os valores</p><p>populares e estéticas das periferias, os enunciados silenciados, as invenções perdidas, a</p><p>pesquisa, os corpos diferentes, sempre numa tentativa de transformação da realidade, numa</p><p>perspectiva que é tomada pela prática de liberdade (FREIRE, 2011).</p><p>Os posicionamentos de Ana Mae ao longo dos 30 anos de Abordagem Triangular não</p><p>se constituem em abstrações, em esvaziamentos de ideias e pensamentos, mas sim na inclusão</p><p>e equidade de pessoas na própria realidade, na concretude histórica, portanto, a abordagem em</p><p>arte/educação é para aquelas que desejam o encontro com a liberdade nas trincheiras da</p><p>América Latina. É uma aposta radical, insubmissa e decolonial, como aponta Paulo Freire</p><p>(2005, p.26) “a radicalidade é criadora pela criticidade que alimenta, é libertadora, um ato</p><p>revolucionário” (FREIRE, 2005, p. 26).</p><p>A liberdade, na Abordagem Triangular, forja-se como insubmissão para as práticas</p><p>arte/educativas, e deve ser um comportamento comum e vital também para a decolonialidade,</p><p>sendo a liberdade, conforme Freire (2011), concebida na história das pessoas, a partir e em</p><p>suas vidas, sempre associada na expugnação de uma consciência sobre o lugar e o momento</p><p>em que se encontram. A busca pela liberdade conjectura a consciência da opressão.</p><p>Demandas, preocupações e apontamentos de Ana Mae Barbosa nas conjecturas da</p><p>arte/educação no Brasil não ficaram no tempo passado; o tempo, percebido e historiografado</p><p>no trabalho da arte/educadora, está projetado vigorosamente na nossa atualidade, ainda hoje</p><p>temos a permanência da opressão tanto quanto a necessidade de romper com as forças</p><p>opressoras que capturam nossa liberdade e engessam os pensamentos transgressores em</p><p>projetos e documentos fantasiosos e indigestos (como a BNCC).</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>162</p><p>Neste sentido, a decolonialidade atravessa e está presente numa Abordagem Triangular</p><p>arqueável, ou como sugere a autora, zig-zag, que vai e vem no tempo/espaço, tecendo críticas,</p><p>atualizações e efetuando uma leitura de mundo nas latinidades, da realidade, das trocas entre</p><p>as pessoas. Forma-se então, na conjectura de novos processos elaborativos da</p><p>contemporaneidade, uma abordagem em que cada pessoa dinamiza seu mundo, liberta-se da</p><p>servidão e das amarras (tanto do arteanalfabetismo, quanto das letras), humanizando-se. Para</p><p>tal, é imprescindível uma arte/educação pautada na ideia de liberdade, fundamentada na</p><p>dialogicidade, bem como aponta Paulo Freire: “não é no silêncio que os homens (sic) se</p><p>fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão” (2005, p. 90), a leitura, voz e</p><p>manifestação verbal, visual e poética não pode ser um privilégio apenas de alguns, mas de</p><p>todas.</p><p>No desejo de manterem-se no poder, opressores recorrem de subterfúgios, palavras</p><p>vazias, ou como nos documentos norteadores da arte/educação, de uma generosidade nefasta,</p><p>fruindo a opressão, a miséria, o sistema educacional, as formações de professoras, as</p><p>universidades, as pesquisas…é preciso insistir na decolonização da arte como algo</p><p>propiciador das criticidades como nova programação da consciência diante desses conflitos,</p><p>sempre no compromisso com a liberdade pela capacidade de opção (FREIRE, 2011). Uma</p><p>liberdade que não ocorre no acaso, mas na práxis, nas necessidades micropolíticas e</p><p>macropolíticas.</p><p>Na Abordagem Triangular arqueável (zig zag), tanto a leitura, quanto a</p><p>contextualização e o fazer artístico não podem estar cindidos, mas caminhando juntamente</p><p>num ciclo de complementação, num movimento aberto, radical, insubmisso e desobediente,</p><p>não aceitando as imposições violentas e opressoras, sempre desvelando os disfarces dos</p><p>subterfúgios opressores.</p><p>Não deve-se temer a Abordagem Triangular arqueável, nem se prender nas</p><p>expectativas vazias que, historicamente, foram projetadas injustamente nela, pois, mesmo as</p><p>reformas e apostas mais insubmissas correm o risco de serem capturadas no sistema</p><p>atual; por</p><p>isso a abordagem é volátil, porque quando insistem na sua precariedade, ela se atualiza, vibra</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>163</p><p>com as novas demandas urgentes que cruzam a sala de aula, os museus, os espaços</p><p>arte/educativos. Abordagem Triangular arqueável também não é salvacionista, ela é radical, e</p><p>a radicalidade não salva ninguém, mas abre possibilidades para o amanhã. É uma aposta</p><p>diante dos desmontes, é pela práxis transformadora que criaremos e forjaremos a história, que</p><p>faremos “seres histórico-sociais” (FREIRE, 2005, p. 106).</p><p>No processo arte educativo arqueável, pela Abordagem Triangular, não trabalharemos</p><p>apenas no campo das ideias, mas com algo ativo e dinâmico na vida das pessoas. Tal ação não</p><p>usa procedimentos mecânicos no processo de ensino aprendizagem, nem prioriza a arte</p><p>europeia, erudita, clássica, acadêmica, copista e do campo decorativo, as quais muitas vezes</p><p>não conectam-se com a realidade das alunas e alunos, mas busca-se, em sua volatilidade, as</p><p>conexões necessárias com a própria vida pulsante diante do/a professor/a, num diálogo ativo,</p><p>em que discente e docente estão lado a lado, sem hierarquias, apenas os saberes encontram-se</p><p>em lugares diferentes, mas que fundidos, geram outras vias de reflexão e transformação.</p><p>Na visão de uma Abordagem Triangular arqueável e decolonial, portanto insubmissa,</p><p>as pessoas são percebidas como sociais, históricas, concretas e produtoras de uma</p><p>geopoética/política móvel dentro de suas condições humanas e territoriais, neste sentido, elas</p><p>só não participam do processo de inspiração para a produção das visualidades, como também</p><p>constroem a história em uma coletividade também com as artes. Uma obra ganha vida,</p><p>autonomia e caminho próprio depois de pronta, não depende do/a artista explicá-la, mas sim</p><p>de como tal obra irá causar impacto de leitura no mundo, é nessa conjuntura que as pessoas,</p><p>além de (muitas vezes) servirem como ponto de partida para a inspiração poética e material</p><p>do/a artista, elas (as pessoas) são também responsáveis por conduzirem o diálogo visual que a</p><p>obra irá propor, e para isso a Abordagem Triangular arqueável e decolonial dará as condições</p><p>necessárias para possíveis interpretações críticas da obra.</p><p>A Abordagem Triangular arqueável (decolonial, feminista e insubmissa), questiona,</p><p>descontrói e problematiza, por meio de seu alinhamento prático, reflexivo e contextualizador</p><p>da arte nas periferias latinas, a construção narrativa e falida de uma história da arte única do</p><p>norte, como algo moldante de nossa poética, mas nós, terceiro mundistas, somos donos e</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>164</p><p>donas de nossa própria história, como apresentou Ana Mae Barbosa em seu discurso no</p><p>InSEA: “no Brasil podemos traçar a nossa história da Arte a partir de uma cronologia própria,</p><p>não nos submetendo às classificações e tipologia europeias” (2021, s/p).</p><p>Para além, a triangulação como algo de caráter feminista, não somente por ter sido</p><p>projetada por uma mulher (mas também), e sim pelo fato de insistir nas reformulações</p><p>normativas do ensino da arte, inserindo deste modo, as mulheres artistas e grupos excluídos</p><p>dentro da produção artística, como detentoras do desmonte do sistema patriarcal, machista e</p><p>misógino.</p><p>Quando falamos numa Abordagem Triangular decolonial, automaticamente o</p><p>feminismo atravessa a sua estrutura, sendo as mulheres, as primeiras insubmissas ao modo</p><p>como o sistema se projetou diante das identidades latinas americanas e sulistas. Foram as</p><p>mulheres e seus movimentos (negras, indígenas, radicais, travestis, trans, lésbicas,</p><p>benzedeiras, gordas, deficientes…) que iniciaram os debates de gênero e sexualidade, o</p><p>enfrentamento ao trabalho infantil, do direito ao voto, aos estudos, à liberdade, ao corpo e à</p><p>autonomia. Foram elas que produziram arte e ciência com maestria, mas foram apagadas</p><p>violentamente da história. Neste sentido, quando falamos em decolonização, é inconcebível</p><p>não pensar nesta epistemologia como feminista, desobediente e radical, pois mapeia-se um</p><p>território para o enfrentamento nas trincheiras latinas, e desde sempre, mulheres e</p><p>desobedientes de gênero estão à frente desta batalha.</p><p>3. ANÁLISE: INSUBMISSÃO - UMA POSTURA NECESSÁRIA PERANTE A</p><p>IMPLANTAÇÃO DA BNCC</p><p>Como visto, Ana Mae Barbosa, Paulo Freire e a realidade pós ditadura de 1985 foram</p><p>palco para as reverberações na arte educação brasileira, juntamente com acontecimentos</p><p>políticos, sociais e culturais de outros países que compõem as latinidades da América. As</p><p>produções teóricas no campo da arte educação, iniciadas por Ana Mae juntamente com</p><p>coletivos de professoras e pesquisadoras de arte, contribuíram para muitos debates ao longo</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>165</p><p>dos anos, inclusive na criação de políticas implementadas na Lei de Diretrizes e Bases da</p><p>Educação - LDB de 1996 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, como também</p><p>na constituição das diretrizes e projetos curriculares para a disciplina de arte.</p><p>Todo debate, luta, conquista e desafios projetados, pensados e articulados pela</p><p>coletividade arte educativa brasileira nos anos de 1990 até meados de 2016 não contavam</p><p>com tamanho “tombo” que a educação levaria. Conforme mencionado anteriormente, após o</p><p>golpe da Presidenta Dilma Rousseff em 2016, houve a implementação da BNCC de modo</p><p>impositivo, sem o diálogo com os/as docentes, os/as estudantes e a comunidade escolar; ela (a</p><p>BNCC), é sancionada desvinculada dos debates iniciais6, com um senso de urgência para</p><p>aproveitar o curto mandato (2 anos e 7 meses) de Michel Temer (usurpador da presidência), e</p><p>atender os desejos capitalistas/neoliberais dos conglomerados internacionais, num gesto de</p><p>dissolução da educação pública de qualidade.</p><p>Perante o exposto, é necessário contextualizar que a BNCC é implementada durante</p><p>um dos governos mais impopulares desde a Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Segundo o</p><p>Datafolha, o governo Temer chegou a atingir 3% de aprovação popular, no qual seu principal</p><p>projeto político centrou-se no desmantelamento das instituições públicas.7</p><p>Esse desmonte emerge a partir da aprovação da PEC 241/55, conhecida como EC-</p><p>Emenda Constitucional, na qual estabelece o congelamento de gastos públicos no período de</p><p>20 anos, sendo permitido, na área da saúde e educação, apenas reajustes de acordo com a</p><p>inflação de cada ano, neste sentido, o que antes era regulamentado pela Constituição Federal</p><p>de 1988, como o destino de recursos fixada a partir de percentuais do PIB-Produto Interno</p><p>Bruto, é alterada para poder destinar valores menores do que os estabelecidos na constituição.</p><p>É significativo observar que, a Constituição elaborada no processo de</p><p>redemocratização é alterada em um governo alçado ao poder por meio de um golpe, projetado</p><p>6 Apesar da BNCC ter passado por cinco ministros da educação, em suas últimas versões, especificamente na</p><p>última versão de abril de 2017, homologada em 14 de dezembro de 2018 (Portaria MEC nº 1.348) do documento</p><p>se decorreu se o devido diálogo com as bases de forma apressada e antidemocrática.</p><p>7 Disponível em: https://istoe.com.br/michel-temer-um-presidente-orgulhoso-de-sua-impopularidade/acessado</p><p>em 31 de Jan de 2022.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>https://istoe.com.br/michel-temer-um-presidente-orgulhoso-de-sua-impopularidade/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>166</p><p>para atacar áreas vitais como a saúde e a educação, com o argumento dado pelo então</p><p>Ministro da Fazenda Henrique Meirelles, para aumentar a confiança do mercado internacional</p><p>no país. A PEC dos gastos ou EC, abriu caminhos para a falta de investimentos em políticas</p><p>públicas no SUS - Sistema único de Saúde; no estabelecimento do salário mínimo e na</p><p>Educação. Como é o escopo do artigo, ele será centrado mais especificamente na educação,</p><p>que perante a falta de investimentos, foi impactada diretamente nas metas estabelecidas pelo</p><p>PNE-Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 13.005/2014, e que estaria em vigor</p><p>até 2024. O plano é composto por 20 metas que deveriam ser alcançadas até seu prazo final,</p><p>mas devido à falta de investimento, vem sendo abandonado (RODRIGUES, 2016).</p><p>Com a aprovação da BNCC, substituíram-se os PCN’s - Planos Nacionais de</p><p>Educação de 1997, e desde então, focou-se somente no documento da base como eixo</p><p>norteador nacional. A BNCC não foi pensada com prioridade na melhoria da qualidade de</p><p>ensino, da democratização da educação e na realidade da maioria das escolas brasileiras.</p><p>Como aponta Marta Bellini, tal documento foi “elaborado e votado por empresários da</p><p>educação em aliança com o capital financeiro para aniquilar todas as conquistas de um ensino</p><p>na formação de jovens do país” (2020, p. 6).</p><p>Neste sentido, ela é aprovada durante um golpe, um congelamento de gastos, na</p><p>precariedade de escolas e universidades (abandonadas e questionadas pelo grande movimento</p><p>fascista da direita brasileira), com professoras exaustas, doentes e com salários defasados,</p><p>muitas vezes não são condizentes com o teto mínimo da categoria.</p><p>A BNCC é recheada de nomes sedutores e atraentes, como por exemplo os “itinerários</p><p>formativos” que escondem consequências nada desejosas, tendo um forte acirramento de</p><p>desigualdade com relação ao acesso das pessoas no contexto de ensino/aprendizagem. Uma</p><p>dessas seduções é o projeto do Novo Ensino Médio estabelecido pela Lei nº 13.415/2017 e</p><p>regido pela BNCC; entre as mudanças no novo modelo estão: o agrupamento de disciplinas</p><p>por área de conhecimento (Matemáticas e suas Tecnologias; Linguagens e suas Tecnologias;</p><p>Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) na qual arte</p><p>se encaixa em Linguagens e suas Tecnologias. Outra alteração é a carga horária de</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>167</p><p>permanência na escola, na qual jovens deixam de ficar 04 horas estudando e passam para 05</p><p>horas diárias, e o foco é em conteúdos obrigatórios de formação técnica profissional.</p><p>As mudanças são para preparar estudantes para o mercado de trabalho, pois acredita-se</p><p>numa escola para o mercado. Tais disciplinas técnicas e profissionalizantes anulam carga</p><p>horária de outras disciplinas como arte, ciências, sociologia, filosofia, história entre outras,</p><p>deste modo, as estudantes não terão mais uma formação sólida nessas áreas, apenas rasos</p><p>momentos, pois arte, por exemplo, será uma aula de 55 minutos por semana em algum dos</p><p>anos do Ensino Médio (cabe ao Estado definir em qual série do médio a disciplina será</p><p>ofertada), e o restante das horas serão ofertadas em cursos superficiais, de curta duração, na</p><p>qual os estudantes mais pobres serão prejudicados com o esvaziamento de ensino.</p><p>As disciplinas que compõem os itinerários são obrigatórias, mas quem escolhe qual</p><p>área de formação quer se aprofundar é a estudante, sendo assim, elas podem escolher os</p><p>cursos que preencherão suas horas extras na escola. Essa customização também abre caminho</p><p>para que o ensino seja cada vez mais modular e a distância, sendo possível além de escolher</p><p>as áreas, o/a aluno/a possa escolher o momento do dia em que irá estudar.</p><p>O problema é que os vestibulares no Brasil não seguem essa lógica, ou seja, o/a</p><p>aluno/a passa por um ensino médio de acordo com sua área de interesse, mas o modo que</p><p>ele/a será cobrado para a entrada em uma universidade não corresponderá com sua formação</p><p>escolar. Neste sentido, um desdobramento previsível dessa reorganização é que as escolas</p><p>públicas, com cortes de verbas, oferecerão poucos percursos formativos, restringindo a</p><p>escolha dos alunos, enquanto que, as instituições particulares manterão todos os percursos em</p><p>virtude do vestibular.</p><p>Alunos e alunas oriundos/as de estratos mais favorecidos economicamente, poderão</p><p>desfrutar de um ensino presencial, garantindo deste modo, a quantidade de tempo de</p><p>permanência na instituição, enquanto os menos favorecidos economicamente serão</p><p>encaminhados para a modalidade à distância, perdendo em qualidade e em quantidade de</p><p>tempo, visto que não irão possuir a supervisão do/a professor/a, ou seja, o/a estudante de</p><p>escola pública pode não ter a opção de escolha ao ensino presencial, além de ser prejudicado</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>168</p><p>no vestibular8. Isso nos mostra uma previsão da defasagem irreparável que está sistematizada</p><p>no sistema educacional por meio da BNCC e do novo modelo de ensino médio.</p><p>Além disso, é necessário pontuar a organização estabelecida pela BNCC em</p><p>competências, pois ao propor disciplinas e cursos profissionalizantes para todo o ensino</p><p>médio, ela retrocede aos métodos implementados no Brasil pela ditadura civil-militar, sendo,</p><p>portanto, tecnicista, focada na empregabilidade e no eficientismo. A diferença do tecnicismo</p><p>da ditadura para a BNCC contemporânea é mínima, consiste na mudança de nomenclaturas,</p><p>como por exemplo: do foco da técnica e nas metas e objetivos para as habilidades e</p><p>competências, que de igual forma promovem um distanciamento do processo crítico,</p><p>emancipatório e libertário (FILIPE, 2021). O invólucro do momento atual consiste no verniz</p><p>oriundo das teorias comportamentais que mascaram os objetivos colonizadores e neoliberais,</p><p>com uma forte tônica contemporânea dos novos modismos do mercado como o coaching e a</p><p>meritocracia.</p><p>Outro ponto da BNCC é o fato dela utilizar conceitos como de multicultural, a fim de</p><p>atender demandas da Constituição Federal (1998); da LDB - Lei de Diretrizes e Bases</p><p>Educacionais (Lei nº 9.394/1996); da Reforma do Ensino Médio (Lei nº 13.415/17); do</p><p>Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei nº 8.069/1990); do Plano Nacional de</p><p>Educação PNE-2014-2024 (Lei nº 13.005/2014); a roupagem inclusiva da BNCC surge com o</p><p>intuito de atender as normativas conquistadas em anos anteriores ao golpe e que tornaram-se</p><p>leis, como:</p><p>- Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015);</p><p>- Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/2010)</p><p>- Programa Nacional de Direitos Humanos PNDH-3 (Decreto nº 7.037/2009);</p><p>- Atendimento Educacional Especializado (AEE) (Decreto nº 7.611/2011);</p><p>8 Cabe salientar que, os autores não são contra a possibilidade de escolha do jovem, mas problematizamos essa</p><p>escolha, apenas questionamos como os seus desdobramentos, principalmente quando os vestibulares não se</p><p>alinham a essa reorganização.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>169</p><p>- Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (Decreto nº</p><p>7.532/2010, Parecer CNE/CEB nº 36/2001, Resolução CNE/CEB nº 1/2002, Parecer</p><p>CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução CNE/CEB nº 2/2008);</p><p>- Diretrizes Nacionais para a Educação Escolar Quilombola (Decreto nº 7.352/2010,</p><p>Resolução CNE/CEB nº 8/2012);</p><p>- Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (Resolução CNE/CP nº</p><p>1/2012) e</p><p>- Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o</p><p>Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Parecer CNE/CP nº 3/2004 e</p><p>Resolução CNE/CP nº 01/2004).</p><p>Neste sentido, o multiculturalismo entra em cena na BNCC para atender às leis e</p><p>documentos supracitados, não com o intuito de problematizar estereótipos, fomentar a leitura</p><p>crítica da realidade circundante, do passado colonial, entre outros. O vocábulo aparece não</p><p>com o intuito de acolher diferenças, problematizar identidade de gênero e sexualidades, mas</p><p>sim com princípio justamente ao contrário, querendo pasteurizar as diferenças e banalizar toda</p><p>a diversidade por meio da promoção das habilidades e competências que atendam aos</p><p>interesses do mercado.</p><p>Portanto, a multiculturalidade entra em cena como política pública “para inglês ver”,</p><p>tal qual foi elaborada no passado colonial para impedir o tráfico de pessoas escravizadas. Isso</p><p>porque a multiculturalidade que não é ancorada na leitura crítica de mundo, em uma</p><p>problematização de performances de gênero, em uma revisão decolonial da formação do país,</p><p>em um enfrentamento do racismo, do sexismo e da homofobia, consiste em uma</p><p>multiculturalidade “fake”. Sendo assim, problematizar essas questões em um contexto</p><p>político/social no qual existe um retorno do ensino religioso, que existem projetos como o</p><p>escola sem partido, na qual políticos afirmam que os/as professores/as realizam na escola</p><p>“ideologia de gênero”, se aproxima cada vez mais de uma educação bancária, em que</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>170</p><p>alunos/as apenas recebem conteúdos programas, sem direito à devida reflexão e</p><p>reconhecimento (FREIRE, 1997).</p><p>Essa aproximação aos objetivos do mercado, se distancia cada vez mais da leitura</p><p>crítica, libertária e autônoma do mundo, como o patrono da educação brasileira Paulo Freire</p><p>postulou:</p><p>Toda leitura da palavra pressupõe uma leitura anterior do mundo, e toda leitura da</p><p>palavra implica a volta sobre a leitura do mundo, de tal maneira que “ler mundo” e</p><p>“ler palavra” se constituam um movimento em que não há ruptura, em que você vai</p><p>e volta. E “ler mundo” e “ler palavra”, no fundo, pra mim, implica em “reescrever” o</p><p>mundo. (FREIRE, BETTO. 2001, p.15).</p><p>Esse tipo de abordagem além de se distanciar da leitura de mundo que Paulo Freire</p><p>propõe, também se distancia das ideias de um dos pilares da arte/educação do Brasil, como</p><p>aponta Ana Mae Barbosa:</p><p>A consciência cultural conduz você além de você mesmo para retornar com um</p><p>espírito de revisão e reconstrução. Quem eu sou não é uma categoria fixa, depende</p><p>de quem você é, quem é o outro e onde estamos. Sem definir estas questões, é difícil</p><p>definir para onde estamos indo (...). Sabemos que a identidade cultural é construída</p><p>em torno das evidências das "diferenças". Se as diferenças culturais são embaçadas,</p><p>o 'ego' cultural desaparece (BARBOSA, 1998, p.73-80).</p><p>Retoma-se a o papel da leitura de mundo, ou seja, da capacidade crítica reflexiva</p><p>preconizada por Paulo Freire e Ana Mae Barbosa no processo de ensino aprendizagem para</p><p>tecer a crítica não somente de fachada, como aquela representada por um multiculturalismo</p><p>“fake” na BNCC, mas, para demonstrar que o foco das competências também representa um</p><p>intenso prejuízo para a formação dos/as alunos/as:</p><p>Os objetivos proclamados para a escolha dessas dez competências gerais guardam</p><p>uma contradição: prometem preparar os alunos criticamente para a construção de</p><p>uma sociedade justa, democrática e inclusiva, com atividades diversificadas, mas</p><p>capitulam ao projeto ideológico de desenvolvimento da capacidade de adaptação dos</p><p>sujeitos às práticas sociais de amenização/gerenciamento dos conflitos, para a</p><p>perpetuação do status quo. Além disso, fomentam um desenvolvimento de</p><p>personalidades individualistas flexíveis, resilientes e competitivas, ao mesmo tempo</p><p>que autônomas e determinadas. (FILIPE, 2021, p.790).</p><p>Neste sentido, a ênfase dada às competências em detrimento dos conteúdos e o foco</p><p>na resolução de conflitos e em situações do cotidiano, demonstra, além dos objetivos</p><p>neoliberais, um novo tipo de ataque às disciplinas voltadas para a capacidade analítica e a</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>171</p><p>crítica da realidade circundante, como ocorrido no primeiro regime militar com a saída de</p><p>disciplinas como: filosofia, sociologia, e artes.</p><p>Sendo assim, observa-se também, no contexto contemporâneo, uma estratégia similar</p><p>à empregada durante o segundo regime militar que, ao invés da retirada da disciplina de arte,</p><p>a implementou de forma esvaziada por meio do tecnicismo, uma “educação artística” vazia e</p><p>mecânica. Na atualidade, abre-se caminho para a inexistência da arte como disciplina</p><p>obrigatória, a sua categorização como componente curricular e o seu agrupamento dentro das</p><p>linguagens podem possibilitar um precedente para que qualquer professor/a das linguagens</p><p>(Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Artes e Educação Física) da BNCC ministre os</p><p>conteúdos. Isso representa dois retrocessos significativos para a arte educação: a falta da</p><p>obrigatoriedade formativa e a volta à polivalência. O mesmo pode ser observado em análise</p><p>de outros pesquisadores a respeito do ensino de arte na BNCC:</p><p>Diante deste contexto, o esvaziamento dos conteúdos do currículo, limitando-o ao</p><p>cotidiano, é intencional, uma vez que, as disciplinas consideradas básicas, como por</p><p>exemplo, Língua e Matemática, adquirem maior importância na escola, no intuito de</p><p>atender às proposições das avaliações em larga escala e não à formação humana. Já</p><p>as disciplinas “não básicas”, todas as outras das grades curriculares, gradativamente,</p><p>tornar-se-ão secundárias, e em muitos contextos, simplesmente deixarão de ser</p><p>ensinadas. (SOUZA; POROLONICZAK, 2020, p.789).</p><p>Conforme as autoras acima, o apagamento dos conteúdos, do tempo de aula por meio</p><p>da cristalização de temas, hegemônismos temáticos (foco em saberes do norte), do</p><p>esvaziamento conceitual e da figura de disciplinas críticas no contexto escolar propõe um</p><p>completo apagamento na formação subjetiva e integral das pessoas na BNCC. Ainda, como</p><p>apontam Souza e Poroloniczak, a polivalência também é uma realidade no documento, sendo</p><p>essa prática abusiva, pois coloca o/a professor/a como alguém que precise articular muitas</p><p>linguagens em um tempo curto de aula, ficando impossível a reflexão de conteúdos com mais</p><p>ênfase.</p><p>[...] a linguagem artística, artes visuais, dança, música e teatro são chamadas de</p><p>“unidades temáticas”. Além das quatro aqui apresentadas, é acrescentada uma quinta</p><p>unidade chamada de “artes integradas”. Ela refere-se à relação e articulação das</p><p>linguagens artísticas e também ao uso de tecnologia na arte. A BNCC demonstra</p><p>uma abordagem polivalente da disciplina de Arte, pois com a adição desta nova</p><p>unidade temática (artes integradas), fica implícito que as linguagens devem ser</p><p>relacionadas apenas a nesta nova unidade. Esta abordagem desconsidera a formação</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA</p><p>DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>172</p><p>do professor que, geralmente, é licenciado em uma linguagem (música, teatro, dança</p><p>ou artes visuais), ficando a cargo deste profissional trabalhar os conteúdos</p><p>específicos de todas as áreas, ainda que não tenha formação (SOUZA e</p><p>POROLONICZAK, 2020, p. 789-790).</p><p>Outro ponto que, em primeiro momento pode significar um avanço, mas ao ser</p><p>analisado com profundidade e ao ser confrontado com a pedagogia da libertação consiste em</p><p>um engodo, é o fato da BNCC passar a constar no ensino médio o item Projeto de Vida. De</p><p>acordo com as regulamentações da BNCC9, este tópico deve ter enfoque prioritário nas</p><p>competências 6 (Trabalho e projeto de vida) e 7 (argumentação), sendo que ainda precisa</p><p>abordar três dimensões:</p><p>- Autoconhecimento: o encontro consigo;</p><p>- Expansão e exploração: o encontro com o outro e o mundo;</p><p>- Planejamento: o encontro com o futuro e o nós.</p><p>Essas dimensões podem, em uma análise superficial, serem vinculadas à</p><p>aprendizagem humanista e significativa, na qual aproxima interesses pessoais ao processo de</p><p>ensino e aprendizagem, num sentido de motivar alunos/as e potencializar suas dúvidas,</p><p>planos, pensamentos, entre outros. O problema dessa abordagem, que pode significar um</p><p>avanço, consiste no fato dela ser abordada desvinculada da leitura crítica de mundo e</p><p>compreensão do contexto histórico. Quando isso não ocorre, o estímulo de se encontrar</p><p>consigo, com o outro e com o mundo pode ser levado a um encontro sem questionamento, que</p><p>não problematiza as condições históricas, políticas e sociais que conformam seu ser e o</p><p>mundo, conforme explica Ana Mae Barbosa:</p><p>Em The arts and the cration of mind, Eliot Eisner estabelece uma taxonomia das</p><p>visões de Arte\Educação que persistem na contemporaneidade. Suas conceituações</p><p>de arte e de educação o aproximam de Jhon Dewey e de Paulo Freire. Conceitua a</p><p>educação como um processo de aprender a como inventar a nós mesmos. Paulo</p><p>Freire, menos confiante em nossas invenções pessoais, ensinou que educação é um</p><p>processo de ver a nós mesmos e ao mundo a volta de nós” (BARBOSA, 2008b.</p><p>p.12).</p><p>9 Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base, acessado em 06 de Fev de 2022.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>173</p><p>Neste sentido, quando esse projeto de vida é instigado distante da contextualização,</p><p>ele oferece um perigo, justamente porque não liberta, não influi na autonomia porque não</p><p>problematiza o mundo. Essa falta de complexidade, de leitura crítica do mundo, abre</p><p>precedente para assimilação passiva do mundo, a obediência e a subserviência aos objetivos</p><p>dos detentores do poder disfarçada de projeto de vida.</p><p>A leitura do mundo, de si e do outro que não convida à reconstrução do mundo, que</p><p>não convida a insubordinação do mundo, não trabalha para formação integral da pessoa, para</p><p>sua autonomia e para a soberania da nação. “A leitura da palavra deve ser inserida na</p><p>compreensão da transformação do mundo, que provoca a leitura dele e deve remeter-nos,</p><p>sempre, à leitura de novo do mundo (FREIRE, BETTO. 2001.p.15).” Isso, aliado a um ensino</p><p>de arte que vê a arte como uma habilidade para o mercado, além de esvaziar o processo</p><p>educativo também esvazia a arte e o seu fazer artístico, conforme também salienta Souza e</p><p>Poroloniczak (2020):</p><p>Além de compreender os objetivos de conhecimento e habilidades, a disciplina deve</p><p>abordar também as competências gerais da Educação Básica, as competências da</p><p>linguagem e as competências específicas da arte, sendo que apenas as competências</p><p>específicas são nove. Também não há nestas competências específicas nenhuma</p><p>menção na compreensão da arte como trabalho humano, o que se tem de mais</p><p>progressista neste trecho são menções a uma abordagem “crítica e</p><p>problematizadora”, mas não revolucionário e humanizadora, como a arte se</p><p>apresenta em sua essência. (p.790).</p><p>Devemos portanto, como arte educadoras, reavivar as práticas insubmissas,</p><p>decoloniais, feministas e transgressoras. Devemos reativar a Abordagem Triangular</p><p>árqueavel, manobrar suas dobras para lados e bases movediças críticas, que transbordem o</p><p>pensamento e criem rupturas dentro da BNCC e, principalmente, do Novo Ensino Médio,</p><p>fazendo com que a luta de Ana Mae Barbosa, desde os anos de 1980, não seja em vão, não</p><p>seja a lembrança de um momento difícil, mas de também de conquistas relevantes para nossa</p><p>liberdade, produção científica e de métodos educativos escavado nas trincheiras latinas.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>174</p><p>4. CONSIDERAÇÕES FINAIS: INSUBMISSÃO - UMA ATITUDE URGENTE PARA</p><p>A RETOMADA DE ESPAÇOS E PARA ASSEGURAR A REPRESENTATIVIDADE</p><p>EM SALA DE AULA</p><p>Perante a contextualização realizada a respeito da BNCC e da Abordagem Triangular,</p><p>pode-se inferir que é urgente a retomada de seu caráter combativo, insurgente e insubmisso</p><p>para a reorganização dos/as arte/educadores a fim de reconquistar seu espaço na matriz</p><p>curricular, principalmente do Ensino Médio.</p><p>Além da reconquista de espaço, ou seja, da retomada do entendimento da Arte como</p><p>disciplina e não como linguagem e Componente Curricular, também deve reaver o</p><p>protagonismo do/a arte/educador como figura principal para pensar a arte/educação, assim</p><p>como do/a educador/a para refletir o ensino no Brasil, pensando sua política pública e não</p><p>investidores e o mercado internacional.</p><p>Trabalhamos a reflexão de uma pauta que emerge após a triangulação a respeito da</p><p>arte/educação na contemporaneidade, consiste, portanto, na urgência de reorganização da</p><p>categoria para além de reivindicar a volta da obrigatoriedade do ensino de arte, mas também</p><p>de um processo democrático e da aprovação dos/das docentes para a elaboração de políticas</p><p>públicas na área de arte.</p><p>Isso significa o mínimo, visto que os/as profissionais da educação consistem nas</p><p>figuras ideais e habilitadas para pensar sua área, além de garantir que a democracia seja</p><p>respeitada na elaboração das políticas públicas. Neste sentido, uma primeira insubmissão que</p><p>emerge, como um fruto do processo de triangulação, vinculada ao eixo do fazer, reflete uma</p><p>insubmissão relativa ao processo de elaboração e aprovação das políticas públicas que</p><p>deveriam ser aprovadas pelos seus maiores interessados, os/as professores e estudantes.</p><p>Mais que um texto apresentado como destrinchador de ideias conservadoras, de</p><p>pensamentos que deveriam estar cristalizados nas épocas das ditaduras sangrentas do Brasil,</p><p>trazemos aqui um outro lado para a Abordagem Triangular. Insistimos na aplicação humana e</p><p>dobrável que Ana Mae Barbosa nos apresentou, e, assim como a autora, buscamos reler o</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>175</p><p>modo como tal abordagem transitou nos espaços educativos e políticos do Brasil. A</p><p>triangulação, quando movimentada, transforma-se em um instrumento combativo para os</p><p>blocos engessados de pensamento, de leis conservadoras, fascistas e perigosas.</p><p>Pratiquem a insubmissão e criem, como Lygia Clark propôs em Bichos, seus próprios</p><p>modos de romper com dobradiças do poder branco, cis normativo e conservador!</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BARBOSA, Ana Mae. Ensino da Arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2008a.</p><p>BARBOSA, Ana Mae. Quais são as histórias de resistência, resiliência e insurgência na</p><p>educação artística que queremos manter vivos? Discurso proferido na abertura InSEA –</p><p>International Society of Education Through Art no ano de 2021, no prelo.</p><p>BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no ensino da arte. Cortez Editora, 2018.</p><p>BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. Editora Perspectiva SA, 2020.</p><p>BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. C\Arte. Belo Horizonte: 1998.</p><p>BARBOSA, Ana Mae. Arte\Educação Contemporânea, Consonâncias Internacionais. 2º</p><p>ed. São Paulo: Cortez, 2008b.</p><p>BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras. Ciênc. Polít.</p><p>[online], n.11, 2013, p. 89-117.</p><p>BELLINI, Marta. O desmanche da educação pública nos governos temer e Bolsonaro: o</p><p>caso da base nacional comum curricular e Ensino de ciências. Koan: Revista de Educação</p><p>e Complexidade, n. 8, dez. 2020, p.05-30.</p><p>BRASIL. BNCC – Base Nacional Curricular Comum. Disponível em:</p><p>acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>BRASIL. Lei no9.394, de 20 de dezembro de 1996.Estabelece as diretrizes e bases da</p><p>educação nacional. Disponível em:</p><p>acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>BRASIL. Lei n.º 13.005 de 15 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação</p><p>– PNE e dá outras providências. 2014. Disponível em: . Acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>http://basenacionalcomum.mec.gov.br/</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>176</p><p>BRASIL. Lei no13.415 de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis Nºs 9.394, de 20 de</p><p>dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20</p><p>de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação</p><p>Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho</p><p>-CLT, aprovada pelo Decreto-Lei Nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei Nº 236,</p><p>de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei Nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a</p><p>Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.</p><p>2017b. Disponível em: . Acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 05 de</p><p>outubro de 1988. Disponível em:</p><p>. Acessado em 07 de fev</p><p>de 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do</p><p>Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF: DOU, 16.7.1990. Retificado em</p><p>27.9.1990. Disponível em: . Acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da</p><p>Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm acessado em 07 de</p><p>fev de 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial;</p><p>altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24</p><p>de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm acessado em 07 de</p><p>fev de 2022.</p><p>BRASIL. Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro de 2009 - Programa Nacional de Direitos</p><p>Humanos - PNDH-3 e dá outras providências. Disponível em:</p><p>https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2009/decreto-7037-21-dezembro-2009-598951-</p><p>publicacaooriginal-121386-</p><p>pe.html#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20aprovado%20o%20Programa,forma%20do%20Ane</p><p>xo%20deste%20Decreto.&text=Diretriz%2025%3A%20Moderniza%C3%A7%C3%A3o%20</p><p>da%20legisla%C3%A7%C3%A3o,%C3%A0%20verdade%2C%20fortalecendo%20a%20de</p><p>mocracia. Acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm</p><p>https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2009/decreto-7037-21-dezembro-2009-598951-publicacaooriginal-121386-pe.html#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20aprovado%20o%20Programa,forma%20do%20Anexo%20deste%20Decreto.&text=Diretriz%2025%3A%20Moderniza%C3%A7%C3%A3o%20da%20legisla%C3%A7%C3%A3o,%C3%A0%20verdade%2C%20fortalecendo%20a%20democracia</p><p>https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2009/decreto-7037-21-dezembro-2009-598951-publicacaooriginal-121386-pe.html#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20aprovado%20o%20Programa,forma%20do%20Anexo%20deste%20Decreto.&text=Diretriz%2025%3A%20Moderniza%C3%A7%C3%A3o%20da%20legisla%C3%A7%C3%A3o,%C3%A0%20verdade%2C%20fortalecendo%20a%20democracia</p><p>https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2009/decreto-7037-21-dezembro-2009-598951-publicacaooriginal-121386-pe.html#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20aprovado%20o%20Programa,forma%20do%20Anexo%20deste%20Decreto.&text=Diretriz%2025%3A%20Moderniza%C3%A7%C3%A3o%20da%20legisla%C3%A7%C3%A3o,%C3%A0%20verdade%2C%20fortalecendo%20a%20democracia</p><p>https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2009/decreto-7037-21-dezembro-2009-598951-publicacaooriginal-121386-pe.html#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20aprovado%20o%20Programa,forma%20do%20Anexo%20deste%20Decreto.&text=Diretriz%2025%3A%20Moderniza%C3%A7%C3%A3o%20da%20legisla%C3%A7%C3%A3o,%C3%A0%20verdade%2C%20fortalecendo%20a%20democracia</p><p>https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2009/decreto-7037-21-dezembro-2009-598951-publicacaooriginal-121386-pe.html#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20aprovado%20o%20Programa,forma%20do%20Anexo%20deste%20Decreto.&text=Diretriz%2025%3A%20Moderniza%C3%A7%C3%A3o%20da%20legisla%C3%A7%C3%A3o,%C3%A0%20verdade%2C%20fortalecendo%20a%20democracia</p><p>https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2009/decreto-7037-21-dezembro-2009-598951-publicacaooriginal-121386-pe.html#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20aprovado%20o%20Programa,forma%20do%20Anexo%20deste%20Decreto.&text=Diretriz%2025%3A%20Moderniza%C3%A7%C3%A3o%20da%20legisla%C3%A7%C3%A3o,%C3%A0%20verdade%2C%20fortalecendo%20a%20democracia</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>177</p><p>BRASIL. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o</p><p>atendimento educacional especializado e dá outras providências. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm acessado em</p><p>07 de fev de 2022.</p><p>BRASIL. Estabelece as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do</p><p>Campo. Brasília, 2002, CNE.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Decreto Nº 7.352, de 4 de Novembro de 2010. Dispõe</p><p>sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma</p><p>Agrária – PRONERA.</p><p>BRASIL. Resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012 - Define Diretrizes Curriculares</p><p>Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.</p><p>Disponível em:</p><p>http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/diretrizes_nacionais_educacao_es</p><p>colar_quilombola.pdf acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>BRASIL. Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. Disponível em:</p><p>https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/educacao-em-direitos-humanos/diretrizes-</p><p>nacionais-para-a-educacao-em-direitos-humanos acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-</p><p>Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Disponível em:</p><p>https://www.gov.br/inep/pt-br/centrais-de-conteudo/acervo-linha-editorial/publicacoes-</p><p>diversas/temas-interdisciplinares/diretrizes-curriculares-nacionais-para-a-educacao-das-</p><p>relacoes-etnico-raciais-e-para-o-ensino-de-historia-e-cultura-afro-brasileira-e-africana</p><p>acessado em 07 de fev de 2022.</p><p>CAMPOS, Marcio D’Olne. Paulo Freire entre a Boniteza do Ato de Amar e a Boniteza do</p><p>Ato de Educar. In: FREIRE, Ana Maria Araújo (Org.). A palavra boniteza na leitura do</p><p>Mundo de Paulo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 2021, p. 199-235.</p><p>FILIPE, Fabiana Alvarenga; SILVA, Dayane dos Santos e COSTA, Áurea de Carvalho. Uma</p><p>base comum na escola: análise do projeto educativo da Base Nacional Comum Curricular. in:</p><p>Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação [online]. 2021, v. 29, n. 112, pp. 783-</p><p>803. Disponível em: . Acessado em 07</p><p>de fev de 2022.</p><p>FREIRE, Paulo; BETTO, Frei. Essa Escola Chamada Vida: depoimentos ao repórter</p><p>Ricardo Kotscho. São Paulo: Editora Ática, 2001.</p><p>https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm</p><p>http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/diretrizes_nacionais_educacao_escolar_quilombola.pdf</p><p>http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/diretrizes_nacionais_educacao_escolar_quilombola.pdf</p><p>https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/educacao-em-direitos-humanos/diretrizes-nacionais-para-a-educacao-em-direitos-humanos</p><p>https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/educacao-em-direitos-humanos/diretrizes-nacionais-para-a-educacao-em-direitos-humanos</p><p>https://www.gov.br/inep/pt-br/centrais-de-conteudo/acervo-linha-editorial/publicacoes-diversas/temas-interdisciplinares/diretrizes-curriculares-nacionais-para-a-educacao-das-relacoes-etnico-raciais-e-para-o-ensino-de-historia-e-cultura-afro-brasileira-e-africana</p><p>https://www.gov.br/inep/pt-br/centrais-de-conteudo/acervo-linha-editorial/publicacoes-diversas/temas-interdisciplinares/diretrizes-curriculares-nacionais-para-a-educacao-das-relacoes-etnico-raciais-e-para-o-ensino-de-historia-e-cultura-afro-brasileira-e-africana</p><p>https://www.gov.br/inep/pt-br/centrais-de-conteudo/acervo-linha-editorial/publicacoes-diversas/temas-interdisciplinares/diretrizes-curriculares-nacionais-para-a-educacao-das-relacoes-etnico-raciais-e-para-o-ensino-de-historia-e-cultura-afro-brasileira-e-africana</p><p>REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 5, v.5, nº 16, jan./abr. 2022. ISSN: 2595-2803</p><p>Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/</p><p>178</p><p>FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler, em três artigos que se completam. São</p><p>Paulo: Cortez, 2011a.</p><p>FREIRE, Paulo. Cartas Pedagógicas e outros escritos. São Paulo, Editora UNESP, 2000.</p><p>FREIRE, Paulo. Educação “bancária” e educação libertadora. Introdução à psicologia</p><p>escolar, v. 3, p. 61-78, 1997.</p><p>FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 14 ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Paz</p><p>e Terra, 2011b.</p><p>FREIRE, Paulo. Cartas Pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.</p><p>Pedagogia do oprimido. 43 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.</p><p>HOOKS, Bell. Ensinando a Transgredir: a educação como prática de liberdade. São</p><p>Paulo: Elefante, 2013.</p><p>MADDOX, Cleberson D. G. Decolonização do pensamento em arte e educação. Tese</p><p>2021, no prelo.</p><p>MIGNOLO, Walter D. 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