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Física Laboratorial I Ano Lectivo 2012/2013 Departamento de Física da FCTUC 1/7 TRABALHO PRÁTICO Nº 4 - LICENCIATURA EM FÍSICA CONDENSADORES E DIELÉCTRICOS∗∗∗∗ Objectivo - Este trabalho pretende ilustrar a constituição e o funcionamento de um condensador, bem como determinar, de uma forma simples, a constante dieléctrica que o caracteriza. 1. Introdução 1.1 Noções básicas Considerem-se dois condutores A e B, isolados e inicialmente e descarregados, colocados a uma certa distância um do outro (conforme exemplifica a figura 1) e entre os quais se estabelece, de alguma forma, uma diferença de potencial V. O estabelecimento de uma carga +Q no condutor ao potencial maior e de uma carga -Q no condutor ao potencial menor surge associada à diferença de potencial V. A carga Q depende apenas, para um dado valor V da diferença de potencial aplicada, do meio e das características geométricas dos dois condutores, variando linearmente com V. Define-se então a capacidade C do sistema de dois condutores (designado neste contexto por condensador) como sendo o quociente entre a carga Q e a diferença de potencial V: V QC = (1) A unidade S.I. de capacidade é o Farad (F), que corresponde à capacidade de um condensador que acumula uma carga de 1 Coulomb quando se lhe aplica uma diferença de potencial de 1 Volt. No caso exemplificado na figura 1, de um condensador plano e de placas paralelas, constituído por dois condutores planos de área A e colocados paralelamente, no vazio, a uma distância d um do outro, pode-se demonstrar que a capacidade vem dada pela seguinte expressão: d AC 0ε= (2) em que mF /10854187817.8 120 −×=ε é a permitividade eléctrica do vazio. Se as placas estiverem separadas por um meio isolador dieléctrico, a capacidade vem aumentada de um factor κ, designado constante dieléctrica do meio: 0 0 , κε=ε ε = ε κ= d A d AC (3) ε designa-se então por permitividade eléctrica do meio dieléctrico. Neste trabalho prático determinar-se-á a constante dieléctrica de um filme de poliéster (a vulgar "folha de acetato"). ∗ Os apontamentos sobre funcionamento de um osciloscópio podem ser úteis para quem não tem experiência de trabalho com este aparelho. Figura 1. Condensador constituído por dois condutores planos de área A e colocados paralelamente, no vazio, a uma distância d um do outro Física Laboratorial I Ano Lectivo 2012/2013 Departamento de Física da FCTUC 2/7 1.2. Carga e descarga de um condensador através de uma resistência 1.2.1. Carga Considere-se o circuito da figura 2 que é apresentado na página seguinte. Figura 2. Circuito série de uma bateria de força electromotriz E com um condensador de capacidade C e uma resistência R. Inicialmente, o condensador encontra-se descarregado e o interruptor S encontra-se aberto. Em t = 0, fecha-se o interruptor, iniciando-se o processo de carga do condensador. A tensão no condensador é VC=VQ-VT . Quando se fecha o interruptor, a diferença de potencial devida à pilha força o estabelecimento de uma corrente i da placa do condensador ligada ao positivo da pilha para a placa ligada ao negativo. À medida que se vai armazenando a carga q nas placas do condensador (+q numa das placas e -q na outra), estabelece-se no circuito uma diferença de potencial que contraria a força electromotriz da pilha (E). Quando estas duas diferenças de potencial se igualam, cessa a corrente no circuito e a carga nas placas atinge o valor máximo Qf = CE (+Qf na placa positiva e -Qf na placa negativa). A corrente no circuito e a carga do condensador variam no tempo de acordo com as equações: ( ) ( ) E C tq tiR =+ (4) ( ) ( ) dt tdq ti = (5) A solução destas equações, conforme pode ser facilmente verificado (admitindo que o condensador está inicialmente descarregado), tem as formas seguintes: ( ) −−= RC tCEtq exp1 (6) ( ) −= RC t R E ti exp (7) A evolução temporal prevista por estas equações está representada graficamente nas figuras 3 e 4. Saliente-se a importância do factor τ = RC, que tem dimensões de tempo (verifique!). τ corresponde ao tempo que o condensador levaria a carregar até à carga final Qf = CE, se a corrente se mantivesse constantemente igual a I0 = E/R. No entanto, uma vez que a corrente diminui exponencialmente com o tempo, a carga acumulada em t = RC é (1-1/e)Qf, tendo nesse instante a corrente decrescido para I0 /e. De qualquer forma, RC caracteriza o tempo típico que o condensador leva a carregar (ou a descarregar, como veremos adiante). Para tempos t >> RC, pode-se considerar o condensador completamente carregado. Na prática, não medimos a carga no condensador mas a queda de tensão nos seus terminais, , que é proporcional à carga: (8) Identicamente, a queda de tensão na resistência, , é proporcional à corrente e é uma forma indirecta de a medir: (9) Física Laboratorial I Ano Lectivo 2012/2013 Departamento de Física da FCTUC 3/7 Figura 3. Evolução temporal da carga do condensador do circuito da figura 2. O condensador carrega desde a carga inicial Q(0)=0 até à carga final Qf = CE. Em t = RC, acumulou já a carga Qf(1-1/e). Figura 4. Evolução temporal da corrente no circuito da figura 2. A corrente diminui exponencialmente desde o valor inicial I(0)=E/R até zero, no limite. Em t = RC, diminui de um factor e para I0/e. 1.2.2. Descarga de um condensador Consideremos agora que temos um condensador inicialmente carregado com uma carga Q0 e que o ligamos em série com uma resistência R, conforme esquematiza a figura 5. Figura 5. Condensador inicialmente carregado com a carga Q0 ligado em série a uma resistência R. Em t = 0, fecha-se o interruptor S, iniciando-se o processo de descarga do condensador. A queda de tensão no condensador é VC = VP- VT . Quando se fecha o interruptor S, a diferença de potencial existente entre as placas do condensador dá origem a uma corrente i através da qual ocorre a descarga do condensador. Este processo é regido pelas equações: ( ) ( ) 0=+ C tq tiR (10) ( ) ( ) dt tdq ti −= (11) A solução das equações (10) e (11) é, agora, ( ) −= RC tQtq exp0 (12) ( ) −= RC t RC Q ti exp0 (13) Agora, quer a carga do condensador, quer a corrente i no circuito diminuem exponencialmente desde os seus valores iniciais. τ = RC corresponde, analogamente ao processode carga, ao tempo que o condensador levaria a descarregar completamente se a corrente se mantivesse constantemente igual a Q0/RC em todo o processo de descarga. Não sendo i constante, τ corresponde agora ao tempo que a carga e a corrente levam até verem os respectivos valores iniciais diminuídos de um factor e. Tal como no processo de carga do condensador podemos obter experimentalmente q(t) e i(t) a partir das quedas de tensão no condensador, VC, e na resistência VR, respectivamente. Neste caso VC = VR (ver Fig.5) : (14) (15) Física Laboratorial I Ano Lectivo 2012/2013 Departamento de Física da FCTUC 4/7 Figura 6. Evolução temporal da carga do condensador do circuito da figura 5. O condensador descarrega exponencialmente desde a carga inicial Q0 até zero. Em t = RC, a carga diminuiu de um factor e para Q0/e. Figura 7. Evolução temporal da corrente no circuito da figura 5. A corrente diminui exponencialmente desde o valor inicial I(0) = Q0/RC até zero. Em t = RC, diminui de um factor e para I0/e. 1.2.3. Estudo da carga e descarga de condensadores usando ondas quadradas Se, em vez de uma fonte de tensão contínua, usarmos um gerador de tensão fornecendo ondas quadradas como a idealizada na figura 9, o processo de carga e descarga do condensador será, em geral, mais complicado do que os processos de carga e descarga simples descritos anteriormente. 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 V G (V ) Tempo( ms) T/2 Figura 8. Circuito semelhante ao da Fig.2 mas com um gerador que fornece uma tensão VG com a forma de uma onda quadrada como a que está representada na figura 9. Quando VG=1 V o condensador carrega, quando VG=0 o condensador descarrega. Note-se que a corrente inverte e a queda de tensão na resistência VR=VP-VQ troca de sinal quando VG varia. Figura 9. Tensão VG num gerador que fornece uma onda quadrada de período T (neste caso T = 2 ms). Na realidade, o gerador é obviamente incapaz de fazer subir ou descer a tensão de um modo infinitamente rápido. A tensão leva um certo tempo para conseguir elevar-se desde zero até ao valor máximo, bem como para efectuar o processo inverso. 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 V C (V o lt) Tempo (ms) 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 V R (V o lt) Tempo (ms) Figura 10. Tensão VC=VP-VT nos terminais do condensador (Fig.8) quando a tensão no gerador tem a forma da Fig.9. Neste exemplo RC=0,12 ms . No intervalo 0 < t <1 (em ms) a tensão no gerador é constante e igual a 1 V. Neste caso RC<<T/2 (RC=0,12 ms e T/2=1 ms) e por isso o condensador carrega completamente nesse intervalo. No intervalo 1 < t < 2 (em ms) a tensão no gerador é zero e o condensador descarrega completamente. Nos intervalos seguintes o processo repete-se. Figura 11. Tensão VR=VP-VQ nos terminais da resistência (Fig.8) quando a tensão no gerador tem a forma da Fig.9 e RC tem o mesmo valor que foi considerado na Fig.10. A tensão VR é proporcional à corrente i(t) e traduz a sua dependência temporal. Física Laboratorial I Ano Lectivo 2012/2013 Departamento de Física da FCTUC 5/7 Se for escolhido um período T/2 da onda quadrada suficientemente grande, em comparação com τ = RC (T/2 >> RC), então pode admitir-se que o condensador carrega completamente nos intervalos de tempo em que a tensão aplicada é constante e que também descarrega completamente nos intervalos de tempo em que a tensão aplicada é nula. No caso de uma tensão como a da figura 9, por exemplo, o condensador carregará no intervalo de tempo [0,1] em que a tensão no gerador é 1V, descarregará no intervalo [1,2] em que a tensão no gerador é zero, etc. Como espera que se alterem as figuras 10 e 11 se T/2 ~ RC? Pode, com o auxílio do osciloscópio, estudar-se simultaneamente os dois processos de carga e descarga medindo a queda de tensão no condensador (proporcional à carga q(t) do condensador) e a queda de tensão na resistência (proporcional à corrente i(t) no circuito). 2. Realização experimental Material necessário: folhas de alumínio; folhas de acetato; osciloscópio; resistências; gerador de sinais; condensadores comerciais; fita cola. 2.1. Determinação da constante dieléctrica através da medição do tempo característico de carga e descarga do condensador 2.1.1. Verifique, e descreva no seu relatório, o modo como está preparado o condensador. Anote os materiais de que são formadas as placas e o dieléctrico. Faça as medidas necessárias e calcule a área de cada uma das placas. 2.1.2. Meça, com o auxílio de um multímetro, o valor da resistência (da ordem de 10 kΩ) que utilizará no circuito. Considere o erro nesta determinação desprezável. Anote o valor na folha de registo de dados. 2.1.3. Monte o circuito esquematizado na figura ao lado. Substitua o gerador E e o interruptor S pelo sinal obtido de um gerador de sinais. Isto é, ligue os terminais do gerador de sinais ao terminal livre de C e ao terminal também livre de R. Tenha o cuidado de forçar um bom contacto entre as folhas de alumínio e a folha de acetato (PORQUÊ?), colocando um peso em cima do conjunto (distribuído uniformemente). 2.1.4. Ajuste o gerador de sinais para que forneça ondas quadradas com frequência de 1 kHz. Anote na folha de registo de dados o valor da frequência e também da amplitude. 2.1.5. Observe, com o auxílio do osciloscópio, a tensão aos terminais do condensador, VC, e a tensão à saída do gerador, VG. Para isso, observe no canal 1 do osciloscópio a tensão à saída do gerador VG= VP-VT e no canal 2 a tensão nos terminais do condensador VC=VQ-VT, sendo VT=0. Note que o cabo ligado a um canal do osciloscópio tem duas extremidades: uma designa-se de ponta de prova e deve ser ligada ao ponto P ou Q. A outra extremidade, em forma de crocodilo, deve ser ligada à terra. Estabilize a imagem da tensão no condensador, fazendo o trigger no canal 1. Importante: o osciloscópio mede a diferença de potencial relativamente à terra. Tenha o cuidado de ligar os contactos correspondentes à terra (em forma de crocodilo) ao mesmo ponto do circuito e também à terra do gerador de sinais, como se mostra nas figuras ao lado. Ajustando o trigger e a base de tempos de forma adequada, obtenha no ecrã imagens de aproximadamente dois Física Laboratorial I Ano Lectivo 2012/2013 Departamento de Física da FCTUC 6/7 períodos do sinal. Faça um esboço dos sinais numa folha de papel quadriculado ou milimétrico indicando as escalas. 2.1.6 Observe agora a diferença de potencial aos terminais do gerador VG e aos da resistência VR. Como VR tem de ser medido em relação à terra é preciso alterar o circuito trocando a resistência com o condensador (ver a figura, VR é agora VR=VQ-VT). Faça um esboço (à escala) dos sinais que observa e explique a forma destes tendo em conta as equações acima. a) Medição de RC usando o processo de descarga 2.1.7. A partir das imagens obtidas no ponto anterior, pode estimar o tempo característico τ=RC. Para tal, ajuste as escalas do osciloscópio para obter uma imagem semelhante à da Fig.6. Useos seguintes 4 métodos (não se esqueça de indicar as respectivas incertezas): 1) pela abcissa de intercepção da tangente ao sinal, observado aos terminais do condensador, no instante t=0 (ver Fig.6); pode fazé-lo com o auxílio de um pequeno papel; 2) medindo o tempo em que a diferença de potencial nos terminais do condensador diminui por um factor de e (2,7183); 3) pela abcissa de intercepção da tangente ao sinal, observado nos terminais da resistência, no instante t=0; 4) medindo o tempo em que a diferença de potencial aos terminais da resistência diminui por um factor de e; 2.1.8. Compare os 4 valores de RC medidos e comente. Calcule a capacidade do condensador, C. Usando um multímetro apropriado, faça a medida da mesma capacidade. Compare os valores obtidos através da medição da constante do tempo RC com o valor da capacidade obtida com o multímetro. 2.1.9. Determine, usando a equação (3), a permitividade eléctrica e a constante dieléctrica do meio, com as respectivas incertezas. Para isso, calcule a espessura média das folhas de acetato com o auxílio de uma craveira (ou um micrómetro), medindo a espessura de um conjunto de folhas (cerca de 10). b) Medição do RC usando o processo de carga 2.1.10. Verifique que também pode extrair RC a partir da imagem correspondente à carga do condensador. Meça a constante de tempo usando um dos métodos sugeridos no ponto 2.1.7, da sua escolha. Como devia ser modificado o método 2 (a partir da forma do sinal nos terminais do condensador) para determinar o valor de RC? 2.2. Dependência da capacidade com a espessura 2.2.1. Repita a medição da capacidade do condensador por um dos métodos usados no ponto 2.1 da sua escolha usando, sucessivamente, 2, 4 e 8 folhas de acetato entre as folhas de alumínio (anote no relatório o método usado). Física Laboratorial I Ano Lectivo 2012/2013 Departamento de Física da FCTUC 7/7 2.2.2. Em gráfico (a incluir no relatório) represente a variação da capacidade em função de 1/d. A partir do gráfico, determine o valor da permeabilidade eléctrica e da constante dieléctrica do meio. Compare com os valores obtidos no ponto anterior e comente. 2.3. Variação da capacidade com a área das placas 2.3.1. Repita a medição da capacidade do condensador formado por uma única folha de acetato, para pelo menos um valor diferente da área das folhas de alumínio. Descreva o modo como procedeu. 2.3.2. Compare o resultado com valor anteriormente obtido. Qual o efeito da área das placas sobre a capacidade de um condensador paralelo? 2.4. Comparação com condensadores comerciais 2.4.1. No circuito eléctrico que vem utilizando, substitua o condensador de acetato por um ou vários dos condensadores comerciais disponibilizados. 2.4.2. Compare a forma dos sinais de carga e descarga com os do condensador artesanal e comente. 2.4.3. Meça a capacidade de um dos condensadores comerciais usando um dos métodos utilizados anteriormente e compare com o valor da capacitância indicado no condensador. Relatório O relatório deste trabalho vai ser elaborado num formato livre. Bibliografia [1] M.M.R.R. Costa e M.J.B.M. de Almeida, Fundamentos de Física, 2ª edição, Coimbra, Livraria Almedina (2004). [2] Paul Tipler, Física, Editora Guanabara-Koogan, 4ª Edição (2000). [3] M. Alonso e E. Finn, Física, Addison-Wesley Iberoamericana (1999) [4] Introdução à análise de dados nas medidas de grandezas físicas, Coimbra, Departamento de Física da Universidade (2005/06). [5] M.C. Abreu, L. Matias e L.F. Peralta, Física Experimental - Uma introdução, Lisboa, Editorial Presença (1994).
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