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Niveis e variação - Port Instr.


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NÍVEIS DE LINGUAGEM E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA 
LÍNGUA: Falar de uma comunidade, estruturalmente referenciado, portador de apreciável tradição cultural e 
reconhecido oficialmente por um Estado como forma de comunicação em suas relações internas e externas. 
FALA: Ato individual, um bem que o falante utiliza a seu modo, segundo a suas possibilidades. 
É importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo 
mais perceptível na pronúncia e no vocabulário. Esse fenômeno da variação se torna mais complexo porque os níveis 
não se apresentam de maneira estanque, eles se superpõem. 
“A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros 
Vinha da boca do povo na língua errada do povo 
Língua certa do povo 
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil” 
 (Manuel Bandeira) 
NÍVEL COLOQUIAL 
É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase sempre rebelde à norma gramatical e é 
carregada de vícios de linguagem (solecismo - erros de regência e concordância; barbarismo - erros de pronúncia, grafia 
e flexão; ambigüidade; cacofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação, que ressalta 
o caráter oral e popular da língua. 
Existe uma linguagem vulgar, segundo Dino Preti, “ligada aos grupos extremamente incultos, aos analfabetos”, aos que 
têm pouco ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar multiplicam-se estruturas com “nóis vai, 
ele fica”, “eu di um beijo nela”, “Vamo i no mercado”. 
-Eu não vi ela hoje. Eu não a vi hoje. 
-Ninguém deixou ele falar. Ninguém me deixou falar 
-Deixe eu ver isso! Deixe-me ver isso! 
-Não assisti o filme nem vou assisti-lo. Não assisti ao filme nem vou assistir a ele. 
-Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo. Sou teu pai, por isso vou perdoar-lhe. 
NÍVEL FORMAL 
É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que se apresenta com terminologia especial. É usada 
pelas pessoas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediência às normas gramaticais. Mais 
comumente usada na linguagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, mais estável, 
menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científicas, 
noticiários de TV, programas culturais. 
- Maria, viste meu filho na escola? 
- Não, Teresa, Vê-lo-ei amanhã somente. 
 
FAINOR – FACULDADE INDEPENDENTE DO NORDESTE 
CURSO:________________________________ – 1ºSEMESTRE 
DISCIPLINA: PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 
 PROF.ª – IVANA FERRAZ Data: ____/_____/______ 
Aluno (a): _________________________________________ 
“Ora, dirão os meus leitores, que linguajar mais horrível. Que pedantismo, que erudição falsa, que inadequação à nossa 
realidade. Ninguém fala assim. Enfim uma observação inteligente: ninguém fala assim, porque essas formas, e muitas 
outras que não estão nos livros, não se usam.” 
 Lia Luft 
NÍVEL TÉCNICO 
O Google está se associando à companhia privada Energy Inc para fornecer aos domicílios nos Estados Unidos um 
software de gestão de energia, superando medidores inteligentes e potencialmente elevando a eficiência energética, 
informou o Google em seu blog. 
O Google lançou em fevereiro uma ferramenta de web, chamada PowerMeter, que permite aos usuários monitorar 
quanta eletricidade utilizam em suas casas. Nos últimos meses, algumas centenas de clientes testaram o software. 
 Folha de São Paulo 
NÍVEL LITERÁRIO ou ARTÍSTICO 
“Última flor do Lácio, inculta e bela, 
És, a um tempo, esplendor e sepultura: 
Ouro nativo, que na ganga impura 
A bruta mina entre os cascalhos vela...” 
 Olavo Bilac 
“O preconceito lingüístico é fruto de uma visão de mundo estreita, inspirada em mitos e superstições que têm como 
único objetivo perpetuar os mecanismos de exclusão social. 
Ele é alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e manuais 
que pretendem ensinar o que é ‘certo’ e o que é ‘errado’.” 
 Marcos Bagno 
Vários fatores podem originar variações lingüísticas: 
 Variação histórica 
 Variação geográfica 
 Variação social 
 Variação estilística 
 Variação Diacrônica / Variação histórica 
Essa variação corresponde aos aspectos históricos. 
São Paulo 1830 
Hontem pela manhãa se me enviou um negro do gentio de Guinè, muito boçal, e trajado à maneira dos que vem de 
comboi, e se me dice, foi pegado, vagando como perdido. Por intérprete apenas pude colher que ainda não era 
baptizado, e que saindo a lenhar se perdeu: queira por tanto V.m. inserir este anúncio em sua folha, a fim de apparecer 
dono, sobre o que declaro, que se não apparecer por 15 dias contados da publicação da folha, heide remetel-o á 
Provedoria dos Resíduos; a quem pertence o conhecimento das coisas de que se conhece o dono. – São Paulo 9 de abril 
de 1830. – O Juiz de Paz supplente da Freguesia da sè – José da Silva Merceanna. 
(O Farol Lusitano, 24 de abril de 1830.) 
 Variação Diastrática / Variação social 
Essa variação corresponde ao estrato social, à camada social e cultural do indivíduo. 
Em relação a tipo de variação, isto é, a social, cabe-nos observar os vínculos que a língua possui com a 
estratificação social. Esse tipo "relaciona-se a um conjunto de fatores que têm a ver com a organização 
sociocultural da comunidade de fala" (Alkmim, 2003:35). 
“Naonde a gente podemos ponhar esse troço aqui?” ou como “Houveram menas percas”. 
 
 Variação Diatópica / Variação geográfica 
Essa variação corresponde a dimensão territorial. 
Assim, podemos perceber, dentro desse aspecto, se há mudanças de ordem estrutural, como fonética, 
morfológica e sintática, além da escolha lexical. Tais elementos podem ser encontrados fazendo-se uma 
comparação entre falantes de regiões distintas: o português de Portugal e do Brasil, os falantes brasileiros do 
sudeste, do sul, nordeste, os falantes dos meios rural e urbano. 
“Tu já estudaste Química?”. Na maioria dos outros estados, o cidadão diria assim: “Você já estudou Química”? 
Como ser brasileiro em Lisboa... 
"Sim, eu sei que não será culpa sua, mas, se você desembarcar em Lisboa sem um bom domínio do idioma, 
poderá ver-se de repente em terríveis " águas de bacalhau ". Está vendo? Você já começou a não entender. O 
fato é que como dizia Mark Twaia a respeito da Inglaterra e dos Estados Unidos, também Portugal e Brasil são 
dois países separados pela mesma língua. Se não acredita veja só esses exemplos,(...) 
Um casal brasileiro, amigo meu, alugou um carro e seguia tranqüilamente pela estrada Lisboa-Porto, quando 
deu de cara com um aviso: Cuidado com as BERMAS". Eles ficaram assustados – que diabo seria berma? Alguns 
metros à frente, outro aviso: “Cuidado com as bermas". Não resistiram, pararam no primeiro posto de gasolina, 
perguntaram o que era uma berma e só respiraram tranqüilos quando souberam que BERMA era o 
ACOSTAMENTO. Você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas 
sutilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os TERNOS – peça para ver os FATOS, PALETÓ é 
casaco. Meias são PEUGAS, suéter é CAMIZOLA – mas não se assuste, porque calcinhas femininas são CUECAS. ( 
Não é uma delícia). Pelo mesmo motivo, as fraldas de crianças são chamadas CUEQUINHAS DE BEBÊ. . Atenção 
também para os nomes de certas utilidades caseiras. Não adianta falar em esparadrapo – deve-se dizer 
PENSOS. Pasta de dentes é DENTÍFRICO. Ventilador é VENTOINHA. E no caso (gravíssimo) de você tomar uma 
injeção na nádega, desculpe, mas eu não posso dizer porque é feio. 
As maiores gafes de brasileiros em Lisboa acontecem (onde mais?) nos restaurantes, claro. Não adianta 
perguntar ao gerente do hotel onde se pode beliscar alguma coisa, porque ele achará que você está a fim de 
sairaplicando beliscões pela rua. Pergunte-lhe onde se pode PETISCAR. Os sanduíches são particularmente 
enganadores: um sanduíche de filé é chamado de PREGO; cachorros-quentes são simplesmente CACHORROS. E 
não se esqueça: Um cafezinho é uma BICA; uma média é um GALÃO, e um chope é uma IMPERIAL.. E, pelo amor 
de Deus, não vá se chocar quando você tentar furar uma fila e algum gritar lá de trás: "O gajo está a furar a 
BICHA!" Você não sabia, mas em Portugal chama-se fila de bicha. E não ria. 
Ah, que maravilha o futebol em Portugal Um goleiro é um GUARDA-REDES. Só isso e mais nada. Os jogadores 
do Benfica usam CAMISOLA ENCARNADA – ou seja, camisa vermelha. Gol é GOLO. Bola é ESFÉRICO. Pênalti é 
PENÁLTI. Se um jogador se contunde em campo, o locutor diz que ele se ALEJOU, mesmo que se recupere com 
uma simples massagem. Gramado é RELVADO, muito mais poético, não é?(...) 
Mas o meu pior equívoco em Portugal foi quando pifou a descarga da privada do meu quarto de hotel e eu 
telefonei para a portaria: "Podem me mandar um bombeiro para consertar a descarga da privada"? O homem 
não entendeu uma única palavra. Eu devia Ter dito: "Ó PÁ, MANDA UM CANALIZADOR PARA REPARAR O 
AUTOCLISMA DA RETRETE". 
 
 
(Castro Ruy “Como ser brasileiro...” Viaje bem revista de bordo da VASP, ano Vlll n.3/78) 
 Variação Diafásica / Variação estilística 
Essa variação corresponde à liberdade de expressão, a estilística, a situação de interlocução. 
Esta compreende o contexto social, a situação em que os interlocutores estão envolvidos. Decorre daí o fato de 
podermos falar da relação entre uma variedade considerada padrão e o vernáculo de uma determinada língua. 
Há aí uma nítida separação de usos, uma vez que, a título de exemplo, o desempenho lingüístico entre vizinhos 
difere-se em muitos aspectos de uma conferência, de discursos televisionados. 
Pronominais 
Oswald de Andrade 
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro 
 
Ivana Paula Ferraz de Andrade 
Professora de Português - Fainor