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<p>240</p><p>P</p><p>a</p><p>rt</p><p>e</p><p>E</p><p>sp</p><p>e</p><p>ci</p><p>a</p><p>l</p><p>FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE. O arbítrio judicial legitima-se na fundamentação</p><p>de seus atos, devendo o juiz dar as razões, caso a caso, ao estabelecer o</p><p>disciplinamento previsto no artigo 149, do Estatuto da Criança e do Adolescente.</p><p>Nulidade do processo, por falta de fundamentação da portaria disciplinadora.</p><p>(TJPR. Ap. nº 055-0. Rel. Des. Dilmar Kessler. J. em 18/05/1998. Ac. nº 8041.</p><p>In Revista Igualdade 19/205) e APELAÇÃO CÍVEL. ESTATUTO DA CRIANÇA E</p><p>ADOLESCENTE. PORTARIA JUDICIAL - PROIBIÇÃO DE PERMANÊNCIA DE</p><p>CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM VIAS PÚBLICAS E LOGRADOUROS DA</p><p>COMARCA E EM POSTOS DE GASOLINA DESACOMPANHADAS DOS PAIS OU</p><p>RESPONSÁVEIS DAS 23H ÀS 6H. ARTIGO 149 DA LEI Nº 8069/1990. ROL</p><p>TAXATIVO. CARÁTER GERAL DO ATO NORMATIVO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA.</p><p>VEDAÇÃO PELO ARTIGO 149, §2º DA LEI FEDERAL. 1. "Nos termos do art. 149</p><p>do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), a autoridade judiciária</p><p>pode disciplinar, por portaria, "a entrada e permanência de criança ou</p><p>adolescente, desacompanhada dos pais ou responsável" nos locais e eventos</p><p>discriminados no inciso I, devendo essas medidas "ser fundamentadas, caso a</p><p>caso, vedadas as determinações de caráter geral" (§ 2º). É evidente, portanto, o</p><p>propósito do legislador de, por um lado, enfatizar a responsabilidade dos pais de,</p><p>no exercício do seu poder familiar, zelar pela guarda e proteção dos menores em</p><p>suas atividades do dia a dia, e, por outro, preservar a competência do Poder</p><p>Legislativo na edição de normas de conduta de caráter geral e abstrato" (STJ, 1ª</p><p>T., R.Esp. 1046350/RJ, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, J. em 15/09/2009).</p><p>2. Recurso parcialmente conhecido e, nesta extensão, provido. (TJPR. 11ª C.</p><p>Cível. RA nº 0733618-7, de Paranaguá. Rel. Des. Ruy Muggiati. J. em</p><p>13/04/2011).</p><p>Seção III - Dos Serviços Auxiliares</p><p>Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária,</p><p>prever recursos para manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar</p><p>a Justiça da Infância e da Juventude [688].</p><p>688 Vide Recomendação nº 02/2006, de 25/04/2006, do Conselho Nacional de</p><p>Justiça, que “Recomenda aos Tribunais de Justiça a implantação de equipe</p><p>interprofissional em todas as comarcas do Estado, de acordo com o que prevêem</p><p>os arts. 150 e 151 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90)”.</p><p>O moderno Direito da Criança e do Adolescente não mais pode conviver com a</p><p>improvisação, o “amadorismo” e o “achismo” que imperava sob a égide do</p><p>Código de Menores revogado. A complexidade das situações que envolvem a</p><p>violação de direitos infanto-juvenis demanda uma abordagem altamente</p><p>profissional e interdisciplinar, dada elementar constatação de que para encontrar</p><p>a verdadeira solução para os problemas enfrentados pelas crianças ou</p><p>adolescentes, a autoridade judiciária necessitará da colaboração de técnicos de</p><p>outras áreas, como a pedagogia (lembrar do disposto nos arts. 100, caput c/c</p><p>113, do ECA), da psicologia, assistência social, etc., que devem estar à</p><p>disposição do Juízo ou terem seus serviços por este requisitados junto ao Poder</p><p>Público local, a exemplo do que pode fazer o Conselho Tutelar (cf. art. 136,</p><p>inciso III, alínea “a”, do ECA). O ideal, sem dúvida, é que cada Juízo da Infância</p><p>e da Juventude tenha à sua disposição, para intervenção imediata, uma equipe</p><p>interprofissional (ou interdisciplinar) composta, no mínimo, de um pedagogo, um</p><p>psicólogo e um assistente social, que devem analisar os casos de forma conjunta</p><p>e, também de forma conjunta, apresentar ao Juízo suas conclusões, em que</p><p>sejam apontadas as alternativas existentes para efetiva solução do problema,</p><p>241</p><p>P</p><p>a</p><p>rt</p><p>e</p><p>E</p><p>sp</p><p>e</p><p>ci</p><p>a</p><p>l</p><p>com a respectiva justificativa, sob o ponto de vista técnico. Daí porque o</p><p>Estatuto prevê, de maneira expressa, que o Poder Judiciário tem o dever de</p><p>colocar à disposição dos Juizados da Infância e da Juventude a aludida equipe</p><p>interprofissional, para o que deverá alocar recursos orçamentários próprios, com</p><p>a prioridade absoluta preconizada pelo art. 4º, caput e par. único, do ECA e art.</p><p>227, caput, da CF. A necessidade da intervenção de tais profissionais, a serviço</p><p>do Juízo ou requisitados junto à municipalidade não pode ser suprida (ou</p><p>substituída) pela singela realização de sindicâncias a cargo de órgãos que não</p><p>tem habilitação técnica e/ou qualificação profissional (como oficiais de justiça,</p><p>comissários de vigilância/agentes de proteção da infância e da juventude e</p><p>outros serventuários), muito menos quando sequer vinculados ou subordinados</p><p>à autoridade judiciária (como é o caso do Conselho Tutelar). Sobre a matéria,</p><p>vide também item 22, das “Regras de Beijing”.</p><p>Art. 151. Compete à equipe interprofissional, dentre outras atribuições que lhe</p><p>forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante</p><p>laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de</p><p>aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a</p><p>imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do</p><p>ponto de vista técnico [689].</p><p>689 Vide arts. 19, §1º; 28, §§1º, 4º e 6º; 46, §4º; 50, §§1º, 3º e 4º; 51, §3º, inciso</p><p>III; 93, par. único; 100, caput e par. único; 112, §1º, primeira e segunda</p><p>figuras; 113; 161, §1º; 162, §1º; 167; 186, caput, §§2º e 4º e 197-C, todos do</p><p>ECA. As avaliações interprofissionais realizadas pela equipe técnica a serviço da</p><p>Justiça da Infância e da Juventude se assemelham às “perícias” previstas pelas</p><p>leis processuais Civil e Penal, porém têm um objetivo muito mais abrangente,</p><p>pois devem - a exemplo de toda e qualquer intervenção estatal em matéria de</p><p>infância e juventude (por força do disposto nos arts. 1º; 6º e 100, par. único,</p><p>inciso II, do ECA) - estar comprometidas com a “proteção integral” infanto-</p><p>juvenil, razão pela qual é prevista a articulação entre os técnicos do Poder</p><p>Judiciário e outros a serviço do município (como nos arts. 50, §§3º e 4º e 88,</p><p>incisos V e VI, do ECA). Os relatórios apresentados não devem ser meramente</p><p>“descritivos”, as sim devem explicitar as alternativas disponíveis (ou desejáveis)</p><p>para efetiva solução do problema enfrentado pela criança, adolescente e/ou</p><p>família atendidos. As partes/interessados poderão apresentar quesitos a serem</p><p>respondidos pela equipe técnica, inclusive para que sejam esclarecidos pontos</p><p>que tenham ficado obscuros no relatório, que deve ser o mais completo possível.</p><p>A autoridade judiciária não está obrigada a acatar as sugestões e conclusões da</p><p>equipe interprofissional, porém, se entender de modo diverso, deverá buscar</p><p>argumentos e subsídios - também técnicos (e não apenas jurídicos) - para</p><p>fundamentar sua decisão. Por outro lado, não poderá o Juiz intervir no trabalho</p><p>da equipe técnica, no sentido de “direcionar” suas conclusões. Ainda sobre a</p><p>matéria, vide Resolução CFP nº 010/2010, de 29/06/2010, que institui a</p><p>regulamentação da escuta psicológica de crianças e adolescentes envolvidos em</p><p>situação de violência, na “rede de proteção” (aplicável, por analogia, a outras</p><p>situações em que tal oitiva se faz necessária).</p>