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Seminários de casa CIT Seminário I REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA, OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA E SUJEIÇÃO PASSIVA Questões 1. Que é norma jurídica? E regra-matriz de incidência tributária (RMIT)? Qual a função do consequente normativo? Entende-se por norma jurídica como o regulamento da conduta do indivíduo e responsável por fixar os enunciados sobre a organização da sociedade e do Estado, impondo aos que elas infringirem, as punições previstas. Regra-matriz de Direito Tributário, por sua vez, é uma norma de padrão de incidência, baseado na lógica e que pode ser utilizada para a construção de qualquer norma jurídica, em sentido estrito, no campo material do direito tributário, visando a disciplina da conduta dos sujeitos da relação tributária. Trata-se de aplicação de norma jurídica geral e abstrata ao caso concreto, desde que respeitados os critérios de hipótese tributária. Sua principal função é a construção com segurança de qualquer norma jurídica padrão de incidência. A função do consequente normativo é prever uma relação jurídica que se instala, quando se torna o fato concreto. O consequente normativo, como prescritor, fornece critérios para identificação do vínculo jurídico que nasce, nos possibilitando saber quem é o sujeito portador do direito subjetivo, a quem ficou responsável pelo cumprimento de determinada prestação e o objeto. 2. Distinguir: obrigação tributária e deveres instrumentais. Multa pelo não pagamento caracteriza-se como obrigação tributária? Justifique analisando criticamente o art. 113 do CTN. Obrigação tributária é aquela decorrente do fato gerador, tendo como objeto o pagamento do tributo ou penalidade pecuniária, se extinguindo juntamente com o crédito dela gerada, conforme artigo 113, § 1º do CTN. Os deveres instrumentais, também conhecidos por obrigações acessórias, por sua vez, decorrem da legislação tributária e tem como o escopo o cumprimento de medidas a fim de auxiliar e facilitar a fiscalização dos tributos nos termos do 113, § 2º do CTN, podendo ser estabelecidas por qualquer norma integrante da legislação tributária. Correspondem a qualquer exigência feita pela legislação tributária, correspondendo a qualquer exigência feita pela legislação tributária que não seja o pagamento do tributo. 3. Que é sujeição passiva? Definir os conceitos de: (i) sujeito passivo; (ii) contribuinte; (iii) responsável tributário; e (iv) substituto tributário – distinguindo: substituição tributária para trás; substituição (convencional); agente de retenção e substituição para frente. O responsável (art. 121, II, do CTN) é: (i) sujeito passivo da relação jurídica tributária; (ii) de relação de dever instrumental; ou (iii) de relação jurídica sancionatória? Por sujeito passivo (i), entende-se como a pessoa física ou jurídica obrigada a realizar o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, se subdividindo em (ii) contribuinte e (iii) responsável tributário. Para se enquadrar no primeiro, a pessoa física ou jurídica deve ter relação jurídica econômica, pessoal e direta com a situação que constituiu o fato gerador. Sua responsabilidade é originária e há relação de identidade entre a pessoa que deve pagar o tributo e a que participou do fato gerador, obtendo benefício econômico. Responsável tributário, por sua vez, é a pessoa que, mesmo não possuindo condição de contribuinte, é obrigado por meio de lei, diferente do contribuinte, o responsável não possui relação de natureza econômica, direta e pessoal com a situação que constitui o fato gerador, enquadrando-se como sujeito passivo indireto, tendo sua responsabilidade derivada de lei. Pode-se subdividir a substituição tributária em três formas. Primeiro, a substituição tributária para trás, onde o substituto é responsabilizado por pagar os créditos tributários referentes a fatos jurídicos realizados anteriormente pelo substituído. A segunda forma, é a substituição convencional, onde a responsabilização se processa ao mesmo tempo da ocorrência do fato jurídico tributário. Por último, a substituição tributária para frente, na qual o substituto responde pelos créditos presumidos referentes a fatos jurídicos que ainda serão praticados pelo contribuinte. O contribuinte é o sujeito passivo, mantendo relação pessoal e direta com o fato tributário, de acordo com o artigo 121, I do CTN, enquanto que o responsável é o sujeito passivo da obrigação tributária indiretamente vinculado ao fato tributário, conforme o mesmo artigo em seu inciso II. 4. A empresa “A” adquiriu estabelecimento industrial da empresa “B” e continuou sua atividade. Aproximadamente um ano depois da aquisição, a empresa “A” é demandada pelo Fisco em relação a fatos geradores realizados pela empresa “B”. No contrato de compra e venda, não há disciplina a respeito das dívidas tributárias anteriores à aquisição. Pergunta-se: a) Pode o Fisco, após a indigitada operação de compra e venda, exigir os tributos, cujos fatos geradores foram realizados por “B” antes de sua aquisição, diretamente de “A”? Há relevância se houver no contrato cláusula de responsabilidade de “B” quanto aos débitos anteriores à operação? (Vide anexo I). Sim, o fisco poderá exigir os tributos decorrentes de fatos geradores ocorridos antes da operação, se os créditos já haviam sido constituídos até a data da operação ou que estivessem em processo de constituição do mesmo. Eventual cláusula de contrato que atribuir responsabilidade por créditos tributários a “B” seria relevante somente entre as partes, conforme o entendimento retirado do artigo 23 do CTN. b) A empresa “A” sujeita-se às sanções tributárias materiais: (i) multa de mora, (ii) multa pelo não pagamento de tributo, (iii) juros e (iv) multa pelo descumprimento de deveres instrumentais, se aplicadas antes da operação de compra e venda? E se aplicadas depois da operação? (Vide anexos II e III). A responsabilidade do sucessor engloba não só o valor atualizado dos tributos devidos pelo sucedido, bem como as multas, todavia nem todas as multas são objetos de sucessão, mas apenas aquelas de natureza moratória. Conforme a premissa estabelecidas nos itens “a” e “b”, da alienação do estabelecimento industrial “B” realizada por “A”, esta fica sujeita às sanções tributárias que já constituídas ou em processo de constituição. 5. Quanto ao art. 135 do CTN, pergunta-se: a) Qual a espécie de responsabilidade prevista? Poderia o fiscal lavrar auto de infração contra o contribuinte e, posteriormente, executar o sócio de forma solidária à empresa? (Vide anexos IV e V). A responsabilidade é pessoal, conforme definição dada pelo artigo 135 do CTN, estas ficam pessoalmente responsabilizadas pelos atos praticados em excesso de poderes, infração à lei ou contrato social e estatuto, não havendo qualquer menção no dispositivo em comento sobre essa responsabilidade ser subsidiária ou solidária. Diante deste entendimento, não é admissível a propositura de execução fiscal solidariamente ao contribuinte. b) A dissolução irregular da sociedade caracteriza infração à lei apta a ensejar a responsabilidade do(s) sócio(s) pelas dívidas da pessoa jurídica? E o mero inadimplemento da obrigação de pagar o tributo? (Vide anexos VI, VII e VIII). A dissolução da empresa de maneira irregular, gera responsabilidade aos sócios, vez que está em desacordo com o ordenamento pátrio e pode ter sido realizada, visando alguma espécie de sonegação junto ao Fisco. O simples inadimplemento de tributo, por sua vez, não decorre de ato contrário a lei, além de que, a admissão do de responsabilidade dos sócios em decorrência do mero inadimplemento de tributo implica em relativização da personalidade jurídica, nem um pouco desejada, vez que o objetivo da pessoa jurídica é justamente criar uma separação entre o patrimônio da empresa e o patrimônio dos sócios. 6. Quanto à caracterização de grupo econômico, pergunta-se? a) Que é grupo econômico? Quais são os requisitos para a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, prevista no art. 50 do CC? Ela pode ser aplicada ao direito tributário parafins de caracterização de grupo econômico? Há dispositivos específicos na legislação tributária que fundamentem a responsabilização do grupo econômico? A caracterização implica reconhecimento de responsabilidade solidária? (Vide anexo IX, X e XI). É o conjunto de sociedades empresariais que coordenam sua atuação visando a maximização do lucro e da produtividade, a diminuição dos custos, garantindo posição no mercado. Segundo o artigo 50 do Código Civil, os requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica são o pressuposto abuso de personalidade, desvio de finalidade e/ou confusão patrimonial. A responder o restante da questão, segue o julgado: DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO. EXECUÇÃO. DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO. EXAME. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA RESERVADA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO-OCORRÊNCIA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. PRESSUPOSTOS. AFERIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO-OCORRÊNCIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO. (...) 3. A desconsideração da pessoa jurídica, mesmo no caso de grupos econômicos, deve ser reconhecida em situações excepcionais, quando verificado que a empresa devedora pertence a grupo de sociedades sob o mesmo controle e com estrutura meramente formal, o que ocorre quando diversas pessoas jurídicas do grupo exercem suas atividades sob unidade gerencial, laboral e patrimonial, e, ainda, quando se visualizar a confusão de patrimônio, fraudes, abuso de direito e má-fé com prejuízo a credores. 4. Tendo o Tribunal a quo, com base no conjunto probatório dos autos, firmado a compreensão no sentido de que não estariam presentes os pressupostos para aplicação da disregard doctrine, rever tal entendimento demandaria o reexame de matéria fático-probatória, o que atrai o óbice da Súmula 7/STJ. Precedente do STJ. 5. Inexistência de dissídio jurisprudencial. 6. Recurso especial conhecido e improvido. (RESP - 968564, Relator ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, DJE 02/03/2009) b) Uma vez instaurado o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, nos termos dos arts. 133 e seguintes do NCPC (Lei nº 13.105 de 2015), a defesa apresentada pela pessoa jurídica responsabilizada pela obrigação tributária de outra empresa integrante do mesmo grupo econômico pode versar sobre o mérito da cobrança (inexigibilidade do crédito tributário), ou apenas sobre a ilegitimidade de sua inclusão no polo passivo da execução fiscal? A defesa pode abordar tanto o mérito da cobrança propriamente dita, como a inexigibilidade do crédito tributário, como pode abordar sobre a inclusão do terceiro no polo passivo da execução fiscal, como por exemplo, a ausência de pressupostos autorizadores, previstos no artigo 50, CC, e, também, sobre a responsabilização patrimonial daquele que sofre constrição de seus bens, mas não fez parte do incidente. 7. Dada a seguinte Lei (fictícia): Prefeitura de São Pedro, Lei n. 5.151, de 12/10/2015, D.M. 25/10/2015 Art. 1º Fica instituída taxa de conservação e limpeza urbana para o custeio do serviço público municipal de conservação e limpeza de vias públicas. Art. 2º A taxa tem como fato gerador a prestação do serviço de limpeza das vias públicas. Art. 3º A base de cálculo é o valor venal do imóvel. Art. 4º A alíquota é de 0,1%. Art. 5º O contribuinte é o proprietário do imóvel. Art. 6º Dá-se a incidência todo dia 1º de cada ano. Art. 7º A importância devida a título de tributo deve ser recolhida até o décimo dia do segundo mês subsequente. § 1º No caso de locação, o locatário é responsável pelo recolhimento do tributo. § 2º No caso de compra e venda realizada antes do prazo para o pagamento e após o 1º dia do ano, o responsável pelo pagamento do tributo é o adquirente do imóvel. § 3º O não recolhimento no prazo estipulado implica multa de 20% do valor do tributo devido. Art. 8º Fica o contribuinte obrigado a entregar para a Secretaria de Planejamento Urbano declaração do valor imobiliário até o dia 10 de novembro de cada ano. Parágrafo único. A ausência da entrega no prazo a que se refere o caput deste artigo implicará multa de 100 UFIRS. [...]. Pergunta-se: a) Construir as normas jurídicas veiculadas nessa lei, identificando os critérios do consequente da RMIT. Critério material: conservação de vias públicas; Critério espacial: no perímetro urbano Critério temporal: no primeiro dia do ano; Critério pessoal: SUJEITO ATIVO fazenda municipal, SUJEITO PASSIVO contribuinte proprietário de imóvel; Critério quantitativo: base de cálculo é o valor venal do imóvel, com alíquota de 0,1%. b) Quais as funções da base de cálculo? A base de cálculo eleita é compatível com a hipótese tributária? Se incompatíveis, qual deve prevalecer para efeito de se determinar a espécie tributária: o enunciado da hipótese tributária ou o enunciado da base de cálculo? Ambos? Nenhum dos dois? O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por pessoas estranhas e desvinculadas de suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização. image1.jpg