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PROBLEMA 2 
Tem alguma coisa na barriga da minha filha 
 
1- Kit da apendicite aguda 
ETIOLOGIA 
Fonte: Radd, Luiz e colaboradores - Apendicite Aguda: aspectos etiopatogênicos, métodos diagnósticos 
e a apendicectomia videolaparoscópica como manejo – 2023 - Brazilian Journal of Development 
A apendicite aguda consiste na inflamação do apêndice cecal, sendo a causa mais comum de 
inflamação abdominal. Essa inflamação pode ter início após uma obstrução luminal, causada por 
fecalitos, fezes impactadas, corpos estranhos ou até neoplasias. 
A obstrução luminal provoca distensão pelo acúmulo de muco e proliferação bacteriana, 
resultando na inflamação do órgão e intensa transmissão nervosa por fibras simpáticas aferentes. 
Fatores genéticos, como história familiar de apendicite, também podem contribuir para o 
surgimento do quadro. 
 EPIDEMIOLOGIA 
 Fonte: Clińica Médica Vol 4 - Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais - USP 
A apendicite é mais comum nas sociedades ocidentalizadas, mas sua incidência tem diminuído 
por razões desconhecidas. No entanto, a apendicite é a emergência abdominal mais comum. Apresenta 
taxa de incidência de 48,1 por 10 mil habitantes por ano no seu pico de incidência, que ocorre entre 10 
e 20 anos. Embora a média de idade por ocasião do diagnóstico pareça estar aumentando 
gradativamente, assim como a frequência da doença em negros, asiáticos e nativos americanos. Em 
termos gerais, 70% dos pacientes têm menos de 30 anos, e a maioria é do sexo masculino. 
Há uma discreta preponderância do sexo masculino, com uma taxa de masculino para feminino 
de 1,4:1 e o risco geral ao longo da vida é de 8,6% para homens e 6,7% para mulheres. 
 Fonte: Harrison, Medicina Interna 
Uma das complicações mais comuns e uma das causas mais importantes de excesso de 
morbidade e mortalidade é a perfuração, seja ela contida e localizada ou não restrita ao interior da 
cavidade peritoneal. 
Ao contrário da tendência observada para apendicite e apendicectomia, a incidência de 
apendicite perfurada (cerca de 20 casos por 100.000 habitantes-ano) está aumentando. A explicação 
para essa tendência é desconhecida. Cerca de 20% de todos os pacientes têm evidência de perfuração, 
mas o risco percentual é muito maior na faixa etária abaixo de 5 anos ou acima de 65 anos. 
FISIOPATOLOGIA 
Fonte: Perri, Laura e colaboradores - Apendicite aguda: aspectos gerais acerca da abordagem 
diagnóstica e cirúrgica- 2022 - Brazilian Journal of Development 
A apendicite, por definição, é a inflamação do apêndice vermiforme, órgão cuja função pode ser 
descrita como imunoprotetora, sobretudo nos indivíduos jovens; embora alguns autores apontem que o 
apêndice seja um mero remanescente do desenvolvimento embrionário e outros autores sugiram que 
esta estrutura atue como local de armazenamento para colônias bacterianas inócuas ou benigna. 
Essa patologia costuma se apresentar de forma aguda, com evolução de algumas horas, sendo 
causada pela obstrução do lúmen do apêndice por fecalitos, hiperplasia linfóide, corpos estranhos, 
parasitas ou tumores. 
Juntamente a essa obstrução, a secreção de muco pelas células epiteliais do apêndice contribui 
para a distensão e aumento da pressão intramural e intraluminal do órgão, resultando em oclusão de 
pequenas veias, bloqueio do fluxo arterial e estase linfática. 
Com o avanço desse processo, as paredes do apêndice se tornam isquêmicas e necróticas, 
favorecendo a proliferação de bactérias como Escherichia coli, Peptostreptococcus, Bacteroides e 
Pseudomonas. 
Em pacientes infectados pelo HIV, outros patógenos podem ser implicados como precipitadores 
da apendicite, como micobactérias, citomegalovírus, cryptosporidium e pneumococos. Nesse sentido, 
considerando a fisiopatologia descrita, a AA pode ser classificada em não complicada, quando não há 
perfuração, formação de massas ou abscessos; ou complicada, na presença de perfuração, abscessos 
e peritonite. 
 Fonte: Clińica Médica Vol 4 - Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais – USP 
A apendicite aguda pode ser classificada como simples, supurativa ou gangrenosa. 
Simples: também conhecida como focal, apresenta edema da parede e congestão da serosa, 
ulcerações da mucosa e material purulento no lúmen. Microscopicamente, é caracterizada por infiltrado 
neutrofílico que envolve a muscular própria de maneira circunferencial. 
Supurativa: apresenta congestão vascular, petéquias e aumento do volume do líquido peritoneal, 
que pode ser claro ou levemente turvo. A serosa aparece recoberta por fibrina. Microscopicamente, além da 
inflamação, frequentemente ocorrem ulcerações da mucosa, edema e microabscessos da parede 
apendicular e trombose vascular. 
Gangrenosa: é a forma supurativa mais avançada. Caracteriza-se por necrose em extensão variável. 
Inicia se com microperfurações que podem evoluir para ruptura total do apêndice. Nesse caso, há 
peritonite, com secreção purulenta livre na cavidade peritoneal e odor fétido. Pode-se encontrar 
abscesso na evolução desses casos. Microscopicamente, a inflamação é transmural em associação com 
áreas focais de necrose. A trombose vascular é mais proeminente. 
QUADRO CLÍNICO 
Fonte: Perri, Laura e colaboradores - Apendicite aguda: aspectos gerais acerca da abordagem 
diagnóstica e cirúrgica- 2022 - Brazilian Journal of Development 
A apresentação clínica da apendicite aguda pode variar de sintomas leves a sinais de 
peritonite generalizada e sepse. 
A apresentação inicial envolve dor em cólica periumbilical que se intensifica por um período de 
24 horas, acompanhada de náuseas, vômitos, febre e perda de apetite. A sequência clássica é a 
irradiação da dor periumbilical para a fossa ilíaca direita. A dor localizada coincide com a irritação do 
peritônio parietal. 
Muitos sinais clínicos, como o sinal de Blumberg (sensibilidade de rebote), o sinal de Rovsing 
(dor em fossa ilíaca direita durante a palpação da fossa ilíaca esquerda) ou o sinal do Psoas (dor à flexão 
do quadril direito, sugerindo apendicite retrocecal) são descritos nos casos de AA. 
Leucocitose/neutrofilia e concentração sérica elevada de proteína C reativa (PCR) podem 
contribuir para o diagnóstico, porém são considerados sinais inespecíficos de inflamação. 
Em crianças, até metade de todos os casos apresentam sintomas inespecíficos. A ausência de 
náuseas e vômitos, sensibilidade abdominal e leucocitose descarta apendicite com 98% de 
confiabilidade. 
Em mulheres grávidas, o apêndice pode ser deslocado cranialmente pelo útero 
aumentado, fazendo com que a dor seja sentida na parte superior do abdome, e não no quadrante 
inferior direito, algo que pode tornar o diagnóstico mais difícil. 
DIAGNOSTICO 
Fonte: Perri, Laura e colaboradores - Apendicite aguda: aspectos gerais acerca da abordagem 
diagnóstica e cirúrgica- 2022 - Brazilian Journal of Development 
O diagnóstico de apendicite é predominantemente clínico. História clínica detalhada e exame 
físico cuidadoso são fundamentais para o diagnóstico, uma vez que a maioria dos pacientes se apresenta 
com história e exame físico típicos. 
Dor abdominal é o sintoma inicial na apresentação de apendicite aguda. A sequência 
diagnóstica clássica de dor abdominal em cólica central seguida de vômito e migração da dor para a 
fossa ilíaca direita foi pela primeira vez descrita por Murphy, mas pode ocorrer em menos de 50% dos 
pacientes. 
Tipicamente, o paciente descreve uma dor periumbilical vaga ou em cólica, que se intensifica nas 
primeiras 24 horas, tornando-se constante e migrando para a fossa ilíaca direita. A dor inicial representa 
uma dor referida resultante da inervação visceral, e a dor localizada é causada por envolvimento do 
peritônio parietal após a progressão do processo inflamatório. 
Perda do apetite é um achado predominante, e constipação e náuseas são frequentes. 
Vômitos profusos indicam o desenvolvimento de peritonite generalizadaapós perfuração, mas 
raramente é um achado importante na apendicite simples. 
Uma meta-análise de sinais e sintomas associados à apresentação de apendicite aguda 
não foi capaz de identificar nenhum achado diagnóstico, mas mostrou que a migração da dor foi 
associada ao diagnóstico de apendicite aguda. 
A apresentação clássica pode ser influenciada pela idade do paciente e pela posição anatômica 
do apêndice. Pacientes nos extremos do espectro de idade podem apresentar dificuldades diagnósticas 
por causa da apresentação inespecífica, geralmente com sinais subclínicos. 
Fonte: Harrison, Medicina Interna 
A localização anatômica do apêndice, que é variável, pode influenciar diretamente o tipo 
de apresentação clínica do paciente. 
O local onde o apêndice pode ser “encontrado” varia conforme diferenças locais na forma 
como o corpo e a ponta do apêndice se encontram em relação à sua ligação ao ceco e conforme 
a localização real do apêndice na cavidade peritoneal – por exemplo, desde a sua localização típica, 
no quadrante inferior direito, até a pelve, flanco direito, quadrante superior direito (como pode ser 
observado durante a gestação), ou mesmo no lado esquerdo do abdome dos pacientes com má rotação 
ou com cólon gravemente redundante. 
 
 
 
Crianças mais novas comumente se apresentam prostradas, enquanto pacientes idosos 
apresentam confusão mental. Um alto grau de suspeição é necessário para o diagnóstico de 
apendicite aguda nesses pacientes. 
Com relação à localização, o apêndice retrocecal ou retrocólico, que ocorre em cerca de 
75% dos casos, determina uma dor no flanco direito, em geral com sensibilidade ao exame. 
Rigidez muscular e sensibilidade à palpação profunda estão geralmente ausentes nesses casos, 
por causa da proteção do ceco que está sobre o apêndice. 
 O músculo psoas pode apresentar algum grau de irritação, levando à flexão do quadril e à 
exacerbação da dor à extensão do quadril (sinal do psoas). Nos casos de apêndice subcecal e pélvico 
(20%), dor supra-púbica e urinária pode predominar. 
Diarréia pode aparecer como resultado de irritação do reto. Sensibilidade abdominal pode não 
estar presente, mas dor ao toque retal ou vaginal pode ocorrer no lado direito. 
Hematúria microscópica e leucocitúria podem aparecer no exame de urina. Nos pacientes 
com apêndice pré e pós-ileal (5%), sinais e sintomas podem não estar presentes. 
Vômitos passam a ser o sintoma mais proeminente e diarréia pode resultar de irritação do íleo 
distal. 
Ao exame, o paciente frequentemente se apresenta ruborizado, com a língua seca (levemente 
desidratado). A presença de febre (de até 38oC) com taquicardia é comum. 
O exame do abdome revela dor localizada e rigidez muscular após a localização da dor na fossa 
ilíaca direita. Dor à descompressão está presente. 
Muitos pacientes referem que a movimentação exacerba a dor, e quando são solicitados a 
tossir, a dor geralmente se localiza na fossa ilíaca direita. O local de maior sensibilidade é apontado no 
ponto de McBurney. 
Achados do exame retal ou vaginal podem ser normais, apesar de dor estar presente nos 
pacientes com apêndice pélvico. 
Dor à percussão, defesa, e dor à descompressão são os sinais mais característicos do 
diagnóstico de apendicite aguda. 
Outras técnicas que podem ajudar no diagnóstico são o sinal de Rovsing (palpação da fossa 
ilíaca esquerda desencadeando dor na fossa ilíaca direita), sinal do psoas e sinal do obturador. 
 
 
 INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL 
Acerca do diagnóstico laboratorial da AA, é possível afirmar que o mesmo, juntamente com seu 
referente manejo não sofreu abruptas mudanças nos últimos tempos, apesar da visível ascensão em 
conhecimento e tecnologia. 
O diagnóstico da AA baseia-se, em uma numerosa quantidade de casos, na exclusiva análise 
clínica com seus sinais e sintomas relacionados. Ainda que, exames de imagem são amplamente 
utilizados em locais onde há esse recurso disponível. No entanto, tal análise clínica não se compreende 
como absoluta, o que torna como necessária uma associação do quadro clínico, também, com 
marcadores séricos de inflamação. 
Laboratorialmente, nomeia-se como importante a concentração de PCR, o hemograma e a 
urina tipo I. Ao analisar, pode-se observar contagem elevada de leucócitos com a presença ou 
não de desvio à esquerda. A apresentação de valores na faixa de 10.000 células/mm3 torna-se 
presumível em pacientes com AA. E seu valor além desse limiar, de modo a igualar ou ultrapassar 
valores de 17.000 células/mm3, é prenunciador de possível AA complicada, abrangendo apendicite 
perfurada e gangrenosa. 
Quanto ao PCR, o mesmo comumente encontra-se elevado aos valores de referência, sendo 
pouco existentes casos em que seu valor, juntamente com a contagem de leucócitos não se encontram 
elevados. No entanto, quando normais, não são capazes de afastar a hipótese de AA. Pode-se encontrar 
cetonas ao exame de urina. A concentração de PCR, em casos de AA, quando aumentado, pode revelar-
se de 10 mg/L até valores maiores que 50 mg/L. 
 INVESTIGAÇÃO IMAGIOLÓGICA 
Apesar de ser um diagnóstico clínico na maioria das vezes, várias modalidades de imagem estão 
disponíveis para dar continuidade às etapas de diagnóstico, os principais são: TC, ultrassonografia e 
RNM 
A TC abdominal chega a ter 95% de exatidão e é usada com frequência em casos de suspeita 
de apendicite. Para se realizar o diagnóstico existem os critérios que incluem: apêndice 
aumentado maior que 6mm de diâmetro, parede do apêndice espessada maior que 2mm, gordura 
periapendicular densa e estriada, parede apendicular realçada e, em aproximadamente 25% dos 
pacientes, pode-se encontrar apendicolito. Apesar de o melhor diagnóstico da AA ainda ser através 
da história e exame físico detalhado, é comum utilizar principalmente o laudo da TC para confirmação 
diagnóstica. 
Ao comparar, não existe diferença de precisão diagnóstica entre os tipos de TC disponíveis, 
quando comparadas TC de baixa dose e dose padrão, e TC com contraste intravenoso, retal ou oral e a 
TC sem uso de contraste. Apesar de sua alta especificidade e sensibilidade, a TC pode não ser capaz 
de diferenciar um quadro de apendicite não complicada e complicada. 
A ultrassonografia é geralmente a primeira escolha em pacientes com dor abdominal aguda. A 
apresentação sugestiva de apendicite trata-se de um diâmetro ântero posterior maior que 6mm, 
apendicólito e ecogenicidade aumentada de forma anormal da gordura periapendicular. 
Por fim, o uso da RNM é reservado a grupos especiais de pacientes, incluindo principalmente 
gestantes e crianças. É um exame de elevado custo e que possui baixa disponibilidade nos municípios 
e, por esse motivo, não é muito utilizado. 
 SISTEMA DE PONTUAÇÃO CLÍNICA 
Para auxiliar no diagnóstico, pode-se utilizar métodos além da história clínica, como o 
escore de Alvarado. 
É um método de fácil aplicação, prático e baseado na história da doença atual, exame físico e 
antecedentes do paciente. Com esse instrumento pode-se estimar a possibilidade de complicações, o 
tamanho do processo infeccioso e a necessidade do encaminhamento do paciente aos procedimentos 
adequados de acordo com seu quadro clínico. 
É uma ferramenta de alta sensibilidade, boa 
especificidade e valor preditivo adequado. 
Para a determinação da pontuação do Escore de 
Alvarado são utilizados 8 critérios (três sintomas, três 
sinais e dois achados laboratoriais). 
Após a atribuição da pontuação individual para 
cada um dos critérios, é realizado o somatório total. A 
interpretação dependerá do valor total obtido no paciente 
avaliado. Assim, temos: 
Pontuação total 0-3 – Risco baixo de apendicite 
aguda. Considerar a observação ambulatorial do 
paciente. 
Pontuação total 4-6– Risco moderado de apendicite aguda. Existe a necessidade de avaliação de 
um cirurgião. Considerar a solicitação de exames de imagem para confirmação diagnóstica. 
Pontuação total ≥7 – Risco alto de apendiciteaguda. Existe a necessidade de internação hospitalar 
e avaliação de um cirurgião para observação e acompanhamento da evolução do quadro. 
Os critérios utilizados no escore também podem ser encontrados em outras condições patológicas 
inflamatórias, tais como a doença inflamatória pélvica ou diverticulite. Portanto, sempre é importante 
considerar o quadro clínico e a história geral do paciente antes de fechar um diagnóstico. 
DIAGNOSTICO DIFERENCIAL 
Existe uma grande diversidade de diagnósticos diferenciais para a apendicite aguda, os quais 
variam de acordo com a idade do paciente. 
Os mais comuns são: 
 Crianças 12 anos: dor ovulatória, cisto ovariano, gestação extrauterina, torção ovariana, 
torção testicular, mononucleose infecciosa, diverticulite do cólon direito, enterocolite, diverticulite 
de Meckel, linfadenite mesentérica, infecção urinária, doença renal do lado direito. 
A diferenciação entre a apendicite aguda e estes outros diagnósticos é muito importante para o 
manejo adequado dos quadros emergenciais que envolvem dor abdominal intensa. A importância se dá 
para minimizar a progressão para apendicite grave ou outras complicações, bem como reduzir o número 
de intervenções cirúrgicas indesejadas. 
Sabe-se que o diagnóstico de apendicite aguda tem sido historicamente baseado no 
julgamento clínico; contudo, o diagnóstico clínico não é absoluto. Os sistemas de pontuação, 
como o Escore de Alvarado ou o AIR Score, são ferramentas que aumentam a precisão 
diagnóstica, mas também possuem falhas. Assim, diante um quadro de dor no quadrante inferior 
direito, deve-se realizar anamnese e exame físico adequados, solicitar hemograma, proteína C 
reativa, exame de urina simples e teste de gravidez em mulheres em idade fértil. 
Essas medidas já contribuem para descartar vários diagnósticos diferenciais de apendicite. Em 
crianças, por exemplo, a ausência de náuseas e vômitos, sensibilidade abdominal e leucocitose 
descartam tal patologia com 98% de confiabilidade. 
Ademais, a imagiologia, contribui muito para a confirmação do diagnóstico e/ou descarte de 
diagnósticos diferenciais, sendo a USG, a TC e a RM, os principais exames utilizados. 
 
TRATAMENTO 
 Fonte: Clińica Médica Vol 4 - Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais – USP 
Apendicectomia é o tratamento de escolha e cada vez mais é realizado pela via laparoscópica. 
Reposição volêmica deve ser a medida inicial seguida da conduta cirúrgica. Analgesia pode ser utilizada, 
e antibióticos de amplo espectro devem ser prescritos (1 a 3 doses), já que foi demonstrado que 
diminuem a incidência de infecção de ferida operatória e a formação de abscessos intra-abdominais. 
Estudos mostram que não há diferença nas complicações entre cirurgias precoces (com 
menos de 12 horas após a apresentação) ou mais tardias (de 12 a 24 horas após a apresentação). 
Entretanto, deve-se ressaltar que, após as primeiras 36 horas do início dos sintomas, a taxa 
média de perfuração fica entre 16 e 36% e o risco de perfuração aumenta em 5% para cada 12 horas 
subsequentes. Assim, uma vez estabelecido o diagnóstico, a apendicectomia deve ser realizada sem 
atrasos desnecessários. 
APENDICITE NÃO COMPLICADA 
Em relação à apendicite não complicada, a apendicectomia é considerada o tratamento padrão 
ouro, sendo que existem duas abordagens disponíveis, a abordagem aberta (OA) e a laparoscópica (LA). 
Numerosos estudos são publicados com o intuito de mostrar qual das duas técnicas é mais 
favorável. Portanto, tanto a LA quanto a OA apresentam vantagens e desvantagens. 
Dentre elas, cabe destacar a que a LA reduz significativamente a taxa de infecção do sítio 
cirúrgico, menos dor pós-operatória, menor tempo de internação, retorno às atividades laborais 
mais precoce e menor incidência de hérnias incisionais. 
Porém, a LA aumenta o risco de abscesso intra-abdominal quando comparada com a 
abordagem aberta. 
Novas estratégias de tratamento cirúrgico foram introduzidas, como a cirurgia laparoscópica 
de incisão única (SILS), com a finalidade de reduzir ainda mais o trauma causado pelo ato 
operatório. As principais vantagens do SILS seriam menos dor pós-operatória e melhores resultados 
estéticos, sendo assim uma alternativa segura e viável, porém, se mostrou com maior taxa de falha 
técnica e maior tempo de ato operatório. 
Recentemente, o manejo não cirúrgico da apendicite não complicada foi analisado em 
indivíduos adultos. Meta-análises desses estudos mostraram que o tratamento não cirúrgico poderia 
evitar a cirurgia em 60-85% dos indivíduos. Entretanto, se mostrou menos eficaz, podendo aumentar a 
incidência de apendicite recorrente, maior taxa de progressão de apendicite não complicada para 
complicada, além de não conseguir averiguar se há malignidade subjacente. Logo, até que haja 
evidências mais concretas sobre os benefícios do tratamento inicial não cirúrgico e os possíveis efeitos 
a longo prazo, a apendicectomia continua sendo o padrão-ouro da apendicite aguda não complicada. 
APENDICITE COMPLICADA 
Fonte: Silva, Vitoria e colaboradores - Apendicite aguda: aspectos fisiopatológicos e manejo terapêutico 
– 2023 - Brazilian Journal of Development 
A apendicite complicada deve ser tratada com maior urgência, todavia em poucos casos 
necessita de apendicectomia de emergência, com exceção dos pacientes que apresentam peritonite 
difusa. O seu manejo depende da condição do paciente, natureza da perfuração, se contida ou livre, ou 
se constitui abscesso ou flegmão. 
De modo geral paciente instável ou com perfuração livre está relacionado à peritonite difusa ou 
a sepse, podendo ser indicada apendicectomia de emergência com drenagem e lavagem da cavidade 
peritoneal. 
Em contrapartida pacientes estáveis, geralmente apresentam abscessos ou flegmão e na maior 
parte dos casos o tratamento conservador ou com radiologia intervencionista é indicado, associado a 
antibioticoterapia venosa, repouso intestinal e drenagem percutânea guiada por imagem de abscessos 
acessíveis, com monitorização intra-hospitalar e após resolução do processo inflamatório, pode-se 
realizar ressecção cirúrgica. Todavia, deve-se considerar conduta cirúrgica na falha do tratamento 
conservador. 
Nos casos de abscesso intra-abdominal há uma maior incidência na abordagem cirúrgica por 
laparoscopia, pois, a ocorrência de obstrução intestinal do intestino delgado após a realização da 
abordagem laparoscópica é menor quando comparada com a abordagem aberta, todavia o tempo de 
ocorrência da obstrução é bem distinto nos vários estudos analisados. 
Na massa periapendicular, que também é uma complicação frequente na apendicite complicada, 
boa parte dos autores optam pela abordagem não cirúrgica, em contrapartida, também existem relatos 
na literatura que falam a favor da necessidade de tratamento operatório agressivo, pois, segundo esse 
grupo a massa pode estar associada a maior morbidade em comparação com o tratamento não 
operatório inicial. 
2- Diferenciar diverticulite, gravidez ectópica e apendicite aguda 
DIVERTICULITE 
Divertículo é uma protrusão sacular da parede do cólon. Diverticulose refere-se à presença de 
divertículos no cólon. É um diagnóstico anatômico que descreve a presença de um ou mais divertículos. 
 Pode ser assintomática, em que tipicamente o diagnóstico ocorre ao acaso e não requer 
investigação adicional, ou sintomática, sendo caracterizada por crises de dor abdominal 
inespecífica, tipo cólica, sem evidência de processo inflamatório. 
Diverticulite é a condição caracterizada por inflamação e/ou infecção dos divertículos. 
Diverticulite complicada é a diverticulite com problemas adicionais, como abscesso, perfuração,fístula 
ou obstrução mente, hemorragia diverticular é o sangramento originado de um divertículo. 
 
GRAVIDEZ ECTOPICA 
Fonte: Molena, John e colaboradores - Gravidez ectópica, síntomas, tipos e riscos para a saúde – 2023 
- Research, Society and Development, 
A gravidez ectópica é decorrente do processo implantacional do blastocisto fora do útero, por 
exemplo, a gravidez ectópica tubária acontece nas tubas uterinas; a ectópica heterotópica se dá quando 
a implantação final ocorre nas trompas; temos também a gravidez ectópica abdominal e gravidez 
ectópica cervical ou GE ovariana 
Segundo Brasil e Alkatout (2013; 2013), considerando os tipos de gravidez ectópica, os dados 
epidemiológicos mostram que o tipo mais recorrente dos casos se dá na tuba uterina, com 95% dos 
casos, e incidência em crescimento, chegando a 1 para cada 80 a 100 gestações. Mediante este 
processo, o corpo tende a expulsar o feto e, quando não explorado a fundo as principais causas, não 
chega a ser contabilizado como gravidez ectópica. 
De acordo com a literatura estudada, os sintomas são invisíveis e, na maioria dos casos, as 
gestantes nem suspeitam da gravidez, só no período entre a sexta e oitava semana de vida do 
processo gestacional que é quando ocorre sintomas como: dor abdominal; atraso no ciclo 
menstrual; sangramento vaginal, cólicas intensas. 
Portanto, existem dois tipos principais de tratamento após o diagnóstico: o 
medicamentoso e o cirúrgico, dependendo da condição que se encontra o feto e da saúde da gestante. 
Na maioria dos casos, o tratamento é realizado por meio de fármacos, seleciona-se a via intramuscular. 
A escolha por esse tipo de tratamento está diretamente associada ao diagnóstico precoce da gravidez 
ectópica. Além disso, esse tratamento pode isentar a gestante de uma cirurgia, sendo que, a ação do 
fármaco induz ao processo do aborto e tem maior eficácia em fases iniciais da gravidez. 
É importante mencionar que, a gravidez ectópica também pode contribuir para infertilidade 
feminina, em decorrência dos fármacos ou procedimentos cirúrgicos com a retirada das tubas uterinas. 
Desta forma, é importante a regularidade de consultar um ginecologista e obstetra, dado que é suma 
relevância para a manutenção da saúde da mulher e da gestação, quando a mesma é possível e passível 
de garantia de vida para ambos. 
Os exames como a dosagem sérica da fração (ß-hCG) e a ultrassonografia transvaginal (USTV) 
são formas de diagnóstico precoce, pois são protocolos de saúde da mulher no Brasil. Assim, o 
diagnóstico contribui diretamente para manutenção da saúde da mulher e da fertilidade como um todo. 
APENCITE AGUDA 
Fonte: Radd, Luiz e colaboradores - Apendicite Aguda: aspectos etiopatogênicos, métodos diagnósticos 
e a apendicectomia videolaparoscópica como manejo – 2023 - Brazilian Journal of Development 
A apendicite aguda (AA) é definida como a inflamação do apêndice vermiforme, órgão que 
desempenha função imunoprotetora. Essa afecção ocorre primariamente em jovens e costuma se 
apresentar de forma aguda, causada pela obstrução do lúmen do apêndice juntamente a distensão e 
aumento da pressão intramural e intraluminal do órgão, o que causa uma oclusão de pequenas veias, 
estase linfática e bloqueio do fluxo arterial. 
Acerca das manifestações clínicas, classicamente apresenta-se com dor abdominal em fossa 
ilíaca direita, náusea, vômitos e hiporexia. Os quadros de manifestações atípicas podem cursar com 
sintomas inespecíficos e gerais do trato gastrointestinal, como irregularidade intestinal e queda do estado 
geral. Nesses casos, deve-se usar métodos diagnósticos laboratoriais e por imagem. 
O diagnóstico inicial da apendicite aguda é feito de forma clínica. A anamnese deve ser 
minuciosa, explorando todas as queixas do paciente. 
O exame físico pode evidenciar distensão abdominal, peritonite e massa à palpação, além da 
presença de sinais semiológicos específicos, como o sinal de Blumberg e o sinal de Rovsing. 
3- Identificar abdome agudo inflamatório 
ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO 
Fonte: Sousa, Janaina e colaboradores – Abdome agudo inflamatório – UFAL – 2023. 
O abdome agudo é o termo utilizado para caracterizar a dor intensa em região abdominal, 
geralmente associada a irritação peritoneal e com evolução de até 48 horas, necessitando de tratamento 
urgente. Grande parte desses pacientes retornam à emergência com sintomas recorrentes persistentes, 
devido a falha do tratamento clínico. 
Devido às inúmeras etiologias de abdome agudo e com o fim de facilitar o estudo e o raciocínio 
clínico, essa síndrome costuma ser subdividida em: inflamatória, perfurativa, obstrutiva, vascular 
e hemorrágica. 
O abdome agudo inflamatório decorre de uma afecção inflamatória ou infecciosa intra-abdominal 
e seu quadro clínico é composto por dor abdominal de origem visceral, com início insidioso e caráter 
progressivo, comumente acompanhada de náuseas, vômitos, febre, hiporexia e taquicardia. 
Dentre as principais etiologias do abdome agudo estão: apendicite, colecistite, diverticulite, 
pancreatite e a doença inflamatória pélvica. 
 
 
 
 
 
4- Citar os três tumores mais comuns do apêndice cecal (carcinoide, adendo carcinoide, 
mucocele) 
Fonte: Jr Lopes, e colaboradores – tumor do apêndice vermiforme - UEM - Rev. Col. Bras. Cir. – 2001 
As neoplasias neuroendócrinas são tumores raros com prevalência de 0,7 a 4,48 casos para cada 
100 mil habitantes, perfazendo pouco menos de 0,5% de todas as malignidades. Os sítios de maior 
incidência são o trato gastrintestinal (67,5%) e o sistema broncopulmonar (25,3%). 
Dentre os tumores do trato gastrintestinal, a maioria ocorre no intestino delgado, apêndice e 
reto.(1,4) A taxa de sobrevida global em 5 anos para tumores carcinoides, independentemente do local, 
é de 67,2%, demonstrando quão indolente é o tumor. 
O tumor carcinóide do apêndice é o tipo histológico que melhor representa esse grupo de 
neoplasias do apêndice cecal. Após a apendicectomia, devemos avaliar se há necessidade de 
complementar o tratamento com ampliação do ato cirúrgico. 
 Tamanho inferior a 1 cm: apendicectomia simples; 
 Tamanho superior a 2 cm: hemicolectomia direita com linfadenectomia. 
Nos casos de tumores de tamanho intermediário, iremos avaliar a presença de outros fatores de pior 
prognóstico como invasão angiolinfática ou maior índice proliferativo. Se presentes, encaminhamos para 
hemicolectomia e complementação cirúrgica. 
O adenocarcinoma do apêndice cecal, quando diagnosticado pela equipe de patologia, é indicado 
a complementação cirúrgica ao paciente. Dessa forma, procedemos à hemicolectomia direita com 
linfadenectomia. 
A mucocele do apêndice é consequência de distensão do órgão por fator obstrutivo. Pode ser 
causado por cistoadenoma, cistoadenocarcinoma ou hiperplasia mucosa. Quando identificado no 
intraoperatório é crucial que se faça ressecção cirúrgica do apêndice sem violação da cápsula da mucocele. 
Se há ruptura da mucocele, existe a possibilidade do desenvolvimento de um pseudomixoma 
peritoneal. Nesse caso, devemos realizar a cirurgia citorredutora com quimioterapia intraperitoneal 
adjuvante. Contudo, trata-se de um quadro muito mais dramático que pode ser evitado com preservação da 
mucocele em sua retirada. 
Os adenocarcinomas se apresentam de duas maneiras: o cistoadenocarcinoma, que produz 
mucina e geralmente é bem diferenciado e o tipo intestinal (colônico), que não produz mucina e é pouco 
diferenciado. 
Tumores colorretais sincrônicos e metacrônicos são encontrados muito frequentemente. Metástases 
linfonodais ocorrem em até 25% dos casos e são mais comuns no cistoadenocarcinoma. Metástases 
para outros órgãos podem ocorrer em até 20% dos casos, principalmente no tipo intestinal. 
 O prognóstico nesses casos é semelhante ao dos tumores colorretais e é determinado pelo estádio 
de Dukes: 
 Dukes A - sobrevida de cinco anos de 100%; 
 Dukes B - sobrevida de 67%; 
 Dukes C - sobrevida de 50%; Dukes D - sobrevida de 6%. 
A ruptura do cistoadenocarcinoma pode disseminar células malignas e causar o desenvolvimento do 
pseudomixoma peritoneal, que é uma doença insidiosa, recorrente, que não se dissemina através da via 
linfática ou hematogênica e que geralmente se apresenta como uma ascite gelatinosa que contém células 
epiteliais. 
Aspectos para diagnóstico e tratamento do tumor do apêndice: 
1) A biópsia de congelação deve ser realizada sempre que o apêndice se mostrar atípico. Assim o 
diagnóstico pode ser feito durante a cirurgia e a conduta adequada pode ser tomada, evitando uma segunda 
intervenção, como aconteceu no caso aqui relatado. 
2) Todos os pacientes devem ser investigados à procura de tumores sincrônicos e metacrônicos que são 
achados em 15% a 20% dos casos. 
3) Os adenocarcinomas devem ser tratados através da colectomia direita para se obter uma melhor 
sobrevida, independente do grau de invasão, do subtipo histológico ou grau de diferenciação do tumor. 
Alguns autores, entretanto, preconizam que a colectomia direita não deva ser realizada em tumores restritos 
à mucosa sendo a apendicectomia o procedimento correto. 
4) Tumores carcinóides menores que 1cm podem ser tratados somente por apendicectomia. Tumores 
maiores que 2cm ou entre 1 e 2cm, mas com invasão linfática ou mesentérica extensa, devem ser 
submetidos à colectomia direita. 
Os pacientes com tumores do tipo adenocarcinóide também devem ser submetidos à colectomia 
direita e, quando ocorrem em mulheres na menopausa, ooferectomia bilateral deve ser realizada devido à 
grande incidência de metástases ovarianas nestes casos.

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