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A CLÍNICA COM CRIANÇAS 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Marianne Bonilha 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Nesta etapa, vamos começar abordando a interconsulta profissional, seu 
conceito e sua aplicação em diferentes âmbitos de contato interprofissional, na 
prática da psicanálise. Na sequência, refletiremos sobre a posição dos pais na 
psicanálise com crianças, a importância da implicação destes no processo de 
tratamento do filho. Ainda dentro desse assunto, vamos conhecer aspectos 
essenciais da primeira entrevista com os pais. Compreenderemos a importância 
e o formato da entrevista devolutiva com estes, após o período diagnóstico e, 
por último, o planejamento de finalização do tratamento, encerrando com a 
entrevista de alta. 
Os objetivos é de que o leitor: 
• Conheça a interconsulta profissional e saiba realizá-la; 
• Compreenda a importância e a função dos pais para a consecução da 
psicoterapia infantil; 
• Aprenda a realizar a entrevista inicial com os pais; 
• Aprenda a realizar a entrevista devolutiva; 
• Saiba planejar a alta da criança e realizar a entrevista final com os pais. 
TEMA 1 – PSICANÁLISE COM CRIANÇAS E INTERCONSULTA PROFISSIONAL 
O uso da psicanálise com crianças está relacionado, em muitas situações 
e contextos, além da demanda da própria família, e, algumas vezes, 
independente da demanda desta, com a demanda de terceiros. Seja em 
consultórios, clínicas multiprofissionais, hospitais, escolas, o psicanalista 
estabelecerá parcerias de cuidado e atenção à infância com outras áreas de 
saber, exercendo a interconsulta profissional. A interconsulta é a troca de 
pareceres entre profissionais; refere-se ao ato de receber (ouvir a opinião de 
alguém) e emitir, trocar, discutir e planejar (a própria opinião) (Alamy, 2013). Ela 
é um recurso técnico que permite a circulação de conhecimento entre diferentes 
áreas de saber, contribuindo para compreensão, tratamento e manejo 
abrangente da saúde global da criança. 
A prática da interconsulta requer o contato direto com o solicitante e 
manejo cuidadoso em cada passo da execução. O recebimento da demanda 
inclui a realização de perguntas como: 
 
 
a. Quem pediu? 
b. Por que pediu (as motivações)? 
c. O contexto mais amplo em torno da demanda e do motivo da demanda. 
d. Qual a percepção que o profissional solicitante tem acerca da reação da 
família quanto à demanda? 
 Quanto ao período intermediário da resposta formal do pedido, quando 
necessário, é possível o contato com o solicitante descrevendo os recursos que 
estão sendo utilizados na avaliação e pontos que já se revelam importantes e 
que podem, antecipadamente à resposta final, contribuir para a imediata 
condução conjunta do caso. 
Na interconsulta devolutiva, o psicanalista deve fornecer o parecer 
diagnóstico de forma fundamentada, com uma descritiva clara dos termos 
utilizados, facilitando a compreensão do solicitante para conclusão do caso ou 
planejamento dos próximos passos (direção do tratamento, novos 
encaminhamentos, reuniões conjuntas). 
Conforme mencionado anteriormente, a interconsulta poderá estar 
inserida num âmbito multi, inter ou transdisciplinar. No formato multidisciplinar, o 
paciente é atendido por vários profissionais que não interagem e que trabalham 
isoladamente, ainda que um tenha ciência do trabalho do outro. 
Na perspectiva interdisciplinar, existe o encontro dos profissionais e a 
troca de conhecimento acerca do paciente; as informações promovem uma 
atuação complementar. No atendimento transdisciplinar, os conhecimentos 
misturam-se de forma que um tem acesso às informações do outro. Existe uma 
consonância na compreensão sobre o paciente, numa visão integradora e ação 
conjunta (Alamy, 2013). 
TEMA 2 – O LUGAR DOS PAIS NA PSICANÁLISE COM CRIANÇAS 
Esse tema, certamente, configura-se crucial para a consecução do 
trabalho com a criança. Ainda que os psicanalistas não tenham a profissão 
regulamentada e um código de ética, há de estar alinhado com o que se espera 
de um psicólogo na mesma função. A participação dos pais ou do responsável 
legal no tratamento de menores de idade é tema disposto no art. 8º do Código 
de Ética Profissional do Psicólogo (2005). Esse artigo regula a obrigatoriedade 
do profissional em obter autorização de, pelo menos, um dos pais, ou 
 
 
responsável para a realização de atendimento sistemático de criança, 
adolescente ou interdito. 
O trabalho psicanalítico com a criança somente acontece a partir da 
permissão dos pais (Stürmer, 2009). Essa permissão, além do óbvio caráter 
legal, tem a dimensão transferencial dos pais com o profissional. Trata-se, aqui, 
da confiança, de supor que o analista detém um saber, tornando possível a partir 
dessa crença que o trabalho psíquico ocorra. Transferência simbólica que vai 
permitir abrir espaço de fala, por meio da escuta. José Attal (1998) diz que “é um 
fato de experiência constatar que a criança nunca vai mais além daquilo a que 
seus pais autorizam”. 
O psicanalista deve saber que, nas entrevistas, os pais e a criança se 
entrelaçam em um campo transferencial único. A posição de dependência da 
criança em relação aos pais vai além das necessidades básicas de sobrevivência 
do real do corpo, ela se refere também a uma necessidade subjetiva. 
Como foi falado em contéudos anteriores, as referências constitutivas da 
criança passam pelas referências dos pais, passam pelo sintoma parental. As 
ideias, crenças, fantasias que vêm dessa família referenciam a posição da 
criança neste mundo. 
A clínica infantil maneja uma dupla transferência, a da família e a da 
criança. A família, ao demandar o trabalho emocional para o filho, enfrenta uma 
ferida narcísica, no quanto este representa uma parte de si próprio. Esse 
processo implica aos pais falarem da própria história. 
Segundo Berardino (2011), essa quebra narcísica é uma experiência de 
castração porque se, por um lado, a demanda dirigida ao analista é a confiança 
de cuidado deste filho a alguém que pode ajudá-lo, essa mesma demanda 
representa uma falha, uma impossibilidade de cuidado com a criança. A 
formação do vínculo dos pais com o profissional começa no recebimento da 
demanda, no acolhimento do sofrimento e das preocupações que carregam com 
relação ao filho. 
O pedido velado feito por estes ao psicanalista é a restituição do filho 
ideal. Berardino (2011) diz que os pais devem renunciar à criança narcísica que 
o filho representa para propiciar o surgimento da subjetividade do filho é um difícil 
exercício para os pais, que precisam, nestas entrevistas, serem sustentados e, 
ao mesmo tempo, conduzidos a enfrentar esta questão. Sem isto, não há 
possibilidade de análise. 
 
 
Com isso, considera-se necessário dar lugar à criança idealizada pela 
família, escutar as ideias em torno desse ideal narcísico relacionado à história 
deles próprios, para abrir espaço para a criança da realidade, a que vem ao 
consultório. É necessária a implicação da própria família, uma reflexão acerca 
da influência exercida na organização psicológica e no desenvolvimento da 
criança. A ausência dessa reflexão pode contribuir para o abandono do 
tratamento. 
É imprescindível a participação de ao menos um dos pais ou responsáveis 
em todo o processo de tratamento, seja com crianças ou adolescentes. Deixar 
os pais à parte do tratamento apenas suscitará fantasias e resistências que 
poderão criar impasses ou impedimentos no processo de tratamento. Manter 
encontros periódicos com os pais auxilia a diminuição das fantasias 
persecutórias, bem como, ao se aproximar da história familiar, entendendo sua 
dinâmica, faz com que venham à tona segredos ou aspectos ocultos, que vão se 
evidenciando na medida em que é construída uma relação de confiança. Estar 
atento às manifestações resistenciais dos pais ajudará a prevenir abandonos e 
fortalecerá a relação com o analista (Stürmeret al., 2009). 
É necessário ouvir as queixas e incômodos dos pais, auxiliar a entender 
a dinâmica da família e da criança em questão, ao mesmo tempo que se deve 
identificar qual a demanda da criança e qual a demanda de seus pais, quais são 
as fantasias e expectativas, o que esperam do tratamento e se possuem 
condições para efetivá-lo. 
O trabalho com os pais, ao longo do tratamento, pode seguir de várias 
formas, inclusive com sessões que reúnam a família inteira, conforme a 
especificidade de cada caso. Isso exige do psicanalista uma postura flexível, 
fazendo-se valer de soluções abertas e criativas, já que modalidades variáveis 
de inclusão de pais e demais familiares podem se mostrar benéficas em muitos 
casos. A presença dos pais oferece uma ótima oportunidade de observar como 
cada família interage, quais são os mecanismos defensivos predominantes, se 
existem aspectos dissociados e identificados projetivamente de uns membros 
nos outros (Stürmer et al., 2009). 
A clínica infantil pode abranger duas vias de trabalho: uma é a análise 
individual com a criança, pois mesmo que questões da neurose parental estejam 
presentes, o paciente tem sua particularidade subjetiva, passível de inúmeros 
conflitos e de intenso sofrimento. Isso significa um trabalho quanto à posição 
 
 
subjetiva do paciente frente ao desejo de seus pais, de quem deverá se separar 
(Siquier; Salzberg, 2002). Outra é escutando os pais, periodicamente, 
disponibilizando espaço de trabalho de ansiedade, ambivalências, dúvidas, 
auxiliando-os no enfrentamento da análise do filho. É parte da competência 
terapêutica auxiliá-los a compreender suas fantasias a respeito da criança e das 
mudanças que o tratamento poderá ocasionar, para que as suportem e as 
aceitem (Siquier; Salzberg, 2002). 
À medida que o trabalho individual com a criança caminha, processando-
se a retificação subjetiva, pode ocorrer uma minimização dos sintomas por parte 
desta e uma consequente elaboração de conflitos do paciente com relação ao 
meio familiar. Isso pode acarretar um reposicionamento de angústias advindas 
da família, que antes estavam concentradas no paciente e depois retornam ao 
grupo familiar. 
Neste caso, uma importante função do sintoma da criança não cumpre 
mais seu papel, provocando um mal-estar, já que os conflitos e angústias 
parentais perderam seu ponto de convergência e representância. Se as 
modificações do filho forem sentidas como demasiado ameaçadoras para os 
pais e para a configuração familiar vigente, e tal aspecto não for trabalhado, a 
continuidade do atendimento da criança pode ser ameaçada por faltas, atrasos 
ou desistência do tratamento. 
A escuta dos pais pelo analista da criança tem por função, no primeiro 
momento, redimensionar os elementos que configuram o problema que motivou 
a procura pela análise. Num segundo tempo, os encontros passam a regular os 
efeitos do trabalho com a criança junto aos pais. Não se trata de responder à 
demanda no sentido de dizer o que fazer, aconselhando esses adultos a agir 
desta ou daquela maneira, mas proporcionar a eles um espaço de deslocamento 
de suas angústias, reposicionando-os em relação ao problema que enfrentam 
(Silva; Rudson, 2017). 
TEMA 3 – A PRIMEIRA ENTREVISTA COM OS PAIS 
O encontro inicial com o analista é sempre permeado por angústias e 
culpas dos pais, variando em intensidade. Por mais que a decisão de procurar 
um psicanalista tenha sido pensada e amadurecida pelos pais, as situações e os 
fatos que envolvem e mobilizam maior ansiedade, às vezes, são evitados por 
 
 
estes na primeira entrevista, pois geram desconforto e, provavelmente, estão 
relacionados intimamente à problemática da criança. 
Os pais devem ser ouvidos com toda atenção e acolhimento necessários 
para que se sintam à vontade para contar sobre os motivos da busca de 
atendimento para o filho. “O analista deve ter a sensibilidade de não conduzir as 
entrevistas como interrogatórios, pois, dessa forma, poderá contribuir para as 
resistências e ansiedades, parecendo mais um investigador formulando um 
inquérito acerca das condutas da família” (Stürmer, 2009). 
Atitudes e posturas compreensivas e empáticas, por parte do analista, 
auxiliam no estabelecimento de uma confiança inicial, proporciona maior 
conforto aos pais para que falem de temas delicados, mas fundamentais para a 
compreensão da situação atual. Abordar e explorar de forma precoce as 
possíveis dificuldades dos pais relacionadas ao sintoma do filho pode levar a um 
incremento das resistências, ocasionando, muitas vezes, interrupções e 
abandonos repentinos. Em alguns casos, o término pode se dar ainda na fase 
das entrevistas iniciais, não oportunizando ao psicanalista sequer a possibilidade 
de abordar as angústias subjacentes, por serem demasiado intensas. 
A escuta deve permitir a circulação das associações e comunicações 
entre o analista e a família, permitindo a livre expressão. Podendo-se trilhar com 
perguntas pertinentes relacionadas ao discurso do familiar. Na primeira 
entrevista, é primordial, ainda, que sejam questionados os motivos da consulta. 
Caso o paciente tenha sido levado em função de encaminhamento de outro 
profissional, deve-se questionar a percepção da família com relação a isso. 
Deve-se questionar o motivo da consulta, explorar a queixa do familiar, 
possibilitar que a família estabeleça uma demanda e ponderar as intenções e 
expectativas com relação ao tratamento. Aberastury (1982) indica que não 
convém finalizar a entrevista sem ter conseguido os dados básicos de que 
necessita antes de ver a criança, sendo eles: 
1. motivo da consulta, manifesto ou latente; 
2. história da criança; 
3. como transcorre um dia de sua vida atual, um domingo ou feriado e o dia 
do aniversário; 
4. como é a relação dos pais entre si, com os filhos e com o meio familiar 
imediato. 
 
 
 É possível, ao final da primeira entrevista, retomar o motivo da consulta, 
relembrar os aspectos que surgiram relacionados à queixa, pontuar as 
impressões que saltaram na percepção do analista, possibilitando à família uma 
reflexão e reorganização a respeito da demanda psicológica. As entrevistas 
iniciais é o período no qual se faz necessário compreender dados globais do 
paciente, os quais incluem elementos do funcionamento e organização da família 
em termos de hábitos, rotinas, valores, assim como elementos do funcionamento 
psíquico da criança, no que diz respeito à estruturação psíquica da criança, 
mecanismos de defesas predominantes, recursos egoicos, fantasias e 
integração ou não das instâncias psíquicas. Esse momento inicial com os pais 
apresenta uma trilha de significantes, por meio das associações, que se repetem 
e se articulam, contextualizando a problemática do caso sobre o paciente e a 
família. 
 No método psicanalítico esse período de entrevistas iniciais é 
caracterizado por uma conversa, onde o psicanalista ouve, faz e responde 
perguntas. Da mesma forma que no atendimento do paciente adulto, a escuta 
do inconsciente, pelo método da associação livre, permite ao analista perceber 
os pontos de conflitos, as resistências, repetições…, com o tratamento de 
crianças, na primeira entrevista com os pais, pode-se também identificar o 
entrecruzamento de questões dos pais nos sintomas das crianças. Compõe 
ainda neste começo, aspectos do setting e do contrato de trabalho que precisam 
ser esclarecidos, pois organizam o funcionamento, os combinados e o valor das 
sessões. 
3.1 O estabelecimento do setting e o contrato de trabalho 
A delimitação do setting implica tanto na postura do analista, em seu 
aspecto ético (disponibilidade de escuta), como nos combinados feitos com a 
família ou responsável. Na primeira entrevista, preferencialmente no início da 
sessão, explica-se: 
• O método de trabalho. 
• O sigilo profissional. 
• Os combinados acerca da duração e periodicidade das sessões.• Planejamento da entrevista devolutiva após a avaliação (esclarecendo 
que o sigilo é resguardado, que a comunicação se refere ao parecer 
diagnóstico). 
• A duração do tratamento. 
• Os combinados quanto aos honorários. 
 O posicionamento claro por parte do analista quanto a forma de trabalho, 
esclarecendo sobre o método, contribui para segurança no profissional e para o 
vínculo de confiança, necessários para o estabelecimento da transferência. 
 Uma clara diferença entre a atuação de psicanalistas e de psicólogos é a 
restrição do uso de testes psicológicos. Psicanalistas e outros psicoterapeutas 
não têm autorização legal para o uso de testes formais de avaliação e 
diagnóstico de personalidade que são privativos de psicólogos. A principal 
função do psicanalista é analisar e não testar. O diagnóstico do psicanalista se 
dá sob a transferência, avaliando as relações do sujeito com a linguagem, o lugar 
do sintoma da criança para os pais e para ela mesma. Vale ainda ressaltar que 
a posição do psicólogo, utilizando testes, coloca-o numa posição de mestria, no 
lugar daquele que detém um saber; suprimindo o saber do paciente. O 
psicanalista avalia a estrutura psíquica enquanto o psicólogo, em aplicação de 
testes, avalia determinadas funções do egoicas. O psicanalista contribui para 
reflexão, compreensão e orientação de pais, professores, médicos, juízes e 
demais profissionais sem emissão de documentos formais/legais. 
TEMA 4 – A ENTREVISTA DEVOLUTIVA 
Na psicanálise, o diagnóstico refere-se às estruturas psíquicas e os tipos 
clínicos destas, serve para indicar o caminho do tratamento, não para a rotulação 
do sujeito (Oliveira; Neves, 2012). O psicodiagnóstico pode ter vários objetivos, 
mas a sua finalidade é a compreensão do sujeito com relação ao sintoma que 
apresenta e as repercussões implicadas em sua manifestação. 
O psicodiagnóstico revela o funcionamento psíquico da criança, articulado 
ao meio familiar, delineia características das inter-relações. Tosin (2005) sugere 
que, na devolutiva com a família, tudo o que foi visto e ouvido seja retomado 
para ajudar a criança e a família a perceber os sentimentos envolvidos, os 
significados que possuem, mostrando o funcionamento quanto aos aspectos que 
facilitam e os que dificultam seu desenvolvimento. 
 
 
A tônica da devolutiva deve ser as possibilidades do sujeito e não as 
dificuldades. Os pais devem ser tratados com objetividade, esclarecendo 
dúvidas, apontando possibilidades para algumas dificuldades. Uma devolutiva 
confusa, mal organizada, reverte-se em dificuldade no manejo com os pais. 
Pode-se provocar uma reação negativa frente as informações e o abandono 
definitivo do tratamento. 
A entrevista devolutiva (Cunha, 1986) com a família, pode iniciar com a 
informação sobre as condições psíquicas da criança, com uma descrição 
psicodinâmica que esclareça a necessidade e a importância do tratamento para 
o desenvolvimento global. Na descrição, deve-se apontar características da 
estrutura de personalidade da criança, podendo-se utilizar termos técnicos, 
explicando o sentido das palavras utilizadas, para que não ocorram mal-
entendidos. Pode-se organizar a comunicação por aspectos da personalidade 
manifestados na área emocional, social, física. 
A comunicação deve iniciar por aspectos positivos e, depois, inserir os 
pontos críticos com relação aos sintomas e conflitos. Salienta-se o cuidado para 
que o sigilo quanto às sessões da criança seja respeitado, restringindo-se ao 
parecer diagnóstico e não um relatório das sessões. 
Após a exposição do parecer, abre-se espaço para as percepções, 
perguntas, comentários e reações dos pais. É um momento de reflexão em que 
o psicanalista auxilia na apreensão das informações, assinalando, perguntando, 
pontuando. O sintoma da criança refere-se também ao meio familiar, o que 
permite dizer que, assim como na primeira entrevista, os pais experienciam uma 
quebra narcísica, na entrevista devolutiva, tal vivência reedita-se. 
Nessa sessão, é necessário que, baseado no parecer realizado, aponte-
se a necessidade do tratamento, se este for o caso. Aponta-se ainda os objetivos 
da direção do tratamento, a perspectiva prognóstica, se esta for possível de ser 
feita. 
4.1 Atendimentos durante o processo de tratamento 
É precisamente a constatação das ligações e dos pactos estabelecidos 
entre pais e filhos que implica a necessidade de escutar os pais em entrevistas 
durante a análise da criança. Se os pais estão implicados no sintoma do filho, 
precisamos, também, ajudá-los a identificar suas dificuldades relacionadas a 
este. As entrevistas com os pais podem ser esporádicas, considerando as 
 
 
nuances, necessidades e objetivos de cada caso, por um convite do próprio 
analista ou a pedido dos pais. 
Conforme aponta Mannoni (1977), a disponibilidade de abrir espaço de 
fala para os pais contribui para o desaparecimento progressivo de palavras que 
mantém a criança numa posição sintomática. O pressuposto de que pais e filho 
estão implicados entre si leva, necessariamente, a admitir que, no setting 
psicanalítico, os pais estão sempre presentes por meio do discurso da criança, 
podendo, a partir do espaço aberto pelo analista, tomar a palavra, reconhecer-
se. 
Nos casos em que os pais ou um deles procuram insistentemente o 
psicanalista com o pretexto de falar do filho, não devemos esquecer que essa 
insistência pode ser indício de que existe algum problema pessoal "mascarado" 
pelas dificuldades da criança (Priszkulnik, 1995). Pode-se atender o pedido, pois 
a escuta permite que a pergunta, colocada por meio da “problemática do filho”, 
abra possibilidade de questionamentos e reflexões que implica pessoalmente o 
familiar no sintoma da criança. 
TEMA 5 – A ENTREVISTA DE ALTA COM A FAMÍLIA 
O processo de alta pode se iniciar com a percepção do analista acerca 
das condições psíquicas da criança, considerando os objetivos traçados no 
tratamento desta, bem como o desenlace da transferência, devendo ser pensado 
com o paciente. A alta de um paciente é também um ato analítico, ele produz 
efeitos no paciente e na família, podendo surgir resistências e inseguranças. 
O processo de alta, ou seja, o término do tratamento só pode ser 
compreendido por meio de uma decisão conjunta das partes envolvidas: 
paciente/analista e pais. O psicanalista deve observar se o paciente apresenta 
sinais de elaboração psíquica e crescimento emocional e, principalmente, a 
relação com o próprio sintoma. Num segundo movimento, após paciente e 
analista conversarem, os pais são inseridos nessa reflexão e, somente após uma 
decisão conjunta (psicanalista, paciente e pais), programa-se a data de 
encerramento, agendando-se no último dia a entrevista de alta. 
Stümer et al (2009) sugerem a ideia da finalização do tratamento podendo 
vir do paciente, dos pais, do psicanalista, ou, ainda, das três partes envolvidas 
quando há uma melhora visível e clara que justifique um término terapêutico. 
Muitas vezes, ocorre o que chamamos término combinado, quando uma das 
 
 
partes, geralmente os pais, anunciam a decisão de encerrar o processo, sendo 
combinado um período para trabalhar com criança o processo de separação e a 
despedida do analista. Términos a pedido também podem ser o final de um 
processo produtivo e de crescimento (analista ainda apontasse conteúdo a ser 
trabalhado). 
Falcão (2016) aponta aspectos a serem considerados para a indicação de 
alta da criança: 
• Do ponto de vista da criança, 
• possuir uma capacidade de lidar com o mundo pulsional, 
tanto do ponto de vista da libido amorosa quanto da 
destrutiva: interações do id com o eu, processos primários e 
secundários e avaliação das ações do supereu; 
• apresentar uma labilidade dinâmica entre os processos 
primários e secundários; 
• esbatimento dos sintomas que perturbavam o 
desenvolvimento psicossexual; 
• tercapacidade de insight, ao mesmo tempo compreendendo 
que possa desaparecer em função do recalque; 
• incorporar o brincar proporcionado pela experiência analítica, 
expandindo-o na vida da criança; 
• manter internalizada a capacidade de se identificar com a 
função analítica: os investimentos do analista e seu trabalho 
interpretativo acrescidos dos investimentos da criança se 
constroem como uma identificação a essa função; 
• adquirir a autonomia necessária de acordo com sua faixa 
etária; 
• ter capacidade de trocas afetivas familiares e sociais. 
O término combinado e programado permite uma preparação para do 
desenlace entre o paciente e o analista, um período para elaborar a separação 
e o término do tratamento. 
 Na entrevista de alta, o analista pode iniciar a sessão retomando o 
motivo e a demanda do trabalho, relembrar as características psicológicas 
iniciais da paciente, o processo do tratamento (quanto à dinâmica psíquica) e as 
condições atuais que permitem a alta. Esta sessão pode ser feita em conjunto, 
paciente, pais e psicanalista, favorecendo a expressão e a percepção de todos, 
acerca do tratamento e o término deste. 
NA PRÁTICA 
 Uma das preocupações mais frequentes de analistas iniciantes ou de 
estudantes de psicologia ou psicanálise com relação à entrevista psicológica 
refere-se ao encadeamento das perguntas a serem feitas. Essa preocupação 
impede o estudante ou o profissional de escutar atentamente o que está sendo 
 
 
dito. Muitas vezes, a preocupação “O que é que eu vou perguntar agora?” torna-
se o centro da atenção, prejudicando o processo de escuta. 
 Muito mais do que se preocupar com a próxima pergunta ou colocação, a 
lógica necessária deve ser de querer entender mais sobre o que os pais estão 
falando. Na primeira entrevista, as perguntas em torno da queixa inicial são 
fundamentais para a entrada no trabalho. O que está acontecendo? Como está 
acontecendo? Desde quando começou? O que pensam estar associado a tal 
problema? Qual a percepção do familiar sobre a problemática? Permitindo que 
as colocações dos pais fluam livremente, sem que se prejudique o curso 
associativo para que as organizações inconscientes apareçam. 
Estas, entre outras possibilidades, podem ajudar a construir uma primeira 
percepção (hipótese) sobre o caso, no entanto, a utilização deve ser aplicada 
pela pertinência do encadeamento. Ou seja, não adianta a utilização forçada e 
descontextualizada de perguntas, elas devem ter relação ou conexão com o 
encadeamento discursivo. Trata-se de se despreocupar com relação à própria 
performance e se ocupar do outro. 
Outro ponto que merece ser exemplificado, dentro da temática dos pais, 
são as queixas com relação ao filho e pedidos de como agir com ele, que de fato 
denotam a desorientação do adulto. Se essa demanda não recebe resposta 
imediata e serve de possibilidade para que os pais comecem a falar da vida 
deles, aos poucos surge “outra” dificuldade, a dificuldade deles em relação à 
própria vida. 
O manejo do atendimento permite que possa se processar um 
reposicionamento quanto à queixa que motivou a busca por um psicanalista (que 
não vai se restringir somente à primeira entrevista). O pai ou a mãe tem 
possibilidade de se reconhecer e se rever, reorganizando-se com relação a si 
próprio e ao filho. Muitas vezes, o familiar acaba admitindo espontaneamente: 
“não é só meu filho que precisa de análise, eu também”. 
FINALIZANDO 
Nesta etapa, conhecemos a atuação interprofissional de profissionais da 
área psi (psicólogos, psicoterapeutas, psicanalistas, psiquiatras) por meio da 
interconsulta, sua forma de execução e manejo. A qual pode ser realizada em 
consultórios particulares, clínicas, escolas, postos de saúde, hospitais etc. 
 
 
Conhecemos as condições iniciais dos pais da criança frente à busca por 
tratamento psicanalítico; refletimos e ponderamos a importância do contato 
inicial, por meio da primeira entrevista e delimitamos a estrutura da primeira 
entrevista. 
Aprendemos como, após terminar o psicodiagnóstico, realizar a entrevista 
devolutiva com os pais, elaborando a comunicação do parecer de forma clara, 
organizada e objetiva. Compreendemos a possibilidade de escuta esporádica 
dos pais, durante o tratamento da criança. 
Por último, pensamos sobre o período próximo à alta da criança, a 
definição, a programação e o formato da entrevista final. 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
ABERASTURY, A. Psicanálise da criança: teoria e técnica. Porto Alegre: 
Artmed. 1982. 
ATTAL, J. Transferência e final de análise com criança. In: A criança e o 
psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1998. 
BERARDINO, L. As entrevistas preliminares na psicanálise com crianças. 
Revista Associação Psicanalítica de Curitiba, 2011. 
CASTRO, K. de. As etapas da psicoterapia com crianças. In: CASTRO, M. et al. 
Crianças e adolescentes em psicoterapia: a abordagem psicanalítica. Porto 
Alegre: Artmed, 2009. 
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Código de ética profissional do 
psicólogo. Brasília, DF, 2005. 
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