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1 LINGUÍSTICA TEXTUAL 1 SUMÁRIO 1- LINGUÍSTICA /SEMÂNTICA ................................................................................... 4 1.1- ÍNDICE ..................................................................................................................... 4 2- LINGUAGEM .............................................................................................................. 5 2.1- TIPOS DE LINGUAGEM ........................................................................................ 5 3- LÍNGUA ...................................................................................................................... 6 4- LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA ................................................................ 6 5- FALA ........................................................................................................................... 7 6 - NÍVEIS DA FALA ..................................................................................................... 7 6.1- NÍVEL COLOQUIAL-POPULAR: .......................................................................... 8 6.2- NÍVEL FORMAL-CULTO: ..................................................................................... 8 7- SIGNO .......................................................................................................................... 8 8- SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS .......................................................................... 9 8.1- SINÔNIMOS ............................................................................................................. 9 8.2- ANTÔNIMOS ........................................................................................................... 9 8.3- POLISSEMIA ......................................................................................................... 10 8.4- HOMÔNIMOS ........................................................................................................ 10 8.5- HOMÔNIMOS PERFEITOS .................................................................................. 11 8.6- PARÔNIMOS ......................................................................................................... 12 9- A LINGUÍSTICA, O TEXTO E O ENSINO DA LÍNGUA: NOTAS PARA CONTINUAR O DEBATE ............................................................................................ 13 9.1- A LINGUÍSTICA E O TEXTO .............................................................................. 14 9.2- A GRAMÁTICA, O TEXTO E O ENSINO DA LÍNGUA .................................... 16 9.3- A LINGUÍSTICA, O TEXTO E O ENSINO DA LÍNGUA: ................................. 17 10- LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: A ORALIDADE EM SALA DE AULA ............................................................................ 19 2 10.1- LINGUÍSTICA TEÓRICA X LINGUÍSTICA APLICADA ................................ 21 10.2- A LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA .... 22 11- O TRABALHO COM A ORALIDADE NA SALA DE AULA ............................. 23 11.1- SUGESTÕES PARA O TRABALHO COM A ORALIDADE NA SALA DE AULA ............................................................................................................................. 23 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 25 3 FACUMINAS A história do Instituto FACUMINAS, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACUMINAS, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A FACUMINAS tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 Caro (a) aluno (a), antes de começar a ler sua apostila, assista ao vídeo e leia o texto do link abaixo. Esse material foi cuidadosamente colocado à sua disposição, pois é extremamente esclarecedor e pertinente para que você entenda as demandas acerca do ensino da Linguística e da Língua. Bons estudos! Obs.: Caso você não consiga acessar os links clicando nos mesmos, basta copiá- los e colocar na barra de ferramentas para ter acesso. ASSISTA AQUI https://www.youtube.com/watch?v=cirsi3UdnT8 LEIA AQUI http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/revel_14_entrevista_perini.pdf 1- LINGUÍSTICA /SEMÂNTICA DEFINIÇÃO Em linguística, Semântica estuda o significado e a interpretação do significado de uma palavra, de um signo, de uma frase ou de uma expressão em um determinado contexto. Nesse campo de estudo se analisa, também, as mudanças de sentido que ocorrem nas formas linguísticas devido a alguns fatores, tais como tempo e espaço geográfico. 1.1- ÍNDICE Linguagem Linguagem / Tipos de Linguagem Língua Língua Falada e Língua Escrita Fala / Signo Significação das Palavras Sinônimos, Antônimos, Polissemia Homônimos - Homônimos Perfeitos Parônimos 5 2- LINGUAGEM É a capacidade que possuímos de expressar nossos pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. A Linguagem está relacionada a fenômenos comunicativos; onde há comunicação, há linguagem. Podemos usar inúmeros tipos de linguagens para estabelecermos atos de comunicação, tais como: sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica, por exemplo). Num sentido mais genérico, a Linguagem pode ser classificada como qualquer sistema de sinais que se valem os indivíduos para comunicar-se. 2.1- TIPOS DE LINGUAGEM A linguagem pode ser: Verbal: a Linguagem Verbal é aquela que faz uso das palavras para comunicar algo. As figuras acima nos comunicam sua mensagem através da linguagem verbal (usa palavras para transmitir a informação). Não Verbal: é aquela que utiliza outros métodos de comunicação, que não são as palavras. Dentre elas estão a linguagem de sinais, as placas e sinais de trânsito, a linguagem corporal, uma figura, a expressão facial, um gesto, etc. Essas figuras fazem uso apenas de imagens para comunicar o que representam. 6 3- LÍNGUA A Língua é um instrumento de comunicação, sendo composta por regras gramaticais que possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados que lhes permitam comunicar-se e compreender-se. Por exemplo: falantes da língua portuguesa. A língua possui um caráter social: pertence a todo um conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre ela. Cada membro da comunidade pode optar por esta ou aquela forma de expressão. Por outro lado, não é possível criar uma língua particular e exigir que outros falantes a compreendam. Dessa forma, cada indivíduo pode usar de maneira particular a língua comunitária, originando a fala. A fala está sempre condicionada pelas regras socialmente estabelecidas da língua, mas é suficientemente ampla para permitir um exercício criativo da comunicação. Um indivíduo pode pronunciar um enunciado da seguinte maneira: A família de Regina era paupérrima.Outro, no entanto, pode optar por: A família de Regina era muito pobre. As diferenças e semelhanças constatadas devem-se às diversas manifestações da fala de cada um. Note, além disso, que essas manifestações devem obedecer às regras gerais da língua portuguesa, para não correrem o risco de produzir enunciados incompreensíveis como: Família a paupérrima de era Regina. 4- LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois meios de comunicação distintos. A escrita representa um estágio posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea, abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade. Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes por mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas e o tom de voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes da língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se: Fatores regionais: é possível notar a diferença do português falado por um habitante da região nordeste e outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma 7 região, também há variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior do estado. Fatores culturais: o grau de escolarização e a formação cultural de um indivíduo também são fatores que colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve acesso à escola. Fatores contextuais: nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que nos encontramos: quando conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se estivéssemos discursando em uma solenidade de formatura. Fatores profissionais: o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, químicos, profissionais da área de direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas. Fatores naturais: o uso da língua pelos falantes sofre influência de fatores naturais, como idade e sexo. Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-se em linguagem infantil e linguagem adulta. 5- FALA É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua personalidade, o ambiente sociocultural em que vive, etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo, além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros falam; é por isso que somos capazes de dialogar com pessoas dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a linguagem delas seja exatamente como a nossa. 6 - NÍVEIS DA FALA Devido ao caráter individual da fala, é possível observar alguns níveis: 8 6.1- NÍVEL COLOQUIAL-POPULAR: é a fala que a maioria das pessoas utiliza no seu dia a dia, principalmente em situações informais. Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utilizá-lo, não nos preocupamos em saber se falamos de acordo ou não com as regras formais estabelecidas pela língua. 6.2- NÍVEL FORMAL-CULTO: é o nível da fala normalmente utilizado pelas pessoas em situações formais. Caracteriza-se por um cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras gramaticais estabelecidas pela língua. 7- SIGNO O signo linguístico é um elemento representativo que apresenta dois aspectos: o significado e o significante. Ao escutar a palavra cachorro, reconhecemos a sequência de sons que formam essa palavra. Esses sons se identificam com a lembrança deles que está em nossa memória. Essa lembrança constitui uma real imagem sonora, armazenada em nosso cérebro que é o significante do signo cachorro. Quando escutamos essa palavra, logo pensamos em um animal irracional de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas, etc. Esse conceito que nos vem à mente é o significado do signo cachorro e também se encontra armazenado em nossa memória. Ao empregar os signos que formam a nossa língua, devemos obedecer às regras gramaticais convencionadas pela própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível colocar o artigo indefinido um diante do signo cachorro, formando a sequência um cachorro, o mesmo não seria possível se quiséssemos colocar o artigo uma diante do signo cachorro. A sequência uma cachorro contraria uma regra de concordância da língua portuguesa, o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os signos que constituem a língua obedecem a padrões determinados de organização. O conhecimento de uma língua engloba tanto a identificação de seus signos, como também o uso adequado de suas regras combinatórias. signo = significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do signo) + significante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas letras e seus fonemas) 9 Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que obedecem às regras gramaticais. Signo: elemento representativo que possui duas partes indissolúveis: significado e significante. Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade e ao desenvolvimento da liberdade de expressão e compreensão. 8- SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS Quanto à significação, as palavras são divididas nas seguintes categorias: 8.1- SINÔNIMOS As palavras que possuem significados próximos são chamadas sinônimos. Exemplos: casa - lar - moradia – residência longe – distante delicioso – saboroso carro - automóvel Observe que o sentido dessas palavras são próximos, mas não são exatamente equivalentes. Dificilmente encontraremos um sinônimo perfeito, uma palavra que signifique exatamente a mesma coisa que outra. Há uma pequena diferença de significado entre palavras sinônimas. Veja que, embora casa e lar sejam sinônimos, ficaria estranho se falássemos a seguinte frase: Comprei um novo lar. Obs.: o uso de palavras sinônimas pode ser de grande utilidade nos processos de retomada de elementos que inter-relacionam as partes dos textos. 8.2- ANTÔNIMOS São palavras que possuem significados opostos, contrários. Exemplos: mal / bem ausência / presença fraco / forte claro / escuro 10 subir / descer cheio / vazio possível / impossível 8.3- POLISSEMIA Polissemia é a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar mais de um significado nos múltiplos contextos em que aparece. Veja alguns exemplos de palavras polissêmicas: cabo (posto militar, acidente geográfico, cabo da vassoura, da faca) banco (instituição comercial financeira, assento) manga (parte da roupa, fruta) 8.4- HOMÔNIMOS São palavras que possuem a mesma pronúncia (algumas vezes, a mesma grafia), mas significados diferentes. Veja alguns exemplos no quadro abaixo: acender (colocar fogo) ascender (subir) acento (sinal gráfico) assento (local onde se senta) acerto (ato de acertar) asserto (afirmação) apreçar (ajustar o preço) apressar (tornar rápido) bucheiro (tripeiro) buxeiro (pequeno arbusto) bucho (estômago) buxo (arbusto) caçar (perseguir animais) cassar (tornar sem efeito) cegar (deixar cego) segar (cortar, ceifar) cela (pequeno quarto) sela (forma do verbo selar; arreio) censo (recenseamento) senso (entendimento, juízo) céptico (descrente) séptico (que causa infecção) cerração (nevoeiro) serração (ato de serrar) cerrar (fechar) serrar (cortar) cervo(veado) servo (criado) chá (bebida) xá (antigo soberano do Irã) cheque (ordem de pagamento) xeque (lance no jogo de xadrez) círio (vela) sírio (natural da Síria) cito (forma do verbo citar) sito (situado) concertar (ajustar, combinar) consertar (reparar, corrigir) concerto (sessão musical) conserto (reparo) coser (costurar) cozer (cozinhar) 11 esotérico (secreto) exotérico (que se expõe em público) espectador (aquele que assiste) expectador (aquele que tem esperança, que espera) esperto (perspicaz) experto (experiente, perito) espiar (observar) expiar (pagar pena) espirar (soprar, exalar) expirar (terminar) estático (imóvel) extático (admirado) esterno (osso do peito) externo (exterior) estrato (camada) extrato (o que se extrai de algo) estremar (demarcar) extremar (exaltar, sublimar) incerto (não certo, impreciso) inserto (inserido, introduzido) incipiente (principiante) insipiente (ignorante) laço (nó) lasso (frouxo) ruço (pardacento, grisalho) russo (natural da Rússia) tacha (prego pequeno) taxa (imposto, tributo) tachar (atribuir defeito a) taxar (fixar taxa) 8.5- HOMÔNIMOS PERFEITOS Possuem a mesma grafia e o mesmo som. Por Exemplo: Eu cedo este lugar para a professora. (cedo = verbo) Cheguei cedo para a entrevista. (cedo = advérbio de tempo) Atenção: Existem algumas palavras que possuem a mesma escrita (grafia), mas a pronúncia e o significado são sempre diferentes. Essas palavras são chamadas de homógrafas e são uma subclasse dos homônimos. Observe os exemplos: almoço (substantivo, nome da refeição) almoço (forma do verbo almoçar na 1ª pessoa do sing. do tempo presente do modo indicativo) gosto (substantivo) gosto (forma do verbo gostar na 1ª pessoa do sing. do tempo presente do modo indicativo) 12 8.6- PARÔNIMOS É a relação que se estabelece entre palavras que possuem significados diferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita. Veja alguns exemplos no quadro abaixo. absolver (perdoar, inocentar) absorver (aspirar, sorver) apóstrofe (figura de linguagem) apóstrofo (sinal gráfico) aprender (tomar conhecimento) apreender (capturar, assimilar) arrear (pôr arreios) arriar (descer, cair) ascensão (subida) assunção (elevação a um cargo) bebedor (aquele que bebe) bebedouro (local onde se bebe) cavaleiro (que cavalga) cavalheiro (homem gentil) comprimento (extensão) cumprimento (saudação) deferir (atender) diferir (distinguir-se, divergir) delatar (denunciar) dilatar (alargar) descrição (ato de descrever) discrição (reserva, prudência) descriminar (tirar a culpa) discriminar (distinguir) despensa (local onde se guardam mantimentos) dispensa (ato de dispensar) docente (relativo a professores) discente (relativo a alunos) emigrar (deixar um país) imigrar (entrar num país) eminência (elevado) iminência (qualidade do que está iminente) eminente (elevado) iminente (prestes a ocorrer) esbaforido (ofegante, apressado) espavorido (apavorado) estada (permanência em um lugar) estadia (permanência temporária em um lugar) flagrante (evidente) fragrante (perfumado) fluir (transcorrer, decorrer) fruir (desfrutar) fusível (aquilo que funde) fuzil (arma de fogo) imergir (afundar) emergir (vir à tona) inflação (alta dos preços) infração (violação) infligir (aplicar pena) infringir (violar, desrespeitar) mandado (ordem judicial) mandato (procuração) peão (aquele que anda a pé, domador de cavalos) pião (tipo de brinquedo) precedente (que vem antes) procedente (proveniente; que tem fundamento) ratificar (confirmar) retificar (corrigir) 13 recrear (divertir) recriar (criar novamente) soar (produzir som) suar (transpirar) sortir (abastecer, misturar) surtir (produzir efeito) sustar (suspender) suster (sustentar) tráfego (trânsito) tráfico (comércio ilegal) vadear (atravessar a vau) vadiar (andar o Referências Só Português: Semântica. Disponível em: http://www.soportugues.com.br/secoes/seman/ Acesso em 02 de setembro de 2016. 9- A LINGUÍSTICA, O TEXTO E O ENSINO DA LÍNGUA: NOTAS PARA CONTINUAR O DEBATE José Carlos de AZEREDO (Adaptado) O texto ganhou finalmente o lugar que lhe cabe como objeto da ciência da linguagem, e o interesse que vem despertando tem contribuído para reduzir sensivelmente a distância que separa as duas pontas da formação do saber na sociedade: a pesquisa e o ensino. O texto sempre foi objeto e meta do ensino da língua, como pode ser comprovado pela proliferação e constante edição de antologias ao longo de todo o século XX. É verdade que a atividade de leitura, no espaço da escola, costumava se resumir ao reconhecimento, pelo olhar, da matéria impressa, ou à sua reprodução oral (muitas vezes com revezamento dos alunos), limitando-se os “comentários” ao vocabulário desconhecido do estudante-leitor e às construções gramaticais menos comuns, com vista à aquisição dos recursos da escrita padrão. Remonta ao ano de 1899 a publicação, em primeira edição, de uma obra destinada ao ensino da escrita, da autoria do poeta Olavo Bilac e do historiador Manoel Bonfim. No “preâmbulo” se lê o seguinte: Não existia, na literatura escolar brasileira, um guia de composição, que servisse de modelo para prática da linguagem escrita. [...] O aluno pode perfeitamente estar senhor de todas as regras da gramática, e não saber dizer o que pensa e o que sente. A gramática seca, abstrata e árida, com que se cansa o cérebro das crianças, não ensina a escrever (BILAC; BONFIM: 1930, p. XI). Essa importância pedagógica tradicionalmente conferida ao texto, e realçada na crítica que os autores já faziam ao modelo de ensino gramatical, certamente explica o 14 maior entusiasmo do professor de língua em relação à contribuição atual da linguística, em que se revela uma maior sensibilidade dos linguistas para as questões relacionadas à leitura e à expressão. 9.1- A LINGUÍSTICA E O TEXTO A linguística alcançou entre nós um alto nível de maturidade, haja vista o volume de análises do uso brasileiro da língua portuguesa, seja na perspectiva da diversidade regional (cf. os atlas linguísticos), seja do ponto de vista da variação social (cf. projeto de pesquisa da norma culta falada nos centros urbanos). Tivemos um longo, mas necessário, período de assimilação e processamento de teorias, de certo modo coincidente com o processo de criação e consolidação dos programas de pós-graduação pelo país afora, entre os anos 1960 e 1980. No início de sua fase “moderna”, que se confunde com a obra produzida por J. Mattoso Câmara Jr., a linguística brasileira foi uma linguística da palavra (fonologia e morfologia). O interesse pela sintaxe ganharia expressão a partir de meados dos anos 1970, com a gramática gerativa, em especial. Estruturalistas e gerativistas compartilham, no geral, uma concepção de língua como um sistema constituído de unidades e de regras que as combinam para formar palavras e frases. O propósito da investigação é descrever esse sistema de regras. Para uns e outros, o acontecimento comunicativo mediante o uso da língua (a parole, segundo Saussure, ou a performance, segundo Chomsky) sofre a influência de fatores externos ao sistema. Como estes podem perturbar a compreensão do próprio sistema, devem ser descartados na análise. A década de 1980 marcaria uma acentuada correção de rumo, graças ao crescente interesse pela explicação dos fatos linguísticos à luz dos fatores sociais (sociolinguística) e interacionais (análise da conversação). O binômio enunciação/enunciado, conforme a formulação de Émile Benveniste, circula ainda hoje como chave explicativa do vínculo entre o texto e o ato de produzi-lo. Sob essa orientação, as análises deixaram de ver na língua um mero sistema de unidades e regras (ponto de vista estruturalista) e passaram a buscar nos fatores propriamente externos – o espaço-tempo daação comunicativa, o contexto do evento comunicativo, a identidade social dos interlocutores e seus propósitos/motivações interativos – o fundamento das escolhas feitas pelos usuários. Estamos agora no território do funcionalismo, em que a forma não é vista como um meio 15 de dar corpo a um sentido pré-concebido e latente, mas como algo maleável a serviço do evento interativo em curso e dos interesses comunicativos de seus atores. É nesse quadro que se desenvolvem as pesquisas da ‘língua em uso’ e ganham espaço a análise do discurso, a análise da conversação e a linguística textual2 Estou ciente de que a exposição cronologicamente linear que venho adotando só muito superficialmente corresponde aos fatos, já que o conceito de gênero que inspira essa abordagem remonta à obra do russo M. Bakhtin, produzida na primeira metade do século XX, mas de fato difundida nos meios acadêmicos brasileiros entre os anos 1980 e 1990, com a publicação de Marxismo e filosofia da linguagem. Podemos, assim, afirmar que a história recente dos estudos linguísticos no Brasil comporta um capítulo substancioso em que se destaca a preocupação com o texto. O texto se tornou uma unidade de análise, definível por critério de ordem funcional – unidade de sentido e de comunicação – e reconhecível pelo respectivo gênero, expressão de seu papel nas múltiplas demandas da vida sociocultural. Por muito tempo, o texto foi considerado objeto dos estudos retóricos (p. ex.: qualquer modalidade de discurso produzida para influenciar/convencer um auditório) e dos estudos literários (obras de ficção e de poesia), uns e outros radicados na Arte Retórica e na Arte Poética de Aristóteles. A novidade do foco contemporâneo no texto está em reconhecer que ele é a verdadeira unidade da análise linguística e que, para explicar adequadamente o seu funcionamento, é necessário tomar em consideração o papel das variáveis do evento comunicativo: quem o enuncia, para que fim o faz, a quem é destinado etc. O contato com a obra de M. Bakhtin traria novos subsídios à gestação de uma linguística de texto em marcha na Europa como nos Estados Unidos, com os sempre previsíveis reflexos no Brasil. Antes de sua influência, praticamente a única tentativa de eleger o texto como objeto de análise linguística esteve circunscrita à estilística, que, entre nós, se notabilizou como uma técnica de investigação dos efeitos expressivos das escolhas linguísticas na construção da obra literária3 Atualmente, o estudo linguístico do texto conta, no Brasil, com um espectro variado de reflexões teóricas e de propostas de modelos amplamente difundidas em obras destinadas aos professores de língua portuguesa dos três níveis de ensino A estilística teve o mérito de dotar a análise do texto literário de um instrumental novo, mas a ênfase que dava ao ‘fato singular’ e à expressividade das escolhas verbais impedia que ela se firmasse como um modelo consistente de linguística do texto, visto http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://www.institutodeletras.uerj.br/idioma/numeros/26/Idioma26_a02.pdf&gws_rd=cr&ei=va3uV4qSH8aiwgTo4ZzoBQ#3 http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://www.institutodeletras.uerj.br/idioma/numeros/26/Idioma26_a02.pdf&gws_rd=cr&ei=va3uV4qSH8aiwgTo4ZzoBQ#4 16 que deixava de fora os textos comuns e estritamente utilitários, ordinariamente produzidos em função da rotina da vida social. 9.2- A GRAMÁTICA, O TEXTO E O ENSINO DA LÍNGUA Feitas essas observações elementares sobre o estatuto do texto como objeto da análise linguística, apresento na sequência alguma reflexão sobre o lugar do conhecimento gramatical na leitura e comentário do texto. Para tanto, meu ponto de partida é um trecho da autoria do Prof. João Wanderley Geraldi, figura de destaque em uma fase da história recente dos estudos linguísticos no Brasil, por seu empenho em dar um rumo novo ao ensino da língua portuguesa: O ensino tradicional de língua portuguesa investiu, erroneamente, no conhecimento da descrição da língua supondo que a partir deste conhecimento cada um de nós melhoraria seu desempenho no uso da língua. Na verdade, a escola agiu mais ou menos como se para aprender a usar um interruptor ou uma tomada elétrica fosse necessário saber como a força da água se transforma em energia e esta em claridade 3 Alguns ensaios representativos da abordagem estilística da expressão literária: Ensaios machadianos, de J. Mattoso Câmara Jr.; Subconsciência e afetividade na língua portuguesa, de Jesus Belo Galvão; Esfinge clara, de Othon M. Garcia; A seta e o alvo, de Oswaldino Marques. 4 Alguns títulos: ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino. São Paulo: Parábola, 2009. BENTES, Anna Christina. Linguística textual.In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. Introdução à linguística: domínios e fronteiras 1. São Paulo: Cortez, 2000. FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. 14 ed. São Paulo: Contexto, 2006. KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 3. ed. São Paulo: Parábola, 2008. NEVES, Maria Helena de Moura. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006. 17 9.3- A LINGUÍSTICA, O TEXTO E O ENSINO DA LÍNGUA: na lâmpada que acendemos. Obviamente, há espaço para saber estas coisas todas e há aqueles que a elas se dedicaram e as sabem. Se precisar de uma informação, posso consultá-los. Mas o número de conhecimentos disponíveis na humanidade é imenso e muitas das tecnologias de que dispomos hoje nós sabemos usar, embora não saibamos como elas se produziram nem saibamos explicá-las. Ninguém mais é capaz de dominar o conhecimento global disponível. Mas também não temos com as coisas uma relação mágica: sabemos que as coisas podem ser explicadas ou poderão ser explicadas um dia (há muito a saber sobre o mundo). Cada um de nós, em sua área profissional, tem conhecimentos e pode transmiti-los a outros, mas nenhum de nós imagina que todos queiram saber os conhecimentos que caracterizam a nossa profissão. É preciso saber usar eficientemente, e os conhecimentos suficientes para tanto lhe bastam. Ninguém precisa tornar-se especialista em tudo! (GERALDI: 1996, p.71) Sou adepto da tese geral do prof. João Wanderley, resumida na frase final do trecho citado. Mas essa adesão não inclui a conclusão a que ele chega – e a que pretende levar seus leitores: que a análise gramatical é inútil, ou pelo menos desnecessária, como estratégia para o ensino da língua. O Prof. Geraldi nos legou até o momento uma obra originalíssima e deu uma contribuição muito valiosa para a renovação do ensino da língua, mas, pelo menos nesse texto que aqui vem citado, ele revela uma concepção redutoramente utilitária do conhecimento, e contrapõe perigosamente a posse explícita do conhecimento e o exercício das habilidades que decorrem dele. Sem qualquer exame dos fundamentos de sua tese, o Prof. Geraldi nega que o domínio teórico e analítico do que “está por trás” das coisas seja capaz de propiciar um melhor proveito funcional delas. É óbvio que as pessoas aprendem a se comunicar na respectiva língua materna sem jamais parar para observar como as palavras se combinam e como se diferenciam. Também é certo que a aprendizagem da nomenclatura gramatical e dos procedimentos de análise morfológica ou sintática não é pré-requisito para um domínio proficiente da língua como meio de interação social. Também é óbvio que não necessitamos de saber como a eletricidade se transforma em luz na hora em que acionamos o interruptor na parede. O que não é óbvio, porém, é o fundamento para a equivalência entre o ato de acender lâmpadas e o ato de produzir e compreender enunciados numa língua. Uma pessoa pode adquirir conhecimentos técnicos sofisticados sobre a cadeiaque liga a geração de energia numa hidroelétrica e o acendimento de uma lâmpada no teto de sua sala, mas o ato de acionar o interruptor, de tão simples e banal, não pode ser mais ou menos bem executado por conta daquele conhecimento. 18 A comunicação entre as pessoas, por sua vez, envolve intenções, cálculos de sentido, avaliações que condicionam suas escolhas. É verdade que praticamos muitos atos comunicativos que se assemelham a reflexos condicionados; é verdade que grande parte de nossos enunciados cotidianos são fórmulas estereotipadas de expressão que empregamos um tanto mecanicamente. Também é verdade, por outro lado, que ninguém investe tempo para aprender ou ensinar o que pode ser assimilado pelo simples convívio e, sobretudo, o que apenas espelha a acomodação e a inércia do espírito. Outra é a história, porém, quando queremos ultrapassar nossa condição de seres movidos pela engrenagem do cotidiano ou de seres que aprendem pela força estrita do treinamento e da mera repetição de comportamentos alheios. Muitos linguistas e educadores compartilham a tese de que a aprendizagem e a prática da análise gramatical não têm qualquer influência na ampliação e aperfeiçoamento da competência linguística do estudante; eles argumentam que a leitura e a escrita são habilidades que se adquirem sem necessidade de teorização, simplesmente com a prática. Essa tese é praticamente tão antiga quanto a que apregoa o contrário dela, mas sempre contou com um número maior de simpatizantes. A promessa de “aprender com a prática”, sem teoria ou terminologia, é sempre sedutora, porque se trata de um modelo de aprendizagem em que se confundem processo e produto, isto é, em que o esforço exigido é sempre compensado pela comprovação de sua funcionalidade na presença de resultados concretos. Impossível questionar seus atrativos e vantagens. Com certeza, desse modo se aprende – para o gasto, dispondo daquelas informações básicas que qualquer pessoa tem – a cozinhar, a dançar, a fazer instalações elétricas. Será que também se aprende a ler e a escrever com desenvoltura? Prática, treinamento são conceitos mágicos, que implicam rapidez e eficiência. São indispensáveis como estratégias de consolidação das habilidades linguísticas, mas não suficientes, sob pena de concebermos o ensino da língua nos mesmos termos e moldes em que se procede ao treinamento de focas e chimpanzés para sessões de espetáculo circense. Chimpanzés e focas revelam admiráveis habilidades quando submetidos a tais modelos de aprendizagem, mas nem o mais inteligente dos primatas é capaz de processar a mais elementar explicação sobre a agilidade de um salto. De uma perspectiva puramente biológica, esses animais são perfeitos e aptos a atingir a plenitude das respectivas capacidades. Não nos esqueçamos, contudo, de que jamais transcenderão um certo estágio de aprendizagem por iniciativa própria, mas dependerão sempre da assistência e 19 intervenção do amestrador e instrutor, já que não há como esperar deles o exercício da introspecção e a análise do próprio desempenho. De minha parte, alinho-me com os que defendem a importância dessa introspecção como fundamento da qualidade da leitura e do desempenho da expressão. Segundo este ponto de vista, nossa competência na língua materna se amplia quando a promovemos do papel de mero instrumento de comunicação ao de objeto de observação, quando ela deixa de ser apenas uma ferramenta de uso cotidiano e se torna, além disso, uma fonte de possibilidades. Quando alguém passa a entender como a língua se organiza para desempenhar suas funções, seguramente se torna muito mais apto a extrair significados de suas formas, seja como leitor, seja como enunciador. Dá-se, desse modo, um salto qualitativo no relacionamento do indivíduo com sua língua. Concluo com mais uma citação, agora de Carlos Franchi: Não é verdade que a gramática nada tem a ver com a produção e a compreensão do texto: ela está na frasezinha mais simples que pronunciamos. Mas é preciso concebê- la de um modo diferente: como o conjunto das regras e princípios de construção e transformação das expressões de uma língua natural que as correlacionam com o seu sentido e possibilitam a interpretação (FRANCHI: 2006, p. 99). Isto só é possível se o professor de língua entender que o objeto do seu trabalho em sala de aula é a própria língua, não como um conjunto de exemplos de fatos que classificamos por meio de rótulos (substantivo, verbo, pronome, sujeito, predicado, composto por aglutinação, derivado por sufixação, narração, descrição etc.), mas um conhecimento cuja ampliação equivale à própria ampliação da capacidade de compreender, de dizer e de criar. 10- LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: A ORALIDADE EM SALA DE AULA Juliana Carvalho (Adaptado) Professora e redatora 20 Hoje em dia, ouvimos muito falar em Linguística Aplicada. Multiplicam-se os programas de pós-graduação dedicados a ela e relacionados ao ensino de línguas estrangeiras. A Linguística Aplicada está realmente em evidência, mas o que ela é de fato? Qual a diferença de outras áreas da Linguística, principalmente as mais tradicionais? Como utilizá-la no ensino de língua portuguesa? Tentando responder a essas perguntas, elaborei este texto em duas partes: uma teórica (que aborda também uma parte histórica), e uma prática, com sugestões de exercícios voltados ao ensino da língua. A Linguística Aplicada (LA) nasceu há mais ou menos 60 anos, como uma disciplina voltada para o ensino de línguas estrangeiras. O primeiro curso de LA ocorreu na Universidade de Michigan, em 1946, ministrado por Charles Fries e Robert Lado. Na época, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, a LA representava uma abordagem científica do ensino de línguas estrangeiras. A LA tem como objeto de estudo a linguagem como prática social – atualmente não só em relação às línguas estrangeiras, mas também no contexto de aprendizagem da língua materna ou em outros contextos em que se aborde o uso da linguagem. Durante muito tempo, a LA foi vista como uma forma de aplicar a Linguística teórica ao ensino de línguas, ou seja, era uma ciência voltada para os métodos e técnicas de ensino. Essa ainda é uma tendência forte na área, mas outras questões surgiram nos meios escolares e acadêmicos. Atualmente podemos destacar três direções para a LA: ensino e aprendizagem, aplicação de linguagem e investigações aplicadas sobre estudos de linguagem como prática social. Esse braço da Linguística começou a se difundir na segunda metade do século passado, tanto no Brasil como no exterior. Aqui, em todas as regiões do país foram criados programas de pós-graduação ou área de concentração em LA. Alguns marcos dessa expansão são: a criação, em 1970, do Programa de Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas da PUC-SP, posteriormente denominado Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL), com a criação do doutorado em 1980, conforme informações na página eletrônica do programa. Também na década de 80 foi lançada pelo programa a revista D.E.L.T.A. (Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada); com o surgimento do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unicamp, nasceu a revista Trabalhos em Linguística Aplicada. Esses dois programas de pós-graduação foram os principais responsáveis pela formação dos “linguistas aplicados” de vários estados brasileiros e pelo desenvolvimento de pesquisa, em conjunto com a produção de muitas outras universidades brasileiras, que 21 criaram áreas de concentração em LA em seus programas de pós-graduação em Letras ou Linguística. Porém, se a pós-graduação se destaca nos estudos da LA, o mesmo não se pode afirmar da graduação. Muitas universidades conceituadas ainda não dispõem de profissionais especializadosnesse ramo da Linguística, e a disciplina é oferecida, quando muito, como eletiva ou optativa nos currículos dos cursos de Letras. O primeiro concurso para contratação de professor de LA para atuar na graduação ocorreu somente em 2004, para a Faculdade de Letras da UFMG. Apesar disso, a área ainda é promissora e faltam profissionais especializados, sendo vasto o campo de trabalho, principalmente no ensino de línguas. 10.1- LINGUÍSTICA TEÓRICA X LINGUÍSTICA APLICADA A Linguística é uma disciplina que pode englobar várias matérias, podendo ser usada para dar-lhes substância intelectual. Essas matérias, por sua vez, podem ser entendidas como componentes de outras disciplinas que não a Linguística. A LA é entendida como a utilização de conteúdos linguísticos para aprimorar a prática nas disciplinas que usam a linguagem. A LA também já foi classificada como uma "atividade", em oposição à Linguística teórica, que é um "estudo". Ela faz uso de resultados de estudos teóricos. O "linguista aplicado" é um usuário, não um produtor de teorias. De acordo com essa perspectiva, a LA se transformaria numa simples tecnologia, diretamente subordinada aos princípios descritivos da Linguística teórica. Para justificar a diferença do campo de atuação das duas ciências, podemos afirmar que antigamente os profissionais voltados para a LA eram tão poucos que muitas de suas tarefas passaram, naturalmente, a ser realizadas por linguistas, o que contribuiu definitivamente para que a área de LA tomasse emprestado teorias e conceitos da Linguística teórica. Dando continuidade a essa teoria, é difícil diferenciar as duas ciências, como é difícil delimitar as relações de influência e domínio de uma ciência na outra. Exemplificando: a Linguística é com certeza a ciência de maior influência na LA, mas não a única. Outra discussão entre os pesquisadores e no meio acadêmico em geral é sobre a noção de LA como sinônimo de estudo científico dos conceitos e da prática do ensino/aprendizagem de língua estrangeira. Muitos estudiosos acreditaram desde o início 22 que o objetivo dessa ciência era apenas a resolução de problemas relacionados ao ensino de línguas estrangeiras e com a tradução automática. Essa discussão permanece até hoje, mas a LA ganhou força com a criação de uma entidade própria: a Association Internationale de Linguistique Appliquée – AILA – fundada em Nancy, França, em 1964, liderada pelos professores C. C. Fries e R. Lado, ambos preocupados com o ensino de línguas. Na ocasião, houve forte tendência em relacionar o termo LA ao ensino de línguas estrangeiras. Hoje em dia, a rigidez na definição do objeto da LA e nas tarefas do linguista aplicado se perdeu. O conteúdo dos debates nos últimos congressos tem incluído praticamente todos os campos da atividade humana (tanto em seus aspectos teóricos como práticos) em que a linguagem desempenha algum papel de relevância. Do mesmo modo que a LA se torna independente da Linguística, desvencilha-se também da falsa identidade única com o ensino de línguas e particularmente com o ensino de língua estrangeira. 10.2- A LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA A escola deve incentivar o aluno a atingir seu desenvolvimento linguístico; no entanto, ela divide o ensino em leitura e compreensão, história da literatura, gramática e produção textual. A fragmentação não permite aos alunos refletir e agir sobre a linguagem. O que eles fazem inicialmente é decodificar e, posteriormente, analisar a língua, atividades realizadas em momentos distintos que não os levam a desenvolver satisfatoriamente a capacidade linguística. O professor deve lembrar-se de que o ensino da língua não se baseia apenas na gramática. O papel dos professores de Língua Portuguesa não é fazer com que os alunos adquiram somente uma variante da língua, mas levá-los a ampliar seus conhecimentos com variantes regionais e outros níveis de formalidade de uso dessa língua. Dessa forma, o ensino gramatical eficaz deve tomar como base conteúdos apresentados por textos dos próprios alunos e de autores diversos, de diferentes regiões do Brasil, que permitam ao aluno identificar essas variantes. Os estudos gramaticais precisam ser desenvolvidos de forma a ampliar a capacidade comunicativa do aluno. O professor deve partir da produção e recepção de textos de diferentes variedades linguísticas, utilizando o contexto em sua aplicação. Neste caso, é possível perceber a gramática como uma prática textual, discursiva e de uso, ampliando o ensino de língua para além da gramática normativa. 23 A LA mostra que o ensino amplo de língua materna deve partir da valorização da língua falada, já que é a modalidade de língua que as pessoas aprendem naturalmente desde a infância e que está em constante mutação. Não podemos mais desconsiderar as evoluções linguísticas na sala de aula e viver na concepção da gramática tradicional, sob o domínio da língua escrita. É importante mostrar que a língua falada possui especificidades que precisam ser trabalhadas. Os PCN enfatizam que o ensino de gramática não pode ser desarticulado da leitura e da produção de textos, uma vez que estes configuram a totalidade. Quando for necessário fazer recortes para facilitar o estudo, eles devem estar relacionados a outros elementos do processo. Por isso, as unidades de gramática, texto e produção de textos devem estar sempre articuladas. 11- O TRABALHO COM A ORALIDADE NA SALA DE AULA Muitos alunos demonstram dificuldade para escrever e reproduzem a língua oral nas tarefas de produção de textos. Eles escrevem como falam. É importante que a escola trabalhe a oralidade, mostrando as diferenças e semelhanças entre estas duas modalidades linguísticas, fala e escrita. O estudante precisa saber que não existe uma gramática pronta para a língua falada e que há diferenças léxicas na constituição de textos falados e de textos escritos, uma vez que, na escrita, deve-se utilizar vocabulário mais amplo, construções sintáticas diferentes das usadas na língua oral, menos interjeições e outras diferenças. Além disso, o professor deve reforçar com os alunos a noção de que a interação da fala se dá pessoalmente, face a face, e a da escrita não. Por isso, a fala não é previamente planejada e a escrita, sim. A escrita pode ser revisada, mas a fala não admite recriação; ao escrever podem ser feitas consultas, e ao falar não. A fala demonstra seu processo de criação; a escrita mostra o resultado. 11.1- SUGESTÕES PARA O TRABALHO COM A ORALIDADE NA SALA DE AULA É importante esclarecer que os estudos gramaticais não devem ficar em segundo plano. Pelo contrário, precisam ser trabalhados de forma a ampliar a capacidade comunicativa do aluno. Para isso, o professor deve partir da produção e da recepção de textos, porque é no texto que as palavras ganham sentido. Além disso, o texto permite ao 24 aluno ter um panorama geral da língua em funcionamento, e não apenas um panorama fragmentado. A visão corrente em relação à concordância verbal é de que quem não a domina não domina o padrão culto da língua. Entretanto, até pessoas cultas, ao falar, deixam de empregar por vezes regras de concordância verbal. Como já foi dito, o aluno precisa reconhecer que há diferença entre a fala e a escrita e que a falta de concordância verbal nem sempre é aceita, principalmente na escrita. As sugestões de atividades que relaciono a seguir privilegiam o trabalho com textos, embora não se deva esquecer de que o trabalho com a gramática teórica deve ser utilizado como um recurso a mais no desenvolvimento da capacidade comunicativa do aluno. Todavia, o conhecimento da gramática teórica é sempre importante, já que permite ao aluno conhecer a língua como uma instituição social. 25 REFERÊNCIAS BILAC,Olavo; BONFIM, Manoel. Livro de composição para o curso complementar das escolas primárias. 9ed. revista e aumentada. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1930. GERALDI, J. Wanderley. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. São Paulo: Mercado de Letras, 1996. MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (Org.). Introdução à linguística. São Paulo: Cortez, 2001/2004. 3v. FRANCHI, Carlos. Criatividade e gramática. In: Sírio Possenti (Org.). Mas o que é mesmo gramática? São Paulo: Parábola, 2006 LINGUISTICA E LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/portugues/0026.html