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Introduo Teologia II

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Universidade Católica de Petrópolis
Centro de Teologia e Humanidades
INTRODUÇÃO À TEOLOGIA II
Claudia Pessanha Fernandes
Petrópolis
2010
Introdução à Teologia II
A Revelação Divina
A Religião cristã tem origem e fundamento numa Revelação Histórica. Se Deus não fosse mistério, não haveria necessidade de Revelação alguma.
Revelar = tirar o véu que oculta alguma coisa. No sentido religioso, revelação é a manifestação que Deus faz aos homens sobre seu ser e sobre aquelas verdades necessárias ou convenientes para a nossa salvação.
Revelação é um falar de Deus aos homens. Ora, Deus se dá a conhecer de duas maneiras:
Natural: através das criaturas;
Sobrenatural: é o conhecimento que vem diretamente de Deus, que não podemos alcançar somente com a luz da nossa inteligência.
O dado da revelação divina está presente em todas as religiões, muitas vezes recebida em sonhos ou êxtases, traduzida em mitos, livros sagrados e lendas culturais. Contudo, aos hebreus, Deus manifesta-se pessoalmente respondendo à inquietação humana diante do silêncio dos espaços infinitos, distinguindo-se da revelação realizada através da iluminação de um personagem ou escritura sagrada. Na religião de Israel a Revelação se realiza na história de um povo, e no Cristianismo, além disso, se realiza sobretudo na Pessoa de Jesus Cristo.
Por uma decisão livre Deus quis se revelar aos homens e manifestar seu plano de Salvação, realizado por meio do Seu Filho e no Espírito Santo.
O motivo da Revelação Divina é a vontade, o amor de Deus. A finalidade é para que O conheçamos e respondamos à vocação de entrar em comunhão com Ele, por meio de uma revelação de amizade.
A Revelação se apresenta como um diálogo amoroso, uma comunicação entre amigos. A fé é a resposta humana à interpelação divina. A plenitude da Revelação só se realizará no encontro face a face com Deus: “Revelando-se a Si mesmo, Deus quer tornar os homens capazes de Lhe responderem, de O conhecerem e de O amarem”.�
A Revelação é a Palavra de Deus, mas também acontecimento, evento salvífico (manifestação e desenvolvimento do plano de Deus no decorrer da História. É mediante a Sagrada Escritura que Deus dá a conhecer o sentido salvífico dos acontecimentos.
A Revelação Divina chega até nós pela Tradição (oral e escrita). Esta palavra é Palavra de Salvação, por isso sua interpretação deve ser abalizada (cf. 2Pd 1, 20; 3, 15-16).
A Escritura não pode ser interpretada ao arbítrio pessoal, porque sua origem não é humana, mas divina.
“Aprouve a Deus, em sua Bondade e Sabedoria, revelar-se a si, e tornar conhecido o mistério da sua vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito Carne, no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina.”� 
Na sua Bondade Deus dispôs que aquelas coisas que revelara para a salvação de todos os povos permanecessem sempre íntegras e fossem transmitidas a todas as gerações.
A Revelação Divina e a Tradição.
a)Tradição apostólica:
	Jesus mandou que os apóstolos pregassem o Evangelho. 
Na Carta de São de Clemente de Roma� aos coríntios encontramos referências à missão evangelizadora dos Apóstolos realizada oralmente�, ou seja, a Palavra escrita segue e se confirma na Palavra oral. O Evangelho é fonte de toda verdade salvífica e fonte de toda disciplina de costumes e sua transmissão se fez:
Oralmente: os apóstolos, na sua pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram aquelas coisas que ou receberam das palavras, da convivência e das obras de Cristo ou aprenderam das sugestões do Espírito Santo;
Por escrito: por aqueles apóstolos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da Salvação.
Tradição = É a palavra de Deus oral que chegou até nós pela Igreja (cf. 2Ts 2, 15): Portanto, irmãos, ficai firmes; guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito”.
	Mas a pregação apostólica, o Evangelho deve se conservar inalterado e vivo na Igreja; por isso os apóstolos deixaram sucessores, os bispos aos quais transmitiram o seu encargo de magistério (cf. anexo 1).
	Mediante a Tradição a comunicação que o Pai faz de si mesmo pelo seu Verbo no Espírito Santo permanece presente e atuante na Igreja.
b) A relação entre Tradição e Sagrada Escritura.
	Tradição e Sagrada Escritura se relacionam intimamente. A fonte divina é a mesma, formam um só todo e tendem para o mesmo fim.
	
FONTE DIVINA
	
2 Modalidades de Transmissão
	- Sagrada Escritura: Palavra de Deus redigida sob moção do Espírito Santo;
- Sagrada Tradição: Palavra de Deus transmitida aos sucessores dos apóstolos que fora confiada pelo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos para que a pregação seja fielmente conservada, exposta e difundida.
c) A interpretação do depósito da fé.
	O depósito da fé (patrimônio sagrado) (cf. 1Tm 6, 20; 2Tm 1, 12-14) (Sagrada Tradição = Sagrada Escritura foi confiado aos apóstolos e destes a toda a Igreja. A Igreja unida aos seus pastores é chamada a perseverar na doutrina dos apóstolos, na comunhão, na fração do pão e nas orações (At 2, 42).
	A autêntica interpretação da palavra de Deus foi confiada ao Magistério Vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Cristo – “Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos despreza, a mim despreza” (Lc 10, 16); “Eu estarei convosco até o fim dos tempos” (Mt 28).
	Os bispos em comunhão com o sucessor de Pedro constituem o Magistério Vivo da Igreja.
Tal Magistério não está acima da Palavra de Deus mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito da fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado.�
“Ó revelação da Verdade, alimento essencial!
Ó Ser dos seres, Pai do século futuro!
Nunca mais poderei viver sem Ti.
Não precisas vir outra vez, já vieste!”
(Murilo Mendes)
A Bíblia
a)Etimologia:
livro
os livros
A Bíblia é o conjunto de livros que, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, tem Deus por autor, e como tais foram transmitidos à Igreja (Perrella-Vaggagini).
A Bíblia divide-se em duas grandes partes: Antigo Testamento e Novo Testamento. O Antigo Testamento é formado pelos Livros escritos antes de Cristo. O Novo Testamento conta a vinda de Jesus e a formação da Igreja.
Testamento = aliança, pacto, contrato.
Para a maioria dos estudiosos, a Bíblia começou a ser escrita por volta do ano 1000 antes de Cristo, no tempo dos Reis de Israel, e o último Livro foi escrito em torno do ano 100 depois de Cristo.
Os primeiros escritos sagrados foram gravados em peças de argila cosidas, posteriormente papiro foi utilizado para gravar os escritos sagrados.O papiro é uma planta de caule comprido constituído de umas películas, que eram retiradas, prensadas e preparadas para várias utilidades (cestos, barcos e folhas para a escrita). O papiro crescia largamente às margens do Rio Nilo. Mas, passou para a Síria, Sicília e Palestina.
Outro material utilizado para a escrita de muitos textos bíblicos é o pergaminho (couro de carneiro curtido e devidamente preparado). O pergaminho recebeu esse nome porque começou a ser usado como papel na cidade de Pérgamo (Ásia Menor) duzentos anos antes de Cristo.
b)Inspiração Bíblica:
A Bíblia é a Palavra de Deus porque inspirada pelo próprio Deus, pois “os hagiógrafos submeteram-se à ação do Espírito Santo” (São Justino).
O termo “inspiração” não aparece na Bíblia. Contudo, alguma coisa muito mais importante do que a ocorrência ou não de um termo específico, a realidade da “possessão do Espírito”, é encontrada com muita freqüência. Ao mesmo tempo, a maneira pela qual esta é descrita é extremamente variada.
No antigo Testamento, o “Espírito de Iahweh” é uma força misteriosa que entra poderosamente na história do povo escolhido e executa as obras de Iahweh, salvador e juiz. Ele se apodera de homens escolhidoe os transforma, dá-lhe poder para representar papéis excepcionais, e por sua instrumentalidade guia o destino de Israel e as etapas da história da salvação. Nos textos mais antigos, a ação do Espírito é abrupta e transitória: O Espírito de Iahweh “inflama” (Jz 13, 25), “cai sobre” (Ez 11, 5), “arrebata” (1Rs 18, 12), “vem poderosamente sobre” (Jz 14,6). O Espírito também provoca entusiasmo e êxtase proféticos (Nm 11, 24-30), o poder para operar milagres ((1Rs 17, 14), o dom da profecia (Nm24, 2) e a interpretação de sonhos (Gn 40, 8; Dn 4, 5).
A ação do espírito é variada; há uma inspiração para agir, há uma inspiração para falar (profetas). Os profetas são intérpretes do Espírito e o efeito de sua inspiração é a proclamação daqueles oráculos de Iahweh que ensinam e dirigem o povo.
Quando falamos da inspiração escriturística temos em vista a evidência, pois na verdade, a Bíblia é o termo, desejado e dirigido por Deus, dos eventos da história sagrada e do ensino oral que a preserva em forma escrita. O que não nos permite restringir a inspiração a este estágio final. 
Na Bíblia, conhecimento nunca é especulativo apenas – é algo relacionado tanto com o coração e a ação como com o intelecto. A inspiração é movimento do Espírito que atinge o homem por inteiro.
Três formas de inspiração:
inspiração pastoral – para agir (pastores e líderes do povo);
inspiração oral – proclamadores da palavra (profetas e apóstolos);
inspiração escriturística – para registrar através da escrita a palavra oral (hagiógrafos).
É importante ressaltar ainda, que Deus é a causa principal e o homem a causa instrumental dos livros sagrados. O instrumento não tem as suas qualidades – cultura, instrução, temperamento, estilo – anuladas. O autor humano imprime à sua obra o seu próprio caráter espiritual, estilístico e lingüístico. O hagiógrafo é um instrumento pessoal.
A inspiração se apresenta como um carisma, isto é, um dom gratuito concedido por Deus para a edificação do Povo de Deus. Santo Tomás o entende como um carisma de ordem intelectiva, comportando dois elementos: a) o conhecimento do objeto; b) o juízo sobre o objeto manifestado. Em todo o caso, o hagiógrafo age movido por um impulso que lhe é externo e sobrenatural, proveniente de Deus.
Inspiração é um influxo carismático mediante o qual Deus, causa principal, eleva e aplica as faculdades do hagiógrafo, causa instrumental, para que este escreva tudo aquilo e somente aquilo que Deus quer que seja escrito e depois confiado à Igreja.
Mediante uma força sobrenatural (uma ação divina) Deus move e assiste o autor humano.
c) Inerrância bíblica: é ser isenta de erro. A Bíblia, palavra de Deus, é portadora de verdade. A inerrância bíblica não diz respeito a assuntos profanos, mas à salvação do homem. É necessário levar em conta as condições da época e da cultura dos hagiógrafos, os gêneros literários em uso, os modos de sentir, de falar, de narrar, para descobrir a intenção do autor sagrado. É preciso buscar o sentido exato que o autor queria dar ao texto (hermenêutica bíblica: ciência dos princípios de interpretação bíblica; contém o conjunto de regras gerais e particulares que dão acesso ao verdadeiro sentido da Escritura, fornecendo uma interpretação correta).
	A Bíblia não tem a finalidade de ensinar verdades científicas e nem ciências naturais. Os autores sagrados não pesquisaram a natureza íntima dos fenômenos científicos, eles os descrevem conforme as aparências sensíveis, usando a linguagem corrente, que refletia a mentalidade da época.
	A Bíblia contém ensinamentos de ordem histórica, por exemplo, a existência de Jesus. Mesmo sendo verídica a história bíblica, sabemos que é imperfeita, pois a narrativa histórica tem finalidade religiosa. A História na Bíblia não se exprime com a exatidão de um texto científico de História, mesmo porque a ciência histórica é um fato recente. A História Sagrada está subordinada à finalidade religiosa.
d) Línguas em que foram escritos os Livros Sagrados:
	A Bíblia é um conjunto de 73 Livros divididos em 46 Livros do Antigo Testamento (aliança que Deus fez antes da Vinda de Cristo, com o povo israelita no Monte Sinai através de Moisés - Ex 24, 1-8; 34, 10-28; Lv 26, 3-45. Rompida esta Aliança, há a promessa de outra – Jr 31, 31-34) e, 27 Livros do Novo Testamento (aliança que Deus sela, com a humanidade, no sangue do Seu Filho – 2Cor 3, 6 . 14; MT 26, 28.
	Os 73 Livros da Bíblia não foram escritos em uma só língua, sendo que o Antigo Testamento foi escrito todo em hebraico� ou aramaico�, exceto Sabedoria, 2Macabeus, trechos de Daniel e Ester, que foram escritos em grego. O Novo Testamento foi escrito em grego popular, chamado “koiné”, com exceção do Evangelho de São Mateus que foi escrito em aramaico.
	Os nomes dos Livros na Bíblia não obedecem a um único critério, por exemplo, o Livro do Êxodo conta a saída do Povo de Deus do Egito, nesse caso, o nome indica o assunto. Outro exemplo é o Livro dos Salmos (salmo = grego e designa um poema que deve ser cantado). Algumas vezes o nome vem do autor (Primeira Carta de Pedro) ou da comunidade para a qual o Livro foi escrito (Carta aos Romanos). Ainda, o nome do Livro é tirado do personagem central em torno do Livro (Josué; Rute).
	Os semitas tinham um modo de falar muito simples, diferente dos gregos e latinos. Utilizavam uma linguagem menos racional, sem abstrações e sem conceitos filosóficos. Para se referir à natureza humana ou humanidade o semita emprega a expressão “carne” (Gn 6, 12; 2, 23). Para dizer que estava decidido a morrer, o hebreu dizia que “punha a sua carne entre seus dentes” e “trazer a vida na palma da mão” (Jó 13,14). Para dizer que a misericórdia de Deus nos alcança, diz que Deus “não tem mão curta” e, que Deus está atento às nossas preces, diz que Deus “não é duro de ouvido”.
	Quando o autor do Livro do Gênesis diz que Adão e Eva “abriram os olhos e viram que estavam nus, ele quer dizer que eles viram sua triste realidade. Estar nu é perceber seu nada, sua miséria extrema.
	Um hábito entre os orientais era o de falar em provérbios e por isso, recorriam à hipérboles (expressões que exageram a verdade, p. ex. MT 19, 24; Lc 14, 26).
	Os hebreus faziam muito uso também dos antropomorfismos que é dar forma humana a um outro ser que não é homem (Sl 148, 3). Os antropomorfismos mais comuns são os referentes a Deus (Sl 115, 13-15; Gn 6, 5-6).
e) Catálogo Bíblico:
f) Livros Sagrados e gêneros literários:
Antigo Testamento.
Históricos: Gn; Ex; Lv; Nm; Dt (Pentateuco). Na sua forma atual, o Pentateuco se nos apresenta como uma série de textos legais, num arcabouço histórico. Foi, antes de tudo, como uma Lei do Povo de Escolhido que o livro foi aceito, e reconhecida a sua obrigatoriedade. Era a Torah, “Lei” para judeus e samaritanos. Essa Torá nos dá a conhecer a constituição do povo de Deus e as condições da escolha divina. Os vários elementos da narrativa e as leis são unificados pelo tema do plano divino, cujo objetivo é estabelecer o povo de Israel como nação teocrática, tendo como pátria a Palestina e como carta a Lei mosaica.�
 Js; Jz; Rt; 1 e 2 Sm; 1 e 2Rs; 1 e 2Cr; Esd; Ne; Tb; Jd; Est; 1 e 2 Mac.
Didáticos, poéticos ou sapienciais: Jó; Sl; PR; Ecl; Ct; Sb; Eclo. São Livros que trazem instrução religiosa ou moral, ou apresentam a Palavra de Deus á maneira de poesia, usando de maior liberdade e recurso literário.
Proféticos: Is; Jr; Lm; Br; Ez; Dn; Os; Jl; Am; Jn; Mq; Na; Hab; Sf; Ag; Zc; Ml. Os profetas eram pregadores que pronunciavam oralmente os seus oráculos e sermões. Excepcionalmente, os profetas escreviam (Is 8, 1-4; Ez 43, 11s).
Novo Testamento.
Históricos: Mt; Mc; Lc; Jo; At
Didáticos: Rm; 1 e 2 Cor; Gl; Ef; Fl; Cl; 1 e 2 Ts; 1 e 2 Tm; Tt; Fm; Hb; Tg; 1 e 2 Pd; 1, 2 e 3 Jo; Jd.
Proféticos: Ap.
g) A canonicidade dos Livros da Bíblia.
	O catálogo bíblico não é o mesmo para todos os cristãos. Sete livros do Antigo Testamento (Tb, Jd, Br, Eclo, Sb e alguns fragmentos de Dn e Est) não se encontram na Bíblia protestante.
	Kanoonem grego quer dizer catálogo, regra. Para os católicos, livros canônicos são livros catalogados que constituem a regra de fé, são livros inspirados por Deus.
	Livros apócrifos (ocultos = não lidos no culto oficial) são livros que têm semelhança de estilo e conteúdo com os canônicos, mas, na verdade, não foram inspirados por Deus nem incluídos no catálogo das Escrituras Sagradas.
	Depois do séc. XVI, a Igreja Católica distingue entre protocanônicos e deuterocanônicos os livros do Antigo Testamento, por causa do não reconhecimento dos protestantes com relação à inspiração divina dos Livros já citados.
Protocanônicos: livros que nunca foram controvertidos e primeiramente inseridos no catálogo bíblico.
Deuterocanônicos: livros que foram em segundo lugar recenseados, devido à hesitação protestante.
	Os livros deuterocanônicos são chamados pelos protestantes de apócrifos e, os apócrifos de pseudo-epígrafos (falsamente intitulados ou falsamente atribuídos aos autores).
	Até o primeiro século da era cristã, os judeus não haviam estabelecido oficialmente o catálogo desses livros inspirados. Em Alexandria, desde o séc. IV a. C. estabeleceu-se uma colônia judaica que adotou a língua grega. Por volta do ano 300 a. C. até o ano 150, 70 monges fizeram a tradução para o grego dos escritos sagrados, que tomou o nome de versão dos LXX ou Alexandrina.
	No séc. I d. C. havia hesitações entre os judeus a respeito do catálogo bíblico. Os saduceus� e samaritanos� na Palestina só reconheciam o Pentateuco; os fariseus� aceitavam outros livros, desde que fossem antigos e escritos em hebraico.
	Tais incertezas eram uma ameaça à teologia do judaísmo, principalmente após a expansão do cristianismo, com isso os judeus da Palestina decidem definir o seu catálogo sagrado. Entre 80 e 100 d. C., em Jâmnia, foi feito um sínodo que adotou alguns critérios para inclusão ou rejeição de algum livro sagrado:
1º fosse antigo (não posterior a Esdras – séc. V a. C.); (Eclo, 1 e 2 Mc e Sb)
2º redigido e conservado em hebraico; (Sb, 2Mc e trechos de Est – grego)
3º tivesse origem na Palestina; (Sb, 2Mc e trechos de Est)
4º estivesse em conformidade com a Lei de Moisés.
	Os critérios adotados pelos judeus de Jâmnia foram nacionalistas e antiasmonéias. Após o exílio na Babilônia os judeus nutriam aversão aos estrangeiros em geral, por causa da freqüente dominação pela qual sofriam, além disso, por causa do reinado em Jerusalém da dinastia dita dos asmoneus (143-134 a.C., a partir de Simão Macabeu) que os judeus repudiavam, porque a consideravam como usurpadores do trono de Davi.
	Os Apóstolos, guardiões da fé, utilizaram a versão dos LXX, ou seja, a versão grega composta de todos os livros.
	O Novo Testamento possui 350 citações do antigo Testamento, 300 delas são extraídas do texto alexandrino (Hb 10, 5-7 ano 80 d. C.; Mt 1, 23 ano 80-90).
	No final do séc. II surgem as primeiras dúvidas relativas à inspiração dos deuterocanônicos, devido a dois importantes fatores: a) os apologistas cristãos nas disputas com os judeus abstinham-se de utilizar os deuterocanônicos. Orígenes no séc. III propõe um diálogo com os judeus admitindo alguns critérios: “Nós procuramos não ignorar quais são as Escrituras dos judeus, a fim de que, ao disputarmos com eles, não citemos as que não se encontram nos exemplares deles, mas, sim, aquelas de que eles se servem”; b) o surgimento dos escritos (apócrifos) que se assemelhavam em estilo e aparência aos textos bíblicos faz com que alguns escritores da Igreja rejeitassem também os deuterocanônicos
No Concílio de Hipona, em 393 e, nos de Cartago (397 e 418) a Igreja profere definições oficiais sobre o catálogo bíblico, reconhecendo como divinamente inspirados os deuterocanônicos.
A partir do séc. VI há de maneira geral unanimidade com relação aos deuterocanônicos.
Pronunciamentos solenes da Igreja reafirmando e mantendo continuidade com os apóstolos e com os primeiros cristãos ocorreram em diversas oportunidades:
	- Concílio de Florença em 1441
	- Concílio de Trento em 1546
	- Concílio Vaticano I em 1870
	- Concílio Vaticano II em 1965
Em 1534, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e colocou os deuterocanônicos em apêndice, com o título de apócrifos, entretanto os indica como leitura boa e útil.
Outro critério para a rejeição dos deuterocanônicos como livros sagrados é a ausência de citações dos mesmos no Novo Testamento. No entanto, também Abdias, Naum,, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Ester, Esdras, Neemias e Rute não são citados por Jesus nem pelos hagiógrafos do Novo Testamento.
h) O Antigo Testamento.
	Comumente nos deparamos com a idéia de que o Antigo Testamento foi escrito para todo e qualquer homem ou época histórica e, portanto pode ser entendido sem maior esforço e complexos conhecimentos prévios, por todo e qualquer homem de qualquer povo e de qualquer século.
	A Palavra de Deus é dita para todas épocas, continuando atual para todos os tempos. Mas ela se revestiu de uma roupagem histórico-terrena. Foi transmitida por homens, com base num modo de pensar humano, em termos de conceitos condicionados histórica e situacionalmente. O descuido das múltiplas dificuldades ocasionadas por modernizações e atualizações inadequadas se torna para não poucos homens uma barreira de comunicação e um bloqueio de compreensão.
	A profunda dimensão da Bíblia só fica patenteada para aquele que a lê ao mesmo tempo com os olhos da fé e da piedade e com os olhos da ciência.�
	É importante lembrar que os escritores do Antigo Testamento não conheciam as idéias de Platão, de Kant, de Freud ou de Heidegger. Além de viverem em outro mundo também pensavam, falavam, escreviam a partir de estruturas de pensamento das do pensamento grego. 
	Muitas vezes quando nos referimos à Idade Média sublinhamos a distância cronológica e a distância de conteúdo. Tanto maior deve ser o fosso que nos separa dos acontecimentos e dos escritos vétero-testamentários. Algumas diferenças precisam ser lembradas:
A diferença histórica: os escritos do A. T. foram realizados por homens que viveram de dois a três mil anos atrás.
A diferença geográfica: os escritos do A. T. foram compostos no Oriente Antigo. Os acontecimentos narrados deram-se com muita freqüência no deserto, por entre ondas migratórias instáveis e em meio a buscas de regiões nas quais se estabelecer. Havia uma luta intensa por água e pastagens. A vida era constantemente ameaçada por inundações, por calor e pela seca.
A diferença literária: os homens do Oriente Antigo pensavam e escreviam em moldes que estão fora do campo de acesso experimental do pensamento moderno. É por demais arriscado abordar os textos bíblicos a partir de formas ocidentais de pensamento, cunhadas pela Lógica e pela Metafísica grega.
A diferença dos destinatários: os homens do A. T. eram acometidos por angústias diferentes das do homem moderno, situadas em outro horizonte. Os problemas eram totalmente diversos. Apressar-se em elaborar atualizações, psicologizações e modernizações dos textos bíblicos implica uma abordagem inadequada e lhes introjeta sentidos que lhes são alheios.
O homem vétero-testamentário sente-se envolvido pelo “vento santo” de Deus. Deus não fica relegado ao celeste isolamento, ao contrário, é um Deus presente e agente. Não há a pretensão de querer “provar” Deus. O hebreu é um homem que questiona, porém não duvida, mas fica confiantemente à espera de uma resposta às suas questões e problemas não resolvidos. Contudo, essa confiança pode ser posta à prova e testada na tentação dilacerante e na duração de longos anos, que o judeu piedoso sabe que a qualquer hora Deus pode dar sua resposta. 
O “Deus dos Pais” é o Deus que anda, vem em socorro e luta junto com Israel (1 Sm 5, 1-12). As promessas de Iahweh orientam os olhares para o futuro, operando, com isto, uma visão peculiar e bem determinada da História. A História não é para o homem vétero-testamentário o retorno do igual e da mesmice; é determinada antes pelas promessas que apontam para o futuro. A História não se processasegundo o modelo grego do retorno cíclico, mas como passagem de uma dimensão espacial e temporal em movimento no sentido da realização das promessas de Deus; é entendida como “estar a caminho”, como peregrinação com Iahweh, como marcha em que se introduz no cumprimento messiânico-escatológico.
Os escritos do A. T. apresentam importantes formas particulares dos gêneros literários:
Etiologia – (grego) aitia= motivo, causa; logos= palavra, interpretação, esclarecimento.
Def.: é a interpretação da origem, no sentido de se determinar a causa de experiências e fatos do presente em acontecimentos do passado (“Por isso se chama...”, “... até os dias de hoje...”).
 O pensamento etiológico dos textos bíblicos não se enraíza na curiosidade natural do homem, mas na angústia do coração crente diante das misérias e dos problemas deste mundo frente ao bom Deus. A única explicação só pode ser fundada numa sentença punitiva de Deus por causa da revolta perpetrada contra Deus.
Espécies de etiologia:
etnológica – tenciona explicar as relações amigáveis ou de inimizade do povo de Israel com outros povos.
etimológica – pretende explicar uma palavra de língua estrangeira, cujo sentido original não mais se conhecia, por meio de uma palavra hebraica que soava de maneira semelhante (Gn 11, 9).
Ex: Babel = hebraico = confusão 
 Corresponde ao acádico (língua falada na Mesopotâmia de 2000 a 500 a. C.) – babilu = Babilônia.
	Na Babilônia era comum a construção de torres para ornar templos (zigurates). Chegavam a medir além de 90 metros de alturas. Nessas construções os judeus viam a temerária e sacrílega tentativa de escalar o céu. A construção da torre é manifestação da ambição desmedida e do orgulho coletivo. Babel se identifica com Babilônia (=porta do céu), a célebre cidade da Mesopotâmia. Esta narração seria para explicar:
a origem das línguas;
a dispersão dos povos sobre a terra;
a origem do nome e da cidade da Babilônia;
a origem de uma torre, que por um descordo de idéias entre os babilonenses, não foi terminada.
geográfica – em torno de localidades formaram-se estórias interpretativas com a função de explicar o seu nome.
Ex: Mara (= fonte amarga) Ex 17, 22-25.
 Meriba (=contenda) Ex 17, 1-7.
 Eskol (= vale da uva) Nm 13, 24-25.
 Hormá (=extermínio) Nm 21, 1-3.
cultural-religiosa – ilustram para o povo de Israel costumes religiosos e leis sobre a alimentação como determinações dadas por Deus, motivando-o, assim, para sua conscienciosa observância.
antropológica – é um modo de reconduzir as experiências da vida humana, como o sofrimento e doença, nascimento doloroso e mortalidade ao pecado humano e, uma maneira de interpretar teologicamente tais realidades como julgamento punitivo de Deus.
Midraxe (=hebraico, plural = midrashim que vem do verbo darash = procurar, investigar, explicar). O verbo darash é usado para pedido de uma resposta de Iahweh através do oráculo, sendo provável que esse significado do termo esteja na origem do seu uso para indicar o estudo dos textos sagrados.
Def.: é a explicação que se dá aos textos bíblicos com finalidade pastoral, orientação da vida, estímulos religiosos e aplicações ético-rituais; contos edificantes.
	Pode-se distinguir dois tipos de midraxe: a halakhah (caminho, conduta) e a haggadah (explicações das passagens do Pentateuco, com o objetivo de tirar delas lições edificantes).
	O midraxe não é uma tentativa de procurar o sentido literal do texto sagrado, porém, visa encontrar o máximo de exemplos edificantes; é uma meditação sobre o texto sagrado ou de uma reconstrução imaginosa do lugar e do episódio narrado. O seu objetivo é sempre a aplicação prática do texto ao presente. Freqüentemente, a prática do midraxe parece arbitrária para nós, que pensamos antes de mais nada no significado, isto é, no sentido literal; mas na medida em que não se apresentava uma limitação desse tipo no conceito, o midraxe não era considerado arbitrário, mas sim necessário. Pode-se concluir que a midraxe é a meditação edificante sobre um antigo discurso bíblico, reconstrução imaginosa de um episódio ou construção de um episódio fictício com base nos princípios deduzidos do material bíblico. As narrativas de Daniel, Jó, Tobias, Judite e Ester tomam alguns princípios da Lei oi da fé judaica e os apresentam em narrativas fictícias. A história primitiva de Israel é registrada por Ezequiel em forma de alegoria (Ez 16). 
O simbolismo dos números – Para os orientais em geral, o número não possui mero valor aritmético, possui também um sentido de fundo filosófico e religioso.
1 – número perfeito por excelência, por ser o primeiro ou a origem dos outros números;
3 – perfeito por ser o primeiro a apresentar um ímpar e por representar o triângulo, que era considerado a figura perfeita. Há 3 filhos de Noé, o ancestral de todas as nações (Gn 10).
4 – o significado vem dos 4 pontos cardeais, dos quais vem os 4 ventos. Os quatro rios do paraíso irrigam toda a terra (Gn 2, 10ss). O número 4 será associado à concepção do universo visível. O carro de Iahweh é puxado por quatro animais na teofania de Ez 1. Os reis mesopotâmicos incluem em seus títulos “rei dos 4 cantos”, isto é, do mundo.
6 – 7-1 é o número do imperfeito.
7 – 4+3 é perfeição, é o número do definitivo, do divino, da bênção e da plenitude da vida, da totalidade. O luto se abate sobre a mãe de 7 filhos (Jr 15, 9) e se afirma que Rute é melhor que 7 filhos (Rt 4, 15). Há 7 dias na semana (Gn 2, 2). Os ritos de Balaão giram em torno do número 7 (Nm 23, 1). Os israelitas marcharam 7 dias em volta de Jericó, com 7 sacerdotes tocando trombeta (Js 6, 1ss). Tudo isso mostra a idéia de plenitude ou de totalidade.
10 – um número redondo muito freqüente, 10 é composto de 2 grupos de 5, a soma dos dedos da mão, utilizados na maneira primitiva de contar, e raiz do sistema numeral decimal. O decálogo apresenta o número 10 como número da plenitude.
12 – 4x3 vem do sistema sexagesimal sumério, que sobrevive em nossa dúzia. Há 12 tribos de Israel, isso significa a plenitude de Israel. Há 12 meses, a plenitude do ano. Por isso, 12 é no sistema sexagesimal mais do que 10 é no sistema decimal.
40 – 4x10 é um número redondo. 40 são os dias do dilúvio (Gn 7, 4), e 40 anos de Israel no deserto (Ex 16, 35; Nm 14, 33; Dt 29, 5), 40 anos do reinado de Davi (2Sm 5, 4). Os 40 dias de viagem de Elias (1Rs 19, 8). 40 anos são aproximadamente uma geração.
70 – 10x7 é um número redondo, de dimensões desconhecidas. Os filhos de Israel eram 70 por ocasião de sua entrada no Egito (Gn 46, 27; Ex 1, 5). Os anos do exílio são 70 (Jr 25, 11). Há 70 anciãos de Israel (Nm 11), mas o número é, sem dúvida, 72, 6x12. 70 anos são a vida ideal de um homem (Sm 90, 10).
	
Podemos ainda mencionar o número 144.000 inscritos no Ap 7, 4ss; 14, 1ss, que corresponde a 12, número das tribos de Israel, multiplicado por si mesmo e em seguida multiplicado por 1000, o número de uma unidade militar no antigo exército israelita. O número indica a plenitude de Israel; a Igreja no N. T. é concebida como a plenitude de Israel, e tal é a igreja celestial em sua completude final.
Valor numérico das consoantes hebraicas: Ex 38, 26 (Nm 1,46) fala de 603.550 homens por ocasião do êxodo do Egito. Não se trata do resultado exato de um recenseamento do povo, mas do valor numérico das letras (consoantes) da designação “a soma de todos os filhos de Israel”.
 
Tipos de escritos do cânon judaico-palestino (JP) e do cânon judaico-helenístico (JH):
A Lei (Torá) – Pentateuco (JP e JH)
Os Profetas (nebiím, distinguindo-se entre profetas anteriores (JP e JH) – de Josué a 2Rs e posteriores (JP – exceto Br e JH, de Isaías a Malaquias)
Os Escritos (ketubím) – JP exceto Eclesiático, Sabedoria, Tobias, Judite e 1 e 2 Macabeus e JH.
O Pentateuco
	Os judeus chamam o Pentateuco de Torá, um termo hebraico que normalmente é traduzido por “lei”, mas que significa bem mais – ensinamento ou instrução. Jesus Bem Sirac, autor do Eclesiástico, descreveu poeticamente a Tora comoum oceano inalcançável de sabedoria, alimentado pela abundância perene de alguns rios que transbordam de inteligência, prudência e conselho (Eclo 24, 22-27).
	Há um plano central e uma idéia unificadora que perpassa todo o Pentateuco, que se resume num pequeno credo recitado pelo israelita ao oferecer as primícias no santuário (Dt 26, 5-9).
	Deus escolheu Abraão e seus descendentes e lhes prometeu a terra de Canaã. Mais tarde quando o plano parecia arruinado no cativeiro egípcio, Iahweh intervém e liberta o seu povo; faz com ele uma aliança e o traz para a Terra Prometida. Todos estes fatos são subjacentes às diversas tradições. A estruturação definitiva do material numa grande síntese guiou-se por esses fatos, invariavelmente os mesmos. O Pentateuco, na sua forma final, constrói-se em torno das idéias de eleição, intervenção eficaz e aliança. Todos esses fatos ou tradições foram associados aos santuários e neles recitadas, e incorporadas ao Pentateuco. Podemos falar que os quatro primeiros livros do Pentateuco são uma amálgama de três tradições: a Javista, a Eloísta e a Sacerdotal. O Deuteronômio e a tradição deuteronômica constituem um problema à parte.
As quatro tradições.
A tradição Javista recebe este nome por causa do emprego do nome Iahweh desde a narrativa da criação. Utiliza um estilo vivo e figurativo para dar uma solução profunda aos graves problemas que angustiam todo homem. Muitas das narrativas javistas são etiológicas, ou seja, visam explicar alguns fatos de uma forma popular. A grande preocupação do javista é narrar como a história da queda e da depravação do homem se torna uma história de salvação, deixando bem clara a intervenção de Deus e a divina Providência (salva Noé, conduz Abraão a Canaã, traz Jacó de volta, exalta José, liberta Israel do Egito e guia o povo pelo deserto). Iahweh é o Deus nacional, por causa da escolha de revelar-se a Abraão, mas livra os herdeiros de Abraão da escravidão e lhes dá sua lei, indicando que não deixa de ser o Deus de todos os povos. 
As profecias messiânicas do Pentateuco ocorrem na epopéia do javista: o Proto-evangelho em Gn 3,15; a profecia de Jacó a respeito de Judá em (Gn 49, 10); a profecia de Balaão acerca da estrela procedente de Jacó em Nm 24, 17.
A tradição javista é encontrada especialmente no Gênesis (a partir do cap. 2), no Êxodo e em Números. Em Êxodo 34 encontra-se o único material legislativo de tradição javista.
Gn 3 – Por que a morte, as dores da mulher, o suor do homem?
Gn 11 – Por que a dispersão dos povos e sua mútua falta de compreensão?
Gn 18 – Poderá o justo interceder pelos culpados?
	
A tradição Eloísta utiliza esse nome referindo-se a Elohim (é o plural de “El” = Senhor) que é um dos nomes de Deus. Segundo a tradição eloísta o nome Iahweh só passou a ser utilizado depois que Deus se revela a Moisés no Sinai (“Eu Sou Aquele que sou” Ex 3, 14 = Deus existe por si mesmo, enquanto os deuses pagãos não passam de estátuas feitas pelas mãos do homem). O estilo javista é um estilo sóbrio e as manifestações divinas se processam num plano menos material e os antropomorfismos são evitados. Deus fala por meio do fogo ou da nuvem; em sonhos Gn 21, 17) e age por intermédio de anjos. A narrativa da Aliança em Ex 21-23 é atribuída à tradição eloísta. A partir de Gn 20 encontram-se textos de tradição eloísta. Diferente do enfoque javista, o eloísta insiste na distância entre Deus e o homem (Gn 3,8; 18,1ss). Na tradição eloísta Moisés tem um status especial, pois a ele é revelado o nome de Deus, só ele podia falar a Iahweh face a face e ver a forma do Senhor (Nm 12, 8): a Moisés, Deus refletia sua glória divina (Ex 34, 29-35). Moisés é o profeta por excelência.
 	A tradição deuteronomista se limita ao último livro do Pentateuco, recapitula a história precedente e repete em parte as leis. O motivo da recapitulação é mostrar que a história reflete o amor de Deus, a escolha livre que Deus faz com relação a Israel como seu povo (“o Senhor teu Deus”; “o Senhor vosso Deus” e, portanto, o povo deve reconhecer nele seu único Deus e oferecer-lhe culto (Dt 12, 1-12). A narrativa deuteronomista tem um estilo oratório e exortatório. Deus libertou o seu povo do Egito “com mão poderosa e braço estendido” e por isso, o povo deve ouvir a voz do Senhor vosso Deus e observar os seus estatutos e seus mandamentos e ordenações, “temer o Senhor vosso Deus”; “Amareis ao Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma”, lembrando que a fiel observância dos mandamentos assegura a bênção e a desobediência atrai a ira de Deus.
O deuteronomista apresenta um código legal (Dt 12, 1-26, 15); é um programa de reforma e não uma inovação; faz um apelo por uma renovação da Aliança; repete várias vezes a expressão “este dia”; insiste no aqui e agora da eleição divina; Dt 12, 1-12 encontra-se a lei do santuário, a fim do culto purificado de Iahweh seja preservado de toda contaminação; são comuns as expressões: “o Senhor teu Deus”, “o Senhor vosso Deus”; Canaã é “uma terra que mana leite e mel” e, para que o povo dela se aposse, Deus o liberta do Egito “com mão poderosa e braço estendido”.
Avisos desnecessários: Dt 30, 11.14
	Iahweh dá sua Palavra (vivificante; que traz felicidade e longa vida; revela) a Israel: Dt 29, 28.
Influências: 
Oséias – (11, 1-2.8). O amor de Iahweh pela sua esposa infiel (Dt 7,8;10,15; 26, 6; 30, 6-20)
Jeremias 31 – previsão de uma libertação, uma nova Aliança.
Ezequiel – a volta do Cativeiro e a nova divisão da Terra Santa em torno do novo santuário.
Ex 37, 40-48 ↔ Dt 3,12-17.
A Tradição Sacerdotal. Na tradição deuteronomista ao invés de trazer Deus e a Palavra para junto dos homens, procuravam elevar o homem a Deus pela fidelidade às leis e prescrições tradicionais, o que faz com que a tradição sacerdotal se preocupe em deixar claro que a iniciativa é sempre de Deus, que é bom, misericordioso e providente. Portanto não é o homem quem chega até Deus, mas é Deus que se aproxima do homem e não é, e nem poder ser, manipulado por ele, como os antigos deuses construídos por mãos humanas.
Todo o livro de Levítico é de tradição sacerdotal e, em Lv 19, 2 encontra-se um elenco de regras.
A tradição sacerdotal é indicada pela letra P, por causa do termo Priester em alemão, que quer dizer sacerdote (P = Priestercodex).
Como o Deuteronômio, a tradição sacerdotal começa com a lei do santuário único e dá, em seguida, prescrições referentes à moralidade, ao matrimônio, aos sacrifícios e às festas; termina como o Deuteronômio, com bênçãos e maldições (Lv 26).
Israel é apresentada como uma comunidade de adoração (’edah), regida pelos sacerdotes.
Durante o Cativeiro, os sacerdotes deportados, desligados do culto elaborado e ritual de Iahweh no seu templo, viram que seu dever era organizar a vida religiosa da comunidade nesses ambientes e circunstâncias diferentes, construídas a partir de uma origem nacional comum, tradições comuns e um sacerdócio autêntico.
O material P do Pentateuco é uma apresentação permeada por uma teologia da presença divina e pelas exigências de um Deus de santidade; a revelação de Deus segue um plano sistemático que se desdobra em quatro sucessivas eras e em cada estágio empregam-se diversos nomes divinos> Elohim, El Shaddai e Iahweh.
1) a Criação;
2) a Aliança com Noé;
3) o pacto com Abraão;
4) o pacto do Sinai.
A obra prima do escritor sacerdotal é a história da Criação (Gn 1-2, 4a), que é na verdade um canto litúrgico.
A história sacerdotal se nos apresenta como o fruto de uma reflexão teológica sobre a antiga tradição e costumes litúrgicos preservados pelos sacerdotes de Jerusalém.
O estilo P é árido e estatístico, e é a mais facilmente reconhecível. P compõe Gn numa cronologia convencional, que dá alguns números impressionantes para as idades dos patriarcas. Em P há uma preocupação com os pormenores com relação o sacerdócio, ao sacrifício, às festas e ao culto, e descreve minuciosamente o tabernáculo. Moisés é, sobretudo, legislador.
As Tradições do Pentateuco
Javista / J – origem judaica;século X a.C. (Reinado de Salomão).
Eloísta/ E – século IX a.C.
Deuteronômica/ D – antes de 721 a.C., promulgada durante o reinado de Josias (640-609 a.C.); edição aumentada no começo do Cativeiro.
Sacerdotal/ P – formada durante o Cativeiro; tomou sua forma final depois do Cativeiro.
O Hexaêmeron (Gn 1- 2,4a)
	O termo Hexaêmeron, significa seis dias. Trata-se da narração das obras que Deus realizou em seis dias criando todo o universo. É um texto de origem P e seu gênero é didático sapiencial.
	A Criação é narrada no curso de uma semana, numa escala ascendente cujo ápice é o homem, imagem de Deus, criado na tarde do sexto dia. O texto procura de forma radical e total desmitologizar homens, animais e outros seres venerados no antigo Oriente.
Por sete vezes Deus aprova a sua obra, significando que as criaturas correspondem ao ideal divino. A tese básica da narrativa é: Se as coisas existem assim é porque um Deus único e bom as fez assim.
A imposição do nome significa o senhorio de Deus sobre a realidade nomeada. Nada há que escape à sua ação criadora.
Os animais recebem uma bênção para a reprodução, uma função profundamente misteriosa para os antigos semitas.
No instante da criação do homem o texto se torna solene, utilizando o plural majestático: “façamos”. 
A concepção de mundo pelo homem antigo:
A mensagem do hexaêmeron:
	
A principal intenção é ensinar que todo o universo é obra de Deus.
1. Deus é o criador do Universo. Só Ele criou tudo, sem recorrer a um ajudante, a um Demiurgo, por um simples ato criativo da Sua Vontade. Também nas terras do Egito dizia-se que, antes mesmo de o existente vir a ser, já existia o Num ou águas primordiais não-diferenciadas. Os textos que narram este acontecimento remontam a épocas passadas, antes que se começasse a contar o tempo, “quando o céu não existia, quando a terra não existia, quando não havia sido criada a onda”. Então Ptah, um dos deuses criadores, “fez existir o que o coração havia pensado e a língua ordenado”. Na Mesopotâmia, circulavam idéias semelhantes. Nas origens devia ter existido um mar sobre o qual a palavra fecunda dos deuses dispôs: “Aquele dia, aquele dia distante, aquela noite, aquela noite distante, aquele ano, aquele ano do passado, quando as flores se abriram, segundo a ordem divina, quando foram plantadas as flores, segundo a ordem divina...”. O Universo não é uma emanação do seu ser, não tendo pois a mesma natureza divina;
2. Deus é um só. Não há astros sagrados: o sol e a lua não são sagrados, divinos como queriam tantos povos da antigüidade (2Rs 23, 5.11); são simples criaturas a serviço do homem; b) não há animais sagrados; c) não há bosques sagrados. Deus tudo cria com a simples manifestação de Sua Vontade;
3. Deus é bom: não há dualismo (bem x mal). Tudo o que existe é feito por um único Deus que é bom. O mal existe por motivos alheios à vontade divina (Gn 3);
4. Deus é eterno; no princípio do mundo Deus já existia, Ele cria o princípio. Não há na Bíblia resídua dos mitos antigos das gerações dos deuses (teogonias) com narrações de nascimento e genealogias dos deuses. Deus, para o israelita, não tem princípio.
A respeito do mundo:
O mundo é bom porque é criatura de Deus, trazendo consigo a marca do criador;
O mundo não é eterno;
As criaturas inferiores são ordenadas para o homem.
A respeito do homem:
O primado do homem: ao criar, Deus vai do menos perfeito ao mais perfeito, sendo o homem o coroamento do universo. O homem é a semelhantíssima imagem divina chamado a exercer o domínio sobre a terra. O homem é sacerdote, mediador entre Deus e o mundo;
O homem e a mulher têm igual dignidade, ambos são reflexos de Deus;
O casal é abençoado. Procriação e fecundação não são atribuídos a um deus próprio;
O trabalho humano é a continuação da obra do criador e não é devido ao pecado. Sua penosidade é conseqüência do pecado.
No começo da Bíblia, ressoam as palavras criadoras. Por oito vezes repete-se “Deus disse...” A realidade que existe, dos grandes espaços cósmicos à pequena erva, irá saindo dia após dia da boca do Senhor. Antes a terra era um lugar inóspito e seco, e as águas, que se pensava estivessem localizadas sobre os céus e debaixo da terra, estavam misturadas. Então, no princípio, a voz do Senhor emitiu seu comando sobre aquele panorama desolador, com a virtude que só ela tem de tornar real o que dizem os lábios.
Em Gn 1, do versículo 3 até quase ao final do capítulo, sucedem-se oito obras em seis dias. A mais prematura é a luz. Todavia, não se trata da luz difundida pelo sol, pelas estrelas ou que Lua reflete; os astros terão o seu dia, alguns versículos mais adiante. Agora trata-se de aclarar as trevas do pré-cosmo. É a primeira manifestação de Deus, o resplendor de suas epifanias posteriores. Com termos cunhados pelos salmistas e por Isaías, o Senhor amanhece para o mundo, permite que se veja o manto de luz que o envolve.
A segunda e terceira obras introduzem a distinção no âmbito do indefinido. A primeira coisa a ser feita é fixar uma barreira para as águas esparramadas. Para isto, desdobra-se o firmamento, entendido por vezes como uma placa de metal, que recolhe as estrelas e demais criaturas como se fosse uma lona. De tal forma que, por cima, ficam as águas que destilam suas gotas nos dias de chuva através das comportas do firmamento, que lhes dão passagem nestas ocasiões. Debaixo da terra, em grandes depósitos, juntam-se as águas que se manifestam ao exterior através das fontes. Entre umas e outras, aparecem os mares, como se estivessem estagnados em um odre; e neste mesmo corte, aberto pelo firmamento, irá emergir a terra. Deste modo, foram delimitados três espaços, com os nomes de céu, mar e terra, que saíram do anonimato. Mais adiante, eles terão limites definidos e funções precisas para abrigar seus moradores.
	A quarta obra divide a data com as anteriores. No mesmo terceiro dia, revestia-se a terra, chamada a ser o berço dos seres humanos. Dócil a seu criador, a terra vai germinando duas espécies botânicas dos elencos da época: a erva e as árvores frutíferas, que passarão a ser elementos básicos da primeira dieta da humanidade.
	O quinto dia testemunhou a criação dos astros, ação um pouco adiada com relação ao que seria a sua colocação lógica. O sol, a lua e as estrelas perderam, no universo de Gênesis, suas prerrogativas divinas.
	A obra subseqüente celebrou o nascimento dos seres vivos, que haveriam de alegrar a futura casa do homem com uma bênção. O critério dos poetas do Gênesis para organizar a sua aparição na terra é o de seu maior ou menor grau de aproximação do ser que estava destinado a ocupar o centro da criação. O ambiente mais distante é dos mares, cujas águas serão sulcadas por uma espécie de monstros, transformada agora na ordem dos cetáceos pela força da palavra criadora do Senhor. Os espaços aéreos mais próximos, que envolvem a terra firme, são povoados de seres que voam. E da própria terra surgem os que a povoam. São classificados de acordo com sua proximidade em relação ao homem: animais domésticos, animais selvagens e répteis. A bênção, dada pelo Senhor aos habitantes do mar e do céu, assegura-lhes seu crescimento e as atenções de que necessitam. 
	A última das oito palavras criadoras é ouvida no sexto dia. O relato do que aconteceu neste dia é mais extenso do que os precedentes. Mudam as fórmulas. O Senhor não somente fala como também põe mãos à obra, e depois aprova seu ato criador de maneira sublime. Quando na narração se encontra a fórmula: “Deus disse”, sabe-se que está para chegar algo novo. O plural “façamos” revela enfaticamente que o propósito do Senhor é criar o gênero humano Adam.
	O chamado do homem possui outra dimensão. A diferença radical, em relação aos animais e ais vegetais, criados segundo sua espécie, é que o homem reflete a “imagem e semelhança” de seu Criador. Cinco imperativos situam o homem no mundo. São as primeiras palavras do Senhor que chegam a seu ouvido: “Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam aterra; dominem”. 	
	A obra da criação foi maravilhosamente concluída no sétimo dia, com o descanso do Senhor. Foi um repouso exemplar, perpetuado na liturgia do sábado e imitado pelo homem. O targum palestino Neófiti (a tradução da Bíblia para o aramaico, lida nas sinagogas) que o Senhor descansou e assim o fez também a criação. Não que o Senhor tivesse necessidade de repouso ou que quisesse inaugurar o ócio. O sábado é um período sagrado, um remanso na bondosa tarefa dos dias que o precedem e aos quais completa recreando-se neles.
Gn 2, 4b; 3, 24: Os primeiros pais e a origem do mal.
	Aqui temos outra narrativa da criação. O cenário é negativo: “... não havia... não havia...”
	Ao se começar a leitura do capítulo 2 de Gênesis, tem-se a impressão de que se deu marcha à ré. Mas esta impressão não é totalmente correta; é suficiente ler atentamente o texto até o final do capítulo 3.
	Os primeiros versículos recorrem às negações e ao contraste para que possa emergir a grandeza do ser humano, destacando-a com força 
	Este texto procura responder a uma intrigante pergunta: “O Único Deus bom fez o bem e o mal?” – Gn 2, 8-25 nos oferece o palco, segundo um mapa-mundi muito arcaico, onde se desenrolará o drama da origem do mal.
	O homem é feito do barro, é formado do pó da terra. Deus se apresenta como um oleiro que vai modelando o corpo do homem com argila. A imagem do Deus Oleiro é muito bela, mostrando de um lado a liberdade do artista e, de outro, a radical dependência do homem em relação ao seu Criador. As mãos do Senhor empenharam-se a fundo em “modelar” o corpo humano. O Senhor teve que fazer um gesto para animar aquela inerte obra da olaria: “soprou” em seu nariz um “sopro de vida”. Por isso, o homem dependerá vitalmente de Deus. Assim, constituía-se o ser humano genérico Adam, assim denominado porque provém do pó da terra, adamah. O termo que melhor resume o que foi realizado pelas mãos e pela boca de Deus é “vivente”: “e o homem tornou-se um ser vivente”. Quanto ao sopro vital:
a) ele provém de Deus;
b) é conservado por Ele;
c) é retirado na morte.
	O Paraíso é rico em águas, sinal da prosperidade, de vida, de fertilidade, é descrito como um lugar fechado, como um oásis num deserto. Trata-se de um lugar fictício, um lugar ideal. Ele é um estado em que o homem é colocado, o estado de justiça original, que se caracteriza:
a) elevação ao estado sobrenatural: o homem foi formado fora do paraíso, foi para lá transportado; o verbo usado indica que esta é uma ação que pertence tão somente a Deus; a condição dos primeiros pais é a de amigos de Deus;
b) imortalidade original (Gn 3, 19; 2,16): a morte se apresenta como castigo pelo pecado, perdendo o acesso à árvore da vida; os primeiros pais não estavam sobre o império da morte, não que possuíssem a imortalidade por constituição natural, mas por um privilégio tinham a possibilidade de não morrer. Eles tinham acesso à árvore da vida;
c) imunidade da concupiscência: grande desejos de bens ou gozos materiais (Gn 2, 25; 3, 7.21); viviam no estado original de inocência;
imunidade da dor (Gn 3, 16-18): o trabalho doloroso se apresenta como conseqüência do pecado; a vida conjugal que se apresentava como um estado de perfeito equilíbrio, após o pecado, se desvirtua e a mulher vai padecer a brutalidade do homem; 
o dom da ciência infusa: Gn 2, 19-20.
As duas árvores – Não há árvore da vida nem árvore que dê a ciência do bem e do mal. A árvore é um símbolo.
	No Oriente a expressão “árvore da vida” traduz concretamente a idéia abstrata de imortalidade. O autor, de maneira plástica, nos fala do privilégio da imortalidade.
	A árvore da ciência do bem e do mal pode significar:
a) despertar da razão: conhecer o bem e mal seria agir com responsabilidade (Dt 1,39);
b) conhecer o bem e o mal seria conhecer todas as coisas (2Sm 14, 17);
c) seria um conhecimento experimental do bem e do mal.
	Deus é quem conhece o bem e o mal. O homem não pode tornar-se criador de categorias morais.
A serpente é apresentada como símbolo do tentador (Sb 2, 24; Jo 8, 44; AP 12, 9; 20, 2). Entre os cananeus a serpente era considerada como uma divindade da vegetação e da fecundidade.
O pecado dos pais é um pecado grave, uma violação consciente e livre de uma ordem divina. O pecado foi um ato de auto-suficiência, uma atitude de soberba. 
A narrativa bíblica da origem do mal é concebida como história da liberdade humana. Constata-se enfaticamente que o mal não se enraíza nem num déficit natural nem em mero acaso, mas na decisão voluntária e no “não, conscientemente expresso, do homem contra Deus.
	Gn 3,15 é conhecido como Proto-evangelho, o primeiro alegre anuncio da boa-nova da salvação. É um oráculo de orientação messiânica universal. A oposição moral e espiritual entre a humanidade e satanás se dá em três tempos: a) inimizade entre ti e a mulher: com ajuda divina, Eva poderá se opor ao demônio; b) luta entre os descendentes: a linhagem dos bons vão lutar contra a serpente, contra a obra do mal (sentido coletivo); c) a luta final entre o demônio e um descendente da mulher. O antagonista da serpente é designado com um pronome demonstrativo masculino, é um descendente individual. O sentido pleno desse versículo pode ser aplicado a Cristo e a Maria, a mulher que é a mãe mais próxima desse rebento (não será assim que João entende o termo mulher na boca de Cristo ao se referir a Maria em Jo 2,4; 19, 26; Ap 12,1).	
i) O Novo Testamento.
Novo Testamento = o novo pacto, a nova aliança que Deus fez através de Jesus Cristo não só com o povo eleito, mas com toda a humanidade.
Nossas edições da Bíblia do Novo Testamento se abrem com os evangelhos.
Os evangelhos (boa-nova) possuem lugar de destaque por conterem palavras e atividades de Jesus Cristo. Mas não foram os primeiros escritos do Novo Testamento.
Livros:
	- Evangelhos – Os Evangelhos sinóticos (MT, Mc, Lc) são assim chamados por apresentarem um quadro, uma espécie de “sinopse” (=visão de conjunto), ainda que, com planos e finalidades diferentes. Podem ser colocados um ao lado do outro com suas semelhanças e diversidades. Não obstante as peculiaridades de cada um, todos convergem ao essencial: Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que com sua vida, morte e ressurreição veio realizar a salvação da humanidade.
	Deus pai enviou seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, para efetuar essa obra de Salvação.
	O Evangelho de João possui características próprias, diversas daquelas dos Sinóticos, buscando aprofundar a fé numa visão mais teológica do que narrativa.
Atos dos Apóstolos – traz um panorama da Igreja Primitiva após o acontecimento de Pentecostes, destacando de modo particular o ministério dos apóstolos, Pedro e Paulo.
As cartas – enviadas às primeiras comunidades cristãs são numerosas, desde as Cartas sob o nome de Paulo até as Cartas sob o nome de Tiago, Pedro, João e Paulo.
O Apocalipse – livro profético – procura teologicamente desvendar o sentido da historia divino-humana na trama do mundo e dos homens. Por símbolos e visões apresenta mensagens.
 
	O centro e o sentido de todo o Novo Testamento é uma pessoa, a pessoa de Jesus Cristo, originário de uma cidade insignificante, Nazaré (MT 2,23), mas nascido em Belém (Lc 2,4. 11), realizando a profecia de Miquéias (Mq 5,1; Mt 2,5). Jesus Cristo nasce antes da morte de Herodes acontecida no ano 4 a.C.. Pode-se estabelecer como data do seu nascimento entre o ano 7 a 5 a.C. (Erro de Dionísio, no sec. VI).
Cronologia aproximada do Novo Testamento:
Pelo ano 7 a 5 antes de Cristo: Nascimento de Jesus de Nazaré.
Pelos anos 27-28: atividades de João Batista e início da vida publica de Jesus.
29 e 30 d.C.: atividade publica de Jesus com pregações e obras.
37 a.C. a 04 a.C.: reinado de Herodes, que morre no ano 4.
14 a 37 d.C.: governo de Roma sob Tibério.
30 d.C., sexta-feira 07 de abril: morte de Jesus Cristo.
34-35 d.C.: conversão de Saulo, denominado depois de Paulo.
42 d.C.: martírio de Tiago Zebedeu, irmão de João, sob Herodes Agripa I.
49-50 d.C.:realização do concílio de Jerusalém.
47 a 57 d.C.: atividades missionárias de Paulo em muitas localidades. 
58-59 d.C.: Prisão de Paulo em Jerusalém e Cesaréia Marítima.
60 a 62: prisão domiciliar de Paulo em Roma.
62: martírio de Tiago, filho de Alfeu, em Jerusalém, por ordem de Anãs. 
67 d.C.: martírio de Pedro e Paulo em Roma. (Há autores que se inclinam por outras datas). 
Grupos na Palestina
Fariseus – “separados”, “puros”. Mantinham-se à margem do ambiente para evitar todo tipo de impureza. Conservam a “lei oral” na tradição dos pais com a mesma autoridade que a escrita. Eram apreciados pelo povo, por estarem perto da vida quotidiana e ficarem longe dos negligentes da Lei para não se contaminarem.
	Doutrinalmente acreditavam na ressurreição. Jesus manifesta direta oposição a esse grupo, até com palavras fortes de censura, por serem legalistas e hipócritas.
Saduceus – o nome tem origem no sacerdote Sadoc, chamado por Davi para ungir Salomão como rei (1 Rs 1, 26.32.38 – 39). Passaram a ser o grupo da Aristocracia sacerdotal. Para eles, os interesses sociais e políticos eram superiores e mais importantes que as convicções religiosas. Freqüentemente eram ricos proprietários de terras. Dada sua elevada posição social eram conservadores. Doutrinalmente negavam a ressurreição (Mc 12, 18 – 23).
Escribas – também chamados “mestres” ou “doutores”. Tornam-se grupo independente após a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.. Passaram por uma severa aprendizagem escolar. Eram reverenciados pela sua ciência. Tinham que responder não apenas a questão práticas, como: redigir um contrato matrimonial ou efetuar um divórcio. Nas sinagogas, sentavam-se na cátedra de Moisés, com o rosto para o povo e sua tarefa era explicar a lei e manter viva a tradição. Exteriormente levavam veste comprida (Mc 12, 38).
Zelotes - A única fonte provém do historiador judeu, Flavio José. Foram à alma da luta armada contra os romanos, que acabou com a destruição de Jerusalém e do templo no ano 70 d.C.
Essênios – O grupo não é nomeado nos evangelhos, mas teve posição especial na época do Novo Testamento. Hoje se os conhece como “monges de Qûmrán”, grutas perto do Mar Morto, onde foram encontrados preciosos manuscritos – rolos – que trazem fragmentos de livros sagrados e outros temas da vida da comunidade. Praticavam um forte rigorismo tanto na observância do sábado, como na pureza cultual. Seguiam um culto espiritual, evitando toda e qualquer profanação. Praticavam o celibato. Dada a sua vida eremítica, vivam em comunidade de pouco contato com o exterior, observando pobreza e pondo os bens em comum. As assembléias das comunidades deviam se realizar pelo menos com 10 membros e nunca podia faltar um sacerdote. Sua disciplina era rígida. Comiam frugalmente e tinham a jornada minuciosamente regulamentada. Esse rigorismo ascético e cultural tinha projeção apocalíptica: deviam preparar-se para a luta final com os filhos das trevas.
Dispersos de Israel – Não se trata de um grupo, mas de uma realidade. São judeus que foram viver fora da Palestina, dando-se a isso o nome de “Diáspora” (=dispersão). Tiveram que se adaptar a um ambiente diverso daquele do seu país e a uma língua distinta do aramaico. Eram de mentalidade mais arejada. Apreciavam mais os aspectos éticos da religião do que as normas cultuais da lei. Punham em segundo plano o messianismo, enquanto professavam a doutrina helenista da imortalidade da alma. Assumiam costumes locais. Nesse tempo e nesse ambiente, surgiu a necessidade de traduzir a Bíblia do hebraico para o grego, chamada dos Setenta. A história legendária dessa tradução diz que 72 sábios (6 por cada tribo de Israel) se reuniram na Ilha de Faro e realizaram o trabalho em 72 dias. A tradução melhor é a do Pentateuco, seguindo-se depois a tradução dos demais livros. Isso se deu nos 3 últimos séculos antes de Cristo. As citações do Antigo Testamento, encontrados nos livros do Novo Testamento, seguem essa tradução.
ESCRITOS DO NOVO TESTAMENTO
d.C.	EVANGELHOS		EPÍSTOLAS DE		OUTROS ESCRITOS
	 E ATOS			 SÃO PAULO
51 1,2 Tessalonicenses
56					(Filipenses?)
57					1 Coríntios
				 	Gálatas				
					2 Coríntios
57/58					Romanos
58									Tiago
61/63					(Filipenses?
					Colossenses
					Efésios
					Filemon
64/65	 Marcos			1 Timóteo			1 Pedro
65					Tito				Hebreus
65					2 Timóteo
68-70 Mateus
 Lucas
 Atos							 Judas
70-80									 2 Pedro
90-100									 Apocalipse
								 2 João
									 3 João
									 1 João
 João								
Os Evangelhos
Evangelho de Mateus.
a) Etimologia = Dom de Deus.
	
	A figura que representa o evangelho de Mateus é a do “homem”, porque Mateus começa o seu evangelho com a genealogia de Jesus.
	O autor do evangelho de Mateus é um judeu-cristão, que conhecia bem a Bíblia e os costumes judaicos. A tradição aponta como autor Mateus, apóstolo, cobrador de impostos por profissão e em seu local de trabalho, chamado por Cristo a segui-lo (9, 9-11). A resposta de Mateus foi imediata e generosa. Deixou tudo e seguiu Jesus. Ainda deu um banquete ao Mestre, convidando publicanos e pecadores, os excluídos das classes dirigentes judias, Como era comum entre os judeus, tinha um segundo nome, Levi, ainda que ele nunca se designe como tal.
	O autor escreve em bom grego. Era um semita como se comprovava pelo elenco de expressões familiares com a vida judaica. Viveu, ou pelo menos, esteve muito perto dos costumes judaicos e suas concepções religiosas. Apenas por 3 vezes traduz as palavras hebraicas, provavelmente por seu conteúdo teológico: Emanuel = Deus conosco (1,23); Gólgota = Lugar do Crânio (27, 33); e o versículo do salmo: Eloi, Eloi, Lamá Sabactâni = Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste (27, 46).
	Era responsável de comunidade, homem de Igreja, guia preparado e autorizado. Era pastor de almas preocupado com os problemas eclesiais concretos.
	O Evangelho foi composto entre o ano 70 e 80 d. C., fora da Palestina, talvez em Antioquia e destina-se aos cristãos de origem judaica e comunidades em conflito com o judaísmo (7, 29; 9, 34; 23, 4).
	É o Evangelho mais sistemático com sabor catequético. Agrupa temas do mesmo teor, recolhendo-os de diversas situações. Dá impressão que Jesus fazia sermões bem articulados. Não era isso. O evangelista reúne tudo dentro de um esquema didático em forma de 5 grandes discursos (talvez recordando os 5 livros do Pentateuco), fazendo de Cristo um novo Moisés. Em geral cada seção começa com pregações de Jesus e logo depois narra fatos ou milagres, como que comprovando o que havia ensinado.
	O evangelho é narrativo, uma narrativa interpretativa de Jesus e indicativa da sua significação para a história e existência humana. Pode-se dizer que a teologia de Mateus tem 2 grandes pilares: compreensão do Cristo e delineamento da Igreja. O evangelista não se preocupa muito pela exatidão cronológica e geográfica.
	Possui um objetivo bem claro: mostrar que Jesus de Nazaré é o Messias prometido no Antigo Testamento. 
b) Temas.
	O evangelista se preocupa em apresentar grandes unidades temáticas. Constrói os materiais sobre blocos compactos, evitando ao máximo a dispersão e fragmentação:
b.1. Discurso da montanha: exigências do Reino (5 – 7);
b.2. Discurso da missão: arautos do Reino (10);
b.3. Discurso das parábolas: mistérios do Reino (13);
b.4. Discurso sobre a comunidade cristã: filhos do Reino (18);
b.5. Discurso sobre o fim: manifestação final do Reino (24 . 25).
	Esses discursos são antecedidos por um prólogo como a abertura de uma grande sinfonia (a genealogia de Jesus). Ali se manifesta a origem humana e divina de Jesus. 
	O Evangelho possui também um epílogo, uma conclusão, apresentando o Ressuscitado aparecendo aos Onze apóstolos, enviando-os a pregar batizar e ensinar. A conclusão que enfeixa tudo é Jesus continuando presente “todos os dias” na comunidade que Ele fundoue construiu, e prossegue com sua presença até o final da história. Cristo veio para ficar. É o Emanuel do primeiro capítulo e é o Deus que permanece conosco “todos os dias até o final dos tempos” (28, 20) no último capítulo.
c) Perspectiva Cristológica.
	
c. 1. Jesus é o Mestre por excelência e anunciador do Reino dos Céus (4, 7);
c.2. Jesus é o revelador perfeito e definitivo da vontade do Pai (7, 21);
c.3. Jesus evoca sua própria pessoa como fonte de autoridade (5, 27-48);
c.4. Não se pode separar o ensinamento de Jesus da pessoa do Mestre (19, 21; 12, 46-50);
c.5. Uma nova dimensão ao jeito misericordioso de Jesus (9, 35-36);
c.6. Jesus é o Messias preanunciado pelos profetas (4, 1-11; 21, 7);
c.7. O caminho de Jesus não é derrota (28, 18; 27, 51-52);
d) Perspectiva Eclesiológica.
d.1. Povo de Deus (26, 28; 10, 1-2; 16, 18-20);
d.2. Vida interna da Igreja (7, 22; 23, 34; 10, 42, 7, 21-23; 23, 8-11)
d.3. Primária articulação sacramental (28,19; 14, 19-20; 5, 31-32; 19, 12)										
e) Perspectiva do seguimento.							 
 
e.1. Ser discípulo é aderir com totalidade (4, 18-20; 8,19-22);
e.2. Comunidade aberta ao mundo (28, 18-20);
e.3. Verificação final (13, 49; 25, 31-46).
A Genealogia de Jesus segundo Mateus.
	11Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. 2 Abraão gerou Isaac. Isaac gerou Jacó. Jacó gerou Judá e seus irmãos. 3 Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara. Farés gerou Esron. Esron gerou Arão. 4 Arão gerou Aminadab. Aminadab gerou Naasson. Naasson gerou Salmon. 5 Salmon gerou Booz, de Raab. Booz gerou Obed, de Rute. Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi.
 6 O rei Davi gerou Salomão, daquela que fora mulher de Urias. 7 Salomão gerou Roboão. Roboão gerou Abias. Abias gerou Asa. 8 Asa gerou Josafá. Josafá gerou Jorão. Jorão gerou Ozias. 9 Ozias gerou Joatão. Joatão gerou Acaz. Acaz gerou Ezequias. 10 Ezequias gerou Manassés. Manassés gerou Amon. Amon gerou Josias. 11 Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no cativeiro de Babilônia.
 12 E, depois do cativeiro de Babilônia, Jeconias gerou Salatiel. Salatiel gerou Zobabel. 13 Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliacim. Eliacim gerou Azor. 14 Azor gerou Sadoc. Sadoc gerou Aquim. Aquim gerou Eliud. 15 Eliud gerou Eleazar. Eleazar gerou Mata. Mata gerou Jacó. 16 Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.
 17 Portanto, as gerações, desde Abraão até Davi, são quatorze. Desde Davi até o cativeiro de Babilônia, quatorze gerações. E, depois do cativeiro até Cristo, quatorze gerações.
Comentário:	
Diante da exigência dos judeus cristãos defenderem a sua fé, era necessário esclarecer as origens do Senhor.
Os judeus conheciam a infância de Moisés (Ex 2, 1-11), o nascimento de Jacó (Gn 25, 19-28). E, Mateus, usa do gênero literário que se chama midrash haggádico (conhecido pelos judeus) para narrar o nascimento de Jesus. Mais do que os primeiros passos da vida de Jesus, o objetivo era apresentar a diretriz e o sentido de sua missão no mundo. Por trás da narrativa, está uma intenção doutrinal de primeira ordem.
“... filho de Davi” (1, 1b) é de família real, portadora da promessa messiânica; “... da linhagem de Abraão”. Abraão é depositário da promessa mais ampla e mais antiga (Gn 12, 3 . 7 = Gl 3, 16). Jesus é o Messias esperado.
Mateus divide as gerações em 3 seções de 14 gerações cada uma:
a primeira, de Abraão até Davi (1, 1-5) ( todo homem nasce para ser rei;
a segunda, de Davi ao cativeiro de Babilônia (1, 6-11) ( escravo pelo pecado, o homem perde a sua grandeza e,
a terceira, de Babilônia a Jesus (1, 12-16) ( o homem recupera a sua grandeza em Jesus.
(1, 17) – as catorze gerações de cada seção expressam o valor numérico do nome Davi.
 DAVI = 14, então Jesus é 3 x 14, ou seja, o Messias total, autêntico. Jesus é o ponto de chegada da história da promessa divina.
	A presença de 4 mulheres é uma particularidade relevante. Não são mulheres célebres antepassadas como Sara, Rebeca ou Raquel. São elas:
	Tamar (Gn 38) ( nora de Judá, a quem Judá nega o direito à posteridade, mas que por meios ilícitos o reconquista;
	Raab (Js 2) ( mãe de Booz, a prostituta cananéia que auxiliou ao povo na entrada da Terra Prometida;
	Rute (Rt 4, 12 ss) ( a estrangeira, uma pagã que entra na linhagem de Davi;
	Betsabé (2Sm 11, 1ss) ( por quem Davi comete um homicídio e com que Davi comete o pecado de adultério, e de quem nasce Salomão.
	Com isso o evangelista quer mostrar a Providência de Deus na história. Até excluídos são protagonistas no seu desígnio de salvação. Os caminhos de Deus são tantas vezes incompreensíveis, tortuosos, mas sua fidelidade não faltará.
	A quinta mulher é Maria. Mateus rompe com o esquema anterior e diz: “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo” (1, 16). Assim fica assegurada a pertença de Jesus à casa de Davi, mesmo sendo Jesus concebido virginalmente no seio de Maria. Maria foi acolhida na casa de José da casa de Davi.
	O Verbo de Deus Encarnado, Jesus, assume uma história, entra na história, no tempo (Gl 4, 4) e recupera o que o homem havia perdido pelo pecado.
	Deus se fez homem verdadeiramente, para salvar todos os homens e o homem todo. Jesus não caiu do céu como um anjo. Jesus assume uma história. É verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. 
Evangelho de Marcos.
	O Evangelho de Marcos é o mais breve dos evangelhos e, segundo Karl Lachmann (1793-1851) é o mais antigo evangelho escrito, não só em sentido cronológico, é também uma nova forma de escrever: o gênero literário chamado “evangelho”.
	Marcos recolhe, seleciona e ordena palavras, parábolas e milagres de Jesus existentes em textos fragmentários.
	O evangelista Marcos começa com uma frase programática: “Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1,1) e assume a palavra “evangelho”, dando-lhe o sentido novo de que a verdadeira Boa – Notícia é Jesus de Nazaré. Marcos, desde o início, visa o essencial: é a pessoa de Jesus que interessa, ela é o centro de gravitação para o qual tudo converge e toma sentido.
	O modo de Marcos escrever faz o leitor sentir-se “contemporâneo” de Jesus. Sua narrativa caminha sobre 2 trilhos: - Quem é Jesus? – Quem é seu discípulo?
O Evangelho em dois tempos.
	Na primeira parte (1, 14 a 8, 30) faz conhecer o Cristo, o Messias. João Batista que nunca é visto em si mesmo, mas sempre em relação a Jesus. João é uma voz, Jesus é o Senhor. João batiza na água, Jesus no Espírito Santo.
	A segunda parte propõe uma questão decisiva: Quem na verdade é Jesus? Mostra que susa identidade passa pelo sofrimento e pela cruz (8, 31; 9,31; 10, 32-34)
A estrutura do evangelho.
	1.Introdução (1, 1-13);	
	2.Ministério na Galiléia e arredores (1, 14; 10, 52);
	3.Ministério em Jerusalém (11 a 13);
	4.Paixão e ressurreição (14 a 16).
Quem é Jesus?
	a)Jesus é o Messias (hebraico ↔ grego = Ungido; 8, 29; 14, 61-62);
	b)Jesus é o Filho de Homem (2, 28; 13, 26), revela a descendência humana de Jesus;
	c)Jesus é Filho de Deus no batismo (1,11), na Transfiguração (9, 7) e quando diz “Eu sou” (14, 61-62 = Ex 3, 14);
	d)Jesus é o ressuscitado (16, 6) revelando o sentido da Sua identidade; 	
	e)Jesus é o caminho do discipulado (3, 14);
	f)Jesus, a plenificação da história (a história de Jesus é a história de Deus na trama da humanidade).
Destinatários.
	As comunidades cristãs que não provêm do judaísmo. Traz o roteiro de como deve ser a autenticidade do cristão. O caminho de Marcos não é saber apenas quem é Jesus, mas de como aceitar sua pessoa e seus ensinamentos, que exigem vida diferente. 
	Traz poucas citações do Antigo Testamento (18) e explica muito bem os costumes judaicos (cap. 7). Traduz palavras aramaicas como: “Boanerges” = filhos do trovão (3, 17) e “Talitá kum” = menina, levanta-te (5, 41).
	As comunidades sofrem perseguições. Estão com medo: medo de pregar e testemunhar a pessoa do Mestre e sua morte na cruz. Assim o evangelista os obriga a um sério confronto como Senhor.
	Marcos é representado pela figura de um Leão, porque começa a narração de seu Evangelho no deserto, onde mora a fera.
Evangelho de Lucas.
	O Evangelho de Lucas é o único de origem grega. Lucas não é Apóstolo, pertence à terceira geração dos discípulos de Jesus. Pessoa de cultura, conhecia a Bíblia e era bom escritor. Utiliza Marcos, fontes escritas e orais.
Destinatários.
	Os cristãos convertidos do paganismo, gregos e romanos. 
Apresenta a História da Salvação em 3 tempos.
	1.Tempo de preparação: é o tempo do povo de Israel no Antigo Testamento. Iahweh prepara o ambiente para a chegada do Messias (de Abraão até João Batista);
	2.Tempo de realização: é o tempo de Jesus e da Igreja. O tempo de Jesus que continua na Igreja;
	3.Tempo de conclusão: a história da salvação desabrocha na plenitude escatológica (Parusia).
Chaves de leitura.
	a)Evangelho do Espírito Santo – desde a anunciação a Maria (1, 1-38), passando por Isabel até Pentecostes; no Batismo (4, 1) a presença da Trindade; na Evangelização (4, 16-21) anunciada por Jesus na Sinagoga; a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2, 1-11);
	b)Evangelho do pobres – Zacarias e Isabel, João Batista, Maria, os pastores. Os pobres são chamados “felizes (6, 20); o povo simples acompanha Jesus; os doentes e pecadores possuem uma posição de mais proximidade com Cristo;
	c)Evangelho das mulheres – Maria (1, 26-45; 2, 1-19); a profetisa Ana (2, 36-39); as mulheres acompanham Jesus (8, 1-3); Marta e Maria (10, 38-42); a mulher encurvada (13, 11-17), as mulheres chorando a caminho do Calvário (23, 27-31); as mulheres no sepulcro na Páscoa (23, 55-56; 24, 1-11).
	d)Evangelho da misericórdia – Cristo veio salvar o que estava perdido; veio perdoar (o Bom Samaritano; 10, 33-37); apresenta três parábolas da misericórdia (15, 1-32); dá destaque para os desprezados: os pecadores (5, 31-31), a prostituta (7, 36-50), Zaqueu (19, 1-10), Pedro (22, 54-62), o ladrão na cruz (23, 40-43);
	e)Evangelho da oração – Jesus reza na multiplicação dos pães (9, 16); antes da escolha dos apóstolos (6, 12); na ceia (22, 17-19); na agonia do Getsêmani (22, 41-46); no batismo (3, 21), passa noites em oração ( 9, 18 . 28; 10, 21); na transfiguração (9, 28-29); antes do Pai-Nosso (11, 1); na confissão de Pedro (9,18); quando é crucificado (23, 34); quando morre (23, 46); no encontro com os discípulos de Emaús (24, 30);
	f)Evangelho da esperança – Isabel estéril concebe na velhice; Maria concebe antes de coabitar com José realizando a promessa de Deus; os anjos cantam em Belém; Simeão vê Jesus como consolação de Israel; Jesus lança a esperança para os doentes; a viúva de Naim;
	g)Evangelho do Antigo e do Novo Testamento – há uma continuidade entre os dois; Zacarias, Isabel, Simeão e Ana representam a harmonia entre promessa e realização; João é o elo e Jesus é a plenitude do Novo Testamento;
	Na figura que representa o Evangelho de Lucas é o Touro, porque inicia sua narrativa citando o Templo, onde eram imolados os bois em sacrifício.
	Os primeiros capítulos de Lucas – chamados de “evangelho da infância” – foram introduzidos pelo interesse das comunidades em saber algo da vida oculta de Jesus. Os primeiros esquemas de pregação, encontrados no Evangelho de Marcos e nos Atos, tinham em vista destacar a ação evangelizadora de Jesus desde o batismo até a ressurreição. Era a catequese fundamental das comunidades. Aos poucos, os cristãos queriam saber algo também dos inícios da vida de Jesus. Certamente Lucas terá consultado diversas fontes, entre as quais a própria Virgem Maria. Lucas coloca os fatos da infância numa perspectiva teológica. O evangelista quer destacar a origem humana de Jesus.
	Lucas também mostra que Jesus levou vida normal de criança, jovem e adulto. É carpinteiro e trabalha. Teologicamente isso é importante para manifestar um Deus perto da gente na normalidade da vida.
	No evangelho de Lucas, Jesus está constantemente se dirigindo a Jerusalém. A viagem possui um valor teológico. Jesus não o habitual caminho pelas margens do Jordão. Atravessa o centro do país, região habitada pelos samaritanos, uma terra excomungada pelos judeus e com gente tida como herege. O caminho mostra contradições, mas fidelidade de Jesus é o forte; vai levar salvação a todos. Nessa região vence a tentação arrogante dos apóstolos que buscam o recurso mais fácil e violento: o fogo do céu ... apresenta o modo simples de rezar ... Mostra missão dos 72 discípulos, abrindo horizontes de participação na evangelização ... Enfatiza o valor humano da compaixão pela cura dos doentes ... Relativiza as riquezas mostrando seus perigos ... Confronta-se coma os fariseus, que desejam sinais espetaculares, e Jesus responde com o sinal de Jonas (11, 29-30), ao mesmo tempo que mostra a vida incoerente dos fariseus, marcada por formalismos e tradições, e não por espírito interior de autenticidade.
	Tudo em Lucas converge para Jerusalém, onde tudo será consumado.
	
O Evangelho de João.
	João é caracterizado como “evangelista contemplativo”, porque suas mensagens são menos narrativas e mais teológicas. É representado pela figura da águia por pelo seu estilo elevado, fala da Divindade e do Mistério altíssimo do Filho de Deus, utiliza largamente a expressão “Eu Sou” para a auto-identificação de Jesus.
	João nos obriga entrar na vida de Deus e saboreá-la. João é um texto a ser lido em meditação. Cristo vem ao encontro e obriga a penetrar no seu mistério humano e divino. Os padres da Igreja chamam o evangelho de João de “Evangelho espiritual” (S. Clemente de Alexandria). O quarto evangelho está mais numa linha de catequese = aprofundamentos, do que numa linha de querigma = primeiro anúncio.
	A tradição antiga – e ainda muitos estudiosos de hoje – identificam o apóstolo João, filho de Zebedeu e Salomé, irmão de Tiago, um dos primeiros discípulos a ser chamado por Jesus junto do Lago de Genesaré (Mc 1, 19-20).
	A mãe de João era uma das mulheres afeiçoadas a Jesus, a ponto de estar presente no Calvário com a mãe de Jesus (Mc 15, 40) e junto no dia da Páscoa (Mc 16, 1). Nunca encontramos o nome “João” no Evangelho, mas sempre “o discípulo que Jesus amava” (13, 23; 19, 26).
	João, após Pentecostes, exerceu atividade missionária, que valeu o exílio na Ilha de Patmos no tempo da perseguição do imperador Domiciano (81-90 d.C.). Opina-se que escreveu o Evangelho em Éfeso na última década do primeiro século. Fragmentos encontrados atestam que o 4º evngelho já era conhecido no Egito no início do segundo século.
	João é teólogo da intimidade de Deus, que não teoriza, mas contempla Deus e nele e imerge. Fala de Cristo, não tanto para conhecê-lo, mas para vivê-lo.
	Cada gesto de Cristo é sinal da sua glória divina, cada palavra transmite “espírito e vida”. Cristo é um pedagogo catequista com fina psicologia (Nicodemos: 3, 1-15; a samaritana: 4, 7-26; o cego de nascença: 9, 35-41).
	No seio da Trindade vai encontrar o Verbo, a Palavra, uma palavra pessoal que é criadora, geradora de vida, luz do homem que vem ao mundo. Uma palavra encarnada que se pode ver, tocar, sentir, porque é uma “Palavra que se fez carne e veio morar entre nós” (1, 14).
João e os sinóticos.
	Marcos, Mateus e Lucas são mais narrativos e em João, Cristo é mais o mestre que toca na opção das pessoas como Palavra do que pelo milagre.
Algumas diferenças:
	
	Evangelho de João
	Os Sinóticos
	Os sinais
	- 7, sendo 4 próprios: bodas de Cana (2, 1-11); o homem da piscina em Betesda (5,1-9); o cego de nascimento (9, 1-7) e a ressurreição de Lázaro (11,1-44), e 3 comuns aos outros evangelistas: a cura do filho do funcionário do rei ((4, 46-54); a multiplicação dos pães ((6, 1-13) e o andar sobre as águas (6, 16-21).
- sinais da revelação da pessoa e missão de Jesus, da sua realidade divina escondida à humanidade.
	- 30.
- gestos de poder a causar estupor e admiração (=milagres).
	Os conteúdos
	- alegorias.
- a messianeidade: O Cordeiro (1, 29-34);
- promessa e sentido (6, 30-58).
	- parábolas.
- ditos

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