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A PSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL INTRODUÇÃO Chegou o momento de tratarmos, digamos, do uso ou aplicação da psicomotricidade no contexto da educação especial. O desenvolvimento do ser humano de modo global é tido como algo que exige conhecimento, reconhecimento e compreensão por parte de quem busca a construção de determinados conceitos no processo de aprendizagem. Desse modo, a psicomotricidade em sua amplitude busca possibilitar oportunidades e desenvolver integrações sociais, educacionais, ambientais, econômicas e culturais, para que o educando possa atingir a maturidade de modo processual, consciente e integrado (FREITAS, ISRAEL, 2008). De acordo com Barros e Barros (2005) “a psicomotricidade é vista como ação educativa integrada e fundamentada na comunicação, na linguagem e nos movimentos naturais conscientes e espontâneos. Tem como finalidade normalizar e aperfeiçoar a conduta global do ser humano”. Ao trabalhar com educandos considera-se o ritmo próprio de cada um em seu processo de crescimento e desenvolvimento humano. Este princípio deve ser considerado também em situações de pessoas com múltiplas deficiências que vivem em condição de permanente abrigo institucional. Quando esse educando encontra- se em uma realidade tão particular é preciso que haja uma atenção ainda maior em relação ao seu ritmo de aprendizagem considerando o próprio contexto social e educacional, pois o seu aprendizado dependerá diretamente do vínculo que o próprio educando cria com o meio que convive. Devemos concordar com a afirmação de Levitt (1997, p.18): “mesmo quando uma criança apresenta limitações, alguma habilidade ainda resta”. Com isso, vem a grande motivação para quem está auxiliando neste processo de aprendizagem e/ou estimulação, que cada vez mais fortalece o acreditar no potencial e receptividade de cada educando. Então, no processo do aprendizado, as atividades desenvolvidas e os conhecimentos adquiridos por meio de estratégias especiais devem ser significativos para o aluno especial, também devem ser concretas e em geral envolvem aspectos ou princípios ou conceitos psicomotores. Cabe lembrar que toda ação da pessoa é permeada pela psicomotricidade e por isso é uma ação educativa dentro do desenvolvimento humano em seus diversos aspectos, como, por exemplo, noção espacial, de lateralidade, esquema e imagem corporal, entre outros. Pois bem, ao longo deste material vamos analisar as possibilidades reais de uso da psicomotricidade no universo da educação especial. Nos esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos. Mais uma vez desejamos e esperamos que os futuros especialistas em Psicomotricidade reflitam sobre seu papel e a contribuição que podem dar para o desenvolvimento motor, emocional e intelectual do ser humano, agora focando os portadores de necessidades especial, algumas vezes isolados e outras vezes fragilizado pelo seu semelhante. Ressaltamos que o material para estudo trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos. 1 A DEFICIÊNCIA MENTAL Podemos dizer que já algumas décadas a literatura apresenta aos educadores e terapeutas informações cada vez mais elaboradas sobre os portadores de necessidades especiais, dentre eles o Deficiente Mental (DM). A ciência, por sua vez, se preocupa em estudar de maneira profunda esses indivíduos, para solucionar várias problemáticas que os acompanham, haja vista que ainda não temos muito a saber sobre os mesmos (REZENDE ET AL, 2003). Os mesmos autores ressaltam que as razões para a mensuração em alunos com deficiência são as mesmas para quaisquer outros grupos, principalmente se levarmos em conta que, mesmo polemizado por alguns estudiosos, as estimativas da Organização das Nações Unidas - ONU (1981) apontam que pelo menos 10% da população mundial apresenta algum tipo de deficiência e que a deficiência mental é responsável pela maior parte desse percentual. E segundo dados do IBGE – censo 2000 - no Brasil há 25,5 milhões de portadores de necessidades especiais, que equivale a 14,5% da população e dentre este número, 8,3% possui deficiência mental. 1.1 Distinguindo deficiência mental de doença mental A deficiência intelectual ou mental conhecida por problemas com origem no cérebro e que causam baixa produção de conhecimento, dificuldade de aprendizagem e um baixo nível intelectual. Entre as causas mais comuns deste transtorno estão os fatores de ordem genética, as complicações ocorridas ao longo da gestação ou durante o parto e as pós-natais. O grande enigma que se coloca diante dos pesquisadores é como detectar ainda na vida dentro do útero estas características (SANTANA, 2007). Embora seja possível identificar a maior parte dos casos de deficiência mental na infância, infelizmente este distúrbio só é percebido em muitas crianças quando elas começam a frequentar a escola. Isso acontece porque esta patologia é encontrada em vários graus, desde os mais leves, passando pelos moderados, até os mais graves. Nos casos mais sutis, os testes de inteligência direcionados para os pequenos não são nada confiáveis, torna-se então difícil detectar esse problema. Nos centros educacionais as exigências intelectuais aumentam e aí a deficiência mental torna-se mais explícita. Segundo Santana (2007) um mito em torno da Deficiência Mental, e isso influi no diagnóstico, é acreditar que a criança com este problema tem a aparência física diferente das outras. Como foi dito acima, as de grau mais leve não aparentam ser deficientes, assim não se deve esperar encontrar este sinal clínico para caracterizar a pessoa com necessidades especiais. Pode-se encontrar uma exceção nos que acusam um distúrbio mais grave e severo, assim como na Síndrome de Down, que apresentam em comum fisionomias semelhantes. Como a deficiência mental está entre as síndromes consideradas anormais, é importante definir o que é normal para os especialistas, quais referências eles adotam para estabelecerse uma criança possuiu alguma deficiência. O fator mais associado à ideia de normalidade é a capacidade da criança de se adequar ao objeto ou ao seu universo. Mas geralmente este distúrbio psíquico é considerado como uma condição relativa da mente, comparada com as outras pessoas de uma mesma sociedade. O tratamento deve incluir o acompanhamento simultâneo do médico, do fisioterapeuta, da terapia ocupacional, do fonoaudiólogo, do psicólogo, do pedagogo, entre outros. Assim, é possível amenizar as consequências deste problema. O diagnóstico precoce também é fundamental para oferecer à criança uma melhor qualidade de vida e resultados mais eficientes – estas técnicas de detecção prematura, realizadas por vários profissionais ligados aos campos da reabilitação e da puericultura, ramo da medicina que ensina a criar e a desenvolver moral e fisicamente as crianças, são conhecidas como Avaliação do Desenvolvimento e Estimulação Precoce. Como a criança tem suas funções intelectuais comprometidas, ela pode também ter dificuldades em seu desenvolvimento e no seu comportamento, principalmente no aspecto da adequação ao contexto a que pertence, mas igualmente nas esferas da comunicação, do cuidado consigo mesma, dos talentos sociais, da interação familiar, da saúde, na segurança, no desempenho acadêmico, no lazer e no campo profissional. A deficiência intelectual manifesta-se no paciente sempre no estágio anterior aos dezoito anos de idade. Assim fica claro que, ao contrário da Demência, a Deficiência Mental se caracteriza pelos transtornos no desenvolvimento, não por degenerações cognitivas. É importante não confundir Deficiência Mental ou Intelectual com Doença Mental. A pessoa com necessidades especiais mantém a percepção de si mesmo e da realidade que a cerca, sendo capaz de tomar decisões importantes sobre sua vida. Já o doente mental tem seu discernimento comprometido, caracterizando um estado da mente completamente diferente da deficiência mental, embora 20 a 30% dos deficientes manifestem algum tipo de ligação com qualquer espécie de doença mental, tais como a síndrome do pânico, depressão, esquizofrenia, entre outras. As doenças mentais atingem o comportamento das pessoas, pois lesam outras áreas cerebrais, não a inteligência, mas o poder de concentração e o humor (SANTANA, 2007). A Deficiência mental é definida pela AAMR (American Association for Mental Retardation) como indivíduos que possuem comprometimento intelectual associado a limitações do comportamento adaptativo em duas ou mais das áreas seguintes: comunicação, cuidados pessoais, vida escolar, habilidades sociais, desempenho na comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer, trabalho; com tais manifestações ocorrendo até a idade de 18 anos de idade. O diagnóstico e classificação são algumas das questões polêmicas que acompanham a DM. É de certo modo bastante discutido os procedimentos utilizados para estabelecer o diagnóstico, dando oportunidade para o desenvolvimento de diferentes opiniões sobre este assunto. Dentre estas, há o modelo médico, que busca como fator etiológico da DM as alterações orgânicas; o modelo psicopedagógico, onde o alvo do diagnóstico pode ser o QI (Quociente intelectual), o desempenho psicomotor, estágio de desenvolvimento cognitivo, além de outras considerações; e por fim, o modelo social que propõe a avaliação da conduta adaptativa, tanto para o diagnóstico como para a possibilidade de ações educacionais e melhoria nas condições de vida dos indivíduos. O desenvolvimento psicomotor, utilizado pelo enfoque psicoeducacional, é avaliado pelo conhecimento de sua importância como pré-requisito para o desenvolvimento de habilidades acadêmicas. A avaliação psicomotora geralmente ocorre devido a vários propósitos. Em geral, avalia-se o aluno pela tentativa de se identificar alguma dificuldade psicomotora, de forma que possa ser elaborado um programa de treinamento para a estimulação de tais habilidades não adquiridas. Em outros casos, os alunos que possuem dificuldades acadêmicas são avaliados como uma tentativa de se identificar em que medida as dificuldades psicomotoras podem estar influenciando o desempenho acadêmico. E finalmente estes testes também são usados para se diagnosticar lesões cerebrais e comportamentais. Para a avaliação psicomotora, a revisão de literatura apresenta diversos instrumentos e testes, como a BPM de Vítor da Fonseca, além de trabalhos científicos, principalmente teses e dissertações, que por sua vez colaboram para o aprofundamento dos conhecimentos e na padronização de avaliações específicas para o deficiente mental. Entretanto, por se tratar de indivíduos que apresentam dificuldades adaptativas, cria-se a necessidade de um maior número de pesquisas para a elaboração de avaliações confiáveis. A BPM é um dos instrumentos que estudos como os de Rezende et al mostram ser de fácil utilização principalmente quando os fatores são analisados de forma individual.