Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

1
1
2
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
3a EDIÇÃO/2024
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 6
2. ESTUPRO - ART. 213, CP 7
2.1. ASPECTOS INICIAIS 7
2.2. PENA DO ESTUPRO E PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE 8
2.3. OBJETIVIDADE JURÍDICA 8
2.4. OBJETO MATERIAL 8
2.5. CONDUTA 9
2.6. PLURALIDADE DE ATOS NOMESMO CONTEXTO FÁTICO 12
2.7. SUJEITO ATIVO 12
2.8. SUJEITO PASSIVO 12
2.9. ELEMENTO SUBJETIVO 12
2.10. CONSUMAÇÃO 13
2.11. TENTATIVA 13
2.12. AÇÃO PENAL 13
2.13. ESTUPRO QUALIFICADO PELA LESÃO GRAVE OU MORTE - ART. 213, §1 E §2 14
2.14. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - ART. 226 16
2.15. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - ART. 234-A 17
2.16 CLASSIFICAÇÃO 18
3. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE - ART. 225, CP 18
3.1. ASPECTOS INICIAIS 19
3.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA 19
3.3. CONDUTA 19
3.4. SUJEITO ATIVO 19
3.5. SUJEITO PASSIVO 19
3.6. TIPO SUBJETIVO 20
3.7. CONSUMAÇÃO 20
3.8. AÇÃO PENAL 20
3.9 CLASSIFICAÇÃO 20
4. IMPORTUNAÇÃO SEXUAL - ART. 215-A, CP 21
4.1. ASPECTOS INICIAIS 21
4.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA 21
4.3. CONDUTA 21
4.4. ELEMENTO SUBJETIVO 22
4.5. SUJEITO ATIVO 22
4.6. SUJEITO PASSIVO 22
4.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 22
4.8. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 22
4.9. AÇÃO PENAL 22
4.10 CLASSIFICAÇÃO 23
5. ASSÉDIO SEXUAL - ART. 216-A, CP 24
5.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 24
5.2. OBJETO MATERIAL 24
5.3. CONDUTA 24
5.4. SUJEITO ATIVO 24
5.5. SUJEITO PASSIVO 25
5.6. ELEMENTO SUBJETIVO 25
3
5.7. CONSUMAÇÃO OU TENTATIVA 25
5.8. AÇÃO PENAL 25
5.9. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - ART. 216-A, §2º 26
5.10 CLASSIFICAÇÃO 26
6. REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL - ART. 216-B, CP 26
6.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 27
6.2. CONDUTA 27
6.3. SUJEITO ATIVO 27
6.4. SUJEITO PASSIVO 27
6.5. CONSUMAÇÃO 28
6.6. AÇÃO PENAL 28
6.7. FIGURA EQUIPARADA “PORNOGRAFIA DE VINGANÇA” - ART. 216-B, PARÁGRAFO ÚNICO 28
6.9.1 ELEMENTO SUBJETIVO 28
6.9.2. CONSUMAÇÃO 28
6.10. CLASSIFICAÇÃO 28
7. ESTUPRO DE VULNERÁVEL - ART. 217-A, CP 29
7.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 29
7.2. CONDUTA 30
7.3. SUJEITO ATIVO 34
7.4. SUJEITO PASSIVO 34
7.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 37
7.6. ESTUPRO DE VULNERÁVEL PRATICADO EM CONTINUIDADE DELITIVA 37
7.7. AÇÃO PENAL 38
7.8 JURISPRUDÊNCIA 39
7.8 CLASSIFICAÇÃO 40
8. CORRUPÇÃO DE MENORES - ART. 218, CP 41
8.1. ASPECTOS INICIAIS 41
8.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA 41
8.3. CONDUTA 41
8.4. SUJEITO ATIVO 41
8.5. SUJEITO PASSIVO 41
8.6. CONSUMAÇÃO 42
8.7. AÇÃO PENAL 42
9. SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE - ART. 218-A. CP
42
9.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 42
9.2. CONDUTA 43
9.3. SUJEITO ATIVO 43
9.4. SUJEITO PASSIVO 44
9.5. ELEMENTO SUBJETIVO 44
9.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 44
9.7. AÇÃO PENAL 44
9.8 CLASSIFICAÇÃO 44
10. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE
CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL - ART. 218-B, CP 45
10.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 45
10.2. CONDUTA 45
10.3. SUJEITO ATIVO 45
10.4. SUJEITO PASSIVO 46
10.5. ELEMENTO SUBJETIVO 46
4
10.6. CONSUMAÇÃO 46
10.7. FIGURAS EQUIPARADAS - ART. 218-B, §2º 47
10.8 CLASSIFICAÇÃO 47
10.9 JURISPRUDÊNCIA 48
11. DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE
SEXO OU DE PORNOGRAFIA - ART. 218-C, CP 48
11.1. ASPECTOS INICIAIS 48
11.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA 49
11.3. CONDUTA 49
11.4. SUJEITO ATIVO 49
11.5. SUJEITO PASSIVO 49
11.6. ELEMENTO SUBJETIVO 50
11.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 50
11.8. AÇÃO PENAL 50
11.9. CAUSA DE AUMENTO DE PENA - ART. 218-C, §1º 50
11.10. EXCLUSÃO DE ILICITUDE - ART. 218-C, §2º 50
11.11 CLASSIFICAÇÃO 51
12. DISPOSIÇÕES GERAIS 51
12.1. AÇÃO PENAL - ART. 225, CP 51
12.2. AUMENTO DE PENA - ART. 226, CP 52
13. MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM - ART. 227, CP 53
13.1. SUJEITO ATIVO 53
13.2. SUJEITO PASSIVO 53
13.3. OBJETO JURÍDICO 53
13.4. OBJETO MATERIAL 53
13.5. ELEMENTOS OBJETIVOS 54
13.6. ELEMENTOS SUBJETIVO 54
13.7. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO ESPECÍFICO 54
13.8. FIGURA QUALIFICADA 54
13.9. CLASSIFICAÇÃO 54
14. CASA DE PROSTITUIÇÃO - ART. 229, CP 55
14.1. SUJEITO ATIVO 55
14.2. SUJEITO PASSIVO 55
14.3. OBJETO MATERIAL 55
14.4. OBJETO JURÍDICO 55
14.5. ELEMENTO SUBJETIVO 55
14.6. CLASSIFICAÇÃO 55
14.7. TENTATIVA 56
14.8. CIRCUNSTÂNCIAS ESPECIAIS 56
14.9 JURISPRUDÊNCIA 56
15. RUFIANISMO - ART. 230, CP 57
15.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 57
15.2. CONDUTA 57
15.3. SUJEITO ATIVO 57
15.4. SUJEITO PASSIVO 57
15.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 58
15.6. AÇÃO PENAL 58
15.7. FIGURAS QUALIFICADAS (Art. 230, §1º e 2º) 58
5
16. PROMOÇÃO DE MIGRAÇÃO ILEGAL - ART. 232-A, CP 58
16.1. SUJEITO ATIVO 59
16.2. SUJEITO PASSIVO 59
16.3. OBJETO JURÍDICO 59
16.4. OBJETO MATERIAL 59
16.5. ELEMENTO OBJETIVO DO TIPO 59
16.6. ELEMENTO SUBJETIVO 59
16.7. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO ESPECÍFICO 59
16.8. CLASSIFICAÇÃO 59
17. ATO OBSCENO - ART. 233, CP 60
17.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA 60
17.2. CONDUTA 60
17.3. SUJEITO ATIVO 60
17.4. SUJEITO PASSIVO 60
17.5. ELEMENTO SUBJETIVO 60
17.6. CONSUMAÇÃO 61
17.7. AÇÃO PENAL 61
18. ESCRITO OU OBJETO OBSCENO 61
18.1. PREVISÃO LEGAL 61
18.2. SUJEITO ATIVO 61
18.2. SUJEITO PASSIVO 62
18.3. OBJETO MATERIAL 62
18.4. OBJETO JURÍDICO 62
18.5. ELEMENTO SUBJETIVO 62
18.6. CLASSIFICAÇÃO 62
19. DISPOSIÇÕES GERAIS 62
19.1 AUMENTO DE PENA - ART. 234-A, CP 62
19.2 SEGREDO DE JUSTIÇA - ART. 234-B, CP 63
20. QUADRO COMPARATIVO - CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL 63
6
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O “Título VI - Dos crimes contra a dignidade sexual” inicia-se a partir do art. 213 do CP e vai até o art. 234
do CP, subdividindo-se da seguinte maneira:
● Título VI - Dos crimes contra a dignidade sexual
○ Capítulo I - Dos crimes contra a liberdade sexual
■ Estupro (art. 213)
■ Violação sexual mediante fraude (art. 215)
■ Importunação sexual (art. 215-A)
■ Assédio sexual (art. 216-A)
○ Capítulo I-A - Da exposição da intimidade sexual
■ Registro não autorizado da intimidade sexual (art. 216-B)
○ Capítulo II - Dos crimes sexuais contra vulnerável
■ Estupro de vulnerável (art. 217-A)
■ Corrupção de menores (art. 218)
■ Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (art. 218-A)
■ Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B)
■ Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena
de sexo ou de pornografia (art. 218-C)
○ Capítulo IV - Disposições gerais
■ Ação penal (art. 225)
■ Aumento de pena (art. 226)
○ Capítulo V - Do lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra
forma de exploração sexual
■ Mediação para servir a lascívia de outrem (art. 227)
■ Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (art. 228)
■ Casa de prostituição (art. 229)
■ Rufianismo (art. 230)
■ Promoção de migração ilegal (art. 232-A)
○ Capítulo VI - Do ultraje público ao pudor
■ Ato obsceno (art. 233)
■ Escrito ou objeto obsceno (art. 234)
○ Capítulo VII - Disposições gerais
■ Aumento de pena (art. 234-A)
■ Sigilo processual (art. 234-B)
7
2. ESTUPRO - ART. 213, CP
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 a 10 anos.
2.1. ASPECTOS INICIAIS
Antes de adentrarmos ao estudo específico do crime em análise, é necessário entendermos que a Lei
n. 12.015/2009 expressamente revogou o art. 214 do Código Penal, que tipificava o crime de atentado violento
ao pudor. Não se trata, entretanto, de caso de abolitio criminis, porque a mesma lei, também de forma
expressa, passou a tratar como crime de estupro todas as condutas que antes caracterizavam o atentado
violento. Trata-se, portanto, do princípio da continuidade normativo-típica.
Já no que concerne ao crime de estupro, este busca tutelar a dignidade sexual da vítima, constrangida
mediante violência ou grave ameaça.
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto do Estado de Roraima (Banca: Instituto AOCP,
Ano: 2023), foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva “A revogação do artigo 214 do Código Penal pela
Lei nº 12.015/09a proteção da criança e do adolescente quanto à
sua dignidade e respeito (art. 227), proclamando, ainda, a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos
do Estado Democrático de Direito (1º, III) e o caminho da sociedade livre, justa e fraterna como objetivo central da
República (preâmbulo e art. 3º, III). Assim, proclamar uma censura penal no cenário fático esquadrejado nestes
autos é intervir, inadvertidamente, na nova unidade familiar de forma muito mais prejudicial do que se pensa sobre
a relevância do relacionamento e da relação sexual prematura entre vítima e recorrente.
9. Há outros aspectos, na situação em foco, que afastam a ocorrência da objetividade jurídica do art. 217-A
do CP. Refiro-me ao nascimento do filha das partes que merece absoluta proteção.
Submeter a conduta dos envolvidos à censura penal ocasionará na vítima e em sua filha traumas muito mais
danosos que se imagina que eles teriam em razão da conduta imputada ao impugnante. No jogo de pesos e
contrapesos jurídicos não há, neste caso, outra medida a ser tomada: a opção absolutória na perspectiva da
atipicidade material. - Essa particular forma de parametrar a interpretação das normas jurídicas (internas ou
internacionais) é a que mais se aproxima da Constituição Federal, que faz da cidadania e da dignidade da pessoa
humana dois de seus fundamentos, bem como tem por objetivos fundamentais erradicar a marginalização e
construir uma sociedade livre, justa e solidária (incisos I, II e III do art.3º). Tudo na perspectiva da construção do tipo
ideal de sociedade que o preâmbulo da respectiva Carta Magna caracteriza como "fraterna" (HC n. 94163, Relator
Min. Carlos Britto, julgado em 2/12/2008, DJe 22/10/2009).
(AgRg no RHC 136.961/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 15/06/2021,
DJe 21/06/2021).
10. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp n. 2.019.664/CE, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 13/12/2022,
DJe de 19/12/2022.)
1. A Terceira Seção, no julgamento do REsp 1.480.881/PI, submetido ao rito dos recursos repetitivos, reafirmou a
orientação jurisprudencial, então dominante, de que é absoluta a presunção de violência em casos da prática de
conjunção carnal ou ato libidinoso diverso com pessoa menor de 14 anos.
2. A presente questão enseja distinguishing quanto ao acórdão paradigma da nova orientação
jurisprudencial, pois, diante dos seus componentes circunstanciais, verifica-se que o réu possuía, ao tempo
do fato, 19 anos de idade, ao passo que a vítima, adolescente, contava com 12 anos de idade, sendo que, do
relacionamento amoroso, resultou no nascimento de um filho, devidamente reconhecido, fato social
relevante que deve ser considerado no cenário da acusação.
3. "Para que o fato seja considerado criminalmente relevante, não basta a mera subsunção formal a um tipo penal.
Deve ser avaliado o desvalor representado pela conduta humana, bem como a extensão da lesão causada ao bem
jurídico tutelado, com o intuito de aferir se há necessidade e merecimento da sanção, à luz dos princípios da
fragmentariedade e da subsidiariedade" (RHC 126.272/MG, Relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma,
julgado em 1/6/2021, DJe 15/6/2021).
4. Considerando as particularidades do presente feito, em especial, a vontade da vítima de conviver com o
recorrente e o nascimento do filho do casal, somados às condições pessoais do acusado, denotam que não
houve afetação relevante do bem jurídico a resultar na atuação punitiva estatal.
5. "A manutenção da pena privativa de liberdade do recorrente, em processo no qual a pretensão do órgão
acusador se revela contrária aos anseios da própria vítima, acabaria por deixar a jovem e o filho de ambos
desamparados não apenas materialmente, mas também emocionalmente, desestruturando e entidade
familiar constitucionalmente protegida" (REsp n. 1.524.494/RN e AREsp 1.555.030/GO, Relator Ministro Ribeiro
33
Dantas, julgado em 18/5/2021, DJe 21/5/2021).
6. Recurso especial provido. Restabelecimento da decisão que rejeitou a denúncia.
(REsp n. 1.977.165/MS, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), relator para
acórdão Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 16/5/2023, DJe de 25/5/2023.)
Já no ano de 2024, manifestou-se o Superior Tribunal de Justiça no sentido de que a constituição da
família não exclui, per se, a punibilidade do crime de estupro de vulnerável, nos seguintes termos:
1. Para a caracterização do delito de estupro de vulnerável, é irrelevante eventual consentimento da vítima para a
prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o réu, haja vista a
presunção absoluta da violência em casos da prática de conjunção carnal ou ato libidinoso diverso com pessoa
menor de 14 anos. Súmula n. 593 do STJ.
2. Na espécie, a ofendida, à época com 13 anos de idade, foi submetida à prática de conjunção carnal. O réu,
naquele tempo, contava 20 anos de idade.
3. A gravidez da vítima, em decorrência do conúbio sexual, e o nascimento de uma criança dessa relação não
diminui a responsabilidade penal; ao contrário, por força de lei, incrementa a reprovabilidade da ação,
atraindo mesmo uma causa de aumento de pena (art. 234-A, III, do CP);
4. A constituição de família não exclui, per se, a punibilidade da conduta e tal alegação não se coaduna com
o caso dos autos, pois, além de o réu não haver registrado a criança, o seu relacionamento com a vítima não
subsiste.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no HC n. 849.912/MG, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 20/2/2024, DJe de
6/3/2024.)
Importante perceber que existem julgados do STJ que excepcionam a punição do autor do crime de estupro de
vulnerável – por razões humanitárias e de ponderação dos interesses e dos bens em conflito -, conforme vimos no
julgamento do REsp 1.977.165/MS. Contudo, esse não se confunde com o caso acima, já que há registro de que o
relacionamento não subsiste e que não houve concordância dos pais.
📌 OBSERVAÇÕES
■ É necessário atentar ao fato de que o legislador não exige violência ou grave ameaça para
configuração do delito, bastando que uma das situações de vulnerabilidades previstas, objetivamente, ocorra.
Porém, em havendo violência física ou grave ameaça contra pessoa vulnerável tal aspecto deverá ser levado em
conta pelo juiz na fixação da pena-base (art. 59 do CP) .36
■ Há uma presunção absoluta de vulnerabilidade da vítima menor de 14 anos, bem como do enfermo
ou deficiente mental que não possui o necessário discernimento para a prática do ato, e, por fim, daquele que,
por qualquer razão, não pode oferecer resistência.
■ Desconhecimento da idade da vítima.
1. Hipótese em que o réu foi denunciado pela prática de estupro de vulnerável por manter conjunção carnal
36 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 659.
34
com vítima menor de 14 anos, quando mantinham relacionamento afetivo.
2. Caso em que o réu foi absolvido da prática do delito de estupro de vulnerável diante do desconhecimento
da idade da vítima.
3. O desconhecimento da idade da vítima pode circunstancialmente excluir o dolo do acusado quanto à
condição de vulnerável, mediante a ocorrência do chamado erro de tipo (art. 20 do CP).
4. A análise acerca da ocorrência de erro quanto à idade da vítima implicaria o necessário reexame do
conteúdo fático-probatório dos autos, o que é vedado no julgamento do recurso especial, nos termos da
Súmula 7 deste Superior Tribunal de Justiça.
5. Recurso desprovido. (STJ, REsp n. 1.746.712/MG, relator Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em
14/8/2018, DJe de 22/8/2018.)
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ERRO DE TIPO. POSSIBILIDADE DE
RECONHECIMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNALDE JUSTIÇA - STJ. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Esta Corte tem entendido que, circunstancialmente, o desconhecimento acerca da idade da apontada
vítima pode afastar o dolo do acusado.
2. No caso concreto, tanto o juízo sentenciante quanto o Tribunal a quo entenderam que o erro de tipo
encontra justificativa nos elementos da narrativa do fato, sendo que desconstituir tal entendimento implicaria
em revolvimento fático-probatório, inviável em função da incidência da Súmula n. 7/STJ.
3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg no REsp n. 1.810.576/MG, relator Ministro Joel Ilan
Paciornik, Quinta Turma, julgado em 10/3/2020, DJe de 24/3/2020.)
É possível desclassificar o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) para o delito de
importunação sexual (art. 215-A do CP)?
Presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato libidinoso com
menor de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), independentemente da
ligeireza ou da superficialidade da conduta, não sendo possível a desclassificação para o delito de
importunação sexual (art. 215-A do CP).
STJ. 3ª Seção. REsp 1959697-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 08/06/2022 (Recurso Repetitivo – Tema
1121) (Info 740).37
🚨JÁ CAIU
Esse entendimento foi cobrado na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-MS (Banca: FAPEC, Ano:
2021). A banca considerou correta a seguinte assertiva: “Com o advento da Lei nº 12.015/09, que deu novo
tratamento aos denominados "Crimes contra a Dignidade Sexual", caiu por terra a causa de aumento prevista
no art. 9º da Lei nº 8.072/90, devendo ser aplicado ao condenado por estupro ou atentado violento ao pudor,
praticados mediante violência ou grave ameaça a menor de 14 anos, o preceito secundário do art. 217-A do
Código Penal.”
“Em razão do princípio da especialidade, é descabida a desclassificação do crime de estupro
37 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível desclassificar o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) para o delito de importunação sexual
(art. 215-A do CP)?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 26/11/2022
35
de vulnerável (art. 217-A do Código Penal - CP) para o crime de importunação sexual (art. 215-A
do CP), uma vez que este é praticado sem violência ou grave ameaça, e aquele traz ínsito ao seu
tipo penal a presunção absoluta de violência ou de grave ameaça”. (Julgados: HC 568088/SP,
Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 02/06/2020, DJe 10/06/2020).
🚨JÁ CAIU
Essa posição jurisprudencial foi cobrada na prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-MG (Banca: FGV, Ano:
2022). O enunciado da questão era o seguinte: “No dia 20/04/2021, Apolo, de 20 (vinte) anos de idade, com o
objetivo de controlar o comportamento social da sua irmã Artemis, de 9 (nove) anos de idade completos,
aproveitando-se que a vítima estava distraída ouvindo música, apalpou seus seios, praticando esse único
ato. Considerando o entendimento dos Tribunais Superiores e as disposições previstas no Código Penal
acerca dos crimes contra a dignidade sexual, analise as afirmativas a seguir.”
Em face desse caso hipotético, a banca considerou correta a seguinte assertiva: “Apolo cometeu o crime
disposto no Art. 217-A do Código Penal (estupro de vulnerável), visto que a presunção de violência é absoluta
e deve-se usar o princípio da especialidade no caso”.
7.3. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa (crime comum).
7.4. SUJEITO PASSIVO
a) Menores de 14 anos (critério biológico – etário), não importando, nesse caso, a capacidade mental
de entender. Se o ato for realizado no dia do 14º aniversário, a vítima não é mais considerada vulnerável.38
📌 OBSERVAÇÕES
■ Trata-se de um critério objetivo, não comportando uma análise concreta se a vítima, menor de 14
anos, era ou não vulnerável, uma vez que, pela jurisprudência dos Tribunais Superiores, há uma presunção
absoluta de vulnerabilidade. Vejamos:
Súmula 593-STJ: O crime de estupro de vulnerável configura-se com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática do ato,
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.
■ Não é necessário o contato físico entre agente e vítima, desde que haja envolvimento físico desta no
ato sexual, mediante a prática de ato libidinoso (automasturbação, por exemplo).
■ Para o STJ, não é aplicável a Exceção de Romeu e Julieta ao crime de estupro de vulnerável. Tal teoria
defende que não haveria crime se a diferença de idade entre autor e vítima não superasse os 5 anos,
relativizando, portanto, a vulnerabilidade.
■ O STJ reconheceu que o mentor intelectual dos atos libidinosos responde pelo crime de estupro de
38 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 659.
36
vulnerável. Assim, doutrina e jurisprudência sustentam a prescindibilidade do contato físico direto do réu com a
vítima, a fim de priorizar o nexo causal entre o ato praticado pelo acusado, destinado à satisfação da sua
lascívia, e o efetivo dano à dignidade sexual sofrido pela ofendida. STJ. 6a Turma. HC 478.310 - Rel. Min. Rogério
Schietti, julgado em 09/02/2021 (Info 685).
🚨JÁ CAIU
Esse entendimento foi cobrado na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-MS (Banca: FAPEC, Ano:
2021).
A banca considerou correta a seguinte assertiva: “É possível a responsabilização criminal por estupro de
vulnerável (art. 217-A, CP) daquele que incita terceiro a praticar atos libidinosos, em face de vítima infante,
mediante envio de imagens via aplicativo virtual, a fim de satisfazer a própria lascívia”.
b) Pessoa que, por doença mental ou enfermidade, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato. (critério biopsicológico).
📌 OBSERVAÇÕES
■ O simples ato de manter relação sexual com pessoa portadora de deficiência não é crime, só restará
configurado o delito em análise quando a vítima não possuir o completo discernimento para prática do ato. Em
outras palavras, o agente se vale dessa vulnerabilidade (incapacidade de completo discernimento) para praticar
a conjunção carnal ou outro ato libidinoso com a vítima.
■ Se é retirada totalmente da vítima sua capacidade de resistência, trata-se de estupro de vulnerável;
se a vítima possuía capacidade de resistência, ou seja, agia com vontade, embora viciada pela fraude, trata-se
de violação sexual mediante fraude.
■ Para a comprovação do crime é necessária a realização de perícia médica para a constatação de que o
problema mental retirava por completo da vítima o discernimento para o ato sexual.
■ O art. 6º, II, do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) dispõe que a deficiência não
afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para exercer direitos sexuais e reprodutivos. Tal dispositivo,
portanto, reforça a conclusão de que pessoas com doença mental têm também direito de exercer sua
sexualidade, exceto — de acordo com o Código Penal — se a enfermidade lhe retirar por completo a
capacidade de entendimento.39
Toda pessoa com enfermidade ou deficiência mental será considerada vulnerável, para os fins do art.
217-A do CP? NÃO. Pela leitura do § 1º do art. 217-A do CP, pode-se concluir que a pessoa com enfermidade ou40
deficiência mental somente será considerada vulnerável para fins de estupro de vulnerável se ela não tiver “o
necessário discernimento para a prática do ato”.
Se o agente praticar conjunção carnal (penetração vaginal) ou outro ato libidinoso (ex: coito anal)
40 https://www.buscadordizerodireito.com.br/juscom/artigo/0b6ace9e8971cf36f1782aa982a708db?lei=2&artigo=3351
39 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponívelem: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 659.
37
com uma pessoa vulnerável, haverá o crime do art. 217-A do CP mesmo que a vítima consinta (concorde) com
o ato sexual?32 A resposta é sim. O STJ apreciou o tema e, a fim de que não houvesse mais dúvidas quanto a
isso, editou um enunciado nos seguintes termos: Súmula 593-STJ: O crime de estupro de vulnerável se configura
com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual
consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento
amoroso com o agente.
c) Por fim, pessoa que, por qualquer motivo, é incapaz de oferecer resistência (permanente ou
transitória). Não importa se o motivo da incapacidade de defesa da vítima seja prévio, provocado pelo agente
ou causado por ela própria.
Para fins de caracterização da vulnerabilidade da vítima maior de idade e portadora de enfermidade mental, é
permitido ao juiz, mesmo que sem a presença de laudo pericial, aferir a existência do necessário
discernimento para a prática do ato ou a impossibilidade de oferecer resistência à prática sexual, desde que
mediante decisão devidamente fundamentada, atendendo ao princípio do livre convencimento motivado. (STJ,
HC 542.030, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, j. 06.02.2020)
Dispõe o art. 217-A, § 1º, do Código Penal, que também se configura o crime de estupro de vulnerável quando
é praticado contra pessoa que, “por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”. O estado de sono
pode significar circunstância que retira da vítima a capacidade de oferecer resistência. (STJ, AgRg no HC
489.684, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma, j. 19.11.2019)
🚨JÁ CAIU
Esse posicionamento foi cobrado na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-SC (Banca: CESPE/
CEBRASPE, Ano: 2021). A banca considerou correta a seguinte assertiva: “A prática sexual com pessoa em
estado de sono caracteriza estupro de vulnerável”.
7.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
No momento em que se realiza a conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
É possível a tentativa.
É pacífica a compreensão desta Corte no sentido de que para a consumação do crime de estupro de
vulnerável, basta a prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, sendo suficiente a conduta de
fazer a vítima sentar-se no colo do autor do fato e passar a mão em seu corpo, inclusive nas partes
íntimas, como na espécie. A Corte de origem, ao reconhecer a forma tentada do delito de estupro de
vulnerável ao fundamento de que não houve penetração, atua em desconformidade com o entendimento da
jurisprudência acerca do tema.
7.6. ESTUPRO DE VULNERÁVEL PRATICADO EM CONTINUIDADE DELITIVA
38
Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que, no caso de crime de estupro de vulnerável
praticado em continuidade delitiva, quando não for possível averiguar o número de infrações cometidas pelo
agente, mas tendo o crime ocorrido durante longo período de tempo, deve o julgador aplicar a causa de
aumento de pena no patamar máximo de 2/3, nos seguintes termos:
(...) 4. O Tribunal de origem desrespeitou a regra do art. 71 do Código Penal, devendo ser restabelecida a
sentença, pois a dúvida acerca da quantidade de ações não pode levar ao aumento da pena no patamar
mínimo, ou inferior ao devido, não sendo razoável nem proporcional, haja vista que "a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que, nos crimes sexuais envolvendo vulneráveis, é
cabível a elevação da pena pela continuidade delitiva no patamar máximo quando restar demonstrado
que o acusado praticou o delito por diversas vezes durante determinado período de tempo, não se
exigindo a exata quantificação do número de eventos criminosos, sobretudo porque, em casos tais, os
abusos são praticados incontáveis e reiteradas vezes, contra vítimas de tenra ou pouca idade" (AgRg no
REsp n. 1.717.358/PR, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 29/6/2018; e, AgRg no AREsp n.
1.662.166/MS, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 16/3/2021, DJe 22/3/2021).
5. A sentença deve ser restabelecida, pois a dúvida acerca da quantidade de ações não pode levar ao
aumento da pena no patamar mínimo previsto no art. 71 do CP (continuidade delitiva), ou inferior ao
devido. Entretanto, no caso específico da corré A. X. R, deve-se ressaltar a decisão proferida por esta Corte
Superior no julgamento do Habeas Corpus-HC n. 607.830/RJ, em que foi afastada a causa de aumento do art.
226, II, do CP, por entender que se trata de uma circunstância elementar do tipo penal imputado, haja vista
que a condenação deu-se pela omissão imprópria, isto é, a corré deveria ter impedido os abusos sexuais,
porque é mãe da vítima (relação de ascendente prevista na causa de aumento de pena).
6. Agravo conhecido para não conhecer do recurso especial interposto por L. G. da C. R., e recurso especial
interposto pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro provido, a fim de reformar o acórdão, e
restabelecer as frações de aumento fixadas na sentença condenatória para a continuidade delitiva, com
readequacão da pena de ambos os réus, e, por isso, em relação ao corréu L. G. da C. R. determinar a pena final
em 25 anos de reclusão em regime prisional inicial fechado (como consta na sentença), e, em relação à corré A.
X. R., 14 anos e 2 meses de reclusão em regime prisional inicial fechado.
(REsp n. 1.932.618/RJ, relator Ministro Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT), Sexta Turma,
julgado em 8/8/2023, DJe de 18/8/2023.)
1. Impugnados os fundamentos do despacho de inadmissibilidade, não há que se falar em incidência da
Súmula n. 182/STJ.
2. Concluindo as instâncias ordinárias, soberanas na análise das circunstâncias fáticas da causa, que o
recorrente praticou o delito previsto no art. 217-A do Código Penal, chegar a entendimento diverso, para o fim
de absolvê-lo, implica em exame aprofundado do material fático-probatório, inviável em recurso especial,
conforme a Súmula n. 7/STJ.
3."Não há bis in idem na incidência da agravante genérica do art. 61, II, f, concomitantemente com a
causa de aumento de pena do art. 226, II, no crime do art. 217-A, ambas do CP" (AgRg no AREsp n.
1.486.694/RS, relator Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 15/10/2019, DJe 18/10/2019).
4. "Nos casos de estupro de vulnerável praticado em continuidade delitiva em que não é possível
precisar o número de infrações cometidas, tendo os crimes ocorrido durante longo período de tempo,
39
deve-se aplicar a causa de aumento de pena no patamar máximo de 2/3" (AgRg no HC n. 609.595/SP,
relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Quinta Turma, julgado em 27/9/2022, DJe de 30/9/2022).
5. Agravo regimental provido para afastar a incidência da Súmula n. 182/STJ e conhecer do agravo em recurso
especial. No mérito, conhecido em parte do recurso especial e, nesta extensão, negado-lhe provimento.
(AgRg no AREsp n. 2.305.361/RR, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, julgado em
23/5/2023, DJe de 26/5/2023.)
7.7. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
📌 OBSERVAÇÃO
Infiltração de policiais na “internet” – A Lei n. 13.441/2017 inseriu a Seção V-A na Lei n. 8.069/90,
introduzindo os arts. 190-A a E, a fim de permitir a infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de
investigar os crimes previstos nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Código Penal (e também nos crimes
dos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241- C e 241-D do próprio Estatuto).
Competência para julgar o crime de estupro praticado contra criança e adolescente no
contexto de violência doméstica e familiar:
1. A Terceira Seção desta Corte Superior, no julgamento conjunto do HC n. 728.173/RJ e do
EAREsp n. 2.099.532/RJ, uniformizou a interpretação a ser conferida ao art. 23 da Lein.
13.431/17, fixando a tese de que, após o advento desta norma, "nas comarcas em que não
houver vara especializada em crimes contra a criança e o adolescente, compete à vara
especializada em violência doméstica, onde houver, processar e julgar os casos envolvendo
estupro de vulnerável cometido pelo pai (bem como pelo padrasto, companheiro, namorado ou
similar) contra a filha (ou criança ou adolescente) no ambiente doméstico ou familiar".
2. O Legislador estabeleceu, no caput do artigo supracitado, como possibilidade aos órgãos
responsáveis pela organização judiciária, a criação de varas especializadas em crimes contra a
criança e o adolescente. Enquanto não instituídas as varas especializadas, o parágrafo único do
mesmo dispositivo legal determinou que as causas decorrentes de práticas de violência contra
crianças e adolescentes, independentemente de considerações acerca do sexo da vítima ou da
motivação da violência, deveriam tramitar nos juizados ou varas especializados em violência
doméstica.
3. A partir da entrada em vigor da Lei n. 13.431/17, as ações penais que apurem crimes
envolvendo violência contra crianças e adolescentes devem tramitar nas varas
especializadas previstas no caput do art. 23 e, caso elas ainda não tenham sido criadas,
nos juizados ou varas especializados em violência doméstica, conforme determina o
parágrafo único do mesmo artigo. Somente nas comarcas em que não houver varas
especializadas em violência contra crianças e adolescentes ou juizados/varas de violência
doméstica, poderá a ação tramitar na vara criminal comum.
4. A interpretação que agora se propõe tem como objetivo, em primeiro lugar, evitar que os
dispositivos da Lei n. 13.431/17 se transformem em letra morta, o que frustraria o objetivo
legislativo de instituir um regime judicial protetivo especial para crianças e adolescentes vítimas
de violências. De outra parte, também concretiza os princípios da proteção integral e da
40
absoluta prioridade (art. 227 da Constituição Federal), bem como o compromisso internacional
do Brasil em proteger crianças e adolescentes contra todas as formas de violência (art. 19 do
Decreto n. 99.710/90), estabelecendo que a submissão destes à competência especializada
decorre de sua vulnerabilidade enquanto pessoa humana em desenvolvimento,
independentemente de considerações quanto ao sexo, motivação do crime, circunstâncias da
violência ou outras questões similares.
5. Recurso especial desprovido.
(REsp n. 2.005.974/RJ, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 14/2/2023, DJe de
23/2/2023.)
Assim, existem três situações:
● Ações penais que apurem crimes envolvendo crianças e adolescentes devem tramitar nas
varas especializadas;
● Não havendo varas especializadas em crimes envolvendo crianças e adolescentes, a ação penal
deve tramitar nos juizados ou varas especializadas em violência doméstica;
● Somente no caso de não haver varas especializadas em violência contra crianças e
adolescentes e nem juizados varas de violência doméstica, poderá a ação tramitar na vara
criminal comum.
7.8 JURISPRUDÊNCIA
A irmã de vítima do crime de estupro de vulnerável responde por conduta omissiva imprópria
se assume o papel de garantidora. STJ. 5ª Turma. HC 603.195-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 06/10/2020 (Info 681).
🚨JÁ CAIU
Essa posição jurisprudencial foi cobrada na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-TO (Banca:
CESPE/ CEBRASPE, Ano: 2022). O enunciado da questão era o seguinte: “Alex e Bianca são casados há uma
década. Há três anos, a irmã de Bianca, criança com 10 anos de idade, passou a pernoitar na residência do
casal, ocasiões em que Alex aproveitava para praticar atos de natureza sexual contra a menina. Em uma noite,
Bianca descobriu o que estava ocorrendo nas visitas, mas não tomou atitude para impedir a reiteração das
condutas criminosas do cônjuge. Ao contrário, Bianca continuou permitindo que a irmã dormisse em sua casa e
que o marido se aproveitasse da situação.”
Em face desse caso hipotético, a banca considerou correta a seguinte assertiva: “Bianca deverá responder pelo
delito de estupro de vulnerável por omissão imprópria”.
“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. CONTINUIDADE
DELITIVA SIMPLES. VÍTIMAS DIVERSAS. AFASTAMENTO CONCURSO MATERIAL. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.1. O Superior Tribunal de Justiça entende que, para a caracterização
da continuidade delitiva (art. 71 do Código Penal), é necessário que estejam preenchidos,
cumulativamente, os requisitos de ordem objetiva (pluralidade de ações, mesmas condições de
41
tempo, lugar e modo de execução) e o de ordem subjetiva, assim entendido como a unidade de
desígnios ou o vínculo subjetivo havido entre os eventos delituosos. 2. O fato de os crimes
haverem sido praticados contra vítimas diversas não impede o reconhecimento do crime
continuado, notadamente quando os atos houverem sido cometidos no mesmo contexto fático
(AgRg no REsp n. 1.359.778/MG). 3. Agravo regimental não provido." (STJ; Sexta Turma; gRg no
HC 648423 / SP; Relator Ministro Rogerio Schietti Cruz; Publicado no DJe de 15/06/2021)
Este entendimento foi sedimentado pela Corte no Tese nº 9 da Edição nº 17 da Jurisprudência
em Teses do STJ: “É possível reconhecer a continuidade delitiva entre estupro e atentado
violento ao pudor quando praticados
contra vítimas diversas ou fora do mesmo contexto, desde que presentes os requisitos do artigo
71 do Código Penal".
🚨JÁ CAIU
Essa posição jurisprudencial foi cobrada na prova para o cargo de Defensor Público da DPE-SC (Banca: FCC,
Ano: 2021).
A banca considerou correta a seguinte assertiva: “Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a
continuidade delitiva pode ser reconhecida entre crimes de estupro de vulnerável praticados contra vítimas
diversas”.
7.8 CLASSIFICAÇÃO
Segundo o professor Guilherme Nucci, “Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito
ativo qualificado ou especial); material (delito que exige resultado naturalístico, consistente no efetivo
tolhimento da liberdade sexual da vítima). Há quem entenda ser crime de mera conduta, com o que não
podemos concordar, pois o legislador não pune unicamente uma conduta, que não possui resultado
naturalístico. A pessoa violentada pode sofrer lesões de ordem física – se houver violência – e, invariavelmente,
passa por graves abalos de ordem psíquica, constituindo, com nitidez, um resultado detectável no plano da
realidade. É, ainda, delito de forma livre (pode ser cometido por meio de qualquer ato libidinoso); comissivo
(“constranger” implica ação); instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no
tempo); de dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado); unissubjetivo (que pode
ser praticado por um só agente); plurissubsistente (como regra, vários atos integram a conduta); admite
tentativa, embora de difícil comprovação ”.41
8. CORRUPÇÃO DE MENORES - ART. 218, CP
Art. 218. Induzir alguémmenor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos.
41 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 63.
42
8.1. ASPECTOS INICIAIS
Se o sujeito induz o menor de 14 anos a praticar ato libidinoso ou conjunção carnal com um
terceiro, responde pelo art. 217-A c/c art. 29 do CP, pois é partícipe. Sendo assim, o art. 218 é subsidiário trata
de outra conduta que não caracterize ato libidinoso e nem conjunção carnal.
8.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA
A dignidade sexual da pessoa menor de 14 anos.
8.3. CONDUTA
Induzir significa convencer, persuadir para que o menor satisfaça os desejos sexuais de outra pessoa.
📌 OBSERVAÇÃO
Exige-se que a terceira pessoa seja determinada.42
8.4. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa (Crime Comum).
8.5. SUJEITO PASSIVO
Crianças ou adolescentes menores de 14 anos.
8.6. CONSUMAÇÃO
Nomomento em que o ato é realizado, independentemente de o terceiro restar sexualmente satisfeito.
É possível a tentativa.
8.7. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
🚩 NÃO CONFUNDA43
CORRUPÇÃO DE MENORES
CP ECA
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 anos a
satisfazer a lascívia de outrem:
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de
menor de 18 anos, com ele praticando infração
penal ou induzindo-o a praticá-la
43 Informações retiradas do site www.dizerodireito.com.br
42 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
43
A vítima, menor de 14 (quatorze) anos, é induzida a
satisfazer a lascívia de outrem mediante a prática de
alguma conduta sem contato físico, meramente
contemplativa.
O agente pratica crime ou contravenção penal na
companhia de menor de 18 (dezoito) anos, ou o induz
a praticá-lo, fazendo com que aquela pessoa, que
ainda não atingiu a maioridade, passe a fazer parte
do mundo do crime. Trata-se de crime formal, que
não exige resultado naturalístico para a sua
consumação
9. SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA
OU ADOLESCENTE - ART. 218-A. CP
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de
outrem:
Pena - reclusão, de 2 a 4 anos.
9.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Tutela-se a dignidade sexual da pessoa menor de 14 anos. Trata-se de crime de tipo misto alternativo.
9.2. CONDUTA
São possíveis duas modalidades de execução :44
✓ Praticar, na presença da vítima, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, visando satisfazer a lascívia
própria ou de outrem. Nessa hipótese o agente não interfere na vontade do menor, mas aproveita-se da sua
espontânea presença para realizar o ato sexual.
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-PR (Banca: CESPE/CEBRASPE, Ano: 2019) a banca considerou
correta a seguinte assertiva: “Praticar conjunção carnal com o parceiro na presença de menor de catorze anos
de idade, a fim de satisfazer a própria lascívia, configura, a princípio, o tipo penal específico denominado
satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente”.
✓ induzindo a vítima a presenciar conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Aqui, o agente faz nascer
na vítima a ideia de presenciar o ato de libidinagem.
🚨JÁ CAIU
44 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
44
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-RJ (Banca: CESPE/CEBRASPE, Ano: 2022), a banca
apresentou o seguinte caso concreto: “Em 10/1/2022, Fernando, com 38 anos de idade, adicionou à sua rede
social Caio, com 13 anos de idade, dizendo-lhe ter a mesma faixa etária e manifestando interesse por jogos
eletrônicos. A partir de então, passaram a manter conversas diárias, que, com a conquista da confiança de Caio,
ganharam conotação pessoal acerca da vida íntima do adolescente, como sua relação familiar, ambiente escolar
e círculo de amizade. Em dado momento, Fernando pediu a Caio que ligasse a webcam, e assim o menino o fez.
Então, Fernando, também com sua câmera ligada, se despiu e começou a se masturbar, exibindo-se para Caio,
como forma de satisfazer a própria lascívia. Em seguida, Fernando convidou Caio para ir até sua casa. Contudo,
Caio ficou assustado e contou para os pais, que bloquearam o perfil de Fernando e se dirigiram à delegacia de
polícia, para comunicarem a ocorrência”.
Considerando essa situação hipotética, a banca considerou correta a assertiva que indicou que “Fernando
praticou o crime de satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente, previsto no art. 218-A
do Código Penal”.
⚠ ATENÇÃO
Em nenhuma das formas de execução a vítima participa do ato sexual, uma vez que apenas observa.
Caso participe dos atos sexuais, a criança ou adolescente, menor de 14 anos, será vítima do crime de estupro
de vulnerável (Art. 217-A).
9.3. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa, homem ou mulher (crime comum).
9.4. SUJEITO PASSIVO
Crianças ou adolescentes, do sexo masculino ou feminino, menores de 14 anos. O tipo não inclui o
enfermo ou deficiciente mental.
9.5. ELEMENTO SUBJETIVO
Pune-se apenas a conduta dolosa, acrescida da finalidade especial (elemento subjetivo específico) de
satisfazer a lascívia (desejo sexual), própria ou de outrem.45
9.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Trata-se de crime formal, de forma livre. A consumação varia a depender da forma de execução do
delito. Na primeira, praticar, na presença de pessoa menor de 14 anos, conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, o crime se perfaz somente com a efetiva realização do ato sexual. Já na segunda, induzir a
presenciar, o delito se caracteriza com a realização do núcleo, independentemente da concretização do ato de
libidinagem.
📌 OBSERVAÇÃO
45 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
45
O menor de 14 anos não precisa estar presente fisicamente, bastando, assim, que ele assista os atos
sexuais pela internet.
É possível a tentativa.
9.7. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionado.
9.8 CLASSIFICAÇÃO
Segundo o professor Guilherme Nucci, “Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito
ativo qualificado ou especial); formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente no efetivo
comprometimento moral do menor ou na satisfação da lascívia); de forma livre (pode ser cometido por
qualquer meio eleito pelo agente); comissivo (“praticar” e “induzir” implicam ações); instantâneo (cujo
resultado se dá de maneira determinada, não se prolongando no tempo); unissubjetivo (pode ser praticado por
um só agente); plurissubsistente (como regra, vários atos integram a conduta); admite tentativa, embora de
rara configuração. ”.46
10. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE
VULNERÁVEL - ART. 218-B, CP
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual
alguém menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a
abandone:
Pena - reclusão, de 4 a 10 anos.
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
10.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Tutela-se a dignidade e a moralidade sexual do vulnerável.
📌 OBSERVAÇÃO
A Lei n. 12.978/2014 inseriu este crime, bem como as figuras de seus §§ 1º e 2º, no rol dos crimes
46 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 71.
46
hediondos (art. 1º, VIII, da Lei n. 8.072/90).
10.2. CONDUTA
O crime consiste em convencer alguém, com palavras ou promessas de boa vida, a se prostituir ou se
submeter a outras formas de exploração sexual, colaborar para que alguém exerça a prostituição ou, de algum
modo, impedir ou dificultar que a vítima abandone as referidas atividades. Em suma, constitui crime introduzir
alguém no mundo da prostituição, apoiá-lo materialmente enquanto a exerce ou impedir ou dificultar o
abandono das atividades por parte de quem deseja fazê-lo.47
10.3. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa (crime comum).
⚠ ATENÇÃO
Segundo o STJ:
“nos termos do art. 218-B do Código Penal, são punidos tanto aquele que capta a vítima,
inserindo-a na prostituição ou outra forma de exploração sexual (caput), como também o cliente
do menor prostituído ou sexualmente explorado (§ 1º).” (STJ. HC 371.633/SP, 5ª Turma, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019) (Info 645).
No mesmo sentido:
“Ainda que o próprio cliente tenha negociado o programa sem intermediários, haverá o crime.
Basta que o agente, mediante pagamento, convença a vítima, dessa faixa etária, a praticar com ele
conjunção carnal ou outro ato libidinoso. “ (STJ. 6ª Turma. REsp 1490891/SC,Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 17/04/2018).
10.4. SUJEITO PASSIVO
Homem ou mulher menor de idade ou que, em razão de enfermidade mental, não tenha discernimento
necessário para compreender a prostituição ou a exploração sexual.
⚠ ATENÇÃO
O STJ possui precedentes entendendo que a presunção de vulnerabilidade da vítima, no caso do art.
218-B é relativa, podendo ser afastada à luz das circunstâncias do caso concreto.
“(...) a vulnerabilidade no caso do art. 218-B do CP é relativa. Assim, diferentemente do que ocorre
nos artigos 217-A, 218 e 218-A do Código Penal, nos quais o legislador presumiu de forma
absoluta a vulnerabilidade dos menores de 14 anos, no art. 218-B não basta aferir a idade da
47 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 665.
47
vítima, devendo-se averiguar se o menor de 18 (dezoito) anos ou a pessoa enferma ou doente
mental, não tem, de fato, o necessário discernimento para a prática do ato, ou por outra causa
não pode oferecer resistência.” (STJ. 5ª Turma. HC 371.633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
19/03/2019. Info 645).
10.5. ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, não se admite o crime a título de culpa.
📌 OBSERVAÇÃO
Se o agente possuir intenção de lucro com a conduta praticada, haverá a incidência cumulativa de
multa, conforme estabelece o §1º do art. 218-B.
10.6. CONSUMAÇÃO
A consumação ocorre quando a vítima passa a exercer a prostituição ou passa a ser explorada
sexualmente. Por sua vez, na modalidade impedimento, a consumação se perfaz quando a vítima não
abandona as atividades.48
É possível a tentativa.
10.7. FIGURAS EQUIPARADAS - ART. 218-B, §2º
§ 2o Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguémmenor de 18 e maior
de 14 anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas
referidas no caput deste artigo.
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da
licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.
O §2º traz uma séria de condutas que são equiparadas ao crime do caput, aplicando-se as mesmas
penas.
O inciso I pune quem faz programa sexual com pessoa menor de idade que esteja se prostituindo ou
sendo vítima de exploração sexual.
📌 OBSERVAÇÃO
Caso o agente tenha sido enganado acerca da idade da prostituta ou se as circunstâncias fáticas lhe
levaram a crer que ela tinha mais de 18 (dezoito) anos, haverá erro de tipo. Ademais, não é crime se relacionar
sexualmente com prostituta maior de idade.
48 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 666.
48
O delito previsto no art. 218-B, § 2°, inciso I, do Código Penal, na situação de exploração sexual,
não exige a figura do terceiro intermediador. A configuração do crime do art. 218-B do CP não
pressupõe a existência de terceira pessoa, bastando que o agente, por meio de pagamento,
convença a vítima, maior de 14 e menor de 18 anos, a praticar com ele conjunção carnal ou outro
ato libidinoso, de modo a satisfazer a sua própria lascívia. STJ. 3ª Seção. EREsp 1530637/SP, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/03/2021 (Info 690).
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-GO (Banca: FGV, Ano: 2022) a banca considerou
correta a seguinte assertiva: “Quanto à interpretação conferida ao delito previsto no Art. 218-B, §2º, I, do Código
Penal (“favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
vulnerável”), é correto afirmar que a configuração do delito em questão não pressupõe a existência de
terceira pessoa”.
Quanto ao inciso II, que pune o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se
verifiquem as práticas punidas no caput do art. 218-B, é efeito obrigatório da condenação a cassação da licença
de localização e de funcionamento do estabelecimento, conforme determina o §3º do mesmo dispositivo.
10.8 CLASSIFICAÇÃO
Segundo o professor Guilherme Nucci, “Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito
ativo qualificado ou especial); material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na efetiva prática
da prostituição ou outra forma de exploração sexual); de forma livre (pode ser cometido por qualquer meio
eleito pelo agente); comissivo (todos os verbos implicam ações); instantâneo (cujo resultado se dá de maneira
determinada, não se prolongando no tempo); unissubjetivo (pode ser praticado por um só agente);
plurissubsistente (como regra, vários atos integram a conduta); admite tentativa, nas formas impedir e
dificultar. Não cabe tentativa nas formas submeter, atrair, induzir e facilitar, pois é crime condicionado,
dependente da prática da prostituição ou outra forma de exploração sexual. ”.49
10.9 JURISPRUDÊNCIA
O delito de favorecimento à exploração sexual de adolescente (art. 218-B do CP) não exige
habitualidade.
Trata-se de crime instantâneo, que se consuma no momento em que o agente obtém a
anuência para práticas sexuais com a vítima menor de idade, mediante artifícios como a oferta
de dinheiro ou outra vantagem, ainda que o ato libidinoso não seja efetivamente praticado.
Esta interpretação da norma do art. 218-B, do Código Penal é a única capaz de cumprir com a
exigência de proteção integral da pessoa em desenvolvimento contra todas as formas de
49 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 75.
49
exploração sexual.
STJ. 6ª Turma. REsp 1963590/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/09/2022 (Info 754) .50
11. DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO
DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA - ART.
218-C, CP
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir,
publicar ou divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio de comunicação de massa ou
sistema de informática ou telemática –, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que
contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a
sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena – reclusão, de 1 a 5 anos, se o fato não constitui crime mais grave.
11.1. ASPECTOS INICIAIS
O crime foi acrescido ao CP pela Lei nº 13.718/18, visando coibir a prática, cada vez mais comum nos
dias atuais, de compartilhamento, não autorizado, de dados que possuem um conteúdo pornográfico ou que
contenham cenas de estupro ou que façam apologia a sua prática, seja em forma de imagens, vídeos ou outras
formas de registro audiovisual.
Também chamado de Revenge Porn ou Pornografia de vingança.
11.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA
“Protege a dignidade e a moralidade sexual. Tutelam-se, também, a honra e a imagem da pessoa cuja
imagem é divulgada de forma não autorizada”.51
11.3. CONDUTA
Temos um crime que possui nove núcleos do tipo (tipo penal misto alternativo), quais sejam a) oferecer;
b) trocar; c) disponibilizar; d) transmitir; e) vender; f) expor à venda; g) distribuir; h) publicar; i) divulgar.
A conduta proibida, em suma, é a divulgar cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou cena que, de
alguma forma, faça apologia ou induza à prática de um desses crimes sexuais. O dispositivo pune, outrossim,
quem, sem o consentimento da vítima, divulga cena de sexo, nudez ou pornografia.52
🚨JÁ CAIU
52 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 670.
51 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12thedição). Editora
Saraiva, 2022. p. 670.
50 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O delito de favorecimento à exploração sexual de adolescente não exige habitualidade, tratando-se de crime
instantâneo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 05/12/2022
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3722e31eaa9efae6938cc5c435365dfd
50
Na prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-PR (Banca: CESPE/CEBRASPE, Ano: 2019) a banca considerou
correta a seguinte assertiva: “Divulgar na Internet fotografias de conteúdo pornográfico envolvendo
adolescente, como meio de vingança pelo término de relacionamento, configura crime específico previsto no
ECA, o que afasta a incidência do novo tipo penal previsto no art. 218-C do Código Penal”.
11.4. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa (crime comum).
📌 OBSERVAÇÕES
■ Caso o agente mantenha ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima sua pena será
aumentada de um a dois terços (§ 1º).
■ A lei não visa punir somente o responsável pela divulgação inicial. Aquele que receber a imagem e a
compartilhar com outras pessoas ciente de que não havia autorização da vítima incorrerá igualmente na
infração penal.53
11.5. SUJEITO PASSIVO
A pessoa cuja imagem foi divulgada.
11.6. ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo de praticar um dos núcleos do tipo penal, não sendo exigível especial fim de agir ou objetivo de
lucro.
11.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A consumação ocorre quando o agente pratica qualquer dos verbos descritos, independentemente de
qualquer resultado.
É possível a tentativa.
11.8. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
11.9. CAUSA DE AUMENTO DE PENA - ART. 218-C, §1º
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 a 2/3 se o crime é praticado por agente que mantém ou
tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou
humilhação.
53 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 671.
51
O § 1º dispõe que a pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por
agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou
humilhação. Claramente o objetivo do legislador foi punir mais gravemente aquele que quebra uma relação de
confiança existente em relações íntimas de afeto, tais como namoro, casamentos, uniões estáveis.
No que diz respeito ao aumento da pena pela finalidade do agente em se vingar ou humilhar a vítima,
tem-se o chamado revenge porn, a vingança ou humilhação ocorrida, em geral, após o fim de relacionamento
amoroso.
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Defensor Público da DPE-BA (Banca: FCC, Ano: 2021) a banca considerou correta a
seguinte assertiva: “Sobre o crime de divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de
cena de sexo ou de pornografia, é correto afirmar que o especial fim de vingança ou humilhação é causa de
aumento de pena de um terço a dois terços”.
11.10. EXCLUSÃO DE ILICITUDE - ART. 218-C, §2º
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em
publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de
recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização,
caso seja maior de 18 anos.
11.11 CLASSIFICAÇÃO
“Trata-se de crime comum (pode ser cometido por qualquer pessoa); formal (delito que se consuma
mediante a prática da conduta, independentemente de haver resultado naturalístico); de forma livre (a
divulgação pode ser realizada de qualquer maneira); comissivo (trata-se de crime de ação, conforme
evidenciam os verbos nucleares do tipo); instantâneo (o resultado se dá de modo determinado na linha do
tempo), nas formas oferecer, trocar, vender, distribuir, publicar e divulgar, porém podem assumir o caráter
permanente (o resultado arrasta-se no tempo) os modelos transmitir (cuidando-se de transmissão ininterrupta
de um vídeo na internet, por exemplo); expor à venda; disponibilizar (quando se torna uma foto ou vídeo
acessível, pode dar-se de maneira contínua); de dano (consuma-se com a lesão à dignidade sexual/honra de
alguém); unissubjetivo (pode ser cometido por uma só pessoa); plurissubsistente (a regra é que a prática
libidinosa envolva vários atos); admite tentativa ”.54
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-SP (Banca: própria, Ano: 2019) a banca considerou
correta a seguinte assertiva: “O crime de divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável,
de cena de sexo ou de pornografia, previsto no artigo 218-C do Código Penal, pode ser classificado como
54 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. P. 80.
52
comum, formal, comissivo, unissubjetivo, doloso, subsidiário”.
12. DISPOSIÇÕES GERAIS
12.1. AÇÃO PENAL - ART. 225, CP
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública INCONDICIONADA.
A atual redação do Art. 225 foi dada pela Lei nº 13.718/2018. Antes, a regra era a ação penal
condicionada à representação, sendo incondicionada apenas quando a vítima fosse menor de 18 anos ou
pessoa vulnerável.
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-PI (Banca: CESPE/CEBRASPE, Ano: 2019) a banca
considerou correta a seguinte assertiva: “Em se tratando de crime de estupro em que a vítima seja maior de
dezoito anos de idade e plenamente capaz, a ação penal é pública incondicionada, ainda que não tenha
ocorrido violência real na prática do crime”.
12.2. AUMENTO DE PENA - ART. 226, CP
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de 1/4, se o crime é cometido com o concurso de 2 ou mais pessoas;
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-RN, Banca: FGV Ano: 2021), a banca apresentou o
seguinte caso concreto:
“Maicon, 25 anos, e Maria, 13 anos, que não era mais virgem, iniciaram relacionamento amoroso, com a
concordância dos pais da menor. Após dois meses de namoro, ainda antes do aniversário de 14 anos de Maria,
o casal praticou relação sexual, o que ocorreu com o consentimento de Joana, mãe da adolescente, que, após
conversar com Maicon, incentivou o ato sexual entre os dois como prova de amor. Tomando conhecimento do
ocorrido dias depois, André, pai de Maria, ficou indignado com o ato sexual e registrou o fato na delegacia”
Diante desse quadro, foi considerada correta a seguinte assertiva :”Maicon e Joana responderão por estupro de
vulnerável, na forma majorada”.
II – de 1/2, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
53
título tiver autoridade sobre ela
IV – de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado:
Estupro coletivo
a) mediante concurso de 2 ou mais agentes;
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Defensor Público da DPE-AM (Banca: FCC, Ano: 2021) a banca considerou correta a
seguinte assertiva: “Sobre as causas de aumento previstas na parte especial do Código Penal, é correto afirmar
que no crime de importunação sexual a pena é aumentada de metade se o agente é empregador da vítima”.
Embora haja uma aparente antinomia entre o inciso I e o inciso IV, “a”, a doutrina entende ser
plenamente possível compatibilizar ambos os dispositivos. Dessa maneira, o inciso I é aplicável a todos os
delitos dos capítulos I e II. Por sua vez, o inciso IV é específico para o crime de estupro, inclusive o de vulnerável.
Estupro corretivo
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima
Nessa situação, o agente age a sob a alegação ou com a finalidade de “corrigir” a orientação sexual da
vítima ou seu comportamento social. Por exemplo, ocorre o estupro corretivo quando o estupradorbusca
impor, por meio do estupro, que determinada pessoa lésbica passe a se relacionar apenas com homens, em
uma relação heterossexual. O recrudescimento da pena tem o claro intuito de punir mais gravemente aquele
que pratica o crime com claro viés preconceituoso.
🚩 NÃO CONFUNDA55
Inciso I Inciso IV
A pena é aumentada de 1/4, se o crime é cometido
com o concurso de 2 ou mais pessoas
A pena é aumentada de 1/3 a 2/3, se o crime é
praticado mediante concurso de 2 ou mais agentes
Aplicado para os casos demais crimes contra a
dignidade sexual.
Aplicado apenas para os casos de estupro (arts. 213 e
217-A do CP).
13. MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM - ART. 227, CP
Mediação para servir a lascívia de outrem
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
§ 1o Se a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos, ou se o agente é seu ascendente,
55 Informações retiradas do site www.dizerodireito.com.br
54
descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja
confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se tambémmulta.
13.1. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
13.2. SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa que colabore com a ação do agente.
13.3. OBJETO JURÍDICO
Liberdade sexual.
13.4. OBJETO MATERIAL
Quem foi induzido pelo agente.
13.5. ELEMENTOS OBJETIVOS
Induzir significa “dar a ideia ou inspirar” alguém a satisfazer a lascívia “saciar o prazer sexual” de
outrem. Para Nucci, a figura típica fere o princípio da intervenção mínima, já que é insignificante a conduta do
agente. 56
13.6. ELEMENTOS SUBJETIVO
Dolo.
A tentativa é admissível.
13.7. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO ESPECÍFICO
É a satisfação da luxúria ou o prazer sexual de outrem.57
13.8. FIGURA QUALIFICADA
O §1º traz a figura qualificada do crime, de modo que a pena é de reclusão, de 2 a 5 anos, em duas
situações:
57 Nucci, Guilherme de S. Direito Penal - Partes Geral e Especial - Esquemas & Sistemas. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo GEN,
2021. p. 1425
56 Nucci, Guilherme de S. Direito Penal - Partes Geral e Especial - Esquemas & Sistemas. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo GEN,
2021. p. 1424
55
- quando a vítima for menor de 18 anos e maior de 14 anos;
- quando o agente for ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou
pessoa que cuide da educação, tratamento ou guarda da vítima.
O §2º traz outra figura qualificada do crime, em que a pena é de reclusão de 2 a 8 anos, no caso de o
crime ter sido cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude, além da pena correspondente à
violência.
13.9. CLASSIFICAÇÃO
● Comum
● Material
● De forma livre
● Comissivo
● Instantâneo
● Unissubjetivo e
● Plurissubsistente.
14. CASA DE PROSTITUIÇÃO - ART. 229, CP
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração
sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Conforme leciona o professor Guilherme Nucci, “O art. 229 era intitulado casa de prostituição; após
a reforma trazida pela Lei 12.015/2009, retirou-se o título. Portanto, pode-se considerar uma sequência do art.
228 no sentido de constituir um modo de favorecimento à prostituição ou outra forma de exploração
sexual”.
14.1. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa.
14.2. SUJEITO PASSIVO
Coletividade.
14.3. OBJETO MATERIAL
Estabelecimento em que ocorre exploração sexual.
56
14.4. OBJETO JURÍDICO
Moralidade sexual e os bons costumes.
14.5. ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo + elemento subjetivo específico.
14.6. CLASSIFICAÇÃO
● Comum
● Formal
● Forma livre
● Comissivo
● Habitual
● Unissubjetivo
● Plurissubsistente
14.7. TENTATIVA
Não admite.
14.8. CIRCUNSTÂNCIAS ESPECIAIS
“É válido lembrar que as casas de massagem, motéis, hotéis de alta rotatividade, saunas, bares ou
cafés, drive-in, boates, casas de relaxamento (relax for men) não configuram o tipo penal, segundo
jurisprudência e doutrina majoritárias. A explicação é simples: não são lugares específicos para a exploração
sexual, de onde se destaca a prostituição, pois têm outra finalidade, como a hospedagem, o serviço de
massagem ou relaxamento, a sauna, o serviço de bar etc. Sabe-se perfeitamente que, em muitos desses locais,
trata-se de autêntica casa de prostituição disfarçada com um nome mais moderno e adaptado à realidade,
embora antiquado e decadente seja o tipo penal. Por isso, a tentativa de aperfeiçoar o tipo penal, editando-se a
Lei 12.015/2009, foi um fracasso. O delito do art. 229 é habitual e não comporta tentativa .”58
14.9 JURISPRUDÊNCIA
Somente ocorre o delito do art. 229 do CP se houver exploração sexual, ou seja, violação à
dignidade sexual. Não se tratando de estabelecimento voltado exclusivamente para a prática
de mercancia sexual, tampouco havendo notícia de envolvimento de menores de idade, nem
comprovação de que o réu tirava proveito, auferindo lucros da atividade sexual alheia mediante
ameaça, coerção, violência ou qualquer outra forma de violação ou tolhimento à liberdade das
58 Nucci, Guilherme de S. Direito Penal - Partes Geral e Especial - Esquemas & Sistemas. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo GEN, 2021.
p. 457
57
pessoas, não há falar em fato típico a ser punido na seara penal. Não se trata do crime do art.
229 do CP. Mesmo após as alterações legislativas introduzidas pela Lei nº 12.015/2009, a
conduta consistente em manter “Casa de Prostituição” segue sendo crime tipificado no art. 229
do Código Penal. Todavia, com a novel legislação, passou-se a exigir a “exploração sexual”
como elemento normativo do tipo, de modo que a conduta consistente em manter casa
para fins libidinosos, por si só, não mais caracteriza crime, sendo necessário, para a
configuração do delito, que haja exploração sexual, assim entendida como a violação à
liberdade das pessoas que ali exercem a mercancia carnal. STJ. 6ª Turma. REsp 1683375-SP, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/08/2018 (Info 631).
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-ES (Banca: CESPE/CEBRASPE, Ano: 2022) a banca
apresentou o seguinte enunciado:
“A dignidade sexual é tema que tem sido socialmente debatido com maior seriedade nas últimas décadas e
que merece atenção da sociedade. A discussão em torno do assunto tem gerado reação legislativa positiva e
atenção dos tribunais. Acerca desse tema, considerando os dispositivos do Código Penal e a jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça, assinale a opção correta”.
Em face do enunciado, a banca considerou correta a seguinte assertiva: “A exploração sexual constitui
elemento normativo do crime de casa de prostituição, não bastando a conduta consistente na manutenção
de casa para fins libidinosos”.
Esse entendimento também foi cobrado na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-MS (Banca:
FAPEC, Ano: 2021).
A banca considerou correta a seguinte assertiva: “Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
após as alterações legislativas introduzidas no Código Penal pela Lei nº 12.015/2009, a conduta consistente em
manter casa para fins libidinosos, por si só, não mais caracteriza crime de casa de prostituição (art. 229 do
Código Penal), sendo necessário, para a configuração do delito, que haja exploração sexual, assim entendida a
violação à liberdade das pessoas que ali exercem a mercancia carnal.
15. RUFIANISMO - ART. 230, CP
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.15.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Evitar a exploração da prostituição alheia. O delito de rufianismo dispensa especial proteção àqueles59
59 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 673.
58
que se dedicam ao meretrício (prostituição), que, por si só, não é crime, e são explorados em razão disso.60
15.2. CONDUTA
A conduta criminosa é a de tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus
lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça.
📌 OBSERVAÇÕES
■ O tipo exige que o sujeito seja sustentado pela prostituição. A exploração é material, econômica,
daquilo que a pessoa prostituída aufere, e não do corpo.
■ Trata-se de crime habitual que só se configura pelo proveito reiterado nos lucros da vítima.
15.3. SUJEITO ATIVO
Pode ser qualquer pessoa.
15.4. SUJEITO PASSIVO
A vítima é necessariamente pessoa que exerce a prostituição (homem ou mulher).
15.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A consumação ocorre com a reiteração na participação nos lucros ou no sustento pela pessoa
prostituída. Trata-se de crime habitual.61
Não é possível a tentativa, uma vez que se trata de crime habitual.
15.6. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
15.7. FIGURAS QUALIFICADAS (Art. 230, §1º e 2º)
§ 1o Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos ou se o crime é cometido por
ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador,
preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça
ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.
61Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 681.
60Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 673.
59
Nas hipóteses do § 1º, a enumeração legal é taxativa, não podendo ser ampliada por analogia. Se a
vítima for menor de 18 e maior de 14 anos e o agente, ao mesmo tempo, for uma das pessoas enumeradas no
mesmo dispositivo, a pluralidade de qualificadoras deverá ser levada em conta pelo juiz na fixação da
pena-base.62
16. PROMOÇÃO DE MIGRAÇÃO ILEGAL - ART. 232-A, CP
Promoção de migração ilegal
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a
entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem
econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país
estrangeiro.
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se:
I - o crime é cometido com violência; ou
II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante.
§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às
infrações conexas.
16.1. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
16.2. SUJEITO PASSIVO
É o Estado e o ofendido.
16.3. OBJETO JURÍDICO
Interesse do Estado na regulação da migração (entrada ou saída) de estrangeiros e brasileiros, tanto no
território nacional, quanto no país estrangeiro.
16.4. OBJETO MATERIAL
Entrada ou saída de brasileiro ou estrangeiro no país ou no país estrangeiro.
16.5. ELEMENTO OBJETIVO DO TIPO
Promover equivale a impulsar.
62 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 681.
60
O elemento normativo do tipo penal é o termo “ilegal”, ou seja, a migração deve ser ilegal, contrária ao
ordenamento jurídico. Aqui, está presente uma norma penal em branco, que será complementada pela Lei de
Migração, que traz as hipóteses de ilegalidade na entrada ou saída, no país.
A forma de execução é livre, o que se extrai da expressão “por qualquer meio”.
O fim específico do agente, por sua vez, é “obter vantagem econômica”.
16.6. ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo.
A tentativa é possível.
16.7. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO ESPECÍFICO
Finalidade de “obter vantagem econômica”.
16.8. CLASSIFICAÇÃO
Trata-se de crime:
● Comum
● Formal
● De forma livre
● Comissivo
● Instantâneo
● Unissubjetivo
● Plurissubsistente
17. ATO OBSCENO - ART. 233, CP
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
17.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Protege o pudor público.
17.2. CONDUTA
A conduta proibida é a prática de ato obsceno. Ato obsceno deve ser compreendido como o ato
revestido de sexualidade e que fere o sentimento médio de pudor. Ex.: exposição de órgãos sexuais, manter
relação sexual ou fazer sexo oral em local público.63
63 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 681.
61
Outro ponto relevante é que o tipo penal exige a prática de ato e, por isso, o mero uso da palavra não
tipifica ato obsceno. Da mesma forma, o beijo dado em local público há muito tempo não é considerado ato
obsceno, pois até mesmo em novelas é praticado com frequência e presenciado por pessoas de todas as
idades.
Por fim, devemos lembrar que só se configura o crime se o fato ocorrer em local público (praças e
ruas), local aberto ao público (teatros, cinemas...) ou em local exposto ao público (local privado, mas que pode
ser visto por número indeterminado de pessoas que passem pelas proximidades).64
17.3. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa, homem ou mulher (crime comum).
17.4. SUJEITO PASSIVO
A coletividade, bem como aqueles que presenciam o ato.
17.5. ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo de praticar o ato obsceno, não se exigindo uma finalidade específica de agir.
17.6. CONSUMAÇÃO
Consuma-se com a prática do ato obsceno, sendo um crime de mera conduta (ou simples atividade).
17.7. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
⚠ ATENÇÃO
O ato obsceno é diferente do 215-A, que revogou a contravenção de importunação ofensiva ao pudor.
O ato obsceno não é direcionado a uma pessoa específica diferentemente da importunação sexual:
“Com efeito, responde por importunação sexual, quem, por exemplo, se masturba em frente a alguém porque
aquela pessoa lhe desperta um impulso sexual; mas responde por ato obsceno quem se masturba em uma
praça pública sem visar a alguém específico, apenas para ultrajar os frequentadores do local” (SANCHES, 2016,
p. 514)”.
18. ESCRITO OU OBJETO OBSCENO
18.1. PREVISÃO LEGAL
64 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 686.
.
62
Escrito ou Objeto Obsceno
Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de
distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto
obsceno:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
I – vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo;
II – realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição
cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
III – realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de
caráter obsceno.
🚨JÁ CAIU
Esse tipo penal foi cobrado na prova para Juiz de Direito do TJ-AC (Banca: VUNESP,Ano: 2019). A banca
considerou correta a seguinte assertiva: “é fato típico distribuir ou expor publicamente qualquer objeto
obsceno”.
18.2. SUJEITO ATIVO
Coletividade.
18.2. SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa.
18.3. OBJETO MATERIAL
Coletividade.
18.4. OBJETO JURÍDICO
Moralidade pública no contexto sexual.
18.5. ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo + elemento subjetivo específico.
18.6. CLASSIFICAÇÃO
“Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); formal
(delito que não exige resultado naturalístico, consistente na efetiva ofensa ao pudor público); de forma livre
(podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); comissivo (“realizar” implica ação) e,
63
excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, § 2.º, do Código
Penal); permanente (cuja consumação se arrasta no tempo, enquanto a audição ou recitação estiver sendo
realizada); unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); plurissubsistente (como regra, vários atos
integram a conduta); admite tentativa.”
19. DISPOSIÇÕES GERAIS
19.1 AUMENTO DE PENA - ART. 234-A, CP
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada
III – de 1/2 a 2/3, se do crime resulta gravidez;
IV – de 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que
sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência.
■ A pena será aumentada de metade a 2/3:
Na hipótese do inciso III, “se do crime resultar gravidez: basta, desse modo, que da prática, por
exemplo, do estupro resulte a aludida consequência para a vítima. Não é necessário que a gravidez seja
abrangida pelo dolo do agente ”;65
⚠ ATENÇÃO
“Recorde-se que o art. 128 do CP permite o aborto quando a gravidez resulta de estupro (aborto
sentimental). Também é considerado lícito o aborto quando a gravidez for decorrente de estupro de vulnerável
(CP, art. 217-A) ”.66
■ A pena será aumentada de 1/3 a 2/3:
⚠ ATENÇÃO
Na hipótese do inciso II, “ se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que
sabe (dolo direto) ou deveria saber (dolo eventual) ser portador, ou se a vítima é idoso ou pessoa com
deficiência, sendo estas duas últimas acrescentadas pela novel legislação ”.67
19.2 SEGREDO DE JUSTIÇA - ART. 234-B, CP68
68 Capez, Fernando. Curso de direito penal: parte especial – arts. 213 a 359-T. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 64.
67 Capez, Fernando. Curso de direito penal: parte especial – arts. 213 a 359-T. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 64.
66 Capez, Fernando. Curso de direito penal: parte especial – arts. 213 a 359-T. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Editora Saraiva, 2022.
P. 64.
65 Capez, Fernando. Curso de direito penal: parte especial – arts. 213 a 359-T. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Editora Saraiva, 2022. P.
64.
64
O art. 234-B constitui uma exceção ao princípio da publicidade, pois os processos em que se
apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça, dado que a exposição da vítima pode lhe
causar graves constrangimentos.
20. QUADRO COMPARATIVO - CRIMES SEXUAIS CONTRA
VULNERÁVEL69
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
ART. 217-A
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: Pessoa vulnerável
Objeto material: Pessoa vulnerável
Objeto jurídico: Liberdade sexual
Elemento subjetivo: Dolo + elemento subjetivo específico
Classificação:
● Comum
● Material
● Forma livre
● Comissivo
● Instantâneo
● Dano
● Unissubjetivo
● Plurissubsistente
Tentativa: Admite
Circunstâncias especiais: Vulnerabilidade
INDUÇÃO DE VULNERÁVEL À
LASCÍVIA
ART. 218
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: Pessoa menor de 14 anos
Objeto material:Menor de 14 anos
Objeto jurídico: Liberdade sexual
Elemento subjetivo: Dolo + elemento subjetivo específico
Classificação:
● Comum
● Material
● Forma livre
● Comissivo
● Instantâneo
69 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 82.
65
● Dano
● Unissubjetivo
● Plurissubsistente
Tentativa: Admite
Circunstâncias especiais: Exceção à teoria monística
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA
MEDIANTE PRESENÇA DE
CRIANÇA OU ADOLESCENTE
ART. 218-A
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: Pessoa menor de 14 anos
Objeto material:Menor de 14 anos
Objeto jurídico: Liberdade sexual, em especial no prisma moral
Elemento subjetivo: Dolo + elemento subjetivo específico
Classificação:
● Comum
● Formal
● Forma livre
● Comissivo
● Instantâneo
● Dano
● Unissubjetivo
● Plurissubsistente
Tentativa: Admite
Circunstâncias especiais: Presença física do menor
FAVORECIMENTO DA
PROSTITUIÇÃO OU DE
OUTRA FORMA DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL DE
CRIANÇA OU ADOLESCENTE
OU DE VULNERÁVEL
ART. 218-B
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: Menor de 18 anos e maior de 14 ou a pessoa enferma
ou deficiente mental
Objeto material: Menor de 18 e maior de 14 anos ou a pessoa enferma
ou deficiente mental
Objeto jurídico: Liberdade sexual
Elemento subjetivo: Dolo (só se exige elemento subjetivo específico na
forma do § 1.º)
Classificação:
● Comum
● Material
● Forma livre
● Comissivo
● Instantâneo
● Dano
66
● Unissubjetivo
● Plurissubsistente
Tentativa: Admite nas formas “impedir” e “dificultar”; não admite nas
formas “submeter”, “atrair”, “induzir” e “facilitar”
Circunstâncias especiais: Exploração sexual
DIVULGAÇÃO DE CENA DE
ESTUPRO OU DE CENA DE
ESTUPRO DE VULNERÁVEL,
DE CENA DE SEXO OU DE
PORNOGRAFIA
ART. 218-C
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: Qualquer pessoa
Objeto material: Fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual,
contendo as cenas indicadas no tipo
Objeto jurídico: Dignidade sexual
Elemento subjetivo: Dolo
Classificação:
● Comum
● Formal
● Forma livre
● Comissivo
● Instantâneo ou permanente
● Dano
● Unissubjetivo
● Plurissubsistente
Tentativa: Admiteconduziu à abolitio criminis do delito de atentado violento ao pudor anteriormente cometido”.
I. O princípio da continuidade normativa típica ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a
mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua
tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.
II. Não houve abolitio criminis da conduta prevista no art. 214 c/c o art. 224 do Código Penal. O art. 224
do Estatuto Repressor foi revogado para dar lugar a um novo tipo penal tipificado como estupro de
vulnerável.
III. Acórdão mantido por seus próprios fundamentos.
IV. Ordem denegada.
(HC n. 204.416/SP, relator Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 17/5/2012, DJe de 24/5/2012.)
📌 OBSERVAÇÃO
■ Até o advento da Lei nº 12.015/2009, o vocábulo estupro, no Brasil, se limitava a incriminar o
constrangimento de mulher à conjunção carnal (penetração do pênis na cavidade vaginal). Outros atos
libidinosos estavam tipificados no artigo seguinte (atentado violento ao pudor), que protegia, também, o
homem. De forma salutar, a inovação legislativa reuniu os dois crimes em um só tipo penal, abrangendo tanto a
conjunção carnal quanto atos libidinosos diversos da conjunção carnal.1
■ Crimes contra a liberdade sexual e palavra da vítima .2
2 https://tudodepenal.com/julgados/crimes-contra-a-liberdade-sexual-e-palavra-da-vitima/
1 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
8
Em se tratando de crimes contra a liberdade sexual, que geralmente são praticados na clandestinidade, a
palavra da vítima assume relevantíssimo valor probatório, mormente se corroborada por outros
elementos de prova contidos nos autos, tal como ocorrido no caso em apreço. (STJ, AgRg no Ag em REsp
1.705.601, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma, j. 08.09.2020)
“As jurisprudências do STF e do STJ consolidaram–se no sentido de que o crime previsto art. 217–A, do Código
Penal – CP, é de tipo misto alternativo. Ou seja, quando as condutas correspondentes a "conjunção carnal" e a
"outro ato libidinoso" forem praticadas em um mesmo contexto fático, contra a mesma vítima, permitem o
reconhecimento da ocorrência de crime único.” HC 306085/SP, 09/08/2016 e AgRg no HC 252144/SP,
07/03/2017.
Antes da reforma da Lei 12.015/09, a prática de conjunção carnal e outro ato libidinoso, no mesmo ato,
configurava concurso material de crimes. Atualmente, caso o agente pratique ambas as condutas,
teremos um crime único (pois se trata de crime plurinuclear [tem vários núcleos do tipo no artigo]), no
entanto, o Juiz pode agravar a pena base em razão da prática de mais de um núcleo do tipo penal.(STJ -
HC: 325411 SP 2015/0127311-0, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 19/04/2018, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/04/2018)
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-AM (Banca: FGV, Ano: 2022) a banca considerou correta
a seguinte assertiva: “Na hipótese de um agente ter praticado um crime de estupro e um crime de atentado
violento ao pudor, contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático, a partir do advento da Lei nº
12.015/2009, deverá responder por crime único”.
2.2. PENA DO ESTUPRO E PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
Corrente minoritária da doutrina sustenta que a pena do estupro viola o princípio da
proporcionalidade, tendo em vista que a pena é idêntica ao de homicídio, o que seria desproporcional.
Entretanto, majoritariamente entende-se que a dignidade sexual é tão importante quanto a vida e o legislador
tem a discricionariedade política de atribuir a pena que achar melhor aos crimes (STF/STJ).
2.3. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Crime pluriofensivo (atinge duas ou mais categorias de bens jurídicos) – Liberdade sexual e
integridade física e psíquica.
⚠ ATENÇÃO
Em qualquer de suas formas é crime hediondo.
2.4. OBJETO MATERIAL
Pessoa violentada (homem ou mulher) e de qualquer orientação sexual que suporte a conduta
9
criminosa.
2.5. CONDUTA
Pune-se o ato de libidinagem violento, coagido, forçado, buscando o agente constranger a vítima à
conjunção carnal ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso (todo e qualquer ato
revestido de conotação sexual). O constrangimento pode se dar por violência (toda forma de agressão ou uso3
da força física) ou grave ameaça à vítima.
Ademais, para configuração do crime é necessário o dissenso da vítima (discordância da vítima).
Discordância que deve ser revestida de seriedade, inequívoca e evidente, a ponto de influenciar o agente a
utilizar grave ameaça para conseguir.
📌 OBSERVAÇÕES
■ A grave ameaça pode ser justa ou injusta: a ameaça pode até ser justa mas a finalidade é sempre
injusta. Exemplo: ameaçar a comunicação de um crime se a pessoa não praticar relação sexual com o agente.
■ A simulação de arma de fogo pode sim configurar a “grave ameaça”, para os fins do tipo do art.
213 do Código Penal.
A simulação de arma de fogo pode sim configurar a “grave ameaça”, para os fins do tipo do art. 213 do Código
Penal. STJ. 6ª Turma. REsp 1.916.611-RJ, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª
Região), julgado em 21/09/2021 (Info 711) .4
■ Entende-se por conjunção carnal (cópula vagínica) a penetração, ainda que parcial, do pênis na
vagina. Já outros atos de natureza sexual, tais como sexo oral, anal ou passar as mãos nos seios da vítima ou
em suas nádegas, configuram atos libidinosos diversos da conjunção carnal, mas também punidos pelo crime
de estupro.
■ Embora haja uma certa divergência doutrinária, tem prevalecido na jurisprudência dos Tribunais
Superiores que o beijo lascivo (com introdução da língua na boca da vítima e que se destina a satisfazer a
volúpia sexual) pode ser considerado ato libidinoso a fim de configurar o crime de estupro. Vejamos:
“subsume-se ao crime previsto no art. 213, § 1º, do CP — a conduta de agente que abordou de forma violenta
e sorrateira a vítima com a intenção de satisfazer sua lascívia, o que ficou demonstrado por sua declarada
intenção de ‘ficar’ com a jovem— adolescente de 15 anos – e pela ação de impingir-lhe, à força, um beijo, após
ser derrubada ao solo e mantida subjugada pelo agressor, que a imobilizou pressionando o joelho sobre seu
abdômen.” (REsp 1.611.910/MT — Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz — 6ª Turma — julgado em 11-10-2016 — DJe
27-10-2016).
“Um homem beijou uma criança de 5 anos de idade, colocando a língua no interior da boca. O STF entendeu
que essa conduta caracteriza o chamado “beijo lascivo”, havendo, portanto, a prática do crime de estupro de
4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A simulação de arma de fogo pode sim configurar a “grave ameaça”, para os fins do tipo do art. 213 do Código
Penal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 10/06/2022
3 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
10
vulnerável, previsto no art. 217-A do Código Penal. Não é possível desclassificar essa conduta para a
contravenção penal de molestamento (art. 65 do Decreto-Lei nº 3.668/41). Para determinadas idades, a
conotação sexual é uma questão de poder, mais precisamente de abuso de poder e confiança. No caso
concreto, estão presentes a conotação sexual e o abuso de confiança para a prática de ato sexual. Logo, não
há como desclassificar a conduta do agente para a contravenção de molestamento (que não detém essa
conotação sexual). O art. 227, § 4º, da CF/88 exige que a lei imponha punição severa à violação da dignidade
sexual da criança e do adolescente. Além do mais, a prática de qualquer ato libidinoso diverso ou a conduta de
manter conjunção carnal com menor de 14 anos se subsome, em regra, ao tipo penal de estupro de
vulnerável, restando indiferente o consentimento da vítima.” (STF. 1ª Turma. HC 134591/SP, rel. orig. Min.
Marco Aurélio,red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 1/10/2019) (Info 954).5
■ Para que haja o crime, é desnecessário contato físico (estupro virtual) entre o autor do crime e a
vítima. Assim, se ele usar de grave ameaça para forçar a vítima a se automasturbar ou a introduzir um vibrador
na própria vagina, estará configurado o estupro. Da mesma maneira, se ela for forçada a manter relação com
terceiro (o agente obrigar duas pessoas a fazerem sexo) ou até com animais.6
■ Há controvérsia em torno de qual delito se configura quando o agente manda a vítima tirar a roupa,
sem obrigá-la à prática de qualquer ato sexual (contemplação lasciva). Para alguns, o crime é o de
constrangimento ilegal, com o argumento de que o ato de ficar nu, por si só, não é ato libidinoso. Para outros, a
conduta constitui ato libidinoso e o crime é o de estupro. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento
de que se trata de crime de estupro :7
Doutrina e jurisprudência sustentam a prescindibilidade do contato físico direto do réu com a
vítima, a fim de priorizar o nexo causal entre o ato praticado pelo acusado, destinado à
satisfação da sua lascívia, e o efetivo dano à dignidade sexual sofrido pela ofendida. 3. No caso,
ficou devidamente comprovado que o paciente agiu mediante nítido poder de controle
psicológico sobre as outras duas agentes, dado o vínculo afetivo entre eles estabelecido. Assim,
as incitou à prática dos atos de estupro contra as infantes (uma de 3 meses de idade e outra de
2 anos e 11 meses de idade), com o envio das respectivas imagens via aplicativo virtual, as quais
permitiram a referida contemplação lasciva e a consequente adequação da conduta ao tipo do
art. 217-A do Código Penal. 4. Ordem denegada. (STJ - HC: 478310 PA 2018/0297641-8, Relator:
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 09/02/2021, T6 - SEXTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 18/02/2021
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-SE (Banca: CESPE/CEBRASPE, Ano: 2022) a banca
considerou correta a seguinte assertiva: “Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a
contemplação lasciva de uma criança, por meio da Internet, sem qualquer contato físico, configura estupro
de vulnerável”.
7 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 631.
6 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 631.
5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Homem que beijou criança de 5 anos de idade, colocando a língua no interior da boca(beijo lascivo) praticou
estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), não sendo possível a desclassificação para a contravenção penal de molestamento (art. 65 do DL 3.668/41).
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/02/2022
11
O tema também foi cobrado na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPDFT (Banca: própria; Ano:
2021). No oportunidade, foi considerada correta a seguinte assertiva: “A respeito de CRIMES CONTRA A
DIGNIDADE SEXUAL, conforme o STJ, é CORRETO afirmar que “A contemplação lasciva pode tipificar o crime de
estupro de vulnerável (art. 217-A do CP)”.
Juris em teses STJ nº 152 - 4) A contemplação lasciva configura o ato libidinoso constitutivo
dos tipos dos art. 213 e art. 217-A do CP, sendo irrelevante, para a consumação dos delitos, que
haja contato físico entre ofensor e vítima.
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Defensor Público da DPE-PB (Banca: FCC, Ano: 2022) a banca considerou correta a
seguinte assertiva: “O crime de estupro de vulnerável, conforme o Superior Tribunal de Justiça, prescinde de contato
físico direto do réu com a vítima”.
Esse tema também foi objeto de questão na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-PB, (Banca:
CESPE/CEBRASPE; Ano: 2022). Na oportunidade, foi considerada correta a seguinte assertiva “Considerando o
entendimento do STJ em relação a crimes sexuais, A contemplação lasciva configura ato libidinoso constitutivo
de estupro e de estupro de vulnerável, sendo irrelevante, para a consumação dos delitos, que haja contato
físico entre ofensor e vítima.
■ O estupro é crime hediondo e o constrangimento ilegal é crime de menor potencial ofensivo. Em
ambos, entretanto, o núcleo do tipo é o verbo “constranger” e em ambos há o emprego de violência ou grave
ameaça.
■ O constrangimento ilegal é um constrangimento que se esgota em si próprio. Não há finalidade
específica do agente. Exemplo: o agente aponta uma arma para a vítima e diz que ela ficará olhando para a
parede por uma hora, sem finalidade específica. O estupro é um constrangimento ilegal voltado a uma
finalidade específica: conjunção carnal ou ato libidinoso diverso. É essa finalidade específica que torna o
estupro um crime mais grave. Por exemplo, caso alguém seja levado para um motel e seja forçado a assistir
uma cena de sexo entre um casal, pois isso dá prazer a eles, não haverá estupro e sim constrangimento ilegal.
Porém, se esse alguém for menos de 14 anos haverá o crime do art. 218-A do CP.
💭 APROFUNDAMENTO
STEALTHING: ato de alguém retirar preservativo durante a relação sexual sem o consentimento.
Temos as seguintes possibilidades, segundo Rogério Sanchez (2020):
Ato consentido, condicionado ao uso do preservativo, durante o ato o agente retira a proteção.
Percebendo a negativa séria e insistente do parceiro, o agente continua na prática do ato, usando violência ou
grave ameaça: aqui, teríamos configurado o crime de estupro.
Ato consentido, condicionado ao uso de preservativo, sorrateiramente o agente retira a proteção e
continua o ato até a sua finalização. Não se cogita estupro, pois ausentes os meios típicos de execução:
violência física ou moral. Caracteriza-se estelionato sexual (art. 215 cp).
12
Trata-se de um delito de tendência, em que tal intenção se encontra inserida no dolo ou seja, na
vontade de praticar a conjunção carnal. A intenção sexual é inerente ao dolo.
2.6. PLURALIDADE DE ATOS NO MESMO CONTEXTO FÁTICO
1ª Corrente: crime único, será levado em conta na dosimetria da pena base como circunstância
judicial desfavorável e seria um tipo misto alternativo. Majoritária e STJ.
2ª Corrente: concurso de crimes, porque há pluralidade de dolos e condutas autônomas e seria um
tipo misto cumulativo.
2.7. SUJEITO ATIVO
Com as alterações trazidas pela Lei n. 12.015/2009, o crime de estupro pode ser praticado por
qualquer pessoa, tanto homem quanto mulher. Trata-se de crime comum.
2.8. SUJEITO PASSIVO
A vítima também pode ser qualquer pessoa. O tipo penal não faz qualquer exigência quanto ao sujeito
passivo. Inclusive, prostitutas podem ser vítimas deste crime, quando forçadas a um ato sexual indesejado.
📌 OBSERVAÇÕES
■ Trata-se de crime bi-comum. E é perfeitamente possível o estupro contra os transexuais, prostitutos
e prostitutas.
■ O art. 226 prevê uma causa de aumento caso o crime seja praticado contra o cônjuge.
2.9. ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo.
O texto legal não exige que o agente tenha a específica intenção de satisfazer sua libido, seu apetite
sexual. Assim, também estará configurado o estupro se a intenção do agente era vingar-se da vítima,
humilhando-a com a prática do ato sexual, ou, ainda, se o ato sexual violento for cometido em razão de aposta.
Admite-se concurso de pessoas tanto na autoria quanto na participação.
📌 OBSERVAÇÃO
Embora o tipo penal não exija uma finalidade específica para sua consumação, caso a conduta seja
realizada com a intenção de controlar o comportamento social ou sexual da vítima (Estupro Corretivo), incidirá
uma causa de aumento de pena, prevista no art. 226, IV, “b” CP.
Aumento de pena
Art. 226. A pena é aumentada:
IV – de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado:
13
b) para controlaro comportamento social ou sexual da vítima
2.10. CONSUMAÇÃO
Trata-se de crime material.
“A conjunção carnal consuma-se com a introdução, ainda que parcial, do pênis na vagina. Contudo, se
antes disso o agente realizou outro ato sexual independente, já terá cometido estupro consumado em tal
momento. Por sua vez, se a intenção do agente era apenas a de praticar ato libidinoso diverso da conjunção
carnal, o crime se consumará com sua concretização”.8
Súmula 593-STJ: O crime de estupro de vulnerável configura-se com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática do ato,
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com a vítima.
2.11. TENTATIVA
É possível quando o agente empregar a violência ou grave ameaça e não conseguir realizar qualquer
ato sexual com a vítima por circunstâncias alheias à sua vontade. Trata-se de crime plurissubsistente.
📌 OBSERVAÇÕES
■ A disfunção erétil, no caso de atos que envolvem penetração (conjunção carnal ou sexo anal), possui
reflexos penais. Se a disfunção erétil for comprovada por perícia médica, ela acarreta o chamado crime
impossível pela ineficácia absoluta do meio de execução. O crime, neste caso, é impossível apenas na
modalidade que envolve a penetração. Entretanto, nada impede que haja a consumação do estupro por meio
da prática de outros atos libidinosos diversos da conjunção carnal ou sexo anal.
2.12. AÇÃO PENAL
Ação Penal Pública Incondicionada.
Súmula 608-STF: No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública
incondicionada.
📌 OBSERVAÇÃO
A Lei n. 13.718/2018 modificou a redação do art. 225 do Código Penal, estabelecendo que a ação
penal nos crimes dos capítulos I e II é pública incondicionada. Assim, para os crimes de estupro praticados a
partir de 25 de setembro de 2018, a ação penal não mais dependerá de representação da vítima.
8 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 633.
14
2.13. ESTUPRO QUALIFICADO PELA LESÃO GRAVE OU MORTE - ART. 213, §1 E §2
§ 1 Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima émenor de 18 ou
maior de 14 anos:
Pena - reclusão, de 8 a 12 anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 a 30 anos
Inicialmente, é salutar esclarecer que eventuais lesões leves decorrentes da violência empregada pelo
estuprador ficam absorvidas pelo crime-fim (estupro), mas podem ser levadas em conta pelo juiz na fixação da
pena-base.
Ademais, no que diz respeito à qualificadora pela lesão grave, trata-se de figura preterdolosa em
razão do montante de pena previsto em abstrato. Assim, pressupõe que haja dolo quanto ao estupro e culpa
em relação ao resultado lesão grave. Se ficar demonstrado que houve dolo de provocar lesão grave ou
gravíssima, o agente responde por estupro simples em concurso material com o crime de lesão corporal grave.9
No que diz respeito à qualificadora pela idade da vítima, trata-se de inovação da Lei n. 12.015/2009.
Aqui, deve-se atentar para o fato de que se a vítima tiver menos de 14 anos o crime será de estupro de
vulnerável (art. 217-A).
Por fim, quanto à qualificadora do §2º, o crime de estupro qualificado pela morte é exclusivamente
preterdoloso, pressupondo dolo em relação ao estupro e culpa quanto à morte. O estupro qualificado pela
morte, portanto, não é julgado pelo Tribunal do Júri, e sim pelo juízo singular.10
📌 OBSERVAÇÕES
■ Quando o agente estupra a vítima e, em seguida, intencionalmente a mata para assegurar sua
impunidade, responde por crime de estupro simples em concurso material com homicídio qualificado.
■ O homicídio de pessoa diversa, normalmente, é o homicídio qualificado pela conexão. Exemplo: o
agente mata o marido para estuprar a esposa. Neste exemplo, o homicídio foi praticado para assegurar a
execução de outro crime. Assim sendo, o agente responderá pelo homicídio qualificado pela conexão
teleológica e pelo estupro (em concurso material).
■ O estupro qualificado existe, quer a morte seja decorrência da violência, quer da grave ameaça
utilizada pelo estuprador.11
■ A morte que qualifica o estupro é a morte da vítima do estupro. Se a morte recair em pessoa
diversa, o agente responderá pelo homicídio e pelo estupro em concurso material.
■ A lesão grave e a lesão gravíssima qualificam o estupro. Não incide a qualificadora quando a lesão
grave é produzida em pessoa diversa. Exemplo: o estuprador agride gravemente o marido e estupra a esposa.
Neste caso, o agente responderá pela lesão grave contra o marido e pelo estupro contra a mulher, em concurso
11 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 639.
10 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 639.
9 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 638.
15
material.
⚠ ATENÇÃO
A atual redação do art. 1º, inc. V, da Lei n. 8.072/90, dada pela Lei n. 12.015/2009, considera de
natureza hedionda, em suas formas consumada ou tentada, o “estupro (art. 213, caput, e §§ 1º e 2º)”. Portanto,
tanto o estupro na forma simples quanto as suas figuras qualificadas constituem crimes hediondos.
📌 OBSERVAÇÕES
■ O STJ restabeleceu a condenação por estupro. A simulação de arma de fogo pode sim configurar a
“grave ameaça”. Isso porque a “grave ameaça” deve ser analisada com base no sentimento unilateral que é
provocado no espírito da vítima subjugada. A existência de grave ameaça não depende do risco objetivo e
concreto a que a vítima foi efetivamente submetida. STJ. 6ª Turma. REsp 1916611-RJ, Rel. Min. Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 21/09/2021 (Info 711).
1. Consta dos autos que o recorrido foi condenado a 10 anos de reclusão, em regime inicial fechado, pela
prática do delito previsto no art. 213, caput, do Código Penal, mas o Tribunal de origem, provendo em parte a
apelação da defesa, desclassificou a conduta para o art. 215-A do CP, redimensionando a reprimenda para 1
anos e 3 mês de reclusão, em regime inicial aberto, por entender que a arma utilizada pelo agente não era
real, tudo não passando de uma simulação de uso de arma de fogo.
2. A controvérsia constante no caso concreto está relacionada à elementar do tipo de estupro, qual
seja, a grave ameaça. Diante do substrato fático-probatório dos autos, reconhecido pelas instâncias
ordinárias, verifica-se a ocorrência da elementar "grave ameaça" do crime de estupro, uma vez que,
tanto a sentença quanto o Tribunal estadual, reconheceram que a conduta foi perpetrada "fazendo-a
falsamente acreditar que o implicado estaria armado ao adentrar o condomínio em que a mesma
residia", configurando, assim, grave violência.
3. Esta Corte Superior tem entendido que a simulação de arma de fogo, fato comprovado e confirmado
pelas instâncias ordinárias, pode sim configurar a "grave ameaça", para os fins do tipo do art. 213 do
Código Penal, pois esse é de fato o real e efetivo sentimento provocado no espírito da vítima subjugada.
4. Provimento do Recurso Especial. Restabelecimento da sentença condenatória. Devolução dos autos à
origem, a fim de avaliar, dentro do efeito devolutivo pleno da apelação, decorrente do pedido de absolvição
por insuficiência de prova, a dosimetria da pena aplicada na sentença, que partiu de pena-base igual ao
máximo legal do tipo.
(REsp n. 1.916.611/RJ, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Sexta
Turma, julgado em 28/9/2021, DJe de 11/10/2021.)
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Juizde Direito Substituto do Estado do Espírito Santo (Banca: FGV, Ano: 2023), foi
apresentado o seguinte enunciado “Nélio, colocando a mão sob sua camisa e simulando estar armado, aborda
Olímpia, de 15 anos de idade, e determina que ela o masturbe, sob ameaça de morte. Tremendo por sua vida,
por acreditar que ele realmente estivesse armado, Olímpia cumpre a ordem”. A resposta considerada correta é
“Nélio deverá responder por estupro, em sua forma qualificada”.
16
2.14. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - ART. 226
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de 1/4, se o crime é cometido com o concurso de 2 ou mais pessoas;
Esse dispositivo foi revogado tacitamente, em relação ao crime de estupro, pela Lei n. 13.718/2018,
que criou a modalidade chamada estupro coletivo, que acrescentou o inc. IV, “a”, no art. 226, estabelecendo
aumento de pena de um a dois terços se o crime for cometido mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Essa nova regra, contudo, chamada de estupro coletivo, só se aplica, obviamente, aos crimes de
estupro. Em relação aos demais crimes sexuais, continua aplicável o art. 226, I.
Art. 226. A pena é aumentada:
II – de 1/2, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
título tiver autoridade sobre ela
São hipóteses em que a pena é maior em razão de o agente exercer autoridade ou ter algum tipo de
parentesco ou relação próxima com a vítima. A lei descreve, inicialmente, uma série de hipóteses específicas e,
ao final, utiliza-se de fórmula genérica para abranger toda e qualquer relação de fato ou de direito que implique
autoridade sobre a vítima12
📌 OBSERVAÇÃO
Em relação aos ascendentes, o texto legal não faz restrição ao grau, de modo que a majorante
também é aplicável se o delito for cometido pelo avô, bisavô etc. Nesse sentido:
O bisavô encontra-se, na relação de parentesco com a bisneta, no terceiro grau da linha reta (arts. 1.591 e
1.594 do Código Civil), e não há no ordenamento jurídico nenhuma regra de limitação quanto ao número de
gerações. II — É juridicamente possível a majoração da pena privativa de liberdade imposta ao recorrente,
bisavô da vítima, em razão da incidência da causa de aumento prevista no inciso II do art. 226 do Código Penal,
considerada a figura do ascendente” (STF — RHC 138.717 — Rel. Min. Ricardo Lewandowski — 2ª Turma —
julgado em 23-5-2017 — DJe-117 divulg. 2-6-2017, public. 5-6-2017)
Art. 226. A pena é aumentada:
IV – de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado:
Estupro coletivo
a) mediante concurso de 2 ou mais agentes;
Trata-se da causa de aumento de pena do Estupro Coletivo. Prevalece o entendimento de que esta
causa de aumento se aplica tanto a casos de coautoria quanto de participação, na medida em que o legislador
12 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 641.
17
referiu-se genericamente ao concurso de pessoas, sem fazer restrição.
Assim, existe o aumento quando duas pessoas estão no local agarrando a vítima a fim de viabilizar o
estupro, como também na hipótese em que uma delas age apenas para induzir, instigar ou prestar auxílio
material secundário à execução do delito.13
📌 OBSERVAÇÃO
■ A denominação estupro coletivo foi introduzida no Código Penal pela Lei n. 13.718/2018.
■ Segundo Sanches , é possível compatibilizar as disposições dos incisos I e IV. O inciso I, com efeito,14
nunca se restringiu ao crime de estupro, aplicando-se a quaisquer das figuras tipificadas nos capítulos I e II dos
crimes contra a dignidade sexual. O inciso IV, por sua vez, é específico para os crimes de estupro (inclusive de
vulnerável). Logo, a partir da Lei 13.718/18, o concurso de pessoas pode ensejar causas de aumento diversas a
depender da natureza do crime praticado: se estupro, aumenta-se a pena de um a dois terços segundo o inciso
IV; nos demais casos, o aumento é de um quarto, conforme determina o inciso I.
Art. 226. A pena é aumentada:
IV – de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado:
Estupro corretivo
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.
Nesse dispositivo, denominado de Estupro Corretivo e introduzido no Código pela Lei n. 13.718/2018,
é a finalidade do agente que torna a pena mais severa: intenção de controlar o comportamento social ou sexual
da vítima. Ex.: homem que estupra uma mulher porque esta é homossexual, visando modificar sua opção
sexual ou puni-la por isso.15
Para Sanches13, a majorante do estupro corretivo abrange, em regra, crimes contra mulheres lésbicas,
bissexuais e transexuais, no qual o abusador quer "corrigir" a orientação sexual ou o gênero da vítima. A
violação tem requintes de crueldade e é motivada por ódio e preconceito, justificando a nova causa de
aumento. A violência é usada como um castigo pela negação da mulher à masculinidade do homem. Uma
espécie doentia de ‘cura’ por meio do ato sexual à força. A característica desta forma criminosa é a pregação do
agressor ao violentar a vítima. Os meios de comunicação indicam casos em que os agressores chegam a incitar
a “penetração corretiva” em grupos das redes sociais e sites na internet (o que, isoladamente, pode caracterizar
o crime do art. 218-C – apologia ou induzimento à prática do estupro – caso sejam veiculados fotografias ou
registros audiovisuais)
2.15. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - ART. 234-A
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada
15 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 642.
14 https://s3.meusitejuridico.com.br/2018/09/140afc83-crimes-sexuais-lei-13718-18.pdf
13 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 642.
18
III – de 1/2 a 2/3, se do crime resulta gravidez;
De acordo com o inc. III, haverá aumento de metade a dois terços da pena se do crime resultar
gravidez. Será necessário, portanto, demonstrar que a gravidez foi resultante do ato sexual forçado.
📌 OBSERVAÇÃO
O art. 128, II, do Código Penal permite a realização de aborto, por médico, quando a gravidez for
resultante de estupro, desde que haja consentimento da gestante, ou, se incapaz, de seu representante legal. A
pena do réu, todavia, será majorada ainda que a vítima tenha optado pela interrupção da gravidez.16
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada
IV – de 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que
sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência.
Nessa situação, é necessário que o agente saiba efetivamente estar acometido da doença ou que, ao
menos, deva saber disso em razão de seu quadro clínico.
2.16 CLASSIFICAÇÃO
Segundo o professor Guilherme Nucci, "trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito
ativo qualificado ou especial); material (delito que exige resultado naturalístico, consistente no efetivo
tolhimento da liberdade sexual da vítima). Há quem entenda ser crime de mera conduta, com o que não
podemos concordar, pois o legislador não pune unicamente uma conduta, que não possui resultado
naturalístico. A pessoa violentada pode sofrer lesões de ordem física – se houver violência – e, invariavelmente,
sofre graves abalos de ordem psíquica, constituindo, com nitidez, um resultado detectável no plano da
realidade. É, ainda, delito de forma livre (pode ser cometido por meio de qualquer ato libidinoso); comissivo
(“constranger” implica ação) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a
aplicação do art. 13, § 2.º, do Código Penal); instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se
prolongando no tempo); de dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídicotutelado);
unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); plurissubsistente (como regra, vários atos integram
a conduta); admite tentativa, embora de difícil comprovação. ”17
3. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE - ART. 225, CP
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude
ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 a 6 anos.
17 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 29.
16 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 643.
19
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
tambémmulta.
3.1. ASPECTOS INICIAIS
A lei 12.015/2009 juntou no atual artigo 215 do CP o crime de posse sexual mediante fraude (antigo
art. 215) e o atentado ao pudor mediante fraude (antigo 216).
3.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Tutela-se a dignidade sexual da vítima, lesada mediante fraude do agente.
3.3. CONDUTA
Pune-se o Estelionato Sexual, comportamento caracterizado quando o agente, sem emprego de
qualquer espécie de violência, pratica com a vítima ato de libidinagem, usando de fraude ou outro meio que
impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. A fraude pode ser compreendida como18
qualquer meio iludente empregado para que a vítima tenha uma errada percepção da realidade e consinta no
ato, ciente ou não da intenção sexual do agente. Ressalte-se que é necessário que a fraude ou o outro meio
tenha realmente a capacidade de ludibriar a vítima. Fraudes grosseiras não ensejam o reconhecimento desse
tipo penal, mas de certo deve-se analisar o caso concreto e as peculiaridades da vítima.
⚠ ATENÇÃO
A fraude utilizada na prática do crime não pode anular a capacidade de resistência da vítima, sob pena
de se configurar o crime de estupro de vulnerável (Art. 217-A).
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Defensor Público do Estado de Rondônia (Banca: CESPE/CEBRASPE, Ano: 2023) a
banca trouxe o seguinte enunciado “Indivíduo maior e capaz, sob a alegação de que estava doente e precisava
de material genético humano, praticou atos libidinosos com adolescente de 15 anos de idade, o qual consentiu
com a prática em razão da argumentação do maior.”. Foi considerada correta a assertiva: “A conduta do
indivíduo maior e capaz, no caso apresentado, é violação sexual mediante fraude”.
3.4. SUJEITO ATIVO
Pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher. Trata-se de crime comum.
3.5. SUJEITO PASSIVO
Pode ser qualquer pessoa, inclusive prostitutas.
18 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
20
📌 OBSERVAÇÃO
Caso o agente empregue fraude para obter ato sexual com pessoa menor de 14 anos, responderá
apenas por crime de estupro de vulnerável (art. 217-A), que é mais grave.
3.6. TIPO SUBJETIVO
Dolo.
3.7. CONSUMAÇÃO
Trata-se de crime material, de forma livre. Consuma-se com a prática do ato de libidinagem. Sendo
possível a tentativa quando, iniciada a execução, o ato sexual visado não se consuma por circunstâncias alheias
à vontade do agente.
📌OBSERVAÇÕES
■ A prática sucessiva de conjunção carnal e de ato libidinoso, dentro das mesmas circunstâncias
fáticas e com a mesma vítima, constitui crime único.
■ Caso a vítima perceba a fraude e mesmo assim deseje continuar o ato, o fato será atípico. Caso
contrário e utilizando da violência ou grave ameaça, o autor do delito responderá poor estupro.
3.8. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-MS (Banca: FAPEC, Ano: 2021) a banca considerou
correta a seguinte assertiva: “A ação penal do crime de violação sexual mediante fraude (art. 215 do Código
Penal) é pública e incondicionada”.
3.9 CLASSIFICAÇÃO
Segundo o professor Guilherme Nucci, “Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito
ativo qualificado ou especial); material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na conjunção
carnal ou na prática de ato libidinoso); de forma livre (pode ser cometido por qualquer meio eleito pelo
agente); comissivo (“ter” implica ação); instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se
prolongando no tempo); de dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado);
unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); plurissubsistente (como regra, vários atos integram a
conduta); admite tentativa ”.19
19 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 29.
21
4. IMPORTUNAÇÃO SEXUAL - ART. 215-A, CP
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena – reclusão, de 1 a 5 anos, se o ato não constitui crime mais grave
4.1. ASPECTOS INICIAIS
A inserção do presente tipo penal no Código Penal, por intermédio da aprovação da Lei n.
13.718/2018, teve por finalidade possibilitar punição mais rigorosa aos inúmeros casos de abuso sexual
ocorridos, precipuamente em coletivos lotados. Antes da aprovação desta Lei, tais atos sexuais eram
enquadrados meramente como contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor (art. 61 da LCP).
Referida contravenção, aliás, foi expressamente revogada pela mencionada Lei.20
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-SP (Banca: própria, Ano: 2019) a banca considerou
correta a seguinte assertiva: “O crime de importunação sexual, com elemento subjetivo específico, foi criado
pela Lei n° 13.718/2018, que revogou expressamente o artigo 61 do Decreto-Lei n° 3.688/41, Lei das
Contravenções Penais”.
4.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA
A liberdade sexual.
4.3. CONDUTA
O texto legal exige a efetiva prática de ato libidinoso contra alguém e sem sua anuência.. Exs.: esfregar
o pênis nas nádegas da vítima. Ademais, não é exigível que o fato ocorra em local público, aberto ou exposto ao
público.
📌 OBSERVAÇÃO
■ O texto legal exige que o ato seja praticado contra alguém e não com alguém de modo que o
contato físico não é imprescindível. É necessário, porém, que a conduta seja direcionada especificamente a uma
ou algumas pessoas.21
■ Não é possível desclassificar crime de estupro de vulnerável para o delito de importunação sexual .22
22 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é possível desclassificar crime de estupro de vulnerável para o delito de importunação sexuala. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: .
Acesso em: 10/06/2022
21 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
20 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 650.
22
Não é possível a desclassificação da figura do estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) para o crime do art.
215-A do CP (importunação sexual). Isso porque o tipo penal do art. 215-A é praticado sem violência ou grave
ameaça e o delito do art. 217-A inclui a presunção absoluta de violência ou grave ameaça, por se tratar de
menor de 14 anos. STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr 4.969/DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
26/06/2019.
O STJ afirma que não é possível a desclassificação da figura do estupro de vulnerável para o art. 215-A do
Código Penal, uma vez que referido tipo penal é praticado sem violência ou grave ameaça, e o tipo penal do
art. 217-A do Código Penal inclui a presunção absoluta de violência ou grave ameaça, por se tratar de menor
de 14 anos.
4.4. ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, sendo necessárioum especial fim de agir, no sentido de que o ato seja realizado com o
objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro.
4.5. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa, trata-se de crime comum.
4.6. SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa.
📌 OBSERVAÇÃO
Se o crime for praticado contra uma daquelas pessoas que se enquadram no conceito de vulnerável
do art. 217-A do Código Penal, o crime praticado não será o ora estudado, mas sim o de estupro de vulnerável.
4.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Trata-se de crime formal. No momento em que praticado o ato libidinoso contra outrem sem a sua
anuência, não precisando empregar a fraude, violência ou grave ameaça pelo agente. Não é necessário que o
agente aufira prazer sexual. Trata-se de crime formal.23
A tentativa é possível.
4.8. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
É possível.
4.9. AÇÃO PENAL
Ação penal pública incondicionada.
23 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
23
🚩 NÃO CONFUNDA24
IMPORTUNAÇÃO SEXUAL ATO OBSCENO
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua
anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a
própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato
não constitui crime mais grave.
Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou
aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
O sujeito passivo é determinado (uma pessoa
determinada ou um grupo de pessoas determinado).
Sujeito passivo é a coletividade (crime vago).
Exige-se um elemento subjetivo especial. O agente
pratica a conduta “com o objetivo de satisfazer a
própria lascívia ou a de terceiro”.
O elemento subjetivo é o dolo, não se exigindo do
sujeito nenhuma finalidade específica.
A conduta não precisa ter sido praticada em lugar
público, ou aberto ou exposto a público. Ex: pode ser
praticado no interior de uma casa.
Para que o crime se configure, é indispensável que o
ato obsceno tenha sido praticado em lugar público,
ou aberto ou exposto ao público.
Para que o crime se configure, é indispensável que o
ato libidinoso tenha sido praticado contra alguém que
não concordou com isso. A análise da anuência ou
não da pessoa atingida é fundamental.
Não importa se houve ou não anuência das pessoas
que estavam presentes. Se o ato obsceno foi
praticado em lugar público, ou aberto ou exposto ao
público, haverá o crime.
Infração de médio potencial ofensivo. Infração de menor potencial ofensivo.
4.10 CLASSIFICAÇÃO
Segundo o professor Guilherme Nucci, ““Trata-se de crime comum (pode ser cometido por qualquer
pessoa); material (delito que exige um resultado naturalístico, consistente na efetiva prática do ato libidinoso,
visível e certo para a vítima, acarretando-se lesão à sua liberdade sexual); de forma livre (a libidinagem pode
ser realizada de qualquer maneira); comissivo (trata-se de crime de ação, conforme evidencia o verbo nuclear
do tipo); instantâneo (o resultado se dá de modo determinado na linha do tempo); de dano (consuma-se com a
lesão à liberdade sexual de alguém); unissubjetivo (pode ser cometido por uma só pessoa); plurissubsistente
(a regra é que a prática libidinosa envolva vários atos); admite tentativa. ””25
25 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 37..
24 Tabela retirada do site www.dizerodireito.com.br
24
5. ASSÉDIO SEXUAL - ART. 216-A, CP
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes
ao exercício de emprego, cargo ou função (decorrentes de relação de trabalho).
Pena – detenção, de 1 a 2 anos.
§ 2o A pena é aumentada em até 1/3 se a vítima émenor de 18 anos.
5.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
Liberdade sexual e liberdade de exercício do trabalho e o direito de não ser discriminado (crime
pluriofensivo).
5.2. OBJETO MATERIAL
Pessoa assediada, pouco importando o sexo, orientação sexual ou seu comportamento sexual.
5.3. CONDUTA
O núcleo do tipo é o verbo “constranger”. No crime sob análise, o ato de constranger significa
incomodar, importunar, envergonhar, embaraçar alguém.
📌 OBSERVAÇÕES
■ Trata-se de menor potencial ofensivo e crime formal. Neste delito não há violência ou grave ameaça.
■ Não basta, entretanto, que o patrão conte uma anedota que faça a vítima ficar envergonhada ou
realize elogios ou gracejos eventuais, ou, ainda, convite para jantar ou para um passeio, já que isso não é algo
concretamente constrangedor. É claro, entretanto, que haverá crime se houver recusa da vítima e o chefe
começar a importuná-la com reiteradas investidas.26
■ Se houver a utilização de grave ameaça ou de violência, o crime cometido será o de estupro.
5.4. SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime próprio. Pode ser homem ou mulher, desde que o agente importune a vítima
prevalecendo-se de sua superioridade hierárquica ou ascendência inerente ao exercício de emprego (relação
laboral de natureza privada), cargo ou função (relação laboral de cunho público). Portanto, trata-se de um crime
próprio.27
📌 OBSERVAÇÕES
■ Na hipótese de hierarquia, existe um superior e um subordinado, o que não ocorre no caso de
ascendência em que o agente apenas goza de poder ou influência em relação à vítima (professores ou diretores
27 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
26 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
25
de colégio ou de universidades em relação aos estudantes; Prefeito em relação aos munícipes etc.).
■ O STJ entendeu que o crime de assédio sexual pode ser caracterizado entre professor e aluno,
vejamos :28
“O crime de assédio sexual (art. 216-A do CP) é geralmente associado à superioridade hierárquica em relações
de emprego, no entanto pode também ser caracterizado no caso de constrangimento cometido por
professores contra alunos.
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o
agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
função. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Caso concreto: o réu, ao conversar com uma aluna adolescente em sala de aula sobre suas notas, teria
afirmado que ela precisava de dois pontos para alcançar a média necessária e, nesse momento, teria se
aproximado dela e tocado sua barriga e seus seios.” STJ. 6ª Turma. REsp 1759135/SP, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, Rel. p/ Acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/08/2019 (Info 658).
5.5. SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa, homem ou mulher; e tem que estar necessariamente em uma situação inferior
hierarquicamente ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
5.6. ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo de constranger, com o objetivo de qualquer tipo de favorecimento ou vantagem sexual.
5.7. CONSUMAÇÃO OU TENTATIVA
Trata-se de crime de consumação antecipada ou resultado cortado e de forma livre. A redação do
dispositivo deixa claro que se trata de crime formal cuja consumação ocorre no momento do assédio,
independentemente da efetiva obtenção da vantagem ou favorecimento sexual visados. Quanto à tentativa, é29
possível, por exemplo, na forma escrita.
5.8. AÇÃO PENAL
Nos moldes do que determina o art. 225, trata-se de ação penal pública incondicionada.
📌 OBSERVAÇÃO
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:(...) V - nos
crimes contra a dignidade sexual ou que envolvam violência contra a criança e o
adolescente, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima
completar 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. (LEI
29 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponívelem: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 653.
28 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O crime de assédio sexual pode ser caracterizado entre professor e aluno. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: . Acesso em: 09/02/2022
26
14344/22)
5.9. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - ART. 216-A, §2º
§ 2o A pena é aumentada em até 1/3 se a vítima émenor de 18 anos.
O legislador entendeu por bem aumentar a pena em até 1/3 quando o crime envolver vítima menor
de 18 anos. Entretanto, deve-se atentar para o fato de que, se a vítima tiver menos de 14 anos, o crime será de
estupro de vulnerável (Art. 217-A).
📌 OBSERVAÇÃO
Em relação à causa de aumento prevista no parágrafo segundo, a doutrina entende que o aumento
pode se dar entre 1/6 a 1/3 tendo por base o patamar adotado nas causas de aumento, deixando, assim, de ser
crime de menor potencial ofensivo.
5.10 CLASSIFICAÇÃO
Segundo o professor Guilherme Nucci, “Trata-se de crime próprio (aquele que só pode ser cometido
por sujeito qualificado, no caso é o superior hierárquico ou chefe da vítima); formal (crime que não exige, para
sua consumação, resultado naturalístico, consistente em obter o agente o favor sexual almejado). Caso consiga
o benefício sexual, o delito atinge o exaurimento; de forma livre (aquele que pode ser cometido de
qualquer forma eleita pelo agente); comissivo (o verbo constranger implica ação); instantâneo (cuja
consumação não se prolonga no tempo, dando-se em momento determinado); unissubjetivo (aquele que pode
ser cometido por um único sujeito); unissubsistente (praticado num único ato) ou plurissubsistente (delito
cuja ação é composta por vários atos, permitindo-se o seu fracionamento), conforme o caso concreto; admite
tentativa na forma plurissubsistente, embora seja de difícil configuração ”.30
6. REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL - ART.
216-B, CP
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de
nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos
participantes:
Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio
ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou
libidinoso de caráter íntimo.
30 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 43.
27
6.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
O bem jurídico tutelado é o resguardo da intimidade sexual.
6.2. CONDUTA
O presente crime pune a pessoa que, sem o conhecimento da vítima, produz, fotografa, filma ou, por
qualquer meio, registra cena com nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado. Caso houvesse
distribuição, venda, disponibilização, ou seja, publicização do conteúdo, o crime cometido seria o do art. 218 –
C.
📌 OBSERVAÇÕES
■ Rogério Sanches defende que, se o mesmo agente grava e divulga a cena sexual, há concurso
material de crimes dos arts. 216-B e 218-C.
■ A cena deve ter sido praticada em caráter íntimo e privado, ou seja, num ambiente não acessível ao
público. Assim, se o agente filma um casal mantendo relações sexuais em uma praça, por exemplo, não se
configura o crime.
■ Não é necessário que o agente esteja envolvido no ato sexual. Há crime, por exemplo, quando o
namorado esconde uma câmera no quarto e filma a relação sexual com a namorada. Existe, também, infração
penal, quando o vizinho se esconde e filma o casal da residência ao lado mantendo relação sexual na piscina da
casa deles.31
🚨JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Juiz de Direito Substituto do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo -
TJ-ES (Banca: FGV, Ano: 2023), o enunciado trouxe a seguinte narrativa “Gumercindo, num domingo de sol, em
uma praia repleta de pessoas, passa a usar seu aparelho telefônico celular para fotografar, discreta e
clandestinamente, algumas mulheres presentes no local, notadamente aquelas que vestiam os menores
biquínis, procurando, sobretudo, captar imagens de suas nádegas”, sendo considerada correta a afirmativa:
“Gumercindo não praticou crime”.
A conduta narrada é atípica, pois não se trata de foto de “caráter íntimo e privado”, elemento do tipo penal.
6.3. SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa (crime comum).
6.4. SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa.
31 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 655.
28
⚠ ATENÇÃO
Se esta pessoa for menor de idade, estará configurado, em regra, crime mais grave previsto no art.
240, caput, da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
6.5. CONSUMAÇÃO
Trata-se de crime formal. No momento em que o agente filma, fotografa etc. Se, posteriormente,
houver divulgação — igualmente não autorizada — restará configurado também o crime do art. 218-C, do
Código Penal. É possível a tentativa.32
6.6. AÇÃO PENAL
Ação Penal pública incondicionada.
6.7. FIGURA EQUIPARADA “PORNOGRAFIA DE VINGANÇA” - ART. 216-B,
PARÁGRAFO ÚNICO
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio
ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou
libidinoso de caráter íntimo.
O bem jurídico protegido é só a honra e a imagem, não seria a dignidade sexual, porque a vítima não
estava participando do ato.
6.9.1 ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo sem necessidade de finalidade específica.
6.9.2. CONSUMAÇÃO
Crime formal ou de consumação antecipada. Se for revelado a terceiro é exaurimento do crime
agravando a pena.
6.10. CLASSIFICAÇÃO
Segundo o professor Guilherme Nucci, “Cuidam-se ambas as formas (caput e parágrafo único) de
crime comum (pode ser cometido por qualquer pessoa); formal (consuma-se com a prática das condutas,
independentemente de resultado naturalístico); de forma livre (pode ser executado por qualquer meio
escolhido pelo agente); comissivo (cuida-se de delito de ação); instantâneo (consuma-se em determinado
momento detectável na linha do tempo); unissubjetivo (pode ser praticado por uma só pessoa);
32 Gonçalves, Victor Eduardo, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Penal - Parte Especial. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora
Saraiva, 2022. p. 655.
29
plurissubsistente (cometido por vários atos). Admite tentativa. ”.33
7. ESTUPRO DE VULNERÁVEL - ART. 217-A, CP
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso commenor de 14 anos:
Pena - reclusão, de 8 a 15 anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, NÃO TEM O NECESSÁRIO DISCERNIMENTO para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, NÃO PODE OFERECER RESISTÊNCIA.
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave
Pena - reclusão, de 10 a 20 anos.
§ 4o Se da conduta resultamorte:
Pena - reclusão, de 12 a 30 anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente
do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente
ao crime.
7.1. OBJETIVIDADE JURÍDICA
O art. 217-A tutela a dignidade sexual do vulnerável.
📌 OBSERVAÇÃO
VULNERABILIDADE RELATIVA OU ABSOLUTA ?34
■ Relativa
TJSP: “Estupro – Vítima menor de 14 anos – Fato ocorrido em agosto de 2006 – Análise sobre a legislação vigente à
época dos fatos – Violência presumida decorrente da idade – Presunção de violência que não é absoluta – Menor
que, à época dos fatos, possuía plena consciência sobre assuntos relacionados ao sexo – Conhecimento e
consentimento da família para manter namoro anterior – Quadro probatório que autoriza afastar a presunção
absoluta de violência – Absolvição – Recurso provido (voto n. 12.899)”(AP 993.08.035868-0, 16.ª C., rel. Newton
Neves, 25.10.2011, v.u.).
■ Absoluta
STJ: “A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que a anterior experiência sexual
ou o consentimento da vítima menor de 14 (quatorze) anos são irrelevantes para a configuração do delito de
estupro, devendo a presunção de violência, antes disciplinada no artigo 224, alínea ‘a’, do Código Penal, ser
34Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição). Grupo
GEN, 2022. p. 56.
33 Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Grupo GEN, 2022. p. 51.
30
considerada de natureza absoluta” (HC 224174, 5.ª T., rel. Jorge Mussi, 18.10.2012, v.u.).
Sobre essa diferença, o professor Guilherme Nucci tece o seguinte destaque:35
houve visível alteração de entendimento, no campo do consentimento da vítima, quando menor de 14 anos,
para relações sexuais, em face do que havia antes da reforma de 2009. Tratava-se, anteriormente, da chamada
presunção de violência. Quem tinha menos que 14 anos era presumidamente incapaz de consentir, logo, qualquer
ato libidinoso com essa pessoa era tido por violento, logo, seria estupro ou atentado violento ao pudor (arts. 213 ou
214). Hoje, unificado o estupro e o atentado violento ao pudor, criou-se o art. 217-A do CP, apenas dizendo ter
conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos: pena de reclusão de 8 a 15 anos. Assim
sendo, os julgados, que antes admitiam, conforme o caso, a discussão acerca da presunção de violência, se absoluta
ou relativa, passaram a encarar a vulnerabilidade como absoluta (sem admitir qualquer prova em contrário).
Nota-se que muito disso se deveu ao empenho estatal no combate à prostituição infantojuvenil, o que é positivo.
Entretanto, deixou-se desabrigada a situação de um simples casal de namorados, com relacionamento aprovado
pelas famílias de ambos os lados, pretendendo punir por estupro de vulnerável o jovem que teve relação sexual
com a pessoa menor de 14. É preciso ter cautela na avaliação das particulares situações envolvendo
relacionamentos amorosos, muitos dos quais chegam a constituir família, inclusive com o nascimento de filhos. Não
se pode olvidar a realidade, nem utilizar o direito penal como mecanismo de educação sexual para jovens.
⚠ ATENÇÃO
Trata-se de crime hediondo, tanto em sua forma simples como nas qualificadas.
7.2. CONDUTA
O crime pune crime o ato de manter relacionamento sexual com uma das pessoas vulneráveis
elencadas no tipo penal. Tal relação sexual pode se consubstanciar tanto pela conjunção carnal quanto por
qualquer outro ato libidinoso.
Súmula 593- STJ: “O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou
prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da
vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento
amoroso com o agente.”
🚨JÁ CAIU
Esse tema foi cobrado na prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-SP (Banca: VUNESP, Ano: 2021). A banca
considerou correta a seguinte assertiva: “A conduta daquele que beija, bem como passa a mão no corpo e nas
partes íntimas de uma criança de dez (10) anos de idade, não ocasionando lesões físicas à vítima, configura
crime de estupro de vulnerável”.
A prova para o cargo de Delegado de Polícia da PC-PA (Banca: INSTITUTO AOCP, Ano: 2021) também cobrou
esse assunto. Na oportunidade, a banca considerou correta a seguinte assertiva: ”O crime de estupro de
vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de catorze anos, sendo
35Nucci, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Arts. 213 a 361 do Código Penal. v.3. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição). Grupo
GEN, 2022. p. 56.
31
irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou
existência de relacionamento amoroso com o agente”.
⚠ ATENÇÃO
Recentemente, houve um distinguishing sobre o entendimento da súmula. O Superior Tribunal de
Justiça entendeu que a relação sexual com pessoa menor de 14 anos, quando praticada em contexto de
relação amorosa, sobrevindo a gravidez da menor, pode ensejar, mediante análise do caso concreto, a
exclusão da tipicidade material do crime de estupro de vulnerável, nos seguintes termos:
1. A hipótese trazida nos presentes autos apresenta particularidades que impedem a simples subsunção da
conduta narrada ao tipo penal incriminador, motivo pelo qual não incide igualmente a orientação firmada pelo
Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.480.881/PI e no enunciado sumular
n. 593/STJ.
2. Atualmente, o estupro de vulnerável não traz em sua descrição qualquer tipo de ameaça ou violência, ainda que
presumida, mas apenas a presunção de que o menor de 14 anos não tem capacidade para consentir com o ato
sexual. Assim, para tipificar o delito em tela, basta ser menor de 14 anos. Diante do referido contexto legal, se faz
imperativo, sob pena de violação da responsabilidade penal subjetiva, analisar detidamente as particularidades do
caso concreto, pela perspectiva não apenas do autor mas também da vítima.
3. Um exame acurado das nuances do caso concreto revela que a conduta imputada, embora formalmente
típica, não constitui infração penal, haja vista a ausência de relevância social e de efetiva vulneração ao
bem jurídico tutelado. De fato, trata-se de dois jovens que estavam namorando e que dessa relação
sobreveio uma filha que, destaca-se, vem tendo a devida assistência do pai. Verifica-se, portanto,
particularidades que impedem o julgamento uniforme no caso concreto, sendo necessário proceder ao
distinguishing ou distinção.
4. A condenação do agravado, que não oferece nenhum risco à sociedade, ao cumprimento de uma pena de 10
anos e 10 meses de reclusão, revela uma completa subversão do direito penal, em afronta aos princípios
fundamentais mais basilares, em rota de colisão direta com o princípio da dignidade humana. Dessa forma, estando
a aplicação literal da lei na contramão da justiça, imperativa a prevalência do que é justo, utilizando-se as outras
técnicas e formas legítimas de interpretação (hermenêutica constitucional).
5. O Supremo Tribunal Federal, por mais de uma vez, já deixou de aplicar um tipo penal ao caso concreto,
nos denominados hard cases, se valendo da teoria da derrotabilidade do enunciado normativo, a qual trata
da possibilidade de se afastar a aplicação de uma norma, de forma excepcional e pontual, em hipóteses de
relevância do caso concreto (HC 124.306/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016, DJe 16/3/2017).
6. Ademais, a incidência da norma penal, na presente hipótese, não se revela adequada nem necessária, além de
não ser justa, porquanto sua incidência trará violação muito mais gravosa de direitos que a conduta que se busca
apenar. Dessa forma, a aplicação da norma penal na situação dos autos não ultrapassa nenhum dos crivos dos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
7. Destaco, ainda, conforme recentemente firmado pela Quinta Turma, que não se mostra coerente impor à
vítima uma vitimização secundária pelo aparato estatal sancionador, ao deixar de considerar "seus anseios
e sua dignidade enquanto pessoa humana". A manutenção da pena privativa de liberdade do recorrente, em
processo no qual a pretensão do órgão acusador se revela contrária aos anseios da própria vítima, acabaria
por deixar a jovem e o filho de ambos desamparados não apenas materialmente mas também
emocionalmente, desestruturando entidade familiar constitucionalmente protegida.
32
(REsp 1524494/RN e AREsp 1555030/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/5/2021, DJe 21/5/2021).
8. Importante destacar que a Constituição da República consagra

Mais conteúdos dessa disciplina