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1 ALTERAÇÕES CUTÂNEAS PARASITÁRIAS E DISTÚRBIOS DE HIPERSENSIBILIDADE 1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 2 2. CONCEITOS .............................................................................................................. 5 3. DISTÚRIOS DE HIPERSENSIBILIDADE ................................................................ 9 4. HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR ................................................................... 12 5. DERMATOLOGIA EM CÃES E GATOS ................................................................ 16 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 23 2 1. INTRODUÇÃO A principal forma de transmissão da escabiose – popularmente conhecida como sarna – é o contato direto por meio da pele entre as pessoas infestadas. Entre 15 e 20 minutos são suficientes para a transmissão da doença de uma pessoa para a outra. O alerta é do Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que divulgou na última semana o documento científico “Infecções cutâneas parasitárias: aspectos clínicos e atualização terapêutica. Além da escabiose, a publicação também aborda outras infecções como a pediculose, a tungíase e a dermatite serpiginosa. “Menos frequentemente, ocorre a transmissão pelo contato indireto por meio de fômites, como roupas, toalhas e lençóis, porque os ácaros podem sobreviver fora da pele humana por alguns dias. Instituições como creches, orfanatos e asilos têm maior risco de contaminação, pelo contato íntimo e prolongado das pessoas”, observam os especialistas. A escabiose é uma doença parasitária da pele. A sarna humana é causada pelo ácaro Sarcoptesscabiei variante hominis. É um parasita obrigatório humano que se localiza na epiderme. Os ácaros cavam túneis na pele e depositam suas fezes nestes caminhos. A doença ocorre em qualquer área geográfica, idade, raça ou grupo social. É um problema de saúde mundial e afeta mais de 300 milhões de indivíduos todos os anos, com prevalência alta em menores que dois anos de idade. “As lesões de pele variam de acordo com a faixa etária, o que geralmente é um desafio para o diagnóstico. É de extrema importância que os médicos reconheçam as diferentes variedades clínicas da escabiose para um rápido diagnóstico e tratamento, reduzindo a contaminação dos contatos próximos, e minimizando o risco de complicações”, explicam os especialistas. O documento apresenta ainda os sintomas, o diagnóstico, os tipos de tratamentos e como deve ser feito o acompanhamento dos pacientes com escabiose. PEDICULOSE – Conhecida como piolho, a pediculose do couro cabeludo é causada pelo Pediculushumanus, variedade capitis, mais frequente em crianças de três a 11 anos, principalmente no período escolar, mais comum nas meninas pelo hábito destas terem cabelos longos e contato mais próximo umas com as outras. 3 A transmissão ocorre pelo contato direto com pessoas, e são diagnosticados milhões de casos anualmente. Apesar do mito de estar associado a cabelos malcuidados, afeta todas as classes econômicas e preferencialmente hospedeiros saudáveis com cabelos limpos. Acredita-se que as populações de menor nível econômico apresentam maiores prevalências devido à dificuldade em adquirir e realizar adequadamente o tratamento. De acordo com o documento, o tratamento deve levar em consideração que nenhum esquema se mostrou 100% eficaz nos estudos clínicos e que a resistência às medicações existentes está aumentando. É importante destacar que não existe um produto preventivo, não existe repelente e as fórmulas caseiras podem até funcionar, porém existe o risco de intoxicações e por este motivo não devem ser utilizadas. “Mais importante que qualquer medicação é a remoção mecânica das lêndeas com pente bem fino e a remoção dos piolhos realizada com meticuloso cuidado. Os medicamentos não eliminam os ovos. Se as lêndeas não forem retiradas, darão origem a novos piolhos’, salientam os especialistas. TUNGÍASE – Dermatose ectoparasitária, causada pela penetração da fêmea da Tunga penetrans na epiderme do hospedeiro. A pulga habita locais arenosos e secos, como chiqueiros e pocilgas, mais frequente nas zonas rurais. O homem e os suínos são seus principais hospedeiros. A dermatose é autolimitada e dura 4 a 6 semanas. Nas áreas endêmicas, porém, a reinfestação constante é a regra, e os indivíduos afetados podem apresentar dezenas de parasitas em diferentes estágios de desenvolvimento. O tratamento consiste na extração da pulga com agulha estéril. Pode ainda ser utilizada eletrocirurgia e nitrogênio líquido. Além disso, em casos de infestações extensas, deverão ser ministrados medicamentos específicos. LARVA MIGRANS CUTÂNEA – Também denominada de dermatite serpiginosa e helmintíase migrante ou ainda é popularmente conhecida como “bicho geográfico” ou “bicho de praia”. É uma doença helmíntica negligenciada e paradoxalmente subnotificada nos países de baixa e média renda. Acredita-se que seja uma das dermatoses mais comuns em países tropicais e subtropicais. A contaminação do homem ocorre pelo contato da pele com o solo contaminado por larvas, habitualmente, ao andar descalço sobre terreno arenoso. Praias, principalmente aquelas onde há fezes de cães e gatos na areia, são locais propícios para conter larvas de helmintos. 4 “A larva progride sob a pele por trajetos sinuosos, pois não consegue alcançar as camadas mais profundas e desta forma não atingem a corrente sanguínea, mas pode ocorrer aumento de IgE sérica e eosinofilia. Com o tratamento específico há cura e remissão total sem lesão residual”, esclarecem os especialistas. O Departamento Científico de Dermatologia da SBP é composto pelos drs.Vânia Oliveira de Carvalho (presidente); Ana Maria Mosca de Cerqueira; Ana Elisa Kiszewski Bau; Antônio Carlos Madeira de Arruda; Jandrei Rogério Markus; Marice Emanuela El Achkar Mello; e Matilde Campos Carrera. Colaborou a dra. Gina BressanSchiavon. 5 2. CONCEITOS A Lei Orgânica da Saúde conceitua Vigilância Epidemiológica (VE) como um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. Entretanto, nas últimas décadas o sistema de saúde organizou serviços de VE nas Secretarias Estaduais que desenvolviam uma série de ações e atividades voltadas para a erradicação, eliminação ou apenas controle de algumas doenças infecciosas e parasitárias, excluindo as não transmissíveis. Como este Guia tem como propósito sintetizar conhecimentos básicos sobre algumas doenças que estão sob vigilância epidemiológica no Brasil, acrescidas de outras importantes para a saúde pública, que dispõem de algumas medidas de controle e tratamento, as noções de VE aqui colocadas estão restritas à área de doenças transmissíveis. Notificação - É a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fim de adoção de medidas de intervenção pertinentes. Deve-se notificar a simples suspeita da doença, sem aguardar a confirmação do caso, que pode significar perda da oportunidade de adoção das medidas de prevenção e controle indicadas. A notificação tem que ser sigilosa, só podendo ser divulgada fora do âmbito médico sanitário em caso de risco para a comunidade, sempre respeitandose o direito de anonimato dos cidadãos. Propósitos - A VE tem como propósitofornecer orientação técnica permanente - para os que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos. Sua operacionalização compreende um ciclo completo de funções específicas e intercomplementares, que devem ser desenvolvidas de modo contínuo, permitindo conhecer, a cada momento, o comportamento epidemiológico da doença ou agravo escolhido como alvo das ações, para que as intervenções pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidade e eficácia. Funções - Coleta e processamento de dados; análise e interpretação dos dados - processados; investigação epidemiológica de casos e surtos; recomendação e 6 promoção das medidas de controle apropriadas; avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; divulgação de informações sobre as investigações, medidas de controle adotadas, impacto obtido, formas de prevenção de doenças, dentre outras. É importante salientar que todos os profissionais de saúde (da rede pública, privada e conveniada), bem como os diversos níveis do sistema (municipal, estadual, federal), têm atribuições de vigilância epidemiológica. Dependendo da inserção profissional e da capacidade executiva, técnica e gerencial de cada área, essas funções vão da simples notificação de casos suspeitos ou confirmados das doenças que compõem o sistema de vigilância até a investigação epidemiológica (casos ou surtos), adoção de medidas de controle, coleta, análise e interpretação de dados e outras. Coleta de Dados - A VE desencadeia suas atividades a partir da ocorrência de um evento sanitário (caso(s) suspeito(s) ou confirmado(s) de doença sob vigilância. Costuma-se definí-la, de modo simples e operacional, como Informação para Ação. A coleta de dados ocorre em todos os níveis de atuação do sistema de saúde. A força e valor da informação (que é o dado analisado) dependem da qualidade e fidedignidade com que a mesma é gerada. Para isso, faz-se necessário que as pessoas responsáveis pela coleta estejam bem preparadas para diagnosticar corretamente o caso, como também para realizar uma boa investigação epidemiológica, com anotações claras e confiáveis para que se possa assimilá-las com confiabilidade. Tipos de Dados: morbidade; mortalidade, dados demográficos e ambientais; notificação de surtos e epidemias. Fontes de Dados: a) Notificação compulsória de doenças - é uma : das principais fontes da vigilância epidemiológica a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo informação-decisão-ação. A lista nacional das doenças de notificação vigente encontra-se neste guia, e a sua seleção é baseada na magnitude (medida pela freqüência), potencial de disseminação, transcendência (medida pela letalidade, severidade, relevância social e econômica), vulnerabilidade (existência de instrumentos de prevenção); compromissos internacionais de erradicação, eliminação ou controle; doenças incluídas no Regulamento Sanitário Internacional; epidemias, surtos e agravos inusitados. 7 Esses critérios são observados e analisados em conjunto. b) Resultados de exames laboratoriais. c) Declarações de óbitos. d) Maternidades (nascidos vivos). e) Hospitais e ambulatórios. f) Investigações epidemiológicas. g) Estudos epidemiológicos especiais. h) Sistemas sentinelas. i) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístca-IBGE. j) Imprensa e população, dentre outros. Diagnóstico de Casos - A confiabilidade do sistema de notificação depende, em grande parte, da capacidade dos profissionais e serviços locais de saúde - que são responsáveis pelo atendimento dos casos - diagnosticarem, corretamente, as doenças e agravos. Para isso, os profissionais deverão estar tecnicamente capacitados e dispor de recursos complementares para a confirmação da suspeita clínica. Investigação Epidemiológica - A investigação epidemiológica é um método de trabalho utilizado com muita freqüência em casos e epidemias de doenças transmissíveis, mas que se aplica a outros grupos de agravos. Consiste em um estudo de campo realizado a partir de casos (clinicamente declarados ou suspeitos) e de portadores, com o objetivo de avaliar a ocorrência, do ponto de vista de suas implicações para a saúde coletiva. Sempre que possível, deve conduzir à confirmação do diagnóstico, à determinação das características epidemiológicas da doença, à identificação das causas do fenômeno e à orientação sobre as medidas de controle adequadas. a) Roteiro de Investigação: as seguintes indagações devem ser levantadas: De quem foi contraída a infecção? (fonte de contágio); Qual a via de disseminação da infecção, da fonte ao doente?; Que outras pessoas podem ter sido infectadas pela mesma fonte de contágio?; Quais as pessoas a quem o caso pode haver transmitido a doença?; A quem o caso ainda pode transmitir a doença? Como evitá-lo? b) Finalidade da Investigação: adoção de medidas de controle em tempo hábil. Para que isso aconteça, ela tem que ser iniciada imediatamente após a ocorrência do evento. c) Ficha de Investigação Epidemiológica: formulários, existentes nos serviços de saúde, específicos para cada tipo de doença, que facilitam a coleta e consolidação de 8 dados; devem ser preenchidos cuidadosamente, registrando-se todas as informações indicadas, para permitir a análise e a comparação de dados. Quando se tratar de agravo inusitado, deve-se elaborar uma ficha própria, de acordo com as manifestações clínicas e epidemiológicas do evento. Os formulários contêm dados de identificação do paciente, da anamnese, do exame físico, de suspeita diagnóstica, informações sobre o meio ambiente (de acordo com o agravo); exames complementares de acordo com o(s) agravo(s) suspeitado(s). d) Busca de pistas: visa buscar a origem da transmissão, cabendo ao investigador estabelecer quais as mais importantes e o caminho a seguir. Em geral, é importante definir: período de incubação; presença de outros casos na localidade; existência ou não de vetores ligados à transmissibilidade da doença; grupo etário mais atingido; fonte de contágio comum (água, alimentos); modos de transmissão (respiratória, contato direto, etc.); época em que ocorre (estação). Por ser uma atividade que exige tempo e custos adicionais, nem todas as doenças são investigadas. Os critérios de definição para investigação são: doença considerada prioritária pelo sistema de vigilância; estar excedendo a freqüência usual; há suspeita de que os casos sejam devidos a uma fonte comum de infecção; apresenta-se com gravidade clínica maior que a habitual; é desconhecida na área (agravo inusitado). e) Busca ativa de casos: é feita para conhecer a magnitude do evento quando se suspeita que casos possam estar ocorrendo sem o conhecimento dos serviços de saúde. É mais restrita (domicílio, rua ou bairro) ou ampliada (cidade, municípios, acompanhando correntes migratórias, etc), seguindo-se a área geográfica de abrangência da fonte de contágio. 9 3. DISTÚRIOS DE HIPERSENSIBILIDADE A prática da vacinação é considerada um dos melhores métodos de prevenção de doenças infecto-contagiosas, mas os eventos adversos associados à vacinação são uma preocupação dos veterinários e tutores, principalmente relacionados aos felinos. É importante levar em consideração os riscos e benefícios da vacinação, onde os benefícios da vacina contra doenças sérias compensam o risco de complicações. Reações pós vacinais ou eventos adversos à vacinação são definidos como quaisquer efeitos colaterais ou consequências não pretendidas associadas a aplicação de uma vacina. As complicações podem ser consideradas imunológicas ou não imunológicas. As reações pós vacinais são raras e a frequência real depende dos relatos dos médicos veterinários aos fabricantes das vacinas. As complicaçõesnão imunológicas são aquelas reações consideradas sistêmicas, caracterizadas por febre, anorexia, apatia, vômito e diarreia. As reações locais também se enquadram como complicações não imunológicas. As complicações imunológicas são as reações de hipersensibilidade e são classificadas como dos tipos I, II, III e IV. É muito importante atentar para as diferenças de sintomatologia entre cães e gatos com reações pós vacinais. As reações de hipersensibilidade do tipo I em felinos podem ser manifestadas por vômito, diarreia e o comportamento de esconder-se ou procurar uma área mais aquecida logo após a vacinação. Assim que a hipersensibilidade progride, os gatos podem apresentar prurido facial, hipersalivação, edema pulmonar agudo, dispneia e colapso. Os sintomas de uma reação de hipersensibilidade do tipo I ocorrem geralmente em questão de minutos a horas (menos de 24 horas) após a vacinação. Por este motivo, veterinários devem sugerir aos tutores a observação dos animais por algumas horas após o procedimento médico que é a vacinação. Dificuldade respiratória, manifestada por dispneia e cianose, são sintomas de choque anafilático, a forma mais grave de hipersensibilidade. A maioria dos gatos com reações adversas à vacinação responde ao tratamento quando feito de modo precoce, mas aqueles com sintomas respiratórios ou tratamento tardio podem ter complicações e mesmo morrer. O tratamento de reações de hipersensibilidade do tipo I em felinos requer 10 atendimento imediato para combater os efeitos sistêmicos da histamina ou de outros mediadores químicos. É indicada uma dose anti-inflamatória de glicocorticoide, sendo a via de eleição a intravenosa (tabela 1), junto com um anti-histamínico preferencialmente por uma via parenteral como prometazina, definidramina e cetirizina (tabela 2). Tabela 1: Doses de alguns glicocorticoides para utilização nas reações de hipersensibilidade em felinos Tabela 2: Doses de alguns anti-histamínicos comumente utilizados em felinos Nos casos de choque anafilático, anti-histamínicos e glicocorticoides podem ser utilizados, contudo sua aplicação não deve preterir a utilização de adrenalina e os cuidados básicos em casos de parada cardiorrespiratória. A internação por períodos de 24 a 48 h é obrigatória para monitorização do paciente. Da mesma forma que nas reações brandas, a continuidade do tratamento Fármaco Dose Succinato sódico de metilprednisolona 1 a 2 mg/kg, a cada 12-24h IV Succinato sódico de hidrocortisona 10 mg/kg, a cada 12 h, IV Fosfato sódico de dexametasona 0,2 a 0,6 mg/kg, a cada 24- 48 h, IV Prednisolona/prednisona 1 a 2 mg/kg, 24/24 h, oral Fármaco Dose Prometazina 0,2 a 0,4 mg/kg, a cada 6-8h, IV, IM ou oral (até 1 mg/kg) Definidramina 1 mg/kg, a cada 8h, IV ou IM ou 2 a 4 mg/kg, a cada 6-8h, oral Cetirizina 1 mg/kg, a cada 24 h, oral 11 com anti-histamínicos e glicocorticoides em casa é recomendável. Animais com histórico de hipersensibilidade do tipo I devem ser vacinados logo após a chegada ao consultório, para que haja um período de observação adequado. Os tutores devem ser avisados para manter o animal dentro de casa e sob observação por várias horas após a chegada em casa depois da vacinação. Em alguns casos, o animal pode ficar hospitalizado para observação por 1 ou 2 horas após a vacinação. Deve-se administrar anti-histamínicos e/ou glicocorticoides (doses anti- inflamatórias) 20 a 30 minutos antes de revacinações anuais de animais que possuem histórico de reações brandas de hipersensibilidade às vacinas. Os veterinários podem reduzir a frequência da vacinação ou aplicar outra marca. Nos casos de animais que sobreviveram ao choque anafilático, não se recomenda o uso da mesma vacina. Um estudo retrospectivo conduzido nos Estados Unidos* avaliou 496.189 gatos vacinados em 329 hospitais por 30 dias após a vacinação. O objetivo do estudo era estimar a incidência dos eventos adversos associados a vacinação. Foram 1.258.712 doses administradas a 496.189 gatos e observadas 2.560 reações, resultando em 0,516 % de reações pós vacinais. Os principais sintomas observados pelos tutores foram: letargia e/ou febre (54,2%); edema, dor ou inflamação (25,2%); vômito (10,3%); edema facial e/ou angioedema (5,7%); prurido generalizado (1,9%) e colapso (0,4%); este último, apenas 4 gatos. A maior incidência ocorreu em gatos de 2 a 4 kg. Animais castrados tiveram mais reações e o risco maior foi em gatos entre 9 meses e 1,5 anos. Nenhum aumento de volume foi diagnosticado como neoplasia 1 a 2 anos após a vacinação. Concluiu-se que, apesar dos riscos da vacinação serem mínimos, veterinários devem conversar com tutores de gatos e expor os riscos e benefícios da vacinação. 12 4. HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR O cuidado com a alimentação dos animais de estimação está crescendo graças à alta qualidade e padrões de fabricação das principais indústrias de alimentação para cães. Os proprietários cada vez mais se preocupam com a qualidade de vida de seus “pets” e investem cada vez mais em uma alimentação balanceada e de alta qualidade. O mercado de alimentos para animais de estimação cresce a cada dia, a disputa entre as diversas marcas hoje não estão mais baseadas apenas no preço como anteriormente e sim na qualidade. Nos últimos anos surgiram além das rações para raças específicas, rações para diferentes fases de vida e uma ampla variedade de rações para prevenir e auxiliar no tratamento de doenças. A escolha do tema sobre alergia alimentar se deu porque esta enfermidade requer um tratamento que, na maioria das vezes, busca apenas a adequação da dieta comercial, porém, é uma das condições que mais frustram proprietários e médicos veterinários pelo trabalhoso diagnóstico e adequação de tratamento. A ALERGIA A alergia é uma reação de defesa exagerada que se desenvolve após a exposição a um determinado antígeno e que ocorre em indivíduos geneticamente susceptíveis e previamente sensibilizados. A reação alérgica geralmente aparece dentro de alguns minutos, embora também possa ser vista em até 48 horas após o contato (COLIN, 2005; NASCENTE et al., 2006). A alergia pode ser mediada por anticorpos ou por células. Na grande maioria dos casos, o anticorpo responsável pela reação alérgica pertence ao isotipo IgE, podendo estes indivíduos ser referenciados como “sofrendo de uma alergia mediada por IgE”. Nem todas as reações alérgicas associadas a IgE ocorrem em indivíduos atópicos. Na alergia não IgE mediada, o anticorpo pode pertencer ao isotipo IgG (como exemplo a doença do soro, referida como reação tipo III) (FERNANDES, 2005). Fernandes (2005) complementou ainda que, as reações alérgicas são respostas não habituais do sistema imunológico e representam reatividade alterada a um antígeno. Os linfócitos produzem anticorpos – ou imunoglobulinas (Ig) – que podem ligarse ao antígeno para neutralizá-lo. Estes linfócitos irão manter a memória do antígeno e, caso ocorra um novo encontro, eles vão imediatamente produzir novos 13 anticorpos protetores: o animal fica assim protegido ou “imunizado” (COLIN, 2005). O mesmo autor cita que, com a alergia, o mecanismo é exatamente o mesmo, no entanto, a resposta é exagerada quando há a presença de certos antígenos, chamados alérgenos. Os alérgenos desencadeiam uma cascata de reações que liberam anticorpos específicos (IgE) e, particularmente, substâncias irritantes, responsáveis pela inflamação e coceira. Em suma, a reação alérgica é mais prejudicial do que protetora. A hipersensibilidade alimentar (HA) que acomete os cães é uma desordem cutânea pruriginosa não sazonal, associada presumivelmente ao material antigênico presente na dieta, e quase que exclusivamente causada por proteínas (primariamente, glicoproteínas) e peptídeos, que escapamà digestão e são absorvidos intactos através da mucosa. A reação imunológica presente na alergia alimentar é similar àquela promovida pela defesa do organismo contra agentes infecciosos ou outros que lhe possam causar danos (NASCENTE et al., 2006). As alergias alimentares em cães representam cerca de 1% das dermatoses dos cães, e é uma doença pouca conhecida com relação a sua etiopatogenia, diagnóstico e tratamento. É considerada uma das doenças que mais estressam animais e preocupam os proprietários e médicos veterinários. Existem dois tipos de reação adversa ao alimento, uma reação imunomediada de alergia ao alimento e uma reação não imunológica de intolerância ao alimento (FERNANDES, 2005; SIMÕES; BASTOS- FISCHER, 2007). Designações como “reação adversa ao alimento” ou “hipersensibilidade alimentar” são nomenclaturas que implicam em uma reação fisiológica ou à presença de manifestações clínicas causadas por uma resposta ou reação anormais a uma substância ingerida. O sinal clínico pode refletir tanto uma resposta imunológica (verdadeira alergia) como uma reação química ou tóxica (intolerância). Na grande maioria dos casos, o clínico é capaz de diferenciar a etiologia e, por isso, é preferida a designação de reação adversa ao alimento, apesar da utilização comum das designações de alergia alimentar ou de hipersensibilidade alimentar (HARVEY; HALL, 2009). Os mesmos autores salientam ainda que de um modo geral, considera-se que apenas moléculas complexas, como as glicoproteínas de alto peso molecular, são capazes de estimular o sistema imunológico e desencadear uma resposta alérgica. 14 Em medicina veterinária, não é conhecido nenhum fator hereditário, ou seja, não existiria predisposição racial e, na maioria dos casos, ocorrem sinais clínicos gastrointestinaise/ou dermatológicos crônicos. Por este motivo, a relevância da vasta oferta de literatura sobre este tópico em humanos é ainda desconhecida para os clínicos veterinários. Todas as proteínas da dieta são potencialmente alergênicas, pois são reconhecidas como estranhas pelo sistema imune e, muitas vezes, são os únicos alérgenos alimentares encontrados. A habilidade de uma proteína alergênica induzir à produção de um anticorpo IgE parece ser dependente de seu tamanho e estrutura: aparentemente, aquelas com peso molecular entre 10.000 e 70.000 daltons – especialmente aquelas cujo peso molecular varia entre 18.000 e 36.000 daltons, sendo geralmente termo e ácidos estáveis (FERNANDES, 2005; NASCENTE et al., 2006). Os alérgenos dietéticos suspeitos ou confirmados são numerosos e incluem carnes bovinas, suínas, equinas, além de frango, peixe, leite bovino, ovos, trigo, aveia e mesmo carne de baleia, além dos derivados de soja e dos fungos presentes na água de beber. O grande número de ingredientes alimentares utilizados nas rações comerciais de animais de estimação, bem como os métodos de processamento variáveis, é responsável pelo grande número de alérgenos descritos (FARIAS, 2007; THOMPSON, 1997). Há autores que consideram a possibilidade de que o desmame precoce de cães e gatos possa predispô-los à alergia alimentar. Em animais hígidos, o intestino delgado apresenta uma barreira protetora que limita a absorção de macromoléculas, mas essa capacidade funcional não é completa em animais jovens. Assim, algumas proteínas estranhas que chegam ao intestino imaturo podem atravessar essa barreira, penetrar no tecido linfóide e desencadear a reação imunológica. Possivelmente, um trato intestinal lesado – por parasitas ou enterite viral – permite a passagem do antígeno pelo mecanismo normal de defesa (NASCENTE et al., 2006; SCOTT et al, 1996). A pesquisa realizada proporcionou além do enriquecimento na formação profissional, a oportunidade de conhecer melhor o mercado pet. Foi de grande valia conhecer e aprender mais sobre alimentação para cães e o que a indústria apresenta, a interação entre médicos veterinários e proprietários, indústria vem gerando cada vez 15 mais opções de alimentos para animais de estimação, os quais, contribuem para uma melhor qualidade de vida para os cães. O objetivo de prevenir as doenças e melhorar as condições dos animais através da alimentação balanceada comprovou que muitas doenças podem ser evitadas sempre que se leva em conta uma nutrição adequada a cada animal. A oportunidade de ter várias alternativas nutricionais exige do médico veterinário uma atualização continua para melhor atender a exigência de seus pacientes e proprietários. O mercado nutricional para cães está cada vez crescendo mais no Brasil. Portanto, é um campo enorme para estudos de diferentes enfermidades que cada dia tornam-se mais frequentes em clínicas e hospitais que podem ser solucionadas muitas vezes, fazendo um equilíbrio na dieta do animal. Esta casuística faz necessário um conhecimento específico, principalmente sobre fatores alérgicos, imunológicos e nutricionais de cada animal. 16 5. DERMATOLOGIA EM CÃES E GATOS Figura 1 17 Figura 2 Figura 1 18 Figura 3 19 As doenças dermatológicas costumam ser o maior motivo de visitas dos cães ao médico-veterinário. Suas causas são muito variadas e normalmente requerem longos tratamentos até que sejam curadas. A dermatite alérgica à picada de ectoparasitas (pulgas e carrapatos), conhecida como DAPE, é considerada um dos distúrbios alérgicos cutâneos mais comuns em cães. Ela é caracterizada por uma reação de hipersensibilidade a proteínas presentes na saliva de pulgas e carrapatos que são eliminadas durante a picada dos ectoparasitas. Aparentemente não há propensão em relação a sexo ou a raças para o surgimento da DAPE que pode acometer animais de qualquer idade, sendo a faixa etária entre 3 e 5 anos o período de vida mais comum para o desenvolvimento dessa patologia. A doença tem aspecto frequentemente sazonal, no entanto, em climas subtropical e tropical, como no Brasil, há relatos de prevalência dessa patologia durante o ano todo, sendo notado a diminuição da frequência e severidade da doença em regiões em que há a utilização de produtos específicos para o controle das pulgas e carrapatos. Não há um padrão de lesão típico da efermidade que permita a diferenciação entre as outras dermatites alérgicas. Os sinais clínicos manifestados são variados, dependendo do grau de alergia que o animal tem, porém a evolução das lesões costuma ser rápida. Em animais sensíveis à picada de ectoparasitas, mesmo em meio a pequenas infestações, a manifestação clínica será mais grave se comparada aos animais não alérgicos que mesmo altamente infestados, apresentam lesões menos severas. A coceira intensa é o sintoma primário, sendo também observado em cães lesões por mordeduras ao redor do ânus e na base da cauda, se estendendo para a região das costas, nas coxas, abdômen e pescoço. As lesões são avermelhadas, seguidas por uma coceira crônica, alopecia (áreas sem pêlo), crostas hemorrágicas e escurecimento da pele. Para o controle da doença, a Ourofino tem produtos de uso tópico que atuam nos parasitas por contato, ou seja, o animal não precisa ser picado para que os parasitas morram. O NEOPet, produto à base de Fipronil, é indicado para combate e controle de carrapatos em cães, e de pulgas em cães e gatos. E a Leevre, coleira ectoparasiticida à base de Deltametrina e Propoxur, é indicada para auxílio na 20 prevenção e no controle do vetor da leishmaniose e das infestações de carrapatos e pulgas em cães. O sistema imunológico desempenha um papel essencial na manutenção da saúde de todos os tecidos do corpo. O sistema imunológico reage a invasores, como micro-organismos,substâncias estranhas ou células cancerosas e desencadeia uma inflamação para atacar esses invasores. Geralmente, o sistema imunológico protege o organismo e ajuda na sua cura. No entanto, às vezes o sistema imunológico é direcionado erroneamente a tecidos saudáveis e causa inflamação e danos intensos. A pele pode estar envolvida em uma série de reações do sistema imunológico, muitas das quais provocam erupções cutâneas. A palavra “erupção cutânea” se refere a alterações na cor (como vermelhidão) e/ou na textura (como caroços e inchaços) da pele. Muitas erupções cutâneas coçam, como as que surgem frequentemente após uma reação alérgica (de hipersensibilidade), mas algumas erupções são dolorosas ou não provocam nenhuma sensação. Algumas vezes, uma reação imunológica é causada por substâncias que uma pessoa toca ou come; no entanto, os médicos muitas vezes não sabem por que o sistema imunológico reage para causar uma erupção cutânea. Algumas erupções cutâneas ocorrem com mais frequência em crianças, ao passo que outras ocorrem quase sempre em adultos. O diagnóstico da maioria das erupções cutâneas de hipersensibilidade baseia- se no seu aspecto. Muitas vezes, a causa de uma erupção cutânea não pode ser determinada com exames de sangue, e geralmente não são feitos testes de nenhum tipo. No entanto, as erupções cutâneas persistentes, sobretudo as que não respondem ao tratamento, podem levar o médico a fazer uma biópsia da pele, na qual um pequeno fragmento da pele afetada pela erupção é colhido com um bisturi para ser examinado ao microscópio. Além disso, se o médico suspeitar que a causa é uma dermatite de contato podem ser realizados testes cutâneos. A dermatite (às vezes chamada eczema) é uma inflamação das camadas superficiais da pele que causa coceira, bolhas, vermelhidão, inchaço e, muitas vezes, exsudação, crostas e descamação. As causas conhecidas incluem pele seca, contato com uma substância https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-da-pele/biologia-da-pele/diagn%C3%B3stico-dos-dist%C3%BArbios-da-pele#v11719311_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-da-pele/biologia-da-pele/diagn%C3%B3stico-dos-dist%C3%BArbios-da-pele#v790714_pt 21 específica, certos medicamentos, varizes e o ato de coçar constantemente. Os sintomas típicos incluem erupção cutânea avermelhada com coceira, bolhas, feridas abertas, exsudação, crostas e escamação. O diagnóstico é geralmente baseado nos sintomas e confirmado por resultados de testes cutâneos ou amostras de pele ou pela presença de medicamentos suspeitos, agentes irritantes ou infecção. Evitar agentes que causam irritação conhecidos e alérgenos reduz o risco de dermatite. O tratamento depende da causa e dos sintomas específicos. (Consulte também Coceira). A dermatite é um termo amplo, abrangente de muitos distúrbios diferentes que se resultam erupção avermelhada, causadora de prurido. Eczema é sinônimo de dermatite, mas geralmente é usado para designar dermatite atópica. Infecções cutâneas, por exemplo, infecções fúngicas, não são classificadas como dermatite. Alguns tipos de dermatite afetam somente partes específicas do corpo (como a dermatite de contato, a dermatite numular, a dermatite de estase ou a disidrose), ao passo que outras podem ocorrer em qualquer local (como a dermatite atópica ou a dermatite esfoliativa). Alguns tipos de dermatite têm causa conhecida (como a dermatite de contato alérgica), ao passo que outras não (como a dermatite numular). A dermatite pode ser uma breve reação a uma substância, durando somente algumas horas ou apenas um ou dois dias. Independentemente de seu tipo ou causa, a dermatite é sempre o modo como a pele reage a um ressecamento grave, um arranhão, uma substância que causa irritação ou a um alérgeno. Geralmente, essa substância entra em contato direto com a pele, mas, por vezes, a substância é ingerida. A dermatite crônica persiste por um período de tempo mais longo. As mãos e os pés são particularmente vulneráveis à dermatite crônica, uma vez que as mãos estão, quase sempre, em contato com muitas substâncias estranhas e os pés encontram-se num ambiente quente e úmido, criado pelas meias e pelos sapatos. A dermatite crônica pode representar uma dermatite de contato, uma disidrose ou outra dermatite que foi diagnosticada ou tratada de forma inadequada, podendo ser um de vários distúrbios crônicos da pele de etiologia https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-da-pele/coceira-e-dermatite/dermatite-de-contato#v6665947_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-da-pele/coceira-e-dermatite/dermatite-de-contato#v6665947_pt 22 desconhecida. Em todos os casos, quando se esfrega e se coça de forma contínua, a pele pode espessar e endurecer (liquenificação). Figura 4 23 REFERÊNCIAS ABRAHAM, J.L. Feline Food Allergy. In: LITTLE, S. E. August´s Consultations in Feline Internal Medicine. St. Louis: Elsevier, 2016. v. 7, cap. 28, p. 307-316. 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