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ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA Unidade 2 Etapas da Estratégia de Saúde da Família CEO DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ALESSANDRA FERREIRA Gerente Editorial LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ALCIRIS MARINHO CORRÊA RODRIGUES PAULO HERALDO COSTA DO VALLE THAINAN AMADEU DE SOUZA 4 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 A U TO RI A Alciris Marinho Corrêa Rodrigues Olá. Sou formada em Enfermagem e Administração. Sou especialista em Micropolítica da Gestão e Trabalho em Saúde, Ges- tão da Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão Hospitalar, com uma experiência técnico-profissional e educacional na área de Saúde Pública de mais de 28 anos. Nestes anos, trabalhei em Saúde Pública e Regulação em Serviços de Saúde. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida e de docência àqueles que estão começando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Paulo Heraldo Costa Do Valle Olá. Sou graduado em Fisioterapia, com mestrado e dou- torado em Fisiologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com experiência técnica, profissional e acadêmica na área de saúde de mais de 25 anos. Trabalhei em várias universi- dades: Universidade de Cruz Alta (Unicruz), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), Universidade Gama Filho (UGF), Uni- versidade Ibirapuera (Unib), Universidade Nove de Julho (Unino- ve) e Kroton Educacional. Além disso, trabalhei como consultor do Ministério da Educação (MEC) para autorização, reconhecimento e renovação de cursos de graduação durante 10 anos, e fui mem- bro da Comissão Assessora do Curso de Fisioterapia do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade). Além disso, fui membro da Comissão de Qualificação de Cursos e da Comissão de Educação do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocu- pacional (Coffito) e membro da Comissão de Sindicância do Con- selho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito). Fui 5ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 vice-presidente e presidente da Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia (Abenfisio). Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, trabalho junto com a Editora Telesa- piens, compondo o seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Thainan Amadeu De Souza Olá. Possuo graduação em Enfermagem bacharelado e licenciatura, com ênfase em Obstetrícia e Maternidade pela Uni- versidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE (2017). Tenho mestrado em Biociências e Saúde pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE (2020). E pós-graduação em Farmá- cia Estética e Práticas Integrativas de Saúde. Experiência na área de Enfermagem Oncológica Adulta, trabalhando como Enfermeira Assistencialista no Centro Especializado de Oncologia de Cascavel – CEONC (2018-2020). Pesquisa na área de Processo Saúde – Doen- ça de Alterações Glicêmicas em roedores obesos MSG, atuando principalmente nos seguintes temas: obesidade, glicemia, esple- nectomia e ilhotas pancreáticas. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Es- tou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! 6 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 ÍC O N ES Esses ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem nos seguintes casos: OBJETIVO No início do desenvolvimento de uma nova competência. DEFINIÇÃO Caso haja a necessidade de apresentar um novo conceito. NOTA Quando são necessárias observações ou complementações. IMPORTANTE Se as observações escritas tiverem que ser priorizadas. EXPLICANDO MELHOR Se algo precisar ser melhor explicado ou detalhado. VOCÊ SABIA? Se existirem curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo. SAIBA MAIS Existência de textos, referências bibliográficas e links para aprofundar seu conhecimento. ACESSE Se for preciso acessar sites para fazer downloads, assistir vídeos, ler textos ou ouvir podcasts. REFLITA Se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido. RESUMINDO Quando for preciso fazer um resumo cumulativo das últimas abordagens. ATIVIDADES Quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada. TESTANDO Quando uma competência é concluída e questões são explicadas. 7ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 SU M Á RI O Possibilidades e desafios no cotidiano da ESF ...................... 10 O modelo de trabalho das equipes de saúde da família ........................... 10 Estratégias para a manutenção do trabalho em equipe no cotidiano .... 13 Programa de melhoria do acesso e da qualidade e programa de qualificação das ações de vigilância em saúde ........................................... 17 Etapas de implantação da ESF ................................................ 22 Implantação e credenciamento das ESF (Municípios e DF) ....................... 22 Implantação e credenciamento das Estratégias de Saúde da Família (Estado e DF) .......................................................................................................26 Construção do processo de trabalho em estratégia de saúde da família ..................................................................................................................28 Indicadores da ESF no Brasil e nos estados da Federação .. 34 Indicadores da ESF ............................................................................................34 Desafios e possibilidades de expansão da ESF no Brasil ..... 46 O Sistema Único de Saúde e a criação das estratégias para alavancar o modelo de saúde proposto ............................................................................46 O Sistema Único de Saúde e a reorientação do modelo de saúde: historicidade .......................................................................................................48 As problemáticas dos grandes centros urbanos e dificuldade em implementar a atenção básica ........................................................................51 8 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 A PR ES EN TA ÇÃ O Você sabia que um dos desafios da Estratégia Saúde da Família (ESF) é a reorganização das práticas de trabalho. A ESF, por sua vez, gerou inovação e intensas transformações na coordena- ção da atenção primária, em consequência especialmente da in- serção dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e da atuação de equipes multiprofissionais, e permitiu reconhecer e atuar sobre os fundamentais determinantes sociais de saúde da população mo- radora em sua área de abrangência. Esse panorama inovador per- mite, mesmo não sendo de caráter homogêneo, fazer jus à criação de vínculo entre os profissionais de saúde e a população da área de abrangência da Equipe Saúde da Família (ESF), fortalecendo, assim, o compromisso no acompanhamento da população e sua corresponsabilização, e, com a PNAB/2017, trabalhar em conjun- to com a Vigilância à Saúde (VS). A formação profissional de cada membro da equipe algumas vezes pode até estabelecer obstácu- los para o incremento do processo de trabalho. Isso mesmo! Ao longo desta unidade letiva você vai estudar como consolidar prá- ticas fundamentadas no trabalho em equipe, garantindo a coope- raçãopoluição de diversos tipos, e ques- tões urbanas como o acúmulo de lixo e problemas de mobilidade urbana. Além disso, enfrentam problemas sociais urbanos, como a violência, e problemas ambientais, como o alto teor de matéria orgânica nos mananciais de água, devido ao esgoto doméstico e industrial. A deposição de resíduos sólidos, tanto diretamente no solo quanto na água, a sobrecarga de espaço, a limitação do fluxo de indivíduos e mercadorias, o alto índice de acidentes fatais, a ineficiência do transporte público e a poluição do meio ambiente também são desafios significativos. Esses problemas foram desta- cados na Agenda Ambiental da Conferência (ONU, 2012). 53ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Ao falarmos da implantação e implementação da estraté- gia de Saúde da Família em grandes centros urbanos, estamos dis- cutindo uma nova conquista na perspectiva da atenção primária no Brasil, com foco na família e na comunidade. Esta estratégia tem o potencial de realizar mudanças significativas no modelo as- sistencial e concretizar o direito à saúde no dia a dia dos cidadãos. No entanto, como observamos, os problemas de saúde e sociais em grandes centros urbanos são de uma amplitude maior e exi- gem estratégias criativas e adaptadas localmente para enfrentar a diversidade e complexidade do Brasil. SAIBA MAIS Veja o vídeo de Sistemas de Saúde no Brasil com o dr. Drauzio Varella. Clique no QR-Code. As problemáticas dos grandes centros urbanos o grande desafio nas responsabilidades dos Entes Federados Para que se concretize as políticas de saúde, seja em gran- des centros urbanos, seja numa região ribeirinha, temos que pon- tuar aqui alguns tópicos: A PNAB, vem sofrendo as transformações político-sociais e se atualizando, definindo claramente as responsabilidades de cada esfera de governo na Atenção Básica. https://www.youtube.com/watch?v=brnUrUU81Ow 54 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Os Entes Federados têm seus papéis definidos: • A União tem a responsabilidade de preparar as diretri- zes da PNAB em seu território; • Ao estado incumbe a responsabilidade de apoiar de forma técnica e financeiramente a gestão da atenção básica. É importante ressaltar a autonomia do município em orga- nizar, executar e gerenciar os serviços e ações de Atenção Básica, no seu território, a partir das diretrizes nacionais e estaduais. A Atenção Primária, por meio da Saúde da Família, tem a missão de resolver de maneira estratégica os problemas de saúde da população adscrita, contribuindo para a organização geral do SUS. Sua missão inclui: • Resolver no mínimo 85% dos problemas de saúde da sua população de abrangência e determinar o emprego dos serviços especializados, por reconhecer as realidades do seu território. As ESF devem ser norteadas por seus princípios baseados na doutrina do SUS para a organização do processo de trabalho. Para tanto, devem contar com apoio para enfrentar suas proble- máticas gerenciais, estruturais e de educação permanente. Os de- safios podem variar de acordo com a região, mas os mais emer- gentes são: investir em obras e equipamentos; organizar a rede de Atenção à Saúde, no formato de sua oferta de serviços; constituir um modelo de atenção voltado para condições crônicas; fortale- cer a política de assistência farmacêutica; fortalecer a política de gestão de pessoas; e efetivar o cumprimento da carga horária es- tabelecida pela PNAB. 55ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 No que diz respeito aos Conselhos de Saúde, estes de- vem desempenhar seu papel de controle na execução da política de saúde, contribuindo para o fortalecimento do controle social. Juntos, enfrentando os desafios, e com a gestão participativa in- tegrada a outros setores político-administrativos, tornarão o SUS mais efetivo, fazendo com que os atores do processo de saúde reconheçam verdadeiramente seus papéis. As problemáticas dos grandes centros urbanos: Investimentos em estruturas e programas do Ministério da Saúde Em 2011, o MS apresentou evidências dos investimentos realizados na ampliação da cobertura das ESF, reconhecendo a eficácia e seriedade desta estratégia na melhoria da resposta à saúde a nível nacional. Além de fomentar o aumento da cobertu- ra, foi implantado o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) e a autoavaliação da Melhoria do Acesso e da Qualidade (AMAQ). Esses programas têm induzido e reforçado a cultura de contratualização e avaliação na atenção básica, com a coleta de informações sobre a estrutura e as condições de funcionamento das UBS. Essas iniciativas garantem melhorias nas UBS, no acesso e na qualidade da atenção, destacando a importância da valorização dos profissionais para a continuidade dos serviços, a integração das redes de atenção à saúde e a melhoria da gestão. A integração da atenção básica com a rede de serviços de saúde, o financia- mento adequado, e a resolutividade das respostas aos problemas da comunidade são aspectos essenciais para garantir um atendi- mento equânime e integral. 56 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 As medidas destacadas nesse período são: • Criação do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF); • Ampliação do financiamento da Atenção Básica; • Programa de requalificação das UBS; • Programa Telessaúde Brasil Redes. Os programas de Valorização da Atenção Básica e o Pro- grama Mais Médicos foram cancelados posteriormente. O Consultório na Rua visa atender os indivíduos em situa- ção de rua em relação aos problemas de saúde e sociais, realizan- do ações compartilhadas e integradas com as UBS. Além disso, serviços de apoio entre a atenção básica e a atenção de urgência e emergência, como as UPAs e o Melhor em Casa, têm um papel importante ao fazer a conexão entre a Atenção Básica e a espe- cializada. Um ponto central é o fortalecimento das redes de assis- tência. Destaca-se a importância das Redes de Atenção à Saúde (RAS), que são consideradas arranjos organizativos de ações e ser- viços de saúde com diferentes densidades tecnológicas. Integra- das por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, as RAS buscam garantir a integralidade do cuidado (Portaria n.º 4.279, de 30/12/2010). Então, o acesso à atenção primária prática, por meio da conformação do ESF como a porta de entrada do modelo de aten- ção básica à saúde, operacionaliza-se com o preparo organizacio- nal do trabalho em equipe. Isso envolve a mudança das práticas convencionais de assistência e a inclusão de novas práticas vol- tadas para a família e a comunidade, com a intenção de abordar os determinantes sociais do processo saúde-enfermidade (Souza, 2000). 57ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 ACESSE Relatórios Públicos dos Sistemas da Atenção Bá- sica: Academia da Saúde; Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil; Financiamento AB/ Devolução; e outros relatórios dos programas de AB. Clique no QR-Code. As cidades contemporâneas incorporam metabolismos complexos com suas redes e conexões, o que traz implicações significativas para a saúde, incluindo a agudização de proble- mas sociais como violência, acidentes de trânsito, e a presença de doenças transmissíveis e não transmissíveis, além de doenças emergentes e reemergentes. Nesse contexto, conforme definida na PNAB/2017: Art. 2º A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e co- letivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilita- ção, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão quali- ficada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem respon- sabilidade sanitária. §1º A Atenção Básica será a principalporta de entrada e centro de comunicação da RAS, coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede. https://relatorioaps.saude.gov.br/ 58 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 § 2º A Atenção Básica será ofertada integral- mente e gratuitamente a todas as pessoas, de acordo com suas necessidades e demandas do território, considerando os determinantes e condicionantes de saúde. Muitos são os problemas enfrentados na Atenção Básica, incluindo a falta de serviços de média e alta complexidade, a ca- rência de insumos, a deficiência de medicamentos, a precariedade estrutural e funcional das unidades de saúde, a falta de hospitais com perfis adequados para atender à demanda, e os problemas de fixação dos profissionais nas equipes. Esses problemas são fre- quentemente relatados em mídias sociais, jornais, e outros meios, além das dificuldades de articulação da rede de saúde nos muni- cípios. SAIBA MAIS A garantia de acesso dos usuários aos níveis de as- sistência (média e alta complexidade) vai depender da capacidade instalada de cada município, com a finalidade de disponibilizar a oferta dos serviços em todos os níveis de assistência. O acesso ao sistema de saúde em muitas regiões a ESF não se configura como porta prioritária da Atenção Bási- ca. Em algumas regiões prevalece a cultura hospi- talocêntrica, por falta de credibilidade na organi- zação da ESF, falta de organização em redes que funcionem e a valorização da assistência especia- lizada em detrimento da prevenção e promoção à saúde prevista pela PNAB. 59ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 As problemáticas dos grandes centros urbanos: Desigualdades regionais, importância e legitimidade da descentralização do Sistema Único de Saúde As desigualdades regionais ainda persistem, assim como a falta de organização e a polarização do sistema de saúde. Proble- mas funcionais e estruturais, além de questões relacionadas ao processo de trabalho e gestão, evidenciam as falhas no processo de expansão da rede assistencial do SUS. Para resolver essas fa- lhas, foram definidas prioridades para o investimento em saúde, com foco em equidade, integralidade, qualidade dos serviços, uni- versalidade e humanização do atendimento. Além disso, enfatiza- -se o direito do cidadão e o dever do Estado. Verificando as prioridades governamentais, é necessário que o Brasil consiga aumentar o fluxo de investimentos externos para a área social, de forma a apoiar e defender suas prioridades de investimento. Em geral, o acesso à saúde é um passo crucial para a inser- ção social de pessoas hipossuficientes. No Brasil, cerca de 80% da população depende do sistema público de saúde. Apesar das ine- gáveis melhorias no sistema desde a implantação do SUS, muitas disfunções ainda dificultam o bom desempenho do setor, resul- tando em subaproveitamento e desperdício de recursos, duplica- ção de esforços e dificuldades na definição de focos para a ação social. Essas distorções representam reais barreiras à promoção da justiça social (Brasil, 2005). 60 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 RESUMINDO A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) reco- nhece a Saúde da Família como a estratégia priori- tária para a expansão e consolidação da Atenção Básica. No entanto, adota também outras estraté- gias de organização da Atenção Básica nos territó- rios, seguindo os princípios e diretrizes da Atenção Básica e do SUS. Esse processo é progressivo e singular, levando em consideração as especificida- des locorregionais, a dinamicidade do território, e a existência de populações específicas, itinerantes e dispersas. A equipe é responsável pelos usuá- rios adscritos ao território e observa a política de promoção da saúde nesses espaços regionais. A PNAB/2017 enfrenta o desafio de superar com- preensões simplistas ao reconhecer que a saúde possui múltiplos determinantes e condicionan- tes que precisam ser trabalhados para melhorar a qualidade dos serviços oferecidos à população. As diretrizes de investimento visam promover maior transparência e direcionamento das ações na saúde, potencializando a transversalidade dos projetos setoriais e programas. O objetivo é evitar a pulverização histórica dos recursos e a duplicida- de de esforços, fortalecendo o SUS no processo de construção social. 61ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 BRASIL. Guia Política Nacional de Atenção Básica – módulo 1: integração atenção básica e vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/guia_pnab_modulo1_integracao_atencao.pdf. Acesso em: 20 jul. 2024. BRASIL. Autoavaliação para melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica : AMAQ. Brasília : Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ autoavaliacao_acesso_qualidade_atencao_basica_eletronico_1ed. pdf. Acesso em: 20 jul. 2024. BRASIL. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. BRASIL. Atenção Básica: Manual do Sistema com Coleta de Dados implificada : CDS – Versão 3.0 [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: http://dab.saude.gov. br/portaldab/esus.php. Acess em: 20 jul. 2024. BRASIL. Portaria n.º 2488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da família (ESF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Diário Oficial da União: Brasília, DF, 2011. CONSELHO NACIONAL DA SAÚDE. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde – SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. GIOVANELLA, L.; ESCOREL, S.; MENDONÇA, M.H.M. Estudos de caso sobre implementação da Estratégia Saúde da Família em Vitória (ES). Rio de Janeiro: Nupes/DAPS/ENSP/Fiocruz, 2009. MENDES, E.V. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o imperativo da consolidação da Estratégia da Saúde da Família. Brasília: OPAS; 2012. RE FE RÊ N CI A S http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pnab_modulo1_integracao_atencao.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pnab_modulo1_integracao_atencao.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/autoavaliacao_acesso_qualidade_atencao_basica_eletronico_1ed.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/autoavaliacao_acesso_qualidade_atencao_basica_eletronico_1ed.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/autoavaliacao_acesso_qualidade_atencao_basica_eletronico_1ed.pdf https://www.youtube.com/watch https://www.youtube.com/watch 62 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Ciência & Saúde Coletiva, [s. l.], v. 15, n. 5, p. 2297-2305, 2010. NASCIMENTO, V. B. do; COSTA, I. M. C. da. PSF, descentralização e organização de serviços de saúde no Brasil. In: COHN, A. (org.) Saúde da Família e SUS: Convergências e dissonâncias. Rio de Janeiro: Beco do Azougue; São Paulo: Cedec, 2009. SILVA, J. A. M, PEDUZZI, M., ORCHARD C., LEONELLO, V. M. Educação interprofissional e prática colaborativa na Atenção Primária à Saúde. Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v. 46, n. 2, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v49nspe2/1980- 220X-reeusp-49-spe2-0016. Acesso em: 20 jul. 2024. _Hlk112529224 Possibilidades e desafios no cotidiano da ESF O modelo de trabalho das equipes de saúde da família Estratégias para a manutenção do trabalho em equipe no cotidiano Programa de melhoria do acesso e da qualidade e programa de qualificação das ações de vigilância em saúde Etapas de implantação da ESF Implantação e credenciamento das ESF (Municípios e DF) Implantação e credenciamento das Estratégias de Saúde da Família (Estado e DF) Construção do processo de trabalho em estratégia de saúde da família Indicadoresda ESF no Brasil e nos estados da Federação Indicadores da ESF Desafios e possibilidades de expansão da ESF no Brasil O Sistema Único de Saúde e a criação das estratégias para alavancar o modelo de saúde proposto O Sistema Único de Saúde e a reorientação do modelo de saúde: historicidade As problemáticas dos grandes centros urbanos e dificuldade em implementar a atenção básicarecíproca em harmonia, interação, comunicação e empatia, abrangendo os distintos saberes de cada membro. Entendeu? En- tão mergulhe nesse universo de conhecimento! 9ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 O BJ ET IV O S Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos profis- sionais até o término desta etapa de estudos: 1. Contextualizar a reorganização das práticas de traba- lho, possibilidades e dos desafios no cotidiano da ESF (Estratégia de Saúde da Família); 2. Aplicar técnicas para reorganização das práticas de tra- balho: possibilidades e desafios no cotidiano das equi- pes de SF – Saúde da Família; 3. Identificar as etapas de implantação da ESF (Estratégia de Saúde da Família): os processos normativos e a terri- torialização em saúde; bem como seus indicadores em nível nacional e estadual (considerando todas as unida- des federativas do Brasil); 4. Interpretar os desafios e possibilidades de consolida- ção da Estratégia Saúde da Família (ESF) em grandes centros urbanos. Então? Preparado para uma viagem na galáxia do conheci- mento? Aos Estudos! 10 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Possibilidades e desafios no cotidiano da ESF OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de en- tender como funciona a reorganização das práti- cas de trabalho as possibilidades e desafios das ESF, aprenderá as etapas fundamentais da implan- tação das ESF, e os processos normativos e a ques- tão da territorialidade, os indicadores das ESF no Brasil e no estado de Pernambuco, e vai entender os desafios no processo de trabalho das equipes. E então? Entusiasmado (a) para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante! O modelo de trabalho das equipes de saúde da família O modelo considerado pelo Ministério da Saúde (MS) para as ESF é composto por equipes multiprofissionais, tais como: en- fermeiro e médicos que podem ter formação de clínico geral ou especialistas em saúde da família, ou atenção básica; ACS e técnico de enfermagem; e profissionais da equipe de saúde bucal, quan- do a equipe é contemplada por essa equipe (Brasil, 2011). Essa equipe multiprofissional, para o desempenho de suas ações, ali- cerça-se nos princípios e diretrizes da integralidade e multidiscipli- naridade, sendo um dos eixos fundamentais da atenção primária a incorporação de ações em conjunto, evitando uma assistência em saúde fragmentada, pautada na patologia e não no indivíduo. No mais, a própria concepção dos profissionais poderá constituir barreiras para o desenvolvimento do trabalho junto a ESF, pois, muitas vezes, a graduação não contribui para formar o desenvolvimento de habilidades interacionais com os profissio- nais envolvidos no processo de trabalho (Silva, 2015). 11ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Imagem 2.1 – Equipes multiprofissionais Fonte: Freepik. As ESF, de acordo com o PNAB/2017, são consideradas como unidade básica de saúde segue os princípios de trabalho, ancorados na Atenção Básica, o que formata princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). A ESF tem como escopo a reor- ganização da prática da atenção primária à saúde, visando subs- tituir o antigo modelo hegemônico de fazer saúde, que se baseia em um enfoque fragmentado do indivíduo, focado na terapia de doenças, subordinado a tecnologias de alto custo e guiado pela assistência especializada. SAIBA MAIS A estratégia de remodelagem da atenção primária à saúde, também evoca as práticas de trabalho, consideradas, de caráter constante, afiançadas pe- lo meio e a Imagem de organização social na qual o sujeito do processo se insere. Assim, a ESF, implementada pelo SUS, valoriza aspectos de escuta ativa, comunicação e respeito às peculiaridades de cada profissional, pois são eficazes para a conservação da harmonia e 12 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 a implementação contínua da prática colaborativa. Essas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número determi- nado de pessoas em uma área geográfica delimitada pela ESF. As equipes reorientam o modelo trabalhando com ações de promo- ção, prevenção, recuperação da saúde, reabilitação de patologias e agravos mais frequentes, e na conservação da saúde da comu- nidade atendida. O modelo do processo de trabalho nas ESF inclui a territorialização, com a definição do território a cargo de cada equipe, entre as diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB/2017). A territorialização deve ser avaliada de função operacional para o desenvolvimento do vínculo entre os serviços de saúde e a população, permitindo aproximação para o entendimento dos problemas e necessidades de saúde do território. Ao considerar o Sistema de Saúde Brasileiro, é essencial discorrer sobre a importância da Atenção Básica em Saúde (ABS) e os desafios da implantação das ESF, alinhada aos princípios do SUS. Esses modelos são decorrentes da incorporação da estraté- gia da Rede de Atenção à Saúde (RAS). Mendes (2012) avalia que os modelos de atenção à saúde são sistemas coesos e responsáveis pelo funcionamento das RAS, articulando, de forma singular, as relações entre os componentes da rede e as intervenções sanitárias, deliberados em função da vi- são prevalecente da saúde, das circunstâncias demográficas e epi- demiológicas e dos determinantes sociais da saúde, em vigor por algum tempo e em determinada sociedade. Para Milton Santos (2003), o emprego das expressões “espaço” e “território” permitiu o desfecho do processo de desconstrução do antigo modelo de atenção, antes centrado na doença, para focar nos determinantes sociais e nas condições de saúde. 13ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 SAIBA MAIS Para a Política Nacional de Atenção Básica, que adotou a expressão UBS-Unidade Básica de Saúde, a reorientação do Modelo de Assistência na Aten- ção Primária de Saúde no Brasil vem apresentando uma construção baseada na expansão e cobertura populacional das ESF, mas para que alcancemos uma boa qualidade no processo de trabalho faz- -se necessário a mudança também das práticas em saúde vendo o indivíduo em toda a sua concepção na sociedade em que vive, retirando de uso a velha história do Modelo Hegemônico. Estratégias para a manutenção do trabalho em equipe no cotidiano Podemos definir o termo estratégia dentro do contexto or- ganizacional da ESF da seguinte maneira: DEFINIÇÃO Arte de utilizar planejadamente os recursos de que se dispõe ou de explorar de maneira vantajosa a si- tuação ou as condições favoráveis de que porven- tura se desfrute, de modo a atingir determinados objetivos (Michaelis, 2018). O programa foi consi- derado como estratégia para o MS por entender a necessidade de reorientação do modelo assisten- cial, baseando-se na assistência compartilhada, no vínculo e na empatia com a comunidade, na terri- torialização, na prática de promoção, prevenção e reabilitação. O funcionamento da ESF é realizado pela atuação das equipes de profissionais que são as responsáveis por atender a população, vinculada a um determinado território. Na PNAB/2017, a população adscrita por equipe de Atenção Básica (eAB) e ESF varia de 2.000 a 3.500 indivíduos, centrada na abrangência de seu território, conforme os princípios e diretrizes da Atenção Básica. 14 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Imagem 2.2 – Processo de trabalho na saúde da família Fonte: Freepik. SAIBA MAIS “A quem interessa a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)?” A portaria da PNAB, aprovada em setembro de 2017, mobilizou entidades e profis- sionais de saúde, gestores/as, comunidade acadê- mica e gerou críticas e posicionamentos contrários às alterações. Clique no QR-CODE. https://www.analisepoliticaemsaude.org/oaps/boletim/edicao/13/ 15ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIADE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Além dessa faixa populacional adscrita (de 2.000 a 3.500 pessoas), outros arranjos de adscrição podem ser estabelecidos conforme as vulnerabilidades, riscos e dinâmica da comunidade. Esses ajustes são proporcionados pelos gestores locais, em con- sonância com as equipes que operam na Atenção Básica e o Con- selho Municipal ou Local de Saúde, permitindo a determinação de outros parâmetros populacionais para a responsabilidade da equipe. Esses parâmetros podem ser superiores ou inferiores ao sugerido, ajustando-se às especificidades territoriais e asseguran- do a qualidade do cuidado. Atuação das equipes-PNAB/2017 Como forma de garantir a coordenação do cuidado, am- pliando o acesso e a resolutividade das equipes que atuam na Atenção Básica, recomenda-se de acordo com a PNAB-Portaria n.º 2436/2017: I. População adscrita por equipe de Atenção Básica (eAB) e de Saúde da Família (ESF) de 2.000 a 3.500 pessoas, circunscrita dentro do seu território, garan- tindo os princípios e diretrizes da Atenção Básica. Podendo, além da faixa populacional, existir outros arranjos de adscrição, segundo as vulnerabilidades, riscos e a dinâmica comunitária, facultando aos ges- tores locais, de maneira conjunta com as equipes que atuam na Atenção Básica e Conselho Municipal ou Local de Saúde, a probabilidade de tabelar outro parâmetro populacional de encargo da equipe, po- dendo ser máximo ou mínimo ao parâmetro sugeri- do, em concordância com a do território, garantindo a qualidade do cuidado. 16 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 II. Necessidade de quatro equipes por UBS -Atenção Básica ou Saúde da Família, para que atinjam o po- tencial resolutivo. III. Fica determinado para cálculo do teto máximo de equipes de Atenção Básica (eAB) e de Saúde da Fa- mília (ESF), contendo ou não os profissionais de saú- de bucal, nas quais o Município e o Distrito Federal poderão receber recursos financeiros específicos, se- gundo a subsequente fórmula: População/2.000. IV. Em municípios ou territórios com menos de 2.000 ha- bitantes, que uma equipe de Saúde da Família (ESF) ou de Atenção Básica (eAB) seja responsável por toda população; poderá ser redefinido a possibilidade de definir outro parâmetro populacional de responsabi- lidade da equipe de acordo com especificidades terri- toriais, vulnerabilidades, riscos e dinâmica comunitá- ria respeitando critérios de equidade, ou, ainda, pela decisão de possuir um número não expressivo (me- nor) de pessoas por equipe de Atenção Básica (eAB) e equipe de Saúde da Família (ESF) para avançar no acesso e na qualidade da Atenção Básica. Como vimos, a atuação das ESF, obedecem a parâmetros ministeriais, alguns sugeridos, outros formalizados na construção principiológica do SUS, respeitando os critérios de responsabili- zação da equipe com o seu território, aferindo os parâmetros e reverenciando a dinâmica da comunidade. A questão da RAS, tam- bém é peça-chave para o encaminhamento de forma ágil, segura e certa de quem precisa de uma assistência especializada, e com contrarreferência para a acompanhamento das ESF. No âmbito das unidades básicas de saúde, atende-se aos seguintes princípios, que são apresentados na imagem: 17ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Imagem 2.3 – Gráfico típico envolvendo os princípios do processo de trabalho Equipe Multiprofissional Territorialização e Adscrição da clientela Integralidade e Hierarquização Fonte: Elaborado pelos autores. A ESF, por meio de suas equipes, vem se despontando como mola potencializadora e adequada na trilha da construção de uma inovadora ética social, enfatizada nos princípios do acesso, acolhi- mento, territorialização, humanização e criação de vínculo com o usuário. A intersetorialidade é registrada como palco de saber e prá- tica, possibilitando mudanças no modelo tecnoassistencial e promo- vendo o protagonismo dos sujeitos que fazem parte do processo. Programa de melhoria do acesso e da qualidade e programa de qualificação das ações de vigilância em saúde O MS tem dado prioridade a monitorização e avaliação de processos e resultados na execução das ações da gestão pública. Os esforços realizados para a implementação de empreendimen- tos que marquem a qualidade dos serviços de saúde ofertados à população brasileira, incentivando a ampliação do acesso nos múltiplos contextos existentes no Brasil (Brasil, 2017). As ações e atividades constituem um conjunto integrado no âmbito do Saúde Mais Perto de Você, no qual se enfoca o Pro- grama Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Aten- ção Básica (PMAQ). Esse programa é, na verdade, uma das peças estratégicas indutoras de ações e serviços de qualidade no MS. Entre os objetivos do programa, destaca-se o estabelecimento da cultura de avaliação da Atenção Básica. 18 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 A autoavaliação da Melhoria do Acesso e da Qualidade (AMAQ) não é obrigatória; equipes e gestores podem definir a me- lhor ferramenta a ser utilizada conforme sua realidade. No entan- to, a autoavaliação é considerada um ponto importante da fase de adesão ao PMAQ, pois os processos guiados para a melhoria da qualidade têm seu princípio na identificação e no reconhecimento das dimensões positivas, bem como na inclusão das problemáti- cas do trabalho da gestão e das equipes de eAB. No SUS, as porta- rias que estabeleceram o PMAQ e incluíram os Núcleos de Apoio à Saúde da Família e os Centros de Especialidades Odontológicas no programa são: • Portaria GM/MS n.º 1.654, de 19 de julho de 2011; • Portaria GM/MS n.º 535, de 3 de abril de 2013; • Portaria GM/MS n.º 261, de 21 de fevereiro de 2013. SAIBA MAIS A 1ª reunião do GT de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde foi realizada na data de 19 de junho, de 2019, em Brasília, sendo efetivada a primeira reunião do Grupo de Trabalho (GT) da Atenção Primária à Saúde da Comissão Intergesto- res Tripartite (CIT), que reúne MS e os Conselhos Nacionais de Secretarias Municipais de Saúde (CO- NASEMS) e de Secretários de Saúde (CONASS). O monitoramento e avaliação realizados pelo MS incluem dois programas de avaliação da qualidade das ações: o PMAQ (Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica), que avalia as equipes de atenção básica, e o PQA- -VS (Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde), que avalia a atuação conjunta da atenção básica e da vigilância em saúde, abrangendo o alcance das metas certificadas determina- das para ambos. Esses programas são fundamentais para garantir a qualidade e a eficiência das ações na atenção básica e na vigilân- cia em saúde (Brasil, 2018). 19ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Segundo o MS e o Departamento de Atenção Básica, o principal objetivo do PMAQ,é a condução da ampliação do acesso e a avanço da qualidade da atenção básica, com garantia de um padrão de qualidade análoga ao nacional, regional e localmente, de fato permitindo a transparência e efetividade das ações gover- namentais direcionadas à ABS. ACESSE Conheça na íntegra os manuais do AMAQ e PMAQ respectivamente, clique no QR-CODE. Entre os seus objetivos específicos do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (Portaria GM/MS n.º 1.654, de 19 de julho de 2011) podemos destacar (Bra- sil, 2013): I – Ampliação do impacto da Atenção Básica sobre as condições de saúde da população e sobre a satisfação dos seus usuários, por meio de estratégias de facilitação do acesso e melhoramento da qualidade dos serviços e ações da AB. II - Fornecer moldes de boas práticas e coor- denação das UBS que orientem a melhoria da qualidade da AB. III - Promover maior harmonia das UBS com os princípios da AB, compreendendo a efeti- vidade na melhoria das condições de saúde, na satisfação dos usuários, naqualidade das chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/autoavaliacao_melhoria_acesso_qualidade_amaq_2ed.pdf 20 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 práticas de saúde e na eficiência e efetividade do sistema de saúde. IV - Promover a qualidade e inovação na gestão da AB, fortalecendo os processos de Autoavaliação, Monitoramento e Avaliação, Apoio Institucional e Educação Permanente nas três esferas de governo. V - Melhorar a qualidade da alimentação e utilização dos Sistemas de Informação como instrumento de gestão da AB. VI - Institucionalizar uma cultura de avaliação da AB no SUS e de gestão com alicerce na indução e acompanhamento de processos e resultados. VI - Estimular o foco da AB no usuário do sis- tema, promovendo a transparência dos pro- cessos de gestão, a participação e controle social e a responsabilidade sanitária dos pro- fissionais e gestores de saúde com a melho- ria das condições de saúde e satisfação dos usuários. A melhoria da qualidade deve ser o compromisso permanente, este reforçado por meio da expansão e aperfeiçoamento de ini- ciativas mais apropriadas aos novos desafios postos a realidade, como função da comple- xidade crescente das necessidades de saúde da população, por causa da transição epide- miológica e demográfica e ao contemporâneo contexto sociopolítico, quanto em função do acréscimo das perspectivas da população em relação à efetividade, eficiência e qualidade do Sistema Único de Saúde. 21ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 O Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde – PQA-VS, Portaria n.º 1.708/GM/MS, de 16 de agosto de 2013 tem o objetivo de induzir o aperfeiçoamento das ações de vigilância em saúde, com as seguintes diretrizes (Conass, 2013): I- Estimular processo contínuo e progressivo de melhoria das ações de vigilância em saúde que abranja a gestão, o processo de trabalho e os resultados obtidos pelos estados, Distrito Federal e munícipios, na vigilância em saúde. II- Caráter voluntário para a adesão tanto pelos Estados, Distrito Federal e Munícipios. III- Desenvolvimento da cultura de negociação e contratualização, que aluda na gestão dos recursos em função dos compromissos e resultados pactuados e alcançados. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Vamos então revisar um pouco o que foi estudado no decorrer do nosso capítulo. Estudamos neste ca- pítulo que o MS investiu na qualidade da oferta de serviços, como forma de empreender um melhor serviço ao usuário. O PMAQ, e o PQA-VS fazem parte dessa certificação para a qualidade, esse processo de certificação do PMAQ e PQA-VS devem ser entendidos como um momento de reconheci- mento do esforço das equipes e do gestor muni- cipal para melhoria do acesso e da qualidade da Atenção Básica. Sabemos que todos nós uma hora acabamos utilizando o SUS, mesmo que tenhamos um plano de saúde. A prova disso é o programa de imunização, muito usual para todos os brasileiros e que, muitas vezes, só é fornecida, de fato, pelo sistema único de saúde. Então, não é importante saber que estamos utilizando um serviço público de qualidade? 22 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Etapas de implantação da ESF OBJETIVO Este tema vai explicar quais os passos para a im- plantação da ESF, pautada nos processos normati- vos e de territorialização, obedecendo os critérios instituídos pela PNAB/2017. Você conhecerá os passos para credenciamento tanto para os esta- dos, municípios e DF. Implantação e credenciamento das ESF (Municípios e DF) A implementação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) sob a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) de 2017 envolve várias etapas essenciais para o sucesso e a eficácia do programa. Essas etapas incluem o planejamento, a estruturação, a formação de equipes multidisciplinares, a capacitação e o treinamento con- tínuo. Cada uma dessas etapas garante que a ESF atenda às neces- sidades da comunidade de maneira eficiente e eficaz. • Planejamento e estruturação O planejamento e a estruturação são as fundações sobre as quais a ESF é construída. Essa fase começa com uma análise detalhada das necessidades locais, que inclui o levantamento de dados demográficos, socioeconômicos e epidemiológicos da po- pulação servida. A compreensão dessas variáveis contribui para que os serviços de saúde sejam adequadamente alinhados às ne- cessidades específicas da comunidade. Além da análise de necessidades, a alocação de recursos é outra componente crítica dessa etapa. Envolve a distribuição de recursos financeiros, além da organização da infraestrutura física, como a localização das unidades de saúde da família, e a alocação de equipamentos e suprimentos médicos. A eficiência nessa fase 23ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 garante que as equipes de saúde tenham as ferramentas necessá- rias para fornecer cuidados de qualidade. Imagem 2.4 – Planejamento e estruturação Fonte: Freepik. • Formação de equipes A formação de equipes dentro da ESF é guiada por cri- térios que promovem a multidisciplinaridade e a capacidade de atender a um amplo espectro de necessidades de saúde. Com a PNAB/2017, houve uma ênfase renovada na inclusão de diversos profissionais de saúde, como farmacêuticos e especialistas em saúde mental. Esses profissionais trazem habilidades especializa- das que enriquecem a equipe, permitindo uma abordagem mais holística do cuidado ao paciente. Os farmacêuticos, por exemplo, são importantes na ges- tão da medicação, educação para a saúde sobre o uso correto de medicamentos e monitoramento de interações medicamentosas potencialmente perigosas. Os especialistas em saúde mental, por 24 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 outro lado, abordam as crescentes preocupações com a saúde mental nas comunidades, proporcionando suporte terapêutico e ajudando a gerenciar distúrbios como depressão e ansiedade. • Capacitação e treinamento contínuo A capacitação e o treinamento contínuo mantêm as equi- pes de saúde da família atualizadas com as melhores práticas e as mais recentes políticas de saúde. A educação permanente ajuda a garantir que os profissionais de saúde possam continuar a ofe- recer cuidados baseados nas evidências mais atuais e responder eficazmente às mudanças nas tendências de saúde da população. Esse componente inclui uma variedade de atividades, como workshops, seminários, cursos de reciclagem e sessões de aprendizado prático. Além disso, o uso de tecnologia de informa- ção em saúde tem sido cada vez mais incorporado nos programas de treinamento, facilitando o acesso a recursos educacionais e co- laboração entre os profissionais de saúde, independentemente de sua localização geográfica. As etapas de implantação da ESF sob a PNAB/2017 refletem um compromisso contínuo com a melhoria da qualidade e acessi- bilidade dos cuidados de saúde primários no Brasil. Por meio do planejamento cuidadoso, da formação de equipes multidisciplina- res e da ênfase na capacitação e no treinamento contínuo, a ESF está bem posicionada para atender às necessidades de saúde das comunidades locais e promover uma nação mais saudável. Para implantação e credenciamento das equipes de aten- ção básica, dos municípios e o Distrito Federal deverão estar de acordo com a PNAB/2017: 25ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 I - Realizar projeto (s) de implantação das equi- pes de Saúde da Família, com ou sem os profis- sionais de saúde bucal, das equipes de agentes comunitários de saúde, das equipes de aten- ção básica para populações específicas. II - Aprovar projeto elaborado nos Conselhos de Saúde dos municípios e encaminhá-lo à Secretaria Estadual de Saúde ou sua instância regional para análise. O Distrito Federal, após a aprovaçãopor seu Conselho de Saúde, de- verá encaminhar sua proposta para o MS. III - Cadastrar os profissionais das equipes, previamente credenciadas pelo Estado con- forme decisão da Comissão Intergestores Bi- partite (CIB), no Sistema do Cadastro Nacio- nal de Estabelecimentos de Saúde (SCNES), e alimentar os dados no sistema de informação que comprove o início de suas atividades, para passar a receber o incentivo correspondente às equipes efetivamente implantadas. IV - Solicitar substituição, no SCNES, de cate- gorias de profissionais colocados no projeto inicial caso exista a necessidade de mudança, sendo necessário o envio de um ofício ao Es- tado justificando essa alteração. SAIBA MAIS As etapas de implantação das ESF são orientadas pela PNAB, que ao longo destes anos vem se trans- formando de acordo com o processo histórico e social do Brasil. 26 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Implantação e credenciamento das Estratégias de Saúde da Família (Estado e DF) Para implantação e credenciamento das referidas equipes, as Secretarias Estaduais de Saúde e o Distrito Federal deverão (Brasil, 2012): I - Analisar e encaminhar as propostas de im- plantação das equipes elaboradas pelos mu- nicípios e aprovadas pelos Conselhos Munici- pais à CIB, no prazo máximo de 30 dias, após a data do protocolo de entrada do processo na Secretaria Estadual de Saúde ou na instância regional. Esse inciso estabelece que as Secretarias Estaduais de Saú- de são responsáveis por analisar e encaminhar as propostas de implantação das equipes de saúde, que foram elaboradas pelos municípios e aprovadas pelos Conselhos Municipais de Saúde. O processo deve ser encaminhado à Comissão Intergestores Bi- partite (CIB) no prazo máximo de 30 dias após o recebimento da proposta. Esse procedimento garante uma avaliação sistemática e tempestiva das propostas, facilitando a expansão e a organização adequada dos serviços de saúde. II - Após aprovação na CIB, cabe à Secretaria de Saúde dos Estados e do Distrito Federal informar ao MS, até o dia 15 de cada mês, o número de equipes, suas diferentes modali- dades e composições de profissionais com as respectivas cargas horárias que farão jus ao recebimento de incentivos financeiros da atenção básica. 27ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Após a aprovação das propostas pela CIB, cabe às Secre- tarias Estaduais de Saúde e ao Distrito Federal informar ao Mi- nistério da Saúde (MS) até o dia 15 de cada mês sobre o número de equipes, suas modalidades e composições de profissionais, in- cluindo as cargas horárias. Essa informação é importante para o recebimento de incentivos financeiros destinados à atenção bási- ca, garantindo que os recursos sejam alocados de maneira correta e eficiente. III - Submeter à CIB, para resolução, o fluxo de acompanhamento do cadastramento dos profissionais das equipes nos sistemas de in- formação nacionais, definidos para esse fim. Esse inciso trata do fluxo de acompanhamento do cadastra- mento dos profissionais das equipes nos sistemas de informação nacionais. A submissão desse fluxo à CIB para resolução assegura que os dados dos profissionais estejam corretamente registrados nos sistemas nacionais, o que é fundamental para a organização e o monitoramento das equipes de saúde em todo o país. IV - Submeter à CIB, para resolução, o fluxo de descredenciamento e/ou o bloqueio de recur- sos diante de irregularidades constatadas na implantação e no funcionamento das equipes a ser publicado como portaria de resolução da CIB, visando à regularização das equipes que atuam de forma inadequada. O inciso aborda a necessidade de submeter à CIB o fluxo para resolução de descredenciamento e/ou bloqueio de recursos em caso de irregularidades constatadas na implantação e funcio- namento das equipes. Isso é publicado como portaria de resolu- ção da CIB e visa garantir a regularização das equipes que atuam de forma inadequada, mantendo a integridade e a qualidade dos serviços de saúde prestados. 28 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 V - Responsabilizar-se perante ao MS pelo mo- nitoramento, controle e avaliação da utiliza- ção dos recursos de incentivo dessas equipes. As Secretarias Estaduais de Saúde e o Distrito Federal têm a responsabilidade de monitorar, controlar e avaliar a utilização dos recursos de incentivo das equipes. Esse monitoramento asse- gura que os recursos financeiros estão sendo usados de maneira eficaz e de acordo com as diretrizes da política de saúde. Imagem 2.6 – Implantação e credenciamento das equipes Fonte: Freepik. Construção do processo de trabalho em estratégia de saúde da família A etapa inicial do trabalho é o cadastramento dos domi- cílios e indivíduos realizada pelo ACS, para a realização do ca- dastramento, é necessário o preenchimento de fichas específicas: cadastro do domicílio e indivíduo, pelo e-SUS AB. O e-SUS AB é uma estratégia sistemática do DAB com o intuito de reestruturar as informações da Atenção Básica em nível nacional. 29ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 IMPORTANTE Essa ação está alinhada com a proposta na rees- truturação dos Sistemas de Informação em Saúde do MS, percebendo que a qualificação da gestão da informação é de suma importância para ampliar a qualidade no atendimento à população (Brasil, 2018). O diagnóstico situacional é outro instrumento estratégi- co para o trabalho da equipe. O diagnóstico situacional visa detec- tar os problemas e as necessidades sociais como: necessidade de saúde, educação, saneamento, segurança, transporte, habitação, bem como enseja o conhecimento da organização dos serviços de saúde, permitindo o desenvolvimento de ações de saúde focais e essenciais em relação aos problemas encontrados. Permite ava- liar necessidade da população e o perfil da comunidade. Imagem 2.7 – Atenção domiciliar Fonte: Freepik. Na atenção domiciliar (atendimento domiciliar), a equi- pe deve respeitar o espaço do familiar, preservando o vínculo afe- tivos dos indivíduos com a equipe fortalecendo a autoestima e a 30 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 empatia, e auxiliando a construir ambientes mais favoráveis à re- cuperação da saúde. Essa assistência proporcionada no ambiente reservado das relações sociais coopera para a humanização da atenção à saúde por abranger as pessoas da família e a equipe no processo de cuidado, potencializando a participação ativa do sujeito no processo saúde-doença. A tecnologia de interação no cuidado da saúde aconte- ce no atendimento domiciliar e contempla as seguintes caracte- rísticas: ações sistematizadas, articuladas e regulares; pauta-se na integralidade das ações de promoção, recuperação e reabilitação em saúde; destina-se a responder às necessidades de saúde de determinado seguimento da população com perdas funcionais e dependência para a realização das atividades da vida diária; de- senvolve-se por meio do trabalho em equipe, utilizando-se de tec- nologias de alta complexidade (conhecimento) e baixa densidade (equipamento). Modelo e-SUS AB como processo de orientação integrante na ESF- reestruturação Esse modelo nacional de gestão da informação na Atenção Básica é definido a partir de diretrizes e requisitos que orientam e organizam o processo de reestruturação desse sistema de informa- ção, instituindo-se o Sistema Manual CDS 3.0 – Versão Preliminar de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) pela Portaria GM/MS n.º 1.412, de 10 de julho de 2013, e a Estratégia e-SUS AB para sua operacionalização. A Estratégia e-SUS AB preconiza: I. Individualizar o registro: registro individuali- zado das informações em saúde, para o acom- panhamento dos atendimentos aos cidadãos. 31ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Esse princípio enfatiza a importância do registro individua-lizado das informações de saúde, o que permite um acompanha- mento detalhado e personalizado dos atendimentos prestados aos cidadãos. A individualização dos registros facilita o acesso à história médica completa de cada paciente, melhorando significa- tivamente a qualidade do cuidado e a eficiência diagnóstica. II. Integrar a informação: integração dos diver- sos sistemas de informação oficiais existentes na Atenção Básica, a partir do modelo de in- formação. A integração dos diversos sistemas de informação existen- tes na Atenção Básica visa criar um modelo unificado de informa- ções. Isso permite que dados coletados por diferentes serviços e profissionais de saúde sejam consolidados em uma única plata- forma, facilitando o acesso e a interpretação dessas informações, o que é essencial para o planejamento e a coordenação eficaz dos serviços de saúde. III. Reduzir o retrabalho na coleta de dados: reduzir a necessidade de registrar informa- ções similares em mais de um instrumento (fichas/sistemas) ao mesmo tempo. Esse princípio visa minimizar a duplicidade na entrada de dados, reduzindo a necessidade de registrar as mesmas informa- ções em múltiplos instrumentos ou sistemas. Isso não apenas eco- nomiza tempo e recursos, mas também reduz o potencial para erros ou discrepâncias nos registros de saúde. IV. Informatizar as unidades: desenvolvimento de soluções tecnológicas que contemplem os processos de trabalho da Atenção Básica, com recomendações de boas práticas e o estímulo à informatização dos serviços de saúde. 32 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 A informatização das unidades de Atenção Básica é funda- mental para a modernização dos serviços de saúde. Desenvolver soluções tecnológicas que refletem os processos de trabalho da Atenção Básica e que promovam as melhores práticas aumenta a eficiência operacional e a qualidade do atendimento ao paciente. V. Gestão do cuidado: introdução de novas tecnologias para otimizar o trabalho dos pro- fissionais na perspectiva de fazer gestão do cuidado. A introdução de novas tecnologias na gestão do cuidado é projetada para otimizar o trabalho dos profissionais de saúde. Essas tecnologias podem incluir sistemas avançados de gerencia- mento de dados, ferramentas de análise e plataformas de comuni- cação que ajudam os profissionais a tomar decisões mais informa- das e gerenciar o cuidado dos pacientes de maneira mais eficaz. VI. Coordenação do cuidado: a qualificação do uso da informação na gestão e no cuidado em saúde na perspectiva de integração dos serviços de saúde. Esse princípio enfatiza a melhoria na coordenação do cui- dado por meio de um uso qualificado das informações geradas pelo sistema de saúde. Utilizar efetivamente os dados disponíveis para integrar diferentes serviços e níveis de atendimento melhora o continuum de cuidado, assegurando que os pacientes recebam o tratamento necessário em tempo hábil e de forma integrada. 33ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 RESUMINDO E então, compreendeu tudo que estudamos neste capítulo? Vamos lá! Hora de revisar! A construção do processo de trabalho em ESF apresenta peculiarida- des de acordo com a área geográfica adscrita, mas, ao examinarmos as ações, percebemos que têm o mesmo direcionamento de prevenção, promoção e educação em saúde e tratamento de patologias instaladas. Indiscutivelmente essas ações estão antenadas aos princípios do SUS e não podem ser concretizadas de forma isolada no dia a dia das ESFs. Estas devem ser concomitantes e transversais a todas as práticas pautadas nos serviços de saú- de. A prática deve ser realizada por meio da clínica ampliada, que fundamenta as diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH), e na valorização da escuta qualificada e na ampliação da concepção do processo saúde-doença. O modelo e-sus AB pa- ra cadastros e acompanhamentos da equipe foi um grande passo rumo à excelência operacional, para reestruturar as informações da Atenção Básica em nível Nacional, sistema completo ampliado que vai se atualizando em suas versões. 34 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Indicadores da ESF no Brasil e nos estados da Federação OBJETIVO Entender os Indicadores do Brasil e dos estados em termos de cobertura de ESF e padrão adequa- do. Buscando identificar quais são as etapas de implantação da Estratégia de Saúde da Família. E, então, prontos? Vamos lá! Indicadores da ESF A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é uma das políticas públicas mais importantes no contexto da saúde brasileira, visan- do fortalecer a Atenção Básica e promover um atendimento mais próximo, abrangente e continuado às comunidades. A implanta- ção da ESF envolve uma série de etapas cuidadosamente planeja- das, desde a formulação de políticas normativas até a efetivação da territorialização em saúde. Além disso, o monitoramento de in- dicadores específicos em nível nacional e estadual contribui para avaliar a eficácia e a eficiência da estratégia. A seguir, discutiremos as etapas e os indicadores de forma mais detalhada. Etapas de implantação da ESF: 1. Formulação de políticas normativas A implantação da ESF começa com a formulação de po- líticas e diretrizes normativas em nível federal, que estabelecem os princípios e objetivos da estratégia. Isso inclui a definição de padrões para a estrutura das equipes, qualificação profissional, processos de trabalho, e mecanismos de financiamento. Essas normativas são revisadas periodicamente para adaptar a estraté- gia às mudanças demográficas e epidemiológicas, bem como aos avanços na medicina e nas políticas de saúde. 35ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 2. Territorialização em saúde A territorialização é uma etapa que envolve a definição e delimitação geográfica das áreas de atuação das equipes de Saúde da Família. Esse processo considera fatores demográficos, socioe- conômicos, culturais, epidemiológicos e a infraestrutura de servi- ços de saúde existente. O objetivo garante que o atendimento seja capaz de abranger toda a população de uma área, considerando suas particularidades e necessidades específicas. Os indicadores da ESF são fundamentais para monitorar a expansão e a qualidade dos serviços prestados, além de facilitar a gestão e o planejamento em saúde. Alguns dos principais indica- dores são: • Indicadores em nível nacional 1. Cobertura da ESF Este indicador reflete o percentual da população brasileira que está sob os cuidados das equipes de Saúde da Família. Uma cobertura mais ampla sugere uma maior penetração da ESF no sistema de saúde do país, indicando que mais pessoas estão rece- bendo cuidados de saúde primários consistentes. A meta nacional varia ao longo do tempo com políticas específicas voltadas para a expansão da cobertura. 2. Indicadores de qualidade São medidas que avaliam a qualidade dos serviços pres- tados pelas equipes de Saúde da Família, incluindo a frequência de visitas domiciliares, o número de consultas de pré-natal, a pro- porção de hipertensos e diabéticos acompanhados regularmente, e as taxas de vacinação. Esses indicadores ajudam a monitorar o cumprimento das metas de saúde pública e a eficácia das inter- venções realizadas. 36 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Imagem 2.7 – Indicadores em nível nacional Fonte: Freepik. 3. Indicadores de eficiência Avaliam a utilização dos recursos disponíveis, como o tem- po médio entre o agendamento, e a consulta e a taxa de utilização das instalações e equipamentos. Esses dados auxiliam o planeja- mento e a gestão dos recursos no sistema de saúde. • Indicadores em nível estadual 1. Adaptação às necessidades locais Cada estado pode ter indicadores específicos que refletem suas necessidades e prioridades de saúde. Por exemplo, estados com altas taxas de doenças infecciosas podem monitorar especifi-camente a eficácia da ESF na gestão dessas condições. 37ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Imagem 2.8 – Indicadores em nível estadual Fonte: Freepik. EXEMPLO: A adaptação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) às necessidades locais em função de doenças infec- ciosas específicas pode ser observado no estado do Ama- zonas. Lá a incidência de doenças como malária e dengue é particularmente alta, dadas as condições climáticas e ambientais propícias à proliferação dos vetores dessas doenças. O Amazonas enfrenta desafios significativos devido à sua vasta área geográfica, à diversidade de ambientes (urbanos e ru- rais, incluindo áreas remotas na floresta amazônica) e às caracte- rísticas socioeconômicas de sua população. Esses fatores compli- cam a logística e a eficácia dos programas de saúde, especialmente no controle de doenças infecciosas transmitidas por vetores como mosquitos. 38 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Para lidar com esses desafios, as equipes de Saúde da Fa- mília no Amazonas têm se concentrado em algumas estratégias específicas: • Educação e prevenção: as equipes de ESF realizam campanhas educativas para informar a população so- bre as medidas de prevenção contra a malária e a den- gue. Isso inclui instruções sobre como evitar o acúmulo de água parada, o uso de repelentes e mosquiteiros, e a importância de procurar assistência médica ao primei- ro sinal de sintomas. • Monitoramento e controle de vetores: em colabora- ção com programas de controle de vetores, as equipes da ESF ajudam no monitoramento das áreas de maior risco e na aplicação de inseticidas quando necessário. Também participam na gestão de estratégias de sanea- mento básico que ajudam a reduzir os habitats favorá- veis aos vetores. • Diagnóstico e tratamento precoce: as equipes de ESF são treinadas para reconhecer os sintomas da malá- ria e da dengue e para realizar testes rápidos, o que é indispensável para o tratamento precoce e eficaz. Em áreas remotas, essa capacidade é particularmente im- portante para evitar complicações graves e mortes. • Coordenação com outros níveis de atenção à saúde: a ESF trabalha em coordenação com hospitais e outras instalações de saúde para garantir que os casos gra- ves sejam rapidamente encaminhados para cuidados mais intensivos. Também colaboram com autoridades de saúde pública no rastreamento e resposta a surtos. Essas medidas adaptadas pela ESF têm contribuído para a redução da incidência de malária e dengue no Amazonas, demons- 39ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 trando a eficácia da ESF na gestão dessas condições. No entanto, o desafio continua significativo, e o monitoramento constante é necessário para adaptar as estratégias às mudanças nas condi- ções epidemiológicas e ambientais. Portanto, no Amazonas, a ESF atua também na educação da comunidade e na coordenação de esforços de saúde pública, demonstrando como a estratégia pode ser adaptada para enfrentar desafios específicos de saúde pública em diferentes contextos estaduais. 2. Desempenho das equipes estaduais Mede o desempenho das equipes de Saúde da Família dentro de cada estado, incluindo indicadores como o grau de sa- tisfação dos usuários, a capacidade das equipes de responder a surtos de doenças e a eficácia na redução de hospitalizações por condições tratáveis na atenção primária. 3. Impacto nos indicadores de saúde pública Inclui a análise de como a ESF afeta os indicadores-cha- ve de saúde pública estaduais, como a redução da mortalidade infantil e materna, melhoria nos indicadores de saúde mental e controle de doenças crônicas. A implantação e o monitoramento da Estratégia de Saúde da Família são processos complexos que exigem coordenação e cooperação entre os diversos níveis de governo e a comunidade. Os indicadores em nível nacional e estadual são essenciais para aferir o sucesso da estratégia e garantir que as intervenções sejam eficazes e ajustadas às necessidades da população brasileira em suas diversas realidades locais. A Saúde da Família comemorou 25 anos de vivência em 2018, analisando a marcante reunião sucedida em dezembro de 1993, a partir deste ano o MS resolveu investir nesse caminho. Foi uma decisão estratégica para fundamentar o pilar da Atenção 40 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Básica em saúde no Brasil. Do programa virou uma estratégia de abrangência nacional, presente em todos os estados da federa- ção, em quase 100% dos municípios. A Estratégia Saúde da Família (ESF) evoluiu para se tornar uma política de Estado essencial dentro do Sistema Único de Saú- de (SUS), especialmente após a implementação da Política Nacio- nal de Atenção Básica (PNAB) em 2017. Essa política consolidou a integração com a Vigilância em Saúde (VS), fortalecendo ainda mais a base de sustentação do SUS. Atualmente, de acordo com o Sistema de Gestão Estratégica (SAGE) e dados do Instituto Bra- sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com uma população de 208.494.900 habitantes distribuídos em 5.570 mu- nicípios, cada um com suas particularidades e desafios no campo da saúde. Diante desse cenário, torna-se evidente a complexidade do universo em que a ESF opera, permeado por características tanto objetivas quanto subjetivas. Essa realidade reforça a neces- sidade de expandir o entendimento sobre o processo de trabalho na ESF. Isso pode ser alcançado por meio da inclusão de perspec- tivas de outros trabalhadores da saúde e da adoção de diferentes abordagens metodológicas e critérios de seleção de amostra. Tais esforços aprofundam o conhecimento sobre a área e identificar áreas de potencial melhoria. Nesse contexto, a qualificação em nível de graduação na área de saúde e a promoção da educação permanente emergem como pilares centrais. É preciso investir na manutenção e expan- são do número de vagas em programas de residência em saú- de da família. Tais iniciativas capacitam novos profissionais para atuarem na rede de atenção à saúde, bem como aprimoram as habilidades dos profissionais já atuantes, garantindo que estejam alinhados aos princípios e diretrizes do SUS. Esse alinhamento é 41ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 garante a melhoria contínua da qualidade do trabalho realizado pela ESF. Ademais, ao analisarmos o desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (APS) ao longo dos anos, observa-se que a dis- tribuição das equipes de Saúde da Família aumentou significati- vamente. Essa expansão reforça a necessidade de uma avaliação e monitoramento rigorosos dos serviços prestados em nível na- cional. Para isso, foram implementados programas de Gestão da Qualidade, envolvendo uma série de stakeholders incluindo gesto- res, profissionais da saúde, e usuários do serviço. Esses programas se concentram em melhorar o acesso e a participação do usuário, a satisfação, as estruturas de trabalho, a valorização dos profis- sionais e a qualidade da atenção, além de organizar o processo de trabalho de forma mais eficiente. Esse movimento representa um avanço significativo para a Administração Pública Brasileira e reflete um compromisso com a melhoria contínua da qualidade dos serviços de saúde oferecidos à população, conforme desta- cado pelo Departamento de Atenção Básica da Secretaria de As- sistência à Saúde do Ministério da Saúde e evidenciado por dados extraídos da SAGE. Existe por volta de 42.139 equipes de Saúde da Família, com uma cobertura populacional de 62,78%, e 259.112 agentes comunitários de saúde e 26.425 equipes de Saúde Bucal que com- põem o quadro. Desde as regiões ribeirinhas da Amazônia, igarapés, serras íngremes e fronteiras, ou seja, do Oiapoque ao Chuí, as ações da estratégia são pautadas no compartilhamento de práticas e sabe- res entre os atores protagonistas comprometidos com o seu terri- tório, com a comunidade,com o indivíduo em seu olhar holístico de equipe, obstinados a desenvolver práticas de saúde integrais, com ações focais em seu diagnóstico situacional, vinculando tec- 42 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 nologia de interação no cuidado a saúde em contribuir com o for- talecimento da participação popular e, acima de tudo, na huma- nização do cuidado prestados a todos no acolhimento, primeiro contato, acesso, longitunalidade, integralidade, coordenação do cuidado pela ESF em todo o Brasil. A implementação do Pacto pela Saúde, em 2006, realizada por adesão de Municípios, Estados e União, assinaladas ao Termo de Compromisso de Gestão, e compromisso de renovação anual, trouxe um marco para a expansão e compromisso dos gestores. Esse pacto é mantido por mais três: Pacto pela Vida, Pacto em De- fesa do SUS e Pacto de Gestão. No Nordeste do Brasil, no estado de Pernambuco, uma grave crise econômica, que acentuou o subfinanciamento crônico da saúde, os esforços do Estado afiançaram o custeio de todas as unidades e programas da rede estadual, assim como ampliaram o acesso da população aos serviços de saúde, o que permitiu o enfrentamento de novos desafios, o que colocou Estado como re- ferência nacional do setor. Pernambuco teve destaque ainda na Saúde Pública de ma- neira mundial ao ser pioneiro na notificação e acompanhamen- to dos casos da Síndrome Congênita do Zika Vírus. Pernambuco construiu os protocolos de notificação e atendimento, que se tor- naram modelo para outros estados e países. Essa priorização da Saúde Pública colocou o estado na prioridade do Nordeste com relação aos investimentos próprios na área (Conass, 2018). Desde 2015 a 2018, o Estado vem cumprindo com a legis- lação que regulamenta que os estados devem investir por ano, no mínimo, 12% da receita corrente líquida no setor. Pernambuco destina, desde 2015, em média, 15,7% (Conass, 2018). 43ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 O Estado de Pernambuco de acordo com informação do IBGE e SAGE, tem uma população de 9.496.294 habitantes, e 185 municípios, e até o mês de abril de 2019, essa cobertura popula- cional de Estratégia Saúde da Família era de 75, 21%. Isso denota que mais da metade do Estado está coberta por UBS, dispondo de serviços de saúde a população no que tende a programas de saú- de, procedimentos de atenção primária, atendimento domiciliar, entre outros da Atenção Básica. Tendo uma RAS, para os casos que necessitem de atenção especialidades. Conforme Mendes (2010), os serviços de saúde devem es- tar organizados e articulados em redes de atenção, por meio de uma atuação interdependente e cooperativa, com objetivos co- muns, intercâmbio de recursos e com organização da hierarqui- zação dos serviços. Quando os serviços de saúde são organizados e articula- dos de forma a oferecer ações e programas na rede de serviços em interação com as necessidades do usuário, e quando essas ações são contínuas e efetivas, refletem o foco da Atenção Básica, que é atender o indivíduo que procura assistência. Essa aborda- gem demonstra a transparência dos processos de gestão, a parti- cipação e o controle social, e a responsabilidade dos profissionais e gestores de saúde pela melhoria das condições de saúde e pela satisfação dos usuários. A Atenção Básica pode trabalhar como um instrumen- to articulador da participação cidadã e da ampliação das ESF no cuidado centrado ao indivíduo e a comunidade. Os números de ESF expressam a importância dos sujeitos e sua participação na melhoria da comunidade ao promover o trabalho em saúde, agre- gando as atividades culturais e educacionais e constituir espaços de participação social. 44 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 O número de ESF até abril de 2019, em Pernambuco, foi de 2.258 equipes. A ESF é um modelo orientado no processo de equipes multiprofissionais e ACS, em um território adstrito, o nú- mero de agentes comunitários em Pernambuco, de acordo com os dados do SAGE e o DAB até abril de 2019, tem um total de 15.394 agentes, e um total de população coberta de 7.999.306, tendo um percentual por agente em população coberta de 84, 24%, um ín- dice de qualidade de cobertura caminhando para a excelência. O número de equipes de saúde bucal implantadas até abril (2019), foram de 1.728 equipes, e população coberta em saúde bucal de 5.453.579. SAIBA MAIS O SAGE - Sala de Apoio à Gestão Estratégica, dis- ponibiliza informações para subsidiar a tomada de decisões, gestão e a geração de conhecimentos no campo da saúde pública? Clique no QR-Code. https://portalsage.saude.gov.br/painelInstrumentoPlanejamento 45ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 RESUMINDO E então? Verificamos a importância dos indicadores de cobertura da ESF, no Brasil e município para tra- çarmos uma avaliação de todo panorama de saú- de na nossa região em comparação com os índices brasileiros. Além disso vimos que a reorientação do modelo assistencial no Brasil com a ESF, antes PSF, completou 25 anos em 2018. Nesses anos a colaboração dos profissionais da Atenção Básica, a valorização profissional, os esforços dos gestores, a oferta de serviços, monitoramento e avaliação da equipes, como forma de melhorar a qualidade, a criação da RAS, para que o paciente não peregrine nos serviços de forma desumana e desordenada, o acolhimento e a classificação de risco, estão sen- do importantes para o crescimento da organização dos serviços ofertados. Ainda falta melhorar, mas o MS está investindo e dando o apoio estratégico a cada novo serviço, amparados na universalida- de, equidade, integralidade, e comprometimento político e social, chegamos lá! Acreditamos no SUS mais efetivo, onde os atores do processo de saúde se reconheçam em seus papéis. 46 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Desafios e possibilidades de expansão da ESF no Brasil OBJETIVO Nesta temática você conhecerá as estratégias rea- lizadas pelo MS, em relação à expansão do modelo proposto como porta de entrada do SUS, conhecerá os problemas dos grandes centros urbanos, e as pro- postas de melhorias em relação aos programas de saúde e de valorização da Atenção Básica. Vamos lá! O Sistema Único de Saúde e a criação das estratégias para alavancar o modelo de saúde proposto O SUS é reconhecido como um dos mais complexos sis- temas de saúde pública do mundo, envolvendo desde o simples atendimento assistencial na Atenção Primária até a alta comple- xidade como no caso de transplante de órgãos. Esse sistema é regido pela Constituição Federal de 1988 e as Leis Orgânicas da Saúde e portarias, e deve garantir o acesso universal, equânime, integral e gratuito para toda a população. Com a sua criação, esse sistema proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem quaisquer descriminações de usuários. A atenção integral à saúde envolve não apenas os cuidados assistenciais, mas também está garantida por lei na Carta Mag- na como um direito de todos os brasileiros, inserido na trajetória dos direitos sociais garantidos constitucionalmente. É um direito público subjetivo, um benefício jurídico indisponível assegurado à generalidade dos indivíduos. Esse direito se estende desde a ges- tação e ao longo de toda a vida, com foco na saúde e na qualidade de vida, promovendo a prevenção e a promoção da saúde. 47ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Imagem 2.9 – SUS Fonte: Wikimedia Commons. A Constituição deixa claro isso quando o art. 196 afirma que: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e eco- nômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos e o acesso univer- sal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Tal norma é concluída pela Lei n.° 8.080/90, em seu artigo 2º e seuinciso §§1º, 2º: A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políti- cas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegu- rem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. § 2º O dever do Estado não exclui o dos indiví- duos, família, empresas e da sociedade. 48 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 IMPORTANTE Ao falarmos em desafios e possibilidades de con- solidação das ESFs, em todo o território nacional, temos de refletir: o SUS é um grande desafio de transformações construções e desconstruções pa- ra a ativação de estratégias que implementem o seu acesso a todos de maneira integral, universal e igualitária. A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser soli- dária e participativa entre os entes federados: União, estados e os municípios. A rede que compõe o SUS é extensa e compreende ações e todos os serviços de saúde, reunindo serviços de atenção primária, média e alta complexidade;, serviços urgência e emer- gência; atenção hospitalar; ações e serviços das vigilâncias epide- miológica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica. O Sistema Único de Saúde e a reorientação do modelo de saúde: historicidade No ano de 1991, o Programa Agentes Comunitário de Saú- de (PACS) tinha como premissa a reestruturação da atenção bási- ca. Inicialmente foi implantado na região Nordeste posteriormen- te no Norte. A Constituição, Leis n.° 8.080/90 e n.° 8.142/90 tinham como propostas mudar o sistema de saúde brasileiro, tendo como objetivo garantir a saúde a todos os brasileiros. Em 1994, o PSF foi instituído por meio da Portaria MS n.° 692, de dezembro de 1993, como tática de reorientação dos serviços de atenção à saúde, pois as ancestrais práticas eram voltadas para a patologia, a cultura hospitalocêntrico, aos poucos substituídas por jovens princípios, com o enfoque na promoção da saúde e na participação da comu- nidade. 49ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 Anotem aqui: primeiramente o PSF foi implementado so- bretudo nos municípios menores, com condições de absorver a demanda de atenção primária, porém com baixa resolutividade para garantir o seguimento da atenção (Giovanella e Mendonça, 2008). No ano de 1993, o PACS envolvia 13 estados das regiões Norte e Nordeste, com 29 mil ACS atuando em 761 municípios. SAIBA MAIS Na época da criação do PSF, o país tinha 29 mil agentes comunitários de saúde. Os primeiros 55 municípios que implantaram o Programa coloca- ram em ação 328 equipes de Saúde em ação. Cli- que no QR-Code. Em novembro de 1994, o programa estava implantado em 987 municípios, de 17 estados das regiões Norte, Nordeste e Cen- tro-Oeste e um total de 33.488 agentes (Brasil, 2005). As primeiras equipes contavam com: 1 médico, 1 enfermeiro, 1 auxiliar de en- fermagem, de 4 a 6 ACS. Somente no ano de 1996, 2 anos depois, foi editado a Norma Operacional Básica (NOB) tendo a proposta de promover a expansão do processo de descentralização, insti- tuindo novas condições de gestão para os municípios e estados, individualizando as responsabilidades sanitárias dos municípios na saúde e redefinindo competências de estados e municípios. Os objetivos gerais da NOB 01/96 foram: diferenciar a responsabilidade sanitária de cada gestor, diretamente ou garantindo a re- ferência, especificando um novo pacto federa- tivo para a saúde; http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/Manual_Instrutivo_3_Ciclo_PMAQ.pdf 50 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 reorganizar reorientando as práticas ao novo modelo assistencial, descentralizando as ações aos municípios, o encargo pela gestão e execução conduzida da atenção básica de saúde; majorar a participação percentual da trans- ferência regular e automática, o denominado fundo a fundo, dos recursos federais a esta- dos e municípios, diminuindo a transferên- cia por remuneração de serviços realizados (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2016) Em 1998, foi estruturado um sistema de informação para aplicabilidade no PSF; o SIAB estava destinado para a implementa- ção e monitorização os resultados do PSF. Na prática o sistema era utilizado para a coleta dados e para nortear a avaliação e super- visão das atividades desenvolvidas. Entre as informações do SIAB são escolhidos indicadores e marcadores de acompanhamento que permitiam avaliar a produção e o desempenho das equipes, analisando as prioridades de intervenção. A Saúde da Família, delineada inicialmente como um pro- grama, começou a ser considerada pelo MS como uma tática es- truturante dos sistemas municipais de saúde, tendendo fortale- cer à reorientação do modelo de atenção e a tecendo a dinâmica da organização dos serviços e ações de saúde. A necessidade em aumentar a complexidade, coligando tecnologias acertadas e, também, as ações de promoção de saúde, fortalecendo práticas e hábitos saudáveis e enfatizando a questão intersetorial para en- frentar as problemáticas distintivas do ambiente urbano, como saúde mental, violência, drogas, alcoolismo (Souza et al., 2000). 51ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 SAIBA MAIS Começava a implementação e implantação do PSF em todo o território nacional, o MS então estabe- leceu, em 2000, entre as diretrizes norteadoras do PSF: impulsionando a expansão do programa pa- ra as grandes regiões de conglomerados urbanos. Nessas áreas existiam oferta de serviços e de profis- sionais operando no modelo tradicional, com agru- pamento e irracionalidade na disponibilidade de re- cursos tecnológicos, acendendo constante elevação de custos e gastos com pouco e real impacto nos indicadores de saúde e não melhoravam os níveis de satisfação da população. Por conseguinte, estas eram as áreas que precisavam imediata ampliação na agenda de serviços e ações de saúde na Atenção Básica, retornando à necessidade de atender aos grupos extremamente vulneráveis. As problemáticas dos grandes centros urbanos e dificuldade em implementar a atenção básica A pesquisa “Avaliação da Implementação do Programa Saúde da Família (PSF) em Grandes Centros Urbanos: dez estudos de caso” foi organizada pelo NUPES/DAPS/ENSP/Fiocruz, a fim de contribuir ao desenvolvimento do PROESF. A equipe técnica ele- geu os municípios que foram pesquisados e fez a indicação dos as- pectos e variáveis a serem abrangidos no projeto de investigação. Nessas amostras de municípios, foram incluídas situações diferenciadas de implantação do PSF, com o objetivo de identificar os fatores que promoviam e dificultavam o processo. Com base no critério comum de que os municípios com mais de 100 mil habitantes foram selecionados, juntamente com outros critérios 52 ATENÇÃO PRIMÁRIA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA U ni da de 2 pontuados no estudo, foram destacados experimentos bem-suce- didos. Municípios que enfrentavam dificuldades ou apresentavam singularidades em processos em fase inicial acabaram sendo pro- blemáticos, tanto na forma de implantação do programa quanto na conversão do modelo de Atenção Básica (Brasil, 2005). REFLITA Em 1970, 56% dos brasileiros moravam em áreas urbanas. Hoje, são 80%. Até 2050, segundo esti- mativas da Organização das Nações Unidas (ONU), 90% da população se concentrará em grandes cen- tros e a população nacional girará em torno de 200 milhões de indivíduos (Ipea, 2006). As problemáticas dos grandes centros urbanos –prática de Trabalho e limitações da estratégia de Saúde da Família em grandes centros urbanos As problemáticas enfrentadas pelos grandes centros urba- nos incluem, na sua maioria, o crescimento desordenado da popu- lação, problemas de violência,