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AULA 1 GESTÃO DA MUDANÇA E TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL Prof.ª Rhavena Frossard Gonçalves Dias 2 INTRODUÇÃO Ao preparar este material sobre Gestão da Mudança e Transformação Organizacional, nossa maior preocupação foi encontrar e disponibilizar para você um conjunto de informações que possam abrir novos horizontes e contribuir para o desenvolvimento de uma percepção mais apurada, a fim de lidar, gerir, liderar e ser um agente da mudança em seus desafios profissionais, sugerindo novas possibilidades de pensar sobre o tema. Ora, vivemos em constante mudança. Nós mesmos, a sociedade, o Planeta e, claro, as organizações. Recentemente, fomos desafiados a mudar drasticamente nossas rotinas devido à pandemia do Covid-19. A verdade é que ninguém estava pronto para viver esse momento dramático e histórico. Lidamos e lidaremos por algum tempo com os impactos que a pandemia nos submeteu, enquanto indivíduos, nos aspectos sociais, macroeconômicos, entre outros. A velocidade e qualidade com que cada pessoa e organização se adaptou, e continua se adaptando, foi e será preponderante para a superação desta fase e para garantir a sua longevidade. As organizações como um todo, que constantemente já precisam mudar para se ajustarem aos novos desafios de mercados, neste momento, mais do que sempre, precisam tratar da Gestão da Mudança de maneira consciente e voluntária para garantir maior êxito em suas jornadas de transformação. Segundo Beer (2009, p. 9-10), não importa o porte da organização, “os que não mudam estão fadados à estagnação ou ao fracasso”. Ele complementa que é impossível prever o momento em que a mudança irá se impor, mas que as organizações que a compreendem como inevitável e se preparam proativamente podem encarar as mudanças como oportunidades e não como ameaças. Há mudanças planejadas e mudanças inesperadas. Diversos fatores podem desencadear uma necessidade de mudança para uma organização – aprofundaremos este assunto mais adiante –, inclusive um acontecimento inesperado, como um incêndio, uma alteração na legislação ou uma pandemia. Porém, esse tipo de circunstância involuntária não acontece de forma trivial. De acordo com Banov (2013), as mudanças planejadas permitem que as organizações ajam de maneira estratégica, aumentando a chance de sucesso. 3 No transcorrer da história e na medida em que os cenários políticos, tecnológicos, econômicos se modificam, a sociedade e as organizações se tornam mais complexas e a demanda pelo conhecimento teórico e prático aumentam continuamente e seguem se transformando. Seguiremos em constante mudança. TEMA 1 – O SURGIMENTO DA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES A seguir, faremos um retrospecto do desenvolvimento do pensamento administrativo até o surgimento das teorias organizacionais. 1.1 Pensamento Administrativo na Antiguidade Alguns princípios da administração foram utilizados desde a Antiguidade, ainda que de forma elementar, para dar respostas aos problemas de organização do trabalho, das comunidades e das guerras. Papiros egípcios, datados por volta do ano 1.300 a. C., já indicavam a importância de boas práticas administrativas e na gestão pública. Na China, o General Sun Tzu (544 a.C. – 496 a.C.), escreveu o renomado livro A Arte da Guerra, sobre estratégias militares. Na Grécia Antiga, Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.), Platão (429 a.C. – 347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) também fizeram suas contribuições para os conceitos de Administração. A partir de 476 d. C., com a queda do Império Romano, a Igreja Católica passou a ser a maior organização de sua época e a organizou em hierarquias. No século XVIII, Napoleão Bonaparte instituiu a centralização do comando e descentralização da execução das operações do seu exército. Outra contribuição da organização militar desta época para a Administração é a recomendação de que todo soldado deveria saber exatamente o que fazer, como fazer e as expectativas sobre ele. O general prussiano Carl von Clausewitz, no início do século XIX, preconizou que a disciplina, o planejamento, a tomada de decisão baseada em fatos é um requisito básico para uma boa organização, e que o administrador deve aceitar as incertezas e planejar para mitigar seus efeitos. É correto afirmar que os primeiros escritos sobre este campo do conhecimento foram feitos por civilizações antigas, especialmente as da tradição grega, romana e judaica. [...], mas foi na tradição greco-romana 4 que surgiram os primeiros contornos sistemáticos de administração. [...] Outro importante campo de estudo e prática da administração na Antiguidade é o da estratégia militar [...], essa área do saber se notabilizou pelo desenvolvimento de importantes técnicas de gestão e organização, tais como o conhecimento sobre logística, princípios de contabilidade e saberes sobre liderança. (Vizeu, 2019, p. 57-58) 1.2 Revolução Industrial Até meados do século XIX, as organizações eram poucas, pequenas e essencialmente de produção artesanal. Com a invenção da máquina a vapor por James Watt (1736-1819), ocorreram profundas mudanças sociais denominada de Revolução Industrial. A produção artesanal se transforma em produção em massa. Artesãos e camponeses se transformam em operários, o modo de vida rural se converte em urbano. O crescimento das cidades e indústrias aumenta a exigência sobre as práticas administrativas. De acordo com Wood (2000, p. 98), “o trabalho nas fábricas passou a exigir horários rígidos, rotinas definidas, tarefas repetitivas e estreito controle”. 1.3 Teoria Clássica No início do século XX, o engenheiro americano Frederick Winslow Taylor (1856 -1915) iniciou a chamada Escola da Administração Científica, dedicada ao aumento da eficiência industrial por meio da racionalização do trabalho do operário. De acordo com Wood (2000), Taylor desenvolveu diversos princípios práticos pautados na separação entre o trabalho físico e mental e a divisão das tarefas em seu Estudo de Tempos e Movimentos. Na mesma época, outro engenheiro, o francês Henri Fayol (1814-1925), desenvolveu a Teoria Clássica, preocupada em aumentar a eficiência da empresa por meio de sua estrutura como um todo, organizando a empresa por funções, a saber: técnica – relativo à produção, comerciais, financeiras – relativo à procura e gestão de capitais, segurança – relativo à proteção e preservação de bens e pessoas, contábeis e administrativas- a quem cabe integrar as demais funções, como uma gerência geral. Fayol definiu o ato de administrar como: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar e que devem ser seguidos por cada departamento da organização que, por sua vez, deve responder de maneira hierarquizada a uma unidade de comando. 5 A Teoria Clássica da Administração surge neste contexto, sobre princípios militares e da engenharia, organizando tudo de forma racional, burocrática, hierarquizada e controlada. Sob a luz da Teoria Clássica, os princípios como unidade de comando, divisão das tarefas, disciplina, autoridade, passaram a ser os fatores de sucesso das organizações. Aqui, cabe mencionar que a abordagem Clássica pensava a organização como um sistema fechado, centrada em si mesma, não observando os fatores externos à organização que podiam influenciar o seu resultado. Considera, ainda, a organização como uma rede de setores independentes, arranjados de modo específico, racional e rígido. A linha de montagem, com fragmentação das tarefas, idealizada por Taylor e sua Escola da Administração Científica, levou a uma superespecialização da mão de obra, objetivando que atuassem como máquinas. Cada operário é treinado para realizar a sua atividade específica, no menor tempo, evitando desperdícios, elevando a produtividade e lucratividade da empresa. Esse arranjo produtivo ainda é encontrado em grandeescala nas fábricas, escritórios, fast foods mundo afora, na atualidade. Bem como o ordenamento das funções da empresa, da Teoria Clássica de Fayol: departamento financeiro, departamento de compras, marketing, produção... A Teoria Clássica ainda norteia grande parte das organizações neste início do Século XXI. A indústria automobilística da época foi o grande expoente desse modelo de produção. Em contraste com o que o que ocorria no sistema de produção manual, o trabalhador da linha de montagem tinha apenas uma tarefa. Ele não comandava componentes, não preparava ou reparava equipamentos, nem inspecionava a qualidade. Ele nem mesmo entendia o que o seu vizinho fazia. Para pensar em tudo isso, planejar e controlar as tarefas, surgiu a figura do engenheiro industrial. Neste novo sistema, o operário não tinha perspectiva de carreira e tendia a uma desabilitação total. Além disso, com o tempo, a tendência de superespecialização e perda das habilidades genéricas passou a atingir também os demais níveis hierárquicos. (Wood, 2000, p. 101-102) Henry Ford (1863 – 1947) elevou os conceitos do taylorismo a um novo patamar, liderando a Ford para o topo do ranking mundial das indústrias de sua época, popularizando o automóvel e revolucionando o mercado com o seu célebre Ford modelo T, vendido somente na cor preta. A Ford verticalizou toda a sua cadeia produtiva, sendo responsável pela produção de todos os componentes 6 utilizados pela sua linha de montagem. Henry Ford centralizava em si toda a tomada de decisão, por meio de um sistema de controle altamente burocratizado, o que, de acordo com Wood (2000), foi um dos principais motivos do declínio da Ford nos anos 30. Ainda, segundo Wood, foi Alfred Sloan, da General Motors, que vislumbrou uma saída para o impasse de gestão de Henry Ford. Primeiro, implantando um rígido sistema de controle para cada divisão da empresa, depois criou áreas de finanças e marketing, além disso levou ao mercado cinco novos modelos de automóveis para entender melhor o anseio nos consumidores da época. Por décadas, o sistema criado por Ford e aperfeiçoado por Sloan funcionou perfeitamente e as empresas americanas dominaram o mercado de automóveis. A partir de 1955, porém, a tendência começou a se inverter. O modelo começava a dar sinais de esgotamento. Na Europa, grandes fabricantes surgiram aplicando os mesmos princípios, mas desenvolvendo veículos mais adaptados às condições do continente. Paralelamente, a força de trabalho tornou-se cada vez mais reivindicativa em torno de questões como salários e jornadas de trabalho. A crise do petróleo dos anos 70 encontrou as indústrias europeias e americana num patamar de estagnação. A ascensão de novos concorrentes vindos do Japão, colocou definitivamente em cheque o modelo de produção em massa. (Wood, 2000, p.102) 1.4 Teoria das Relações Humanas A partir da década de 30, a Teoria Administrativa passa por uma mudança conceitual, como respostas às críticas à Teoria Clássica e sua visão mecanicista. A nova abordagem, denominada Teoria das Relações Humanas, emerge a partir do desenvolvimento das ciências sociais, particularmente, a Psicologia e a Psicologia do Trabalho (Chiavenato, 2011). A ascensão da abordagem humanística ocorre primeiro nos Estados Unidos, onde os trabalhadores e sindicatos passaram a encarar a Administração Científica como um modo sofisticado de exploração dos empregados em favor dos interesses patronais, e este ponto de vista não se compatibilizava com o estilo de vida democrático do povo estadunidense. Elton Mayo (1880 – 1949) foi um dos primeiros estudiosos a destacar sobre o lado humano das organizações, a existência e importância dos grupos informais, as necessidades sociais nas organizações. Mayo e sua equipe conduziram a experiência na fábrica da Western Electric Company, situada em Chicago, no bairro de Hawthorne, que visava identificar, inicialmente, a relação da iluminação do ambiente de trabalho com a 7 produtividade. Em suma, Mayo concluiu que a iluminação não influenciava a produtividade, mas sim a integração social e outros aspectos psicológicos dessa interação. Ao longo do período que durou o experimento, em torno de cinco anos, emergiu uma nova teoria, baseada em valores humanísticos na Administração, situando o foco nas pessoas, e não nas tarefas e na estrutura. As conclusões da Experiência de Hawthorne incluíram novas variáveis no dicionário da Administração: a integração social e o comportamento social dos empregados, necessidades psicológicas e sociais e a atenção para novas formas de recompensas e sanções não materiais, o estudo dos grupos informais, o despertar para as relações humanas dentro das organizações, a ênfase nos aspectos emocionais e não racionais do comportamento das pessoas e a importância do conteúdo do cargo para as pessoas que os realizam. Dentro da abordagem humanística, os pesquisadores se depararam com a civilização industrializada que torna as empresas preocupadas exclusivamente com a sua sobrevivência financeira e maior eficiência para o alcance de lucros. Assim, todos os métodos convergem para a eficiência e não para a cooperação humana. Daí, a necessidade de um tratamento profilático e preventivo do conflito industrial: o choque entre os objetivos das organizações e os objetivos individuais dos participantes. Assim, torna-se indispensável conciliar e harmonizar as duas funções básicas da organização industrial: a função econômica (produzir bens e serviços para garantir o equilíbrio externo e a função social (distribuir satisfações entre os participantes para garantir o equilíbrio interno. (Chiavenato, 2011, p. 107) O quadro 1, a seguir, traça um comparativo entre as Teorias Clássica e das Relações Humanas: Quadro 1 – Teoria Clássica e Teoria das relações humanas TEORIA CLÁSSICA TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS Trata a organização como máquina Trata a organização como grupos de pessoas Enfatiza as tarefas ou a tecnologia Enfatiza as pessoas Inspirada em sistema de engenharia Inspirada em sistemas de psicologia Autoridade centralizada Delegação de autoridade Linhas claras de autoridade Autonomia do empregado Especialização e competência técnica Confiança e abertura Acentuada divisão do trabalho Ênfase na relação entre as pessoas Confiança nas regras e nos regulamentos Confiança nas pessoas Clara separação entre linha e staff Dinâmica grupal e interpessoal Fonte: Chiavenato, 2011, p.107. 8 A Teoria da Relações Humanas evidenciou o papel das Lideranças. Ao passo que, na Teoria Clássica, o enfoque era na autoridade formal, a chefia, esta abordagem explora o poder da comunicação, da influência, da participação e inaugura o estudo sobre os tipos e estilos de liderança. Doravante, a Administração segue se desenvolvendo como Ciência e diversas correntes teóricas – considerando processos e pessoas – seguem em fluxo para compreender e contribuir para o desenvolvimento organizacional frente às complexas mudanças testemunhadas no desenrolar do século XX e adiante. TEMA 2 – O CONTEXTO ORGANIZACIONAL E SEU DESENVOLVIMENTO Basta olhar ao seu redor para observar as maravilhas desenvolvidas pelas organizações no decorrer da história. Tudo (ou quase tudo) ao seu redor é resultado do trabalho de uma extensa e complexa rede de organizações. Reflita, por um momento, sobre tudo o que está na sua presença agora mesmo! A energia elétrica, o dispositivo no qual você está acessando este conteúdo, o serviço de telecomunicações, a vestimenta que está usando, e tudo o mais. O assento em que você está agora mesmo, provavelmente, é o resultado do trabalho de muitas organizações: o design, o projeto, a matéria-prima de cada componente da fabricação deste produto, a força de trabalho para a confecção, os esforços para realizar a venda, o transporte até o ponto de venda onde foi adquirido,o ponto de venda e o vendedor, a entrega até o local onde você o está utilizando. Isso tudo para você se sentar em uma cadeira. Agora, imagine um pouco mais sobre toda a cadeia de produção e distribuição dos outros elementos presentes no ambiente em que você está. Perceba quantos recursos materiais, tempo, pessoas, processos convergem para que tenhamos acesso aos bens e serviços que dão suporte ao nosso estilo de vida atual. Independentemente do estágio de desenvolvimento de uma organização, ela não está isolada. Organizações são sistemas complexos, interdependentes de outras organizações, inseridas em ambientes igualmente complexos, em constante mudança. 9 2.1 Contexto Organizacional Cada organização atua mediante condições externas e internas, que podem beneficiá-las ou desafiá-las. Ter clareza do contexto em que a organização está inserida é preponderante para o seu avanço, pois para planejar e realizar a sua visão de futuro, a organização precisa compreender a sua realidade. O ponto de partida é estabelecer o contexto organizacional, elencando os fatores internos e externos que interferem no resultado da organização. A Matriz SWOT é uma eficiente ferramenta de análise amplamente utilizada para reconhecer o contexto organizacional. SWOT é a sigla para Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças), também conhecida como Matriz FOFA. Os fatores internos são avaliados como forças – os diferenciais da organização –, e fraquezas – os pontos negativos e que precisam de aprimoramento. Os fatores internos, normalmente, podem ser controlados e ou modificados pela organização, tais como: recursos humanos, recursos financeiros, acesso à matéria-prima, reputação, reconhecimento de marca, desempenho, relacionamento com steakholders, cultura organizacional, conhecimento, entre outros. Os fatores externos, tais como legislação, concorrentes, sociedade, economia, novas tecnologias, precisam ser avaliados como oportunidade ou ameaças, para que a organização potencialize as oportunidades e atue para mitigar impactos negativos. Figura 1 – Matriz FOFA Fatores Internos Fatores Externos 2.2 Desenvolvimento Organizacional (DO) Tendo em vista que os colaboradores e modo de ser da organização podem ser suas forças, cabe às organizações atuarem de forma a maximizar ou promover Forças (+) Oportunidades (+) Fraquezas (-) Ameaças (-) 10 as mudanças necessárias para seu fortalecimento. Ora, organizações são feitas por pessoas, e é por meio delas que seus objetivos se materializam. De acordo com Banov (2013, p.13-14), “o desenvolvimento organizacional é o processo de mudança planejada e de melhoria de uma organização por meio da aplicação de conhecimento das ciências comportamentais, como comportamento organizacional, psicologia, sociologia”, entre outros. O desenvolvimento organizacional visa à transformação organizacional tendo as pessoas e a cultura da organização como fator chave de sucesso. As organizações são, inerentemente, sistemas sociais. As pessoas que deles participam possuem identidades, relacionamentos, comunidades, atitudes, emoções e poderes diferenciados. Assim, quando se tentam mudar alguma parte do sistema, todos esses fatores entram em jogo, acrescentando vários níveis de complexidade a qualquer processo de transformação. Para que a gestão de mudanças seja bem-sucedida, é preciso reconhecer, antes de mais nada, a primazia dos fatores humanos e dos sistemas sociais em que elas se operam. (Beer, 2009, p. 90) A abordagem de DO, uma evolução das Teorias Comportamentais e Teoria dos Sistema, se baseia em quatro variáveis: ambiente, organização, grupo e indivíduo, e visa diagnosticar a situação dessas relações para intervir em aspectos estruturais e comportamentais para dar suporte às mudanças organizacionais e, simultaneamente, no indivíduo para o alcance dos objetivos mutuamente. Tais intervenções podem ser no sistema de recompensas, ajustes na estrutura, treinamentos, entre outros. A principal tarefa de DO é atuar sobre a cultura e o clima organizacional, promovendo ações para alterar o status quo para o próximo nível desejado pela organização, descongelando o padrão atual de comportamento para estabelecer as mudanças necessárias e fazendo com elas tenham a maior chance de serem bem-sucedidas! 2.2.1 Cultura Organizacional A cultura organizacional é o conjunto de crenças, valores e tradições, interações e relacionamentos sociais de cada organização. É o jeito de fazer as coisas na organização, as normas não escritas que norteiam o relacionamento interpessoal. 11 2.2.2 Clima Organizacional O clima organizacional pode ser compreendido com o a atmosfera psicológica da organização, está ligada ao nível de satisfação dos colaboradores com a organização em relação às suas normas e regras, tecnologia utilizada, tipo de estrutura, metas, estilos de liderança. TEMA 3 – A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E SEUS COMPONENTES Estrutura organizacional, em linhas gerais, é a forma pela qual as empresas se organizam, distribuem as atividades e são comandadas. De acordo com Banov (2013), “as organizações possuem estruturas diferentes que por meio de sua cultura vão influenciar as atitudes e os comportamentos das pessoas que nela trabalham. A resistência ou não à mudança é influenciada pelo tipo de estrutura que a empresa tem”. Um dos componentes da estrutura organizacional é a divisão do trabalho. Determinada atividade pode ser feita integramente por indivíduo ou um grupo de colaboradores, ou pode ser fracionada e cada colaborador realiza apenas uma parte da tarefa. A escolha por uma ou outro tipo de divisão do trabalho desdobra- se em alguns tipos de comportamentos e conhecimento do colaborador. Indivíduos ou grupos que realizam a atividade completa adquirem uma visão do todo de tal atividade, ao passo que, o colaborador que executa parte da tarefa, será especializado somente naquela atividade. Outro componente da estrutura é a cadeia de comando, que determina para quem cada colaborador deverá se reportar. Quanto mais níveis hierárquicos existirem na organização, maior a distância do colaborador do poder decisório da organização. Existem cadeia de comando mais extensas e cadeias de comando achatadas, onde menos níveis de chefia estão entre a principal liderança ou a esfera em que as decisões são tomadas, e os colaboradores da organização. A quantidade de pessoas que cada gerente poderá comandar trata-se do componente margens de controle. De acordo com Banov (2013), “a proximidade do gestor com o colaborador pode gerar mais iniciativa por parte do colaborador ou controle por parte do gestor”. O grau de autonomia do gestor e/ou dos seus colaboradores é proveniente da centralização ou descentralização adotada na estrutura da organização. Estruturas mais centralizadas pressupõem menor autonomia aos colaboradores. 12 O próximo componente é a formalização. Em organizações com alto nível de formalização, as demandas percorrem um caminho maior entre o solicitante e o responsável por atender à solicitação. Tais organizações possuem normas, regras e procedimentos pré-estabelecidos com maior nível de burocracia. Por fim, citamos o componente canais de comunicação da organização, que podem ser mais limitadas e verticalizadas, de cima para baixo, ou ascendentes, bem como estruturas de comunicação lateral, entre todos. O arranjo desses componentes determina o tipo de estrutura da organização. 3.1 Estruturas mecanicistas As estruturas mecanicistas são aquelas onde predominam maior nível de controle, rigidez, extensa departamentalização, alta formalização, rede de informações limitadas, menor autonomia, pequena participação dos colaboradores do baixo escalão na tomada de decisão.Segundo Banov (2013), “no Brasil, [...] ainda conta-se com elevada porcentagem de empresas com estrutura mecanicista, que são verdadeiros obstáculos à modernização, à mudança, à inovação.”. 3.1 Estruturas orgânicas As estruturas orgânicas são aquelas em que predominam as equipes de trabalho ou projetos, cadeia de comando mais achatada, pouca formalização, rede abrangente de informações fluindo em todas as direções, maior flexibilidade de políticas, regras e procedimentos, possuem colaboradores qualificados e com maior autonomia, menor distância do poder decisório, que envolve a todos. Organizações com estruturas orgânicas se ajustam em ambientes mais instáveis, e possuem maior adaptabilidade às mudanças, ao passo que as mecanicistas performam melhor em ambientes estáveis, com menor volume de mudanças. Uma das grandes tendências de mudanças estruturais na atualidade é a passagem de estruturas mecanicistas para estruturas orgânicas, principalmente em decorrência do avanço tecnológico e do crescimento do teletrabalho. [...] estruturas orgânicas e flexíveis, com menos pessoas, que pensam melhor e se utilizam de sistemas inteligentes agregam muito mais valor ao negócio do que dezenas de linhas de montagem de trabalhadores “não pensantes” que prevalecem no modo mecanicista. (Banov, 2013, p.39-40) 13 Aqui, cabe mencionar que a estrutura organizacional precisa atender à estratégia da organização, e essa escolha deve estar subordinada aos resultados pretendidos. Quadro 2 – Estruturas mecanicistas e orgânicas ORGANIZAÇÕES MECANICISTAS ORGANIZAÇÕES ORGÂNICAS A estrutura vertical é dominante A estrutura horizontal é dominante Tarefas especializadas e rotineiras Tarefas compartilhadas e inovadoras Hierarquia rígida de autoridade Hierarquia solta Autoridade do conhecimento Comunicação vertical Comunicação horizontal face a face Ênfase em regras e regulamentos Ênfase nas pessoas Departamentalização Equipes e forças tarefa Pouco processo de integração Muitos processos integradores Tomada de decisão centralizada na cúpula Tomada de decisão descentralizada e informal Controles rígidos sobre tudo Ênfase em metas e resultados Fonte: Banov, 2013, p. 39. Em organizações que visam à redução de custos, estruturas mecanicistas podem proporcionar melhores resultados, devido ao controle mais rígido. Se a estratégia tender à diversificação pelo já existente, por novos negócios ou mercados, a organização pode optar por uma estrutura híbrida, ou seja, buscando o melhor de cada tipo de estrutura. Por outro lado, uma empresa que busca a inovação deverá recorrer à estrutura orgânica, onde predomina a flexibilidade, criatividade, velocidade e adaptabilidade. 3.1 Outros modelos de estruturas e organização do trabalho 1. Estruturas simples: pouca especialização, centralização em uma única pessoa, e baixa formalização. Comum em pequenos negócios em estágio inicial. 2. Adhocracia ou organização sem fronteiras: alta especialização, pouca formalização, buscam eliminar a cadeia de comando, apresentam pequena distância do poder, alto fluxo de comunicação, substituem os departamentos por equipes autônomas com poder de decisão, fazem ampla utilização da tecnologia para se conectarem. Tipicamente encontrada em organizações jovens, em ambientes complexos, dinâmicos e com grande exigência de inovação, como empresas de tecnologia. 14 3. Estrutura horizontal ou estrutura de equipe: equipes de trabalho que são responsáveis por um processo ou projeto, com alto nível de responsabilização e autonomia, colaboradores podem ser ao mesmo tempo especialistas e generalistas. Podem atuar presencial ou virtualmente, de uma mesma empresa ou de diferentes organizações. 4. Estrutura em rede: formada por empresas e ou pessoas, com foco em gerar valor para clientes e mercados, que visam otimizar os seus recursos, para atingir um propósito comum. TEMA 4 – O AMBIENTE ORGANIZACIONAL E SUAS INTERAÇÕES COM O MERCADO Podemos compreender ambiente organizacional como sendo o contexto externo no qual as organizações estão inseridas e realiza transações. Assim sendo, o ambiente tem vasta influência sobre elas. O ambiente é um contexto externo que apresenta uma enorme variedade de condições extremamente variáveis e complexas, difíceis de serem abordadas em seu conjunto e analisadas com subjetividade. As organizações precisam tatear, explorar e discernir o ambiente para reduzir a incerteza a seu respeito. Em outros termos, a organização precisa mapear o seu espaço ambiental. (Chiavenato, 2011, p. 482) Para atuarem de acordo e em resposta ao ambiente, as organizações precisam criar critérios para se aterem ao que é mais relevante e impactante em relação ao seu negócio. Bem como desenvolver uma percepção mais aguçada para interpretar, da forma mais adequada possível, o contexto ambiental e sua influência no seu direcionamento estratégico. 4.1 Ambiente Geral A camada mais externa do ambiente organizacional é denominada Ambiente Geral, macroambiente ou ambiente genérico (Chiavenato, 2011). Esse ambiente é constituído por um conjunto de condições comum para todas as organizações, a saber: 1. Condições tecnológicas: tecnologias disponíveis e utilizadas pela organização versus seus concorrentes. 2. Condições legais: legislação vigente, que pode beneficiar ou impor restrições à organização. 15 3. Condições políticas: decisões em âmbito federal, estadual ou municipal que influenciam as organizações e as condições econômicas. 4. Condições econômicas: fatores que tangem à economia, como a circulação de dinheiro, taxas de juros, distribuição de renda, crescimento ou retração econômica, entre outros. 5. Condições demográficas: aspectos populacionais como taxa de crescimento, religião, raça, distribuição por gênero, idade, entre outros, que determinam as características do mercado de consumo atual e futuro. 6. Condições ecológicas: fatores relacionados ao meio ambiente e ao quadro demográfico e como essa interação afeta e é afetada pela organização, como poluição, clima, transporte, comunicação, entre outros. 7. Condições culturais: conjunto de costumes, normas e valores da sociedade que influencia a organização, por meio de seus colaboradores e consumidores. 4.1 Ambiente de Tarefa Define-se Ambiente de tarefa como sendo o ambiente mais próximo e imediato, onde a organização estabelece, ou procura estabelecer, o seu domínio (Chiavenato, 2011). O ambiente de tarefa é a seção do ambiente geral na qual a organização realiza interações na operação do dia a dia, e é constituído por: 1. Fornecedores: de todos os tipos de recursos necessários à operação da organização, por exemplo: recursos financeiros, matérias primas, recursos humanos; 2. Clientes: consumidores dos produtos e ou serviços da organização; 3. Concorrentes: que disputam recursos de entradas (fornecedores) e disputam consumidores; 4. Entidades Reguladoras: instituições que fiscalizam e regulam a atividade da organização, por exemplo: sindicatos, associações de classe, órgãos governamentais. O grande desafio da administração de empresas da atualidade é manter o constante monitoramento do ambiente organizacional e fazer a correta interpretação dos fatos. Esse ato de monitoramento > análise/interpretação do ambiente está sujeito ao repertório dos administradores da organização, e essa 16 subjetividade pode corroborar para a assertividade ou para incerteza diante às mudanças! Ainda, de acordo com Chiavenato (2011), há algumas classificações para o ambiente, a fim de tornar a análise ambiental menos complexa, são elas: • Quanto à sua estrutura: o Ambiente hegemônico: composto por fornecedores, clientes e concorrentes semelhantes, com pouca segmentação ou diferenciação dos mercados; o Ambiente heterogêneo: com muitas diferenciações entre fornecedores,clientes, concorrentes, com grande diversidade de circunstâncias. Exige alto grau de diferenciação das organizações, flexibilidade e adaptabilidade. • Quanto à sua dinâmica: o Ambiente estável: nenhuma ou baixa incidência de mudanças, quando há, são previsíveis; o Ambiente Instável: dinâmico e com constantes mudança, maior nível de incertezas. Figura 2 – Ambiente geral e ambiente de tarefa Fonte: Chiavenato, 2011, p. 485. A Teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy (1901-1972) por volta da década de 1950, tem como princípio de que as organizações são sistemas abertos e interagem com o ambiente, tal qual os organismos. Organização Ambiente de Tarefa Fornecedores Clientes Entidades Reguladoras Concorrentes Condições legais Condições tecnológicas Condições culturais Condições Ecológicas Condições Políticas Condições Econômicas Condições Demográfica Ambiente de Geral 17 Os teóricos da administração clássica deram relativamente pouca atenção ao ambiente. Trataram a organização como um sistema mecânico fechado e se preocuparam com os princípios do planejamento interno. A visão dos sistemas abertos modificou tudo isto, sugerindo que se deveriam sempre efetuar o processo de organização tendo em mente o ambiente. Desta forma, bastante atenção tem sido dada a compreensão da atividade ambiental imediata, definida pelas interações organizacionais diretas (por exemplo, como clientes, concorrentes, fornecedores, sindicatos e agências governamentais, bem como do contexto mais amplo ou ambiente em geral. (Morgan, 1996, p. 49) TEMA 5 – PRESSÕES QUE IMPULSIONAM AS ORGANIZAÇÕES A BUSCAR MUDANÇAS Com base em tudo em que foi dito até aqui, podemos concluir que são muitos os fatores internos e externos que levam as organizações a se colocarem em movimento de mudança, como: ganhar competitividade, aumentar a produtividade, melhorar resultados, disponibilidade de matéria-prima, novas tecnologias, proporcionar melhores condições de trabalho aos colaboradores, acompanhar as tendências de consumo, cumprimento ou adaptação a normas reguladoras entre outros, visando a manutenção da competitividade e crescimento do negócio. A tecnologia é um importante gatilho de mudança nas empresas e tem sido a mola propulsora das grandes transformações ocorridas nas últimas décadas. Lidamos hoje com um mundo globalizado, que compete mundialmente por recursos e mercados consumidores. Os sucessivos avanços tecnológicos pressionam as organizações e reverem constantemente suas atividades, estrutura organizacional, produtos e serviços, estratégias. As condições econômicas também impulsionam que as organizações tomem decisões que podem acarretar mudanças significativas como reestruturação de quadro de colaboradores para maior ou menor, novos posicionamentos de mercado, revisão de produtos e serviços, vendas, fusões ou aquisições de outras empresas, desinvestimentos, entre outros. O perfil dos consumidores e seus estilos de vida, – assim como as organizações –, são profundamente influenciados pelo ambiente geral. Para seguir atendendo à demanda dos seus consumidores, as organizações são constantemente pressionadas a rever seus produtos e serviços, posicionamento de marca, canais de atendimento, entre outros processos, para manter vantagem competitiva. 18 Ao compreenderem o ambiente no qual estão inseridas e analisar as ameaças e oportunidades, as organizações podem aprimorar a sua estratégia de definir o conjunto de mudanças que deverão ser implementadas para a sua evolução. 19 REFERÊNCIAS BANOV, M. R. Mudanças Organizacionais. Atlas Editora, 2013. BEER, M. Gerenciando Mudança e Transição. São Paulo: Record, 2009. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. Elsevier Brasil, 2011. MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. VIZEU, F. Teorias da administração: origem, desenvolvimento e implicações. Curitiba: InterSaberes, 2019. WOOD JR, T. Mudança organizacional. São Paulo: Atlas, 2000.