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1 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 “De portas fechadas e uma infância fragmentada”: a importância da creche e pré-escola para abrir caminhos e garantir uma primeira infância plena no Brasil “Behind closed doors and a fragmented childhood”: the importance of daycare and preschool in opening paths and ensuring a full early childhood in Brazil “Con puertas cerradas y una infancia fragmentada”: la importancia de la guardería y el preescolar para abrir caminos y garantizar una primera infancia plena en Brasil DOI: 10.55905/revconv.17n.6-335 Originals received: 05/24/2024 Acceptance for publication: 06/14/2024 Antonio Nacílio Sousa dos Santos Mestre em Avaliações de Políticas Públicas Instituição: Universidade Federal do Ceará (UFC) Endereço: Horizonte – Ceará E-mail: naciliosantos1@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6792-1806 Mariluza Sott Bender Mestre em Psicologia Instituição: Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) Endereço: Santa Cruz do Sul – Rio Grande do Sul, Brasil E-mail: mariluzabender@unisc.br Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7086-6860 Gutemberg Gomes Silva Mestrando em Educação Instituição: Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFMT) Endereço: Uberaba – Minas Gerais, Brasil E-mail: gutemberggomes2012@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7592-0691 Ursula Boreal Lopes Brevilheri Mestre em Sociologia Instituição: Universidade Estadual de Londrina (UEL) Endereço: Londrina – Paraná, Brasil E-mail: urse.brevilheri@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5867-7901 mailto:naciliosantos1@hotmail.com https://orcid.org/0000-0001-6792-1806 mailto:mariluzabender@unisc.br https://orcid.org/0000-0001-7086-6860 mailto:gutemberggomes2012@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-7592-0691 mailto:urse.brevilheri@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-5867-7901 2 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 Ana Claudia do Prado Lima Doutoranda em Educação Instituição: Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) Endereço: Joinville – Santa Catarina, Brasil E-mail: anaclaudiapradolima@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7128-5379 João Paulo Guerreiro de Almeida Doutor em Educação Instituição: Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Endereço: Limoeiro do Norte – Ceará, Brasil E-mail: joaopaulo.guerreiro@ifce.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3055-8182 Aurelice Maria de Oliveira Paula Mestre em Educação Instituição: Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) Endereço: Caxias – Maranhão, Brasil E-mail: aurelicepaula@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0007-7962-114X José Ronaldo da Silva Bezerra Doutor em Educação Instituição: Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Endereço: Junco do Seridó – Paraíba, Brasil E-mail: professor12.jose@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0009-6929-053X Beatriz Castelo Branco da Silva Mestranda em Avaliação de Políticas Públicas Instituição: Universidade Federal do Ceará (UFC) Endereço: Fortaleza – Ceará, Brasil E-mail: beatrizcastelo.92@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1593-8937 Letícia Cilene Ribeiro Mestre em Educação e Docência Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Endereço: Francisco Sá – Minas Gerais, Brasil E-mail: leticia.ribeiro@ufop.edu.br Ana Paula Lenz e Silva Mestre em Educação Instituição: Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Endereço: Juiz de Fora – Minas Gerais, Brasil E-mail: anapaulalenzesilva2@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0007-1562-2661 mailto:anaclaudiapradolima@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-7128-5379 mailto:joaopaulo.guerreiro@ifce.edu.br https://orcid.org/0000-0002-3055-8182 mailto:aurelicepaula@gmail.com mailto:professor12.jose@gmail.com https://orcid.org/0009-0009-6929-053X mailto:beatrizcastelo.92@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-1593-8937 mailto:leticia.ribeiro@ufop.edu.br mailto:anapaulalenzesilva2@gmail.com https://orcid.org/0009-0007-1562-2661 3 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 Maria Martins Formiga Mestre em Educação Profissional e Tecnológica Instituição: Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) Endereço: Monteiro – Paraíba, Brasil E-mail: mmartinsformiga@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0009-3327-5653 Igor dos Santos Calixto Graduando em Letras, Português e Literaturas de Língua Portuguesa Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Endereço: Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, Brasil E-mail: igorsantoscalixto@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0002-5394-8586 Isabelle Sena Gomes Doutora em Ciências Sociais Instituição: Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Endereço: João Pessoa – Paraíba, Brasil E-mail: euisabelle@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8457-9993 Ana Cláudia de Araújo Xavier Mestra em Educação Instituição: Universidade Federal do Ceará (UFC) Endereço: Itapiúna – Ceará, Brasil E-mail: claudiaxavieraana@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0008-5611-3510 RESUMO Os dados divulgados em 2023 pela Organização Não Governamental (ONG) “Todos Pela Educação” revelam informações que impactam diretamente o desenvolvimento integral das crianças no Brasil. De acordo com o relatório, estima-se que cerca de 2,3 milhões de crianças de 0 a 3 anos não possuem acesso a creches ou pré-escolas. Um dos motivos apontados pela ONG é a falta de acessibilidade a esses estabelecimentos educacionais, evidenciando a ausência de políticas públicas adequadas por parte do Estado, necessárias para a efetivação dos direitos da “primeira infância” e, consequentemente, a proteção integral dessas crianças. Diante dessa situação, indagamos: como efetivar a política pública da primeira infância se o Estado não possibilita acesso adequado e universal às creches e pré-escolas, comprometendo assim o desenvolvimento integral de milhões de crianças no Brasil? Quais seriam as estratégias mais eficazes para superar as barreiras de acessibilidade e garantir que todas as crianças de 0 a 3 anos possam usufruir dos benefícios educacionais e sociais que esses estabelecimentos proporcionam? Dessa forma, a pesquisa se deu de modo qualitativa (Minayo, 2016), descritiva (Demo, 1991) a partir de uma perspectiva compreensiva (Weber, 2004). Fizemos uso dos dados obtidos pela ONG “Todos Pela Educação” para a compreensão das políticas públicas destinadas à primeira infância no que tange ao objeto dessa pesquisa, assim como identificamos os principais desafios e barreiras enfrentados na oferta de acessibilidade e qualidade às creches e pré-escolas no Brasil. O principal achado da pesquisa evidencia a falha do Estado em garantir a provisão adequada de mailto:mmartinsformiga@gmail.com https://orcid.org/0009-0009-3327-5653 mailto:igorsantoscalixto@gmail.com https://orcid.org/0009-0002-5394-8586 mailto:euisabelle@hotmail.com https://orcid.org/0000-0001-8457-9993 mailto:claudiaxavieraana@gmail.com https://orcid.org/0009-0008-5611-3510 4 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 serviços públicos essenciais, refletindo uma negligência significativa na promoção dos direitos fundamentais das crianças, fragmentando o desenvolvimento infantil. Palavras-chave: desenvolvimento infantil, primeira infância, acessibilidade educacional, políticas públicas, negligência estatal. ABSTRACT The data released in 2023 by the Non-Governmental Organization (NGO) “Todos Pela Educação” reveal information that directly impacts the holistic development of children in Brazil. According to the report, it is estimated that approximately 2.3 million children aged 0 to 3 do nothave access to daycare centers or preschools. One of the reasons pointed out by the NGO is the lack of accessibility to these educational establishments, highlighting the absence of adequate public policies by the State, necessary for the realization of the rights of “early childhood” and, consequently, the full protection of these children. Given this situation, we ask: how can the public policy of early childhood be implemented if the State does not provide adequate and universal access to daycare centers and preschools, thus compromising the holistic development of millions of children in Brazil? What would be the most effective strategies to overcome accessibility barriers and ensure that all children aged 0 to 3 can enjoy the educational and social benefits that these establishments provide? Therefore, the research was conducted qualitatively (Minayo, 2016), descriptively (Demo, 1991) from a comprehensive perspective (Weber, 2004). We used data obtained by the NGO “Todos Pela Educação” to understand public policies aimed at early childhood concerning the object of this research, as well as to identify the main challenges and barriers faced in providing accessibility and quality to daycare centers and preschools in Brazil. The main finding of the research highlights the State’s failure to ensure the adequate provision of essential public services, reflecting significant neglect in promoting the fundamental rights of children, thereby fragmenting their development. Keywords: child development, early childhood, educational accessibility, public policies, state neglect. RESUMEN Los datos divulgados en 2023 por la Organización No Gubernamental (ONG) “Todos Pela Educação” revelan información que impacta directamente el desarrollo integral de los niños en Brasil. Según el informe, se estima que aproximadamente 2,3 millones de niños de 0 a 3 años no tienen acceso a guarderías o preescolares. Una de las razones señaladas por la ONG es la falta de accesibilidad a estos establecimientos educativos, evidenciando la ausencia de políticas públicas adecuadas por parte del Estado, necesarias para la realización de los derechos de la “primera infancia” y, consecuentemente, la protección integral de estos niños. Ante esta situación, nos preguntamos: ¿cómo implementar la política pública de la primera infancia si el Estado no proporciona acceso adecuado y universal a las guarderías y preescolares, comprometiendo así el desarrollo integral de millones de niños en Brasil? ¿Cuáles serían las estrategias más efectivas para superar las barreras de accesibilidad y garantizar que todos los niños de 0 a 3 años puedan disfrutar de los beneficios educativos y sociales que estos establecimientos proporcionan? De esta manera, la investigación se llevó a cabo de manera cualitativa (Minayo, 2016), descriptiva (Demo, 1991) desde una perspectiva comprensiva (Weber, 2004). Utilizamos los datos obtenidos por la ONG “Todos Pela Educação” para comprender las políticas públicas dirigidas a la primera infancia en relación con el objeto de esta investigación, así como para identificar los principales 5 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 desafíos y barreras enfrentados en la oferta de accesibilidad y calidad a las guarderías y preescolares en Brasil. El principal hallazgo de la investigación destaca la falla del Estado en garantizar la provisión adecuada de servicios públicos esenciales, reflejando una negligencia significativa en la promoción de los derechos fundamentales de los niños, fragmentando su desarrollo. Palabras clave: desarrollo infantil, primera infancia, accesibilidad educativa, políticas públicas, negligencia estatal. 1 “PORTAS FECHADAS”: INTRODUZINDO A primeira infância1, compreendida como o período que abrange os primeiros anos de vida de uma criança, é fundamental para o desenvolvimento integral do ser humano. Este período, que vai do nascimento aos seis anos de idade, é caracterizado por um rápido desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social. De acordo com a literatura especializada, garantir um ambiente estimulante e seguro durante a primeira infância é crucial para promover a saúde, a educação e o bem-estar das crianças (Brazelton & Greenspan, 2000). A primeira infância é a fase que corresponde aos primeiros seis anos de vida. Essa fase é considerada como uma “janela de oportunidade”, pois é quando diversas estruturas do cérebro estão em formação e há a aquisição de capacidades fundamentais para o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades futuras mais complexas (NCPI, 2014). Por isso mesmo, as experiências vivenciadas na primeira infância impactam ao longo de toda a vida. Esse período estabelece as bases para a saúde, o bem-estar, os processos de aprendizagem e as capacidades de criação e produção de uma pessoa, impactando, inclusive, na saúde e no bem-estar da próxima geração (Unicef, 2006). Os objetivos da política pública voltada para a primeira infância incluem assegurar que todas as crianças tenham acesso a serviços de saúde, educação, nutrição e proteção social de qualidade. Esses objetivos visam à criação de um alicerce sólido para o desenvolvimento futuro das crianças, permitindo-lhes alcançar seu pleno potencial2. A promoção desses direitos está 1 Sobre o documento oficial que fala sobre a primeira infância, ver o link: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue- por-temas/crianca-e-adolescente/acoes-e-programas-de-gestoes-anteriores/primeira-infancia 2 O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), de 1990, e a Constituição Federal de 1988 estabelecem direitos fundamentais para as crianças, incluindo acesso universal e integral a serviços essenciais como saúde, educação, nutrição e proteção social (Brasil, 1990; Brasil, 1988). Esses documentos legais garantem que políticas públicas sejam implementadas visando ao desenvolvimento integral na primeira infância, assegurando condições equitativas para todas as crianças brasileiras (Brasil, 1990; Brasil, 1988). O ECA, em particular, reforça a proteção integral e prioritária das crianças, enquanto a Constituição Federal consagra princípios como a dignidade humana e a igualdade https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/crianca-e-adolescente/acoes-e-programas-de-gestoes-anteriores/primeira-infancia https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/crianca-e-adolescente/acoes-e-programas-de-gestoes-anteriores/primeira-infancia 6 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 intrinsecamente ligada à capacidade do Estado de implementar e manter serviços públicos essenciais que atendam às necessidades específicas dessa faixa etária (Mustard, 2006). Os dados divulgados em 2023 pela Organização Não Governamental (ONG)3 “Todos Pela Educação” destacam uma realidade alarmante no Brasil. Segundo o relatório, estima-se que cerca de 2,3 milhões de crianças de 0 a 3 anos não possuem acesso a creches ou pré-escolas. Esta situação não só compromete o desenvolvimento dessas crianças, mas também evidencia a ineficácia das políticas públicas atuais em assegurar a cobertura universal dos serviços educacionais básicos para a primeira infância. Um dos principais motivos apontados pela ONG para essa carência é a falta de acessibilidade a estabelecimentos educacionais. A ausência de creches e pré-escolas acessíveis indica uma falha significativa do Estado em prover as políticas públicas necessárias para a efetivação dos direitos da primeira infância. A inação estatal, portanto, coloca em risco a proteção integral dessas crianças, que é um princípio fundamental estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/90)4. Conforme o ECA/90, no artigo 3º, A criança e o adolescente gozamde todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. O conceito de proteção integral, conforme definido pelo ECA/90 acima, refere-se à garantia de todos os direitos fundamentais às crianças e adolescentes, assegurando-lhes desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Esta proteção deve ser proporcionada de forma prioritária e ininterrupta, considerando as especificidades e vulnerabilidades próprias de cada fase do desenvolvimento (Brasil, 1990). O artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ressalta a importância da proteção integral para garantir o desenvolvimento pleno das crianças desde a primeira infância. No contexto em que milhões de crianças estão fora de creches e pré-escolas no Brasil, essa proteção integral torna-se ainda mais crucial. A falta de acesso a esses estabelecimentos de direitos, orientando o Estado a promover políticas que proporcionem um ambiente propício ao desenvolvimento pleno das capacidades infantis desde os primeiros anos de vida (Brasil, 1990; Brasil, 1988). 3 Ao longo do texto usaremos a sigla ONG para descrever “Organização Não Governamental”. 4 Usaremos a sigla ECA/90 para se referir ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) instituído em 1990. 7 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 educacionais não apenas priva as crianças de oportunidades de aprendizado e socialização, mas também representa uma violação de seus direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo ECA/90. A ausência de creches e pré-escolas adequadas compromete o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social das crianças, indo de encontro ao princípio da proteção integral preconizado pelo Estatuto. Quando crianças não frequentam os ambientes considerados apropriados para sua faixa etária, como creches e pré-escolas, isso pode acarretar em consequências significativas para seu desenvolvimento psicológico e socioemocional. A falta de acesso a esses espaços adequados compromete não apenas a sua interação social e cognitiva, mas também impacta diretamente na formação de sua identidade e personalidade ao longo do tempo. Esses ambientes desempenham um papel crucial no fornecimento de estímulos e interações necessárias para o desenvolvimento saudável das crianças, influenciando diretamente na configuração de sua psique e nas competências socioemocionais que desenvolvem. Em um contexto em que crianças são privadas dessas oportunidades de socialização e aprendizado, sua infância torna-se fragmentada, limitando suas perspectivas de crescimento integral. A ausência de interações significativas em ambientes educacionais apropriados pode resultar em dificuldades de adaptação social, falta de habilidades de comunicação e dificuldades emocionais, impactando não apenas sua infância, mas também seu futuro desenvolvimento. Portanto, é fundamental reconhecer a importância desses espaços na formação e no bem-estar das crianças, buscando garantir acesso universal e qualidade em programas educacionais voltados para a primeira infância. Os diversos contextos em que uma criança está inserida influenciam sobremaneira em seu desenvolvimento. O cenário em que vive e com o qual interage, considerando seus relacionamentos afetivos e sociais, impacta em todos os aspectos do desenvolvimento - físico, cognitivo e socioemocional (NCPI, 2014). Por isso, a literatura nacional e internacional mostra a importância de políticas públicas de atenção integral nessa fase crucial para o desenvolvimento, com ações voltadas à nutrição, saúde, parentalidade, segurança e proteção, além da Educação Infantil (Primeira infância apud FMCSV, 2018). Diante dessa situação, este estudo busca responder à seguinte pergunta norteadora: como efetivar a política pública da primeira infância se o Estado não possibilita acesso adequado e universal às creches e pré-escolas? A ausência de tais serviços compromete o desenvolvimento 8 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 integral de milhões de crianças no Brasil, fragmentando seu desenvolvimento e perpetuando ciclos de desigualdade. A pesquisa se desenvolve a partir de uma abordagem qualitativa, descritiva e compreensiva, fundamentada nas obras de Minayo (2016), Demo (1991) e Weber (2004), respectivamente. A utilização dos dados fornecidos pela ONG “Todos Pela Educação” permite uma análise detalhada das políticas públicas destinadas à primeira infância e dos obstáculos enfrentados na oferta de serviços educacionais de qualidade. Dito isso, o artigo está disposto da seguinte maneira: a) a introdução onde explanamos o contexto do objeto e dos objetivos da pesquisa; prosseguindo, b) expomos o delineamento dos passos que foram dados para a obtenção do material empírico e da análise empreendida nesta pesquisa, ou seja, a metodologia; depois, c) expomos os dados obtidos pela ONG “Todos Pela Educação” realizando uma análise compreensiva da situação de 2,5 milhões de crianças que não possuem acesso a este espaço educativo institucional no país e, d) as considerações finais apontando políticas públicas para reconfigurar a vida desses sujeitos que estão experienciando uma infância fragmentada. 2 “ABRINDO PORTAS”: A METODOLOGIA A metodologia adotada neste estudo busca compreender e analisar as políticas públicas voltadas para a primeira infância no Brasil, especialmente no que se refere ao acesso às creches e pré-escolas, utilizamos a abordagem qualitativa e descritiva. Para Minayo (2016), A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, dentro das Ciências Sociais, com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas também por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e compartilhada com seus semelhantes. O universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos (p. 20-21). Segundo Martinelli (1999), na pesquisa qualitativa: A realidade é uma construção social da qual o investigador participa. Os fenômenos são compreendidos dentro de uma perspectiva histórica holística – componentes de uma 9 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 dada situação estão inter-relacionados e influenciados reciprocamente, e se procura compreender essas inter-relações em um determinado contexto (p. 35). Inicialmente, realizamos uma revisão da literatura sobre o tema, buscando compreender as principais questões relacionadas à falta de acessibilidade e qualidade desses estabelecimentos educacionais, bem como as estratégias propostas para superar tais desafios. No contexto da infância fragmentada de crianças sem acesso a creches e pré-escolas, a revisão de literatura ou bibliográfica foi especialmente importante para entender os impactos dessa privação no desenvolvimento infantil. Estudos anteriores forneceram insights sobre os efeitos negativos dessa falta de acesso, tanto no curto prazo, como no desenvolvimento cognitivo, socioemocional e físico das crianças, quanto no longo prazo, com repercussõesna educação, na saúde e no bem- estar ao longo da vida. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas, assim como certo número de pesquisas desenvolvidas a partir da técnica de análise de conteúdo (Gil, 2011, p. 44) Dito isso, para embasar nossa pesquisa, utilizamos dados divulgados em 2023 pela Organização Não Governamental (ONG) “Todos Pela Educação”, os quais forneceram informações cruciais sobre o cenário atual do acesso às creches e pré-escolas no país. A partir desses dados, pudemos identificar a magnitude do problema, estimando que cerca de 2,3 milhões de crianças de 0 a 3 anos estão sem acesso a esses serviços essenciais. Utilizando uma perspectiva compreensiva, inspirada nas teorias de Weber (2004), buscamos compreender não apenas os aspectos quantitativos, mas também as dimensões qualitativas e contextuais que influenciam a efetivação das políticas públicas da primeira infância. Nesse sentido, a análise descritiva, baseada nas contribuições teóricas de Demo (1991), permitiu-nos examinar em detalhes as características e os obstáculos enfrentados na oferta de acessibilidade e qualidade das creches e pré-escolas no Brasil. Os autores compreensivistas não se preocupam em quantificar e em explicar, e sim em compreender: este é o verbo da pesquisa qualitativa. Compreender relações, valores, atitudes, crenças, hábitos e representações e, a partir desse conjunto de fenômenos humanos gerados socialmente, interpretar a realidade (Minayo, 2012). O pesquisador que trabalha com estratégias qualitativas atua coma matéria-prima das vivências, das 10 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 experiências, da cotidianidade e também analisa as estruturas e as instituições, mas entendem-nas como ação humana objetivada. Para esses pensadores e pesquisadores, a linguagem, os símbolos, as práticas, as relações e as coisas são inseparáveis. Se partirmos de um desses elementos, temos que chegar aos outros, mas todos passam pela subjetividade humana (Minayo, 2016, p.23). As crianças que não possuem acesso a creches e pré-escolas experimentam, como veremos mais a frente, uma infância fragmentada, marcada por lacunas no desenvolvimento social, cognitivo e emocional. Compreender essa realidade a partir de uma abordagem qualitativa, conforme destacado pelos autores compreensivistas, exige um olhar atento às experiências vividas por elas, às suas relações e às práticas sociais que emergem em contextos onde a educação infantil formal é inacessível. Os autores compreensivistas, como Minayo (2016), enfatizam que a pesquisa qualitativa não se preocupa em quantificar dados, mas em compreender profundamente as relações, valores, atitudes e crenças que moldam a realidade social. Nesse sentido, investigar a infância fragmentada dessas crianças necessitou de uma abordagem que valorizou suas vivências cotidianas, suas interações familiares e comunitárias, bem como os símbolos e práticas que permeiam suas vidas. A falta de acesso a creches e pré-escolas não é apenas uma questão numérica; é uma experiência humana rica em significados que deve ser interpretada a partir da subjetividade e da objetividade das ações humanas. Na pesquisa qualitativa, a realidade dessas crianças é vista como uma intersecção entre a linguagem, os símbolos, as práticas sociais e as estruturas institucionais. Ao estudar as crianças sem acesso a esses espaços educativos, consideramos como essa privação influencia suas relações interpessoais, suas expectativas de futuro e suas percepções de si mesmas e do mundo ao seu redor. A ausência de creches e pré-escolas fragmenta a infância ao impedir que essas crianças participem de ambientes que promovem o desenvolvimento integral, resultando em um impacto profundo em suas trajetórias de vida. A abordagem compreensiva permitiu a identificação não apenas dos efeitos imediatos da falta de acesso a creches e pré-escolas, mas também as consequências a longo prazo no desenvolvimento dessas crianças. Por meio da análise das experiências e das práticas cotidianas, é possível entender como a ausência de políticas públicas adequadas molda a subjetividade dessas crianças e suas oportunidades de desenvolvimento integral. Portanto, a pesquisa qualitativa ofereceu uma perspectiva rica e detalhada, que vai além da quantificação, interpretando a 11 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 complexidade das vidas desses sujeitos que veem seus direitos sociais sendo violados (Santos, 2019) a partir de uma visão holística e integrada. A compreensão das relações sociais e das estruturas que influenciam a vida das crianças sem acesso a creches e pré-escolas foi crucial para pontuarmos intervenções. Ao interpretar a realidade a partir das experiências humanas, podemos identificar as necessidades específicas e propor soluções que considerem suas vivências e contextos sociais. Dessa forma, a pesquisa qualitativa não apenas descreve a realidade, mas também contribui para a transformação social ao fornecer insights valiosos para a formulação de políticas públicas inclusivas e equitativas. 3 “DESTRANCANDO FUTURO”: A CRECHE E A PRÉ-ESCOLA COMO CHAVES PARA UMA INFÂNCIA PLENA NO BRASIL A creche e a pré-escola desempenham um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo das crianças nos primeiros anos de vida. Estes ambientes educativos não apenas oferecem um espaço seguro e estruturado para o cuidado das crianças, mas também são essenciais para estimular habilidades cognitivas5, emocionais e sociais desde a primeira infância (Santos, et al., 2024). Este período é crítico para o desenvolvimento do cérebro, e as interações e experiências vivenciadas pelas crianças podem ter impactos duradouros em seu crescimento e aprendizado, principalmente no que diz respeito a sua saúde mental. Para Santos, et al (2024: 5) é necessário que as crianças estejam em espaços que promovam a sociabilidade entre os sujeitos, colocando em prática aspectos culturais, sociais, morais, entre outros. Quando nos reportamos sobre a necessidade de políticas públicas no âmbito cultural para o melhor desenvolvimento das crianças, também estamos querendo dizer que estas terão um crescimento saudável no que tange a sua saúde mental. Amarante (2003) vai dizer que a arte oferece um espaço vital para a expressão emocional. Couto (2015), por sua vez, afirma que a participação em atividades culturais e artísticas permite que as crianças expressem seus sentimentos e emoções de maneira construtiva, contribuindo para uma saúde emocional e resiliência psicológica. Coimbra (2008) nos lega que as políticas públicas culturais podem promover uma maior compreensão e apreciação da 5 O desenvolvimento cognitivo refere-se ao processo pelo qual as crianças e adolescentes adquirem, constroem e refinam suas habilidades de pensar, aprender, raciocinar, lembrar e resolver problemas. Este processo é fundamental para a compreensão do mundo ao redor e para o desenvolvimento de habilidades essenciais como a linguagem, a memória, a percepção e a capacidade de tomar decisões. Jean Piaget (1952), um dos principais teóricos nesse campo, descreve o desenvolvimento cognitivo como uma série de estágios que as crianças atravessam, cada um caracterizado por diferentes habilidades e modos de pensar (Piaget, 1952). Essas etapas incluem o estágio sensório- motor, pré-operacional, operacional concretoe operacional formal, cada uma contribuindo de maneira específica para a formação das capacidades cognitivas. Ver referências. 12 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 própria cultura da criança e das culturas dos outros. Vasconcelos et al. (2005) atesta o que afirma Coimbra (2008) ao endossar que as ações culturais na infância são fundamentais para o fomento da empatia e do respeito pela diversidade. O texto enfatiza a importância dos espaços educacionais, por exemplo, como creches e instituições de ensino pré-escolar, para o desenvolvimento integral das crianças de 0 a 3 anos. Quando falamos da necessidade de políticas públicas no âmbito cultural para o melhor desenvolvimento das crianças, também estamos promovendo um crescimento saudável no que diz respeito à sua saúde mental. Segundo Amarante (2003), a arte oferece um espaço vital para a expressão emocional, fundamental nessa fase inicial de vida e esses espaços institucionais fornecem os elementos necessários para tais objetivos. Couto (2015) reforça essa ideia ao afirmar que a participação em atividades culturais e artísticas, proporcionado por instituições de ensino, permite que as crianças expressem seus sentimentos e emoções de maneira construtiva, contribuindo para uma saúde emocional robusta e para a resiliência psicológica. Coimbra (2008), segundo o texto, destaca que as políticas públicas culturais podem promover uma maior compreensão e apreciação da própria cultura da criança e das culturas dos outros, o que é essencial para a formação de uma identidade cultural saudável. Vasconcelos et al. (2005) corroboram com Coimbra (2008) ao enfatizar que ações culturais na infância são fundamentais para fomentar a empatia e o respeito pela diversidade. Portanto, a implementação de políticas públicas culturais nos espaços educacionais desenvolvidas nos espaços escolares é crucial para o desenvolvimento integral das crianças. Além de proporcionar um ambiente de aprendizado, essas políticas contribuem para o bem-estar emocional, a resiliência psicológica e a formação de uma identidade cultural rica e diversificada, promovendo empatia e respeito mútuo desde a primeira infância. Pesquisas mostram (Santos, et al., 20224) que a estimulação precoce em ambientes educacionais de qualidade contribui significativamente para o desenvolvimento cognitivo das crianças. A participação em creches e pré-escolas ajuda a desenvolver habilidades linguísticas, matemáticas, sociais e culturais, por exemplo, que são fundamentais para o sucesso acadêmico e social futuro. Atividades como a leitura de histórias, brincadeiras estruturadas e interação com outros colegas promovem a curiosidade, a criatividade e a capacidade de resolver problemas. Contudo, o relatório da ONG “Todos Pela Educação” destaca que as crianças mais vulneráveis são as mais prejudicadas pela falta de acesso a creches e pré-escolas. Essas crianças, 13 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 frequentemente oriundas de famílias de baixa renda, têm menos oportunidades de participar das atividades que estimulem seu desenvolvimento cognitivo e social. A ausência de um ambiente educacional adequado durante a primeira infância pode acentuar as desigualdades sociais e educacionais, dificultando ainda mais o rompimento do ciclo de pobreza. Essa “janela de oportunidade”, no entanto, pode se converter em uma “janela de vulnerabilidade” em relação a potenciais efeitos nocivos decorrentes de características inadequadas do ambiente em que vivem, que podem levar à violação de direitos (NCPI, 2014). Uma vez que a estrutura cerebral está em formação, período de maior sensibilidade, a ausência de estímulos, ou a presença de estímulos negativos, e situações decorrentes da pobreza extrema, negligência parental ou violência, podem comprometer o desenvolvimento pleno da criança e deixar marcas duradouras (Unicef, 2006; NCPI, 2014; FMCSV, 2018, Venâncio, et al., 2022). Atualmente, no Brasil, há 2,3 milhões de crianças de 0 a 3 anos que não estão matriculadas em creches devido a dificuldades de acesso ao serviço. Esse número alarmante evidencia um grande desafio para a política pública de educação infantil. A responsabilidade pelo acesso a creches é tanto do governo federal quanto dos governos estaduais e municipais, que devem garantir a oferta de vagas conforme estabelecido pelo Plano Nacional de Educação6 (PNE)7. O PNE prevê que é um dever constitucional e um direito das crianças e suas famílias terem acesso à educação infantil. O artigo do PNE enfatiza que, embora a matrícula em creches não seja obrigatória, a oferta de vagas deve ser garantida. Os dados do relatório da ONG mostram que cerca de 6 em cada 10 famílias gostariam que seus filhos frequentassem a creche, mas apenas 4 em cada 10 conseguem vagas. Essa discrepância destaca a necessidade urgente de aumentar a capacidade e a acessibilidade das creches para atender à demanda crescente. As consequências da falta de acesso à creche são significativas, tanto para as crianças quanto para suas famílias. Para as crianças, a ausência de um ambiente educativo adequado nos primeiros anos pode resultar em atrasos no desenvolvimento cognitivo, dificuldades de socialização e menor preparo para a escolarização futura (Santos, et al., 2024). Para as famílias, 6 O Plano Nacional de Educação (PNE) é uma estratégia governamental brasileira que estabelece diretrizes, metas e estratégias para a educação no país durante um período de dez anos. Instituído pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, o PNE visa garantir a melhoria da qualidade da educação, ampliar o acesso e assegurar a equidade no sistema educacional. Ele abrange todos os níveis e modalidades de ensino, desde a educação infantil até a pós-graduação, e inclui objetivos como a erradicação do analfabetismo, a universalização do atendimento escolar, a valorização dos profissionais da educação e o aumento do investimento público no setor educacional (Brasil, 2014). 7 Utilizaremos a sigla PNE ao longo da escrita do artigo para se referir ao Plano Nacional de Educação. 14 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade, a falta de acesso à creche limita as oportunidades de trabalho e renda dos pais, perpetuando o ciclo de pobreza. O impacto do acesso limitado à educação infantil também resvala nas políticas públicas da primeira infância. Sem investimentos adequados e políticas eficazes para expandir o acesso a creches e pré-escolas, o Brasil corre o risco de comprometer o desenvolvimento de uma geração inteira de crianças. Isso exige um compromisso político e social para priorizar a educação infantil como uma questão de urgência nacional. 3.1 DADOS DO RELATÓRIO DA ONG “TODOS PELA EDUCAÇÃO” A creche e a pré-escola desempenham um papel crucial nos primeiros anos de vida de uma criança, pois oferecem um ambiente estruturado e estimulante que promove o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. De acordo com o estudo de Shonkoff e Phillips (2000), esses espaços educativos proporcionam experiências de aprendizagem fundamentais que ajudam a desenvolver habilidades linguísticas, motoras e de resolução de problemas, além de promoverem a socialização e a capacidade de trabalhar em grupo. As interações positivas com educadores e outras crianças contribuem significativamente para a formação de uma base sólida para o aprendizado futuro e para o desenvolvimento de competências essenciais para a vida escolar e social. Além disso, a participação em programas de educação infantil de qualidade está associada a melhores resultados acadêmicose sociais a longo prazo. Heckman (2006) destaca que os investimentos na educação precoce geram benefícios significativos, incluindo maior desempenho escolar, redução das taxas de repetência e abandono escolar, e melhores perspectivas de emprego na vida adulta. Esses programas também desempenham um papel importante na igualdade de oportunidades, especialmente para crianças de famílias de baixa renda, proporcionando um ambiente que pode compensar desigualdades socioeconômicas e oferecer a todas as crianças a chance de alcançar seu pleno potencial. Os diversos contextos em que uma criança está inserida influenciam sobremaneira em seu desenvolvimento. O cenário em que vive e com o qual interage, considerando seus relacionamentos afetivos e sociais, impacta em todos os aspectos do desenvolvimento - físico, cognitivo e socioemocional (NCPI, 2014). Por isso, a literatura nacional e internacional mostra a importância de políticas públicas de atenção integral nessa fase 15 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 crucial para o desenvolvimento, com ações voltadas à nutrição, saúde, parentalidade, segurança e proteção, além da Educação Infantil (FMCSV, 2018). Na perspectiva compreensiva de Weber (2004), ações e contextos sociais influenciam o desenvolvimento infantil. Weber enfatiza a importância de entender o significado das ações sociais a partir do ponto de vista dos indivíduos envolvidos, mas também a partir dos fatores contextuais que incidem sobre a vida desses sujeitos. Nesse sentido, o texto destaca como os diversos campos da vida social (Bourdieu, 1992)8 em que uma criança está inserida — incluindo relacionamentos afetivos e sociais — são determinantes para seu desenvolvimento integral. O texto aponta que o ambiente em que a criança vive e interage afeta seu desenvolvimento físico, cognitivo e socioemocional, sugerindo que esses contextos não são apenas cenários passivos, mas interativos e dinâmicos. A ênfase nas políticas públicas de atenção integral durante essa fase crucial do desenvolvimento infantil reflete a importância de um ambiente enriquecedor e seguro. Isso inclui ações direcionadas à nutrição, saúde, parentalidade, segurança, proteção e educação infantil, mostrando que cada um desses fatores é essencial para o bem-estar e o desenvolvimento da criança. Para Weber, essas políticas públicas e intervenções são significativas porque moldam o ambiente social e influenciam diretamente as ações e interações das crianças, contribuindo para o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades em um contexto social mais amplo. A acessibilidade a creches e pré-escolas revela-se como uma questão profundamente ligada à condição socioeconômica das crianças no Brasil, ou seja, como afirma Weber (2004), está relacionado aos elementos específicos que caracterizam o contexto vivido por esses sujeitos conforme apontado pela ONG “Todos Pela Educação”. Dados indicam que as barreiras de acesso afetam de maneira significativamente desigual crianças de diferentes estratos sociais. Entre as famílias mais pobres, 28% das crianças não frequentam creches devido a dificuldades de acesso, enquanto entre as mais ricas esse número é significativamente menor, atingindo apenas 7% (Todos Pela Educação, 2023). 8 Pierre Bourdieu, sociólogo francês, desenvolveu o conceito de “campo” como parte de sua teoria social. Um campo, segundo Bourdieu, é um espaço social estruturado onde ocorrem lutas simbólicas e materiais entre os agentes que o compõem. Esses campos são caracterizados por relações de poder e capital, podendo ser cultural, econômico, social ou simbólico (Bourdieu, 1992). No campo educacional, por exemplo, as instituições, os professores, os alunos e outros atores competem por reconhecimento, recursos e legitimidade, utilizando diferentes formas de capital cultural e social para avançar dentro desse espaço específico (Bourdieu & Passeron, 1970). 16 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 Essa disparidade reflete uma série de fatores complexos. Primeiramente, as famílias de baixa renda frequentemente enfrentam limitações financeiras que dificultam o acesso a serviços de qualidade, como creches e pré-escolas pagas. Além disso, a oferta insuficiente de vagas em instituições públicas e a localização geográfica das creches também são barreiras significativas para essas famílias. Muitas vezes, essas instituições estão concentradas em áreas urbanas ou em regiões mais desenvolvidas, o que dificulta o acesso para crianças que vivem em áreas periféricas ou rurais (Alves & Martins, 2019). Outro fator relevante são as condições de trabalho dos pais: muitas famílias de baixa renda enfrentam jornadas extensas e condições precárias de emprego, o que limita sua capacidade de buscar e manter seus filhos em creches durante o dia. Além disso, questões culturais e falta de informação sobre a importância da educação infantil também contribuem para a baixa adesão das famílias de baixa renda aos serviços de creche (Barros et al., 2010). Por outro lado, as famílias mais ricas frequentemente têm maior acesso a informações e recursos financeiros que facilitam o acesso a creches privadas ou a instituições de melhor qualidade. Essas famílias também podem ter mais flexibilidade de horário e mobilidade para escolher creches que atendam às suas necessidades específicas (Barros et al., 2010). Os dados fornecidos pela ONG ‘Todos Pela Educação” revelam uma realidade preocupante quanto ao acesso às creches e pré-escolas no Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Segundo os dados, os maiores percentuais de crianças que não frequentam creches devido a dificuldades de acesso estão concentrados nessas regiões. Estados como Acre, Roraima, Pará e Piauí apresentam índices alarmantes, com 48%, 38%, 35% e 33%, respectivamente (Todos Pela Educação, 2023). Essa disparidade regional reflete dinâmicas complexas que têm sido estudadas por diversos autores. Segundo Almeida e Sampaio (2018), as desigualdades regionais no Brasil são influenciadas por fatores históricos, econômicos e políticos que impactam diretamente a oferta e a qualidade dos serviços públicos, incluindo a educação infantil. A falta de infraestrutura adequada e de investimentos específicos para a expansão de creches e pré-escolas nas regiões mais remotas e economicamente desfavorecidas contribui significativamente para esses altos índices de crianças fora da escola (Almeida & Sampaio, 2018). Além disso, os estudos de Soares e Dweck (2016) destacam que as políticas públicas educacionais muitas vezes não são adaptadas às necessidades específicas de cada região, 17 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 falhando em proporcionar acesso equitativo e de qualidade à educação infantil em todo o território nacional. A falta de uma infraestrutura adequada de creches e pré-escolas, aliada à ausência de programas eficazes de transporte e incentivo à frequência escolar, perpetua as desigualdades educacionais entre regiões no Brasil (Soares & Dweck, 2016). Ademais, as diferenças socioeconômicas e culturais entre as regiões Norte, Nordeste e outras mais desenvolvidas do país também desempenham um papel crucial. De acordo com Moreira e Rios-Neto (2017), a concentração de pobreza e a menor renda per capita nas regiões Norte e Nordeste limitam o acesso das famílias a serviços essenciais, como educação infantil, impactando diretamente a participação das crianças nessas instituições (Moreira & Rios-Neto, 2017). Continuando com o relatório da ONG, revelam uma distribuição desigual no número de crianças fora das creches e pré-escolas devido a dificuldades de acesso,destacando cinco estados que concentram significativa proporção desse grupo. São Paulo lidera em números absolutos, com 267 mil crianças fora das instituições de educação infantil, seguido por Minas Gerais com 217 mil, Pará com 205 mil, Bahia com 204 mil e Maranhão com 137 mil (Todos Pela Educação, 2023). É importante analisar esses números considerando a proporcionalidade populacional e econômica de cada estado. São Paulo, como o estado mais populoso e economicamente desenvolvido do país, naturalmente apresenta números absolutos mais elevados. No entanto, isso não significa necessariamente que a situação seja mais grave em comparação aos outros estados mencionados. Estados como Pará, Bahia e Maranhão, por exemplo, possuem contextos socioeconômicos distintos, com maior prevalência de áreas rurais e índices de pobreza mais elevados, o que pode influenciar diretamente no acesso limitado às creches e pré-escolas (Almeida & Sampaio, 2018). Além disso, as políticas públicas e a infraestrutura educacional variam significativamente entre os estados, o que impacta diretamente na disponibilidade e na qualidade das instituições de educação infantil. Estudos como o de Barros et al. (2010) apontam que as desigualdades regionais na educação são amplificadas por diferenças na alocação de recursos e na capacidade de resposta do sistema educacional às necessidades específicas de cada localidade. Outro aspecto a considerar é a distribuição desigual de creches e pré-escolas entre áreas urbanas e rurais. Estados como Pará e Maranhão, com vastas áreas rurais e infraestrutura 18 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 educacional menos desenvolvida nessas regiões, enfrentam desafios adicionais na expansão e na manutenção de creches em áreas remotas (Moreira & Rios-Neto, 2017). 4 “PORTAS ABERTAS”: CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos dados fornecidos pelo relatório da ONG “Todos Pela Educação” revela uma realidade complexa e desafiadora em relação ao acesso às creches e pré-escolas no Brasil. A concentração significativa de crianças fora dessas instituições em estados como São Paulo, Minas Gerais, Pará, Bahia e Maranhão reflete não apenas diferenças absolutas, mas também desigualdades socioeconômicas e regionais profundas que afetam diretamente o desenvolvimento infantil (Todos Pela Educação, 2023). Primeiramente, é crucial considerar a proporcionalidade dos números apresentados em relação à população e à economia de cada estado. Embora São Paulo lidere em números absolutos de crianças sem acesso a creches, seu contexto econômico mais desenvolvido pode oferecer condições favoráveis para a expansão e manutenção dessas instituições em comparação a estados com menor capacidade econômica, como Pará e Maranhão (Almeida & Sampaio, 2018). Essas disparidades ressaltam a necessidade de políticas públicas que considerem as especificidades regionais para promover um acesso equitativo à educação infantil em todo o país. Além disso, a distribuição desigual de creches e pré-escolas entre áreas urbanas e rurais é um fator determinante. Estados com vastas extensões rurais, como Pará e Maranhão, enfrentam desafios adicionais na oferta e na manutenção de creches em regiões remotas, onde a infraestrutura educacional é menos desenvolvida (Moreira & Rios-Neto, 2017). Isso contribui diretamente para os altos índices de crianças fora da escola nessas localidades, limitando suas oportunidades de acesso a um ambiente educativo estruturado e enriquecedor. As políticas públicas desempenham um papel fundamental na mitigação dessas desigualdades regionais. Barros et al. (2010) destacam que a alocação eficaz de recursos e o planejamento adequado são essenciais para melhorar o acesso e a qualidade das creches e pré- escolas, especialmente em áreas mais vulneráveis. No entanto, a implementação dessas políticas enfrenta desafios significativos, incluindo a necessidade de investimentos consistentes e a coordenação entre diferentes esferas governamentais para garantir uma cobertura adequada e igualitária em todo o território nacional. 19 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 Dito isso, reconhecemos que o acesso à educação infantil não se limita apenas à matrícula, mas também à qualidade dos serviços oferecidos. A oferta de um ambiente educacional estimulante durante os primeiros anos de vida não apenas promove o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças, mas também contribui para a redução das desigualdades educacionais a longo prazo (Heckman, 2006). Portanto, é necessário um compromisso contínuo e coordenado entre todos os níveis de governo e a sociedade civil para garantir que todas as crianças, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica, tenham acesso às creches e pré-escolas que lhes permitam desenvolver seu pleno potencial e a efetivação na prática da primeira infância. Essa realidade pode ser metaforicamente comparada ao simbolismo das “portas fechadas” que impedem o acesso das crianças à educação na primeira infância. Como ferrolhos colocados nas portas das casas, a falta de creches e pré-escolas funciona como uma barreira que nega às crianças o acesso a um ambiente educacional essencial para seu desenvolvimento integral. Essas “portas fechadas” representam não apenas a ausência física de infraestrutura educacional, mas também a exclusão de oportunidades cruciais que poderiam abrir caminhos para um futuro mais promissor. No entanto, quando políticas públicas eficazes são implementadas, essas “portas” se abrem, proporcionando acesso equitativo e inclusivo à educação infantil. Essas políticas não apenas garantem a matrícula das crianças em creches e pré-escolas, mas também promovem a qualidade dos serviços oferecidos. Essas “portas abertas” simbolizam não apenas um espaço físico, mas também um ambiente educacional estimulante que nutre o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças desde os primeiros anos de vida. Portanto, a efetivação da primeira infância no Brasil depende não apenas da expansão quantitativa das creches e pré-escolas, mas também da qualidade dos serviços oferecidos e da garantia de acesso universal. A implementação de políticas públicas que abram essas “portas” educacionais não só beneficiará o desenvolvimento individual das crianças, mas também contribuirá para a redução das desigualdades sociais e educacionais em longo prazo, promovendo um futuro mais justo e inclusivo para toda a sociedade. 20 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-22, 2024 jan. 2021 REFERÊNCIAS ALVES, F., & MARTINS, C. P. Creches, Desigualdade e Desenvolvimento Infantil: Evidências de um Programa de Expansão no Brasil. Economia Aplicada, 23(1), 115-134. Brasília, Brasil: Editora Universidade de Brasília, 2019. ALMEIDA, A. F., & SAMPAIO, A. M. Desigualdades regionais em educação: análise das disparidades de investimento público nos estados brasileiros. Economia Aplicada, 22(1), 157- 180, 2018. AMARANTE, P. Archivos de saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2003. BARROS, R. P., CARVALHO, M., & FRANCO, S. 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