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Francesco Bamonte 
A Virgem Maria 
e o Diabo nos exorcismos 
3.ª edição 
1. ª edição: Abril 2011 
2.ª edição: Junho 2016 
3.ª edição: Abril 2017 
Titulo original: La Vergine Maria e il Diavolo negli esorcismi 
© 2010, Figlie di San Paolo - Milão 
Tradução: António Maia da Rocha 
Capa: Departamento Gráfico Paulinas Editora 
Foto da capa: Cario Maratta (1625-1713), Nossa Senhora em glória entre São Francisco 
de Sales e São Tomás de Vilanova , Igreja de Santo Agostinho, _ 1ena 
© 2010. Foto Scala, Florença 
Pré-impressão: Paulinas Editora - Prior Velho 
Impresscto e acabamentos: Artipol - Artes Tipográficas, Lda. - Águeda 
Depósito legal n .º 424 826/17 
lSBN 978-989-673-159-5 
(edição original 978-88-315-3834-3) 
© Abril 2017, lnst. Miss. Filhas de São Paulo 
Rua Francisco Salgado Zenha, 11 - 2685-332 Prior Velho 
Te!. 219 405 640 - Fax 219 405 649 
editora@paulinas.pt 
wwwpaulinas.pt 
Prefácio à edição portuguesa 
O momento histórico que vivemos é, do ponto de vista teoló­
gico , caracterizado por uma pluralidade de interpretações da 
Palavra de Deus, muitas delas inconciliáveis entre si. Tal fenó­
meno não é novo nem necessariamente negativo , se tivermos 
presente que muitos elementos na Revelação divina são de difícil 
interpretação e que cada teólogo tem a sua própria abordagem, 
mesmo respeitando os elementos irrenunciáveis do método teo­
lógico . O que surpreende, porém, nos nossos dias , é um certo 
ceticismo com raízes filosóficas, e que leva a considerar, em ma­
téria teológica, que tudo é opinável, minando os próprios funda­
mentos da fé apostólica. Longe estamos dos tempos em que a 
regula fideí vivificava e orientava o debate teológico. Hoje, depa­
ramo-nos, com alguma frequência , com a ditadura do «cá p'ra 
mim», certamente menos fecunda . 
Em âmbito católico , estas reflexões adquirem ainda uma 
maior pertinência, pois, acreditamos que o Senhor Jesus infun­
diu nos seus Apóstolos, e nos Bispos seus sucessores, um carisma 
certo da verdade 1 para que possam realizar fielmente a missão 
que lhes foi confiada de pregar a « Palavra da verdade» (Ef 1,13; 
Cl 1,5; 2Tm 2 ,15; Tg 1,18) 2, que conduz, pela fé , à salvação 
eterna. Este carisma do Espírito Santo habilita o colégio epis­
copal, juntamente com o Papa, sua cabeça, a interpretar autenti-
1 Cf. SANTO IRENEU DE LIAo, Ad haereses, Ib. IV, e. 40 n . 2. 
2 Na sua oração sacerdotal, Jesus pede ao Pai: «Consagra-os na verdade . A tua Pa­
lavra é a verdade» üo 17,17). 
3 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
camente - isto é sem erro em matéria de fé e de costumes - a 
' 
divina Revelação 3• 
«A existência dos seres espirituais, não-corporais, a que a Sa­
grada Escritura habitualmente chama anjos, é uma verdade de 
fé» 4 e, portanto, não se encontra no âmbito das hipóteses ou opi­
niões teológicas. Alguns desses anjos , criados bons por Deus, 
liderados por Satanás, também chamado Diabo, «radical e irre­
vogavelmente recusaram Deus e o seu Reino» 5 e, portanto, deve­
-se afirmar que, «de facto, o Diabo e os outros demónios foram 
por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si próprios, é 
que se fizeram maus>>º. Os demónios «esforçam-se por associar o 
homem à sua rebelião contra Deus» 7
, por induzir o homem ao 
pecado mortal, o qual «tem como consequência a perda da cari­
dade e a privação da graça santificante, ou seja, do estado de 
graça. E se não for resgatado pelo arrependimento e pelo perdão 
de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna 
no Inferno» ª. Como se tal não bastasse, há que ter presente que 
« [a] maléfica e adversa ação do Diabo e dos demónios afeta pes­
soas, coisas e lugares, manifestando-se de diversos modos» 9 . 
Facto este que os sacerdotes exorcistas, infelizmente, constatam 
com frequência . Na realidade, « [u]m duro combate contra os 
poderes das trevas atravessa, com efeito, toda a história humana; 
começou no princípio do mundo e, segundo a palavra do Senhor 
(cf. Mt 24,13; 13,24-30.36-43), durará até ao último dia» hl _ 
Aconselho vivamente a leitura do presente livro - A Virgem 
Maria e o Diabo nos exorcismos - do padre Francesco Bamonte, 
exorcista, por três motivos principais. 
4 
3 Cf. CONCILIO DO VATICANO II , Const. dogm . Dei Verbum, n . 10. 
• Catecismo da Igreja Católica , n. 328. 
~ Jbid. , n. 391. 
6 CONCILIO DE LATRAO IV, cap. 1, De fide catholica: DH 800. 
1 Ritual Romano. Rito dos exorcismos, Proémio. 
8 Catecismo da Igreja Católica, n. 1861 . 
9 Ritual Romano. Rito dos exorcismos, Proémio . 
i,, CONCILIO DO VATICANO II, Gaudium et spes, n . 37. 
Prefácio à edição portuguesa 
Em primeiro lugar, é uma profunda catequese acerca da 
Virgem Maria e do seu papel singular na história da salvação. 
Maria ocupa um lugar único , como o demonstra com clareza o 
autor, baseando-se na Sagrada Escritura, no Magistério da Igreja, 
na experiência dos santos, nas reflexões dos teólogos e concorde, 
também, com algumas palavras e reações dos demónios durante 
os exorcismos. À medida que progredimos na leitura destas pági­
nas , vamo-nos dando conta de quanto é real a presença da 
Virgem Santa Maria nas nossas vidas. Maria acompanha-nos nos 
combates desta vida. Nos exorcismos «tocamos» a sua presença 
materna ao nosso lado e fazemos experiência da eficácia da sua 
intercessão. 
Os relatos, aqui reportados, de algumas reações diabólicas 
podem suscitar em alguns leitores uma certa perplexidade. Mas a 
realidade é de facto esta. Posso afirmá-lo não só pelo facto de 
considerar o autor um testemunho credível, mas também porque 
tive a graça de o comprovar em primeira pessoa, ao longo dos 
dez anos em que pude acompanhar o padre Gabriele Amorth nos 
seus exorcismos e, depois, no ministério de exorcista que me foi 
confiado pela Igreja. Satanás e os seus anjos odeiam a Deus e não 
suportam a sua santidade. Maria Santíssima, pela sua humildade, 
fé e caridade, transborda desta santidade divina, é a «cheia de 
graça» (Lc 1,28), resplandecente de luz (cf. Ap 12,1), que conti­
nuamente intercede junto de Deus pelos seus filhos (cf. Jo 
19,27) , e daí esta forte inimizade entre Satanás e a Imaculada. 
Em segundo lugar, parece-me que estas páginas nos estimu­
lam bastante, seja a crescer na nossa devoção a Maria Santíssima, 
seja a compreender melhor a natureza desta devoção e a sua 
grande importância no atual momento histórico que vivemos . 
Concretamente, ajudam-nos a penetrar melhor no papel único 
que foi confiado por Deus a Maria na história da salvação. Maria 
está implicada nas duas missões divinas. Foi, de facto , por Maria 
que o Verbo e, de alguma maneira , o Espírito Santo vieram até 
nós para nos salvar. Não é, pois, de estranhar que a Maria Santís­
sima caiba uma missão especial de pôr-nos em contacto e relação 
5 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
com estas duas Pessoas divinas , e isto realiza-se sem que a sua 
mediação ofusque em nada a mediação única e universal de 
Cristo . Antes bem pelo contrário, a vocação e missão de Maria 
exaltam, confirmam e apontam para o único mediador entre 
Deus e os homens: Jesus Cristo (cf. 1 Tm 2,5) . 
Finalmente, estou convencido de que esta obra nos ajuda a 
valorizar melhor a eficácia de alguns meios de santificação. Por 
exemplo , da Eucaristia , do Terço, da Consagração ao Coração 
Imaculado de Maria. E assim, uma vez que vemos melhor a sua 
força espiritual , acaba por nos estimular a usá-los com maior 
diligência e devoção. Sobre este ponto, parece-me oportuno par­
tilhar aqui, que, uma vez, depois de terminado um exorcismo, 
estava a impor o escapulário de Nossa Senhora do Carmo a uma 
jovem que era atormentada pelo demónio, e, no momento em 
que lhe introduzia o escapulário pela cabeça, o demónio reagiu 
urrando com alguma violência. No final do exorcismo, tenho por 
hábito rezar a Salve Rainha com os presentes e convido a pessoa 
atormentada pelo demónio a rezar connosco. Nos casos em que 
o domínio diabólico é maior, constato que a pessoa não conse­
gue rezar e que oda Sagrada Escritura, que é 
a fonte da Revelação divina de que haurimos as verdades necessá­
rias para conhecer e amar a Deus e, depois, à luz desta fonte, a 
Tradição, o Magistério da Igreja, o exemplo de vida e das palavras 
dos Santos. 
· Por isso, o exorcismo pode tornar-se uma confirmação da 
44 
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha ... 
Sagrada Escritura: isto acontece frequentemente . Mas, se o 
confronto com o demónio devesse contradizer a revelação di­
vina, então o exorcista compreenderia imediatamente que o 
demónio está a tentar enganá-lo. Este discernimento pressu­
põe a plena consciência da sã doutrina que cada sacerdote e 
cada cristão dever ter. Por isso, não entendo substituir, de ma­
neira nenhuma, os ensinamentos da Sagrada Escritura e da 
Igreja, fundamentais para cada católico; do mesmo modo, 
quero demonstrar que o confronto com o demónio não faça 
senão que confirmá-los. De facto, como veremos, neste minis­
tério ressalta fortemente, na luta do bem contra o mal, que o 
Pai, juntamente com a presença viva de Cristo no meio de 
nós, deu-nos também a de Maria Virgem. Ela é a Mãe conti­
nuamente presente ao lado dos seus filhos, que faz tudo ao 
seu alcance para acompanhá-los, sustentá-los e guardá-los 
maternamente no caminho para o Paraíso, do qual o Maligno 
gostaria de desviá-los. 
Ao mesmo tempo, estas experiências são publicadas para 
inspirar os corações a elevar um hino de louvor e de agradeci­
mento a Deus por ter-nos dado, na Imaculada Conceição de 
Maria, a adversária por excelência do Maligno, a fim de cele­
brarem as glórias e as gestas maravilhosas desta Mãe, sempre 
pronta para acorrer em socorro dos seus filhos. Além disso, 
querem ser uma ação de graças filial a Nossa Senhora por 
tudo o que faz por nós. E, finalmente, representam um vivo 
incitamento a cada crente a dar-se e confiar-se a ela, para «tê­
-la» no seu próprio coração, a «ser e a viver» - ao mesmo 
tempo - no seu Coração Imaculado. E nele, templo, taberná­
culo e ostensório vivo de Deus, unir-se a ela na adoração e ser­
viço da Santíssima Trindade, com a certeza que neste Coração, 
como na torre de David, estamos numa fortaleza invencível, 
contra a qual todos os assaltos do Inferno esbarram e aquele 
45 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
que, desde as origens, tem sido inimigo de Deus e inimigo do 
homem será definitivamente derrotado. 
Um possível equívoco, do qual quero exonerar o leitor, 
acerca das vicissitudes que estou a descrever, poderia ser o de 
pensar que os exorcismos se façam com o objetivo de escutar 
o demónio, em vez de expulsá-lo. Não! Os exorcismos fazem­
-se com o único objetivo de expulsá-lo o mais depressa possí­
vel , a fim de que se abrevie o mais possível o tempo de so­
frimento daqueles irmãos e irmãs por ele possuídos/as e 
atormentados/as~ Os factos que irei descrever não foram pro­
curados ou queridos: podem verificar-se como «reflexo», 
como reação às orações ou aos exorcismos e, portanto, às 
ordens imperativas pronunciadas. O fim do exorcista não é 
suscitar estas reações ou estas expressões mas, embora sa­
bendo que elas se podem verificar e, de facto, se verificam, é o 
de chegar à libertação daquele que o demónio mantém como 
escravo. 
Depois de ter apresentado estes episódios - alguns dos 
quais já aludi nos meus dois anteriores livros Possessões diabó­
licas e exorcísmos e Os anjos rebeldes* -, para demonstrar que 
eles não são da minha experiência exclusiva, darei espaço 
também às intervenções dos padres Domenico Mondrone, 
Gabriele Amorth , Cipriano De Meo, Mons. Ferruccío Sutto, 
Carmine De Fílippis e Tarcísio Zullo De Meo. 
* fRANccsco Bo\MONTE Os · b ld . . . . , · · · an;os re e cs. O mistério do mal na experiência de um 
exorcista, Pnor \-elho , Paulinas Editora, 2010. 
46 
V 
A minha experiência mariana nos 
exorcismos e nos outros momentos 
do confronto com os demónios 
Introdução 
Estes testemunhos são tomados dos meus últimos dez 
anos de exorcismos, selecionados entre aqueles casos em que, 
pelos sinais e fenómenos preternaturais que se verificaram, eu 
estava e continuo moralmente certo de que me encontro 
diante de autênticas possessões diabólicas. Quem quisesse 
perceber o rigor com que procedi no discernimento, antes de 
afirmar que me encontro diante de uma possessão diabólica 
real, poderá ler em particular o que descrevi no livro já citado: 
Possessões diabólicas e exorcismos. 
As experiências que relato acerca das reações dos demónios 
em relação à Virgem Maria e, quando, por vezes, obrigados por 
Deus, se exprimiram acerca dela , foram extraídas não só de 
momentos em que eu exercia o ministério do exorcismo - du­
rante o qual é necessário ater-se fielmente ao texto do ritual-, 
mas também de momentos em que, sempre na presença do 
irmão ou da irmã possuídos, prosseguia o confronto com o ini­
migo, orando e convidando os presentes a rezar o Rosário e as 
ladainhas de Nossa Senhora ou, então, preferia orações espon­
tâneas de libertação. De facto, nada impede que, fora da ação 
47 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
litúrgica, 0 exorcista, quando o considerar oportuno, possa 
livremente rezar na presença da pessoa possuída e, sobretudo 
quando não se verifica uma particular eficácia, as orações d; 
piedade cristã, que são precisamente: o Santo Rosário, as 
Ladainhas da Bem-aventurada Virgem Maria, mas também a 
Via-Sacra, a Coroinha da Divina Misericórdia, as Ladainhas do 
Sagrado Coração, invocações ao Espírito Santo ou, ainda, ora­
ções espontâneas de intercessão ou de libertação. 
Farei preceder as narrações de cada um dos episódios de 
uma catequese , na qual apresentarei o ensinamento da Sagrada 
Escritura ou dos Padres da Igreja ou do Magistério, ou tam­
bém exemplos e palavras de Santos. Como já disse muitas 
vezes, são estas as referências para a nossa vida cristã. Os «tes­
temunhos» involuntários dos demónios sobre a Virgem Maria 
podem também ser de nossa edificação, quando conseguir­
mos interpretá-los na sua correta aceção. De facto , são sim­
plesmente reações consequentes ao confronto que os demó­
nios sustentam com a presença desta Mãe na nossa vida; com 
a sua intercessão materna para connosco e com o poder de 
Cristo. Ele , para glória de sua Mãe, de que não é ciumento, 
obriga-os a testemunhar a dignidade extraordinária que ela 
reveste entre todas as criaturas humanas e angélicas , obri­
gando-os a confessar toda a verdade sobre ela e a sua com­
pleta impotência em relação a ela. Estes testemunhos do mun­
do demoníaco serão apresentados em cada parágrafo, ao 
termo das catequeses que as precederam, que indicarei com 0 
título «Exemplos extraídos dos exorcismos». 
Além disso , é muito importante que o leitor saiba que 
esses testemunhos que, à primeira vista, poderiam parecer fre­
quentíssimos, não o são assim tanto. As mais das vezes, os 
demónios só exprimem injúrias e ofensas em relação à Virgem 
Maria. Os exemplos que referirei poderiam parecer numero­
sos , mas não são se considerarmos que foram recolhidos 
durante dez anos. 
48 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos 
outros momentos ... 
As palavras que reporto são expressa e exatam , . ente as pro-
feridas pelos demon1os no decurso dos exorcismos. 
§ 1 - A recusa, da parte do demónio, 
do projeto da Encarnação do Filho de Deus 
e de Maria Rainha dos Anjos e dos homens 
Catequese 
O homem foi criado por Deus à sua imagem e semelhança, 
isto é, segundo a imagem do Filho que o Pai Eterno tinha na 
sua mente, quando, chegada a plenitude dos tempos, haveria 
de enviá-lo ao mundo para fazer-se homem e redimir a huma­
nidade. O homem é, portanto, «figura daquele que haveria de 
vir» (Rm 5,14), Cristo Jesus. Por isso, esteve presente na 
mente de Deus, desde a eternidade, antes de qualquer outra 
criatura , e também a figura daquela em quem a Encarnação 
do Filho haveria de realizar-se: Maria Imaculada. Diz o Con­
cílio Vaticano II: «A santíssima Virgem [foi] predestinada 
desde toda a eternidade, nodesígnio da Encarnação do Verbo 
divino , para [ser] Mãe de Deus» 29
• A natureza humana de 
Cristo e de Maria é o vértice da obra da criação. Embora, cro­
nologicamente , Cristo e Maria aparecessem no mundo muitos 
séculos depois da criação de todas as coisas , a Santíssima 
Trindade tinha em mente desde a eternidade esta obra-prima 
insuperável, relativamente a qualquer obra criada por Deus: 
«Uma Mulher imaculada que fosse Mãe do Filho, dando-lhe a 
carne humana do seu seio por obra do Espírito Santo.» 
Nesta perspetiva, a Virgem Maria pode ser definida como 
«primogénita» do Pai, porque nos seus decretos divinos Ele a 
predestinou juntamente com o Filho Jesus Cristo, antes de 
29 G d. au zum et spes 61 . 
49 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
todas as criaturas Jo_ Cristo e Maria foram pensados, queridos 
e amados pelo Pai Eterno, pelo seu Verbo e pelo_ Espírito 
Santo, antes de toda a criação, e, a eles, todas as c01sas estão 
subordinadas e se ordenam necessariamente. Todo o universo 
material e espiritual foi criado intimamente unido ao homem, 
de que Cristo e Maria são o vértice, e só por meio do homem 
todas as coisas podem atingir o fim para que foram criadas. 
Portanto, a criação dos anjos, feita por Deus, esteve ligada à 
sua decisão de unir-se ao homem mediante a Encarnação: isto 
é entrar no mundo da matéria, do espaço e do tempo. Por-
' tanto, a criação dos anjos foi orientada, desde o início, para a 
síntese admirável da criação, que é o homem, cujo represen­
tante máximo é o Verbo de Deus que se torna carne por meio 
de Maria e se faz homem. A criação do homem - e, em parti­
cular, a natureza humana do Verbo - dá consistência e signifi­
cado a todo o universo, incluindo também os anjos. 
É claro que, neste projeto de Deus, a Virgem Maria, em­
bora constituída, como cada criatura humana, de espírito e de 
matéria (alma e corpo), é elevada acima dos anjos que são es­
píritos puros. Pela sua natureza angélica mais semelhante à de 
Deus, espírito puríssimo, Satanás pretendia que lhe competi­
ria a proeminência sobre toda a criação, que Deus conferiu à 
Virgem Maria. Consequentemente, esta atitude implicava uma 
l() Por predestinação não se entende algo de já estabelecido, independentemente 
da livre decisão da vontade do homem. Aliás, pode-se dizer que Deus já conhece o que 
irão fazer os seus filhos que, no entanto, são sempre livres de decidir em plena liber­
dade. Isto é, Deus predestina que sejam conformes com o seu Filho Jesus aqueles que 
o escolhem como Pai: « Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, da­
queles que são chamados, de acordo com o seu desígnio. Porque àqueles que Ele de 
antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu 
Filh?» (Rrn 8,28-29) Trata-se sempre de urna escolha livre. Por isso, embora seja pre­
desunada a ser Mãe do Filho de Deus feito homem, Maria aderiu a Ele livremente. 
Também ° Filho de Deus. mesmo que predestinado a encarnar através de Maria, es­
colheu livremente realizar este projeto de amor do Pai, para que os homens fossem 
conformes à sua imagem Na e H b - o . . · arta aos e reus, Cnsto diz: « Eis que venho - com 
eStá escmo no hvro ª meu respeito - para fazer, ó Deus, a tua vontade» (Heb 10.7)-
50 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos out ros momentos ... 
contestação decisiva quer da Encarnação do Verbo de Deus _ 
que haveria de assumir a natureza humana, inferior à angélica 
_ quer da presença daquela Mulher, da qual , encarnando 0 
Filho de Deus haveria de nascer no tempo. Ela, posta à s~a 
direita, como Rainha dos homens e dos anjos, havia de facto 
sido eleita não só acima das criaturas humanas, mas também 
das angélicas. O facto de Satanás rejeitar Maria foi uma conse­
quência lógica da rejeição da Encarnação. 
No momento em que a Santíssima Trindade criou os anjos, 
já sabia que alguns deles haveriam de usar o dom da liberdade 
para recusar o seu projeto de amor sobre toda a criatura: 
voltar-se-iam contra Deus, seu Criador, operando pela des­
truição da sua criação, que era inteiramente boa, e haveriam 
de introduzir nela o mal, o sofrimento e a morte. Por isso , 
desde o princípio da Criação, Deus estabeleceu que a Encar­
nação do Verbo também haveria de ser redentora , a fim de 
salvar as criaturas que haveriam de continuar fiéis a eles. Por 
isso, enquanto criava, Deus pensava no seu Filho feito homem 
- isto é, Jesus Cristo - como Redentor, e em sua Mãe, coope­
radora com o Filho redentor. 
O teólogo jesuíta espanhol Francisco Suárez 3 1
, que apre­
senta a síntese provavelmente mais completa de angelologia e 
demonologia da Idade Moderna, retomando a opinião do 
Padre das Igreja, Lactâncio (cerca de 260-330) - segundo o 
qual o pecado do anjo foi o de inveja, não em relação ao ho­
mem, mas em relação ao Filho de Deus feito homem (o 
Logos)-, explica que, depois, por esse motivo, Lúcifer 32 have­
ria de enganar O homem por inveja (Divin~ Institutiones) . 
Suárez afirma que a revolta de Lúcifer e dos outros anjos 
31 Nasceu em Granada em 1548 e faleceu em 1617. 
32 É o nome que Satanás tinha antes do seu pecado. Deriva do latim e significa 
«portador de luz». Para ulteriores aprofundamentos, cf. F. BAMONT_E, Os anjos rebeldes. 
O míSlério do mal na experiência de um exorcista , Prior Velho, Paulmas Editora, 2º1º· 
pp. 21-22. 
51 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
rebeldes consistiu em não ter aceitado o plano que Deus lhes 
tinha preanunciado, relativo à futura Encarna~ão do Verbo. 
Esta hipótese teológica fundamenta-se nas segu1n~es palavras 
da Carta aos Hebreus (1,6) : «Quando [Deus] introduz 0 
Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de 
Deus.» De algum modo, Deus haveria de mostrar a todos os 
anjos a futura imagem do Filho, Deus feito homem, Jesus 
Cristo, convidando-os a reconhecer nele, desde então, o seu 
chefe, o autor da sua salvação e o seu legislador. 
Lúcifer e uma parte dos anjos recusaram-se a adorar um 
homem inferior a eles por natureza, embora ao mesmo tempo 
superior, sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, en­
carnada. Eles consideraram o projeto divino da Encarnação 
como uma ofensa inaudita à sua dignidade angélica e à sua 
grandeza na hierarquia dos seres; por isso, rejeitaram-no des­
denhosamente 33
. Por isso, tratou-se de um pecado de soberba 
que brota, no entanto (e de acordo com o Beato Duns Escoto), 
do amor desordenado a si mesmo: amor de concupiscência e, 
simultaneamente, amor da sua própria excelência. De facto, 
cego pelo amor desordenado de si mesmo e da sua excelência, 
Lúcifer pretendeu que a união hi postática do Verbo 34 não se 
fizesse com uma natureza humana, mas sim, necessária e ex­
clusivamente, com a sua natureza angélica. 
Por isso, quando os anjos foram convidados a reconhe er 
Cristo feito homem como seu chefe e seu salvador e a adorá-
' 
-lo como Deus, Lúcifer opôs-se, presumindo que essa honra 
deveria ser dada exclusivamente a ele. Na sua rebelião, arras­
tou os outros anjos, persuadindo-os de que só a ele conviria a 
33 
Aceitando-se a tese de que o pecado dos anjos se realiza na rejeição de adorar 
0 ~erbo encarnado, talvez compreendamos melhor o contínuo serviço dos própnt'5 
anJOS na obra da Encarnação e na assistência prestada a Jesus Cristo. Ao mesmo 
tempo. intuímos o motivo mais radical da luta do demónio contra Ele. 
,. Po'.que a natureza 
angélica é superior à humana 35
. Por isso, trata-se de um pe­
cado de soberba e de desobediência, a que se seguiu a inveja 
em relação a Cristo, associada à cólera e ao ódio contra Ele e 
contra o género humano, e muitos outros pecados. 
Por conseguinte, a rejeição de Lúcifer não se manifestou so­
mente em relação à Encarnação do Filho de Deus, mas tam­
bém em relação à Virgem Maria, através de quem a Encarna­
ção haveria de realizar-se. A mística mariana espanhola, a 
venerável Maria de Jesus d'Agreda (1602-1665), na sua famosa 
obra La mística ciudad de Dias, afirma que Lúcifer, por ser a 
criatura mais luminosa da criação, pensava que estava destina­
do a ser ele o chefe dos anjos e da humanidade. No entanto, 
quando compreendeu que não iria ser ele mas outro - isto é, 
que o Filho de Deus se faria homem - , não só se recusou ado­
rá-lo e reconhecê-lo como chefe dos anjos e dos homens, 
como também rejeitou a decisão que Deus lhe havia notifi­
cado: com a Encarnação do Verbo, os anjos «deviam considerar 
igualmente superior a mulher através da qual o Verbo haveria de 
fazer-se carne. Essa mulher, embora f asse uma criatura humana, e, 
portanto, de natureza inferior à sua, haveria de ser não só sua Rai­
nha, a quem teriam de obedecer, mas também a Senhora de todas 
as criaturas, superando nos dons de graça e de glória todas as cria­
turas angélicas e humanas. Ao obedecerem a este preceito do Se-
35 Um dos teólogos do séc. XII , Honório d'Autun, afirmou que o Verbo não podia 
assumir a natureza angélica, porque nesse caso salvaria unicamente um anjo (já que 
cada um deles é uma ~espécie~, o que o toma diferente de todos os outros, enquanto 
os homens penencem todos à mesma espécie). 
53 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
nhor, os anjos bons aumenta,iam a sua humildade, pela qual não só 
o acolheram, mas também louvaram o poder e os mistérios do Al­
tíssimo. Mas não {fizeram] assim Lúcifer e os seus companheiros: 
por causa deste preceito e mistério, elevaram-se de tal maneira ern 
soberba e em vaidade ainda maiores que, desordenadamente furioso 
' ele reclamou para si próprio o privilégio de ser chefe de toda a es-
tirpe humana e de todas as ordens angélicas; e, se isto haveria de 
acontecer através da união hipostátíca, que ela se realizasse nele>> 36_ 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Tudo o que foi exposto na catequese atrás, é comprovado 
de maneira clara e repetida no confronto com os demónios, 
durante o ministério dos exorcismos. 
Um dia, ouvi-os gritar: «Eu sou Lúcifer, o mais luminoso 
de todos os anjos do céu; rebelei-me contra a vontade de 
Deus, porque não quis sujeitar-me à majestade do Nazareno; 
"ficava-me muito bem" estar sob o poder de Deus, mas não 
queria estar abaixo do Nazareno, que havia de nascer de uma 
Mulher; então, eu disse: "Ou me fazes como Tu ou eu comba­
terei contra ti, porque nunca me baixarei, nunca, a um Deus 
que se torna carne humana e que assume traços humanos e 
corpo humano!"» 
Outra vez, enquanto eu lhe intimava: «Adora-o, é o teu 
Deus, foi Ele quem te criou , adora-o!» , protestou: «Foi encar­
nar em vós , o que de mais asqueroso e humilhante poderia 
fazer. Só nós sabemos a repugnância que sentimos quando Ele 
entrou naquelas carnes!» 
3
~ M ARIA DE ) E us o'A GREDA, La mistica città di Dia, vol. I, Assis, Pontifícia Acca· 
demia Mariana lnternaz1onale, Ed izioni Porziuncola, 2000, Primeira pane, li\·ro L 
cap. 7, p 85. 
54 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos O t u ros momentos ... 
Noutro dia, enquanto eu orava a Nossa Senhora, ouvi-o 
protestar: 
«Eu sou espírito puro: porque não eu, porque não um 
espírito puro? Eu, espírito puro: porque não eu, em vez 
daquela, sim? Porquê? Heim, heim, heim? Porquê ela, sim?» 
e, pouco depois, acrescentou: « Ela é que é uma criatura, não 
eu, eu sou "deus" e ela foi colocada acima de mim. Porque 
reria de ser assim? E eu não quis, não quis; nunca me dobra­
rei à criatura, àquela [ que foi] criada para estar abaixo; eu, 
espírito puro, "diante" 37 de Deus: deviam adorar-me porque 
eles são menos que eu (referia-se evidentemente à natureza 
humana de Cristo e à de Maria Santíssima).» 
Noutra ocasião, ouvi estas frases : 
«Não suporto que ela esteja ao lado dele , acima de mim. 
Eu era o anjo mais belo, belo, belo; o maior, maior, maior; eu 
era Lúcifer, o anjo por excelência. Que afronta! Que afronta! 
Conceber sem pecado um de vós! Que afronta! A Imaculada é 
a maior afronta que o teu Deus nos poderia fazer. Fazer com 
que um de vós conceba sem aquele pecado que nós tínhamos 
criado é uma afronta insuportável. Tínhamos marcado todos, 
tínhamos marcado todos com o nosso selo, todos menos ela! 
Não podia ter-nos feito isto! Um de vós sem pecado! E, 
depois , Ele que encarna no vosso corpo repugnante feito de 
vermes (aqui, penso que se referia à decomposição do nosso corpo 
depois da morte) . Porque o fez? Para arruinar-nos? Porque nos 
humilhou assim tanto? Porque nos humilhou assim tanto?» 
Outras vezes, em tom depreciativo, manifestou a sua re­
cusa de aceitar que a Virgem Maria tivesse sido colocada 
acima dele, com estas expressões: 
. 
3
' Não cenamente no sentido de que teria gozado antecipadamente a vi~ o beatí­
fica (recusou-a), mas no sentido de que , na escola dos seres, ele era o mais seme­
lhante a Deus, que é puríssimo espirita. 
55 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
«Ela é só carne, eu sou espírito puro, eu sou espírito PUro1 
Não ela não! Ela mais alta do que eu? Não! Eu sou espíritoi · 
' . >> 
Noutra ocasião, repetindo em parte palavras já expressas 
anteriormente, afirmou: 
« Eu recusei Aquele (Deus ) porque a fez a ela . Eu não 
suportava que ela estivesse ao lado dele. Não suportava que 
uma criatura humana estivesse acima de mim, porque eu era 
o anjo mais belo, belo, belo, o maior; eu era Lúcifer, o anjo 
por Excelência.» 
§ 2 -A Imaculada Conceição, a santidade sublime 
e a beleza incomparável de Maria 
Catequese 
Em Maria, contempla-se a participação máxima da beleza 
de Deus, nunca manifestada numa criatura humana. Elabela! » São José de Cupertino, o «santo dos voos» ... estava de 
tal maneira enamorado de Nossa Senhora e da sua beleza que, 
frequentemente , voava - enquanto repetia: «Maria é bela , 
Maria é bela!» - para beijar as suas imagens que, naqueles 
tempos, a arquitetura dos lugares sagrados colocava no alto. 
Por vezes, durante o êxtase, também transportava consigo os 
seus confrades, enquanto voava. Chamavam-lhe «boca aber­
ta» porque, ao ficar muitas vezes em êxtase, caíam-lhe coisas 
das mãos que, obviamente, se quebravam. 
Nenhuma criatura humana foi e é tão bela como Maria. O 
que a tornou tão bela? A condição inicial de graça da sua 
Imaculada Conceição 39 e a sua cooperação livre e jubilosa 
i
9 '/\o dia 8 de dezembro de 1854, Pio IX promulgou solenemente, na basílica de 
São Pedro, o dogma da Imaculada Conceição. Ele, já de idade muito avançada e com 
ª saúde bastante enfraquecida, encontrava-se no presbitério e falava com voz fraca. 
57 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
D no seu proieto de amor a favor de toda a humani-
com eus, J 1 1 · 
dade, que a fez crescer continua~e~te naque_ ª_ p enuude de 
• • · 1 ue na Assunção atingiu a perfeiçao sobrenatu-graça inicia , q . 
ral. Todos os videntes de Nossa Senhora, extasiados com a sua 
beleza, lhe perguntam: «Porque é tão bela?» E ela [responde]: 
«Porque amo!» 
Maria «é O ideal supremo da perfeição; é "a Mulher vestida 
de sol" (Ap 12,1), na qual os raios puríssimos da beleza hu­
mana se encontram com os supremos, mas acessíveis pela be­
leza sobrenatural» 40
. E assim nos é apresentada pela Sagrada 
Escritura, pelos Padres da Igreja, pelo Magistério, pelos do­
cumentos Conciliares, pelos Místicos, pelos Santos e pela 
Liturgia. 
Naquela época, ainda não se tinha inventado os microfones, os altifalantes nem os 
amplificadores de som; mas, no momento de ler a fórmula da definição dogmática, a 
sua voz tornou-se sonora e potente, enquanto, no mesmo momento, um raio de sol, 
atravessando as nuvens, passou através de um vitral da basílica de São Pedro, envol­
vendo a sua pessoa. Aqueles acontecimentos externos, que todos observaram, foram 
interpretados como o sinal do agrado de Deus e da Bem-aventurada Virgem Maria. 
Ele mesmo narrou: «O que experimentei, o que senti ao definir o dogma da Ima­
culada Conceição é uma coisa que a linguagem humana não conseguiria exprimir. 
Enquanto Deus pronunciava as palavras do dogma, pela boca do seu Vigário, fez 
entrar no meu espírito uma luz tão clara e tão intensa sobre a incomparável pureza da 
Santíssima Virgem que, mergulhada profundamente no abismo deste conhecimento. 
a minha alma sentiu-se inundada de delicias inenarráveis, de delicias que não são ter­
restres e que só no Céu se podem experimentar.» Um biógrafo de Pio IX escreve: 
«Não receio afirmar que, então, o Papa recebeu uma graça especial para não morrer 
de alegria por causa da impressão do conhecimento e do sentimento da beleza inco­
mensurável de Maria Imaculada.» Foram estas as palavras com que O Papa definiu o 
dogma da I~~cu~ada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, a que aquela pro­
funda expenencta mística esteve ligada: «Com a autoridade de Nosso Senhor ]eSus 
~risto, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e com a Nossa, declaramos, pronun· 
ciamos e definimos· "A d t · · · 
. :J ' · ou nna que sustenta que a Beatíssima Virgem Maria, no pnmeiro 
1~Slante da ~ua Conceçdo, por graça singular e privilégio de Deus omnipotente, tendo em 
vista os méntos de]esus cns· t 5 l d d d da o, a va or o género humano J oi preservada imune e to 
a mancha de pecado original é l d ' · 1 , 1-. . ,, , reve a a por Deus e assim deve ser crida firme e invw a,c 
ment! por todos os fiéis » (Pio IX, Bula lneffabilis Deus). 
PAULO VI , Discurso para • - · do 
XIV e . 0 encerramento do VI Congresso Mariológico e o inicio 
ongresso Manano, Roma, 16 de maio de 1975. 
58 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ... 
Nenhuma criatura, nem sequer Maria, é bela por natureza: 
só Deus é o autor da beleza (Sb 13,3) , aquele que cria a 
«beleza das criaturas» (Sb 13,5) . Deus, o Santo e o Vivente, é 
a Beleza suprema e as suas obras são belas-boas (cf. Gn 
l ,9.12.25.31): entre elas destaca-se Maria, a quem o Filho -
imagina, na fé , o Beato Amadeu de Lausana - se dirige em 
louvor: «Tu és bela, diz-lhe: bela nos pensamentos, bela nas 
palavras, bela nas ações, bela desde o nascimento até à morte, 
bela na conceção virginal, bela no parto divino, bela na púr­
pura da minha Paixão, bela, sobretudo, no esplendor da 
· - 41 minha ressurre1çao» . 
Como já vimos, um dos motivos da grande raiva do demó­
nio contra Deus é o de ter criado Maria sem pecado, desde o 
primeiro instante da sua existência. De facto , o demónio con­
siderava direito seu que todas as criaturas humanas, depois da 
culpa original, tivessem de ser concebidas contaminadas com 
o pecado 42
• 
Em relação a Nossa Senhora, pelo contrário, o facto de não 
ter cometido nenhum pecado é para o demónio motivo de 
raiva, ainda mais do que o privilégio da Imaculada Conceição, 
recebido por puro dom gratuito de Deus. Embora seja Ima­
culada, Maria continuava livre e, portanto, também podia 
pecar. O demónio odeia tremendamente Nossa Senhora por­
que, embora tendo tentado de todas as maneiras fazê-la cair, 
durante a sua vida terrestre, nunca conseguiu fazer com que 
ela cometesse um pecado pessoal e, portanto, não pôde de 
•
1 M.G. MA.sCIARELLI , Pio IX e l'lmmacolata, Cidade do Vaticano, LEV, 2000, p. 90. 
12 O pecado do primeiro casal humano foi , exceto a Maria, «transmitido por pro­
pa~aÇão a toda a humanidade, quer dizer, pela transmissão duma natureza humana 
~nvada da santidade e justiça originais. E é por isso que o pecado original se chama 
pecado" por analogia: é um pecado "contraído" e não "cometido", é um estado e não 
um ato» (CIC 404). 
59 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
modo nenhum manchar e deformar a beleza de Deus nela. 
Por isso, ela não possui nada que lhe pertença: Satanás não 
pôde orgulhar-se de nada sobre ela e, por isso, Maria é a única 
criatura em condições de vencê-lo completamente. Por esse 
motivo, ele odeia e teme Nossa Senhora quase mais do que 0 
próprio Deus e encolerizou-se mais contra ela do que com 
Jesus Cristo: porque este é Filho de Deus feito homem, en­
quanto Maria é uma criatura e a única criatura que lhe esca­
pou completamente~ a única sobre quem nunca pôde exercer 
o seu direito de conquista~ a única que o venceu totalmente, 
quer no momento da sua conceção, quer durante toda a sua 
vida terrena. 
Pode-se dizer que Maria é a Virgem poderosa contra o Mal, 
porque é a única criatura humana totalmente vitoriosa sobre 
Satanás e sobre todo o seu exército. Por isso, não existe nela 
nenhum mal, o que a torna inteiramente bela. Também é este o 
motivo pelo qual, vários autores cristãos, inspirando-se nas 
palavras da Sagrada Escritura «Quem é esta que surge como a 
aurora, bela como a Lua, refulgente como o Sol, terrível como 
um estandarte de guerra?» (Ct 6,10) 43
, representaram Maria 
como a Mulher belíssima que aparece a Satanás, como a 
comandante indómita de um exército postado em ordem de 
batalha. Além disso, parece-me que também podemos entre­
ver nesta passagem bíblica a representação da força especial 
que - única entre todas as criaturas - Maria recebe de Deus 
para lutar contra Satanás. 
Eis como diversos autores cristãos comentam a expressão 
«terrível como um estandarte de guerra» , referido a Maria. 
Pascásio Radberto (t 865) prega assim na homilia sobre a 
Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria: «Por isso [Maria] 
é chamada: terrível como um exército alinhado em ordem de ba-
4) Veja-se também Ct 6,4. 
60 
. h xperiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ... 
A rntn a e 
talha. De facto , Ela tornout\ t~rível pelas suas virtudes; 
rnou-se como um exercito a m a o em ordem de batalha, por­
toue está rodeada pelos chefes dos santos anjos» 44
. Nos seus 
q 
0-es Martinho de Leão (Espanha, t 1203) diz: «Depois, serm , 
[Maria] foi apresentada como terrível, à maneira de um exér-
cito alinhado, porque na sua ascensão [síc no original, nt] era 
rodeada por todos os lados por coros angélicos e acompa­
nhada pelas almas dos eleitos» 45
• 
Adão de Perseigne (t 1221) escreve: «Quando foste 
assumpta deste mundo malvado à glória do céu, tornaste-te, 
para rodas as potências do mal , tão terrível como exércitos 
com estandartes desfraldados .. . Enquanto os céus estreme­
ciam de alegria, os anjos te tributavam honras, os santos exulta­
vam e as insígnias das virtudes cintilavam, apareceste verdadei­
ramente aterradora aos demónios» 46
• Inocêncio III (t 1216) diz 
num dos seus sermões: «Quem se sentir atacado pelos inimi­
gos ou pelo mundo ou pela carne ou pelo demónio, olhe para 
este exército alinhado para a batalha, implore a Maria para 
que ela, por intermédio do seu Filho, "do santuário, Ele te 
envie o socorro e te assista de Sião" (Sl 19[20] ,3)» 47
• 
Santo Afonso Maria de Ligório escreve: « Maria é chamada 
terrível contra os poderes do Inferno, como um exército bem 
ordenado: Terribilís ut castrorum acíes ordinata (Ct 6,4). Acíes 
ordinata, porque ela sabe muito bem como ordenar o seu 
poder, a sua misericórdia e as suas orações para confundir os 
~nimigos e em benefício dos seus servos, que nas tentações 
invocam o seu poderosíssimo socorro» 48 
• 
... ln Padres Latinos (PL) 30 122-14 2. 
•) Ibidem, 209, 23-24. ' 
46 Ibidem, 211. 
., Ibidem, 217, 584-586. 
48 I 
vo[ n Opere ~pirituali, Serie B, Trattati speciali: Gesu Cristo, Maria SS. e i Santi, 
· V, Le glone d1 Maria, e. I, III, Roma-Paganí, Edízione PP. Redentoristí , 1954, p. 208. 
61 
. o Diabo nos exorcismos 
A Virgem Mana e 
. palavras «refulgente como o Sol» , que rel"h Por fim, nas 
1
. llle~ 
sagem do livro do Apoca ipse: «Apareceu 
tem para uma pas . d d no 
d sinal: uma Mulher vesti a e Sol» (Ap 12 l) 
céu um gran e . d b , , 
Ue se poderá ver a imagem a eleza da graç parece-me q . . a 
. . m Maria fulgura no maior esplendor atingido po divina que e r 
uma criatura humana e que se opõe a fealdade do pecado, por 
meio do qual Satanás procura arrancar os homens a Deus. 0 
próprio Satanás espelha em si o máximo da fealdade, a que a 
criatura nunca chegou, por se ter separado do Criador com a 
rebelião e o pecado. 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Eis o que, em diferentes ocasiões, o demónio foi obrigado 
por Deus a dizer sobre a santidade e sobre a ausência total de 
pecado em Maria. 
Um dia, enquanto eu fazia o exorcismo, dirigi-me ao de­
mónio e disse-lhe: «Olha para o rosto belíssimo de Nossa 
Senhora.» Ele respondeu: «Não o vejo, está escuro, está es­
curo, está escuro para mim. Não quero e não posso olhar. É a 
minha ruína, é a minha ruína, é a minha ruína desde sempre, 
desde sempre. Odeio-a, odeio-a, odeio-a!» 
Noutros exorcismos, proferiu as seguintes expressões: 
«Não posso olhar para aqueles olhos, não posso olhar, não 
posso ... não se descrevem, aquela beleza não se descreve.» 
«Ela é cheia de graça, ela é Santa, é Santa, aquela é Santa, 
aquela é Santa. Ela tira-me as almas (e começa a chorar).» 
. «Olhai, olhai, olhai para a luminosidade do olhar de urna 
cnança_e vereis a pureza de Maria, a pureza, a pureza e o amor 
d; Mana (esta foi uma das raríssimas vezes que, por entre cantor· 
ç es ternveis, pronunciou o nome de Maria).» 
62 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ... 
Outra vez, com uma linguagem evidentemente metafórica 
(porque ele não tem nem pele nem cérebro porque é espírito 
imaterial), disse: «Sempre que desce a esta terra (referia-se a 
Nossa Senhora) , nós mergulhamos ainda mais para baixo . 
Cada uma das suas lágrimas é um buraco na nossa "pele"; 
cada um dos seus olhares é um rasgão no nosso "cérebro"; 
cada um dos seus passos é o nosso fim. Estamos a procurar 
travá-la, mas não conseguimos porque ela é mais poderosa do 
que nós. O mal não tem nenhum poder sobre ela.» 
§ 3 - Também Nossa Senhora foi redimida por Jesus 
Catequese 
Todos os homens vêm ao mundo com o pecado original e, 
para se salvarem da perdição eterna precisam da Redenção de 
Cristo. Também Maria, porque é da estirpe humana, deveria 
ter contraído o pecado original e, como todos os outros seres 
humanos, entrar neste mundo privada dos dons sobrenaturais 
e da graça de Deus. Mas não foi assim. Como ia ser a Mãe de 
Jesus, antecipando nela os méritos do Filho redentor, desde o 
primeiro instante da sua conceção, por singular privilégio que 
lhe foi concedido, a Santíssima Trindade preservou-a da culpa 
original. De facto , eleita para ser a Mãe de Cristo redentor, ela 
devia necessariamente precedê-lo. Na ordem temporal, vem 
primeiro a mãe e depois o filho . Consequentemente, para que 
fosse Imaculada, era necessário que Maria fosse redimida por 
Cristo, antes de Ele ter nascido e morrido na Cruz, realizando 
a Redenção. Portanto, a Redenção foi aplicada a Maria «pre­
ventivamente» isto é antes de Cristo a ter realizado. Santo , , 
Ambrósio escreve: «Quando o Senhor se dispôs a redimir o 
mundo, começou por Maria, para que precisamente Ela, por 
cuja mediação foi preparada a Redenção para todos, fosse a 
63 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
primeira a fruir do fruto da salvação pela mão do seu Filho>> 
(In Lucam, 2,17). 
Maria foi Imaculada, desde o primeiro instante da sua exis­
tência, sem ter feito nada para merecer tamanho privilégio, 
exclusivamente por bondade e misericórdia de Deus. É urn 
favor divino absolutamente gratuito que Maria obteve desde 0 
primeiro momento da sua existência. Ela não foi libertada do 
pecado original, mas foi dele preservada em virtude dos méri­
tos do seu Filho, previstos por Deus. Por isso, Maria é , como 
nós, redimida por Cristo: a primeira dos redimidos, mas tam­
bém ela redimida. Tudo isto é para nós motivo de grande con­
solação e alegria, porque faz-nos sentir que Maria está muito 
próxima de nós, embora a percebamos tão excelsa e sublime 
na sua dignidade de Mãe de Deus e nos seus singularíssimos 
privilégios de graça. Também ela é uma criatura redimida, 
salva, exatamente como nós; ela sabe que o é e connosco agra­
dece continuamente ao Senhor pela sua Redenção! É este o 
significado das palavras do seu cântico de louvor e ação de 
graças: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito 
exulta em Deus meu Salvador» (Lc 1,4 7). 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Uma vez, o demónio exprimiu assim a contínua gratidão 
de Maria a Deus: 
«Ela canta sempre os louvores daquele, como então fazia, 
mas só poucos na terra estão em condições de ouvi-la quando 
canta.» 
Provavelmente, aqui, o Maligno referia-se à nossa incapaci­
dade de compreender profundamente a grandeza daquele 
Coração que louva eternamente Deus e está reconhecido pelas 
graças que recebeu, não só para benefício próprio, mas tam­
bém dos seus filhos. 
64 
A ,ninha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ... 
§ 4 _ Maria foi re?imida como todos os homens, 
rnas de modo mais elevado e sublime 
Catequese 
pelo Batismo, cada um de nós é libertado do pecado origi­
nal. Maria, ao contrário, foi dele preservada 49
, desde a conce­
ção. Assim como, no plano natural, quem nos preserva ou 
poupa a um golpe mortal é considerado nosso salvador, mais 
do que se nos curasse da ferida produzida por aquele golpe, 
assim também na ordem sobrenatural, Maria, ao ser poupada 
à infeção do pecado original, foi redimida «de um modo mais 
elevado e sublime» (Pio IX, Bula Ineffabilis Deus) , isto é, de 
modo perfeitíssimo. Precisamente por isso, o Filho sofreu 
mais pela redenção da Mãe do que pela de todos os outros ho­
mens juntos. De facto, a Redenção realizou, em relação a 
Maria, uma tarefa maior do que em relação a todos os outros 
homens. Maria não foi somente redimida pelo Filho, mas é a 
primeira de todos os redimidos e nela a graça salvífica atuou 
de tal modo profundamente que não permitiuque o pecado 
ganhasse raízes nela. Jesus, Salvador do mundo, conseguiu a 
sua mais bela vitória sobre o pecado e sobre o demónio, de­
vastadores do género humano, com a Imaculada Conceição 
de Maria, que é o seu mais excelso troféu de vitória, o sentido 
mais precioso do seu triunfo. O Concílio Vaticano II procla-
•
9 Maria é nova criação e nova criatura desde o primeiro instante da sua Ima­
culada Conceição. Maria nunca foi velha criatura, mas nova criatura no sentido radi­
cal da palavra. Por isso, só a Ela se pode aplicar a expressão «Imaculada Conceição». 
De facto , nela não houve uma precedente conceção no pecado, como aconteceu com 
todos os outros homens. Para nós, houve a velha criação, a velha criatura. Não temos 
uma Conceição Imaculada como Maria, mas somos criaturas saradas do pecado no 
Batismo, por graça, e renascidas sem mácula. Por isso. o termo Imaculada Conceição 
só se aplica a Maria. Como renascimento batismal, passámos da velha à nova criatura 
e, por isso, não se pode dizer que no Batismo nos tomámos como a Imaculada Conceição. 
De facto, nós fomos concebidos no pecado original. Maria, pelo contrário, nunca teve uma 
conceção que não fosse imaculada. 
65 
. Diabo nos exorcismos 
A Virgem Mana e o 
. dmira e exalta [em Maria] o fruto mais e 
ue a Igreja «a I 10 ) X-
mou q - (Sacrosanctum Conci ium 3 . 
celso da Redençao » 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
. repetidamente, o demónio exprimiu outras 
Eis como, . . . 
d Sua desilusão relativamente ao pnv1légio que 
vezes to a a . _ 
M 
. teve de ser a Imaculada Conce1çao. 
ana d _ . E 
Um dia , enquanto eu dizia ao emon10 : « m nome da 
nossa Mãe Imaculada, sai deste corpo!» , ele gritou: «É a pala­
vra que odeio mais!» E eu rebati: «Imaculada?» E ele: «Sim!» 
Uma vez, durante a novena da Imaculada, começou a 
gritar: «Manda-a embora, manda-a embora, manda-a embora! 
Nestes dias, todos a nomeiam, todos a invocam, todos dizem 
o seu nome. Luz de mais, luz de mais, luz de mais!» 
Outra vez exclamou: «A Imaculada é o meu contrário.» 
Noutro exorcismo, enquanto repetíamos algumas vezes a 
oração: «Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que 
recorremos a vós», o demónio disse: «Para com isso! Esta ja­
culatória é [demasiado] poderosa contra mim!» 
§ 5 - A virgindade perpétua de Maria 
Catequese 
Como ª Igreja sempre acreditou e professou Nossa Se-
nhora foi virge d . ' u . mantes o nascimento de Jesus, permanece 
~rgem no momento em que o deu à luz e conservou a sua vir­
gindade durant rn . e O resto da sua vida. Maria não concebeu co 
intervenção hu n-
ce - d mana, mas por obra do Espírito Santo. A co 
çao e Crist0 , no seio da Mãe , foi um evento miraculoso, 
66 
A ,ninha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ... 
obrenatural, uma obra divina que ultrapassa toda a com-
5 reensão e possibilidade humanas . 
p Numa catequese durante a audiência gera], o papa João 
Paulo II disse: «A Igreja sempre considerou a virgindade de 
Maria uma verdade de fé, recolhendo e aprofundando o teste­
munho dos Evangelhos de Lucas, de Mateus e, provavel­
mente, também de João. No episódio da Anunciação, o evan­
gelista Lucas chama "virgem" a Maria, referindo não só a sua 
intenção de perseverar na virgindade, mas também o desígnio 
divino que concilia esse propósito com a sua maternidade 
prodigiosa ... A estrutura do texto lucano (cf. Lc 1,26-38; 
2,19.51) resiste a todas as interpretações redutoras. A sua coe­
rência não permite que se defendam validamente mutilações 
dos termos ou das expressões que afirmam a conceção virginal 
operada pelo Espírito Santo. O evangelista Mateus, ao referir o 
anúncio do anjo aJosé, afirma com Lucas a conceção operada 
pelo Espírito Santo (Mt 1,20), com exclusão de relações con­
jugais. Além disso, a geração virginal de Jesus é comunicada a 
José num segundo momento : para ele , não se trata de um 
convite a que se deve dar um assentimento prévio à conceção 
do Filho de Maria, fruto da intervenção sobrenatural do Espírito 
Santo e unicamente da cooperação da mãe. Ele só é chamado 
para aceitar livremente o seu papel de esposo da Virgem e a 
missão paterna relativamente ao menino. Mateus apresenta a 
origem virginal de Jesus como cumprimento da profecia de 
Isaías: "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e 
hão de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco" 
(Mt 1,23; cf. Is 7,14). Desse modo, Mateus leva-nos a concluir 
que a conceção virginal foi objeto de reflexão na primeira 
comunidade cristã, que compreendeu a sua conformidade 
com o desígnio divino de salvação e o nexo com a identidade 
de Jesus, "Deus connosco"» 50. 
,o Audifncia geral, 11 de julho de 1996. 
67 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
Assim como foi miraculosa a conceção, assim também 0 
parto de Maria Santíssima. Ela, por intervenção sobrenatural, 
deu à luz o Filho de Deus, permanecendo virgem. Segundo 
Santo Ambrósio, a Sagrada Escritura revela que não só uma 
virgem devia conceber, mas também que uma virgem devia dar 
à luz. «O papa Hormisdas precisa que o Filho de Deus se 
tornou Filho do homem, nascido no tempo à maneira de um 
homem, abrindo ao nascimento o seio da mãe [cf. Lc 2,23] e, 
pelo poder de Deus, não quebrando a virgindade da mãe (DS 
368). A doutrina é confirmada pelo Concílio Vaticano II, no 
qual se afirma que o Filho primogénito de Maria "não dimi­
nuiu, antes consagrou, a sua integridade virginal" (LG 57)» 51 • 
Para muitos Padres da Igreja, como a conceção foi divina, 
também o parto foi sem dores. Eles afirmam que, não tendo 
experimentado o prazer sensual na conceção de Jesus, Nossa 
Senhora também não teria sofrido as dores do trabalho de 
parto. Entre os Padres que ensinaram explicitamente o «parto 
indolor» da Virgem recordemos: Santo Efrém o Sírio, São 
Zenão de Verona, São Máximo de Turim, Santo Agostinho, 
São Proclo de Constantinopla, Antípatro de Bostra, Procópio 
de Gaza, Venâncio Fortunato, São Germano de Constanti­
nopla, Santo André de Creta, São Gregório de Nissa, São João 
Damasceno. Não se trata de alguns escritores cristãos antigos 
mas das autoridades máximas da mariologia patrística do 
Oriente e do Ocidente. 
São Gregório de Nissa, ao fazer uma analogia entre Eva e 
Maria, diz que Eva, que introduziu o pecado no mundo, foi 
condenada a dar à luz com dores e incómodos~ portanto, seria 
conveniente que a Mãe da Vida, Maria Santíssima, concebesse 
com alegria e com alegria desse à luz: «A sua conceção não 
aconteceu mediante o comércio carnal .. . 0 seu nascimento não 
'
1 Auditncia geral, 29 de agosto de 1996. 
68 
. ha experiência mariana nos exorcismos e nos outr A rnm os momentos ... 
conheceu a dor; o seu tálamo foi o p~de~ do Altíssimo, [poder] que 
bn·u quase como uma nuvem a propna viroindade· cham co _ . o · , a nup-
cial era o esplendor do Espinto Santo .. . » 52_ Assim também Santo 
Efrém, nos Hinos sobre a Bem-aventurada Virgem, diz que 
Maria deu à luz permanecendo virgem e sem sofrimentos. 
Para São João Damasceno não só a conceção, mas também 0 
nascimento foi indolor: « Porque assim como o prazer não apre­
cedeu, assim também a dor não a seguiu» 5
3. 
Entre os mariólogos modernos, bastará citar o célebre René 
Laurentin que, já em 1968 escrevia: «Quanto ao parto indolor, 
que a Tradição afirma sem contestação desde o séc. IV, é bas­
tante paradoxal que se tenha começado a contestá-lo precisa­
mente quando o progresso científico instaurava o "parto sem 
dor" para todas as mulheres. É mirabolante que certos teólogos 
e pregadores tenham começado a celebrar os sofrimentos "cru­
cificantes" de Maria no nascimento do Salvador no momento 
em que as clínicas obstétricas se aplicam a denunciar as dores 
do parto como um mito alienante e desumanizante» 54
. 
Maria permaneceu virgem também durante todo o resto da 
sua vida. Consagrou-se totalmente à missão redentora de 
Cristo. Nunca alterou a sua vontade de permanecer virgem, 
manifestada no momento da Anunciação (Lc 1,34) 55
• Além 
'
2 SAo GREGÓRIO DENISSA, ln Cantica canticorum, Sermo 13, in PG 44,1053. Veja­
-se também IDEM, ln Christi resurrectionem, Oratio I, in PG 46,604. 
B São João Damasceno, De fide orthodoxa, livro 4, cap. 14, in EM 1920. Isto cer­
tamente não significa que a dor do parto deva considerar-se como uma consequência 
do prazer ligado ao uso correto da sexualidade. 
~ R. lAURENTIN, La Vergine Maria, Roma, Edizioni Paoline, 1984, p. 301. 
'' «Portanto, deve considerar-se que Maria foi guiada para o ideal da virgindade 
por uma inspiração especial daquele mesmo Espírito Santo que, ao longo da história 
da Igreja, conduzirá muitas mulheres pelo caminho da consagração virginal. A presença 
singular da graça na vida de Maria leva-nos a concluir que houve um empenhamento 
da jovem na virgindade. Cumulada de dons excecionais do Senhor no início da sua 
existência, ela é orientada para uma dedicação de toda a sua pessoa - alma e corpo - ª 
Deus na oferta virginal» QoAo PAULO 11, Audiência geral, 25 de julho de 1996). 
69 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
disso o sentido imediato das palavras: « Mulher ei·s , . - , o teu 
filho ... eis a tua mae» Qo 19 ,26), que Jesus, pregado na cru 
dirigiu a Maria e ao discípulo predileto, indica claram z, 
. ente 
uma situação que exclui a presença de outros filhos nascido 
de Maria. O termo «primogénito», dado a Jesus no Evangelh: 
(Lc 2,7), não indica que Maria tenha gerado outros filhos 
depois de Jesus, mas «significa literalmente "criança não pre­
cedida de outra" e, de per si, prescinde da existência de outros 
filhos» 56
. 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Relativamente à conceção virginal de Cristo, precisamente 
no dia da celebração da solenidade da Anunciação, o demó­
nio, enquanto era exorcizado, exclamava furiosamente: «Pou­
sou sobre ela ... precisamente uma sombra e não como um 
modo de dizer, uma verdadeira sombra, uma sombra que o 
homem não pode ver, não para realizar um ato sexual, não, 
mas para cumprir a transposição do Filho para o seu ventre. 
Depois do seu sim, aconteceu realmente que a "sombra" do 
Altíssimo pousou. Foi assim que entrou no seu ventre o Filho 
do Deus vivo» 57
• 
· · -se 
Faltavam poucos dias para o Natal de 2006 e d1scuna 
muito - ainda na onda de um filme projetado nas salas de 
cinema naquela altura 58 - sobre a atitude de alguns teólogos 
que, em aberta dissonância com o ensino consolidado e u~a-
. . . . d d de Mana. 
nimemente acene pela Igreja, negavam a virg1n a e . h ,.,., 
O . . - d r· . da nn a11• 
utros, embora seJa uma questão ainda nao e 1n1 ' 
f. t o parto. 
a irmado que Nossa Senhora teria sofrido duran e r-
p · ezar O te 
recisamente nessa época, enquanto estávamos a r 
~ Audiência geral, 29 de agosto de 1996. •rito san· 
~7 e . . . . . «O Espl ' ) 
orno nos mforma Lucas no Evangelho , o anJO disse a Mana. (LC 1,3, 
too Natal, São Leão 
63 O Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, é constituído por Jesus+nós. Isto é, 
a nossa união vital com Jesus, de modo a formar, como nos ensina São Paulo, um só 
Corpo do qual jesus é a Cabeça e nós, os membros. Por isso, compreende-se que, na 
vida sobrenatural , seja essencial que cada um de nós permaneça unido ao seu princí­
pio, Jesus, e que adira cada vez mais intimamente a Ele. A grandeza incomparável de 
Maria está no facto de que Ela, mesmo sendo um membro da Igreja - o primeiro e o 
mais excelso, dado que é a Mãe de Cristo-, é também a única entre todas as criatu­
ras humanas a ser, ao mesmo tempo, Mãe da Igreja, precisamente porque Mãe de 
Cristo. Desde o primeiro instante da Encarnação, no seio de Maria, Ele uniu a si, que 
é~ Cabeça, o seu Corpo Místico, que é a Igreja. Por vontade divina, a maternidade da 
Virgem estende-se ao Cristo total, Cabeça e Corpo Místico. • 
. 
64 «Os fiéis e a Igreja costumam dirigir-se a Maria pelo nome de Mãe, de pr:feren-
c'.a ª todos os outros. Na verdade , ele pertence à substância genuína da devoçao ma­
riana, encontrando a sua justificação na própria dignidade da Mãe do Ver~o 
Encarnado. De facto como a divina maternidade é o fundamento da relação especial 
' e · J de com Cristo e da sua presença na economia da salvação operada por nSto _esus, 
modo que ela também constitui o fundamento principal das relações de Man~ co_m .ª 
lgreJ·a s d M . . . d E rnnrão no seu seio v1rg1-' en o ãe daquele que desde o pnme1ro instante a nca ""' ' 
nal · ' · M · a como Mãe 
'uniu a si, como Cabeça o seu Corpo Místico que é a Igreja. Por isso, an ' 
de Cristo, também é Mãe 'dos fiéis e de todos os Pastores, iSto é, da Igrej~» (PAU~O '1; 
Proclamação de Maria, Mãe da Igreja, Discurso de encerramento da terceira sessao 
Concilio v · ) attcano II , 21 de novembro de 1964 . 
6~ p 
IO X, Ad diem illum. 
73 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
Magno escrevia: «A festa de hoje renova, para nós 
0 . d . . , s sagr 
dos inícios de Jesus, nascido a Virgem Mana. E en a-
- • d ' 9Uant 
celebramos em adoraçao o nascimento o nosso Salv 0 
• - • . ador 
estamos a celebrar o nosso 1n1c10: o nascimento de C . , 
. , . · - 66 5 nsto marca O 1n1c10 do povo cnstao » . o mos verdade iram 
- · - d F 'lh D ente filhos de Maria na un1ca geraç~o o 1 o. . o mesmo tnodo 
que somos filhos de Deus, no Filho J~sus Cnsto (cf. Rm 8,28_ 
-30; Ef 1,4-5; Cl 1,16; Jo 1,2-3), assim também somos filhos 
de Maria, no seu Filho Jesus. Por isso, no acontecimento da 
maternidade divina de Maria, Deus torna-se Pai dos homens e 
os homens tornam-se seus filhos. 
Embora exista uma inegável distinção entre a geração física 
do Filho e a nossa, também existe ao mesmo tempo uma 
identidade de geração na comunicação da vida. Para Jesus 
Cristo - que trazia em si a própria vida divina do Pai, do Filho 
e do Espírito Santo - houve uma geração física; mas a mesma 
vida divina (a que também chamamos «graça santificante) é 
comunicada a quem aderir pessoal e livremente a Jesus Cristo. 
Por isso, só há uma única geração que a penas se distingue 
pelo momento em que se inicia para cada um de nós. Essa ge­
ração realiza-se em cada homem no momento em que começa 
a comunhão de vida (divina) com Cristo. É por isso que, com 
o Beato Guerric, abade d'Igny, cada cristão pode dizer com su~ 
prema alegria: «Maria gerou um único Filho, único para O ~ai 
no Céu, único para a Mãe na terra. A mesma e única Mãe Vi~­
gem que tem a glória de ter gerado o único Filho do Pai, 
abraça O mesmo seu único Filho em todos os seus mernbr~s 
(. - Mae 1st0 e, cada um de nós [nda]) e não desdenha chamar-se 
de todos aqueles em quem reconhece o seu Cristo já forrnaddo 
b de e ou que se formará» 67• E o Bem-aventurado Aelred, ª ª 
66 D . 3 5· PL 54, 
213-216os Discursos de São Leão Magno, Papa. Disc. 6 para o Natal 2- , , 
· 185 
67 o· · · PL ' 1scursos o· • Mana. 
187 _ 1
89 
' iscurso I na Assunção da Bem-aventurada Virgem 
74 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ... 
Rievaulx, descreve assim esta admirável maternidade: «Maria 
é verdadeiramente nossa mãe. De facto, por Ela nascemos não 
para O mundo, mas para Deus ... . Nascemos muito melhor do 
que por meio de Eva, pelo facto de Cristo ter nascido dela . 
... Ela é nossa mãe, mãe da nossa vida, mãe da nossa incorrup­
ção, mãe da nossa luz ... por isso, é para nós mais mãe que a 
nossa mãe segundo a carne» 68
. 
João Paulo II , numa homilia em Éfeso, descreveu muito 
claramente essa maravilhosa verdade com estas palavras: 
«Desde o momento do fiat - observa Santo Anselmo-, Maria 
começou a levar-nos todos no seu seio; por isso, o Natal da 
Cabeça também é o Natal do Corpo, sentencia São Leão 
Magno. Por seu lado, Santo Efrém tem uma expressão muito 
bela a propósito: Maria é a terra na qual foi semeada a Igreja. 
Com efeito, no momento em que a Virgem se torna Mãe do 
Verbo encarnado, a Igreja constitui-se de modo secreto, mas 
germinalmente perfeito, na sua essência de Corpo Místico: de 
facto , estão presentes o Redentor e a primeira dos redimidos. 
Doravante, a incorporação em Cristo implicará uma relação 
filial não só com o Pai Celeste, mas também com Maria, a mãe 
terrena do Filho de Deus» 69 . 
Portanto, o fundamento do nosso autêntico culto a Maria é 
este: o Filho de Deus, no momento em que se fez homem, fez-se 
também Filho de Maria e, tendo-nos incorporado a Ele, também 
nós nos tornamos nele filhos de Deus e filhos de Maria. « Se São 
Paulo conheceu com tanta clareza este mistério da união de 
Cristo com os seus membros, com que claridade devia res­
plandecer aos olhos de Maria, chamada a ocupar um lugar tão 
decisivo. Ela via, e numa luz incomparavelmente mais per­
feita , que o seu Filho haveria de ser a cabeça de um corpo 
imenso e que o mistério da Encarnação não se teria realizado 
----: Dos Discursos, Disc. 20, sobre a Natividade de Maria; PL 195,322-324· 
JoAo PAULO 11, Homilia em Éfeso, 30 de novembro de 1979· 
75 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
num instante no seu seio , mas ter-se-ia efetuado até ao firn 
dos tempos com a formação dos membros de Cristo. Ela corn­
preendia que, ao ser chamada a ser Mãe do Verbo encarnado 
devia concebê-lo na sua totalidade, como, depois, haveria d~ 
dizer Santo Agostinho, na cabeça e nos membros, e que a sua 
maternidade só conseguiria alcançar a perfeição na geração do 
Cristo completo. Era para este mistério que o arcanjo Gabriel 
pedia o consenso em nome de Deus, e Maria deu o seu assen­
timento a todo este mistério . Ao mesmo tempo que aceitou 
ser a Mãe de Jesus, ela aceitou ser a Mãe dos membros de 
Jesus: a partir deste dia, ela foi nossa Mãe» 70
. 
Esta maravilhosa realidade da maternidade de Maria, rela­
tivamente a nós, foi-nos revelada por Cristo na cruz, pouco 
antes de morrer, quando nos convidou, com as palavras «Eis a 
tua mãe», a acolher Maria na nossa vida como verdadeira mãe 
e, portanto, a comportarmo-nos como seus filhos . Não filhos 
adotivos, mas filhos verdadeiramente gerados por ela, nele. 
Enquanto se realizava a nossa Redenção, quando Jesus disse: 
«Mulher, eis o teu filho», revelou e proclamou a todos que, a 
partir daquele momento da Encarnação, Maria se tornara 
«mãe» de cada um de nós. E quando, pouco depois, Jesus, di­
rigindo-se a João - que representava todos e cada homem-, 
disse «Eis a tua mãe», revelou-nos aquilo em que nos tínha­
mos tornado, já a partir do momento da sua Encarnação: 
filhos desta Mãe. Cristo escolheu revelar-no-lo de maneira ex­
plícita na hora da maior dor, sua e da Mãe, a fim de que com­
preendêssemos como é grande o seu amor por cada um de 
nós e quanto lhes custámos. Se, para Maria, o parto do Filho 
em Belém não foi doloroso, no Calvário, o seu amoroso con­
sentimento na imolação daquele Filho foi para ela como um 
parto dolorosíssimo, que o «gerava» no seu estado de vítil1lª· 
10 M V B . 19-20-
. • ERNARDOT OP, Mana nella mia vita, Roma, Edizioni Paoline, 1954, PP· 
76. ha experiência mariana nos exorcismos e nos outro A mtn s momentos ... 
Ao mesmo tempo, naquelas dores, Maria também gerou cada 
um de nós, membros do Corpo Místico do Filho 1 1 _ 
A partir de quanto se disse até aqui, compreendemos bem 
que Maria não é nossa Mãe em sentido metafórico nem jurí­
dico nem moral. Antes de tudo, Maria é nossa Mãe porque 
nos gerou, comunicando-nos diretamente a vida divina e não 
só porque recebeu uma tarefa materna em relação a nós. 
Maria é minha Mãe, não porque «faz de minha mãe», mas 
porque é verdadeiramente min~a Mãe! Uma mulher é deveras 
mãe de um filho quando o concebeu, o trouxe durante nove 
meses no seu seio e, depois, o deu à luz. As tarefas maternas -
0 aleitamento, a alimentação e a educação do filho - só come­
çam depois do parto; mas também podem ser omitidas ou 
supridas por desleixo ou impossibilidade da mãe; mas a 
mulher que supre nunca será a verdadeira mãe daquele filho, 
porque não foi ela quem o gerou. Só será mãe em sentido me­
tafórico, porque desempenha as funções da verdadeira, ou em 
sentido jurídico, porque o adotou, ou em sentido moral, por­
que se ocupa da sua educação. É verdadeira mãe quem gera o 
filho . Maria é nossa verdadeira Mãe porque nos gerou com 
Cristo e em Cristo. Somos verdadeiramente seus filhos! 
Fomos gerados por ela e esta geração realiza-se no plano so­
brenatural: por isso, diz-se «maternidade espiritual» ou tam­
bém «maternidade na ordem da graça» . E sendo nós seus 
filhos e ela uma mãe perfeita, tem por nós o mesmo amor e os 
mesmos cuidados que teve com o Filho Jesus Cristo. De facto, 
11 Diz João Paulo II: «A expressão de Jesus: "Mulher, eis o teu filho" permite que 
Maria intua a nova relação materna que haveria de prolongar e ampliar a precede~te. 
Por isso, o seu "sim" a esse projeto constitui um assentimento ao sacrifício de ~nsto 
que ela generosamente aceita aderindo à vontade divina. Embora, no desigmo de 
Deus, a maternidade de Maria, se destinasse desde o início a estender-se ª toda ª hu­
~anidade, s6 no Calvário, por virtude do sacrifício de Cristo, ela se manifeSCa na sua 
dimensão universal» (Audiência geral, 24 de abril de 1997). 
77 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
uma mãe não estabelece diferenças entre a cabeça e os mem­
bros do filho nem tem preferências por algum deles. No cora­
ção de Maria há um amor indescritível, inimaginável , por 
cada um de nós. E, como a tarefa de uma mãe não se esgota 
em gerar O filho, mas continua ao alimentá-lo, educá-lo e pro­
tegê-lo, assim também ela faz com cada um d~ nós 
72
. 
Maria desempenhará a sua missão até ao fim dos séculos, 
com a sua intercessão e mediação materna, que é a prosse­
cução conatural da nossa geração por ela em Cristo. Na pró­
xima catequese examinarei amplamente de que modo ela rea­
liza essas tarefas maternas na nossa vida. Mas, primeiro, 
vejamos alguns exemplos estupendos extraídos das vidas dos 
santos e, depois, os que foram tirados dos exorcismos. 
Santo Afonso Maria de Ligório escreve: « Se se unisse o 
amor de todas as mães pelos seus filhos, de todos os esposos 
pelas suas esposas e de todos os Santos e Anjos pelos seus 
devotos, não se chegaria ao amor de Maria por uma única 
alma. O padre Nierembergh diz que o amor de todas as mães 
aos seus filhos é uma sombra comparado com o amor de 
Maria a um só de nós; e acrescenta: "Ama-nos muito mais ela 
sozinha do que todos os Anjos e Santos juntos"» 73
• E São Luís 
Maria Grignion de Montfort : «Reuni, se puderdes, todo o 
12 
Santo Agostinho vê a realização desta tarefa materna no seio de Maria até que 
ela «dar-nos-á à luz» para a vida eterna no Paraíso: «Todos os predestinados, para se 
tornarem conformes com a imagem do Filho de Deus, neste mundo vivem encerra­
dos no seio de Maria, onde são guardados, alimentados e criados por esta boa mãe 
até ;~e ela os gere para a glória» (PL 40,399; PL 40,659-660) . . 
19 
O texto é 0rad0 de Le glorie di Maria, Parte prima, 2.ª ed., Editrice Ancilla, 
94, p. 63- O texto dos Padres Redentoristas é o seguinte: «Se se unisse o amor que 
todas as mães têm pelos flh d tos 
. 1 os, to os os esposos pelas suas esposas e todos os san 
e ~TlJOS pelos seus devotos, não chegaria ao amor que Maria tem ~or uma só alma. 
Diz o padre Nierembergh que o amor que todas as mães têm aos seus filhos é uma 
sombra em compara"~º · nos . "" com O amor que a um só de nós tem Maria: muito mais 
ama ela sozmha acrescenta d · ntoS* 
(O 
5 
. . ' ' 0 que nos amam os anjos e os santos todos JU 
1 
pered_ ~nt~ali, Serie B, Trattati speciali: Gesu Cristo Maria SS e i Santi, vol. V, L.e 
g one 1 ana, c. I, III , Roma-Pagani, Edizione PP R~dentoristi·, 1954, PP· óO-ól). 
78 
•nha experiência mariana nos exorcismos e nos out A rn1 ros momentos .. . 
amor natural das mães do mundo inteiro aos seus filhos no 
coração de u~a só_ mãe por u~ filho único. É verdade que 
esta mãe amara muno este seu filho . No entanto, deve dizer-se 
com verdade que Maria ama ainda mais ternamente os seus 
filhos que aquela mãe amaria o seu. Ama-os não só com sim­
ples afeto, mas também com eficácia. O seu amor por eles é 
ativo e operoso» 74
• 
Santo Afonso Rodríguez, irmão leigo da Companhia de 
Jesus, numa festa da Assunção, encontrando-se «aos pés de 
uma imagem de Maria e, sentindo-se arder de amor à Santa 
Virgem, exclamou repentinamente: "Minha Mãe amabilíssima, 
sei que me amas, mas não me amas tanto quanto eu te amo." 
Então, Maria, como que ofendida no seu amor, respondeu: 
"Que dizes , Afonso, que dizes? Oh! Quanto maior é o amor 
que nutro por ti comparado com o teu por mim! Sabes que a 
distância que existe do meu amor ao teu é muito maior que a 
que existe entre o céu e a terra"» 75
. Ao amor da mãe deve cor­
responder o amor do filho. Santo Anselmo de Aosta reza 
assim: «Jesus, Filho de Deus, suplico-te: pelo amor infinito 
que tens a tua Mãe, concede-me que eu a ame como Tu a 
amas e queres que seja amada .» E São Maximiliano Maria 
Kolbe escrevia: «Não temais amar demasiado a Imaculada 
porque, por maior que for o vosso amor por Ela, nunca pode­
reis igualar o amor que Jesus lhe dedicou, em cuja imitação 
está toda a nossa santidade.» 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Um dia, num período em que eu meditava muito sobre a 
maternidade de Maria em relação a cada homem, enquanto eu 
7
i Ii d l . · o 1 1 Scritti espirituali, rattato e la vera devozione a Mana, 202 , m pere, vo · , 
Roma, Edizioni Monfortane, 1990, p . 483. . 
1
) Citação de Santo Afonso Maria de Ligório referida em italiano corrente, m Le 
glorie di Maria, pp. 72-73; no texto dos Padres Redentoristas, citado na nota 45 , é 
trans · cnto nas pp. 75-76. 
79 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
exorcizava o demónio, ele gritou com grande raiva: «A partir 
da cruz, Aquele revelou a todos que ela é chamada a Rainha e 
a Mãe. Arruinou-nos! Confia .. . , confiada, foi confiada, foi con­
fiada a humanidade. Para que cada homem saiba isto, Ele 
revelou-o naquele momento (diz um palavrão)! Sucedeu 
naquele momento: a humanidade renasceu, mas que sabe 
disso a humanidade? Renasceu no seio daquela, toda, toda 
(di-lo num tom mais forte), mas não o sabe!» 
Outras vezes, o demónio exprimiu-se espontaneamente 
sobre a maternidade de Maria relativamente a nós. Um dia 
' 
enquanto rezávamos a Nossa Senhora, ele exclamou: «Vós 
pensais que está lá em cima, mas ela não está lá em cima; ela 
está perto~ bastardos, bastardos, que fizestes para ela estar tão 
perto, eh? E quando morrerdes, ela está lá, ela está lá (repete­
-o com raiva) e espera um pensamento vosso, uma palpitação 
do vosso coração para o bem, uma chamada vossa Àquele (a 
Jesus) e ela está lá, ela está lá e espera por vós com o coração 
aberto de mãe! Tu sabes o que é uma mãe, eh? Uma mãe olha 
ternamente para todos os filhos, ensina-lhes o bem, chama-os 
ao bem e chora, chora se o seu filho, o filho, o filho não a 
escuta porque sabe que eu, eu tomá-lo-ei, se não a escutar, eu 
tomá-lo-ei!» 
Outra vez, disse: «Comas suas mãos com as suas mãos 
' 
acaricia cada filho, ama cada filho, sobretudo os que fazem 
mal~ sobretudo os que pecam e estão comigo, ela acaricia-os e 
faz-me mal, mal. Acaricia-os a todos e chora e aquelas lágri­
mas, aquelas lágrimas luminosas, estupendas, descem pelo 
seu rosto e Ele (Jesus), e Ele não lhe pode dizer, não lhe pode 
dizer, não pode dizer que nãããooo! (aqui, lançou um urro tre­
mendo e prolongado). » 
80 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros mame t nos ... 
uma vez, exprimiu assim o amor de Nossa Senhora por 
nós: «As suas mãos, as suas mãos tão meigas, tão frescas , para 
nós são incandescentes. As suas mãos, sempre que tocam 
num de nós, destroem um de nós. Se tu soubesses O que me 
custa dizer o que digo!» 
Outra vez, com um tom desdenhoso, exprimiu-se assim: 
«Ela vem logo que a chamas. Que mamã não faria outro tan­
to? Como uma mãe, quando o filhinho chama, corre.» 
Outra vez disse: «Aquele manto faz-me mal, aquele manto 
branco e azul. Sob aquele manto ... (expressão com que indica 
que lá estamos protegidos) , aquele é a minha ruína. Basta dizer­
des Ave, aquela corre.» 
Era no dia da memória litúrgica do nascimento de Nossa 
Senhora (8 de setembro de 2008) e, precisamente referindo-se 
a Nossa Senhora, o demónio exprimiu-se do modo seguinte: 
«Preparou-se lá em cima, preparou-se lá em cima, estou (pala­
vrão). Mesmo quando eu estava, ela estava a preparar-se. 
Preparava-se, preparava-se, preparava-se, a Belíssima, a Lim­
pa, a Clara como uma orvalhada, a Esplêndida , Esplêndida 
como a luz que passa através da água. Ela é Santa pela Con­
ceição imaculada. Porque me faz maldito? Tu não sabes o que 
me espera! (aqui, o Maligno talvez exprimisse a sua desilusão e o 
seu aborrecimento pelas reações dos outros demónios por causa 
destes seus involuntários louvores à Virgem Santa). Ela é cheia de 
luz, cega-me, cega-me. Maldita! Quando nasceu o mundo fe­
chou-se num instante. Toda a criação parou a olhar para ela, 
toda a criação, toda: as estrelas, o ar, o fogo, a água, a terra, 
toda a criação parou, ninguém se apercebeu a não ser eu; eu 
sabia-o, eu sabia quem era e não pude fazer nada, não pude 
tocar nela. Ela era pura, pura. Basta, basta, não me faças recor-
81 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
dar! Ela é como o bálsamo, suaviza as feridas, as mais profun­
das. Se ao menos soubésseis quanto Ela vos ama, viveríeis a 
vossa vida, jubilosos, sem medos, sem pecado, porque pelo 
seu amor vós compreenderíeis quanto mal o pecado faz ao 
Filho.» 
Neste ponto, o Maligno teve uma reação de rebelião 
' porque não queria continuar e disse alguns palavrões à 
Virgem Maria e a Jesus; depois continuou, dizendo: «Tu és seu 
filho , tu és seu filho . Sabes o que é que isto quer dizer? Heim? 
Sabes o que é que isto quer dizer? Que lhe foste confiado. E 
sabes por quem? Heim? (palavrão)! Tu e todos os outros?! 
Foste confiado por Aquele (palavrão) na Cruz (palavrão)! E, 
então, ela tornou-se uma Mãe e quando és mãe!. .. » 
Parou aqui, mas as últimas palavras «e quando és mãe!» 
foram ditas num tom que nos faz compreender claramente o 
significado da expressão , ajudados também por tudo o que 
tinha dito antes: Nossa Senhora, que é a Mãe por excelência, 
toma muito a sério a sua tarefa de Mãe relativamente a cada 
homem, que se conseguíssemos compreender o que ela é para 
nós por esta maternidade, e o que ela faz por nós, transborda­
ríamos de alegria e de gratidão filial. 
§7 - A intercessão-mediação de Maria 
Catequese 
Maria Mãe da graça, Mãe da vida 
Ao dar-nos o Filho e unir-nos a Ele Maria comunica-nos 
' 
cada graça do Filho. Como já vimos na catequese anterior, 
Maria, depois de nos ter gerado realmente na única geraç~o 
do Filho Jesus Cristo, não nos abandona, mas ocupa-se de nos 
como faz toda a verdadeira mãe. Portanto, depois de nos ter 
82 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros mom t en os .. . 
gerado, Maria contribu~ para o desenvolvimento da vida para 
que fomos gerados: a vida da graça. «Por este motivo, Maria é 
chamada Mãe da graça, Mãe da vida» 76
• Evidentemente, Maria 
não produz a graça, não é fonte da graça. Contudo, como é 
Mãe de Cristo, autor e fonte de cada graça, a graça de Cristo é­
-nos comunicada através dela, podendo, por isso, chamar-se 
de pleno direito Mãe da graça. É no Pai, por meio de Cristo no 
Espírito Santo, que tem origem a graça santificante, isto é, a 
vida divina que chega até nós, mas esta passa através de 
Maria. De facto , como Maria é a única entre todas as criaturas 
da terra na qual se realizou o mistério da Encarnação, a graça 
santificante continua a ser-nos comunicada pelo Pai por meio 
da natureza humana de Jesus Cristo no Espírito Santo, mas é 
participada antes em Maria, que no-la comunica. Com a coo­
peração do Espírito Santo, ela transmite-nos, juntamente com 
a natureza humana de Cristo - e na sua dependência-, a gra­
ça santificante que ela possui em plenitude. É por vontade de 
Deus que nós recebemos não só a graça santificante, mas tam­
bém as graças atuais e todos os outros dons, por meio dela. 
Por isso, precisamos de pedir a intercessão de Maria, de 
nos confiarmos a ela e de nos abrirmos à sua ação materna, 
para que a graça de Deus possa ser abundantemente derrama­
da em nós. Embora não tenha a sua fonte em Maria, a graça 
tem uma característica mariana, uma «marca» mariana con­
génita, uma espécie de fragrância virginal, um indelével per­
fume maternal, um reflexo mariano luminoso e profundo, de 
que deriva aquele sentir instintivo dos fiéis, que sentem a 
necessidade de voltar-se para a Virgem Maria, além de o fazer 
para o Pai, para Nosso Senhor Jesus Cristo e para o Espírito 
Santo. 
16 
]OÃO PAULO II , Audiência geral, 26 de outubro de 1995 . 
83 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
Maria está intimamente associada 
ao mistério vital do Cristianismo 
A nossa incorporação em Cristo só pode acontecer pela 
ação do Espírito Santo, agente principal de toda a santificação; 
mas, em Maria e por meio dela, Jesus Cristo faz-nos membros 
do seu Corpo . Ele veio até nós através da cooperação de 
Maria. Encarnando, Ele, Filho do Pai, fez-se também filho de 
Maria; por isso, não pode haver em nós uma união à natureza 
humana do Filho senão através dela. Ao declarar «Maria, Mãe 
da Igreja», no encerramento [ da terceira sessão] do Concílio 
Vaticano 11, Paulo VI disse: «A nossa união a Cristo não pode 
ser separada daquela que é a Mãe do Verbo Encarnado e que o 
próprio Cristo associou intimamente a si para alcançar a nossa 
salvação» 77
. E não há continuação e crescimento nesta união 
senão através dela. Assim como o início da Redenção é simul­
taneamente obra do Espírito Santo e de Maria, assim também 
todo o desenvolvimento da Redenção é obra sua conjunta­
mente. Cristo nasce e cresce em todos os batizados por obra 
conjunta do Espírito Santo e de Maria. Juntos formaram o 
corpo físico de Cristo e juntos fazem evoluir o seu Corpo Mís­
tico, conduzindo-o à consecução da plenitude da sua idade 
adulta (cf. Ef 4,13) até ao fim dos tempos 78
• É este o sentido 
das palavras pronunciadas por Paulo VI: «Se quisermos ser 
cristãos, devemos ser marianos» 79• 
À luz de tudo o que vimos até agora, compreende-se o 
porquê de a devoção a Maria - diferentemente da devoção aos 
77 
PAULO VI, Proclamação de Maria Mãe da Igreja, Discurso de encerramento da 
terceira sessão do Concilio Vaticano II , 21 de novembro de 1964. 
• 
78 
Quando se fala de «obra conjunta de Maria e do Espírito Santo» não se excl~~ 
eV1dentemente, a ação do Pai e da natureza humana do Filho Jesus Cristo, que sa 
sempre simultâneas, mas pretende-se sublinhar a ação principal do Espírito Santo na 
santificação das almas. 
79 
Da Homilia no santuário de Nossa Senhora de Bonária» em Cagliari (Itália), a 
24 de abril de 1970. ' 
84 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos O t u ros momentos ... 
outros santos - ser não só importantíssima, mas também 
necessária,demónio reage com as habituais blasfémias, pa­
lavrões, etc., mas à medida que tal domínio se vai enfraque­
cendo , a pessoa começa progressivamente a conseguir rezar cada 
vez melhor esta bonita oração mariana. 
Estou certo que a leitura deste livro nos ajudará a todos a 
crescer na fé , esperança e caridade, e a dar abundantes frutos de 
santidade para glória de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. 
Lamego, 19 de março de 2011 
Solenidade de São José, Esposo da Virgem Santa Maria 
PE. DUARTE SOUSA LARA * 
* Presbítero da Diocese de Lamego. Doutorou-se em Teologia junto da Pontifícia 
Universidade da Santa Cruz, onde colabora como docente desde 2005. Actualmeme 
é pároco da Paróquia de Folgosa do Douro (Armamar), professor no Instituto Supe­
rior de Teologia Beiras e Douro (Viseu), capelão do Mosteiro de Nossa Senhora da Eu­
caristia (Lamego) e exorcista. 
6 
Prefácio 
Mais do que fazer uma apresentação conceptual e uma ava­
liação do que está escrito neste livro interessante, preferi seguir o 
caminho do coração para descrever os sentimentos, as impres­
sões, as reflexões e os efeitos benéficos que brotaram da leitura 
do texto, que o padre Francesco Bamonte gentilmente me sub­
meteu para uma prévia e cautelosa avaliação. Posteriormente, o 
leitor poderá avaliar diretamente o seu alcance e apreciar os múl­
tiplos aspetos nele encerrados. 
São quatro os pontos de vista de que pude extrair elementos 
de meditação intensa e de comprazimento interior, à medida que 
eu avançava na leitura. 
1. Em primeiro lugar, brotaram alguns sentimentos que muito 
me comoveram, beneficamente: pude contemplar a grandeza e a 
beleza de Maria, de maneira tão luminosa e incisiva, como nunca 
me tinha acontecido. É claro que se trata de coisas já conhecidas , 
mas são descritas com uma vivacidade e expressividade que ilu­
minam o ânimo e a mente, suscitando profundas emoções de 
admiração e de amor para com a Santíssima Virgem. 
Paradoxalmente, verifica-se este fenómeno estranho: dos rela­
tos turbulentos dos exorcismos emerge, em toda a sua elevação e 
magnificência, a figura puríssima e esplêndida da Mãe de Deus, 
diante de quem todos ficam deslumbrados e fascinados . Poder­
-se-ia dizer que, perante as tenebrosas manifestações satânicas, 
aparece ainda com maior fulgor aquela que foi escolhida, com a 
7 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
força da sua santidade, para envergonhar e desmascarar a feal­
dade e a mesquinhez de Satanás. 
Por isso, nasce destes relatos uma terrível representação do 
Maligno, que se mostra repelente e miserável , débil e derrotado , 
mesmo na ferocidade e na fealdade da sua raiva e do seu ódio 
implacável e blasfemo. De facto , Satanás revela-se nestes relatos 
ainda mais abrutalhado e asqueroso, provocando reações de re­
pulsa e de desgosto. Deste modo, o leitor é estimulado na luta e 
desaprovação contra o diabo e todas as suas manobras, de modo 
que nunca se deixe seduzir nem enganar. Os seus olhos abrem-se 
à clara visão de uma realidade monstruosa e negativa, de que é 
preciso desconfiar e não se deixar, de modo nenhum, iludir. 
De onde deriva um convite urgente e sereno a amar com todo 
o coração a Virgem Maria e, através dela, o seu dileto Filho, Jesus 
Cristo . Por isso, o leitor encontra dentro de si muitos movi­
mentos que o impelem eficazmente à oração e a uma entrega 
confiante, cada vez mais total e íntima, a Maria Santíssima, para 
permanecer ligado ao seu socorro materno e repelir todas as se­
duções diabólicas. Trata-se de estabelecer um caminho autenti­
camente cristão em plena fidelidade a Cristo e ao seu amor, na 
obediência e docilidade à sua Palavra e à vontade do Pai, na con­
fiança filial à sua Mãe. 
2. Os sentimentos são acompanhados por algumas considera­
ções teológicas de grande relevo sobre argumentos tão delicados e 
complexos como a mariologia e a demonologia. Nota-se com 
uma precisão clara a dimensão mariológica da economia salví­
fica, já que o livro mostra a presença e a ação de Maria ao longo 
de todo o percurso da história da salvação: das origens da criação 
à plenitude dos tempos da encarnação do Verbo, da obra de re­
denção com a morte e a ressurreição , através do caminho da 
Igreja , até à parusia final. Não se poderá compreender plena­
mente o projeto divino de amor para salvar a hun1anidade, se 
não se considerar devidamente a realidade de Maria que perma­
nece subordinada à ação principal do Verbo encarnado, embora 
8 
Prefácio 
estivesse plenamente envolvida com ela de maneira tão íntima e 
vital , que não se poderá esquecer ou marginalizar. 
Consegue a sua cooperação insubstituível no evento redentor 
e no seu desapego eficaz ao longo de um percurso histórico. Ela 
presta-se, generosa e totalmente, a esta tarefa altíssima; nunca se 
separa dela nem se mostra reticente. Ao contrário, aparece com 
evidência a sua disponibilidade e submissão à vontade de Deus , 
que a leva a desenvolver todas as suas forças na assistência ma-
ternamente cuidadosa com os filhos redimidos pelo seu Filho. 
Para o cristão, isto constitui um grande conforto e uma confiança 
serena. 
Por causa desta presença mariana na economia salvífica, é 
muito mais forte e cruel a luta de Satanás contra aqueles que são 
protegidos e assistidos por Maria. Uma luta frenética e ines­
gotável , insidiosa e prepotente até à possessão diabólica com 
manifestações de extrema desordem e perturbação. E o diabo 
vai-se embora derrotado e miseravelmente desbaratado. A vitó­
ria pertence a Cristo e à Mãe, não ao Maligno. 
Trata-se de um dado de facto incontrolável, que suscita ma­
ravilha e uma alegria surpreendente. O cristão não pode deixar­
-se subjugar pelas forças adversas, porque com ele também Maria 
combate· e a Maria está unida a comunidade dos crentes, tendo 
' 
por base o poder da redenção realizada por Cristo. São estas as 
possibilidades que brotam dessas experiências exorcísticas. O 
bem prevalece sobre o mal, a verdade sobre a mentira, o amor 
sobre o ódio, a humildade sobre o orgulho. Surge espontânea a 
oração de louvor e de agradecimento ao Senhor omnipotente e o 
vitorioso, nosso Salvador, que «nos deu e pôs ao nosso lado a sua 
Mãe amorosa» . 
3. Sublinhe-se uma maravilhosa correspondência entre tudo o 
que é descrito no livro e os dados da revelação cristã. Nos Evan­
gelhos, vemos muitas vezes que Satanás reconhece a divindade 
de Cristo e manifesta-a com perturbação e temor, tal como é nar­
rado nos relatos de exorcismos (cf. Me 1,24[; 3,11 ; 5,6]) ; por 
9 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
outro lado, Jesus reconhece-o e ameaça-o, ordenando-lhe que 
saia do homem e que nunca mais volte a ele (cf. Me 1,25; 3,12; 
5,8). O seu saber não é contradito por Jesus, mas validamente 
reconhecido (cf. Me 1,34) e confirmado por outras passagens em 
que se usam os mesmos termos (cf. Me 1,11 ; 9,7; 15 ,39). Por­
tanto o conhecimento dos demónios refere-se ao aspeto decisivo 
' 
da pessoa de Jesus, à sua relação filial com Deus. Contudo, Jesus 
proíbe-lhes que falem disso (cf. Me 1,34; 3 , 12). 
Essa proibição não se refere ao conteúdo das afirmações dos 
demónios, mas ao modo de manifestá-lo , porque o verdadeiro 
conhecimento de Jesus também comporta o seu seguimento, a 
aceitação da sua presença e da sua obra salvífica. Precisamente 
neste ponto, os diabos permanecem do lado de fora da autêntica 
relação com Cristo e, por isso, podem ser instrumentos válidos 
para um testemunho verdadeiro sobre ele mesmo. Isto é, eles 
conhecem jesus, mas não o aceitam nem, muit? menos, o amam, 
pelo contrário, desdenham e detestam-no. Daí a sua condenação. 
E eles agem do mesmo modo com Maria. Revelam os seus 
dotes e a sua graça, a santidade e a humildade, as suas prerro­
gativas únicas - como a Imaculada Conceição, a Materni­
dade Virginal, a sua cooperação na redenção-, mas alimentam 
contra ela um ódio irreprimível e venenoso. Se pudessem, ani­
quilá-la-iam. Por isso , opõem-se à sua ação e consideram-na 
a mulher destruidora do seu império. Daquise quisermos beber com abundância na fonte da 
vida. De facto, embora tenha permanecido virgem, a Senhora 
deu a Cristo a natureza humana tornando-se deste modo ver­
dadeira Mãe do Filho de Deus feito homem, Jesus Cristo. Por 
conseguinte, Ela está intimamente associada ao mistério vital 
do Cristianismo. O Filho de Deus fez-se homem ao fazer-se 
filho de Maria. Portanto, se quisermos tornar-nos como Ele , 
dever~mos ter em nós esta dupla qualidade: ser como Ele 
filhos de Deus e filhos de Maria. A piedade de uma alma não 
seria verdadeiramente cristã se não compreendesse na sua 
intenção Maria, Mãe do Verbo encarnado. 
Para potenciar a intercessão de Maria 
na nossa vida: a consagração 
Assim como Maria disse o seu «sim» aceitando-nos por 
filhos, assim também nós devemos dizer o nosso «sim» , acei­
tando-a sem condições, como Mãe. Na verdade, tal como 
formou Cristo na Encarnação, ela quer formá-lo também em 
nós, o que só é possível na medida em que lho permitirmos, 
abrindo-nos cada vez mais à sua ação materna. Os Padres do 
Concílio Vaticano II recordam aos fiéis que Maria «não im­
pede minimamente a união imediata dos crentes a Cristo, mas 
facilita-a»ªº. Esta atitude de abertura à ação materna de Maria 
tem a sua expressão máxima na consagração ao seu Coração 
Imaculado, que - como ilustrarei, se Deus quiser, mais profu­
samente no meu próximo volume - consiste no dom tota_l _de 
si a Maria, para que pela ação conjunta e principal do Espinto 
Santo, ela possa conformar-nos cada vez mais plenamente ª 
Cristo. A partir da Encarnação, o Espírito Santo, através da es-
80 
Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium 53· 
85 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
treitíssima união que realizou com Maria - como longa e por­
menorizadamente explica São Maximiliano Kolbe -, não 
opera a nossa santificação a não ser por meio de Maria: «O Es­
pírito Santo age unicamente através da Imaculada sua Esposa. 
Por isso, podemos concluir que ela é mediadora de todas as 
graças do Espírito Santo. E, como cada graça é dom de Deus 
Pai através do Filho e do Espírito Santo, segue-se que não há 
graça que não seja propriedade da Imaculada, que lhe foi 
dada para que a distribua livremente» 81
. 
Por isso, compreende-se que quanto mais perfeito for o 
dom de nós mesmos a Maria, mais rápida, eficaz e profunda 
será a ação do Espírito Santo em nós, que assim poderá unir­
-nos cada vez mais intimamente à natureza humana de Jesus 
Cristo; e Ele à sua natureza divina e, por meio dela, ao Pai, 
operando assim a nossa progressiva «divinização», que che­
gará ao seu pleno cumprimento no momento em que entrar­
mos no Paraíso. A autêntica devoção a Nossa Senhora, assim 
entendida, não é nem mero sentimentalismo nem infanti­
lismo. Com efeito, embora se nos exija em relação a Maria a 
mesma atitude de dependência e de abandono cheio de con­
fiança e de amor da criança em relação a sua mãe, ela [a devo­
ção a Maria, nt] não bloqueia o nosso crescimento espiritual, 
antes o favorece. Ao cooperar com a nossa união com Cristo, 
Maria continua a sua obra materna para connosco, acompa­
nhando-nos no crescimento e amadurecimento da vida divina 
em nós, até que Cristo esteja plenamente formado em nós. 
Por isso, a Senhora não nos faz «estar parados» , mas conduz­
-nos, passo a passo, a um cristianismo adulto e responsavel­
mente empenhado. De facto , ao pedir a nossa cooperação, ela 
mobiliza-nos para todo o percurso da nossa vida terrena. 
. e1 Lett~~ª.ª Fratel Salesio (de 28/07/1935) , in Scritti, II, Roma, ENMI (Editrice Na-
z1onale Milma lmmacolata), 1997, p. 378. 
86 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ... 
Que papel têm os santos nesta proeminência de Maria, 
acerca de cada dom de Deus que nos é dado? 
Em relação a Maria, os santos dão-nos uma ajuda «exter­
na» , isto é, podem obter-nos aquelas graças particulares que 
só Maria pode conseguir-nos de Cristo. Escreve Santo Afonso 
Maria de Ligório no seu famoso livro As Glórias de Maria: 
«Deus, para honrar a sua Mãe, tendo-a constituído Rainha dos 
santos e querendo que todas as graças sejam distribuídas pelas 
suas mãos, também quer que os santos recorram a ela para 
obter as graças para os seus devotos» 82
. 
Os santos residem na glória; por isso, a sua caridade em 
relação a nós não enfraquece, mas aumenta; e, como têm a 
faculdade de interceder por nós, mesmo que não lho peça­
mos, por maior razão o fazem quando nos apresentamos a 
Deus com eles, isto é , quando pedimos a ajuda das suas ora­
ções, apresentando a Deus os seus méritos. Mas tudo o que 
eles nos obtiverem de bem será sempre um dom de Deus, 
fonte de todo o bem, por eles obtido através da intercessão 
materna de Maria, sem a qual, como já vimos, nenhum dom 
de Deus chega até nós. 
Como Maria intercede por nós 
A missão materna de Maria em relação a nós «apareceu em 
todo o seu valor após a Assunção e haverá de prolongar-se 
pelos séculos até ao fim do mundo. Tendo entrado no reino 
eterno do Pai, mais próxima do divino Filho e, portanto, de 
todos nós, ela pode exercer a função de intercessão mater~a 
que lhe foi confiada pela Providência divina. O Pai celeSte quis 
pôr Maria próxima de Cristo e em comunhão com Ele, que 
"pode salvar de um modo definitivo, os que por meio dele se 
---8l Le 1 . . . . . . . V r 1-2. pp. 167-194, 
g one dr Mana Parte prima Ed1tnc1 Anc1lla, cap. , pa · ' 
19942 N ' ' · p 222-273. 
· 0 texto citado pelos Padres Redentoristas é transcnto nas P · 
87 
. Maria e O Diabo nos exorcismos 
A Virgem 
. m de Deus pois Ele está vivo para sempre a fim d aproxima ' _ . _ ' e 
. der por eles" (Heb 7, 25): a 1ntercessao sacerdotal d 1nterce . o 
Redentor quis unir a materna da Virgem ... Como Mediadora 
aterna Maria apresenta a Cristo os nossos desejos e as nossas 
:plicas,' e transmite-nos os dons divinos, intercedendo conti~ 
nuamente a nosso favor» 83
. «Com o seu amor de Mãe, cuida 
dos irmãos do seu Filho que ainda peregrinam e se debatem 
entre perigos e angústias até que sejam conduzidos à Pátria 
feliz . Por isso, a santíssima Virgem é invocada na Igreja com 
títulos de advogada, auxiliadora, amparo e medianeira» 84
. 
o cardeal J. H. Newman escrevia assim sobre a intercessão 
materna de Maria: «Por isso, considero impossível para aque­
les que creem que a Igreja é um único grande corpo no céu e 
na terra, onde cada criatura santa de Deus tem o seu lugar, e 
cuja oração é a vida, que não perceba, imediatamente, quando 
reconhecem a santidade e dignidade da Bem-aventurada 
Virgem, que o seu ofício lá em cima seja de intercessão pelos 
féis militantes e que precisamente a nossa relação com ela 
deva ser a de assistidos , em relação ao seu patrocínio e que, 
na eterna inimizade existente entre a mulher e a serpente, en­
quanto a força da serpente é a de ser o Tentador, a arma da Se­
gunda Eva e Mãe de Deus é a oração ... Por isso, como estas 
ideias da sua santidade e grandeza penetraram gradualmente 
no tecido da cristandade, assim também a do seu poder de in­
tercessão a seguiu imediatamente depois e juntamente» 85
• 
Alguns autores hodiernos, justamente preocupados com 
salvaguardar a única e universal mediação de Cristo entre 
Deus e os homens, para evitar que surjam equívocos no uso 
83 J · p 
OAO J\ULO 11, Audiência geral, 24 de setembro de 1997. 
84 
Lumen gentium 62. Leia-se também o que diz João Paulo II na Audiencia geral de 
24 de setembro de 1997, reafirmando o uso dos títulos de «advogada, auxiliadora, 
amp:ro e medianeira», aplicados a Maria. 
~ The Mocher 01 God, edição com introdução e notas de S. L. Jaki, Pinckney (MO, 
Real View Books, 2003, p. 64_ 
88 
. ha experiência mariana nos exorcismos e no 
A ,ntn s outros momentos ... 
d termo «mediação», preferem falar só de . t _ 
o bI· h zn ercessao de 
N Ssa Senhora. Su 1n am que, com a sua oraça~ . 
0 d. o, intercede 
ternalmente para 1spor a nossa alma a acolh rna 1 . er a graça de 
Cristo. Escreve Marce ~o Bor~o~1: «Cristo dá aoscrentes a sua 
aça diretamente atraves da mzssao do seu Espírito (L gr . umen gen-
riurn 69). Contudo, Mana desempenha o seu papel "prototípico'' 
materno na Igreja, promovendo a atitude pessoal de acolhimento 
do dom da salvação proveniente de Cristo» 86
. Com certeza a vida 
da graça - a vida divina - é ação imediata de Deus, pdr meio 
da natureza humana de Cristo sobre as nossas almas, mas 
Deus estabeleceu que Maria não é estranha a tal ação. Ela in­
tercede cooperando no nascimento e no desenvolvimento dos 
homens redimidos, cumprindo assim a sua função materna a1_ 
Nossa Senhora obtém-nos tudo o que Deus nos dá 
A Virgem Maria «intercede entre o Filho e os filhos: inter­
cessão duplamente materna. E não só. Juntamente com o 
Filho intercessor, intercede junto do Pai , no [seu] papel de 
Mãe da sua casa e da sua família» 88
. Com a sua intercessão 
materna, obtém-se tudo o que Deus nos dá. O Santo Padre 
João Paulo II afirmava que esta é «uma certeza que, a partir 
do Evangelho, se tem consolidado através da experiência do 
povo cristão. O grande poeta Dante, na linha de São Ber­
nardo, interpreta-a estupendamente, quando canta: "Mulher, 
és tão grande e tanto vales/ que, quem quiser graça e a ti não 
recorre, / seu desejo quer voar sem asas"» 89
. 
86 M. BORDONI , Gesu di Nazareth Signore e Cristo. Saggio di cristologia sistematica, 
vol. III , Roma, Herder-Pontifícia Universidade Lateranense, 1986, p. 966. 
87 Cf. PAULO VI, Exortação Apostólica Signum magnum, 13 de maio de 1967, n. 1. 
Cf. também PAULO VI, Solene Profissão de Fé (Credo do Povo de Deus), 30 de junho de 
1968; cf. ]OAO PAULO II, Redemptoris Mater 4 7. . 
88 Cf. S. RAGAZZINI , Maria vita dell 'anima, Frigento (AV), Ed. «Casa manana», 
1984, pp. 53-54. 
89 JoAo PAULO II, Carta apostólica Rosarium Virginis Mari~ sobre o Santo Rosário, 
16 de outubro de 2002, n. 16. 
89 
. Maria e O Diabo nos exorcismos 
A v,rgem 
A intercessão de Maria é mediação de Cristo 
A intercessão de Maria é claramente - e não pode deixar d 
ser assim_ «mediação» em Cristo. Os teólogos católicos sã: 
concordes em afirmar que esta verdade está formal e implici­
tamente contida no depósito da revelação, no sentido de que 
esta atividade de Maria é prolongamento e sucesso da sua coo­
peração com Cristo na terra e da sua maternidade espiritual a 
favor dos homens. Maria continua, ainda hoje, a fazer tudo 0 
que iniciou na terra, quando se associou à missão salvífica do 
Filho, e fá-lo-á até ao fim dos tempos, em união ao Espírito 
Santo, ao Filho Ressuscitado e ao Pai Eterno, favorecendo 0 
nosso acolhimento da graça, do perdão e dos dons do Espírito 
Santo que o Filho mereceu para nós. 
João Paulo II, retomando o ensinamento do Concílio Vati­
cano II, aprofundou o tema intercessão-mediação de Maria, 
esclarecendo que «a cooperação de Maria participa, no seu cará­
ter subordinado, da universalidade da mediação do Redentor, o 
único mediador» (cf. RVM 40). Por isso, é mediação subordi­
nada e participada na única mediação de Cristo junto do Pai. 
Em nota, reporto o parágrafo 38 da Encíclica Redemptoris 
Mater, na qual o Venerável Pontífice apresenta essa doutrina 90
. 
90 «A Igreja sabe e ensina, com São Paulo, que um só é o nosso mediador: "Há um 
só Deus, e um só é também o mediador entre Deus e os homens, o homem Crist0 
Jesus, que se entregou a si mesmo como resgate por todos" (1 Tm 2,5-6). "A função 
materna de Maria para com os homens de modo nenhum obscurece ou diminui esta 
única mediação de Cristo, mas manifesta até a sua eficácia": é mediação em Crist0· A 
Igreja sabe e ensina que "todo o influxo salutar da Bem-aventurada Virgem a favor dos 
ho~ens ... se deve ao beneplácito de Deus e ... brota da superabundância dos méritos de 
Cnst~, funda-se na meditação [feita sobre, nt] Ele, dependendo absolutamente dela e 
~tmgmdo toda a sua eficácia; de modo que não impede minimamente o contacto 
imediato dos cremes com Cristo, antes o facilita". Este salutar influxo é sustentado 
pelo Espirito Santo · b · ·ciando que, assim como cobriu a Virgem com a sua som ra mi 
nela a maternidad d. · . 1· · de para . e ivma, assim também sustenta continuamente aso icitu . 
com os irmãos do F'lh r . . · ente lt· 
ada 
seu i o. E1euvamente a mediação de Maria está mamam 
g à sua maternidad · ' d·stingue e, possui um caráter especificamente materno, que a i 
90 
·nha experiência mariana nos exorcismos e nos 
A mi outros momentos ... 
A intercessão de Maria pelas almas do Purgatório 
A intercessão de Nossa Senhora continua tamb - 1 _ _ , em, pe os 
fiéis defuntos, de quem ela e Mae. Maria não abandona os 
seus .filhos nem s_e~ue~ depois do seu passamento. Ela aju­
da-os na sua punficaçao para que possam rapidamente ser 
acolhidos no Paraíso. Estando aos pés da cruz e unindo-se ao 
sacrifício de seu Filho, Maria adquiriu a capacidade de inter­
ceder por todos os homens de quem se tornou Mãe. Estando 
permanentemente junto do coração de Cristo glorificado, ela 
deseja ver as almas dos seus filhos, que ainda estão no Purgató­
rio, atingir, o mais depressa possível, a perfeita bem-aventu­
rança, em comunhão com a Santíssima Trindade, contemplada 
face a face . São Bernardino de Sena afirma: «A Bem-aventu­
rada Virgem Maria tem o poder de libertar as almas do Purga­
tório com as suas orações e aplicando os seus méritos. Isto é 
particularmente verdadeiro relativamente às almas que, na 
terra, eram suas devotas» Qt . E acrescenta: «Na prisão do Pur-
do das outras criaturas que, de vários modos sempre subordinados, participam na 
única mediação de Cristo, na qual a mediação de Maria é também participada. De 
facto, embora "nunca nenhuma criatura tenha podido ser colocada a par do Verbo en­
carnado e redentor·· , nem por isso "a única mediação do Redentor exclui, antes suscita 
nas criaturas, uma cooperação variada, participada [ e oriunda, nt] de uma única fonte"; 
e assim "a única bondade de Deus difunde-se realmente de vários modos nas criatu­
ras". O ensino do Concílio Vaticano II apresenta a verdade sobre a mediação de Maria 
como participação nesta única fonte que é a mediação do próprio Cristo. Lemos, com 
efeito: "A Igreja não duvida de reconhecer abertamente esta função subordinada de 
Maria e continuamente experimenta-a e recomenda-a ao amor dos fiéis, para que, sus­
tentados por esta ajuda materna , estejam cada vez mais intimamente unidos ao 
Mediador e Salvador". Essa função é, ao mesmo tempo, especial e extraordinária. Brota 
da sua maternidade e só pode ser compreendida e vivida na fé tendo por base a plena 
verdade desta maternidade. Como, em virtude da eleição divina, Maria é Mãe do 
Filho, consubstancial ao Pai e "generosa companheira" na obra da redenção, "foi para 
nós mãe na ordem da graça". Esta função constitui uma dimensão real da sua presença 
no mistério salVÍfico de Cristo e da Igreja» (Redemptoris Mater 38). 
91 Sermo 3, De glorioso nomine Virginis Marire, art. 2, cap. 3, in B_ERNARDl~~s 
SENENSIS, Sermo pro festivitatibus Sanctissimre et Immaculatre Virginis Manre, Venems, 
1745, IV, 80, col. 2. 
91 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
gatório, Maria tem uma cer~a autoridade e plenitude de poder 
não só para aliviar os sofnmentos das almas, mas também 
d 92 para libertá-las as suas penas» • 
A liturgia da Igreja 
A liturgia da Igreja celebra a Santa Missa de « Maria Virgem 
Mãe e Medianeira de Graça». O Prefácio desta Missa descreve 
0 significado de mediação aplicado a Maria. Depois de ter 
imediatamente afirmado que Cristo nosso Senhor, verdadeiro 
Deus e verdadeiro homem, é o único mediador entre o Pai e 
os homens, sempre vivo a interceder a nosso favor, prossegue 
assim: «No mistério da tua benevolência [Pai Santo] quiseste 
que Maria, mãe e sócia do Redentor, continuasse na Igreja a 
sua missão materna: de intercessão e de perdão, de proteção e 
de graça, de reconciliação e de paz. Esta providência de amor 
tem o seu fundamento na única mediação de Cristo, de que 
tira a sua eficácia; e o povo fiel recorrecom confiança à Vir­
gem Maria, nos riscos e nas ansiedades da vida, e incessante­
mente a invoca Mãe de misericórdia e despenseira de graça» 93
• 
A experiência da intercessão de Maria 
na vida terrena dos santos 
Muitos santos, tendo experimentado de maneira indubitá­
vel a intercessão materna de Maria na sua vida dão testemu-
' 
nho dela. Se grande parte deles afirma a mesma coisa, então 
podemos considerá-la uma verdade teológico-espiritual, reve­
lada por Deus ou, de algum modo, experimentada profunda­
mente na sua vida. Alguns deles não hesitaram em afirmar 
92 Ibidem. 
. 
93 
CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Messe della Beata Vergine Maria, Cidade do Va· 
ucano, LEV, 1987, pp. 100-101. 
92 
. ha experiência mariana nos exorcismos e nos outro A m1n s momentos ... 
decididamente que_ o própri~ Deus estabeleceu que nos con-
d Por intercessao de Mana, tudo o que Ele nos quer d ce e, . , . ar. 
Eis só algumas das mu1t1s~1mas declarações de santos e de 
tores cristãos que podenamos reportar. São Germano de 
au N' 
Constantinopla escreve: « 1nguém recebe a salvação a não ser 
r meio de Maria; ninguém recebe uma graça senão através po . , 
dela.» Santo Ildefonso afirma: «O Maria, o Senhor decretou 
colocar nas tuas mãos todos os bens que Ele dispôs dar aos 
homens, porque entregou-te todos os tesouros e riquezas das 
graças.» São Bernardo reza assim: «Sim, minha Senhora, 
todos os homens chamar-te-ão bem-aventurada, porque os 
teus servos , por teu intermédio, obtêm a vida da graça e a 
glória eterna. Em ti , os pecadores reencontram o perdão e os 
justos, a perseverança e, depois, a vida eterna.» E São Luís 
Maria Grignion de Montfort: «Deus escolheu-a [Maria] como 
tesoureira, administradora e despenseira de todas as graças. 
Por isso, cada uma das suas graças e todos os seus dons 
passam pelas mãos dela.» 
Olhando a tempos mais recentes, vemos que a Irmã Lúcia 
escreve nas suas Memórias que, em Fátima, Nossa Senhora 
lhe disse, entre outras coisas: «O meu Coração Imaculado será 
o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus.» Nestas 
palavras podemos ver a referência à sua mediação materna, 
estabelecendo como que um paralelo com a expressão usada 
por Jesus: «Eu sou a vida ... » Qo 14,6). Esta aproximação po­
deria parecer excessiva; contudo, na realidade, só exprime a 
participação de Maria na mediação única do Filho; pela sua 
união ao Filho , ela é caminho para o Pai e medianeira de 
graça. 
Em Fátima, a Virgem também exprime a sua intercessão­
-mediação noutras ocasiões. Na terceira aparição, a 13 de 
julho de 1917, disse: «Continuem a rezar o terço todos os 
dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz 
93 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
no mundo e O fim da guerra, porque só ela lhes poderá valer.» A 
Bem-aventurada Jacinta, pouco antes de morrer, certamente 
por um conhecimento infundido do Alto, co_nfirmava à prima 
Lúcia a necessidade, livremente estabelecida pelo próprio 
Deus, da intercessão de Maria relativamente a todos os dons 
recebidos de Deus: «Já pouco me falta para ir para o Paraíso e 
tu ficas cá na terra para dizer que o Senhor quer estabelecer 
no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Quan­
do tiveres de falar disso, não te escondas! Diz a todos que Deus 
concede as suas graças por meio do Coração Imaculado de Maria; 
que lhe peçam a ela; que o Coração de Jesus quer que com 0 
seu Coração também se venere o Coração Imaculado de 
Maria; que peçam a paz ao Coração Imaculado de Maria, por­
que o Senhor lha confiou.» 
Na aparição de 13 de maio de 1917, a Senhora perguntou 
aos três pastorinhos: «Quereis oferecer-vos a Deus para supor­
tar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de 
reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica 
pela conversão dos pecadores?» Lúcia responde em nome dos 
três: «Sim, queremos.» A Senhora prosseguiu: « Ides, pois, ter 
muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.» 
A Irmã Lúcia escreve: «Foi ao pronunciar estas últimas pala­
vras (a graça de Deus, etc.) que abriu pela primeira vez as 
mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que refle­
xo que delas expedia, que nos penetrava no peito e no mais 
íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que 
era essa luz 94
, mais claramente que nós vemos no melhor dos 
espelhos. Então, por um impulso íntimo também comuni-
9-1 A luz de Deus brilha em Maria como em nenhuma outra criatura e difunde-se 
pelo mund0- Escreve São Fulgêncio de Ruspe: «Maria tornou-se janela do céu 
porque, através dela, Deus difundiu a sua verdadeira luz ao longo dos séculos. Maria 
tornou-se escada do é meio d 
1 
c u, porque através dela Deus desceu à terra, para que por 
eª os ~o~ens merecessem subir ao Céu» (Sermo 36. De laudibus Marice ex partu 
Salvatons, m PL 65, a99). 
94 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos .. . 
cado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente: "Ó Santís­
sima Trindade, eu vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu vos 
amo no Santíssimo Sacramento.» Esta passagem foi assim 
comentada, num_a cateq~ese_ radiofónica, pelo mariólogo 
padre Angelo Mana Tenton: «E por Nossa Senhora que ((Deus 
sai". É a própria Senhora que faz dom de Deus aos pastori­
nhos de Fátima, é através dela que Deus chega a eles. Deus 
tornava-se-lhes percetível na forma da lua intensa que proma­
nava das mãos de Maria. Pensemos que a Senhora, através 
deste gesto , quer recordar ao mundo que Deus veio a esta 
terra através dela e comunica-se aos homens através e por 
meio dela, e que é a sua tarefa dispor-nos e dar-nos a Ele, 
fazer-nos encontrar com Ele, entrar nele, depois de lhe termos 
permitido que entrasse em nós. Eis explicada plasticamente o 
que é a graça e os seus efeitos, eis explicado o porquê de ela, 
a Senhora, ser chamada Mãe da divina graça e, como Mãe da 
divina graça, ela também é medianeira desta graça.» 
Na Rue du Bac, em Paris, a 2 7 de novembro de 1830, en­
quanto Santa Catarina Labouré estava na casa do noviciado 
para fazer a meditação da tarde, às 17:30 horas, Nossa Se­
nhora apareceu-lhe, mostrando-lhe a medalha que deveria 
mandar cunhar e difundir, aquela que, depois, tomaria o 
nome de «Medalha Milagrosa». A certo ponto, a noviça viu os 
dedos da Senhora cobrirem-se de anéis, cada qual ornado 
com pedras preciosas, cada uma mais bela que as outras, algu­
mas maiores e outras mais pequenas. Todas emanavam raios. 
As pedras maiores emanavam raios maiores e as mais peque­
nas, raios menores. As mãos de Nossa Senhora, baixando-se, 
irradiavam aqueles feixes de luz, que partiam das pedras pre­
ciosas e desciam até ao chão. Estes raios eram tão belos, tão 
luminosos e fulgurantes que encheram toda a parte inferior da 
aparição; por isso, Santa Catarina não via os pés da Senhora 
nem o globo que, anteriormente, tinha visto a seus pés. Nossa 
Senhora disse : «São o símbolo das graças que eu espalho 
95 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
sobre as pessoas que me pedem.» Naquele momento_ diz a 
Santa-, «compreendi quanto é doce rezar à Virgem Santíssi­
ma e como ela é generosa com as pessoas que lhe rezam· , 
quantas graças ela concede às pessoas que a procuram e que 
alegria ela sente ao concedê-las.» 
Os exemplos seguintes confirmam que o demónio, en­
quanto procura fazer o mal contra nós, deve continuamente 
confrontar-se com a intercessão de Maria a nosso favor. 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Um dia, depois de reações furiosas, porque não queria ser 
sujeito àquilo que lhe era imposto por uma presença invisível 
- depois, compreendemos que era a Virgem Santíssima-, re­
pentinamente, ele [o demónio] exprimiu-se assim: «Ela ora 
sempre por todos vós, cada uma das suas orações é uma tor­
tura para nós.» 
Noutro dia, o demónio, claramente enfraquecido pelos 
louvores à Virgem Maria, disse com voz rouca: « Ela pede que 
se reze por todos os pecadores e também por aqueles que pa­
recem sem esperança, porque ela lê os corações e justifica 
diante deDeeeuuuus!» 
Noutro exorcismo, já que se orgulhava dos sofrimentos 
provocados a algumas pessoas inocentes, comecei a rezar com 
decisão: «Senhor Jesus Cristo, quando estavas na Cruz pare­
cias derrotado e o poder das trevas parecia ter vencido para 
sempre; na realidade, eras Tu que estavas a viver para 
sempre.» E o demónio: «A culpa é toda dela, é tudo culpa de 
sua Mãe (Nossa Senhora). Por isso, eu tinha ensinado a estª 
cretina (referia-se à pessoa que atormentava) a odiá-la e ela rnm­
bém conseguiu superar isto. Ela (aqui referia-se a Nossa Se-
96 
·nha experiência mariana nos exorcismo 
A mt s e nos outros mo 
mentos ... 
hora) ora sempre, não se cala um moment _ 
n _ o e nos som h· coteados pelas suas oraçoes. » os c 1-
Um episódio particularmente comovedo - . 
. . r e o seguinte· u 
dia dirigindo-se a uma imagem de Nossa 5 h · m 
' • en ora, presente 
na sala onde eu exorcizava, o demónio com . 
À 
eçou a gntar· 
«Porque ofereceste tudo quele (e diz um palavr- ) · 
A A A A A A 7 l p . . ao . Por_ 
queee?! Porqueee . -:> ergunte1. «O que foi que [ela] ofere-
ceu 7» E ele: «Aos pes da Cruz daquele ela sofri·a, R r . · ' • » e1ena-se 
claramente à oferta que Nossa Senhora fez ao Pai Eterno dos 
seus sofrimentos e dos de Jesus, no momento da crucifixão e 
da intercessão materna que fez a nosso favor naquele momen­
to. E, então, eu comecei a dizer: «Lembra-te de que Maria, aos 
pés da Cruz, ofereceu Jesus ao Pai e ofereceu-se ao Pai com 
Jesus. Por nós, seus filhos , ela ofereceu este sacrifício.» Depois 
destas palavras, lançou urros indescritíveis, evidentemente es­
magado pela força redentora, que brota do sacrifício de Cristo 
e de Maria no Calvário , e disse: «Basta, basta, não mo faças 
recordar, basta, estás a queimar-me, estás a queimar-me!» 
Noutra ocasião, o demónio exprimiu o poder da interces­
são de Maria e a decisão de Deus de não conceder nenhuma 
graça à humanidade a não ser mediante a intercessão do seu 
Coração Imaculado 95
: 
«Vós não sabeis, ou [talvez] até o saibais, mas não acredi­
tais ou não tendes fé suficiente: é o Coração Imaculado de 
Ma ... ar ... i. .. a (pronuncia com um esforço tremendo este nome) 
que salvará o mundo inteiro. Só o seu Coração Imaculado» 96
· 
95 Evidentemente também porque Deus quer que reconheçamos a tarefa materna 
que Nossa Senhora tem na nossa vida e na vida da humanidade. 
96 N , 1 r . . f parágrafo 16 « O triunfo do este cap1tu o re1enre1 novamente esta rase no , . 
Coração Imaculado de Maria» inserida no contexto mais amplo em que ela foi pro-
' nunciada. 
97 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
A intercessão de Nossa Senhora não consiste unicamente 
em orar por nós e connosco para nos obter a graça santifi. 
cante, e também cada uma das graças, mas também em apre. 
sentar e oferecer a Deus o que lhe damos. Uma vez, enquanto 
estávamos a apresentar e a oferecer a Nossa Senhora orações, 
alegrias, sofrimentos e toda a nossa vida, juntamente com os 
tormentos sofridos pela pessoa possessa, o demónio, com um 
tom submisso e humilhado, evidentemente porque Deus 0 
obrigava, disse: «Cada alegria, cada dor, sofrimento oferecidos 
àquele Coração (de Maria) são doces ternuras de profunda 
caridade que ela aceita e oferece com as suas mãos e eleva à 
luz daquele Criador.» 
§ 8 - A Ave-Maria e o Santo Rosário 
Catequese 
Em 1951 , Pio XII escrevia na Encíclica Ingruentium maio­
rum: «Não hesitamos afirmar de novo, publicamente, que é 
grande a esperança que pomos no Santo Rosário para sarar os 
males que afligem os nossos tempos. Não com a força , não 
com as armas, não com o poder humano, mas com a ajuda di­
vina obtida por meio desta oração, forte como David com a 
sua funda, a Igreja poderá enfrentar impávida o inimigo infer­
nal.» E o papa João Paulo II escrevia na Carta apostólica 
Rosarium Virginis Marice: «A Igreja reconheceu sempre a esta 
oração uma eficácia especial, confiando-lhe, à sua reza em 
comum, à sua prática constante, as causas mais difíceis. Em 
momentos em que a própria cristandade era ameaçada, foi à 
força desta oração que se atribuiu ter-se evitado o perigo e ª 
Virgem do Rosário foi saudada como propiciadora da salva­
ção» (RVM 39). «Numerosos sinais mostram quanto a Virgem 
98 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos t ou ros momentos ... 
Santa quer, ta.~bém hoje, praticar, precisamente através desta 
oração, a sohc1tude materna a que o Redentor moribundo 
confiou, na pessoa do discípulo predileto, todos os filhos da 
Igreja: "Mulher, eis o teu filho!" Oo 19,26). São conhecidas as 
diversas circunstâncias, nos sécs. XIX e XX, nas quais a Mãe 
de Cristo fez, de algum modo, sentir a sua presença e a sua 
voz doce para exortar o Povo de Deus a esta forma de oração 
contemplativa. Em particular, desejo recordar, pela incisiva 
influência que têm na vida dos cristãos e pelo autorizado re­
conhecimento da Igreja, as aparições de Lourdes e Fátima 
' cujos respetivos santuários são meta de numerosos peregri-
nos, em busca de alívio e de esperança» (RVM 7). 
Ainda na Carta apostólica Rosarium Virginis Mari~, o papa 
João Paulo II alonga-se a demonstrar que o Rosário é simulta­
neamente contemplação-meditação e súplica. Podemos sinte­
tizar, assim, o aspeto contemplativo-meditativo: a contempla­
ção de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável (cf. 
RVM 10). Maria vivia com os olhos em Cristo e considerava 
um tesouro cada uma das suas palavras (cf. RVM 11). Rezar o 
Rosário é, tão-somente , contemplar com Maria o rosto de 
Cristo (cf. RVM 3). Nos mistérios do Rosário «sintonizamo­
-nos» com a recordação e com o olhar de Maria, na contem­
plação dos acontecimentos da vida do Filho (cf. RVM 11), 
vistos através do seu coração (cf. RVM 12), e que ela propõe 
continuamente aos crentes, para que possam libertar toda a 
sua força salvífica 97 ( cf. RVM 11). Passar com Maria através 
. 
97 Noutra passagem da mesma Carta apostólica, João Paulo II precisa: «Os misté-
nos de Cristo (isto é, os acontecimentos, os episódios da sua vida) também são, em 
ceno sentido, os mistérios da Mãe, dado que ela está diretamente envolvida neles, pelo 
próprio facto de que ela vive dele e para Ele. Quando, na Ave-Maria, fazemos nossas as 
palavras do Anjo Gabriel e de Santa Isabel, sentimo-nos levados ª procurar sempre 
novam . ã "bendito fruto do seu ente em Mana, nos seus braços e no seu coraç o, 0 
ventre" (cf. Lc 1,42)» (RVM 24). 
99 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
das cenas do Rosário é como frequentar a escola de Maria para 
ler Cristo, para penetrar nos seus segredos, para compreender 
a sua mensagem (cf. RVM 14). No percurso espiritual do Ro­
sário, Maria coloca-nos de modo natural na vida de Cristo e 
faz com que respiremos os seus sentimentos, conformando­
-nos a Ele, até que Ele esteja formado plenamente em nós. 
Desse modo, 0 Rosário torna-se para nós um caminho através 
do qual, se nos deixarmos educar e plasmar pela ação materna 
da Virgem Santa, ela persegue o seu fim principal que é O de 
gerar-nos como filhos para o Corpo místico do Filho, e incre­
mentar a sua vida divina em nós (cf. RVM 15). 
O aspeto de súplica do Rosário é expresso assim: Maria 
gera filhos para o Corpo Místico do Filho, mediante a inter­
cessão, implorando para eles a efusão do Espírito Santo. A 
nossa súplica insistente à Mãe de Deus, através da Ave­
-Maria, apoia-se na confiança de que a sua intercessão ma­
terna pode tudo no coração do Filho. Enquanto, no Rosário, 
lhe suplicamos, ela, que é santuário do Espírito Santo (cf. Lc 
1,35), põe-se por nós diante do Pai que a cumulou de graça, e 
do Filho que nasceu do seu ventre , orando connosco e por 
nós (cf. RVM 16). É este o motivo pelo qual, mediante o Rosá­
rio, o crente recebe uma abundância de graça como se fosse 
das próprias mãos da Mãe do Redentor (cf. RVM 1). 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Na minha experiência de exorcista, apercebi-me de que 
nenhuma oração extralitúrgica 98 é tão odiada, temida e hosti­
lizada pelo demóniocomo o Santo Rosário. 
98 Ü Rá· - . os no «nao só não se opõe à Liturgia, como lhe serve de suporte, já que in-
trndu-l~ ~em e lhe serve de eco longo e repetitivo, permitindo vivê-la em plenitude 
de panicipação interior, recolhendo os seus frutos na vida quotidiana» (cf. RVM 4)­
«Se a Liturgia ação d e · d . - · como . ' e nsto e a Igrep é ação salvifica por excelência o Rosano, 
meditação sobre e · t M . ' ' lh de mis-ns O com ana, é contemplação salutar. De facto , mergu ar, 
100 
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos 
outros momentos ... 
Um dia, enquanto eu pegava no terço O dem , . 
1 , . _ ' on10 exc a-
mou: «E uma co1s~ que nao su~orto, não suporto! Aquele 
estúpido velho apelidara-a bem, tinha-lhe dado O nome certo· 
chamava-lhe "arma", porque é uma verdadeira arma. Um~ 
verdadeira ar~a _contra nós» 99
• Eu disse: «Em nome de Jesus, 
quem é o estup1do velho a que te referes?» E ele: «Pio.»_ 
«Padre Pio da Pietrelcina?» - «Siiim!» Então, eu rebati: «Não 
é um estúpido: é inteligente, sábio e devoto.» E ele: «Para nós 
é um estúpido. Ainda agora, aquele estúpido trabalha ao lado 
do Nazareno e daquela mulher que está lá em cima.» _ 
«Como se chama aquela mulher que está lá em cima?» _ 
«Chama-se como esta (e di1ige um palavrão à pessoa possessa).» 
Um dia, ordenei ao demónio: «Descreve as maravilhas do 
Rosário! » Respondeu-me: «A mim, mete-me nojo.» E eu: 
«Para nós é maravilhoso. Em nome de Nosso Senhor Jesus 
Cristo, que deu a Virgem Maria por Mãe a cada um de nós, 
descreve todas as coisas que te metem nojo e que, para nós, 
são boas.» E o demónio: «Descreve todo o itinerário de dor 
que Ele ofereceu por vós e que custou tanto sofrimento não só 
a Ele, mas também à sua Mãe, para vos salvar a todos, para 
vos abrir as portas do Paraíso. Ela sofreu tanto, tanto quanto o 
Filho, e expiou juntamente com Ele os vossos pecados. É por 
isso que cada conta (do Rosário) é uma lágrima daquela Mu­
lher que sofreu durante os três anos que Ele padeceu por vós, 
evangelizou, curou e se manifestou. Tudo fez naqueles três 
anos, compreendendo aquilo que realizou naquela cinquen­
tena, que o Papa mandou consagrar antes disto, compreen-
tério em mistério , na vida do Redentor, faz com que tudo o que Ele operou, e ª 
Liturgia atualiza, seja profundamente assimilado e plasme a existência» (cf. RVM l3). 
99 São Pio da Pietrelcina disse, um dia: «Satanás procura destruir eStª oração, ~as 
nunca O conseguirá: é a oração daquela que triunfa sobre tudo e sobre todos. Foi ela 
quem no-la mostrou, como Jesus nos ensinou o Pai-nosso.» 
101 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
experiência mariana nos exorcismos e no 
A ,ntn s outros momentos ... 
oxima-as para fazer com que se toquem Q d apr • uan o estas 
duas mãos se encontram, ela exulta, exulta, exulta . Ih 
h , a_Joe a-se 
reza. Só poucos omens alcançam aquela m-e _ ao, porque 
muitas vezes arrancam-~a da mao daquela, porque não que-
rem fazê-lo, graças a mim que sou o seu deus, mas os que 
conseguem (e repete), mas os que conseguem, têm plena cons­
ciência disso e ~la exul~a. Ei-la que se ajoelha e beija os pés 
perfurados do Filho e diz que fez a graça a este (isto é, a algu­
ma pessoa), porque tocou naquela mão e no meio daqueles (os 
habitantes do Paraíso), quando acontece, todo o Paraíso, todo 0 
Paraíso exulta. Que nojo, que nojo! E lágrimas de alegria saem 
daqueles olhos (diz um palavrão). Que nojo, que nojo, que 
nojo, que nojo, que nojo , que nojo, que nojo!» 
§ 9 -A Virgem Maria venceu Satanás 
pela sua fé inabalável 
Catequese 
A Virgem Maria venceu Satanás com a fé e, no decurso da 
sua vida terrena, repeliu todos os seus assaltos furiosos, preci­
samente, com o poder da fé . Embora seja Imaculada e cheia 
de graça desde o primeiro instante da sua existência, Maria 
não foi exonerada da luta e do sofrimento; aliás, nenhuma 
criatura humana enfrentou provações e provas tão terríveis 
como ela. Justamente porque, como já vimos mas primeiras 
páginas deste texto Maria era totalmente contrária a Satanás 
' 
no seu ser e no seu agir, e por isso, consequentemente, em 
relação a nenhuma outra criatura humana Satanás se enfure­
ceu tanto, quanto fez contra ela. Contudo, com a sua fé firme 
e inabalável com uma rocha, Maria venceu sempre. 
Em finais do séc. II, Santo Ireneu de Lião escreveu: «O 
núcleo da desobediência de Eva teve a sua solução comª obe-
105 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
diência de Maria. O que a virgem Eva tinha ligado pela sua in­
credulidade, a Virgem Maria desatou com a sua fé» 1
00 _ 
0 primeiro motivo da grandeza de Nossa Senhora e da sua 
força contra O diabo, não é tanto o facto de ser Mãe de Deus 
mas a fé com a qual correspondeu ao desígnio de Deus, que~ 
chamava a ser sua Mãe e a cooperar com Ele na realização do 
projeto divino da salvação da humanidade e na destruição das 
obras do diabo 101
. Maria nunca vacilou na fé em Deus, nem 
sequer um instante: nunca uma dúvida lhe tocou, nem ao de 
leve. Abandonou-se sempre a Deus com uma fé inamovível, 
incondicionada, sem nenhuma hesitação. Ao anjo Gabriel, 
que lhe comunicava o projeto e o pedido de Deus de uma ma­
ternidade na virgindade , humanamente impossível, Maria 
acreditou e assentiu. Abandonando-se àquilo que Deus lhe 
pedia e tornando-se disponível sem reservas, disse: «Eis a 
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 
1,38)» 102
. Alguns dias depois, Maria fo i a casa da sua prima 
Isabel para ajudá-la. Quando, ao entrar em casa da prima, a 
saudou , João, que estava no seio da mãe, saltou de alegria, 
comunicando-a a sua mãe Isabel que, repleta e iluminada pelo 
Espírito Santo, disse em voz alta: «Bendita és tu entre as mu­
lheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado 
que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que 
chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de 
alegria no meu seio» (Lc 1,42-44). E, imediatamente, procla­
mou Maria bem-aventurada pela fé : «Feliz de ti que acredi­
taste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do 
Senhor» (Lc 1,45). Fora a fé de Maria que tinha enchido de 
100 
Adversus hcueses, 3,22,4. 
1º1 « Por isso · r d diabo>1 , mamiestou-se o Filho de Deus para destruir as obras 0 
OJo 3,8). 
102 
O Concílio Vaticano II, no capítulo Vlll da Lumen gentium, e João Paulo II, na 
Redemptoris Mate [ l d r, a am e «obediência da fé» da parte de Maria. 
106 
A minha experiência mariana nos exorcismos e n 
os outros momentos ... 
xultação e de Espírito Santo a prima Isabel . d . 
e d , in uzmdo-a a 
•niciar os louvores que to as as gerações haveri d d .. . 
1 am e 1ng1r à 
Mãe de Deus. 
Portanto, a primeira bem-aventurança do E lh r . . . vange o 101 
dirigida a Mana, porque acreditou na palavra de Deus. Maria é 
bem-aventurada porque acreditou que, pelo poder do Espírito 
Santo, se tornaria a mãe do Filho de Deus, segundo a revela­
ção do anjo: «Aquele que vai nascer é Santo e será chamado 
Filho de Deus» (Lc 1,35). E quando, pouco mais de trinta 
anos depois, enquanto pregava, Jesus ouviu aquela mulher do 
povo gritar: «"Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios 
que te amamentaram!", Ele retorquiu: "Felizes, antes, os que 
escutam a Palavra de Deus e a põem em prática"» (Lc 11,2 7-
-28). Com esta expressão , Jesus exaltou a grandeza da Mãe 
pela sua fé . «Não é, acaso, Maria a primeira dentre "aqueles 
que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática"? E ponan­
to, não se referirão sobretudo a ela aquelas palavras abençoan­
tes pronunciadas por Jesus, em resposta às palavras da mulher 
anónima? Maria é digna, sem dúvida alguma, de tais palavras 
de bênção, pelo facto de se ter tornado Mãe de Jesus segundo 
a carne ("Ditoso o ventre que te trouxe e os seios a que foste 
amamentado"); mas é digna delas também e sobretudo por­
que, logo desde o momento da Anunciação, acolheu a palavra 
de Deus e porque nela acreditou e sempre foi obediente a 
Deus; ela, com efeito , "guardava" a palavra, meditava-a "no 
seu coração" (cf. Lc 1,38-45; 2,19.51) e cumpria-a com toda a 
sua vida» 103 
Portanto, Jesus liga a grandeza da Mãe não só à matern~­
dade física relativamente a Ele, mas antes de tudo à sua au­
tude de fé e de plena disponibilidade à vontade de Deus. Aí~­
tima união com Deus e a adesão perfeita à Palavra divina sao 
W) Cf • JoAo PAULO II, Redemptoris Mater 20. 
107 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
0 motivo mais alto da bem-aventurança de Maria. Antes de ser 
física, a maternidade de Maria foi espiritual, por causa das li­
gações do espírito que se formam na escuta e na observância 
da Palavra de Deus, e foi especialíssima porque só ela, entre 
todas as mulheres da terra, também teve uma maternidade 
física relativamente ao Filho de Deus 1
º
4
• Em contrapartida , 
todas as outras criaturas humanas geram Cristo em si mesmas 
e nos outros por meio da escuta e do cumprimento da Palavra 
e da vontade de Deus, mas espiritualmente. 
A fé de Maria revela-se novamente nas bodas de Caná 0o 
2,1-12), onde , confiando no poder ainda não revelado de 
Jesus, provocou o seu primeiro sinal, isto é, o seu primeiro 
milagre: a prodigiosa transformação da água em vinho. Tendo 
alcançado este sinal prodigioso do Filho, Maria também ofere­
ceu um apoio à fé dos discípulos. E, assim como pela sua fé 
tinha introduzido Jesus no mundo, no evento fundamental da 
Encarnação, assim também introduziu Jesus na sua missão 
pública, precedendo na fé os discípulos que , como diz o 
Evangelho, depois do milagre , creram: «Assim, em Caná da 
Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos, 
com o qual manifestou a sua glória, e os discípulos creram 
nele» Oo 2,11). 
A maior batalha contra a fé de Maria, movida por Satanás, 
desenrolou-se aos pés da cruz, onde ele pôs em ação toda a 
sua força maléfica contra ela, para que ela duvidasse . Mas, 
embora no coração de Maria houvesse a dor mais dilacerante, 
provada por uma criatura humana - porque ela sabia quem 
era Aquele que morria na cruz e o porquê de morrer daquele 
1
(),\ Frequentemente, os Padres da Igreja sublinham este aspeto da conceção virgi­
nal de Jesus. Sobretudo Santo Agostinho ao comentar o Evangelho da Anunciação, 
afirma· «O an· · · ' D m) E . · JO anuncia, a Virgem escuta, crê e concebe» (Sermo 13 in Nat. 0 · · 
amda: «Crist0 é crido e concebido mediante a fé . Primeiro, verifica-se a vinda da fé ~o 
coração da Virgem· d · h 293) QoAO , epo1s, c ega a fecundidade ao seio da Mãe» (Sermo 
PAULO II, Audiência geral, 3 de julho de 1996). 
108 
·nha experiência mariana nos exorcismos e n 
A mi os outros momentos... 
º
do _ também havia um amor desmedido b 
rn ' . b 1- 1 que rotava da 
a fé viva e 1na a ave . Embora Satanás procu 
su , . , rasse provocar 
mais m1n1ma fenda na f e de Nossa Senhora . Ih a . _ . , suscitar- e a 
mínima dúvida, nao conseguiu sequer arranhar a sua fé. Marta 
acreditava firmemente que era precisamente aquele O modo 
doloroso e aparentemente absurdo, de Jesus vencer, triunfar~ 
reinar, realizando a Redenção da humanidade inteira, mesmo 
a sua própria [red~nção, nt] , qu~ lhe tinha sido aplicada pre­
ventivamente. Mana compreendia que através daquela morte 
se realizava a profecia de grandeza que o arcanjo Gabriel lhe 
tinha preanunciado: «Reinará eternamente sobre a casa de 
Jacob e o seu reinado não terá fim» (Lc 1,33). Maria acredi­
tava que era o Filho de Deus quem gritava: «Meu Deus, meu 
Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27,46). Maria acreditava 
que, por aquele sacrifício e por aquela morte cruel, ela, hu­
milde serva de Deus, tinha sido tornada maior que todas as 
criaturas, e que todas as gerações haveriam de chamar-lhe 
bem-aventurada. Mas também acreditava que, depois da 
morte, o Filho haveria de ressuscitar e, depois das trevas de 
Sexta-Feira Santa, esperou sem duvidar pela manhã da Res­
surreição. «Mediante a fé , ela participou na morte do Filho, na 
sua morte redentora» (RVM 20) e, por aquela fé, que perma­
neceu íntegra numa provação como nunca houve nem haverá 
entre as criaturas humanas, também mereceu viver uma expe­
riência de intensidade bem maior do que qualquer outra cria­
tura humana, a experiência da nova existência do Filho glori­
ficado depois da sua Ressurreição 105
• 
105 Sobre este tema, cf. JOÃO PAULO II, Rosarium Virginis Marice 23. Além di~so, na 
Audiência geral de 21 de maio de 1997, ele exprimia-se assim: «Como é queª Vug~m, 
presente na primeira comunidade dos discípulos (cf. Act 1,14), poderiá ter sido 
excluída do número daqueles com quem o seu divino Filho, ressuscitado dos morto~, 
se e - · ·1 Mãe teria sido a pn-ncontrou? E por isso legítimo pensar que veros1m1 mente a 
meir s d imagem e modelo da ª pessoa a quem Jesus ressuscitado apareceu ... . en ° 
lgreJ· d d. í ulos o encontrou du-a que espera pelo Ressuscitado e que, no grupo os isc P ' 
109 
'r m Maria e o Diabo nos exorcismos A vtrge 
Portanto, 0 que tornou Maria bem-aventurada e grande foi 
a fé com que sempre acreditou em Deus e sempre cooperou 
com Ele. Não houve maior ódio nem nenhuma outra criatura 
humana foi combatida tão furiosamente pelo demónio como 
0 foi Maria durante a vida terrena; mas ela nunca cedeu em 
nada. Maria disse sempre um «não» seco e total ao demónio e 
um «sim» decidido e pleno de amor a Deus. O cume dos ata­
ques do demónio manifestou-se aos pés da Cruz, quando 0 
seu Filho foi deposto da Cruz, e nas horas seguintes à sepul­
tura. Maria ofereceu, por amor de Deus e da humanidade, so­
frimentos tão intensos que nenhuma outra criatura humana 
poderá alguma vez experimentar. Durante toda a sua vida, 
amando Deus acima de tudo e conformando-se, momento a 
momento, à sua vontade, Maria elevou-se cada vez mais na 
sua santidade inicial , já superior à de todos os Anjos e Santos 
de todos os tempos, crescendo de tal maneira na sua comu­
nhão de amor com Deus que, quando foi assumpta em alma e 
corpo ao Paraíso, chegou ao vértice da união com Ele, como 
nenhuma outra criatura humana poderá , algum dia, igualar. 
Todavia, embora nunca ninguém possa igualar Maria em 
santidade, é imitável nas atitudes evangélicas. Na sua biogra­
fia, Santa Teresa do Menino Jesus exortava os pregadores e 
teólogos a falarem da santidade sublime e das virtudes de 
Maria, sem desencorajar aqueles que querem imitá-la. Parece 
que João Paulo II , no seguimento do Concílio Vaticano II , 
tinha feito sua essa exortação da Santa: «Ela é um modelo 
excelentíssimo da Igreja, exemplo de perfeição a seguir e 
rante as aparições pas · , . es-ca1s, parece razoavel pensar que Mana teve um contacto P 
soal com° Filho ressuscitado, para também ela gozar a plenitude da alegria pascal. 
Presente no Calvário, em Sexta-Feira Santa (cf. Jo 19,25), e no Cenáculo, no dia de 
Pentecostes (cf Act 1 14) v· , . , mu· 
h . . . · , , a irgem Sanuss1ma foi provavelmente tambem teste 
n a pnVIleg1ada da R · - · ·pa· essurreiçao de Cristo completando desse modo a sua paruci 
ção em todos os . . ' 
momentos essenc1a1s do Mistério pascal.» 
110 
A 
minha experiência mariana nos exorcismos e 
nos outros momentos ... 
·rnitar. De facto, Maria é um excelentíssimo m d 1 1 d o e o porqu 
ua perfeição supera a e todos os outros me b ' eª 
s . _ . m ros da Igreja 
Significauvamente, o Conc1ho acrescenta que 1 1. · 
, . d d e a rea iza essa 
função na fe e na can a e. Sem se esquecer qu C . _ . , . e nsto e o pn-
rneiro modelo, o Conc1ho sugere desse modo que h, d. . 
. , . d a 1spos1-
ções intenores propnas o modelo realizado em M . . _ . ana, que 
ajudam o cnstao a estabelecer uma realização autêntica com 
Cristo De facto, ao olhar para Maria o crente aprend . · ' e a viver 
a sua comunhão com Cristo de maneira mais profund _ . a, a 
aderir a Ele com fe viva, a voltar a pôr nele a sua confiança e a 
sua esperança, amando-o com a totalidade do seu ser» 106_ 
Nossa Senhora é, para cada cristão, modelo perfeito de fé, 
mas também quer tornar-nos participantes da que foi a sua fé, 
durante a sua existência terrena. Ao descrever os maravilhosos 
efeitos da consagração à Virgem Maria, São Luís Maria Grig­
nion de Montfort também indica a participação na fé de Maria. 
Escreve: «A Virgem Santa far-te-á participante da sua fé : uma fé 
que venceu, aqui na terra, a fé dos patriarcas, dos profetas, dos 
apóstolos e dos santos. Agora, que reina no Céu, Maria já não 
possui essa fé, porque vê claramente todas as coisas em Deus 
com a luz da glória. Contudo, por beneplácito do Altíssimo, 
ela não a perdeu quando entrou na glória: manteve-a para con­
servá-la na Igreja militante, a favor dos seus mais fiéis servos e 
servas. Por isso, quanto mais benevolência receberes desta au­
gusta Princesa e Virgem fiel, mais a tua conduta de vida é ins­
pirada somente pela fé» 101 . «Este texto [de São Luís] parece ter 
inspirado algumas afirmações de João Paulo II sobre a fé de 
Maria que, embora não permaneça formalmente no Céu, é, 
porém, comunicada aos fiéis : "A peregrinação da fé da Bem­
-aventurada Virgem Maria representa um constante ponto de 
106 
JoAo PAULO II Audiência geral 6 de agosto de 1997 · . 
101 Ii ' . 0 1 Scritti spiritu.ah, Roma, 
E . . rattato del!a vera devozione a Maria, n. 120, m pere, , 
dizioni Monfonane, 1990, p. 492. 
111 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
referência da Igreja, para cada indivíduo e para as comunida­
des, para os povos e as nações e, em certo sentido, para a hu­
manidade inteira" (Redemptoris Mater 6). Tendo por base O tes­
temunho histórico da Igreja, a fé de Maria torna-se, de algum 
modo, incessantemente a fé do povo de Deus a caminho: das 
pessoas e das comunidades, dos ambientes e das assembleias 
e, por fim, dos vários grupos existentes na Igreja» 108
• 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Sabemos que a fé de Maria não pôde deixar de traduzir-se, 
desde o primeiro instante da Encarnação, em adoração do 
Verbo, presente no seu ventre imaculado e em impulsos de in­
comensurável amor. 
Eis como o Maligno , na solenidade da Anunciação de 
2009, com profunda náusea, se exprimiu acerca da fé e do 
amor de Maria por Jesus, nos nove meses em que ela o trouxe 
no ventre: «Quando aquele (o arcanjo Gabriel) chegou, não 
duvidou, não duvidou. Acreditou , acreditou , e chegou aquela 
alma tão branca (a alma que o Pai dava a Jesus, juntamente com 
o corpo e a Segunda Pessoa divina) . Ela conhecia as Escrituras, 
sabia quem tinha no ventre e guardava-o. Estava sempre em 
silêncio, com os olhos baixos, sorrindo levemente, mas bela. 
Exultava no espírito. O seu Senhor tinha-a escolhido. Era es­
plêndida, era esplêndida, como é esplêndida agora. O seu 
Senhordesceu. Ela que o ama tanto. Ela que o ama tanto. (A 
partir deste ponto, com ainda maior repugnância, fala na primeira 
pessoa.) Como hei de dizer a José? Ele (Deus) pensa nisso. Ele 
(Deus) pensará nisso. Compreenderá. Tenho no seio o Salva­
dor do mundo. Imaginai. Não podeis imaginar que graça, que 
graça, que graça, que alegria e que amor, que amor eu sentia, 
108 Ibidem, p. 492, nota 3. 
112 
---
A minha experiência mariana nos exorcismos e no 
s outros momentos ... 
urn arnor que superava tudo, todo O meu m d ( 
d e O pelo que José 
P
oderia pensar, quan o se encontrasse diante do . t , . 
mis eno daquela 
gravidez), um amor profundo, um amor que se p d 
1 , 0 e papar de 
tão forte que e.» 
Na Sexta-Feira Santa de 2009 durante um exor · ' cismo re-
pentinamente, o demónio gritou com grande raiva estas ~ala-
vras: «Quando Aquele disse: "Mulher, eis O teu filho" e ao 
outro: "Eis a tua mãe", como o disse! E de que modo O disse! 
Teria enchido o coração do mais bastardo deste mundo. 
Disse-o (o demónio batia os dentes, como se tivesse frio) com um 
amor indescritível; saiu uma luz dos seus olhos, e amor. "Eis, 
este é o teu filho ." E Ela ficou com o coração cheio de alegria. 
Porque te alegras? O teu filho está na Cruz, está a morrer, por­
que estás alegre? Porquê?! Se ao menos ela tivesse, tivesse du­
vidado uma \'ez! (Dizia com maior raiva ainda.) Nunca duvi­
dou, nunca! ofreu pelos sofrimentos do Filho, mas nunca 
duvidou! Se vós tivésseis ao menos uma migalha daquela fé!» 
No dia 15 de setembro de 2006, memória litúrgica de 
Maria Dolorosa, porque o demónio invetivava grandemente a 
Virgem Maria, ordenei-lhe que tecesse os louvores da Virgem 
Maria . Depois de ter recusado, com desdém, obedecer à 
minha ordem várias vezes repetida, disse com grande repug­
nância: «Santa e Imaculada, como o mais puro dos metais, 
sem mancha sem a mínima sombra de dúvida, nem sequer 
' 
quando o via flagelado , pregado. Nunca duvidou das suas 
palavras. Ela sempre soube que Ele tinha dito a verdade e que 
tudo servia para cumprir as Escrituras, que ela conhecia tão 
bem e que ensinava e que seguia e por cujo cumprimento 
tanto tinha orado desde o nascimento.» 
113 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
§ 1 o -A Paixão de Maria unida à Paixão do Filho 
Catequese 
Já vimos que a Virgem Dolorosa não foi - como o resto dos 
homens - subtraída à Redenção, mas beneficiou dela «do 
modo mais sublime»; com a aplicação preventiva dos seus 
frutos na Imaculada Conceição, tornou-se participante de ma­
neira especial da Paixão do Filho redentor. «Aos insolentes in­
sultos dirigidos ao Messias crucificado , ela, partilhando as 
íntimas disposições dele, opõe a indulgência e o perdão, asso­
ciando-se à súplica ao Pai: "Perdoai-lhes, porque não sabem 0 
que fazem" (Lc 23 ,34)» 109
. «Aos pés da cruz, a Mãe "sofreu 
profundamente com o seu Filho único e associou-se com 
ânimo materno ao sacrifício dele, assentindo amorosamente 
na imolação da vítima por ela gerada" (LG 58) . Com estas 
palavras, o Concílio recorda-nos a "compaixão de Maria", em 
cujo coração se repercute tudo aquilo que Jesus padece na 
alma e no corpo, sublinhando a vontade de participar no sa­
crifício redentor e de unir o seu sofrimento materno à oferta 
sacerdotal do Filho. No texto conciliar também se põe em evi­
dência que o consentimento dela, dado à imolação de Jesus 
não constitui uma aceitação passiva, mas um autêntico ato de 
amor, com o qual ela oferece o seu Filho como "vítima" de 
expiação pelos pecados da humanidade inteira» 110• Sofrendo 
e quase morrendo com o Filho, que sofria e morria, com razão 
se pode dizer que Maria «redimiu o género humano junta­
mente com Jesus Cristo» 111 . 
É ao martírio comum de Jesus e da Virgem Dolorosa que 
devemos a salvação, e todos os bens. Por isso, ela, depois de 
109 J · p 
110 
°~0 J\ULO II, Audiência geral, 2 de abril de 1997, citação de Lumengentium 58. 
]OAO PAULO II, Audiência geral 2 de abril de 1997 
11 1 B ' · 
ento XV, Cana apostólica Inter sodalicia (22 de março de 1918). 
114 
A ,ninha experiência mariana nos exorcismos 
e nos outros momentos ... 
Jesus redentor, tem direito ao reconhecim d 
- ento e toda a hu 
rn~midade que, com razao, a proclama bem -
. _ -aventurada M 
nifestamos a nossa graudao sobretudo na ofe t . _ · a-
1 d d 
r a cnsta ao seu 
Coração Imacu a o e todos os nossos sofrim r . _ . entos e 1adigas 
por amor de Deus e do prox1mo. 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Ainda na Sexta-Feira ~ant~ de 2009, o demónio, como que 
obrigado por uma força irresistível, continuou: 
«Ela esteve todo o tempo lá, com as lágrimas que desciam 
sem parança e com os olhos postos no rosto do Filho para re­
ceber cada pequenino, cada pequenino, cada pequenino sofri­
mento. Ela vivia a sua Paixão dentro do seu Coração. A espada 
estava a traspassar-lhe o Coraçãããooo! O sangue saía do Filho 
e do Coração da Mãe. Esteve todo o tempo lá, dilacerada pela 
dor, mas belíssima na sua dor. Ahhh! Resplendia de dor e de 
oração: "Faça-se a tua vontade. Faça-se a tua vontade." Nunca 
baixou o olhar. Só quando Ele foi embora (foi deposto da cruz) 
é que o mundo foi abalado. [Naquele momento,] Ela conti­
nuou firme , não se abalou, sabia o que estava a acontecer: 
sabia que aconteceria que Deus haveria de fazer sentir a sua 
dor pelo Filho. Aqueles olhos fixos nos do Filho, fixos, e olha­
va para Ele, olhava para todas as suas feridas , olhava para 0 
sangue que descia da cabeça e quereria limpar aquele roStü, 
acariciar aqueles cabelos, beijar as feridas , aquele nariz que­
brado, aquela face inchada, e dizia: "O que te fizeram, meu te­
souro? A ti que amas todos? Pai, faça-se a tua vontade, ª tua 
vontade, Pai; mas dá-me força, Pai, dá-me força. Pai! Pai, os 
pregos! Aquelas mãos belíssimas rezaram, curaram, abençoa­
ram, Pai, aquelas mãos santas! Pobres mãos! E os bra~os .. ·. Vê, 
Pai, que dor! Ele que é o teu Filho, Fiiiilho. • · Pai, seJa feita_ª 
tua vontade! Aqueles pés que caminharam tanto, aqueles pes 
que caminharam tanto, que caminharam tanto, como eram 
115 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
belos quando Ele era pequenino! Quantas vezes os beijei, 
quantas vezes os beijei, deixa-me beijá~los_ outra vez, cheios 
de sangue, Pai! Diz-lhe que estou aqui, diz-lhe que o amo, 
que O compreendo, que estou com Ele, sofro com Ele!" (Neste 
ponto, 0 demónio urrou tremendamente e disse:) Vai-te embora, 
vai, não me queimes!» 
Na Sexta-Feira Santa de 2006, três anos antes, enquanto 
eu exercia o meu ministério, lendo no Evangelho de João as 
palavras que Jesus, na cruz, dirigiu a Maria: «Mulher, eis o teu 
filho» e a João: «Eis a tua mãe» , o demónio , sempre com 
cólera e furor, disse: «Num instante, ela amou todos os seus 
filhos por todas as gerações e disse o seu segundo "sim". 
Depois do "sim" dito ao Anjo, disse o seu "sim" ao seu Filho na 
cruz, porque vos tornastes seus filhos.» Prossegui a leitura das 
palavras do Evangelho: «E , desde aquela hora , o discípulo 
acolheu-a como sua.» E o demónio, com uma repugnância tre­
menda que manifestava na voz e nas atitudes, acrescentou: «As 
almas recebem a Mãe de Deus no seu coração. O vosso corpo 
e o vosso espírito são a casa do Senhor e nela deveis recebê-lo. 
Todos os filhos de Deus deveriam receber Maria dentro de si e 
o que ela vos ensinou com a sua vida. Vós tendes um grande 
meio, que é Maria, usai-o mais! Orai a ela, orai ainda mais a 
ela, fazei-la vossa, ela caminha sempre ao vosso lado!» 
Diante destas palavras do demónio, enquanto eu o exorci­
zava, sabendo que a Sexta-Feira Santa era um dia especial de 
graça, recordei-lhe o sacrifício de Jesus na cruz por nosso 
amor, as suas chagas, o seu coração, as suas dores, as suas hu­
milhações, a sua oferta ao Pai, juntamente com as lágrimas e 
as dores _de Maria, ao pé da cruz, e a sua oferta juntamente 
com ° Filho ao Pai, por nosso amor. E, enquanto eu dizia 
todas estas coisas, o demónio continuou afirmando: «Tam-
bém nós estávam 1 · - ' os a1, aos pes da cruz instigámos alguns 
contra Ele incitá 1 ' 1 ' vamo- os a contestá-lo, a gritar contra E e, a 
116 
. ha experiência mariana nos exorcismos 
A mtn e nos outros m 
omentos ... 
d Safiá-lo tentávamos outros, insinuand e ' o nas su 
d, vidas de que Ele não era verdadeir as mentes u amente O M . 
Alguns estavam lá para ver algum milagre e ess1as. 
. convencer-se d e Ele era o Messias: que estúpidos! Fizem e 
qu . , _ . os com que mui-
tas pessoas, que Jª nao acreditavam, fugissem d lá· . 
d • e , tiveram 
medo quan o o VIram morrer e, aqueles poucos r· 
d que 1caram 
convenceram-se quan o Ele morreu de que não era d d . ' . , ver a ei-
ramente n1ngue~, porque se morreu, _já não havia nada a 
fazer. Quando tiraram o corpo da .cruz, tentámos também 
João, dissemos na sua mente : "Olha que fim teve O vosso 
Messias! Olha que fim teve o teu Messias." Também tentámos 
a tua Mãe. Ela tinha o coração dilacerado, mas ao mesmo 
tempo havia nela uma grande paz e perdoava a todos, amava 
e sofria: o seu perdão era total , o seu amor era total, a sua 
oferta era total. E isto venceeeuuu-nos! Insidiámos a sua fé 
inutilmente , ela continuou a orar, ela era a única que conti­
nuava a conservar a fé na Ressurreição; o seu coração já o 
sabia e, na aurora do dia a seguir ao sábado, Ele apresentou-se 
em primeiro lugar a ela. Não sabemos o que disseram um ao 
outro, só vimos que naquele encontro circulava uma grande 
paz e um infinito amor, mas não podíamos ouvir as palavras, 
a sua conversa de amor estava fora do nosso alcance. Depois, 
vimos a Madalena que ia ao sepulcro.» 
Uma vez, o demónio exprimiu-se assim acerca do sacrifí­
cio de Cristo e de Maria no Calvário, que é representado em 
cada Santa Missa que é celebrada: «Aquele Nazareno deixou­
-se pregar e sacrificar para que do seu corpo-superabundasse 
0 Sangue que cobre o altar e, com isso, os vossos pecados. Ela 
(Nossa Senhora) sacrifica-se juntamente com O seu Filho e 
acolhe no seu seio aqueles que foram purificados com O seu 
sangue. Ela está sempre lá; quem olha para ela, olha para Ele 
e quem olha para Ele, olha para ela.» 
117 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
§ 11 -A humildade de Maria 
Catequese 
Na linguagem bíblica, humilde é quem reconhece que 
deve tudo a Deus e espera tudo dele. Humilde é quem se põe 
numa atitude de total dependência de Deus, confia só nele e 
não tem outro desejo nem encontra outro motivo de alegria 
que não seja procurar incessantemente Deus e fazer a sua von­
tade, abraçada com amor e completa disponibilidade. Desde 
as fibras mais profundas do seu ser, o humilde deseja e aspira 
ser totalmente de Deus. A humildade coincide com a pobreza 
em espírito de que Jesus fala nas bem-aventuranças: «Felizes 
os pobres em espírito , porque deles é o Reino do Céu» (Mt 
5,3). É a pobreza, não tanto como condição social, mas como 
atitude interior de abandono confiante à omnipotência de Deus 
e abertura incondicional aos seus projetos divinos. Maria viveu 
a humildade tão intensamente como nenhuma outra criatura 
no mundo. Ela estava pronta ao mínimo aceno da vontade de 
Deus, que acolheu em toda a sua vida com o seu «sim» contí­
nuo e sem reservas, professando-se a serva do Senhor: «Eis a 
serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 
1,38). Foi isto que lhe permitiu cantar com absoluta verdade e 
liberdade do coração: «A minha alma glorifica o Senhor e o 
meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os 
olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me 
chamarão bem-aventurada todas as gerações» (Lc 1,46-48). 
Maria, humilde serva do Senhor, consagrou-se totalmente 
ao serviço de Deus e à obra do Filho, pela salvação dos ho­
mens. Segundo o ensino dos Evangelhos, servir é reinar. No 
co~entário do lecionário mariano da Igreja, na Santa Missa 
votiva «Maria Virgem serva do Senhor», lemos: «Maria, hu­
mild~ ~erva, é elevada à dignidade real: "já que serviu Cristo" 
(Prefacio), Deus Pai honrou-a muito e, porque aderiu plena-
118 
. ha experiência mariana nos exorcismos e 
A ,ntn nos outros m omentos ... 
nte à sua vontade, o próprio Deus exaltou 
me -a como " · h 
l riosa ao lado do trono do (seu) Filho" (Pref;' . ) . ram a 
g o . . acio . Nisto está 
bem-aventurança de Mana, como proclama O _ 
1 a _ versicu o ale-
lul. ático: "Es bem-aventurada, ó Virgem Maria q h , ue te c a-
maste serva do Senhor; agora, exaltada acima dos co , 
HL • _ • ros ange-
licos, toda a IgreJa te sauda, rainha do céu"» 112. 
Nunca nenhuma criatura humana igualou a humildade de 
Maria. Satanás, em vez de reconhecer que é criatura, aspirou a 
ser adorado como se fosse Deus e, recusando a verdade 
conhecida sobre Deus, não quer reconhecê-lo como fonte da 
vida e o seu bem supremo. Cego pela sua grandeza, recusou 
Deus, pensando que podia diminuí-lo e propondo-se como 
alternativa a Ele , à frente das outras criaturas angélicas e hu­
manas. Assim, enquanto Maria se afirmou humildemente 
«serva do Senhor», Satanás, pelo contr?rio, exaltou-se, procla­
mando-se deus e refilando com a sua atitude em relação ao 
verdadeiro Deus: «Não o servirei.» Como já referi anterior­
mente , parece-me que nesta atitude estão incluídas a recusa 
da Encarnação do Filho de Deus e a predestinação de Maria a 
ser Mãe do Filho de Deus e Rainha dos anjos e dos homens. 
Portanto, enquanto Maria pode ser considerada, com 
razão, rainha da humildade; Satanás é, pelo contrário e por 
excelência, o rei da soberba. 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Um dia, gritando, o demónio disse: «Sabes como é que ela 
me combate? Com a humildade! Ela sente-se ainda a última, 
embora seja a primeira! Ela sente-se a mais inútil, embora seja 
ª única útil , a única necessária a todos vós, imundos seres hu­
m · b. - que anos! Vós sois a abjeção e ela sente-se maior a ~eçao 
---112 C lT. · Maria p 75. 
ONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA Messe della Beata vergme ' . , 
119 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
vós! Odeio a humildade e odeio todos aqueles que o são, a 
começar por ela! A sua humildade humilha-me mais do que 0 
poder dele [ de Deus] . » 
Outras vezes disse: 
«A alma daquela resplende da sua humildade. Se fôsseis 
humildes, também de vós emanaria luz e todos vê-la-iam; por 
isso , devo convencer-vos a que sejais soberbos, de modo que 
todos vejam o negro do Inferno, em vez da luz do Paraíso. » 
«Sempre que ela vos convence a renunciar à soberba, 
vence uma batalha.» 
«Nunca ninguém como ela, nunca, nunca, nunca, teve a 
atitude interior e profunda de humildade ao seu Deus. Nunca 
ninguém. A quem quiser segui-la, basta isto.» 
«Nem por um instante, ela deixou de ser tão estupida­
mente humilde. Não a suporto de modo nenhum! Não a su­
porto de modo nenhum! » 
«Mesmo agora que foi coroada, que é Rainha e tem à sua 
volta anjos, arcanjos, serafins, continua a ser a mais humilde 
de todas.» 
§ 12 - Os pecados dos homens e a reparação ao 
Coração de Cristo e ao Coração Imaculado de Maria 
Catequese 
Ao longo da história da Igreja, Nosso Senhor Jesus CriStü, 
ao ·r . mani estar-se a diversas almas místicas, prediletas, pediu 
frequentemente reparação e consolação pelo que sofre, atual­
ment~, _ por causa dos pecados dos homens. O Homem-Deus, 
na glona, pode ainda sofrer? Como Deus certamente que não. 
Como Homem-D ' · da 
f eus, os santos e os místicos veem-no am 
so rer pelos pe d d -o 
ca os os homens, ouvem-no pedir reparaça 
120 
•nha experiência mariana nos exorcismo 
A rnt s e nos outros mom 
entos ... 
onsolação. Sobretudo, com a revelação d 1 e e . . o cu to do s d 
coração, mediante as visões (reconhecidas 1 a_gra o 
'd M . Al pe ª IgreJa) d Santa Margan a ana acoque, esta realid d . e 
. , . d 1 a e presencial de 
Cristo na histona as a mas parece fora de d , .d 
. uvi a. Mas em 
que sentido devemos interpretar estes sofriment , N ' 
. d h . . os. o sen-
tido em que ain a OJe continua a sofrer Aind h . . . . · ª OJe, Cnsto 
continua a sofrer mistenosamente no seu Corpo M' . . . .1st1co, que 
é a IgreJa; e, neste sofnmento de hoJe, pode_ actualmente _ 
ser consolado. 
São Paulo converteu-se ao compreender os sofrimentos de 
Cristo, que continuam na Igreja e no mundo. Enquanto ele se 
dirigia para Damasco , para prender os cristãos daquela ci­
dade, por volta do meio-dia, repentinamente uma grande luz 
vinda do céu refulgiu sobre ele. Caiu por terra e ouviu uma 
voz dizer-lhe: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» E Saulo res­
pondeu: «Quem és tu, Senhor?» Aquela voz disse-lhe: «Eu sou 
Jesus que tu persegues.» A perseguição de Saulo não tinha por 
objeto direto o próprio Jesus, mas os seus discípulos; con­
tudo,Jesus censura-o: «Porque me persegues?» Fala como al­
guém que está a sofrer nos seus. Cristo continua a sua Paixão 
nas perseguições que, ainda hoje, na pessoa dos seus discípu­
los, quando a sua Igreja é perseguida, quando é vilipendiada a 
pessoa do Papa e dos legítimos Pastores. Cristo continua a sua 
Paixão naqueles que sofrem.por causa da sua fé e do seu tes­
temunho acerca dele. Cristo sofre nos membros chagados do 
seu corpo, que é a Igreja. E, como Maria é inseparável de 
Cristo, também ela sofre juntamente com Ele. . 
Cristo e Maria sofrem especialmente pelos pecados e as 1
~­
firesulta uma perene 
conflituosidade entre eles e ela . Este livro confirma-o clara e 
surpreendentemente. 
Também nos Padres da Igreja se afirmam as mesmas coisas. 
Basta apenas a citação de Agostinho . Ele precisa que os de­
mónios, antes da sua culpa, possuíam sabedoria, embora não se 
saiba em que medida, se igual ou inferior aos anjos bons. Ao 
afastar-se da luz, os demónios recusaram a bem-aventurança, 
embora conservando a vida racional, mas de modo incipiente. 
De facto , possuem a ciência sem caridade; mas a ciência sem ca­
ridade, não vale de nada, antes se torna uma atitude de' soberba 
repleta de um vazio balofo (cf. De Civilate Dei, 9 ,20), que os 
10 
Prefácio 
entenebrece e fecha à verdade. Eles conhecem Deus, Cristo e a 
Virgem: mas odeiam-nos e combatem-nos ferozmente . Daqui a 
sua estultícia e dureza de coração. 
No Magistério da Igreja, em particular no Concílio Vaticano II 
' fala-se várias vezes do diabo; realça-se a relação entre ele e Maria, 
tendo por referência a ligação que existe entre a serpente e a 
mulher do Génesis . À luz da revelação de Cristo, «ela [Maria] 
aparece, a esta luz, profeticamente figurada, na promessa de vitó­
ria sobre a serpente, feita aos primeiros antepassados, caídos no 
pecado» (LG 55). Além disso , o paralelo, entre Maria e Eva, quer 
ilustrar a cooperação de Maria no evento da salvação com a sua 
fé na palavra de Deus, em contraste com Eva que colaborou na 
queda original com a sua adesão à serpente (LG 63). Aqui, trata­
-se da fé incondicional da Virgem, início da vitória sobre a ser­
pente sedutora, que nela não encontrou a debilidade de Eva e, 
por isso, não pôde arranhar minimamente a sua confiança em 
Deus e a [sua] firme adesão ao projeto divino. 
Estas breves notas mostram a perfeita sintonia do livro com 
os documentos da doutrina da Igreja e da sua tradição, até aos 
textos evangélicos. Nada a objetar, mesmo que se descubra uma 
válida confirmação , porque o testemunho provém de sujeitos 
declaradamente inimigos da verdade revelada, da qual se tornam 
defensores sinceramente convencidos, embora forçadamente 
mensageiros. 
4 . Os aspetos até aqui enumerados não sobrecarregam, antes 
animam as páginas do texto, porque os relatos dos exorcismos são 
descritos de um modo muito concreto e vivo. Dentro dessas des­
crições encontram-se e revelam-se os elementos significativos e 
basilares de que se falou . Daqui brota uma leitura absorvente e 
estimulante, sempre rica de conteúdos e de verdades doutrinais. 
Descobrem-se sempre os valores cristãos com clareza e lucidez. 
Além de oferecer uma leitura agradável, o livro suscita um im­
pulso contínuo à conversão e à santidade . Isto acontece devido 
ao amor intenso e filial a Maria, solicitando uma plena confiança 
11 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
nela, de onde brota uma serenidade interior do coração . Por 
outro lado, assiste-se a um apelo contínuo à vigilância e à oração, 
para enfrentar e superar os ataques do maligno. Extrai-se daqui 
um bom material para sugestões espirituais e de edificação da 
consciência, de modo a iluminá-la para seguir o caminho do se­
guimento de Cristo e evitar entregar-se às seduções satânicas. 
Isto constitui uma verdadeira vantagem para os cristãos, que 
sentirão uma alegria envolvente por permanecerem unidos a 
Cristo e à Igreja, sob a proteção materna de Maria. Assim coura­
çados, poderão caminhar na peregrinação terrena, embora atra­
vessando momentos de cansaço e dificuldade, com a certeza de 
superar tudo, face à conquista do Reino dos Céus. 
Resta-nos, enfim, fazer-lhe um caloroso convite para que leia 
e medite este livro do padre Francesco, de modo a extrair dele os 
mais úteis proveitos espirituais. 
Roma, 25 de março de 2010 
Solenidade da Anunciação do Senhor 
PE . RENZO lAVATOR! * 
* Docente de Teologia Dogmática em Roma, na Pontifícia Universidade Urba­
niana, no ISSR da Pontifícia Universidade da Santa Cruz e na Ecclesia Mater da 
Pontiflcia Universidade Lateranense. Entre as suas obras, há trts grandes volumes 
dedicados à demonologia. 
12 
Introdução 
Este livro, ainda que se tenha inspirado nos fundamentos 
bíblicos e no ensino da Igreja sobre Nossa Senhora, não é a 
apresentação de um estudo exegético ou uma discussão de 
questões e disputas doutrinais sobre a Virgem Maria. Trata-se, 
sobretudo, de um testemunho da amorosa e especial solicitude 
que Maria Santíssima mostra a favor dos seus filhos que 
sofrem, durante o delicado ministério dos exorcismos, e do 
poder que um autêntico culto a Nossa Senhora exerce sobre o 
mundo demoníaco. 
É motivo de grande alegria para nós, sacerdotes, também 
investidos com o delicado ministério do exorcismo, constatar 
no trabalho pastoral com as pessoas possessas a incessante e 
quase palpável presença e proteção de Nossa Senhora, prova e 
confirmação ulterior do insanável conflito entre ela e as forças 
do mal. O que acontece durante os exorcismos testemunha o 
papel importantíssimo da Virgem na luta contra Satanás e na 
libertação daqueles que estão possuídos. Na caminhada de 
libertação, o exorcista e a pessoa possuída fazem uma expe­
riência viva da presença e do amor incomensurável da Virgem 
que, com imensa ternura de Mãe, intervém ao lado dos seus 
filhos, lutando por eles e com eles contra Satanás. De facto , ao 
observar as atitudes e as reações dos demónios, e ao assistir às 
suas consecutivas derrotas - que com grande desilusão e raiva 
vão recebendo por intervenção da Virgem Maria - , veem-se 
confirmadas as palavras que Deus dirigiu a Satanás: «Porei 
13 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
inimizade entre ti e a mulher» (Gn 3,15) . Maria é a «Mulher» 
que, do Génesis ao Apocalipse 1 , segundo o desígnio de Deus 
Pai, está sempre ligada ao Filho, «encostada ao seu amado» 
(Ct 8 ,5) , a Ele inseparavelmente unida, na luta contra o ini­
migo infernal e na realização da sua própria missão salvífica: 
reconduzir o género humano ao seio do Pai. Nenhum homem 
redimido é capaz de dar a Cristo um contributo ao desenvol­
vimento da obra salvífica igual ao que a Virgem Maria, sua 
Mãe , lhe oferece. 
Neste texto, que me foi pedido insistentemente por diver­
sos setores, pretendo testemunhar esta grande e consoladora 
verdade que a Sagrada Escritura nos revela; isto é, Deus quis 
livremente, não apenas que Maria esteja presente na execução 
da obra salvífica de Cristo, mas também os efeitos decisivos 
que um autêntico culto à Senhora produz na luta contra Sata­
nás, um culto que atinge a sua plenitude na consagração e en­
trega ao Coração Imaculado de Maria. Além disso, tenciono 
testemunhar que os demónios que nós - os exorcistas - en­
frentamos, intimamente unidos à Virgem Maria, são obrigados 
a testemunhar a dignidade extraordinária que ela detém acima 
de todas as criaturas humanas e angélicas, e a confessar toda a 
verdade acerca dela e a total impotência deles no seu con­
fronto com ela. De facto , no decorrer dos exorcismos. veri­
fica-se uma singular alternância de expressoes depreciati\·as e 
1 «O "sinal grandioso" que o Apóstolo S. João viu no Céu: "uma Mulher rewsuda 
de sol" (d. Ap 12,1), não sem fundamento o interpreta a Sagrada Liturgia como refe­
rindo-se à Santíssima Virgem Maria, Mãe de todos os homens pela graça de Cristo R · 
dentor» (PAULO VI , Exortação Apostólica Signum magnum, Introdução, 1967). «Lemos 
no trecho do Apocalipse , hoje proposto à nossa meditação: "Apareceu no céu um 
grande sinal: uma Mulher vestida de sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma 
coroa de doze est relas na cabeça" (1 2, 1). Nesta mulher resplandecente de luz, os 
Pad res da Igreja reconheceram Maria. No seu triunfo , o povo cristão peregrino na his­
tória entrevê o cumprimento das próprias expectativas e o sinal seguro da sua espe· 
rança» ( BENTO XVI , Angelus na Solenidade da Assunção , 15 de agosto de 2006). 
14 
Introdução 
vulgares, e de «catequeses» involuntárias e louvores afectuo­
síssimos à Mãe de Deus , que - como descreverei - os demó­imep-Docete, 2009, pp. 42_45 _ 
u5 fb•d 
1 em, pp. 20-21. 
124 
. ha experiência mariana nos exorcismo 
A mtn s e nos outros m 
omentos ... 
santa Teresa Bendita da Cruz escreve: 
«O Salvador não está sozinho na cruz A 
... o longo d 
P
os cada homem que suportou com paciên . os tem-
' f . eia um destino d 
P
ensando nosso nmentos do Salvador e tom b . uro, 
- . ' ou so re s1 volu -
tariamente uma vocaçao expiadora, contribuiu . n 
d 
com isso para ali-
viar a carga enorme os pecados da humanidad . d 
e e a.JU ou o Sal-
vador a levar o seu fardo. Uma vez mais Cristo C b . ' 'ª a eça, realiza 
a obra redentora nos membros do Corpo Místico que se unem a 
Ele de alma e corpo, para a sua obra de salvação Na 1.d d •·· rea 1 a e 
0 sofrimento reparador voluntariamente aceito é O que . ' 
fundamente une ao Senhor» 116. 
mais pro-
O grande pensador católico Cornélia Fabro, no texto 
Gemma Galgani, Testimone del soprannaturale, escreve: 
«Quando os místicos e Santa Gema afirmam que veemjesus 
a sofrer, com a cruz , que tem as chagas abertas de onde goteja 
sangue, etc., pretendem referir-se a um [tempo, nt] presente real 
e não a uma imagem ou recordação do passado (p. 61). Não é 
uma imagem retrospetiva. Se assim fosse , o místico seria obriga­
do a declará-lo em primeiro lugar (p. 65). Por causa dos cons­
tantes pecados dos homens , a Paixão de Cristo continua de 
algum modo (mística e realmente) em Cristo, porque os homens 
continuam a pecar e a qualificar a história com o novum das suas 
escolhas de rebelar-se contra Deus (p. 73). Já na promessa de 
Cristo - que Ele, embora tendo subido para o Pai, permanece 
sempre presente na sua Igreja (Mt 28,20) - parece implícito que, 
de algum modo , Ele ainda pode sofrer pelos pecados do mundo 
e sobretudo dos cristãos (p. 76). Jesus não é um espectador indi­
ferente. Goza quando o homem o ama e permanece fiel; sofre 
quando o homem O ofende (p. 76). Quando os Santos florescem, 
Cristo rejubila; quando infestam os pecados, Cristo sofre (p. 7s). 
----l lõ D . . _ , . l d Santa Teresa Ben-
d
. 0 escnto Das mystische Suhneleiden [A exp1açao mi5uca e 
1ta da e . ruz - Ednh Stein. 
125 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
É uma solução muito redutora negar que Cristo, já glorioso, não 
sofre como homem, porque já sofreu por todos os pecados da 
história humana, que Ele tinha previsto um por um (p. 78). Não 
podemos explicar como é que o Homem-Deus na glória ainda 
pode sofrer na sua natureza humana, por causa dos pecados do 
homem; mas é a convicção expressa na linguagem habitual da 
piedade cristã e é o próprio Cristo que, continuamente, o diz aos 
místicos (p . 78, nota 21), pedindo-lhes ao mesmo tempo que 0 
consolem com a sua participação nas suas dores. O Homem­
-Deus na gloria ainda sofre? Como Deus, certamente não. Como 
Homem-Deus, os santos e os místicos veem-no ainda sofrer 
pelos pecados dos homens, ouvem-no pedir reparação e conso­
lação (p. 79). Cristo não só não é indiferente ao comportamento 
da liberdade do homem, mas sente os seus contragolpes na sua 
santa humanidade e sensibilidade, e, por isso, também pode 
manifestar, como parece acontecer nos estados e nos fenómenos 
místicos (p. 85). Cristo pede ao homem a participação nas dores 
da sua Paixão, a título de compaixão com Ele e de expiação pelos 
pecados que os homens continuam a cometer. O convite de 
Cristo aos seus privilegiados é feito certamente com a palavra, ou 
seja, com a declaração expressa do seu sofrimento real , mas so­
bretudo mostrando-se-lhes visível, de modos variados, o seu 
sofrimento atual pelos pecados atuais que, ainda hoje, os ho­
mens continuam a cometer. E isto para excitar a comoção do 
místico e, portanto, a sua real participação e conformidade com 
a Paixão de Cristo: para consolá-lo , para aliviar-lhe o sofrimento 
(p. 86)» 11 7_ 
Sobre este tema, também interveio o cardeal Carlo Maria 
Martini. Ao comentar o significado das lágrimas de ossa 
Sen~ora no santuário de La Salette, aonde ele fora em peregri­
n~çao, por ocasião do 150. º aniversário da aparição, expri­
miu-se assim: 
u, C F 
. ABRO Gemma Gal · T . 9 ' gani. 1est1mone dei soprannaturale, Roma, Ed. Cipi, 198 · 
126 
. ha experiência mariana nos exorcismo 
A mtn s e nos outros m 
0 mentos 
« Deveríamos refletir longamente sob · .. 
. . , _ re o sofri 
em Mana, Jª que nao sofreu apenas du mento da Vir-
g . rante a su . ~ . 
mas também ainda sofre e continua a sofr H . ª existenc1a, 
. d d er. OJe sofre 
ulpas da human1 a e, tem compaixão d . ' com as 
e . . as minhas fra 
das minhas fragilidades e dos meus medos 1 , quezas, 
, · · stº e um mistério 
P
rofund1ss1mo porque, de algum modo perm·t . 
, l e-nos intuir o so 
frimento de Deus pelo mal que fazemos. Um m· , . -
. . . isteno que a teo-
logia d1fic1lmente consegue elaborar, já que tem d f . 
. . os o so nmento 
um conceito negativo, como se se tratasse de um . r . _ 
. , a 1mper1e1çao 
que não pode ser atnbu1da nem a Deus nem a M . N ana. o en-
tanto, a mensagem de La Salette convida-nos a ir além da ver-
dade de Deus perfeitíssimo, de Maria feliz na glória. A felicidade 
divina, a felicidade dos santos não é tão perfeita que não pennita 
envolver-se na infelicidade humana. Com palavras humanas 
chamamos-lhe sofrimento, mas seria melhor dizer paixão de 
amor, amor apaixonado e cheio de ternura, justamente de com­
paixão. A propósito , gostaria de citar alguns pensadores e místi­
cos: "A Senhora que chora - escreve Paul Claudel referindo-se a La 
Salette - e o grito que emite: 'Desde há muito tempo, sofro con­
vosco! ', indicam que no Céu se sofre . Ela segura o braço do 
Filho: mas não é o Filho que é mais omnisciente e mais omnipo­
tente? São coisas que uma teologia circunspecta tenta justificar, 
mas que o coração compreende ... " 
E François Mauriac: "As lágrimas da Virgem levam-nos a orar 
no mesmo terreno das lágrimas do Senhor. Jesus chora, Nossa 
Senhora chora sobre aqueles que me conhecem e não me acolhe­
ram. Em La Salette, Maria chora sobre a rejeição daqueles que 
sabem o que fazem." 
As palavras talvez mais incisivas, sobre a mensagem deste san­
tuário, foram escritas por Jacques Maritain, que meditou longa­
mente sobre esta mensagem e que, precisamente aqui , se prepa­
rou com a esposa para receber, depois da conversão, o Sacramento 
do Crisma: "Se a Senhora chorou, quer dizer que no complexo ~e 
sinais que os homens podem compreender, nenhum outro podia 
exprimir melhor a realidade inefável de tudo o que acontece no 
C - d r · pecam aque-eu. Não é por excesso, mas antes por eieito que 
127 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
les meios de expressão que implicam alguma imperfeição ou 
alguma dor real, incompatível com a bem-aventurança. As lágri­
mas da Rainha do Céu estão muito longe de mostrar-nos O sobe­
rano horror que Deus e sua Mãe sentem pelo pecado e a sua 
soberana misericórdia pela miséria dos pecadores"» 118
• 
Em Fátima, Nossa Senhora mostrou-se dorida pela ingrati­
dão, pela indiferença e pelas blasfémias dos seus filhos: por 
isso, pediu reparação ao seu Coração Imaculado. Nos pastori­
nhos nasceu, imediatamente, o desejo de seguir o seu pedido 
e consolá-la. 
Na aparição de 13 de julho de 1917, Nossa Senhora ensi­
nou às crianças uma oração que associa a reparação a Jesus 
com a reparação ao seu Coração Imaculado: «Sacrificai-vos 
pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizer­
des algum sacrifício: ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos 
pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o 
Imaculado Coração de Maria» 119
. Além disso, preanuncia que 
irá pedir a comunhão reparadora dos primeiros sábados de 
cada mês: isto realizar-se-á durante a permanência da Irmã 
Lúcia no mosteiro de Pontevedra, em 1925. 
Na aparição de julho, Nossa Senhora também mostrou a 
visão terrível do Inferno , que justificava ainda mais o seu 
pedido de sacrifício reparador e de oração pelos pecadores. 
O seu Coração e o de Jesus haveriam de ser consoladosna 
mesma medida em que os Pastorinhos, com a sua oferta gene­
rosa, haveriam de contribuir para salvar as almas da condena­
ção eterna. Em agosto de 1917, Nossa Senhora volta a fazer o 
mesmo pedido quando, com um aspeto mais triste, lhes disse: 
«Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios por os pecadores, que vão 
118 
C.M. MARTIN! , Maria sofre ancora, Milão, Piero Gribaudi Editore 1997, PP· 30-32· 
119 Memó · d - - · ' 611 
p. 
176
_ nas ª Irma Luc1a, vol. I, Fátima, Secretariado dos Pastorinhos, 200 ' 
128 
·nha experiência mariana nos exorcismos 
A rn1 e nos outros m 
0 mentos ... 
l·tas almas para o inferno por não haver mu quem se s ir: 
Ç
a por elas» 120_ O rosto triste e as palavras d v· acrI.Jique e 
pe . . a 1rgem prod 
ern neles um desejo ainda mais profundo de u-
z . . _ reparar os peca-
dos e de sacnfrcar-se pela conversao dos pecad Ch 
, ores. egaram 
ao ponto de amarrar uma corda a volta da cintura t d , razen o-a 
dia e noite com tão grande sofrimento que Nossa Senhora na 
aparição seguinte, a 13 de setembro de 1917, disse com ser~na 
bondade: «Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não 
quer que durmais com a corda; trazei-a só durante O dia» 121 _ As 
crianças obedeceram a esta limitação, mas perseveraram ainda 
com mais fervor naquela dura penitência - porque sabiam que 
agradavam a Deus e à Virgem - , trazendo a corda até na última 
doença, durante a qual aparecerá manchada de sangue. 
A 13 de outubro de 191 7, na última aparição, o chama­
mento à repara ão aparece na parte final da conversa com 
Lúcia quando, ao pedido da menina: «Eu tinha muitas coisas 
para Lhe pedir: se curava uns doentes e e convertia uns pecadores, 
etc.», a Senhora responde: « Uns sim; outros não. É preciso que se 
emendem, que peçam perdão dos seus pecados. E, tomando um 
aspeto mais triste : Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que 
Já está muito ofendido» 122 . Além disso , durante o prodígio do 
Sol, houve outro apelo à reparação: a Senhora apresentou-se 
na forma de Senhora das Dores, para fazer-nos compreender 
q 1 · f' · reparador ue a salvação do mundo passa pe o sacn 100 · 
A · · · tivamente da ssim como Maria nesta terra ao participarª 
rn1· - d . ' - d h ns a verdadeira ssao o Filho foi para a salvaçao os orne 
rnulh d ' · h e cada um de er as dores, assim também os pastonn os -
nó f d orrer o mesmo 5 - oram [somos , nt] convida os a perc 
----120 Ibidem, p. 1 78 
i21 Ibidem, p. 180. 
122 Ibidem, p. 181: 
129 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
caminho, abraçando cada dia com amor a nossa cruz em 
expiação pelos pecados e pela salvação dos pecadores. 
Depois das aparições de Fátima, o próprio Cristo manifes­
tou expressamente o desejo de que, juntamente com o seu 
Coração, fosse também reparado e consolado o Coração da 
Mãe. «No dia 10-12-1925 [no convento de Pontevedra, Espa­
nha], apareceu-lhe [à Irmã Lúcia, nt] a 55. Virgem e, a seu 
lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. 
Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrou-lhe, ao mesmo 
tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espi­
nhos. Ao mesmo tempo, o Menino disse: "Tem pena do Coração 
de tua 55. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos 
a todos os momentos lhe cravam sem haver quem faça um ato de 
reparação para os tirar." Em seguida, disse a S5. Virgem: "Olha, 
minha filha, o meu Coração cercado de espinhos que os homens 
ingratos a todos os momentos me cravam, com blasfémias e ingra­
tidões. Tu, ao menos, vê de me consolar e diz que todos aqueles que 
durante cinco meses, ao 1. º sábado, se confessarem, recebendo a 
Sagrada Comunhão, e me fizerem 15 minutos de companhia, medi­
tando nos 15 mistérios do Rosário com o fim de me desagravar, eu 
prometo assistir-lhes na hora da morte, com todas as graças neces­
sárias para a salvação dessas almas"» 123. 
Com esta aparição , deu-se , em certo sentido , o cumpri­
mento da «espiritualidade da reparação» em Fátima. 
Nossa Senhora manifesta dor, não só pelas ofensas dirigi­
das diretamente a ela, mas também e sobretudo pelos pecados 
que ofendem Deus e expõem aqueles que os cometem ao pe­
rigo de caírem no Inferno. Ela é Mãe e, embora esteja na glória 
ce_leste, é impossível que seja insensível ao mal que fazemos, a 
nos mesmos ou aos outros, e não se impressione com os riscos 
ª que O pecado nos expõe. Apesar da sua beleza radiosa, ela 
mostra-se triste. De algum modo, misterioso mas real, tam-
m Ibidem, p. 192. 
130 
--
·nha experiência mariana nos exorcismos e 
A 1111 nos outros moment os ... 
b,rn agora sofre e pede reparação. A reparaç~ . 
e b , C . ao que ela implo 
_ e que taro em nsto pede em relação a M- -
ra . _ , sua ae - tem 
rno objetivo nao so o de consolar o seu Cora - 1 co . çao maculado 
arrancando» dela os espinhos com que os d ' « peca ores 0 
Cravam a cada momento, mas também O de obter 1 . , pe a sua 
intercessão maternal, a piedade e a misericórdia de Deus, em 
benefício de tantas almas que vivem no pecado. 
Diante dos pecados do mundo, que crucificam novamente 
Jesus Cristo e tornam atuais os sofrimentos da Virgem, senti­
mos a necessidade de nos agarrar a ela, como fizeram São João 
e a Madalena no Calvário , para consolar o seu Coração e para 
nos oferecermos a Deus através das suas mãos. Antes de tudo 
' 
esta reparação realiza-se com o nosso empenho em observar 
os Mandamentos de Deus; com os pequenos sacrifícios quoti­
dianos oferecidos; com o nosso Terço diário; com a Santa 
Confissão bem-feita e periódica; com o esforço empenhado na 
conversão contínua. Tudo isto deve ser oferecido no altar, no 
momento da Santa Missa e unido ao sacrifício de Cristo. Além 
disso, a Senhora pediu a celebração dos Primeiros Sábados de 
cada mês em reparação ao seu Coração Imaculado, com a 
meditação de, pelo menos, um quarto de hora, dos mistérios 
do Rosário e com a Confissão e a Sagrada Comunhão eucarís­
tica. Esta é a ajuda que se espera de nós na luta contra Sata­
nás, pelo triunfo do Reino de Deus nas almas e na sociedade. 
De facto , Nossa Senhora, com esta nossa oferta reparadora, 
juntamente com a de muitos outros dos seus filhos queª 
amam e estão a seu lado, aproxima-se do Filho, implora 
perdão por muitos anos afastados de Deus e suplica por elesª 
graça da conversão, Deus convida-os, com amor infinito, ao 
arrependimento dos seus pecados e a uma vida nova em 
Crist0· De tal modo, a Virgem Maria coopera com Crist~ para 
sanar atualmente o mal do mundo, obtendo a libertaçao da 
escravatura de Satanás das almas daqueles filhos que, ren-
131 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
quem me ajudou; quanto mais espinhos tanto mais 
força, quanto mais dor mais glória; os vossos pecados trans­
formaram-se em glória, porque outras tantas almas se consa­
graramª expiá-los e cada alma faz com que salte um espinho 
e cada · h " , b " espin ° que salta espeta uma brasa no nosso cere ro · 
132 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
que vivem no pecado. Como veremos, os próprios demónios, 
malgrado seu, tiveram de confirmar tudo isto com grande 
desapontamento. 
Num parágrafo anterior deste capítulo, já descrevi o modo 
como a intercessão da Virgem não consiste apenas em orar, por 
nós e para nós, para nos obter não só a graça santificante e 
cada uma das graças de que vamos precisando, mas também 
em dar a Deus o que lhe oferecemos. Um dia, enquanto estáva­
mos a apresentar e a oferecer a Nossa Senhora orações, ale­
grias, sofrimentos e toda a nossa vida, juntamente com osso­
frimentos da pessoa possessa, o demónio foi obrigado a dizer: 
«Cada alegria, dor, sofrimento, oferecidos àquele Coração (de 
Maria) , são doces ternuras de profunda caridade que ela aceita 
e oferece com as suas mãos e levanta-as à luz daquele Criador.» 
Um triste acontecimento tinha provocado em mim um 
grandíssimo sofrimento moral. Uma manhã, quando retomei 
os exorcismos, no primeiro dia depois daquela prova dolo­
rosa, o demónio, sentindo-se irritado com o meu regresso aos 
exorcismos, quis desforrar-se e, de repente, começou a descre­
ver com grande precisão , e rindo-se perfidamente e com 
grande satisfação, todos os factos que me tinham causado 
aquela aflição, gabando-se de ter contribuído para suscitá-los 
e para fomentá-los. Também ameaçava provocar-me outros. 
Então, fiz esta oração: «Senhor, pelas mãos da Mãe Celeste ofereço­
-te com todo o meu coração aqueles sofrimentos.» Ainda não tinha 
acabado de dizer a palavra «sofrimentos» e já o demónio mu­
dava a «música» . Com urros que rebentavam os tímpanos, 
gritou: «Não, nããoo! Foi ela que a apanhou (palavrão). Roubou-a! 
Logo a levou! (referia-se à oferta do sofrimento). Levou-a Aquele, 
imediatamente!!! Quase nem deu tempo de apanhá-la. Apanhou-a e 
levou-lha lá acim T: d l l a. 10 as e as a mas que me levooouu!!!» 
134 
. ha experiência mariana nos exorcismos 
A ,nrn e nos outros 
momentos ... 
Está ainda viva em mim a recordação d . 
e um ep1 -d. nteceu recentemente: durante uma co so 10 que 
aco . nversa pessoal 
. ha ensinado a oferta a Deus de si própri 
1 
_ , eu 
un 'd d o, pe as maos de 
Maria ao man o e uma senhora que recebi·a . 
, . exorcismos. Eu 
também unha com posto uma oração que ele de . . . 
_ _ vena 1nsenr 
entre as suas oraçoes da manha e da noite para . ·r· 
. , . , VIVI Icar o espírito desta oferta diana. 
Naquele momento, a esposa não tinha qualquer possibili­
dade de saber nada do que eu_ dissera ao marido, porque 
vinha ao nosso encontro com a filha. Tendo chegado junto de 
nós e sido iniciado o exorcismo, logo o demónio, berrando, 
disse: «É inútil que ensines aquelas coisas a esse (e disse um pala­
vrão , apontando com o dedo o marido daquela mulher) e, 
depois, aquele papel que escreveste (referia-se claramente à 
oração que eu tinha composto), vou rasgá-lo, vou rasgá-lo!» 
§ 13 -A Assunção de Maria 
Catequese 
Pio XII declarou e definiu «ser dogma revelado por Deus 
que: a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, termi­
nado o curso da vida terrena, foi assumpta à glória celeste em 
alma e corpo» 125
. A Assunção foi um evento salvífico, uma 
ação realizada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, dom 
de graça. A Bem-aventurada Virgem - reafirma o Vaticano II -
«terminando o curso da sua vida terrena foi levada à glória 
celeste, em corpo e alma, e exaltada pelo Senhor como Rainha 
do Universo, para que se parecesse mais com o seu Filho, ~e­
nhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte» (LG 5 ). 
~ . (l d mbro de 1950), in A onstitu1ção Apostólica Munificentissimus Deus e nove . . 
1 6 /tªApostolicre Sedis 42 (1 950), pp. 753-771. Cf. Enchiridion delle Encicliche, vo . , 
olonha Ect · . . 1 
' 1z1oni Dehoniane, 1995, pp. 1487-152 • 
135 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Era um dia 15 de agosto, solenidade litúrgica da Assunção 
de Maria Santíssima. Enquanto eu exorcizava, o demónio ex­
clamou: «Que perfume, que perfume emana! Que fedor, que 
fedor!» Tendo-lhe eu ordenado em nome de Jesus que medis­
sesse a que perfume se referia, com desgosto e pronunciando 
uma única vez o nome Maria (coisa raríssima, que só acontece 
quando é particularmente «pressionado» pelo poder de 
Deus), disse: 
«Aquele perfume vem da alma e do corpo dela. A sua alma 
nunca deixou o seu corpo, a vossa fá-lo-á, a sua nunca o fez. 
Desde que a sua alma entrou naquele corpo nunca o deixou e 
com aquele corpo foi assumpta. Ela e só ela, só ela, ela em pri­
meiro lugar, depois do seu Filho. O seu Filho morreu, mas 
levou embora o corpo, tal como ela o fez. Ela, porém, não teve 
sequer necessidade de morrer. Ela fechou os olhos e ouviu o 
seu Filho que estava a chegar para levá-la abraçada a si, e 
levou-a consigo e disse-lhe: "Assim como Tu me trouxeste a 
esta terra, assim te levo para o reino do nosso Pai." Ela sorriu 
com os olhos fechados e via-o mesmo com os olhos fechados 
e Ele levou-a consigo , voou sem asas e chegou à presença 
daquele Deus que foi para ela pai, esposo, filho e irmão. Ela 
fora predestinada para isto 126
, não podia morrer, porque era o 
Templo santo de Deus; ela foi criada para hospedá-lo; ela es­
tava na mente de Deus antes da criação. Ele disse-lhe: "Fecha 
os olhos, Maria. Assim como o meu Espírito te levou naquele 
dia, agora sou Eu próprio quem te leva. Estarás para sempre 
ª.º lado do teu Filho." E ela rejuvenesceu. Naquele momento 
unha a mes · d d d · , . ma 1 a e e quando concebeu o seu Filho umge-
nito: catorze anos Era l' · d d · ado . · um 1no o campo intoca o, 1ntoc ' 
ninguém ha · d d ' vena e esflorá-la; ela nunca haveria de ter 
126 s b 0 re a doutrina d d • , lo e 
o Catecismo da 1 . ª pre e5unação, veja-se também a nota 30 deste capitu 
greJa Católica 488-489. 
136 
A minha experiência mariana nos exorcismos 
e nos outros momentos ... 
edo· ela não conhecia o medo nem sequ rn ' . . ' er quando am 
arn O seu Filho; ela nunca tinha medo· el . eaça-
v . , a nunca tinha ran-
cor. Ela tem sempre um sornso, mesmo quand h o c orava -ela é 
0 
resgate da vossa raça.» ' 
§14 -A caridade para com o próximo 
Catequese 
A plenitude da graça de Maria também implicava, necessa­
riamente , uma plenitude de amor a Deus e ao próximo. 
Assim, Maria foi cumulada de amor divino que ultrapassa, em 
extensão e intensidade, o amor ao Senhor de todos os homens 
e de todos os anjos. Ao mesmo tempo, só podemos remota­
mente imaginar a que vértices chegou, no Coração de Maria, o 
amor ao próximo , consequência lógica e necessária do seu 
amor a Deus. a terra , o próximo de Maria eram todos os 
homens criados por Deus; o próximo era o povo hebreu, a 
que ela pertencia; o próximo eram e são todos os homens, tor­
nados seus filhos no dia da Encarnação; o próximo eram 
todas as almas que o Filho vinha redimir com a sua coopera­
ção; o próximo é a Igreja de que ela é Mãe. Portanto, a devo­
ção mariana, quando é autêntica, não pode deixar de condu­
zir ao amor ao próximo, à imitação de Maria. A oração de 
1 d M · 128 
co eta 127 da Santa Missa do Coração Imaculado e ana re-
memora o amor do próximo, como consequência do amor de 
Deus, fazendo voltar o nosso olhar para aquele Coração, no 
qual este amor atingiu alturas vertiginosas: «Ó Senhor nosso 
Deu · ste a morada s, que no coração Imaculado de Mana puse 
---- M. i2, A . durante a Santa issa, 
dep . oração de coleta é a que o sacerdote pronuncia, . d mingos e nas 
01s do at . . . d · do Glona nos o sol . 0 pemtencial inicial nos dias fena1s, epois 
en1dad 1. . . 
,2 es nurg1cas. . 93 
8 CoNF d ll B ta Vergine Mana, P· · 
ERENZA EPISCOPAL ITALIANA, Messe e a ea 
137A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
do Verbo e o tempo do Espírito Santo, dá-nos um coração 
puro e dócil, para que na via dos teus mandamentos, aprenda­
mos a amar-te acima de todas as coisas, sempre atentos às ne­
cessidades dos irmãos» 129
• A Senhora, animada pelo seu amor 
ao próximo, esteve sempre atenta às necessidades dos irmãos e, 
agora, espera que cada um de nós, imitando-a, o seja onde se 
encontra e vive diariamente, em particular ao próximo que 
sofre, bem perto de nós. 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Acerca do nosso amor ao próximo, uma vez, o Maligno ex­
primiu, inesperadamente - com uma frase que só a presença 
viva da Virgem Maria podia «arrancar-lhe da boca» -, a dor 
que ela, de algum modo, sente pela indiferença que podemos 
ter a quem sofre. Foram estas as suas palavras: «Ela quer que 
se lhe obedeça e eu não a escolhi. A sua presença é mais pode­
rosa que miríades de anjos. Se ela está aqui, eu devo forçosa­
mente obedecer-lhe e ela quer que saibais que nada pode 
ofendê-la mais do que a indiferença. Até ela não chegam in­
sultos, nem sequer as blasfémias, mas um olhar que anda de 
um lado para o outro e não vê os sofrimentos dos irmãos des­
pedaça mais fortemente o seu Coração do que a lança que 
dilacerou o seu Filho.» 
§ 15 - A Senhora e a Eucaristia 
Catequese 
A E~caristia é o Corpo e o Sangue de Jesus, que Ele tomou 
de Mana no momento em que, por obra do Espírito Santo, se 
129 Esta or - d l · . 
1 
açao e co eta é diferente da do Missal editado pela Conferência Epis-
copa Portuguesa [nt] . 
138 
. h experiência mariana nos exorcismos e 
A ((ltn a nos outros mom 
entos 
h ru
em no seu seio virginal. Portanto d 
fez o , quan o re b 
Corpo, que se imola no altar, e este Sa ce emos 
este , 1 - ngue, que nos 
. será passive nao pensar em Maria'? Est C re-
d1rne, r . 1 · e orpo foi for 
do nela! Este Sangue 101 e a quem O deu ao F'lh ~ 
rna b r . 1 o! Por seu 
. rmédio o Ver o 1ez-se nosso alimento, 1nte · 
Se portanto, Maria é a Mãe do Verbo que assu . 
' . _ _ ' miu a nossa 
tureza humana, se Mana e a Mae do Filho de D na _ eus, que 
dela tomou a carne e o sangue, entao Maria também é a Mãe 
da Eucaristia, porque a Eucaristia é o Filho de Deus que con­
tinua a fazer-se carne sobre os nossos altares e esta Carne tam­
bém é carne de Maria. Jesu s tom ou o seu Corpo e O seu San­
gue unicamente de Maria , porque foi dela concebido sem 0 
concurso de um pai humano , mas pela ação do Espírito San­
to; e, portanto, também na Eucaristia, Jesus é sempre O fruto 
bendito de Maria. O Santo Padre João Paulo II escrevia: «Gra­
ças a desta maternidade [de MaJia], Jesus - Filho do Altíssimo 
(cf. Lc 1,32) - é um verdad ei ro f ilho do homem. É "carne", 
como cada homem: é "o Verbo (que) se fez carne" (cf. Jo 
1,14). É corpo e sangue de Maria!» 130
• «Com razão a piedade 
do povo cristão sempre reconheceu uma profunda ligação 
entre a devoção à Virgem santa e o culto da Eucaristia» 131
. 
Sobre esta relação sublime entre Cristo e Maria na Euca­
ristia, um dia, Santo Inácio de Loiola viveu uma experiência 
mística que descreveu assim: «Sexta-feira [1 5 de fevereiro] ... 
Ao preparar o altar, depois de me ter paramentado, e durante 
ª Santa Missa, fortíssimas moções interiores, copiosas e inten­
síssimas lágrimas e soluços, frequente ausência da palavra. O 
mesmo aconteceu depois de terminada a Missa, durante um 
---1• • 1· a 
• ]OÃO PAULO II , Redemptoris Mater 20. Além disso, na nota 43 da carta ~ncic ic 
le-se· ~e · d Maria Cnsto car-
. nst0 é verdade, Cristo é carne: Cristo verdade na mente e ' 
ne no se· d · d 't') 7· PL 46 938). 10 e Marta» (Santo AGOSTINHO Sermo 25 [Sermones me 1 1 
' · ' 
131 Ibidem 44. , 
139 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
longo momento da sua celebração, enquanto me preparava e, 
depois, sentir e ver intensamente Nossa Senhora muito favo­
rável diante do Pai e ao Filho, de modo que, nas orações ao 
Pai e ao Filho e na consagração eu não podia deixar de ouvi­
-la ou vê-la como quem é parte ou intermédio da graça tão 
grande que eu experimentava em espírito . Na consagra­
ção Jazia-me compreender que a sua carne estava na do Filho, e 
eu tinha inteligência de coisas tão altas que não se podem 
[ d] escrever» 132
• 
Ainda a esse respeito, é conhecida a conversão do padre 
Ermanno. Ao aparecer-lhe, Maria disse-lhe: « Vem comer o pão 
que eu formei com o leite virginal do meu sangue de virgem; vem 
beber o vinho que extraí do meu mais puro sangue. Se queres 
conhecer a mãe que deves seguir preferentemente, presta atenção 
ao fruto das minhas entranhas.» E mostrando-lhe o ostensório 
com a Hóstia branca, disse : «Eis o fruto, a Eucaristia» 133
. 
Eis então porque, já há alguns séculos, São Pedro Juliano 
Eymard , o grande apóstolo da Eucaristia , afirmava que 
«Maria, como despenseira universal da graça, recebeu a completa 
disposição dos tesouros de graça contidos na Santíssima Eucaristia. 
Por conseguinte, compete-lhe dar a conhecer e amar Jesus no San­
tíssimo Sacramento e dispor as nossas almas na Santa Comunhão. 
Ela é a tesoureira de todas as graças encerradas na Santa Euca­
ristia, não só as que nos preparam a recebê-la, mas também as que 
derivam deste Sacramento» 134
• 
Portanto , na Eucaristia há uma doce e misteriosa presença 
de Maria Santíssima, inseparável e inteiramente unida ajesus. 
Todas as graças que Ele quer dar-nos por meio da Eucaristia, 
dá-no-las somente por intermédio da Mãe. Ao redescobrir a 
132 
Do Diario spirituale di sant'Ignazio di Loyola. [Missa] di nostra Signora al Tem­
pio. Simeone 14. 
m M. V BERNADOT, OP, Maria nella mia vita Roma Edizioni Paoline 1954. 
134 p ' ' ' 
· FRANc Esco M. AVIDANO, SM, Un segretto di Jelicità, 10.ª ed., Casale Monferrato 
(AL), Apostolato Mariano, 1980, p. 180. 
140 
A minha experiência mariana nos exorcismos 
e nos outros moment os .. . 
dl·mensão mariana da Eucaristia teremos ' acesso a gr . 
copiosas, tanto da nossa participação na Santa M· aças mais 
h - , . 1ssa como da 
nossa comun ao eucanst1ca, e também d ' 
, . a nossa adoração 
eucansuca. 
A própria Virgem ensinava o padre Domen· d 11 . . ico e a Madre 
di Dw a receber com proveuo Jesus-Eucaristia: 
«Sefiores verdadeiramente humilde a humildade . , d . ' supnra tu o. 
Não podendo fazer outra coisa, oferece a Deus as mi·nh d' . as isposi-
ções em conversar com Ele na terra. Imagina recebê-lo como eu 
0 
recebi no meu seio, na Encarnação. Ou como O acolhi nos meus 
braços, quando veio à luz. Ou como o abracei no caminho do Cal­
vário e quando foi deposto da cruz, ou ainda depois da Ressur­
reição. Este pensamento também poderá sugerir-te considerações 
salutares durante o dia. Seguidamente, oferecer-lhe os sentimentos 
que lhe testemunham em palavras e em obras e ele aprecíá-las-á 
como coisa tua» 135
. 
Também os Santos Padres João Paulo II e Bento XVI exor­
taram a receber Cristo como Maria e com Maria. Dedicando o 
capítulo VI da Encíclica Ecclesia de Eucharistia a Maria - «Na 
Escola de Maria, Mulher "Eucarística"» - o papa João Paulo II 
escrevia, entre outras coisas: «Na Eucaristia, a Igreja une-se 
plenamente a Cristo e ao seu sacrifício, fazendo seu o espírito 
de Maria» 136 . E o papa Bento XVI, na Exortação Apostólica 
pós-sinodal Sacramentum caritatis, no parágrafo «A Eucaristic:t 
e a Virgem Maria» , escreveu: «Maria de Nazaré, ícone da Igreja 
nascente, é o modelo de como cada um de nós é chamado a acolher 
0 dom que Jesus faz de si mesmo na Eucaristia» 137
· 
Acerca da relação entre Nossa Senhora e a adoração euca­
rística, escrevia [ainda] João Paulo II: «Quando, na visitação, 
ns Ibidem, p. 179. 
1)6 E l . de cc esia Eucharistia 58. 
137 s 
acramentum caritatis 33. 
141 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
Maria transporta no seio o Verbo feito _carne, f a~-se, de algu,n 
modo, "tabernáculo" - o primeiro tabernaculo da história_ onde 
0 
Filho de Deus, ainda invisível aos olhos dos homens, se concede à 
adoração de Isabel, como que "irradiandoa sua luz" através dos 
olhos e da voz de Maria» 138 
• 
São Pedro Juliano Eymard afirmava que já nesta terra 
depois da Ascensão de Jesus ao Céu, Nossa Senhora vivia no~ 
do Santíssimo Sacramento, e por isso ele gostava de chamar­
-lhe «Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento». 
Quando apareceu a Santa Catarina Labouré, na capela do 
noviciado, Nossa Senhora apontou-lhe o sacrário e disse: 
« Vinde aos pés deste altar; aqui, as graças serão derramadas em 
abundância sobre todos os que as pedirem com confiança, sobre 
grandes e pequenos.» 
Nossa Senhora é a doce Mãe do Deus da Eucaristia, a Mãe 
do Cristo Eucarístico, e quer que se adore o seu divino Filho 
na Eucaristia. 
«São Pio da Pietrelcina dizia, às vezes, aos seus filhos espi­
rituais: "Mas não vedes a Senhora sempre ao lado do sacrário?" 
Maria está sempre ao lado do Tabernáculo. E como poderia 
ser de outro modo, se era ela quem no Calvário «estava junto 
da Cruz de Jesus» Oo 19,25)? Por isso, Santo Afonso Maria de 
Ligório, a cada Visita a Jesus Eucarístico, unia sempre a Visita a 
Maria Santíssima. São João Basco dizia: "Suplico-vos que re­
comendeis a todos, primeiro a adoração a Jesus Sacramentado 
e, depois, o obséquio a Maria Santíssima." Também São Ma­
ximiliano M. Kolbe recomendava que, quando se fosse ter 
com Jesus Eucarístico, nunca se esquecesse a recordação da 
presença de Maria , chamando por ela e unindo-se a ela, 
fazendo-se pelo menos atravessar a mente do seu suave nome. 
N~ vida de São Jacinto, dominicano, lê-se que, uma vez, para 
evitar uma profanação do Santíssimo Sacramento, o santo 
138 Ecclesia de Eucharistia 55 . 
142 
•I"'\ • • 
A minha expenenoa manana nos exorcismos 
e nos outros momentos ... 
Orreu para o sacrário e pegou na píxide 
e com as Par 1 
radas para pô-las em lugar seguro. Qua d . . _ r icu as Sa-
g _ . n o 1a Ja a f · 
Jesus Eucansnco agarrado ao peito ouvi·u ugir com 
' uma voz q · h 
da estátua de Maria Santíssima, ao lado do altar· "Co ue ~n a 
levas Jesus sem me levar também?" o santo · mo e que 
b - parou espantado 
compreendeu a o servaçao, mas não sabia O e ' 
1 - d que 1azer para 
também evar a estatua a Mãe Celeste· hesitant . ' e, aproximou-
-se dela para tentar pegar-lhe, mas não preci·s d r ou e 1azer 
nenhum esforço, porque a estátua tornara-se tão lev 
O . ·r· d d e como 
uma pena. s1gn1 1ca o o prodígio é delicadíssimo: pegar 
em Maria com Jesus não pode pesar nem custar absoluta­
mente nada, porque "estão uma para o outro" de maneira di-
bl . 139 vinamente su 1me» . 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Um dia, enquanto eu orava assim: «Senhor, adoramos-te 
no Santíssimo Sacramento do altar» , o demónio exclamou: 
«Quando vos ajoelhais diante daquele, nós trememos.» 
Uma vez, ordenei ao demónio em nome de Jesus, que dis­
sesse palavras de louvor em honra de Jesus no Santíssimo 
Sacramento da Eucaristia. E ele: «Deixa-me estar. Para nós é 
só um pedaço de carne que goteja sangue. Até nós não conse­
guimos saber como está em toda a parte ao mesmo tempo, em 
cada pequenino pedaço de hóstia. Nem quem as consagra 
acredita nisso.» E eu disse-lhe: « Todos, não!» 
Outra vez disse: «Não percebem, mas Ele está ali, está ali: 
Ele está ali. Isso é o maior dom que se poderá fazer: dar-se a si 
mesmo pelos amigos, e Ele deu e continua a dar-se todo~ os 
ct· - sinal ias, em toda a parte, continuamente. A Cruz era so 0 
--- )Ed ... 119 p . . F · ento (AV , 1z10m 
· STEFANO MARIA MANELLI Gesu Eucanst1co Amore, ng 
France · ' scanr dell'Immacolata, 1972, pp. 161-162. 
143 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
mais aparatoso, porque o verdadeiro_ dom é-~ Euca_ristia. Ele 
sabia que nunca haveria de abandona-los, e Jª lho tinha dito: 
. ,, 
"Permanecerei convosco . » 
Noutro dia, enquanto orávamos invocando insistente­
mente Nossa Senhora com o título de «Mãe da Eucaristia», 0 
Maligno surgiu, dizendo: «Ele e ela são inseparáveis. Não 
sabeis até que ponto invocá-la significa invocá-lo; são uma só 
coisa; Ele levou-a consigo durante toda a vida. No corpo e 
sangue do Filho também há o corpo e sangue da Mãe. Não 
podia ser de outro modo, pois formou-se nela. Conheceis a 
biologia? Sabeis o que é o ADN? Eles são uma só coisa. Ele 
nasceu dela e ela nasceu dele . Nunca estiveram divididos. 
Sempre estiveram unidos. Antes de ela o conceber, Ele já 
estava nela; antes de Ele nascer, ela já estava nele. Ela foi a pri­
meira a dar-se. Ele trazia em si o sangue e a carne daquela 
Mulher maravilhosa, bastante maravilhosa para ser suportável 
por nós , e não podemos nada contra ela. Quando celebrais 
aquilo a que chamais Missa, ela está com Ele. » Depois, eu 
disse-lhe: «Adora Jesus no SS. Sacramento. Adora o seu pre­
ciosíssimo Corpo e Sangue! » Finalmente, acrescentei: «Nós 
prostramo-nos diante de jesus Sacramentado.» Ele disse pron­
tamente: «Odiamo-vos por isto, por causa disto queremos 
arruinar-vos, não só porque sois seus fiiiilhos! Perdemos tudo, 
perdemos tudo! Ainda podeis aproximar-vos dele e nós não 
queremos, não deveis, vós não deveis ser como nós!» 
§16 - O triunfo do Coração Imaculado de Maria 
Catequese 
E F' · m atima, Nossa Senhora prometeu o triunfo do seu 
Coração Imaculado e nós esperamo-lo e apressamo-lo, coope-
144 
A minha experiência mariana nos exorcismos 
e nos outros momentos .. . 
rando ativamente com ela. No moment 
o em que 
Santo Padre Bento XVI já por três vezes eh escrevo, o 
amou a aten - d 
fiéis para a espera da realização desta promessa çao . os 
No dia 14 de maio de 2006 antes d · _ 
' a oraçao de Re . 
ccrlí, ele disse estas palavras: gzna 
« Um caminho seguro para manter-se unid El , 
_ . os a e e recorrer 
à intercessao de Mana que, ontem 13 de maio · . 
' , vimos pan1cular-
mente venerada, recordando as aparições de Fa' t' d . ima on e em 
1917, se manifestou por várias vezes a três crianças ' . . . , os paston-
nhos Francisco, Jacinta e Lúcia. A mensagem que lhes confiou, 
na continuação da de Lourdes, era um grande apelo à oração e à 
conversão; mensagem realmente prof ética considerando O séc. 
XX, desgraçado por destruições nunca vistas, causadas por guer­
ras e regimes totalitários, e também por extensas perseguições à 
Igreja. Além disso, no dia 13 de maio de 1981- há vinte e cinco 
anos-, o Servo de Deus João Paulo II sentiu que tinha sido salvo 
da morte por intervenção de uma "mão materna", como ele pró­
prio haveria de dizer, e todo o seu pontificado foi marcado por 
aquilo que a Virgem tinha dito em Fátima. Embora não tenham 
faltado preocupações e sofrimentos, se ainda permanecem motivos de 
apreensão pelo futuro da humanidade, a verdade é que foi de grande 
conforto tudo quanto a "Branca Senhora" prometeu aos pastorinhos: 
"Por fim, o meu Coração Imaculado triunfará."» 
Durante a sua viagem à Terra Santa, no dia 13 de maio de 
2009, junto do hospital Caritas Baby, em Belém, o Sumo Pon­
tífice pronunciou estas palavras: 
«Nesta festa de Nossa Senhora de Fátima, goStªria de con­
cluir invocando a intercessão de Maria, enquanto douª Bênção 
Apostólica às crianças e a todos vós. d 
r efúgio dos peca ores, Oremos: Maria, saúde dos en1ermos, r 
- , . ções que te chama-
mae do Redentor, unimo-nos as muitas gera . 
f·Ih quanto mvocamos 
ram "bem-aventurada". Ouve os teus 1 os en . 
~ . d F , ima: "Por fim, o meu 
0 teu nome. Prometeste às tres cnanças e at 
145 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
coração Imaculado triunfará.,, Que assim aco~t~ç~! Que o amor 
triunfe sobre O ódio, a solidariedade sobre a d1visao e a paz sobre 
toda a forma de violência! Que o amor que deste a teu Filho nos 
ensine a amar a Deus com todo o nosso coração, com todas as 
forças e com toda a alma. Que o omnipotente nos mostre a sua 
misericórdia, nos fortifique com o seu poder e nos cumule corn 
todos os bens (cf. Lc 1,46-56).» 
Por ocasião da sua viagem apostólica a Portugal, no 10.º 
aniversário da Beatificação dos Pastorinhos de Fátima, Jacinta 
e Francisco, o papa Bento XVI concluiu assim a sua homilia 
durantea Missa celebrada na Esplanada do Santuário de 
Fátima, no dia 13 de maio de 2010: 
«Com a família humana pronta a sacrificar os seus vínculos 
mais sagrados sobre o altar de avarentos egoísmos de nação, 
raça, ideologia, grupo ou indivíduo , veio do Céu a nossa Mãe 
bendita, oferecendo-se para transplantar para o coração de todos 
os que se lhe confiam o Amor de Deus que arde no seu. Naquele 
tempo, eram só três, cujo exemplo de vida se difundiu e multi­
plicou em grupos inumeráveis por toda a superfície da Terra, 
especialmente na passagem da Virgem Peregrina, os quais se de­
dicaram à causa da solidariedade fraterna . Possam estes sete anos 
que nos separam do centenário das Aparições apressar o pre­
anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da 
Santíssima Trindade.» 
Exemplos extraídos dos exorcismos 
Sobre o triunfo do Coração Imaculado, de que Nossa Se­
nhora falou em Fátima, o demónio, pronunciando com esfor­
ço tremendo o nome de Jesus, exclamou: «Vós não sabeis, ou 
[talvez] até o saibais, mas não acreditais ou não tendes fé sufi­
ciente: é_ 0 ~oração Imaculado de Ma ... ar .. .i . .. a que salvará 0 
mundo demónio, tivéramos esta experiência. 
No início do exorcismo, eu tinha rezado a Ladainha dos 
Santos, durante a qual também invocara Santa Gema Galgani, a 
Beata Madre Teresa de Calcutá e o Servo de Deus joão Paulo II. 
Poucos minutos depois, o demónio disse: «Chegou a v~stida 
de negro, como tu .» (Referia-se a Santa Gema Galgam que, 
muito frequentemente, intervém para ajudar os exorciStas e as P_es­
s ) · clamou· « Iam bem oas possessas que lhe rezam. Depois, ex · 
151 
V
. Maria e O Diabo nos exorcismos A ,rgem 
chegou a albanesa, aquela pe~uen~na! » (Referia-se a Madre 
Teresa de Calcutá, cuja intercessao eu invocara nas ladainhas.) E 
imediatamente depois, o demónio acrescentou: «Oh! Ved~ 
quem chegou! Olhai para e~as. Abraça~~se, saúdam-se aque­
las duas estúpidas. Que noJo! Que noJo.» Passaram cerca de 
dez minutos, durante os quais eu continuava o exorcismo, 
quando, inesperadamente , o demónio começou a gritar: 
«Nããão! Chegou o Tatus Tuus . Não, vai-te embora, não me to­
ques, vai-te embora!» (Referia-se claramente a João Paulo II, que 
eu também tinha nomeado na ladainha e a quem aquela mulher 
possessa estava a orar havia algum tempo.) Então, exclamei: 
«Não, ele fica , porque é bem-vindo e juntamente com ele 
também nós dizemos: "Tatus tuus , Maria!" E repetimos várias 
vezes: "Tatus tuus , Maria!" A certo ponto, o demónio disse: 
« Também está a toda vestida de branco, que me diz que tenho 
de ir-me embora, porque chegou a hora.» Disse estas palavras 
com raiva e soluçando. Depois, continuou, dizendo: «Aquele 
está a enxotar-me, está a enxotar-me com aquele manto. Já 
não posso mais!» Passaram alguns minutos e começou a 
gritar: «Não chores, não chores, não, nãão, nãããããão!» Aqui, 
compreendemos que a Virgem Maria oferecia as suas lágrimas 
ajesus pela libertação daquela sua filha. Continuando o exor­
cismo, ajoelhei-me, e comigo todos os presentes, e comecei a 
dizer: «Pai Eterno, Tu és o nosso criador e nós adoramos-te.» 
O demónio exclamou: «Não, nããão, também aqueloutros se 
puseram de joelhos: o branco (referia-se a João Paulo II) , a 
negra (referia-se a Santa Gema Galganí) e a branquinha (refe­
ria-se à Madre Teresa de Calcutá) e ela, ela pôs-se de joelhos 
(pronunciou o pronome "ela", referindo-se a Nossa Senhora, com 
um tom de voz que revelava não só medo, mas também reverência 
inevitável e, simultaneamente, admirativa).» Enquanto estáva­
mos assim, todos de joelhos, ordenei várias vezes ao demónio 
que repetisse: «Pai Eterno, Tu és o meu criador!» Como insisti 
152 
Alguns exemplos de intercessão d 'r 
a virgem Maria .. . 
nesta ordem, respondeu-me: «Tu bem sabes é . 
. d Ih que assim mas 
eu não digo.» Quan o e ordenei novamente ' 
, . acrescentando: 
«Pai Eterno, Tu es o meu cnador e eu adoro-te 
. . », recusou-se 
Uma vez mais a repetlr, respondeu-me· «Se eu qu· d. 
. . . , · 1sesse 1zer 
estas coisas, unha ficado la», para afirmar que se t· . . , 1vesse que-
rido adorar Deus, tena permanecido com os anjos bons. Por-
tanto, não queria de _m~d~ nenhum humilhar-se e dizer aque­
las palavras, mas eu insistia, até que, a certa altura, começou a 
exclamar: «Não, não, ela (isto é, Nossa Senhora) quer que eu 
diga. Não!» Depois, como que subjugado, disse duas vezes, 
com uma voz horrível, como se estivesse a ser sujeito a um es­
forço tremendo e repugnante: «Pai Eterno, Tu és o meu cria­
dor e eu adoro-te»; à terceira vez juntou a palavra «devo»: «Tu 
és o meu criador e devo adorar-te.» Disse a palavra «devo» 
martelando-a com um tom de voz impressionante e, para nós, 
comovente, porque compreendíamos claramente que tinha 
sido obrigado pelo poder da oração de Nossa Senhora. Depois 
de ter pronunciado esta última frase , lançou um longo, pro­
longado e tremendo urro , e deixou a pessoa que possuía, que, 
passados três anos de exorcismos, obteve, finalmente, a sus­
pirada libertação. 
153 
VII 
A experiência mariana 
de outros exorcistas 
Nos inícios dos anos oitenta, um exorcista jesuíta italiano, 
0 padre Domenico Mondrone, publicou um texto com 0 
título: A tu per tu con il maligno! 141 Ele usou um estilo narrativo 
mas, estou certo, por declaração direta de testemunhos va­
riados e credíveis, que ele recolheu uma série de frases que os 
demónios tinham proferido no decurso de exorcismos prati­
cados por ele próprio e por outros exorcistas. Eis uma breve 
antologia de expressões relativas à Senhora. 
Ele conta que, um dia, enquanto agarrava num terço que 
estava num canto da escrivaninha, o demónio disse-lhe: «Se 
quiseres falar comigo, atira fora essa coisa!» O exorcista res­
pondeu-lhe: «Coisa?» O demónio replicou: «Excrementos de 
cabra ligados uns aos outros!» O exorcista rebateu: «Se para ti 
é coisa, eu beijo-a e, mesmo que te desagrade, enrolo-a no 
pulso por segurança. Vejo que deve meter-te medo, velhaco!» 
E O demónio: «Para mim, é uma guilhotina!» O exorcista, 
muito consolado por esta afirmação, declarou: « Tanto melhor 
e obrigado por mo teres dito.» 
---141 O texto que, no fim dos anos setenta foi publicado pela editora La Rocei~, hoje 
tem o titulo Interviste con il maligno e pode ser pedido, por telefone ou fax, ao numero 
04518201679. 
155 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
Outra vez, depois de o demónio ter definido Nossa Senho­
ra como «aquela», o exorcista, embora tivesse compreendido 
bem a quem se referia, perguntou: «Quem é aquela?» Ele ime­
diatamente respondeu: «Nunca usarei aquele nome!» E 0 
, O d - · exorcista: «Queima-te assim tanto.» emon10, mastigando 
as palavras, respondeu com raiva: «Odeio-a infinitamente, 
porque é a criatura mais alta e mais santa. Ele qui-la assim só 
para me arreliar, para que fosse a minha mais esmagadora 
humilhação!» 
Outra vez, ouviu-se o demónio dizer: «Aquela mulher é 
uma terrível destruidora dos meus planos. É uma devastadora 
do meu reino. Não me deixa ganhar uma vitória e já me pre­
para uma derrota. Encontro-a sempre a enredar-me os pés. 
Sempre atarefada em atravessar-se no meu caminho, a suscitar 
fanáticos que a ajudam a arrancar-me almas. Quando e onde 
as minhas conquistas são clamorosas, ela multiplica as suas 
num silêncio capilar.» 
Don Gabriele Amorth refere episódios semelhantes no seu 
livro Um exorcista conta-nos 142
• Ele narra que soube através do 
seu amigo exorcista, padre Faustino Negrini, que durante um 
exorcismo, tendo perguntado ao demónio: «Porque tens tanto 
medo quando nomeio a Virgem Maria?» , ouviu responder: 
«Porque é a criatura mais humilde de todas e eu sou o mais 
soberbo; é a mais obediente e eu sou o mais rebelde· é a mais , 
pura e eu sou o mais sujo.» Um dia, Gabriele Amorth lem­
brou-se deste episódio enquanto exorcizava o demónio; 
então, repetiu-lhe estas palavras e ordenou-lhe, sem fazer a 
mais pálida ideia do que ele lhe responderia: «Elogiaste a 
Virgem Imaculada por três virtudes. Agora, diz-me qual é a 
quarta virtude, por causa da qual lhe tens tanto medo.» Ime-
1, 2 G A 
· MORTH , Um exorcista conta-nos, Paulinas Editora, 20076. 
156 
A experiência ma • nana de 
outros exorcistas 
diatamente ouviu a resposta: «É a únic . 
. . a criatura que 
vencer inteiramente, porque nunca f . me pode 
01 tocada p 1 . 
pequena sombra de pecado.» e a mais 
O padre Cipriano De Meo O veteran d . 
. . . ' 0 os exorcistas de 
Itália, exerce este m1n1sténo ininterruptamente há 
58 1 , b , d 1 anos -
atua mente, e tam . em e egado italiano na Associação Inter-
nacional de Exorcistas - , no livro Il divino e l' l . . . . umano ne mw 
apostolato dz esorczsta, publicado em Itália em 2007 143 , entre as 
várias expressões que os demónios tinham proferido durante 
os seus exorcismos, refere algumas que se referem a Nossa 
Senhora. 
Uma vez, tendo o exorcista nomeado Nossa Senhora , 
ouviu o demónio dizer: «Não a nomeies, ela esmaga-me; 
senão, eu destruiria o mundo inteiro» (p. 350). 
Outra vez, quando o exorcista recordava o dia da Assunção 
de Nossa Senhora, o demónio disse: «É um dia malditíssimo» 
(p. 354). 
Os santos dizemque Maria é a omnipotência suplicante, 
omnipotente por graça. Um dia, o exorcista disse ao demónio: 
«Como ficas quando se reza a Nossa Senhora?» O demónio 
respondeu : «A omnipotência daquela Mulher mete-nos 
medo» (p. 357). Depois, como se quisesse remoer a palavra, 
acrescentou com raiva: « Mas não devo falar.» 
Uma vez, enquanto o exorcista orava pelas almas do Pur­
gatório, especialmente pelas que se arrependeram apenas ~o 
último momento o demónio bufou e, depois, como nao 
'd• ' E - m me no último po 1a suportar a oração, disse: « ssas traira -
momento. Escaparam-me da mão, escaparam-m_e por ~ul?a 
daquela (um palavrão) , num instante levou-as a dizerem. pie-
--- I t av. Via Man-
1-13 G -r Francescano, r ·· O texto pode ser requisitado ao Centro ra ico 
fredonia, 71100 Foggia; ou, então, diretamente ao autor. 
157 
. Mar,·a e o Diabo nos exorcismos 
A Virgem 
dade, piedade, piedade, piedade. Que (palavrão) que aquela 
é, mald ... ela» P· l 7S). . _ . . 
O O exorcista que unha na mao um crucifixo corn utra vez, , 
1, 1·a do Padre Pio ouviu o demónio dizer: «Não uma re iqu ' . . . . 
podia fazer-me esta afronta (palavrão d1ng1do ao e~orcista).» E 
0 
exorcista: «Foi Nossa Senhora quem mo sugenu.» E O de­
mónio: «Ela sugere sempre as piores coisas» (p. 187). 
Noutra vez, 0 exorcista começou a orar a Nossa Senhora; 
então, 0 demónio, depois de tê-la amaldiçoado, acrescentou: 
«Sempre que ela ora, Ele intervém.» O exorcista continuou a 
orar à Virgem Maria e o demónio disse: «Não a invoques, não 
fales dela, é a minha condenação, a minha destruição; quando 
a nomeias, fico besta!» (p. 199). 
Noutro dia, entre uma oração e outra à Virgem Maria, o 
exorcista disse : «Vês que belas orações se fazem a Nossa 
Senhora?» E o demónio prontamente respondeu: «Metem-me 
nojo» (p. 200). 
Uma vez, entre dois exorcismos, o padre Cipriano pergun­
tou: «O que te aborrece mais , o Evangelho ou o Rosário?» O 
demónio gritou: «Mas é a mesma coisa, cretino! O Rosário é o 
Evangelho em miniatura que aquela (palavrão) deu a conhe­
cer e onde colocou a invocação a si, e quer que vós, pobres 
cretinos, lhe peçais a força para viver segundo o que está es­
crito naquelas porcarias (o Evangelho) .» O sacerdote acrescen­
tou: «Nós servimo-nos desta arma que ela nos deu. Mas diz­
-me que diferença há entre o Evangelho e o Rosário.» «Como 
és deficiente. Ela compreendeu que nem sempre o Evangelho 
é apetecível; então, dá-vo-lo às colheres e põe-se no meio para 
vos dar a força de pô-lo em prática.» O exorcista acrescentou: 
«Como é bela a preocupação materna de Maria por nós!» E 0 
de , · 
monw, com ar de derrotado: «O seu objetivo é sempre 
levar todos a cr· t A , • El is O e por em pratica as porcarias que e 
158 
A experiência ma . nana d e outros exorcistas 
disse; por isso, deu-vos aquela arma . 
r noJenta que -
meio para 1azer o que ela fez» (p. 223)_ e O melhor 
Uma vez, enquanto o exorcista ora 1 va pe os sac d 
especialmente por um em dificuldade d _ . er otes, 
. . , 0 emon10 comp 
deu e disse: «Mana (uma das raríssimas v reen-
ezes em que pronuncia 
este nome) anda como um mosquito à volt d ª os sacerdotes 
nunca se cansa, e para salvá-los inventa tudo» (p. 245) ' 
Outra expressão de desagrado para com N 5 h. ossa en ora é 
esta: «Quanto aquela Mulher me faz vomitar n~ , ao a suporto!» 
(p. 251). 
Finalmente: «Aquela é uma ladra» (p. 264). 
Mons. Ferruccio Sutto conta que, uma vez, enquanto alter­
nava as fórmulas latinas do exorcismo com orações em ita­
liano e invocações a Nossa Senhora, o demónio reagiu, atra­
vés da mulher possuída, dizendo: «Deixa estar aquela ... que é 
que ela quer? .. . não fales nela!» Sabendo que o demónio se 
aborrece quando ouve falar de Nossa Senhora, o exorcista 
insistiu: «Olha que aquela Senhora chama-se Maria e todos 
somos chamados pelo nosso nome: se a mãe de Jesus tem o 
nome de Maria , devemos chamá-la pelo seu nome. Todos 
temos um nome e somos chamados por ele. Se Nossa Senhora 
tem um nome, porque é que tu , quando te referes a ela, dizes: 
"Aquela", em vez de nomeá-la pelo seu nome, que é Maria? 
Porque não lhe chamas Maria?» Continua Mons. Sutto: «Eu 
sabia que o iria enfurecer ao repetir aquele nome e, de facto, a 
resposta dele foi uma explosão seca e raivosa: "Porque aque~e 
nome queima-me a boca!" Ah! - digo com sarcasmo - quei­
ma-te a boca? E tens algum problema nisso? Não eStás sem_pre 
· d d eito· no fogo do Inferno? Outra resposta funosa e e. es~ · 
"s· · · " Fiquei pas-im, mas o seu nome queima-me muito mais. . 
h-, d 1- ·ca nunca podena lua o, porque com a minha cultura teo ogi 
P b 
, . do a qual, para o 
erce er aquela finura teologica, segun 
159 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
demónio O nome de Maria queima mais do que O to 
' - godo I 
cerno Conhecendo a devoçao de Augusta (nome ficti' . n-
11 • • • cio dado 
à mulher que recebia os exorcismos), do seu marido e d 
os seus 
filhos a Nossa Senhora, penso que tenha sido isto a for (· 
ça isto 
é O amor à Virgem [nda]) que apressou e concluiu a sua 
' d r· . . d cura e libertação que aconteceu e 1n1t1vamente urante uma 
' . pere-
grinação a França, diante de Nossa Senhora de Lourdes» 144 
Uma vez, o mesmo sa~erdote disse ~o demónio que pos~ 
suía um jovem de quase tnnta anos: «VeJo que te agitas muito 
quando falo de Nossa Senhora, quando a invoco, quand~ 
conto a história dos seus milagres e dos seus santuários, e es­
pecialmente quando insisto em repetir o seu nome. Mas O que 
te faz aquele nome? O que provoca em vós, demónios, ouvir­
des pronunciar repetida e devotamente o nome de Maria?» 
Sandro (nome fictício do jovem possuído) ficou bloqueado, 
arregalou os olhos e, contorcendo o rosto crispado pelo sofri­
mento, rangendo os dentes , e estirando as palavras, quase 
sibilando de maneira não só despeitosa, mas também liberta­
dora daquela carga de raiva que tinha dentro de si, explodiu: 
«Aquele nome faz tremer o Inferno! » 145 
Mons. Sutto fala ainda de outra mulher possessa, acompa­
nhada pelo marido, com o nome fictício de Lorena, que reagia 
mais que os outros ao toque das relíquias, dos terços, dos cru­
cifixos, das imagenzinhas sagradas e livros de devoção, e se 
agitava mais que nunca, quando lhe pousavam a Bíblia no 
peito. Ele narra: «Eu tinha recebido como presente de um 
amigo, que tinha ido em peregrinação a Medjugorje, uma 
lasca de rocha do monte Podbro, onde se diz que Nossa Se­
nhora terá aparecido e deu mensagens a cinco pressuposto5 
144 
Cf. A. RENDA, «lo combatto il demonio», in A colloquio con l'esorcista monsignor 
Ferru.ccio Sutto, Pordenone, Edizioni Biblioteca dell'Immagine, 2009, P· 122· 
14, Ibidem, pp. 127-128. 
160 
A experiência m . 
anana de o 
utros exorcistas 
videntes, com mais de 25 anos. Se se trat d 
dito como o de Lourdes ou de Fátima ou dª Ge um lugar ben-
h · - d f e uadalupe · d 
não há nen um JUizo e initivo da Ig . p . , ain a 
- reJa. ense1 q 
fosse, a reaçao de um endemoninhado de . ue se o 
, . . . vena ser a mesma 
uma rehqu1a que veio de MedJugorje com , a 
, · . 0 as que proveem 
dos famosos santuanos mananos há pouco n d . . ~ . omea os. Quena 
fazer uma expenencia. Para o encontro com L 1 . . o rena, eve1-a 
secretamente na pasta: Ninguém sabia· nem os m 1 b . · eus coa o-
radores. O que se podia ver através do plástico transparente 
era apenas papel. -~m determinado momento do exorcismo, 
quando a mulher Jª estava em transe, aproximei-me dela es­
tendida no leito, e enfiei por baixo do pulôver o saquinh~ de 
plástico que continha, envolta em papel, a lasca de rocha do 
monte Podbro. Mas, logo que peguei na orla da camisola de 
Lorena e coloquei a saqueta sobre a camisa, a mulher deu um 
esticão como se quisesse libertar-se das mãos dos quatro ho­
mens que a seguravam, e gritou: "Tira isso!"» O exorcista per­
guntou porque devia tirá-la dali. O demónio, numa sequên­
cia convulsa de reações que manifestavam ao seu grande 
sofrimento , exclamou por diversas vezes: «Faz-me mal!» , 
«Queima-me!», «Esmaga-me, esmaga-me!», «Tira-a! Tira-a!» 
Então, o sacerdote perguntou explicitamente ao demónio o 
que estava naquele saquinho, e recusou-se a tirá-lo enquanto 
não lhe dissesse o que era. A determinada altura, já não po­
dendo com aquilo, o demónio deixou sair, gritando, uma pa­
lavra: «Cospa!» E Mons. Sutto conclui: «Cospa é O termo 
croata que indica a bela Senhora que aparece aos pressupoStºs 
videntes de Medjugorje, e que afirmam ser Nossa S~nhora, 
mas ainda antes que na palavra "Cospa", a respoStª vier~-me 
da d L quando unha s reações imediatas e violentas e orena, . 
sid · h que continha a 0 tocada por aquele simples saquin °, 
m d . - » 146 0 esta lasca de rocha do monte das apançoes · 
-----116 Ibidem, pp. 132-133. 
161 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
Agora, em relação a um testemunho, que algumas vozes 
afirmam estar junto também na escrivaninha do papa João 
Paulo II. É um facto acontecido no dia 17 de dezembro de 
2002, durante os exorcismos do padre Carmine De Filippis. 
Ele escreve: 
«Com a presente, estou aqui para descrever o que aconte-
ceu na passada terça-feira, dia 17, pelas 19:00 horas, como 
testemunho da Omnipotência do Céu e da sua glória. Eu 
tinha quase concluído o rito exorcístico, uma vez mais cele­
brado numa pessoa, há algum tempo, possessa pelo Maligno 
(uma senhora distinta de Roma, que exercia uma profissão 
liberal), quando, repentinamente, com grande intensidade de 
voz e ainda mais de expressão, a pessoa rezou lentamente a 
Ave-Maria, mas não era a criatura humana, antes aquele espí­
rito e, depois, acrescentou: "Devo, devo proclamar a glória dela, 
Maria. Sou obrigado! Nunca poderei pronunciar o seu Nome e o 
que vou dizer, se não fosse obrigado. Tu, frade de Roma, di-lo, di­
-lo a todos, escreve-o, escreve-o também ao Papa, fala, fala, fala 
dela, a mais poderosa, que sempre nos derrota, que sempre inter­
vém a vosso favor, sempre anula os planos de Belzebu e os nossos, 
de oprimir-vos e destruir-vos. Tende-la, Maria, que corre para todo 
o lado, continuamente, para socorrer-vos e ajudar-vos. Uma Ave­
-Maria dita com fé é mais eficaz que muitas das nossas tentativas 
de mal, que nunca como hoje pomos em ação para levar a toda a 
parte morte e perdição, sobretudo servindo-nos de magos e políti-
co 147 v· l d l , s . 1- o e escreve-o por to a a parte, que contra e a, que vos 
chamais I-ma-cu-la-da (o demónio teve enorme dificuldade e 
custou-lhe muito em sibilar este título!), a minha cabeça e todo 
0 Inferno não podemos nada e agora devo ir-me embora ... ; e isto 
porquê? Porque ela e sua mãe invocaram-na (a Maria) e amam­
na ... Invocai-a, orai-lhe." 
141 Ob . v1amente aqui O d ó · - d · d' ·n ' em mo nao po e referir-se a todos os políticos m 15tl -
tamente, mas a alguns. 
162 
A experiência mariana d 
e outros exorcistas 
E finalmente, com maior intensidade d ' . e voz e fort • 
Ção: "Não desespereis! Não desespereis! Na~o d . e excita-
. · esesperezsl" A · 
Pessoa deu um gnto e lançou pela boca um ·. qm, ª 
b (r , a quantidade de 
espuma ranca 1enomeno frequente nestes ) . . casos e, depois 
ficou como que desmaiada. Despertou e exprimi· .1h ' 
· b a maravi as 
Por sentir-se em, embora cansada. Como semp d h . . re, escon e-
eia tudo o que unha acontecido durante O exorcism N . " . _ ,, o. a sua 
_ digamos - 1ntervençao , o demónio também revelou 
0 
porquê e o como daquela possessão (por vingança, mediante 
um malefíc~o com um rito satânico e fazendo com que a víti­
ma inconsciente, totalmente inocente, ingerisse uma certa be­
bida). É óbvio que essa "mensagem" não é nada de novo! Mas 
é uma confirmação "viva" da única Verdade e do único Amor 
que liberta e salva, e da "omnipotente por graça", Maria.» 
Através da voz de algumas pessoas por ele possuídas, o 
demónio oferece-nos uma confirmação singular da presença e 
da assistência que Nossa Senhora reserva aos sacerdotes, e da 
assistência amorosa que reservava ao Padre Pio. Eis o que está 
escrito na Cronistoria del convento di San Giovanni Rotando, 
registado nos apontamentos do padre Tarcísio Zullo da Cervi­
nara, nos dias 19 a 21 de maio de 1955 148
. Chegam de algu­
mas cidades da Toscana quatro endemoninhados. O padre 
Tarcísio faz-lhes exorcismos solenes. Iniciados os exorcismos, 
os demónios enfurecem-se e atacam ferozmente os presentes 
que seguram os possessos. 
«"Porque não me atacastes também a mim?" - pergunta­
-lhes o padre Tarcísio. "Não podemos nada contra ti. Há aque­
loutro que te assiste." "Quem é aqueloutro?'' "Não podemos 
dizer-to .. . Não queremos pronunciar o seu nome" - gritam os 
possessos, dando urros e saltando para fazer barulho. Os pre-
sent _ ~ . "E t - aqu1·7 Em nome de es estao todos em pan1co. s a · · · · 
---148 Cronistoria dei convento, ff. 403-405. 
163 
. M ria e O Diabo nos exorcismos 
A v,rgem ª 
d. ei· me como se chama e onde está." "Sim está p Deus, 1z - _ , _ ' eno 
de ti, aquele que tem os buracos, e nao esta so, com ele está 
0 
outro frade que está no altar onde celebra a missa de manhã 
[São Francisco] 149, juntamente com aquela Mulher a quem 
[ele] está sempre a orar. Agora mesmo, está a orar-lhe por ti 
para que nos mandes embora." "Diz-me o nome daqueloutro_ ''. 
"Padre Pio!!!" - grita, berrando. "Quem é o Padre Pio?" "É um 
santo tão grande, contra quem não se pode fazer nada. Aper­
ceber-vos-eis de quem é quando já não o tiverdes! Mas porque 
nos atormentas, obrigando-nos a dizer estas coisas?" - vocife­
ram, saltando e gritando. "Então, o Padre Pio é santo?!" Os de­
mónios não responderam. "Em nome de Deus respondei-me! 
É Santo?!" "Vós não sabeis nada. O seu Patrono quer-lhe um 
bem imenso. Mas quem pode tocar nele?! Está sempre com 
aquela Mulher! .. . " "Está com aquela Mulher ... , e que faz?" 
"Reza-lhe continuamente. Não há um minuto que não esteja 
absorto nela! " "Como é que está a rezar-lhe continuamente, se 
há momentos estava no confessionário?" "Mesmo ali, ele não 
cessa de rezar-lhe. Que embaraço! Sempre na conversa [a 
chamá-la, a invocá-la] !" "Mas se aquela Senhora está sempre 
no confessionário, porque é que o padre Pio repreende tanto 
os penitentes e manda embora os fiéis sem absolvição?" 150
. 
"Mas porquê tantas perguntas?! Porque continuas a torturar­
-me?" "Em nome de Deus, ordeno-te: Responde-me!" "Esse 
homem, que te é próximo, é assistido no confessionário [por 
Nossa Senhora] e [por S. Francisco] 151 • Ele não faz nada aos 
149 
O nome de Francisco é um acrescento do cronista do convento. 
150 
O cronista ~az esta precisão em nota de pé de página: «A expressão é certa­
mente exagerada. E preciso entendê-la assim: " ... porque é que o Padre Pio censura 
tanto al~ns penitentes e manda-os embora (sempre alguns) sem absolvição?"~ (nota 
131 r~fenda no livro do Pe. Marcellino lASENZA NIRO, Padre Pio parla della Madonna, 
San Giovanni Rotando [FG], Edizioni Padre Pio da Pietrelcina, 2006, P· 2s5). 
i,1 A m . . d . d. 1vel 
. atona as vezes, por desprezo e porque é para ele uma tortura Iíl LZ ' 
como Já pudemos ·r· 1 d - · não pro-ven 1car pe os testemunhos até aqui relatados, o emomo 
164 
A experiência mariana d 
e outros exorcistas 
Peregrinos que não seja vontade de Deus e 
1 d · onso a, aconselha 
reclama, repreen e, segundo o que aqueles que . ' - r· 1 o assistem lhe sugerem. Como e e icaz .... Quantas derrotas n ·. f . 
d . os in nnger ,, 
"Qual é a virtu e mais cultivada pelo Padre Pio7" "O · ·· · 
b.d h ·1d d . passar 
desperce i o, a umi a e. Age, age, age continuamente e 
nada consta para fora! Se os olhos das pessoas vissem, uh!. .. 
Mas as pessoas não reparam, mal se apercebem.,, 
Depois [ de ter termin_ado o exorcismo] , o padre Tarcísio 
pergunta ao Padre Pio: "E verdade, Padre, que no confessio­
nário, quando eu fazia os exorcismos, me encomendaste à Se­
nhora e a São Francisco?" "Sim. Uma vez lembrei-me e eles 
fizeram tudo", respondia o Padre Pio, brincando. "Padre, não 
mo esconda, é verdade que no confessionário é sempre assis­
tido pela Senhora e porSão Francisco que lhe indicam a von­
tade de Deus no exercício do sagrado ministério!" "Se não 
fossem aqueles dois, que coisa combinaria ... ", responde Padre 
Pio de cabeça baixa e todo vermelho no rosto. Cada momento 
arruinaria a beleza da obra divina!» 152 
t ~--- Santo mas usa termos que os 
ere diretamente o nome de Nossa Senhora ou de um ' 
1 
•cas próprias da sua 
ind· ( pio' caracter su _ icam de maneira implicita, mas clara por exem · d 'eitamente. E este 0 es · · . · mpreen e pen 
Pintuahdade ou da sua vida), e que o exorcista co F ncisco de facto , 0 
in · s nhora e São ra · . . otivo «por que o cronista usa os termos Nossa e d ónio nunca d1Z1a os 
Padre I . . d ' r·rmava que o em arcís10, quando contava o ep1só 10, a 1 . s usava outros ter-
nom d . · s- Francisco, ma 
es a Mãe do Senhor nem do seráfico pai ao d p· parla della Madonna, 
in . . to Pa re zo os, para indicá-los» (cf. nota 132, transcnta no tex 
p, 285). 286 
i,i p d ll Madonna PP· 283- . e. M. IASENZA N1Ro, Padre Pio parla e a ' 
165 
" APENDICE 1 
O papel de Nossa Senhora 
na luta contra Satanás, desde as 
aparições da Rue du Bac até hoje 
Gostaria de concluir este meu trabalho, reportando uma belís­
sima homilia sobre o papel da Virgem Maria na luta contra Sa­
tanás, desde as aparições da Rue du Bac até aos nossos dias. Con­
siderei que, sendo muito afim aos assuntos propostos neste livro, 
valesse a pena, no fim deste volume, oferecê-la para leitura e medi­
tação. A homilia foi pronunciada no dia 8 de dezembro de 2007, 
pelo enviado pontifício, o cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congre­
gação para a Evangelização dos Povos, na presença de 150 000 
fiéis que tinham acorrido a Lourdes, para a abertura do 150. º ani­
versário das Aparições. Eis a sua parte principal: 
«As aparições de Lourdes devem colocar-se no contexto 
mais amplo da luta, permanente e furiosa, entre as forç~s do 
bem e as do mal, a partir do início da história da humanidade 
no Paraíso terrestre, e que continuará até ao fim dos tempos. 
E · · de uma m particular, devem considerar-se entre as primeiras 
longa cadeia de aparições, iniciadas 28 anos antes, em 1~~0, 
na R · · resso dec1s1vo ue du Bac, em Paris, que anunciavam O ing . 
da v· •i·d d ntre ela e o diabo, irgem Maria em cheio nas hostl 1 a es e 
167 
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos 
tal como está escrito no Génesis e no Apocalipse. A medalha 
chamada milagrosa, que a Virgem mandou que se gravasse, 
) 
naquela circunstância, representava-a com os braços abertos e 
raios luminosos que saíam das mãos, símbolo das graças que 
ela distribuía ao mundo inteiro. Os seus pés pousavam no 
globo terrestre e esmagavam a cabeça da Serpente, o diabo, 
para indicar a vitória da Virgem sobre o Maligno e as forças do 
mal. Ao redor da imagem lia-se a inscrição: "Ó Maria conce­
bida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós." É muito 
significativo que esta grande verdade da Imaculada Conceição 
de Maria tenha sido afirmada precisamente aqui , vinte e 
quatro anos antes de o papa Pio IX a ter definido como dogma 
de fé (1854): quatro anos mais tarde, aqui em Lourdes, Nossa 
Senhora quis, ela própria, revelar a Bernadette que era a Ima­
culada Conceição. Depois das aparições de Lourdes, a Santa 
Virgem não deixou de manifestar as suas vivas e maternas 
preocupações com a sorte da humanidade em diversas apari­
ções no mundo inteiro. Por toda a parte, pediu orações e 
penitência pela conversão dos pecadores, porque previa a 
ruína espiritual de certos países, os sofrimentos que o Santo 
Padre haveria de sofrer, o enfraquecimento geral da fé cristã, 
as dificuldades da Igreja 153
, a ascensão do anticristo e as suas 
tentativas de substituir Deus por si, na vida dos homens: ten­
tativas que, malgrado os sucessos deslumbrantes, haveriam de 
ficar em xeque. Aqui em Lourdes, como em toda a parte do 
mundo, a Virgem Maria está a tecer uma imensa rede de seus 
filhos e filhas espirituais para lançar uma forte ofensiva contra 
as forças do Maligno, para aprisioná-lo e preparar assim a 
vitória final do seu Divino Filho, Jesus Cristo. A Virgem Maria 
convida-nos, uma vez mais, hoje, a fazer parte da sua legião 
mA . d . 
. qm, 0 car eal, implícita mas claramente, refere-se àquilo que Nossa Senhora 
tinha preanunciado em Fátima. 
168 
Apêndice 1 
de combatentes contras as forças d 
1 
· 
o ma Com . 1 
Participação na sua oferenda ela p d · 0 sina da nossa 
' e e entre o . 
conversão do coração, uma grande d ' _ , utras coisas, a 
• , • evoçao a Santa E · · 
a reza diana do Rosário a oração ince ucanstia, 
' ssante sem h · . . 
aceitação dos sofrimentos pela salvaça~ d ipocnsia, a 
. 0 o mundo p d · 
parecer coisas pequenas mas são pod · 0 enam 
, . ' erosas nas mãos de 
Deus, a quem nada e impossível Assim co . 
. · mo o Jovem David 
que, com uma pednnha e uma funda abate · . , u o gigante Gohas 
armado de espada, lança e dardo assim tambe' -' m nos, com as 
pequenas contas do nosso Rosário, poderemos enfrentar he-
roicamente os assaltos do nosso adversário obstinado e vencê­
-lo. A luta entre Deus e o seu inimigo está cada vez mais 
furiosa, muito mais hoje que nos tempos de Bernadette, há 
150 anos, porque o mundo encontra-se terrivelmente engo­
lido no pântano de uma secularização que quer criar um 
mundo sem Deus; de um relativismo que sufoca os valores 
permanentes e imutáveis do Evangelho; e de uma indiferença 
religiosa que permanece imperturbável diante do bem supe­
rior das coisas que dizem respeito a Deus e à Igreja. Esta bata­
lha faz numerosas vítimas nas nossas famílias , entre os nossos 
jovens. Algum tempo antes de tornar-se papa, João Paulo II, o 
cardeal Karol Wojtyla, dizia : "Hoje, estamos diante do maior 
combate a que a humanidade já assistiu . Não penso qu~ a 
comunidade cristã o tenha compreendido totalmente . HoJe, 
estamos diante da luta final entre a Igreja e a Anti-igreja, entre 
o Evangelho e o Antievangelho." Uma coisa, porém, é certa: ª 
vitória final é de Deus e realizar-se-á graças a Maria, a mulher 
d , . . 1 combaterá à cabeça o Genesis e do Apocalipse, aque a que , . 
d . h s forças adversarias 
o exército dos seus filhos e fil as contra a 
de Satanás, e que esmagará a cabeça da Serpente.» 
169 
APÊNDICE 2 
Referências marianas no texto 
do ritual dos exorcismos 
Na «Ladainha dos Santos» , que se encontra nas primeiras 
páginas do ritual 154
, encontramos a invocação «Santa Maria, 
Mãe de Deus, rogai por nós» que, por conseguinte, implicita­
mente, dá ao exorcista a possibilidade do uso da Ladainha de 
Nossa Senhora. 
Na «Profissão de fé» refere-se, como opção, o Símbolo dos 
Apóstolos , em que dizemos: «nasceu da Virgem Maria» ; o 
Credo Níceno-Constantínopolitano , no qual dizemos: «Por nós 
homens e para nossa salvação desceu dos Céus. E encarnou 
pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria» ; ou a renova­
ção das Renúncias Batismais e a Profissão de Fé [Batismal] , na 
qual se pede: «Credes em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso 
Senhor, que nasceu da Virgem Maria ... » 
Na fórmula invocativa do primeiro exorcismo diz-se, entre 
outras coisas: «Ouvi, Deus de misericórdia, as preces da Vir­
gem Santa Maria, cujo filho , ao morrer na cruz, esmagou a 
. 
154 
De ~xorcismis et supplicationibus quibusdam, LEV, Editio typica emendata, 2004, 
Reimpress10 2005. Em português: CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Ritual romano. 
Celebração dos exorcismos, Gráfica de Coimbra, 2000. 
170 
cabeça da antiga serpente e confiou à sua Mãe como filhos 
rodos os homens.» 
Na «Ação de Graças», prevista quando da libertação do fiel 
atormentado pelo Maligno, pode-se orar o Cântico da Bem­
-aventurada Virgem Maria [Magnificat] : «A minha alma glori­
fica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu salva­
dor .. . » (Lc 1,46-55) . 
Na fórmula imperativa dos textos de exorcismo lê-se: «Sai 
dele [dela], espírito imundo, dá lugar ao Espírito Santo. Isto 
te ordena Jesus Cristo , Filho de Deus e Filho do homem, que, 
nascido do Espíritonios, malgrado seu, são obrigados a pronunciar com grandís­
simo desagrado. 
A certeza de que o conhecimento dessas experiências 
poderá servir de edificação espiritual dos fiéis e, consequente­
mente, motivo de futura glória da Virgem Imaculada, induziu­
-me a publicá-las. 
Com este livro, pretendo também unir-me ao cortejo das 
almas de todos os tempos apaixonadas pela Virgem Maria e 
instar a todos que recorram com grande confiança à sua inter­
cessão materna, em particular mediante o conhecimento e a 
experiência de consagração e de entrega ao seu Coração Ima­
culado, a fim de cooperarem o mais eficazmente possível com 
ela na luta contra Satanás e os anjos rebeldes, pelo triunfo do 
Reino de Deus. Além disso, desejo contribuir para promover 
nos crentes uma cada vez mais viva devoção mariana , ani­
mada pela consciência do vínculo incindível entre Cristo e a 
sua Mãe Santíssima na obra da Redenção: Ela continua a coo­
perar com o Filho na sua missão salvífica, a nosso favor. Por 
fim , espero que possa fazer com que tenhamos uma experiên­
cia cada vez mais viva da maternidade de Maria e contribuir 
para que o amor a Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, cresça 
nos nossos corações, para que possa animar «todos aqueles 
que colaboram na missão apostólica da Igreja para a regene­
ração dos homens» 2 . 
Roma, 13 de maio de 2010 
Memóri? de Nossa Senhora de Fátima 
2 Lumen gentium 65. 
15 
-
O papel de Nossa Senhora 
na história da Salvação 
Embora o assunto principal deste texto seja a luta entre 
Maria e Satanás, tal como se manifesta durante os exorcismos, 
é preciso conhecer, antes de mais , mesmo que somente nas 
suas grandes linhas , de que modo essa luta é revelada por 
Deus no âmbito do cumprimento da obra salvífica de Cristo. 
« [A Sagrada Escritura] apresenta a Virgem Maria intimamente 
unida ao seu Filho divino e sempre solidária com Ele. Mãe e 
Filho aparecem estreitamente associados na luta contra o ini­
migo infernal até a plena vitória sobre ele» 3
• Do primeiro ao 
último livro da Bíblia, do Génesis ao Apocalipse, Nossa Se­
nhora está sempre ligada - segundo o desígnio do Pai Celeste 
- ao Filho redentor e a Ele inseparavelmente unida para 
arrancar os homens ao poder de Satanás. « Depois do pecado 
original, Deus volta-se para a serpente, que representa Sata­
nás, amaldiçoa-a e acrescenta uma promessa: "Farei reinar a 
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a 
dela: ela esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calca­
nhar" (Gn 3,15). É o anúncio de uma vitória: nos primórdios 
da criação, Satanás parece ter levado a melhor, mas virá um 
i BE ·rn XVl , Angelus de 15 de agosto de 2007. 
17 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
filho de mulher que lhe esmagará a cabeça. Assim, o próprio 
Deus vencerá , mediante a descendência da mulher. Aquela 
mulher é a Virgem Maria , da qual nasceu Jesus Cristo que , 
com o seu sacrifício, derrotou de uma vez para sempre o an­
tigo Tentador. Por isso , em muitos quadros ou imagens da 
Imaculada, ela é representada no ato de esmagar uma serpente 
sob os seus pés» 4
• 
A Sagrada Escritura revela-nos que Cristo Senhor é o único 
Redentor, o único Mediador junto do Pai, o único Salvador e 
Libertador da humanidade do poder de Satanás. Contudo, não 
está sozinho na sua batalha contra Satanás, mas com Maria, os 
anjos bons e os santos. Entre eles, no entanto, sua Mãe tem um 
papel singular e especial porque, precisamente porque é mãe, 
coopera, como nenhuma outra criatura, com o Filho redentor 
no mistério da Redenção da humanidade. Embora Maria seja 
uma criatura redimida (a primeira dos redimidos e da maneira 
mais sublime), coopera com Cristo de modo único e irrepetí­
vel. A cooperação dos cristãos tem lugar depois do próprio 
evento da Redenção, cujos frutos eles se empenham em difun­
dir mediante a oração e a união da oferta de si com Cristo ao 
Pai. A cooperação de Maria, porém, realizou-se já durante o 
próprio evento da Redenção, isto é, ao longo da vida terrena 
do Filho, tendo inclusivamente sido necessário o livre consen­
timento da futura mãe para que a Redenção se iniciasse. 
Se não tivesse dado o consentimento à Encarnação do 
Filho, Ele não teria podido tomar dela o corpo que ofereceu 
em sacrifício na Cruz. Além disso, Cristo não subiu ao Calvá­
rio para oferecer-se como vítima por nós, sem a livre vontade 
de Maria. De facto, ela consentiu na paixão do Filho porque, 
embora não tivesse podido negar o seu consentimento, pois já 
estava incluído no que fora dado na Anunciação, pôde con-
• BENTO XVI , Angelus de 8 de dezembro de 2009. 
18 
O papel de Nossa Senhora na história da Salvação 
firmá-lo aos pés da Cruz. Esse consentimento «dado à imola­
ção de Jesus não constituiu uma aceitação passiva, mas foi um 
ato autêntico de amor, com que ela ofereceu o seu Filho como 
vítima de expiação pelos pecados da humanidade inteira» 5
, 
para, deste modo, arrancar os homens ao poder de Satanás. 
Aos pés da Cruz, Maria «sofreu profundamente com o seu 
Filho unigénito e associou-se, de coração maternal, ao seu sa­
crifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima 
que havia gerado» 6 • Com a paixão e morte de Jesus e com a 
com-paixão de Maria, em cujo coração se reverberou tudo isto 
que Jesus padeceu na alma e no corpo, Satanás foi derrotado. 
O seu poder e o dos outros anjos rebeldes, de que ele é o chefe 
e que, com ele e sob ele, formam um reino (cf. Mt 12,16), 
foi destruído. Embora continue ativo no mundo - e, por 
vezes, nas várias épocas históricas, também de maneira muito 
intensa e evidente-, deixa de ser invencível, enquanto a graça 
da Redenção, na medida em que é acolhida por nós, nos torna 
capazes de destruir as obras do diabo. 
Essa graça é particularmente reforçada pelo nosso recurso 
confiante à intercessão especial da Virgem Maria. De facto, 
pela sua Imaculada Conceição, ela está, no ser e no agir, clara 
e absolutamente em oposição ao ser e ao agir de Satanás e dos 
outros anjos rebeldes, totalmente voltada - como nenhum 
outro ser humano ou angélico - para a neutralização dos ata­
ques demoníacos e para a expansão do Reino do Filho, que é 
justiça, paz e alegria no Espírito Santo 7. Ela «participa mater-
5 Cf. ]OÃO PAULO II, Audiência geral de 3 de abril de 1997. 
6 Lumen gentium 58. 
7 «Maria, ícone perfeito da Igreja, foi resgatada, preservada do pecado, cheia de 
graça, isto é, tornada capaz, como e ainda mais do que qualquer outro homem redi­
mido , de oferecer um contributo ao desenvolvimento da obra salvífica.» S. M. 
PERRELLA, «La verità dell'lmmacolata Concezione di Maria e il "depositum fidei". Dalla 
~lneffabilis Deus'· alle catechesi mariane di Giovanni Paolo II» , in AAVV, «Signum 
magnum apparuit in crelo». IJmmacolata, segno della bellezza e dell'amore di Dia, Cidade 
do Vaticano , PAMI, 2005, pp. 204-205. 
19 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
nalmente naquele "duro combate contra os poderes das tre­
vas ... , que se desenvolve durante toda a história humana"» 8, 
«colocada no próprio centro daquela inimizade» 
9 
relativa­
mente à «serpente» , figura de Satanás e dos espíritos do mal 
de que ele é príncipe, e que será vencido por Jesus Cristo pre­
cisamente com a cooperação especial da Mãe. 
Nas palavras dirigidas à serpente: «farei reinar a inimizade 
entre ti e a mulher» (Gn 3,15) , Deus revelou que a mulher, 
cujo filho haveria de debelar Satanás, haveria de ser junta­
mente com ele a antagonista do chefe dos demónios e do 
mundo diabólico. A mulher «que, embora tenha precedido o 
homem ao ceder à tentação da serpente, torna-se , depois, em 
virtude do plano divino, a primeira aliada de Deus. Eva tinha 
sido a aliada da serpente ao arrastar o homem para o pecado. 
Deus anuncia que, subvertendo esta situação, fará da mulher 
a inimiga da serpente ... Quem é esta mulher? O texto bíblico 
não refere o seu nome pessoal, mas deixa entrever uma mu­
lher nova, querida por Deus para reparar a queda de Eva; de 
facto ,e da Virgem Maria, com o seu sangue pu­
rificou o universo.» 
Nos «Apêndices », na rubrica «Súplica e exorcismo .. . 
[para] circunstâncias peculiares», inicia-se o exorcismo com 
estas palavras : «Em nome de Jesus Cristo, nosso Deus e 
Senhor, e pela intercessão da Imaculada Virgem Maria, Mãe de 
Deus .. . » 
Uma outra referência mariana, durante esse mesmo exor­
cismo, é a seguinte: «Ordena-te a excelsa Mãe de Deus, a Vir­
gem Maria, que, desde o primeiro instante da sua Imaculada 
Conceição, esmagou a tua orgulhosa cabeça.» 
No fim, canta-se ou recita-se a seguinte antífona mariana: 
«À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não 
desprezeis as nossas súplicas, em nossas necessidades; mas 
livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.» 
Nas «Súplicas que os fiéis podem utilizar privadamente no 
combate contra os poderes das trevas», que vêm na parte final 
do texto, encontramos invocações a Cristo Senhor, entre as 
quais também está a invocação: «Jesus , Filho da Virgem 
171 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
Maria, tende piedade de mim», e uma série de invocações 
à Bem-aventurada Virgem Maria, nas quais, além da antífona 
há pouco referida «A vossa proteção ... », encontramos as 
seguintes: 
Consoladora dos aflitos, rogai por nós. 
Auxílio dos cristãos, rogai por nós. 
Ensinai-me a louvar-vos, Virgem sagrada, dai-me força e 
poder contra os meus inimigos. 
Minha Mãe, minha confiança, Virgem Maria, Mãe de Deus, 
rogai a jesus por mim. 
Gloriosa Rainha do mundo, sempre Virgem Maria, interce­
dei pela nossa paz e salvação. Vós que destes à luz Jesus 
Cristo Senhor e Salvador do mundo. 
' 
Maria, Mãe da divina graça, Mãe de misericórdia, defendei-
-nos do inimigo e recebei-nos na hora da morte. 
Socorrei-me, ó piedosa Virgem Maria, em todas as minhas 
tribulações, angústias e necessidades, e alcançai-me do vosso 
amado Filho a libertação de todos os males e dos perigos da 
alma e do corpo. 
Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu 
dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, 
implorado a vossa assistência e reclamado o vosso socorro 
fosse por vós desamparado. Animado eu, pois, de igual con­
fiança , a vós, ó Virgem entre todas singular, como a mãe re­
corro, de vós me valho; e, gemendo sob o peso dos meus pe­
cados, me prostro a vossos pés. Não desprezeis as minhas 
súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-vos 
de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo. 
Finalmente, nas preces litânicas que encerram o texto, en­
c~ntramos a invocação: «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por 
nos [por mim] .» 
172 
,, 
lndice 
Prefácio à edição portuguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 
Prefácio ... ....... ... ....... ........ .. .. .. ......... .... .. .. ....... ... ...... .. .. ... 7 
Introdução .. . . . . . .. . .. .. ... . . .. ... . ... . .. . .. . . .. . . ... ..... .. .... ... . ..... .. ..... 13 
1. O papel de Nossa Senhora na história da Salvação 17 
II. A possessão diabólica 25 
III. O poder da invocação do nome de Maria .......... .. 31 
IV. O demónio obrigado a confessar a sua vergonha: a 
sua completa impotência diante da Virgem Maria . 35 
V. A minha experiência mariana nos exorcismos e nos 
outros momentos do confronto com os demónios 47 
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . .. . . . . . . . . . . . . . .. ... . . . . . . .. .. . . . .. . .. 4 7 
§ 1 - A recusa, da parte do demónio, do projeto da 
Encarnação do Filho de Deus e de Maria Rainha 
dos Anjos e dos homens . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . .. . . . . . .. . . .. . . . . . . . 49 
§ 2 - A Imaculada Conceição, a santidade sublime e a 
beleza incomparável de Maria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . 56 
§ 3 - Também Nossa Senhora foi redimida por Jesus 63 
§ 4 - Maria foi redimida como todos os homens, mas 
de modo mais elevado e sublime .. ..... ....... .. ... .... • .. • • 65 
173 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
§ 5 _ A virgindade perpétua de Maria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 66 
§ 6 _ A maternidade de Maria relativamente a nós . . . . 72 
§ 7 -A intercessão-mediação de Maria .... .... .... ......... . 82 
§ 8 _ A Ave-Maria e o Santo Rosário . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . . . ... . 98 
§ 9 _ A Virgem Maria venceu Satanás pela sua fé ina-
balável .. .... .... ... .. • • • • • · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · • • •.. .... 105 
§ 1 o _ A Paixão de Maria unida à Paixão do Filho . . . . . 114 
§ 11 - A humildade de Maria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 
§ 12 - Os pecados dos homens e a reparação ao Cora-
ção de Cristo e ao Coração Imaculado de Maria . ... . 120 
§ 13 - A Assunção de Maria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . .. . ... 135 
§ 14 - A caridade para com o próxi1110 . . . . . . . .. . . . . . . .. . .. . 137 
§ 15 - A Senhora e a Eucaristia ........ ... ......... .......... .. . 138 
§ 16 - O triunfo do Coração In1aculado de Maria ..... 144 
VI. Alguns exemplos de intercessão da Virgem Maria 
no momento da libertação .. .. ..... ..... .. .... ....... ....... ..... 149 
VII. A experiência mariana de outros exorcistas .... ... 155 
Apêndice 1 
O papel de Nossa Senhora na luta contra Satanás, desde 
as aparições da Rue du Bac até hoje .... ...... .. .... .... ...... 167 
Apêndice 2 
Referências marianas no texto do ritual dos exorcismos 1 70 
174 
Este livro, essencialmente inspirado nos fundamentos bíblicos e no 
ensino da Igreja sobre Nossa Senhora, quer ser, antes de mais, um tes­
temunho da solicitude, amorosa e especial, que a Virgem Maria mostra 
durante os exorcismos, e do poder que um culto autêntico a Nossa 
Senhor exerce no mundo demoníaco. 
Baseando-se em experiências pessoais, o Autor conta que, no seu tra­
balho pastoral junto das pessoas possessas, é possível constatar a pre­
sença e a proteção da Virgem que, com imensa ternura de mãe, inter­
vém ao lado dos seus filhos. De facto, Maria é a «Mulher» que, desde 
o Génesis ao Apocalipse, tem um papel importantíssimo na luta contra 
o inimigo infernal e na realização da própria missão salvífica do Filho: 
reconduzir o género humano ao seio do Pai. 
«Aconselho vivamente a leitura do presente livro [ ... 1, uma profunda 
catequese acerca da Virgem Maria e do seu papel singular na história 
da salvação. Parece-me que estas páginas nos estimulam bastante , 
seja a crescer na nossa devoção a Maria Santíssima, seja a compreen ­
der melhor a natureza desta devoção e a sua grande importância no 
atual momento histórico que vivemos. ,, 
Do prefácio de Pe. Duarte Sousa Laraela é chamada a restaurar o papel e a dignidade da 
mulher e a contribuir para a mudança do destino da humani­
dade, colaborando mediante a sua missão materna para a vitó­
ria divina sobre Satanás. À luz do Novo Testamento e da Tra­
dição da Igreja, sabemos que a mulher nova anunciada pelo 
Protoevangelho 10 é Maria e, na sua estirpe, reconhecemos o 
Filho, Jesus, triunfador no mistério da Páscoa sobre o poder 
de Satanás. Observamos também que a inimizade, posta por 
8 
J OÃO PAULO II , Encíclica Redempto1is Mater 4 7. 
9 Ibidem 11. 
_ iv _«Protoevangelho» quer dizer «primeira boa-nova» e refere-se ao primeiro 
anuncio que encontramos na Biblia: o da vitória definitiva do Messias e da Mulher 
(Maria) sobre Satanás e sobre as forças do mal [cf. Gn 3,15] . Portanto, é um anúncio 
que abre para a esperança de salvação a humanidade caída sob o poder de Satanás 
depois do pecado. 
20 
O papel de Nossa Senhora na história da Salvação 
Deus entre Satanás e a mulher do Génesis, realiza-se dupla­
mente em Maria. Aliada perfeita de Deus e inimiga do diabo, 
ela foi subtraída completamente ao domínio de Satanás na sua 
conceção imaculada, quando foi plasmada na graça do 
Espírito Santo e preservada de toda a mancha de pecado. 
Além disso, associada à obra salvífica do Filho, Maria foi ple­
namente envolvida na luta contra o espirita do mal. Assim, os 
títulos «Imaculada Conceição» e «Cooperadora do Redentor» , 
atribuídos a Maria pela fé e pela Igreja para proclamar a sua 
beleza espiritual e a sua íntima participação na obra admirável 
da Redenção, manifestam a oposição irredutível entre a ser­
pente e a nova Eva» 11
. 
A antiga versão latina do Protoevangelho - que diz: « Porei 
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a 
dela. Ela esmagar-te-á a cabeça» (Gn 3,15) 12 
- «inspirou 
muitas representações da Imaculada que esmaga a serpente 
debaixo dos seus pés. No texto hebraico, não é a mulher, mas 
a sua estirpe, o seu descendente quem calca a cabeça da ser­
pente. Portanto , esse texto atribui não a Maria, mas ao seu 
Filho a vitória sobre Satanás. Todavia, como a conceção bí­
blica estabelece uma profunda solidariedade entre o progeni-
11 
JOÃO PAULO II , Audiência geral de 25 de janeiro de 1996. 
12 Ao comentar esta passagem, que na versão grega dos Setenta aparece no mas­
culino: «Ele esmagar-te-á a cabeça~ , Santo Afonso Maria de Ligório escreve: «Seja 
como for, é certo que Lúcifer foi derrotado pelo Filho por meio da Mãe ou pela Mãe 
por virtude do Filho. Diz São Bernardo: "Esmagado e calcado aos pés de Maria, sobre 
uma aviltante escravidão ." Por isso, o Maligno é sempre obrigado a obedecer às 
ordens da Rainha como alguém que perdeu a guerra e foi tornado escravo. São Bruno 
afirma que Eva, ao ser vencida pela serpente, trouxe consigo a morte e as trevas; mas 
a Bem-aventurada Virgem, ao vencer o demónio, deu-nos a vida e a luz. Portanto, 
ossa Senhora ligou o inimigo de tal maneira que não pôde mover-se para causar o 
mais pequeno dano aos seus devotos» (in Le glorie di Maria, 2.ª edição, Milão, Edi­
trice Ancilla, 1994, parte I, cap. IV, parágrafo 2, p . 157). O texto original de Santo 
Afonso Maria de Ligório está em Opere Spirituali , Serie B, Trattati speciali: Gesi.t 
Cnsto, Maria SS. e i Santi , vol. V, Le glorie di Maria, c. IV, par. I, Roma-Pagani, Edizio­
ne PP Redentoristi , 1954, pp. 205-206. 
21 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
tor e a sua descendência, é coerente com o sentido original da 
passagem a representação da Imaculada que esmaga a cabeça, não 
por virtude própria, mas pela graça do Filho. Além disso , no 
mesmo texto bíblico é proclamada a inimizade entre a mulher 
e a sua descendência, por um lado, e a serpente e a sua estir­
pe , por outro. Trata-se de uma hostilidade expressamente es­
tabelecida por Deus, que assume um relevo singular se consi­
derarmos o problema da santidade pessoal da Virgem. Por ser 
a inconciliável inimiga da serpente e da sua estirpe, Maria 
devia estar isenta de todo o domínio do pecado, desde o pri­
meiro momento da sua existência. A propósito, a Encíclica 
Fulgens carona, publicada pelo papa Pio XII em 1953 para 
comemorar o centenário a definição do dogma da Imaculada 
Conceição, argumenta assim: "Se, num determinado momen­
to , a Bem-aventurada Virgem Maria ficasse privada da graça 
divina, porque contaminada na sua conceção pela mancha 
hereditária do pecado, entre ela e a serpente nunca teria exis­
tido - pelo menos durante este período de tempo, mesmo que 
fosse breve - aquela inimizade de que a tradição primitiva fala 
até a definição solene da Imaculada Conceição, mas sobretudo 
uma certa sujeição" (MS 45 [1953], 579). Portanto, a hostili­
dade absoluta estabelecida por Deus entre a mulher e o demó­
nio exige em Maria a Imaculada Conceição, isto é, uma ausên­
cia total de pecado, desde o início da vida. O filho de Marb 
obteve a vitória definitiva sobre Satanás e fez com que dela be­
neficiasse antecipadamente a Mãe, preservando-a do pecado. 
Consequentemente, o Filho concedeu-lhe o poder de resistir 
ao demónio, realizando assim no mistério da Imaculada Con­
ceição o mais notável efeito da sua obra redentora» 13. 
Portanto, na história da salvação há três grandes protago­
nistas: Cristo redentor, Maria cooperadora de Cristo e Satanás, 
J ) JoAo PAULO II , Audiência geral de 29 de maio de 1996 (o itálico é nosso). 
22 
O papel de Nossa Senhora na história da Salvação 
seu opositor, que - como já se disse repetidamente -, na 
Bíblia, é representado pela imagem de uma serpente, mas no 
curso da história da humanidade, por causa da sua crescente 
obra maléfica entre os homens, é figurado por um dragão ver­
melho e sanguinário, para fazer ressaltar a sua ferocidade e 
crueldade desmesurada em contraposição ao sinal que apa­
rece no céu, da «Mulher vestida de sol» do capítulo 12 do 
Apocalipse, que também figura a Virgem Maria. Não nos es­
queçamos de que, frequentemente, na Bíblia uma mesma 
figura pode ter diversos significados. Para os exegetas, «Mu­
lher vestida de sol» representa o povo hebraico e/ou a Igreja 
e/ou Maria. Mas é precisamente este último significado que 
prevalece, já que o Filho desta mulher é jesus. «Ela [a Mulher] 
dará à luz um filho varão Uesus Cristo, o Messias], com odes­
tino de governar todas as nações com cetro de ferro» (Ap 
12,5). E a sua Mãe, a «Mulher» do Apocalipse, aparece em 
luta contra Satanás, como Deus já tinha declarado no Génesis. 
«Caracterizada pela sua maternidade, a mulher "está grávida 
e grita com as dores e o trabalho de parto". Esta observação 
remete-nos para a Mãe de Jesus junto da Cruz (cf. Jo 19 ,25), 
onde ela participa com a alma trespassada pela espada (cf. Lc 
2,35), no trabalho de parto da comunidade dos discípulos 
[isto é, a Igreja]. Apesar dos seus sofrimentos, está "vestida de 
sol" - isto é, tem o reflexo do esplendor divino - e aparece 
como sinal grandioso da relação esponsal de Deus com o seu 
povo . Embora não indiquem diretamente o privilégio da 
Imaculada Conceição, estas imagens podem ser interpretadas 
como expressão do cuidado amoroso do Pai que envolve 
Maria com a graça de Cristo e o esplendor do Espírito. Final­
mente, o Apocalipse convida a que se reconheça mais parti­
cularmente a dimensão eclesial da personalidade de Maria: a 
mulher vestida de sol representa a santidade da Igreja que se 
23 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
realiza plenamente na Santíssima Virgem, por virtude de uma 
graça singular» 14
• 
À luz de quanto dissemos até agora, compreende-se que os 
evangelizadores, os pregadores e os catequistas não podem 
calar-se acerca da «serpente» e do «dragão» : «A evocação da 
luta contra Satanás deve entrar na dinâmica dos diversos ser­
viços da Palavra; por isso, dever-se-á evitar silenciá-la, talvez, 
pelo desejo de falar só da Mulher: pôr entre parênteses a fi­
gura do Dragão resolver-se-ia num empobrecimento da figura 
e da missão da Mulher» 15
. 
1
• Ibidem. 
i ~ M . G. MASCIARELu,Pio IX e l'Immacolata, Cidade do Vaticano, LEV, 2000, p. 73. 
24 
11 
A possessão diabólica 
No livro Possessioni diaboliche ed esorcismo 16 [Possessões 
diabólicas e exorcismo] , descrevi longa e pormenorizadamen­
te os critérios de discernimento para distinguir uma possessão 
diabólica real de doenças psíquicas ou manifestações de 
origem natural. Portanto, convido a que se consulte aquele 
texto para uma informação pormenorizada sobre esta mani­
festação da ação extraordinária do demónio. A experiência 
mariana que desejo tratar situa-se explicitamente no contexto 
do ministério dos exorcismos e do caminho de libertação dos 
nossos irmãos e irmãs que, ajudados pelo exorcista, devem 
enfrentar a luta dramática e pessoal da possessão diabólica. 
Aqui, limito-me a sintetizar o que afirmei naquele livro, para 
ajudar o leitor a compreender melhor o contexto em que se 
insere a obra de Nossa Senhora. 
A possessão diabólica não é um desdobramento da perso­
nalidade, como acontece no caso da doença psíquica. É, ao 
contrário, uma espécie de «substituição temporária» da pes­
soa, durante a qual se estabelece o domínio despótico, brutal 
e violento de um espírito demoníaco (ou, ainda, mais do que 
um), que opera através da pessoa, fazendo com que ela fale e 
16 F BAMONTE, Possessioni diaboliche ed esorcismo. Come riconoscere l'astuto inganna­
tore, Milão, Paoline, 2006. 
25 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
aja como ele quer, sem que ela possa resistir. Em geral, nos 
casos de possessão diabólica, a pessoa entra em transe, o rosto 
deforma-se, frequentemente as pupilas deslocam-se comple­
tamente ou quase para baixo ou para cima no globo ocular, e 
os olhos aparecem total ou parcialmente brancos; mais rara­
mente, acontece que as pupilas , embora não desapareçam, 
rodam velozmente ou permanecem imóveis ou, até, tornam­
-se semelhantes às da serpente, enquanto a cavidade orbital 
assume uma cor vermelho-fogo. Ao mesmo tempo, frequente­
mente, a pessoa fica bloqueada, porque o demónio reage vio­
lentamente através dela , gritando cheio de raiva e de ódio 
frases deste género: «Nunca sairei daqui!» ou «É minha! (É 
meu!) Deram-ma (deram-mo), e tu nunca ma (mo) tirarás!» 
Outras vezes, diz: «Tu não podes fazer nada contra mim!» e 
ainda: «Maldito, descobriste-me; mas vais pagá-las!» Quando 
o demónio é obrigado a manifestar-se abertamente - nem 
sempre acontece imediatamente -, por vezes, aparecem os 
sinais que o ritual dos exorcismos, o Rítuale Romanum 17
, e 
também o novo ritual ts enumeram nas indicações sobre o dis­
cernimento. Isto é: falar correntemente línguas desconhecidas ou 
compreender quem as fala; conhecer factos distantes ou desconhe­
cidos; mostrar forças superiores à idade e à condição natural da 
pessoa. No n.º 3 das normas, o Rituale Romanum elenca estes 
sinais, introduzindo-os com as palavras seguintes: «Podem ser 
sinais da presença do demónio» , sublinhando que , embora 
podendo não ter necessariamente origem diabólica numa pre-
11 
Rituale Roma~um. Ticulus XII: De exorcizandis obsessis a dremonio. Caput /. 
Norma: observanda, orca exorcizandos a dremonio, Editio typica, 1952 [Vaticano. LE\~ 
2008] . (Este ntual litúrgico cu· d r· · · f · . , Ja gran e e 1các1a Já 01 testada pelos sacerdotes exor-
cistas na luta contra Satanás p d · , o e contmuar a ser usado por eles, de maneira perma· 
neme. com a aprovar~o da Co à C 1 . ~ . "" ngregaç o para o u to Divino e a Disciplina dos :,a-
cra~~ntos, ~ p~d1~0 do Ordmário [bispo] do lugar a que pertença.) 
LEV 20D0e4ex[Ror~1sm1s et supplicationibus quibusdam, Editio typica ernendata Vaticanv. 
, e1mpresso , 2005] . ' 
26 
A possessão diabólica 
sença demoníaca, contudo manifestam-se frequentemente nos 
casos de possessão. 
O Rituale Romanum, que se inspirou numa experiência 
secular, depois de ter enumerado os três sinais anteriores, 
acrescenta: «e outros fenómenos deste género que quanto 
mais numerosos forem tanto mais indicativos serão», dei­
xando campo aberto às possibilidades de muitas outras mani­
festações da ação extraordinária do demónio, além dos três 
fenómenos apresentados. Entre todos, o primeiro sinal é uma 
aversão violenta ao sagrado que o Rituale Romanum não men­
ciona expressamente, considerando-o provavelmente óbvio; 
em vez dele, o novo ritual dos exorcismos apresenta-o explici­
tamente no n.º 16 das Considerações Gerais do modo seguinte: 
«Por isso, é também necessário estar atento a outros sinais, so­
bretudo de ordem moral e espiritual, que revelam, de forma 
diferente, a intervenção diabólica. Podem ser: uma forte aver­
são a Deus, à Santíssima Pessoa de Jesus, à Bem-aventurada 
Virgem Maria, aos Santos, à Igreja, à Palavra de Deus, às reali­
dades sagradas, sobretudo aos sacramentos e às imagens 
sagradas.» 
Todavia , perante certas manifestações, o exorcista não 
deve, de modo nenhum, avaliar os sinais com superficiali­
dade, mas sempre com extrema cautela e prudência. Quando 
estas manifestações se associam a fenómenos ou comporta­
mentos que não podem ser atribuídos à capacidade da pessoa, 
não sendo expressões da sua personalidade , então a ação do 
demónio pode tornar-se uma certeza moral. Por isso, para 
chegarem a um discernimento mais profundo, muitos exorcis­
tas adotam o critério de verificar se à manifestação de aversão 
ao sagrado, de força incrível ou de línguas desconhecidas, se 
associa também o fenómeno do conhecimento de coisas com­
pletamente ignoradas pela pessoa. Por exemplo: a reação a 
27 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
relíquias ou a objetos benzidos; mostrar que compreende ou 
até fala línguas que a pessoa não conhece; a reação violenta ao 
exorcismo feito em silêncio e, em particular, às ordens impe­
rativas dadas mentalmente, etc. Em geral , estes sinais estão 
sempre ligados a outras manifestações do demónio através da 
pessoa possuída: umas vezes, um timbre de voz mais grave, 
tenebroso, rouco ou, então, baritonante; outras vezes , estri­
dente ou metálico. Nalguns, o demónio gane como um cão ou 
ruge como um leão; noutros, sibila como uma serpente, che­
gando a assumir os seus movimentos coleantes. Às vezes, mas 
raramente, também se verifica o fenómeno da levitação que 
tanto pode acontecer durante um exorcismo como durante 
uma manifestação de possessão fora do exorcismo. 
Outra manifestação típica do demónio nas pessoas posses­
sas é a mudança imediata de expressãÓ, passando repentina­
mente de uma atitude impávida e provocadora, arrogante, sar­
cástica e de palavras cheias de insultos e ameaças, a uma 
atitude suplicante e retraída, precisamente de quem se sente 
intimidada e dominada por uma Autoridade Suprema; ou. 
então, passa de sorrisinhos brejeiros e risadas irónicas e pérfi­
das a tremores e espanto. Além disso, os demónios, através da 
pessoa possessa, insultam e tentam agredir os presentes, so­
bretudo o exorcista; outras vezes, tentam fugir dele, cospem, 
injuriam, ameaçam e amaldiçoam, dizendo palavras blasfemas 
e grosseiras. Por vezes, todas estas manifestações são acompa­
nhadas por arrancos de vómito ou espuma lançada pela boca 
da pessoa atormentada. 
Por fim , outro fenómeno que também pode acontecer du­
rante o exorcismo: o da materialização de objetos. A experiên­
cia comum de vários exorcistas testemunha que , no corpo da 
pessoa ou perto dela, podem aparecer objetos como pedaços 
de correntes, pedras, caracóis de cabelos, vidros, pedaços de 
tecido, carne, flores, cordas, anéis, brincos e outras coisas, 
28 
A possessão diabólica 
entre as mais variadas, que a pessoa pode, até, vomitar. Estes 
objetos são os que serviram para a confeção do malefício. 
Ordinariamente saem pela boca, mas nem sempre provêm do 
estômago da pessoa ; isto explica o porquê de o possesso 
nunca sofrer danos físicos, mesmo quando, por exemplo , 
saem grandes pedaços de vidro; de facto, no instante em que 
sai pela boca, acontece uma ação de «transfert» do objeto 
sobre o qual se operou um rito oculto; em geral , este fenó­
meno é sinalda libertação progressiva da pessoa. No entanto, 
a libertação não está necessária e exclusivamente ligada a estas 
manifestações. 
Sobre as causas que podem estar na origem da possessão 
diabólica e sobre os remédios sugeridos, o leitor pode consul­
tar o texto que atrás mencionei. 
29 
111 
O poder da invocação 
do nome de Maria 
Sobre a ação da Virgem Maria contra Satanás durante os 
exorcismos e na caminhada de libertação, o célebre exorcista 
padre Cândido Amantini - que exercia o seu ministério na 
Basílica da Scala Santa [Escadaria Santa], em Roma, onde fale­
ceu em odor de santidade em 1992 - escrevia assim no único 
livro que publicou em vida, com o título II mistero di Maria: 
«Assim como, através dos possessos, Satanás é obrigado a 
reconhecer abertamente o poder de Jesus Cristo contra ele, 
assim também é obrigado a confessar a força do pé imaculado 
de Maria, que lhe espezinha continuamente a cabeça. A pro­
pósito, temos numerosos testemunhos de santos e de muitos 
sacerdotes que tiveram de lutar diretamente com Satanás por 
meio dos exorcismos. 
O Ritual Romano dos exorcismos estabelece, numa nota, 
que o sacerdote exorcista investigue cuidadosamente os efei­
tos e os sentimentos que poderão observar-se nos endemoni­
nhados, depois das invocações e louvores dirigidos a Deus e 
aos santos, e também depois das ordens imperativas dadas aos 
demónios , de modo a poderem conduzir-se adequadamente 
no decorrer dos exorcismos. Na verdade, a ação de Satanás 
desencadeia tais resultados psicológicos nas suas vítimas, para 
31 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
quem, como por uma indução imediata, as pessoas manifes­
tam as suas próprias reações. Ora, das experiências feitas re­
sulta exatamente isto: quase nenhuma outra coisa provoca ta­
manho tormento a Satanás quanto a invocação do nome de 
Maria. Ordinariamente [nda: durante o fenómeno da posses­
são, as pessoas} não conseguem sequer pronunciar livremente 
o seu nome, por mais que se esforcem. Depois, há devoções 
marianas que os demónios não suportam, já que os possessos 
só a muitíssimo custo as podem praticar. Entre elas, está a 
Ave-maria, o tributo diário de São Boaventura e o Rosário. 
Com igual evidência se mostra o poder da Virgem ao es­
magar os demónios dos corpos dos possessos, pelos resulta­
dos que se obtêm com uma constante devoção mariana. De 
facto, através dela , eles (os possessos) chegam a melhorar 
muito. Mesmo aqueles demónios particularmente duros e 
obstinados que, como diz o Evangelho (cf. Me 9,28) , não 
cedem a não ser a meios extremos, as suas forças enfraquecem 
rapidamente quando têm de enfrentar uma proteção especial 
da Virgem. A experiência ensina que todos os que recorreram 
a ela nessas circunstâncias com grande devoção filial , mais 
cedo ou mais tarde acabam por sair delas» 19
• 
O popular exorcista italiano Gabriele Amorth, no seu livro 
Nuovi racconti di un esorcista, descreve pormenorizadamente a 
ação de Maria no exorcismo e na caminhada de libertação, re­
ferida pelo padre Cândido, de quem ele foi discípulo: «Palpa­
mos a verdade de que Maria é realmente medianeira de grk 
ças, porque é sempre ela que obtém do Filho a libertação de 
alguém das garras do demónio . Quando se começa a exorcizar 
um endemoninhado, un1 daqueles de quem o diabo se apossa 
realmente por dentro, somos insultados e gozados: "Eu estoll 
aqui muito bem ... Nunca sairei daqui. .. Tu não podes nada 
19 C. AMANTINI , n mistcro J, Mana, Frigento (AV), Casa Mariana, 1987. p. 329. 
32 
O poder da invocação do nome de Maria 
contra mim ... És muito fraco e estás a perder o teu tempo ... " 
Mas, pouco a pouco, Maria vai entrando em campo e a mú­
sica começa a mudar: "É ela quem quer ... Contra ela não pos­
so nada ... Diz-lhe que deixe de interceder por esta pessoa ... 
Ela ama muito esta criatura .. . Bem, para mim acabou ... " Tam­
bém me aconteceu muitas vezes ser-me logo atirada à cara a 
intervenção de Nossa Senhora, desde o início do exorcismo: 
"Eu estava aqui tão bem, mas foi ela quem te mandou .. . Sei 
porque é que vieste, porque foi ela que quis .. . Se ela não ti-
vesse intervindo, eu nunca te teria encontrado ... "» 20
• 
No mesmo volume, o padre Gabriele Amorth aconselha 
quem estiver em dificuldade ou desesperado que diga a bela 
jaculatória de São Bernardo: «Maria é toda a razão da minha es­
perança.» Estas palavras impressionaram-no muito desde a 
sua juventude; de facto, à primeira vista, parecem apenas de­
vocionais; mas, na realidade, exprimem a grande verdade da 
mediação materna de Maria, em Cristo. Todas as graças, todos 
os dons de Deus, chegam até nós com tanto maior abundân­
cia quanto mais autenticamente devotos formos de Maria, 
acolhendo com amor a sua ação materna e confiando-nos to­
talmente a ela. Por isso, Gabriele Amorth termina o seu livro, 
dizendo: «São Bernardo não hesita em exprimir estes concei­
tos com uma afirmação corajosa que marca o ponto mais alto 
do seu discurso e que inspirou a Dante aquela famosa oração 
à Virgem: "Veneremos Maria com todo o ímpeto do nosso 
coração, dos nossos afetos e dos nossos desejos. Assim quer 
Aquele que estabeleceu que recebêssemos tudo por int'ermé­
dio de Maria." É esta a experiência que, concretamente, todos 
os exorcistas experimentam sempre» 21
• 
z.; G AMORTH, Nuovi racconti di un esorcista, Roma, Edizioni Dehoniane, 1992. 
PP 220-221 [trad . port.: Novos relatos de um exorcista, Paulus, 2004). 
21 Ibidem, pp. 221-222. Sobre este tema, veja-se também o aprofundamento que 
faço no capitulo 5, no parágrafo 7, «A intercessão-mediação de Mariai.. 
33 
IV 
O demónio obrigado 
a confessar a sua vergonha: 
a sua completa impotência 
diante da Virgem Maria 
As considerações dos dois célebres exorcistas italianos, os 
padres Gabriele Amorth e Cândido Amantini, relativamente à 
presença e à ação de Maria durante os exorcismos, permitem­
-nos enfrentar melhor o problema, investigando sobre os efei­
tos determinantes que a verdadeira devoção a Nossa Senhora 
produz no âmbito da luta contra Satanás. 
Os demónios sabem muitíssimo bem que, quando Deus 
disse a Satanás: «Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, 
entre a tua descendência e a dela: ela esmagar-te-á a cabeça e 
tu tentarás mordê-la no calcanhar» ( Gn 3, 15), Ele estabelecera 
associar a si, na Redenção da humanidade, uma mulher, como 
adversária invencível do Mal. Desde o início, na sua infinita 
sabedoria, Deus opôs a Satanás e aos demónios - que tinham 
arrastado a humanidade para a ruína, com a colaboração de 
uma mulher, Eva - uma nova mulher: a Virgem Maria. Assim 
como uma mulher tinha conduzido a humanidade ao poder 
de Satanás, assim também, agora, o Redentor, com maior hu­
milhação de Satanás, haveria de libertá-la com a cooperação 
35 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
de outra mulher. É este um dos motivos por que, durante os 
exorcismos, os demónios ficam mais indignados e furiosos 
com Maria do que com o próprio Deus. 
A cooperação de Maria na vitória de Deus sobre eles humi­
lha-os mais do que se Deus os vencesse sozinho. Serem derro­
tados por Deus mediante a cooperação de uma criatura 
humana, inferior a eles por natureza e, além disso, Imaculada, 
a única sen1 aquele pecado com o qual eles tinham submetido 
ao seu poder todo o género humano, humilha sobremaneira 
o seu orgulho desmesurado. O facto de Maria ser a Imaculada, 
a Sempre Virgem, a humilíssima Mãe de Deus, associada 
como nenhuma outra criatura a Jesus Cristo na obra da Re­
denção, a Assumpta ao céu em corpo e alma e a Rainha do 
universo, ao lado do seu Filho, irrita-os, enfurece-os mais e 
torna-os mais blasfemos contra ela do que contra o próprio 
Cristo. É este o motivo pelo qual, durante os exorcismos. os 
demónios se dirigem a Ela, urrando, com um ódio inaudito. 
mas sem ousar pronunciar o seu nome, a não ser raríssimas 
vezes, apostrofando a Virgem Maria num tom depreciativo. 
dizendo «ela» e acrescentando blasfémias e palavras sum,t­
mente grosseiras, einjúrias contra a sua pessoa. Mas a santi­
dade e o esplendor de Maria põem-na tão alto entre todas a~ 
criaturas humanas e angélicas que, frequentemente, os demó­
nios são obrigados a elogiá-la pela sua grandeza, poder e 
fulgor divino que resplandece nela. 
Estes momentos são extraordinariamente impressionant s, 
porque os demónios, ao ficarem cegos c01n tamanho esplen­
dor - que lhes é dolorosíssimo-, são obrigados a testemunhar 
a dignidade extraordinária da Mãe de Deus entre as criaturas 
humanas e angélicas, e a afirmar toda a verdade sobre a \'ir­
tude dela e a admitir a sua absoluta impotência diante da von­
tade daquela que Deus, omnipotente por natureza, ao pro-
36 
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha ... 
clamá-la rainha do universo, tornou «omnipotente por 
graça». Como já antecipei na Introdução, acontece então uma 
curiosa alternância de expressões depreciativas e grosseiras, 
por um lado, e de catequese e louvores amabilíssimos, por 
outro, que, mesmo contra a sua vontade, os demónio são 
obrigados a pronunciar sobre a Virgem Maria, o que os des­
gosta imensamente. 
Sobre estes excecionais testemunhos que os demónios 
fazem durante os exorcismos, o padre Cândido Amantini es­
creve assim, no seu livro já citado: « Umas vezes, porém, o 
Maligno foi obrigado a confessar a sua vergonha pela boca dos 
possessos, a sua completa impotência diante das vontades da 
Soberana do céu e da terra. Outras vezes, teve até de transfor­
mar-se, apesar da sua imensa repugnância, em «panegirista» 
de Maria. A propósito, é-nos caro recordar o caso de um rapa­
zinho de onze anos possesso que, por ordem de dois exorcis­
tas dominicanos, ditou de improviso este soneto, ainda antes 
de ter sido definido o dogma da Imaculada Conceição» 22
• 
O episódio é relatado pelo padre Cândido e também no 
livro já citado do padre Gabriele Amorth 23
, mas sem nenhuma 
indicação das fontes. Também encontrei o mesmo soneto 
noutros textos e, até , no primeiro volume do Epistolário do 
Padre Pio, mas sempre sem a referência às fontes 24
. Por isso, 
22 C. AMANTJNI , n mistero di Maria, pp. 329-330. Ver soneto infra. 
23 G. AMORTH, Nuovi racconti di un esorcista, p. 219. 
2
• O padre Agostino de San Marco in lamis, que foi um dos principais diretores 
espirituais do Padre Pio, escreveu-lhe numa carta de 22 de janeiro de 1913: «Agora, 
para que possa alegrar-te e para vergonha dos nossos inimigos infernais, envio-te uma 
composição em verso que encontrei em italiano e que traduzo para francês.» Depois, 
o padre Agostino transcreve imediatamente o poema em italiano e, depois, em fran­
cts, introduzindo-o com estas palavras: «Soneto feito por um possesso de onze anos, 
em Ariano di Puglia, em louvor da Imaculada Conceição, com as rimas obrigatórias 
de Madre e Figlio.» o fim do soneto, o padre Agostino revela que não conhece a 
fonte deste episódio porque, acrescenta: «Não sei se este poema foi composto verda­
deiramente por um endemoninhado. Creio que sim. Todavia, é muito belo e acolhê-
37 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
encetei pesquisas aprofundadas para remontar até às fontes e, 
para minha grande alegria, precisamente quando já quase não 
esperava encontrá-las, descobri que esta composição lírica 
tinha sido citada pelo cardeal Francesco Salesio della Volpe no 
processo ordinário romano, que se realizou entre 1907 e 
1928, para a beatificação e canonização do Servo de Deus, 0 
papa Pio IX. O cardeal era um dos membros ligados ao ser­
viço pessoal do Papa, com o título - então em uso - de «ca­
mareiro secreto participante». Um padre dominicano, que foi 
meu professor durante os estudos de Teologia e que trabalha 
na Congregação para as Causas dos Santos, a meu pedido, fez­
-me chegar uma fotocópia do documento que reproduz numa 
página o testemunho do Cardeal que apresentou o texto da 
composição, de que ele próprio possuía uma cópia. Ficou re­
portado na «Positio: Romana. Beatifícationis et canonizationis 
Servi Dei Pii IX, Summi Pontificis, Positio super virtutibus, 
vol. 1: Summarium, p. 70 .» 
O facto aconteceu em 1823, numa cidade da Itália meri­
dional , hoje na província de Avellino , e que, então, se cha­
mava Ariano di Puglia. Depois, em 1930, começando a fazer 
parte da região da Campânia, aquela terra tomou o nome de 
Ariano Irpino. Naquele período , discutia-se muito entre os 
teólogos acerca da verdade da Imaculada Conceição que, 
trinta e um anos mais tarde, em 1854, foi proclamada dogma 
de fé . Dois insignes pregadores dominicanos, o padre Cassetti 
e o padre Pignatura, durante uma missão paroquial, participa­
ram nos exorcismos de um rapaz analfabeto de onze anos. 
Eles impuseram ao demónio, em nome de Jesus, que mos­
trasse que Maria era Imaculada e mandaram-lhe que o fizesse 
-lo-eis com agrado.» Na carta de resposta, de 1 de fevereiro de 19 13, o Padre Pio dir3 
ao padre Agostino, agradecendo-lhe: «Deste-me um grande prazer com a transcrição 
e a tradução daquele soneto» (Epistola rio, I , Corrispondenza con i diretton spmtu::ih 
[1910-1922], 4 ª edição, San Giovanni Rotondo (FG), Edizioni Padre Pio da Pietrel­
cma , 2002, pp 332-333; 336. 
38 
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha .. . 
numa composição poética de catorze versos hendecassílabos, 
com rima obrigatória, em duas quadras e dois tercetos (um 
soneto). Então, o demónio , através do rapaz, compôs um 
texto poeticamente genial e, ao mesmo tempo, teologicamente 
exato sobre a verdade da Imaculada Conceição. 
Eis o texto: 
Vera Madre son io d'un Dio ch'e Figlio 
e son Figlia di Lui benché sua Madre. 
Ab ceterno nacqu'Egli, ed e mio Figlio. 
Nel tempo io nacqui e pur gli son Madre. 
Egli e mio C reator ed e mio Figlio, 
son io sua creatura e gli son Madre, 
Fu prodígio divin l'esser mio Figlio 
un Dia eterno e me aver per Madre. 
r esser quasi e comun tra Madre e Figlio 
perché l'esser dal Figlio ebbe la Madre 
e l'esser dalla Madre ebbe anche il Figlio, 
Or, se l 'esser dal Figlio ebbe la Madre 
o s'ha da dir che fu macchiato il Figlio 
o senza macchia s'ha da dir la Madre. 
[Verdadeira Mãe sou eu de um Deus que é Filho 
e sou Filha dele, embora sua Mãe. 
Ab c:eterno nasceu Ele, e é meu Filho. 
No tempo eu nasci e, contudo, sou d'Ele Mãe. 
Ele é meu Criador e é meu Filho, 
sou eu sua criatura e lhe sou Mãe. 
Foi prodígio divino ser meu Filho 
um Deus eterno e me ter por Mãe. 
39 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
o ser quase é comum entre Mãe e Filho 
porque o ser do Filho teve a Mãe 
e o ser da Mãe teve também o Filho. 
Ora, se o ser do Filho teve a Mãe 
ou se há de dizer que foi manchado o Filho 
ou sem mancha se há de dizer a Mãe.] 
Era impossível que um rapaz analfabeto pudesse fazer tal 
composição. Portanto, trinta anos depois, no mesmo ano da 
proclamação do dogma da Imaculada Conceição (1854), 
aquele texto foi apresentado ao papa Pio IX. O Pontífice, logo 
que ouviu aqueles versos - belíssimos e tão dogmática e teolo­
gicamente exatos, embora obra daquele singular cantor da 
Imaculada-, de rosto resplandecente, comoveu-se profunda­
mente, desatando repentinamente num pranto de ternura. 
Mais adiante descreverei uma série de expressões e de 
panegíricos dirigidos a Nossa Senhora pelos demónios, reco­
lhidos da minha experiência pessoal e da de outros exorcistas. 
Contudo, é absolutamente necessária uma precisão, sem a 
qual arriscar-nos-emos não só a não compreender, mas até a 
desprezar as que claramente não são iniciativa do demónio. 
mas do próprio Deus que o obriga. Durante os exorcismos, o 
demónio é, por vezes, obrigado, contra a sua vontade, a teste­
munhar o que não quereria. Quando, por exemplo, no decur­
so do exorcismo, o fiel possuído é aspergido com água benta, 
usada - como se lê no Missal Romano 25 - para o perdão dos 
nossos pecados (veniais), para nos defender das insídias do 
~~ligno e como dom de proteção divina. Quando reage com 
irntação à presença de uma relíquia e mostra que também 
25 
É O livro que contém as orações litúrgicas paraa celebração da Santa Missa 
40 
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha .. . 
sabe a que santo pertence, é obrigado a tornar-se testemunha 
da santidade daquela pessoa e da origem divina da própria 
santidade. 
Quando fala uma língua que só o exorcista conhece, mas 
não a pessoa possessa, ele testemunha a sua identidade dife­
rente da do possesso. 
Quando, durante um exorcismo, o sacerdote recita apenas 
mentalmente algum trecho evangélico ou o Credo e o demó­
nio freme de raiva e reage furiosamente, é obrigado a testemu­
nhar a luz e a força salvífica que, para nós, brotam da Palavra 
de Deus e da Profissão de Fé. 
Poder-se-ia relatar outros numerosos exemplos que podem 
ser referidos por quem exerce este ministério; mas, antes de 
tudo, desejo esclarecer o leitor - para ajudá-lo a compreender 
o que seguidamente apresentarei - que durante os exorcismos 
há diversos momentos em que o demónio, mesmo contra a sua 
vontade, é indubitavelmente obrigado, no seu confronto com a 
presença divina que o domina, a confirmar com gestos, rea­
ções e palavras a verdade da nossa fé . Naturalmente, isto não 
acrescenta nada ao que já sabemos e em que acreditamos; no 
entanto, é-nos extremamente consolador e edificante verificar 
de modo tão evidente a validade e a força das verdades da 
nossa fé. Além disso, esses exemplos acabam por confirmar a 
capacidade da providencial Sabedoria divina e transformar 
continuamente o mal em bem. 
E assim, também e sobretudo a propósito da Virgem 
11aria, da sua santidade e dos dogmas que se lhe referem, os 
demónios fornecem-nos confirmações involuntárias. São 
expressões que eles proferem, umas vezes espontaneamente, 
outras, durante uma oração feita pelo exorcista e pelos presen­
tes a Tossa Senhora; ou, então, por uma ordem explícita, 
como no caso do rapazinho de Ariano Irpino de que já falá­
mos. Mas essas ordens não são conversas com o demónio, 
41 
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos 
embora possam implicar por assim dizer uma espécie de «per­
gunta e resposta» entre o exorcista e o demónio, como neste 
último caso. Trata-se, pelo contrário, precisamente como con­
vida a fazer o Rituale Romanum, de se servir da sua própria 
experiência 26 . E diversos exorcistas verificaram que, nas suas 
experiências, o demónio fica particularmente atormentado 
pelas ordens que lhe impõem louvar a Virgem Maria. O Ri­
tuale Romanum diz: «E quando se aperceber de que o demó­
nio fica mais atormentado, insista e persiga ainda mais» 27. 
Poderiam ser numerosos os exemplos tirados da hagiogra­
fia cristã, com os quais se demonstra que o demónio, mesmo 
fora do contexto do ministério dos exorcismos, por vezes é 
obrigado a dizer ou fazer o que nunca quereria dizer ou fazer, 
n1as não é este o objetivo deste volume. Que Deus, dentro dos 
exorcismos, queira e possa operar da maneira que estou ades­
crever, pode-se facilmente justificar teologicamente. Para fazê­
-lo remeto-me para tudo o que já foi dito acerca da capaci­
dade de Deus de transformar o mal em bem. O grande teó­
logo São Tomás de Aquino escreve: «O mal é , por si mesmo, 
ordenado ao be1n .. .. Ele não contribui para a perfeição e para 
a beleza do universo a não ser acidentalmente» (Suma Teo­
lógica l , q. 19, a. 9). Portanto, só em razão do bem a que está 
ligado ou que suscita, se pode dizer que, para Deus, o mal 
serve para alguma coisa ou que, de algum modo, é um bem. 
26 Rituale Romanum. Titulus XII: De exorcizandis obsessis a d~monio. Capui I; 
Normre observand~ circa exorcizandos a d~monio, p. 84 7, Prrenotanda, n.º 2: «Por isso. 
lo exorcista] para desempenhar retamente o seu oficio , esforce-se por conhecer 
muitos outros documentos úteis à sua tarefa, escritos por autores aprovados e que 
aqui, por brevidade , não indicamos e sirva-se da experiência; além disso, deve obser· 
var ~?u~as normas, particularmente necessárias» (tradução do latim pelo autor) . 
. Ibidem, Prrenotanda , 16, p. 850: «Os exorcismos devem ser proferidos ou lidos com 
autond~de, com grande fé, humildade e fervor; e quando se aperceber de que o dernonio 
fica mais atormentado, então insista-se e persiga-se cada vez mais,. (tradução do latim 
pelo autor). 
42 
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha ... 
São Tomás prossegue, citando Santo Agostinho: «Do conjunto 
das coisas se depreende a beleza admirável do universo, no 
qual aquilo a que se chama "mal", quando está bem ordenado 
e colocado no seu lugar, faz melhor ressaltar o bem: deste 
modo, o bem em confronto com o mal, agrada mais e é digno 
de todo o louvor» (Suma Teológica I, q. 19, a. 9). 
É, precisamente, esta situação que, durante os exorcismos, 
se verifica no confronto entre a presença da Virgem Maria e os 
demónios, como emerge com evidência das reações e afirma­
ções dos próprios demónios. Deste modo e sem querer, eles 
fazem com que ressalte e emirja ainda mais aquele bem que 
especificamente, neste caso, consiste precisamente na inter­
venção materna e amorosa de Nossa Senhora a favor de nós, 
seus filhos . Portanto, experimenta-se de maneira palpável o 
que também escreve Santo Agostinho: «E, como Deus, ao 
criar Satanás, não ignorava com certeza a sua futura maldade 
e previa o bem que daí haveria de tirar, fez com que o salmista 
escrevesse: "O dragão que Tu criaste para que fosse es­
carnecido" 28 (SI 104(103),26), para fazer compreender que, 
enquanto por sua vontade o criou bom, na sua presciência 
tinha já prospetado como também haveria de servir-se dele 
quando se tornasse mau» (De Genesí ad litteram XI,l 7). Tam­
bém o Evangelho confirma essa verdade. Os demónios, diante 
de Jesus, subjugados pelo seu poder, «confessam» a sua natu­
reza divina. Jesus veio ao mundo para destruir as obras do 
diabo (cf. ljo 3,8): na sua presença, os demónios manifestam 
terror, caem prostrados por terra, urram raivosamente, pe­
dindo para não ser mandados embora, declarando que conhe­
cem a dignidade sobrenatural do próprio Jesus (cf. Mt 8,29; 
,;, amo Agostinho esclareceu, um pouco ames no texto, que estas palavras não 
devem ser entendidas no sentido de que Deus tenha criado já mau o dragão, isto é, o 
diabo. para ser desprezado pelos anjos - Deus criou todas as criaturas boas - 4

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