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INFECÇÕES BACTERIANAS DE INTERESSE ESTOMATOLÓGICO FUNDAMENTOS PARA PROPEDÊUTICA ODONTOLÓGICA I Faculdade Pitágoras Graduação em Odontologia Prof. Lucas Padovani Especialista em Periodontia - USP Especialista e Mestre em Implantodontia - PUCMG Doutorando em Periodontia - UFMG Classificação taxonômica e aspectos gerais de bactérias que causam infecções de interesse em estomatologia Gênero Staphylococcus Pele e mucosas (orofaringeana), isoladas de água e alimentos Os estafilococos são organismos esféricos e de diâmetro uniforme, anaeróbios facultativos. Nas coleções purulentas se apresentam sob a forma de “cachos de uva” São Gram+ Infeções estafilocócicas incluem contaminação de feridas cirúrgicas (abscessos e osteomielites supurativas) Gênero Streptococcus ➢ São cocos Gram+ que se apresentam em pares ou fileiras, curtas ou longas ➢ Maioria das espécies é constituída por anaeróbios facultativos, e algumas exigem meio enriquecido com CO2 ➢ São classificados de acordo com sua propriedade de provocar hemólise: • alfa-hemolíticos (hemólise incompleta) • beta-hemolíticos (hemólise total) • gama (não provocam hemólise) Grupo A: - Streptococcus pyogenes: beta-hemolítico → pela faringite estreptocócica, escarlatina, infecções de pele (celulites) e septicemias graves Grupo B: - Streptococcus agalactiae: beta ou gama-hemolítico → infecções associadas ao diabetes abscessos dentoalveolares graves Classificação por Lancefield segundo os antígenos de sua parede celular: Gênero Streptococcus - Streptococcus pneumoniae: alfa-hemolíticos → pneumonias graves - Streptococcus viridans: grande importância em estomatologia (dentes e gengiva) → abscessos e endocardite - Streptococcus mutans: fermenta a sacarose com produção de ácidos que desmineralizam o esmalte → agente etiológico da cárie dentária Gênero Streptococcus Gênero Mycobacterium ▪ Apesar de se comportarem como os Gram+, não se coram, sendo denominadas álcool-ácido resistentes ▪ O Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch) causa a tuberculose e o Mycobacterium leprae (hanseníase) ▪ Doenças de notificação compulsória e endêmicas em algumas regiões brasileiras Gênero Actinomyces ▪ Gram+, anaeróbias ou anaeróbias facultativas, não esporuladas ▪ Isoladas são esféricas à semelhança dos cocos ▪ Suas colônias formam estruturas parecidas com as hifas dos fungos (daí o nome actinomicose) não ter nada a ver com micose ▪ Patógenos oportunistas, especialmente de infecções bucais ▪ Actinomyces israelii - actinomicose PROVA Gênero Treponema - Gram- - Espiroquetas - Anaeróbias facultativas, são bactérias móveis, executando movimentos do tipo “saca-rolhas” - Sífilis → T. pallidum SÍFILIS Características gerais PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA ▪ Infecção crônica mundial --- Treponema pallidum ▪ DST/ mãe – feto ▪ Homens negros ▪ 3 estágios clínicos que podem coexistir ▪ Fases regridem espontaneamente independente de tratamento → atraso diagnóstico e tratamento ▪ Lesões orais incomuns Malformações congênitas SÍFILIS PRIMÁRIA Rev. bras. odontol., Rio de Janeiro, v. 65, n. 2, p.159-164, jul./dez. 2008 ▪ Cancro (>solitária) ▪ 3 a 90 dias após exposição inicial ▪ Genitália e ânus ▪ Sítio extragenital mais comum: cavidade oral ▪ Lesões orais: lábios, línguas, palato, gengiva e amigdalas ▪ Lábio superior: homens ▪ Lábio inferior: mulheres ▪ Cicatrização da lesão: 3 a 8 semanas SÍFILIS SECUNDÁRIA ▪ Identificada clinicamente de 4 a 10 semanas após infecção inicial ▪ Sintomas sistêmicos (linfoadenopatia, dor de garganta, mal-estar, cefaleia, dor músculo esquelética) ▪ 30% dos pacientes --- Placas mucosas ▪ Dorso língua, m jugal e lábio (fibrina) ▪ Pele (roséola sifilítica) ▪ Pode ser única ou múltiplas (típicas) ▪ 3 a 12 semanas (resolução espontânea) SÍFILIS TERCIÁRIA Após sífilis secundária .... Fase sem lesões e sintomas Sífilis latente (1 a 30 anos) Sífilis terciária (complicações + sérias) • SNC, COMPLICAÇÕES VASCULARES • PERFURAÇÃO DO PALATO SÍFILIS CONGÊNITA Achados patognomônicos Dentes de Hutchinson (incisivos chave de fenda / molares em amoras) Ceratite ocular intersticial (superfície da córnea opacificada) Surdez ▪ Crianças infectadas podem manifestar de 2 a 3 semanas após nascimento ▪ Crianças sem tratamento – sífilis terciária ▪ Além da tríade... Nariz em sela, palato ogival, hidrocefalia, retardo mental... Desenvolve-se entre 5 e 25 anos (perda de visão) SÍFILIS Características histológicas ▪ Quadro inespecífico ▪ Lesões primárias – epitélio ulcerado ▪ Lesões secundárias – epitélio ulcerado ou hiperplasiado 1) Infiltrado inflamatório crônico perivascular (linfócitos e plasmócitos) 2) Treponema pallidum Espiroquetas no epitélio Lâmina própria -plasmócitos- SÍFILIS Diagnóstico Diagnóstico clínico (biópsia) Testes sorológicos VDRL (Veneral Disease Research Laboratory) ▪ Inespecíficos e sem alta sensisibilidade ▪ Após 3 semanas de infecção – positivos para as 2 fases ▪ Gestantes – obrigatório FTA-ABS (Anticorpo treponêmico fluorescente com absorção) • Específico e altamente sensível • Positivos por toda a vida • Positivos por toda vida Biópsia? • Apenas se desconfio NÃO ser sífilis PROVA SÍFILIS Tratamento ▪ Tratamento individualizado (infectologista) ▪ Penicilina ▪ Doses e esquema de adm --- fase da doença (envolvimento neurológico e estado imunológico) ▪ Sífilis primária e secundária: 1 dose única de Penicilina G ▪ Sífilis terciária: Penicilina 3x (intervalo semanal) ▪ Alérgicos --- doxiciclina Tuberculose Características gerais ▪ Doença infecciosa crônica (Mycobacterium tuberculosis) ▪ Assintomática ▪ Resposta inflamatória crônica inespecífica ▪ Contágio - Gotículas (doente ativo) ▪ Microrganismos vivos podem estar presentes nestes nódulos (latentes) por vários anos ou pela vida inteira Primária ▪ Nódulo localizado fibrocalcificado no sítio inicial do envolvimento Tuberculose Características gerais Secundária (ativa) ▪ 5 a 10% dos pacientes (primária) irão desenvolver ▪ Disseminação difusa através sistema sanguíneo – reativação do mmo (tuberculose miliar) ✓ Medicamentos imunossupressores ✓ Diabetes ✓ Idade avançada ✓ Pobreza Imunossupressão Coexistente (AIDS) Febre baixa Mal- estar Anorexia Perda de peso Sudorese noturna Tosse (+ 3 semanas) Tuberculose Características gerais Secundária Doença ativa • Qualquer sistema (linfático, pele, sistema esquelético, SNC, rins e TGI) • Mais de 50% dos pacientes HIV+ • Cabeça e pescoço: • linfonodos cervicais • Laringe • Ouvido médio • Cavidade nasal, nasofaringe • Parótida • Cavidade oral: (lesões incomuns - 0,5% a 5,0%) Tuberculose Características gerais Secundária (extrapulmonar) Úlcera crônica e indolor Tuberculose Características histológicas ▪ Coleções de histiócitos epitelióides, linfócitos e células gigantes multinucleadas ▪ Coloração de Ziehl-Neelsen – visualização das micobactérias ▪ Sucesso das colorações especiais (27 a 60% dos casos) Escassez de microorganismos ▪ Cuidados aos resultados negativos Coloração ácido-resistente Organismos micobacterianos PROVATuberculose Diagnóstico Exposição inicial 2 a 4 semanas.... Reação de hipersensibilidade mediada por antígenos Base p/ teste cutâneo do derivado proteico purificado (PPD) +: exposição ao mmo e NÃO doença ativa Tuberculose Tratamento e prognóstico ❑ Tratamento com duas ou mais drogas --- MESES OU ANOS Capacidade de mutação do M. Tuberculosis Vacina Bacilo de Calmette-Guérrin (BCG) Crianças menores 1 ano Evita desenvolvimento de formas mais graves da TB ❖ 8 semanas de pirazinamida + isoniazida + rifampicina + etambutol, seguidas por 16 semanas de isoniazida + rifampicina ❖ Quimioprofilaxia • PPD (teste cutâneo +) • Sem sinais e sintomas doença ativa • Isoniazida Hanseníase (LEPRA/ DOENÇA DE HANSEN) Características gerais • Doença infecciosa crônica (Mycobacterium leprae) • MMO c/ baixa infectividade → raramente desenvolve doença clínica →baixa temperatura corpórea do hospedeiro para sobreviver (controverso) • 80% casos → Brasil, Índia, Indonésia, Madagáscar, Myanmar, Nepal e Nigéria • Forma de transmissão exata ainda não conhecida Hanseníase (LEPRA / DOENÇA DE HANSEN) Características gerais • Alta resposta imune • Período de incubação 2-5 anos • Pequeno número de lesões de pele hipopigmentadas • Bem circunscritas • Envolvimento neural → anestesia da pele, perda da sudorese • Lesões orais são raras Lepra tuberculoide Lepra lepromatosa • Resposta imune reduzida • Período de incubação 8-12 anos • Lesões numerosas hipopigmentadas na pele • Mal definidas • Face • Aumento volume (fácies leonina) • Perda cabelo • Envolvimento neural: extremidades → corpo • Envolvimento nasal: sangramento, entupimento, perda olfato → colapso da ponta nasal (PATOGNOMÔNICO) Hanseníase (LEPRA / DOENÇA DE HANSEN) Características gerais Lepra tuberculóide • Processo inflamatório com ninhos de histiócitos, linfócitos e células gigantes multinucleadas • Palato duro • Palato mole • Gengiva vestibular superior • Língua • Lábios • Gengiva palatina • Gengiva inferior • Mucosa jugal Hanseníase (LEPRA / DOENÇA DE HANSEN) Apresentações clínicas Hanseníase multibacilar • Tratamento: - Índice bacteriano observado na biópsia • Diagnóstico: - Aspecto clínico - Fundamentado pela demonstração de microrganismos um esfregaço ou no tecido - Os microrganismos não podem ser cultivados em meio artificial → biologia molecular (M. leprae) Paucibacilar (padrão + tuberculoide) - Índice bacteriano menor que 2 - ATB: rifampicina e dapsona Multibacilar (padrão + lepormatosa) - Índice bacteriano maior que 2 - ATB: rifampicina, clofazimina e dapsona Hanseníase (LEPRA / DOENÇA DE HANSEN) Diagnóstico e tratamento Actiniomicose Cacterísticas gerais ▪ Pode ser uma infecção aguda (progressão rápida) ou crônica (fibrose) ▪ Bactérias anaeróbias gram – positivas ✓ Actinomyces israellis – causador ✓ A. Viscosus – segundo ▪ Habitantes normais da microbiota oral ▪ Criptas amigdalianas, placa dental, cálculo, dentina cariada, sulco gengival e bolsas periodontais 55% dos casos Região cervicofacial Trauma (lesão de tecido mole, bolsa periodontal, dente desvitalizado, alvéolo dentário pós-exodontia ou infecção amigdaliana) Área endurecida de fibrose, (aspecto “lenhoso”) → área central mais macia de abscesso • Sintomatologia mínima • Região submandibular, submentoniana e geniana • Ângulo mandibular Actiniomicose Cacterísticas clínicas Trajeto fistuloso Grânulos sulfúricos Reação supurativa (colônias de bactérias) • Colônia actinomicótica circundada por leucócitos polimorfonucleares Actiniomicose Cacterísticas histopatológicas • Cultura • Menos de 50% positivos (crescimento de bactérias associadas, ATB prévia, condições de meios de cultura impróprias aos anaeróbios) • Biópsia (cirurgia exploratória) • PAAF → punção aspirativa por agulha fina • Altas doses de ATB (Amoxicilina, tetraciclina) → 5 semanas a 12 meses • Drenagem do abscesso • Excisão da fístula • Debridamento (osteomielite) Actiniomicose Diagnóstico e tratamento OBRIGADO lucaspadovani88 lu88padovani@hotmail.com (31) 99210 - 2707