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TITULOS DE CRÉDITO “É O Documento Necessário Para O Exercício De Direito Literal E Autônomo Nele Mencionado, Emitido Em Conformidade Com A Legislação Específica De Cada Tipo Ou De Cada Espécie.” Os títulos de crédito constam do nosso ordenamento jurídico no código civil, artigos 887 a 926, e na legislação especial - a lei específica de cada título de crédito típico Em regra, todo título é um documento, mas nem todo documento é um título. Três características principais do título de crédito, a partir do conceito: “direito literal e autônomo nele mencionado”. É dirigido através de um documento necessário. O conceito fala em mencionado, mas o artigo 887 do código civil fala em contido: Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. O código, apesar de ter se baseado no famoso conceito de título de crédito, na verdade se afastou um pouco desse conceito, na medida em que utiliza a palavra contido. Não deveria ser contido; realmente, o título apenas menciona; não contém nenhum direito, nenhum crédito, nenhuma relação jurídica. Crítica da doutrina quanto ao conceito trazido pelo artigo 887. PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE O exercício de qualquer direito mencionado no título pressupõe a sua posse legítima. A cártula é imprescindível para a comprovação da existência do crédito e da sua consequente exigibilidade. Cártula é o documento. Para ser exercido qualquer direito inerente ao título de crédito, é indispensável a posse do próprio documento, da cártula. Princípio da literalidade O título de crédito vale só e somente só pelo que nele estiver escrito. Somente os atos que são devidamente lançados no título produzem efeitos jurídicos perante o seu legítimo portador. É importante destacar que esse princípio é uma garantia tanto para o emitente do título quanto para o credor. O credor somente pode exigir o que está expresso no título; ele não pode se contentar com um real a menos do que consta daquele título de crédito. Por outro lado, o devedor também tem o direito de somente ser exigido e somente pagar o que está expresso literalmente no título. Esse é um princípio que protege as duas partes - exata correspondência entre o teor do título e o direito que ele representa. Princípio da autonomia O título de crédito é autônomo; documento constitutivo de um direito novo, autônomo, originário, totalmente desvinculado da relação que lhe deu origem. O título de crédito pode circular, pode ser endossado, em relações jurídicas desvinculadas da primeira. O princípio da autonomia dá origem a dois princípios. Parte da doutrina entende que são princípios autônomos; a professora corrobora a corrente doutrinária que os considera subprincípios. São eles o subprincípio da abstração e o subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. • Abstração: Quando o título circula, ele se desvincula completamente das relações que lhe deram origem. • Inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé: É a manifestação processual do princípio da autonomia. O portador do título, quando o receber por endosso, se pretender executar o devedor principal, não pode opor o vício, qualquer que seja, existente na relação originária. Essa é a essência do título de crédito: cartularidade, literalidade e autonomia. Títulos atípicos e típicos Os artigos 887 a 926 do Código Civil regulamentam os títulos de créditos atípicos, conforme se vê no art. 903: Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. Somente serão aplicados os artigos do Código Civil quando houver omissão da lei específica ou quando se tratar de títulos de créditos atípicos. Essa foi a intenção do legislador: permitir a criação de títulos atípicos sujeitos a requisitos mínimos de validade constantes do Código Civil. Entendimento predominante: o Código Civil se aplica a títulos de créditos atípicos. As disposições do Código Civil sobre títulos de créditos somente se aplicam aos títulos típicos quando houver omissão na legislação especial. Há quatro títulos típicos: letra de câmbio, nota promissória, duplicata e cheque. Esses são os principais. Classificação dos títulos de crédito Os títulos de crédito são classificados de acordo com paradigmas determinados. Quanto à forma de circulação Título ao portador: Circula com a mera transferência, com a tradição da cártula. Ausência de identificação do credor no título, de forma que a transferência do próprio título implica obrigatoriamente na transferência da sua titularidade. Exemplo clássico de título ao portador: cheque cujo valor seja menor que cem reais. Quem estiver em posse do título é o credor do valor, do direito nele mencionado. Título nominal: O título é nominal quando identifica expressamente o seu titular. Havendo essa identificação, a transferência da titularidade não depende apenas da tradição do título; é indispensável a prática de um ato formal que opera a transferência da titularidade. Essa transferência pode se dar de duas maneiras: endosso (característico das práticas empresariais, dos costumes empresariais) e cessão civil de crédito (transferência que ocorre sob o regime jurídico do direito civil). Títulos nominais: • com cláusula à ordem: a transferência se dá mediante endosso; • com cláusula não à ordem: a transferência ocorre mediante cessão civil de crédito. Título nominativo: Será um título nominativo quando for emitido em favor de uma pessoa determinada. O nome do credor consta de registro específico mantido pelo emitente do título, e a transferência somente se aperfeiçoa por meio do termo do referido registro, assinado tanto pelo emitente quanto pelo adquirente do título de crédito. QUANTO AO MODELO Modelo livre: Será um título de modelo livre quando a lei não estabelecer padronização obrigatória no momento da emissão; assim, o próprio emitente (quem estiver sacando o título) elege o modelo, desde que cumpra alguns requisitos, algumas cláusulas mínimas: nome, valor, data de vencimento, local, identificação de que título se trata. Mas não há engessamento do modelo do título. Exemplos de títulos de modelo livre: letra de câmbio e nota promissória. Modelo vinculado: O título também pode ser de modelo vinculado, quando, diferentemente do que ocorre com o modelo livre, houver uma rígida padronização fixada pela legislação cambiária específica. No modelo vinculado, o local da assinatura e o local do valor (seja por extenso ou numeral) são rigidamente determinados e engessados. Exemplos: cheque e duplicata. Em relação ao cheque, houve mudança relevante na legislação. O modelo do cheque era determinado pelo Banco Central; mas, de acordo com alteração recente - uma determinação do próprio Banco Central -, esse modelo, a partir de outubro de 2023, poderá ser determinada por cada instituição financeira. Questão: haverá flexibilização da classificação do cheque como modelo vinculado, tendo em vista que cada instituição financeira poderá estabelecer seu modelo, mas considerando que, antes de ser colocado em circulação, ele precisará ser submetido ao Banco Central? Aguardemos. No momento, o cheque permanece sendo título de crédito de modelo vinculado. A professora considera que haverá uma mitigação desse modelo, mas devemos aguardar. Quanto à estrutura Talvez a mais importante das classificações dos títulos de créditos, porque diz respeito à própria estrutura da relação jurídica formada a partir dele. Ordem de pagamento: Quanto à estrutura, o título de crédito será uma ordem de pagamento quando estabelecer três relações jurídicas distintas a partir da sua emissão: o sacador - quem emite o título, ordena o pagamento; o sacado - contra quem o título está sendo emitido, que recebe a ordem de pagamento; e o tomador - o credor propriamente dito, que recebe o valor constante do título de crédito. Então, quando o título for uma ordem de pagamento, haverá nos polos da relação jurídica o sacador, o emitente;o sacado, normalmente uma instituição financeira; e o tomador, o beneficiário, o credor. Relação triangular. Promessa de pagamento: Na promessa de pagamento, diferentemente, há duas relações jurídicas distintas: o sacador, que é quem está se comprometendo, o promitente; e o credor, que vai receber o crédito. Relação triangular: ordem de pagamento. Relação linear: promessa de pagamento. Exemplo de ordem de pagamento: letra de câmbio, cheque e duplicata - três pessoas em cada relação jurídica. Na promessa de pagamento, há duas pessoas e um título. Ex: nota promissória. Quanto às hipóteses de emissão O título causal somente pode ser emitido nas hipóteses restritas previstas na lei. Ex: duplicata. A duplicata é um título causal, porque somente pode ser emitida em duas situações: compre e venda mercantil (duplicata mercantil) e contrato de prestação de serviços (duplicata de serviços). Já um título abstrato, não causal, pode ser emitido em qualquer situação; não está condicionado a nenhuma causa pré-estabelecida em lei. Ex: o cheque, que pode ser passado em qualquer situação. Atenção: o título abstrato não se confunde com o subprincípio da abstração. A abstração é um predicado de todo e qualquer título de crédito, independentemente de ser ele um título causal (se puder ser emitido somente em algumas situações) ou abstrato (se puder ser emitido em qualquer situação). Todo título de crédito é abstrato porque desprendido de qualquer relação jurídica (princípio); aqui, trata-se do título não causal, que pode ser emitido em qualquer situação (atributo). SAQUE Saque é o ato de criação, o momento em que o título está nascendo; é a emissão do título de crédito. No dia a dia, nas relações da prática empresarial, o saque é referido como o momento no qual o credor está recebendo, sacando o valor que lhe é devido; mas não é isso. O saque é a formalização da relação jurídica. É o momento da criação. O legislador utiliza corretamente em seus enunciados a expressão “o momento do saque” se referindo à criação do título. ACEITE Aceite é o ato formal que efetiva a obrigação do banco sacado de efetuar o pagamento através de sua aceitação. · O destinatário da ordem de pagamento, ao dar o aceite, torna-se o devedor principal. · Sacado é quem recebe a ordem; o sacador dá a ordem. Essa é a regra do aceite. O sacado apenas se obriga ao pagamento no caso de efetuar o aceite. · O aceite é realizado no anverso do título. Endosso Ato unilateral que permite a circulação do título de crédito. Como visto na classificação, o título pode circular quando possuir a cláusula à ordem. O endosso tem dois efeitos jurídicos. No momento do endosso, há a transferência da titularidade do título de crédito, e o endossante se torna devedor indireto do título. Há o devedor principal, o sacador; e um credor, que passa seu direito para terceiro, mas vai ser o endossante, continuando a ser um devedor indireto daquele título. Regra geral, o endosso será realizado no verso do título de crédito. Quando realizado no verso, basta mera assinatura do endossante. Caso, entretanto, o endosso seja realizado no anverso, na frente do título, não há impedimento; porém, além da assinatura do endossante, deve constar também menção expressa que se trata de um endosso No ato do endosso, é possível a inserção de cláusula não à ordem nos títulos típicos, nominados. Atenção: título com cláusula à ordem circula mediante endosso; não à ordem continua podendo circular, mas através de cessão civil do crédito. É vedado o endosso parcial, limitado a certo valor da dívida. Se houver endosso parcial, será considerado nulo. Também é vedado o endosso subordinado a alguma condição. Se houver endosso subordinado a condição, ela será considerada não escrita. Não há limite ao número de endossos. Classificação do endosso Endosso-mandato/endosso-procuração Além do endosso tradicional, que opera a tradição efetiva do crédito, também há o endossomandato, ou endosso-procuração, em que o endossante confere poderes para o endossatário agir em seu nome, passando a ser o seu legítimo representante, exercendo os direitos constantes daquele título de crédito. O endosso-mandato consta do artigo 18 da Lei Uniforme de Genebra, a LUG, e do artigo 917 do Código Civil. Endosso-caução/endosso pignoratício/endosso-garantia Haverá um endosso-caução, endosso pignoratício ou endosso-garantia, conforme artigo 19 da LUG e 918 do Código Civil, quando o endossante (ou seja, quem está transferindo o título) faz a transferência como forma de garantia de uma dívida contraída perante o endossatário. Trata-se de mera caução; não é a transferência definitiva daquele título. Endosso póstumo/tardio Por fim, caracteriza-se o endosso póstumo ou tardio quando o endossante transfere o título após a realização do protesto. Ou seja, ele é póstumo não porque o endossante morreu, mas porque ocorre após a realização do protesto, após o prazo determinado para pagamento. A consequência do endosso póstumo, pós vencimento, é a realização de cessão civil do crédito. Artigo 919 do Código Civil: a aquisição de título à ordem [ou seja, passível de transferência, de circulação mediante endosso] por meio diverso do endosso tem efeito de cessão civil do crédito. Após o vencimento, terá efeito de cessão civil. Endosso em preto Indica expressamente o beneficiário que está recebendo o título. Aquele beneficiário pode fazer outras transferências que sigam as regras de sua realização, mas o endosso indica expressamente o beneficiário. Endosso em branco Já o endosso em branco não indica o endossatário. Para a sua realização, o credor simplesmente assina no verso do título, sem escrever “à ordem de fulano”; ele apenas assina o título. O endossatário do endosso em branco pode mudá-lo para um endosso em preto, complementando com o seu nome ou o nome de terceiro. O novo endossatário pode novamente endossar o título, tanto em branco como em preto. Endosso x cessão civil de crédito • Endosso: regime jurídico cambial; cessão civil de crédito: regime jurídico civil. • Endosso é ato unilateral que deve ser feito no próprio título - em regra, no verso, bastando a mera assinatura. Já a cessão civil de crédito é um negócio jurídico bilateral, formalizado por meio de um contrato assinado pelas duas partes em instrumento autônomo. • Na cessão civil, o cedente responde somente pela existência do crédito. No endosso, o endossante se responsabiliza como codevedor. • O endosso independe de comunicação ao devedor. Já a cessão civil somente produz efeitos quando cumprida a formalidade de comunicação. Aval Manifestação unilateral de vontade. Uma pessoa, natural ou jurídica, totalmente estranha à relação cartular, assume uma obrigação cambiária autônoma e incondicional. Qual é a sua obrigação? Garantir total ou parcialmente, na data do vencimento, o pagamento do título. É como se o avalista se dispusesse a honrar a palavra daquele que deixou de pagar. O aval pode ser dado por escrito no próprio título, preferencialmente, em regra, no anverso (ou seja, na frente do título). Sendo na frente, basta a mera assinatura da avalista. Caso seja dada no verso, além da assinatura expressa, deve haver menção de que se trata de um aval. Regra geral, só uma assinatura no verso é endosso; na frente, no anverso, é aval. Mas o aval também pode ser realizado em uma folha anexa ao título, chamada de prolongamento. E consta a expressão “bom para aval”, ou qualquer outra expressão semelhante. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. O Código Civil veda expressamente o aval em parte, mas a letra de câmbio pode ser garantida por Aval parcial. Para título de crédito atípico inominado, há vedação total ao aval parcial. image1.png