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Eva Teresinha de Oliveira Boff Alisson Vercelino Beerbaum Marciele Dias Santos Cabeleira (Organizadores) PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido ENSINO HÍBRIDO Ijuí 2023 Coleção Educação em Ciências Eva Teresinha de Oliveira Boff Alisson Vercelino Beerbaum Marciele Dias Santos Cabeleira (Organizadores) PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido Editor Fernando Jaime González Coordenadora Administrativa Márcia Regina Conceição de Almeida Capa Alexandre Sadi Dallepiane Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) Conselho Editorial • Fabricia Carneiro Roos Frantz • João Carlos Lisbôa • Vânia Lisa Fischer Cossetin 2023, Editora Unijuí Rua do Comércio, 3000 Bairro Universitário 98700-000 – Ijuí – RS – Brasil (55) 3332-0217 editora@unijui.edu.br www.editoraunijui.com.br fb.com/unijuieditora/ instagram.com/editoraunijui/ Apoio: Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí P963 Processo interativo de formação docente [recurso impresso e eletrônico]: uma perspectiva emancipatória de currículo no ensino híbrido / organizadores Eva Teresinha de Oliveira Boff, Alisson Vercelino Beerbaum, Marciele Dias San- tos Cabeleira. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2023. 344 p. – (Coleção Educação em Ciências). Formato impresso e digital. ISBN 978-85-419-0369-1 (impresso) ISBN 978-85-419-0368-4 (digital) 1. Formação docente. 2. Ensino Híbrido. 3. Educação básica. 4. Pandemia. 5. Covid-19. I. Boff, Eva Teresinha de Oliveira. II. Beerbaum, Alisson Vercelino. III. Cabeleira, Marciele Dias Santos. IV. Série. CDU: 371.3:616.2414 Bibliotecária Responsável: Cristina Libert Wiedtkenper CRB 10/2651 A Coleção EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS da Editora Unijuí constitui-se em novo esforço para ampliar a divulgação de trabalhos que se preocupam com a melhora das condições do ensino das Ciências Naturais e que tenham como foco a formação de professores e professoras em todos os níveis da escolarização. Com o crescimento da Pós-Graduação das áreas da Educação e do Ensino em Ciências e Matemática, aumentou muito o número de trabalhos que podem contribuir para a formação inicial e continuada dos professores da área científica, nos diversos campos que compõem os conhecimentos necessários ao exercício do magistério. Assim, poderão ser publicados livros que tratam de inovação e produção curricular na área das Ciências Naturais, formação de professores, temas específicos de formação – aprofundamento de conhecimentos sobre os quais os professores são sempre inquiridos e textos de divulgação científica –, aspectos de teorias de ensino e aprendizagem que sustentam novas abordagens curriculares e metodologias de pesquisa em educação científica, temas transversais que circundam as Ciências Naturais – questões ambientais, sexualidade humana, diversidade cultural e outros. Para a escolha e avaliação de originais é proposto Conselho Editorial interinstitucional representativo da área. Conselho Editorial: Décio Auler (UFSM, RS) Demétrio Delizoicov (UFSC) Elizabeth Macedo (UERJ, RJ) Flávia Maria Teixeira dos Santos (UFRGS, RS) João Batista Harres (PUC, RS) Lenir Basso Zanon (Unijuí, RS) Leonardo Fabio Martinez Pérez (UPN – Colômbia) Luiz Marcelo de Carvalho (Unesp, SP) Marcelo Giordan (USP) Maria do Carmo Galiazzi (Furg, RS) Maria Emília Caixeta de Castro Lima (UFMG, MG) Maria Ines Copello (Universidade de Montevideo) Milton Antonio Auth (UFU) Olival Freire Jr (Ufba, BA) Rejane Maria Ghisolfi da Silva (UFSC) Sílvia Chaves (Ufpa, PA) Comitê Editorial: Fernando Jaime González (Editora Unijuí, RS) Otavio Aloisio Maldaner (Unijuí, RS) Maria Cristina Pansera-de-Araújo (Unijuí, RS) PREFÁCIO ............................................................................................................................. 11 Leonardo Fabio Martínez Pérez FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: Uma Perspectiva Emancipatória Curricular ............................................................................... 19 Eva Teresinha de Oliveira Boff Alisson Vercelino Beerbaum IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO ........................................................................... 37 Larissa Kny Cabreira Maiane Kinetz Arnold Isabella Plegge Dallabrida Maria Eduarda Schmidt Eva Teresinha de Oliveira Boff CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO ....................................................... 51 Alisson Vercelino Beerbaum Eva Teresinha de Oliveira Boff ENSINO HÍBRIDO: Um Recurso Acentuado Pelas Restrições da Pandemia e um Contributo Para a Emancipação dos Professores................................................................ 67 Zélia Ferreira Caçador Anastácio Eva Teresinha de Oliveira Boff REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 ................. 81 Alisson Vercelino Beerbaum Eva Teresinha de Oliveira Boff A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO ...................................................... 103 Marli Dallagnol Frison Jaqueline Cacenote Maieron Rosimeri Dias de Moura Puhl Juan Gabriel Perilla Jiménez SUMÁRIO DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA ............................................................... 117 Cláudia Elizandra Lemke Maria Cristina Pansera-de-Araújo DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA .............................................................. 133 Jhon Alexander Gallo Ramírez Leonardo Fabio Martínez Pérez A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: Uma Vivência a Partir de Articulações Entre Universidade e Escola de Educação Básica .............. 153 Cátia Maria Nehring Isabel Koltermann Battisti Talita Cindrowski Mazzola Diane Saraiva Fronza Luana Henrichsen Raquel Taís Breunig VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: Uma Análise a Partir de Levantamento no YouTube ................................................................. 169 Guilherme Pereira Brigo Isabel Koltermann Battisti Kelly Gabriela Poersch Cátia Maria Nehring AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: Perspectivas Para Sociedades Sustentáveis ............................................................................. 185 Adalberto Freire da Silva Lenir Basso Zanon Vidica Bianchi ROTEIRO CURRICULAR BÁSICO PARA A SITUAÇÃO DE ESTUDO ALIMENTOS, FONTE DE MATÉRIA E ENERGIA: Uma Proposta de Currículo Para o Ensino Fundamental ........................................................... 199 Andréia Rosa de Avila de Vasconcelos – Jaqueline Ritter Emilly C. de B. Dorneles – Débora de Jesus Velasque Amanda Pinho Silva – Gabriel Karagiannis de Souza Daiana Rebeca de Lima Bauer – Izadora Soares Barboza Carlos Augusto Barbosa da Silva – Larissa da Silva Santos Tatiane Beatris Gonçalves de Sousa ROTEIRO CURRICULAR BÁSICO (RCB) PARA A SITUAÇÃO DE ESTUDO FERMENTAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS: Uma Proposta de Currículo Para o Ensino Fundamental ........................................................... 219 Andréia Rosa de Avila de Vasconcelos – Jaqueline Ritter Emilly C. de B. Dorneles – Débora de Jesus Velasque Amanda Pinho Silva – Gabriel Karagiannis de Souza Daiana Rebeca de Lima Bauer – Izadora Soares Barboza Carlos Augusto Barbosa da Silva – Larissa da Silva Santos Tatiane Beatris Gonçalves de Sousa SITUAÇÃO DE ESTUDO – ALIMENTAR-SE: Um Ato Pedagógico, de Vida, Bem-Estar e Conexão ................................................................ 237 Claudia Marchesan Cláudia Thomé da Rosa Piasetzki Eva Teresinha de Oliveira Boff EDUCAÇÃOanteriormente foram pensadas para o formato presencial, agora para serem desenvolvidas no formato digital, e ainda buscando a adoção de metodologias ativas (Cordeiro, 2020). Cardoso e Oliveira (2020) afirmam ainda que tudo isso tem uma beneficência no ensino para se trazer a matéria de modo eficiente até os locais inacessíveis e com isso obter um melhor aproveitamento para proporcionar uma educação boa e de qualidade, contudo ainda é questionado o seu benefício, pois estar em um espaço escolar sempre será de extrema relevância, visto que contribui para as vivências do aluno em sociedade. No contexto do isolamento, vale salientar que é muito importante para o processo de aprendizado do aluno o envolvimento da família, pois essa afeição de pais cria um vínculo mais fortalecido e também aprimora o IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 44 progresso do aluno. Diante das circunstâncias, os pais tiveram de se capacitar para instruir e auxiliar os filhos nos momentos pedagógicos e tecnológicos, embora na rotina deles perante a pandemia ocorreram vastas mudanças, assim como no formato de doutrinar e compreender em um período no qual o ambiente virtual eclodiu o obstáculo do distanciamento e a conversação jamais seria da maneira de antes (Lunardi et al., 2021). Cordeiro (2020) destaca também que mesmo diante de todas as dificuldades e desafios foi possível observar a construção de uma parceria entre escola e família, pois os pais não ficaram parados diante dos problemas e fizeram seu máximo para colaborar com o andamento do ano letivo, auxiliando os filhos para que participassem das atividades propostas. É importante ressaltar que assim como os professores tiveram uma grande sobrecarga de trabalho, os pais também foram sobrecarregados, pois além de dar suporte aos filhos, também tinham outras tarefas como o trabalho remoto (home office) e os afazeres domésticos. CATEGORIA 3: Aprendizados/lições emergentes do contexto pandêmico na educação Os achados deste estudo corroboram uma revisão bibliográfica já realizada anteriormente por Barros e Ribeiro (2022), que chegaram à conclusão de que de fato a pandemia da Covid-19 causou inúmeros problemas e muitos prejuízos para a educação, porém é preciso considerar que foi responsável por abrir novos caminhos no âmbito educacional, rompendo barreiras em diversos sentidos. Os autores também apontam que o contexto pandêmico impulsionou uma reflexão já emergente sobre as práticas pedagógicas, além de evidenciar a importância das relações da sociedade escolar pautadas na empatia e respeito com o próximo, destacando ainda a busca por novos conhecimentos. Santana et al. (2020) afirmam que “aulas on-line surgem como uma oportunidade para aprender mais sobre as novas ferramentas digitais e como melhor aproveitá-las”, reforçando a ideia de que há algo positivo mesmo diante de tantas dificuldades. Santana et al. (2020) definem a Internet como um local de autonomia, um local de independência que “[...] oferece a cada pessoa possibilidades que são determinadas apenas pelo caminho pessoal; assim a hipertextualidade das proposições de informações interage fortemente com a ‘programação’ da IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 45 ação de ensino”. Ainda referem que as práticas de ensino tradicionais, também descritas pelos autores como “práticas clássicas”, com frequência significativa estabelecem o professor como protagonista do ensino, no entanto ele apenas transmite seu conhecimento ao aluno. Nesse sentido, o avanço do ensino para práticas mediadas por tecnologias contribui para a modernização das práticas de ensino e aprendizagem, visto que o ciberespaço se configura como um instrumento importante para a diversificação das práticas pedagógicas e de autoformação (Santana et al., 2020). Muito tem se discutido, também, acerca do uso de metodologias ativas na educação, entre as quais podemos destacar a aprendizagem baseada em projetos. Esta foi alvo de estudo realizado por Soares, Silva e Lopes (2022). Os autores destacam que mesmo que os educadores concordem que em geral o modelo de educação presencial seja o ideal, em um cenário escolar suprido de uma equipe qualificada somado a uma estrutura tecnológica adequada é possível, sim, manter aulas de qualidade, realizar avaliações e desenvolver projetos colocando o aluno como protagonista do seu aprendizado. Nesse sentido, os autores ressaltam o quão importante é o investimento na formação do corpo docente, ou seja, o investimento na educação continuada e formação de professores, além, é claro, da democratização das ferramentas tecnológicas, e por fim um dos fatores determinantes para o sucesso da educação mediada por tecnologias, o acesso igualitário das escolas e pais à Internet e recursos de acesso de qualidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A discussão realizada no presente estudo permitiu ampliar o olhar sobre o impacto causado pela pandemia da Covid-19 na educação em geral. Foi possível observar que foram muitos os desafios enfrentados, tanto pela comunidade escolar como pelos familiares e alunos, visto que a migração do ensino presencial para o ensino mediado por TICs ocorreu de forma repentina e também de certa forma impositiva diante da necessidade de isolamento social. Houve uma grande sobrecarga de trabalho e responsabilidades sobre todos os envolvidos, fato que exigiu esforço, empatia, dedicação e respeito para superar a situação. IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 46 Entre tantos desafios emergentes, podemos afirmar que o contexto pandêmico descortinou uma série de problemas sociais, pois muitas famílias de condições socioeconômicas precárias não tinham acesso adequado à Internet, ou ainda não tinham meios para acessá-las, sem contar que as que tinham esses recursos apresentaram dificuldades de conhecimento sobre as TICs. Vale ressaltar que estes problemas não foram apenas de alunos e familiares, pois muitos professores também se encaixam neste contexto. É importante destacar que isto não se deve somente ao contexto epidemiológico, pois já era uma realidade, porém muito pouco discutida pela sociedade e sistemas de governo. Momentos desafiadores nos exigem refletir sobre muitas realidades. No presente estudo foi possível identificar que todas as vivências direcionaram- -se para que o avanço tecnológico dentro da educação fosse finalmente mais explorado, e todas as implicações que vieram com esta necessidade irão contribuir muito para a melhoria das práticas de ensino e aprendizagem. Em suma, conclui-se que a pandemia da Covid-19 gerou sim muitas mudanças, tanto positivas quanto negativas sobre a educação, mas que a partir desta vivência a sociedade teve muitos aprendizados que serão de grande valia para melhorar as práticas pedagógicas, evoluir como sujeito de aprendizagem no meio das Tecnologias de Informação e Comunicação, rompendo as barreiras da sala de aula. Além disso, reforçou o olhar sobre os sistemas de governo, destacando o quanto seu papel é determinante diante dos desafios. Entende-se, assim, que há muito a ser trabalhado por toda a sociedade no cenário pós-pandemia. REFERÊNCIAS BARROS, Juliana de Siqueira; RIBEIRO, Victor Barbosa. Ensino remoto emergencial: o olhar sob a ótica dos professores da rede básica de educação brasileira. Pedagogia em Ação, v. 18, n. 1, 1º sem. 2022. BRASIL. Portaria nº 343 de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquantodurar a situação de pandemia do Novo Coronavírus – Covid-19. 2020a. Disponível em: http://abre. ai/bgvB. Acesso em: maio 2020. IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 47 BRASIL. Portaria nº 544, de 16 de junho de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais, enquanto durar a situação de pandemia do novo coronavírus – Covid-19, e revoga as Portarias MEC nº 343, de 17 de março de 2020, no 345, de 19 de março de 2020, e no 473, de 12 de maio de 2020. 2020b. Disponível em: https://cutt.ly/9inmB8v. Acesso em jun. 2020. BRASIL. Medida Provisória nº 934, de 1º de abril de 2020. Estabelece normas excepcionais sobre o ano letivo da educação básica e do ensino superior decorrentes das medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde pública de que trata a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. 2020c. Disponível em: http://abre.ai/bgvH. Acesso em: maio 2020. BRASIL. Governo federal. Ministério da Educação. O que é educação a distância? [S.l.], 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da- educacao-basica/355-perguntas-frequentes-911936531/educacao-a-distancia- 1651636927/12823-o-que-e-educacao-a-distancia. Acesso em: 28 mar. 2023. 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A necessidade de inovar processos e integrar novas tecnologias, com a adoção do ensino remoto. 2020. 51 f. Trabalho (Conclusão de Curso – bacharel em Administração) – Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, Brasília, 2020. Orientador Romilson Rangel Aiache. CORDEIRO, Karolina Maria de Araújo. O impacto da pandemia na educação: a utilização da tecnologia como ferramenta de ensino. Repositório IDAAM, [S.l.], 2020. Disponível em: https://dspace.sws.net.br/jspui/handle/prefix/1157. Acesso em: 30 mar. 2023. IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 48 COSTA, Edicleia Dolberto et al. Os desafios do ensino híbrido no ensino remoto. Revista Educação Pública, v. 21, n, 38, 19 out. 2021. Disponível em: https:// educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/38/os-desafios-do-ensino-hibrido-no- ensino-remoto em: 19 out. 2022. 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Acesso em: 30 mar. 2023. 51 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Alisson Vercelino Beerbaum Eva Teresinha de Oliveira Boff INTRODUÇÃO Com o surgimento da pandemia da Covid-19, escolas ao redor do mundo foram forçadas a se adaptar rapidamente ao ensino remoto. A necessidade de distanciamento social e a falta de infraestrutura para aulas on-line em muitas instituições de ensino levaram a uma rápida mudança na forma como as aulas eram conduzidas. O resultado foi uma mudança significativa no modo de ensino presencial, visto que houve a necessidade de adoção do ensino a partir de uma combinação de aulas presenciais e aulas remotas, o ensino híbrido. Ou seja, um ensino híbrido o qual se constituiu em uma solução viável para equilibrar as práticas pedagógicas exigidas em razãodo distanciamento social e ao mesmo tempo manter a interação entre alunos e professores (Novais; Costa; Cabau, 2020). Em linhas gerais, o ensino híbrido é uma metodologia que combina aulas presenciais e aulas on-line. Na prática, isso significa que os alunos precisam ter acesso a uma variedade de recursos, como aulas on-line gravadas, leituras e atividades interativas em casa, enquanto participam de atividades presenciais em sala de aula com o professor e outros alunos (Moran, 2015). Isso permite que os alunos aprendam em seu próprio ritmo e, ao mesmo CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 52 tempo, tenham a oportunidade de participar de discussões e interações em sala de aula. Como tudo que é novo, todavia, há ainda desentendimentos em sua conceituação, bem como seus limites e potencialidades (Valente, 2015). De qualquer maneira, o ensino híbrido tem implicações significativas para a educação. Em primeiro lugar, permite que as escolas se adaptem à nova realidade imposta pela pandemia da Covid-19, fornecendo aos alunos a oportunidade de continuar aprendendo enquanto reduzem o risco de exposição ao vírus. Em segundo lugar, o ensino híbrido oferece a oportunidade de tornar a educação mais flexível e acessível. Isso é particular- mente importante para estudantes que têm dificuldades para comparecer às aulas presenciais, seja devido a restrições de tempo, distância geográfica ou incapacidade física. O ensino híbrido, no entanto, também apresenta desafios significativos. A falta de infraestrutura adequada para aulas on-line pode limitar a eficácia do ensino híbrido, e é necessário garantir que os alunos tenham acesso a recursos tecnológicos adequados para participar das aulas on-line. Além disso, é preciso fornecer formação adequada para os professores para que possam adaptar suas aulas para a modalidade híbrida (Brito, 2020). Com isso em mente, é importante explorar as implicações do ensino híbrido em um mundo pós-pandêmico. Embora a pandemia tenha acelerado a adoção do ensino híbrido, essa metodologia pode ter um papel importante na melhoria da qualidade da educação e na promoção da igualdade de acesso à educação para todos os alunos. É necessário continuar a desenvolver e aprimorar essa metodologia/modalidade para garantir que ela possa atender às necessidades dos alunos em um mundo em constante mudança. Nesse contexto, o objetivo deste texto é aprofundar o conhecimento teórico e prático sobre o ensino híbrido, por meio da análise das percepções dos professores em relação a esse tema. Para atingir esse objetivo o texto foi estruturado em três seções distintas. A primeira e próxima seção, intitulada Metodologia, apresenta os pressupostos metodológicos que orientaram a pesquisa realizada com os professores entrevistados. A terceira seção, chamada Análise e Discussões, discute e analisa as falas dos professores entrevistados quanto ao referencial teórico utilizado na elaboração deste trabalho. Por último, na terceira e última seção, intitulada Considerações finais, são apresentadas as principais conclusões derivadas desta pesquisa. CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 53 METODOLOGIA Considerando a pandemia da Covid-19, que afetou o mundo inteiro, incluindo o sistema educacional, a modalidade de ensino híbrido passou a ser cada vez mais discutida e adotada como alternativa para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. No final do segundo semestre de 2021, um estudo foi empreendido com o objetivo de mapear algumas estratégias de ensino utilizadas pelos professores da Educação Básica para o desenvol- vimento das aulas de modo remoto e/ou híbridas, bem como identificar os desafios vivenciados pelos docentes no período de pandemia. O estudo foi originado do projeto de pesquisa intitulado “Processo interativo de formação docente no contexto da educação básica: uma perspectiva emancipatória de currículo no ensino híbrido”, o qual teve fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). Foram convidados 60 professores de escolas de Educação Básica que aceitaram participar do projeto e responderam um questionário on-line, estruturado em 53 perguntas distribuídas em questões objetivas e dissertativas, relacionadas à caracterização profissional e à experiência individual dos docentes no período de ensino paralelo à pandemia da Covid-19. Cabe destacar que, neste artigo, além dos dados socioeconômicos, foram consideradas as respostas relativas às questões correlatas à conceituação de ensino híbrido, uma vez que a compreensão desta nova modalidade de ensino foi um dos grandes desafios enfrentados pelos professores de Ciências da Natureza e Matemática. Para preservar a identidade dos sujeitos, os professores foram identificados com a letra “P”, seguida de numeração (P1, P2,... P31). A pesquisa é de natureza qualitativa e tem como base os argumentos de Moraes e Galiazzi (2006), visto que permite a realização de um movimento fenomenológico e hermenêutico visando à descrição detalhada e subsequente interpretação ampla do objeto de pesquisa em busca de compreensões mais complexas acerca dos fenômenos e dos discursos que permearam a caracterização de tal objeto. A análise textual discursiva é uma “construção de compreensão” embasada em três elementos sequenciais: a desconstrução do corpus (desmembramento do objeto), a unitarização (estabelecimento de relações entre as partes do objeto) e a categorização (constituição da nova compreensão sobre o objeto). O caráter qualitativo refere-se à busca pela CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 54 percepção das subjetividades dos participantes, buscando identificar suas relações contextuais sociais e culturais, fatores estes que não podem ser expressos numericamente, mas que permitem compreensões mais amplas sobre os significados produzidos por eles (Moraes, 2003). O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unijuí sob o parecer nº 4.940.703, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. ANÁLISE E DISCUSSÕES Nesta seção apresentam-se as análises do corpus da pesquisa conforme metodologia destacada anteriormente. Emergiram duas categorias distintas: a conceituação do ensino híbrido e a capacidade de atender a todos, independentemente do local, espaço ou situação. De modo geral, o ensino híbrido consiste tanto de métodos presenciais quanto virtuais, em sua abordagem pedagógica (Castro et al., 2015; Novais; Costa; Cabau, 2020; Souza; Chagas; Anjos, 2019). É essencial examinar as metodologias e visões pedagógicas mais relevantes na literatura para fundamentar a compreensão predominante que guiará a prática. Além disso, é importante reconhecer que o ensino sempre foi híbrido, pois em todas as modalidades sempre houve uma combinação de espaços, métodos, recursos e tempos de ensino e aprendizagem (Moran, 2015). Isso significa que tanto o ensino presencial quanto o ensino a distância sempre foram híbridos em si mesmos, uma vez que as ações pedagógicas não eram homogêneas em seus processos de construção do conhecimento. De fato, como afirma Brito (2020, p. 2), a ideia de híbrido “[…] não se limita a metodologias ativas, à combinação de presencial e on-line, de sala de aula e outros espaços”, pois é necessária uma visão ampliada dos modos de ensinar e aprender, considerando a singularidade de cada sujeito. A categoria 1, “Conceituação do Ensino Híbrido”, emergiu a partir das respostas dos professores que foram questionados sobre sua compreensão acerca do que é o ensino híbrido. Entre as falas dos professores, foi possível identificar duas perspectivas: uma mais ampla, que se refere a uma conceituaçãogeral do ensino híbrido, e outra mais restrita, que se relaciona a uma conceituação específica do ensino híbrido no contexto da pandemia da Covid-19. CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 55 A perspectiva mais ampla refere-se a um entendimento do ensino híbrido como uma metodologia que combina o ensino presencial e o ensino a distância, utilizando Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TICs) como recursos de apoio para a aprendizagem dos alunos. É possível identificar essa perspectiva nas falas de 11 (35,5%) dos professores (𝑃𝑃2, 𝑃𝑃6, 𝑃𝑃8, 𝑃𝑃14, 𝑃𝑃16, 𝑃𝑃17, 𝑃𝑃22, 𝑃𝑃23, 𝑃𝑃24, 𝑃𝑃26 e 𝑃𝑃27 ). Como exemplo, a fala do professor P2 que afirma: “O ensino híbrido é uma metodologia que mescla as aulas presenciais com aulas remotas, utilizando as TICs para apoiar o processo de aprendizagem”. Já a perspectiva mais restrita refere-se a uma conceituação específica do ensino híbrido no contexto da pandemia de Covid-19, que envolve a necessidade de adaptação do ensino presencial para o formato remoto ou híbrido, utilizando as TDICs como recursos de apoio. Essa perspectiva foi identificada nas falas de 8 (25,8%) dos professores (𝑃𝑃1, 𝑃𝑃5, 𝑃𝑃10, 𝑃𝑃12, 𝑃𝑃19, 𝑃𝑃21, 𝑃𝑃28 e 𝑃𝑃30 ). Como exemplo, temos a fala de P12, que afirma: “O ensino híbrido é um caminho que pode ser melhorado, especialmente em tempos de pandemia, onde é necessário adaptar as aulas para o formato remoto ou híbrido, utilizando as TICs como recursos de apoio para a aprendizagem dos alunos”. A partir dessas perspectivas, é possível observar que os professores apresentam uma compreensão ampla e, ao mesmo tempo, restrita do que é o ensino híbrido. A perspectiva ampla refere-se a uma definição mais geral, que considera o ensino híbrido como uma metodologia que mescla o ensino presencial e o ensino a distância, utilizando as TICs como recursos de apoio. Essa perspectiva foi identificada nas falas de 11 (35,5%) dos professores (𝑃𝑃2, 𝑃𝑃6, 𝑃𝑃8, 𝑃𝑃14, 𝑃𝑃16, 𝑃𝑃17, 𝑃𝑃22, 𝑃𝑃23, 𝑃𝑃24, 𝑃𝑃26 e 𝑃𝑃27 ). Essa compreensão dos professores pode ser explicada, em parte, pelo contexto de pandemia de Covid-19 que exigiu uma rápida adaptação do ensino para o formato remoto ou híbrido. É importante destacar, no entanto, que a perspectiva ampla já existia antes da pandemia e é possível trabalhar com essa compreensão mais geral do ensino híbrido como uma metodologia que mescla o ensino presencial e a distância, utilizando as TDICs como recursos de apoio. É preciso que os professores entendam que o ensino híbrido não é apenas CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 56 uma adaptação temporária do ensino presencial para o formato remoto ou híbrido, mas sim uma estratégia pedagógica que pode ser utilizada de forma efetiva e planejada (Brito, 2020). A perspectiva restrita do ensino híbrido no contexto da pandemia também revela a preocupação dos professores em utilizar as TICs como recursos de apoio para a aprendizagem dos alunos. Essa preocupação reflete-se nas falas dos professores P10 e P19, que afirmam que o ensino híbrido pode ser uma possibilidade para trabalhar com conteúdos em materiais físicos e dispor de materiais adicionais, como vídeos, pesquisas, podcast, artigos, etc., que abordam o mesmo conteúdo a fim de expandir os conhecimentos tematizados. Essa perspectiva alinha-se com o que é proposto no referencial teórico, que destaca o uso das TICs como uma forma de complementar e potencializar a aprendizagem dos alunos. Outra questão importante que surge a partir da análise dessa categoria é a necessidade de formação dos professores para a utilização das TICs no ensino híbrido. Essa necessidade é mencionada pelos professores P8 e P18, que afirmam que o ensino híbrido envolve a mescla entre diferentes metodologias de ensino, bem como a mescla entre o ensino presencial e a distância, mas que é preciso ter mais formações para professores e alunos. Souza, Chagas e Anjos (2019) definem o ensino híbrido como uma extensão da sala de aula que engloba os universos presencial e virtual, integrando modelos pedagógicos apropriados a ambos os ambientes, como flex, a la carte, rotação e virtual enriquecido. Todos esses modelos levam em consideração a instituição da cultura digital nos processos de ensino e aprendizagem. Além disso, Moran (2015, p. 28) enfatiza a importância do “respeito ao ritmo e estilo de aprendizagem de cada aluno combinado com metodologias ativas grupais [...], sem disciplinas, com integração de tempos, espaços e tecnologias digitais”. De acordo com Novais (2017), é fundamental distinguir claramente os modelos mais adequados para o ambiente virtual e também para o ambiente presencial, o que, segundo a autora, demanda formação específica e contínua do corpo docente. As metodologias, entretanto, apesar de questionadas sobre a temática, foram compreendidas como recursos físicos, o que demonstra a falta e a necessidade de formação para o grupo de docentes. CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 57 Segundo Novais (2017), no ambiente virtual os modelos de rotação, a la carte e virtual enriquecido são mais adequados, enquanto no ambiente presencial os modelos de rotação por estações, laboratório rotacional, sala de aula invertida e rotação individual são mais indicados. Resumidamente, esses modelos podem ser descritos da seguinte forma: no modelo de rotação os alunos alternam as atividades de acordo com um horário fixo ou não, sob a orientação do professor. As atividades podem incluir discussões com ou sem a presença do docente. Na rotação por estações os alunos são organizados em grupos e realizam suas tarefas, que podem ser escritas e desenvolvidas on-line. No laboratório rotacional a aula começa de forma tradicional e, em seguida, os alunos alternam entre computadores e/ou laboratórios de ensino. Na sala de aula invertida o conteúdo teórico é estudado antecipadamente, no formato on-line, enquanto as discussões ocorrem no espaço da sala de aula. Na rotação individual cada aluno recebe uma lista de tarefas para cumprir os temas a serem estudados (Brito, 2020). No modelo flex os alunos aprendem de forma personalizada, utilizando as diferentes modalidades disponíveis. No modelo a la carte os estudantes podem escolher realizar a atividade na escola física ou fora da sala de aula. Isso difere do ensino on-line em tempo integral, pois não é uma experiência de toda a escola. No modelo virtual enriquecido os alunos têm sessões de aprendizagem obrigatoriamente presenciais, na presença do professor responsável pela disciplina (Novais, 2017). Michael Horn e Heather Staker (2015) identificam três características fundamentais do ensino híbrido que o diferenciam de outros modelos. Em primeiro lugar, os alunos são obrigados a aprender pelo menos parcialmente em um ambiente virtual. Em segundo lugar, a aprendizagem ocorre em um local físico separado do lar. E em terceiro lugar, a aprendizagem em ambientes on-line e físicos é integrada. Isso demonstra que os modelos pedagógicos usados no ensino híbrido não são simplesmente maneiras diferentes de despertar a curiosidade ou tornar a aprendizagem mais diversa, mas sim se interpenetram e criam uma nova identidade epistemológica para a prática de ensino (Bacich; Neto, 2015). Não há uma fronteira clara entre um ambiente e outro. Como sugere Bertholdo Neto (2018), o uso da tecnologia não deve criar uma ruptura entre o que é aprendido na sala de aula e o que é aprendido no ciberespaço; pelo contrário, deve expandir os horizontes teóricos e conceituais dos alunos, imergindo-os em um universo estendido de conhecimento. CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l inoBeerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 58 Nesse sentido Pasin e Delgado (2017), ao endossar a necessidade de interdependência e interpenetração entre ambientes físicos e virtuais, enfatizam que o ensino híbrido requer ambientes de aprendizagem colaborativos que visam principalmente à maturidade acadêmica e educacional progressiva. Elas também destacam que uma intervenção pedagógica no ambiente virtual não tem sentido sem o suporte complementar do ambiente físico, garantindo a indivisibilidade dos fenômenos em estudo. O ensino híbrido é uma abordagem de ensino que surge em um momento em que a tecnologia está cada vez mais presente na vida cotidiana dos professores e alunos. Isso possibilita que os conhecimentos adquiridos em sala de aula sejam potencializados no ambiente digital, tornando as experiências presenciais mais significativas. De acordo com Castro et al. (2015), as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estão provocando mudanças nas relações e nos papéis exercidos pelos professores e alunos, abrindo novas formas de acesso à informação e evidenciando a integração das TICs em várias outras áreas de atividades das pessoas. Diversos pesquisadores, como Vigotski (2014) e Freire (2011), destacam a importância do papel do professor como mediador do conhecimento. Para Vigotski a aprendizagem ocorre por meio das interações sociais e na mesma linha de pensamento Freire defende a necessidade do diálogo problemati- zador, no entanto, para exercer o papel de mediador do conhecimento, o professor precisa estar preparado para criar um ambiente de aprendizagem que favoreça a interação e o diálogo entre os alunos. Isso inclui o uso de metodologias ativas de ensino, como a aprendizagem cooperativa e a resolução de problemas em grupo. Nesse sentido, 13 (41,93%) professores destacaram a importância da mediação na construção de aprendizagem. Além da mediação, alguns docentes destacam que para um ensino híbrido de qualidade é importante: P(2) Oferecer a melhor informação possível; P(3) Auxiliar; P(15) Planejar para que os alunos aprendam sem a presença do professor.; P(18) Além de ensinar. Estar ali para que o aluno possa sempre contar contigo; P(19) O aluno tem o momento de aprender sozinho e a tornar-se pesquisador; P(24) Ser transmissor do conhecimento ; P(25) Nossa... precisa dominar todas as técnicas digitais e ainda ser dinâmico.; P(27) Refletir e planejar sua prática; P(28) De fundamental importância tendo visualização das tecnologias atuais; P(29) Fundamental, se o professor não dominar as ferramentas necessárias ao ensino híbrido CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 59 e adaptar-se ao formato, dificilmente conseguirá retorno por parte dos alunos; P(30) O professor tem o papel de curador e organizador das diversas atividades que podem auxiliar na autonomia do aluno. Os argumentos dos docentes embora não mencionem explicitamente a mediação pedagógica, eles/as entendem a importância desse papel na docência. No entanto, diante da urgência do contexto pandêmico e do despreparo resultante de lacunas na formação inicial e continuada oferecida pelas redes de ensino, esses docentes se concentraram principalmente na forma e nos meios de comunicação utilizados no ensino remoto. Isso se deve à problemática da transição abrupta para a não presencialidade nos sistemas de ensino, que tem gerado dificuldades para muitos profissionais. Como destacou P7: “é preciso formar uma geração capaz de lidar com essa modalidade de ensino. Para isso, os docentes deveriam ter amplo conhecimento em várias áreas, de modo a poder intermediar efetivamente o aprendizado dos alunos”. P7 destaca que antes da pandemia, “pouco utilizava o computador”, mas neste período “sua prática se concentra em como manter contato com seus alunos”. Hamad et al. (2015) apontam que as diferentes tecnologias têm reorganizado a forma como as pessoas vivem, se comunicam e aprendem nos últimos anos, e que de certa maneira isso caracteriza as novas gerações. No ensino híbrido, busca-se convergir as práticas pedagógicas da educação presencial com as práticas da educação a distância, utilizando metodologias ativas e o apoio das TICs, preferencialmente de maneira simultânea. Essa abordagem pode ser utilizada tanto na modalidade presencial quanto na modalidade EAD, embora ainda haja muitos aspectos que precisam ser explorados e desvendados. As respostas dos professores entrevistados indicam que as TICs são amplamente utilizadas como recursos de apoio para o ensino híbrido. As principais tecnologias mencionadas pelos docentes são as plataformas de ensino a distância, como o Moodle e o Google Classroom, e as videoconferên- cias, como o Zoom e o Google Meet, bem como outros recursos tecnológicos, como vídeos, podcasts, jogos educacionais e softwares específicos para disciplinas. A utilização dessas tecnologias pode facilitar a comunicação entre professores e alunos, ampliar o acesso aos conteúdos educacionais e tornar o processo de aprendizagem mais dinâmico e interativo. CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 60 É importante destacar, no entanto, que o uso das TICs como recurso de apoio para o ensino híbrido não pode ser visto como uma única solução para os desafios do ensino na atualidade. Ainda há muitos desafios a serem enfrentados, como a garantia de acesso às tecnologias para todos os alunos e professores, a formação adequada dos professores para a utilização das TICs e a criação de políticas públicas que incentivem o uso dessas tecnologias de forma equitativa e eficiente. Leandro e Corrêa (2018) expressam sua insatisfação quanto ao ensino híbrido, pois ainda é um desafio significativo que não foi abordado de forma adequada. Por outro lado, de acordo com Castro et al. (2015), definir educação ou ensino híbrido na educação formal não é uma tarefa fácil. Além disso, Novais (2017) afirma que o ensino híbrido surge como uma possibilidade de desenvolvimento por meio de tecnologias educacionais que utilizam computadores e Internet. Tais constatações apenas demonstram a carência de formações continuadas, de longo prazo sobre a temática, de professores atuantes na Educação Básica, uma vez que compreender a complexa relação entre as TICs e a formação integral do sujeito em processo de escolarização não é algo que se adquira sob a pressão de uma pandemia quando, além dos recursos, o tempo é escasso. Moran (2015, p. 27) alerta que “a mistura mais complexa é integrar o que vale a pena aprender, por que e como fazê-lo”. Em uma pesquisa exaustiva realizada por Furletti e Costa (2020), que teve como objetivo levantar as produções científico-acadêmicas sobre ensino híbrido em teses e dissertações disponíveis em repositórios e bibliotecas de IESs públicas e privadas, apontam que novas metodologias de ensino exigem a redefinição de todo o trabalho pedagógico, não apenas em relação aos recursos educacionais, mas também quanto ao tempo e materiais didáticos. Eles afirmaram explicitamente que o ensino híbrido é a integração, pedagogicamente planejada, do processo de ensino-aprendizagem presencial e virtual. Isso destaca a importância dos professores na promoção e qualificação dos meios capazes de trazer e incentivar seus alunos ativamente para o processo de escolarização. Apesar das implicações relacionadas à redefinição dos papéis de alunos e professores, a utilização de TICs como instrumentos pedagógicos e a necessidade de um design instrucional mais bem planejado, a identidade pedagógica do ensino híbrido ainda não está clara. Além dos vários CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 61 ressentimentos já mencionados sobre o assunto, Furletti e Costa (2020) afirmam quedevido à quantidade de informações reunidas, tudo pode ser misturado, a complexidade está em como integrar o que é importante aprender. É evidente que a falta de parâmetros que indiquem como e quando as dimensões presencial e virtual devem ser mescladas parece ser a principal dificuldade para o sucesso das propostas encontradas na literatura. Mesmo, no entanto, que essa preocupação fosse resolvida, isso não contribuiria para a construção de uma pedagogia própria do ensino híbrido. Além disso, as diferentes interpretações sobre o que é híbrido, já é um fator importante que nos leva a inferir que é necessário maior aprofundado do fenômeno em estudo. Nesse sentido, Furletti e Costa (2020, p. 14) também chegaram a essa conclusão ao registrar os resultados da análise de 33 teses e 53 dissertações que “tiveram como proposta o blended learning, ou ensino híbrido, ou educação híbrida [...] no qual é possível observar uma grande variedade de entendimentos sobre a definição dos termos e suas formas de aplicação na educação”. De qualquer modo, acredita-se que o ensino híbrido pode contribuir na superação das lacunas deixadas antes e durante a pandemia da Covid-19. A categoria 2, “Atender a todos, independentemente do espaço, lugar, situação”, reflete a preocupação dos professores em garantir o acesso ao ensino para todos os alunos, independentemente de sua localização ou situação. A categoria engloba as falas dos professores P4, P5, P20 e P29, que apontam para a importância do ensino híbrido como uma possibilidade de atender às necessidades de diferentes alunos e contextos, especialmente em um período pós-pandêmico. P4, por exemplo, ressalta que o ensino híbrido é uma forma de atender a todos, independentemente do espaço, lugar ou situação. Esse aspecto é reforçado por P29, o qual destaca que o ensino híbrido é uma possibilidade de ensino em situações específicas, quando houver necessidade. Já P5 considera o ensino híbrido como uma possibilidade diante das necessidades que se apresentam. Por fim, P20 destaca a possibilidade de o ensino híbrido ser dividido entre a sala de aula e a casa do aluno, por conta própria. CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 62 Essas falas revelam a preocupação dos professores em garantir que todos os alunos tenham acesso ao ensino, independentemente de sua localização ou situação. Nesse sentido, o ensino híbrido surge como uma alternativa para atender às necessidades de diferentes alunos e contextos. Além disso, a categoria também evidencia a importância da flexibilidade do ensino híbrido, que permite a adaptação das aulas para diferentes situações e contextos. No contexto de pandemia da Covid-19, a categoria 2 ganha ainda mais relevância, uma vez que a modalidade híbrida permite o acesso ao ensino para todos os alunos, mesmo em situações de isolamento social, desde que tenham disponíveis condições de acesso à Internet e equipamentos tecnológicos favoráveis. Assim, o ensino híbrido pode ser uma importante ferramenta para garantir o direito à educação para todos os alunos, independentemente de sua localização ou situação. A pandemia, no entanto, também evidenciou as desigualdades na educação brasileira, as quais se tornaram mais visíveis. Nesse caso, o ensino híbrido pode agravar essas desigualdades caso não sejam tomadas medidas para garantir a equidade. Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2020, as desigualdades, no aprendizado, entre alunos mais pobres e mais ricos, são alarmantes. A defasagem tecnológica nas escolas brasileiras também é um problema que precisa ser enfrentado. Nesse viés, embora o ensino híbrido seja uma importante estratégia para garantir o acesso ao ensino em tempos de pandemia, é necessário enfrentar as desigualdades existentes na educação brasileira, investindo em tecnologia e formação dos professores e garantindo que todos os alunos tenham acesso às mesmas oportunidades educacionais. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho possibilitou o aprofundamento de conhecimentos teóricos e práticos sobre o ensino híbrido, bem como as compreensões dos professores que responderam o questionário, considerando o contexto de pandemia da Covid-19. Das respostas docentes emergiram duas categorias: conceituação do ensino híbrido; atender a todos independentemente do espaço e lugar. A primeira categoria revelou que 35,48% dos docentes apresentam uma compreensão ampla e 64,52% mostram compreensão mais restrita do ensino híbrido, ou seja, primeiro como uma metodologia que CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 63 combina o ensino presencial e a distância, utilizando tecnologias digitais de informação e comunicação como recursos de apoio para a aprendizagem dos alunos, e segunda como uma adaptação necessária do ensino presencial para o formato remoto ou híbrido, devido ao contexto de pandemia de Covid-19. A segunda categoria destacou a importância do ensino híbrido em atender a todos, independentemente do espaço, lugar e situação, permitindo aos alunos aprenderem parte em sala de aula e parte em casa, quando houver necessidade de ensino em situações específicas. Ambas as categorias expressam os desafios e possibilidades do ensino híbrido, destacando a necessidade de formação para os professores, a importância da participação ativa dos alunos, a adaptação das metodologias de ensino e avaliações, e a necessidade de recursos tecnológicos adequados para garantir a qualidade do ensino híbrido para todos. Além disso, a falta de acesso à tecnologia e a desigualdade social são desafios a serem enfrentados no contexto de ensino híbrido. Nesse sentido, a compreensão dos professores acerca do ensino híbrido pode ser vista como um importante indicador das possibilidades e desafios dessa modalidade de ensino na Educação Básica. Os resultados apontam para a importância da flexibilidade e da adaptação das metodologias de ensino, da participação ativa dos alunos e da formação adequada dos professores. Além disso, é importante destacar que o contexto de pandemia de Covid-19 evidenciou a importância do ensino híbrido como uma ferramenta para garantir o acesso e a continuidade do ensino, mesmo em situações de isolamento social. Também destacou as desigualdades na educação, especialmente em relação à falta de recursos tecnológicos e formação adequada dos professores das escolas públicas. É necessário, portanto, que sejam realizados investimentos em formação de professores e em recursos tecnológicos adequados, a fim de garantir a eficácia e a qualidade do ensino híbrido em todas as escolas, independente- mente de sua localização ou situação socioeconômica. REFERÊNCIAS BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi. Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. In: BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello (org.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. 1. ed. Porto Alegre: Editora Penso, 2015. p. 47-66. V. 1. CONHECIMENTOS E DESAFIOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 64 BERTHOLDO NETO, Emílio. O ensino híbrido: processo de ensino mediado por ferramentas tecnológicas. Ponto-e-Vírgula: Revista de Ciências Sociais, [S.l.], n. 22, p. 59, 2018. BRITO, Jorge Maurício da Silva. A singularidade pedagógica do ensino híbrido. EaD em Foco, [S.l.], v. 10, n. 1, 2020. Disponível em: https://labs.cecierj.edu.br/ antesinvasao/eademfoco/index.php/Revista/article/view/948 CASTRO, Alonso et al. Ensino híbrido: desafio da contemporaneidade? Projeção e Docência, [S.l.], v. 6, n. 2, p. 47-58, 2015. Disponível em: http://revista.faculdade- projecao.edu.br/index.php/Projecao3/article/view/563. Acesso em: 27 mar. 2023. FREIRE, Paulo. 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Ensino híbrido: estado do conhecimento das produções científicas no período de 2006 a 2016. 2017. 197 f. f. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, 2017. NOVAIS, Ivanilda de Almeida Meira; COSTA, Maria Luisa Furlan; CABAU, Nubia Carla Ferreira. Ensino híbrido: um processo contínuo de gestão de sala de aula. Revista Polyphonía, [S.l.], v. 31, n. 2, p. 179-193, 2020. PASIN, Débora Montenegro; DELGADO, Heloísa Orsi Koch. O ensino híbrido como modalidade de interação ativa e reflexão crítica: relato de uma experiência docente no Brasil. Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, [S.l.], v. 10, n. 2, p. 87-105, 2017. PIAGET, Jean. A psicologia da inteligência. Petrópolis, RJ: Editora Vozes Limitada, 2013. SOUZA, Thamara Maria; CHAGAS, Alisson Moura; ANJOS, Rita de Cassia Araújo Abrantes dos. Ensino híbrido: alternativa de personalização da aprendizagem. Revista Com Censo, [S.l.], v. 6, n. 1, p. 59-66, 2019. 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V. 1. 67 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido ENSINO HÍBRIDO: Um Recurso Acentuado Pelas Restrições da Pandemia e um Contributo Para a Emancipação dos Professores Zélia Ferreira Caçador Anastácio Eva Teresinha de Oliveira Boff INTRODUÇÃO O ensino híbrido, também conhecido por blended-learning ou b-learning, é uma modalidade de ensino que conjuga aulas presenciais com aulas on-line, com recurso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), por vezes enunciadas apenas como Tecnologias Digitais (TD). Nesta modalidade de ensino é necessário considerar a tríade aluno, professor e tecnologias, a qual está sempre presente, independentemente do modelo adotado. A evolução vertiginosa das TICs exige uma atualização que o professor nem sempre consegue acompanhar e o aluno geralmente vence a corrida, pois este já nasceu na era dos nativos digitais. Embora já constatássemos a oferta de vários cursos de formação em formato b-learning, oferecidos por universidades e outras instituições de formação há alguns anos, e embora os professores já viessem a utilizar ferramentas digitais, tanto para a dinamização das suas aulas quanto para comunicar-se com os seus alunos e lhes disponibilizar materiais de apoio ou simples informações relativas às disciplinas, a pandemia impôs uma rápida adaptação e um uso mais frequente desta modalidade de ensino que vem conquistando espaço. Mesmo sem ser nos períodos de confinamento obrigatório, seguidamente, com alguns alunos em quarentena, as aulas, ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 68 embora já presenciais, passaram a incluir também a possibilidade de acompanhamento on-line, tanto de modo síncrono como assíncrono, tornando-se frequente assistirmos a alunos que, não podendo deslocar-se à sala de aula, solicitam ao professor para assistirem remotamente ou para este lhes disponibilizar a gravação da respetiva aula e assim poderem contatar com o seu conteúdo a posteriori. Dessa forma, o objetivo deste texto é produzir reflexões que contribuam para apropriarmo-nos dos conceitos que fundamentam o ensino híbrido e refletir sobre as nossas práticas quanto ao seu uso no dia a dia da prática docente. METODOLOGIA Neste trabalho partimos de uma abordagem teórica, resultante de uma revisão integrativa da literatura, que tem como objetivo fundamentar os conceitos associados ao ensino híbrido, de modo a aprofundar o seu conhecimento (Cronin; Ryan; Cuoghlan, 2008), para depois mobilizar para a nossa prática pedagógica, bem como para explorar as concepções de professores sobre o ensino básico. Assim, seguindo uma abordagem qualitativa relata-se aqui práticas pedagógicas no Ensino Superior, focando na sua evolução ao longo dos últimos anos, podendo considerar-se um estudo de caso autorreflexivo. Posteriormente analisa-se concepções de professores traduzidas em respostas abertas a um questionário aplicado durante a pandemia de Covid-19. No primeiro caso, relato de práticas, reflete-se sobre a evolução da interação professor/alunos e no segundo analisa-se as percepções de professores. Por fim, procede-se a uma triangulação qualitativa, refletindo sobre os ganhos na educação, na emancipação dos professores e noutras vantagens deste modelo de ensino/aprendizagem. A pesquisa faz parte de interações produzidas no decorrer do projeto “Processo Interativo de Formação Docente no Contexto da Educação Básica: Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido” (Edital Fapergs Sebrae/RS, 3/2021). ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 69 DEFINIÇÕES DE ENSINO HÍBRIDO A literatura apresenta-nos vários conceitos e tipologias de ensino híbrido. Procurando por definições num trabalho de revisão de Barcelos e Batista (2019), baseando-se em três definições prévias analisadas, as autoras definem ensino híbrido como uma modalidade de ensino formal na qual ocorrem atividades presenciais e on-line, de forma integrada e personalizada, com o objetivo de melhorar a construção de conhecimentos sobre o tema em estudo. Nessa proposta, o aluno deve ter alguma oportunidade de fazer escolhas (hora de estudar, tempo gasto no estudo, seleção e adaptação de materiais pesquisados) desenvolvendo assim sua autonomia no processo de ensino e aprendizagem com apoio das TD (Barcelos; Batista, 2019, p. 61). As autoras salientama necessidade de uma boa organização das aulas para que o ensino híbrido possa ter eficácia e destacam a importância da autonomia dos alunos. Com base em Grant e Basye (2014), o trabalho de Barcelos e Batista (2019) refere que as TD e as diversas abordagens pedagógicas que as utilizam podem contribuir para a personalização do ensino e para a autonomia e o engajamento dos estudantes, tornando-os mais ativos e mais responsáveis pela sua aprendizagem. Nessa perspectiva, considera-se que o uso de TD no ensino híbrido deve permitir o desenvolvimento da autonomia dos estudantes, indo muito além de ser apenas uma aula enriquecida com tecnologias (p. 61). Para Lalima e Dangwal (2017), ensino híbrido é um conceito que enquadra o processo de ensino aprendizagem numa abordagem mista, conjugando o ensino face a face com o ensino mediado por tecnologias digitais de informação e comunicação, incluindo instruções diretas e indiretas, ensino colaborativo e aprendizagem individualizada assistida por computador. Caner (2010) apresenta uma incursão por várias definições, chegando a distinguir ensino híbrido de ensino misto (blended). Com um enfoque no ensino híbrido no Ensino Superior, o autor salienta a combinação da disponibilização on-line de conteúdos educativos com as melhores caracterís- ticas de interação em sala de aula e instrução presencial a fim de personalizar ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 70 a aprendizagem, permitir uma reflexão bastante aprofundada, bem como diferenciar a instrução de aluno para aluno entre um grupo diversificado de aprendizes. De acordo com Moran (2015, p. 27), o ensino híbrido é uma mistura complexa que precisa integrar questões importantes para aprender, necessita abordar “conteúdos, competências e valores” que façam sentido para “uma sociedade multicultural”. O autor destaca que a educação é híbrida “porque acontece no contexto de uma sociedade imperfeita, contraditória em suas políticas e seus modelos, entre os ideais afirmados e as práticas efetuadas; muitas das competências socioemocionais e valores apregoados não são coerentes com o cotidiano”. TRÍADE ALUNO, PROFESSOR E TECNOLOGIA Focando no papel do aluno, o ensino híbrido proporciona aulas mais agradáveis, inovadoras, brandas, participativas e flexíveis, contribuindo para que o aluno abandone uma posição cômoda, como ouvinte ou agente passivo, caraterístico de aulas tradicionais com recurso ao método expositivo, e adquira antes uma postura de protagonista do seu processo de aprendizagem, envolvendo-se em atividades complexas e desafiadoras, motivando-se a participar na construção do seu conhecimento de forma ativa, em interação com os seus colegas em grupos ou individualmente (Almeida; Valente, 2011). Neste tipo de ensino, no tocante ao desempenho do professor, este assume um papel de mediador, orientador e facilitador das matérias, o que viabiliza mais tempo de observação do desenvolvimento individual do aluno, proporcionando interação durante o processo de ensino aprendizagem, contribuindo para que o aluno adote a importância do domínio de aprender a apreender (Almeida; Valente, 2011). Por sua vez, as tecnologias, o uso de recursos tecnológicos por meio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), devem ser utilizadas de modo a promover ambientes de aprendizagem com interfaces amigáveis, ferramentas flexíveis que facilitem o processo de ensino aprendizagem ( YU et al., 2010). Além desta tríade, vários autores (Barcelos; Batista, 2019; Lalima; Dangwal, 2017; Caner, 2010) fazem referência à Web, salientando também a necessidade de Internet para assegurar este tipo de ensino. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 71 MODELOS DE ENSINO HÍBRIDO Os modelos de ensino híbrido são múltiplos e o seu número e complexidade variam de autor para autor. Christensen, Horn e Staker (2013) fazem referência a quatro modelos de ensino híbrido: Rotação, Flex, A La Carte e Virtual Enriquecido. O modelo de rotação subdivide-se em quatro: Rotação por Estações, Laboratório Rotacional, Sala de Aula Invertida e Rotação Individual. Na descrição dos vários modelos encontramos as seguintes caracterís- ticas: – o modelo de Rotação é aquele no qual, dentro de um curso ou matéria (ex: matemática), os alunos revezam entre modalidades de ensino, em um roteiro fixo ou a critério do professor, sendo que pelo menos uma modalidade é a do ensino on-line. Outras modalidades podem incluir atividades como as lições em grupos pequenos ou turmas completas, trabalhos em grupo, tutoria individual e trabalhos escritos. O modelo de Rotação tem quatro submodelos: Rotação por Estações, Laboratório Rotacional, Sala de Aula Invertida e Rotação Individual. – o modelo de Rotação por Estações – ou o que alguns chamam de Rotação de Turmas ou Rotação em Classe – é aquele no qual os alunos revezam dentro do ambiente de uma sala de aula. – o modelo de Laboratório Rotacional é aquele no qual a rotação ocorre entre a sala de aula e um laboratório de aprendizado para o ensino on-line. – o modelo de Sala de Aula Invertida é aquele no qual a rotação ocorre entre a prática supervisionada presencial pelo professor (ou trabalhos) na escola e a residência ou outra localidade fora da escola para aplicação do conteúdo e lições on-line. – o modelo de Rotação Individual difere dos outros modelos de Rotação porque, em essência, cada aluno tem um roteiro individualizado e, não necessariamente, participa de todas as estações ou modalidades disponíveis. – o modelo Flex é aquele no qual o ensino on-line é a espinha dorsal do aprendizado do aluno, mesmo que ele o direcione para atividades off-line em alguns momentos. Os estudantes seguem um roteiro fluido e adaptado individualmente nas diferentes modalidades de ensino, e o professor responsável está na mesma localidade. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 72 – o modelo A La Carte é aquele no qual os alunos participam de um ou mais cursos inteiramente on-line, com um professor responsável on-line e, ao mesmo tempo, continuam a ter experiências educacionais em escolas tradicionais. Os alunos podem participar dos cursos on-line tanto nas unidades físicas ou fora delas. – o modelo Virtual Enriquecido é uma experiência de escola integral na qual, dentro de cada curso (ex: matemática), os alunos dividem seu tempo entre uma unidade escolar física e o aprendizado remoto com acesso a conteúdos e lições on-line (p. 27). RELATO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO SUPERIOR Com a nossa prática no Ensino Superior, tanto na Graduação (Licenciatura) como na Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado), assistimos a demandas de mudanças para modelos de ensino mais inovadores e disruptivos. Embora a presença em sala sempre tenha sido uma condição na Graduação, as aulas de Ciências e Biologia têm-se pautado pelo uso de equipamentos e materiais (laboratoriais e modelos anatômicos) que exigem a presença e o contato professor/aluno. Mesmo em sala, porém, sobretudo em laboratório de atividades experimentais, a utilização de tecnologias é uma constante, permitindo uma interação e uma aprendizagem bidirecional nessa relação professor/aluno. Numa unidade curricular de Ciências da Natureza, com alunos de 1.º ano de Graduação em Educação Básica (futuros professores), cujos percursos educativos prévios variam bastante entre o domínio das ciências e tecnologias e o domínio das línguas e humanidades, a observação ao Microscópio Ótico Composto (MOC) é umasituação algo disruptiva e promotora do uso de tecnologias, completando a tríade tanto em sala e síncrona como on-line e assíncrona. Numa das primeiras atividades, os alunos são convidados a fazer uma colheita de células do epitélio bucal e preparar um esfregaço em lâmina para observação ao MOC. A figura 1 (A e B) apresenta fotografias captadas com a câmera do smartphone sobre a ocular do microscópio. É de notar que este procedimento, que já vem ocorrendo há alguns anos, foi introduzido nas aulas pelos alunos, diante da necessidade de fazer o registo de observações para elaboração do relatório da atividade experimental. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 73 Figura 1.A: Observação de Epitélio Bucal com Ampliação de 400x Figura 1.B: Observação de Epitélio Bucal com Ampliação de 1000x Fonte: Dados da pesquisa. Fonte: Dados da pesquisa. Outra atividade que tem sido realizada consiste em observar uma amostra de água não potável, de uma fonte à escolha dos alunos, podendo ser um rio, um poço artesiano, uma poça de água da chuva, um charco, etc. Sendo dada a possibilidade de os alunos escolherem e recolherem eles próprios o material a observar, a atividade suscita motivação, curiosidade e empenho na sua realização. A curiosidade, diante da diversidade e desconhecimento das fontes de recolha das amostras, estende-se à docente, a qual observa juntamente com cada aluno o material. Se por um lado o objetivo desta atividade começa por se situar no conteúdo programático da unidade curricular, que é a identificação de seres unicelulares e procariontes, por outro aguça-se a motivação para obter os melhores registos por meio das tecnologias que permitem acoplar a câmera ao microscópio. As fotografias da Figura 2 (A e B) resultaram de um desses momentos em que a curiosidade da docente se adicionou à dos alunos e, numa atitude colaborativa, se observaram, discutiram e registaram as imagens. É de notar que aos alunos era solicitada uma atividade de representação esquemática tendente à ilustração científica. O uso da tecnologia digital, porém, tem permitido registros de grande detalhe e surpreendentes para discentes e docentes. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 74 As imagens até aqui apresentadas foram registadas em aulas que ocorreram antes da emergência da pandemia Covid-19, um marco na adaptação ao ensino híbrido e emancipação dos professores. Figura 2.A: Seres unicelulares e procariontes em ampliação de 1000x Figura 2.B: Ser vivo unicelular em ampliação de 1000x Fonte: Dados da pesquisa. Fonte: Dados da pesquisa. Após a aula no laboratório e os registos de observação feitos, os alunos continuam a sua tarefa de elaboração do relatório após a aula, costumando entregá-lo em papel na semana seguinte, pois é requerido que no relatório os alunos apresentem a ilustração científica ou desenho esquemático, constituindo as fotografias apenas um auxílio para facilitar a representação gráfica nesse momento após a aula. Esta prática de ensino e consecução de tarefas, todavia, tem vindo a registrar evoluções tanto para alunos como para professores, as quais se acentuaram em direção ao ensino híbrido com a pandemia. Ao invés de entregarem o relatório impresso em papel, os alunos passaram a depositar os seus relatórios na plataforma BlackBoard (Figura 3), opção que exigiu da docente uma nova aprendizagem, consistindo na exploração da ferramenta conducente à criação de um espaço de depósito e consulta dos relatórios. É de notar que esta solução foi percebida em discussão entre a díade, encontrando- -nos assim perante uma situação de emancipação docente e discente. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 75 Figura 3 – Fotografia de tela do fórum criado para partilha dos relatórios na plataforma BlackBoard Fonte: As autoras. A tarefa que exigia a impressão e entrega do relatório em papel passou a ser possível de transpor para o suporte digital sem minimizar os benefícios de aprendizagem proporcionados pela ilustração científica das observações dos alunos, como se pode observar nas Figuras 4 e 5. Os detalhes não perderam rigor e o armazenamento e manuseio do material foi melhorado, permitindo a sua consulta no espaço virtual. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 76 Figura 4 – Fotografia de tela com os relatórios contendo as ilustrações científicas Fonte: Relatório dos alunos. Figura 5 – Fotografia de tela com os relatórios contendo as ilustrações científicas Fonte: Relatório dos alunos. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 77 Este processo de adaptação resultou de uma aprendizagem necessária diante das condições impostas pela pandemia, no entanto as práticas perduram com reconhecido benefício para todos os intervenientes. Além deste caso relatado de uma situação decorrente em contexto de Ensino Superior, também os professores dos restantes níveis de ensino tiveram de desenvolver competências idênticas. ENSINO HÍBRIDO E EMANCIPAÇÃO FORÇADA DOS PROFESSORES EM PERÍODO DE CONFINAMENTO POR PANDEMIA A situação nova vivenciada pelos educadores de infância e professores de Ensino Básico e Secundário durante o primeiro confinamento imposto pela pandemia Covid-19 em 2020, aliada à necessidade de respostas rápidas e eficazes para continuar a trabalhar, colocou desafios tecnológicos a estes profissionais. A imediata adaptação a novos métodos de ensino, primeiro a distância/ on-line e depois em formato híbrido, foi um imperativo no contexto de ensino/ aprendizagem que teve implicações nas estratégias a utilizar, nas interações professor/aluno, nas rotinas diárias dos profissionais e na apropriação do uso de (TICs). Durante esse processo de adaptação, tendo inquirido uma amostra de cerca de 300 professores portugueses, foi notória a presença da tríade aluno/ professor/tecnologias nos relatos de preocupação dos docentes. Da análise efetuada resultaram quatro categorias de respostas que listamos por ordem decrescente de quantificação de ocorrências: • Domínio das tecnologias digitais de informação e comunicação, com as subcategorias inadequação de recursos, dificuldade em trabalhar com as ferramentas e falta de conhecimento e de competências tecnológicas. • Alunos, onde encontramos as subcategorias interação, falta de recursos informáticos e motivação. • Métodos de ensino e aprendizagem, de onde se destacaram as subcategorias mudança de estratégias e comunicação; • Relação tempo e tarefas, em que emergiram as subcategorias falta de tempo, pressão e excesso de trabalho, ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 78 • Domínio pessoal e familiar, no qual se dispersam as subcategorias idade, equilíbrio familiar, rotinas diárias, insegurança e adaptação. Se inicialmente este processo traduziu-se em dificuldades e foi gerador de estresse, ansiedade e alteração de rotinas pessoais, por exigência de tempo para dedicar à aprendizagem de novas ferramentas, por outro lado muniu a classe docente de competências que antesnão haviam sido previstas. Os argumentos expressos pelos professores de Portugal se aproximam dos professores brasileiros que também destacam a falta de domínio de Tecnologias de Informação e Comunicação, bem como problemas relacionados às dificuldades de execução das tarefas pelos alunos, do domínio familiar sobre os processos de ensino e aprendizagem para auxiliar os filhos nas tarefas domiciliares. É fundamental, no entanto, que escolas e alunos possuam computadores e acesso qualificado à Internet, questões altamente deficitárias nas escolas públicas brasileiras. Sunaga e Carvalho destacam que mesmo que escolas tenham “poucas máquinas, o ensino híbrido e sua metodologia possibilitam a formação de grupos menores, permitindo que todos tenham o mesmo direito e tempo de utilização de tais recursos” (2015, p. 145). CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo mostra que a pandemia trouxe inúmeros problemas, os quais a população mundial jamais imaginou enfrentar, um mundo parado, doente, com inúmeras mortes e pessoas que ainda carregam sequelas da Covid-19. Com a educação não foi diferente, encontramos professores angustiados, com um aumento de atividades significativo e sem espaço para planejamento, estudo e poucas formações para o enfretamento de nova realidade. Também houve contribuições que mobilizaram professores para a necessidade de atualização quanto aos entendimentos nos modos de ensinar e aprender junto as novas gerações. O ensino híbrido já existia, mas a pandemia veio demonstrar as suas potencialidades e acelerar os processos de compreensão e desenvolvimento de novos processos de ensino e aprendizagem, especialmente quanto ao uso de tecnologias como potencialidades complementares de superação das lacunas deixadas pelo período de distanciamento social. A tecnologia evolui vertigino- samente e o ser humano precisa correr velozmente para acompanhá-la, revelando-se este também um problema, pois as pessoas são constituídas por sentimentos e emoções que tanto podem ser positivas quanto negativas. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 79 Os mais jovens – nativos digitais – têm mais facilidade de acompanhar este progresso, tanto como discentes como na condição de docentes, mas também têm perdas, principalmente nas relações humanas e afetivas. Já os mais velhos precisam investir mais tempo e dedicação neste processo de saber lidar com a tecnologia, adquirindo a emancipação tecnológica. Acompanhar a evolução das TICs é um processo emancipatório, de apropriação de conhecimentos e desenvolvimento contínuo de habilidades, mas também um contributo para a sociedade preocupada com a sustentabilidade de recursos. O ensino híbrido com as potencialidades das tecnologias pode contribuir para: reduzir a emissão de poluentes pelas deslocações; economia de tempo nas tarefas profissionais; facilitar o acesso rápido a recursos e manter atividades estando a distância; melhorar a interação docentes-discentes; facilitar o nosso tempo e rotinas; acesso à Internet – um mundo infinito de conhecimento na ponta do dedo; desenvolver competências de autoconsci- ência e autorregulação; estimular a interação discente/docente; emancipar ambos tanto para a pedagogia como para a pesquisa, mas também pode comprometer a nossa saúde emocional, mental, física e social. É necessário, portanto, aprendermos a ensinar de modo diferente, mas sem perder a essência da condição humana. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. B.; VALENTE, J. A. Tecnologias e currículo: trajetórias convergentes ou divergentes? São Paulo: Paulus, 2011. BARCELOS, Gilmara; BATISTA, Sílvia. Ensino híbrido: aspectos teóricos e análise de duas experiências pedagógicas com Sala de Aula Invertida. Renote, Agosto, v. 17, n. 2, p. 60-75, 2019. DOI: 10.22456/1679-1916.96587. Disponível em: https:// seer.ufrgs.br/index.php/renote/article/view/96587 CANER, Mustafa. The Definiton of Blended Learning in Higher Education. 2010. p. 19-34. ISBN 978-1-4666-0940-2 (E-book). DOI: 10.4018/978-1-4666-0939-6.ch002 CHRISTENSEN, Clayton; HORN, Michael; STAKER, Heather. Ensino híbrido: uma Inovação Disruptiva? Uma introdução à teoria dos híbridos. EUA: Clayton Christensen Institute, 2013. Disponível em: https://www.pucpr.br/wp-content/ uploads/2017/10/ensino-hibrido_uma-inovacao-disruptiva.pdf CRONIN, Patricia; RYAN, Frances; CUOGHLAN, Michael. Undertaking a literature review: a step-by-step approach. British Journal of Nursing, v. 17, n. 1, p. 38-43, 2008. ENSINO HÍBRIDO: UM RECURSO ACENTUADO PELAS RESTRIÇÕES DA PANDEMIA E UM CONTRIBUTO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS PROFESSORES Zé l ia Ferre i ra Caçador Anastác io – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 80 GRANT, Peggy; BASYE, Dale. Personalized Learning: a Guide for Engaging Students with Technology. [S.l.]: International Society for Technology in Education, 2014. LALIMA; DANGWAL, Kiran Lata. Blended Learning: An Innovative Approach. Universal Journal of Educational Research, v. 5, n. 1, p. 129-136, 2017. DOI: 10.13189/ujer.2017.050116 MORAN, José. Educação híbrida: um conceito chave para a educação, hoje. In: BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello (org.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. 1. ed. Porto Alegre: Editora Penso, 2015. p. 27-46. V. 1. SUNAGA, Alessandro; CARVALHO, Camila Sanches de. As tecnologias digitais no ensino híbrido. In: BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello (org.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Editora Penso, 2015. p. 141-154. YU, A. Y. et al. Can learning be virtually boosted?: An investigation of online social networking impacts. Computers & Education, v. 55, p. 1.494-1.503, 2010. DOI: 10.1016/j.compedu.2010.06.015 81 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-191 Alisson Vercelino Beerbaum Eva Teresinha de Oliveira Boff INTRODUÇÃO Durante a pandemia de Covid-19 a Educação Básica foi amplamente afetada, especialmente no âmbito das redes públicas de ensino, o que motivou os governos estaduais e municipais a adotarem medidas de avaliação para mensurar os efeitos dessas mudanças na aprendizagem dos alunos. No Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, uma avaliação diagnóstica foi realizada em mais de 2.100 escolas, abrangendo cerca de 624 mil estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Os resultados indicaram que 27% dos alunos do 5º ano apresentaram desempenho abaixo da média em Língua Portuguesa, enquanto 33% obtiveram desempenho acima da média. Em Matemática, 43% dos alunos apresentaram desempenho abaixo da média, destacando-se que este resultado foi obtido por 80% dos alunos do 9º ano e 92% dos alunos do Ensino Médio, com apenas 4% destes últimos enquadrados nos níveis “adequado” e “avançado”. Esses dados demonstram a necessidade de investimentos em medidas que possam auxiliar na recuperação e melhoria da aprendizagem dos estudantes, especialmente em um contexto de ensino remoto e restrições presenciais (Rio Grande do Sul, 2022). 1 Os dados discutidos foram apresentados no XIV Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (Enpec). REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 82 O governo, a fim de melhorar os resultados de aprendizagem, propôs aumentar a carga horária das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, bem como introduzir políticas públicas como “Aprende Mais”, “Escolha Certa” e “Bolsa de Permanência. A eficácia dessas medidas, no entanto, é questionada por Pasini (2020) e Pizarro e Lopes Junior (2017), que consideram essa avaliaçãoAMBIENTAL E EM SAÚDE NOS ANOS INICIAIS: Monitoramento de Insetos na Horta Escolar Como Prática Integradora no Ensino Híbrido ........... 257 Claudia Marchesan – Eva Teresinha de Oliveira Boff Cláudia Thomé da Rosa Piasetzki – Mônica Gelatti Maria Cristina Pansera-de-Araújo – Vidica Bianchi ENSAIO DE PROCESSOS DE APROPRIAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO POR MEIO DO USO DA MICROGENÉTICA EM AULAS DE ENSINO REMOTO ................................................. 275 Bárbara Cristina Dias dos Santos Jaqueline Ritter SITUAÇÃO DE ESTUDO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS PROVENIENTES DAS ATIVIDADES HUMANAS, UMA QUESTÃO DO ENSINO ........................................................ 295 Marciele Dias Santos Cabeleira – Eliza Franco Zaleski Laura Silvane Araújo da Conceição da Silva – Priscila Baptista Vidica Bianchi – Maria Cristina Pansera-de-Araújo ENCONTROS FORMATIVOS COM ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO: Educação Sexual em uma Perspectiva Emancipatória .............................................................. 311 Karina Andressa Cavalheiro Zimmermann Eva Teresinha de Oliveira Boff POSFÁCIO ........................................................................................................................... 333 Graça Simões de Carvalho Sobre os autores .................................................................................................................. 335 11 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido PREFÁCIO A pandemia gerada pelo Sars-Cov-2, precursor da Covid-19, ligou o alarme no mundo todo. Em quatro meses a maioria dos países teve de estabelecer o isolamento social, colocando normas que restringiram a movimentação das pessoas, de tal forma que todos deveriam permanecer em casa e as poucas pessoas que podiam ter autorização de sair à rua faziam parte das equipes médicas ou do pessoal autorizado para o fornecimento de alimentos. As nossas relações no mundo de trabalho, na família e particularmente nos processos de ensino desenvolvidos na escola mudaram radicalmente, pois atividade formativa realizada por professores e professoras parou de repente e foi necessário repensar a forma como todos os que nos dedicamos ao ensino tínhamos de garantir o direito da educação de nossos estudantes. Não estávamos preparados para experimentar uma pandemia e tivemos de aprender rapidamente a viver diante da nova realidade, todos os lares viraram local de trabalho e dessa forma tínhamos de lidar e apoiar processos formativos de filhos em casa e ao mesmo tempo dar conta de nosso trabalho. O cuidado da vida passou a ser a preocupação de todos e em vários países a controvérsia sobre a criação de vacinas desencadeou olhares diferentes e tensões entre diferentes atores sociais, tais como políticos, comunidade de cientistas e pessoal da área da saúde que apoiou a necessária liberação de restrições na produção de vacinas conforme está estabelecido nos protocolos historicamente validados. Apareceu novamente a concepção negacionista diante da ciência, pois em que pese que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha estabelecido orientações importantes para o desenvolvimento e uso de vacinas e medidas de proteção permanentes, como o uso de máscaras e diversos protocolos de biossegurança, governos como o liderado por PREFÁCIO Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 12 Jair Bolsonaro interpretaram a Covid-19 como uma simples “gripezinha”, prestando pouca atenção à pandemia e não investindo recursos importantes nas pesquisas orientadas ao controle do coronavírus. Em tempos de crises a incerteza aumenta e com ela a desinformação gera um ambiente favorável para atacar os avanços da ciência, o que cria desconfiança da população toda, diante do que é necessário o resgate dos conhecimentos científicos. Conforme é exposto por Perini-Santos (2022), foi fundamental a produção de conhecimento científico em curto tempo para tornar realidade a produção de vacinas, que foram aplicadas sistemati- camente, salvando milhões de vidas no mundo todo. O ensino de Ciências teve e ainda tem a responsabilidade de fortalecer a confiança na ciência e em suas instituições no contexto de sociedades altamente desiguais, que pouco prestam atenção à formação dos cidadãos nesses conhecimentos. A compreensão das complexas controvérsias sociocientíficas desencadeadas pela pandemia constitui uma valiosa oportunidade para os professores de Ciências, nas escolas, que de forma remota tiveram que criar novas possibilidades para ensinar conforme a nova realidade, o que envolve o estudo das implicações científicas, econômicas, políticas e ambientais da Covid-19. Em meio à pandemia foi necessário continuar fortalecendo as parcerias de pesquisa e docência entre Universidades da América Latina e de Portugal. Um bom exemplo deste relevante trabalho foi desenvolvido entre a Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí – a Universidade Federal do Rio Grande – Furg – a Universidad Pedagogica Nacional – UPN – e a Universidade do Minho – Uminho – as quais no contexto de convênios de colaboração acadêmica desenvolveram um projeto de pesquisa sobre o processo interativo de formação docente no contexto da educação básica, baseado em uma perspectiva emancipatória de currículo no ensino híbrido. Diante dos desafios formativos impostos pela pandemia, a pesquisa desenvolvida interinstitucionalmente constitui uma das melhores formas para garantir a qualidade do ensino em uma época de crises e de profundas mudanças. PREFÁCIO Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 13 A solidariedade e o cuidado da vida são dois preciosos valores que a pandemia deixa à humanidade como aprendizado para continuar encarando grandes desafios na educação em diferentes âmbitos educacionais relacionados com a diminuição das desigualdades sociais, a qualidade educacional, a proteção do planeta e todas as formas de vida, aspectos considerados nas reflexões desenvolvidas em Martínez (2023) e que têm a ver com o projeto de pesquisa sobre a formação docente baseado em uma perspectiva emancipatória. O presente livro faz parte dos resultados do projeto de pesquisa interinstitucional anteriormente citado e abrange um trabalho acadêmico aprofundado sobre o desenvolvimento de propostas de organização do currículo escolar na concepção de Situação de Estudo (SE) e/ou Projetos de Aprendizagem (PA). Tais propostas contemplam diversas aprendizagens em múltiplos âmbitos sociais, culturais, tecnológicos e ambientais, constituindo uma importante contribuição para o Ensino de Ciências e a formação permanente dos professores. O livro está constituído por 18 capítulos, os quais podem organizar-se em duas grandes partes. A primeira delas trata sobre amplas reflexões e análises diante das consequências e desafios impostos pela pandemia e a necessidade de desenvolver o ensino híbrido contextualizado e voltado às necessidades e realidades das escolas. A segunda parte dá conta de importantes pesquisas e experiências de ensino sobre diversas Situações de Estudo, Questões Sociocientíficas e Projetos de Aprendizagem referidos ao Ensino de Ciências, Educação Matemática, Educação Ambiental e Educação em Saúde. O ensino híbrido se impôs exigindo a reformulação de práticas pedagógicas, da educação formal, as quais, mesmo que ainda de forma provisória, desvelaram movimentos e urgências para além do contexto de pandemia da Covid-19. Salienta-se que a falta de acesso à tecnologia e a desigualdade na educação são desafios a serem enfrentados no contexto do ensino híbrido, especialmente em relação à falta de recursos tecnológicos e formação adequada dos professores em escolas públicas. A análise de discursos movimentados por professores de Ciências ao construírem uma sequência de ensino sobre abordagem da Covid-19 como questão sociocientífica favorece a superação da lógica compartimentalizada PREFÁCIO Leonardo Fabfocada em áreas específicas da aprendizagem, uma medição insuficiente diante das complexas repercussões que o contexto pós-pandêmico tem nas diversas experiências escolares e além delas. Eles argumentam que outras dimensões da educação, como a socialização, o bem-estar emocional e a capacidade de lidar com a incerteza também devem ser considerados na avaliação do impacto da pandemia na educação. Isto significa dizer que um número tão grande de estudantes, ou ainda um estudante que seja, não pode ser avaliado sem antes ser conhecido individualmente, pois a complexidade social e cultural de cada sujeito deve ser considerada, ao mesmo tempo que se deve evitar simplificações e categorizações no exercício de observar tais processos avaliativos para além de suas problemáticas e insuficiências, objetivando identificá-las e ultrapassá-las. No escopo das correntes críticas e pós-críticas do currículo, a avaliação deve ser contínua e desempenhada a fim de qualificar o processo de ensino-aprendizagem, um objetivo republicano constitucional. Neste texto, portanto, busca-se conhecer: “Quais foram as principais potencialidades e limitações enfrentadas pelos professores da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul no desenvolvimento de processos avaliativos durante a pandemia de Covid-19?” METODOLOGIA O estudo foi empreendido no fim do segundo semestre de 2021, período no qual o convite para responder o questionário on-line foi direcionado a 60 professores de escolas de Educação Básica que aceitaram participar do projeto, fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), intitulado “Processo interativo de formação docente no contexto da educação básica: uma perspectiva emancipatória de currículo no ensino híbrido”. O projeto teve como foco o desenvolvimento de uma proposta pedagógica denominada Situação de Estudo, com especial atenção aos professores da área de Ciências da REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 83 Natureza e Matemática. O questionário teve a intenção de mapear algumas estratégias de ensino, utilizadas pelos professores, para o desenvolvimento das aulas de modo remoto e/ou híbridas, bem como a identificação dos desafios encontrados pelos docentes no período de pandemia. Além disso, nossa intencionalidade foi identificar temáticas relevantes socialmente, para a produção de material didático visando ao desenvolvimento de propostas inovadoras no espaço real de sala de aula, tanto na forma híbrida (remota e presencial) quanto no retorno das aulas de modo presencial. O questionário estruturou-se em cinco perguntas objetivas relacionadas à caracterização profissional e dez perguntas dissertativas acerca da experiência individual sobre a avaliação do processo de ensino e aprendizagem no período de 2020 a 2021. Neste artigo, contudo, além dos dados sociodemográficos, focamos nas respostas relativas às questões de avaliação, posto que este foi um dos grandes desafios enfrentados pelos professores de Ciências da Natureza e Matemática, tais como: Defina e caracterize o que você entende por “avaliação” no contexto de sua prática na Educação Básica. Quais as maiores dificuldades apresentados pelos seus alunos no período de Covid-19? Como foi realizada a avaliação do processo de ensino e aprendizagem no período de Covid-19? A sua instituição/ rede de ensino já proporcionou cursos de formação continuada destinados ao processo de avaliação? Caso tenha ocorrido, quanto contribuíram na qualificação de sua prática? Cabe destacar que este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade à qual os autores estão vinculados (Protocolo nº 2260474) e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para preservar a identidade dos sujeitos os professores foram identificados com a letra “P”, seguida de numeração (P1, P2, ... P12). A pesquisa é qualitativa, cuja análise tem como base os argumentos de Moraes e Galiazzi (2020), visto que permite a realização de um movimento fenomenológico e hermenêutico visando à descrição detalhada e a subsequente interpretação ampla do objeto de pesquisa em busca de compreensões mais complexas acerca dos fenômenos e dos discursos que permearam a caracterização de tal objeto. No mesmo sentido é a proposta de Moraes (2003, p. 192), autor para o qual a análise textual discursiva é uma “construção de compreensão” embasada sobre três elementos sequenciais: a desconstrução REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 84 do corpus (desmembramento do objeto), a unitarização (estabelecimento de relações entre as partes do objeto) e a categorização (constituição da nova compreensão sobre o objeto). Já o caráter qualitativo refere-se à busca pela percepção das subjetividades dos participantes, buscando identificar suas relações contextuais, sociais e culturais, fatores estes que não podem ser expressos numericamente, mas que permitem compreensões mais amplas sobre os significados produzidos por eles (Moraes, 2003). RESULTADOS E DISCUSSÕES O grupo de professores participantes apresenta características diversas, pois, quanto à natureza da instituição de ensino em que trabalham, 6 são da rede estadual (50%), 5 são da rede municipal (≈41,67%) e 1 atua em rede privada de ensino (≈8,33 ̇%); quanto à formação acadêmica, 4 dos entrevistados concluíram o Mestrado (≈33,33 ̇%), 3 concluíram apenas a Graduação (≈33,33 ̇%), 1 concluiu o Doutorado (≈8,33%) e outros 3 concluíram apenas alguma especialização lato sensu (25%). Todos os entrevistados lecionam há pelo menos dois anos, destacando-se que metade deles já leciona entre 6 e 15 anos, e suas áreas são Matemática (3, 25%), Geografia (2, ≈16,67%), Língua Portuguesa (2, ≈16,67%), Pedagogia (2, ≈16,67%), Física (1, ≈8,33%), Língua Inglesa (1, ≈8,33%) e Química (1, ≈8,33%). Avaliação sem ação: uma recontextualização da perspectiva tradicional curricular A compreensão dos processos avaliativos como instrumentos de qualificação do processo de ensino-aprendizagem é evidente no grupo de professores entrevistados, tendo sido citadas a necessidade de continuidade e a reflexão sobre a ação do estudante no ambiente escolar. A continuidade da avaliação é considerada relevante para identificar as competências adquiridas pelos estudantes tanto quanto para analisar criticamente o desempenho das práticas pedagógicas executadas, ou seja, uma concepção que articula elementos de dois modelos distintos de avaliação, os que visam à formação e os que visam ao diagnóstico. Este último, apesar de indispensável para a REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 85 identificação de dificuldades da aprendizagem, é insuficiente de forma isolada, pois não acarreta soluções para os problemas que aponta (Macedo, 2005), como se observa nas respostas dos professores ao questionário. A avaliação é um feedback da minha atuação como docente e do protagonismo dos alunos (P3); Acompanhamento e monitoramento do processo de aprendizagem (P4); (Processo pelo qual mensura-se a compreensão e entendimento dos discentes referente a diferentes objetos do conhecimento e habilidades/competências. É um processo contínuo no trabalho do discente para observar o entendimento e progressão e me autoavaliar (P5); Avaliação é um processo contínuo e formativo, que acontece em diferentes momentos do ano letivo. Não deve ser resumido a um instrumento de avaliação, como a prova, por exemplo (P8); Necessária. Auxilia para perceber as falhas existentes!! (P10); A avaliação constitui parte importante do processo de ensino e aprendizagem. É por meio da avaliação que podemos acompanhar as construçõese elaborações dos alunos e das metodologias utilizadas (P11). De acordo com Macedo (2005), o processo avaliativo-diagnóstico é fortemente influenciado pelo modelo da Medicina tradicional, em que o diagnóstico é realizado de forma isolada em relação ao tratamento. O autor destaca, no entanto, que a relação entre o diagnóstico e o tratamento caracteriza-se pela ação, e não apenas pela existência. Isso significa que o diagnóstico deve ser seguido por ações que visem ao tratamento ou à melhoria do processo avaliativo. Os argumentos apresentados pelos professores sobre a importância da avaliação no acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem de seus alunos, bem como de suas práticas pedagógicas, são relevantes, entretanto é necessário que haja ações que promovam a melhoria da aprendizagem dos alunos, como a reflexão sobre as práticas docentes e a busca por estratégias de ensino mais eficazes. Macedo (2005) destaca que o diagnóstico avaliativo possui dois escopos interdependentes como causa e efeito. Isso significa que o processo avaliativo deve ser capaz de identificar as causas do insucesso dos alunos, e não apenas justificar esse insucesso por meio de notas baixas ou descumprimento de regras. É necessário enfrentar objetivamente as causas do insucesso e buscar soluções efetivas para melhorar a aprendizagem dos alunos. REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 86 Dessa forma, é importante que os processos avaliativos sejam mais do que meras ferramentas de medição de desempenho dos alunos. Eles devem ser encarados como uma ferramenta para o aprimoramento contínuo do processo de ensino e aprendizagem, com o objetivo de promover a melhoria da educação como um todo. Todas as modalidades de avaliação (educativa, formativa e mediadora) são conceitos que possibilitam a realocação do processo de ensino-aprendizagem, mesmo que nenhum dos professores entrevistados tenha abordado explicitamente esse fator, embora tenham mencionado ocasionalmente a autoavaliação. Ao analisar as respostas dos professores, foram identificados termos como reorientação, redirecionamento, retomada e outros similares, a fim de identificar as posições que poderiam ter sido tomadas diante do diagnóstico das problemáticas educacionais, mas o diagnóstico apresentado nesta escrita caracteriza-se pela falta de ação diante do que foi observado, como anteriormente descrito. Além disso, 4 dos participantes (≈33,33%) compreendem avaliação como mecanismo de verificação da aprendizagem do aluno e não como momento de análise das práticas pedagógicas: Reconhecer em que etapa de aprendizagem o nosso educando se encontra, entendendo ele como um ser individual e que não pode ser colocado no mesmo nível de toda a turma (P2); Avaliação é uma forma de verificar o entendimento do conteúdo por parte do aluno e validar ou não as práticas aplicadas pelo professor (P6); Avaliação é a verificação do quanto o aluno se apropriou dos conceitos previstos curricularmente para o ano em que ele está no percurso da educação básica (P7); É verificar se o aluno está apto para o próximo ano do processo de escolarização (P9). É necessário considerar a avaliação em uma perspectiva ampla que vá além da aprendizagem, levando em conta também os modos de ensinar e aprender. De acordo com Teixeira e Nunes (2008), quando a avaliação é utilizada apenas para atender às expectativas imediatas das esferas políticas e econômicas, ela se torna superficial e não aborda os problemas mais evidentes da aprendizagem. Isso perpetua a seletividade da sociedade e impede que a educação se torne crítica e emancipadora. Pasini (2020) argumenta que as políticas educacionais brasileiras têm sido limitadas pelos meios e objetivos dos processos avaliativos. Consequentemente, o discurso dominante nas escolas é voltado para a avaliação classificatória, tanto por conta da rigidez e uniformidade da administração escolar quanto pelas expectativas das famílias REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 87 em relação às notas dos estudantes. Os professores argumentam que não têm autonomia nas avaliações, pois existem exigências internas ao ambiente escolar e também implicações externas, conforme expresso a seguir: A grande verdade que não só a Instituição nos impede de avaliarmos como queremos em nosso componente, mas os colegas professores, bem como os pais querem saber da “nota” propriamente dita e, essa tem que estar “acima da média”, embora as disciplinas não contemplem as habilidades e competências de cada um. Uma pena (P2); Em partes a burocracia é muito grande, tomando muito tempo (P4); Na maioria das vezes fazem com que o profissional tenha de seguir processos já delimitados onde o mesmo precisa “encaixar-se” no que foi preestabelecido (P5); Sim. Por algumas razões. 1. Os sistemas estaduais exigem a quantificação do desempenho (1-10) então temos que seguir; 2. As tratativas da coordenação pedagógica junto a direção que estabelecem a obrigatoriedade de certas ferramentas de avaliação (no meu caso 1 trabalho, 2 testes e 1 prova no final de cada trimestre); trabalhos na minha área são complicados, pois os pais querem ver a nota e o caderno cheio! 3. Devido às turmas cheias, não temos como realizar uma reflexão sobre a forma/caminho que o aluno responde às questões, muitas vezes para não levarmos trabalho para casa, optamos por questões objetivas (P7). As falas dos professores destacam as limitações e desafios enfrentados no processo de avaliação, muitas vezes decorrentes de pressões e demandas externas à sala de aula. A fala de P2 destaca a pressão exercida por colegas e pais para que as notas dos estudantes estejam “acima da média”, mesmo quando as disciplinas não contemplam as habilidades e competências individuais de cada aluno. Essa visão distorcida sobre a avaliação pode reforçar a ideia de que a aprendizagem é apenas um meio para se obter boas notas e não um processo mais amplo e complexo. Já a fala de P4 destaca o tempo que é consumido pela burocracia envolvida no processo de avaliação, o que pode comprometer a qualidade da avaliação e a reflexão sobre os resultados obtidos. A fala de P5 destaca a falta de flexibilidade e autonomia dos professores na definição das estratégias de avaliação, que muitas vezes são estabelecidas de forma centralizada pela coordenação pedagógica ou pela direção da escola. Essa situação pode comprometer a qualidade da avaliação e o desenvolvimento de habilidades e competências dos estudantes. REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 88 Por fim, a fala de P7 destaca as limitações impostas pela falta de tempo e de recursos, que podem levar à opção por questões objetivas em detrimento de questões que demandam reflexão e análise crítica por parte dos estudantes. Essa escolha pode comprometer a qualidade da avaliação e a formação dos alunos, que muitas vezes são formados para responder questões prontas em vez de desenvolver habilidades mais complexas. A avaliação, portanto, acaba tendo, para os estudantes, um caráter punitivo, que não inspira qualquer senso de autoavaliação, nem de crítica e nem de compreensão de si mesmo em um processo qualificatório de ensino-aprendizagem, como expresso a seguir: Tem medo por não compreender esse processo, não estudam ou realizam eles com comprometimento para ampliar conhecimentos (P1); Um estresse contínuo, desenvolvendo crises de ansiedade e pânico, pois a grande maioria tem dificuldades na área das exatas e biológicas, porém não podem imaginar ficar em “exame” ou ficar abaixo da média. Triste realidade que coloca o aluno que tem um baita desempenho na redação, em crises de identidadepor se achar muito “burro” em Matemática, por exemplo (P2); Os mesmos não estão mais acostumados com o ensino (P3); Entendem como uma cobrança e não como análise do processo (P4); Punitiva, seja pela pressão familiar, seja pela “cisma” de alguns professores (P7). Também se observa que os traumas causados aos estudantes pelos processos avaliativos se intensificaram durante o período de predominância do ensino remoto, recrudescendo o papel dos processos avaliativos no cotidiano curricular. Nesse sentido, o isolamento ao qual os estudantes foram obrigados, em razão da pandemia, prejudicou a sociabilidade, o que também é parte da avaliação, visto que esta exige conhecimento e compreensões interpessoais. Quanto a isso, as maiores dificuldades apontadas se resumem no seguinte: Acesso ao sistema on-line, suporte familiar, dedicação e entrega das atividades (P1); Nesse período o relato da maioria deles era que não conseguiam ficar atentos à tela do computador e por isso se dispersavam com muita facilidade, além do medo e do luto em alguns casos (P2); Falta de concentração (P3); Foco e empenho no estudo (P4); Falta de autonomia. Não conseguem/sabem estudar. Principalmente no ensino fundamental. Houve questões particulares também, como falta de recursos como sala de estudo adequada em casa, computador, celular, Tablet (P7); Realizar as atividades remotas (P8); Não conseguiam acompanhar muitas vezes pela qualidade da infraestrutura em casa. Mas REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 89 também muitos que tinham condições não tinham apoio da família. E acabavam não focando. Desorganizaram-se. Alguns nem caderno tinham porque já não tinham que sair para a escola (P9); Recursos tecnológicos/ falta de interesse (P10). As falas evidenciam uma série de desafios enfrentados pelos estudantes durante o período de ensino remoto, incluindo questões relacionadas ao acesso à tecnologia, suporte familiar, concentração, autonomia e organização. Além disso, alguns estudantes foram afetados pelo medo e luto, que dificultaram a sua capacidade de permanecerem concentrados na tela do computador. Outros relataram falta de recursos, como salas de estudo adequadas, computadores, celulares e tablets, o que acabou comprometendo o seu desempenho. Esses desafios refletem a necessidade de políticas educacionais que possam garantir a equidade no acesso à tecnologia e a recursos para o estudo remoto, além de incentivar a participação e o envolvimento das famílias no processo de aprendizagem. A educação como a conhecemos tem como característica intrínseca a execução de processos avaliativos que se apresentam na forma de provas cujos resultados são expressos em somatórias quantitativas que conferem notas ao desempenho dos estudantes. Isto reflete-se nas pesquisas sobre a realidade das avaliações nas escolas realizadas por Freitas (1995, p. 143), as quais afirmam que estudantes, professores, familiares e administradores, na condição de atores da educação, centralizam as atenções sobre as notas resultantes das avaliações como fator primordial para mensurar o desempenho escolar. Tal viés estatístico, entretanto, ocorre de forma independente em relação ao processo de aprendizagem, e até mesmo subordinando-o, pois a excelência escolar expressa em notas é uma “construção intelectual, cultural, social” estabelecida (Perrenoud; Thurler, 2009, p. 17), ainda que seja também uma “construção artesanal”, em vista de ser resultado das ações de múltiplos atores sociais. Compreendendo a execução tradicional dos processos avaliativos nas escolas, Sacristán (2000) afirma que a coleta de informações sobre os estudantes realizada tanto formalmente quanto informalmente e centralizada no juízo do professor é refinada em seleções e elaborações que pretendem extrair um status sobre o aproveitamento que o estudante tem do processo de ensino/aprendizagem. Os dados obtidos, contudo, sofrerão, inevitavelmente, inferência das ponderações feitas pelo próprio professor como sujeito em si, fator que, para Camargo (1997), desvela a insuficiência desse tipo de processo REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 90 avaliativo em vista da relevância dos resultados almejados. Isto é perceptível nos argumentos dos professores entrevistados a respeito do que seus estudantes pensam e dizem das avaliações, as quais são tidas negativamente em vista de representarem a ocasião de se reproduzir elementos previamente memorizados em um instrumento único a partir do qual se produzirá uma nota numérica que, por sua vez, classifica o sujeito como aprovado ou reprovado. Segundo Camargo (1997), os procedimentos avaliativos são elementos articuladores das percepções e das concepções que os estudantes estabeleceram sobre suas realidades de vida, e os condicionam, como sujeitos, a buscar formas de transpor obstáculos da mesma forma que buscam aprovação em uma prova escolar, pelos métodos mais simplificados. Estes, sendo procedimentos estranhos à estrutura do pensamento, tornam-se concorrentes da aprendizagem real, contribuindo para a alienação dos sujeitos quanto à própria aprendizagem, o que na prática quer dizer desenvolver cidadãos passivos em relação ao conhecimento, incapazes de articulações críticas complexas e com inevitável neutralidade diante de fatos controversos. Logo, segundo o autor supracitado, os processos avaliativos como o conhecemos são inevitavelmente alienantes e hierarquizantes que contribuem para a redução da autoestima tanto em relação à educação quanto à própria vida em sociedade (Camargo, 1997). O distanciamento entre teoria e prática A introdução do ensino on-line trouxe consigo desafios significativos para os professores, que sentiram a necessidade de compreender melhor a relação entre o conhecimento teórico que possuíam sobre os processos avaliativos e as suas práticas de ensino. Os resultados obtidos indicaram que as avaliações mais comuns no contexto educacional brasileiro são as provas periódicas, que são realizadas ao final de cada bimestre ou trimestre. É preocupante observar que as práticas de avaliação entre pares e estudos de caso são pouco utilizadas pelos professores que responderam ao questionário. Apesar de terem decorrido mais de dois anos desde o início da pandemia, os processos avaliativos mais relacionados com as condições do ensino remoto não foram mencionados pelos professores participantes. Isso levanta questionamentos sobre o porquê de as formas tradicionais de avaliação REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 91 ainda prevalecerem. É importante notar que as avaliações on-line, produção audiovisual, resumos e seminários são realizados de forma moderada em relação aos demais processos avaliativos, conforme Tabela 1. Tabela 1 – Instrumentos de avaliação indicados pelos professores participantes da pesquisa Instrumento de Avaliação Não Utilizo Raramente Pouco Recorrentemente Atividade de múlti- pla escolha 0 (0,00%) 2 (16,6%) 4 (33,3%) 6 (50%) Resposta construída 5 (41,6%) 1 (8,3%) 1 (8,3%) 5 (41,6%) Atividades para casa (tema) 2 (16,6%) 2 (16,6%) 4 (33,3%) 4 (33,3%) Autoavaliação 4 (33,3%) 4 (33,3%) 2 (16,6%) 2 (16,6%) Avaliação entre pares 8 (66,67%) 1 (8,3%) 3 (25%) 0 (0,00%) Avaliações on-line 6 (50%) 3 (25%) 3 (25%) 0 (0,00%) Estudos de caso 8 (66,67%) 4 (33,3%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) Exames avaliativos escritos ao final de um período escolar 0 (0,00%) 1 (8,3%) 2 (16,6%) 9 (75,00%) Junção de uma ou mais atividades trabalhadas pelo professor 1 (8,3%) 5 (41,6%) 4 (33,3%) 2 (16,6%) Listas de exercícios 1 (8,3%) 5 (41,6%) 4 (33,3%) 2 (16,6%) Observação de desempenho 6 (0,00%) 6 (50%) 2 (16,6%)4 (33,3%) Produções audio- visuais 4 (50,00%) 3 (25%) 2 (16,6%) 1 (8,3%) Produções coletivas e individuais de tra- balhos e pesquisas. 4 (33,3%) 1 (8,3%) 5 (41,6%) 2 (16,6%) Produções orais 4 (33,3%) 5 (41,6%) 1 (8,3%) 2 (16,6%) Questionários 5 (41,6%) 3 (25%) 3 (25%) 1 (8,3%) Relatórios 5 (41,6%) 3 (25%) 3 (25%) 1 (8,3%) REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 92 Resumos dos con- teúdos trabalhados 6 (50%) 1 (8,3%) 3 (25%) 2 (16,6%) Seminários 6 (50%) 1 (8,3%) 3 (25%) 2 (16,6%) Testes rápidos e/ou trabalhos simples durante ou ao final das aulas 5 (41,6%) 3 (25%) 2 (16,6%) 2 (16,6%) Fonte: Os autores. Sobre o desenvolvimento das avaliações no período, destaca-se: Através da entrega de atividades, pesquisa e avaliação específica (P1); Foi on-line e com provas prontas pela Plataforma que a escola era conveniada. O que se apresentou depois foi bem diferente, alunos com bastante déficit e falta de base em coisas simples e primordiais (P2); A orientação que tivemos era se o aluno participou nem que fosse 2min de um Google Meet. Deveria ser aprovado. Não que eu queira aprovar ou reprovar, mas a forma, demandas contraditórias, comprovantes e orientações para darmos quantidade X de atividades no mês, etc. Os alunos sabiam disso, logo poucos mantiveram o interesse (P7); A avaliação foi realizada considerando as devoluções das atividades remotas (P8); Por participação. Valorizando trabalhos realizados (P9); Avaliações escritas, a partir das atividades realizadas, poucos alunos faziam. A avaliação foi limitada e entendo que da forma como ocorreu praticamente não se tem como afirmar muito sobre os seus resultados (P11). As falas apresentadas mostram diferentes perspectivas sobre a avaliação no ensino on-line. A fala P1 destaca que a entrega de atividades e a avaliação específica foram os meios utilizados para avaliar os alunos, sem especificar quais métodos foram utilizados para avaliar essas atividades. Por outro lado, a fala P2 menciona que, embora a escola tivesse uma plataforma pronta para realizar provas on-line, os alunos apresentavam falta de base em conhecimentos simples e primordiais, o que pode indicar que a avaliação por meio de provas pode não ser suficiente para medir o aprendizado dos alunos em um ambiente virtual. Já a fala P7 mostra que as orientações para os professores foram contraditórias e demandavam muitos comprovantes, o que pode ter desmotivado os alunos. Por sua vez, a fala P8 destaca a importância de se considerar a participação dos alunos na avaliação, enquanto a fala P9 destaca a valorização dos trabalhos realizados. Por fim, a fala P11 aponta que a avaliação escrita foi limitada, com poucos alunos realizando as atividades REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 93 propostas, o que dificulta a interpretação dos resultados. Essa fala sugere a necessidade de repensar os métodos de avaliação no ensino on-line, especialmente em relação às atividades escritas e às provas. Neste sentido, é possível compreender que as avaliações empreendidas durante o período de referência não priorizaram mensurar o ensino e a aprendizagem, mas sim manter os estudantes frequentando as aulas no “novo ambiente escolar remoto”, em virtude da preocupação governamental em relação à evasão escolar e às taxas de reprovação inevitáveis com a inserção de novas dificuldades. Além disso, os professores também expressaram a insuficiência de políticas de formação profissional para atuação em condições de ensino remoto a partir da pergunta “A sua instituição/rede de ensino já proporcionou cursos de formação continuada destinados ao processo de avaliação? Caso tenha, quanto contribuíram na qualificação de sua prática?” Gráfico 1 – Formação continuada sobre processos avaliativos no período de pandemia Fonte: Os autores. Podemos compreender aqui que a falta de qualificação metodológica específica para o contexto educacional do período pandêmico prejudicou a maioria dos professores, uma vez que novas formas de avaliação tornaram-se necessárias. Mesmo os professores que receberam orientações metodológicas relatam que elas foram pouco contributivas, com exceção de um professor de uma rede privada de ensino, que considerou a formação continuada REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 94 oferecida de boa qualidade. Na literatura técnica, há análises extensas sobre a discrepância entre as qualidades de ensino em redes pública e privada, com conjecturas de que os estudantes que obtiveram educação formal em redes públicas durante o período pandêmico foram prejudicados. A formação continuada teria sido fundamental, uma vez que dela dependem os instrumentos de avaliação que permitem aos professores verificar se os alunos adquiriram os conhecimentos necessários para serem aprovados e avançarem para a próxima etapa do ensino. A partir das respostas às questões anteriores, surgem outros questiona- mentos que destacam a importância de avaliar criticamente e contextual- mente os processos avaliativos, especialmente em relação aos atores sociais envolvidos. Durante o período de ensino remoto, os estudantes foram privados do convívio social e do acompanhamento individualizado que os professores deveriam realizar, o que fragilizou as relações entre eles. Nesse contexto, Caldeira (2013) ressalta a importância dos eventos de significação ímpar para os atores sociais no cotidiano escolar, que vão além das adequações metodológicas exigidas pelas avaliações. Pizarro e Lopes Junior (2017) enfatizam que os instrumentos avaliativos devem estar alinhados às metodologias de ensino do professor, a fim de promover a aprendizagem e a relação entre professor e estudante, que é fundamental, como Aquino (1996) destaca, para o posicionamento dos sujeitos perante os conteúdos, avaliações e metodologias. Caldeira (2013) não se furta de apontar, também, a importância das manifestações de afeto que se apresentam nas relações interpessoais no ambiente escolar para a eficácia da aprendizagem e para o desenvolvi- mento do professor em sua atividade profissional. A proximidade propiciada pelo ambiente escolar permite ao professor identificar as individualidades dos estudantes em relação à aprendizagem de cada um e buscar métodos específicos para superar as dificuldades apresentadas, além de qualificar o ensino como um todo. Em um período no qual isto não foi possível, os professores tiveram de perceber, como Schön (1997, p. 21) que em situações de conflito e desafio excepcionais, técnicas tradicionais não terão o mesmo efeito que em condições anteriores, “simplesmente não resolve problemas”. Isto exige que o professor seja capaz de analisar sua própria atuação e, para além disso, direcioná-la de acordo com cada necessidade específica, a fim de REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 95 que a aprendizagem seja sempre estimulante (Belotti; Faria, 2010), e algumas respostas dos professores demonstram que houve interesse por orientações que modificaram a dinâmica dos processos avaliativos durante o período pandêmico: Criar opções de avaliação interdisciplinar (P1); Aceitar a autoavaliação, a avaliação pelos pares (P2); Tornar os períodos maiores que bimestre para expressar os resultados (P4); Tornar a compreensão de que uma reprovação não é um ano que se perde, mas uma nova oportunidade (P7); Retirar a atribuição de notas aos alunos sem critérios bem definidos (P8); Aumentar a carga horária para planejarmos em nossa área e entre as áreas curriculares. A Avaliação deveria ser um conjunto pensando no desenvol-vimento social e cognitivo do aluno (P9); Remover as progressões parciais (P12). Assim sendo, as falas dos professores indicam que eles reconhecem a necessidade de modificar as práticas avaliativas durante a pandemia e estão abertos a novas opções. As sugestões apresentadas variam desde a criação de opções interdisciplinares até a remoção de progressões parciais. A sugestão de aceitar a autoavaliação e a avaliação pelos pares (P2) pode ser vista como uma forma de dar aos alunos mais controle sobre seu próprio processo de aprendizagem, além de incentivar a reflexão e a metacognição. É importante notar, no entanto, que essa abordagem pode ser afetada por vieses pessoais e subjetividades que podem atingir negativamente a precisão da avaliação. A sugestão de tornar os períodos maiores do que bimestres para expressar resultados (P4) pode ajudar a aliviar a pressão sobre os alunos e permitir que eles tenham mais tempo para absorver e aplicar os conceitos aprendidos. Além disso, essa abordagem pode oferecer aos professores mais tempo para fornecer feedback detalhado aos alunos. A sugestão de remover a atribuição de notas aos alunos sem critérios bem definidos (P8) pode ajudar a garantir que a avaliação seja justa e objetiva, e que os alunos não sejam prejudicados por práticas de avaliação inadequadas. Além disso, essa abordagem pode incentivar os professores a se concentrarem mais na compreensão do processo de aprendizagem dos alunos em vez de apenas nas notas. A sugestão de criar opções de avaliação interdisciplinar (P1) pode ser compreendida como uma forma de incentivar o trabalho em equipe e a colaboração entre disciplinas, o que pode ser especialmente útil em um contexto de ensino remoto incentivando, mesmo que virtualmente, o REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 96 desenvolvimento de competências e habilidades sociais. Além disso, essa abordagem pode ajudar a desenvolver habilidades de pensamento crítico e solução de problemas em conjunto. Vale ressaltar, todavia, que, para realizar uma avaliação interdisciplinar é necessário o desenvolvimento dos conteúdos escolares a partir de uma temática relevante socialmente, em que todos possam dialogar sobre o mesmo assunto sem perder de vista os conceitos disciplinares. O uso de temáticas no ensino é uma abordagem pedagógica que tem ganhado destaque na educação contemporânea. Ao contrário do ensino tradicional, que se concentra em apresentar conceitos de forma isolada e sem contexto, a utilização de temas no processo de aprendizagem busca integrar diferentes áreas do conhecimento em torno de um tema central, permitindo que os alunos compreendam a complexidade e a interconexão entre os diversos saberes. Diversos autores defendem a importância do uso de temáticas no ensino como forma de tornar a aprendizagem mais significativa. Segundo Delors et al. (1996), a educação deve ser capaz de promover a formação de pessoas capazes de pensar de forma crítica e reflexiva, compreendendo a realidade de forma ampla e contextualizada. Nesse sentido, o uso de temáticas no ensino, segundo o autor, pode contribuir para o desenvolvimento dessas habilidades, dado que permite que os alunos estabeleçam relações entre diferentes áreas do conhecimento e percebam como elas se relacionam com o mundo em que vivem. Além disso, a utilização de temáticas no ensino também pode contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes e engajados socialmente. Segundo Brandão (2017), a escola deve ser um espaço de formação de sujeitos críticos e ativos na transformação da sociedade em que vivem. Ao abordar temáticas que têm relevância social e política, o ensino pode contribuir para que os alunos se tornem agentes de mudança em suas comunidades. Nesse sentido, para que o uso de temáticas no ensino seja efetivo, é importante que os professores estejam preparados para trabalhar de forma interdisciplinar e integrada. Segundo Delors et al. (1996), o ensino por temáticas requer uma mudança de paradigma em relação à forma como a educação é concebida, demandando uma postura mais flexível e colaborativa por parte dos professores. REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 97 Além disso, é importante que as temáticas escolhidas sejam relevantes e significativas para os alunos, permitindo que eles se sintam motivados e engajados no processo de aprendizagem. Na concepção de Gadotti (2004), as temáticas devem ser escolhidas a partir das necessidades e interesses dos alunos, levando em consideração as questões que são relevantes para sua vida. O uso de temáticas no processo de avaliação na Educação Básica é uma estratégia que tem sido cada vez mais utilizada para desenvolver habilidades e competências dos estudantes. Com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as competências e habilidades passaram a ser o foco do ensino, e a utilização de temáticas no processo de avaliação é, como já mencionado, uma forma de integrar diferentes áreas do conhecimento e desenvolver essas habilidades de forma mais efetiva (Souza; Aragão; Ferrari, 2017). Quando questionados, todos os professores participantes da pesquisa afirmaram que entendem a importância de se contextualizar o ensino, bem como o trabalho interdisciplinar a partir de temáticas com seus alunos. O Gráfico 2 expõe as temáticas consideradas mais importantes, segundo os professores participantes (salienta-se que os números correspondem à quantidade de professores que citaram interesse pela temática, os quais poderiam indicar mais de uma temática). Gráfico 2 – Temáticas consideradas importantes pelos professores a serem trabalhadas no contexto escolar Fonte: Os autores. REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 98 A análise dos temas indicados pelos professores pode fornecer informações importantes para a elaboração de projetos educacionais mais integrados e significativos para os alunos. A diversidade cultural e a educação ambiental foram os temas mais citados pelos professores entrevistados, indicando que há uma preocupação em abordar questões relacionadas à sustentabilidade e ao respeito à diversidade cultural. Outros temas importantes citados pelos professores foram a adolescência e reconhecimento, educação alimentar e nutricional, fontes de energia sustentável, saúde e bem-estar, tecnologias e mundo digital. Esses temas abordam questões relevantes para a vida dos alunos, tais como a alimentação saudável, o uso consciente das tecnologias e a preocupação com o meio ambiente e o bem-estar pessoal. É importante ressaltar, no entanto, que a escolha dos temas deve ser baseada nas necessidades e interesses dos alunos, levando em consideração as questões que são relevantes para sua vida, isto é, apesar de os professores compreenderem que tais temáticas são relevantes para os alunos, deve-se, sempre que possível, estabelecer democraticamente entre professores e alunos a escolha. Dessa forma, democratizando e incluindo o aluno no planejamento com o uso de temáticas, o processo de avaliação pode tornar o ensino mais significativo para os estudantes, pois permite que eles relacionem o conteúdo aprendido com situações reais que os incentivam a aplicação/leitura por meio dos conhecimentos científicos escolares do mundo em que vivem. Isso pode aumentar a motivação dos estudantes para aprender e, consequentemente, melhorar o desempenho nas avaliações. Além disso, ao trabalhar com temas relevantes socialmente, é possível desenvolver nos estudantes a consciência cidadã e a responsabilidade social, formando indivíduos críticos e engajados com a sociedade em que vivem. Dessa forma, o uso de temáticas no processo de avaliaçãopode ser uma estratégia valiosa para o desenvolvimento de habilidades e competências previstas na BNCC, assim como para a formação de cidadãos conscientes e responsáveis (Souza; Aragão; Ferrari, 2017). Em resumo, o uso de temáticas no ensino pode contribuir para uma educação mais significativa e integrada, permitindo que os alunos compreendam a complexidade e a interconexão entre diferentes áreas do conhecimento e desenvolvam habilidades críticas e reflexivas melhorando a REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 99 qualidade e consequentemente os índices de aproveitamento escolar. Para que essa abordagem seja efetiva, no entanto, é importante que os professores estejam preparados e que as temáticas escolhidas sejam relevantes e significativas para os alunos. CONCLUSÃO Diante das reflexões apresentadas, é fundamental repensar a educação a partir dos processos avaliativos, levando em consideração as limitações impostas durante a pandemia, que revelaram falhas no sistema educacional brasileiro. Todos os envolvidos, especialmente na área de Ciências, devem analisar criticamente as estratégias que podem ser adotadas em diferentes contextos para minimizar os prejuízos causados pelas limitações à educação impostas neste período. É importante reconhecer que os problemas enfrentados pelos estudantes originam-se em diversas esferas da vida, como questões sociais, culturais e psicológicas, que podem ser individuais ou coletivas, e não necessariamente estão relacionados aos conteúdos curriculares ou aos métodos de avaliação. Além disso, é fundamental ressaltar que as dificuldades decorrentes do isolamento social não se limitam apenas às questões de acesso à tecnologia, mas também estão relacionadas a lacunas que já existiam na educação presencial anterior a 2020, como as dificuldades de permanência e sucesso escolar. Estas dificuldades devem ser consideradas na seleção de temática a fim de superá-las. Os professores participantes compreendem a importância de se criar opções de avaliação interdisciplinar e o uso de temáticas no ensino são abordagens pedagógicas relevantes e eficazes na educação contemporânea. Entendemos que o ensino por meio de temáticas permite que os alunos compreendam a complexidade e a interconexão entre diferentes saberes e ajudam a desenvolver habilidades de pensamento crítico, solução de problemas e competências sociais, além de contribuírem para a formação de cidadãos mais conscientes e engajados socialmente. É necessário, contudo, que os professores estejam preparados para trabalhar de forma interdisci- plinar e integrada, além de escolherem temas relevantes e significativos para os alunos. A análise das temáticas citadas pelos professores pode fornecer informações importantes para a elaboração de projetos educacionais mais integrados e significativos. REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 Al i s son Verce l ino Beerbaum – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 100 A fim de conclusão, embora haja constantes discussões, em momentos de emergência como o da pandemia de Covid-19, é importante que as políticas públicas de educação possam responder rapidamente às necessidades emergentes de cada contexto, demandando um aumento nos debates sobre esses temas e a busca por estratégias eficazes de aprendizagem em paralelo a políticas de formação continuada que venham a atender às demandas extraordinárias do contexto emergente. REFERÊNCIAS AQUINO, Julio Gropa. 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Segundo estes autores, é por intermédio da atividade de ensino que são desenvolvidos “modos de prover nos indivíduos, metodologicamente, formas de apropriação e criação de ferramentas simbólicas para o desenvolvimento pleno de suas potencialidades” (Idem). Leontiev dá ênfase ao processo de apropriação, como condição para o desenvolvimento do ser social. Para este autor, “o processo de apropriação do mundo dos objetos e fenômenos criados pelos homens no decurso do desenvolvimentohistórico da sociedade é o processo durante o qual teve lugar a formação, no indivíduo, de faculdades e de aptidões tipicamente humanas”. Para Saviani (2011, p. 15), a escola existe para propiciar a apropriação dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como do próprio acesso aos rudimentos desse saber. Compreender a escola como o lugar social privilegiado para a apropriação dos conhecimentos produzidos pela humanidade é necessariamente assumir que a atividade de A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 104 ensino deve estar organizada intencionalmente para essa finalidade. Isso requer a clareza sobre o currículo para que não ocorra o seu esvaziamento e a distorção das atividades nucleares. Saviani (2011, p. 16) define currículo como o conjunto de atividades nucleares desenvolvidas pela escola. E por que isto? Porque se tudo o que acontece na escola é currículo, se se apaga a diferença entre curricular e extracurricular, então tudo acaba adquirindo o mesmo peso; abre-se assim caminho para toda sorte de tergiversações, inversões e confusões que terminam por descaracterizar o trabalho escolar. Essas questões levam-nos a pensar sobre a especificidade da escola e da atividade de ensino, de forma que a sua estruturação contemple ações que produzam no aluno a necessidade do estudo e a iniciativa deles sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor, que tem a responsabilidade de conduzir o processo pedagógico. Tais ações devem favorecer o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente. Entendemos que os interesses dos estudantes, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico são elementos importantes a considerar no processo de planejamento da atividade de ensino, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeito dos processos de socialização e de apropriação dos conhecimentos (Saviani, 2018). Segundo Leontiev (2004), o desenvolvimento psíquico é desencadeado quando a pessoa passa a participar de uma atividade coletiva que lhe traz novas necessidades e exige dela novos modos de ação. Para este autor, a atividade são “os processos que são psicologicamente determinados pelo fato de aquilo para que tendem no seu conjunto (o seu objeto) coincidir sempre com o elemento objetivo que incita a pessoa a uma dada atividade, isto é, com o motivo” (Idem, p. 315). A atividade é o modo como nos inserimos na realidade objetiva (Martins, 2013), ou seja, tudo o que fazemos vincula-se a alguma atividade na vida concreta de cada um de nós. Nessa linha de pensamento, Sforni (2004, p. 95) destaca que “é na inserção nessa atividade que abre a possibilidade de ocorrer realmente um ensino significativo”. Segundo Leontiev (2021), o fator desencadeador da atividade é a necessidade; é ela que motiva o sujeito a ter objetivos e a realizar ações para supri-los. No que se refere à vinculação do desenvolvimento humano ao processo educacional, defendemos ser necessário dar ênfase A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 105 ao estudo da atividade pedagógica, como unidade dialética entre o ensino e a aprendizagem, com vista ao desenvolvimento das funções psicológicas superiores (Bernardes, 2006), mediada pelas significações sociais elaboradas pelo homem e constitutivas daquelas pessoas que têm acesso a elas. Reconhecer o significado da atividade de ensino para os professores participantes no projeto “Processo interativo de formação docente no contexto da educação básica: uma perspectiva emancipatória de currículo no ensino híbrido” foi um elemento considerado importante pelo grupo, pois é fundamental para a compreensão do que motiva a atividade docente, isto é, qual é o sentido pessoal atribuído a essa atividade, uma vez que o sentido relaciona-se diretamente com a significação social. Nesse sentido, Basso (1994, p. 38-39) refere que: Se o sentido do trabalho docente atribuído pelo professor que o realiza for, apenas, o de garantir a sua sobrevivência, trabalhando só pelo salário, haverá a cisão com o significado fixado socialmente, entendido como função mediadora entre o aluno e os instrumentos culturais que serão apropriados, visando ampliar e sistematizar a compreensão da realidade, e possibilitar objetivações em esferas não-cotidianas. Neste caso, o trabalho alienado do docente pode descaracterizar a prática educativa escolar. Entendendo que educação são os processos de transmissão e de apropriação da cultura produzida historicamente, defendemos que é por meio da educação que nos humanizamos, tornando-se possível a formação de nossa segunda natureza, a natureza social. Considerando a especificidade da escola e a atividade de ensino diante da oferta do ensino híbrido, destacamos neste texto as ações desenvolvidas em parceria colaborativa entre professores, bolsistas de iniciação científica, mestrandos e doutorandos, vinculados ao Grupo Interdepartamental de Pesquisa sobre Educação nas Ciências (Gipec-Unijuí) e participantes do Projeto “Processo interativo de formação docente no contexto da educação básica: uma perspectiva emancipatória de currículo no ensino híbrido” e professores de uma escola de Educação Básica de Ijuí, denominada Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Padilha (EEEMAP). Nessa escola, ainda que houvesse a preocupação e o comprometimento dos professores e equipes diretivas (administrativa e pedagógica) com a aprendizagem dos conhecimentos que A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 106 a escola se propunha a desenvolver, tais conhecimentos, por vezes, não produzem sentido nos estudantes, que por conta disso muitas vezes não se aplicam na atividade de estudo. Nosso entendimento sempre foi de que anteriormente à organização da atividade de ensino de ensino é de fundamental importância que o professor tenha clareza sobre quais conhecimentos é necessário ensinar e quais as formas mais adequadas para apresentar tais conhecimentos aos estudantes para que eles sejam aprendidos. Isso requer produzir entendimentos sobre a função social da escola, sobre o ensino e o estudo e, especialmente, sobre a importância dos conhecimentos científicos no desenvolvimento psíquico do aluno e do próprio professor, os quais trazem marcas da racionalidade técnica. Essas considerações abrem espaço, no contexto escolar, para uma reorganização curricular, coletivamente pensada e planejada, via Situação de Estudo (SE). A SE é uma proposta curricular que traz como pressupostos teóricos a contextualização, a interdisciplinaridade e a articulação entre as pessoas incluídas no processo educativo. Segundo Maldaner e Zanon (2004), a SE permite que os conceitos sejam introduzidos, (re)contextualizados e (re) significados, produzindo relações entre significados e sentidos aos conceitos trabalhados. Ademais, se o nível de desenvolvimento psíquico conquistado pelo homem depende da apropriação da cultura humana, à atividade de ensino cabe a responsabilidade de oferecer as condições necessárias para a apropriação dos conhecimentos que possibilitam o surgimento das principais neoformações psicológicas da idade escolar. A neoformação é definida por Leontiev (2004, p. 169) como “[...] as aptidões e funções formadas no homem no decurso deste processo [reprodução] [...] às quais os mecanismos e os processos hereditários, inatos, não passam de condições interiores (subjetivas) necessárias que tornamo seu aparecimento possível [...]. Segundo Leontiev (2021), uma neoformação caracteriza-se por um novo tipo de estrutura da personalidade e da atividade (em cada idade específica), produzidas na interação social e que determina a consciência da pessoa, sua relação com o meio, bem como todo o curso de seu desenvolvi- mento. Isso significa que as neoformações, além de serem a estrutura (atual) da personalidade, atuam também como guias desse processo. E é por essa A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 107 razão que a compreensão de uma determinada idade exige que se analise, em sua totalidade, o processo de mudança da personalidade. Em se tratando da adolescência (idade para qual a atividade de ensino foi planejada), Davidov (1988, p. 83) refere que A neoformação psicológica central dessa idade (adolescência), é o surgimento do sentimento de maturidade como forma de manifestação da autoconsciência, que permite aos adolescentes comparar-se e identificar-se com os adultos e com os companheiros, encontrar modelos para imitação, construir segundo esses modelos suas relações com as pessoas. Foi considerando a perspectiva teórica apresentada que o presente trabalho foi desenvolvido, sempre atentando à especificada da escola e da atividade de ensino no processo de humanização dos estudantes e professores implicados no processo. Na sequência apresentamos a metodologia, considerando o contexto escolar. METODOLOGIA O contexto empírico deste estudo foi uma escola pública estadual de Ensino Médio, denominada Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Padilha, selecionada pela 36ª Coordenadoria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, para ser escola-piloto no processo de introdução de mudanças curriculares, segundo orientações da proposta curricular do Novo Ensino Médio (NEM). No processo de efetivação do NEM, a referida escola passou a oferecer dois Itinerários Formativos (IF), um deles denominado Saúde II e o outro Tecnologia I. No IF Saúde II as áreas de Ciências da Natureza e de Ciências Sociais Aplicadas foram as responsáveis pela condução da atividade de ensino. As áreas da Matemática e das Linguagens foram responsáveis pela condução do IF Tecnologia I. Neste texto socializamos ideias e reflexões que emergiram do processo de reestruturação curricular para e na instalação do Novo Ensino Médio, no espaço e tempo destinados ao IF denominado Saúde II e na disciplina Projeto de Vida, por meio do planejamento e desenvolvimento de uma SE intitulada “Alimentação e drogadição no funcionamento da máquina humana”, a qual foi desenvolvida em duas turmas de 1º ano do Ensino Médio (EM) que fizeram a opção por esse IF. A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 108 Participaram neste processo três professoras da escola, que à época desta pesquisa atuavam no 1º ano do Ensino Médio, um professor que prestava assessoria às escolas estaduais, auxiliando no processo de reestruturação do currículo escolar e que atuava na 36ª CRE, uma professora, um estudante de um curso de Graduação e três estudantes de Pós-Graduação (uma mestranda e dois doutorandos) de uma universidade comunitária localizada no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Os encontros de estudo e planejamento da atividade de ensino, pelo viés da SE, aconteceram semanalmente, durante o período de março a novembro de 2022, de modo híbrido. Os encontros foram gravados, transcritos e, posteriormente, analisados, constituindo-se em fonte de pesquisa e de avaliação das ações de ensino planejadas pelo grupo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade a que os autores estão vinculados. Todos os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), seguindo as orientações previstas na Resolução nº 510/2016 (Brasil, 2016) do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O processo iniciou-se pela análise e discussão sobre o projeto do NEM, considerando o proposto para o primeiro ano deste nível de ensino e atentos àquilo que está materializado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no Referencial Curricular Gaúcho (RCG) e no Novo Ensino Médio. Posteriormente, as discussões no grupo voltaram-se à compreensão de questões relacionadas à especificidade da escola e da atividade de ensino, chamando à responsabilização a escola e os professores que nela atuam, tendo em vista a função social de ambos no processo de desenvolvimento humano. O referencial teórico que sustentou nosso estudo foi o da perspectiva histórico- -cultural e da pedagogia histórico-crítica. Na sequência apresentamos ideias que perpassaram os encontros de estudo e de planejamento da atividade de ensino. A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DA ATIVIDADE DE ENSINO O planejamento da atividade de ensino foi realizado num processo mediado por discussões teóricas sobre o cuidado necessário para evitar o esvaziamento do currículo e de distorção das atividades nucleares da escola. No contexto escolar em que foi oferecido o ensino híbrido foi produzida A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 109 a Situação de Estudo “Alimentação e Drogadição no funcionamento da máquina humana”, num processo em que as pessoas envolvidas estiveram sempre atentas à contextualização, à interdisciplinaridade e à articulação entre conhecimentos e entre as pessoas incluídas no processo educativo. No contexto aqui apresentado, a atividade de ensino foi planejada a partir de características específicas (Saviani, 2018), considerando um processo no qual a atenção esteve centrada em cinco momentos, a considerar: a) o primeiro refere que o ponto de partida da atividade de ensino é a escolha do objeto complexo a ser estudado, comum a professor e aluno, guardados os devidos níveis de compreensão. No caso deste trabalho, o objeto trata de questões relacionadas à alimentação e à drogadição no funcionamento da máquina humana Para reconhecimento dos níveis de compreensão dos estudantes, nesse momento inicial levamos em conta a realidade social do estudante. Frisamos que esse primeiro movimento articula-se com o nível de desenvolvimento efetivo do estudante, tendo em vista a adequação do ensino aos conhecimentos já apropriados e ao desenvolvimento iminente, no qual o ensino deve atuar. Nesse sentido, o primeiro movimento foi o de reconhecimento de ideias dos estudantes sobre o objeto a ser estudado. Assim, questionamentos sobre: o que você entende por saúde?; quando eu posso afirmar que estou com saúde?; quais e por que alguns alimentos podem contribuir para a manutenção de um organismo saudável?; quais e por que alguns alimentos podem prejudicar o funcionamento dos sistemas responsáveis pelo funcionamento do nosso corpo?; que alimentos são mais consumidos em sua casa?; de onde provêm esses alimentos?; em que regiões do Brasil tais alimentos são produzidos?; como é o clima e o solo dessas regiões?; que alimentos não poderiam faltar na alimentação humana? Por quê?; você tem conhecimento da Política Nacional de Alimentação e Nutrição em vigor no Brasil?; que doenças podem ser desenvolvidas ou inibidas por conta da ingestão de alimentos?; o que significa para você obesidade, desnutrição, subnutrição e restrição alimentar? Esses questionamentos são considerados artifícios externos que convocam os estudantes a pensarem sobre as questões apresentadas. Esse movimento requer a (re)organização do pensamento do estudante para que ele (estudante) socialize com seus colegas de turma os conhecimentospor ele já apropriados. A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 110 Com Marsiglia (2011), reiteramos que o conhecimento dos estudantes, baseado em suas experiências cotidianas, pode contribuir para a organização inicial da atividade de ensino, mas não é condição para ela. Segundo este autor (2011, p. 24), “as experiências dos alunos são baseadas no senso comum, referem-se ao conhecimento ‘em-si’ e a forma de conhecimento que a escola deve dedicar-se a desenvolver é o conhecimento ‘para-si’”. Essa autora destaca que “a escola nem sempre encontrará nos interesses imediatos e nos conhecimentos prévios dos alunos os conteúdos que a escola deve transmitir e isso não significa que por isso não deva criar as necessidades e oferecer os conhecimentos históricos elaborados” (Idem). Com a intencionalidade pedagógica de produzir entendimentos para além daqueles já conquistados, outras questões foram introduzidas. Esse é considerado o segundo momento do processo e está relacionado com a identificação das principais questões postas pela prática social para a compreensão do objeto complexo, ou seja, a problematização sobre ele, com identificação daquelas questões que precisam ser resolvidas no contexto da atividade de ensino, e daqueles conhecimentos que são necessários saber. Foi com essa compreensão teórica que novas questões foram apresentadas aos estudantes, entre elas: quais as implicações na saúde das pessoas quando a dieta não está de acordo com as necessidades nutricionais diárias?; que doenças podem ser desenvolvidas pelo excesso ou falta de certos nutrientes?; qual a relação entre o tipo de alimentação e a origem étnica e cultural (alemã, italiana, árabe, polonesa, afro, indígena, entre outras) e seus modos/jeitos de produzir alimentos?; qual a relação entre setor econômico, político e social considerando a questão da alimentação?; por que tantas pessoas passam fome se nosso país produz tantos alimentos? Nos encontros de estudo e de planejamento da SE sempre esteve presente a preocupação em relação ao direcionamento do processo educativo para o alcance da apropriação da cultura humana, com base naquilo que já havia sido apropriado pelos estudantes e dos objetivos da atividade de ensino. Desta forma, o processo de produção da SE considerou as diversas dimensões do objeto complexo a evidenciar a importância dos conhecimentos ensinados, de modo que façam sentido para o estudante. A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 111 O terceiro momento considerado na organização da atividade de ensino, pelo viés da SE, foi o de instrumentalização. Esse é o momento de apropriação dos instrumentos teóricos e práticos necessários ao equacionamento dos problemas detectados na prática social (Saviani, 2018). Para que isso fosse possível tornou-se necessário oferecer as condições para que o estudante se apropriasse daqueles conhecimentos que lhes permitissem compreender o objeto complexo de forma mais complexa. Dessa forma, foram realizadas atividades experimentais, como a produção de pão; a identificação de substâncias que constituem alguns alimentos mais consumidos pelos adolescentes. Essa atividade ofereceu as condições necessárias para a apropriação de conceitos, como: substância; mistura; composição química dos ingredientes utilizados na fabricação de pão; calor; temperatura; densidade; respiração, levedação, entre outros. O quarto momento foi o da cartase; “elaboração-transformação da estrutura em superestrutura da consciência” (Saviani, 2018, p. 77). Para Marsiglia (2011), é o momento culminante do processo educativo, quando o estudante aprende o fenômeno de forma mais complexa. Segundo Saviani (2018, p. 72), “trata-se da efetiva incorporação dos instrumentos culturais, transformados agora em elementos ativos de transformação social”. No contexto da atividade de ensino, planejada via SE, os estudantes foram desafiados a socializarem seus conhecimentos, via seminário de sistematização. Nesse movimento foram apresentadas as elaborações produzidas a partir dos questionamentos iniciais. Importante destacar que esses momentos articulam-se entre si. O quinto momento refere-se ao ponto de chegada da atividade de ensino. O estudante, tendo se apropriado e sintetizado o conhecimento, tem entendimento e senso crítico para buscar seus objetivos de maneira transformadora. Com as ações educativas pensadas no contexto da SE “Alimentação e drogadição no funcionamento da máquina humana”, tivemos a intenção de produzir nos alunos sentidos para os conceitos estudados. A apropriação dos significados sociais implicados no processo aqui descrito possibilitam o desenvolvimento da consciência sobre alimentos mais recomendados para a manutenção de uma vida saudável. A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 112 O estudo sobre alimentação considerou que as células de defesa do nosso corpo dependem da ingestão de nutrientes essenciais que forneçam energia e estimulam o bom funcionamento do sistema imune, de modo a beneficiar a saúde como um todo. Uma vida bem-sucedida e um envelhecimento saudável estão diretamente relacionados com a qualidade dos alimentos, desde a sua produção até a ingestão. Assim, analisar os alimentos que ingerimos, compreender os processos de produção, armazenamento e transporte desses alimentos, as questões sociais, políticas e econômicas envolvidas, bem como as implicações de seu consumo no desenvolvimento de doenças ou na promoção da qualidade de vida são condições para a tomada de consciência sobre hábitos alimentares com vistas à promoção de mudanças. Assim com os alimentos interferem diretamente na saúde humana, a drogadição – adição a drogas (substâncias, naturais ou sintéticas, que causam alguma alteração no funcionamento do organismo) tem influenciado diretamente no bem-estar mental, social, físico, espiritual, emocional e profissional. Isso porque a ingestão de certas substâncias interfere nos diferentes sistemas: nervoso, respiratório, endócrino, digestório, urinário e reprodutor, pois a “máquina humana”, ou seja, o nosso corpo deve ser compreendido na sua totalidade, em que o funcionamento de um dos sistemas não pode ser visto de forma independente dos demais, mas sim como dependente. Nesse contexto, se o uso de drogas afeta o sistema nervoso, consequen- temente os demais sistemas funcionais, de alguma foram, também serão afetados. Compreender a drogadição e suas implicações no funcionamento e ação dos diferentes sistemas responsáveis pela manutenção de um organismo saudável é de fundamental importância numa sociedade que coloca à disposição da população diversificados tipos de drogas, sem a devida preocupação com os efeitos causados em seus usuários, uma vez que a preocupação é mais econômica do que de bem-estar das pessoas. A partir do entendimento da natureza e especificidade da escola compreendemos que é na capacidade humana de desenvolver neoformações que reside o processo de apropriação dos conteúdos trabalhados com os A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 113 estudantes. Segundo Vigotski (1995), os conteúdos disponibilizados à apropriação encerram aspectos qualitativamente distintos, deixando claro que nem toda a aprendizagem é, de fato, promotora de desenvolvimento. Nesse sentido, no grupo de estudo e de planejamento da SE, discutíamos quea seleção dos conteúdos a serem ensinados e a forma organizativa das tarefas escolares não podem ser secundarizadas. E, ainda, que à atividade de ensino cabe a responsabilidade de oferecer as condições necessárias para a apropriação dos conhecimentos que possibilitam o surgimento das principais neoformações psicológicas da idade escolar. Advertem sobre o cuidado necessário para evitar o esvaziamento do currículo e de distorção das atividades nucleares da escola. CONSIDERAÇÕES FINAIS Resultados do estudo desenvolvido levam a considerar que as exigências do meio social impostas ao adolescente, bem como as novas responsabilidades a ele confiadas, são fatores determinantes no desenvolvi- mento psíquico nessa idade. Para Elkonin (1960), a educação escolar deve incitar o aumento da independência do adolescente, que precisa, agora, organizar seu tempo, preparar suas tarefas e encontrar meios para resolver suas tarefas. Destacamos a importância deste processo de estudo e planejamento da atividade de ensino, via SE, por oferecer a oportunidade de reflexão em relação aos conteúdos, objetivos e competências a serem desenvolvidos na efetivação da proposta pedagógica, modalidade SE, e por se constituir um espaço de discussões, potencialmente capaz de produzir transformações de concepções e práticas, elevando o nível de desenvolvimento profissional docente. Entendendo que as capacidades humanas não são inatas, mas sim desenvolvidas pelo e no ser humano, mediante a sua participação ativa e interativa com outros seres humanos, e que a escola, via atividade de ensino, tem um papel fundamental no desenvolvimento dessas capacidades foi proposto um conjunto de atividades para que estudantes e professores pudessem se constituir cada vez mais humanos, com autonomia em relação às decisões a serem tomadas na vida, primando sempre pela saúde e bem-estar de todos. A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 114 Na perspectiva teórica assumida pelo grupo, a educação é entendida como uma via para o desenvolvimento psíquico e principalmente humano. Nesse sentido, ressaltamos aqui o papel do professor na organização de atividades coletivas valendo-se da compreensão do caráter coletivo da aprendizagem humana. Consideramos que a organização do ensino não é determinada por único aspecto, mas por uma “encruzilhada de culturas” que nas palavras de Pérez Gomes (2001) marcam o cotidiano escolar. A relação entre o desenvol- vimento individual e os processos formais de educação apresenta-se como relação marcadamente produzida por relações sociais e históricas. A influência de agentes externos à escola básica interfere, significativa- mente, na organização da atividade de ensino e limitam a autonomia e autoria do professor, no que diz respeito ao currículo produzido. A oferta do ensino híbrido tem fragilizado, ainda mais, o processo de apropriação, por parte do estudante, dos conteúdos ensinados, considerando as condições as quais são submetidos. A proposição da atividade de ensino, organizada pelo viés da SE, buscou superar o ensino centrado em conhecimentos que não fazem sentido para os estudantes e tampouco produzem neles motivos para o estudo. A escola deve lutar para ganhar espaço como instituição que busca estabelecer um currículo culturalmente situado, com a comunidade escolar, especialmente os professores, no centro das discussões, pois, afinal, as rédeas do processo são de responsabilidade deles (professores). Compreendemos que a apropriação dos significados por parte dos alunos não se limita ao desenvolvimento de atividades que apresentem relações entre conhecimentos de outras disciplinas/áreas. Consideramos que o processo de significação seja mais amplo e complexo, necessitando articulações e intencionalidades entre as atividades no processo de ensino. Entendemos a escola como a instituição social cuja especificidade é a socialização/transmissão, de forma sistematizada e organizada, do saber historicamente acumulado. O professor, na condição de sujeito condutor da atividade de ensino, é o responsável por essa socialização/transmissão. A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 115 REFERÊNCIAS BASSO, I. S. As condições subjetivas e objetivas do trabalho docente: um estudo a partir do ensino de história. 2004. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2004. BERNARDES, M. E. M. Mediações simbólicas na atividade pedagógica: contribuições do enfoque histórico-cultural para o ensino e a aprendizagem. 2006. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. BRASIL. Medida Provisória nº 746/2016. Promove as alterações no Ensino Médio. Diário Oficial da União, edição extra nº 184. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/39621-publicada-a-medida-provisoria-que- reformula-o-ensino-medio. Acesso em: 22 nov. 2021. DAVIDOV, V. V. La enseñanza escolar y el desarrollo psíquico: investigación psicológica teórica y experimental. Moscú: Editorial Progreso, 1988. ELKONIN, D. B. Desarrollo psíquico del niño desde el nacimiento hasta el ingreso en la escuela. In: SMIRNOV, A. A. et al. Psicología. México: Grijalbo, 1960. LEONTIEV, A. N. Atividade, consciência, personalidade. Tradução Priscila Marques. Bauru, SP: Mirveja, 2021. LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. 2. ed. Tradução Manuel Dias Duarte. São Paulo: Livros Horizonte, 2004. MALDANER, O. A.; ZANON, L. B. Situação de estudo: uma reorganização do ensino que extrapola a formação disciplinar em Ciências. In: MORAES, R.; MANCUSO, R. (org.). Educação em ciências – produção de currículos e formação de professores. Ijuí: Editora Unijuí, 2004. MARSIGLIA, A. C. G. A prática pedagógica histórico-crítica na educação infantil e ensino fundamental. Campinas: Autores Associados, 2011. (Coleção Educação contemporânea). MARTINS, L. M. O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar: contribuições à luz da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica. Campinas, SP: Editora Autores Associados, 2013. MOURA, M. O. de et al. A atividade orientadora de ensino como unidade entre ensino e aprendizagem. In: MOURA, M. O. de (org.). A atividade pedagógica na teoria histórico-cultural. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2016. PÉREZ GÓMEZ, A. A cultura escolar na sociedade neoliberal. Tradução Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. A ESPECIFICIDADE DA ESCOLA E A ATIVIDADE DE ENSINO Mar l i Da l lagno l Fr i son – Jaque l ine Cacenote Maieron – Ros imer i D ias de Moura Puhl – Juan Gabr ie l Per i l la J iménez 116 SFORNI, M. S. Aprendizagem conceitual e organização do ensino: contribuições da Teoria da Atividade. Araraquara: JM, 2004. SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 11. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2011. SAVIANI, D. Escola e democracia. 43. ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2018. VIGOTSKI, L. S. Obras escogidas. Madrid: Visor, 1995. Tomo III. 117 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia Elizandra Lemke Maria Cristina Pansera-de-Araújo INTRODUÇÃO O presente estudo emergiu da constatação de uma demanda formativa docente sobre o Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo (TPACK) durante estudos no Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) e execução do projeto Processo Interativo de Formação Docente no Contextoio Mart ínez Pérez 14 dos conteúdos disciplinares na escola para favorecer um olhar interdisciplinar que envolve a compreensão de diferentes atores sociais e olhares sobre as implicações da pandemia. O Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo (Tpack) é objeto de discussão nas ações educacionais no período pós-pandemia da Covid-19, possibilitando a compreensão dos requisitos do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) como instrumentos culturais. As diversas Situações de Estudo analisadas no contexto de um ensino híbrido evidenciam que não há uma única forma de ensinar e aprender, pois existem diferentes maneiras, e o trabalho coletivo na escola pode estar aliado ao uso das tecnologias digitais, proporcionando momentos de aprendizagem que ultrapassam as paredes da sala de aula. A interação entre saúde, alimentação e ambiente na Educação Básica possibilita a contextualização e significação dos conceitos científicos no cotidiano escolar. Da mesma forma, a integração das questões curriculares e da sustentabilidade em todos os níveis de ensino instigam a postura crítica voltada à formação cidadã e promovem o estudo dos conteúdos das diferentes áreas do conhecimento de forma dinâmica, autônoma e interdis- ciplinar. A pandemia deixa grandes aprendizados para a humanidade em termos de cuidar todas as formas de vida e a necessária construção de ecocidadanias. Sabe-se que vivenciamos uma emergência que ainda não terminou, pois o cuidado do planeta diante da crise ambiental que ameaça a existência de todas as formas de vida e da própria espécie humana, exigem amplos processos formativos nas escolas e universidades para encarar e parar o aquecimento global, a perda da biodiversidade e da diversidade cultural. É necessário construir as mudanças culturais necessárias para resgatar a esperança na construção de outros mundos possíveis baseados na ética e na justiça. Precisamos avançar na formação de professores comprometidos com a sustentabilidade ambiental gerando uma educação crítica e transformadora baseada na interdisciplinaridade, complexidade e práxis libertadora (Moreno; Martínez, 2022). PREFÁCIO Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 15 REFERÊNCIAS MORENO, Diana Fabiola; MARTÍNEZ, Leonardo Fabio. Educação ambiental crítica freireana: análises das correntes e contribuições para a formação de professores. Tecné, Episteme y Didaxis: TED, n. 52, p. 47-64, 2022. PERINI-SANTOS, Ernesto. Desinformação, negacionismo e apandemia. Filosofia Unisinos, v. 23, 2022. Leonardo Fabio Martínez Pérez Professor titular Universidad Pedagógica Nacional – Colômbia ENSINO HÍBRIDO PARTE1 ENSINO HÍBRIDO PARTE1 19 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: Uma Perspectiva Emancipatória Curricular Eva Teresinha de Oliveira Boff Alisson Vercelino Beerbaum INTRODUÇÃO Considerando que a elaboração e o desenvolvimento de propostas inovadoras no desenvolvimento dos currículos de Educação Básica (EB), de modo a atender às demandas provocadas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e, em especial, os desafios originados pela pandemia da Covid-19, propomos neste texto compartilhar resultados de pesquisas originadas do projeto intitulado “Processo Interativo de Formação Docente no Contexto da Educação Básica: Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido”. O projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – Fapergs/Edital Sebrae/RS 03/2021 – teve como objetivo constituir um processo interativo de formação docente para compreender, investigar, produzir e desenvolver material didático com uso de tecnologias, de modo a ampliar as possibilidades de ensino e de aprendizagem de conhecimentos científicos, pelos professores e seus estudantes, em uma perspectiva crítico-emancipatória que permita maior autonomia do coletivo quanto ao enfrentamento dos desafios provocados pela pandemia e o ensino híbrido. Destacamos aqui uma concepção de organização do currículo escolar que valoriza a formação de professores pela pesquisa, ou seja, um/a docente que investiga sua própria prática com um olhar sempre atento a seus alunos FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 20 em sua singularidade. Tal concepção, denominada de Situação de Estudo (SE), teve centralidade na pesquisa desenvolvida com professores de escolas públicas de Educação Básica. A SE contempla as aprendizagens essenciais para a EB desde temáticas relevantes sob o ponto de vista social, cultural, de saúde e ambiental, que podem ser organizadas, conforme proposto na Base Nacional Comum Curricular-BNCC (Brasil, 2018), na produção de material didático com o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). As orientações contidas na BNCC parecem favorecer um currículo emancipatório de acordo com as concepções de SE, uma vez que cria possibilidades de formação pela pesquisa na Educação Básica, além de buscar romper com a fragmentação do conhecimento e promover autonomia e empreendedorismo de estudantes e professores. Os professores, no entanto, ainda sentem dificuldades para enfrentar os desafios da formação das novas gerações, em especial em contextos de elevada necessidade de incrementar alternativas pedagógicas com o uso de equipamentos e/ou aplicativos tecnológicos. Além disso, a maioria dos alunos de escolas públicas enfrenta uma grande precariedade nas possibilidades de comunicação via Internet. Presenciamos inúmeras escolas em que os alunos dispõem apenas de um celular com pacote de dados móveis limitados, impossibilitando manter aulas remotas ou híbridas de qualidade. Como, então, enfrentar esta problemática sem perder a qualidade da Educação Básica, especialmente das crianças e adolescentes que frequentam escolas públicas e fazem parte das classes sociais menos favorecidas? Na compreensão de que professores de escola básica precisam estar envolvidos na elaboração de propostas curriculares em interação com professores da universidade, licenciandos, mestrandos e doutorandos, em coletivos de diferentes áreas do conhecimento, nosso objetivo, neste texto, é compartilhar alguns resultados e discussões realizadas no decorrer de um processo de formação docente, em uma perspectiva crítico-emancipatória, que buscou enfrentar os desafios do ensino híbrido a partir da pandemia da Covid-19. As características de SE, com especial atenção aos professores da área de Ciências da Natureza e Matemática, em interação com os demais campos do conhecimento, apresentam possibilidades de superação das lacunas deixadas nos processos de aprendizagem, especialmente no período da pandemia, visto que tem sua centralidade na formação pela pesquisa, a qual incentiva o FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 21 protagonismo dos estudantes. Trata-se de concepções de ensino que vão muito além do simples repasse dos conteúdos escolares, pois integram conceitos, procedimentos e atitudes com vistas à constituição de cidadãos capazes de transformar a realidade em que vivem, numa perspectiva de melhoria da qualidade de vida. OS CAMINHOS DA PESQUISA A pesquisa é qualitativa, orientada pela visão de espirais de ciclos autorreflexivos, conforme argumentos de Carr e Kemmis (1988), permeados pela reflexão-ação-reflexão coletiva. O estudo envolveu pesquisadores e estudantes de duas universidades brasileiras, além de pesquisadores de duas universidades estrangeiras (Portugal e Colômbia) e professores e estudantes de seis escolas públicas de Educação Básica. Nas escolas foram desenvolvidas propostas pedagógicas na modalidade de Situaçãoda Educação Básica: Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido, aprovado pela Fapergs. São inquietações sobre a Educação Básica, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), o ensino híbrido, os conhecimentos e saberes profissionais docentes e a interdisciplinaridade. Estas discussões expandiram-se com o impacto das TICs na sociedade e nas ações educativas desenvolvidas com estas tecnologias durante e após o auge da pandemia da Covid-19, em proposições como a do ensino remoto síncrono emergencial e o ensino híbrido. As TICs têm transformado as relações educacionais reforçando a necessidade da formação profissional docente com base no TPACK (Lemke; Pansera-de-Araújo; Boff, 2022). O advento das TICs na sociedade contemporânea, em geral, é marcado por mudanças que afetam os pensamentos, os valores e a forma de organização da sociedade. O viés educacional na abordagem das TICs de modo interdisciplinar é visto como essencial para enfrentar os desafios da atualidade. DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 118 O ensino híbrido é um modelo educacional que possui como característica dois modos de ensino: o ensino on-line com o aproveitamento de ferramentas das TICs para os processos de ensino e aprendizagem remotos síncronos e o ensino presencial com estudos em grupos, com o professor e que valoriza o ensino coletivo e colaborativo (Christensen; Horn; Staker, 2013). O ensino híbrido, para Bacich e Morán (2018), uma modalidade de ensino formal, diferencia-se dos demais modelos educacionais, principalmente por permitir ao estudante o controle sobre alguns elementos do seu processo de aprendizagem como tempo de estudo, local, ritmo, valorizando as relações das TICs com a construção do conhecimento. Nesse sentido, compreendemos que o professor possui papel fundamental para que as TICs se consolidem nas práticas pedagógicas, como argumentam Oliveira; Henriques; Gutiérrez-Fallas, (2018) assegurando que os conhecimentos dos professores com relação às TICs, nos processos de ensino e aprendizagem devem fazer parte da formação inicial e continuada de professores. Logo, de acordo com esses autores, o TPACK é uma alternativa de conexões e interconexões para o desenvolvimento de ações educacionais englobando as tecnologias. O TPACK é resultado de uma pesquisa com as tecnologias educacionais fundamentada no modelo de conhecimento de professor de Shulman (1986, 1987), constituído pelo: Conhecimento Pedagógico do conteúdo (PCK); Conhecimento do conteúdo (CK) e Conhecimento pedagógico (PK), a partir dos quais Mishra e Koehler (2006) propuseram um modelo de integração com as tecnologias, constituindo o Conhecimento da Tecnologia (TK), o Conhecimento Tecnológico do Conteúdo (TCK) e o Conhecimento Pedagógico da Tecnologia (TPK). O Quadro 1 apresenta a síntese desses conhecimentos. Quadro 1 – Síntese dos conhecimentos de TPACK Sigla Conhecimento Descrição CK Conhecimento do conteúdo Conhecimentos sobre os conteúdos que depen- dem da área ou disciplina do conhecimento. PK Conhecimento peda- gógico Conhecimentos sobre processos de ensino e aprendizagem, seus processos, métodos, etc. DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 119 PCK Conhecimento peda- gógico de conteúdo Conhecimentos pedagógicos sobre os conteú- dos, a forma como envolver os conteúdos especí- ficos de uma disciplina ou área do conhecimento de forma pedagógica a atingir os objetivos educa- cionais propostos. TK Conhecimento tecno- lógico Conhecimento sobre o funcionamento e uso de TIC. TCK Conhecimento tecno- lógico de conteúdo Conhecimento sobre os processos tecnológicos e as TICs mais adequadas para os conteúdos a serem desenvolvidos, conforme área do conheci- mento e/ou disciplina. TPK Conhecimento tecno- lógico pedagógico Conhecimento sobre as propostas e usos de recursos, TICs e outras ferramentas tecnológicas para os processos de ensino e aprendizagem. TPACK Conhecimento Tecno- lógico e Pedagógico do Conteúdo Domínio dos métodos pedagógicos de ensino que utilizam TICs de maneiras construtivas para desenvolvimento de um conteúdo. Fonte: Shulman (1986, 1987); Mishra, Koehler (2006). O quadro teórico do TPACK permite visualizar a aproximação entre os elementos de conteúdo, pedagógicos e tecnológicos. Conforme Behrens (2013), as práticas que envolvem as TICs devem estar em consonância com a proposta pedagógica e, de acordo com a metodologia de forma intencional podem estar relacionadas de maneira interdisciplinar. Ao analisarmos, no entanto, a realidade educacional, Fazenda (1994) demonstra que a prática pedagógica se desenvolve, ainda nos dias atuais, de modo bastante tradicional e, muitas vezes, descontextualizado, com conhecimentos fragmentados, visto que a interdisciplinaridade é citada mas não efetivada. A interdisciplinaridade possibilita a integração de conteúdos contextualizados e não lineares. Dessa maneira, consideramos que seus princípios de articulação de saberes e conhecimentos possibilitam trabalhar com as TICs, que favorece a sua integração e contextualização na sociedade atual. Para Kenski (2013), é necessário (re)pensar os processos de ensino e aprendizagem para uso das TICs de forma interdisciplinar na escola, pois assim as tecnologias estariam conectadas aos processos educacionais (Coll; Monereo, 2010). Assim, para o uso efetivo e com experiências de ensino e aprendizagem DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 120 significativas aos estudantes e profissionais da educação envolvidos nos processos educacionais é fundamental relacionar as TICs em um currículo interdisciplinar, compreendido como construção de conhecimento baseado na cultura, realidade e contexto. Nesse sentido o TPACK, nos processos pedagógicos de ensino e aprendizagem, supera a utilização das tecnologias como mera ferramenta educacional, em que a interdisciplinaridade e a integração das TICs, em conjunto com os conhecimentos do framework do TPACK, contribuíram para a promoção de um ensino reflexivo, crítico e com a desfragmentação dos conhecimentos. Para compreender melhor esse contexto procuramos responder à questão: Como o TPACK vem sendo utilizado em diálogo com o ensino híbrido e a interdisciplinaridade na Educação Básica? O objetivo deste estudo é dialogar sobre as TICs e o ensino híbrido na Educação Básica, de forma interdisciplinar considerando o TPACK, nos processos de ensino e aprendizagem, realizando uma revisão sistemática de literatura. METODOLOGIA Este estudo é fruto das discussões de professoras pesquisadoras sobre os conhecimentos do TPACK, a formação inicial e continuada de professores em processos de ensino e aprendizagem interdisciplinares no Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências – Unijuí. O objetivo deste estudo é dialogar sobre as TICs e o ensino híbrido na Educação Básica, de forma interdisciplinar considerando o TPACK, nos processos de ensino e aprendizagem por meio de uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) (Gough; Thomas; Oliver, 2012). A RSL é realizada em torno do problema de pesquisa: Como o TPACK vem sendo utilizado em diálogo com o ensino híbrido e a interdisciplinaridade na educação básica? Conforme Sampaio e Mancini (2007) e as orientações para a RSL foram realizadas as etapas: i) definida a pergunta tema; ii) identificadas as bases de dados a serem investigadas; iii) estabelecidos os critérios de inclusão e exclusão; iv) aplicação dos critérios; v) apresentação de resultados e discussões. Para compreender o objetivo foram definidas as seguintes questões para a pesquisa: DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E AINTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 121 1. Existem trabalhos sobre TPACK, ensino híbrido e interdisciplinari- dade na Educação Básica? 2. Quais as metodologias de pesquisas nos trabalhos selecionados? 3. Como são apresentadas as relações interdisciplinares, TIC, ensino híbrido e o TPACK na Educação Básica, nestes textos? 4. Quais as considerações e resultados sobre o TPACK, ensino híbrido, interdisciplinaridade e Educação Básica no material selecionado? A pesquisa foi desenvolvida pela busca de relatos de investigação com os descritores “Interdisciplinar”; “Educação Básica”; “Ensino Híbrido” e “TPACK”, em três bases de dados abertas: (i) Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); (ii) Scientific Electronic Library On-line − SciELO (iii) e Periódicos Capes. Tais descritores foram combinados em equações de pesquisa com o auxílio do operador booleano “E” nos campos de busca das bases de dados. A coleta dos dados ocorreu no mês de novembro de 2022 e foram utilizados como critérios de inclusão: (i) trabalhos científicos empíricos, em formato de artigo, dissertação de Mestrado ou tese de Doutoramento; (ii) realizados no Brasil; (iii) de acesso livre. Para os critérios de exclusão, eliminamos as publicações: i) repetidas; ii) sem relação direta ao tema investigado em seu título ou resumo. Com a pesquisa foram identificados sete trabalhos, seis dos quais no Portal de periódicos da Capes e um artigo no buscador SciELO. Teses e dissertações não foram encontradas. DISCUSSÕES E RESULTADOS Segundo Japiassu (1976) e Morin (2008), a excessiva fragmentação dos conhecimentos em áreas e/ou disciplinas isoladas é e continua sendo um dos grandes problemas da educação com relação aos processos de ensino e aprendizagem. Logo, a abordagem interdisciplinar na educação permitirá uma visão de mundo mais contextualizada, incorporando processos comunicativos. Compreendemos a necessidade de ações interdisciplinares educacionais em todos os níveis de ensino, principalmente quando atentamos para a Educação Básica, pela criação de ambientes interativos e contextu- alizados. As TICs, dessa forma, são, para além da resolução de problemas DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 122 dos sistemas tradicionais de ensino, uma forma de fomento do diálogo, da integração, das pontes com saberes e conhecimentos para proporcionar uma educação colaborativa, interativa e com senso crítico. Ao investigarmos essas questões, procuramos elucidar o primeiro questionamento deste estudo, organizado no Quadro 2, que apresenta os trabalhos identificados com relação ao TPACK, ensino híbrido, a interdiscipli- naridade e a Educação Básica. Quadro 2 – Trabalhos selecionados na Capes e no SciELO com os descritores “interdisciplinar”; “educação básica”; “ensino híbrido” e “TPACK” ID Autores Título A1 ROCHADEL et al, 2016. Ensino a distância na educação básica: a integração pedagógica de jogos digitais em ambientes virtuais A2 ROCHA; SALVI, 2017. As tecnologias digitais de informação e comunicação e a promoção do TPACK na formação de professores de geografia A3 JESUZ et al., 2018. Formação docente e o uso de tecnologias digitais de informação e comunicação (TICs) nas aulas de Mate- mática na educação básica A4 PRADO et al., 2020. Percepções de licenciandos sobre aspectos tecnológi- cos, pedagógicos e de conteúdo no ensino de Física: desafios para a formação docente A5 SOARES; PRADO; DIAS, 2020. Formação do professor da educação básica na perspec- tiva da aprendizagem criativa A6 KANASHIRO; SCHLÜNZEN JUNIOR, 2021 Formação continuada de docentes para autoria basea- da no modelo TPACK e na abordagem construcionista, contextualizada e significativa A7 SILVA; BILESSIMO; MACHADO, 2021. Integração de tecnologia na educação: proposta de modelo para capacitação docente inspirada no TPACK Fonte: Dados da pesquisa, 2023. Encontramos um baixo número de publicações sobre a temática pesquisada, principalmente se considerarmos o período dos estudos (2016-2021). Temos a perspectiva, no entanto, que com a pandemia da Covid-19 e as pesquisas educacionais resultantes dela, investigações sobre TIC, TPACK, ensino híbrido, interdisciplinaridade e Educação Básica tornem-se mais frequentes. DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 123 Para responder a segunda pergunta: Quais as metodologias de pesquisa abordadas nos trabalhos selecionados? elaboramos o Quadro 3, apresentando o tipo de estudo, os instrumentos e ações para o desenvolvimento dos estudos. Quadro 3 – Tipologia metodológica dos trabalhos selecionados sobre ensino híbrido, interdisciplina- ridade, TIC, TPACK, de 2016 a 2022 ID Tipo de estudo Instrumentos/ações A1 Pesquisa de campo com apresentação de integração de jogos Apresentação de processos de desenvolvimento de planos de aula voltados ao compartilhamento de conhecimento através da integração de jogos em AVA para a Educação Básica. A2 Pesquisa teórica Análise e discussões: TIC, TPACK, possibilidades de for- mação inicial e continuada de professores de Geografia. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394, em 20 de dezembro de 1996; Ministério da Edu- cação e Cultura e pelo Conselho Nacional de Educação; Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN); parecer CNE/ CP/2001 -Diretrizes Nacionais para a formação de pro- fessores para a Educação Básica; Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo). A3 Pesquisa de campo com proposta de intervenção: curso de extensão Curso de extensão para a formação aos docentes que lecionam Matemática na Educação Básica para o uso de recursos tecnológicos digitais nas aulas com o software GeoGebra. A4 Pesquisa qualitativa com entrevistas Realização de entrevistas semiestruturadas com 12 alunos de uma turma do último ano do curso de Licenciatura em Física do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), no período anterior ao início do estágio curricular obrigató- rio nas escolas. A5 Pesquisa qualitativa com investigação da formação de professores Descrição sucinta de um processo formativo de professo- res do Estado do Paraná, destacando as ações e observa- ções de um grupo de cursistas participantes de oficinas sobre Aprendizagem Criativa e Introdução à Linguagem de Programação (Scratch). As formações constituíam-se por dois encontros presenciais de 4h cada, totalizando 8h de curso. A6 Pesquisa qualitativa investigativa de professores Investigação de como os docentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental poderiam utilizar uma ferramenta de autoria on-line para que desenvolvessem uma prática pedagógica pautada na abordagem CCS (Abordagem Construtivista, Contextualizada e Significativa) e que con- siderasse o modelo da base de conhecimentos TPACK. DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 124 A7 Pesquisa qualitativa com proposta de capacitação do- cente A pesquisa foi realizada entre 2017-2019, sendo os par- ticipantes da pesquisa docentes que foram selecionados em escolas de Educação Básica, da rede pública estadual de Santa Catarina/Brasil, parceiras no Programa InTecEdu. Participação em um curso semipresencial, com 130 horas/ aula, denominado “Integração de tecnologias digitais em disciplinas da Educação Básica”; coleta de dados com dois questionários, ambos aplicados on-line, denominados “Questionário Perfil Docente” e “Questionário TPACK”. Fonte: Dados da pesquisa, 2023. O terceiro questionamento: Como são apresentadas as relações interdisciplinares, TICs, ensino híbridoe o TPACK na Educação Básica, nestes textos? É respondido por meio da descrição da perspectiva de cada um dos estudos. O estudo A1 apresenta as relações interdisciplinares com a proposta de integração de jogos digitais em ambientes virtuais com a possibilidade de os estudantes utilizarem por iniciativa própria. O plano de apresentação desses jogos contempla os conhecimentos do TPACK desenvolvidos pelos professores com a sistematização dos conhecimentos tecnológicos, pedagógicos e de conteúdo na aplicação de jogos (Rochadel et al., 2016). Os autores ainda citam que a metodologia da proposta de aplicação constitui um arcabouço teórico para fundamentar as ações pedagógicas e relacioná-las aos estudos do TPACK. Este estudo reforça a importância do desenvolvimento do TPACK pelos professores, mas não trata especificamente da interdisciplinaridade, no qual muitas vezes é citada por apresentar jogos, que mesmo não especificados ao longo do estudo, dão a entender que poderiam ser utilizados por diversas disciplinas e/ou áreas do conhecimento. O estudo A2, uma pesquisa teórica, reforça que referências como o TPACK são importantes no desenvolvimento de ações educacionais com o uso de TICs, pois há inúmeras contribuições nos processos de ensino e aprendizagem (Rocha; Salvi, 2017). E como em A1, esse estudo reforça a importância de o TPACK ser produzido com a interdisciplinaridade, não como mera citação da relação das TICs com diferentes disciplinas ou componentes curriculares na Educação Básica, mas vinculando os conteúdos com as tecnologias escolhidas. DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 125 O A3 cita a palavra interdisciplinaridade ao longo de sua interlocução para dialogar sobre as TICs, mas a pesquisa trata apenas dos processos de construção de ensino e aprendizagem com TICs para as aulas de Matemática. O foco centra-se nos benefícios da proposição das TDIC nestes processos ( Jesuz et al., 2018). O trabalho A4 aponta a necessidade pedagógica das TICs nos processos de ensino e aprendizagem, assim como os demais estudos citados até o momento, e que os licenciandos em seus estágios na Educação Básica tentavam realizar a integração das disciplinas (atividades interdisciplinares) com as TICs, mas não conseguiram integrá-las a contento. O A5 demonstra, diferentemente dos demais, uma ação interdisciplinar na área de Exatas por parte de professores com a integração das disciplinas de Matemática e Física a partir da formação de professores ofertada; e os professores das áreas de Humanas e Biológicas não conseguiram estabelecer as relações interdisciplinares por meio da mesma formação (Soares; Prado; Dias, 2020). O A6 afirma que os professores em suas práticas pedagógicas utilizando as TICs e Abordagem Construtivista, Contextualizada e Significativa (CCS) conseguem estabelecer conexões interdisciplinares, promovendo a prática pedagógica por meio de projetos, no qual as TICs são parte do processo (Kanashiro; Schlünzen Junior, 2021). E o estudo A7 apresenta a palavra interdisciplinaridade, bem como o estudo A1, apenas como espaço de elaboração de planos de aulas com professores de diferentes disciplinas e/ou áreas do conhecimento, sem aprofundar a interdisciplinaridade como assunto do Programa apresentado no estudo (Silva; Bilessimo; Machado, 2021). O quarto e último questionamento investiga os resultados e considerações sobre o TPACK, o ensino híbrido, a interdisciplinaridade e a Educação Básica nos estudos investigados. Iniciando pelo estudo de Rochadel et al. (2016), identificado como A1, temos as considerações finais demonstrando que é importante disponibilizar os jogos para os estudantes como forma complementar de saberes para os processos de ensino e aprendizagem dos alunos fora da sala de aula. O TPACK auxilia nas reflexões sobre os critérios para a previsão dos recursos didáticos que envolvem os DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 126 conhecimentos tecnológicos, pedagógicos e de conteúdo. Desta forma, os autores propõem outros trabalhos com novas formas de avaliação, incentivo e relação interdisciplinar dos conteúdos. Observamos a citação da interdisciplinaridade ao longo de todo o texto com relação aos jogos, mas sem apresentar a forma como esta interdisciplinaridade acontece por meio das ações educacionais e do TPACK. É compreendida como uma ação denominada interdisciplinar apenas por relacionar áreas do conhecimento variadas, mas sem integração ao trabalho pedagógico ao longo do estudo. O estudo A2 argumenta que existem dificuldades dos professores com relação aos componentes e conhecimentos do TPACK, salientando que são indispensáveis às práticas docentes, desde que sejam efetivadas ações de articulação entre teoria e prática para que os professores incorporem o TPACK em suas atividades educacionais (Rocha; Salvi, 2017). Como citado anteriormente, na questão três do estudo, a interdisciplinaridade é apenas citada como ação de diferentes áreas do conhecimento e/ou disciplinas com as TICs. O estudo A3 apresenta as considerações finais com ênfase na importância da formação docente para o uso das TICs na escola. Encontros de formação continuada e projetos de extensão, disponíveis aos professores, são processos que podem vir a apresentar propostas de uso das TICs de forma interdisciplinar na escola ( Jesuz et al., 2018). Em concordância com o estudo A3, o estudo A4 trata da importância do uso das TICs, porém os licenciandos em sua atuação na Educação Básica não conseguiram realizar a efetiva articulação de teoria e prática numa perspectiva interdisciplinar, em sala de aula, apontando para a necessidade de formação voltada ao cotidiano do aluno (Prado et al., 2020). O estudo A5 estabelece que apesar de bem aceitas as questões das TICs na Educação Básica os professores relatam dificuldades em estabelecer relações curriculares, o que reforça a notoriedade do TPACK para a formação dos docentes, seja formação continuada ou inicial. O A6 demonstra a interdis- ciplinaridade como uma questão dos anos iniciais do Ensino Fundamental por possuir um professor generalista, e o trabalho por meio de projetos deve ser valorizado demonstrando o valor do CCS (Kanashiro; Schlünzen Junior, 2021). Este estudo (A6) ainda pontua que as TICs exigem que o professor compreenda ou esteja capacitado para desenvolver os conhecimentos de uma forma una, como propõe o TPACK, e que na sua formação seja desenvolvida DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 127 de maneira contínua e constante. Apesar dos conhecimentos do TPACK dos docentes parecerem satisfatórios, não há garantia de sucesso no uso das TICs na educação (Kanashiro; Schlünzen Junior, 2021). O A7 considera essencial as TICs no ambiente escolar, no entanto sugere que a capacitação docente é essencial, principalmente considerando a formação com o TPACK. A pesquisa aponta que os professores compreendem o uso das tecnologias em sala de aula, mas que possuem dificuldades de como aplicá-las e refleti-las em suas práticas pedagógicas (Silva; Bilessimo; Machado, 2021). CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo procurou investigar as TICs na Educação Básica de forma interdisciplinar considerando o TPACK associado, por meio da revisão sistemática da literatura nas bases de dados abertas, e como resultado encontramos sete estudos, que envolviam os descritores, simultanea- mente: “Interdisciplinar”; “Educação Básica”; “Ensino Híbrido”; “TPACK”. Consideramos reduzido o número de publicações envolvendo as quatro temáticas simultaneamente, principalmente se focarmos na importância e relevância de tais temáticas na EducaçãoBásica. A pandemia da Covid-19 demonstrou que são necessárias atividades interdisciplinares e, em conjunto com as TICs para que o professor consiga por meio de processos como o ensino híbrido organizar a ação pedagógica de ensino e aprendizagem de maneira mais adequada à realidade escolar. Para dialogar sobre os temas, definimos algumas questões de pesquisa sobre os estudos investigados, em que a metodologia utilizada pelos autores dos estudos apresentou pesquisas de campo, teóricas e modos de investigação com questionários e entrevistas. Em geral, apesar de apresentarem tópicos de TPACK e de interdisciplinaridade na Educação Básica, esta segunda era “esquecida”, ou lembrada em uma interpretação de que é interdisciplinar pela presença de professores de diferentes áreas de conhecimento. Esta definição de interdisciplinaridade é a mais elementar delas e contradiz totalmente a proposta de Ivani Fazenda. Quando consideramos as relações interdisciplinares de TIC, ensino híbrido e TPACK apresentadas nos estudos, continuamos nessa mesma linha, visto que os autores citam a importância das TICs, dos conhecimentos dos DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 128 professores e a constituição do TPACK, mas pouco abordam a interdiscipli- naridade e o ensino híbrido. A interdisciplinaridade é citada na integração de TIC na Educação Básica e poderia ser utilizada por diversas disciplinas e/ ou áreas do conhecimento. E, por fim, o quarto questionamento sobre essas relações argumenta que existem dificuldades dos professores com relação aos componentes e conhecimentos do TPACK, indispensáveis às práticas docentes, mas que são necessárias atividades que articulem teoria e prática. Dessa forma, concluímos que os estudos selecionados a partir dos quatro descritores enfatizam a importância da formação docente para o uso das TICs na escola, sem citar os diálogos interdisciplinares em sala de aula. Assim, sugerimos tematizar esses diálogos no ensino híbrido com mais frequência, na formação de professores da Educação Básica para que se constituam outras compreensões destes conhecimentos como instrumentos culturais. As poucas discussões existentes questionam novos estudos e ajudam a compreender as oficinas formativas efetuadas no projeto, que propiciaram avanços no domínio do uso das TICs e os conhecimentos associados. REFERÊNCIAS BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico prática. Porto Alegre: Penso, 2018. BEHRENS, Marilda Aparecida. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: MORAN, José (org.). Novas tecnologias e mediação pedagógica. 21. ed. rev. e atual. 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DIÁLOGOS SOBRE O ENSINO HÍBRIDO, O TPACK E A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cláudia E l i zandra Lemke – Mar ia Cr i s t ina Pansera-de-Araújo 129 JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. JESUZ, Danilo Augusto Ferreira de et al. Formação docente e o uso de tecnologias digitais de informação e comunicação nas aulas de matemática na educação básica. Rev. Int. de Form. de Professores (RIFP), Itapetininga, v. 3, n. 1, p. 59-76, jan./ mar. 2018. Disponível em: https://periodicos.itp.ifsp.edu.br/index.php/RIFP/article/ view/949. Acesso em: 12 nov. 2022. KANASHIRO, Mônia Daniela Dotta; JÚNIOR, Klaus SCHLUNZEN. Formação continuada de docentes para autoria baseada no modelo TPACK e na abordagem construcionista, contextualizada e significativa. Revista Pesquisa Qualitativa, v. 9, n. 20, p. 81-113, 2021. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e tempo docente. São Paulo: Papirus, 2013. LEMKE, Cláudia Elizandra; PANSERA-DE-ARAÚJO, Maria Cristina; BOFF, Eva T. O. Relações entre TPACK, educação básica e o conhecimento do professor: O que as pesquisas indicam? In: SALÃO DO CONHECIMENTO, 2022. Ijuí: Editora Unijuí, 2022, p. 1-12. V. 8. MISHRA, Punya; KOEHLER, Mattthew J. Technological pedagogical content knowledge: A framework for teacher knowledge. Teachers College Record, v. 108, n. 6, p. 1.017-1.054, 2006. MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Tradução Dulce Matos. 5. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2008. OLIVEIRA, Hélida Margarida; HENRIQUES, Ana; GUTIÉRREZ-FALLAS, Luis Fábian. A integração da tecnologia na planificação de aulas na perspectiva do ensino exploratório: um estudo com futuros professores de matemática. Perspectiva, v. 36, n. 2, 2018. PRADO, Ramon Teodoro do et al. Percepções de licenciandos sobre aspectos tecnológicos, pedagógicos e de conteúdo no ensino de física: desafios para a formação docente. 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El trabajo buscó indagar sobre discursos de profesores de ciencias en ejercicio y en formación inicial sobre el diseño de una secuencia de enseñanza sobre aspectos controvertidos de la Covid-19 construida en el marco del semillero de investigación del grupo Alternaciencias (Gallo, 2022). Para la delimitación y justificación del planteamiento del problema de investigación se revisaron los trabajos de maestría y doctorado disponibles en el repositorio de la Universidad Pedagógica Nacional, así como los artículos publicados en revistas académicas indexadas en el ámbito iberoamericano tales como SciELO, Latindex y Redalyc, en cuanto al ámbito nacional se revisó la base de Publindex. La revisión se hizo por medio de la lectura de los resúmenes y palabras claves de los trabajos, identificando aquellos que hacían mención a cuestiones controvertidas de ciencia y tecnología, discursos de profesores de ciencias, DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 134 Covid-19 y análisis de discurso. Fueron seleccionados documentos publicados entre el 2015-2020 y se revisaron textos anteriores solamente cuando se requirió profundizar o fundamentar un tema en particular. En la revisión hecha se constató la importancia del abordaje de cuestiones sociocientíficas (CSC) en la Enseñanza de las Ciencias, especialmente lo argumentado por Parga Lozano y Alba y Martínez (2015), que establecen que este abordaje posibilita la articulación de temas disciplinares de la química, física y biología con aspectos políticos, económicos, éticos, culturales e históricos. De la misma forma Ritter y Maldaner (2015) indican que las CSC, así como las situaciones de estudio pueden favorecer el trabajo interdisciplinar en la Enseñanza de las Ciencias desde una perspectiva investigativa. Otros autores como Achury y Hoyos (2015), Campos de Moraes, Naman y Pontim Darsie (2015), Salazar Martínez, Pinzón Navarro y Martínez Pérez (2015), Botero Botero, Jurado Tobón y Arango Ramírez, (2015), Ferreira da Luz Culpi y Pereira Alves (2015), Parga Lozano y Romero Sánchez (2016) y Dos Santos, Lima da Silva y da Silva Júnior (2017) hacen alusión a las controversias sociocientíficas que desencadena el uso y la comercialización del PVC, la legalización de dosis personal, el uso de agroquímicos, los residuos de plaguicidas, uso de cosméticos, entre otro temas. En la mayoría de los casos los autores hacen alusión al fortalecimiento de habilidades científicas y de argumentación para la formación ciudadana y la toma de decisiones responsable. Las estrategias didácticas se refieren a la realización de debates, juego de roles, análisis de información y trabajos en grupo que dan cuenta del trabajo colaborativo y participativo entre los estudiantes. El trabajo de Rodríguez Hernández (2017) analiza las características del conocimiento profesional del profesor de ciencias sobre el abordaje de CSC, estableciendo un nuevo aporte a la investigación didáctica en términos de caracterizar los aspectos controvertidos, sociales, interdisciplinarios y contextualizados de este tipo de conocimiento, ya que los anteriores estudios hacen alusión al conocimiento del profesor como un conocimiento complejo estructurado por distintos componentes asociados al conocimiento de la disciplina, los aspectos históricos, epistemológicos, pedagógicos y didácticos formales, pero no necesariamente controvertidos y marcados por la incertidumbre. Además, este trabajo presenta una descripción comprensiva DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 135 del discurso de profesores mediante el análisis textual, identificando cambios discursivos, especialmente cuando se desarrollan escenarios grupales e interdisciplinares. Rozo Dueñas (2020) realiza una investigación sobre habilidades formativas para la investigación en la escuela a partir de una investigación acción colaborativa realizada por un colectivo de profesores de una institución educativa con características rurales ubicada en Bogotá. Los profesores de este colectivo abordaron el tema del cambio de cambio climático como cuestión sociocientífica, elucidando aportes significativos para un trabajo critico de esta cuestión y aumentando el compromiso de los profesores como actores activos de transformaciones socioambientales desde la escuela. La revisión de las bases de datos constató que el tema de la Covid-19 como cuestión sociocientífica, como era de esperarse constituía una novedad por lo inédito de la pandemia, no obstante, se evidenciaba la potencialidad de comprender los discursos de profesores de ciencias para visualizar los diversos mecanismos a través de los cuales puede mejorar o impactar las prácticas, por esta razón se justificaba ampliar la investigación al respecto. Entender los discursos de los profesores al diseñar actividades de enseñanza mediadas por plataformas virtuales en la época de pandemia es relevante para establecer recomendaciones que contribuyan a mejorar las prácticas de enseñanza. En la Web puede encontrarse abundante información sobre la Covid-19, destacándose videos, periódicos, blogs, muros de opinión y bases de datos de fácil acceso para todos los ciudadanos. No obstante, la información es dispersa y puede abarcar vacíos, contradicciones e inconsistencias que pueden generar limitaciones en la comprensión de la población. En este sentido, los profesores de ciencias pueden trabajar la Covid-19 como una CSC con carácter formativo para el estudiantado, contribuyendo a mitigar la desinformación y las noticias falsas que contribuyen a la creación de mitos en la población sobre la enfermedad y su tratamiento. Resulta importante continuar profundizando sobre el abordaje de la Covid-19 como CSC, para lo cual se propuso la siguiente pregunta de investigación: ¿Qué tipo de discursos son movilizados por profesores de química en formación inicial y en ejercicio al diseñar e implementar una unidad didáctica sobre el abordaje de la Covid-19 como cuestión sociocientífica? De acuerdo con esta pregunta, el objetivo del trabajo DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 136 consistió en analizar los discursos movilizados por profesores de química en formación inicial y en ejercicio sobre el abordaje de la Covid-19 como cuestión sociocientífica. A continuación, se esboza la fundamentación teórica del abordaje de la Covid-19 como CSC, se exponen los aspectos metodológicos de la investigación y los respectivos resultados, análisis y consideraciones finales. LA COVID-19 ENTENDIDA COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA (CSC) Partiendo del trabajo de Martínez Pérez (2021) que clasifica las CSC en aquellas referidas a cuestiones ambientales, de salud pública y de carácter ético y moral, se caracterizó la Covid-19 como una cuestión controvertida asociada principalmente a temas de salud pública, sin desconocer como el mismo autor señala que la cuestión puede involucrar aspectos ambientales y éticos. Dado que esta enfermedad se tornó una pandemia y puso en jaque a los sistemas sanitarios del mundo para controlarla en términos de propagación y diminución del acelerado número de muertes,se caracterizó como una cuestión especialmente sanitaria. Claramente los estudios sobre virus de gran impacto en la salud pública no constituyen un tema nuevo en la historia de la humanidad, enfermedades como la rabia y la viruela causadas por agentes virales son clara muestra de ello. Para Aranda Anzaldo (1995) los estudios de Max Schlesinger después de 1933 sobre el mosaico del tabaco, permitieron comprender cómo la partícula infectante (fago) en este virus, estaba compuesta por proteínas y ácidos nucleicos en proporciones equivalentes, lo cual fue determinante para Frederick Bawden y Norman Pirie quienes en 1937 lograron purificar el virus del mosaico del tabaco demostrando su composición por proteína y ácido ribonucleico (ARN). Estos trabajos fueron pioneros en la comprensión de la estructura de los virus y sentaron las bases para los conocimientos sobre los virus en la actualidad, por ejemplo, hoy se sabe que existen por lo menos cuatro tipos virales, ADN de cadena sencilla, ADN de cadena doble, ARN de cadena sencilla y ARN de cadena doble. Cada estructura es diferenciable entre sí y de acuerdo con ello es posible identificar diferentes tipos de virus, sus respectivas cepas y células hospederas. Si bien es cierto, la aparición del Sars-CoV-2, generador de la pandemia, constituyó una verdadera sorpresa para toda la humanidad, los estudios sobre la familia coronavirus datan de la década de 1960 y según Ezpeleta y García DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 137 Azorín (2020) serían los responsables de por lo menos una tercera parte de los resfriados comunes e infecciones respiratorias en seres humanos. Ahora bien, en el 2002 se caracterizó el Sars-Cov en China y en el 2012 el Sars-MERS en Arabia Saudita asociados a una mortalidad del 10 y el 30% respectivamente. Así las cosas, los estudios científicos sobre este tipo de virus constituyeron una respuesta inmediata y concreta para la búsqueda de vacunas efectivas, lo cual implicó la comprensión del ciclo de infección viral en células humanas que abarca absorción, fijación, penetración del virus, replicación, síntesis de nuevas partículas en las células hospederas y liberación al ambiente para el nuevo ciclo de contagio. El ciclo vital del Sars-Cov-2 sigue este mecanismo e inicia al momento que la proteína S de la envoltura entra en contacto la enzima ECA2 de la célula e ingresa permitiendo la liberación del ARN viral, que al entrar en contacto con los ribosomas comienza el proceso de síntesis de proteínas víricas que se ensamblan con el ARN genómico para formar nuevos viriones que a su vez salen de la célula hospedera, destruyéndola y direccio- nándose a otras células. Al revisar registros en la Web sobre la Covid-19 generada por el coronavirus se encuentran miles de registros. Periódicos en Colombia de circulación nacional como El Tiempo y el Espectador, entre el 2020 y 2021 presentan más de 1.334 y 908 artículos respectivamente, orientados a informar sobre la enfermedad, hacen alusión a datos sobre evolución de contagios, muertes, personas recuperadas, plan nacional de vacunación, medidas tomadas por el gobierno para atender la emergencia sanitaria en todo el territorio nacional. En el ámbito global o internacional también se registra abundante información sobre la enfermedad, por ejemplo, el periódico The New York Times en el mismo periodo revisado registra 21.136 artículos sobre noticias centradas en contagios, muertes y personas recuperadas en los EUA, India, Rusia, Sudáfrica y Australia, refieren a los avances en el desarrollo de vacunas, proceso de vacunación, efecto del Producto Interno Bruto en EUA y efectos en los diferentes escenarios políticos, económicos y sociales, así como medidas de prevención para contener la propagación del virus y avances científicos sobre el Sars-Cov-2. DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 138 Además de evidenciar la base científica y la permanente existencia de registros en la Web y en medios de comunicación masivos, la Covid-19 constituye una CSC porque también abarca una connotación sobre la sustentabilidad ambiental, pues una de los aspectos más controvertidos hace alusión a origen del virus y el consecuente contagio en humanos. De acuerdo con Ezpeleta y García Azorín (2020); Nieto (2020); Andersen et al. (2020) el proceso de infección de Sars - CoV-2 a humanos se llevó a cabo mediante la selección natural en un animal hospedero antes de la transferencia zoonótica, es decir a causa de la transmisión aerógena, vectores animales, proximidad o contacto directo con animales relacionados. Probablemente el transmisor directo podría ser un mamífero conocido como Pangoli malayo (Manis Javanica), comercializado ilegalmente en los mercados de Wuhan China y consumido por habitantes de la región. Para Andersen et al. (2020) el Pangoli podría ser el organismo intermediario asociado a la transmisión del virus, no obstante, esto constituye una hipótesis pues en términos de coincidencia genética aún los datos no son consistentes para establecer que sea el progenitor directo del virus, ambientalistas sostienen que consumo de especies exóticas y destrucción de ecosistemas sería la causa de la pandemia, mientras que científicos sostienen no contar con suficiente evidencia para sostener este punto de vista. CONSIDERACIONES METODOLÓGICAS La metodología empleada en la investigación fue cualitativa centrada en estudio de caso de dos profesores de química en ejercicio y dos profesores de química en formación inicial, quienes diseñaron una secuencia de enseñanza sobre el abordaje de la Covid-19 como CSC. Siguiendo los planteamientos de Yin (1994) al abordar el estudio de caso múltiple se buscó establecer la característica común de los casos seleccionados, que para el caso de la investigación consistió en profesores que contaban con formación realizada en el mismo programa académico y contaba con el interés y trabajo sobre el abordaje de CSC. El estudio de casos fue apoyado con la teoría de Análisis de Discurso Crítico que contribuyó a la constitución de los datos, tomando como dispositivo analítico la categoría de intertextualidad manifiesta propuesta por Fairclough (2001) que permite analizar la relación existente entre el discurso DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 139 oral y escrito, identificándose de manera implícita o explícita. También se consideró la interdiscursividad entendida como el dispositivo analítico que contribuye al análisis de lo que no está dicho o explicito. El corpus de la investigación se constituyó con las transcripciones de las entrevistas individuales realizadas a los cuatro profesores participantes de la investigación, así como la secuencia de enseñanza elaborada por ellos mismos, la cual puede consultarse en el siguiente link: http://cidetmoodle.pedagogica. edu.co/course/view.php?id=2772 La secuencia de enseñanza objeto de análisis fue construida conforme el abordaje de CSC y fundamentada en una perspectiva crítica siguiendo los momentos pedagógicos propuestos por Paulo Freire e ilustrados en la Figura 1. Figura 1 – Momentos pedagógicos implementados en la secuencia de enseñanza tomado de: Ortegón et al.(2020) Fuente: Los autores. A su vez la secuencia de enseñanza estuvo estructurada por cuatro módulos que se presentan en la figura 2 y en cada uno de ellos se especificaron las habilidades que se deberían desarrollar en los estudiantes, el objetivo del docente y el objetivo para el estudiante. Las dos profesoras de química en servicio que participaron de la investigación contabancon el título de maestría en enseñanza de las ciencias, una contaba con 7 años de experiencia docente y otra contaba con 6 años de experiencia, desempeñando funciones propias de la docencia de la química en educación media y básica secundaria, además de contar con experiencia docente en ciencias naturales. Ambas profesoras a lo largo de su formación han estudiado y puesto en práctica la enseñanza con enfoque ciencia, tecnología, sociedad y ambiente y el abordaje de CSC. DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 140 Figura 2 – Descripción de los módulos de la secuencia de enseñanza tomado de: Ortegón et al. (2020) Fuente: Los autores. DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 141 Las dos profesoras en servicio, cuentan con formación complementaria en cursos de corta duración como diplomado de energías renovables, curso de lenguaje de señas y curso de aspectos sanitarios en nutrición, cursos orientados a mejorar la práctica pedagógica y de cualificación profesional. Una de las profesoras tiene bajo su responsabilidad aproximadamente 100 estudiantes y la otra cuenta con 200 estudiantes. Dato importante porque al estudio sobre los discursos de las profesoras para el establecimiento de recomendaciones puede contribuir indirectamente a mejorar los procesos formativos de los estudiantes. Con respecto a los profesores en formación inicial, se contó con la participación de un profesor y una profesora, los cuales durante su carrera han cursado asignaturas respecto al enfoque ciencia, tecnología, sociedad y ambiente (CTSA) y CSC. Los dos se encontraban en último semestre y participaban de semillero de investigación Alternaciencias, que constituye el espacio extracurricular de formación investigativa que en el caso colombiano se ha consolidado desde finales de la década de 1990. De acuerdo con RedColsi (2009), los semilleros de investigación como actividades generales promueven la presentación de proyectos, acompañamiento, iniciación, desarrollo, análisis y socialización de resultados, manejo conceptual y metodológico de la dinámica de proyectos y de investigación, realización de encuentros y jornadas de investigación, participación en eventos institucionales, regionales, nacionales e internacio- nales, realización de proyectos interdisciplinarios, intercambio de experiencias con pares investigativos, fomentando la realización de proyectos conjuntos y pasantías, retroalimentación para la construcción permanente del proceso. RESULTADOS Y ANÁLISIS1 Basados en la teoría de análisis crítico de discurso, específicamente en la intertextualidad manifiesta, modalidad y cortesía se analizaron los enunciados formulados en las entrevistas llevadas a cabo con los participantes de la investigación. La modalidad hace referencia a la afinidad existente con un enunciado determinado, mientras que la cortesía se refiere al grado de 1 Los resultados y análisis de este apartado constituyen una síntesis de lo expuesto en Gallo (2022). DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 142 prevención, rechazo o distanciamiento respecto a un determinado enunciado. Ambos elementos de análisis nos permiten caracterizar el discurso movilizado en los enunciados por los profesores en formación inicial y en ejercicio. Para la presentación de los datos cualitativos y su respectivo análisis se considera la codificación de los registros constituidos a través de los instrumentos empleados: entrevista focal de profesores en ejercicio (EFPE); entrevista focal de profesores en formación inicial (EFPFI) y fragmentos de la secuencia de enseñanza (FSD). Así mismo, en cada una de las trascripciones se denotan en negrita expresiones de modalidad, en subrayado para expresiones de cortesía o distanciamiento negativo y en cursiva para un distanciamiento positivo como se puede observar en la siguiente tabla. Tabla 1 – Expresiones de modalidad, expresiones de cortesía o distanciamiento negativo y positivo Aspecto analítico Convención para análisis Modalidad o afinidad Texto en negrita Cortesía-distanciamiento negativo Texto en subrayado Cortesía-distanciamiento positivo Texto en cursiva Fuente: Los autores. Para la constitución de los datos de la investigación, en primera instancia se realizó la transcripción de las entrevistas realizadas a los participantes, luego se realizaron varias lecturas de estas identificando las modalidades y las cortesías presentes en las expresiones de los entrevistados. Posteriormente se seleccionaron y agruparon fragmentos a ser analizados conforme los objetivos de la investigación y los referentes teóricos, metodológicos y analíticos usados. En este capítulo de centra el análisis en fragmentos de las entrevistas consolidadas con los profesores participantes, la contrastación más amplia con la secuencia de enseñanza puede revisarse en Gallo (2022). En este sentido, se analizan 3 fragmentos para caracterizar el discurso movilizado por los profesores. En el siguiente fragmento de entrevista podemos evidenciar que las expresiones de PE1 son afines a un discurso didáctico contextualizado, en términos de Barreto de Ramírez (2013) podemos observar un discurso que ha sido sometido a un proceso de conversión contextualizada y traducido en conocimiento enseñable, el asumir la Covid-19 como CSC por parte DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 143 del profesor no implica únicamente un conocimiento científico, sino que además exige contextualización política, económica, cultural, ambiental, ética y social, que le permita al profesor contribuir con la formación crítica de sus estudiantes. Así mismo, se resalta que la cortesía o distanciamiento del profesor con este tipo de discurso es positivo porque alude a una ampliación de este que no solo corresponde a la contextualización manifiesta, sino al contexto familiar específico, en el caso de la Covid-19 no se ha reportado en otros estudios en la enseñanza de las ciencias el contexto familiar en particular y social en general. Caamaño (2011) expresa “la ciencia debe relacionarse con la vida real y dar respuesta a las necesidades e intereses de nuestros alumnos”. EFP1E […] el trabajar con CSC me ha permitido en mi ejercicio docente, abordar cada uno de los temas de clase de una manera más contextu- alizada, en mi caso yo enseño biología y química, he tenido que trabajar temas que son controversiales como lo son las células madres, alimentos genéticamente modificados y por supuesto la Covid – 19, en el caso de la Covid – 19, esta hizo que no sólo lo hiciéramos contextualizado a nivel social sino también contextuali- zado a nivel familiar, político, económico y ambiental principalmente porque es una problemática muy personal para los estudiantes, el hecho mismo que los impactara individualmente obliga a pensar un ejercicio de enseñanza más personal, cada estudiante vivía la CSC de una manera diferente, ya no eran solo los conceptos de ciencia en la escuela como el virus, propagación, enfermedad entre otros aislados de los aspectos políticos o económicos y sociales que mostraban los medios, la mayoría relacionaba la ausencia de la solvencia económica en sus casas con las estadísticas que mostraban en los noticieros, para ellos era importante conocer el ¿por qué? de las estadísticas, de ahí entender los conceptos científicos que se relacionaban a la hora de hablar de la Covid – 19. De esta forma veo no como alternativa sino como necesidad día a día profundizaren una enseñanza contextualizada. En el caso del PE2 se pueden observar expresiones que son afines a un discurso didáctico problematizador, este favorece la toma de un posiciona- miento político, económico, cultural, ambiental, ético y critico frente a las decisiones que afectan la sociedad en general y la familia en particular, en el contexto Colombiano el Ministerio de Educación junto con la Unesco en el 2014 presentan el texto “Prácticas de escritura en el aula: orientaciones didácticas para docentes”, el cual sustenta diferentes experiencias de trabajo DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 144 teórico, pedagógico y didáctico en el país mediante diferentes estrategias que promueven la problematización del contexto desde la escuela. De esta forma la cortesía presente en este discurso permite pensar en la necesidad de problematizar no solo el conocimiento desde el carácter científico, sino desde el carácter político, económico, cultural, ambiental, ético y social. EFP2E […] bueno pues en el caso mío, digamos que en medio de toda la situación que pasamos y en la cual estamos, crear una secuencia de enseñanza con relación a la Covid – 19 como CSC para ser trabajada por medio virtual, resultó en problematizar a los estudiantes no solo a nivel personal desde la situación que estaban pasando, sino a partir de cada una de las vivencias y experiencias de cada uno de los estudiantes, obviamente no solo fue hablar de ciencia, política o salud, se dio el espacio para hablar de la transformación que se necesita en la educación a nivel tecnológico y científico, en mi caso, se reflexionó en torno a la necesidad de una educación más incluyente, no aislar los campos del conocimiento, sino en lo posible manejar una uniformidad. Eso ayudó a tocar las fibras de cada uno de ellos y posibilitó el trabajar desde la ciencia involucrando la parte social, la parte económica, la parte ética y la parte personal mediando con la tecnología, entonces siento que este proceso pues fue fundamental para no solo una educación que relacione todos los ámbitos sino una educación que siempre debe de estar apoyada por la tecnología. Este discurso didáctico problematizador se ve plasmado en la fundamentación de la secuencia de enseñanza en torno a la conceptualiza- ción de los tres momentos didácticos propuestos por Delizoicov, Angotti y Pernambuco (2009). Teniendo en cuenta lo anterior, el análisis del discurso movilizado por los profesores en ejercicio y en formación desde el aspecto didáctico, indica un aspecto crucial en la formación del profesorado, en la cual existe una preocupación que va más allá del conocimiento manifiesto, en los fragmentos de la EFP1E, EFP2E, EFP1FI y EFP2FI que se muestran a continuación, se relacionan varias expresiones de afinidad conforme a una práctica pedagógica promotora de un bien colectivo, no se mantiene en primer plano el conocimiento específico cuando existen inconvenientes con relación al acceso limitado a Internet, lo cual estimula una desinformación a causa de los mismos inconvenientes de conectividad o acceso a las fuentes de información verídica, en cuestionamientos como “La Covid-19 ¿virus o enfermedad?”, varios DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 145 medios de comunicación y la opinión pública de la familia aportan un mar de información que no siempre coincidían, cada familia adquiría una nueva visión del virus cada semana, la información suministrada por los medios de comunicación se presentaba mediante conceptos y términos complejos que no entendían varios de nuestros estudiantes y sus familias y en la construcción de la secuencia de enseñanza el mar de información también constituía una preocupación, una CSC que evolucionaba día a día y que genera pilares de información en todo momento, de ahí la importancia de generar la secuencia de enseñanza desde el conocimiento tangencial. los profesores en formación inicial en los apartados que se muestran a continuación evocan la necesidad de promover un discurso científico desde las preguntas cotidianas que surgen a partir la información suministrada por periódicos, noticieros, centros médicos, entre otros, que no siempre es clara o asertiva para toda la comunidad; la automedicación, los remedios caseros, los protocolos de bioseguridad, la vacuna, son algunos de los campos conceptuales alrededor de la Covid-19 que necesitan una alfabetización científica para mitigar los errores conceptuales por los cuales se toman decisiones en el día a día como lo es la utilización de tapabocas, el lavado de manos, la utilización del limón, el ajo, té verde, moringa, jengibre o la automedicación; en términos de Manghi et al. (2014) es necesario para construir los conceptos de las ciencia apropiarse no solo de las maneras de decir propias del discurso científico, sino que de manera simultánea entender los argumentos que conlleva el conocimiento mismo. EFP1FI […] para entender los recursos utilizados deberíamos entender primero un poco la intención de la secuencia didáctica, porque está dividida en 4 módulos y no en 5, 6 o 7 puntos; la secuencia buscaba crear un espacio de diálogo entre los estudiantes y de esta forma fortalecer sus procesos de argumentación crítica, nos basamos en referentes teóricos como Delizoicov, Angotti y Pernambuco que básicamente plantean el momento de aprendizaje en 3 fases, problema- tización, organización y aplicación del conocimiento. Hemos hablado anteriormente de la utilización de escritos científicos de alto impacto, se buscaban artículos científicos versases y que ayudaran a la construcción de un conocimiento, pero a la hora de problematizar utilizamos esas noticias nacionales e internacionales que rodeaban a la humanidad en ese momento, de esta forma estas noticias creaban unas DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 146 series de expectativas y preguntas que se ponían en contrate con la información científica para llegar a una aplicabilidad del conocimiento en contexto. EFP2FI […] el orden que le íbamos a dar a la secuencia fue un poco digamos algo caótico, existía tanta información al mismo tiempo que no estábamos seguros de que presentar primero y que presentar de último, no estábamos seguros si el orden de la información debía surgir desde lo macro o lo micro y eso sin pensar en un aspecto en concreto; necesitamos que las personas involucradas entendieran la importancia de protegerse pero debíamos decirles el por qué se deben proteger, y de que deben protegerse, se tuvieron varias fuentes noticiosas en cuenta, las cuales solo suministraban información en general, se habla de la Covid – 19 como si fuera algo que había surgido así de la nada en algunos de estos, no se tenía en cuenta por ejemplo aspectos como los antecedentes de la enfermedad, solo se nombraba a la familia coronavirus pero no se hace énfasis en esta, ¿por qué estos otros no han tenido la misma asimilación en la humanidad para provocar una pandemia?, cuando se habló de la vacuna se encendieron alarmas y las personas especulaban sobre si la vacuna en vez de proteger los materia más rápido, no se entiende cómo funciona una vacuna y por ende surge desinformación respecto a los procesos que llevan a su desarrollo, se discutía en el diario vivir sobre los valores que se tendrán que pagar por la vacuna y cuál sería la clase privilegiada para recibirla o cuales personas serían las ratas de laboratorio para ensayar esta vacuna. Tenido en cuenta toda la información que se tenía en disponibilidad se optó porque el contenido brindara un acercamientoen primera medida al contexto mismo de lo que se estaba viviendo, nadie había pasado por una pandemia y no sabían cómo actuar, se debía hablar de los protocolos y la razón de estos mismos, se hablaba en los medios de Covid-19 como enfermedad y como virus, era necesario hacer un redefinición de los conceptos, entramos incluso a un cuestionamiento o más bien a brindar un panorama científico en torno a la medicina cacera, el limón, el ajo, té verde, moringa y jengibre por ejemplo, todo esto para promover un discurso del diario vivir que involucrara justifica- ciones desde argumentos científicos y no solo populares, esto ayudo a incentivarlos a hablar e indagar sobre el tema y presentarles una opción información por información, sino que se presentaba el concepto y este al DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 147 estar involucrado en su diario vivir los estimulaba al saber el ¿por qué? de este, de esta forma había una construcción del conocimiento justificada por cada uno de ellos. En la Tabla 2 se sintetizan los enunciados caracterizados para cada uno de los discursos movilizados por los profesores en servicio y en formación inicial conforme a los elementos de modalidad y cortesía estudiados. Tabla 2 – Síntesis de modalidades y cortesías identificadas en enunciados de profesores en formación inicial y en servicio participantes de la investigación Tipo de discurso No. modalidad No. Cortesía positiva No. Cortesía negativa Total Discurso didáctico contex- tualizado 12 11 3 26 Discurso didáctico proble- matizador 4 3 --- 7 Discurso ético 7 2 2 11 Discurso científico 7 2 2 11 Fuente: Tomada de Gallo (2022, p. 36). De acuerdo con la anterior tabla se puede decir que predomina el discurso didáctico contextualizado, seguido del discurso ético y científico. Por último, se reporta el discurso problematizador. La predominancia del discurso contextualizado es pertinente e interesante porque el abordaje de CSC como la Covid-19 favorece una aprendizaje inmerso en la realidad social del estudiante lo cual contribuye con su formación ciudadana, tal como se ha sostenido por Martínez Pérez, Parga Lozano y Garzón Barragán (2015) al señalar que los discursos usados por los profesores en la mayoría de los casos se ven influenciados por aquellas historias de vida y medio de divulgación que rodean al profesorado favoreciendo un aprendizaje en torno a una ciencia contextualizada. En cuanto al discurso ético Martínez Pérez y Parga Lozano (2013) resaltan el desarrollo de este discurso como una responsabilidad de los profesores para la formación ciudadana crítica, propositiva, solidaria y humana. El discurso científico es central en el abordaje de CSC porque ofrece un sistema analítico de interpretación basado en evidencias verídicas y contrastables, que pueden someterse a discusión de forma permanente. DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 148 El discurso problematizador ofrece mayores posibilidades de construcción de significados de forma interactiva y colaborativa en diversos contextos sociales de actuación. A su vez, favorece una articulación sistémica entre contenido, metodología y contexto, al respecto Dos Santos et al. (2011) también resaltan que los contenidos didácticos deben partir del contexto y las características de los estudiantes, superando la idea de un único modelo formalizado de los contenidos didácticos, pues estos deben partir de las necesidades formativas de los estudiantes y los procesos de problematización de los profesores. CONSIDERACIONES FINALES El abordaje de la Covid-19 como CSC puede evidenciarse al estudiar los aspectos científicos, sociales y ambientales que ha desencadenado la enfermedad en la crisis sanitaria en el ámbito local y global. La comprensión científica del virus, aunque pareciera novedosa hace parte de estudios científicos que llevan más de 40 años, sin embargo, el surgimiento del nuevo virus Sars-Cov-2 transformó la vida de todos los habitantes del planeta y desencadenó esfuerzos de todo tipo para la contención de los efectos mortales del virus y todas sus consecuencias sociales. El confinamiento social demandó del profesorado la enseñanza remota y con ello la elaboración de materiales virtuales que favorecieran la formación de los estudiantes en las nuevas condiciones, por ejemplo, los profesores participantes de la investigación propusieron una secuencia de enseñanza en una plataforma virtual para estudiar la Covid-19 como CSC, para lo cual basaron el diseño en los momentos pedagógicos propuestos por Paulo Freire y recontextualizados para la Enseñanza de las Ciencias por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009). Al analizar los discursos movilizados por los profesores participantes del estudio en el proceso de diseñar la secuencia de enseñanza se pudo constatar la predominancia de un discurso contextualizado que podría interpretarse como transversal al abordaje de CSC en la Enseñanza de las Ciencias, particularmente, se desataca la presencia de las experiencias familiares de este discurso que establece marcas emocionales importantes para los estudiantes y que puede ser el punto de partida para el aprendizaje de las ciencias, a través del discurso científico que movilizan los profesores y DISCURSOS DE PROFESORES DE QUÍMICA SOBRE EL ABORDAJE DE LA COVID-19 COMO CUESTIÓN SOCIOCIENTÍFICA Jhon A lexander Ga l lo Ramírez – Leonardo Fab io Mart ínez Pérez 149 que es necesario y pertinente para contar con información veraz y confiable, aunque incompleta y en constante evolución por ser parte de investigaciones de frontera. El discurso ético utilitarista sigue predominando en un escenario pragmático justificado plenamente en un contexto de emergencia sanitaria, no obstante, como es alertado por Martínez Pérez y Parga Lozano (2013), si bien es cierto ese tipo de discurso está presente en el abordaje de gran parte de las CSC, debe buscarse movilizar un discurso deontológico más amplio porque promueve un juzgamiento más racional y universal que el promovido por el utilitarismo. Como recomendaciones en el ámbito curricular, la movilización de discursos por los profesores de ciencias nos invitan a romper la lógica fragmentada de contenidos disciplinares para dar paso a un mirada interdis- ciplinar y un abordaje de CSC transversales como la Covid-19, de tal manera que se potencialicen múltiples propuestas de enseñanza que favorezcan el estudio de distintos actores y puntos de vistas sobre los contenidos tratados, asimismo la formación permanente del profesorado en estos asuntos es de vital importancia, tal como lo ha planteado Silva y Maciel (2021) al indicar la necesidad de genera programas de formación continua de profesores, en los cuales se incentive la producción de estrategias didácticas que contribuyan a la formación integral en CTSA. REFERENCIAS ACHURY, L. C.; HOYOS, J. Á. Desarrollo de la competencia argumentativa a través de la toma de decisiones en el abordaje de la cuestión sociocientífica: “uso y comercialización del PVC”. 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Thousand Oaks, CA: Sage Publications. 1994. 153 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: Uma Vivência a Partir de Articulações Entre Universidade e Escola de Educação Básica Cátia Maria Nehring Isabel Koltermann Battisti Talita Cindrowski Mazzola Diane Saraiva Fronza Luana Henrichsen Raquel Taís Breunig INTRODUÇÃO Dalbosco e Fávero (2017) defendem que a instituição universitária é responsável por produzir e transmitir a cultura e a ciência na sociedade, bem como por formar recursos humanos para atuar nos espaços sociais. Expandindo estas ideias, pode-se argumentar que a Universidade assume um compromisso social com o desenvolvimento humano e consequentemente com as melhorias quanto à ciência e a tecnologia. A Universidade é uma instituição secular, que sobreviveu a mudanças e foi se adequando às realidades que surgiram. A Educação Superior surgiu por volta do século 13 na Europa, sob o comando da igreja, visando a suprir necessidades da elite quanto à formação dos filhos dos nobres. No século 15 as discussões sobre esta instituição centralizaram-se acerca da profissionalização e dois séculos após ocorreram debates sobre a pesquisa e ocorreu a expansão do sistema universitário também para a América Latina. Em 1920 surge a primeira universidade no Brasil, no Rio de Janeiro. Em 1968, com a Reforma A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 154 Universitária sancionada pela lei 5540/68, uma das principais mudanças foi o fortalecimento da relação entre o ensino e a pesquisa, bem como o aumento de atividades de extensão. Com isso, a Universidade passa a se basear no tripé do ensino, da pesquisa e da extensão. Nesta perspectiva, o ensino envolve questões curriculares e de formação por meio da interação entre o professor e o aluno. Na pesquisa há a formulação de perguntas estruturadas a partir de necessidades e curiosidades, que motivam a busca de teóricos e de empirias que, por meio do rigor científico, deem conta de respondê-las. Já a extensão é o marco do elo entre o ensino e a pesquisa, ao mesmo tempo que pode ser traduzida como o diálogo entre os saberes da Universidade com a sociedade, o qual possibilita a troca mútua e a contribuição entre ambas. Na perspectiva da extensão, a formação continuada de professores é uma possibilidade de atuação da Universidade com o intuito de contribuir com a melhoria na qualidade da Educação Básica, ao mesmo tempo que os professoresde Estudo (SE) ou Projetos de Aprendizagem (PA), na interação com professores e acadêmicos das universidades brasileiras envolvidas no projeto. A pesquisa esteve fundamentada nos pressupostos da contextualização e da interdisci- plinaridade. A preocupação central do projeto foi abordar os conhecimentos científicos em situações reais e relevantes do ponto de vista social, cultural e de saúde, com foco na compreensão e uso de tecnologias que contribuam para uma compreensão mais complexa dos conhecimentos escolares. Inicialmente foi realizado um seminário em formato híbrido para discutir os pressupostos teóricos e as atividades previstas no projeto. Em seguida, um questionário foi enviado via Google Forms para cerca de 60 professores, dos quais 32 responderam. O questionário visava a investigar a possibilidade de desenvolvimento de uma proposta curricular com foco no ensino híbrido e nas tecnologias midiáticas, como a Situação de Estudo e/ou Projetos de Aprendizagem. Com base nos desafios apontados pelos professores, foram realizadas cinco oficinas para entender as possíveis tecnologias midiáticas que podem contribuir no ensino híbrido, como a produção e análise de vídeos, aplicativos e outras ferramentas tecnológicas utilizadas no processo de pesquisa que favorecem a produção de conhecimento como processo emancipatório. FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 22 Paralelamente às oficinas, foram constituídos seis grupos de estudo, um por escola, sob responsabilidade de ao menos um professor do Ensino Superior por escola, além de bolsistas de iniciação científica, Mestrado ou Doutorado. Esses grupos participaram de encontros virtuais e/ou presenciais para propor e desenvolver um currículo emancipatório pelo viés das SEs ou PAs, cujas propostas pedagógicas contemplam as aprendizagens essenciais para a Educação Básica, conforme proposto na BNCC e no Novo Ensino Médio. A pesquisa esteve fundamentada em autores que defendem os processos de ensino e aprendizagem a partir das interações sociais, tais como Vygotsky e Leontiev; Sousa Santos ao defender a necessidade de reinventar a emancipação a partir da ecologia dos saberes; Morin quando discute a crise da educação e da complexidade humana, entre outros autores que se farão presentes nos diversos textos apresentados nesta obra. Cabe destacar que o projeto seguiu todas as questões éticas da pesquisa conforme aprovado pelo Comitê de Ética da Unijuí, sob o parecer número 4.940.703. REFLEXÕES SOBRE E/NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOCENTE Para pensar na produção de um currículo emancipatório, inicialmente foi respondido um questionário (via Google Forms) por 32 professores que atuam na docência de Educação Básica. O tempo de atuação docente varia entre um ano, com uma docente 1 (3,23%) e mais de 20 anos, com cinco docentes, 5 (16,13%), destacando-se que em sua maioria 26 (81,25%) atuam na docência entre 6 e 15 anos. Os/as docentes destacaram que as maiores dificuldades enfrentadas durante a pandemia e para a realização do ensino híbrido foram relacionadas à qualidade de acesso à Internet, tanto pelas escolas quanto pelos alunos. Quando questionados sobre sua percepção em relação à necessidade do ensino a partir de temáticas, todos os participantes declararam compreender a importância dessa abordagem considerada mais relevante para o desenvolvimento de uma proposta curricular. Com foco no ensino híbrido e que despertasse a necessidade de estudo nos alunos foram destacadas as seguintes: Educação Ambiental/Desenvolvimento Sustentável, Diversidade Cultural; Saúde/Bem-estar; Educação Alimentar e Nutricional; Tecnologias e Mundo Digital; Educação Sexual/Adolescência/Reconhecimento. Além das FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 23 temáticas consideradas relevantes para o ensino, os docentes destacam a necessidade de outras importantes para a formação continuada conforme indicado na Tabela 1. Tabela 1 – Temáticas a serem aprimoradas em cursos de formação continuada Temática Alto nível de necessidade Nível moderado de necessidade N % N % Meio Ambiente e Sustentabilidade 19 59,38 7 21,88 Desenvolvimento de competências socioemocionais 13 40,63 11 34,38 BNCC: teoria e prática 9 28,13 16 50 Currículo escolar e novas formas de avaliação 7 21,88 13 40,63 A prática da educação inclusiva 18 56,25 8 25 Tecnologia e educação 14 43,75 13 40,63 O futuro da educação 8 25,00 6 18,75 Estímulo à criatividade dos estudantes 7 21,88 18 56,25 Novas metodologias de ensino 9 28,13 14 43,75 Diversidade (Questões identitárias) 15 46,88 11 34,38 Políticas Públicas na Área da Educação 6 18,75 11 34,38 Pesquisa no Ensino 9 28,13 15 46,88 Metodologias para o Ensino Remoto 7 21,88 19 59,38 Ferramentas Tecnológicas para o Ensino 12 37,50 15 46,88 Educação Alimentar e Nutricional 5 15,63 16 50 Fonte: Dados da pesquisa. Os professores também argumentam que os alunos voltaram para as aulas presenciais desmotivados e com grande defasagem na aprendizagem dos conteúdos escolares. O ensino híbrido, portanto, cujas tecnologias representam suportes fundamentais, pode contribuir para a superação das lacunas existentes no processo de ensino e aprendizagem. Salienta-se, no entanto, que as tecnologias, por si sós, não garantem a aprendizagem, mas precisam ser constitutivas de propostas mais amplas, por exemplo, a Situação de Estudo (SE). A SE é uma organização curricular que promove a internalização de conhecimentos científicos e tecnológicos, considerando temáticas relevantes socialmente e valorizando os saberes de vivência dos estudantes. FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 24 A partir da análise do questionário, foi constituído um coletivo de professores, envolvendo seis escolas de Educação Básica, discentes da Pós-Graduação (Mestrado, Doutorado) que desenvolvem pesquisas na área da Educação Básica, professores da Universidade e bolsistas de Iniciação Científica (IC). O coletivo, organizado em contexto universitário e escolar, realizou estudos, planejamentos e efetivação de ações que visam a melhorias na formação docente e, consequentemente, no desenvolvimento e na construção de aprendizagens dos conteúdos escolares, ampliados pelo uso das tecnologias digitais de informação e comunicação no ensino híbrido. Para superar as dificuldades dos professores foram realizadas cinco oficinas, na modalidade híbrida (presencial na Unijuí e concomitantemente via Google meet para os participantes mais distantes), sobre tecnologias que contribuem para o desenvolvimento do ensino híbrido. As oficinas visam a capacitar os professores e estudantes (mestrandos, doutorandos, bolsistas de Iniciação Científica) participantes do projeto. A primeira oficina denominada “Roteiro World Café”, realizada em maio de 2022, envolveu as seis escolas participantes do projeto de pesquisa: Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Padilha; Escola Estadual de Ensino Médio Emil Glitz; Escola Estadual de Ensino Fundamental Carlos Zimpel; Escola Estadual de Ensino Fundamental Osvaldo Aranha; Escola Municipal Fundamental Pedro Costa Beber, Escola Municipal João de Oliveira, do município de Rio Grande, que participou por meio do Google Meet. As atividades foram organizadas em estações, e cada estação continha uma atividade contemplando uma ferramenta utilizada no ensino on line que poderia ser acessada tanto via QR Code quanto por meio de hiperlinks, conforme expresso no Quadro 1. FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Vercesituam a Academia em relação às demandas que a escola identifica. Nesse sentido, a formação continuada de professores também é uma forma de contribuir com os processos de aprendizagem dos alunos. Essa contribuição se faz a partir da constituição de grupos colaborativos, envolvendo professores da Educação Básica e Superior, bem como estudantes de Licenciatura e Pós-Graduação. Defendemos que a formação inicial é a base para o desenvolvimento profissional do professor, afinal, é neste espaço-tempo que se constitui uma rede de saberes relativos ao seu futuro campo de atuação – Educação Básica – e que lhe permitirão atuar. Ainda assim, estes saberes não são um fim em si, mas a prática no cotidiano da escola, de forma singular, vai gerando novas necessidades e desafios que exigem do professor a mobilização com vistas ao aprofundamento dos seus saberes e modificações de seus fazeres em virtude de novas necessidades apresentadas pela sociedade. A exemplo disso, no início do ano de 2020, todo o sistema educacional e principalmente o de saúde, enfrentou uma série de desafios em decorrência da pandemia causada pela Covid-19. Seguindo protocolos de segurança, medidas como o isolamento social foram essenciais para garantir a saúde pública e a vida das pessoas. Assim, devido à impossibilidade de receber os A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 155 alunos nas escolas e gerar aglomerações, aumentando o contágio, uma nova forma de ensino foi proposta, vivenciada e adotada por muitas escolas: o ensino híbrido ou ensino remoto. Com esta modalidade de ensino, diante da impossibilidade da presencialidade as adequações na forma de ensinar e de aprender foram acontecendo, e com isso, não só os alunos, mas os professores também foram manifestando dúvidas, angústias e dificuldades e novas necessidades quanto ao manuseio de ferramentas digitais que viabilizassem o processo de ensino e de aprendizagem. Ao mesmo tempo que este fator se constitui um desafio, pois exigia conhecimentos técnicos e também a ação de planejar a partir de outras possibilidades, também tornou-se um potente recurso para a sala de aula, sendo empregado com intencionalidade e conhecimento de suas possibilidades para os processos de ensino e de aprendizagem. Neste sentido, tendo em vista o compromisso da Universidade com a sociedade, e neste caso, com a educação, bem como reforçando que a formação continuada pode contribuir com o fazer pedagógico do professor, este texto apresenta o relato e as reflexões advindas de um curso de formação, proposto como parte de um projeto de pesquisa, que visava ao entendimento de como foi desenvolvido o ensino híbrido nas escolas de Educação Básica no período da pandemia. O projeto, em uma das metas, estabeleceu a proposição de oficinas considerando as dificuldades, ainda apresentadas pelos professores, e a manutenção da utilização de alguns artefatos tecnológicos, nas aulas presenciais, auxiliando os professores nos encaminhamentos do planejamento. O curso teve por centralidade a proposição de oficinas teórico-práticas sobre a produção de vídeos e podcast com vistas a proporcionar aos professores suporte para a utilização desta ferramenta no processo de ensino e de aprendizagem. METODOLOGIA Nesta seção apresentamos os procedimentos metodológicos utilizados para a constituição e proposição das oficinas. Destacamos que estas são parte de um projeto maior de pesquisa, que possui diferentes metas, as quais estão sendo relatadas e refletidas neste livro. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e possui número de aprovação 4.940.703. O grupo envolvido no projeto contou com professores da Educação A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 156 Superior e acadêmicos da Graduação e da Pós-Graduação a nível stricto sensu de duas universidades gaúchas e com professores da Educação Básica de três municípios também do Estado, envolvendo seis escolas de Educação Básica. Como explicitado anteriormente, este artigo, foca na formação continuada, realizada a partir de oficinas com produção de vídeos e podcasts. Para isso foram planejados e vivenciados sete encontros, realizados na forma presencial e on-line, desenvolvidos quinzenalmente, aos sábados pela manhã com duração aproximada de 2h30min cada, no período de maio a outubro de 2022. Os encontros são descritos no quadro a seguir, explicitando o recurso trabalhado e as competências para cada encontro. Quadro 1 – Sistematização dos encontros Encontro Recursos Competências Encontro I Oficina: Jambord Padlet Mentimenter Apresentação do Projeto e cronograma de trabalho da formação. Problematizações elencadas pelos professores considerando o processo de ensino e aprendizagem na Educação Básica. Encontro II Oficina Vídeo I Inshot e Capcut Entendimento sobre as potencialidades do vídeo e as mudanças no mesmo na sua produção. Encontro III Oficina Vídeo II Inshot e Capcut Roteirização: Elementos essenciais para organização de um roteiro a partir de um planejamento de ensino, considerando uma Situação de Estudo e/ou Projeto de Apren- dizagem. Encontro IV Oficina Vídeo III Inshot e Capcut Organização de cenas, considerando o roteiro planejado e a direção de fotografia, necessários à produção do vídeo. Encontro V Oficina Vídeo IV Inshot e Capcut Editoração do vídeo, considerando diferen- tes editores que podem ser utilizados em celulares. Encontro VI Oficina Podcast Organização de um Podcast, instrumentos, como pode ser utilizado e editoração. Encontro VII Organização da sociali- zação das aprendizagens e das vivências nas esco- las envolvidas no proje- to Encontro On-line Sistematização das aprendizagens até o momento com preparação para um painel em evento de cunho científico Fonte: Elaborado pelas autoras (2023). A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 157 Neste texto vamos focar nas oficinas de Vídeo e Podcast, socializando as necessidades de aprendizagem para os professores, que desejam utilizá-los como recursos tecnológicos nas estratégias metodológicas na sala de aula. Produzir vídeos e/ou podcasts, a partir de atividades planejadas, seja de Situações de Estudo ou de Projetos de Aprendizagem, trabalhadas no projeto de pesquisa com os professores das escolas de Educação Básica, principalmente das áreas de Ciências Naturais e Matemática, foi o condutor do desenvolvimento das oficinas, pois os professores foram desafiados a aprender, a manejar, a utilizar os instrumentos, considerando sempre sua função principal, qual seja, ensinar conceitos aos seus alunos. Passamos no próximo item a explicitar como encaminhamos a produção de vídeo e podcast. A PROPOSIÇÃO E VIVÊNCIA DAS OFICINAS COM UM GRUPO DE PROFESSORES A sala de aula, especialmente modificada pela pandemia da Covid-19, trouxe necessidades de conhecermos e trazermos diferentes ferramentas, para continuarmos mantendo o processo de ensino e de aprendizagem. Os vídeos e podcasts utilizados como ferramentas de auxílio para o professor em sala de aula tornaram-se recurso para, por um lado, envolverem os alunos em atividades e, por outro, mobilizar novasinterações, necessárias, ao contexto pandêmico. Entendendo a rápida evolução dos recursos tecnológicos e sua utilização pelos alunos em diferentes situações do cotidiano, estes cada vez mais têm sido trazidos para o contexto educacional, a partir de diferentes estratégias e proposições. Segundo Silva et al. (2012), [...] o vídeo traz uma forma multilinguística de superposição de códigos e significações, predominantemente audiovisuais, apoiada no discurso verbal-escrito, partindo do concreto, do visível, do imediato. A linguagem audiovisual desenvolve múltiplas atitudes perceptivas, pois solicita constantemente a imaginação (p. 190). Moran (1995), por sua vez, destaca que o uso do vídeo em sala de aula “aproxima a sala de aula do cotidiano, das linguagens de aprendizagem e comunicação da sociedade urbana, mas também introduz novas questões no processo educacional” (Moran, 1995, p. 1). A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 158 A partir deste contexto trabalhou-se em uma proposta que contemplasse a vivência dos participantes por meio de oficinas práticas, discussão teórica e conhecimento efetivo de instrumentos tecnológicos, para produção de vídeos e podcasts. O objetivo foi capacitar os professores da rede pública de ensino, participantes do projeto, para a produção de vídeos educacionais e podcasts considerando Situações de Estudo e Projetos de Aprendizagem, por meio da aprendizagem para o manuseio de equipamentos e ferramentas que possibilitam a produção da informação de forma criativa e inovadora, chamando a atenção para as diferentes formas de ensino e de aprendizagem possíveis com a atual conjuntura tecnológica disponível. Foram organizados cinco encontros, nos quais, em quatro, trabalhamos a linguagem de vídeo e, no quinto, o uso do podcast como ferramenta complementar para o trabalho em sala de aula. O primeiro encontro foi de sensibilização, abordando as principais mudanças na produção de vídeo, buscando estabelecer um resgate histórico e estabelecendo relação com a atualidade, apresentando os formatos de conteúdo consumido entre as diferentes gerações e também os diferentes locais onde estes conteúdos em vídeo eram consumidos no passado e onde são consumidos atualmente. Entender a evolução do vídeo e seus formatos e as possibilidades atuais do mesmo para a educação é fundamental na definição do professor utilizar o mesmo ou não. Conhecer o público com o qual estamos conversando é essencial para se ter sucesso no uso desse recurso. Na produção de vídeos isso vai muito além, pois como é um campo que está em constante mudança e existem muitas plataformas para a popularização do seu consumo, a resposta para algumas questões são fundamentais para uma comunicação assertiva. Ou seja, para fazer uso dos vídeos em sala de aula e ter resultados significativos com eles é necessário entender o que a geração atual tem consumido, entender qual é o tipo de conteúdo e como fazer a relação deste conteúdo com a disciplina de sala de aula e as próprias metodologias que utilizamos como professores. Além disso, foi iniciada a discussão das possibilidades do trabalho com vídeo nos processos de ensino e de aprendizagem. Isso porque, ao optar por trabalhar com o vídeo como uma ferramenta tecnológica, contribuindo para qualificar as metodologias utilizadas, para ensinar e aprender, na área de A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 159 Ciências da Natureza e Matemática é fundamental que o professor organize um planejamento, que explicite as formas metodologias, mas também compreenda a produção de um vídeo, como se organiza o roteiro para sua produção e editoração. Neste sentido, é necessário conhecimento especializado de roteirização e editoração. Na produção do vídeo a elaboração do roteiro é fundamental, pois será um guia com a descrição de tudo o que acontecerá no decorrer do vídeo, prevendo as falas, os personagens, as imagens e os recursos visuais que serão necessários para a construção do diálogo com seu público. Deve constar em um roteiro: • Uma breve descrição das cenas e do que acontecerá entre elas. • As falas dos atores, narrações e outros sons que vão aparecer. • Indicações para a edição, como recorte, inserção de animação e legendas; Definição do cenário. • Sugestões de encenação para os atores e de movimentos e posição de câmera para quem for gravar. Figura 1 – Exemplo de roteiro trabalhado na oficina de vídeo (2022) Fonte: As autoras. No segundo encontro, o objetivo central trabalhado com os professores da Educação Básica e Superior, bem como os estudantes, foram os conceitos para roteirização necessários para produção de vídeo. A primeira parte da oficina abordou o planejamento de uma aula, mas no seu desenvolvimento A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 160 será feita a produção de um vídeo como elemento que pode servir para sistematizar, socializar ou registrar uma atividade proposta. Para este processo foi destacada a necessidade de o professor considerar alguns procedimentos fundamentais quando se propõe a produzir um vídeo: • Definir o objetivo do vídeo – (para quem o vídeo será produzido e/ou apresentado? Será no desenvolvimento de uma atividade proposta com a turma? Será de sistematização de um conceito? Será sistematização de uma atividade? Será o registro de uma atividade/Entrevista/Depoimento? Será para iniciar um conteúdo a ser trabalhado?). • Definir para qual plataforma ele será disponibilizado – Ter propriedade sobre o conteúdo. É essencial ter o conhecimento das plataformas, pois pode facilitar a disseminação do vídeo entre os estudantes e outros colegas professores. Se esse vídeo será disponibilizado a eles em um grupo de WhatsApp ou será mantido em um canal do YouTube da Escola, por exemplo, é uma decisão importante a ser tomada, pois conversa com toda a proposta pedagógica e de construção do vídeo, impactando diretamente na proposta seguinte que é a propriedade sobre o conteúdo. Estando em um canal específico da escola, o vídeo produzido ganha mais autoridade e serve também como um repositório de pesquisa e embasamento para trabalhos futuros, sendo os professores e alunos envolvidos naquele vídeo, autores daquela produção de conhecimento, por isso é tão importante ter propriedade sobre o assunto abordado. • Definir se serão utilizados materiais visuais no vídeo e quais serão – De que forma será a produção/gravação do vídeo (equipamento/local/cenário. Será na escola? Na sala de aula? No laboratório? Precisa ser organizado o cenário? Vai ser necessário algum outro recurso tecnológico?). • Organizar a apresentação do personagem/postura – (precisa ser pensado se a produção do vídeo é a gravação de uma atividade, explicação, entrevista, cenário. A partir destas definições teremos apresentadores, entrevistadores, uma pessoa falando, narrando, qual o contexto de produção do vídeo). A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara ivaFronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 161 Além disso, aspectos como iluminação, posicionamento de câmera, enquadramento e áudio também foram apresentados aos participantes. Algumas possibilidades de ferramentas complementares, para auxiliar na produção de vídeo, levando em consideração os materiais que o projeto disponibilizou para utilização do grupo também foram apresentados, entre eles: microfone de lapela, mesa digital de ilustração, uso de tripé com câmera e/ou celular e o fundo chroma key. Nessa oficina a maior dificuldade trazida pelos professores de Educação Básica foi definir uma situação de estudo ou um projeto de aprendizagem, uma vez que o vídeo poderia ser um instrumento de fato potente para introduzir a discussão, registrar uma atividade ou sistematizar uma aprendizagem. Este momento foi riquíssimo, pois permitiu discutirmos, como coletivo, diferentes possibilidades de utilização do vídeo, com funções diferentes para o ensino e também para aprendizagem do aluno. Tais questões são importantes quando o professor se coloca para utilizar um instrumento tecnológico no contexto da sala de aula, pois não é a sua utilização que vai garantir a qualidade do ensino ou da aprendizagem, mas sim a intencionalidade do professor. No terceiro encontro foram aprofundadas as questões referentes à direção de fotografia para produção de um vídeo. Nela, observou-se os três ângulos possíveis de trabalho, ou seja, superior, inferior e frontal, e os enquadramentos: grande plano geral, plano geral, plano americano, plano médio, primeiro plano e close. Reservou-se um momento específico da oficina em que os participantes foram divididos em grupos e iniciaram a organização de um roteiro e a direção de fotografia, mobilizando as discussões realizadas e relacionando com a organização de um planejamento, considerando uma Situação de Estudo e/ou Projeto de Aprendizagem, para produção do vídeo. Solicitou-se após este planejamento que a proposta de cada grupo de professores das escolas pudesse ser vivenciada com uma turma de alunos e socializada com o grupo em um momento especial, no Salão do Conhecimento (evento de uma das instituições envolvidas que tem como principal objetivo divulgar as produções desenvolvidas pela comunidade acadêmica interna e externa, a partir das atividades de pesquisa, extensão e ensino), a partir de um Painel Temático. A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 162 Sempre ao final e início de cada nova oficina era debatido o que cada um havia avançado na produção do último encontro. Houve necessidade de várias vezes colocar os professores na retomada da escrita considerando o planejamento, o roteiro e a produção do vídeo propriamente dita. Estes momentos foram os mais ricos das oficinas, pois permitiram o debate, considerando o planejamento de situações de estudo ou projeto de aprendizagem. A manipulação de equipamentos, a necessidade de aprendizagens para sua manipulação, os resultados que se esperavam não eram materializados na produção do vídeo, exigindo novas intervenções e produções. Por fim, o quarto encontro teve como objetivo fazer a editoração dos vídeos. A centralidade foi facilitar o processo de edição, a ser realizado pelo grupo de professores, para que estes pudessem ter competência em fazer essa atividade e também, se fosse necessário, ensinar seus alunos. Para isso foram apresentadas nove opções de editores de vídeo que podem ser utilizados em celulares, recurso mais fácil de aquisição pelos professores e também pelos alunos das escolas. Para trabalharmos passo a passo com o grupo, foi escolhido o software de edição Capcut, disponível para download em Android e IOS. Ele existe nas versões gratuita e paga, esta última com recursos mais robustos de uso, mas ficando a critério do usuário a escolha de utilizá-la ou não. Este software apresenta funções como corte, reposicionamento de trechos do vídeo, inserção de trilha, além da possibilidade de adicionar efeitos, filtros e o famoso recurso de legendas automáticas. Também é possível remover a marca d’água ao final da edição, um importante recurso para os que desejam trabalhar livre da marca do aplicativo. Este encontro exigiu um acompanhamento, mais de perto, da profissional que estava ministrando a oficina e dos próprios estudantes (pós-graduandos) auxiliando na descoberta de recursos, dos celulares dos professores e também como baixar o aplicativo, baixar um vídeo, recortar uma parte desejada, incluir a legenda. Enfim, conhecimentos que podem auxiliar muito o professor na hora do encaminhamento com seus alunos, aproveitando efetivamente algumas atividades e seus registros a partir do recurso de produção de vídeo. A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 163 Por fim, o último encontro foi sobre “Como criar um podcast”, essa que é uma nova forma de criar conteúdo para interagir com diferentes públicos por meio das plataformas streaming e que também acaba sendo um ótimo recurso a ser utilizado pelo professor, como introdução de conteúdo, sua explicação e/ou sistematização. Antigamente esse tipo de programa de interação ficava restrito às ondas de rádio, sob domínio dos radialistas donos de vozes singulares. Hoje não é mais assim. Atualmente os produtores de conteúdo de podcast assumem os mais diversos perfis e a proposta virou uma “febre” tanto para os que querem se informar quanto para os que querem se divertir. Os podcasts são como programas de rádio, mas ofertados em períodos específicos e sob demanda. O principal diferencial é que o ouvinte pode ouvir quando e onde quiser. Esse formato tem uma alta potência de comunicação, que pode levar informação, educação, entretenimento, não existindo limite para a criatividade de utilização. As pessoas interessadas acompanham direto do smartphone ou no computador o lançamento de cada novo episódio de podcast automaticamente. Hoje, além de agregadores de podcasts, como o Google Podcasts, as principais plataformas de streaming do mercado, como Spotify e Deezer, também possuem podcasts. Para produzir um podcast é essencial, assim como no vídeo, seguir um roteiro e fazer um planejamento. Entre as principais questões a serem consideradas para o planejamento de um podcast trabalhou-se com o grupo um passo a passo de orientação para facilitar o trabalho na escola: • Definir o conteúdo a ser trabalhado no podcast: aqui, assim como no vídeo, é importante que o professor tenha clareza de que assunto irá abordar. Normalmente escolher uma temática específica que faz parte do conteúdo da disciplina e trazer um convidado para falar sobre a temática torna a abordagem mais interessante. • Escolher o formato desse conteúdo: em um podcast é possível trabalhar com diferentes abordagens, entre elas a mais comum é o formato “entrevista” ou “bate-papo” entre o condutor da conversa e o participante do podcast, mas outros formatos também têm ganhado espaço, tais como: rodas de conversa; notícias curtas, A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 164 quando são apresentadas informações como pílulas de conteúdo; ou storytelling, em que é narrado o conteúdopor meio de uma história contada; documentário. • Fazer pesquisas e escolhas dos convidados: pesquisar em outros canais que falam sobre a mesma linha editorial que você definiu para seu podcast é muito importante para você saber o que está sendo discutido na atualidade. Além disso, ter domínio do seu tema irá permitir que você consiga manter uma conversa fluida e mantenha a qualidade do seu programa, sem cópias. Por isso, trazer convidados que deem autoridade e embasamento para a temática que está sendo discutida, sejam pesquisadores, profissionais da área, etc., é sempre muito importante. • Definir a periodicidade e o número de episódios: defina quantos episódios terá, quantas vezes na semana/mês será divulgado. Realize um planejamento geral do início ao fim. Faça um cronograma dessas atividades e atrele isso ao seu plano de ensino, pois isso irá auxiliá-lo a trabalhar as temáticas dentro do seu podcast. • Escolher equipamentos e programas para a gravação: tenha um bom microfone que possa ser conectado ao computador ou ao celular e saiba quais softwares de captação e edição irá usar depois. • Publicar e divulgar seu podcast: hoje em dia, diversos agregadores distribuem os seus episódios via feed RSS, que são responsáveis por disponibilizá-los em plataformas de streaming, como Spotify, Deezer, Apple Music, Google Podcasts e muitas outras. Uma das melhores opções para criar um feed RSS é usar o Anchor. Na parte de edição foi trabalhado com o grupo a possibilidade de editar com o Anchor, uma plataforma gratuita de edição, criação e divulgação de podcasts, e que está disponível na Web, além de possibilitar download nos sistemas operacionais Android e IOS. Para edição do podcast foi organizada a sistematização de sete passos orientadores, que são: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 165 • O primeiro passo é realizar um login, criando uma conta na plataforma, no caso de ser o primeiro acesso. Para isso, basta tocar na opção “fazer login” e inserir o e-mail e senha. Também é possível se registrar com uma conta Google. • O segundo passo é abrir a página inicial do aplicativo, em que será possível acessar as opções adicionais de gravação tocando o botão “Ferramentas”. Feito isso, o usuário será redirecionado para a página principal de gravação e poderá começar a fazer o seu podcast. • No passo três, os part icipantes aprendem a convidar colaboradores para o seu podcast. Isso se dá ao começar a gravação tocando em “Convide amigos”. Durante a gravação, também é possível adicionar marcações para facilitar a edição em momentos específicos, clicando na opção “adicionar sinalizador”. • No quarto passo, os participantes aprendem que o Anchor também permite realizar algumas edições como adicionar trilha sonora na gravação. Para isso, basta tocar sobre a opção “Adicionar Música de Fundo” e buscar pela canção desejada. Feito isso, toque no botão de “+”, localizado no canto direito, para incluir automaticamente a música na gravação. • No passo cinco chegamos enfim na edição mais refinada do podcast. Para isso, basta selecionar a opção “Configurações de Podcast” e “Configurar seu Podcast Agora”. Em seguida, nomeie a gravação de acordo com o conteúdo da apresentação. Dessa forma, será mais fácil para que outras pessoas encontrem seu podcast nos mecanismos de busca do Anchor. • O passo seis é entrar na aba “Seu Podcast”, na qual é possível acessar as configurações de seu perfil. Para isso, toque no ícone de “reticências” localizado no canto superior direito da tela. • Para finalizar, o sétimo e último passo é selecionar a opção “Configurações da Conta” para atualizar nome de usuário, foto de perfil e o seu site no App. A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 166 Após a proposição das oficinas e das produções realizadas, o grupo de professores da Educação Básica, trabalharam em suas escolas, com os materiais disponibilizados pelo projeto e principalmente com as aprendizagens e discussões realizadas. CONSIDERAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO Entendemos que a relação universidade-escola, para instituições que formam professores para Educação Básica e a nível de Pós-Graduação em educação, é fundamental para compreendermos as complexas necessidades de ser professor na Educação Básica, os processos de ensinar e o aprender conceitos científicos, seja na área de Ciências da Natureza ou de Matemática, áreas objeto de discussão no projeto de pesquisa e também nas oficinas aqui apresentadas e vivenciadas. O processo da pandemia da Covid-19 complexificou ainda mais as relações no campo da educação, em razão do distanciamento social. Diferentes recursos tecnológicos (Internet, plataformas, vídeos, podcasts, etc.), possibilitaram que o processo educativo permanecesse, a partir do que foi chamado de ensino híbrido ou ensino on-line. Para este momento de urgência muitos professores foram fazendo o que sabiam fazer e disponibi- lizado muitas formações organizadas pelas Secretarias de Educação, assessorias e as próprias universidades. Passada a urgência do processo pandêmico, o que pode ficar como contribuição para garantirmos o processo de ensino com qualidade e a aprendizagem de nossos alunos nas escolas de educação básica é uma questão central que exige, das Universidades uma aproximação ainda maior do cotidiano das escolas. Foi a partir da necessidade do entendimento dos impactos do ensino híbrido que o projeto de pesquisa foi traçado. Neste texto trouxemos o vídeo e o podcast como recursos tecnológicos, que podem permanecer e contribuir no processo de ensino e aprendizagem. Para isso é necessário que os professores, profissionais qualificados e responsáveis pelo ato educativo tenham formações continuadas e momentos de discussão e aprendizagem, apropriando-se do que muitas vezes não foi objeto de aprendizagem, nos cursos de formação inicial. A mobilização de recursos tecnológicos, como potentes no desenvolvimento de ações de cunho pedagógico, como vídeos e podcasts, abordado nas oficinas, A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO UM RECURSO PEDAGÓGICO: UMA VIVÊNCIA A PARTIR DE ARTICULAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cát ia Mar ia Nehr ing – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ta l i ta C indrowsk i Mazzo la D iane Sara iva Fronza – Luana Henr i chsen – Raque l Ta í s Breun ig 167 na sua produção, exige para além de uma intencionalidade pedagógica, uma série de conhecimentos, entre estes conhecimentos técnicos relacionados a esta produção. Para este enfrentamento os processos de formação continuada são fundamentais. Neste caso, a proposição das oficinas possibilitou a compreensão das necessidades da produção de um vídeo e um podcast. Para além do professor utilizar um vídeo e um podcast, pronto, que também tem sua função do contexto educativo, a produção permite ao docente definir se estes recursos tecnológicos serão utilizados para introduzir um conceito, registrar uma atividade ou sistematizá-los. Além disso, a produção de vídeo e podcast permite ao professor colocar os alunos em atividade, a partir da necessidade de organização das ideias, das suas compreensões, expressando seus entendimentos e compreensões conceituais. Entendemos e defendemos que a utilização de recursos tecnológicos, sejam quais forem, em sala de aula, só contribuirá para processos de ensino e de aprendizagem, com a atuação intencional do professor epara isso é condição necessária que este aprenda, conheça, domine estas ferramentas para o contexto educativo, por isso a importância de processos formativos e colaborativos entre Universidade e escola. REFERÊNCIAS DALBOSCO, Claudio Almir; FÁVERO, Altair Alberto. Universidade e formação pedagógica: a busca por excelência em ensino, pesquisa e extensão. In: SGARI, Rosani; VALÉRIO, Patrícia da Silva; CASAGRANDA, Edison Alencar (org.). Universidade e formação. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2017. p. 13-35. MORAN, J. M. O vídeo na sala de aula. Comunicação e Educação, v. 2, p. 27-35, 1995. SILVA, J. L. et al. A utilização de vídeos didáticos nas aulas de química do Ensino Médio para abordagem histórica e contextualizada do tema vidros. Química Nova na Escola, v. 34, n. 4, p. 189-200, nov. 2012. 169 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: Uma Análise a Partir de Levantamento no YouTube Guilherme Pereira Brigo Isabel Koltermann Battisti Kelly Gabriela Poersch Cátia Maria Nehring INTRODUÇÃO As tecnologias de forma geral e o seu uso tornou e torna o mundo cada vez mais globalizado, ampliando o acesso às informações e modificando os processos produtivos em todos os setores da sociedade e, assim, as relações estabelecidas e as próprias práticas sociais. Nesse sentido, no contexto educacional, é imprescindível que o currículo seja reorganizado e que novos modelos de práticas educativas sejam experienciadas por todos aqueles que fazem a escola, e que, desse modo, as tecnologias sejam usadas em favor da instituição de processos de aprendizagem. Para Lévy (1999, p. 172), “[...] o uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativas acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o saber”. Essa ideia, de certa forma, é corroborada por Borba (2016, p. 2) ao afirmar que [...] é certo que, com o advento da Internet, a sala de aula mudou sua forma, ou sua topologia. Do cubo isolado, ela se transformou em um tentáculo com ligações pela Internet de um computador de mesa, de um laptop e de dezenas de celulares. Mobilidade e conectividade são palavras-chave para pensarmos na reinvenção da sala de aula que está em curso, mas nem sempre teorizada por aqueles que estudam educação matemática. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 170 Neste cenário, a apropriação de conceitos e de procedimentos matemáticos pelo estudante é essencial, visto que tais processos ampliam as condições que possibilitam o desenvolvimento de importantes habilidades cognitivas exigidas para compreender e intervir a/na sociedade contemporânea, por exemplo, o raciocínio lógico-matemático e a resolução de problemas. O uso de softwares, de objetos virtuais de aprendizagem e mesmo de vídeos foi tomando espaço nas diferentes salas de aula e também em estudos extraclasse como um complemento do proposto no decorrer das aulas ou na preparação para processos seletivos, como vestibular e concursos. As tecnologias alteraram, assim, entre tantos outros aspectos, os recursos didáticos e pedagógicos considerados nos projetos de aprendizagem em Matemática. E o uso de vídeos, como já indicado, apresenta-se como um recurso capaz de potencializar a aprendizagem em Matemática. Tem sido fortemente procurado por estudantes com a finalidade de complementar os assuntos desenvolvidos em sala de aula e também buscado por professores com vistas a fazer parte do ensino proposto. De acordo com Borba e Oechsler (2018), o vídeo é um dos recursos buscados pelos estudantes para complementar ou aprofundar determinados conhecimentos. Para os autores, isso deve-se às vantagens potencializadas pela utilização do vídeo na aprendizagem de conceitos ou de algo do cotidiano. Uma dessas vantagens é a possibilidade de assistir a um vídeo diversas vezes. Desse modo, caso o estudante deseje retomar algo, pode, por exemplo, assistir novamente ao trecho em que o professor explica um determinado procedimento, atividade, exemplo, exercício. Com esse intuito por parte dos estudantes é recorrente que tal busca aconteça na plataforma do YouTube. Nesse sentido, de acordo com Thees (2019, p. 119), embasado em Allocca (2018), “O YouTube fez o mundo mudar”. Para esta autora, a “plataforma de compartilhamento de vídeos diz mais sobre nós e a sociedade em que vivemos do que qualquer outra rede social” (Ibidem, p. 119). Thees (2019), com base em Bonk (2011), apresenta algumas ocasiões nas quais o professor pode utilizar vídeos em suas aulas e também maneiras pelas quais os alunos podem usar vídeos do YouTube. A estes modos a autora denominou de atividade pedagógica e também apresenta uma breve descrição dos processos, os quais são mostrados nos Quadros 1 e 2. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 171 Quadro 1 – Modos de iniciar e finalizar uma aula com vídeos centrados no professor Atividade Pedagógica Descrição do processo 1. Vídeo de Introdução Vídeos on-line são usados para introduzir ou organizar uma aula. 2. Vídeo de Finalização Vídeos on-line são usados após a discussão da aula ou como uma atividade final. 3. Introduzir e Finalizar Vídeos on-line são usados para iniciar a discussão, assim como outros são usados no final da aula, para que haja uma percepção de encerramento da discussão. 4. Pré-visualizar e discutir on- line O professor seleciona vídeos e os publica para os alunos as- sistirem antes ou depois da aula. Se os alunos participarem de uma discussão on-line com base nesses vídeos, deve-se ter clareza sobre as regras de postagem e quantos comentários de colegas devem responder. 5. Vídeo de introdução e discussão Vídeos on-line são usados para introduzir ou organizar uma aula, seguido de discussão com os alunos organizados em pequenos grupos com determinadas tarefas atribuídas. 6. Pausar e refletir O professor reproduz uma parte de um vídeo do YouTube e faz uma pausa para reflexões e, em seguida, continua a repro- duzir o vídeo. 7. Refletir sobre conceitos-chave Exibição de vídeo do YouTube para que os alunos reflitam sobre os conceitos incorporados nele. O vídeo pode ser repetido algumas vezes enquanto o professor assinala os principais con- ceitos-chave para a turma. Ele pode pedir aos alunos que digam “pausa” quando virem um determinado conceito-chave aparecer. 8. Vídeo de Introdução, Aula e Avaliação (VIAA) Vídeos on-line são usados para introduzir ou organizar uma aula, e, em seguida, o professor ministra uma aula sobre conteúdos relacionados aos conceitos desses vídeos. Ao término da aula, os mesmos vídeos do YouTube podem ser exibidos e os alunos, solicitados a refletir sobre os conceitos abordados neles. Tal atividade pode ser incorporada como processo de avaliação. 9. Vídeo de introdução de conceito sob demanda Durante uma atividade de aula ou debate, o professor faz uma pausa, a qualquer momento, e exibe um vídeo do YouTube relacionado a um conceito, teoria ou ideia que está sendo apresentado ou discutido naquele momento. 10. Introduzir e finalizar Os vídeos do YouTube podem ser exibidos em uma videoconfe- rência ou conferência com outras turmas e usados para estimular a discussão e a interação pela Web. Vídeos controversos podem ser escolhidos propositalmente para promover essa interação. Fonte: Thees, 2019, p. 116-117 (Traduzido de Bonk, 2011). VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termannBat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 172 Quadro 2 – Modos de iniciar e finalizar uma aula com vídeos centrado nos alunos Atividade Pedagógica Descrição do processo 1. Elaboração de Fichamentos Alunos selecionam vídeos para exibir na aula e debatem sobre ele. Alunos designados como os provedores de recursos interessantes de cada semana devem criar um fichamento para os vídeos e os distribuem para a turma. 2. Pré-visualizar e Discutir Alunos atuam como provedores de recursos, selecionando vídeos e compartilhando com a turma, que pré-visualiza seguido de discussão em aula 3. Introdução Colaborativa Um par de alunos e o professor selecionam alguns vídeos relevantes para a semana, compartilham entre si e decidem quais usar na aula. 4. Demonstrar e Introduzir Cada aluno traz um vídeo para a aula, apresenta e explica como esse se relaciona com os conceitos do curso. Recomenda-se uma distribuição de fichas explicativas. 5. Criadores de Introdução Os alunos criam seus próprios vídeos no YouTube para ilustrar os conceitos do curso. 6. Arquivos de Introdução Um diretório com os vídeos dos anos anteriores é criado e os alunos são convidados a atualizá-los. 7. Competições de vídeo Os alunos encontram vídeos relevantes e enviam a lista para o professor visualizar e selecionar. Os alunos cujos vídeos são selecionados podem receber reconhecimento especial ou pontuação extra. 8. Compartilhar e Classificar Os alunos podem compartilhar vídeos do YouTube com alunos de outras turmas e instituições e, talvez, classificar os vídeos postados por seus colegas. 9. Debater Conceitos Os alunos são convidados a encontrar no YouTube vídeos que destaquem os aspectos positivos e negativos de um conteúdo e usá-los em discussões e debates presenciais ou online. 10. Entrevista com criadores de vídeos Os alunos buscam vídeos considerados relevantes no YouTube e entrevistam o criador por e-mail acerca dos objetivos do vídeo e de seus usos. Pode ser solicitada ao criador do vídeo sua participação na aula através de um chat online. Fonte: Thees (2019, p. 117-118. Traduzido de Bonk (2011)). Segundo Thees (2019), as possibilidades apresentadas nos quadros parecem envolver o uso pedagógico de vídeos disponibilizados no YouTube, porém destaca que “[...] as possibilidades educacionais implícitas nesse tipo de mídia também dependem de uma avaliação prévia do conteúdo dos vídeos, ou mesmo das videoaulas” (p. 118). VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 173 Diante do exposto, sentimos necessidade de identificar alguns elementos relacionados aos vídeos disponibilizados nessa plataforma, de modo a termos subsídios para nossa pesquisa e delimitação da produção ora apresentada neste texto. Assim, a presente investigação tem como objetivo analisar as produções audiovisuais postadas na plataforma do YouTube acerca da Matemática. Este objetivo é delimitado pelas questões: Quais vídeos relacionados à Matemática são apresentados na plataforma do YouTube? e Quais as características dos vídeos mais acessados pelos usuários nessa plataforma? Para iniciarmos o trabalho de pesquisa foi necessário buscar referenciais teóricos e também tomarmos conhecimento dos vídeos já produzidos e disponibilizados na plataforma do YouTube, bem como as características dos vídeos mais acessados pelos usuários. O presente texto, que apresenta a referida investigação, organiza-se a partir da Introdução, em três seções, sendo elas: Metodologia; Vídeos relacionados à área matemática: uma análise a partir de levantamento na plataforma YouTube – estruturada em duas unidades de análise (Vídeos: o que o número de visualizações pode indicar?; e Conceitos e unidades temáticas nos vídeos: o que é possível indicar?) e Considerações finais. METODOLOGIA Para atender ao objetivo da presente pesquisa e produzir argumentos capazes de responder à questão norteadora da investigação, foram feitas algumas escolhas, entre as quais optou-se em considerar apenas vídeos de cunho pedagógico ou educativos que envolvam Matemática, desconsiderando vídeos sobre Matemática pura, curiosidades sobre Matemática, entre outros. Para tanto, a presente pesquisa tem uma abordagem qualitativa e considera aspectos quantitativos, com dados coletados por meio da plataforma YouTube. Na caixa de pesquisa da plataforma, foram inseridos descritores relacionados à Matemática. Para evitar o enviesamento causado pelo algoritmo de sugestões da plataforma, os cinco descritores foram buscados desconectados de uma conta do YouTube e do Google. Estes cinco descritores foram: Aula de Matemática; Vídeo de Matemática; Matemática Básica; Matemática no Ensino Fundamental e Matemática no Ensino Médio. A pesquisa foi realizada em março de 2023. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 174 Na seleção a partir dos descritores, as buscas foram filtradas pela opção “vídeo”, oferecido pela própria plataforma, a fim de que canais, transmissões ao vivo ou filmes não interferissem nos resultados. Para cada descritor foram considerados os 10 primeiros vídeos apresentados como resultado. Alguns dos vídeos apareceram como resultado na busca de mais de um descritor. Os resultados da busca no YouTube foram dispostos em uma tabela, organizados de acordo com os descritores utilizados. Nesta, consta o título de cada vídeo, o canal que fez a postagem, o número de visualizações, o tempo de duração do vídeo e uma descrição na forma de síntese considerando o(s) conceito(s) matemático(s) envolvido(s), o público-alvo a que se destina e a forma como o(s) conceito(s) é(são) abordado(s). A partir de uma análise preliminar considerando os dados apresentados na tabela já mencionada, de forma especial para a abordagem dos conteúdos e da própria condução do vídeo – se este enfatiza a explicação de um conceito ou, por exemplo, a resolução de questões – os vídeos foram organizados em quatro categorias, quais sejam: vídeos preparatórios para vestibulares; videoaulas de conceitos matemáticos; videoaulas com abordagem lúdica, que é uma subcategoria da categoria de videoaulas, e vídeos preparatórios para concursos. Embora tanto a categoria vídeos preparatórios para vestibulares quanto os vídeos preparatórios para concursos sejam semelhantes – ambos, vestibular e concurso, são uma prova – é necessário esclarecer porque os vídeos foram separados em duas categorias diferentes. Isso se deu por dois motivos principais, em que o primeiro diz respeito ao objetivo da prova e o segundo à abordagem dos vídeos. Em se tratando do objetivo da prova, enquanto o concurso é uma prova prestada para concorrer a uma vaga de emprego, o vestibular é feito para concorrer a uma vaga na universidade. Ou seja, estamos falando de objetivos diferentes para utilização e a própria organização dos vídeos. Por sua vez, em relação à abordagem dos vídeos, há uma diferença entre os vídeos de cada categoria. Os vídeos preparatórios para concursos trazem apenas resolução de questões de concursos anteriores. Já os vídeos preparatórios para vestibulares, embora a resolução de questões esteja presente nesses vídeos, há também uma explicação, uma explanação acerca dos conceitos matemáticos envolvidos na questão. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 175 Com vistas ao aprofundamento das discussões, considerando as especificidades de cada uma das categorias elencadas,optou-se em estruturar as análises a partir de duas seções: Vídeos: o que o número de visualizações pode indicar? Conceitos e unidades temáticas nos vídeos: o que é possível indicar? E as análises e discussões propostas se fazem por meio de autores que discutem as tecnologias digitais nos processos de ensino e de aprendizagem e as inter-relações com a Matemática escolar, tais como Thees (2019), Nagumo, Teles e Silva (2020) e Borba e Oechsler (2018). VÍDEOS RELACIONADOS À ÁREA MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NA PLATAFORMA YOUTUBE Com o avanço das tecnologias, avançam também as possibilidades para o seu uso e aplicabilidade. Uma delas é a utilização dessas tecnologias em sala de aula, de modo a auxiliar o professor na instituição de processos de aprendizagem. Nesse sentido, o vídeo se apresenta como uma ferramenta com grande potencial. As categorias consideradas a partir do levantamento de vídeos realizado na plataforma do YouTube, bem como os critérios para sua categorização, estão apresentadas no Quadro 3. Este mostra informações sobre os vídeos selecionados, com dados obtidos a partir de uma leitura sobre cada um deles. Quadro 3 – Categorias dos vídeos e critérios de análise Conteúdos/ Conceitos Tempo de Duração dos vídeos (min) Público-alvo do vídeo Abordagem Vídeos prepa- ratórios para vestibular Frações, equa- ções polino- miais do 1° e 2°, funções polino- miais do 1° e 2º, progressões aritmética e geo- métrica e teoria dos conjuntos Longa: alguns com cerca de 20 minutos, mas a maioria varia entre 40 e 120 minutos Estudantes cursando Ensino Médio, ou com Ensino Médio com- pleto antes de ingressar na universidade Explicação de conteúdo/ conceitos matemáticos e resolução de questões VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 176 Videoaulas de conceitos matemáticos Divisão, poten- ciação, frações, equação poli- nomial do 1° e função polino- mial do 1° Variam entre 10 e 40 mi- nutos Estudantes cursando toda a Educação Básica Explicação de conteúdos/ conceitos matemáticos Videoaulas - abordagem lúdica As 4 operações básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão) 8 min ou me- nos Estudantes cursando os primeiros anos da escola Explicação de conceitos matemáticos básicos de for- ma lúdica com animação Vídeos prepa- ratórios para concurso Funções po- linomiais de 1°, progressão aritmética, porcentagem e geometria Variada: há vídeos com menos de 10 minutos, ou- tros com cerca de 60 minutos ou até 90 minutos Estudantes cursando Ensino médio, ou com Ensino Médio com- pleto Resolução de questões Fonte: Elaborado pelos autores. No critério Conteúdos/Conceitos estão apresentados os conceitos matemáticos que se evidenciam em cada uma das categorias. Os conceitos mais presentes nos vídeos são: as 4 operações básicas, com um grande número de vídeos sobre divisão, seguido de proporcionalidade e frações. Em uma quantidade menor aparecem potenciação, equações polinomiais de 1° e de 2°, funções polinomiais de 1° e 2°, entre outros. Possíveis explicações, com embasamento em Oliveira e Oliveira (2017), serão explicitadas mais adiante. No critério tempo de duração dos vídeos observa-se, de maneira geral, uma certa uniformidade. Independentemente da categoria, os vídeos mais curtos são os que apresentam dicas ou os que explicam um conceito de forma breve, sem aprofundar muito. Por sua vez, os vídeos mais longos envolvem mais de um conceito, e consideram relações entre estes. Já os vídeos com duração superior a 90 minutos são constituídos, na grande maioria, por compilações de diferentes vídeos com diversos conteúdos e conceitos em um vídeo só, apresentando um pouco de tudo. Por exemplo, o autor compila todos os vídeos sobre geometria do canal dele e republica em um único vídeo, com duração de 3 ou 4 horas. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 177 Com relação aos conceitos, os vídeos com maior duração média abordam, respectivamente, frações, operações básicas – a divisão apresenta vídeos consideravelmente mais longos que as demais operações – equações, potenciação, porcentagem e proporcionalidade. É possível perceber que os vídeos mais longos envolvem conceitos que também estão presentes numa quantidade maior de vídeos. Uma conjectura possível a partir dessa constatação é de que estes são os conceitos nos quais os alunos mais têm dificuldade nos processos de ensino e de aprendizagem. Para contornar essa situação os professores podem, nos projetos de aprendizagem, explorar vídeos, uma vez que estes se apresentam como um poderoso recurso didático- -pedagógico. O critério público-alvo da aula aponta para quais etapas da educação escolar o vídeo se destina. Alguns vídeos, como os da categoria de videoaulas com abordagem lúdica, são direcionados a alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, que vai do 1° ao 5° ano. Há vídeos direcionados aos anos finais do Ensino Fundamental (do 6° ao 9° ano), cujos conceitos envolvidos se diversificam. Por fim, há os vídeos direcionados aos estudantes do Ensino Médio, no qual os conceitos e conteúdos se complexificam. Vídeos: o que o número de visualizações pode indicar? Dos 50 resultados encontrados, são apenas 34 vídeos diferentes, porque alguns dos vídeos apareceram em mais de uma busca. Do total, 44% são videoaulas que envolvem conceitos matemáticos, 16% são vídeos preparatórios para vestibulares, 24% são vídeos preparatórios para concursos e os demais são videoaulas com abordagem lúdica. Isso pode indicar uma preferência dos usuários por vídeos que possam auxiliar a entender conceitos das aulas. Para explicitar melhor, foram apresentados dados acerca das visualizações dos vídeos. O Gráfico 1 apresenta o porcentual da quantidade de vídeos em cada categoria, desconsiderando repetições. Nesse caso, a distribuição porcentual dos vídeos varia em comparação com o total de vídeos: VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 178 Gráfico 1 – Porcentual de vídeos por categoria excluindo repetições Fonte: Elaborado pelos autores. Excluindo os vídeos que apareceram em mais de uma categoria, os resultados apresentam uma preferência mais equilibrada entre as categorias videoaulas e preparatórios para concurso. Uma possível provocação que isso pode indicar é que, embora as produções de vídeos para ambas as categorias sejam em quantidade semelhante, a categoria das videoaulas é mais buscada pelos usuários. Para uma análise mais qualificada, entre outros aspectos, é necessário considerar as visualizações dos vídeos. Ao analisar as visualizações dos vídeos é possível verificar que a maior quantidade de acessos nos vídeos ocorre na categoria de videoaula, com quase 60% das visualizações totais. As outras três categorias têm percentuais mais próximos entre si, variando entre 10% e 15%, como mostra o Gráfico 2. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 179 Gráfico 2 – Porcentual de visualização por categoria excluindo repetições Fonte: Elaborado pelos autores. De acordo com Nagumo, Teles e Silva, (2020), o YouTube é a plataforma favorita dos alunos para revisar um conteúdo ou aprender algo novo. Em um questionário on-line realizado pelos autorescom estudantes universitários, 87% dos respondentes afirmaram utilizar o YouTube para estudos pelo menos uma vez ao mês. Em nossa pesquisa, as videoaulas, aqui considerando também as videoaulas com abordagem lúdica, representam os maiores percentuais de vídeos selecionados a partir dos critérios elencados e também de visualizações. Em ambos os casos representam um índice superior à metade do total, o que revela uma predileção por essa categoria e está de acordo com a pesquisa de Nagumo, Teles e Silva, (2020). Um dos possíveis motivos para isso é a vantagem dos vídeos, apresentados por Borba e Oechsler (2018), quando, com um vídeo, uma aula pode ser vista quantas vezes for necessário para entender determinado conceito. “A possibilidade de se observar um número indefinido de vezes o mesmo vídeo ou o mesmo trecho, a utilização de vídeos para ilustrar cenários que seriam muito custosos ou perigosos” (Borba; Oechsler, 2018, p. 16) são algumas das vantagens citadas pelos autores. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 180 Além de uma ferramenta de expansão da sala de aula, o vídeo pode ser utilizado para auxiliar o professor em diferentes projetos de aprendizagem em suas aulas. As possibilidades para isso são variadas, como um vídeo para introduzir um novo conceito, para sistematizar uma aula ou para uma revisão do que foi estudado. Para isso, contudo, o professor deve tomar alguns cuidados, a fim de evitar que os alunos interpretem a proposta como apenas um “tapa buraco”, o que causaria desinteresse. Outro ponto a ser considerado pelo professor é que o vídeo não pode ser trabalho desconexo dos estudos propostos num projeto de aprendizagem considerando uma intencionali- dade pedagógica. É preciso que o professor consiga conectar o conteúdo e/ ou a abordagem do vídeo com o projeto de aprendizagem que está sendo proposto e desenvolvendo nas aulas, de forma a ampliar e/ou aprofundar entendimentos produzidos pelos estudantes. Amaral (2013) discute sobre este aspecto, trazendo a importância de o professor saber escolher quando e como fará a utilização do vídeo em sala de aula: Como introduzi-lo? Com pausas e explicação?, e ainda, sempre fazendo relação entre a mídia usada e o conteúdo explorado. Ideia essa também considerada por Thees (2019) ao indicar os modos pelos quais os professores e os estudantes podem explorar vídeos do YouTube, como já apresentado nos Quadros 1 e 2. Conceitos e unidades temáticas nos vídeos: o que é possível indicar? De acordo com a BNCC (Brasil, 2018, p. 265): O conhecimento matemático é necessário para todos os alunos da Educação Básica, seja por sua grande aplicação na sociedade contemporânea, seja pelas suas potencialidades na formação de cidadãos críticos, cientes de suas responsabilidades sociais. Tais ideias tomam uma concretude no contexto escolar a partir do currículo. A BNCC (Brasil, 2018) propõe uma organização curricular que considera o desenvolvimento de competências e habilidades. Na área Matemática, para o Ensino Fundamental, o referido documento propõe competências específicas para a área, as quais se materializam na forma de habilidades e objetos de conhecimento, organizados em cinco unidades temáticas, quais sejam: Números, Álgebra, Geometria, Grandezas e Medidas e Probabilidade e Estatística. Já no Ensino Médio, são propostas competências específicas para a área de Matemática e suas Tecnologias, as VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 181 quais se concretizam por meio de habilidades. A BNCC (Brasil, 2018) para a área de Matemática e suas Tecnologias sugere dois arranjos curriculares, um que considera as habilidades propostas para cada uma das competências específicas da área e outro que organiza as habilidades em unidades temáticas, quais sejam: Números e Álgebra; Geometria e Medidas e Probabilidade e Estatística. A partir dos dados coletados pela pesquisa foi possível classificar os vídeos em cada uma das cinco unidades temáticas propostas pela BNCC (Brasil, 2018) para área Matemática do Ensino Fundamental. Alguns dos vídeos apresentam abordagens de conceitos a partir de diferentes unidades temáticas. Aqui está sendo considerada a abordagem que toma uma maior evidência no vídeo. O Gráfico 3 mostra o percentual de vídeos que abordam conceitos nas unidades temáticas, considerando o proposto pela BNCC (Brasil, 2018) para o Ensino Fundamental. Gráfico 3 – Porcentual de vídeos em cada área da Matemática Fonte: Elaborado pelos autores. Para esta parte da pesquisa os vídeos repetidos – os que aparecem em mais de uma categoria – foram considerados apenas uma vez. Além disso, por alguns deles serem compilações de estudos, apresentam conceitos atrelados a mais de uma unidade da Matemática, e por isso foram contabilizados para o percentual nas unidades temáticas envolvidas. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 182 A partir dos dados coletados é possível indicar que dois a cada três vídeos têm algum conceito relacionado à unidade temática Números. Entre estes, o assunto que mais se repete é o das quatro operações básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão), representando 70% dos vídeos dessa unidade temática. Os 30% restantes são divididos em potenciação, frações e outros. Vídeos sobre a unidade Números aparecem nas quatro categorias analisadas anteriormente – videoaulas, preparatórios para concursos, preparatórios para vestibulares e vídeos com abordagem lúdica – observando-se que para a última categoria representa 100% dos vídeos. Por sua vez, a unidade temática Álgebra, que representa cerca de um em cada três vídeos, tem como principais conceitos proporcionalidade, equação polinomial do primeiro grau, porcentagem e função afim. Esta unidade da Matemática se faz presente em três das quatro categorias, e vídeos com abordagem lúdica sendo a exceção. Já conceitos relacionados à Geometria aparecem em apenas um vídeo, que trata sobre a planificação de figuras geométricas com três dimensões. Por fim, nenhum dos vídeos selecionados na pesquisa apresenta conceitos atrelados de forma específica às unidades temáticas Grandezas e Medidas nem Probabilidade e Estatística. Em uma pesquisa realizada com alunos do 6° ao 9° por meio de uma entrevista, Oliveira e Oliveira (2017) apontam que cerca de 50% dos alunos dessa etapa escolar apresentam dificuldade em Matemática. Estes dados, atrelados aos conteúdos e conceitos mais buscados pelos usuários, podem dar indicativos das principais dificuldades dos estudantes na aprendizagem da Matemática. Assim, o vídeo apresenta-se como um recurso com grande potencial. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando o objetivo e as questões que nortearam a produção apresentada neste texto: “Quais vídeos relacionados à Matemática são apresentados na plataforma do YouTube?” e “Quais as características dos vídeos mais acessados pelos usuários nessa plataforma?”, a partir da opção metodológica e do referencial teórico eleito, foi possível, na forma de síntese, traçar algumas considerações e, a partir destas, apresentar algumas contribuições para as áreas educação e Educação Matemática. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 183 Ao realizar a busca na plataforma, a partir de umaanálise prévia, os vídeos selecionados foram organizados em categorias, quais sejam: Vídeos preparatórios para vestibular; Videoaulas de conceitos matemáticos; Videoaulas – abordagem lúdica e Vídeos preparatórios para concurso. Tal categorização já aponta, de forma geral, algumas características dos vídeos selecionados. A análise dos dados evidenciou uma quantidade maior de videoaulas e vídeos preparatórios para concursos. Já a categoria de videoaulas apresentou um maior número de acessos pelos usuários. Além disso, a abordagem que toma uma maior evidência nas buscas é a unidade temática “Números”, proposta pela BNCC para a área de Matemática do Ensino Fundamental, o que pode dar indicativo de necessidades dos usuários. Observou-se, ainda, que alguns conceitos mostraram-se mais presentes do que outros, entre os quais as operações básicas, como também que os vídeos têm tempo de duração e finalidades diferentes e contemplam públicos distintos. Foram encontrados vídeos sobre dicas, outros com breves explicações e vídeos longos, com compilações de vários outros vídeos. As análises possibilitam, também, indicar que o vídeo pode se mostrar como um recurso didático-pedagógico com grande potencial para ser usado em sala de aula em diferentes Projetos de Aprendizagem que envolvem a área de Matemática. O fato de as tecnologias e os recursos digitais estarem muito presentes no cotidiano dos estudantes, demonstra que, se produzidos com tal propósito, o vídeo tem capacidade de extrapolar a sala de aula, de modo a alcançar outros espaços e muitas outras possibilidades. E, assim, com orientações e intencionalidade pedagógica, o vídeo pode ser um recurso didático que pode fazer parte de processos de ensino e aprendizagem. A investigação mostra também um grande campo aberto para novas pesquisas acerca dos vídeos em Projetos de Aprendizagem, considerando de forma especial abordagens que problematizam intencionalidades pedagógicas do professor e necessidades de aprendizagem dos estudantes. REFERÊNCIAS ALLOCCA, Kevin. Videocracy: How YouTube is changing the world... with double rainbows, singing foxes, and other trends we can’t stop watching. Bloomsbury Publishing, 2018. VÍDEOS EM PROJETOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE LEVANTAMENTO NO YOUTUBE Gui lherme Pere i ra Br igo – I sabe l Ko l termann Bat t i s t i – Ke l l y Gabr ie la Poersch – Cát ia Mar ia Nehr ing 184 AMARAL, R. B. Vídeo na sala de aula de matemática: que possibilidades? Educação Matemática em Revista, v. 18, n. 40, p. 38-47, 2013. Disponível em: http://www. sbem.com.br/revista/index.php/emr/article/view/298. Acesso em: 1º abr. 2023. BONK, Curtis J. YouTube anchors and enders: The use of shared online video content as a macrocontext for learning. Asia-Pacific collaborative education journal, v. 7, n. 1, p. 13-24, 2011. BORBA, M. de C. Fases das tecnologias digitais e a reinvenção da sala de aula. In: ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 12., 2016. São Paulo. Anais [...]. São Paulo: SBEM, 2016. Disponível em: http://www.sbembrasil.org.br/ enem2016/anais/pdf/5111_4425_ID.pdf. Acesso em: 2 mar. 2023. BORBA, M. C.; OECHSLER, V. Tecnologias na educação: o uso dos vídeos em sala de aula. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, v. 11, n. 2, 2018. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rbect/article/view/8434. Acesso em: 19 mar. 2023. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. NAGUMO, E.; TELES, L. F.; SILVA, L.; de A. A utilização de vídeos do YouTube como suporte ao processo de aprendizagem. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, SP: Universidade Federal de São Carlos; Programa de Pós-Graduação em Educação, 2020. OLIVEIRA, E. A. C.; OLIVEIRA, M. F. A. Dificuldades apresentadas por alunos do Ensino Fundamental na disciplina de Matemática. Revista Práxis, Três Poços: Centro Universitário de Volta Redonda, RJ, v. 3, n. 5, 2017. THEES, A. “Aprendi no YouTube”: investigação sobre estudar matemática com videoaulas. Rio de Janeiro, 2019. 260 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2019. THINK WITH GOOGLE. De play em play. Jul. 2017. Disponível em: https://www. thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/youtubeinsights/2017/de-play-em-play/. Acesso em: 19 mar. 2023. 185 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: Perspectivas Para Sociedades Sustentáveis Adalberto Freire da Silva Lenir Basso Zanon Vidica Bianchi CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Educação Ambiental (EA) é fundamental para conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação do meio ambiente e para promover a adoção de práticas ecológicas. A escola tem um papel fundamental na formação de cidadãos conscientes e responsáveis, e a EA deve ser parte integrante do currículo escolar. Conforme a lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, que, no seu artigo 2º, estabelece que “a Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (Brasil, 1999). Já com relação à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), podemos afirmar que ela é um documento que orienta os Projetos Político-Pedagógicos (PPP) de todas as escolas, e é dever das destas promoverem a EA, conforme a lei instituída pela Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Nas escolas públicas a educação ambiental é especialmente importante, pois muitas vezes os estudantes vêm de famílias de baixa renda e têm pouco acesso a informações sobre a importância da preservação do meio ambiente. Além disso, as escolas públicas são frequentemente localizadas em AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: PERSPECTIVAS PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Adalber to Fre i re da S i l va – Len i r Basso Zanon – V id ica B ianch i 186 áreas urbanas com vários problemas ambientais locais, tais como: falta de saneamento básico, descarte inadequado de resíduos, poluição do ar; falta de áreas verdes, risco de desastres naturais, entre outros. Esses problemas ambientais nas periferias das cidades brasileiras podem ter efeitos ambientais na saúde e qualidade de vida da população local, além de contribuir para problemas ambientais em níveis mais amplos. É importante que haja políticas públicas para abordar esses problemas e promover um ambiente mais saudável e sustentável para todos. Ao incluir a EA no currículo escolar, as escolas públicas podem ajudar a conscientizar os estudantes sobre a importância da preservação do meio ambiente e incentivar a adoção de práticas ecológicas. Conforme afirma Freire (1993), Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias (p. 16). Nesse contexto, a Educação Ambiental pode ser uma forma eficaz de melhorar a qualidade de vida nas comunidades locais, promovendo o uso de recursos renováveis e incentivando a reciclagem e a reutilização de materiais. A EA na escola pública é um processo educativo que busca sensibilizar e conscientizar os alunos sobre a importância da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais para a qualidade de vida e a sustentabi- lidade do planeta. Por meio da EA os estudantes são capazes de compreender os problemas ambientais e buscar soluções que contribuam para a construção de um futuro mais equilibrado e sustentável. A Educação Ambiental na escola pública pode ser desenvolvida de diversas formas, tais como: • Inclusão da temáticaambiental nos currículos escolares, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, de maneira até transversal e interdisciplinar. • Realização de projetos pedagógicos que promovam ações ambientais, como coleta seletiva de resíduos, hortas escolares, utilização de energias renováveis, entre outros. AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: PERSPECTIVAS PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Adalber to Fre i re da S i l va – Len i r Basso Zanon – V id ica B ianch i 187 • Realização de atividades práticas que envolvem os alunos em ações de preservação ambiental, como mutirões de limpeza de rios e praias, plantio de mudas, entre outras. • Promoção de palestras, debates, seminários e outras atividades que estimulem a reflexão crítica e o diálogo sobre as questões ambientais. É importante ressaltar que a EA na escola pública não deve ser vista como uma disciplina didática, mas sim como uma abordagem transversal que permeia todas as áreas do conhecimento e se articula com as dimensões social, econômica e cultural. Além disso, a participação da comunidade escolar, incluindo pais, professores e funcionários, é fundamental para o sucesso da Educação Ambiental na escola pública. A EA nas escolas é extremamente importante por vários motivos. Em primeiro lugar, ela contribui na conscientização dos alunos sobre a importância da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais para o bem-estar humano e para a sobrevivência de outras espécies. Além disso, a EA pode ensinar os alunos sobre como reduzir sua pegada ecológica e adotar práticas mais sustentáveis, como reduzir o desperdício de água e energia, reciclar e compostar resíduos, bem como optar por alimentos e produtos mais saudáveis. Outro benefício da EA nas escolas é que ela pode ajudar a promover valores como a solidariedade, a responsabilidade e a cidadania, posto que a proteção do meio ambiente é um problema coletivo que requer a participação de todos. Além disso, ela pode ser uma oportunidade para envolver os alunos em projetos ecológicos práticos, como a criação de hortas escolares, a instalação de sistemas de coleta seletiva e compostagem, a realização de campanhas de conscientização e outras atividades que podem ajudar a melhorar a qualidade do ambiente local e promover a sustentabilidade. Desta forma, entende-se que a EA nas escolas pode ajudar a formar cidadãos mais críticos e conscientes, capazes de compreender as relações complexas entre o meio ambiente, a economia, a sociedade e a política, e atuar de forma consciente e responsável em relação aos desafios ambientais que enfrentamos atualmente. AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: PERSPECTIVAS PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Adalber to Fre i re da S i l va – Len i r Basso Zanon – V id ica B ianch i 188 Nunca pude entender a leitura e escrita da palavra sem a “leitura” do mundo que me empurrasse à “reescrita” do mundo, quer dizer, a sua transformação. E quando falo em mundo não falo exclusivamente das árvores e dos animais, que também amo, das montanhas, dos rios. Não falo exclusivamente da natureza de que sou parte, mas das estruturas sociais, da política, da cultura, da história, de cuja leitura também faço parte (Freire, 1993, p. 107). A EA, em especial nas escolas públicas, pode ser uma ferramenta importante para conscientizar os alunos e a comunidade escolar sobre a importância da preservação do meio ambiente e incentivar a adoção de mudanças comportamentais. Para tanto, precisa oferecer aulas sobre temas ambientais, organizando atividades práticas como hortas escolares e coleta seletiva de resíduos, e estimulando a participação dos alunos em projetos e ações relacionadas à preservação do meio ambiente, possibilitando assim alternativas que fomentem uma cultura de sustentabilidade na comunidade local, estimulando a participação dos pais e dos membros da comunidade em atividades ambientais e incentivando a adoção de comportamentos mais sustentáveis em sua vida cotidiana. Para Santos (2018), todo conhecimento científico deve dialogar com o senso comum, com a pretensão tanto de iluminá-lo quanto de ser iluminado por ele, deslocando o desejo de controle e previsão do imaginário científico para uma região de sustentação da incerteza e da insegurança a partir da qual seja possível o “conhecimento prudente” compromissado com uma “vida decente”. Santos (2018, p. 72) complementa ainda que “não existe natureza humana porque toda a natureza, por si só é humana”. Ou seja, a educação é um espaço importante para o desenvolvi- mento de valores e atitudes comprometidas com a sustentabilidade ecológica e social. Para que a EA seja mais efetiva nas escolas, é importante que os professores estejam capacitados para abordar o tema de forma interdisci- plinar, integrando-o a diferentes disciplinas e estimulando o pensamento crítico e reflexivo dos alunos. Além disso, é fundamental que a escola esteja comprometida com a sustentabilidade, adotando práticas ambientalmente responsáveis em suas atividades cotidianas, como a gestão de resíduos e o uso eficiente de recursos naturais. Em suma, a EA em escolas públicas é AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: PERSPECTIVAS PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Adalber to Fre i re da S i l va – Len i r Basso Zanon – V id ica B ianch i 189 fundamental na formação de cidadãos mais conscientes, responsáveis e comprometidos com o meio ambiente, além de prepará-los para um futuro mais sustentável. Nesse contexto, este texto pretende trazer reflexões acerca de Ações Pedagógicas Contextualizadas desenvolvidas a partir do Projeto: “Tudo se transforma: Vivências de Educação Ambiental no Ensino Fundamental”, desenvolvido pela Escola Estadual de Ensino Fundamental Osvaldo Aranha no ano de 2022. O objetivo principal é possibilitar uma reflexão crítica destas ações que a escola desenvolveu na comunidade escolar na perspectiva de desafiar os professores na construção de um currículo emancipatório focando a construção de uma sociedade sustentável. Aspectos teóricos A EA é um tema cada vez mais importante na sociedade atual, uma vez que a conscientização sobre a necessidade de preservação do meio ambiente tem se tornado cada vez mais urgente. E dentro desse contexto, é impossível não mencionar a figura de Paulo Freire, um dos mais importantes pensadores da educação no século 20, que trouxe importantes contribuições para a EA. Freire (1993), no seu livro “Pedagogia do Oprimido”, afirma que a educação deve ser libertadora e crítica, capaz de capacitar as pessoas a compreenderem e transformarem a realidade em que vivem. Para ele, a EA precisa ter um papel fundamental nesse processo de transformação, uma vez que o meio ambiente é uma das dimensões mais importantes da realidade humana. De forma que a EA deve estar presente em todas as áreas da educação, desde a Educação Infantil até a universidade, de modo a garantir que os indivíduos desenvolvam uma consciência crítica em relação ao meio ambiente e às questões ambientais. Ele argumenta que a educação é um processo de diálogo entre educador e educando, em que ambos aprendem e se desenvolvem juntos. Uma das contribuições de Freire para a EA é sua abordagem dialógica, que incentiva a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem. Essa abordagem permite que os alunos desenvolvam uma compreensão mais profunda dos problemas ambientais e possam pensar em soluções criativas e inovadoras para enfrentá-los. AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: PERSPECTIVAS PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Adalber to Fre i re da S i l va – Len i r Basso Zanon – V id ica B ianch i 190 Daí que, para esta concepção como prática da liberdade, a sua dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra com os educandos-educadores em uma situaçãol ino Beerbaum 25 Quadro 1 – Oficina sobre instrumentos tecnológicos que contribuem no processo de ensino híbrido – Google Apresentações: os participantes foram desafiados a responder à se- guinte pergunta: “Quem é você, professor(a)?” e, em seguida, inserir uma frase que identifica a si mesmos como cidadãos e professores. Também foram convidados a tirar uma foto no momento da atividade e inseri-la no slide. – Google Jamboard: foram propostos os seguintes questionamentos: a) Quais recursos das tecnologias intervieram de forma positiva no processo de ensino e aprendizagem no período de pandemia? Por quê?; b) Em quais recursos das tecnologias você teve dificuldades no processo de ensinar e de aprender? Por quê? – Mentimeter: os participantes criaram slides para testar o conhecimento dos alunos. O questionamento proposto foi: “Quais foram os desafios vivencia- dos no processo de ensinar e aprender durante a pandemia?” – Padlet: foi proposto o questionamento: “Quais os impactos no processo de ensino e aprendizagem que você destacaria no período de pandemia?” – Sli.do: nesta plataforma, é possível trabalhar com quadros e listas. Fonte: Coordenação de Cátia Maria Nehring e Isabel Koltermann Battisti Nas demais oficinas foram trabalhados roteiros para produção de vídeos e captação de imagens. A partir das oficinas, os/as professores/as das seis escolas envolvidas produziram coletivamente oito Situações de Estudo ou Projetos de Aprendizagem, de acordo com as temáticas indicadas por eles. Também foram produzidos vídeos que elucidam os conceitos desenvolvidos com os alunos da Educação Básica. Cada escola foi acompanhada por pelo menos um professor da Unijuí ou Furg, em interação com bolsistas de Iniciação Científica, mestrandos, doutorandos e docentes de Educação Básica, os quais planejaram e desenvolveram as seguintes Situações de Estudo e/ou Projetos de Aprendizagem, conforme explicitado no Quadro 2. FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 26 Quadro 2 – Título das Situações de Estudo ou Projetos de Aprendizagem por escola de Educação Básica 1 – Escola Municipal Fundamental Pedro Costa Beber: Alimentar-se: um ato pedagógico, de vida, bem-estar e conexão. 2 – Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Padilha: A Horta Pedagógica e o percurso tecnológico: uma proposta de integração; SE: Alimentação e dro- gadição no funcionamento da máquina humana. 3 – Escola Estadual de Ensino Médio Emil Glitz: Matemática: o que eu tenho a ver com isso? 4 – Escola Estadual de Ensino Fundamental Carlos Zimpel: Gerenciamento de resíduos sólidos provenientes das atividades humanas; Nutrição e Seden- tarismo: Hábitos saudáveis na promoção da qualidade de vida. 5 – Escola Estadual de Ensino Fundamental Osvaldo Aranha: Tudo se trans- forma: Vivências de Educação Ambiental no Ensino Fundamental. 6 – Escola Municipal João de Oliveira: Alimentação, fonte de matéria e ener- gia. Fonte: Coletivos envolvidos no projeto. Além dos vídeos produzidos como parte das atividades de ensino, foram criados vídeos de apresentação dos trabalhos realizados nas escolas durante a 6ª edição da Mostra Interativa da Produção Estudantil em Educação Científica e Tecnológica – MoEduCiTec. Ainda como modo de ampliação de conhecimentos e compartilhamento de experiências, relacionadas aos impactos da pandemia na educação, foram promovidos seminários em parceria nacional e internacional (Portugal e Colômbia), os quais contribuíram no alargamento das compreensões dos modos de ensinar e aprender. Podemos destacar que os professores participantes deste projeto demonstraram um grande comprometimento no processo de formação de crianças e adolescentes de suas comunidades escolares. A pandemia da Covid-19 trouxe uma série de desafios sem precedentes, tanto em relação ao seu longo período de duração quanto às exigências de adaptação necessárias para o desenvolvimento das aulas. Nesse sentido, a formação continuada torna-se um elemento decisivo para qualificar o ensino, seja na modalidade presencial ou híbrida. FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 27 De acordo com os professores envolvidos no estudo, a participação em cursos e/ou oficinas específicos para sua área de atuação durante este período teve um impacto significativo na melhoria de suas práticas pedagógicas. A grande maioria relatou ter participado de atividades de formação, destacando-se que 51,6% declararam ter contribuições significativas na prática profissional, 29% consideraram contribuição moderada e 16,1% relataram ter baixa contribuição. Apenas 3,3% das respostas indicam não perceber qualquer contribuição, no entanto os resultados foram um pouco diferentes quando se tratou de cursos e oficinas específicos sobre o uso de Tecnologias Digitais e de Informação. Embora a maioria tenha relatado que houve alguma contribuição para suas práticas pedagógicas durante o período de pandemia, 9,7% dos professores que relataram a oferta desses cursos pelas mantenedoras não participaram. É evidente que toda formação continuada impacta na formação e prática docente, porém é notável a necessidade de fornecer suporte aos professores em relação às necessidades didático-pedagógicas do ensino híbrido. Em relação aos cursos e oficinas é perceptível a dificuldade expressa por muitos docentes, que declararam ter recebido uma contribuição menor ou igual à moderada. Esse fato contrasta com os resultados dos questionamentos anteriores, em que a grande maioria relatou uma contribuição significativa. Entendemos que processos de formação pontuais e aceleradas, juntamente com a sobrecarga de trabalho enfrentada pelos professores durante este período, pouco contribuem para um pensamento reflexivo. De fato, a maioria dos participantes (93,5%) relatou ter experimentado uma sobrecarga de procedimentos burocráticos e pedagógicos. Além disso, muitos professores declararam ter adoecido (35,5%) e/ou sofrido perda financeira (58,1%) durante esse período, o que indica que, apesar de não ter ocorrido redução salarial para os professores estaduais e municipais no Estado, muitos foram afetados indiretamente, impactando seu bem-estar emocional e, consequentemente, na internalização de conhecimentos promovidos nos processos de formação continuada. A dimensão pessoal e psicológica nesse período merece atenção também, pois, apesar de muitos (83,9%) manifestarem o sentimento de superação, no período da pandemia, bem como resiliência (64,5%), também sentiram indignação (38,7%), medo (29%), tristeza (25,8%) e luto (12,9%). FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 28 Com o distanciamento social imposto pela pandemia, a necessidade de manter os alunos engajados e interessados no processo de aprendizagem tornou-se ainda mais evidente. Nesse contexto, o ensino contextualizado e interdisciplinar foi amplamente incentivado, considerando a concepção de SE/PA. Tanto as Situações de Estudo quanto os Projetos de Aprendizagem atendem aos objetivos gerais, da Educação Básica, expressos nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (Brasil, 1996), e mantidos na BNCC (Brasil, 2018), visto que tais documentos orientam um ensino contextualizado, interdisciplinar, buscando o protagonismo dos estudantes. Os documentos orientam que os alunos devem ser capazes de se posicionar de maneira crítica e responsável nas diferentes situações sociais, desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmos e do seu ambiente, saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos e questionar a realidade formulando problemaspedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes. Esta inquietação em torno do conteúdo do diálogo é a inquietação em torno do conteúdo programático da educação (Freire, 1993, p. 47). Outra contribuição é a defesa de uma educação crítica e reflexiva, que permita que as pessoas compreendam as causas e consequências dos problemas ambientais e possam agir de forma mais consciente e responsável em relação ao meio ambiente. Ele reforça a ideia de que a EA deve ser um processo contínuo e permanente, capaz de transformar a maneira como as pessoas pensam e se relacionam com o meio ambiente. É importante destacar, no entanto, que Freire nunca propôs uma abordagem única ou padronizada para a educação, bem como para EA. Em vez disso, ele destaca que cada contexto educacional deve ser adaptado às necessidades e realidades locais, de forma a garantir que a Educação Ambiental seja efetiva e relevante para a vida das pessoas. Neste contexto, a educação como um todo, para se tornar significativa, deve trazer em sua essência a abordagem dialógica, crítica e reflexiva, capaz de transformar a maneira como as pessoas pensam e se relacionam com o meio ambiente. Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos passivos (Freire, 1993, p. 39). Boaventura de Sousa Santos, no que se refere à EA, propõe uma abordagem crítica e emancipatória para sua inclusão nos currículos escolares. Argumenta que a EA tradicional tem sido baseada em uma visão tecnicista e instrumental da natureza, que a trata como um objeto a ser explorado e dominado. Ele defende uma abordagem mais holística e interdisciplinar, que considera a natureza como um sistema complexo e integrado, com múltiplas dimensões ecológicas, sociais, culturais e políticas. Sousa Santos também enfatiza a importância da participação ativa dos alunos na aprendizagem da educação ambiental, por meio de metodologias participativas e críticas. Ele propõe que os estudantes sejam incentivados AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: PERSPECTIVAS PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Adalber to Fre i re da S i l va – Len i r Basso Zanon – V id ica B ianch i 191 a desenvolver habilidades de análise crítica e reflexão sobre as questões ambientais, bem como a agir de forma consciente e responsável em relação ao meio ambiente. No contexto do currículo escolar, Sousa Santos sugere que a Educação Ambiental seja integrada a todas as disciplinas, de forma transversal e interdis- ciplinar, em vez de ser abordada apenas em aulas específicas. Ele argumenta que a Educação Ambiental deve ser vista como uma questão transversal que permeia todos os aspectos da vida social, e que o currículo escolar deve refletir essa perspectiva integrada e complexa. Assim, a contribuição de Boaventura de Sousa Santos para a educação ambiental no currículo é a proposição de uma abordagem crítica, interdis- ciplinar e participativa, que considera a natureza um sistema complexo e integrado e enfatiza a responsabilidade individual e coletiva na construção de um futuro sustentável. A EA abrange diversos temas relacionados à conservação e proteção do meio ambiente, no entanto um dos principais temas a serem abordados dentro da EA é a sustentabilidade. Ao abordar a sustentabilidade no contexto da EA é importante destacar a importância da conservação da biodiversidade, da preservação dos recursos naturais, da redução da poluição e do desenvolvimento de tecnologias limpas e sustentáveis. Além disso, é preciso enfatizar a necessidade de mudanças nos padrões de consumo e produção, para que possamos viver de forma mais sustentável e equilibrada em relação ao meio ambiente. Outros temas importantes a serem abordados na EA incluem a mudança climática, a gestão de resíduos, a conservação da água e a preservação dos ecossistemas. Todos esses temas, no entanto, estão diretamente relacionados à sustentabilidade, uma vez que são fundamentais para garantir a qualidade de vida das pessoas e a sobrevivência do planeta. Segundo Boff (2012), a sustentabilidade é um conceito que envolve a promoção da vida em todas as suas formas, garantindo a sobrevivência das gerações presentes e futuras em um planeta saudável e equilibrado. Ele argumenta que a sustentabilidade não pode ser alcançada por meio de soluções fragmentadas ou tecnológicas, mas sim mediante uma transformação profunda dos valores e das práticas sociais. AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: PERSPECTIVAS PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Adalber to Fre i re da S i l va – Len i r Basso Zanon – V id ica B ianch i 192 Boff (2012) propõe uma ética da sustentabilidade, que se baseia no respeito à diversidade cultural e biológica, na cooperação e solidariedade entre os seres humanos e entre as espécies, na responsabilidade social e ambiental e na busca pelo equilíbrio ecológico. Ele argumenta que essa ética deve ser construída em todos os aspectos da vida social, incluindo a política, a economia, a educação e a religião. Além disso, Boff critica o modelo de desenvolvimento econômico baseado no consumo e no crescimento ilimitado, que considera insustentável no longo prazo. Ele sugere uma abordagem alternativa, baseada na economia solidária e na cooperação entre as pessoas, que valoriza os recursos naturais e a qualidade de vida em vez do lucro e do consumo excessivo. O referido autor avança ainda mais nesta ideia quando defende uma abordagem holística e ética da sustentabilidade, que considera as dimensões sociais, culturais, políticas, econômicas e ambientais em uma perspectiva integrada. Ele propõe uma transformação profunda dos valores e das práticas sociais, e uma economia baseada na cooperação e na solidariedade, em vez do consumo e do crescimento ilimitado. A sustentabilidade, portanto, é o principal tema a ser abordado dentro da Educação Ambiental, uma vez que engloba todos os outros temas relacionados à conservação e proteção do meio ambiente. É essencial que as pessoas compreendam a importância da sustentabilidade e adotem práticas mais responsáveis e conscientes em relação ao meio ambiente, de forma a garantir um futuro sustentável para todos. Percurso Metodológico Trata-se de uma pesquisa qualitativa que foi desenvolvida em uma escola pública de Educação Básica Estadual, localizada na região urbana de Ijuí, que tem longa história de interação com a Universidade, por meio de projetos de extensão, de pesquisa e de ensino. Os autores deste capítulo se mobilizaram no sentido de rememorar aprendizados e construções no contexto de um projeto desenvolvido há dez anos para significar a importância e os avanços possíveis para este novo projeto, ampliando assim as análises, reflexões e discussões sobre a organização do currículo na forma de “Situações de Estudo”. A pesquisa fenomenológica, em um primeiro momento, consiste em um olhar atento ao fenômeno na busca de entendimentos sobre a totalidade. Em um segundo momento, busca descrever o fenômeno a partir da observação AÇÕES PEDAGÓGICAS CONTEXTUALIZADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO EMANCIPATÓRIO: PERSPECTIVAS PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Adalber to Fre i re da S i l va – Len i r Basso Zanon – V id ica B ianch i 193 de todas as possibilidades de interpretação, e em um terceiro momento, é necessário um mergulho nos aspectos essenciais do fenômeno. Nesta escrita é com este olhar que analisamos as ações desenvolvidas no passado e sugestões atualizadas para a ampliação de conceitos relacionados ao cotidiano escolar. A ideia surgiu na comunidade devido à questão da merenda escolar: sentiu-se a necessidade de uma horta na escola, para a produção de alimentose buscando soluções. Assim sendo, quando pensamos nas concepções de SE/PA, as quais sempre consideram temáticas relevantes social e culturalmente articuladas aos conteúdos escolares, nossa perspectiva é a formação pela pesquisa, como processo de construção e reconstrução das práticas educativas (Boff; Del Pino, 2018). A investigação como estratégia de ensinar e aprender possibilita a busca de soluções para determinados problemas, constituindo sujeitos com capacidade de argumentar, inferir, dialogar em busca da emancipação social e de um olhar ampliado sobre o ensino, a realidade e a vida. Morin (2015, p. 9), porém, em seu livro “Ensinar a Viver. Manifesto para mudar a educação”, destaca que “se ensinar é ensinar a viver [...] é necessário detectar as carências e lacunas de nosso ensino atual a fim de enfrentar os problemas vitais como os do erro, da ilusão, da parcialidade da compreensão humana, das incertezas com que toda existência humana se depara”. A inserção da pesquisa no cotidiano escolar, entretanto, ainda é um desafio para os professores, mas entendem que é um processo que prepara o aluno para enfrentar o mundo e os desafios da vida, conforme destacado a seguir sobre as potencialidades e limites da pesquisa no contexto escolar: A pesquisa com crianças pequenas potencializa a aprendizagem, a curiosidade e instiga o ser crítico que há em cada um, desde tão cedo (P4). A pesquisa permite um desenvolvimento de múltiplas capacidades, sendo fundamental para o processo da aprendizagem (P5); A pesquisa FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 29 permite desenvolver a autonomia do aluno em relação à busca de informações, ampliando a construção de seus conhecimentos sobre as mais diversas temáticas (P6); Como potencialidade percebo a grande contribuição para o desenvolvimento de competências como a leitura, criticidade, escrita, entre outras (P8). Acredito ser fundamental nos tempos atuais, pois vejo dificuldades enormes de compreensão e autonomia nos alunos (P10); Só vejo potencialidades, uma vez que habilidades como criar e testar hipótese, produzir dados, sistematizá- -los, apresentá-los e defendê-los, etc., tudo gera desenvolvimento de habilidades mentais superiores (P13). O educar pela pesquisa é fundamental para o desenvolvimento do protagonismo discente e para o exercício da cidadania (P14) Várias, o aluno aprende a buscar informações, aprende e apreende o assunto, organiza informações, desenvolve o senso crítico, a oralidade, postura, criatividade, usa diferentes ferramentas para apresentação da sua pesquisa, etc.). (P17) A pesquisa tem potencial para professores, pois deve ser natural que o profissional sempre busque novas práticas e continue aprofundando e ampliando seus conhecimentos, assim tornando-se um professor pesquisador em sua área. Para os alunos a pesquisa tem potencial para que eles construam seu próprio conhecimento e identifiquem áreas que podem ser sua futura profissão (P21). A pesquisa permite ao aluno acessar conhecimento de outra forma. Dá ao aluno a ideia do processo científico para produção de conhecimento (P22). A pesquisa possibilita ampliar o conhecimento sobre determinados assuntos (P24). As potencialidades são amplas, como protagonismo do aluno em buscar as informações de forma individual e coletiva, aprender a selecionar temáticas pertinentes para seu contexto cotidiano, levantar questionamentos sobre questões que possuem curiosidades ou dúvidas (P27). Os limites estão na questão física, para acontecer a pesquisa, atualmente, é necessária uma boa estrutura de Internet e computadores (P5). Em relação aos limites, destaco a falta de acesso à Internet, porém muitas escolas oferecem este recurso para quem necessita. Assim, penso que o principal limite é a falta de motivação e de orientações para a realização de uma pesquisa (P6). Baixa capacidade de análise, interpretação e compreensão dos alunos. Grande dificuldade de escrita com pensamento próprio. Falta de recursos tecnológicos como notebooks ou computadores e rede de Internet com capacidade de suporte (P7). Limites: falta de Internet e condições socioeconômicas das famílias (P11). FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 30 A pesquisa é essencial não apenas para a aprendizagem dos alunos, mas também para a qualificação do processo de ensino e para a ação e reflexão docente. Por meio da pesquisa, é possível estruturar elementos capazes de potencializar a autocrítica sobre os processos de ensino, bem como sobre o sistema educacional como um todo. Os argumentos apresentados pelos docentes revelam os diversos desafios enfrentados por eles no contexto do ensino híbrido em meio à pandemia da Covid-19. Em geral, as dificuldades estão relacionadas à adaptação às novas tecnologias, à falta de estrutura e recursos tecnológicos adequados, à desorganização e falta de compromisso dos alunos e à necessidade de aprender a ensinar de uma nova maneira. Quanto às dificuldades relacionadas aos alunos, incluem a falta de acesso à Internet e a desorganização em relação ao tempo e espaço de estudo, a falta de compromisso dos alunos. Outra questão levantada refere-se ao abandono escolar e a dificuldade em manter os alunos interessados na aula, o que justifica pensar coletivamente em propostas de ensino que mobilizem nos alunos a necessidade de estudar e aprender. Em geral, as manifestações docentes mostram que o ensino híbrido apresenta uma série de desafios significativos, desde questões técnicas até problemas relacionados ao engajamento dos alunos. A análise das manifestações pode ajudar a identificar as necessidades de formação continuada de professores/as e a orientar a criação de políticas e estratégias que possam auxiliá-los a enfrentar esses desafios de maneira mais eficaz. A retomada do ensino presencial apresentou outros desafios, como a falta de motivação dos alunos para a aprendizagem, especialmente os que foram afetados pelo medo e insegurança causados pela pandemia (P6, P12), além da infrequência escolar (P7, P10, P18, P20). A pandemia tornou mais visível as desigualdades sociais, mostrando os baixos níveis de aprendizado dos alunos de uma mesma turma (P8). Outros desafios incluem a falta de interesse das famílias (P11), a sobrecarga de trabalho e tempo insuficiente para dar conta de tantas demandas (P19, P25), a insegurança em relação à pandemia (P26) e a necessidade de lidar com problemas de convivência entre os alunos (P24). Ainda há o desafio de retomar os conteúdos não internalizados pelos estudantes durante o período de ensino remoto (P 15), além de dar aula para grupos presenciais e virtuais ao mesmo tempo (P16, P29) foi necessário conquistar a atenção e a participação de todos FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 31 os alunos, independentemente do acesso à tecnologia (P27). Em meio a tantos desafios, é importante que os professores valorizem a escuta e diálogo (P5) e utilizem estratégias de trabalho colaborativo que respeitem a individualidade dos alunos (P1), a fim de superar os obstáculos e garantir a aprendizagem e a afetividade (P30, P31) de todos. As manifestações docentes mostram a necessidade de pensar em medidas que possam superar as lacunas deixadas pela pandemia, especialmente em relação aos aspectos emocionais, cognitivos e afetivos da população escolar mais carente. Santos (2020, p.15) salienta que “qualquer quarentena é sempre discriminatória, mais difícil para uns grupos sociais do que para outros”. Como exemplo de maior dificuldade estão as mulheres, os trabalhadores precários, informais, a populaçãode rua, entre tantos outros invisíveis antes da pandemia. Nesse sentido, os docentes percebem em seus alunos que é preciso haver empatia, compreensão das limitações e frustrações, escuta e diálogo, retorno e feedback do trabalho, além de um olhar diferenciado para cada aluno, que vem com defasagens e dificuldades após um longo período de afastamento da escola. É importante ainda que os professores sejam vistos como seres humanos, que também têm suas angústias e incertezas, portanto precisam ser valorizados e vistos como intelectuais transformadores. Giroux (1997) chama a atenção para a necessidade de valorização do trabalho docente, um trabalho intelectual e não puramente instrumental ou técnico. É nesse sentido que valorizamos a constituição de coletivos atentos às propostas de ensino que priorizam o acesso de todos à cidadania e garantam a valorização da vivência dos alunos, mediadas pelos processos interativos voltados a uma formação docente e discente emancipatória. Santos (2018), no entanto, defende que a emancipação social precisa ser reinventada, visto que é um conceito central na modernidade ocidental, “organizado por meio da tensão entre regulação e emancipação social, entre ordem e progresso” (p. 17). A tensão entre regulação e emancipação deixou de fora as sociedades coloniais e está sendo substituída pela alternativa entre a violência da coerção e a violência da assimilação, pois algumas correntes visaram à regulação e outras à emancipação. O autor destaca que FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 32 para a reinvenção da emancipação social é necessário mudar de uma utopia conservadora para uma utopia crítica, mas o problema para uma utopia crítica é o silêncio e a diferença. Na visão de Santos (2018, p. 62), para fazer o silêncio falar, com produção de autonomia, é preciso buscar outra metodologia de saber, ensinar e aprender. É necessário “construir a emancipação a partir de uma nova relação entre respeito da igualdade e o princípio do reconhecimento da diferença”. O autor propõe a ecologia dos saberes como modo de superar as ausências, de propiciar o diálogo entre saber científico e saber laico, de dilatar o presente e contrair o futuro. Santos (2022) também convida o leitor a pensar a sociedade pós-pandemia, sua complexidade, os problemas que a antecedem e possíveis futuros. Aponta que as desigualdades e discriminações sociais, já tão presentes nas sociedades contemporâneas, se intensificaram ainda mais em um contexto pandêmico. As desigualdades ficaram nítidas nas escolas públicas, conforme identificamos nos argumentos docentes sobre a problemática da construção de aprendizagens de seus alunos, seja pela falta de Internet e equipamentos tecnológicos de comunicação, bem como o baixo nível de instrução de grande parte dos familiares. Esse aspecto é destacado por Santos quando chama a atenção ao modelo econômico-social, ao papel da ciência e do Estado na proteção dos mais necessitados. O autor traz um profícuo debate para se pensar em alternativas econômicas, políticas, culturais e sociais que apontem para um novo modelo civilizatório de sociedade. Também destaca, no entanto, que o pós-pandemia é um começo diferente dos anteriores e se for apenas o começo de um século de pandemia intermitente, haverá nele algo de fúnebre e crepuscular; por outro lado, pode ser também o começo de uma nova época, de um novo modelo de civilização. É o que esperamos a partir das reflexões coletivas mobilizadas no período de 2021 a 2023 com a conclusão desta obra. Temos, contudo, convicção que a pesquisa precisa continuar em uma espiral de ciclos autorreflexivos sem-fim para que a escola seja um lugar de transformação e não mais contribua para a reprodução das desigualdades sociais. FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nas discussões realizadas ao longo deste texto, foi possível compreender a relevância e a complexidade do processo de ensino-aprendizagem em um contexto de pandemia, especialmente em relação à modalidade de ensino híbrido. O objetivo deste estudo foi compartilhar alguns resultados e discussões realizados no decorrer de um processo de formação docente, em uma perspectiva crítico-emancipatória, que buscou enfrentar os desafios do ensino híbrido no contexto da pandemia e/ou pós pandemia da Covid-19. A pesquisa caracterizou-se como qualitativa na visão de espirais de ciclos autor- reflexivos como orientação metodológica. Envolveu pesquisadores e estudantes de universidades brasileiras e estrangeiras, além de professores e estudantes de seis escolas públicas de Educação Básica. A pesquisa esteve fundamentada nos pressupostos da contextualização e da interdisciplinari- dade e teve como preocupação central abordar conhecimentos científicos em situações reais e relevantes do ponto de vista social, cultural e de saúde. As oficinas e os grupos de estudo constituídos contribuíram para desenvolver um currículo emancipatório pelo viés das Situações de Estudo (SEs) ou Projetos de Aprendizagem (PAs), contemplando as aprendizagens essenciais para a Educação Básica conforme a BNCC e o Novo Ensino Médio. A pesquisa foi fundamentada em autores que defendem os processos de ensino e aprendizagem a partir das interações sociais e seguiu todas as questões éticas da pesquisa. Os resultados mostram o comprometimento da equipe organizadora do processo de pesquisa bem como as escolas parceiras que colaboraram para promover a constituição de coletivos de professores afim de capacitá-lo e, portanto, contribuir com os processos de ensino e de aprendizagem. As oficinas sobre tecnologias colaboraram para o desenvolvimento do ensino híbrido, especialmente a partir da produção de vídeos que potencializam tanto o desenvolvimento das aulas híbridas quanto pela possibilidade de fornecer um material didático para os alunos que propicia maior envolvimento deles na busca de construção de conhecimentos pela produção de seus próprios vídeos. Tais produções fizeram uso das tecnologias não mais apenas como modo de comunicação em redes sociais, mas como modo de aprendizagem dos conteúdos escolares. FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 34 A pesquisa aponta para a complexidade do ensino híbrido em meio à pandemia e pós-pandemia, evidenciando tanto seus desafios quanto suas potencialidades. Os desafios encontrados vão desde questões técnicas até problemas relacionados ao engajamento dos alunos, como a adaptação às novas tecnologias, à falta de estrutura e recursos tecnológicos adequados, à desorganização e falta de compromisso dos alunos, à motivação para a aprendizagem, à infrequência escolar, à desigualdade entre os níveis de aprendizado dos alunos, à baixa qualidade de Internet e equipamentos, à falta de interesse das famílias, à sobrecarga de trabalho burocrático e o tempo insuficiente para os docentes darem conta de tantas demandas, à insegurança em relação à pandemia, à dificuldade em lidar com problemas de convivência entre os alunos, à retomada dos conteúdos não internalizados pelos alunos durante o período de ensino remoto e à dificuldade em dar aula para grupos presenciais e virtuais ao mesmo tempo. Por outro lado, as potencialidades do ensino híbrido também são evidentes, como a utilização de novas metodologias de ensino e aprendizagem, o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à pesquisa, à autonomia do aluno, à valorização da escuta e do diálogo, o respeito à individualidade dos alunos e ao reconhecimento da diferença, à valorização do trabalho docente e àbusca por um novo modelo civilizatório de sociedade. Diante disso, torna-se evidente a necessidade de se pensar em medidas que possam superar as lacunas deixadas pela pandemia, especialmente em relação aos aspectos emocionais, cognitivos e afetivos da população escolar mais carente. Para tanto, é preciso valorizar a vivência dos alunos, mediando processos interativos voltados a uma formação docente emancipatória e buscando alternativas que garantam a aprendizagem e a afetividade de todos os estudantes. O ensino híbrido pode ser uma oportunidade para repensar o processo de ensino-aprendizagem e buscar alternativas que garantam a aprendizagem. Percebemos também, que é fundamental o estabelecimento de políticas públicas atentas às demandas dos professores, que garantam espaços formativos permanentes para que estes possam pesquisar, planejar e estudar coletivamente visando à melhoria das práticas educativas. FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DO ENSINO HÍBRIDO: UMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURRICULAR Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f – A l i s son Verce l ino Beerbaum 35 REFERÊNCIAS BOFF, E. T. de O.; DEL PINO, J. C. Processo interativo de formação docente: uma perspectiva emancipatória na constituição do currículo escolar. Curitiba: Editora Appris, 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC; SEF, 1996. CARR, W.; KEMMIS, S. Teoría crítica de la enseñanza: la investigación-acción en la formación del profesorado. Barcelona: Martinez Roca, 1988. GIROUX, H. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. MORIN, E. Ensinar a viver. Manifesto para mudar a educação. Porto alegre: Editora Sulina, 2015 SANTOS, B. S. A cruel pedagogia do vírus. São Paulo: Boitempo, 2020. SANTOS, B. S. O futuro começa agora. Da pandemia à utopia. 1ª reimpr. São Paulo: Boitempo, 2022. SANTOS, B. S. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. Trad. Mouza Benedito. São Paulo: Boitempo, 2018. 37 PROCESSO INTERATIVO DE FORMAÇÃO DOCENTE Uma Perspectiva Emancipatória de Currículo no Ensino Híbrido IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Larissa Kny Cabreira Maiane Kinetz Arnold Isabella Plegge Dallabrida Maria Eduarda Schmidt Eva Teresinha de Oliveira Boff INTRODUÇÃO No final do ano de 2019 e início de 2020 o mundo foi surpreendido com um novo tipo de doença, que surgiu em Wuhan, província de Hubei, na China. O vírus denominado Sars-CoV-2 ou então a Covid-19, causa uma infecção respiratória aguda, que atinge principalmente as vias aéreas inferiores, possui alta transmissibilidade e tem potencial gravidade (Brasil, 2021a). Devido às suas características epidemiológicas, essa se tornou uma das maiores crises de saúde, atingindo pessoas de todas as classes sociais, raças, nações, continentes e grupos socioeconômicos, causando assim mudanças nos governos e sistemas de saúde (Shanafelt; Ripp; Trockel, 2020). Diante disso, em março de 2020 o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde anunciou o estado de emergência pública (Opas, 2020). Com a alta transmissibilidade e propagação do vírus, somados ao fato de ser uma doença nova, para a qual não se sabia o tratamento específico e não havia uma vacina segura para ser ofertada à população, adotou-se uma série de medidas de prevenção como o uso de máscaras, higienização das mãos, alimentos e ambiente, e ainda a medida de segurança do distanciamento social, essa considerada o ponto-chave entre as demais (Brasil, 2021b). IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 38 Neste sentido, o fechamento das escolas foi inevitável, visto que o ambiente escolar configura-se como um local propício à transmissão do vírus. Esta decisão foi tomada a partir do decreto das Portarias Nº 343, de 17 de março de 2020 (Brasil, 2020a) e Nº 544, de 16 de junho de 2020 (Brasil, 2020b) e da Medida Provisória Nº 934, de 1º de abril de 2020 (Brasil, 2020c), que preveem a substituição, ou seja, a continuidade das aulas antes presenciais, agora por meio do ambiente virtual de aprendizagem, mediado pelas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC,). De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, 2020), esta medida foi adotada por mais de cem países, repercutindo diretamente sobre 1,6 bilhão de alunos de todas as idades, ou seja, cerca de 94% da população de estudantes do mundo (Burns, 2020; Unesco, 2022). Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é compreender a partir de publicações na literatura, qual foi o impacto da pandemia sobre a educação, quais as mudanças ocorridas neste período, em que essa forma de ensino contribuiu para a melhoria da educação e quais os desafios encontrados. Estabeleceu-se como pergunta norteadora deste estudo: “Qual foi o impacto da pandemia no ensino/educação?” METODOLOGIA Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura, cuja coleta de dados foi realizada no mês de novembro de 2022, mediante consulta ao Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação (MEC), por meio do acesso remoto via Comunidade Acadêmica Federada (CAFe). Foram utilizadas duas estratégias de busca: “busca por assunto”, “busca avançada” e os seguintes descritores: Estratégia de busca 1 Ensino híbrido e Pandemia 129 resultados Estratégia de busca 2 Educação básica e Pandemia e Covid-19 502 resultados Em seguida foram aplicados filtros na busca, são eles: artigos e “idioma em Português; Inglês ou Espanhol”. Os resultados obtidos em cada estratégia foram analisados da seguinte forma: análise do título; análise do resumo e IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 39 análise na íntegra, sendo excluídos artigos que não eram da temática, artigos repetidos, artigos de revisão, ou que não respondiam ao objetivo proposto no estudo. Nos artigos selecionados após a leitura na íntegra aplicou-se a metodologia de Análise Textual Discursiva (ATD) de Moraes e Galiazzi (2020). Esta metodologia proposta pelos autores parte da desconstrução do corpus, que em seguida é organizado de acordo com unidades de significado, que podem ser estabelecidas a priori ou então emergentes, que surgem durante o processo de leitura textual. Esta abordagem de análise igualmente transita entre a análise de discurso e a análise de conteúdo, que são formas conceituadas dentro da pesquisa qualitativa. Assim, após a categorização dos achados na amostra estes foram discutidos com a literatura de acordo com categorias. O processo de seleção das publicações das duas buscas está expressos nas Figuras 1 e 2, observando-se que ao total o estudo contou com 84 publicações resultantes da análise final. Figura 1 – Resultados obtidos pela Estratégia de busca 1 Fonte: Elaboração própria (2023). IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 40 Figura 2 – Resultados obtidos pela estratégia de busca 2 Fonte: Elaboração própria (2023). CATEGORIA 1: Modalidades de ensino – Ensino a Distância (EaD); Ensino Remoto Emergencial (ERE); Ensino Híbrido (EH); Aulas Síncronas e Assíncronas Uma das temáticas que devem ser destacadas na discussão refere-se aos tipos de ensino, pois diante da rápida e inesperada mudança ocorrida em consequência doisolamento social, muito se discutiu nas publicações acerca de suas diferenças. De acordo com o Ministério da Educação, a modalidade de Educação a Distância (EaD) baseia-se em alunos e professores estarem separados fisicamente ou então temporalmente (em horários diferentes). Dessa forma, é necessário que sejam utilizados os meios de Tecnologias de Informação e Comunicação para viabilizar o acesso aos conteúdos trabalhados, bem como atividades e demais materiais que fazem parte do plano de aula. Esta modalidade permite ao aluno maior liberdade para realizar suas atividades, visto que acessa os materiais no dia e horário que lhe é conveniente. Vale ressaltar que esta modalidade educacional é regulamentada na legislação, podendo ser utilizada na educação de jovens, adultos, educação profissional técnica de nível médio e também no Ensino Superior (Brasil, 2018). IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 41 De maneira oposta das vivências programadas, o Ensino Remoto Emergencial (ERE) é considerado uma modificação provisória para a educação em razão do colapso no momento pandêmico. Ele circunda a utilização de resoluções para o ensinamento inteiramente de forma remota, tendo como propósito prover entrada repentina a materiais didáticos de modo instantâneo e simples de ajustar (Hodges et al., 2020). Nesse sentido, é importante entender como funcionam as aulas que ocorrem de forma síncrona e as assíncronas. De acordo com o guia produzido pela Universidade de São Paulo (USP), a primeira se refere às aulas em que professor e alunos estão conectados em tempo real em um determinado meio virtual, em um horário específico, ou seja a aula ocorre semelhantemente ao presencial, porém sem a necessidade de deslocamento, com o uso de TDICs, como videoconferências, chat ao vivo, etc. Já nas aulas assíncronas o professor é chamado para entrar em contato com o aluno em tempo real somente quando necessário; além disso, não é exigido que professor e aluno estejam conectados em ambiente virtual ao mesmo tempo (Faculdade..., 2020). Outra forma de interação que teve um crescimento durante a pandemia foi o modelo de ensino híbrido. Apesar de esse exemplar ter surgido antes do surto de Covid-19, ele ganhou ainda mais visibilidade durante o isolamento em virtude do impedimento de aulas presenciais. Sendo assim, foi fácil se familiarizar e conhecer esse modo de aprendizagem que até então não era muito visto. O ensino híbrido correlaciona-se à inserção e adequação das tecnologias, posto que essas são fragmentos do dia a dia de alunos e professores, permitindo que o estudante volte a conteúdos que já aconteceram. Por sua vez, destacou-se com suas metodologias ativas, refletindo em uma mistura entre aulas presenciais e virtuais, precisando para isso de uma educação completa e compreensível que responda às demandas do estudante, procurando então, um bom proveito tanto para o professor quanto para o aluno (Sales et al., 2021; Costa et al., 2021). CATEGORIA 2: Desafios apontados pelos educadores e educandos no cenário pandêmico Em 17 de março de 2020, por meio da Portaria Nº 343, o Ministério da Educação declarou a substituição do ensino presencial para o ensino remoto, pois a pandemia da Covid-19 estava se alastrando mundialmente. IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 42 Esta decisão foi estabelecida com o intuito de ajudar na diminuição do número de contaminações, colaborando para a redução do agravo da doença em na população mundial (Brasil, 2020a). Anteriormente à pandemia, a maioria dos profissionais e alunos tinham um conhecimento limitado sobre recursos de ensino dentro de métodos tecnológicos, porém, com a vinda das suspensões das atividades presenciais, foi necessário adotar todas as opções e recursos tecnológicos possíveis para que os conhecimentos dos profissionais fossem transmitidos de forma clara e objetiva para os alunos, viabilizando assim a continuidade do ano letivo. No momento de usar essas tecnologias ofertadas, porém, surgiram muitas dificuldades e desafios relacionados às plataformas, tanto para professores quanto para alunos (Souza et al., 2021). Atualmente tem-se uma grande variedade em relação às ferramentas digitais, porém nem sempre é possível usá-las, pois a maior dificuldade encontrada é saber usufruir delas de modo que se tenha uma forma eficaz e sejam elaboradas mais atividades pedagógicas. Com isso, houve fatores que contribuíram para intervir no ensino, exemplo disso foi a escassez de recursos, a falta de infraestrutura e todo o processo de formação qualificada de professores e também da equipe pedagógica em relação ao conhecimento das TICs. Esses fatores mencionados influenciam no processo contínuo de educação. Com a falta de recursos, entretanto, as escolas necessitam apresentar soluções direcionadas às tecnologias e uma maneira que professores tenham formação e disposição para produzir diversas maneiras de utilizar as TICs. Posto isto, além dos professores aprenderem a manusear os recursos das plataformas digitais, faz-se necessário entender as características de cada aluno e conciliar os recursos aos atuais modos de ensino para que estudantes aprendam mais com esses métodos (Silva; Teixeira, 2020). As condições socioeconômicas dos alunos e suas famílias de baixa renda escancararam o quão desigual é o cenário educacional. Uma pesquisa realizada pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) em 2021, que teve como objetivo investigar os desafios enfrentados pelas escolas em 2020 na perspectiva de organizar o planejamento de 2021, contou com a participação de 67% dos municípios brasileiros, além de contar com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) e do Itaú Social. Os dados obtidos apontaram que o acesso à Internet foi a maior dificuldade de IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE A EDUCAÇÃO Lar i s sa Kny Cabre i ra – Maiane K inetz Arno ld – I sabe l la P legge Da l labr ida Mar ia Eduarda Schmidt – Eva Teres inha de O l ive i ra Bof f 43 alunos da rede pública em 2020. Ainda em relação a essa pesquisa o percentual de alunos que contou apenas com atividades de forma remota atingiu 91,9%, em contrapartida para os que puderam utilizar o ensino híbrido mesclando tarefas presenciais e não presenciais alcançou o percentual de 8,1% (Osato, 2021). Em resposta aos problemas no cenário brasileiro, e visando a reduzir a exclusão digital da população desprovida de acesso à Internet, o governo federal instituiu o projeto intitulado Programa Internet Brasil, o qual garante o acesso gratuito de alunos da Educação Básica brasileira à Internet banda larga móvel, assegurando assim o acesso mediante a distribuição de chips, pacote de dados ou ainda de dispositivos para acesso (Brasil, 2022). A modificação em relação à forma de ensinar demanda para os dias atuais modernas tecnologias de ensino e vários fatores que regulam a realidade. Com essa exigência de alteração no âmbito educacional, as instituições tiveram de criar novos métodos para o ensino, pois é de extrema importância identificar a ocasião de inovação, sendo, então, criados recursos rápidos e resultados com grande repercussão, impactando sobre as pessoas (Cardoso; Oliveira, 2020). Como meios de estabelecer um canal de comunicação bem como acompanhar os alunos, foram utilizados aplicativos de comunicação, videocon- ferência e os professores receberam fotos das atividades realizadas e o envio de material deu-se também por esses canais. Diante dessa situação muitos professores assumiram uma jornada exaustiva de trabalho, dada a necessidade de replanejar suas aulas que