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APRESENTAÇÃO
O Exame Nacional do Ensino Médio é uma ocasião de se testarem
os conhecimentos adquiridos ou construídos ao longo dos anos
de estudo, iniciados lá na pré-escola e que culminam, na Educa-
ção Básica, com a 3ª série do ensino Médio. Por certo, nesse pe-
ríodo de doze anos, pelo menos, muita coisa foi assimilada,
aprendida, assim como muitas outras coisas foram se perdendo
ou foram esquecidas.
Afluentes da margem direita ou esquerda dos rios Amazonas, Pa-
raná, Paraguai ou São Franciso, certamente, não estão todos lim-
pidamente presentes na memória de todos. Uma oração coorde-
nada sindética adversativa ou uma oração subordinada adverbial
concessiva... Facílimo de lembrar. Mesmo?
Bem diferente do que lembrar da cachorra Baleia e seus sonhos...
Ou dos olhos de ressaca de Capitu. Ou do desespero final de Ber-
toleza...
Porém, e quando se trata da filosofia? Anaximandro, Anaxímenes,
Anaxágoras lembram um trio de música caipira ou três irmãos de
pais pouco criativos em relação aos nomes (ou criativos demais).
E como distinguir entre John Duns Scotus e John Scottus Erigena?
Ou entre Thomas Morus, Thomas Hobbes, Thomas Khun e Tho-
mas Aquinas? Ou, mesmo, como pronunciar um nome singelo
como o de Mihail Csikszentmihalyi (por sorte, esse é psicólogo)?
Felizmente, filosofia não tem a ver com decorar nomes, mas com-
preender o movimento das ideias ao longo dos tempos – da
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história. Nesse sentido, o principal, em relação ao estudo de filo-
sofia é conhecer seu desenvolvimento histórico e os grandes pe-
ríodos pelos quais é possível serem identificados problemas mais
ou menos semelhantes. E, obviamente, a partir desses grandes
recortes, identificar alguns dos pensadores ou pensadoras que
impactaram ou tornaram singulares as periodizações em que se
encontram. Assim como não precisamos ser profundos conhece-
dores do boxe para saber que existiu, e tinha um estilo peculiar, o
boxeador Mohammad Ali (Classius Clay), tanto quanto Mike
Tyson. Não precisamos ser fãs de Fórmula 1 para saber que Ayr-
ton Senna e Michael Schumacher transformaram esse esporte.
Porém, seria interessante saber que, dentre os nomes de filóso-
fos, merecem destaque filósofas como Hipátia de Alexandria, Hil-
degarda de Bingen. Aliás, Hipátia (ou Hipácia) foi a primeira mu-
lher a ter trabalhos reconhecidos sobre temas como medicina,
matemática e filosofia. Seu pensamento corajoso levou à sua trá-
gica morte.
De todo modo, estas páginas querem ser um convite para um
contato, ainda que sintético, com os grandes períodos e nomes
da filosofia. Um contato que, por certo, auxiliará não só em exa-
mes como o Enem mas, certamente, a ter uma visão diferenciada
sobre o mundo em que vivemos e nos movemos.
(L.S.J., às vésperas das eleições municipais de 2024).
SUMÁRIO
FILOSOFIA PARA O ENEM ...................................................... 5
TÓPICOS DA FILOSOFIA PARA O ENEM ................................ 13
FILOSOFIA CLÁSSICA .......................................................... 16
Filosofia Antiga I (Séc. VII a IV a.C.): Pré-Socráticos ............ 18
Filosofia Antiga II (Séc. V a IV a.C.): Clássica ...................... 19
Filosofia Antiga III (Séc. III a.C. a IV/VI d.C.): Pós-Socrática.. 22
FILOSOFIA MEDIEVAL .......................................................... 27
Filosofia Medieval I (Séc. IV a VII d.C.): Patrística ............... 28
Filosofia Medieval II (Séc. VIII a XII d.C.): Baixa Escolástica . 30
Filosofia Medieval III (Séc. XIII e XIV d.C.): Alta Escolástica . 36
FILOSOFIA MODERNA ......................................................... 42
Filosofia Moderna I (Séc. XV e XVI d.C.): Racionalismo / ..... 44
Filosofia Moderna II (Séc. XVII d.C.): Cartesianismo / Barroco
........................................................................................ 47
Filosofia Moderna III (Séc. XVIII d.C.): Empirismo / Iluminismo
/ Ilustração ....................................................................... 51
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA ............................................ 62
Filosofia Contemporânea I (Séc. XIX d.C.): Crise da
Metafísica ........................................................................ 63
5
Filosofia Contemporânea II (Séc. XX e XXI d.C.):
Existencialismo, Século da Mente, Pós-Modernidade .......... 64
Outros temas contemporâneos ....................................... 67
Feminismo e Teorias de Gênero: .................................. 67
Escola de Frankfurt / Habermas: Teoria Crítica ............ 68
Pós-Estruturalismo e Filosofia Francesa ...................... 68
Utilitarismo: ................................................................. 69
Pragmatismo: .............................................................. 69
Ética do Cuidado: ......................................................... 69
Filosofia Global Contemporânea .................................. 70
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................... 77
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO – 1 ................................................. 82
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO – 2 ................................................. 89
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FILOSOFIA PARA O ENEM
Toda a história do progresso humano pode reduzir-se à luta da ci-
ência contra a superstição.
(Gregório Marañón).
Muito embora o papel da filosofia seja discutido desde sua siste-
matização na Grécia Antiga, esse campo de conhecimento tem-
se mostrado profícuo e capaz de alterar a forma como as socie-
dades refletem sobre si mesmas e como se organizam. Se o pro-
blema inicial com o qual a filosofia ocidental se deparou foi a ar-
ché, o princípio do universo – problema tomado dos sábios e suas
linguagens figurativas e míticas –, aos poucos, sua problemática
ou investigação racional foi se aprofundando, buscando os me-
andros do próprio pensamento, passando pelos problemas pes-
soais e sociais, o que envolveu a ética e a moral, a política e a jus-
tiça, o ser e o nada, o ser e o tempo...
Embora, também, existam aquelas pessoas que afirmem que a
filosofia é a ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua
tal e qual (frase atribuída a Gregório Marañón), existem, por outro
lado, pessoas que afirmam que a filosofia pode nos tirar do obs-
curantismo das crendices e ilusões, arrancar-nos da menoridade
a partir de uma postura intelectualmente esclarecida (este,
agora, Kant).
Em um mundo dominado pela prática, pelo utilitarismo, a filoso-
fia parece algo sem qualquer utilidade, de fato; a não ser que
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alguém se ponha a indagar o que é útil, e utilidade para quem ou
quê? Nesse momento, a pessoa sai do âmbito das perguntas-
questão para o campo das perguntas-problema. Aí, o mundo já
não é mais o mesmo. E é devido à importância de se fazer as per-
guntas corretas, de levar as pessoas a terem a “coragem de sa-
ber” (sapere aude!), que a filosofia vai retomando sua importân-
cia frente às ciências, ainda que a filosofia mesma, em si, não
seja reconhecida ou não tenha o status de ciência.
Como veremos, o Enem serve para demonstrar a vastidão de con-
teúdos que a filosofia abrange e, mais do que quantidade, a pro-
fundidade desses conteúdos – e a validade deles. Por essa e ou-
tras, uma discussão revisora da filosofia para o Enem é um exer-
cício salutar de criticidade, de autorreflexão e de coragem. A co-
ragem de pensar por si próprio(a).
Introdução e revisão geral do Enem em filosofia
• Objetivo: Apresentar as expectativas do Enem para a filo-
sofia e revisar os principais tópicos cobrados.
• Conteúdos: Abordagem sobre as questões filosóficas no
Enem, estrutura da prova, e o papel da filosofia no con-
texto educacional brasileiro
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Gráfico 1 - O que cai no Enem do conteúdo de Filosofia.
Fonte: SAS educação.
Conforme o Gráfico 1, de 188 questões de filosofia em todas as
edições do Enem, o conteúdo se distribuiu desigualmente entre
os possíveis tópicos, havendo• Idealismo (moderno): "Conhecemos o mundo pela inte-
ração entre a razão e a experiência.”
Não confundir o Idealismo moderno com o platônico.
• Idealismo Clássico:
o Se concentra em um mundo de ideias separadas do
mundo material.
o A verdade e o conhecimento estão no mundo ideal e
eterno.
o O dualismo é uma característica central, separando o
mundo sensível do mundo das ideias.
• Idealismo Moderno:
o Não há uma divisão ontológica entre dois mundos,
mas sim uma mediação pela mente humana sobre o
mundo que experienciamos.
o O foco está nas condições do conhecimento (Kant) e
no desenvolvimento histórico da razão (Hegel).
o Em vez de dualismo, o idealismo moderno busca inte-
grar o material e o mental através de um processo de
entendimento ou desenvolvimento dialético.
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FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
• Cenário (contexto social, político e econômico):
• Consolidação do Capitalismo
• Aprofundamento da Revolução Industrial
• Grandes descobertas:
• Eletricidade
• Petróleo como matéria-prima
• Carvão como recurso energético
• Automóvel
• Telefone...
• Radicalização do Iluminismo = positivismo: amor
por princípio, ordem por base, progresso por fim.
• A ‘Era das Revoluções” (Eric Hobsbawm)
• Schopenhauer: vontade.
• Kierkegaard: vida individual humana.
• Nietzsche – Filosofia do martelo e da bigorna: crí-
tica a todo pensamento ocidental de Sócrates a
Kant. Vontade de Poder.
• Nascimento das novas ciências.
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• Grandes Guerras – O Holocausto e o Nazismo.
• Pluralidade de perspectivas: Pragmatismo, Cientifi-
cismo, Niilismo, Positivismo, Utilitarismo, Raciona-
lismo, Idealismo, Liberdade (início do liberalismo),
Fenomenologia, Subjetividade, Pluralismo, Mar-
xismo, Existencialismo, Estruturalismo...
Filosofia Contemporânea I (Séc. XIX d.C.): Crise da Metafísica
• Problema: Conjunto de correntes, tais como materia-
lismo, filosofia de vida, fenomenologia, empirismo lógico,
filosofia da existência (existencialismo)...
• Principais nomes e correntes: Hegel, Kierkegaard, Scho-
penhauer, Comte, Karl Marx, Engels, Nietzsche, Freud,
Stuart Mill, Bradley, Eleanor Marx, William James, Schel-
ler...
• Nietzsche e a Crítica da Moral: Sua obra, especi-
almente Assim Falou Zaratustra e Além do Bem e do
Mal, é uma crítica feroz à moralidade tradicional, à
religião e à filosofia ocidental. Nietzsche procla-
mou a "morte de Deus", sugerindo que os valores
tradicionais estavam se desintegrando, e propôs a
criação de novos valores pelos seres humanos li-
vres (übermensch). Sua filosofia influenciou pro-
fundamente o existencialismo e o pensamento
pós-moderno.
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• Marx: Marx revolucionou a filosofia política com
sua análise do capitalismo e sua teoria da história,
fundamentada no materialismo histórico. Em O Ca-
pital e Manifesto Comunista, Marx argumenta que a
luta de classes é o motor da história, e que o capi-
talismo gera desigualdades intrínsecas que leva-
riam inevitavelmente à revolução proletária.
Filosofia Contemporânea II (Séc. XX e XXI d.C.): Existencialismo, Sé-
culo da Mente, Pós-Modernidade
• Problema: Linguagem, “contextos”, ciência e sociedade.
• Principais nomes e correntes: Bradley, Sartre, Simone De
Beauvoir, Wittgenstein, Husserl, Adorno, Russell, Heide-
gger, Popper, Jaspers, Ortega y Gasset, Lyotard, Levi-
Strauss, Gadamer, Kuhn, Habermas, Horkheimer, Hannah
Arendt, Deleuze, Guattari, Foucault, Bobbio, Scruton, Ben-
jamin, Marcuse, Voegelin...
• 1. Existencialismo: O existencialismo se concen-
tra na liberdade, na responsabilidade individual e
no absurdo da existência humana, em um mundo
sem sentido intrínseco.
• Jean-Paul Sartre: Um dos maiores expoen-
tes do existencialismo, Sartre argumenta
que o ser humano está "condenado a ser li-
vre", ou seja, sem essência prévia, e deve
criar seu próprio sentido. Em sua obra O Ser
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e o Nada, Sartre explora o conceito de má-
fé, onde os indivíduos se enganam para fugir
da responsabilidade por suas escolhas. Seu
impacto também se dá na arte, com peças
como Entre Quatro Paredes e seu romance
A Náusea.
• Albert Camus: Embora rejeitasse o rótulo
de existencialista, Camus está intimamente
ligado ao movimento. Em O Mito de Sísifo,
ele descreve a vida humana como absurda-
mente sem propósito, mas defende a revolta
contra essa falta de sentido. Em O Estran-
geiro e A Peste, ele explora o absurdo da
existência e a indiferença do universo.
Outras ênfases demarcatórias da Filosofia Contemporânea –
Ética e Filosofia Política
• Objetivo: Discutir a ética e a política em questões contempo-
râneas.
• Conteúdos: Justiça como equidade (Rawls), totalitarismo e a
banalidade do mal (Arendt).
• Autores: John Rawls, Hannah Arendt, Bentham, Mill, Rawls,
Hobbes, Locke, Rosseau, Marx.
• Hannah Arendt: Em sua obra Eichmann em Jerusa-
lém, Arendt introduziu o conceito de "banalidade
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do mal" para descrever como o mal pode ser perpe-
tuado por pessoas comuns que simplesmente se-
guem ordens, sem refletir sobre as consequências
de suas ações. Em A Condição Humana, ela ex-
plora as questões da ação política, da liberdade e
da natureza do poder.
• Aristóteles e a ética das virtudes: Foco no equilí-
brio e na prudência.
• Jeremy Bentham / John Stuart Mill: Ética utilita-
rista
• Hobbes, Locke e Rousseau: Contratualismo
• Karl Marx: Materialismo histórico, luta de classes e
crítica ao capitalismo.
• John Rawls: Teoria da justiça como equidade.
Filosofia da Ciência –
• Ciência e pseudociência: superstição, mítico, misticismo.
• Positivismo: Auguste Comte e a hierarquia das ciências.
• Karl Popper: Falsificacionismo e o problema da indução
(Problema e Hipótese, Dedução, Experimentação, Nova Hi-
pótese).
• Thomas Kuhn: Paradigmas e revoluções científicas.
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Outros temas contemporâneos
• Problemas: Discutir as noções de poder, controle e domina-
ção na filosofia contemporânea
• Principais nomes e correntes: Michel Foucault, Byung-Chul
Han, Wollstonecraft, Beauvoir, Adorno, Horkheimer...
• Foucault, Agamben...: Microfísica do poder, biopolí-
tica, disciplina e vigilância, e as relações entre poder e
saber.
• Byung-Chul Han: Sociedade do cansaço, sociedade da
transparência, e a crítica à positividade e ao neolibera-
lismo.
Feminismo e Teorias de Gênero:
• Mary Wollstonecraft: Feminismo, crítica ao Patriar-
cado.
• Simone de Beauvoir: No clássico O Segundo Sexo, Be-
auvoir investigou o papel das mulheres na sociedade,
argumentando que "não se nasce mulher, torna-se mu-
lher". Sua análise histórica e filosófica do patriarcado foi
crucial para a teoria feminista, trazendo a desigualdade
de gênero para o centro das discussões filosóficas e so-
ciais.
• Judith Butler: Em sua obra Problemas de Gênero, Bu-
tler propõe que o gênero é uma performance, algo cons-
truído por atos repetidos que se conformam a normas
sociais. Ela desafiou as noções tradicionais de identi-
dade e sexualidade, sendo uma figura central na filoso-
fia queer.
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Escola de Frankfurt / Habermas: Teoria Crítica, crítica à indús-
tria cultural e à racionalidade instrumental, Teoria do Agir Comu-
nicativo. A Escola de Frankfurt desenvolveu uma crítica da soci-
edade capitalista, da cultura de massa e da racionalidade instru-
mental.
• Theodor Adorno e Max Horkheimer: Em Dialética do
Esclarecimento, criticam o Iluminismo, argumentando
que a razão instrumental levou à dominação e à aliena-
ção, em vez de libertação. Eles também abordaram a in-
dústria cultural como uma forma de controle social.
• Herbert Marcuse: Outro membro da Escola de Frank-
furt, Marcuse em Eros e Civilização criticou a repressão
das necessidades humanas sob o capitalismo, suge-
rindo que a libertação da sociedade poderia ocorrer
pela emancipação dos desejos humanos.
• Jürgen Habermas: Um dos maiores teóricos vivos, Ha-
bermas focou na teoria da ação comunicativa e na de-
mocracia deliberativa, ondeo poder deve ser legitimado
pelo consenso racional. Ele propõe uma ética discur-
siva em que normas morais só são válidas se aceitas
por todos os envolvidos em um debate livre de coerção.
Pós-Estruturalismo e Filosofia Francesa
• Michel Foucault: Em obras como Vigiar e Punir e A His-
tória da Sexualidade, Foucault investigou o poder disci-
plinar e como ele molda os indivíduos. Ele introduziu o
conceito de biopoder para descrever as formas pelas
quais as instituições governam a vida biológica das po-
pulações. Foucault também investigou o papel da
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sexualidade, poder e conhecimento na formação das
sociedades modernas.
• Gilles Deleuze e Félix Guattari: Conhecidos por obras
como O Anti-Édipo e Mil Platôs, Deleuze e Guattari criti-
caram o pensamento tradicional ocidental por suas hi-
erarquias fixas e ofereceram uma visão "rizomática" da
realidade, onde as relações são não-lineares e descen-
tralizadas. Eles foram influentes no pensamento polí-
tico, psicanalítico e cultural.
Utilitarismo:
• John Stuart Mill, com Utilitarianism, propôs que a mo-
ralidade deve ser baseada no princípio da maior felici-
dade, onde as ações são corretas se promovem a felici-
dade e erradas se causam sofrimento.
Pragmatismo:
• William James e John Dewey desenvolveram uma filo-
sofia que valoriza as ideias pelo seu valor prático. O
pragmatismo avalia a verdade com base em suas con-
sequências úteis e em como afetam a vida humana.
Ética do Cuidado:
• Filósofas feministas como Carol Gilligan e Nel Nod-
dings introduziram uma nova forma de pensar a ética,
focada nas relações de cuidado e na interdependência,
desafiando as éticas tradicionais baseadas na autono-
mia individual.
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Filosofia Global Contemporânea
• Byung-Chul Han: Este filósofo sul-coreano, em obras
como A Sociedade do Cansaço, critica a sociedade ne-
oliberal pela pressão que coloca nos indivíduos para se-
rem sempre produtivos, o que leva ao esgotamento e à
alienação.
• Leopold Senghor e Stuart Hall: Senghor, um dos fun-
dadores da négritude, celebra a cultura africana e ques-
tiona a dominação colonial. Stuart Hall, por sua vez, foi
um dos fundadores dos estudos culturais, explorando
questões de identidade e pós-colonialismo.
• Chimamanda Ngozi Adichie: Embora mais conhecida
como escritora, Chimamanda é uma voz importante
nas discussões sobre feminismo e pós-colonialismo,
propondo uma crítica às formas pelas quais as mulhe-
res africanas e as sociedades pós-coloniais são repre-
sentadas.
• Axel Honneth, Homi K. Bhabha, Stuart Hall...: Muti-
culturalismo, debates sobre identidade, cultura e direi-
tos.
Como se pode perceber, a Filosofia Contemporânea é vasta e
multifacetada, com uma variedade de correntes e pensadores
que abordam as complexidades do mundo moderno. Desde a crí-
tica à modernidade, como feita por Nietzsche e a Escola de Frank-
furt, até as discussões sobre gênero, poder e a ética, há uma
grande diversidade de ideias que continuam a impactar a cultura,
a política e a sociedade. Todavia, em termos sociais e políticos,
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tendo-se em conta que a política nem sempre tem sido utilizada
como a busca da realização do bem-comum (mas, seu oposto,
como instrumento de dominação e nem sempre realizada de
forma discreta), é importante lembrar autores como Agamben e
Garland, os quais se associam à teoria foucaultiana na discussão
a respeito do controle, da disciplina e do biopoder ou biopolítica.
Os conceitos de sociedade de controle, poder disciplinar e bio-
política estão profundamente interligados, principalmente na
obra de Michel Foucault e seus desdobramentos nos referidos
Giorgio Agamben e David Garland. Cada um desses conceitos
ajuda a entender as formas modernas e contemporâneas de con-
trole e governança, que se concentram tanto nos corpos individu-
ais quanto nas populações em geral.
Poder Disciplinar (Foucault): Foucault, em obras como
Vigiar e Punir e História da Sexualidade, desenvolve o con-
ceito de poder disciplinar para descrever as novas formas
de controle que emergem a partir do século XVII e se tor-
nam dominantes na sociedade moderna. Essas formas de
controle não são mais baseadas apenas na repressão vio-
lenta e direta, como nas sociedades soberanas, mas pas-
sam a ser implementadas de maneira mais sutil e eficaz
através de instituições como escolas, prisões, fábricas,
hospitais e quartéis.
• Vigiar e Punir: Foucault descreve a transição das
sociedades punitivas, que empregavam punições
físicas e públicas (como as execuções) para uma
sociedade disciplinar, onde o controle se dá através
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da vigilância constante e da normalização. O exem-
plo clássico é o panóptico de Jeremy Bentham, uma
arquitetura carcerária que permite a vigilância total
dos prisioneiros, sem que estes saibam quando es-
tão sendo observados.
• Normalização: O poder disciplinar visa "normali-
zar" os indivíduos, adequando seus comportamen-
tos e corpos às exigências sociais e econômicas.
Os indivíduos são treinados, regulados e vigiados
em um processo constante de ajuste à norma. Isso
ocorre, por exemplo, nas escolas, onde se ensina
disciplina, nas fábricas, com a organização do tra-
balho, e nos hospitais, com o controle da saúde.
Biopolítica (Foucault): No final de sua obra, Foucault in-
troduz o conceito de biopolítica, onde o foco do poder não
é apenas o indivíduo (como no poder disciplinar), mas a
população como um todo. A biopolítica envolve a gestão
da vida humana em seus aspectos biológicos: a natali-
dade, a mortalidade, a saúde pública, a longevidade, etc.
O Estado moderno não apenas controla os corpos indivi-
dualmente, mas também regula a vida coletiva, gerindo os
processos de nascimento, morte, doença e saúde.
• Governança da Vida: Em História da Sexualidade –
Volume 1, Foucault sugere que, a partir do século
XVIII, o poder passou a se concentrar em otimizar a
vida, em vez de apenas exercer a soberania sobre a
morte. Ele fala da "introdução da vida na história" e
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do surgimento de mecanismos de poder que visam
não mais matar ou punir, mas "fazer viver e deixar
morrer".
• Racismo de Estado: Foucault também sugere que
o racismo é uma ferramenta fundamental da biopo-
lítica, pois justifica a discriminação e a exclusão de
certos grupos em prol da saúde e da prosperidade
da população em geral. Em Em Defesa da Socie-
dade, ele explica como a biopolítica pode se trans-
formar em regimes de exclusão, exterminando
aqueles que são considerados ameaças biológicas
à população.
Sociedade de Controle (Deleuze): Gilles Deleuze, em seu
ensaio Post-scriptum sobre as Sociedades de Controle,
expande as ideias de Foucault, sugerindo que a sociedade
disciplinar está sendo superada por uma nova forma de
poder: a sociedade de controle. Enquanto o poder discipli-
nar operava em espaços fechados (prisões, escolas, fábri-
cas), a sociedade de controle se caracteriza por um sis-
tema de regulação contínua e fluida, onde o indivíduo é
controlado em todos os aspectos da vida, de maneira des-
centralizada.
• Controle Digital: Nas sociedades de controle, o
poder não é exercido por instituições específicas,
mas de maneira difusa, através de redes de infor-
mação, tecnologia e comunicação. Exemplos disso
podem ser observados na vigilância digital, nos
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sistemas de crédito social, nos algoritmos que mo-
nitoram e preveem comportamentos, e no controle
sobre dados pessoais. A regulação é contínua e não
precisa de confinamento físico.
• Modulação: Deleuze fala de um controle que "mo-
dula" o comportamento, ajustando as ações dos in-
divíduos em tempo real. Ao contrário do poder dis-
ciplinar, que funcionava através de confinamento e
correção, o controle na sociedade contemporânea
se dá pela antecipação e regulação constante.
Homo Sacer e a Vida Nua (Agamben): Giorgio Agamben,
fortemente influenciado por Foucault, desenvolve os con-
ceitos de homo sacer e vida nua em sua obra Homo Sacer:
O PoderSoberano e a Vida Nua. Agamben argumenta que
a política moderna, mesmo em suas formas democráti-
cas, se fundamenta na exclusão da vida nua, ou seja, a
vida humana reduzida a sua mera existência biológica,
desprovida de direitos.
• Homo Sacer: O homo sacer é uma figura da lei ro-
mana antiga que, por ser excluído da esfera da polí-
tica, podia ser morto impunemente, mas não sacri-
ficado. Agamben usa essa figura para argumentar
que a soberania moderna é baseada na capacidade
de decidir quem pertence à esfera do direito e quem
pode ser reduzido à "vida nua", passível de ser ex-
cluído e destruído.
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• Estado de Exceção: Agamben propõe que o estado
de exceção, onde a lei é suspensa temporaria-
mente (como em crises ou emergências), se tornou
uma norma nas sociedades contemporâneas. O
exemplo clássico é o campo de concentração,
onde o direito é suspenso e os prisioneiros são re-
duzidos à sua biologia, sem acesso a qualquer pro-
teção legal. Para Agamben, a biopolítica e o estado
de exceção são ferramentas de controle do poder
soberano sobre a vida.
Sociologia do Controle (David Garland): David Garland,
em sua análise da sociedade punitiva, desenvolve a ideia
de controle em uma perspectiva sociológica. Ele explora o
papel das políticas criminais e da justiça penal nas socie-
dades contemporâneas, argumentando que o controle so-
cial, em grande parte, se dá pela criminalização de grupos
específicos.
• Controle Social: Garland argumenta que as socie-
dades modernas gerenciam a criminalidade e o
comportamento desviante não apenas com puni-
ções severas, mas também com formas sutis de vi-
gilância e regulação. Ele sugere que a criminaliza-
ção não visa apenas reprimir a conduta, mas tam-
bém gerir populações indesejadas, criando uma
forma de exclusão social que ecoa as análises de
Foucault sobre a biopolítica.
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• Cultura Punitiva: Garland observa que, com o au-
mento das prisões e do encarceramento em
massa, o Estado moderno usa a punição como uma
forma de reforçar a ordem social. No entanto, essa
punição não é apenas um meio de correção, mas
um instrumento de controle social que se torna
central na gestão das populações marginalizadas.
Esses autores oferecem uma análise profunda das formas mo-
dernas de controle sobre o corpo e a vida. Foucault, Agamben e
Garland, cada um à sua maneira, investigam como o poder disci-
plinar, biopolítico e de controle não só regula os comportamen-
tos, mas também define quem pertence à sociedade e quem é ex-
cluído dela. A transição das formas tradicionais de soberania para
as técnicas modernas de biopolítica e controle digital demonstra
como o poder está cada vez mais envolvido em uma regulação
contínua e fluida, abrangendo todos os aspectos da vida humana.
Pontuar esses aspectos ressalta o poder e a “ameaça” que repre-
senta o pensamento filosófico, demonstrando porque, não rara-
mente, discute-se a exclusão da filosofia dos currículos escolares
e, até mesmo, a perseguição àquelas pessoas que, na linha de
Kant, “ousam saber”, pensar por si próprias e questionar as ideias
estabelecidas.
A filosofia é um exercício árduo, porém, prazeroso; uma porta e
um caminho que, uma vez aberta e uma vez iniciado, jamais tem
volta. Porque, como diz, mas uma vez, Kant: “Não se aprende fi-
losofia, mas a filosofar”. E, uma vez tendo aprendido, não há
como desaprender. Sapere aude!! (Ouse saber!!)
77
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após uma breve caminhada pelo caminho filosófico, podemos ter
várias reflexões. De modo especial, ante a ausência de um tema
central na filosofia contemporânea, pode-se ter a falsa concep-
ção de que a filosofia, no fim das contas, não conseguiu abarcar
a realidade compreendida por esse período da HF. Será?
Bem, uma reflexão filosófica sobre isso se impõe.
A filosofia contemporânea, desde o século XIX e ao longo do sé-
culo XX, passou por rupturas em relação à tradição filosófica an-
terior, principalmente no que se refere à crítica da racionalidade.
Autores como Nietzsche, Foucault, Derrida e Deleuze questio-
nam o primado da razão ocidental, apontando para suas limita-
ções, contradições e, em alguns casos, implicações de domina-
ção e controle. Isso faz com que a filosofia contemporânea mui-
tas vezes se apresente como uma crítica à própria racionalidade
que dominou o pensamento moderno, o que pode parecer para-
doxal, mas é parte da sua tentativa de desmantelar estruturas
herdadas.
Essa contestação da razão não é um abandono completo da raci-
onalidade, mas uma crítica às suas formas específicas, como a
racionalidade instrumental, que autores como Adorno e Horkhei-
mer associaram ao projeto iluminista e às suas consequências
desumanizadoras, como o totalitarismo e a tecnocracia. A ironia
de se usar a razão para criticar a própria razão, reflete essa dialé-
tica interna da filosofia contemporânea, onde se busca escapar
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de uma razão opressiva, mas sem abandonar completamente
sua função crítica.
Outro ponto é a expansão dos temas filosóficos. A filosofia con-
temporânea incorporou questões sociais, culturais e políticas de
forma inédita. Movimentos como o feminismo, com Simone de
Beauvoir, Judith Butler e outras, problematizam o patriarcado e as
noções de gênero. A filosofia africana e os estudos decoloniais
(como os de Fanon e Mbembe) questionam as narrativas coloni-
ais e buscam reverter séculos de dominação e invisibilização.
Zygmunt Bauman, por exemplo, com sua ideia de "modernidade
líquida", trata da fluidez das identidades, relações e instituições
na era globalizada e digital.
A fragmentação, com conceitos como "fluidez" ou "liquidez", tam-
bém se reflete na crítica à noção de sujeito, antes visto como algo
coeso e universal. A filosofia contemporânea, influenciada pelo
estruturalismo e pós-estruturalismo, fragmenta essa ideia, abor-
dando temas como a subjetividade múltipla, a performatividade
de gênero (Butler) e o biopoder (Foucault).
E a reconsideração de autores africanos e as teorias de decoloni-
zação é crucial para entender o alargamento do campo filosófico,
que antes era predominantemente eurocêntrico. Agora, há uma
abertura para epistemologias outras, para vozes que resistem ao
colonialismo e questionam a universalidade das teorias ociden-
tais.
Assim, a filosofia contemporânea, ao lidar com questões de iden-
tidade, poder, justiça, tecnologia, e ao dialogar com a literatura de
resistência, realmente se torna uma "teia" complexa, mas
79
necessária, para pensar o mundo de hoje. Ela não se limita a um
único tema ou abordagem, mas se enriquece com essa multipli-
cidade, refletindo a pluralidade da experiência humana e as ten-
sões contemporâneas. Isso pode torná-la desafiadora, mas tam-
bém profundamente relevante.
Em termos de filosofia moral (ou ética), a possibilidade de múlti-
plos discursos parece favorecer uma concepção relativista da
moral, o que - parafraseando o paradoxo da tolerância de Popper
- conduz a uma aceitação de radicalismos e fundamentalismos
sob o argumento do respeito à pluralidade, à diversidade, à auten-
ticidade. Enquanto filosofia que busca explorar as possibilidades
existenciais e coexistenciais, (admito que) tais flexibilidades ar-
gumentativas são válidas; porém, quando refletem uma ausência
de valores ou conceitos bem construídos, (entendo que) essas
pluralidades filosóficas causam mais confusão que certezas, fa-
vorecendo fake news, ilações "pós-verdadeiras" ou narrativas al-
ternativas. Não é o caso de uma censura filosófica, mas o de uma
busca de fundamentação racional (ou lógica). Nem toda (arro-
gada) filosofia é, de fato, filosofia. Exploremos um pouco mais de-
talhadamente essas considerações.
A filosofia contemporânea, ao abrir espaço para múltiplas vozes
e discursos, inevitavelmente se depara com os desafios do relati-
vismo moral. O cenário pluralista pode ser um terreno fértil para
explorar as várias dimensões da existência humana, mas tam-
bém pode geraruma crise de fundamentação quando conceitos
morais bem definidos são diluídos em uma multiplicidade de in-
terpretações.
80
O relativismo, que pode levar à aceitação de radicalismos sob o
pretexto do respeito à pluralidade, toca em uma das grandes ten-
sões da filosofia contemporânea. O paradoxo da tolerância,
como Karl Popper formulou, sugere que, se uma sociedade for
absolutamente tolerante, até mesmo com os intolerantes, aca-
bará corroída por esses mesmos elementos que ela aceita.
Quando aplicado ao cenário moral contemporâneo, isso implica
que, ao permitir que todas as posições sejam igualmente válidas
sob a bandeira da diversidade, corre-se o risco de legitimar dis-
cursos que, no fundo, são antagônicos à própria ideia de convi-
vência plural, como fundamentalismos e extremismos.
O relativismo moral radical — onde não existem mais critérios só-
lidos para julgar o que é certo ou errado — pode abrir espaço para
a manipulação de narrativas, fake news, e a chamada "pós-ver-
dade". Neste contexto, fatos objetivos e verdades racionais são
relativizados ou substituídos por narrativas subjetivas, muitas ve-
zes guiadas por interesses políticos ou ideológicos. Isso é uma
questão preocupante porque nem toda argumentação que se
apresenta como filosofia é realmente filosófica. Quando carece
de rigor lógico e fundamentação racional, pode se transformar
em mera retórica ou propaganda.
A filosofia, tradicionalmente, busca um equilíbrio entre a abertura
ao novo e a busca por um fundamento racional. A pluralidade de
vozes e perspectivas é essencial para uma reflexão filosófica rica
e inclusiva, mas, sem critérios racionais de avaliação, essa plura-
lidade pode se tornar um "vale-tudo" argumentativo. Isso nos leva
a outro ponto: a crítica ao racionalismo, muito presente na filoso-
fia contemporânea, pode ter suas armadilhas. Enquanto criticar
81
a razão iluminista ou cartesiana é legítimo, isso não significa ab-
dicar completamente da razão como critério de verdade ou vali-
dação de discursos. É possível, e necessário, buscar um equilí-
brio entre a abertura à pluralidade e a solidez de fundamentos éti-
cos e morais bem construídos.
Na prática, a ausência de critérios sólidos pode levar à confusão,
não à liberdade. Isso é visto em fenômenos atuais como as fake
news, onde a manipulação de narrativas alternativas ofusca a ver-
dade factual. Não se trata de censurar discursos, mas de garantir
que eles sejam submetidos ao crivo da racionalidade, do debate
aberto e do rigor filosófico. Afinal, uma filosofia que se nega a bus-
car fundamentações lógicas e se perde no relativismo extremo
acaba por minar sua própria razão de ser.
Portanto, a preocupação com o relativismo e o impacto dele so-
bre a filosofia moral contemporânea é mais do que justificada. O
desafio da filosofia, hoje, é equilibrar a abertura à pluralidade com
a necessidade de fundamentos racionais sólidos, sem cair no
risco de legitimar discursos que possam, em última análise, com-
prometer os valores de convivência e justiça que ela tanto busca
promover.
82
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO – 1
1. Sobre a teoria das ideias de Platão, podemos afirmar que:
A) O mundo sensível é a única realidade verdadeira, sendo o ponto
central da teoria platônica.
B) O mundo das ideias é perfeito, imutável e acessível aos sentidos.
C) O conhecimento verdadeiro é obtido através da experiência sensí-
vel, segundo Platão.
D) A realidade está dividida entre o mundo sensível (imperfeito) e o
mundo inteligível (perfeito).
E) Platão nega completamente a existência do mundo sensível.
2. Uma característica fundamental da Filosofia Escolástica é:
A) A negação do pensamento aristotélico em favor da filosofia platô-
nica.
B) A busca pela harmonia entre fé e razão.
C) A defesa da ideia de que a razão deve prevalecer sobre a fé religi-
osa.
D) O desenvolvimento de teorias políticas liberais.
E) A negação de qualquer influência cristã na filosofia.
3. No contexto da Filosofia Moderna, o empirismo defendido por
John Locke pode ser caracterizado pela:
A) Crença na existência de ideias inatas e universais.
B) Defesa de que todo conhecimento humano deriva da experiência
sensível.
C) Afirmação de que a razão, e não a experiência, é a principal fonte
de conhecimento.
D) Teoria da tabula rasa, em que o conhecimento nasce com o indiví-
duo.
E) Influência de Descartes em suas teses sobre o racionalismo.
83
4. O conceito de “banalidade do mal”, proposto por Hannah
Arendt, refere-se:
A) À ideia de que o mal é praticado apenas por indivíduos perversos
e insanos.
B) À banalização do mal pela mídia e sociedade contemporânea.
C) Ao mal praticado por indivíduos comuns, que seguem ordens sem
questionar a moralidade dos seus atos.
D) À crítica de Arendt às ideologias que promovem a violência revolu-
cionária.
E) Ao conceito de que a maldade humana é natural e inevitável.
5. O utilitarismo, uma corrente ética que busca maximizar a felici-
dade geral, foi defendido principalmente por:
A) Immanuel Kant e sua teoria deontológica.
B) Karl Marx e sua teoria socialista.
C) Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
D) Friedrich Nietzsche e sua crítica à moral.
E) Jean-Paul Sartre e sua noção de liberdade radical.
6. Para Aristóteles, a “virtude” consiste em:
A) Um comportamento extremo, focado em ideais inalcançáveis.
B) O equilíbrio entre os extremos de excesso e falta, conhecido
como "justo meio".
C) A renúncia completa aos prazeres mundanos.
D) A vida dedicada ao serviço militar e à guerra.
E) O isolamento do mundo para alcançar o conhecimento puro.
7. A teoria do conhecimento de Sócrates era baseada na:
A) Valorização do saber teórico e abstrato.
B) Defesa da retórica como principal método filosófico.
C) Crença de que a verdade é subjetiva e relativa.
D) Ironia e maiêutica, ou seja, o diálogo para a descoberta da ver-
dade dentro do indivíduo.
E) Adoção do ceticismo como única resposta válida.
84
8. A cosmologia pré-socrática de Heráclito defendia que:
A) O princípio de tudo era a água.
B) O fogo era o elemento essencial e que tudo estava em constante
mudança.
C) A realidade era estática e imutável.
D) O ar era o elemento primordial.
E) A terra era o fundamento da realidade.
9. Uma das principais preocupações da filosofia agostiniana era:
A) A relação entre fé e ciência.
B) A defesa do ceticismo religioso.
C) A demonstração da onipotência humana.
D) A conciliação entre fé cristã e o platonismo.
E) A separação total entre filosofia e religião.
10. São Tomás de Aquino, na sua teoria sobre o conhecimento, afir-
mou que:
A) O conhecimento provém exclusivamente da fé.
B) Todo conhecimento é derivado de ideias inatas.
C) O conhecimento humano se baseia na experiência sensível e na
razão.
D) O ser humano não pode conhecer nada sobre Deus.
E) A filosofia não pode contribuir para o entendimento teológico.
11. O argumento ontológico, proposto por Anselmo de Cantuária,
afirma que:
A) Deus existe porque o conceito de um ser perfeito implica a sua
existência.
B) Deus pode ser conhecido somente pela experiência sensível.
C) A existência de Deus depende da fé pessoal e subjetiva.
D) A existência de Deus é uma questão de escolha moral.
E) Não se pode provar a existência de Deus através da razão.
85
12. René Descartes, em sua obra “Meditações Metafísicas”, de-
fende que:
A) Todo conhecimento verdadeiro é adquirido pela experiência.
B) A dúvida metódica é o primeiro passo para a obtenção da certeza.
C) O conhecimento empírico é mais confiável do que o racional.
D) A certeza do “eu” é desprovida de importância filosófica.
E) A fé religiosa deve ser o guia principal da filosofia.
13. A teoria política de Thomas Hobbes, exposta no "Leviatã", de-
fende que
A) O estado de natureza é pacífico e harmonioso.
B) A natureza humana é essencialmente boa.
C) No estado de natureza, o homem vive em uma constante “guerrade todos contra todos”.
D) A sociedade deve ser organizada de forma democrática e igualitá-
ria.
E) O governo ideal é o governo baseado na fé religiosa.
14. Para John Locke, os direitos naturais do ser humano são:
A) Vida, propriedade e liberdade.
B) Igualdade, fraternidade e soberania.
C) Felicidade, moralidade e prosperidade.
D) Propriedade, dever e justiça.
E) Submissão ao estado, dever cívico e moralidade.
15. A obra “O Príncipe”, de Maquiavel, é conhecida por:
A) Defender a ética e moral como fundamentos da política.
B) Sugerir que os governantes devem governar com base na caridade
e no perdão.
C) Defender que os fins justificam os meios no campo da política.
D) Advogar pela submissão dos líderes políticos ao poder religioso.
E) Promover uma visão igualitária e democrática da política.
86
16. Friedrich Nietzsche criticava duramente a moral tradicional e
defendia:
A) A moral do ressentimento, baseada no ódio e na fraqueza.
B) A moral dos senhores, baseada na força, coragem e afirmação da
vida.
C) O niilismo passivo, que promove o conformismo.
D) A submissão às normas morais impostas pela sociedade cristã.
E) O ascetismo como caminho para a libertação.
17. A proposta de Jean-Paul Sartre no existencialismo é que:
A) A essência precede a existência.
B) O ser humano nasce com uma natureza determinada.
C) A liberdade humana está limitada pelas normas religiosas.
D) O ser humano está condenado à liberdade e deve criar seus pró-
prios valores.
E) A responsabilidade individual é irrelevante na formação do cará-
ter.
18. O conceito de "micropoderes", desenvolvido por Michel Fou-
cault, se refere a:
A) Formas de poder difusas e descentralizadas que permeiam a vida
cotidiana.
B) Pequenas formas de poder presentes apenas em instituições polí-
ticas.
C) O poder centralizado nas mãos de poucos líderes políticos.
D) O controle exclusivo da mídia sobre o comportamento social.
E) O poder exercido apenas por instituições religiosas.
87
19. Segundo Karl Marx, a alienação do trabalhador sob o capita-
lismo ocorre porque:
A) O trabalhador se sente completamente satisfeito com seu papel
na sociedade.
B) O trabalhador mantém controle sobre os meios de produção.
C) O trabalhador é proprietário dos meios de produção.
D) O trabalhador vive em uma sociedade sem classes.
E) O trabalhador se vê separado do produto de seu trabalho e de sua
essência humana.
20. Simone de Beauvoir, em "O Segundo Sexo", argumenta que:
A) A mulher nasce submissa ao homem por natureza.
B) A construção social e cultural do gênero subordina as mulheres.
C) As mulheres devem se focar exclusivamente no lar e na família.
D) A biologia determina completamente o papel da mulher na socie-
dade.
E) A mulher deve encontrar sua liberdade apenas na religião.
21. O princípio utilitarista que busca maximizar o bem-estar do
maior número de pessoas possível foi defendido por:
A) John Stuart Mill.
B) Friedrich Nietzsche.
C) Thomas Hobbes.
D) Platão.
E) Jean-Jacques Rousseau.
22. Para Immanuel Kant, a ação moralmente correta é aquela que:
A) Produz o maior bem para o maior número de pessoas.
B) É determinada pela consequência.
C) É motivada pelo dever e segue o imperativo categórico.
D) Depende da utilidade que ela proporciona.
E) Segue as normas estabelecidas pelo poder político.
88
23. A crítica de Karl Marx ao capitalismo baseia-se principalmente
na ideia de que:
A) O sistema capitalista promove igualdade social.
B) O capitalismo elimina a alienação humana.
C) O capitalismo gera desigualdades e explora a classe trabalhadora.
D) O sistema capitalista é inevitável e necessário.
E) O capitalismo é o caminho para a emancipação humana.
24. No pragmatismo, defendido por pensadores como William Ja-
mes e John Dewey, o valor da verdade depende:
A) Da sua correspondência com a realidade objetiva.
B) Da sua utilidade prática e eficácia nas ações humanas.
C) Da sua conformidade com normas religiosas.
D) Da sua compatibilidade com a tradição filosófica.
E) Da sua validade universal e inquestionável.
25. Para Aristóteles, o objetivo final da vida humana é:
A) A busca pelo prazer físico.
B) A contemplação filosófica.
C) A prática de atos heroicos.
D) A felicidade, alcançada pela prática da virtude.
E) O acúmulo de riquezas.
– GABARITO –
1: D 6: B 11: A 16: C 21: A
2: B 7: D 12: B 17: C 22: C
3: B 8: B 13: C 18: C 23: C
4: C 9: D 14: A 19: C 24: B
5: C 10: C 15: C 20: B 25: D
89
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO – 2
MONTE UM MAPA MENTAL A PARTIR DOS TERMOS ABAIXO
(Para facilitar sua montagem, vá riscando os termos utilizados. Alguns termos
podem ser utilizados mais de uma vez).
Filosofia, Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna, Filoso-
fia Contemporânea, Patrística, Existencialismo, Cândido ou o oti-
mismo, Maimônedes, Vida + liberdade + propriedade, Sartre, Confis-
sões, Ato e Potência, Avicena, Leviatã, Estruturalismo, Criação ex ni-
hilo, Novum Organum, Erasmo de Rotterdam, Crítico da filosofia peri-
patética (aristotélica) no mundo islâmico, A razão (e não os sentidos) é
a fonte mais segura de conhecimento, Anaximandro, Renascimento, Ju-
dith Butler, Cristo Pantocrator, Emílio ou Da Educação, Heidegger, To-
más de Aquino, Átomo, Zenão, De Revolutionibus Orbium Coeles-
tium, Ceticismo, Pai da Filosofia, O Contrato Social, Foucault, Conde-
nado pela Inquisição devido à teoria heliocêntrica, Iluminismo, Plotino,
Razão para libertar o ser humano da menoridade, Leis da Inércia e da
Aceleração, Estoicismo, O Manifesto Comunista, “Sei que nada sei”,
“Cogito, ergo sum”, Stuart Mill, O ser e o nada, David Hume, Movimento
de crítica ao Antigo Regime e à Igreja, Além do Bem e do Mal, Despo-
tismo esclarecido, Fogo, Kant, Condenado à morte por corromper a ju-
ventude (beber cicuta), Thomas Morus, Thomas Hobbes, Thomas Kuhn,
Vigiar e Punir, Conciliar Fé e Razão, Crítica da Razão Pura, Experiência
sensorial é mediada por estruturas a priori da mente, O conhecimento
provém exclusivamente da experiência sensorial, “Luta de classes é o
motor da história”, Deus é o motor imóvel, A Condição Humana, “A
existência precede a essência”, Spinoza, Escola de Frankfurt, Poder e
saber, Albert Camus, Banalidade do mal, Dialética do Esclareci-
mento, Distinção entre fenômeno e noúmeno, Dialética (Tese – Antítese
– Síntese), Lutou pela liberdade de expressão, Amor por princípio + pro-
gresso por fim, Jürgen Habermas, Visão idealizada de uma sociedade
90
justa e racional, William James e John Dewey, Homo Sacer, Observa-
ções com o telescópio, Indústria cultural como uma forma de controle
social, Contratualismo, Tales de Mileto, A incoerência dos filósofos,
Archè, Revolucionário no campo da anatomia, Moralidade = maior feli-
cidade, Racionalismo, Ricoeur, Filosofia judaica, A cidade de Deus,
Maquiavel, Cínicos, “Não se nasce mulher: torna-se mulher”, Vida hu-
mano é entendida como um absurdo, Problema do mal que se abate
sobre os bons, Filosofia da Ciência, Moralidade vinculada à racionali-
dade, Eichmann em Jerusalém, Questionou a causalidade, Proble-
mas de gênero, “Só existe um problema filosófico realmente sério – o
suicídio”, Educação deve respeitar a liberdade natural, Eros e Civiliza-
ção, Biopolítica, Byung-Chul Han, Sociedade de controle, Crítica a todo
pensamento Ocidental e à moralidade tradicional, O Capital, Conceito
de contrato social, “Sapere aude”, Causa Eficiente, Verdade = conse-
quências úteis, Paradigmas, Horkheimer e Adorno, Utilitarianism,
Ação política e natureza do poder, Vida reduzida à mera existência bio-
lógica, Ética focada nas noções de cuidado e interdependência, Nii-
lismo, Pessoas precisam de autoridade soberana para manter a ordem
social, Copérnico, Teoria do Agir Comunicativo, Carol Gilligan, Pragma-
tismo, Conhecimento verdadeiro vem da indução, Distinção entre es-
sência e existência ocupava um lugar central,De Humanii Corporis Fa-
brica, Retórica, Al Ghazali, Sucesso político = eficácia, Separação entre
as esferas da razão (filosofia) e da fé (religião), Pré-socráticos, História
da Sexualidade, Visão mecanicista do universo, O Segundo Sexo, Ga-
lileu, Lógica formal, Guia dos perplexos, Utilitarismo, Bentham, Empi-
rismo, Sócrates, “O ser humano é condenado a ser livre”, Pai da filosofia
política moderna, Francis Bacon, “Revolução copernicana” da filosofia,
Karl Popper, Moralidade baseada nos sentimentos, Assim falou Zara-
tustra, Escolástica, John Locke, Hiperurânio, Discurso sobre o mé-
todo, “Verdades reveladas x verdades da razão”, “Dois tipos de experi-
ências geram conhecimento: as sensações externas e as reflexões in-
ternas”, O Anti-Édipo, Filosofia queer, Diógenes, Imperativo categórico,
91
O Príncipe, O Homem é o lobo de outro Homem”, Tentou sintetizar a
tradição judaica com a filosofia aristotélica e neoplatônica, A Peste,
Vontade de poder, Heráclito, Crítica à indústria cultural e à racionali-
dade instrumental, Mônadas, Giorgio Agamben, Tábula rasa, A Repú-
blica, Karl Marx, Ídolos da mente, Deleuze e Guattari, Positivismo, Ca-
pitalismo = repressão das necessidades humanas, Valor das ideias =
valor prático, Teoria das quatro causas, Elogio da loucura, Demócrito,
Panoptico, Poder legitimado pelo consenso racional, Neoplatonismo,
Disciplina e vigilância, Isaac Newton, Visão “rizomática da sociedade”
(revolução molecular), Análise histórica e filosófica do patriarcalismo,
Hegel, Justiça social e liberdade política, Combatia os sofistas, Falsifi-
cacionismo, Platão, Modulação do comportamento, Teoria do Conheci-
mento, Ensaio sobre o Entendimento Humano, Teoria do Gênero,
Agostinho de Hipona, Utopia, “Tudo é Ser”, Abordagem realista e prag-
mática da política, Materialismo histórico, Filosofia árabe, Descartes,
Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, Aproximou raciona-
lismo e empirismo, Sociedade do cansaço, Suma Teológica, Pirro, Fi-
losofia Clássica, Ética, Hannah Arendt, Ética a Nicômaco, Monismo
substancial, Água, Razão pode formular leis universais e abstratas, So-
fistas, Ato e Potência, “O ser humano é naturalmente bom - a socie-
dade é que o perverte”, Estado de exceção, Desafiou cosmologia ptolo-
maica, O problema do Mal, Simone De Beauvoir, Dicotomia mente x
corpo, Vesalius, Dualismo, Monismo, Crítica da Razão Prática, Parmê-
nides, “Deus está morto”, Alegoria da Caverna, Rosseau, Feminismo,
Aristóteles, Pós-socráticos, Estabeleceu a Lei da Gravitação Universal
e as Leis do Movimento, Marcuse, “A Filosofia é ‘Serva da Teologia’”, Bi-
opoder, Leibniz, Dogmas, Entre quatro paredes, Gênero é perfor-
mance, Responsável por reintroduzir o pensamento aristotélico no Oci-
dente cristão, Meditações metafísicas, Crítico do dogmatismo religi-
oso e da corrupção da Igreja, “Vivemos no melhor dos mundos”, Método
científico baseado na observação/experimentação, Escreveu todos os
diálogos atribuídos a Sócrates.uma concentração com o seguinte
espectro (conf. toda matéria, 20241):
• Aristóteles e escola helenística (18,8%)
• Racionalismo moderno (18,8%)
• Ética e Justiça (18,7%)
• Filosofia Antiga (16,8%)
• Escola sofística, Sócrates e Platão (12,5%)
1 https://www.todamateria.com.br/assuntos-que-mais-caem-no-enem/
34
31
26
22
20
18
17
9
6
5
0 10 20 30 40
Ética e justiça
Filosofia antiga
Filosofia contemporânea
Natureza do conhecimento
Filosofia moderna
Relações de poder
Democracia e cidadania
Filosofia medieval
Surgimento da Filosofia
Intolerância
8
• Filosofia Contemporânea (12,4%)
• Natureza do Conhecimento (11,6%)
• Filosofia Moderna (11,6%)
• Escola de Frankfurt (9,4%)
Esse desequilíbrio ou concentração em determinados tópicos é
até compreensível. Os fundamentos da filosofia e seus grandes
nomes e os problemas que desde então foram tratados provoca-
ram e provocam um redirecionamento da forma como as pessoas
perceberam o mundo e perceberam a si mesmas. Como certa
feita afirmou o filósofo Alfred North Whitehead, “A definição mais
precisa da Filosofia Ocidental é a de que ela não passa de uma
sucessão de notas de rodapé da obra de Platão”. Ou seja, o que
aqueles três grandes filósofos gregos plantaram, ainda hoje está
abundando em frutos: ontologia? Sim. Política? Sim. Ética? Sim.
Lógica? Sim. Felicidade, morte, educação, epistemologia etc.,
etc. Esses e outros temas foram colocados por Sócrates, Platão e
Aristóteles; logo, a persistência deles nos exames de conheci-
mentos gerais e, especificamente, de filosofia, nada mais é do
que um tributo e reconhecimento à importância de seus legados.
Outro conteúdo bastante explorado é o racionalismo moderno.
De certa forma, não poderia ser diferente, considerando-se que
ao racionalismo está muito vinculada toda uma tradição do espí-
rito científico e iluminista, que demarcou e demarca a história da
vida ocidental (e latino-americana); e não apenas o espírito cien-
tífico, mas toda uma reflexão sobre a moralidade, com destaque
para Kant e sua revolução copernicana relacionada à teoria do
conhecimento. E é justamente a questão da moralidade que
surge em terceiro lugar, manifesta nos temas “ética” e “justiça”,
9
que envolvem questões candentes como teoria do direito, direi-
tos humanos, bioética, preocupações ambientais e geracionais,
dentre outras.
É certo que, se somarmos todos os percentuais, o total alça a
cerca de 130%; isso não deve causar espanto, uma vez que al-
guns temas se sobrepõem, tais como “Aristóteles e escola hele-
nística”, “Filosofia Antiga” e “Escola sofística, Sócrates e Platão”.
De todo modo, a filosofia assentou-se nos Exames e em vários
concursos, ainda que, em alguns momentos, representada ape-
nas pela lógica (delineada, formalmente, por Aristóteles). Ainda
assim, pode ser que alguém se questione a respeito de outras va-
lidades da filosofia, além de cultuar um conhecimento milenar e
inusual (inútil?!).
Não, na verdade, mesmo em termos das dissertações ou reda-
ções, é possível identificarmos várias contribuições por parte da
filosofia. Algumas das mais destacadas a que se pode referir são
o auxílio no desenvolvimento de um raciocínio lógico, escorreito.
Todavia, não apenas isso. Outras contribuições são possíveis:
➢ Argumentação: devido à coerência lógica e às conexões
conceituais, o encadeamento adequado das proposições,
o conhecimento e o reconhecimento das falácias (paralo-
gismos e sofismas) e a desconstrução delas;
➢ Análise crítica: devido à acuidade do pensamento, possi-
bilita-se a construção de uma análise mais crítica, para
além do simples senso comum, correlacionando premis-
sas e buscando causalidades verazes, para além de puras
10
coincidências e apelos emocionais (fake News e pós-ver-
dades);
➢ Reflexão ética: Piaget já afirmara que “a lógica é uma mo-
ral do pensamento assim como a moral é uma lógica da
ação” (O juízo moral na criança); por conseguinte, a partir
do entendimento dos âmbitos axiológicos (de valores) que
pervadem a vida (individual e social) humana, a filosofia
proporciona uma abordagem dos fatos e fenômenos exis-
tenciais tendo como pano de fundo o significado da vida
humana e as diversas implicações que a circundam, as
consequências de suas intervenções no mundo e o ônus
de responsabilizações inerentes a tais intervenções – ou
omissões. Ao lado de outras ciências humanas e sociais
aplicadas, a filosofia permite o entendimento de que a
pessoa se desenvolve com um correspondente desenvol-
vimento de sua identidade e de sua moralidade, como dis-
correram Charles Taylor (As fontes do self) e outros.
Parece muito? Porém, não é. A filosofia pode proporcionar, ainda,
outras estratégias e contribuições adicionais:
• Interdisciplinaridade: decorrente da ligação da filosofia
com outras áreas do conhecimento, como história, socio-
logia, antropologia e literatura, considerando que muitos
filósofos adentraram em outras áreas do saber e, por outro
lado, que alguns transmitiram grande parte de suas con-
cepções filosóficas a partir da literatura, como Sartre em
Entre quatro paredes (sim, o inferno são os outros), ou
Camus em A peste (sim, a peste é a vida, nada mais), ou
Kafka em A metamorfose (sim, acordou... num inseto
11
monstruoso), ou Nietzsche em Assim falou Zaratustra
(sim, Deus está morto)...
• Debates atuais: A filosofia permite elaborar discussões
consistentes sobre temas atuais, como bioética, ética am-
biental, direitos humanos, dentre outros. Afinal, Kant, ex-
plique-nos o que seria uma guerra justa e uma condição
social de paz perpétua. É justa a guerra contra um ilegítimo
agressor? Mas, então, existiria uma agressão justa? Sob
quais pretextos e em quais circunstâncias? Além disso, é
possível não se admitir contradição na argumentação de
alguém que se afirma pró-vida, que nega o direito à prática
do aborto, porém, apoia a pena capital – sob a alegação de
que uma vida é inocente e, outra, irremediavelmente cri-
minosa?
• Prática de redação: por fim, exercitar o raciocínio e a ar-
gumentação em debates privados (solilóquios), cultivados
mediante a prática de redações dissertativas com temas
filosóficos, o que se mostra um importante auxílio e treino
para as provas de redação (do Enem e de outros concur-
sos).
Ademais, a filosofia é de importante auxílio no cotidiano pois per-
mite que cada um de nós questione o próprio universo no qual
vive. Afinal, você acredita que alguém já foi à lua? Por que você
crê nisso? Outra questão: Você acredita que Deus existe? Por que
você crê nisso? Ou, então, você acredita em vida após a morte?
Por que você crê nisso (ou não)? E em uma situação mais comum,
12
como você se definiria e se apresentaria para alguém? Por que
você tem essas ideias/conceitos a seu respeito?
É quando começamos a perceber que, além da filosofia mais aca-
dêmica, existem outras filosofias, entendidas como filosofias de
vida, visão de mundo ou paradigmas. Por esses critérios, por-
tanto, todos e cada um de nós possui sua “filosofia”, sendo essa
filosofia uma como que concepção que temos a respeito do pró-
prio ser humano. E, em sendo assim, qual é a filosofia que cada
um de nós segue e como ela se constituiu? Théophile Obenga, fi-
lósofo congolês vinculado à Universidade do Estado de São Fran-
cisco, citando Yu-lan, afirma: FILOSOFIA é o “pensamento refle-
xivo sistemático sobre a vida.”
A partir de todos esses pressupostos, é hora de colocar as cartas
sobre a mesa; ou melhor, colocar os tópicos da filosofia em cena.
13
TÓPICOS DA FILOSOFIA PARA O ENEM
Os Tópicos de Filosofia para o Exame Nacional do Ensino Médio
(ou outro) demarcam-se a partir dos recortes temporais designa-
dos períodos da História da Filosofia (HF). Revisitar a HF implica
em:
▪ Conhecer e reconhecer seus temas / problemas;
▪ Entender o porquê dos períodos históricos da filosofia;
▪ Destacar aquelas pessoas que deixaram sua influência/
marca na HF;
▪ Resgatar aquelas pessoas que NÃO deixaram sua marca /
influência na HF tradicionalmente contada.
Por esse critério, os tópicos seguirão a tradicional divisão da HF
em Filosofia Clássica (Antiga), Filosofia Medieval, Filosofia Mo-
derna e Contemporânea – e suas subdivisões:
• Filosofia Antiga
o Pré-Socrática
o Clássica (Sócrates, Platão, Aristóteles)
o Pós-Socrática
• Filosofia Medieval
o Patrística
o Escolástica
• Filosofia Moderna
o Renascença (Racionalismo)
14
o Iluminismo (Empirismo)
• Filosofia(s) Contemporânea(s)
Conforme Mário Ariel González Porta, são três as questões filosó-
ficas que se colocam:
1) Qual é o problema e, dado que todo problema se formula
em uma pergunta, qual é, pois, a pergunta do autor, qual o
objetivo perseguido por dado autor em dado momento da
HF?
2) Qual é a solução ou resposta? Ou seja, qual é a tese ou
conjunto de teses que ele (o autor-filósofo) propõe, qual o
conteúdo trabalhado?
3) Quais são os argumentos e fundamentos, por que ele (o
autor-filósofo) escolhe uma resposta e, não, outra?
Pela consideração dessas três questões, González Porta (2002, p.
159) estabelece as seguintes periodizações da Filosofia:
15
Quadro 1 - Períodos da história da filosofia segundo González
Porta.
PERÍODO
FILOSÓFICO
CORRES-
PONDÊNCIA
AO PERÍODO
HISTÓRICO
GRANDES
NOMES
DISCIPLINA-
CHAVE
CONCEITO-
CHAVE
1. Período
Metafísico
Época antiga,
medieval e
início da mo-
derna
Platão, Aristó-
teles, Santo To-
más de Aquino,
Descartes
Metafísica
(ontologia)
Ser
2. Período
Epistemoló-
gico (ou
transcen-
dental)
Época mo-
derna
Descartes,
Kant
Epistemolo-
gia, Teoria
Transcenden-
tal
Verdade, ob-
jetividade, va-
lidez
3. Período
Semântico-
Hermenêu-
tico
Época con-
temporânea
Husserl,
Dilthey, Heide-
gger, Frege,
Wittgenstein
Teoria da Sig-
nificação, Fe-
nomenologia,
Hermenêu-
tica, Semân-
tica (análise
lógica da lin-
guagem)
Significado,
Semântica:
análise lógica
da linguagem
Fonte: González Porta, 2002, p. 159.
16
FILOSOFIA CLÁSSICA
Cenário (contexto social, político, econômico, religioso...):
• Embora nem sempre referido, importa ressaltar que o
mundo no qual surge a Filosofia Ocidental é de uma com-
plexidade ímpar; um período designado por Karl Jaspers
como sendo a Era Axial, um momento histórico que rede-
finiu (ou definiu) a concepção de ser humano, de pessoa
que temos, ainda hoje. Essa Era Axial estendeu-se pelos
territórios que hoje formam o continente Europeu e grande
parte do continente Asiático (China, Índia, Irã, Palestina,
Grécia), perdurando do século IX a.C. até o século II a.C. A
Era Axial assistiu o surgimento de grandes personagens,
com destaque no campo das ideias e da espiritualidade,
tais como Confúcio, Lao-Tsé, Mo-Ti, Tschuang-Tsé, Leh-Tsu
(na China); Buda, Upanishades, bramanismo (na Índia);
Zarathustra (Zoroastro) (no Irã); Elias, Isaías, Jeremias,
Deutero-Isaías (na Palestina); Homero, Parmênides, Herá-
clito, Platão, Tucídides, Arquimedes (na Grécia). Esses sá-
bios/filósofos propagavam interpretações religiosas e filo-
sóficas de pensamento e ação sobre o mundo; provocam
para que o “ser humano’ se torne consciente de si mesmo
e de suas limitações; produzem uma tomada de consciên-
cia da própria consciência; e instituem uma espiritualiza-
ção e nova forma comunicabilidade.
17
• Mais especificamente na Magna Grécia, constituída por
cidades-estados, habitada por povos de diversas etnias,
alguns fatores que teriam contribuído para o surgimento
da filosofia seriam a literatura (epopeias, poesia), as ágo-
ras com suas discussões públicas, a moeda, as leis escri-
tas, o comércio e as navegações e a religião. De um modo
geral, todos esses elementos propiciam uma reconsidera-
ção da realidade e do concreto, apelando para a abstra-
ção, uma visão para além do cotidiano e um questiona-
mento do costumeiro. As epopeias (Ilíada, Odisseia...) se
caracterizavam por colocar o destino dos seres humanos
em suas próprias mãos, à margem dos caprichos dos deu-
ses. As leis escritas também reforçavam essa primazia e
responsabilização humana, o que era forjado a partir das
discussões dos cidadãos nas praças públicas. Já a moeda
conduzia a um processo de abstração, para além da mera
coisa, reflexão a respeito de outra dimensão existencial
que a religião aprofunda. As navegações (e o comércio),
por seu turno, conduzem a uma relativização de regras,
costumes, da própria visão de mundo. Esse cenário con-
fronto os mitos, particulares a cada povo ou cultura e co-
loca o problema de uma causa comum para tudo o que
existe – tarefa levada adiante pelos primeiros filósofos, de-
nominados filósofos da natureza ou filósofos da physis.
• Objetivo: Neste período da HF, o que se busca é compre-
ender o surgimento da filosofia e as questões fundamen-
tais dos pré-socráticos. Também existe o propósito de
18
explicar as contribuições de Platão e Aristóteles para a fi-
losofia ocidental.
• Conteúdos gerais: Cosmologia dos pré-socráticos, busca
pela arché, dialética socrática, e o conceito de maiêutica.
Teoria das Ideias de Platão, conceito de justiça, ética e po-
lítica em Aristóteles.
Filosofia Antiga I (Séc. VII a IV a.C.): Pré-Socráticos
• Problema: Substituição das mitologias pela razão na
busca da causa originária (princípio único, arché) de todas
as coisas da natureza (physis). Foco nas ideias de mu-
dança (Heráclito e o mobilismo) e permanência (Parmêni-
des e o monismo). A busca pelo elemento originário (Tales
de Mileto). O principal embate que marcou o período (e
tem reflexos ao longo de toda a HF, inclusive até os dias de
hoje, espelhado na dialética) se deu entre as posições an-
tagônicas de Heráclito e Parmênides. Contemporâneos,
defenderam pontos de vista totalmente diferentes com re-
lação à arché.
• Principais nomes: Tales de Mileto (considerado o “pai da
filosofia”, para quem o elemento originário era a água),
Anaximandro (apeíron, o indeterminado, infinito), Anaxí-
menes (ar), Pitágoras (número), Parmênides (ser), Herá-
clito (fogo), Zenão, Empédocles (terra, ar, água, fogo), De-
mócrito (átomo)...
19
• Heráclito de Éfeso (540 a.C. a 470 a.C.): adepto de
uma teoria que privilegiava o conflito, antagoni-
zava-se com Parmênides. Considerava o fogo o ele-
mento originário de tudo o mais e o movimento
como a própria realidade, uma vez que, na concep-
ção heraclitiana, Panta Rhei – ou seja, “tudo flui”,
de tal modo que uma pessoa jamais entra duas ve-
zes no mesmo rio porque as águas sempre correm.
(Texto 1).
• Parmênides de Eleia (em torno de 500 a.C.): sua
concepção do cosmos é denominada “monista”,
pois defende que tudo o que existe é apenas varia-
ção aparente do único, do imutável, do perene... do
Ser. “O ser, é; e o nada, nada é”. Devido à sua pro-
posição de seguir a via do pensamento e, não, da
opinião (mutável, variável), é considerado o precur-
sor da metafísica.
Filosofia Antiga II (Séc. V a IV a.C.): Clássica
• Problema: A pessoa e sua vivência social, política, ética e
moral. A fundamentação racional (lógica) da busca da ver-
dade. Já não se importa mais a realidade física e seu prin-
cípio originário; agora, o foco é a detecção de um modo de
vida justo, ético, uma organização social perfeita (a res pu-
blicae).
• Cenário: O panorama político conturbado e disputado em
embates argumentativos nas praças públicas favorece o
20
surgimento de mestres da retórica que se dispunham a en-
sinar técnicas discursivas de convencimento do público
mediante a eloquência e a sagacidade mental (derrotando
opiniões contrárias à do falante), pois o que importava era
o sucesso nos debates. Uma das consequências da ativi-
dade sofística foi o surgimento de concepções filosóficas
relativistas, uma vez que a verdade seria relativa “ao ho-
mem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstân-
cias” (Cotrim,1996, p. 101). Nesse sentido, surgem Protá-
goras de Abdera (480-410 a.C.) instituindo um grande sub-
jetivismo ao erigir o “homem como a medida de todas as
coisas”, e Górgias de Leontini (487-380 a.C.), que “apro-
fundou o subjetivismo relativista de Protágoras a ponto de
defender o ceticismo absoluto” (Cotrim, op. cit., 102).
• Principais nomes: Protágoras, Sócrates, Platão, Aristóte-
les.
• Sofistas e Sócrates: Diferença entre retórica e dia-
lética; o uso da argumentação para se obter o su-
cesso nas discussões ou alcançar a verdade, ainda
que a verdade tenha um ônus. Sócrates (nascido
em Atenas em 470/469-399 a.C.) teria sido filho de
um escultor (Sofronisco) e de uma parteira (Fena-
reta) e seu estilo de vida assemelhava-se ao dos so-
fistas, embora não “vendesse” ensinamentos. Seu
método, a ironia, consistia em conversar com as
pessoas e interrogá-las em busca das razões de
suas crenças. De seu próprio conhecimento, dizia
que nada sabia. A arte do diálogo, da dúvida e da
21
ironia completava-se com a maiêutica, que se re-
fere ao processo de concepção de ideias, o mo-
mento segundo de construção de ideias próprias e
não mais recebidas passivamente.
• Platão: Teoria das Ideias (Hiperurânio ou mundo
das Ideias), dualismo, e conceito de justiça. Discí-
pulo de Sócrates e fundador de uma escola deno-
minada Academia onde se ensinava filosofia, ma-
temática e ginástica. Platão utilizava-se do método
dialógico criado por seu mestre. De acordo com
Platão, o conhecimento evolui por etapas, das
quais a primeira é a “opinião” (doxa), ainda domi-
nada pelas impressões sensíveis derivadas dos
sentidos. Para atingir o conhecimento autêntico
(epistéme) há que se recorrer a um método: a dia-
lética, que é a contraposição de uma opinião com
sua crítica. A divisão entre dois mundos (mundo
das ideias, perfeito, imutável e o mundo sensível,
imperfeito, corruptível) é a marca da filosofia platô-
nica. Platão encabeçou uma postura filosófica que
é considerada idealista: as ideias têm primazia so-
bre a realidade, e estas devem se conformar àque-
las, evoluindo de um “mundo sensível” para um
“mundo das ideias”, das sombras e ilusão, dos ob-
jetos sensíveis e crença para as Ideias e Conceitos
• Aristóteles: Lógica, teoria das causas e ética (vir-
tude como meio-termo). Aristóteles, nascido em
Estagira (384-322 a.C.), é considerado o
22
sistematizador primeiro das ciências, inclusive
pela divisão em “ciências físicas” e “ciências meta-
físicas”, ou melhor, ciências “práticas” (ética, retó-
rica, arte...), “produtivas” (referentes aos instru-
mentos da produção) e “teóricas” (teologia, mate-
mática, ciências naturais...). Contrariamente a seu
mestre, Aristóteles afirmava que as ideias não nas-
cem com as pessoas, “elas não nascem conosco,
elas se formam em nós com base nas experiências
que temos de vida” (Gallo, 1999, p. 19). Em busca
desse conhecimento mais confiável, da constru-
ção de uma ciência, enfim, Aristóteles afirmava
que o ser individual não poderia ser objeto de ciên-
cia, mas apenas o universal, generalizável. Esse co-
nhecimento generalizável, que comportaria a es-
trutura essencial de um determinado ser é o con-
ceito. Da essência deve se distinguir o que é não es-
sencial – portanto, o que é atributo circunstancial:
o acidente. A partir dessa proposição, então, Aris-
tóteles vai desenvolver seu pensamento, indicando
os elementos constitutivos do pensamento; as no-
ções de ato e potência, para explicar as transforma-
ções observadas na natureza; os princípios que de-
vem reger o pensamento; a causalidade como ex-
plicação para a passagem da potência ao ato.
Filosofia Antiga III (Séc. III a.C. a IV/VI d.C.): Pós-Socrática
• Cenário (contexto social, político, econômico...):
23
• Interação com Outras Culturas e Expansão do
Pensamento Helênico. O advento do Império de
Alexandre expandiu o mundo grego para o Egito, a
Mesopotâmia e a Pérsia, levando a um contato in-
tenso com outras tradições filosóficas e religiosas.
Esse sincretismo cultural resultou em uma troca de
ideias que moldou profundamente o pensamento
filosófico. Por exemplo:
• Influência Oriental: A filosofia helênica começou
a ser influenciada por tradições orientais, como o
zoroastrismo e as religiões babilônicas, que trouxe-
ram novos modos de pensar o divino, o bem e o
mal, e o destino.
• Egito Helenístico: Alexandria se tornou um grande
centro de aprendizado, onde filósofos gregos, egíp-
cios e judeus interagiam, e a Biblioteca de Alexan-
dria desempenhou um papel central na preserva-
ção e disseminação do conhecimento.
• O Advento do Cristianismo. A partir do século I
d.C., o cristianismo começou a se expandir dentro
do Império Romano. Os primeiros pensadores cris-
tãos (como Justino Mártir e Clemente de Alexan-
dria) interagiram com a filosofia grega, particular-
mente o platonismo, para articular suas próprias
doutrinas. Isso preparou o caminho para a Filosofia
Patrística, que será a base da Filosofia Medieval.
24
• O Desafio Cristão: O cristianismo trouxe novas
questões filosóficas, como a relação entre fé e ra-
zão, o problema do mal e a natureza da divindade.
Ao se apropriar de conceitos filosóficos gregos,
como o Logos, os primeiros filósofos cristãos rein-
terpretaram esses conceitos para explicar a teolo-
gia cristã.
• Declínio da Filosofia Clássica: À medida que o
cristianismo se consolidou, algumas tradições filo-
sóficas pagãs foram reprimidas, como o fecha-
mento da Academia de Platão em 529 d.C. pelo im-
perador Justiniano, marcando o fim da filosofia an-
tiga e a transição para a Filosofia Medieval.
• Emergência da Filosofia Medieval. A Filosofia Pa-
trística foi a primeira fase da Filosofia Medieval,
onde os Padres da Igreja (como Santo Agostinho)
trabalharam na elaboração de uma síntese entre a
fé cristã e a filosofia grega, especialmente o plato-
nismo e o estoicismo. O foco principal era a inter-
pretação da Revelação e a defesa da fé contra he-
resias, o que marcou uma ruptura, mas também
uma continuidade em relação ao pensamento filo-
sófico antigo.
• Problema: Expansão da filosofia para além do mundo
grego; ultrapassagem das antigas fronteiras éticas; dis-
puta entre o helenismo e o cristianismo (remete à Patrís-
tica).
25
• Conteúdos: emergem correntes de pensamentos concor-
rentes, que produzem matizes diversos sobre a vida e a
própria condição humana.
• Ceticismo: Fundado por Pirro de Élis, o ceticismo
colocava em dúvida a possibilidade de se obter co-
nhecimento verdadeiro. Os céticos questionavam
as crenças tradicionais e o uso da razão para aces-
sar a verdade, o que refletia um mundo em cons-
tante mudança e instabilidade.
• Estoicismo: Fundada por Zenão de Cítio, a escola
estoica defendia a ideia de que a felicidade residia
na harmonia com a razão universal (Logos), acei-
tando o destino com tranquilidade. A filosofia es-
toica teve grande influência, especialmente na
ideia de cosmopolitismo, que viu o ser humano
como cidadão do mundo, além das fronteiras gre-
gas.
• Epicurismo: Epicuro pregava que a felicidade vinha
da busca do prazer (no sentido da ausência de dor
e perturbações) e da tranquilidade interior. Diferen-
temente dos estoicos, ele acreditava que os deu-
ses não interferiam nas questões humanas.
• Neoplatonismo: Embora tenha surgido um pouco
mais tarde, o neoplatonismo (associado a Plotino,
no século III d.C.) reinterpretou as ideias de Platão,
fundindo-as com outras tradições místicas,
26
preparando o terreno para influências no pensa-
mento cristão.
EM SUMA, esse período entre turbulento e rico em perspectivas
filosóficas coloca novos atores e desafios em cena, pois o perí-
odo Pós-Socrático foi uma época de grande diversidade e desen-
volvimento filosófico. O pensamento grego se expandiu e intera-
giu com culturas não gregas, enquanto novas escolas tentavam
responder às questões de um mundo em mudança. Ao mesmo
tempo, osurgimento do cristianismo trouxe novos desafios e pos-
sibilidades para a filosofia, preparando o terreno para a Filosofia
Medieval.
27
FILOSOFIA MEDIEVAL
• Cenário (contexto social, político e econômico):
• Idade Média: Giovanni Andrea (bibliotecário ponti-
fício, 1469) assim designou, em termos culturais e
valorativos, a partir da Renascença, um período en-
tre a época Clássica” e o novo renascimento do an-
tigo Classicismo.
• Arruinamento do mundo clássico antigo (Império
Romano).
• Barbarização do espaço europeu (ruína do Império,
novas ordem e organização política e espírito bár-
baro ou primitivismo).
• Advento e difusão do Cristianismo (substituição do
paganismo, paz de Constantino – Édito de Milão em
313 – e a convergência com a presença bárbara e a
ruína do Império e sua civilização).
• Filosofia tem um papel secundário, subalterno à te-
ologia (Philosophia ancilla theologiae ("A filosofia é
serva da teologia")).
• Pensamento e “ethos” cristãos medievais:
• Medievalização do Clássico
28
• Espiritualismo (destaque para Agostinho de
Hipona – Santo Agostinho)
• Teocentrismo (arte e arquitetura góticas, ar-
quitetura, Deus Majestati / Cristo Pantocra-
tor)
• Fideísmo (visão sobrenaturalista do mundo
e da vida)
• Ideal do Santo (substituindo o Ideal do Sá-
bio, dualismo)
• Cristandade, coletivismo e totalitarismo
(respublicae christianorum, Império de
Cristo, “Guerra Santa”, sapientia Christiana)
• Objetivo geral: Explorar a relação entre fé e razão na filo-
sofia medieval.
Filosofia Medieval I (Séc. IV a VII d.C.): Patrística
• Problema: Tentativa de conciliar o cristianismo com o
pensamento filosófico greco-romano (conciliar fé e razão).
Fundamenta-se nas ideias dos “Padres da Igreja” que bus-
cam defender a fé cristã. Três Potências: memória, inteli-
gência e vontade.
• Conteúdos: Relação entre filosofia e cristianismo, Teoria
da Iluminação. Segundo Chauí, “A patrística foi obrigada a
introduzir idéias [sic] desconhecidas para os filósofos
greco-romanos: a idéia [sic] de criação do mundo, de
29
pecado original, de Deus como trindade una, de encarna-
ção e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e
ressureição [sic] dos mortos, etc. Precisou também expli-
car como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi cri-
ado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Introduziu,
sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a idéia [sic] de
“homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-
arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela exis-
tência do mal no mundo.
Para impor as idéias [sic] cristãs, os Padres da Igreja as
transformaram em verdades reveladas por Deus (através
da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos,
seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Com
isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos,
entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou
humanas”.
• Principais nomes: Tertuliano, Agostinho de Hipona, Hipá-
tia de Alexandria, Boécio, Gregório de Nisa, Justino...
• Agostinho de Hipona: Relação entre fé e razão, e a
teoria da iluminação. Agostinho, que escreveu logo
após o colapso do Império Romano. O trabalho de
Agostinho contra as heresias foi de fato crucial para
a consolidação dos dogmas cristãos, e sua influên-
cia perdura na forma como muitos ainda pensam
sobre a relação entre o espiritual e o material, o
bem e o mal, e a liberdade humana. Agostinho con-
cebe a separação entre o mundo espiritual e o
30
material, o que pode ser vislumbrado em "Confis-
sões" (foco na luta interna entre o corpo e a alma) e
"A Cidade de Deus" (dualidade entre a Cidade de
Deus e a Cidade dos Homens).
A BAIXA ESCOLÁSTICA evidencia a riqueza de encontros cultu-
rais, sobretudo ocidentais e orientais (oriente próximo asiático),
com os intercâmbios culturais e intelectuais marcando profunda-
mente esse período da Filosofia Medieval.
Filosofia Medieval II (Séc. VIII a XII d.C.): Baixa Escolástica
• Cenário: A interação entre as filosofias árabe e judaica e a
escolástica europeia ocorreu principalmente nas universi-
dades medievais, como em Paris e Toledo, que se torna-
ram centros de tradução de obras filosóficas do árabe e do
hebraico para o latim. Esse processo de tradução, a partir
do século XII, foi fundamental para a reintrodução de Aris-
tóteles e, também, para o desenvolvimento de novas inter-
pretações de temas teológicos e metafísicos. Esse perí-
odo foi caracterizado por tensões entre a tentativa de inte-
grar a filosofia grega, especialmente a metafísica aristoté-
lica, com as doutrinas teológicas cristãs, islâmicas e ju-
daicas. A filosofia árabe e judaica trouxe desafios episte-
mológicos e ontológicos novos e a Escolástica teve de li-
dar com esses desafios em termos de como conciliar a ra-
zão com a fé, algo que ressoaria profundamente nos deba-
tes filosóficos subsequentes.
31
• Problema: Filosofia cristã. Início da Teologia. Dualismo:
separação entre fé e razão, corpo e alma, infinito (Deus) e
finito (seres humanos). Método Escolástico (Disputa). Fi-
losofia árabe e judia. Reintrodução do pensamento de
Aristóteles na Europa.
• Conteúdo: Durante a Baixa Escolástica, o pensamento
árabe e judaico foi fundamental para a revitalização da fi-
losofia ocidental, especialmente com a reintrodução de
Aristóteles na Europa. Isso se deu principalmente através
das traduções dos textos árabes, que haviam preservado
e expandido a filosofia grega.
• Principais nomes: Anselmo, Avicena, Averróis, Maimôni-
des, Hildegarda de Bingen...
• Filosofia Árabe:
• Avicena (Ibn Sina): Avicena, cujo pensamento foi
muito influente na Europa, desenvolveu uma meta-
física em que a distinção entre essência e existên-
cia ocupava um lugar central. Sua obra influenciou
tanto os filósofos cristãos como Tomás de Aquino
quanto os judeus.
• Averróis (Ibn Rushd): Averróis foi um dos principais
comentadores de Aristóteles, cujas obras influen-
ciaram diretamente os escolásticos. Ele defendia
uma interpretação racionalista de Aristóteles, pro-
movendo a ideia de que a razão e a filosofia pode-
riam coexistir com a religião, mas com certa inde-
pendência. Filósofo islâmico de Al-Andalus
32
(Espanha islâmica) e amplamente considerado o
responsável por reintroduzir o pensamento aristo-
télico no Ocidente cristão, suas obras exerceram
grande influência na Baixa Escolástica, especial-
mente em filósofos cristãos como Tomás de Aquino
e Siger de Brabante.
• Comentários sobre Aristóteles: Averróis
acreditava que a razão e a filosofia eram es-
senciais para compreender a realidade e o
divino. Ele escreveu extensos comentários
sobre Aristóteles, defendendo uma interpre-
tação racionalista que dissociava, até certo
ponto, a filosofia da teologia. Sua aborda-
gem foi vista como um desafio à teologia
cristã e islâmica, pois ele propôs que a filo-
sofia tinha um papel autônomo e poderia
chegar à verdade de forma independente da
fé religiosa.
• A Teoria da Dupla Verdade: Embora seja
contestado se Averróis realmente susten-
tava essa teoria, o que lhe foi atribuído é a
ideia de que a razão e a fé poderiam levar a
conclusões diferentes sem necessaria-
mente se contradizerem. Isso sugeriria uma
separação entre as esferas da razão (filoso-
fia) e da fé (religião), algo que gerou contro-
vérsias tanto no mundo islâmico quanto no
cristão.
33
• Influência no Ocidente: No Ocidente, Aver-
róis foi admirado como uma autoridade filo-
sófica, com seus comentários aristotélicos
sendo estudados nas universidades euro-
peias. No entanto, suas ideias racionalistas,
especialmente sobre a eternidade do
mundo e a independência da razão, foram
condenadas pela Igreja Católica.
• Al Ghazali (Algazel): foi um teólogo, jurista e filó-
sofo islâmico, que desempenhou um papel central
na crítica da filosofia peripatética (aristotélica) no
mundo islâmico, especialmente no que diz respeitoao pensamento de Avicena e Aristóteles.
• A Incoerência dos Filósofos (Tahafut al-Fa-
lasifa): Sua obra mais famosa foi um ataque
frontal à filosofia peripatética, onde ele criti-
cava o que considerava serem as falhas da
razão humana ao tentar entender o divino.
Ele argumentou que os filósofos, como Avi-
cena, eram incapazes de justificar racional-
mente certas doutrinas, como a eternidade
do mundo e a inexistência de uma providên-
cia divina que interagisse diretamente com o
mundo.
• Sufismo e a Crítica à Razão: Embora Al-
Ghazali fosse um filósofo e teólogo de
grande erudição, ele acabou por se afastar
34
da filosofia racionalista, abraçando o su-
fismo (misticismo islâmico) como o verda-
deiro caminho para a compreensão de
Deus. Para ele, a experiência mística trans-
cendia a razão e era a única maneira de ob-
ter um verdadeiro conhecimento do divino.
• Influência na Escolástica: No Ocidente, Al-
Ghazali foi conhecido como "Algazel" e, em-
bora ele fosse um crítico da filosofia aristo-
télica, suas obras foram traduzidas para o
latim e lidas por filósofos cristãos. Suas crí-
ticas influenciaram o pensamento escolás-
tico, especialmente nas discussões sobre a
relação entre fé e razão.
Esses três pensadores, embora tenham vivido em épocas e con-
textos distintos, compartilham o interesse em como conciliar a
razão com a fé, mas cada um chega a conclusões diferentes:
• Averróis: Defendeu uma coexistência entre fé e razão,
onde a filosofia teria um papel autônomo.
• Maimônides: Tentou harmonizar a razão com a fé, mas
sempre dentro dos limites da tradição religiosa, buscando
um equilíbrio entre os dois.
• Al-Ghazali: Rejeitou a filosofia racionalista em favor de
uma compreensão mística da realidade, enfatizando os li-
mites da razão.
35
Influência na Escolástica
A filosofia de Averróis e Maimônides teve impacto direto na for-
mação da Escolástica na Europa. Al-Ghazali, por sua vez, provo-
cou debates importantes sobre os limites da filosofia, influenci-
ando de maneira indireta as críticas escolásticas à filosofia raci-
onalista.
• Filosofia Judaica:
• Maimônides (Moses ben Maimon): Filósofo judeu,
rabino e médico, cuja obra tentou sintetizar a tradi-
ção judaica com a filosofia aristotélica e neoplatô-
nica, sua influência foi sentida tanto no mundo ju-
daico quanto no cristão. Maimônides foi uma das
figuras centrais da filosofia judaica, influenciado
por Aristóteles e Avicena. Sua obra mais conhe-
cida, Guia dos Perplexos, tratava da compatibili-
dade entre a filosofia racional e a fé judaica. Ele
teve grande influência na escolástica cristã, sobre-
tudo em filósofos como Tomás de Aquino.
• Guia dos Perplexos: Sua obra mais famosa,
o Guia dos Perplexos, foi escrita para aque-
les que se encontravam confusos sobre
como reconciliar a filosofia com a fé judaica.
Maimônides procurou mostrar que a fé e a
razão não estavam em conflito, mas que a
razão poderia ser um instrumento para com-
preender a revelação divina. Ele também
36
discutiu temas como a natureza de Deus, a
criação, e o mal.
• Influência de Aristóteles e Avicena:
Maimônides se baseou fortemente nas
obras de Aristóteles, especialmente através
das interpretações de Avicena. Ele adotou a
visão aristotélica de que Deus é o motor
imóvel e a causa final de todas as coisas,
embora tenha modificado algumas ideias
para se ajustar à teologia judaica, como a
criação ex nihilo.
• Impacto na Escolástica Cristã: Maimôni-
des exerceu uma forte influência sobre To-
más de Aquino, que respeitava profunda-
mente sua tentativa de reconciliar a fé e a ra-
zão. Embora houvesse diferenças teológicas
entre o cristianismo e o judaísmo, Maimôni-
des foi visto como uma autoridade na filoso-
fia natural e moral.
Filosofia Medieval III (Séc. XIII e XIV d.C.): Alta Escolástica
• Cenário:
• Expansão Islâmica e a Preservação do Pensa-
mento Grego: Explorar como o mundo islâmico
preservou e comentou os textos de Aristóteles du-
rante a Idade Média.
37
• Tradução de Textos para o Latim: O papel de cida-
des como Toledo na tradução de obras árabes para
o latim, facilitando o acesso dos escolásticos a
Aristóteles.
• O Crescimento das Universidades Medievais:
Como os debates filosóficos começaram a se con-
centrar nesses centros de ensino, promovendo in-
tercâmbios intelectuais.
• Problema: Método da Disputa; busca da superação da di-
cotomia entre fé e razão. A grande temática que perpassa
toda a Filosofia Medieval é o embate, a dicotomia e a ten-
tativa de superar a dicotomia entre fé e razão, as cinco vias
de Santo Tomás para provar a existência de Deus.
• Principais nomes: Johannes Duns Scotus, Boaventura,
Tomás de Aquino (une fé e razão), Guilherme de Ockham,
Avicena (fundamenta a religião muçulmana).
• Tomás de Aquino: Suma Teológica, relação entre fé
e razão, e as cinco vias para provar a existência de
Deus (Motor Imóvel, Causa Eficiente, Ser Necessá-
rio, Graus de Perfeição e Governo Supremo... Cau-
salidade aristotélica). A obra de Tomás é a culmina-
ção da tentativa de conciliar a filosofia de Aristóte-
les com a teologia cristã. Tomás adotou elementos
dos comentários de Averróis e das sínteses de
Maimônides para articular suas próprias posições.
• A Doutrina do Intelecto: Tomás de Aquino
se opõe a Averróis em alguns pontos,
38
especialmente sobre a doutrina do intelecto
agente. No entanto, ele compartilha com
Averróis a valorização da razão.
• Criação e Eternidade do Mundo: Um tema
central de debate entre Aristóteles, Averróis,
Maimônides e Tomás de Aquino. Tomás re-
jeita a noção aristotélica de que o mundo é
eterno, mantendo a doutrina cristã da cria-
ção ex nihilo.
• A Metafísica de Essência e Existência: A
distinção entre essência e existência, cen-
tral no pensamento de Tomás de Aquino, foi
influenciada por Avicena, mas refinada no
contexto da teologia cristã.
A respeito da Alta Escolástica, mirando o alvorecer de um novo
contexto intelectual, com o renascimento e uma nova concepção
de ciência em gestação, impõe resgatar os nomes de Averróis,
Maimônedes, Al-Ghazali e Tomás de Aquino, entendendo que o
“diálogo” entre eles foi profícuo e permitiu o refinamento de con-
ceitos caros à cristandade.
• Diferenças e Tensão Filosófica
o Racionalismo e Teologia: Como cada um desses
pensadores lidava com a tensão entre a razão e a
revelação divina:
o Averróis: Propõe que a razão filosófica e a revela-
ção podem coexistir, mas em esferas separadas.
39
o Maimônides: Harmoniza as duas, argumentando
que a razão é uma forma válida de entender a cria-
ção divina.
o Al-Ghazali: Crítico da razão filosófica, promove a
experiência mística como superior ao conheci-
mento racional.
o Tomás de Aquino: Procura integrar ambas, mos-
trando que a razão pode reforçar a fé, mas reco-
nhece que alguns mistérios estão além da razão.
• Impacto na Escolástica e na Filosofia Ocidental
o Influência de Averróis no Averroísmo Latino: O
movimento averroísta na Europa Ocidental, especi-
almente nas universidades, foi uma interpretação
radical da autonomia da razão, que desafiou a orto-
doxia teológica.
o A Importância de Maimônides para o Pensa-
mento Cristão: Embora judeu, Maimônides foi
uma figura de autoridade para muitos escolásticos,
influenciando a ética, a metafísica e a teologia na-
tural.
o Al-Ghazali e a Limitação da Filosofia: Sua crítica
à filosofia também ressoou no Ocidente, alertando
sobre os limites da razão humana frente aos misté-
rios divinos.
CONCLUIINDO, UMA APROXIMAÇÃO ou discussão necessária a
respeito da Filosofia Medieval deve levar em conta as figuras sin-
gulares de Agostinho e Tomás de Aquino, conforme já destacado.
40
Um comparativo distintivo entre os dois pensadores, mais que
colocar um acima de outro, ajuda a fazer com que se compreenda
o quão seus pensamentos produzem um diálogo enriquecedor a
respeito do diálogo entre fé e razão (sem pleonasmos).Desta-
quem-se, então, alguns pontos:
Abordagem Comparativa (Temática):
• Dualismo de Agostinho vs. Integração de Aquino: Talvez
um dos pontos mais salientes de Agostinho diga respeito
a como ele concebe a separação entre o mundo espiritual
e o material, conquanto Aquino vê o mundo material como
parte da criação divina e, portanto, digno de ser compre-
endido racionalmente. Os textos principais para essa
comparação podem ser:
o De Agostinho: "Confissões" (foco na luta interna
entre o corpo e a alma) e "A Cidade de Deus" (dua-
lidade entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Ho-
mens).
o De Aquino: excertos da "Suma Teológica" que dis-
cutem a relação entre fé e razão, especialmente o
conceito de que a verdade revelada e a verdade ra-
cional nunca se contradizem.
Abordagem Histórica (Evolução do Pensamento Cristão):
• Deve-se atentar para a evolução do pensamento cristão
desde Agostinho até Aquino, o contexto histórico de cada
um: Agostinho, que escreveu – como já referido – logo após
o colapso do Império Romano, e Aquino, que viveu em um
41
momento de maior estabilidade e florescimento intelec-
tual, quando a Igreja já estava consolidada.
• Algumas leituras (tais como trechos menores e didáticos,
como cartas ou pequenos excertos das obras maiores) po-
dem auxiliar a perceber a transição do enfoque na fé e sal-
vação (Agostinho) para a busca de uma filosofia cristã
mais racional e sistemática (Aquino).
Questões Contemporâneas (Conexões Filosóficas Atuais):
• A despeito de preconceitos que possam persistir é possí-
vel se conectar as ideias de Agostinho e Aquino com ques-
tões atuais, como:
o O problema do mal: Como Agostinho trata o mal
como ausência de bem, e como Aquino discute o
mal no contexto do livre-arbítrio e da providência
divina. O problema do Mal, que Ricoeur apresenta
como um grande desafio para a filosofia (mas, não
só) nunca é suficientemente respondido. Nem
esse, nem o problema do livre-arbítrio frente à pro-
vidência divina e a teoria da predestinação.
o Ciência e Religião: A discussão de Aquino sobre a
compatibilidade entre fé e razão pode ser compa-
rada com debates contemporâneos sobre o diálogo
entre ciência e religião, debates que chegam a opor,
por exemplo, as teorias criacionistas e evolucionis-
tas.
42
FILOSOFIA MODERNA
• Cenário (contexto social, político e econômico):
• Período: séculos XV – XVI d.C.
• Fim do Feudalismo e surgimento do Capitalismo e
da Burguesia.
• Superação do Teocentrismo pelo Humanismo e va-
lores conexos.
• Emergência do Racionalismo e do Empirismo.
• Absolutismo e surgimento dos Estados Modernos.
• Grandes navegações, mercantilismo e descoberta
do Novo Mundo.
• Reforma Protestante.
• Invenção da Imprensa.
• Renascimento.
• Principal referência: René Descartes (Cartésio) –
1596 - 1650
• Principal obra: Discurso do Método
• Principal problema: o conhecimento (Teoria do Co-
nhecimento)
43
• Objetivo: Entender o surgimento da modernidade filosó-
fica e o pensamento racionalista.
• Conteúdo: Antropocentrismo e Humanismo; cientifi-
cismo e valorização da natureza; racionalismo; empi-
rismo; liberdade e idealismo; renascimento e iluminismo;
filosofia laica.
• Destaque: ocorre uma “Evolução” das posturas místicas
e literárias medievais para uma postura mais científica:
• Da Astrologia para a Astronomia: Ticho Brahe e
Johannes Kepler (séc. XVII)
• Revolução científica (1550- 1700)
• Nicolau Copérnico: De Revolutionibus Or-
bium Coelestium (24 de maio de 1543)
• Andreas Vesalius: De Humanii Corporis Fa-
brica (1º de julho de1543)
• Era de Grandes Revoluções:
• Reforma Protestante (“Revolução Ideoló-
gica”): 1517
• Revolução Industrial: 1760
• Revolução Americana: 1776
• Revolução Francesa: 1789
44
Filosofia Moderna I (Séc. XV e XVI d.C.): Racionalismo / Renasci-
mento
• Problema: Mentalidade racionalista; conhecimento – ci-
ência; liberdade.
• Conteúdo:
• A transição da filosofia medieval para a moderna é
realmente uma das mais fascinantes na história do
pensamento ocidental, justamente por representar
uma ruptura com o misticismo e as limitações im-
postas pela influência religiosa. O avanço cientí-
fico, aliado ao surgimento de novas perspectivas fi-
losóficas e políticas, abriu caminho para a raciona-
lidade e o empirismo.
• Esse período também testemunhou a gradativa se-
paração entre a teologia e as ciências. A crença no
direito divino dos reis e na governança teocrática
começou a ser desafiada à medida que novas
ideias políticas e científicas emergiam. Com o
avanço do racionalismo e do empirismo, a explica-
ção científica dos fenômenos naturais passou a ser
mais valorizada do que a interpretação mística ou
teológica.
• O conceito de que o poder político e o conheci-
mento científico estavam baseados em uma ordem
divina começou a ruir. O modelo aristotélico de ci-
ência, que era mantido com grande zelo pela Igreja,
foi questionado por figuras como Galileu, e o direito
45
divino dos reis foi sendo minado por pensadores
como Maquiavel, que argumentava que o poder era
construído pela habilidade política, e não por uma
escolha divina.
• Esse movimento gerou o solo fértil para o Ilumi-
nismo e a emancipação progressiva do pensa-
mento filosófico e científico das amarras religiosas,
moldando o que viria a ser a base da modernidade
ocidental.
• Principais nomes: Maquiavel, Erasmo de Rotterdam, To-
más Morus, Nicolau Copérnico, Montaigne...
• Galileu Galilei: A obra de Galileu foi central para a
revolução científica, desafiando a visão aristotélica
e a cosmologia ptolomaica que dominavam o pen-
samento medieval. Suas observações com o teles-
cópio confirmaram o heliocentrismo de Copérnico,
pondo em xeque a autoridade da Igreja, que defen-
dia a Terra como o centro do universo. O processo
de Galileu exemplifica o choque entre a ciência
emergente e a teologia tradicional.
• Nicolau Copérnico (1473-1543): Propôs a teoria
heliocêntrica no De revolutionibus orbium coeles-
tium, desafiando a cosmologia geocêntrica de Pto-
lomeu e da Igreja. Esse modelo heliocêntrico foi
fundamental para a fundação da astronomia mo-
derna e desafiou a concepção medieval do
46
cosmos, que estava intimamente ligada à teologia
cristã.
• Andreas Vesalius: O trabalho de Vesalius (1514-
1564), especialmente seu De humani corporis fa-
brica, foi revolucionário no campo da anatomia. Ele
desafiou séculos de ensino baseado em Galeno,
uma autoridade da medicina medieval, ao realizar
dissecções humanas e corrigir erros que haviam se
perpetuado. Isso marcou o início de uma aborda-
gem mais empírica e científica da biologia e da me-
dicina.
• Nicolau Maquiavel (1469-1527): É considerado o
pai da filosofia política moderna, principalmente
por sua obra O Príncipe. Sua abordagem pragmá-
tica e realista da política contrastava com as no-
ções medievais de governança divina. Ele defendia
que o sucesso político deveria ser medido pela efi-
cácia, e não pela moralidade, o que era um rompi-
mento radical com a tradição teológica que via os
reis como agentes de Deus.
• Erasmo de Rotterdam (1466-1536): Humanista
cristão, não foi revolucionário no sentido radical
como Maquiavel, mas suas críticas ao dogmatismo
religioso e à corrupção dentro da Igreja, especial-
mente em sua obra Elogio da Loucura, antecipa-
ram o espírito reformador da Reforma Protestante.
Ele defendia uma volta às escrituras e uma
47
espiritualidade mais interiorizada, contrapondo-se
às estruturas eclesiásticas.
• Thomas Morus (Thomas More): Na sua famosa
obra Utopia (1516), Thomas Morus (1478-1535)
propôs uma crítica à sociedade europeia de seu
tempo, apresentando uma visão idealizada de uma
sociedade justa e racional. Embora não fosse uma
obra cientificamente revolucionária, Utopia abriu
caminho para reflexões sobre a justiça social e a or-
ganização política, que influenciaram debates pos-
teriores sobrea reforma social e política.
Filosofia Moderna II (Séc. XVII d.C.): Cartesianismo / Barroco
• Cenário: O debate entre racionalismo e empirismo é cen-
tral para a Teoria do Conhecimento na modernidade, e ele
reflete diferentes maneiras de encarar a origem e o al-
cance do conhecimento humano. O racionalismo — espe-
cialmente no cartesianismo — privilegia a razão como
fonte de todo conhecimento, enquanto o empirismo de-
fende que é a experiência sensível que deve guiar o enten-
dimento
• Problema: Mentalidade racionalista; conhecimento – ci-
ência; liberdade.
• Conteúdos: Dúvida metódica, "Cogito, ergo sum", racio-
nalismo e o método cartesiano
48
• Principais nomes: Spinoza, Descartes, Leibniz, Newton,
Locke, Juan Inês de La Cruz.
• René Descartes: Descartes é o fundador do racio-
nalismo moderno e busca estabelecer um funda-
mento inabalável para o conhecimento. Seu fa-
moso Cogito, ergo sum ("Penso, logo existo") é o
ponto de partida para sua filosofia. Ele defendeu a
ideia de que a razão, e não os sentidos, é a fonte
mais segura de conhecimento, já que os sentidos
podem nos enganar. Descartes propôs uma visão
mecanicista do universo, onde tudo poderia ser ex-
plicado pelas leis da física, e onde a razão humana
teria o poder de desvendá-las.
• Descartes também introduziu a separação entre
mente (res cogitans) e corpo (res extensa), enfati-
zando que a mente racional é distinta da matéria fí-
sica, o que levou a uma nova forma de abordar o co-
nhecimento científico e a natureza humana. [Esta-
beleceu] distinção clara [...] entre consciência mo-
ral e vida espiritual de um lado, e mundo material e
corpo humano de outro;
• Situa o indivíduo no centro de sua investigação. Afi-
nal, sua prova da existência de Deus foi uma decor-
rência do autorreconhecimento do indivíduo.
• Discurso do Método: A partir do momento
em que desejava dedicar-me exclusiva-
mente à pesquisa da verdade, pensei que
49
deveria rejeitar como absolutamente falso
tudo aquilo em que pudesse supor a menor
dúvida, com a intenção de verificar se, de-
pois disso, não restaria algo em minha edu-
cação que fosse inteiramente indubitável.
Desse modo, considerando que nossos sen-
tidos às vezes nos enganam, quis supor que
não existia nada que fosse tal como eles nos
fazem imaginar. Por haver homens que se
enganam ao raciocinar, mesmo no que se
refere às mais simples noções de geometria
(...), rejeitei como falsas, julgando que es-
tava sujeito a me enganar como qualquer
outro, todas as razões que eu tomara até en-
tão por demonstrações. (...) Logo em se-
guida, porém, percebi que, enquanto eu
queria pensar assim que tudo era falso, con-
vinha necessariamente que eu, que pen-
sava, fosse alguma coisa. Ao notar que esta
verdade “penso, logo existo”, era tão sólida e
tão correta (...), julguei que podia acatá-la
sem escrúpulo como o primeiro princípio da
filosofia que eu procurava.
• John Locke: Empirismo, tabula rasa e teoria do co-
nhecimento.
• Teoria do Conhecimento: A mente humana
como uma "tabula rasa" (tábula rasa),
50
adquirindo conhecimento pela experiência
sensível.
• Teoria Política: O conceito de "contrato so-
cial" e os direitos naturais (vida, liberdade e
propriedade), fundamento para o libera-
lismo político.
• Impacto Histórico: Influência na Revolução
Gloriosa na Inglaterra e nas futuras revolu-
ções, como a Americana e a Francesa.
• Baruch Spinoza (1632-1677): Embora Spinoza seja
considerado um racionalista, sua visão é distinta
da de Descartes, especialmente no que diz respeito
à relação entre mente e corpo. Spinoza propôs um
monismo substancial, afirmando que existe ape-
nas uma substância, que é Deus ou a Natureza
(Deus sive Natura). Seu pensamento é profunda-
mente racionalista, mas ele rejeita a separação car-
tesiana entre o corpo e a mente.
• Ética Geométrica: Em sua Ética, Spinoza
construiu um sistema filosófico baseado na
razão pura, utilizando um método geomé-
trico similar ao dos matemáticos, em que as
verdades seguem logicamente umas das
outras, tal como teoremas em uma geome-
tria.
• Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716): Leibniz foi
um racionalista que contribuiu para o
51
desenvolvimento da lógica e da matemática, intro-
duzindo o cálculo diferencial independentemente
de Newton. Ele acreditava que o mundo é com-
posto por mônadas — unidades de força que, jun-
tas, constituem a realidade. Ele defendia que o co-
nhecimento verdadeiro vem das ideias inatas e que
a razão é a chave para desvendá-las.
• Princípio da Razão Suficiente: Leibniz pro-
pôs que nada acontece sem uma razão sufi-
ciente que explique por que é assim e não de
outra maneira. Ele também sugeriu a ideia
de que vivemos no "melhor dos mundos
possíveis", dado que Deus, sendo racional,
teria escolhido o melhor cenário possível
para a criação.
Filosofia Moderna III (Séc. XVIII d.C.): Empirismo / Iluminismo / Ilus-
tração
• Panorama histórico:
o Contexto Social, Político e Econômico: A Revolução
Científica, o fim do feudalismo, o crescimento das mo-
narquias absolutistas e o início da Revolução Indus-
trial.
o Relação com o Pensamento Filosófico: A necessi-
dade de novas teorias sobre o conhecimento e a soci-
edade, frente às mudanças políticas e científicas (in-
fluência de Newton, por exemplo).
52
o O Papel do Iluminismo: Movimento de crítica ao An-
tigo Regime e ao poder da Igreja, buscando a razão
como guia para a organização social.
• Objetivo: Introduzir o empirismo e o pensamento ilumi-
nista.
• Problema: Desafio à tradição e à autoridade (liberdade);
confiança no progresso e na razão (racionalismo e conhe-
cimento científico); incentivo à liberdade de pensamento
(liberdade).
• Conteúdos (empirismo – Séc. XVII-XVIII): Teoria do co-
nhecimento em Locke, Hume e Berkeley, e as ideias de li-
berdade e contrato social de Rousseau. O empirismo é
uma resposta ao racionalismo, afirmando que o conheci-
mento provém exclusivamente da experiência sensorial.
Locke introduziu a ideia de que a mente é uma "tabula
rasa" (tábula rasa), sem ideias inatas. A ênfase no papel da
percepção e da experiência na formação do conheci-
mento humano. David Hume, por exemplo, questionou a
causalidade, argumentando que só conhecemos eventos
por meio da observação de suas sequências, não por uma
relação necessária dedutiva.
• Conteúdos (iluminismo – Séc. XVIII): O Iluminismo é um
movimento intelectual mais amplo, que abraça tanto o ra-
cionalismo quanto o empirismo, mas que tem como foco
central a confiança na razão para resolver problemas soci-
ais, políticos e científicos. A "razão iluminista" busca liber-
tar a humanidade da superstição, do dogma religioso e da
53
opressão política. Voltaire, por exemplo, defendia a razão
como instrumento de crítica contra o absolutismo e o po-
der eclesiástico, ao passo que Rousseau se concentrava
na justiça social e na liberdade política. Kant propôs a fa-
mosa frase "Ouse saber" (Sapere aude), incentivando o
uso da razão para libertar o ser humano de sua "minori-
dade" (dependência).
• Conteúdos (Idealismo – Séc. XVIII - XIX): O idealismo se
desenvolve como uma tentativa de resolver os problemas
levantados pelo empirismo e pelo racionalismo. Kant, por
exemplo, argumentou que a experiência sensorial é medi-
ada por estruturas a priori da mente, ou seja, a razão ainda
desempenha um papel importante, mas combinada com
a experiência. Kant uniu empirismo e racionalismo ao afir-
mar que o conhecimento depende tanto da experiência
quanto das formas da razão que estruturam essa experiên-
cia (o que chamou de "revolução copernicana" da filoso-
fia). Hegel, por sua vez, avançou essas ideias, criando um
sistema dialético em que a história do pensamento reflete
o desenvolvimento progressivo da consciência racional.
• Principais nomes:
• Francis Bacon (1561-1626): Bacon foi um dos pri-
meiros grandes defensores do empirismo e é co-
nhecido por desenvolvero método científico base-
ado na observação e na experimentação. Em sua
obra Novum Organum, ele critica o raciocínio dedu-
tivo de Aristóteles e defende que o conhecimento
54
verdadeiro vem da indução, ou seja, da observação
repetida dos fenômenos e da construção de gene-
ralizações a partir desses dados.
• Ídolos da Mente: Bacon também introduziu
os conceitos dos "ídolos" que impedem o
progresso do conhecimento: os ídolos da
tribo, da caverna, do mercado e do teatro.
Esses são preconceitos que devemos supe-
rar para alcançar um conhecimento verda-
deiro.
• Galileu Galilei (1564-1642): Galileu foi pioneiro no
uso do método empírico para o estudo da física e
da astronomia. Suas observações com o telescó-
pio, especialmente sobre as luas de Júpiter e as fa-
ses de Vênus, confirmaram a teoria heliocêntrica
de Copérnico. Galileu também desenvolveu leis
fundamentais da física, como a inércia e a acelera-
ção, baseadas em experimentos.
• Matematização da Natureza: Galileu acre-
ditava que a natureza estava escrita em lin-
guagem matemática, e que só por meio de
experimentos e da quantificação rigorosa
poderíamos entender suas leis.
• Thomas Hobbes (1588-1679): Embora conhecido
principalmente por sua filosofia política, Hobbes
também contribuiu para o empirismo. Ele acredi-
tava que todo o conhecimento vinha das
55
sensações físicas e que a mente humana era uma
máquina que processava essas sensações. Essa
abordagem materialista influenciou profunda-
mente a filosofia britânica posterior.
• Leviatã: Em sua obra mais famosa, Hobbes
aplica sua visão empirista à política, suge-
rindo que os seres humanos, movidos por
paixões e desejos naturais, precisam de
uma autoridade soberana para manter a or-
dem social.
• John Locke (1632-1704): Locke é talvez o maior re-
presentante do empirismo clássico. Ele acreditava
que a mente humana nasce como uma tabula rasa
(folha em branco) e que todo o conhecimento vem
da experiência. Em seu Ensaio sobre o Entendi-
mento Humano, Locke defende que existem dois ti-
pos de experiências que geram conhecimento: as
sensações externas e as reflexões internas.
• Teoria das Ideias: Para Locke, todas as nos-
sas ideias derivam da experiência sensível,
e ele faz uma distinção importante entre
ideias simples, que vêm diretamente dos
sentidos, e ideias complexas, que são cons-
truídas pela mente.
• Isaac Newton (1643-1727): Newton é frequente-
mente visto como o culminar da revolução cientí-
fica. Embora sua física seja baseada na observação
56
empírica, Newton também acreditava na capaci-
dade da razão humana para desvendar as leis uni-
versais. Sua obra Princípios Matemáticos da Filoso-
fia Natural estabeleceu a lei da gravitação universal
e as leis do movimento, fornecendo uma descrição
mecanicista do universo.
• Relação com o Empirismo e Raciona-
lismo: Newton incorporou elementos de
ambas as tradições. Ele usou experimentos
para descobrir as leis da natureza, mas
acreditava que a razão podia formular leis
universais e abstratas, como as que ele
apresentou na gravitação.
• David Hume:
• Ceticismo e Empirismo: Crítica à causali-
dade e à ideia de substância. Acreditava que
o conhecimento humano é limitado às im-
pressões sensíveis e hábitos mentais.
• Teoria Moral: A moralidade baseada nos
sentimentos e não na razão.
• Impacto Histórico: Desconstrução das cer-
tezas filosóficas e impacto no pensamento
moderno e nas ciências sociais, levando à fi-
losofia contemporânea (ex.: Kant).
57
• Immanuel Kant:
• Crítica da Razão Pura, imperativo categó-
rico, e a distinção entre fenomenal e noume-
nal; ética deontológica (“O mais alto valor
moral do caráter consiste em fazer o bem
não por desejo pessoal, mas por dever”), li-
berdade e autonomia moral; busca da apro-
ximação entre racionalismo e empirismo, o
que pode ser vislumbrado em obras tais
como Crítica da razão pura e Crítica da ra-
zão prática. Provocou uma “revolução co-
pernicana” no âmbito epistemológico e da
moralidade propondo que a moralidade está
vinculada à racionalidade, o que é postu-
lado na obra Fundamentação da metafí-
sica dos costumes.
• Voltaire:
• Defesa da Razão e Crítica à Igreja: Lutou
pela liberdade de expressão, tolerância reli-
giosa e o combate ao fanatismo.
• Despotismo Esclarecido: Voltaire via a fi-
gura do monarca iluminado como uma solu-
ção para implementar reformas racionais
sem revoluções violentas.
• Impacto Histórico: Contribuições para as
ideias de tolerância religiosa e liberdade
58
individual, além de influenciar reformas em
monarquias europeias.
• Contos: seus breves escritos Cândido ou o
otimismo, O Ingênuo e Zadig ou O Destino,
colocam em tela todo o problema do Mal
(sobretudo aquele que se abate sobre os
bons), e auxilia em tecer críticas à Igreja e à
incoerência daqueles que afirmam seguir
seus ensinamentos.
• Jean-Jacques Rousseau:
• Contrato Social: A ideia de que a legitimi-
dade política vem da vontade geral, e não de
um governante divino ou hereditário.
• Educação e Natureza Humana: Defendeu
que o ser humano é naturalmente bom e
corrompido pela sociedade. A educação de-
veria respeitar a liberdade natural.
• Impacto Histórico: Forte influência na Re-
volução Francesa e nas ideias de soberania
popular e democracia direta.
A FILOSOFIA MODERNA provocou uma revolução (epistemoló-
gica, histórica, social, científica, econômica...) em todos os âm-
bitos da vida das sociedades ocidentais; o surgimento de grandes
vultos do pensamento – que ainda hoje marcam os debates
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acadêmicos – fez com que o pensamento moderno provocasse
impactos que perduram até os dias atuais, como:
• Relação com o Liberalismo e as Revoluções: Como as
ideias de Locke e Rousseau influenciaram diretamente as
Revoluções Americana e Francesa.
• Transição para o Idealismo Alemão: As críticas de Hume
e as ideias de Rousseau influenciaram Kant, que buscou
resolver os problemas do empirismo e racionalismo.
• Iluminismo como base da Filosofia Moderna: Voltaire,
Locke e Rousseau ajudaram a moldar as ideias de direitos
humanos, democracia e ciência.
Esses dois movimentos da Filosofia Moderna — racionalismo e
empirismo — refletem diferentes respostas à pergunta funda-
mental sobre como obtemos conhecimento. O racionalismo
acredita que a razão e as ideias inatas são o caminho para a ver-
dade, enquanto o empirismo defende que o conhecimento deriva
da experiência sensível.
No entanto, figuras como Leibniz e Newton mostram que a fron-
teira entre essas escolas não é sempre nítida, com elementos das
duas abordagens interagindo de maneiras complexas. Essa sín-
tese culmina, em certo sentido, na filosofia de Immanuel Kant,
que tentará superar a dicotomia, argumentando que o conheci-
mento envolve tanto a sensibilidade quanto a razão.
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De todo modo, considerando as várias facetas da Filosofia Mo-
derna – quais sejam, o Racionalismo, o Empirismo, o Iluminismo
e, mesmo, um novo Idealismo –, IMPORTA DISTINGUIR:
• Racionalismo vs. Empirismo: O racionalismo coloca a ra-
zão pura acima da experiência, enquanto o empirismo de-
fende que o conhecimento provém unicamente dos senti-
dos. Esse é o principal ponto de tensão entre as duas cor-
rentes.
• Razão Iluminista: A "razão iluminista" pode ser vista
como uma síntese ou aplicação prática da razão, mais vol-
tada para as questões sociais e políticas, utilizando tanto
princípios racionais quanto evidências empíricas para pro-
mover mudanças.
• Idealismo Kantiano: Kant se posiciona em um ponto de
transição entre essas tradições, aceitando que a razão e a
experiência são necessárias, mas que nossa compreen-
são do mundo é, em última instância, uma construção da
mente.
MEMORIZAR!!
• Racionalismo: "A razão é suficiente para conhecer o
mundo”.
• Empirismo: "Só conhecemos o que experienciamos”.
• Iluminismo: "A razão e a ciência devem guiar a socie-
dade”.
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