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2 
 
APRESENTAÇÃO 
 
O Exame Nacional do Ensino Médio é uma ocasião de se testarem 
os conhecimentos adquiridos ou construídos ao longo dos anos 
de estudo, iniciados lá na pré-escola e que culminam, na Educa-
ção Básica, com a 3ª série do ensino Médio. Por certo, nesse pe-
ríodo de doze anos, pelo menos, muita coisa foi assimilada, 
aprendida, assim como muitas outras coisas foram se perdendo 
ou foram esquecidas. 
Afluentes da margem direita ou esquerda dos rios Amazonas, Pa-
raná, Paraguai ou São Franciso, certamente, não estão todos lim-
pidamente presentes na memória de todos. Uma oração coorde-
nada sindética adversativa ou uma oração subordinada adverbial 
concessiva... Facílimo de lembrar. Mesmo? 
Bem diferente do que lembrar da cachorra Baleia e seus sonhos... 
Ou dos olhos de ressaca de Capitu. Ou do desespero final de Ber-
toleza... 
Porém, e quando se trata da filosofia? Anaximandro, Anaxímenes, 
Anaxágoras lembram um trio de música caipira ou três irmãos de 
pais pouco criativos em relação aos nomes (ou criativos demais). 
E como distinguir entre John Duns Scotus e John Scottus Erigena? 
Ou entre Thomas Morus, Thomas Hobbes, Thomas Khun e Tho-
mas Aquinas? Ou, mesmo, como pronunciar um nome singelo 
como o de Mihail Csikszentmihalyi (por sorte, esse é psicólogo)? 
Felizmente, filosofia não tem a ver com decorar nomes, mas com-
preender o movimento das ideias ao longo dos tempos – da 
 
3 
 
história. Nesse sentido, o principal, em relação ao estudo de filo-
sofia é conhecer seu desenvolvimento histórico e os grandes pe-
ríodos pelos quais é possível serem identificados problemas mais 
ou menos semelhantes. E, obviamente, a partir desses grandes 
recortes, identificar alguns dos pensadores ou pensadoras que 
impactaram ou tornaram singulares as periodizações em que se 
encontram. Assim como não precisamos ser profundos conhece-
dores do boxe para saber que existiu, e tinha um estilo peculiar, o 
boxeador Mohammad Ali (Classius Clay), tanto quanto Mike 
Tyson. Não precisamos ser fãs de Fórmula 1 para saber que Ayr-
ton Senna e Michael Schumacher transformaram esse esporte. 
Porém, seria interessante saber que, dentre os nomes de filóso-
fos, merecem destaque filósofas como Hipátia de Alexandria, Hil-
degarda de Bingen. Aliás, Hipátia (ou Hipácia) foi a primeira mu-
lher a ter trabalhos reconhecidos sobre temas como medicina, 
matemática e filosofia. Seu pensamento corajoso levou à sua trá-
gica morte. 
De todo modo, estas páginas querem ser um convite para um 
contato, ainda que sintético, com os grandes períodos e nomes 
da filosofia. Um contato que, por certo, auxiliará não só em exa-
mes como o Enem mas, certamente, a ter uma visão diferenciada 
sobre o mundo em que vivemos e nos movemos. 
(L.S.J., às vésperas das eleições municipais de 2024). 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
FILOSOFIA PARA O ENEM ...................................................... 5 
TÓPICOS DA FILOSOFIA PARA O ENEM ................................ 13 
FILOSOFIA CLÁSSICA .......................................................... 16 
Filosofia Antiga I (Séc. VII a IV a.C.): Pré-Socráticos ............ 18 
Filosofia Antiga II (Séc. V a IV a.C.): Clássica ...................... 19 
Filosofia Antiga III (Séc. III a.C. a IV/VI d.C.): Pós-Socrática.. 22 
FILOSOFIA MEDIEVAL .......................................................... 27 
Filosofia Medieval I (Séc. IV a VII d.C.): Patrística ............... 28 
Filosofia Medieval II (Séc. VIII a XII d.C.): Baixa Escolástica . 30 
Filosofia Medieval III (Séc. XIII e XIV d.C.): Alta Escolástica . 36 
FILOSOFIA MODERNA ......................................................... 42 
Filosofia Moderna I (Séc. XV e XVI d.C.): Racionalismo / ..... 44 
Filosofia Moderna II (Séc. XVII d.C.): Cartesianismo / Barroco
 ........................................................................................ 47 
Filosofia Moderna III (Séc. XVIII d.C.): Empirismo / Iluminismo 
/ Ilustração ....................................................................... 51 
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA ............................................ 62 
Filosofia Contemporânea I (Séc. XIX d.C.): Crise da 
Metafísica ........................................................................ 63 
 
5 
 
Filosofia Contemporânea II (Séc. XX e XXI d.C.): 
Existencialismo, Século da Mente, Pós-Modernidade .......... 64 
Outros temas contemporâneos ....................................... 67 
Feminismo e Teorias de Gênero: .................................. 67 
Escola de Frankfurt / Habermas: Teoria Crítica ............ 68 
Pós-Estruturalismo e Filosofia Francesa ...................... 68 
Utilitarismo: ................................................................. 69 
Pragmatismo: .............................................................. 69 
Ética do Cuidado: ......................................................... 69 
Filosofia Global Contemporânea .................................. 70 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................... 77 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO – 1 ................................................. 82 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO – 2 ................................................. 89 
 
 
 
5 
 FILOSOFIA PARA O ENEM 
Toda a história do progresso humano pode reduzir-se à luta da ci-
ência contra a superstição. 
(Gregório Marañón). 
 
Muito embora o papel da filosofia seja discutido desde sua siste-
matização na Grécia Antiga, esse campo de conhecimento tem-
se mostrado profícuo e capaz de alterar a forma como as socie-
dades refletem sobre si mesmas e como se organizam. Se o pro-
blema inicial com o qual a filosofia ocidental se deparou foi a ar-
ché, o princípio do universo – problema tomado dos sábios e suas 
linguagens figurativas e míticas –, aos poucos, sua problemática 
ou investigação racional foi se aprofundando, buscando os me-
andros do próprio pensamento, passando pelos problemas pes-
soais e sociais, o que envolveu a ética e a moral, a política e a jus-
tiça, o ser e o nada, o ser e o tempo... 
Embora, também, existam aquelas pessoas que afirmem que a 
filosofia é a ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua 
tal e qual (frase atribuída a Gregório Marañón), existem, por outro 
lado, pessoas que afirmam que a filosofia pode nos tirar do obs-
curantismo das crendices e ilusões, arrancar-nos da menoridade 
a partir de uma postura intelectualmente esclarecida (este, 
agora, Kant). 
Em um mundo dominado pela prática, pelo utilitarismo, a filoso-
fia parece algo sem qualquer utilidade, de fato; a não ser que 
 
6 
 
alguém se ponha a indagar o que é útil, e utilidade para quem ou 
quê? Nesse momento, a pessoa sai do âmbito das perguntas-
questão para o campo das perguntas-problema. Aí, o mundo já 
não é mais o mesmo. E é devido à importância de se fazer as per-
guntas corretas, de levar as pessoas a terem a “coragem de sa-
ber” (sapere aude!), que a filosofia vai retomando sua importân-
cia frente às ciências, ainda que a filosofia mesma, em si, não 
seja reconhecida ou não tenha o status de ciência. 
Como veremos, o Enem serve para demonstrar a vastidão de con-
teúdos que a filosofia abrange e, mais do que quantidade, a pro-
fundidade desses conteúdos – e a validade deles. Por essa e ou-
tras, uma discussão revisora da filosofia para o Enem é um exer-
cício salutar de criticidade, de autorreflexão e de coragem. A co-
ragem de pensar por si próprio(a). 
 
Introdução e revisão geral do Enem em filosofia 
• Objetivo: Apresentar as expectativas do Enem para a filo-
sofia e revisar os principais tópicos cobrados. 
• Conteúdos: Abordagem sobre as questões filosóficas no 
Enem, estrutura da prova, e o papel da filosofia no con-
texto educacional brasileiro 
 
 
7 
 
Gráfico 1 - O que cai no Enem do conteúdo de Filosofia. 
 
Fonte: SAS educação. 
Conforme o Gráfico 1, de 188 questões de filosofia em todas as 
edições do Enem, o conteúdo se distribuiu desigualmente entre 
os possíveis tópicos, havendo• Idealismo (moderno): "Conhecemos o mundo pela inte-
ração entre a razão e a experiência.” 
Não confundir o Idealismo moderno com o platônico. 
• Idealismo Clássico: 
o Se concentra em um mundo de ideias separadas do 
mundo material. 
o A verdade e o conhecimento estão no mundo ideal e 
eterno. 
o O dualismo é uma característica central, separando o 
mundo sensível do mundo das ideias. 
• Idealismo Moderno: 
o Não há uma divisão ontológica entre dois mundos, 
mas sim uma mediação pela mente humana sobre o 
mundo que experienciamos. 
o O foco está nas condições do conhecimento (Kant) e 
no desenvolvimento histórico da razão (Hegel). 
o Em vez de dualismo, o idealismo moderno busca inte-
grar o material e o mental através de um processo de 
entendimento ou desenvolvimento dialético. 
 
 
62 
 
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 
 
• Cenário (contexto social, político e econômico): 
• Consolidação do Capitalismo 
• Aprofundamento da Revolução Industrial 
• Grandes descobertas: 
• Eletricidade 
• Petróleo como matéria-prima 
• Carvão como recurso energético 
• Automóvel 
• Telefone... 
• Radicalização do Iluminismo = positivismo: amor 
por princípio, ordem por base, progresso por fim. 
• A ‘Era das Revoluções” (Eric Hobsbawm) 
• Schopenhauer: vontade. 
• Kierkegaard: vida individual humana. 
• Nietzsche – Filosofia do martelo e da bigorna: crí-
tica a todo pensamento ocidental de Sócrates a 
Kant. Vontade de Poder. 
• Nascimento das novas ciências. 
 
63 
 
• Grandes Guerras – O Holocausto e o Nazismo. 
• Pluralidade de perspectivas: Pragmatismo, Cientifi-
cismo, Niilismo, Positivismo, Utilitarismo, Raciona-
lismo, Idealismo, Liberdade (início do liberalismo), 
Fenomenologia, Subjetividade, Pluralismo, Mar-
xismo, Existencialismo, Estruturalismo... 
 
Filosofia Contemporânea I (Séc. XIX d.C.): Crise da Metafísica 
• Problema: Conjunto de correntes, tais como materia-
lismo, filosofia de vida, fenomenologia, empirismo lógico, 
filosofia da existência (existencialismo)... 
• Principais nomes e correntes: Hegel, Kierkegaard, Scho-
penhauer, Comte, Karl Marx, Engels, Nietzsche, Freud, 
Stuart Mill, Bradley, Eleanor Marx, William James, Schel-
ler... 
• Nietzsche e a Crítica da Moral: Sua obra, especi-
almente Assim Falou Zaratustra e Além do Bem e do 
Mal, é uma crítica feroz à moralidade tradicional, à 
religião e à filosofia ocidental. Nietzsche procla-
mou a "morte de Deus", sugerindo que os valores 
tradicionais estavam se desintegrando, e propôs a 
criação de novos valores pelos seres humanos li-
vres (übermensch). Sua filosofia influenciou pro-
fundamente o existencialismo e o pensamento 
pós-moderno. 
 
64 
 
• Marx: Marx revolucionou a filosofia política com 
sua análise do capitalismo e sua teoria da história, 
fundamentada no materialismo histórico. Em O Ca-
pital e Manifesto Comunista, Marx argumenta que a 
luta de classes é o motor da história, e que o capi-
talismo gera desigualdades intrínsecas que leva-
riam inevitavelmente à revolução proletária. 
 
Filosofia Contemporânea II (Séc. XX e XXI d.C.): Existencialismo, Sé-
culo da Mente, Pós-Modernidade 
• Problema: Linguagem, “contextos”, ciência e sociedade. 
• Principais nomes e correntes: Bradley, Sartre, Simone De 
Beauvoir, Wittgenstein, Husserl, Adorno, Russell, Heide-
gger, Popper, Jaspers, Ortega y Gasset, Lyotard, Levi-
Strauss, Gadamer, Kuhn, Habermas, Horkheimer, Hannah 
Arendt, Deleuze, Guattari, Foucault, Bobbio, Scruton, Ben-
jamin, Marcuse, Voegelin... 
• 1. Existencialismo: O existencialismo se concen-
tra na liberdade, na responsabilidade individual e 
no absurdo da existência humana, em um mundo 
sem sentido intrínseco. 
• Jean-Paul Sartre: Um dos maiores expoen-
tes do existencialismo, Sartre argumenta 
que o ser humano está "condenado a ser li-
vre", ou seja, sem essência prévia, e deve 
criar seu próprio sentido. Em sua obra O Ser 
 
65 
 
e o Nada, Sartre explora o conceito de má-
fé, onde os indivíduos se enganam para fugir 
da responsabilidade por suas escolhas. Seu 
impacto também se dá na arte, com peças 
como Entre Quatro Paredes e seu romance 
A Náusea. 
• Albert Camus: Embora rejeitasse o rótulo 
de existencialista, Camus está intimamente 
ligado ao movimento. Em O Mito de Sísifo, 
ele descreve a vida humana como absurda-
mente sem propósito, mas defende a revolta 
contra essa falta de sentido. Em O Estran-
geiro e A Peste, ele explora o absurdo da 
existência e a indiferença do universo. 
 
Outras ênfases demarcatórias da Filosofia Contemporânea – 
Ética e Filosofia Política 
• Objetivo: Discutir a ética e a política em questões contempo-
râneas. 
• Conteúdos: Justiça como equidade (Rawls), totalitarismo e a 
banalidade do mal (Arendt). 
• Autores: John Rawls, Hannah Arendt, Bentham, Mill, Rawls, 
Hobbes, Locke, Rosseau, Marx. 
• Hannah Arendt: Em sua obra Eichmann em Jerusa-
lém, Arendt introduziu o conceito de "banalidade 
 
66 
 
do mal" para descrever como o mal pode ser perpe-
tuado por pessoas comuns que simplesmente se-
guem ordens, sem refletir sobre as consequências 
de suas ações. Em A Condição Humana, ela ex-
plora as questões da ação política, da liberdade e 
da natureza do poder. 
• Aristóteles e a ética das virtudes: Foco no equilí-
brio e na prudência. 
• Jeremy Bentham / John Stuart Mill: Ética utilita-
rista 
• Hobbes, Locke e Rousseau: Contratualismo 
• Karl Marx: Materialismo histórico, luta de classes e 
crítica ao capitalismo. 
• John Rawls: Teoria da justiça como equidade. 
 
Filosofia da Ciência – 
• Ciência e pseudociência: superstição, mítico, misticismo. 
• Positivismo: Auguste Comte e a hierarquia das ciências. 
• Karl Popper: Falsificacionismo e o problema da indução 
(Problema e Hipótese, Dedução, Experimentação, Nova Hi-
pótese). 
• Thomas Kuhn: Paradigmas e revoluções científicas. 
 
 
67 
 
Outros temas contemporâneos 
• Problemas: Discutir as noções de poder, controle e domina-
ção na filosofia contemporânea 
• Principais nomes e correntes: Michel Foucault, Byung-Chul 
Han, Wollstonecraft, Beauvoir, Adorno, Horkheimer... 
• Foucault, Agamben...: Microfísica do poder, biopolí-
tica, disciplina e vigilância, e as relações entre poder e 
saber. 
• Byung-Chul Han: Sociedade do cansaço, sociedade da 
transparência, e a crítica à positividade e ao neolibera-
lismo. 
Feminismo e Teorias de Gênero: 
• Mary Wollstonecraft: Feminismo, crítica ao Patriar-
cado. 
• Simone de Beauvoir: No clássico O Segundo Sexo, Be-
auvoir investigou o papel das mulheres na sociedade, 
argumentando que "não se nasce mulher, torna-se mu-
lher". Sua análise histórica e filosófica do patriarcado foi 
crucial para a teoria feminista, trazendo a desigualdade 
de gênero para o centro das discussões filosóficas e so-
ciais. 
• Judith Butler: Em sua obra Problemas de Gênero, Bu-
tler propõe que o gênero é uma performance, algo cons-
truído por atos repetidos que se conformam a normas 
sociais. Ela desafiou as noções tradicionais de identi-
dade e sexualidade, sendo uma figura central na filoso-
fia queer. 
 
68 
 
Escola de Frankfurt / Habermas: Teoria Crítica, crítica à indús-
tria cultural e à racionalidade instrumental, Teoria do Agir Comu-
nicativo. A Escola de Frankfurt desenvolveu uma crítica da soci-
edade capitalista, da cultura de massa e da racionalidade instru-
mental. 
• Theodor Adorno e Max Horkheimer: Em Dialética do 
Esclarecimento, criticam o Iluminismo, argumentando 
que a razão instrumental levou à dominação e à aliena-
ção, em vez de libertação. Eles também abordaram a in-
dústria cultural como uma forma de controle social. 
• Herbert Marcuse: Outro membro da Escola de Frank-
furt, Marcuse em Eros e Civilização criticou a repressão 
das necessidades humanas sob o capitalismo, suge-
rindo que a libertação da sociedade poderia ocorrer 
pela emancipação dos desejos humanos. 
• Jürgen Habermas: Um dos maiores teóricos vivos, Ha-
bermas focou na teoria da ação comunicativa e na de-
mocracia deliberativa, ondeo poder deve ser legitimado 
pelo consenso racional. Ele propõe uma ética discur-
siva em que normas morais só são válidas se aceitas 
por todos os envolvidos em um debate livre de coerção. 
Pós-Estruturalismo e Filosofia Francesa 
• Michel Foucault: Em obras como Vigiar e Punir e A His-
tória da Sexualidade, Foucault investigou o poder disci-
plinar e como ele molda os indivíduos. Ele introduziu o 
conceito de biopoder para descrever as formas pelas 
quais as instituições governam a vida biológica das po-
pulações. Foucault também investigou o papel da 
 
69 
 
sexualidade, poder e conhecimento na formação das 
sociedades modernas. 
• Gilles Deleuze e Félix Guattari: Conhecidos por obras 
como O Anti-Édipo e Mil Platôs, Deleuze e Guattari criti-
caram o pensamento tradicional ocidental por suas hi-
erarquias fixas e ofereceram uma visão "rizomática" da 
realidade, onde as relações são não-lineares e descen-
tralizadas. Eles foram influentes no pensamento polí-
tico, psicanalítico e cultural. 
Utilitarismo: 
• John Stuart Mill, com Utilitarianism, propôs que a mo-
ralidade deve ser baseada no princípio da maior felici-
dade, onde as ações são corretas se promovem a felici-
dade e erradas se causam sofrimento. 
Pragmatismo: 
• William James e John Dewey desenvolveram uma filo-
sofia que valoriza as ideias pelo seu valor prático. O 
pragmatismo avalia a verdade com base em suas con-
sequências úteis e em como afetam a vida humana. 
Ética do Cuidado: 
• Filósofas feministas como Carol Gilligan e Nel Nod-
dings introduziram uma nova forma de pensar a ética, 
focada nas relações de cuidado e na interdependência, 
desafiando as éticas tradicionais baseadas na autono-
mia individual. 
 
70 
 
Filosofia Global Contemporânea 
• Byung-Chul Han: Este filósofo sul-coreano, em obras 
como A Sociedade do Cansaço, critica a sociedade ne-
oliberal pela pressão que coloca nos indivíduos para se-
rem sempre produtivos, o que leva ao esgotamento e à 
alienação. 
• Leopold Senghor e Stuart Hall: Senghor, um dos fun-
dadores da négritude, celebra a cultura africana e ques-
tiona a dominação colonial. Stuart Hall, por sua vez, foi 
um dos fundadores dos estudos culturais, explorando 
questões de identidade e pós-colonialismo. 
• Chimamanda Ngozi Adichie: Embora mais conhecida 
como escritora, Chimamanda é uma voz importante 
nas discussões sobre feminismo e pós-colonialismo, 
propondo uma crítica às formas pelas quais as mulhe-
res africanas e as sociedades pós-coloniais são repre-
sentadas. 
• Axel Honneth, Homi K. Bhabha, Stuart Hall...: Muti-
culturalismo, debates sobre identidade, cultura e direi-
tos. 
 
Como se pode perceber, a Filosofia Contemporânea é vasta e 
multifacetada, com uma variedade de correntes e pensadores 
que abordam as complexidades do mundo moderno. Desde a crí-
tica à modernidade, como feita por Nietzsche e a Escola de Frank-
furt, até as discussões sobre gênero, poder e a ética, há uma 
grande diversidade de ideias que continuam a impactar a cultura, 
a política e a sociedade. Todavia, em termos sociais e políticos, 
 
71 
 
tendo-se em conta que a política nem sempre tem sido utilizada 
como a busca da realização do bem-comum (mas, seu oposto, 
como instrumento de dominação e nem sempre realizada de 
forma discreta), é importante lembrar autores como Agamben e 
Garland, os quais se associam à teoria foucaultiana na discussão 
a respeito do controle, da disciplina e do biopoder ou biopolítica. 
Os conceitos de sociedade de controle, poder disciplinar e bio-
política estão profundamente interligados, principalmente na 
obra de Michel Foucault e seus desdobramentos nos referidos 
Giorgio Agamben e David Garland. Cada um desses conceitos 
ajuda a entender as formas modernas e contemporâneas de con-
trole e governança, que se concentram tanto nos corpos individu-
ais quanto nas populações em geral. 
Poder Disciplinar (Foucault): Foucault, em obras como 
Vigiar e Punir e História da Sexualidade, desenvolve o con-
ceito de poder disciplinar para descrever as novas formas 
de controle que emergem a partir do século XVII e se tor-
nam dominantes na sociedade moderna. Essas formas de 
controle não são mais baseadas apenas na repressão vio-
lenta e direta, como nas sociedades soberanas, mas pas-
sam a ser implementadas de maneira mais sutil e eficaz 
através de instituições como escolas, prisões, fábricas, 
hospitais e quartéis. 
• Vigiar e Punir: Foucault descreve a transição das 
sociedades punitivas, que empregavam punições 
físicas e públicas (como as execuções) para uma 
sociedade disciplinar, onde o controle se dá através 
 
72 
 
da vigilância constante e da normalização. O exem-
plo clássico é o panóptico de Jeremy Bentham, uma 
arquitetura carcerária que permite a vigilância total 
dos prisioneiros, sem que estes saibam quando es-
tão sendo observados. 
• Normalização: O poder disciplinar visa "normali-
zar" os indivíduos, adequando seus comportamen-
tos e corpos às exigências sociais e econômicas. 
Os indivíduos são treinados, regulados e vigiados 
em um processo constante de ajuste à norma. Isso 
ocorre, por exemplo, nas escolas, onde se ensina 
disciplina, nas fábricas, com a organização do tra-
balho, e nos hospitais, com o controle da saúde. 
Biopolítica (Foucault): No final de sua obra, Foucault in-
troduz o conceito de biopolítica, onde o foco do poder não 
é apenas o indivíduo (como no poder disciplinar), mas a 
população como um todo. A biopolítica envolve a gestão 
da vida humana em seus aspectos biológicos: a natali-
dade, a mortalidade, a saúde pública, a longevidade, etc. 
O Estado moderno não apenas controla os corpos indivi-
dualmente, mas também regula a vida coletiva, gerindo os 
processos de nascimento, morte, doença e saúde. 
• Governança da Vida: Em História da Sexualidade – 
Volume 1, Foucault sugere que, a partir do século 
XVIII, o poder passou a se concentrar em otimizar a 
vida, em vez de apenas exercer a soberania sobre a 
morte. Ele fala da "introdução da vida na história" e 
 
73 
 
do surgimento de mecanismos de poder que visam 
não mais matar ou punir, mas "fazer viver e deixar 
morrer". 
• Racismo de Estado: Foucault também sugere que 
o racismo é uma ferramenta fundamental da biopo-
lítica, pois justifica a discriminação e a exclusão de 
certos grupos em prol da saúde e da prosperidade 
da população em geral. Em Em Defesa da Socie-
dade, ele explica como a biopolítica pode se trans-
formar em regimes de exclusão, exterminando 
aqueles que são considerados ameaças biológicas 
à população. 
Sociedade de Controle (Deleuze): Gilles Deleuze, em seu 
ensaio Post-scriptum sobre as Sociedades de Controle, 
expande as ideias de Foucault, sugerindo que a sociedade 
disciplinar está sendo superada por uma nova forma de 
poder: a sociedade de controle. Enquanto o poder discipli-
nar operava em espaços fechados (prisões, escolas, fábri-
cas), a sociedade de controle se caracteriza por um sis-
tema de regulação contínua e fluida, onde o indivíduo é 
controlado em todos os aspectos da vida, de maneira des-
centralizada. 
• Controle Digital: Nas sociedades de controle, o 
poder não é exercido por instituições específicas, 
mas de maneira difusa, através de redes de infor-
mação, tecnologia e comunicação. Exemplos disso 
podem ser observados na vigilância digital, nos 
 
74 
 
sistemas de crédito social, nos algoritmos que mo-
nitoram e preveem comportamentos, e no controle 
sobre dados pessoais. A regulação é contínua e não 
precisa de confinamento físico. 
• Modulação: Deleuze fala de um controle que "mo-
dula" o comportamento, ajustando as ações dos in-
divíduos em tempo real. Ao contrário do poder dis-
ciplinar, que funcionava através de confinamento e 
correção, o controle na sociedade contemporânea 
se dá pela antecipação e regulação constante. 
Homo Sacer e a Vida Nua (Agamben): Giorgio Agamben, 
fortemente influenciado por Foucault, desenvolve os con-
ceitos de homo sacer e vida nua em sua obra Homo Sacer: 
O PoderSoberano e a Vida Nua. Agamben argumenta que 
a política moderna, mesmo em suas formas democráti-
cas, se fundamenta na exclusão da vida nua, ou seja, a 
vida humana reduzida a sua mera existência biológica, 
desprovida de direitos. 
• Homo Sacer: O homo sacer é uma figura da lei ro-
mana antiga que, por ser excluído da esfera da polí-
tica, podia ser morto impunemente, mas não sacri-
ficado. Agamben usa essa figura para argumentar 
que a soberania moderna é baseada na capacidade 
de decidir quem pertence à esfera do direito e quem 
pode ser reduzido à "vida nua", passível de ser ex-
cluído e destruído. 
 
75 
 
• Estado de Exceção: Agamben propõe que o estado 
de exceção, onde a lei é suspensa temporaria-
mente (como em crises ou emergências), se tornou 
uma norma nas sociedades contemporâneas. O 
exemplo clássico é o campo de concentração, 
onde o direito é suspenso e os prisioneiros são re-
duzidos à sua biologia, sem acesso a qualquer pro-
teção legal. Para Agamben, a biopolítica e o estado 
de exceção são ferramentas de controle do poder 
soberano sobre a vida. 
Sociologia do Controle (David Garland): David Garland, 
em sua análise da sociedade punitiva, desenvolve a ideia 
de controle em uma perspectiva sociológica. Ele explora o 
papel das políticas criminais e da justiça penal nas socie-
dades contemporâneas, argumentando que o controle so-
cial, em grande parte, se dá pela criminalização de grupos 
específicos. 
• Controle Social: Garland argumenta que as socie-
dades modernas gerenciam a criminalidade e o 
comportamento desviante não apenas com puni-
ções severas, mas também com formas sutis de vi-
gilância e regulação. Ele sugere que a criminaliza-
ção não visa apenas reprimir a conduta, mas tam-
bém gerir populações indesejadas, criando uma 
forma de exclusão social que ecoa as análises de 
Foucault sobre a biopolítica. 
 
76 
 
• Cultura Punitiva: Garland observa que, com o au-
mento das prisões e do encarceramento em 
massa, o Estado moderno usa a punição como uma 
forma de reforçar a ordem social. No entanto, essa 
punição não é apenas um meio de correção, mas 
um instrumento de controle social que se torna 
central na gestão das populações marginalizadas. 
Esses autores oferecem uma análise profunda das formas mo-
dernas de controle sobre o corpo e a vida. Foucault, Agamben e 
Garland, cada um à sua maneira, investigam como o poder disci-
plinar, biopolítico e de controle não só regula os comportamen-
tos, mas também define quem pertence à sociedade e quem é ex-
cluído dela. A transição das formas tradicionais de soberania para 
as técnicas modernas de biopolítica e controle digital demonstra 
como o poder está cada vez mais envolvido em uma regulação 
contínua e fluida, abrangendo todos os aspectos da vida humana. 
Pontuar esses aspectos ressalta o poder e a “ameaça” que repre-
senta o pensamento filosófico, demonstrando porque, não rara-
mente, discute-se a exclusão da filosofia dos currículos escolares 
e, até mesmo, a perseguição àquelas pessoas que, na linha de 
Kant, “ousam saber”, pensar por si próprias e questionar as ideias 
estabelecidas. 
A filosofia é um exercício árduo, porém, prazeroso; uma porta e 
um caminho que, uma vez aberta e uma vez iniciado, jamais tem 
volta. Porque, como diz, mas uma vez, Kant: “Não se aprende fi-
losofia, mas a filosofar”. E, uma vez tendo aprendido, não há 
como desaprender. Sapere aude!! (Ouse saber!!)
 
77 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Após uma breve caminhada pelo caminho filosófico, podemos ter 
várias reflexões. De modo especial, ante a ausência de um tema 
central na filosofia contemporânea, pode-se ter a falsa concep-
ção de que a filosofia, no fim das contas, não conseguiu abarcar 
a realidade compreendida por esse período da HF. Será? 
Bem, uma reflexão filosófica sobre isso se impõe. 
A filosofia contemporânea, desde o século XIX e ao longo do sé-
culo XX, passou por rupturas em relação à tradição filosófica an-
terior, principalmente no que se refere à crítica da racionalidade. 
Autores como Nietzsche, Foucault, Derrida e Deleuze questio-
nam o primado da razão ocidental, apontando para suas limita-
ções, contradições e, em alguns casos, implicações de domina-
ção e controle. Isso faz com que a filosofia contemporânea mui-
tas vezes se apresente como uma crítica à própria racionalidade 
que dominou o pensamento moderno, o que pode parecer para-
doxal, mas é parte da sua tentativa de desmantelar estruturas 
herdadas. 
Essa contestação da razão não é um abandono completo da raci-
onalidade, mas uma crítica às suas formas específicas, como a 
racionalidade instrumental, que autores como Adorno e Horkhei-
mer associaram ao projeto iluminista e às suas consequências 
desumanizadoras, como o totalitarismo e a tecnocracia. A ironia 
de se usar a razão para criticar a própria razão, reflete essa dialé-
tica interna da filosofia contemporânea, onde se busca escapar 
 
78 
 
de uma razão opressiva, mas sem abandonar completamente 
sua função crítica. 
Outro ponto é a expansão dos temas filosóficos. A filosofia con-
temporânea incorporou questões sociais, culturais e políticas de 
forma inédita. Movimentos como o feminismo, com Simone de 
Beauvoir, Judith Butler e outras, problematizam o patriarcado e as 
noções de gênero. A filosofia africana e os estudos decoloniais 
(como os de Fanon e Mbembe) questionam as narrativas coloni-
ais e buscam reverter séculos de dominação e invisibilização. 
Zygmunt Bauman, por exemplo, com sua ideia de "modernidade 
líquida", trata da fluidez das identidades, relações e instituições 
na era globalizada e digital. 
A fragmentação, com conceitos como "fluidez" ou "liquidez", tam-
bém se reflete na crítica à noção de sujeito, antes visto como algo 
coeso e universal. A filosofia contemporânea, influenciada pelo 
estruturalismo e pós-estruturalismo, fragmenta essa ideia, abor-
dando temas como a subjetividade múltipla, a performatividade 
de gênero (Butler) e o biopoder (Foucault). 
E a reconsideração de autores africanos e as teorias de decoloni-
zação é crucial para entender o alargamento do campo filosófico, 
que antes era predominantemente eurocêntrico. Agora, há uma 
abertura para epistemologias outras, para vozes que resistem ao 
colonialismo e questionam a universalidade das teorias ociden-
tais. 
Assim, a filosofia contemporânea, ao lidar com questões de iden-
tidade, poder, justiça, tecnologia, e ao dialogar com a literatura de 
resistência, realmente se torna uma "teia" complexa, mas 
 
79 
 
necessária, para pensar o mundo de hoje. Ela não se limita a um 
único tema ou abordagem, mas se enriquece com essa multipli-
cidade, refletindo a pluralidade da experiência humana e as ten-
sões contemporâneas. Isso pode torná-la desafiadora, mas tam-
bém profundamente relevante. 
Em termos de filosofia moral (ou ética), a possibilidade de múlti-
plos discursos parece favorecer uma concepção relativista da 
moral, o que - parafraseando o paradoxo da tolerância de Popper 
- conduz a uma aceitação de radicalismos e fundamentalismos 
sob o argumento do respeito à pluralidade, à diversidade, à auten-
ticidade. Enquanto filosofia que busca explorar as possibilidades 
existenciais e coexistenciais, (admito que) tais flexibilidades ar-
gumentativas são válidas; porém, quando refletem uma ausência 
de valores ou conceitos bem construídos, (entendo que) essas 
pluralidades filosóficas causam mais confusão que certezas, fa-
vorecendo fake news, ilações "pós-verdadeiras" ou narrativas al-
ternativas. Não é o caso de uma censura filosófica, mas o de uma 
busca de fundamentação racional (ou lógica). Nem toda (arro-
gada) filosofia é, de fato, filosofia. Exploremos um pouco mais de-
talhadamente essas considerações. 
A filosofia contemporânea, ao abrir espaço para múltiplas vozes 
e discursos, inevitavelmente se depara com os desafios do relati-
vismo moral. O cenário pluralista pode ser um terreno fértil para 
explorar as várias dimensões da existência humana, mas tam-
bém pode geraruma crise de fundamentação quando conceitos 
morais bem definidos são diluídos em uma multiplicidade de in-
terpretações. 
 
80 
 
O relativismo, que pode levar à aceitação de radicalismos sob o 
pretexto do respeito à pluralidade, toca em uma das grandes ten-
sões da filosofia contemporânea. O paradoxo da tolerância, 
como Karl Popper formulou, sugere que, se uma sociedade for 
absolutamente tolerante, até mesmo com os intolerantes, aca-
bará corroída por esses mesmos elementos que ela aceita. 
Quando aplicado ao cenário moral contemporâneo, isso implica 
que, ao permitir que todas as posições sejam igualmente válidas 
sob a bandeira da diversidade, corre-se o risco de legitimar dis-
cursos que, no fundo, são antagônicos à própria ideia de convi-
vência plural, como fundamentalismos e extremismos. 
O relativismo moral radical — onde não existem mais critérios só-
lidos para julgar o que é certo ou errado — pode abrir espaço para 
a manipulação de narrativas, fake news, e a chamada "pós-ver-
dade". Neste contexto, fatos objetivos e verdades racionais são 
relativizados ou substituídos por narrativas subjetivas, muitas ve-
zes guiadas por interesses políticos ou ideológicos. Isso é uma 
questão preocupante porque nem toda argumentação que se 
apresenta como filosofia é realmente filosófica. Quando carece 
de rigor lógico e fundamentação racional, pode se transformar 
em mera retórica ou propaganda. 
A filosofia, tradicionalmente, busca um equilíbrio entre a abertura 
ao novo e a busca por um fundamento racional. A pluralidade de 
vozes e perspectivas é essencial para uma reflexão filosófica rica 
e inclusiva, mas, sem critérios racionais de avaliação, essa plura-
lidade pode se tornar um "vale-tudo" argumentativo. Isso nos leva 
a outro ponto: a crítica ao racionalismo, muito presente na filoso-
fia contemporânea, pode ter suas armadilhas. Enquanto criticar 
 
81 
 
a razão iluminista ou cartesiana é legítimo, isso não significa ab-
dicar completamente da razão como critério de verdade ou vali-
dação de discursos. É possível, e necessário, buscar um equilí-
brio entre a abertura à pluralidade e a solidez de fundamentos éti-
cos e morais bem construídos. 
Na prática, a ausência de critérios sólidos pode levar à confusão, 
não à liberdade. Isso é visto em fenômenos atuais como as fake 
news, onde a manipulação de narrativas alternativas ofusca a ver-
dade factual. Não se trata de censurar discursos, mas de garantir 
que eles sejam submetidos ao crivo da racionalidade, do debate 
aberto e do rigor filosófico. Afinal, uma filosofia que se nega a bus-
car fundamentações lógicas e se perde no relativismo extremo 
acaba por minar sua própria razão de ser. 
Portanto, a preocupação com o relativismo e o impacto dele so-
bre a filosofia moral contemporânea é mais do que justificada. O 
desafio da filosofia, hoje, é equilibrar a abertura à pluralidade com 
a necessidade de fundamentos racionais sólidos, sem cair no 
risco de legitimar discursos que possam, em última análise, com-
prometer os valores de convivência e justiça que ela tanto busca 
promover. 
 
 
82 
 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO – 1 
 
1. Sobre a teoria das ideias de Platão, podemos afirmar que: 
A) O mundo sensível é a única realidade verdadeira, sendo o ponto 
central da teoria platônica. 
B) O mundo das ideias é perfeito, imutável e acessível aos sentidos. 
C) O conhecimento verdadeiro é obtido através da experiência sensí-
vel, segundo Platão. 
D) A realidade está dividida entre o mundo sensível (imperfeito) e o 
mundo inteligível (perfeito). 
E) Platão nega completamente a existência do mundo sensível. 
 
2. Uma característica fundamental da Filosofia Escolástica é: 
A) A negação do pensamento aristotélico em favor da filosofia platô-
nica. 
B) A busca pela harmonia entre fé e razão. 
C) A defesa da ideia de que a razão deve prevalecer sobre a fé religi-
osa. 
D) O desenvolvimento de teorias políticas liberais. 
E) A negação de qualquer influência cristã na filosofia. 
 
3. No contexto da Filosofia Moderna, o empirismo defendido por 
John Locke pode ser caracterizado pela: 
A) Crença na existência de ideias inatas e universais. 
B) Defesa de que todo conhecimento humano deriva da experiência 
sensível. 
C) Afirmação de que a razão, e não a experiência, é a principal fonte 
de conhecimento. 
D) Teoria da tabula rasa, em que o conhecimento nasce com o indiví-
duo. 
E) Influência de Descartes em suas teses sobre o racionalismo. 
 
83 
 
 
4. O conceito de “banalidade do mal”, proposto por Hannah 
Arendt, refere-se: 
A) À ideia de que o mal é praticado apenas por indivíduos perversos 
e insanos. 
B) À banalização do mal pela mídia e sociedade contemporânea. 
C) Ao mal praticado por indivíduos comuns, que seguem ordens sem 
questionar a moralidade dos seus atos. 
D) À crítica de Arendt às ideologias que promovem a violência revolu-
cionária. 
E) Ao conceito de que a maldade humana é natural e inevitável. 
 
5. O utilitarismo, uma corrente ética que busca maximizar a felici-
dade geral, foi defendido principalmente por: 
A) Immanuel Kant e sua teoria deontológica. 
B) Karl Marx e sua teoria socialista. 
C) Jeremy Bentham e John Stuart Mill. 
D) Friedrich Nietzsche e sua crítica à moral. 
E) Jean-Paul Sartre e sua noção de liberdade radical. 
 
6. Para Aristóteles, a “virtude” consiste em: 
A) Um comportamento extremo, focado em ideais inalcançáveis. 
B) O equilíbrio entre os extremos de excesso e falta, conhecido 
como "justo meio". 
C) A renúncia completa aos prazeres mundanos. 
D) A vida dedicada ao serviço militar e à guerra. 
E) O isolamento do mundo para alcançar o conhecimento puro. 
 
7. A teoria do conhecimento de Sócrates era baseada na: 
A) Valorização do saber teórico e abstrato. 
B) Defesa da retórica como principal método filosófico. 
C) Crença de que a verdade é subjetiva e relativa. 
D) Ironia e maiêutica, ou seja, o diálogo para a descoberta da ver-
dade dentro do indivíduo. 
E) Adoção do ceticismo como única resposta válida. 
 
84 
 
 
8. A cosmologia pré-socrática de Heráclito defendia que: 
A) O princípio de tudo era a água. 
B) O fogo era o elemento essencial e que tudo estava em constante 
mudança. 
C) A realidade era estática e imutável. 
D) O ar era o elemento primordial. 
E) A terra era o fundamento da realidade. 
 
9. Uma das principais preocupações da filosofia agostiniana era: 
A) A relação entre fé e ciência. 
B) A defesa do ceticismo religioso. 
C) A demonstração da onipotência humana. 
D) A conciliação entre fé cristã e o platonismo. 
E) A separação total entre filosofia e religião. 
 
10. São Tomás de Aquino, na sua teoria sobre o conhecimento, afir-
mou que: 
A) O conhecimento provém exclusivamente da fé. 
B) Todo conhecimento é derivado de ideias inatas. 
C) O conhecimento humano se baseia na experiência sensível e na 
razão. 
D) O ser humano não pode conhecer nada sobre Deus. 
E) A filosofia não pode contribuir para o entendimento teológico. 
 
11. O argumento ontológico, proposto por Anselmo de Cantuária, 
afirma que: 
A) Deus existe porque o conceito de um ser perfeito implica a sua 
existência. 
B) Deus pode ser conhecido somente pela experiência sensível. 
C) A existência de Deus depende da fé pessoal e subjetiva. 
D) A existência de Deus é uma questão de escolha moral. 
E) Não se pode provar a existência de Deus através da razão. 
 
85 
 
 
12. René Descartes, em sua obra “Meditações Metafísicas”, de-
fende que: 
A) Todo conhecimento verdadeiro é adquirido pela experiência. 
B) A dúvida metódica é o primeiro passo para a obtenção da certeza. 
C) O conhecimento empírico é mais confiável do que o racional. 
D) A certeza do “eu” é desprovida de importância filosófica. 
E) A fé religiosa deve ser o guia principal da filosofia. 
 
13. A teoria política de Thomas Hobbes, exposta no "Leviatã", de-
fende que 
A) O estado de natureza é pacífico e harmonioso. 
B) A natureza humana é essencialmente boa. 
C) No estado de natureza, o homem vive em uma constante “guerrade todos contra todos”. 
D) A sociedade deve ser organizada de forma democrática e igualitá-
ria. 
E) O governo ideal é o governo baseado na fé religiosa. 
 
14. Para John Locke, os direitos naturais do ser humano são: 
A) Vida, propriedade e liberdade. 
B) Igualdade, fraternidade e soberania. 
C) Felicidade, moralidade e prosperidade. 
D) Propriedade, dever e justiça. 
E) Submissão ao estado, dever cívico e moralidade. 
 
15. A obra “O Príncipe”, de Maquiavel, é conhecida por: 
A) Defender a ética e moral como fundamentos da política. 
B) Sugerir que os governantes devem governar com base na caridade 
e no perdão. 
C) Defender que os fins justificam os meios no campo da política. 
D) Advogar pela submissão dos líderes políticos ao poder religioso. 
E) Promover uma visão igualitária e democrática da política. 
 
86 
 
 
16. Friedrich Nietzsche criticava duramente a moral tradicional e 
defendia: 
A) A moral do ressentimento, baseada no ódio e na fraqueza. 
B) A moral dos senhores, baseada na força, coragem e afirmação da 
vida. 
C) O niilismo passivo, que promove o conformismo. 
D) A submissão às normas morais impostas pela sociedade cristã. 
E) O ascetismo como caminho para a libertação. 
 
17. A proposta de Jean-Paul Sartre no existencialismo é que: 
A) A essência precede a existência. 
B) O ser humano nasce com uma natureza determinada. 
C) A liberdade humana está limitada pelas normas religiosas. 
D) O ser humano está condenado à liberdade e deve criar seus pró-
prios valores. 
E) A responsabilidade individual é irrelevante na formação do cará-
ter. 
 
18. O conceito de "micropoderes", desenvolvido por Michel Fou-
cault, se refere a: 
A) Formas de poder difusas e descentralizadas que permeiam a vida 
cotidiana. 
B) Pequenas formas de poder presentes apenas em instituições polí-
ticas. 
C) O poder centralizado nas mãos de poucos líderes políticos. 
D) O controle exclusivo da mídia sobre o comportamento social. 
E) O poder exercido apenas por instituições religiosas. 
 
 
 
 
87 
 
19. Segundo Karl Marx, a alienação do trabalhador sob o capita-
lismo ocorre porque: 
A) O trabalhador se sente completamente satisfeito com seu papel 
na sociedade. 
B) O trabalhador mantém controle sobre os meios de produção. 
C) O trabalhador é proprietário dos meios de produção. 
D) O trabalhador vive em uma sociedade sem classes. 
E) O trabalhador se vê separado do produto de seu trabalho e de sua 
essência humana. 
 
20. Simone de Beauvoir, em "O Segundo Sexo", argumenta que: 
A) A mulher nasce submissa ao homem por natureza. 
B) A construção social e cultural do gênero subordina as mulheres. 
C) As mulheres devem se focar exclusivamente no lar e na família. 
D) A biologia determina completamente o papel da mulher na socie-
dade. 
E) A mulher deve encontrar sua liberdade apenas na religião. 
 
21. O princípio utilitarista que busca maximizar o bem-estar do 
maior número de pessoas possível foi defendido por: 
A) John Stuart Mill. 
B) Friedrich Nietzsche. 
C) Thomas Hobbes. 
D) Platão. 
E) Jean-Jacques Rousseau. 
 
22. Para Immanuel Kant, a ação moralmente correta é aquela que: 
A) Produz o maior bem para o maior número de pessoas. 
B) É determinada pela consequência. 
C) É motivada pelo dever e segue o imperativo categórico. 
D) Depende da utilidade que ela proporciona. 
E) Segue as normas estabelecidas pelo poder político. 
 
88 
 
 
23. A crítica de Karl Marx ao capitalismo baseia-se principalmente 
na ideia de que: 
A) O sistema capitalista promove igualdade social. 
B) O capitalismo elimina a alienação humana. 
C) O capitalismo gera desigualdades e explora a classe trabalhadora. 
D) O sistema capitalista é inevitável e necessário. 
E) O capitalismo é o caminho para a emancipação humana. 
 
24. No pragmatismo, defendido por pensadores como William Ja-
mes e John Dewey, o valor da verdade depende: 
A) Da sua correspondência com a realidade objetiva. 
B) Da sua utilidade prática e eficácia nas ações humanas. 
C) Da sua conformidade com normas religiosas. 
D) Da sua compatibilidade com a tradição filosófica. 
E) Da sua validade universal e inquestionável. 
 
25. Para Aristóteles, o objetivo final da vida humana é: 
A) A busca pelo prazer físico. 
B) A contemplação filosófica. 
C) A prática de atos heroicos. 
D) A felicidade, alcançada pela prática da virtude. 
E) O acúmulo de riquezas. 
 
– GABARITO – 
1: D 6: B 11: A 16: C 21: A 
2: B 7: D 12: B 17: C 22: C 
3: B 8: B 13: C 18: C 23: C 
4: C 9: D 14: A 19: C 24: B 
5: C 10: C 15: C 20: B 25: D 
 
 
89 
 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO – 2 
MONTE UM MAPA MENTAL A PARTIR DOS TERMOS ABAIXO 
(Para facilitar sua montagem, vá riscando os termos utilizados. Alguns termos 
podem ser utilizados mais de uma vez). 
 
Filosofia, Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna, Filoso-
fia Contemporânea, Patrística, Existencialismo, Cândido ou o oti-
mismo, Maimônedes, Vida + liberdade + propriedade, Sartre, Confis-
sões, Ato e Potência, Avicena, Leviatã, Estruturalismo, Criação ex ni-
hilo, Novum Organum, Erasmo de Rotterdam, Crítico da filosofia peri-
patética (aristotélica) no mundo islâmico, A razão (e não os sentidos) é 
a fonte mais segura de conhecimento, Anaximandro, Renascimento, Ju-
dith Butler, Cristo Pantocrator, Emílio ou Da Educação, Heidegger, To-
más de Aquino, Átomo, Zenão, De Revolutionibus Orbium Coeles-
tium, Ceticismo, Pai da Filosofia, O Contrato Social, Foucault, Conde-
nado pela Inquisição devido à teoria heliocêntrica, Iluminismo, Plotino, 
Razão para libertar o ser humano da menoridade, Leis da Inércia e da 
Aceleração, Estoicismo, O Manifesto Comunista, “Sei que nada sei”, 
“Cogito, ergo sum”, Stuart Mill, O ser e o nada, David Hume, Movimento 
de crítica ao Antigo Regime e à Igreja, Além do Bem e do Mal, Despo-
tismo esclarecido, Fogo, Kant, Condenado à morte por corromper a ju-
ventude (beber cicuta), Thomas Morus, Thomas Hobbes, Thomas Kuhn, 
Vigiar e Punir, Conciliar Fé e Razão, Crítica da Razão Pura, Experiência 
sensorial é mediada por estruturas a priori da mente, O conhecimento 
provém exclusivamente da experiência sensorial, “Luta de classes é o 
motor da história”, Deus é o motor imóvel, A Condição Humana, “A 
existência precede a essência”, Spinoza, Escola de Frankfurt, Poder e 
saber, Albert Camus, Banalidade do mal, Dialética do Esclareci-
mento, Distinção entre fenômeno e noúmeno, Dialética (Tese – Antítese 
– Síntese), Lutou pela liberdade de expressão, Amor por princípio + pro-
gresso por fim, Jürgen Habermas, Visão idealizada de uma sociedade 
 
90 
 
justa e racional, William James e John Dewey, Homo Sacer, Observa-
ções com o telescópio, Indústria cultural como uma forma de controle 
social, Contratualismo, Tales de Mileto, A incoerência dos filósofos, 
Archè, Revolucionário no campo da anatomia, Moralidade = maior feli-
cidade, Racionalismo, Ricoeur, Filosofia judaica, A cidade de Deus, 
Maquiavel, Cínicos, “Não se nasce mulher: torna-se mulher”, Vida hu-
mano é entendida como um absurdo, Problema do mal que se abate 
sobre os bons, Filosofia da Ciência, Moralidade vinculada à racionali-
dade, Eichmann em Jerusalém, Questionou a causalidade, Proble-
mas de gênero, “Só existe um problema filosófico realmente sério – o 
suicídio”, Educação deve respeitar a liberdade natural, Eros e Civiliza-
ção, Biopolítica, Byung-Chul Han, Sociedade de controle, Crítica a todo 
pensamento Ocidental e à moralidade tradicional, O Capital, Conceito 
de contrato social, “Sapere aude”, Causa Eficiente, Verdade = conse-
quências úteis, Paradigmas, Horkheimer e Adorno, Utilitarianism, 
Ação política e natureza do poder, Vida reduzida à mera existência bio-
lógica, Ética focada nas noções de cuidado e interdependência, Nii-
lismo, Pessoas precisam de autoridade soberana para manter a ordem 
social, Copérnico, Teoria do Agir Comunicativo, Carol Gilligan, Pragma-
tismo, Conhecimento verdadeiro vem da indução, Distinção entre es-
sência e existência ocupava um lugar central,De Humanii Corporis Fa-
brica, Retórica, Al Ghazali, Sucesso político = eficácia, Separação entre 
as esferas da razão (filosofia) e da fé (religião), Pré-socráticos, História 
da Sexualidade, Visão mecanicista do universo, O Segundo Sexo, Ga-
lileu, Lógica formal, Guia dos perplexos, Utilitarismo, Bentham, Empi-
rismo, Sócrates, “O ser humano é condenado a ser livre”, Pai da filosofia 
política moderna, Francis Bacon, “Revolução copernicana” da filosofia, 
Karl Popper, Moralidade baseada nos sentimentos, Assim falou Zara-
tustra, Escolástica, John Locke, Hiperurânio, Discurso sobre o mé-
todo, “Verdades reveladas x verdades da razão”, “Dois tipos de experi-
ências geram conhecimento: as sensações externas e as reflexões in-
ternas”, O Anti-Édipo, Filosofia queer, Diógenes, Imperativo categórico, 
 
91 
 
O Príncipe, O Homem é o lobo de outro Homem”, Tentou sintetizar a 
tradição judaica com a filosofia aristotélica e neoplatônica, A Peste, 
Vontade de poder, Heráclito, Crítica à indústria cultural e à racionali-
dade instrumental, Mônadas, Giorgio Agamben, Tábula rasa, A Repú-
blica, Karl Marx, Ídolos da mente, Deleuze e Guattari, Positivismo, Ca-
pitalismo = repressão das necessidades humanas, Valor das ideias = 
valor prático, Teoria das quatro causas, Elogio da loucura, Demócrito, 
Panoptico, Poder legitimado pelo consenso racional, Neoplatonismo, 
Disciplina e vigilância, Isaac Newton, Visão “rizomática da sociedade” 
(revolução molecular), Análise histórica e filosófica do patriarcalismo, 
Hegel, Justiça social e liberdade política, Combatia os sofistas, Falsifi-
cacionismo, Platão, Modulação do comportamento, Teoria do Conheci-
mento, Ensaio sobre o Entendimento Humano, Teoria do Gênero, 
Agostinho de Hipona, Utopia, “Tudo é Ser”, Abordagem realista e prag-
mática da política, Materialismo histórico, Filosofia árabe, Descartes, 
Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, Aproximou raciona-
lismo e empirismo, Sociedade do cansaço, Suma Teológica, Pirro, Fi-
losofia Clássica, Ética, Hannah Arendt, Ética a Nicômaco, Monismo 
substancial, Água, Razão pode formular leis universais e abstratas, So-
fistas, Ato e Potência, “O ser humano é naturalmente bom - a socie-
dade é que o perverte”, Estado de exceção, Desafiou cosmologia ptolo-
maica, O problema do Mal, Simone De Beauvoir, Dicotomia mente x 
corpo, Vesalius, Dualismo, Monismo, Crítica da Razão Prática, Parmê-
nides, “Deus está morto”, Alegoria da Caverna, Rosseau, Feminismo, 
Aristóteles, Pós-socráticos, Estabeleceu a Lei da Gravitação Universal 
e as Leis do Movimento, Marcuse, “A Filosofia é ‘Serva da Teologia’”, Bi-
opoder, Leibniz, Dogmas, Entre quatro paredes, Gênero é perfor-
mance, Responsável por reintroduzir o pensamento aristotélico no Oci-
dente cristão, Meditações metafísicas, Crítico do dogmatismo religi-
oso e da corrupção da Igreja, “Vivemos no melhor dos mundos”, Método 
científico baseado na observação/experimentação, Escreveu todos os 
diálogos atribuídos a Sócrates.uma concentração com o seguinte 
espectro (conf. toda matéria, 20241): 
• Aristóteles e escola helenística (18,8%) 
• Racionalismo moderno (18,8%) 
• Ética e Justiça (18,7%) 
• Filosofia Antiga (16,8%) 
• Escola sofística, Sócrates e Platão (12,5%) 
 
1 https://www.todamateria.com.br/assuntos-que-mais-caem-no-enem/ 
34
31
26
22
20
18
17
9
6
5
0 10 20 30 40
Ética e justiça
Filosofia antiga
Filosofia contemporânea
Natureza do conhecimento
Filosofia moderna
Relações de poder
Democracia e cidadania
Filosofia medieval
Surgimento da Filosofia
Intolerância
 
8 
 
• Filosofia Contemporânea (12,4%) 
• Natureza do Conhecimento (11,6%) 
• Filosofia Moderna (11,6%) 
• Escola de Frankfurt (9,4%) 
Esse desequilíbrio ou concentração em determinados tópicos é 
até compreensível. Os fundamentos da filosofia e seus grandes 
nomes e os problemas que desde então foram tratados provoca-
ram e provocam um redirecionamento da forma como as pessoas 
perceberam o mundo e perceberam a si mesmas. Como certa 
feita afirmou o filósofo Alfred North Whitehead, “A definição mais 
precisa da Filosofia Ocidental é a de que ela não passa de uma 
sucessão de notas de rodapé da obra de Platão”. Ou seja, o que 
aqueles três grandes filósofos gregos plantaram, ainda hoje está 
abundando em frutos: ontologia? Sim. Política? Sim. Ética? Sim. 
Lógica? Sim. Felicidade, morte, educação, epistemologia etc., 
etc. Esses e outros temas foram colocados por Sócrates, Platão e 
Aristóteles; logo, a persistência deles nos exames de conheci-
mentos gerais e, especificamente, de filosofia, nada mais é do 
que um tributo e reconhecimento à importância de seus legados. 
Outro conteúdo bastante explorado é o racionalismo moderno. 
De certa forma, não poderia ser diferente, considerando-se que 
ao racionalismo está muito vinculada toda uma tradição do espí-
rito científico e iluminista, que demarcou e demarca a história da 
vida ocidental (e latino-americana); e não apenas o espírito cien-
tífico, mas toda uma reflexão sobre a moralidade, com destaque 
para Kant e sua revolução copernicana relacionada à teoria do 
conhecimento. E é justamente a questão da moralidade que 
surge em terceiro lugar, manifesta nos temas “ética” e “justiça”, 
 
9 
 
que envolvem questões candentes como teoria do direito, direi-
tos humanos, bioética, preocupações ambientais e geracionais, 
dentre outras. 
É certo que, se somarmos todos os percentuais, o total alça a 
cerca de 130%; isso não deve causar espanto, uma vez que al-
guns temas se sobrepõem, tais como “Aristóteles e escola hele-
nística”, “Filosofia Antiga” e “Escola sofística, Sócrates e Platão”. 
De todo modo, a filosofia assentou-se nos Exames e em vários 
concursos, ainda que, em alguns momentos, representada ape-
nas pela lógica (delineada, formalmente, por Aristóteles). Ainda 
assim, pode ser que alguém se questione a respeito de outras va-
lidades da filosofia, além de cultuar um conhecimento milenar e 
inusual (inútil?!). 
Não, na verdade, mesmo em termos das dissertações ou reda-
ções, é possível identificarmos várias contribuições por parte da 
filosofia. Algumas das mais destacadas a que se pode referir são 
o auxílio no desenvolvimento de um raciocínio lógico, escorreito. 
Todavia, não apenas isso. Outras contribuições são possíveis: 
➢ Argumentação: devido à coerência lógica e às conexões 
conceituais, o encadeamento adequado das proposições, 
o conhecimento e o reconhecimento das falácias (paralo-
gismos e sofismas) e a desconstrução delas; 
➢ Análise crítica: devido à acuidade do pensamento, possi-
bilita-se a construção de uma análise mais crítica, para 
além do simples senso comum, correlacionando premis-
sas e buscando causalidades verazes, para além de puras 
 
10 
 
coincidências e apelos emocionais (fake News e pós-ver-
dades); 
➢ Reflexão ética: Piaget já afirmara que “a lógica é uma mo-
ral do pensamento assim como a moral é uma lógica da 
ação” (O juízo moral na criança); por conseguinte, a partir 
do entendimento dos âmbitos axiológicos (de valores) que 
pervadem a vida (individual e social) humana, a filosofia 
proporciona uma abordagem dos fatos e fenômenos exis-
tenciais tendo como pano de fundo o significado da vida 
humana e as diversas implicações que a circundam, as 
consequências de suas intervenções no mundo e o ônus 
de responsabilizações inerentes a tais intervenções – ou 
omissões. Ao lado de outras ciências humanas e sociais 
aplicadas, a filosofia permite o entendimento de que a 
pessoa se desenvolve com um correspondente desenvol-
vimento de sua identidade e de sua moralidade, como dis-
correram Charles Taylor (As fontes do self) e outros. 
Parece muito? Porém, não é. A filosofia pode proporcionar, ainda, 
outras estratégias e contribuições adicionais: 
• Interdisciplinaridade: decorrente da ligação da filosofia 
com outras áreas do conhecimento, como história, socio-
logia, antropologia e literatura, considerando que muitos 
filósofos adentraram em outras áreas do saber e, por outro 
lado, que alguns transmitiram grande parte de suas con-
cepções filosóficas a partir da literatura, como Sartre em 
Entre quatro paredes (sim, o inferno são os outros), ou 
Camus em A peste (sim, a peste é a vida, nada mais), ou 
Kafka em A metamorfose (sim, acordou... num inseto 
 
11 
 
monstruoso), ou Nietzsche em Assim falou Zaratustra 
(sim, Deus está morto)... 
• Debates atuais: A filosofia permite elaborar discussões 
consistentes sobre temas atuais, como bioética, ética am-
biental, direitos humanos, dentre outros. Afinal, Kant, ex-
plique-nos o que seria uma guerra justa e uma condição 
social de paz perpétua. É justa a guerra contra um ilegítimo 
agressor? Mas, então, existiria uma agressão justa? Sob 
quais pretextos e em quais circunstâncias? Além disso, é 
possível não se admitir contradição na argumentação de 
alguém que se afirma pró-vida, que nega o direito à prática 
do aborto, porém, apoia a pena capital – sob a alegação de 
que uma vida é inocente e, outra, irremediavelmente cri-
minosa? 
• Prática de redação: por fim, exercitar o raciocínio e a ar-
gumentação em debates privados (solilóquios), cultivados 
mediante a prática de redações dissertativas com temas 
filosóficos, o que se mostra um importante auxílio e treino 
para as provas de redação (do Enem e de outros concur-
sos). 
Ademais, a filosofia é de importante auxílio no cotidiano pois per-
mite que cada um de nós questione o próprio universo no qual 
vive. Afinal, você acredita que alguém já foi à lua? Por que você 
crê nisso? Outra questão: Você acredita que Deus existe? Por que 
você crê nisso? Ou, então, você acredita em vida após a morte? 
Por que você crê nisso (ou não)? E em uma situação mais comum, 
 
12 
 
como você se definiria e se apresentaria para alguém? Por que 
você tem essas ideias/conceitos a seu respeito? 
É quando começamos a perceber que, além da filosofia mais aca-
dêmica, existem outras filosofias, entendidas como filosofias de 
vida, visão de mundo ou paradigmas. Por esses critérios, por-
tanto, todos e cada um de nós possui sua “filosofia”, sendo essa 
filosofia uma como que concepção que temos a respeito do pró-
prio ser humano. E, em sendo assim, qual é a filosofia que cada 
um de nós segue e como ela se constituiu? Théophile Obenga, fi-
lósofo congolês vinculado à Universidade do Estado de São Fran-
cisco, citando Yu-lan, afirma: FILOSOFIA é o “pensamento refle-
xivo sistemático sobre a vida.” 
A partir de todos esses pressupostos, é hora de colocar as cartas 
sobre a mesa; ou melhor, colocar os tópicos da filosofia em cena. 
 
 
13 
 TÓPICOS DA FILOSOFIA PARA O ENEM 
 
Os Tópicos de Filosofia para o Exame Nacional do Ensino Médio 
(ou outro) demarcam-se a partir dos recortes temporais designa-
dos períodos da História da Filosofia (HF). Revisitar a HF implica 
em: 
▪ Conhecer e reconhecer seus temas / problemas; 
▪ Entender o porquê dos períodos históricos da filosofia; 
▪ Destacar aquelas pessoas que deixaram sua influência/ 
marca na HF; 
▪ Resgatar aquelas pessoas que NÃO deixaram sua marca / 
influência na HF tradicionalmente contada. 
Por esse critério, os tópicos seguirão a tradicional divisão da HF 
em Filosofia Clássica (Antiga), Filosofia Medieval, Filosofia Mo-
derna e Contemporânea – e suas subdivisões: 
• Filosofia Antiga 
o Pré-Socrática 
o Clássica (Sócrates, Platão, Aristóteles) 
o Pós-Socrática 
• Filosofia Medieval 
o Patrística 
o Escolástica 
• Filosofia Moderna 
o Renascença (Racionalismo) 
 
14 
 
o Iluminismo (Empirismo) 
• Filosofia(s) Contemporânea(s) 
Conforme Mário Ariel González Porta, são três as questões filosó-
ficas que se colocam: 
1) Qual é o problema e, dado que todo problema se formula 
em uma pergunta, qual é, pois, a pergunta do autor, qual o 
objetivo perseguido por dado autor em dado momento da 
HF? 
2) Qual é a solução ou resposta? Ou seja, qual é a tese ou 
conjunto de teses que ele (o autor-filósofo) propõe, qual o 
conteúdo trabalhado? 
3) Quais são os argumentos e fundamentos, por que ele (o 
autor-filósofo) escolhe uma resposta e, não, outra? 
Pela consideração dessas três questões, González Porta (2002, p. 
159) estabelece as seguintes periodizações da Filosofia: 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
Quadro 1 - Períodos da história da filosofia segundo González 
Porta. 
PERÍODO 
FILOSÓFICO 
CORRES-
PONDÊNCIA 
AO PERÍODO 
HISTÓRICO 
GRANDES 
NOMES 
DISCIPLINA-
CHAVE 
CONCEITO-
CHAVE 
1. Período 
Metafísico 
Época antiga, 
medieval e 
início da mo-
derna 
Platão, Aristó-
teles, Santo To-
más de Aquino, 
Descartes 
Metafísica 
(ontologia) 
Ser 
2. Período 
Epistemoló-
gico (ou 
transcen-
dental) 
Época mo-
derna 
Descartes, 
Kant 
Epistemolo-
gia, Teoria 
Transcenden-
tal 
Verdade, ob-
jetividade, va-
lidez 
3. Período 
Semântico-
Hermenêu-
tico 
Época con-
temporânea 
Husserl, 
Dilthey, Heide-
gger, Frege, 
Wittgenstein 
Teoria da Sig-
nificação, Fe-
nomenologia, 
Hermenêu-
tica, Semân-
tica (análise 
lógica da lin-
guagem) 
Significado, 
Semântica: 
análise lógica 
da linguagem 
Fonte: González Porta, 2002, p. 159. 
 
 
 
16 
 FILOSOFIA CLÁSSICA 
 
Cenário (contexto social, político, econômico, religioso...): 
• Embora nem sempre referido, importa ressaltar que o 
mundo no qual surge a Filosofia Ocidental é de uma com-
plexidade ímpar; um período designado por Karl Jaspers 
como sendo a Era Axial, um momento histórico que rede-
finiu (ou definiu) a concepção de ser humano, de pessoa 
que temos, ainda hoje. Essa Era Axial estendeu-se pelos 
territórios que hoje formam o continente Europeu e grande 
parte do continente Asiático (China, Índia, Irã, Palestina, 
Grécia), perdurando do século IX a.C. até o século II a.C. A 
Era Axial assistiu o surgimento de grandes personagens, 
com destaque no campo das ideias e da espiritualidade, 
tais como Confúcio, Lao-Tsé, Mo-Ti, Tschuang-Tsé, Leh-Tsu 
(na China); Buda, Upanishades, bramanismo (na Índia); 
Zarathustra (Zoroastro) (no Irã); Elias, Isaías, Jeremias, 
Deutero-Isaías (na Palestina); Homero, Parmênides, Herá-
clito, Platão, Tucídides, Arquimedes (na Grécia). Esses sá-
bios/filósofos propagavam interpretações religiosas e filo-
sóficas de pensamento e ação sobre o mundo; provocam 
para que o “ser humano’ se torne consciente de si mesmo 
e de suas limitações; produzem uma tomada de consciên-
cia da própria consciência; e instituem uma espiritualiza-
ção e nova forma comunicabilidade. 
 
17 
 
• Mais especificamente na Magna Grécia, constituída por 
cidades-estados, habitada por povos de diversas etnias, 
alguns fatores que teriam contribuído para o surgimento 
da filosofia seriam a literatura (epopeias, poesia), as ágo-
ras com suas discussões públicas, a moeda, as leis escri-
tas, o comércio e as navegações e a religião. De um modo 
geral, todos esses elementos propiciam uma reconsidera-
ção da realidade e do concreto, apelando para a abstra-
ção, uma visão para além do cotidiano e um questiona-
mento do costumeiro. As epopeias (Ilíada, Odisseia...) se 
caracterizavam por colocar o destino dos seres humanos 
em suas próprias mãos, à margem dos caprichos dos deu-
ses. As leis escritas também reforçavam essa primazia e 
responsabilização humana, o que era forjado a partir das 
discussões dos cidadãos nas praças públicas. Já a moeda 
conduzia a um processo de abstração, para além da mera 
coisa, reflexão a respeito de outra dimensão existencial 
que a religião aprofunda. As navegações (e o comércio), 
por seu turno, conduzem a uma relativização de regras, 
costumes, da própria visão de mundo. Esse cenário con-
fronto os mitos, particulares a cada povo ou cultura e co-
loca o problema de uma causa comum para tudo o que 
existe – tarefa levada adiante pelos primeiros filósofos, de-
nominados filósofos da natureza ou filósofos da physis. 
• Objetivo: Neste período da HF, o que se busca é compre-
ender o surgimento da filosofia e as questões fundamen-
tais dos pré-socráticos. Também existe o propósito de 
 
18 
 
explicar as contribuições de Platão e Aristóteles para a fi-
losofia ocidental. 
• Conteúdos gerais: Cosmologia dos pré-socráticos, busca 
pela arché, dialética socrática, e o conceito de maiêutica. 
Teoria das Ideias de Platão, conceito de justiça, ética e po-
lítica em Aristóteles. 
 
Filosofia Antiga I (Séc. VII a IV a.C.): Pré-Socráticos 
• Problema: Substituição das mitologias pela razão na 
busca da causa originária (princípio único, arché) de todas 
as coisas da natureza (physis). Foco nas ideias de mu-
dança (Heráclito e o mobilismo) e permanência (Parmêni-
des e o monismo). A busca pelo elemento originário (Tales 
de Mileto). O principal embate que marcou o período (e 
tem reflexos ao longo de toda a HF, inclusive até os dias de 
hoje, espelhado na dialética) se deu entre as posições an-
tagônicas de Heráclito e Parmênides. Contemporâneos, 
defenderam pontos de vista totalmente diferentes com re-
lação à arché. 
• Principais nomes: Tales de Mileto (considerado o “pai da 
filosofia”, para quem o elemento originário era a água), 
Anaximandro (apeíron, o indeterminado, infinito), Anaxí-
menes (ar), Pitágoras (número), Parmênides (ser), Herá-
clito (fogo), Zenão, Empédocles (terra, ar, água, fogo), De-
mócrito (átomo)... 
 
19 
 
• Heráclito de Éfeso (540 a.C. a 470 a.C.): adepto de 
uma teoria que privilegiava o conflito, antagoni-
zava-se com Parmênides. Considerava o fogo o ele-
mento originário de tudo o mais e o movimento 
como a própria realidade, uma vez que, na concep-
ção heraclitiana, Panta Rhei – ou seja, “tudo flui”, 
de tal modo que uma pessoa jamais entra duas ve-
zes no mesmo rio porque as águas sempre correm. 
(Texto 1). 
• Parmênides de Eleia (em torno de 500 a.C.): sua 
concepção do cosmos é denominada “monista”, 
pois defende que tudo o que existe é apenas varia-
ção aparente do único, do imutável, do perene... do 
Ser. “O ser, é; e o nada, nada é”. Devido à sua pro-
posição de seguir a via do pensamento e, não, da 
opinião (mutável, variável), é considerado o precur-
sor da metafísica. 
 
Filosofia Antiga II (Séc. V a IV a.C.): Clássica 
• Problema: A pessoa e sua vivência social, política, ética e 
moral. A fundamentação racional (lógica) da busca da ver-
dade. Já não se importa mais a realidade física e seu prin-
cípio originário; agora, o foco é a detecção de um modo de 
vida justo, ético, uma organização social perfeita (a res pu-
blicae). 
• Cenário: O panorama político conturbado e disputado em 
embates argumentativos nas praças públicas favorece o 
 
20 
 
surgimento de mestres da retórica que se dispunham a en-
sinar técnicas discursivas de convencimento do público 
mediante a eloquência e a sagacidade mental (derrotando 
opiniões contrárias à do falante), pois o que importava era 
o sucesso nos debates. Uma das consequências da ativi-
dade sofística foi o surgimento de concepções filosóficas 
relativistas, uma vez que a verdade seria relativa “ao ho-
mem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstân-
cias” (Cotrim,1996, p. 101). Nesse sentido, surgem Protá-
goras de Abdera (480-410 a.C.) instituindo um grande sub-
jetivismo ao erigir o “homem como a medida de todas as 
coisas”, e Górgias de Leontini (487-380 a.C.), que “apro-
fundou o subjetivismo relativista de Protágoras a ponto de 
defender o ceticismo absoluto” (Cotrim, op. cit., 102). 
• Principais nomes: Protágoras, Sócrates, Platão, Aristóte-
les. 
• Sofistas e Sócrates: Diferença entre retórica e dia-
lética; o uso da argumentação para se obter o su-
cesso nas discussões ou alcançar a verdade, ainda 
que a verdade tenha um ônus. Sócrates (nascido 
em Atenas em 470/469-399 a.C.) teria sido filho de 
um escultor (Sofronisco) e de uma parteira (Fena-
reta) e seu estilo de vida assemelhava-se ao dos so-
fistas, embora não “vendesse” ensinamentos. Seu 
método, a ironia, consistia em conversar com as 
pessoas e interrogá-las em busca das razões de 
suas crenças. De seu próprio conhecimento, dizia 
que nada sabia. A arte do diálogo, da dúvida e da 
 
21 
 
ironia completava-se com a maiêutica, que se re-
fere ao processo de concepção de ideias, o mo-
mento segundo de construção de ideias próprias e 
não mais recebidas passivamente. 
• Platão: Teoria das Ideias (Hiperurânio ou mundo 
das Ideias), dualismo, e conceito de justiça. Discí-
pulo de Sócrates e fundador de uma escola deno-
minada Academia onde se ensinava filosofia, ma-
temática e ginástica. Platão utilizava-se do método 
dialógico criado por seu mestre. De acordo com 
Platão, o conhecimento evolui por etapas, das 
quais a primeira é a “opinião” (doxa), ainda domi-
nada pelas impressões sensíveis derivadas dos 
sentidos. Para atingir o conhecimento autêntico 
(epistéme) há que se recorrer a um método: a dia-
lética, que é a contraposição de uma opinião com 
sua crítica. A divisão entre dois mundos (mundo 
das ideias, perfeito, imutável e o mundo sensível, 
imperfeito, corruptível) é a marca da filosofia platô-
nica. Platão encabeçou uma postura filosófica que 
é considerada idealista: as ideias têm primazia so-
bre a realidade, e estas devem se conformar àque-
las, evoluindo de um “mundo sensível” para um 
“mundo das ideias”, das sombras e ilusão, dos ob-
jetos sensíveis e crença para as Ideias e Conceitos 
• Aristóteles: Lógica, teoria das causas e ética (vir-
tude como meio-termo). Aristóteles, nascido em 
Estagira (384-322 a.C.), é considerado o 
 
22 
 
sistematizador primeiro das ciências, inclusive 
pela divisão em “ciências físicas” e “ciências meta-
físicas”, ou melhor, ciências “práticas” (ética, retó-
rica, arte...), “produtivas” (referentes aos instru-
mentos da produção) e “teóricas” (teologia, mate-
mática, ciências naturais...). Contrariamente a seu 
mestre, Aristóteles afirmava que as ideias não nas-
cem com as pessoas, “elas não nascem conosco, 
elas se formam em nós com base nas experiências 
que temos de vida” (Gallo, 1999, p. 19). Em busca 
desse conhecimento mais confiável, da constru-
ção de uma ciência, enfim, Aristóteles afirmava 
que o ser individual não poderia ser objeto de ciên-
cia, mas apenas o universal, generalizável. Esse co-
nhecimento generalizável, que comportaria a es-
trutura essencial de um determinado ser é o con-
ceito. Da essência deve se distinguir o que é não es-
sencial – portanto, o que é atributo circunstancial: 
o acidente. A partir dessa proposição, então, Aris-
tóteles vai desenvolver seu pensamento, indicando 
os elementos constitutivos do pensamento; as no-
ções de ato e potência, para explicar as transforma-
ções observadas na natureza; os princípios que de-
vem reger o pensamento; a causalidade como ex-
plicação para a passagem da potência ao ato. 
 
Filosofia Antiga III (Séc. III a.C. a IV/VI d.C.): Pós-Socrática 
• Cenário (contexto social, político, econômico...): 
 
23 
 
• Interação com Outras Culturas e Expansão do 
Pensamento Helênico. O advento do Império de 
Alexandre expandiu o mundo grego para o Egito, a 
Mesopotâmia e a Pérsia, levando a um contato in-
tenso com outras tradições filosóficas e religiosas. 
Esse sincretismo cultural resultou em uma troca de 
ideias que moldou profundamente o pensamento 
filosófico. Por exemplo: 
• Influência Oriental: A filosofia helênica começou 
a ser influenciada por tradições orientais, como o 
zoroastrismo e as religiões babilônicas, que trouxe-
ram novos modos de pensar o divino, o bem e o 
mal, e o destino. 
• Egito Helenístico: Alexandria se tornou um grande 
centro de aprendizado, onde filósofos gregos, egíp-
cios e judeus interagiam, e a Biblioteca de Alexan-
dria desempenhou um papel central na preserva-
ção e disseminação do conhecimento. 
• O Advento do Cristianismo. A partir do século I 
d.C., o cristianismo começou a se expandir dentro 
do Império Romano. Os primeiros pensadores cris-
tãos (como Justino Mártir e Clemente de Alexan-
dria) interagiram com a filosofia grega, particular-
mente o platonismo, para articular suas próprias 
doutrinas. Isso preparou o caminho para a Filosofia 
Patrística, que será a base da Filosofia Medieval. 
 
24 
 
• O Desafio Cristão: O cristianismo trouxe novas 
questões filosóficas, como a relação entre fé e ra-
zão, o problema do mal e a natureza da divindade. 
Ao se apropriar de conceitos filosóficos gregos, 
como o Logos, os primeiros filósofos cristãos rein-
terpretaram esses conceitos para explicar a teolo-
gia cristã. 
• Declínio da Filosofia Clássica: À medida que o 
cristianismo se consolidou, algumas tradições filo-
sóficas pagãs foram reprimidas, como o fecha-
mento da Academia de Platão em 529 d.C. pelo im-
perador Justiniano, marcando o fim da filosofia an-
tiga e a transição para a Filosofia Medieval. 
• Emergência da Filosofia Medieval. A Filosofia Pa-
trística foi a primeira fase da Filosofia Medieval, 
onde os Padres da Igreja (como Santo Agostinho) 
trabalharam na elaboração de uma síntese entre a 
fé cristã e a filosofia grega, especialmente o plato-
nismo e o estoicismo. O foco principal era a inter-
pretação da Revelação e a defesa da fé contra he-
resias, o que marcou uma ruptura, mas também 
uma continuidade em relação ao pensamento filo-
sófico antigo. 
• Problema: Expansão da filosofia para além do mundo 
grego; ultrapassagem das antigas fronteiras éticas; dis-
puta entre o helenismo e o cristianismo (remete à Patrís-
tica). 
 
25 
 
• Conteúdos: emergem correntes de pensamentos concor-
rentes, que produzem matizes diversos sobre a vida e a 
própria condição humana. 
• Ceticismo: Fundado por Pirro de Élis, o ceticismo 
colocava em dúvida a possibilidade de se obter co-
nhecimento verdadeiro. Os céticos questionavam 
as crenças tradicionais e o uso da razão para aces-
sar a verdade, o que refletia um mundo em cons-
tante mudança e instabilidade. 
• Estoicismo: Fundada por Zenão de Cítio, a escola 
estoica defendia a ideia de que a felicidade residia 
na harmonia com a razão universal (Logos), acei-
tando o destino com tranquilidade. A filosofia es-
toica teve grande influência, especialmente na 
ideia de cosmopolitismo, que viu o ser humano 
como cidadão do mundo, além das fronteiras gre-
gas. 
• Epicurismo: Epicuro pregava que a felicidade vinha 
da busca do prazer (no sentido da ausência de dor 
e perturbações) e da tranquilidade interior. Diferen-
temente dos estoicos, ele acreditava que os deu-
ses não interferiam nas questões humanas. 
• Neoplatonismo: Embora tenha surgido um pouco 
mais tarde, o neoplatonismo (associado a Plotino, 
no século III d.C.) reinterpretou as ideias de Platão, 
fundindo-as com outras tradições místicas, 
 
26 
 
preparando o terreno para influências no pensa-
mento cristão. 
 
EM SUMA, esse período entre turbulento e rico em perspectivas 
filosóficas coloca novos atores e desafios em cena, pois o perí-
odo Pós-Socrático foi uma época de grande diversidade e desen-
volvimento filosófico. O pensamento grego se expandiu e intera-
giu com culturas não gregas, enquanto novas escolas tentavam 
responder às questões de um mundo em mudança. Ao mesmo 
tempo, osurgimento do cristianismo trouxe novos desafios e pos-
sibilidades para a filosofia, preparando o terreno para a Filosofia 
Medieval. 
 
 
27 
 FILOSOFIA MEDIEVAL 
 
• Cenário (contexto social, político e econômico): 
• Idade Média: Giovanni Andrea (bibliotecário ponti-
fício, 1469) assim designou, em termos culturais e 
valorativos, a partir da Renascença, um período en-
tre a época Clássica” e o novo renascimento do an-
tigo Classicismo. 
• Arruinamento do mundo clássico antigo (Império 
Romano). 
• Barbarização do espaço europeu (ruína do Império, 
novas ordem e organização política e espírito bár-
baro ou primitivismo). 
• Advento e difusão do Cristianismo (substituição do 
paganismo, paz de Constantino – Édito de Milão em 
313 – e a convergência com a presença bárbara e a 
ruína do Império e sua civilização). 
• Filosofia tem um papel secundário, subalterno à te-
ologia (Philosophia ancilla theologiae ("A filosofia é 
serva da teologia")). 
• Pensamento e “ethos” cristãos medievais: 
• Medievalização do Clássico 
 
28 
 
• Espiritualismo (destaque para Agostinho de 
Hipona – Santo Agostinho) 
• Teocentrismo (arte e arquitetura góticas, ar-
quitetura, Deus Majestati / Cristo Pantocra-
tor) 
• Fideísmo (visão sobrenaturalista do mundo 
e da vida) 
• Ideal do Santo (substituindo o Ideal do Sá-
bio, dualismo) 
• Cristandade, coletivismo e totalitarismo 
(respublicae christianorum, Império de 
Cristo, “Guerra Santa”, sapientia Christiana) 
• Objetivo geral: Explorar a relação entre fé e razão na filo-
sofia medieval. 
 
Filosofia Medieval I (Séc. IV a VII d.C.): Patrística 
• Problema: Tentativa de conciliar o cristianismo com o 
pensamento filosófico greco-romano (conciliar fé e razão). 
Fundamenta-se nas ideias dos “Padres da Igreja” que bus-
cam defender a fé cristã. Três Potências: memória, inteli-
gência e vontade. 
• Conteúdos: Relação entre filosofia e cristianismo, Teoria 
da Iluminação. Segundo Chauí, “A patrística foi obrigada a 
introduzir idéias [sic] desconhecidas para os filósofos 
greco-romanos: a idéia [sic] de criação do mundo, de 
 
29 
 
pecado original, de Deus como trindade una, de encarna-
ção e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e 
ressureição [sic] dos mortos, etc. Precisou também expli-
car como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi cri-
ado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Introduziu, 
sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a idéia [sic] de 
“homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-
arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela exis-
tência do mal no mundo. 
Para impor as idéias [sic] cristãs, os Padres da Igreja as 
transformaram em verdades reveladas por Deus (através 
da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos, 
seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Com 
isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos, 
entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou 
humanas”. 
• Principais nomes: Tertuliano, Agostinho de Hipona, Hipá-
tia de Alexandria, Boécio, Gregório de Nisa, Justino... 
• Agostinho de Hipona: Relação entre fé e razão, e a 
teoria da iluminação. Agostinho, que escreveu logo 
após o colapso do Império Romano. O trabalho de 
Agostinho contra as heresias foi de fato crucial para 
a consolidação dos dogmas cristãos, e sua influên-
cia perdura na forma como muitos ainda pensam 
sobre a relação entre o espiritual e o material, o 
bem e o mal, e a liberdade humana. Agostinho con-
cebe a separação entre o mundo espiritual e o 
 
30 
 
material, o que pode ser vislumbrado em "Confis-
sões" (foco na luta interna entre o corpo e a alma) e 
"A Cidade de Deus" (dualidade entre a Cidade de 
Deus e a Cidade dos Homens). 
 
A BAIXA ESCOLÁSTICA evidencia a riqueza de encontros cultu-
rais, sobretudo ocidentais e orientais (oriente próximo asiático), 
com os intercâmbios culturais e intelectuais marcando profunda-
mente esse período da Filosofia Medieval. 
 
Filosofia Medieval II (Séc. VIII a XII d.C.): Baixa Escolástica 
• Cenário: A interação entre as filosofias árabe e judaica e a 
escolástica europeia ocorreu principalmente nas universi-
dades medievais, como em Paris e Toledo, que se torna-
ram centros de tradução de obras filosóficas do árabe e do 
hebraico para o latim. Esse processo de tradução, a partir 
do século XII, foi fundamental para a reintrodução de Aris-
tóteles e, também, para o desenvolvimento de novas inter-
pretações de temas teológicos e metafísicos. Esse perí-
odo foi caracterizado por tensões entre a tentativa de inte-
grar a filosofia grega, especialmente a metafísica aristoté-
lica, com as doutrinas teológicas cristãs, islâmicas e ju-
daicas. A filosofia árabe e judaica trouxe desafios episte-
mológicos e ontológicos novos e a Escolástica teve de li-
dar com esses desafios em termos de como conciliar a ra-
zão com a fé, algo que ressoaria profundamente nos deba-
tes filosóficos subsequentes. 
 
31 
 
• Problema: Filosofia cristã. Início da Teologia. Dualismo: 
separação entre fé e razão, corpo e alma, infinito (Deus) e 
finito (seres humanos). Método Escolástico (Disputa). Fi-
losofia árabe e judia. Reintrodução do pensamento de 
Aristóteles na Europa. 
• Conteúdo: Durante a Baixa Escolástica, o pensamento 
árabe e judaico foi fundamental para a revitalização da fi-
losofia ocidental, especialmente com a reintrodução de 
Aristóteles na Europa. Isso se deu principalmente através 
das traduções dos textos árabes, que haviam preservado 
e expandido a filosofia grega. 
• Principais nomes: Anselmo, Avicena, Averróis, Maimôni-
des, Hildegarda de Bingen... 
• Filosofia Árabe: 
• Avicena (Ibn Sina): Avicena, cujo pensamento foi 
muito influente na Europa, desenvolveu uma meta-
física em que a distinção entre essência e existên-
cia ocupava um lugar central. Sua obra influenciou 
tanto os filósofos cristãos como Tomás de Aquino 
quanto os judeus. 
• Averróis (Ibn Rushd): Averróis foi um dos principais 
comentadores de Aristóteles, cujas obras influen-
ciaram diretamente os escolásticos. Ele defendia 
uma interpretação racionalista de Aristóteles, pro-
movendo a ideia de que a razão e a filosofia pode-
riam coexistir com a religião, mas com certa inde-
pendência. Filósofo islâmico de Al-Andalus 
 
32 
 
(Espanha islâmica) e amplamente considerado o 
responsável por reintroduzir o pensamento aristo-
télico no Ocidente cristão, suas obras exerceram 
grande influência na Baixa Escolástica, especial-
mente em filósofos cristãos como Tomás de Aquino 
e Siger de Brabante. 
• Comentários sobre Aristóteles: Averróis 
acreditava que a razão e a filosofia eram es-
senciais para compreender a realidade e o 
divino. Ele escreveu extensos comentários 
sobre Aristóteles, defendendo uma interpre-
tação racionalista que dissociava, até certo 
ponto, a filosofia da teologia. Sua aborda-
gem foi vista como um desafio à teologia 
cristã e islâmica, pois ele propôs que a filo-
sofia tinha um papel autônomo e poderia 
chegar à verdade de forma independente da 
fé religiosa. 
• A Teoria da Dupla Verdade: Embora seja 
contestado se Averróis realmente susten-
tava essa teoria, o que lhe foi atribuído é a 
ideia de que a razão e a fé poderiam levar a 
conclusões diferentes sem necessaria-
mente se contradizerem. Isso sugeriria uma 
separação entre as esferas da razão (filoso-
fia) e da fé (religião), algo que gerou contro-
vérsias tanto no mundo islâmico quanto no 
cristão. 
 
33 
 
• Influência no Ocidente: No Ocidente, Aver-
róis foi admirado como uma autoridade filo-
sófica, com seus comentários aristotélicos 
sendo estudados nas universidades euro-
peias. No entanto, suas ideias racionalistas, 
especialmente sobre a eternidade do 
mundo e a independência da razão, foram 
condenadas pela Igreja Católica. 
• Al Ghazali (Algazel): foi um teólogo, jurista e filó-
sofo islâmico, que desempenhou um papel central 
na crítica da filosofia peripatética (aristotélica) no 
mundo islâmico, especialmente no que diz respeitoao pensamento de Avicena e Aristóteles. 
• A Incoerência dos Filósofos (Tahafut al-Fa-
lasifa): Sua obra mais famosa foi um ataque 
frontal à filosofia peripatética, onde ele criti-
cava o que considerava serem as falhas da 
razão humana ao tentar entender o divino. 
Ele argumentou que os filósofos, como Avi-
cena, eram incapazes de justificar racional-
mente certas doutrinas, como a eternidade 
do mundo e a inexistência de uma providên-
cia divina que interagisse diretamente com o 
mundo. 
• Sufismo e a Crítica à Razão: Embora Al-
Ghazali fosse um filósofo e teólogo de 
grande erudição, ele acabou por se afastar 
 
34 
 
da filosofia racionalista, abraçando o su-
fismo (misticismo islâmico) como o verda-
deiro caminho para a compreensão de 
Deus. Para ele, a experiência mística trans-
cendia a razão e era a única maneira de ob-
ter um verdadeiro conhecimento do divino. 
• Influência na Escolástica: No Ocidente, Al-
Ghazali foi conhecido como "Algazel" e, em-
bora ele fosse um crítico da filosofia aristo-
télica, suas obras foram traduzidas para o 
latim e lidas por filósofos cristãos. Suas crí-
ticas influenciaram o pensamento escolás-
tico, especialmente nas discussões sobre a 
relação entre fé e razão. 
 
Esses três pensadores, embora tenham vivido em épocas e con-
textos distintos, compartilham o interesse em como conciliar a 
razão com a fé, mas cada um chega a conclusões diferentes: 
• Averróis: Defendeu uma coexistência entre fé e razão, 
onde a filosofia teria um papel autônomo. 
• Maimônides: Tentou harmonizar a razão com a fé, mas 
sempre dentro dos limites da tradição religiosa, buscando 
um equilíbrio entre os dois. 
• Al-Ghazali: Rejeitou a filosofia racionalista em favor de 
uma compreensão mística da realidade, enfatizando os li-
mites da razão. 
 
35 
 
Influência na Escolástica 
A filosofia de Averróis e Maimônides teve impacto direto na for-
mação da Escolástica na Europa. Al-Ghazali, por sua vez, provo-
cou debates importantes sobre os limites da filosofia, influenci-
ando de maneira indireta as críticas escolásticas à filosofia raci-
onalista. 
 
• Filosofia Judaica: 
• Maimônides (Moses ben Maimon): Filósofo judeu, 
rabino e médico, cuja obra tentou sintetizar a tradi-
ção judaica com a filosofia aristotélica e neoplatô-
nica, sua influência foi sentida tanto no mundo ju-
daico quanto no cristão. Maimônides foi uma das 
figuras centrais da filosofia judaica, influenciado 
por Aristóteles e Avicena. Sua obra mais conhe-
cida, Guia dos Perplexos, tratava da compatibili-
dade entre a filosofia racional e a fé judaica. Ele 
teve grande influência na escolástica cristã, sobre-
tudo em filósofos como Tomás de Aquino. 
• Guia dos Perplexos: Sua obra mais famosa, 
o Guia dos Perplexos, foi escrita para aque-
les que se encontravam confusos sobre 
como reconciliar a filosofia com a fé judaica. 
Maimônides procurou mostrar que a fé e a 
razão não estavam em conflito, mas que a 
razão poderia ser um instrumento para com-
preender a revelação divina. Ele também 
 
36 
 
discutiu temas como a natureza de Deus, a 
criação, e o mal. 
• Influência de Aristóteles e Avicena: 
Maimônides se baseou fortemente nas 
obras de Aristóteles, especialmente através 
das interpretações de Avicena. Ele adotou a 
visão aristotélica de que Deus é o motor 
imóvel e a causa final de todas as coisas, 
embora tenha modificado algumas ideias 
para se ajustar à teologia judaica, como a 
criação ex nihilo. 
• Impacto na Escolástica Cristã: Maimôni-
des exerceu uma forte influência sobre To-
más de Aquino, que respeitava profunda-
mente sua tentativa de reconciliar a fé e a ra-
zão. Embora houvesse diferenças teológicas 
entre o cristianismo e o judaísmo, Maimôni-
des foi visto como uma autoridade na filoso-
fia natural e moral. 
 
Filosofia Medieval III (Séc. XIII e XIV d.C.): Alta Escolástica 
• Cenário: 
• Expansão Islâmica e a Preservação do Pensa-
mento Grego: Explorar como o mundo islâmico 
preservou e comentou os textos de Aristóteles du-
rante a Idade Média. 
 
37 
 
• Tradução de Textos para o Latim: O papel de cida-
des como Toledo na tradução de obras árabes para 
o latim, facilitando o acesso dos escolásticos a 
Aristóteles. 
• O Crescimento das Universidades Medievais: 
Como os debates filosóficos começaram a se con-
centrar nesses centros de ensino, promovendo in-
tercâmbios intelectuais. 
• Problema: Método da Disputa; busca da superação da di-
cotomia entre fé e razão. A grande temática que perpassa 
toda a Filosofia Medieval é o embate, a dicotomia e a ten-
tativa de superar a dicotomia entre fé e razão, as cinco vias 
de Santo Tomás para provar a existência de Deus. 
• Principais nomes: Johannes Duns Scotus, Boaventura, 
Tomás de Aquino (une fé e razão), Guilherme de Ockham, 
Avicena (fundamenta a religião muçulmana). 
• Tomás de Aquino: Suma Teológica, relação entre fé 
e razão, e as cinco vias para provar a existência de 
Deus (Motor Imóvel, Causa Eficiente, Ser Necessá-
rio, Graus de Perfeição e Governo Supremo... Cau-
salidade aristotélica). A obra de Tomás é a culmina-
ção da tentativa de conciliar a filosofia de Aristóte-
les com a teologia cristã. Tomás adotou elementos 
dos comentários de Averróis e das sínteses de 
Maimônides para articular suas próprias posições. 
• A Doutrina do Intelecto: Tomás de Aquino 
se opõe a Averróis em alguns pontos, 
 
38 
 
especialmente sobre a doutrina do intelecto 
agente. No entanto, ele compartilha com 
Averróis a valorização da razão. 
• Criação e Eternidade do Mundo: Um tema 
central de debate entre Aristóteles, Averróis, 
Maimônides e Tomás de Aquino. Tomás re-
jeita a noção aristotélica de que o mundo é 
eterno, mantendo a doutrina cristã da cria-
ção ex nihilo. 
• A Metafísica de Essência e Existência: A 
distinção entre essência e existência, cen-
tral no pensamento de Tomás de Aquino, foi 
influenciada por Avicena, mas refinada no 
contexto da teologia cristã. 
A respeito da Alta Escolástica, mirando o alvorecer de um novo 
contexto intelectual, com o renascimento e uma nova concepção 
de ciência em gestação, impõe resgatar os nomes de Averróis, 
Maimônedes, Al-Ghazali e Tomás de Aquino, entendendo que o 
“diálogo” entre eles foi profícuo e permitiu o refinamento de con-
ceitos caros à cristandade. 
• Diferenças e Tensão Filosófica 
o Racionalismo e Teologia: Como cada um desses 
pensadores lidava com a tensão entre a razão e a 
revelação divina: 
o Averróis: Propõe que a razão filosófica e a revela-
ção podem coexistir, mas em esferas separadas. 
 
39 
 
o Maimônides: Harmoniza as duas, argumentando 
que a razão é uma forma válida de entender a cria-
ção divina. 
o Al-Ghazali: Crítico da razão filosófica, promove a 
experiência mística como superior ao conheci-
mento racional. 
o Tomás de Aquino: Procura integrar ambas, mos-
trando que a razão pode reforçar a fé, mas reco-
nhece que alguns mistérios estão além da razão. 
• Impacto na Escolástica e na Filosofia Ocidental 
o Influência de Averróis no Averroísmo Latino: O 
movimento averroísta na Europa Ocidental, especi-
almente nas universidades, foi uma interpretação 
radical da autonomia da razão, que desafiou a orto-
doxia teológica. 
o A Importância de Maimônides para o Pensa-
mento Cristão: Embora judeu, Maimônides foi 
uma figura de autoridade para muitos escolásticos, 
influenciando a ética, a metafísica e a teologia na-
tural. 
o Al-Ghazali e a Limitação da Filosofia: Sua crítica 
à filosofia também ressoou no Ocidente, alertando 
sobre os limites da razão humana frente aos misté-
rios divinos. 
 
CONCLUIINDO, UMA APROXIMAÇÃO ou discussão necessária a 
respeito da Filosofia Medieval deve levar em conta as figuras sin-
gulares de Agostinho e Tomás de Aquino, conforme já destacado. 
 
40 
 
Um comparativo distintivo entre os dois pensadores, mais que 
colocar um acima de outro, ajuda a fazer com que se compreenda 
o quão seus pensamentos produzem um diálogo enriquecedor a 
respeito do diálogo entre fé e razão (sem pleonasmos).Desta-
quem-se, então, alguns pontos: 
Abordagem Comparativa (Temática): 
• Dualismo de Agostinho vs. Integração de Aquino: Talvez 
um dos pontos mais salientes de Agostinho diga respeito 
a como ele concebe a separação entre o mundo espiritual 
e o material, conquanto Aquino vê o mundo material como 
parte da criação divina e, portanto, digno de ser compre-
endido racionalmente. Os textos principais para essa 
comparação podem ser: 
o De Agostinho: "Confissões" (foco na luta interna 
entre o corpo e a alma) e "A Cidade de Deus" (dua-
lidade entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Ho-
mens). 
o De Aquino: excertos da "Suma Teológica" que dis-
cutem a relação entre fé e razão, especialmente o 
conceito de que a verdade revelada e a verdade ra-
cional nunca se contradizem. 
Abordagem Histórica (Evolução do Pensamento Cristão): 
• Deve-se atentar para a evolução do pensamento cristão 
desde Agostinho até Aquino, o contexto histórico de cada 
um: Agostinho, que escreveu – como já referido – logo após 
o colapso do Império Romano, e Aquino, que viveu em um 
 
41 
 
momento de maior estabilidade e florescimento intelec-
tual, quando a Igreja já estava consolidada. 
• Algumas leituras (tais como trechos menores e didáticos, 
como cartas ou pequenos excertos das obras maiores) po-
dem auxiliar a perceber a transição do enfoque na fé e sal-
vação (Agostinho) para a busca de uma filosofia cristã 
mais racional e sistemática (Aquino). 
Questões Contemporâneas (Conexões Filosóficas Atuais): 
• A despeito de preconceitos que possam persistir é possí-
vel se conectar as ideias de Agostinho e Aquino com ques-
tões atuais, como: 
o O problema do mal: Como Agostinho trata o mal 
como ausência de bem, e como Aquino discute o 
mal no contexto do livre-arbítrio e da providência 
divina. O problema do Mal, que Ricoeur apresenta 
como um grande desafio para a filosofia (mas, não 
só) nunca é suficientemente respondido. Nem 
esse, nem o problema do livre-arbítrio frente à pro-
vidência divina e a teoria da predestinação. 
o Ciência e Religião: A discussão de Aquino sobre a 
compatibilidade entre fé e razão pode ser compa-
rada com debates contemporâneos sobre o diálogo 
entre ciência e religião, debates que chegam a opor, 
por exemplo, as teorias criacionistas e evolucionis-
tas. 
 
42 
 FILOSOFIA MODERNA 
 
• Cenário (contexto social, político e econômico): 
• Período: séculos XV – XVI d.C. 
• Fim do Feudalismo e surgimento do Capitalismo e 
da Burguesia. 
• Superação do Teocentrismo pelo Humanismo e va-
lores conexos. 
• Emergência do Racionalismo e do Empirismo. 
• Absolutismo e surgimento dos Estados Modernos. 
• Grandes navegações, mercantilismo e descoberta 
do Novo Mundo. 
• Reforma Protestante. 
• Invenção da Imprensa. 
• Renascimento. 
• Principal referência: René Descartes (Cartésio) – 
1596 - 1650 
• Principal obra: Discurso do Método 
• Principal problema: o conhecimento (Teoria do Co-
nhecimento) 
 
43 
 
• Objetivo: Entender o surgimento da modernidade filosó-
fica e o pensamento racionalista. 
• Conteúdo: Antropocentrismo e Humanismo; cientifi-
cismo e valorização da natureza; racionalismo; empi-
rismo; liberdade e idealismo; renascimento e iluminismo; 
filosofia laica. 
• Destaque: ocorre uma “Evolução” das posturas místicas 
e literárias medievais para uma postura mais científica: 
• Da Astrologia para a Astronomia: Ticho Brahe e 
Johannes Kepler (séc. XVII) 
• Revolução científica (1550- 1700) 
• Nicolau Copérnico: De Revolutionibus Or-
bium Coelestium (24 de maio de 1543) 
• Andreas Vesalius: De Humanii Corporis Fa-
brica (1º de julho de1543) 
• Era de Grandes Revoluções: 
• Reforma Protestante (“Revolução Ideoló-
gica”): 1517 
• Revolução Industrial: 1760 
• Revolução Americana: 1776 
• Revolução Francesa: 1789 
 
 
44 
 
Filosofia Moderna I (Séc. XV e XVI d.C.): Racionalismo / Renasci-
mento 
• Problema: Mentalidade racionalista; conhecimento – ci-
ência; liberdade. 
• Conteúdo: 
• A transição da filosofia medieval para a moderna é 
realmente uma das mais fascinantes na história do 
pensamento ocidental, justamente por representar 
uma ruptura com o misticismo e as limitações im-
postas pela influência religiosa. O avanço cientí-
fico, aliado ao surgimento de novas perspectivas fi-
losóficas e políticas, abriu caminho para a raciona-
lidade e o empirismo. 
• Esse período também testemunhou a gradativa se-
paração entre a teologia e as ciências. A crença no 
direito divino dos reis e na governança teocrática 
começou a ser desafiada à medida que novas 
ideias políticas e científicas emergiam. Com o 
avanço do racionalismo e do empirismo, a explica-
ção científica dos fenômenos naturais passou a ser 
mais valorizada do que a interpretação mística ou 
teológica. 
• O conceito de que o poder político e o conheci-
mento científico estavam baseados em uma ordem 
divina começou a ruir. O modelo aristotélico de ci-
ência, que era mantido com grande zelo pela Igreja, 
foi questionado por figuras como Galileu, e o direito 
 
45 
 
divino dos reis foi sendo minado por pensadores 
como Maquiavel, que argumentava que o poder era 
construído pela habilidade política, e não por uma 
escolha divina. 
• Esse movimento gerou o solo fértil para o Ilumi-
nismo e a emancipação progressiva do pensa-
mento filosófico e científico das amarras religiosas, 
moldando o que viria a ser a base da modernidade 
ocidental. 
• Principais nomes: Maquiavel, Erasmo de Rotterdam, To-
más Morus, Nicolau Copérnico, Montaigne... 
• Galileu Galilei: A obra de Galileu foi central para a 
revolução científica, desafiando a visão aristotélica 
e a cosmologia ptolomaica que dominavam o pen-
samento medieval. Suas observações com o teles-
cópio confirmaram o heliocentrismo de Copérnico, 
pondo em xeque a autoridade da Igreja, que defen-
dia a Terra como o centro do universo. O processo 
de Galileu exemplifica o choque entre a ciência 
emergente e a teologia tradicional. 
• Nicolau Copérnico (1473-1543): Propôs a teoria 
heliocêntrica no De revolutionibus orbium coeles-
tium, desafiando a cosmologia geocêntrica de Pto-
lomeu e da Igreja. Esse modelo heliocêntrico foi 
fundamental para a fundação da astronomia mo-
derna e desafiou a concepção medieval do 
 
46 
 
cosmos, que estava intimamente ligada à teologia 
cristã. 
• Andreas Vesalius: O trabalho de Vesalius (1514-
1564), especialmente seu De humani corporis fa-
brica, foi revolucionário no campo da anatomia. Ele 
desafiou séculos de ensino baseado em Galeno, 
uma autoridade da medicina medieval, ao realizar 
dissecções humanas e corrigir erros que haviam se 
perpetuado. Isso marcou o início de uma aborda-
gem mais empírica e científica da biologia e da me-
dicina. 
• Nicolau Maquiavel (1469-1527): É considerado o 
pai da filosofia política moderna, principalmente 
por sua obra O Príncipe. Sua abordagem pragmá-
tica e realista da política contrastava com as no-
ções medievais de governança divina. Ele defendia 
que o sucesso político deveria ser medido pela efi-
cácia, e não pela moralidade, o que era um rompi-
mento radical com a tradição teológica que via os 
reis como agentes de Deus. 
• Erasmo de Rotterdam (1466-1536): Humanista 
cristão, não foi revolucionário no sentido radical 
como Maquiavel, mas suas críticas ao dogmatismo 
religioso e à corrupção dentro da Igreja, especial-
mente em sua obra Elogio da Loucura, antecipa-
ram o espírito reformador da Reforma Protestante. 
Ele defendia uma volta às escrituras e uma 
 
47 
 
espiritualidade mais interiorizada, contrapondo-se 
às estruturas eclesiásticas. 
• Thomas Morus (Thomas More): Na sua famosa 
obra Utopia (1516), Thomas Morus (1478-1535) 
propôs uma crítica à sociedade europeia de seu 
tempo, apresentando uma visão idealizada de uma 
sociedade justa e racional. Embora não fosse uma 
obra cientificamente revolucionária, Utopia abriu 
caminho para reflexões sobre a justiça social e a or-
ganização política, que influenciaram debates pos-
teriores sobrea reforma social e política. 
 
Filosofia Moderna II (Séc. XVII d.C.): Cartesianismo / Barroco 
• Cenário: O debate entre racionalismo e empirismo é cen-
tral para a Teoria do Conhecimento na modernidade, e ele 
reflete diferentes maneiras de encarar a origem e o al-
cance do conhecimento humano. O racionalismo — espe-
cialmente no cartesianismo — privilegia a razão como 
fonte de todo conhecimento, enquanto o empirismo de-
fende que é a experiência sensível que deve guiar o enten-
dimento 
• Problema: Mentalidade racionalista; conhecimento – ci-
ência; liberdade. 
• Conteúdos: Dúvida metódica, "Cogito, ergo sum", racio-
nalismo e o método cartesiano 
 
48 
 
• Principais nomes: Spinoza, Descartes, Leibniz, Newton, 
Locke, Juan Inês de La Cruz. 
• René Descartes: Descartes é o fundador do racio-
nalismo moderno e busca estabelecer um funda-
mento inabalável para o conhecimento. Seu fa-
moso Cogito, ergo sum ("Penso, logo existo") é o 
ponto de partida para sua filosofia. Ele defendeu a 
ideia de que a razão, e não os sentidos, é a fonte 
mais segura de conhecimento, já que os sentidos 
podem nos enganar. Descartes propôs uma visão 
mecanicista do universo, onde tudo poderia ser ex-
plicado pelas leis da física, e onde a razão humana 
teria o poder de desvendá-las. 
• Descartes também introduziu a separação entre 
mente (res cogitans) e corpo (res extensa), enfati-
zando que a mente racional é distinta da matéria fí-
sica, o que levou a uma nova forma de abordar o co-
nhecimento científico e a natureza humana. [Esta-
beleceu] distinção clara [...] entre consciência mo-
ral e vida espiritual de um lado, e mundo material e 
corpo humano de outro; 
• Situa o indivíduo no centro de sua investigação. Afi-
nal, sua prova da existência de Deus foi uma decor-
rência do autorreconhecimento do indivíduo. 
• Discurso do Método: A partir do momento 
em que desejava dedicar-me exclusiva-
mente à pesquisa da verdade, pensei que 
 
49 
 
deveria rejeitar como absolutamente falso 
tudo aquilo em que pudesse supor a menor 
dúvida, com a intenção de verificar se, de-
pois disso, não restaria algo em minha edu-
cação que fosse inteiramente indubitável. 
Desse modo, considerando que nossos sen-
tidos às vezes nos enganam, quis supor que 
não existia nada que fosse tal como eles nos 
fazem imaginar. Por haver homens que se 
enganam ao raciocinar, mesmo no que se 
refere às mais simples noções de geometria 
(...), rejeitei como falsas, julgando que es-
tava sujeito a me enganar como qualquer 
outro, todas as razões que eu tomara até en-
tão por demonstrações. (...) Logo em se-
guida, porém, percebi que, enquanto eu 
queria pensar assim que tudo era falso, con-
vinha necessariamente que eu, que pen-
sava, fosse alguma coisa. Ao notar que esta 
verdade “penso, logo existo”, era tão sólida e 
tão correta (...), julguei que podia acatá-la 
sem escrúpulo como o primeiro princípio da 
filosofia que eu procurava. 
• John Locke: Empirismo, tabula rasa e teoria do co-
nhecimento. 
• Teoria do Conhecimento: A mente humana 
como uma "tabula rasa" (tábula rasa), 
 
50 
 
adquirindo conhecimento pela experiência 
sensível. 
• Teoria Política: O conceito de "contrato so-
cial" e os direitos naturais (vida, liberdade e 
propriedade), fundamento para o libera-
lismo político. 
• Impacto Histórico: Influência na Revolução 
Gloriosa na Inglaterra e nas futuras revolu-
ções, como a Americana e a Francesa. 
• Baruch Spinoza (1632-1677): Embora Spinoza seja 
considerado um racionalista, sua visão é distinta 
da de Descartes, especialmente no que diz respeito 
à relação entre mente e corpo. Spinoza propôs um 
monismo substancial, afirmando que existe ape-
nas uma substância, que é Deus ou a Natureza 
(Deus sive Natura). Seu pensamento é profunda-
mente racionalista, mas ele rejeita a separação car-
tesiana entre o corpo e a mente. 
• Ética Geométrica: Em sua Ética, Spinoza 
construiu um sistema filosófico baseado na 
razão pura, utilizando um método geomé-
trico similar ao dos matemáticos, em que as 
verdades seguem logicamente umas das 
outras, tal como teoremas em uma geome-
tria. 
• Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716): Leibniz foi 
um racionalista que contribuiu para o 
 
51 
 
desenvolvimento da lógica e da matemática, intro-
duzindo o cálculo diferencial independentemente 
de Newton. Ele acreditava que o mundo é com-
posto por mônadas — unidades de força que, jun-
tas, constituem a realidade. Ele defendia que o co-
nhecimento verdadeiro vem das ideias inatas e que 
a razão é a chave para desvendá-las. 
• Princípio da Razão Suficiente: Leibniz pro-
pôs que nada acontece sem uma razão sufi-
ciente que explique por que é assim e não de 
outra maneira. Ele também sugeriu a ideia 
de que vivemos no "melhor dos mundos 
possíveis", dado que Deus, sendo racional, 
teria escolhido o melhor cenário possível 
para a criação. 
 
Filosofia Moderna III (Séc. XVIII d.C.): Empirismo / Iluminismo / Ilus-
tração 
• Panorama histórico: 
o Contexto Social, Político e Econômico: A Revolução 
Científica, o fim do feudalismo, o crescimento das mo-
narquias absolutistas e o início da Revolução Indus-
trial. 
o Relação com o Pensamento Filosófico: A necessi-
dade de novas teorias sobre o conhecimento e a soci-
edade, frente às mudanças políticas e científicas (in-
fluência de Newton, por exemplo). 
 
52 
 
o O Papel do Iluminismo: Movimento de crítica ao An-
tigo Regime e ao poder da Igreja, buscando a razão 
como guia para a organização social. 
• Objetivo: Introduzir o empirismo e o pensamento ilumi-
nista. 
• Problema: Desafio à tradição e à autoridade (liberdade); 
confiança no progresso e na razão (racionalismo e conhe-
cimento científico); incentivo à liberdade de pensamento 
(liberdade). 
• Conteúdos (empirismo – Séc. XVII-XVIII): Teoria do co-
nhecimento em Locke, Hume e Berkeley, e as ideias de li-
berdade e contrato social de Rousseau. O empirismo é 
uma resposta ao racionalismo, afirmando que o conheci-
mento provém exclusivamente da experiência sensorial. 
Locke introduziu a ideia de que a mente é uma "tabula 
rasa" (tábula rasa), sem ideias inatas. A ênfase no papel da 
percepção e da experiência na formação do conheci-
mento humano. David Hume, por exemplo, questionou a 
causalidade, argumentando que só conhecemos eventos 
por meio da observação de suas sequências, não por uma 
relação necessária dedutiva. 
• Conteúdos (iluminismo – Séc. XVIII): O Iluminismo é um 
movimento intelectual mais amplo, que abraça tanto o ra-
cionalismo quanto o empirismo, mas que tem como foco 
central a confiança na razão para resolver problemas soci-
ais, políticos e científicos. A "razão iluminista" busca liber-
tar a humanidade da superstição, do dogma religioso e da 
 
53 
 
opressão política. Voltaire, por exemplo, defendia a razão 
como instrumento de crítica contra o absolutismo e o po-
der eclesiástico, ao passo que Rousseau se concentrava 
na justiça social e na liberdade política. Kant propôs a fa-
mosa frase "Ouse saber" (Sapere aude), incentivando o 
uso da razão para libertar o ser humano de sua "minori-
dade" (dependência). 
• Conteúdos (Idealismo – Séc. XVIII - XIX): O idealismo se 
desenvolve como uma tentativa de resolver os problemas 
levantados pelo empirismo e pelo racionalismo. Kant, por 
exemplo, argumentou que a experiência sensorial é medi-
ada por estruturas a priori da mente, ou seja, a razão ainda 
desempenha um papel importante, mas combinada com 
a experiência. Kant uniu empirismo e racionalismo ao afir-
mar que o conhecimento depende tanto da experiência 
quanto das formas da razão que estruturam essa experiên-
cia (o que chamou de "revolução copernicana" da filoso-
fia). Hegel, por sua vez, avançou essas ideias, criando um 
sistema dialético em que a história do pensamento reflete 
o desenvolvimento progressivo da consciência racional. 
• Principais nomes: 
• Francis Bacon (1561-1626): Bacon foi um dos pri-
meiros grandes defensores do empirismo e é co-
nhecido por desenvolvero método científico base-
ado na observação e na experimentação. Em sua 
obra Novum Organum, ele critica o raciocínio dedu-
tivo de Aristóteles e defende que o conhecimento 
 
54 
 
verdadeiro vem da indução, ou seja, da observação 
repetida dos fenômenos e da construção de gene-
ralizações a partir desses dados. 
• Ídolos da Mente: Bacon também introduziu 
os conceitos dos "ídolos" que impedem o 
progresso do conhecimento: os ídolos da 
tribo, da caverna, do mercado e do teatro. 
Esses são preconceitos que devemos supe-
rar para alcançar um conhecimento verda-
deiro. 
• Galileu Galilei (1564-1642): Galileu foi pioneiro no 
uso do método empírico para o estudo da física e 
da astronomia. Suas observações com o telescó-
pio, especialmente sobre as luas de Júpiter e as fa-
ses de Vênus, confirmaram a teoria heliocêntrica 
de Copérnico. Galileu também desenvolveu leis 
fundamentais da física, como a inércia e a acelera-
ção, baseadas em experimentos. 
• Matematização da Natureza: Galileu acre-
ditava que a natureza estava escrita em lin-
guagem matemática, e que só por meio de 
experimentos e da quantificação rigorosa 
poderíamos entender suas leis. 
• Thomas Hobbes (1588-1679): Embora conhecido 
principalmente por sua filosofia política, Hobbes 
também contribuiu para o empirismo. Ele acredi-
tava que todo o conhecimento vinha das 
 
55 
 
sensações físicas e que a mente humana era uma 
máquina que processava essas sensações. Essa 
abordagem materialista influenciou profunda-
mente a filosofia britânica posterior. 
• Leviatã: Em sua obra mais famosa, Hobbes 
aplica sua visão empirista à política, suge-
rindo que os seres humanos, movidos por 
paixões e desejos naturais, precisam de 
uma autoridade soberana para manter a or-
dem social. 
• John Locke (1632-1704): Locke é talvez o maior re-
presentante do empirismo clássico. Ele acreditava 
que a mente humana nasce como uma tabula rasa 
(folha em branco) e que todo o conhecimento vem 
da experiência. Em seu Ensaio sobre o Entendi-
mento Humano, Locke defende que existem dois ti-
pos de experiências que geram conhecimento: as 
sensações externas e as reflexões internas. 
• Teoria das Ideias: Para Locke, todas as nos-
sas ideias derivam da experiência sensível, 
e ele faz uma distinção importante entre 
ideias simples, que vêm diretamente dos 
sentidos, e ideias complexas, que são cons-
truídas pela mente. 
• Isaac Newton (1643-1727): Newton é frequente-
mente visto como o culminar da revolução cientí-
fica. Embora sua física seja baseada na observação 
 
56 
 
empírica, Newton também acreditava na capaci-
dade da razão humana para desvendar as leis uni-
versais. Sua obra Princípios Matemáticos da Filoso-
fia Natural estabeleceu a lei da gravitação universal 
e as leis do movimento, fornecendo uma descrição 
mecanicista do universo. 
• Relação com o Empirismo e Raciona-
lismo: Newton incorporou elementos de 
ambas as tradições. Ele usou experimentos 
para descobrir as leis da natureza, mas 
acreditava que a razão podia formular leis 
universais e abstratas, como as que ele 
apresentou na gravitação. 
• David Hume: 
• Ceticismo e Empirismo: Crítica à causali-
dade e à ideia de substância. Acreditava que 
o conhecimento humano é limitado às im-
pressões sensíveis e hábitos mentais. 
• Teoria Moral: A moralidade baseada nos 
sentimentos e não na razão. 
• Impacto Histórico: Desconstrução das cer-
tezas filosóficas e impacto no pensamento 
moderno e nas ciências sociais, levando à fi-
losofia contemporânea (ex.: Kant). 
 
 
 
57 
 
• Immanuel Kant: 
• Crítica da Razão Pura, imperativo categó-
rico, e a distinção entre fenomenal e noume-
nal; ética deontológica (“O mais alto valor 
moral do caráter consiste em fazer o bem 
não por desejo pessoal, mas por dever”), li-
berdade e autonomia moral; busca da apro-
ximação entre racionalismo e empirismo, o 
que pode ser vislumbrado em obras tais 
como Crítica da razão pura e Crítica da ra-
zão prática. Provocou uma “revolução co-
pernicana” no âmbito epistemológico e da 
moralidade propondo que a moralidade está 
vinculada à racionalidade, o que é postu-
lado na obra Fundamentação da metafí-
sica dos costumes. 
• Voltaire: 
• Defesa da Razão e Crítica à Igreja: Lutou 
pela liberdade de expressão, tolerância reli-
giosa e o combate ao fanatismo. 
• Despotismo Esclarecido: Voltaire via a fi-
gura do monarca iluminado como uma solu-
ção para implementar reformas racionais 
sem revoluções violentas. 
• Impacto Histórico: Contribuições para as 
ideias de tolerância religiosa e liberdade 
 
58 
 
individual, além de influenciar reformas em 
monarquias europeias. 
• Contos: seus breves escritos Cândido ou o 
otimismo, O Ingênuo e Zadig ou O Destino, 
colocam em tela todo o problema do Mal 
(sobretudo aquele que se abate sobre os 
bons), e auxilia em tecer críticas à Igreja e à 
incoerência daqueles que afirmam seguir 
seus ensinamentos. 
• Jean-Jacques Rousseau: 
• Contrato Social: A ideia de que a legitimi-
dade política vem da vontade geral, e não de 
um governante divino ou hereditário. 
• Educação e Natureza Humana: Defendeu 
que o ser humano é naturalmente bom e 
corrompido pela sociedade. A educação de-
veria respeitar a liberdade natural. 
• Impacto Histórico: Forte influência na Re-
volução Francesa e nas ideias de soberania 
popular e democracia direta. 
 
A FILOSOFIA MODERNA provocou uma revolução (epistemoló-
gica, histórica, social, científica, econômica...) em todos os âm-
bitos da vida das sociedades ocidentais; o surgimento de grandes 
vultos do pensamento – que ainda hoje marcam os debates 
 
59 
 
acadêmicos – fez com que o pensamento moderno provocasse 
impactos que perduram até os dias atuais, como: 
• Relação com o Liberalismo e as Revoluções: Como as 
ideias de Locke e Rousseau influenciaram diretamente as 
Revoluções Americana e Francesa. 
• Transição para o Idealismo Alemão: As críticas de Hume 
e as ideias de Rousseau influenciaram Kant, que buscou 
resolver os problemas do empirismo e racionalismo. 
• Iluminismo como base da Filosofia Moderna: Voltaire, 
Locke e Rousseau ajudaram a moldar as ideias de direitos 
humanos, democracia e ciência. 
 
Esses dois movimentos da Filosofia Moderna — racionalismo e 
empirismo — refletem diferentes respostas à pergunta funda-
mental sobre como obtemos conhecimento. O racionalismo 
acredita que a razão e as ideias inatas são o caminho para a ver-
dade, enquanto o empirismo defende que o conhecimento deriva 
da experiência sensível. 
No entanto, figuras como Leibniz e Newton mostram que a fron-
teira entre essas escolas não é sempre nítida, com elementos das 
duas abordagens interagindo de maneiras complexas. Essa sín-
tese culmina, em certo sentido, na filosofia de Immanuel Kant, 
que tentará superar a dicotomia, argumentando que o conheci-
mento envolve tanto a sensibilidade quanto a razão. 
 
60 
 
De todo modo, considerando as várias facetas da Filosofia Mo-
derna – quais sejam, o Racionalismo, o Empirismo, o Iluminismo 
e, mesmo, um novo Idealismo –, IMPORTA DISTINGUIR: 
• Racionalismo vs. Empirismo: O racionalismo coloca a ra-
zão pura acima da experiência, enquanto o empirismo de-
fende que o conhecimento provém unicamente dos senti-
dos. Esse é o principal ponto de tensão entre as duas cor-
rentes. 
• Razão Iluminista: A "razão iluminista" pode ser vista 
como uma síntese ou aplicação prática da razão, mais vol-
tada para as questões sociais e políticas, utilizando tanto 
princípios racionais quanto evidências empíricas para pro-
mover mudanças. 
• Idealismo Kantiano: Kant se posiciona em um ponto de 
transição entre essas tradições, aceitando que a razão e a 
experiência são necessárias, mas que nossa compreen-
são do mundo é, em última instância, uma construção da 
mente. 
MEMORIZAR!! 
• Racionalismo: "A razão é suficiente para conhecer o 
mundo”. 
• Empirismo: "Só conhecemos o que experienciamos”. 
• Iluminismo: "A razão e a ciência devem guiar a socie-
dade”. 
 
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