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Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Unidade 1 Antropoceno e as crises social e ambiental Aula 1 Antropoceno e as Crises Contemporâneas Antropoceno e as crises contemporâneas Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Caro estudante, boas-vindas à nossa aula sobre uma das temáticas de extrema relevância atualmente, que está diretamente relacionada ao futuro do nosso planeta: o Antropoceno. De acordo com o ganhador do Prêmio Nobel de química em 1995, Paul Crutzen, o Antropoceno signi�ca uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra, na qual a humanidade se transformou em uma força geológica capaz de alterar as condições de sustentação da vida. Entretanto, esse termo é ainda bastante questionado por muitos cientistas. De fato, nas últimas décadas a economia e o comércio mundial, baseados em uma sociedade de consumo, tiveram um forte crescimento, com melhorias das condições de vida de milhões de pessoas pelo mundo. Mas isso teve um preço: o aumento da poluição, a perda da biodiversidade e o aquecimento global. https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u1a1_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Você pode se perguntar: como isso afetará a minha vida? As crises do Antropoceno vão alterar e desa�ar as nossas compreensões de economia e natureza? Portanto, você, como futuro pro�ssional, a partir desta aula, começa a compreender, questionar e se preparar para os desa�os desse novo tempo, ou para muitos, “era geológica”, sobre as nossas atividades econômicas e sociais. Vamos juntos no estudo dessa instigante e importante temática! Um grande abraço! Vamos Começar! O surgimento do conceito de Antropoceno O Holoceno é a atual época do período Quaternário da Era Cenozoica, que se iniciou há cerca de 11,65 mil anos antes do presente, após o último período glacial. Tal período se caracterizou por apresentar um clima razoavelmente estável. Esse fato permitiu gradualmente a evolução das atividades humanas, como o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais, e, consequentemente, mudou o estilo de vida nômade para o sedentário em grande parte da população. Soma-se a isso as migrações humanas, a constituição de sociedades complexas e a criação dos aglomerados urbanos, como vilarejos, vilas e a cidades (Veiga, 2019; Costa, 2022). Dessa forma, o Holoceno se constituiu no período de desenvolvimento do homem e de seus atributos na Terra. Para um número signi�cativo de cientistas, esse período se esgotou e estamos vivendo o início de um novo período geológico: o Antropoceno. Esse termo foi cunhado pelo biólogo Eugene F. Stoermer, em 1980, e signi�ca antropo (homem) + ceno (novo) (Veiga, 2019). Já a hipótese de um novo tempo geológico foi levantada originalmente pelo cientista Paul Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química, em 1995, o qual, durante uma reunião do Programa Internacional de Geosfera-Biosfera (IGBP), no ano de 2000, sugeriu o uso do termo para representar o atual tempo geológico e explica: “Eu estava em uma conferência e alguém mencionou o Holoceno. De repente, pensei que esse termo era incorreto. O mundo tinha mudado muito. Eu disse não, estamos no Antropoceno”. Para ambos os cientistas, o uso do termo Antropoceno é o mais adequado para “[...] enfatizar o papel central da humanidade na geologia e na ecologia” (Crutzen; Stoermer, 2000, p. 17). O que identi�ca o Antropoceno são as profundas transformações das atividades humanas sobre os processos de regulação biofísicos do planeta. Isto é, o homem passou a ser uma força Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL geológica capaz de modi�car as condições estruturantes do sistema terrestre. Portanto, Antropoceno signi�ca a época da dominação humana sobre o planeta (Alves, 2020). Não há consenso sobre o início do Antropoceno. Alguns artigos abrangem desde o início da agricultura até os eventos relacionados ao período histórico, informalmente reconhecido como a Grande Aceleração, mas alguns especialistas escolheram uma data simbólica como marco temporal: o ano de 1784, data do aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt. Esse é o período que marca o início do uso intensivo de combustíveis fósseis (no caso o carvão), o início da Revolução Industrial e do sistema de produção capitalista. Um exemplo imediato de todo o impacto ocasionado pela população humana no planeta é a questão demográ�ca: em 1800, a população mundial era de 1 bilhão de pessoas; hoje somos 8 bilhões e as estimativas falam em 10 bilhões no ano de 2050. Esse aumento esteve ligado à urbanização, que se intensi�cou nos últimos 200 anos, ou seja, o mundo se tornou urbano, com mais de 50% da população mundial vivendo em cidades. No Brasil, por exemplo, esses índices são superiores a 80% da população (Ipea, 2014). E para atender essa crescente demanda, aumentou-se a pressão na extração de recursos naturais, na ascensão de uma agricultura industrial, no desmatamento de �orestas tropicais e na consequente perda de biodiversidade. Da mesma forma, entre os problemas ocasionados estão a poluição em todos os sistemas planetários – ar, oceanos, solo etc. –, e a con�guração de sociedades com desigualdades socioeconômicas em nível global. A expressão Antropoceno é objeto de questionamentos. O geógrafo norte-americano Jason Moore prefere o vocábulo Capitoloceno porque, segundo ele, não é possível atribuir à espécie humana a condição de força geológica, mas sim ao sistema capitalista que, por seu caráter expansionista, é o causador da mudança de era geológica (Moore, 2016). Outros usam o termo Ocidentaloceno, porque a responsabilidade pelos desdobramentos atuais é dos países ricos do Norte Global, e esses não podem ser atribuídos às nações mais pobres (Unesco, 2018; Costa, 2022); ou ainda Tecnoceno, porque as mudanças em curso e suas consequências ocorreram a partir do desenvolvimento tecnológico e têm o poder de alcançar todas as condições de vida para as gerações futuras (Costa, 2021). Apesar dos questionamentos, a expressão Antropoceno se popularizou e tornou-se não só a designação de um novo tempo geológico, mas também uma metáfora dos novos tempos em curso. Em uma ou em outra perspectiva, o Antropoceno traz a discussão a respeito dos limites de um planeta �nito, tanto de espaço quanto de recursos naturais. Além disso, se os sistemas econômicos e sociais continuarem na mesma sistemática, passaremos de um cenário de crise para uma provável e desa�adora emergência ecológica, afetando a vida como um todo. Siga em Frente... O Antropoceno e as crises contemporâneas Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Os problemas relacionados ao desequilíbrio no uso dos recursos naturais e no aumento da poluição puderam ser facilmente observados a partir de 1950, em que um novo e perigoso estágio intensi�cou os efeitos antropogênicos sobre o sistema Terra, que os cientistas têm denominado a Grande Aceleração. Com o �m da Segunda Guerra Mundial, época de signi�cativa expansão das atividades econômicas, baseada em uma sociedade de consumo, o uso de combustíveis fósseis foi responsável por recordes sucessivos na emissão de gases antropogênicos. Para exempli�car, nos últimos 50 (cinquenta) anos, a economia mundial multiplicou-se por quase quatro vezes, enquanto o comércio global aumentou em 10 (dez) vezes (IPBES, 2019). Para contemplar as demandas desse crescimento econômico, nós, seres humanos, passamos a exercer uma pressão excessiva sobre os ciclos de regulação do planeta com o aumento da poluição, os desmatamentos, a perda de biodiversidadealinhada apenas com os interesses econômicos e políticos, sem atenção ao meio ambiente e a responsabilidade social. Assim, Daniel buscou alternativas para tentar mudar essa perspectiva na empresa e encontrou uma ONG, que tem um forte papel de preservação do meio ambiente e responsabilidade social ambiental empresarial, por promover projetos empresariais sustentáveis. Daniel apresentou o projeto criado pela ONG para a diretoria da empresa, foi questionado sobre qual seria o impacto no lucro da empresa e contra-argumentou, dizendo que o projeto da ONG pode ser um diálogo aberto, um passo importante para o marketing da empresa e promoção para a expansão dos negócios, além disso pode atrair novos investimentos. Daniel ainda trouxe o caso de uma renomada empresa de cosméticos como exemplo, que, após ter sido acusada de danos ambientais, adotou a causa do meio ambiente e, hoje, é uma das empresas mais respeitadas no segmento de cosméticos por conta de sua conduta. Entretanto, mesmo com esse exemplo a empresa que Daniel trabalha não aceitou a proposta da ONG. Com base nessa situação, podemos nos questionar: a empresa, pela resistência, demonstra-se contrária às ONGs e aos organismos internacionais em favor do seu interesse? Há, efetivamente, uma oposição entre as ONGs, organismos internacionais e interesses econômicos e políticos do Estado? O desenvolvimento sustentável depende do alinhamento entre ONGs, organismos internacionais e interesses econômicos e políticos do Estado? Um abraço! Vamos Começar! A preocupação da sociedade com o meio ambiente O movimento ambiental tem origem na segunda metade do século XIX, com os grupos protecionistas criados na Europa, que estavam preocupados com os efeitos das transformações advindas da Revolução Industrial, como a perda de áreas selvagens e a poluição em cidades, que se tornaram insalubres. Sob essa perspectiva, a primeira sociedade ambientalista privada foi criada na Inglaterra em 1863, chamada de Commons, Foot-paths, and Open Spaces Preservation Society (Mccormick, 1992). Já nos Estados Unidos, os primeiros grupos ambientalistas são da virada dos séculos XIX e XX, estabelecidos com base em duas compreensões das relações do homem com a natureza: os preservacionistas, que defendiam a manutenção de áreas virgens, intocadas, sem a interferência de atividades humanas; e os conservacionistas, centrados na racionalização e compatibilização do uso dos recursos naturais com a proteção ao ambiente (Mccormick, 1992). Essas leituras são re�exos das discussões da época, assentadas ora na proteção da vida selvagem, ora nos efeitos da industrialização e da urbanização. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL No �nal da década de 1950 e início da década de 1960, começa a surgir uma nova articulação de grupos e entidades de proteção ao meio ambiente, in�uenciados pelos riscos da corrida nuclear, da explosão demográ�ca e do aumento degradação ambiental, fatores esses que foram exteriorizados por meio de denúncias formuladas através da publicação de livros e artigos acadêmicos. Um caso emblemático é a obra Primavera Silenciosa, de autoria da bióloga Rachel Carson, em 1962, que demonstrou os efeitos nocivos da contaminação por pesticidas na agricultura e as consequências para o equilíbrio ecológico. Essa publicação teve enorme repercussão nos meios acadêmicos e políticos, in�uenciando decisivamente o movimento ambientalista e abrindo as discussões que levaram o governo norte-americano a criar a sua agência de proteção ao meio ambiente nos anos de 1970. As décadas de 1970 e 1980 trouxeram uma nova con�guração na estrutura do movimento ambientalista. Se, em um primeiro momento, os movimentos ambientalistas eram oriundos de pautas convergentes de determinados setores da sociedade, o avanço das questões ecológicas no tabuleiro político e econômico da governança global impuseram uma nova estruturação. Eles começam a se organizar, em nível institucional, por meio de pessoas jurídicas de caráter não governamental, ora em organizações de âmbito internacional, que traziam em seu bojo a premissa que os problemas ecológicos não eram somente locais, mas conjugavam aspectos transfronteiriços e globais, ora como entidades nacionais, orientadas por pautas regionais e locais, focados nos projetos de desenvolvimento sustentável de acordo com a realidade em cada país. Em qualquer dessas perspectivas, teríamos doravante a expansão de organizações de caráter não governamental, estimuladas pelas Nações Unidas. No início do século XXI, surgiram novas formas de atuação em face dos problemas ambientais por meio de ativismos impulsionados pelos avanços das novas tecnologias de informação e comunicação, especialmente a internet e suas redes sociais. Uma das formas é o ciberativismo, em que comunidades virtuais de pessoas com propósitos e pautas convergentes estimulam determinadas práticas. Um exemplo é o evento anual chamado Hora do Planeta, criado pela organização WWF, que é responsável por conjugar centenas de cidades e quase 1 bilhão de pessoas em defesa das pautas patrocinadas pelo movimento, como a emergência climática e a perda da biodiversidade. Um importante ativismo recente, que conjuga a atuação virtual e real, é o movimento de jovens suecos, iniciado pela jovem Greta Thunberg, que, em maio de 2018, iniciou um protesto escolar às sextas-feiras, em frente ao Parlamento sueco, cobrando medidas contra a mudança climática. A princípio, sozinha, e depois com a companhia de milhares de jovens, que deixavam de participar das aulas para protestar. Greta inspirou um movimento que se espalhou pelo mundo com o nome de “sextas-feiras pelo clima”. O movimento continua e é considerado um dos principais ativismos ambientais na contemporaneidade. Siga em Frente... Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Os principais movimentos e organizações não governamentais ambientais A compreensão dos movimentos ambientalistas, como conhecemos atualmente, está diretamente ligada às organizações não governamentais (ONGs). O conceito de ONGs é para aquelas pessoas que não se enquadram como governamentais ou empresariais de �ns lucrativos; portanto, em sentido amplo, estão incluídos conceitualmente os sindicatos, as organizações pro�ssionais e as entidades com pautas especí�cas, como de consumidores, de questões identitárias e outras de promoção social. Mas o conceito de ONGs na área ambiental é mais restrito. Elas são de�nidas como pessoas privadas, não governamentais, sem �ns lucrativos, com propósitos de intervenção acerca de questões globais aos locais, em prol das iniciativas de proteção e promoção do meio ambiente. Outras expressões são utilizadas como equivalentes para caracterizar as ONGs ambientalistas, como entidade do terceiro setor, ou ainda, organizações da sociedade civil. As ONGs ambientalistas tiveram um forte estímulo e articulação a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, no ano de 1972. Diante das dinâmicas dos problemas ecológicos, que são transfronteiriços, algumas das principais entidades ambientalistas estão organizadas em nível internacional. Vamos destacar algumas das principais organizações globais de proteção ambiental. A primeira delas é o WWF, que é o Fundo Mundial para a Natureza, criado em 1961, na cidade de Gland, Suíça. Com mais de 5 milhões de associados em todo o mundo, o WWF tem “[...] como missão global conter a degradação do meio ambiente e construir um futuro no qual as pessoas vivam em harmonia com a natureza” (WWF, 2020). Tem linha centrada em projetos que atuem na conservação da biodiversidade mundial, na garantia da sustentabilidade de recursos naturais renováveis e na redução da poluição e do desperdício. O WWF-Brasil foi criado em 1996 e atua por meio de projetos no contexto econômico e social brasileiro, em especial nos biomas brasileiros, como a Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e nos ecossistemas marinhos. Suas iniciativas “[...] buscam proteger e restaurar a biodiversidade, fortalecera agricultura familiar e a produção local, além de gerar estudos sobre o impacto do desmatamento e das queimadas” (WWF, 2020). A segunda organização é o Greenpeace, criado em Vancouver, Canadá, em 1971. Trata-se de uma das mais combativas organizações ambientalistas, que tem atuação por meio do ativismo ambiental e de mecanismos de pressão sobre governos e empresas. O Greenpeace é mantido exclusivamente por seus associados, recusando �nanciamento público ou empresarial. Entre as suas principais missões e valores estão (i) proteger os ecossistemas e a biodiversidade em todas as suas formas; (ii) promover a paz, o desarmamento global e a não violência; (iii) enfrentar as mudanças climáticas: (iv) promover soluções sustentáveis junto à sociedade (Greenpeace, 2022). O Greenpeace possui escritório no Brasil desde 1992 e desenvolve ações ativistas em defesa da Amazônia e contra o desmatamento; na luta contra os agrotóxicos; e no combate aos efeitos danosos da mineração; entre outras. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A terceira organização internacional é a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais – conhecida pela sigla em inglês IUCN –, criada na França, em 1948. Trata-se da maior rede de sociedades ambientais em nível global, conjugando mais de 1400 membros, entre órgãos governamentais e da sociedade civil (IUCN, 2019). No Brasil, temos algumas importantes organizações. Entre elas, destaca-se a Fundação S.O.S Mata Atlântica, que é uma ONG brasileira criada em 1986 e atua no fomento de políticas públicas para a proteção e conservação da Mata Atlântica, um dos principais biomas brasileiros. Sua atuação se dá por meio de estudos e monitoramento das intervenções antrópicas sobre o bioma, conscientização pública e o aprimoramento da legislação ambiental (SOS Mata Atlântica, 2021). Outra organização importante é o Instituto Socioambiental (ISA), organização criada em 1994, que atua na defesa da diversidade socioambiental brasileira, em especial por projetos e iniciativas em conjunto com comunidades indígenas, quilombolas e extrativistas, de modo a preservar e fortalecer a cultura e os saberes tradicionais (ISA, 2021). Por �m, o instituto O Direito Por um Planeta Verde (IDPV), pessoa jurídica sem �ns lucrativos, criada em 2005, e que reúne os principais especialistas na área do Direito Ambiental no Brasil. O IDPV, uma das entidades �liadas à IUCN, é o responsável pela edição anual do Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, fórum de discussões com pesquisas e debates acadêmicos dos principais desa�os e proposições sobre as demandas ecológicas em nível internacional e nacional. A atuação das ONGs e seus efeitos na agenda ambiental As organizações não governamentais (ONGs) possuem um papel fundamental nas instâncias deliberativas em nível internacional e nacional, em contribuição direta acerca da sensibilização sobre os problemas estruturais e no processo de formulação das políticas e estratégias de promoção e proteção ao meio ambiente. Nesse contexto, a participação da comunidade é de fundamental importância. Para exempli�car, a Declaração do Rio de Janeiro, elaborada em 1992 durante a Cúpula da Terra, destaca que “[...] o melhor modo de tratar as questões ambientais é com a participação de todos os cidadãos interessados, em vários níveis” (ONU, 1992). Um dos níveis de participação é, sem dúvida, por meio das organizações ambientalistas. No Brasil, a importância das ONGs ambientalistas está presente no seu reconhecimento pelo poder público. No âmbito federal, temos o Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas, com 673 delas inscritas e distribuídas em todas as regiões do país (Brasil, 2019). Outro ponto de destaque são os conselhos do meio ambiente, constituindo uma das principais formas de participação e atuação na formulação de políticas públicas ambientais. Esses conselhos de meio ambiente são obrigatórios em todos os níveis federativos para aqueles que pretendem efetuar o licenciamento ambiental de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, ou seja, se um estado ou um município decidir licenciar atividades, além de órgão ambiental capacitado, ele deverá possuir conselho de meio ambiente com caráter deliberativo. O mais relevante desses órgãos no país é o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, que conjuga integrantes eleitos entre as ONGs ambientalistas brasileiras inscritas no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas. A Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL estrutura jurídica brasileira prevê, também, a existência de conselhos com participação comunitária e/ou de pessoas jurídicas ambientalistas em casos de unidades de conservação e nos órgãos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos no Brasil, como os comitês de bacia hidrográ�ca, os conselhos estaduais e o nacional, de recursos hídricos. Outra forma de participação das ONGs ambientalistas em conjunto com o poder público é por meio de parcerias em projetos e programas para o desenvolvimento sustentável. Um dos exemplos de �nanciamento é por meio dos fundos de meio ambiente, com recursos �nanceiros destinados para projetos de soluções sustentáveis e setores especí�cos, como biomas, populações tradicionais, combate à poluição, dentre outros. O Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pelo governo brasileiro por meio da Lei 7.797, em 1989, é o mais antigo da América Latina e tem apoiado uma série de iniciativas nesse âmbito (Brasil, 1989). Há, ainda, fundos ambientais nos estados e municípios, assim como aqueles para áreas como a proteção da biodiversidade e das �orestas públicas brasileiras. Em geral, as entidades ambientalistas exercem mecanismos permanentes de acompanhamento e �scalização das intervenções e pressões que empresas e governos realizam no meio ambiente. Duas formas podem ser destacadas: a atuação administrativa e a judicial. Na primeira delas, a administrativa, as ONGs costumam acionar e cobrar a �scalização dos órgãos governamentais de proteção ao meio ambiente – como o IBAMA, na esfera federal –, em caso de infrações ambientais praticadas por empresas privadas e pelo próprio poder público. A segunda forma é a intervenção na esfera judicial, em que as pessoas jurídicas ambientalistas criadas há mais de um ano e com �nalidades institucionais ambientais possuem legitimidade processual para ajuizar ação civil pública para a defesa do meio ambiente, inclusive em casos de ocorrência de danos ambientais, conforme dispõe a Lei Federal 7.347/1985 (Brasil, 1985). Por �m, podem acionar Ministério Público, em caso de crimes ambientais cometidos por pessoas físicas ou jurídicas, para que ele faça a proposição da competente ação penal de responsabilização. Além desse contexto de atuação em face das instituições públicas e setor empresarial, é importante destacar que muitas ONGs são criadas para projetos na escala da proximidade, ou seja, nos lugares em que vivem comunidades e pessoas que são bene�ciadas ou atendidas pelas suas iniciativas, além de estratégias de melhoria das condições de vida e de preservação e conservação dos recursos naturais. Outras ONGs atuam na produção de dados, estudos e pesquisas que irão subsidiar um conjunto de proposições públicas e privadas em suas áreas institucionais, muitas vezes realizado em parceria com instituições de ensino. Da mesma forma, algumas ONGs estabelecem projetos de educação ambiental, para a formação de uma consciência pública sobre a importância da proteção ambiental, estimulando a participação comunitária e dos setores organizados da sociedade civil. Vamos Exercitar? Vamos retomar o projeto de Daniel e a ONG, para a empresa em que Daniel trabalha. Visando uma mudança de perspectiva da empresa em atuar somente considerando os lucros, sem Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL preocupações sustentáveis, ele propôs alterações nos processos produtivo. Daniel justi�cou que o projeto seria no sentido de promover o marketing da empresa, a sua expansão,atrair novos negócios e investimentos, a �m de modi�car no mercado a imagem da empresa pela postura antiética no contexto social-ambiental. Agora, respondendo aos questionamentos da nossa situação-problema inicial, essa empresa, pela resistência à proposta de Daniel, demonstrou ser contrária ao projeto, pois vê a ONG em desfavor ao seu interesse. Esse interesse pode ser considerado escuso, por parecer ter como único e exclusivo objetivo o lucro da empresa em detrimento do meio ambiente. Tal fato não caracteriza interesses econômicos, porque lucro não deve ser confundido com a economia que a integra, uma vez que a economia não despreza o respeito ao meio ambiente e tampouco à responsabilidade social. Por �m, é importante considerar que as ONGs, organismos internacionais e interesses econômicos e políticos do Estado não são opostos. Assim, para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado, deve ocorrer, inevitavelmente, o alinhamento entre eles. Saiba mais As organizações da sociedade civil desempenham um papel fundamental na agenda de nossas sociedades, com projetos e iniciativas com impacto social, em benefício de grupos, comunidades e cidades. Seja conhecendo, se bene�ciando ou mesmo atuando pro�ssionalmente em uma delas, as organizações da sociedade civil estão na linha de frente dos desa�os do nosso tempo. Portanto, como pro�ssional, é importante conhecer os trabalhos dessas entidades. Como sugestão, conheça o trabalho do Observatório do Terceiro Setor, uma agência brasileira de conteúdo multimídia com foco nas temáticas sociais e nos direitos humanos. Nesta aula, abordamos questões que envolvem o conceito de ambientalismo. Para saber mais como surgiu o ambientalismo, acesse Raízes do ambientalismo. As ONGs são organizações formadas pela sociedade civil sem �ns lucrativos, cuja missão é a resolução de algum problema da sociedade. Atuam em áreas nas quais há falhas com relação à assistência por parte do governo, como as ambientais, econômicas e sociais. Elas são chamadas de Terceiro Setor. Para saber mais sobre o assunto, acesse a página A importância das ONGs ambientais na luta pela conservação do meio ambiente. Referências BRASIL. Lei 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF. https://observatorio3setor.org.br/ https://revistapesquisa.fapesp.br/raizes-do-ambientalismo/ https://dialogoshistoricos.wordpress.com/ambiente/a-importancia-das-ongs-ambientais-na-luta-pela-conservacao-do-meio-ambiente/ https://dialogoshistoricos.wordpress.com/ambiente/a-importancia-das-ongs-ambientais-na-luta-pela-conservacao-do-meio-ambiente/ Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/? tipo=LEI&numero=7347&ano=1985&ato=955oXR65keBpWTffb. Acesso em: 20 out. 2023. BRASIL. Lei 7.797, de 11 de julho de 1989. Cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente. Diário O�cial da União, Brasília, DF. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/? tipo=LEI&numero=7797&ano=1989&ato=e40cXR61EeFpWT814. Acesso em: 20 out. 2023. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Cadastro nacional de entidades ambientalistas 2019. Disponível em: http://cnea.mma.gov.br/entidades-cadastradas. 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Aula 5 Encerramento da Unidade Antropoceno e as crises social e ambiental https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=7347&ano=1985&ato=955oXR65keBpWTffb https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=7347&ano=1985&ato=955oXR65keBpWTffb https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=7797&ano=1989&ato=e40cXR61EeFpWT814 https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=7797&ano=1989&ato=e40cXR61EeFpWT814 http://cnea.mma.gov.br/entidades-cadastradas.%20Acesso%20em:%2010%20ago.%202023 https://www.greenpeace.org/brasil/quem-somos/ https://www.socioambiental.org/sites/default/files/2022-06/Relatorio-2021-F11.pdf https://cms.sosma.org.br/wp-content/uploads/2022/07/Relatorio_21_julho.pdf https://cms.sosma.org.br/wp-content/uploads/2022/07/Relatorio_21_julho.pdf https://portals.iucn.org/library/sites/library/files/documents/2020-012-Pt.pdf https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20do%20desperd%C3%ADcio https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20do%20desperd%C3%ADcio https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20do%20desperd%C3%ADcio https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20do%20desperd%C3%ADcio Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Chegada Olá, estudante! Para desenvolver a competência desta unidade, que é conhecer e re�etir sobre os desa�os sistêmicos no contexto do antropoceno, identi�cando os principais problemas e articulando os valores necessários para a sustentabilidade, você deverá, primeiramente, conhecer os conceitos fundamentais dos seguintes pontos: Antropoceno, mudanças climáticas, desigualdades socioambientais e movimentos ambientais. Primeiramente, você observou que o conceito de Antropoceno é bastante questionado por parte da comunidade cienti�ca, isso porque, a época geológica que vivemos atualmente é chamada de Holoceno, e, de acordo com a Comissão Internacional sobre Estratigra�a (ramo da geologia que estuda, descreve e classi�ca camadas rochosas, os estratos, e as correlacionam espacialmente e temporalmente), o Holoceno começou há, aproximadamente, 11.650 anos (Wicander; Reed; Monroe, 2017). Na escala de tempo geológico, o Holoceno faz parte do Período Quaternário, que começou há cerca de 12 mil anos e segue até os dias atuais. Seu nome signi�ca totalmente recente, e é a época mais recente da história da Terra. Iniciou-se após o �m do último período glacial do planeta e, por isso, ele também é chamado de período pós-glacial. Entre suas características climáticas, destaca-se por apresentar uma razoável estabilidade, fator que favoreceu o avanço das populações humanas em diversas regiõesdo planeta (Wicander; Reed; Monroe, 2017). A estabilidade climática propiciou o desenvolvimento econômico e social, e o ser humano expandiu as atividades agrícolas e a domesticação dos animais, construiu cidades e montou uma máquina de produção e consumo de bens e serviços (Alves, 2020). Assim, a população humana pôde estruturar-se e expandir-se, de cerca de 5 milhões, no início do Holoceno, para cerca de 8 bilhões, em 2023 (ONU, 2023). https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u1enc_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Diante desse cenário, você pode compreender que toda essa expansão trouxe mudança expressivas no meio ambiente, gerando uma série de impactos ambientais, como o aumento drástico nos níveis dos GGE (gases do efeito estufa), extinção em massa de espécies animais e vegetais, desenvolvimento de novas doenças e novos vírus, poluição do ar. A análise dos dados da Angus Maddison, Historical Statistics of the World Economy e FMI 2022 demonstram que a economia global cresceu 135 vezes em 250 anos, a renda per capita cresceu 15 vezes, enquanto a população mundial cresceu 9,2 vezes (Global Footprint Network, 2022). Figura 1 | Crescimento da economia, da população e da renda per capita mundial: 1722:2022. Fonte: Angus, Maddison, Historical Statistics of the Worl Economy e FMI 2022. Entretanto, você pode perceber que todo esse crescimento e enriquecimento humano ocorreu às custas do encolhimento e empobrecimento do meio ambiente. As atividades antrópicas ultrapassaram vários indicadores de sustentabilidade, como a capacidade de carga da Terra e a Pegada Ecológica da humanidade, que extrapolaram a biocapacidade do planeta. Esse panorama só parece piorar: a cada dia a nossa dívida com a natureza cresce e, junto com ela, também cresce o processo de degradação ambiental, que pode destruir a base ecológica que sustenta a economia e a sobrevivência humana (Alves, 2020). Como exemplo disso, as análises dos resultados em 2013 demostraram que a Pegada Ecológica global estava 68% acima da biocapacidade. Ou seja, a população mundial está utilizando cerca de 1,7 do planeta e caminha para o uso de dois planetas até 2030. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Figura 2 | Pegada Ecológica e biocapacidade global: 1961-2013. Fonte: adaptado de York University, FoDaFo, Global Footprint Network, 2023. O mundo vive um período de transformações inéditas, no que tem sido denominado por cientistas e pensadores como a era do Antropoceno, que signi�ca época da dominação humana, período em que a humanidade se tornou a força impulsionadora da degradação ambiental e o vetor de ações que são catalisadoras de uma provável catástrofe ecológica. Se, por um lado, as últimas décadas registraram um forte crescimento da economia e do consumo com a globalização, por outro lado, a explosão demográ�ca, a urbanização e o aumento da poluição estão provocando uma série de crises em nível global. Nesse contexto, um dos principais desa�os é a questão da mudança do clima, em que os efeitos adversos do aquecimento global, potencializados pela emissão de gases de efeito estufa, são sentidos em todo o planeta. É importante frisar que o efeito estufa é fundamental para a manutenção da vida no nosso planeta, responsável pela regulação da temperatura média global. Esse aquecimento ocorre pela radiação solar. Parte dessa energia emitida pelo Sol à Terra é re�etida para o espaço, outra parte é absorvida pela superfície terrestre e pelos oceanos. Uma parcela do calor irradiado de volta ao espaço é retida pelos gases de efeito estufa (dióxido de carbono (CO2), o gás metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o ozônio (O3) e o vapor d’agua), de tal modo que o equilíbrio energético é mantido, fazendo com que não haja grandes amplitudes térmicas e as temperaturas �quem estáveis (Xavier; Kerr, 2008). Entretanto, as atividades humanas, como aquelas ligadas à indústria, atividades agropecuárias, uso de transportes e desmatamento estão potencializando o efeito estufa, pois são grandes geradores dos gases do efeito estufa. Consequentemente, mais calor é aprisionado no sistema, gerando o processo de aquecimento global. E, como resultado, temos a recorrência de eventos climáticos e meteorológicos: chuvas, enchentes, tempestades, ciclones e secas são cada vez Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL mais intensos, afetando as atividades agropecuárias e os ecossistemas, com a perda da biodiversidade e a extinção de componentes da �ora e da fauna. Esse quadro é reconhecido não somente pela ciência, mas também pelo conjunto de atores do tabuleiro institucional, como organismos multilaterais, governos, setor empresarial e sociedade civil. Tendo como referência o Acordo de Paris, que é um tratado global, os Estados têm se comprometido a reduzir a emissão dos seus gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global, além do compromisso com um conjunto de medidas para reduzir as vulnerabilidades de países, regiões e cidades em face da mudança do clima. Enquanto o mundo se depara com as exigências da mudança do clima, um antigo problema estrutural está de volta: o aumento da desigualdade econômica e social no mundo. Além de impactar negativamente a economia e as relações sociais, a desigualdade tem se manifestado em diversas dimensões, e uma delas é a ambiental. Ou seja, temos agora a desigualdade ambiental, que se con�gura ora com as disparidades no acesso e consumo dos recursos naturais entre países, ora com a alocação de riscos ambientais para regiões e populações mais vulneráveis, afetadas desfavoravelmente pela poluição e danos ambientais. Além disso, mais recentemente, em decorrência da emergência climática, temos o surgimento dos deslocados ambientais, pessoas e grupos que são obrigados a deixar seus lares e países por conta de desastres e eventos climáticos. Sob essas circunstâncias, a sociedade civil, por meio das organizações não governamentais, conhecidas pela sigla ONGs, tem se organizado e proposto medidas de combate às principais crises na proteção do meio ambiente, seja por atuação em nível internacional, como o enfrentamento da mudança do clima e da perda da biodiversidade, seja por atuação nacional e regional, diretamente em projetos e iniciativas com povos tradicionais, pessoas e cidades. Por tudo que se relacionou, constata-se que estamos em um período de problemas sistêmicos, com consequências diretas nas atividades econômicas e sociais. Portanto, a importância do conhecimento e compreensão dessas questões é um elemento agregador na formação pro�ssional, justamente para se preparar para o manejo dos instrumentos e mecanismos de superação das crises. É Hora de Praticar! Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Em uma localidade no interior do Brasil, a notícia da possível implantação de uma fábrica potencialmente causadora de signi�cativa degradação ambiental está causando intensos debates entre poder público e moradores. De um lado, o poder público, em defesa da nova atividade econômica, argumentando, em síntese, a oferta de novos empregos para a cidade. De outro lado, moradores mais antigos, preocupados com os impactos da possível instalação da fábrica para o meio ambiente, em especial porque a cidade tem sofrido com eventos climáticos, como a ausência de chuvas e a falta de água para as atividades produtivas. Entre essas leituras, encontra-se uma parcela substancial da população, que está apreensiva e não dispõe de um conjunto de informações para uma opinião favorável ou contrária sobre a implementação do novo empreendimento. Nesse contexto, você, consultor na área ambiental, é contratado por uma organização não governamental (ONG) com atuação na localidade para conferir as orientações dos processosde análise e decisão sobre a possível instalação da fábrica. A ONG pretende solicitar uma audiência pública e usar as informações que você, enquanto consultor, produziu para a compreensão da dinâmica do processo de decisão para possível aprovação ou não da fábrica. Você acredita que o aquecimento global esteja acontecendo no nosso planeta em decorrência das atividades humanas ou é um apenas um processo natural? Na sua opinião, está correto o uso do termo Antropoceno para descrever a época mais recente da história do planeta Terra? Para você, o mundo, no atual momento, passa por um período com aumento da desigualdade econômica e social? Em primeiro lugar, ao ser contratado como consultor, é importante destacar a legitimidade de todos os envolvidos – população, ONGs e poder público – no processo de consciência e participação sobre a possível instalação dessa nova fábrica. Isso porque a legislação brasileira e os instrumentos internacionais de proteção ao meio ambiente destacam a centralidade do princípio da participação comunitária, ou seja, que todos os afetados e interessados direta e indiretamente sejam ouvidos no processo de tomada de decisão. No caso, de um lado há o interesse do poder público, justi�cado pela possibilidade de geração de novos empregos na cidade; de outro lado, uma parcela dos moradores preocupados com os impactos dessa nova fábrica no ambiente e nas suas atividades. De forma a conferir respaldo técnico às informações de sua consultoria, é importante enumerar alguns dos principais diplomas da participação comunitária, como a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, que dispõe em seu art. 10 que “[...] o melhor modo de tratar as questões ambientais é com a participação de todos os cidadãos interessados [...]”; e isso inclui “[...] a informação sobre os materiais e as atividades que oferecem perigo a suas comunidades, assim como a oportunidade de participar dos processos de adoção de decisões” (ONU, 1992). Outro importante diploma nesse sentido é o Acordo de Escazú, que garante os “direitos de acesso”, compreendendo o direito à informação, à participação pública nos processos de tomada de decisões em questões ambientais e o direito de acesso à justiça (ONU, 2018). No que se refere à legislação brasileira, ela estabelece a participação em vários diplomas legais, prevendo a audiência e a consulta pública no licenciamento ambiental de atividades Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL potencialmente causadoras de signi�cativa degradação ou poluição, situação correspondente ao caso em discussão (Conama, 1986; 1987; 2020). Ou seja, todas vezes que se con�gurar uma obra ou atividade causadora de poluição ou degradação de forma signi�cativa, haverá a possibilidade de uma audiência pública para ouvir a população. E, nesse caso, o órgão ambiental responsável deverá trazer as informações dos impactos positivos e negativos do empreendimento. É pertinente destacar que nessa audiência pública a população poderá fazer perguntas, esclarecer dúvidas e ter acesso às informações que julgar necessárias para compreender as implicações de uma fábrica. Portanto, esse conjunto de dados deverá ser evidenciado em sua consultoria. Por esses elementos, ressalta-se que as políticas públicas que afetam pessoas, populações, cidades e regiões devem ser fruto de uma construção dialógica entre os atores envolvidos, e não a sobreposição de uma única interpretação. Para �xar seu aprendizado, veja no infográ�co a seguir os principais tópicos estudados nesta unidade: Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Figura 1 | Antropoceno e as crises social e ambiental: conceitos importantes. Fonte: elaborado pelo autor. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL ALVES, J. E. D. Antropoceno: a era do colapso ambiental. Disponível em: https://cee.�ocruz.br/? q=node/1106. Acesso em: 27 ago. 2022. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução Conama nº 001/1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 17 fev. 1986, p. 2548-2549. Disponível em: http://conama.mma.gov.br/? option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=745. Acesso em: 30 ago. 2023. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução Conama nº 009/1987. Dispõe sobre a questão de audiências públicas. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 5 jul. 1990, p. 12945. Disponível em: http://conama.mma.gov.br/? option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=60. Acesso em: 30 ago. 2023. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução Conama nº 424/2020. Estabelece, em caráter excepcional e temporário, nos casos de licenciamento ambiental, a possibilidade de realização de audiência pública de forma remota, por meio da Rede Mundial de Computadores, durante o período da pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19). Diário O�cial da União, Brasília, DF, 12 ago. 2020, seção 1, p. 154. Disponível em: http://conama.mma.gov.br/? option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=793. Acesso em: 30 ago. 2023. COSTA, A. Antropoceno: desmandamentos gravados em rocha. In: Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da terra, v. 1. Rio: Machado, 2023. GLOBAL FOOTPRINT NETWORK. Crescimento da economia, da população e da renda per capita mundial: 1722:2022. Disponível em: http://data.footprintnetwork.org/. Acesso em: 19 out. 2023. ONU. Acordo regional sobre acesso à informação, participação pública e acesso à justiça em assuntos ambientais na América Latina e no Caribe, adotado em Escazú (Costa Rica) em 4 de março de 2018. Disponível em: https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43611/S1800493_pt.pdf? sequence=1&isAllowed=y . Acesso em: 30 ago. 2023. ONU. Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40141992000200013. Acesso em: 30 ago. 2022. ONU. População mundial deve ultrapassar marca de 8 bilhões ainda este ano. ONU News. Disponível em: https://curtlink.com/qjDY. Acesso em: 19 out. 2023. York University, FoDaFo, Global Footprint Network, 2023. Disponível em: https://data.footprintnetwork.org/#/countryTrends?cn=5001&type=BCpc,EFCpc. Acesso em: 21 mar. 2024. WICANDER, R.; MONROE, J. Geologia. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2017. XAVIER, M. E. R.; KERR, A. A. F. S. O efeito estufa e as mudanças climáticas globais. USP Repositório, 2008. Disponível em: http://www.fap.if.usp.br/~akerr/efeito_estufa.pdf. Acesso em: 19 out. 2023. , Unidade 2 Governança e proteção ambiental https://cee.fiocruz.br/?q=node/1106 https://cee.fiocruz.br/?q=node/1106 http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=745 http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=745 http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=60 http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=60 http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=793 http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=793 http://data.footprintnetwork.org/ https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43611/S1800493_pt.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43611/S1800493_pt.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://doi.org/10.1590/S0103-40141992000200013 https://curtlink.com/qjDY https://data.footprintnetwork.org/#/countryTrends?cn=5001&type=BCpc,EFCpc http://www.fap.if.usp.br/~akerr/efeito_estufa.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Aula 1 Proteção Ambiental Internacional Proteção ambiental internacional Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bonsestudos! Ponto de Partida Olá, estudante! É uma alegria tê-lo conosco em mais uma aula da disciplina de Responsabilidade Social e Ambiental! Nossa temática será sobre o sistema de proteção e governança ambiental internacional. Ela permitirá que você compreenda o processo de reconhecimento e a�rmação da proteção ambiental no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Por meio das conferências da ONU, discussões como mudanças do clima, sustentabilidade e outras passaram a fazer parte do nosso dia a dia pro�ssional. Além disso, há a aplicabilidade dos documentos internacionais no ordenamento jurídico brasileiro, em um diálogo cada vez mais recorrente, para que os desa�os ambientais sejam enfrentados por todos os Estados. Você, que atua como professor em uma instituição do ensino fundamental e médio, �cou responsável pela elaboração de uma atividade extracurricular, cujo objetivo é descartar a importância dos acordos e conferência ambientais. Para isso, decidiu organizar uma mostra de painéis trabalhando os pontos descritos a seguir: O que é a ONU? Qual a sua importância para a temática ambiental e social? https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u2a1_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Qual a importância das conferências ambientais? Escolha e discorra sobre uma importante conferência de sua escolha. Vamos Começar! A proteção ambiental internacional A temática ambiental entrou na agenda global na década de 1960, do século passado, a partir das preocupações com os efeitos da explosão demográ�ca mundial e do aumento da poluição. Em um período de forte expansão do comércio e das atividades econômicas houve a constatação dos limites desse crescimento, que se tornou um assunto de debates entre pesquisadores e atores das instâncias internacionais. O sistema internacional contemporâneo é relativamente recente, originado no �nal da Segunda Guerra Mundial, com a Conferência de São Francisco, de 1945, que aprovou a Carta de São Francisco, de criação da Organização das Nações Unidas (ONU). O propósito primordial da ONU é o de garantir a paz mundial, mas também o de “conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário [...]” e de “ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns” (Brasil, 1945). Assim, a ONU se tornou o centro das discussões globais, atuando por meio de seus conselhos: Segurança, Econômico e Social e outros; de suas comissões: Direitos Humanos (desde 2006 se transformou em Conselho) etc.; E de suas agências especializadas: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO); Fundo Monetário Internacional (FMI). No que se refere ao direito internacional, em que os principais sujeitos são os Estados, é preciso destacar o papel da ONU, que se tornou o lócus de formação de um arcabouço de normas e instituições em várias áreas, como direitos humanos, educação, cultura e meio ambiente. Com essa perspectiva, a discussão entre Estados é fundamental para a formação de normas ambientais internacionais com o objetivo comum de proteção ao meio ambiente em todas as suas dimensões. Vários problemas ambientais são de caráter transnacional e exigem ações multilaterais e cooperativas (Bursztyn; Bursztyn, 2012). A formalização da proteção ambiental no âmbito internacional se dá essencialmente por meio de dois tipos de atos: tratados e declarações. Os tratados são �rmados entre Estados e podem ser bilaterais (dois Estados) ou multilaterais (vários Estados). Um tratado possui força jurídica vinculante, assim, é chamado de hard law. Os tratados podem ser globais, quando estabelecidos em organizações de abrangência mundial (exemplo: ONU), ou regionais, quando �rmados por países de uma determinada região do mundo ou em uma organização delimitada geogra�camente (exemplo: OEA). Os tratados de direito ambiental costumam receber a denominação de convenção, porque costumam ser oriundos de conferências especí�cas para Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL debater temáticas ambientais. Já as declarações, que no direito ambiental não têm força jurídica vinculante, são chamadas de soft law, ou seja, não são normas impositivas, mas formam os princípios do direito internacional. Esses são gradativamente reconhecidos nas instâncias internacionais e nacionais. Portanto, ao estudar o direito ambiental, esses dois tipos de atos são os mais frequentes. Os tratados em matéria ambiental costumam ter algumas características, tais como: (i) os países signatários se submetem às regras comuns; (ii) os países adotam uma cooperação interestatal, por meio de agências internacionais ou órgãos especí�cos que são criados; (iii) o conteúdo dos tratados depende do estágio atual do conhecimento cientí�co; (iv) os tratados podem comportar obrigações diferenciadas entre países (Bursztyn; Bursztyn, 2012). Os tratados ambientais são compromissos para enfrentar questões como poluição, diversidade biológica, mudança do clima, �orestas, dentre outros, que são reveladores de como as dinâmicas ambientais não respeitam fronteiras de Estados. Exige-se deles a cooperação e a articulação comum para o enfrentamento dos desa�os ambientais. É evidente que esse é um processo complexo, com di�culdades, porque a estrutura do direito internacional foi construída em observância a um dos pressupostos do Estado moderno, a soberania. E isso signi�ca a autodeterminação dos seus territórios para dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais. Além disso, a autodeterminação está diretamente ligada ao desenvolvimento, que é um argumento presente entre os países, em especial os emergentes, marcados pela desigualdade em múltiplas dimensões – econômica, social, ambiental. A cooperação para lidar com os problemas ambientais deve equacionar esses desa�os. Isso demonstra a complexidade dos debates nas instâncias internacionais. A partir da década de 1970, há o franco desenvolvimento do direito internacional do meio ambiente, que ocorreu com as conferências no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), como observaremos a seguir. Siga em Frente... As conferências ambientais da ONU Entender o processo de constituição das instâncias de governança ambiental internacional passa pela compreensão das conferências das Nações Unidas sobre a temática. Da primeira conferência, em 1972, até os dias atuais, a ONU promoveu quatro conferências mundiais, que foram decisivas para que assuntos como meio ambiente equilibrado, desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, entre outros, assumissem centralidade na agenda global. São elas: 1. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (1972). 2. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992). Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL 3. Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+10 (2002). 4. Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 (2012). Em 1968, a Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução 2.398 (XXIII), decidiu pela realização de uma conferência mundial para discutir as questões ambientais. Dessa forma, ocorreu, de 5 a 16 de junho de 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que é considerada um marco do direito ambiental internacional. No curso dos trabalhos da Conferência, os países participantes dividiram-se em duas correntes de interpretação dos problemas ambientais (Melo, 2017): (i) de um lado, os preservacionistas, liderados pelos países desenvolvidos, que defenderam a mitigação nas intervenções antrópicas do meio ambiente; e (ii) de outro, os desenvolvimentistas, composta pelos países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, que defendiam a aceitação da poluição e que a preocupação deveria ser com o crescimentoeconômico. Ao término dos trabalhos, foi editada a Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano, com 26 princípios. O Princípio 1 da Declaração reconhece o meio ambiente com qualidade como direito fundamental: O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras (Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano, 1972). No quadro de governança internacional, em dezembro de 1972, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com sede em Nairóbi, Quênia, responsável por promover a proteção ao meio ambiente e o uso e�ciente de recursos naturais no contexto do desenvolvimento sustentável. O PNUMA é uma agência do sistema das Nações Unidas e a principal autoridade global em meio ambiente (Melo, 2017). A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), realizada em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, também conhecida como a Cúpula da Terra, representou o momento máximo da preocupação ambiental global. Foram produzidos cinco documentos internacionais: (i) Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; (ii) Agenda 21; (iii) Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima; (iv) Convenção sobre Diversidade Biológica ou da Biodiversidade (v) Declaração de Princípios sobre Florestas. A Declaração do Rio é um documento que contém 27 princípios, norteadores do direito ambiental na esfera internacional e fonte para o desenvolvimento principiológico na legislação ambiental dos países. No que se refere à Agenda 21, trata-se de um documento programático com 40 capítulos, em que se estabelecem diretrizes para a implementação do desenvolvimento sustentável, do espaço global ao local. Já a Convenção sobre Diversidade Biológica é o mais importante instrumento internacional de proteção da biodiversidade. Os objetivos da Convenção sobre Diversidade Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Biológica são: (i) a conservação da diversidade biológica; (ii) a utilização sustentável de seus componentes; e (iii) a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante �nanciamento adequado (Melo, 2017). Por �m, a Declaração de Princípios sobre Florestas é um documento sem força jurídica vinculativa. Em seu conteúdo, essa declaração exprime que os países, em especial os desenvolvidos, devem empreender esforços para recuperar a Terra por meio de re�orestamento, arborização e conservação �orestal. Em 2002, a ONU promoveu, em Johanesburgo, África do Sul, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Rio+10. Em seus debates, emergiu a necessidade de adoção de medidas concretas para executar os objetivos da Agenda 21, até então não su�cientemente implementados, além do enfoque na importância da concretização de políticas públicas para um crescimento com sustentabilidade. Dois foram os documentos o�ciais da Cúpula Mundial: (i) Declaração Política; e (ii) o Plano de Implementação. A Declaração Política, denominada O Compromisso de Johanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável, rea�rma os princípios das duas conferências anteriores e faz uma análise da pobreza e da má distribuição de renda no mundo. O Plano de Implementação é o documento das metas, assentadas em três objetivos: (i) a erradicação da pobreza; (ii) a alteração nos padrões insustentáveis de produção e consumo; e (iii) a proteção dos recursos naturais para o desenvolvimento econômico e social. A partir deles, o Plano de Implementação relaciona as medidas de desenvolvimento sustentável para cada região do planeta. Em junho de 2012, a cidade do Rio de Janeiro foi palco da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). A Rio+20 teve dois temas principais: (i) a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e (ii) a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável (Melo, 2017). A Rio+20 não teve a mesma representatividade das conferências anteriores. Os países desenvolvidos, diante da crise econômica global de 2008, optaram por não se comprometer com medidas vinculantes ou mesmo metas especí�cas para as diversas temáticas com pertinência ambiental. O documento �nal da Conferência é denominado O Futuro que Queremos, e contém 283 tópicos que, em linhas gerais, relaciona a renovação dos compromissos políticos das conferências anteriores (Estocolmo/1972, Rio/1992 e Johanesburgo/2002) e consigna proposições genéricas da economia verde e o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável (Melo, 2017). Por �m, em 28 de julho de 2022, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução declarando que todas as pessoas têm direito a um meio ambiente limpo e saudável (ONU, 2022). Apesar de não ser vinculante, a resolução é um importante indicativo para a proteção ambiental em todo o planeta. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A Interface internacional e o direito brasileiro As decisões proclamadas nas conferências das Nações Unidas e nos acordos internacionais têm in�uência direta na estrutura jurídica e nos órgãos de governança ambiental nacional. Há uma simbiose entre direito internacional e nacional na proteção ambiental. Isso se dá tanto pela incorporação dos tratados ambientais na ordem jurídica brasileira quanto pela inspiração na elaboração de diplomas legais na legislação brasileira. Inicialmente, a aprovação de um tratado pelo Brasil passa por estágios, como a negociação, a assinatura pelo representante do Estado, a aprovação pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, e a rati�cação, ato pelo qual o país assume a obrigação de cumpri-lo no plano internacional. Com essas etapas, o tratado é válido em nível internacional. Para exempli�car, no caso da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa, o que implica uma série de medidas e instrumentos para observar as prescrições da Convenção-Quadro, e afeta todos os setores do país, como o poder público, a esfera empresarial e a sociedade civil. O Acordo de Paris, decorrência da Convenção-Quadro, também foi incorporado à ordem jurídica brasileira. Figura 1 | Status dos tratados de direitos humanos. Fonte: elaborado pelo autor. Outro exemplo de aplicabilidade dessa sistemática é Convenção sobre Diversidade Biológica, que além de incorporada internamente, proporcionou a edição do Decreto 4.339/2002, com os princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade. A Declaração de Estocolmo, de 1972, inseriu o meio ambiente no rol dos direitos humanos, enquanto o Relatório Nosso Futuro Comum, de 1987, consignou que o meio ambiente deve ser protegido para as presentes e futuras gerações. O art. 225 da Constituição de 1988, que é o coração da proteção ambiental em nível constitucional, dispôs que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental e que deve ser protegido para as presentes e futuras gerações (Brasil, 1988). Essa passagem demonstra a in�uência das discussões da ONU. Em nível infraconstitucional, o exemplo mais signi�cativo é a Declaração do Rio de Janeiro, de 1992, que trouxe princípios internacionais de proteção ao meio ambiente, que são atualmente Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL previstos na legislação brasileira, como os princípios da precaução, poluidor-pagador, participação comunitária, informação e análogos. No que se refere à estrutura administrativa brasileira, ela é igualmente in�uenciada pelas conferências das Nações Unidas. Após a realização da Conferência de Estocolmo,o Brasil criou, em 1973, no âmbito do Ministério do Interior, a Secretaria Especial de Meio Ambiente da Presidência da República, como primeiro órgão nacional de proteção ao meio ambiente. Em 1992, após a Cúpula da Terra (Rio/92), a Secretaria de Meio Ambiente se transformou no Ministério do Meio Ambiente e Amazônia Legal, integrando a estrutura diretamente vinculada à Presidência da República (Melo, 2017). Por todos esses elementos, evidencia-se a in�uência do domínio internacional em face da legislação brasileira. Vamos Exercitar? Trabalhamos, na aula de hoje, o sistema de proteção e governança ambiental internacional e ainda compreendemos o processo de reconhecimento e a�rmação da proteção ambiental no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Por meio das conferências da ONU, discussões como mudanças do clima, sustentabilidade e outras passaram a fazer parte do nosso dia a dia pro�ssional. Diante disso, você, atuando como professor em uma instituição do ensino fundamental e médio, �cou responsável pela elaboração de uma atividade extracurricular cujo objetivo é descartar a importância dos acordos e conferências ambientais. Para isso, decidiu organizar uma mostra de painéis trabalhando os pontos descritos a seguir: O que é a ONU? Qual sua importância para a temática ambiental e social? Qual a importância das conferências ambientais? Escolha e discorra sobre uma importante conferência de sua escolha. As pesquisas realizadas por meio de sua orientação geraram as informações a seguir, as quais foram organizadas nos painéis: A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma organização intergovernamental criada para promover a cooperação internacional. Uma substituição à Liga das Nações, a organização foi estabelecida em 24 de outubro de 1945, após o término da Segunda Guerra Mundial, com a intenção de impedir outro con�ito como aquele. É o principal organismo internacional e visa essencialmente: preservar a paz e a segurança mundial; estimular a cooperação internacional na área econômica, social, cultural e humanitária; promover o respeito às liberdades individuais e aos direitos humanos. Já as conferências ambientais têm o objetivo de repensar os caminhos que a sociedade está tomando. Líderes de todo o mundo buscam soluções para que o desenvolvimento econômico continue a avançar sem que os recursos naturais sejam esgotados e que não ocorra avanço da poluição. Conferência de Estocolmo; Primeira Conferência Mundial do Clima; Conferência Rio 92; A primeira de todas as COPs; COP3 e o Protocolo de Kyoto; COP21 e o Acordo de Paris. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Saiba mais Nesta aula, estudamos o sistema internacional de proteção ao meio ambiente. Como forma de nos aprofundarmos no tema, uma sugestão é conhecer o site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que mantém um banco de dados com as principais convenções internacionais em matéria de meio ambiente. Trata-se de uma oportunidade de conhecer os documentos e instrumentos globais das principais temáticas ambientais. Procure conhecer os principais documentos ambientais em nível internacional. Além disso, falamos da importância dos acordos e conferências internacionais, que se atenta à necessidade de um critério e de princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano. Entre essas conferências, destaca-se a de Estocolmo, que publicou princípios importantes. Para saber mais sobre esse assunto, leia a Declaração de Estocolmo sobre o ambiente humano, e conheça esses princípios. Outro ponto de destaque nesta aula foi compreender o papel-chave da ONU (Organização das Nações Unidas) na organização das conferências ambientais. Para conhecer mais o trabalho e a importância dessa organização, leia As Nações Unidas no Brasil. Referências BRASIL. Decreto 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas. Diário O�cial da União, Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm. Acesso em: 15 set. 2022. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 1 ago. 2022. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 708 Distrito Federal. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de julho de 2022. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5951856. Acesso em: 18 set. 2022. BURSZTYN, M.; BURSZTYN, M. A. Fundamentos de política e gestão ambiental: caminhos para a sustentabilidade. Rio: Garamond, 2012. ONU. Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento de 2012. Documentos Estud., v. 6, n. 15. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103- 40141992000200013. Acesso em: 30 ago. 2022. ONU declara que meio ambiente é um direito humano. Nações Unidas Brasil, 29 jul. 2022. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/192608-onu-declara-que-meio-ambiente-saudavel-e-um- https://cetesb.sp.gov.br/centroregional/ https://cetesb.sp.gov.br/centroregional/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2167.pdf https://brasil.un.org/pt-br/about/about-the-un http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5951856 https://doi.org/10.1590/S0103-40141992000200013 https://doi.org/10.1590/S0103-40141992000200013 https://brasil.un.org/pt-br/192608-onu-declara-que-meio-ambiente-saudavel-e-um-direito-humano Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL direito-humano. Acesso em: 18 set. 2022. MELO, F. Direito ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017. Aula 2 Desenvolvimento Sustentável Desenvolvimento sustentável Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! É uma alegria tê-los conosco em uma aula sobre um tema fundamental para a sua formação: a sustentabilidade! Atualmente, não há nenhuma discussão estatal ou empresarial que prescinda da sustentabilidade enquanto um valor central para as nossas sociedades, em todas as escalas, do global ao local. Por meio da sustentabilidade, temos o compromisso de compatibilização das atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente. Para compreendermos melhor, é necessário retomarmos a história de João, que se mudou para outro país e que, anos antes de se mudar, trabalhou numa empresa, a qual, em face de questões ambientais e investimento necessário ao cumprimento da legislação ambiental, mudou-se para outro país com legislação ambiental mais amena. https://brasil.un.org/pt-br/192608-onu-declara-que-meio-ambiente-saudavel-e-um-direito-humano https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u2a2_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Daniel, um ex-colega de trabalho de João, com o qual até hoje ele mantém contato pela amizade que tinham, con�denciou a João algumas questões. Entre elas, a política da empresa, pouco comprometida com a sustentabilidade em razão desse novo país e suas peculiaridades. Trata-se de um país rico em recursos naturais, mas com pouca infraestrutura. As pessoas são extremamente pobres e há escassez na oferta de emprego, por isso as �las são longas quando a empresa abre vagas. O governo não empreendeesforço algum no desenvolvimento sustentável, tanto que o poder público local carece de pessoas com entendimento apurado sobre meio ambiente, e a corrupção impera, haja vista a carência �nanceira. Daniel é o executivo responsável pela imagem dessa empresa e, sendo assim, é de sua competência que o desenvolvimento sustentável seja promovido pela empresa em razão do meio no qual está inserido. Daniel se vê num dilema porque esses temas não são, em hipótese alguma, preocupação dessa sociedade, dando a entender que não internalizaram o que é sustentabilidade e, por esse motivo, o poder público não impõe limites às atividades empresariais, exigindo a promoção do desenvolvimento sustentável. Daniel conseguiu, desse modo, compreender por que a legislação é amena. Com base na situação descrita anteriormente, podemos nos questionar: a conscientização social é fator determinante à sustentabilidade? Se o desenvolvimento sustentável é um movimento da globalização, a empresa deveria tomar decisões que promovessem essa consciência? A crise econômica e a falta de compromisso social repercutem na ausência do desenvolvimento sustentável? Um abraço! Vamos Começar! A concepção de desenvolvimento sustentável Sustentabilidade é uma palavra de origem latina, sustentare, e signi�ca sustentar, manter algo. Na primeira metade do século XX, a sustentabilidade esteve majoritariamente ligada aos domínios da biologia e, em especial, da ecologia. Ao longo da segunda metade do século XX, o termo se estende para a problemática da explosão demográ�ca e da poluição na sociedade global (Almeida, 2016, p. 58). A noção de sustentabilidade, em sentido amplo, é primordialmente a manutenção dos sistemas de suporte à vida. Portanto, a sustentabilidade é um conceito sistêmico, visto que conjuga saberes interdisciplinares, especi�camente aqueles de sustentação da vida no planeta e, no caso da vida humana, os processos econômicos, sociais, culturais, e, claro, ambientais. A partir dos domínios da ecologia e suas preocupações com a superpopulação, o uso dos recursos naturais e a poluição e seus resíduos, houve a transposição de suas análises para Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL outros domínios, notadamente por meio dos relatórios patrocinados pelo Clube de Roma, grupo de empresários e pensadores formado no �nal da década de 1960 e que patrocinou uma série de discussões sobre o futuro do planeta. Um dos estudos foi particularmente importante, denominado Os Limites do Crescimento ou Relatório Meadows, do ano de 1972, elaborado por cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT). A principal conclusão desse estudo cientí�co foi de que: Se se mantiverem as tendências atuais de crescimento da população mundial, da industrialização, da poluição, da produção de alimentos e de esgotamento de recursos, os limites de crescimento do nosso planeta serão atingidos nos próximos cem anos. O resultado mais provável vai ser um declínio súbito e incontrolável da população e da capacidade produtiva (Relatório Meadows apud Tamares,1983, p. 151). Contudo, o relatório cientí�co apontou: É possível alterar essas tendências de crescimento e criar condições de estabilidade ecológica e económica que podem ser mantidas a longo prazo. O estado de equilíbrio global pode ser concebido de forma a garantir, a cada habitante da Terra, a satisfação das necessidades materiais básicas e a igualdade de oportunidades por forma que cada pessoa possa atingir a sua plena realização humana (Relatório Meadows apud Tamares,1983, p. 151). Apesar das críticas que recebeu, diante de suas projeções pouco otimistas sobre o futuro da humanidade, deixando clara a �nitude de recursos naturais em uma sociedade de consumo acelerado, o Relatório Meadows contribuiu para que as discussões ambientais adentrassem de�nitivamente no âmbito global. A�nal, ele tocou num ponto central para o sistema econômico global: a necessidade de limitações nos padrões de produção e consumo. É a partir desse momento que entra em debate uma série de termos e teorias para equacionar as premissas do crescimento econômico em um mundo �nito, limitado. Por isso, a ideia de crescimento, central para o pensamento moderno, e intensi�cada após o término da Segunda Guerra, precisará ser sustentada, razão pela qual se iniciam as formulações teóricas para uma concepção de desenvolvimento, que deverá ser sustentável. Isto é, um desenvolvimento em que a economia seja sustentada pelo uso racional dos recursos naturais; o que é preciso reconhecer, trata-se de um dos grandes desa�os da contemporaneidade. A evolução do conceito de desenvolvimento sustentável Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia. Nesse período, deu-se o delineamento dos contornos da expressão ecodesenvolvimento por Maurice Strong – Secretário Geral dessa convenção –, cabendo a Ignacy Sachs a popularização do conceito como um projeto de desenvolvimento socialmente inclusivo, ecologicamente viável e economicamente sustentado, o qual se converteu com o passar dos anos no conceito de desenvolvimento sustentável. A expressão Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL desenvolvimento sustentável apareceu pela primeira vez no ano de 1980, no documento intitulado Estratégia de Conservação Mundial (World Conservation Strategy) (Barbieri, 2020). Em 1983, a ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo longo ciclo de audiências e debates com líderes políticos e organizações em todo o planeta resultou, em 1987, no Relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland (Melo, 2017). Esse documento de�niu os contornos clássicos do desenvolvimento sustentável, que passou a ser considerado como aquele “[...] que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade de as futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas” (ONU, 1991). O Relatório Nosso Futuro Comum é um manifesto essencialmente ético, de conjugação da economia com os propósitos de justiça social e ambiental. A partir de sua elaboração, expressões como desenvolvimento sustentável e sustentabilidade passam a ser associadas como sinônimos. Em 1992, a ONU realizou a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio/92) e o conceito de desenvolvimento sustentável cristalizou-se por meio de um dos seus principais documentos: a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujas principais proposições são (ONU, 1992): Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza (Princípio 1). O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras (Princípio 3). Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste (Princípio 4). Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a �m de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo (Princípio 5). Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográ�cas adequadas (Princípio 8). A Declaração do Rio Janeiro pretendeu, por meio de suas proposições, conciliar os pleitos do mercado capitalista com as carências dos países em desenvolvimento e pobres, o que terminou por elencar princípios contraditórios. De qualquer forma, por meio de uma declaração �exível – soft law – foi possível articular o desenvolvimento sustentável em escalas e esferas, do global ao local,dos mercados à sociedade civil, apesar de tal abrangência se reduzir ao plano discursivo. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Outro documento representativo dessas conjugações foi igualmente editado ao término dos trabalhos da Rio/92, a ambiciosa Agenda 21. Trata-se de um documento programático, com 40 capítulos, com as diretrizes para a implementação do desenvolvimento sustentável em todas as escalas, do global ao local, para o século XXI (Melo, 2017). Apesar de festejada em sua edição, a Agenda 21 foi perdendo força com os passar dos anos. A interpretação de desenvolvimento sustentável foi consolidada com a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), realizada em Johannesburgo, África do Sul, em 2002. A conferência admitiu as limitações e as di�culdades na implementação da Agenda 21, mas rea�rmou o signi�cado de desenvolvimento sustentável da Rio/92. A Declaração de Johannesburgo sobre o Desenvolvimento Sustentável (2002 apud Melo, 2017, p. 29) defendeu o capitalismo verde, diante da globalização e que “[...] a rápida integração de mercados, a mobilidade do capital e os signi�cativos aumentos nos �uxos de investimento mundo afora trouxeram novos desa�os e oportunidades para a busca do desenvolvimento sustentável. Contudo, ainda conforme a referida Declaração (2002 apud Melo, 2017, p. 29), “[...] os benefícios e custos da globalização são distribuídos desigualmente, e os países em desenvolvimento enfrentam especiais di�culdades para encarar esse desa�o”. Da edição do Relatório Bruntland, passando pela Agenda 21, até chegar aos dias atuais, a esfera internacional reforçou o aspecto de multiplicidade de signi�cados de desenvolvimento sustentável e da expressão sustentabilidade, que, inclusive, foi apropriada por adjetivações, tais como sustentabilidade ambiental, econômica, social, cultural e tantas outras denominações. Siga em Frente... Sustentabilidade no âmbito estatal e corporativo O desenvolvimento sustentável é um princípio no direito brasileiro. A Constituição de 1988, em seu art. 170, disciplina que a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho e na livre- iniciativa e visa assegurar uma existência digna para todos, conforme os ditames da justiça social, com a observância, entre outros, dos princípios da função social da propriedade e da defesa do meio ambiente (Brasil, 1988). Por função social, entende-se que o exercício do direito de propriedade impõe o respeito pelas normas ambientais (Melo, 2017). A defesa do meio ambiente nas atividades econômicas ocorre igualmente por meio do tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação (Brasil, 1988). Na ordem constitucional brasileira, o desenvolvimento sustentável encontra-se na conjugação do art. 170 – ordem econômica – com o art. 225 – proteção ao meio ambiente (Melo, 2017). Apesar disso, há uma constante tensão na implementação das atividades econômicas com as normas jurídicas de proteção ambiental. Daí surge a indagação: em caso de confronto entre uma atividade econômica e a proteção ao meio ambiente, qual é a interpretação que deverá Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL prevalecer? Embora sejamos uma economia de livre mercado, nenhuma atividade pode ser exercida em desconformidade com a proteção ao meio ambiente. A�nal, só é possível uma existência com dignidade se as pessoas puderem viver em um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sem poluição, com salubridade. E se não temos o ambiente saudável, como falar em saúde e qualidade de vida? Apesar dessas a�rmações serem reconhecidas por todos, sabemos que a questão é bem mais complexa. Por isso, o Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a disciplinar a matéria, decidindo que é necessária a compatibilização entre atividades econômicas e proteção ao meio ambiente. Contudo, consignou que as atividades econômicas não podem ser exercidas em desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente (Melo, 2017). Portanto, é necessário buscar sempre a compatibilização entre atividades econômicas e proteção ao meio ambiente. Na impossibilidade, é preciso atentar-se para as questões ambientais. E isso porque a preocupação somente na dimensão econômica tem ocasionado os danos e desastres ambientais que são constantemente relatados nos meios de comunicação, em que pessoas, populações ou cidades são afetadas. A�nal, ao se privilegiar apenas os argumentos econômicos, continuamos somente como crescimento econômico, e a sustentabilidade torna-se meramente retórica, sem qualquer efetividade. Em meados da década de 1990, o britânico John Elkington propõe o termo Triple Bottom Line (TBL), no âmbito corporativo norte-americano, o qual �ca conhecido no Brasil como o tripé da sustentabilidade, conjugando as dimensões econômica, social e ambiental. Esse conceito possui como elementos constitutivos os três Ps da sustentabilidade (people, planet, pro�t; ou, em português, pessoas, planeta e lucro). Em suma, as empresas devem buscar o lucro corporativo, mas com responsabilidade social em suas operações, que devem estar alinhadas ao compromisso ambiental com o planeta (Melo, 2017). O TBL é utilizado atualmente como um dos indicadores de mensuração da sustentabilidade para governos, setor empresarial e organizações sem �ns lucrativos. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Figura 1 | Esquema representativo dos vários componentes do desenvolvimento sustentável. Fonte: Wikipedia. O tripé da sustentabilidade associa os aspectos econômicos, sociais e ambientais. A sustentabilidade econômica visa o uso racional e e�ciente dos recursos naturais, com a utilização de tecnologias que diminuam os impactos ambientais e as externalidades negativas. A sustentabilidade social envolve uma distribuição de renda justa, de modo a reduzir as desigualdades e promover os valores de uma sociedade inclusiva. Por sustentabilidade ambiental, entende-se o respeito e proteção aos ciclos de regulação dos processos ecológicos essenciais, de modo a garantir recursos para as presentes e futuras gerações, em uma concepção que as variáveis ambientais sejam integradas aos ciclos econômicos. No âmbito governamental, um exemplo de aplicação do tripé da sustentabilidade é a agenda ambiental na administração pública (A3P), que articula a promoção da sustentabilidade nas entidades da administração pública direta e indireta em nível federal, estadual e municipal, nos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Apesar da adesão ser voluntária, a A3P é um relevante programa de práticas governamentais sustentáveis. Outra leitura de sustentabilidade procura dividi-la em duas abordagens: sustentabilidade fraca e sustentabilidade forte (Bursztyn; Bursztyn, 2012). A sustentabilidade fraca é aquela que se baseia na economia clássica, em que o capital natural pode ser substituído pelo capital produzido e que, por consequência, não há limites para o crescimento econômico. Nesse pensamento, é possível adotar soluções tecnológicas para solucionar os problemas ambientais. Já a sustentabilidade forte assenta-se na economia ecológica, isto é, a ausência do capital natural impõe limites para o Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL crescimento econômico. Essa compreensão tem como fundamento a preservação dos componentes ecológicos, de modo que será preciso conter os fatores de pressão, ou seja, limites para uma economia de crescimento contínuo. Em qualquer dessas perspectivas, é importante compreender a importância que a sustentabilidade assume na contemporaneidade como elemento essencial para as nossas sociedades. Vamos Exercitar? Retomando a situação proposta no início desta seção, lembramos que uma empresa se mudou para um país sem consciência de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Podemos a�rmar, por essa razão, que meio ambiente, saúde, qualidade de vida são questões muito distantes de seu entendimento. Por um lado, pelas exigências de mercado que pedeme a acidi�cação de oceanos, dentre outros fatores. Alguns estudos cientí�cos nos ajudam a compreender os desa�os impostos pela Grande Aceleração das últimas décadas. O relatório A Avaliação Global da Natureza, lançado em 2019 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), é a mais extensa análise da perda da biodiversidade no planeta e a�rma que “[...] o ritmo das mudanças globais na natureza nos últimos 50 (cinquenta) anos não tem precedentes na história” (IPBES, 2019, p. 12). Além disso, o documento apresenta outros dados alarmantes, alguns destacados na sequência: a) 75% da superfície da Terra já sofreu alterações consideráveis e já se perdeu mais de 85% de áreas de zonas úmidas; b) 66% da superfície dos oceanos estão experimentando efeitos crescentes de deterioração; c) Em média, cerca de 25% das espécies em grupos de animais e plantas estão ameaçados, o que sugere que cerca de um milhão de espécies já estão em perigo de extinção, muitas em apenas algumas décadas; d) Em 2016, 559 das 6.190 raças de mamíferos domesticados usados para alimentação e agricultura (mais de 9%) foram extintas e pelo menos 1.000 outras foram ameaçadas de extinção. O relatório Planeta Vivo, do ano de 2020, elaborado pela entidade WWF, traz os mesmos dados sobre a perda da biodiversidade, e indica que os fatores responsáveis por essa perda são: o uso da terra, com a conversão de áreas intocadas em setores agrícolas, e, no caso dos oceanos, o aumento excessivo da pesca. O ponto fundamental do relatório é que “a perda de biodiversidade não é apenas um problema ambiental. Ela também afeta o desenvolvimento, a economia, a segurança global, a ética e a moral” (WWF, 2020). Recentemente um novo relatório do IPBES (2022) alertou que cerca de um milhão de espécies da fauna e da �ora estão ameaçadas de extinção. Esse conjunto de dados traz uma constatação fundamental: a necessidade de estabelecer limites planetários, em uma perspectiva que permita conjugar as atividades socioeconômicas de nossas sociedades com a capacidade suporte do planeta. Para tanto, será necessário compreender quais são os limites planetários. Diante disso, um estudo liderado pela equipe do cientista sueco Johan Rockström, do Centro de Resiliência de Estocolmo, caracterizou os nove processos que regulam a estabilidade e a resiliência do planeta, estabelecendo os limites para o que é denominado “espaço operacional Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL seguro para a humanidade”, isto é, em que é possível a manutenção das atividades sem colocar em risco a vida terrestre (Veiga, 2019; Costa, 2022). Os nove processos que precisam ser regulados para a garantia da estabilidade planetária podem ser observados na Figura 1 (Veiga, 2019; Costa, 2022): Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Figura 1 | Os 9 limites planetários. Fonte: BBC News Brasil. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Na Figura 1, podemos visualizar que a parte em verde são as chamadas zonas seguras, em que temos o espaço operacional seguro; em laranja, as zonas de risco crescente, com alto potencial de efeitos prejudiciais; e em vermelho, as zonas de risco alto, nas quais os limites foram ultrapassados e estamos sujeitos a consequências imprevisíveis. Percebemos que a humanidade já ultrapassou quatro dos limites estabelecidos: mudanças climáticas; integridade da biosfera (perda de biodiversidade); �uxos bioquímicos de nitrogênio e fósforo; e, mais recentemente, as mudanças no uso da terra (solo). Esses são desa�os que estão postos no tabuleiro global, a demandar a atuação de todas as instituições internacionais e nacionais. Nota- se, assim, que a observância dos limites planetários é uma das exigências para que as crises provocadas pela Grande Aceleração não conduzam o sistema Terra a uma situação de irreversibilidade. Os principais efeitos do Antropoceno nas dinâmicas econômica e social Diante desse cenário, para o enfrentamento das questões que se apresentam no Antropoceno, é imprescindível repensar os meios de produção e os padrões de consumo em sociedade, que afetam decisivamente os processos ambientais e, por consequência, as dinâmicas de regulação do sistema Terra. Se, em sentido amplo, é essencial uma conjugação de políticas e estratégias por diversos atores globais – instituições governamentais, setores empresariais e organismos multilaterais –, na escala da proximidade (quotidiano) é preciso destacar o exercício de uma ética da responsabilidade, por meio da conscientização ecológica para a compreensão da �nitude dos recursos naturais e o repensar das relações de consumo. Não há dúvidas de que dispomos de tecnologias cada vez mais avançadas e que podem ser muito importantes no contexto das crises. Mas as tecnologias, sem a mudança de consciência pública e individual, e sem a percepção do próprio ser humano de que ele e natureza constituem um todo, podem não ser su�cientes para lidar com a questão demográ�ca e o aumento da poluição (Odum, 2001). Um dos intentos que contribui no processo de tomada de consciência é um indicador criado que nos permite conhecer os impactos das nossas atividades sobre o planeta. Trata-se do conceito de pegada ecológica – elaborado pela entidade Global Footprint Network – que é uma unidade métrica que estabelece uma equação entre a demanda de recursos utilizados por pessoas, empresas e governos e a capacidade de regeneração biológica do planeta. A pegada ecológica mede o quanto de área de terra (hectares) e água são requeridos para o consumo e para a absorção dos resíduos sólidos gerados (WWF, 2020). Muitos países estão em situação de dé�cit ecológico, isto é, usam mais recursos naturais – pegada ecológica – que seus ecossistemas podem regenerar – biocapacidade – como é o caso dos Estados Unidos, China, Índia, Israel, Japão e a União Europeia. Com o aumento desse dé�cit em nível global, temos o que é chamado de “capacidade de carga” do planeta, que é a sobrecarga no consumo de seus recursos. Desde a década de 1970, a capacidade de carga do planeta tem sido ultrapassada com sérios riscos para a dinâmica ambiental. Uma das representações usadas para demonstrar o limite da capacidade de carga do planeta é determinar o dia em que ele ocorre Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL em cada ano. No ano de 2022, ela foi atingida no dia 28 de julho (WWF, 2022). A partir de então, estamos em dé�cit. Em uma analogia, entramos no “vermelho”, consumindo mais do que o planeta pode suportar. Por esse parâmetro, para atender aos níveis de utilização dos recursos ambientais atuais, é demandado o equivalente a 1,75 do planeta (WWF, 2022). No caso do Brasil, a capacidade de carga foi atingida em 12 de agosto de 2022 (WWF, 2022). Isso se dá, em boa medida, pelo aumento do desmatamento na Floresta Amazônica e das queimadas nesse e em outros biomas brasileiros, como o Cerrado e o Pantanal. De tudo que foi estudado, é necessário compreender que a era do Antropoceno é uma realidade e que devemos estar preparados para o enfrentamento de seus efeitos em nossas atividades econômicas e cotidianas. Ainda que a atuação no nível individual ou de pequenos grupos seja restrita, isso não é um obstáculo para que possamos compreender o imperativo do exercício da ética da responsabilidade em todos os campos da atividade humana, tanto pro�ssional quanto cidadã, porque não há dissociação entre eles. A�nal, o que está em risco é a construção da sociedade e dos predicados da vida. Esse é o desa�o do nosso tempo. Vamos Exercitar? Conforme discutido anteriormente, o termo Antropoceno, refere-se a uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra, em que a humanidade se transformou em uma força geológica capaz de alterar as condições de sustentação da vida. E agora, você, como futuro pro�ssional, começa a compreender, questionar e se preparar para os desa�os desse novo tempo. Para auxiliar esse avanço, vamos elucidar algumas questões importantes sobre essa temática:empresas comprometidas e responsáveis social e ambientalmente, o dilema de Daniel é extremamente compreensível. Por outro, Daniel, como executivo tem um compromisso com o lucro da empresa por meio da projeção da sua imagem positiva e, também, na qualidade de executivo dessa empresa, tem a obrigação ética e moral, nesse caso, com o despertar desse povo à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável. Lembre-se de que a sustentabilidade se refere à responsabilidade social e ambiental empresarial e essa obrigação impõe zelar pelo meio e pelo desenvolvimento sustentável tornar possível suprir as necessidades sociais e, por isso, que muitos países adotam a lei para impor esses limites ao desenvolvimento econômico para garantir o meio ambiente saudável não só para esta, mas também para as gerações futuras. Diante da situação proposta, é importante considerar a obrigação ética e moral, porque a lei, nesse país, em especial, é amena. É certo, então, dizer que o despertar pode acarretar a empresa a necessidade de adequação, caso esse país venha a legislar de modo mais rígido a �m de promover a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável, o que hoje não é de seu interesse. Por essa razão, o dilema de Daniel se mostra muito pertinente, pois, por um lado, tem que promover a empresa demonstrando o desenvolvimento sustentável frente às exigências do mercado global e, por outro, Daniel, para corresponder às atribuições de seu cargo de modo ético, terá que desempenhar um trabalho muito expressivo e importante, pois deverá despertar essa sociedade para o compromisso social representado pela sustentabilidade, porque a crise econômica e falta de compromisso social promovem o não desenvolvimento sustentável e poderão levar ao enrijecimento da lei, obrigando a empresa para o desenvolvimento sustentável dessa sociedade, a se adequar como ocorrera no país de João. Saiba mais Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Nessa aula estudamos o surgimento e o contexto da sustentabilidade no mundo contemporâneo. Essa será uma temática constante em sua vida pro�ssional. Como aprofundamento, sugerimos o artigo Desenvolvimento Sustentável: a evolução teórica, o abismo com a prática e o princípio de responsabilidade, de autoria de Isabella Pearce de Carvalho Monteiro. A autora faz uma abordagem histórica do desenvolvimento sustentável para, ao �nal, defender a importância em nossas sociedades. Outro ponto de destaque nessa aula foi compreender a importância do relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum), também conhecido como Relatório Brundtland, o qual apresentou um novo olhar sobre o desenvolvimento. Referências BARBIERI, J. C. Desenvolvimento sustentável: das origens à agenda 2030. Petrópolis: Vozes, 2020. BOFF, L. Sustentabilidade: o que é, o que não é. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2016. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 1 ago. 2022. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.540. Rel. Min. Celso de Melo, 1 de setembro de 2005. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp? docTP=AC&docID=387260. Acesso em: 10 set. 2022. BURSZTYN, M.; BURSZTYN, M. A. Fundamentos de política e gestão ambiental: caminhos para a sustentabilidade. Rio: Garamond, 2012. MELO, F. Direito ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017. ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. ONU – COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio: FGV, 1991. ONU. Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40141992000200013. Acesso em: 30 ago. 2022. SACHS, I. Terceira margem: em busca do ecodesenvolvimento. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. TAMARES, R. Crítica dos limites do crescimento. Lisboa: Dom Quixote, 1993. https://sou.undb.edu.br/public/publicacoes/revceds_n_2_desenvolvimento_sustentavel_a_evolucao_teorica_o_abismo_com_a_pratica_e_o_principio_de_responsabilidade_isabella_pearce_monteiro.pdf https://sou.undb.edu.br/public/publicacoes/revceds_n_2_desenvolvimento_sustentavel_a_evolucao_teorica_o_abismo_com_a_pratica_e_o_principio_de_responsabilidade_isabella_pearce_monteiro.pdf http://www.ecobrasil.eco.br/site_content/30-categoria-conceitos/1003-nosso-futuro-comum-relatorio-brundtland https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=387260 https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=387260 https://doi.org/10.1590/S0103-40141992000200013 Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Aula 3 Politicas Públicas Ambientais Políticas públicas ambientais Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Você sabe o que são políticas públicas? Qual a importância delas em nossas sociedades? E como as políticas públicas ambientais dialogam com as atividades econômicas? Esta é a temática da nossa aula: as políticas públicas ambientais. Estudaremos a Política Nacional do Meio Ambiente, que é o diploma legal estruturante das políticas e da governança ambiental no Brasil. Você conhecerá o Sistema Nacional do Meio Ambiente, com os órgãos em nível federal, estadual e municipal responsáveis pela promoção e proteção ao meio ambiente. Além disso, faremos uma abordagem de dois dos principais instrumentos da política nacional que regulamentam as atividades econômicas: a avaliação de impactos ambientais e o licenciamento ambiental. Para compreendermos melhor, é necessário retomar, portanto, o caso de Arnaldo, que vive em Santa Cruz da Serra, local em que será construída uma represa por uma empresa que aponta inúmeros benefícios, apoiada pelo município e governo do estado sob a justi�cativa de ser seu maior benefício pela produção de energia elétrica barata e a geração de emprego. Arnaldo, auxiliado por moradores e pelos defensores do meio ambiente, representados pelas ONGs locais, a�rma que nenhum estudo prévio de impacto ambiental foi efetivamente realizado para justi�car https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u2a3_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL a construção da represa. Além disso, entende que os moradores perderão uma expressiva porção de terra produtiva, sem contar a interrupção da piracema, que por si só já é um impacto ambiental. E também o êxodo rural e a história de um povo que vai, literalmente, por água abaixo. Diante disso, o impacto ambiental, com a interrupção da piracema, e o impacto social, pelas mudanças de costume local, valem como preço a ser pago para a geração de energia? Um abraço! Vamos Começar! O conceito de políticas públicas A globalização e liberalização econômica têm provocado um impacto considerável nos costumes da sociedade. Isso repercute no seu modo de vida, cada vez mais, pautando-se no consumo desenfreado pela compra por impulso, que é, sem dúvida alguma, uma forma de aquecer o mercado e trazer a obsolescência mais rápido, gerando danos ao meio ambiente, tanto pela produção quanto pelo descarte. Diante desse cenário, é importante compreender que as empresas têm a obrigação, para com a sociedade, da preservação e conservação ambiental pela sua responsabilidade socioambiental, contando com a gestão corporativa para esse �m, praticando o devido respeito à pessoa humana em toda a sua acepção. Porém, esse não é o papel de apenas uma das partes.Para a sua efetividade, são necessárias ações conjuntas, ou seja, políticas públicas. Mas o que são essas políticas? Quando um problema público é identi�cado, surge a necessidade de ofertar respostas e alternativas para resolvê-lo. Situações socialmente sensíveis exigem do poder público uma diretriz. Essa diretriz é o que chamamos de políticas públicas (Secchi; Coelho; Pires, 2019), isto é, o mecanismo de atuação estatal para a resolução de problemas públicos. Portanto, tais problemas, socialmente reconhecidos por atores estatais e não estatais, entram na agenda de discussões do poder público e exigem a formulação de políticas públicas para as mudanças possíveis e pretendidas. No Brasil, as dinâmicas das políticas públicas estão diretamente ligadas ao Estado pela sua centralidade e intervencionismo histórico, ou seja, o Estado brasileiro é o responsável pela elaboração de políticas públicas. Mas o fato de ser o responsável não impede a participação dos grupos de interesse, como o setor empresarial e a sociedade civil. O Brasil é uma federação, em que o Estado divide suas atribuições com competências atribuídas aos seus entes federativos: União, Estados-membros, Distrito Federal e municípios. Assim, políticas públicas são formuladas em termos espaciais ou territoriais, em outras palavras, aquelas que interessam a todo o país são políticas nacionais, como é o caso do meio ambiente, educação, saúde e outras áreas. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL As políticas públicas são compostas por princípios, objetivos e instrumentos para a sua concretização. Os princípios são os elementos estruturantes que irão balizar a política pública. É por meio deles que são de�nidas as estratégias. Quanto aos objetivos, eles articulam as mudanças pretendidas, os estágios de implementação de uma política pública e, por vezes, o tempo necessário. Já os instrumentos são as ações, os meios e os mecanismos que permitem que a política pública alcance os seus objetivos. Outra forma de compreender as políticas públicas é por meio dos níveis operacionais. Existem três níveis: (i) plano; (ii) programa; (iii) projetos. No plano, temos os princípios, objetivos e instrumentos, como já estudamos no parágrafo anterior. O plano deve ser aplicado por meio de programas, que são os recortes ou desdobramentos dele. Para exempli�car, os programas podem ser aplicados no âmbito dos estados ou dos municípios. Eles podem ser divididos em projetos, que são a menor unidade de planejamento ou de ação. Portanto, políticas públicas possuem níveis operacionais na articulação e operacionalização por meio de um plano, que é um nível estruturante e de longo prazo; com os programas, em um nível intermediário e de médio prazo; e com os projetos, de curto prazo e em um nível operacional (Secchi; Coelho; Pires, 2019, p. 9). O quadro a seguir expõe os níveis operacionais de uma política pública. Figura 1 | Níveis operacionais da política pública. Fonte: elaborado pelo autor. Feitas essas considerações, vamos estudar agora as políticas públicas em matéria ambiental. Políticas públicas ambientais Política pública ambiental é uma diretriz de planejamento e intervenção estatal, com a participação do setor produtivo e dos atores não governamentais, para a proteção do meio ambiente. Uma política pública ambiental condiciona e disciplina as atividades econômicas e sociais em compatibilização com a proteção ambiental. No Brasil, as políticas públicas ambientais existem desde 1930, com a aprovação do Código Florestal, de 1934, do Código de Águas, também de 1934, e de outros diplomas legais (Bursztyn; Bursztyn, 2012). Na década de 1970, teve início a estruturação dos órgãos administrativos de Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL proteção ao meio ambiente, mas de forma fragmentada. Esse quadro mudaria na década seguinte. A efetiva concepção de proteção ao meio ambiente ocorreu somente em 1981, quando foi editada a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei 6.938. Essa é a lei estruturante da proteção ambiental brasileira e traz os princípios, objetivos e instrumentos para uma política ambiental para o Brasil. Nesse momento, entende-se o meio ambiente de forma holística. A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) estabeleceu como objetivo geral “[...] a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...]” (Brasil, 1981). Nota-se que a PNMA conjuga o desenvolvimento das atividades sociais e econômicas com a proteção ambiental, de forma a assegurar a dignidade humana. O art. 4º, da Lei 6.938 (Brasil, 1981), elenca os seus objetivos especí�cos. Vamos destacar os três mais relevantes para a nossa discussão. O primeiro deles é a “ [...] compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico” (Brasil, 1981). Esse objetivo é o que chamamos atualmente de desenvolvimento sustentável, ou seja, compatibilizar as atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente. O segundo objetivo é o “[...] estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais” (Brasil, 1981). Cabe ao poder público estabelecer padrões de qualidade ambiental para o ar, os recursos hídricos e o solo. O terceiro objetivo é a “[...] imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com �ns econômicos” (Brasil, 1981). Outro ponto fundamental da Lei 6.938/1981 foi a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), que é o conjunto de órgãos da União, responsáveis pela proteção, controle, monitoramento e melhoria da qualidade e da política ambiental no país. Trata-se da estrutura responsável pela administração ambiental no Brasil. O Sisnama é regulamentado pelo Decreto nº 99.274/1990 (Brasil, 1990) e estrutura-se em seis recortes fundamentais: (i) órgão superior: o Conselho de Governo, com a �nalidade de assessor o Presidente da República nas questões ambientais. (ii) órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), com a função de assessorar o Conselho de Governo, especialmente de deliberar sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente. (iii) órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a �nalidade de coordenar a política nacional e as diretrizes para a proteção ambiental. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL (iv) órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que são autarquias federais responsáveis por executar e fazer executar as diretrizes governamentais para o meio ambiente. (v) órgãos seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e �scalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental. (vi) órgãos locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e �scalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições. Por �m, é preciso evidenciar que a partir da PNMA, surgiram outras políticas públicas em áreas especí�cas em matéria ambiental, como a Política Nacional de Recursos Hídricos; a Política Nacional de Resíduos Sólidos; Política Nacional de Biodiversidade; Política Nacional de Educação Ambiental; Política Nacional de Mudança do Clima, entre outras. O fato de termos políticas em nível nacional mostra a preocupação da articulação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Siga em Frente... Políticas públicas e a regulação das atividades econômicas As políticas públicas ambientais possuem uma interface imediata com as atividades econômicas, especi�camente por meio de programas e procedimentos para disciplinare condicionar empreendimentos e atividades potencialmente poluidores ou causadores de degradação. No caso da Política Nacional do Meio Ambiente, dois de seus instrumentos, previstos em seu art. 9º (Brasil, 1981), são fundamentais para a regulação das atividades econômicas: a avaliação de impactos ambientais e o licenciamento ambiental. A avaliação de impactos ambientais é um instrumento de gestão ambiental que dispõe sobre a obrigatoriedade de estudos dos impactos ambientais de atividades e empreendimentos potencialmente causadores de poluição ou degradação ambiental. A avaliação de impactos ambientais é a análise técnica dos possíveis impactos, que se dá por meio dos estudos ambientais. Um exemplo é o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, conhecido pela sigla Eia/Rima (Brasil, 1988). O Eia/Rima não é obrigatório para todos os empreendimentos. O pressuposto é que a obra ou atividade seja potencialmente causadora de signi�cativa degradação do meio ambiente, como é o caso de rodovias, ferrovias, atividades de mineração, entre outras (Conama, 1986). Os Estudos de Impactos Ambientais (EIA) são um relatório técnico de avaliação das consequências e danos ambientais de acordo com projetos especí�cos. Por meio dele, pode-se Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL prevenir ou mitigar (diminuir) as consequências ao meio ambiente. O EIA é o responsável pela análise (inclusive bibliogra�a e estudos ambientais de probabilidade) e avaliação da coleta de material, ou seja, veri�ca os impactos prévios à implantação de determinado projeto e aponta quais procedimentos devem ser adotados para a sua realização. Por conter todas as informações do empreendimento, é um documento sigiloso. O Relatório de Impacto Ambiental – RIMA –, por sua vez, consiste no relatório técnico conclusivo que analisa o impacto ambiental. O RIMA contém os levantamentos e as conclusões pelos quais o órgão público responsável pela licença deverá analisar e conceder ou não a licença para o projeto ser executado. O RIMA é o documento público que re�ete as informações e conclusões do EIA, sendo possível a realização de audiência pública, na garantia do princípio da participação comunitária. Podem requerer a audiência pública o próprio órgão ambiental licenciador, o Ministério Público, uma entidade da sociedade civil ou cinquenta ou mais cidadãos (Conama, 1987). A avaliação de impactos ambientais está diretamente ligada a outro importante instrumento da PNMA: o licenciamento ambiental. Segundo Melo (2017, p. 221), é um procedimento administrativo com a “[...] �nalidade de avaliar os possíveis impactos e riscos de uma atividade ou empreendimento potencialmente causador de degradação ambiental ou poluição”. Esse instrumento é uma manifestação do princípio da prevenção, ou seja, tem como objetivo antecipar e mitigar os impactos negativos de uma empresa ou atividade potencialmente causadora de poluição ou degradação ambiental. Enquanto procedimento, o licenciamento ambiental passa por etapas, em que o empreendedor deverá observar as prescrições do órgão ambiental para a obtenção das licenças ambientais do seu negócio. No licenciamento ambiental trifásico, que é o mais completo, é necessária a obtenção de três licenças ambientais: (a) licença prévia, obtida com a aprovação do projeto e de sua localização; (b) licença de instalação, em que o projeto é implementado e ganha materialidade; e (c) licença de operação, que permite o funcionamento da empresa. Caso o empreendimento seja potencialmente causador de signi�cativa degradação do meio ambiente, o empreendedor deverá elaborar o EIA/RIMA, cuja aprovação pelo órgão ambiental enseja a concessão da licença prévia; prosseguindo, depois, com as demais etapas. O licenciamento ambiental pode ser realizado por qualquer ente federativo – União, Estados- membros, Distrito Federal e municípios –, desde que tenha um órgão ambiental capacitado e um conselho de meio ambiente. Para exempli�car, no âmbito federal temos o Ibama – órgão ambiental – e o Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente. Esses dois requisitos são obrigatórios para que um ente federativo proceda ao licenciamento ambiental. O licenciamento ambiental é importante e necessário por ser um instrumento que prevê condições para o estabelecimento de empreendimentos e atividades, para tentar eliminar, quando possível, ou minimizar danos ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, garantir o desenvolvimento social e econômico do país. Vamos Exercitar? Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Nesta aula, estudamos o caso de Arnaldo, que, como cidadão, se opõe à companhia, em função dos danos ambientais e sociais que provocarão com a construção da represa. Apesar de ser mais barata que a termoelétrica, não veri�ca qualquer estudo que justi�que que ali é o local adequado para a incitação e que vale a pena se sobrepor à função social da propriedade e aos eventos naturais, como é caso da piracema, para se obter essa energia de forma mais barata. Compreende-se, então, que a conciliação entre as reivindicações de Arnaldo com as justi�cativas do município, governo do estado e da empresa somente seria possível se avaliadas por instrumentos competentes, que levassem a um laudo conclusivo. Por essa razão, o EIA/RIMA é indispensável para que a construção, se for o caso, se justi�que diante das reivindicações de Arnaldo. O EIA leva em conta todos os elementos locais, inclusive os benefícios com o menor impacto aos habitantes do local, para que eles se bene�ciem, primeiramente, se conscientizem da mudança e queiram, por essa consciência, a mudança. A construção da represa se justi�ca somente se o EIA demonstrar sua necessidade, se for efetivamente necessária. Seus ganhos devem ser além do que possam ganhar com o entretenimento e outras atividades advindas desse investimento. A ação de Arnaldo ganhou apoio dos moradores e ONGs locais, porque qualquer mudança deve vir, necessariamente, com o aval (aceitação) do povo local (quando proposta por ele) para o desenvolvimento participativo (participação popular que legitima as mudanças) e função social da propriedade (a que �m se destina); elementos importantíssimos da Política Pública Ambiental. É certo, pois, que o governo somente pode intervir sem a participação popular quando a situação é de caráter de urgência ou emergencial, como acontece em uma catástrofe caso não ocorra a mudança, por exemplo. Como conclusão, somente após o resultado do EIA/RIMA e da audiência pública é que poderá ser avaliado se o impacto ambiental, com interrupção da piracema, e o impacto social, pela mudança de costume local, valem como preço a ser pago para a geração de energia, uma vez que existem outras formas de captação de energia que podem ser estudadas e implantadas, fazendo com que os costumes e a natureza não paguem um preço tão alto. Saiba mais Nesta aula destacamos a importância das políticas públicas, que estão diretamente associadas às questões políticas e governamentais que mediam a relação entre Estado e sociedade. Para saber mais sobre essa temática, leia a matéria Entendendo os conceitos básicos de Políticas Públicas. Outro ponto abordado e de enorme importância foi a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), a qual vem disciplinada pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, e foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. É a referência mais importante na proteção ambiental. Ela dá efetividade ao artigo Constitucional 225. Para conhecer melhor a PNMA leia Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) – Lei nº 6938/81. Um dos principais instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente para compatibilizar as atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente é o licenciamento ambiental. É importante para o pro�ssional das áreas pública e corporativa conhecer os fundamentos e https://www.clp.org.br/entendendo-os-conceitos-basicos-mlg2-de-politicas-publicas-mlg2/ https://www.clp.org.br/entendendo-os-conceitos-basicos-mlg2-de-politicas-publicas-mlg2/ https://www.jusbrasil.com.br/noticias/politica-nacional-do-meio-ambiente-pnma-lei-n-6938-81/321528492https://www.jusbrasil.com.br/noticias/politica-nacional-do-meio-ambiente-pnma-lei-n-6938-81/321528492 Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL procedimentos do licenciamento ambiental. Por isso, a dica é acessar a Cartilha do Licenciamento Ambiental, do Tribunal de Contas da União (TCU). Com ela, você conhecerá a leitura do licenciamento ambiental pelo principal órgão de �scalização das contas públicas do Brasil. Referências BRASIL. Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990. Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectivamente sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 6 jun. 1990. Disponível em: https://shre.ink/UhAs. Acesso em: 25 out. 2023. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus �ns e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário O�cial de União, Brasília, DF, 2 set. 1981. Disponível em: https://shre.ink/UhIO. Acesso em: 25 out. 2023. BRASIL. Lei Complementar 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das �orestas, da fauna e da �ora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário O�cial da União, Brasília, DF, Disponível em: https://shre.ink/UhIh. Acesso em: 25 out. 2023. BURSZTYN, M.; BURSZTYN, M. A. Fundamentos de política e gestão ambiental: caminhos para a sustentabilidade. Rio: Garamond, 2012. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (Brasília, DF). Resolução Conama nº 001/1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Diário O�cial da União, 17 fev. 1986, p. 2548-2549. Disponível em: https://shre.ink/UhIz. Acesso em: 25 out. 2023. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (Brasília, DF). Resolução Conama nº 009/1987. Dispõe sobre a questão de audiências públicas. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 5 jul.,1990, p. 12945. Disponível em: https://shre.ink/UhIC. Acesso em: 25 out. 2023. SECCHI, L.; COELHO, F. de S.; PIRES, V. Políticas públicas: conceitos, casos práticos, questões de concursos. 3. ed. São Paulo: Cengage, 2019. https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/cartilha-de-licenciamento-ambiental-2-edicao.htm https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/cartilha-de-licenciamento-ambiental-2-edicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6902.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6902.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm https://shre.ink/UhAs https://shre.ink/UhIO https://shre.ink/UhIh https://shre.ink/UhIz https://shre.ink/UhIC Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Aula 4 Responsabilidade em Matéria Ambiental Responsabilidade em matéria ambiental Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Nesta aula, abordaremos conceitos e tópicos relacionados a crimes ambientais, infrações administrativas ambientais e responsabilidade civil em face de um dano ambiental. Nossa situação-problema é a seguinte: você é um consultor que, juntamente com uma equipe multidisciplinar, �cou encarregado de avaliar relatórios de um empreendimento de construção civil que visa à construção de casas em duas glebas na área rural de um município. O produto �nal, que será construído por você, será a elaboração de um plano de trabalho para a mitigação de danos ambientais. A primeira etapa já foi construída e agora vocês devem focar na identi�cação de danos ambientais com base relatórios para realizar a segunda parte do produto. Assim, a equipe multidisciplinar leu atentamente os relatórios e destacou duas partes: Trecho 1: veri�cou-se descarte em área de várzea de resíduos Classe D (tintas, solventes etc.) durante a primeira fase de obras. Trecho 2: análises químicas e físicas do solo e água super�cial do local apresentaram valores elevados para alguns componentes, mas ainda dentro do limite permitido em legislação. https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u2a4_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Os dois trechos destacados são danos ambientais? Qual tipo de dano ambiental foi cometido pela empresa? Em relação ao direito comum, a empresa seria responsabilizada levando-se em consideração a responsabilização civil subjetiva, objetiva ou ambas? Reconhecidamente, empreendimentos de grande porte da construção civil podem prejudicar o equilíbrio do meio biofísico e causar impactos socioeconômicos, culturais e ambientais. Dessa forma, uma análise cuidadosa dos trechos destacados, com base em conceitos e na legislação, é necessária. Bons estudos e um abraço! Vamos Começar! Dano ambiental O arcabouço jurídico de proteção ao meio ambiente tem como objetivo a prevenção aos impactos ambientais que causem poluição ou degradação, notadamente em casos de dano ambiental. Com a ocorrência de um dano ambiental, adentra-se nas discussões sobre a responsabilidade em matéria ambiental (Melo, 2017). Em que pese a sua importância, o ordenamento jurídico brasileiro não confere uma de�nição de dano ambiental. Por essa razão, a sua compreensão passa por elementos doutrinários e pela interpretação dos tribunais superiores, especialmente o Superior Tribunal de Justiça (Melo, 2017). É importante conhecer os dois conceitos legais e que estão associados ao entendimento do dano ambiental: degradação da qualidade ambiental e poluição. Considera-se degradação da qualidade ambiental a “alteração adversa das características do meio ambiente”, (Brasil, 1981). A degradação da qualidade ambiental ocorre tanto pela ação antrópica quanto por um evento natural, como um abalo sísmico ou uma erupção vulcânica. Já o conceito de poluição é a degradação da qualidade ambiental provocada por uma atividade antropogênica, isto é, promovida pelo homem. A poluição é sempre negativa e no ordenamento jurídico brasileiro é um ilícito penal (Brasil, 1998) e administrativo (Brasil, 2008). Já o termo dano ambiental podemos compreender que é a poluição que foi causada por qualquer ação humana (culposa ou não, de um ato lícito ou de um ato ilícito) que, ultrapassando os limites do desprezível, promoveu alterações adversas no ambiente (degradação ambiental). Podem existir diversos tipos de danos ambientais: (1) dano ecológico, que é a alteração adversa da biota, como resultado da intervenção humana; (2) à saúde; (3) às atividades produtivas; (4) à segurança; (5) ao bem-estar; entre outros. Podemos concluir que não existe um conceito �xo para dano ambiental, pois, assim como o de meio ambiente, ele é aberto, ou seja, sujeito a ser preenchido casuisticamente, de acordo com cada realidade concreta que se apresente ao intérprete (Milaré, 2007). Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL O dano ambiental possui “[...] feição multifacetária, com implicações no macrobem ambiental, nos microbens ambientais (�orestas, rios, fauna etc.), no patrimônio material e moral de pessoas e da coletividade” (Melo, 2017). Desse modo, diante das várias dimensões jurídicas, vamos apresentar duas das principais classi�cações doutrinárias e jurisprudenciaissobre o dano ambiental: (i) quanto à extensão do bem protegido; e (ii) quanto à extensão do dano ambiental (Leite; Ayala, 2010). Figura 1 | Classi�cação de dano ambiental. Fonte: elaborada pelo autor. Quanto à extensão do bem protegido, é possível con�gurar como: (i) dano ambiental lato sensu; (ii) dano individual, re�exo ou em ricochete. Compreende-se como “[...] dano ambiental lato sensu (em sentido amplo) o que afeta os interesses difusos da coletividade e, como tal, todos os componentes do meio ambiente (meio ambiente natural, cultural, arti�cial)” (Melo, 2017, p. 374). Dano ambiental individual, re�exo ou em ricochete é “[...] o dano individual, que afeta interesses próprios, e somente de forma indireta ou re�exa protege o bem ambiental” (Melo, 2017, p. 374). Para exempli�car, as lesões à saúde, ao patrimônio e à atividade econômica de uma ou de um grupo de pessoas. Quanto à extensão do dano, a divisão é feita em: (i) dano patrimonial; (ii) dano extrapatrimonial. Dano ambiental patrimonial “[...] é o que diz respeito à perda material do bem atingido. É o dano físico, material” (Melo, 2017, p. 375). Dano extrapatrimonial ou moral ambiental é aquele que ofende valores imateriais, reduzindo o bem-estar, a qualidade de vida do indivíduo ou da coletividade, ou atingindo o valor intrínseco do bem. O dano extrapatrimonial pode ser dividido em individual e coletivo. O dano moral ambiental individual é aquele que acarreta dor ou sofrimento psíquico para uma pessoa, como no caso de um pescador impedido de exercer sua atividade econômica por causa de um dano ambiental. O dano moral ambiental coletivo, por sua vez, se dá pelo prejuízo à imagem e moral coletiva dos indivíduos. Com esses apontamentos, �ca evidenciado o caráter multifacetário do dano ambiental no ordenamento jurídico brasileiro. Responsabilidade ambiental Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Entende-se por responsabilidade a obrigação de responder pela ação ou omissão que seja lesiva a uma pessoa, patrimônio ou em face de uma obrigação legal. Na esfera ambiental, a responsabilidade surge com a conduta considerada lesiva ao meio ambiente. Assim, a Constituição Federal de 1988 disciplina a responsabilidade em matéria ambiental nos seguintes termos: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados” (Brasil, 1988). Essa norma estabelece a tríplice responsabilidade em matéria ambiental: civil, penal e administrativa. Cada uma delas dispõe de um regime jurídico próprio que, apesar de disciplinarem a aplicação de sanções aos responsáveis, sua preocupação central está em reparar os danos causados ao meio ambiente. Figura 2 | Natureza jurídica da responsabilidade ambiental. Fonte: elaborada pelo autor. A responsabilidade penal ambiental é disciplinada pela Lei 9.605/1998, também conhecida como Lei de Crimes Ambientais. No caso de cometimento de um crime ambiental, conforme os tipos penais, teremos a imputação da pessoa física ou jurídica. Essa responsabilidade é sempre subjetiva, com a necessidade de comprovação da culpabilidade – dolo ou culpa – do autor do crime. Uma das novidades da Lei 9.605/1998 foi instituir a responsabilidade penal da pessoa jurídica, “[...] nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade” (Brasil, 1998). Dois são os requisitos para con�gurar a responsabilidade penal da pessoa jurídica: (i) a decisão deve ser praticada pelo representante legal ou pelo órgão colegiado da empresa; (ii) a conduta deve satisfazer ou bene�ciar os interesses da pessoa jurídica. Assim, uma decisão do representante legal/contratual ou de um órgão colegiado que bene�cie a empresa enseja a discussão do cometimento de um ilícito penal e, caso se con�rme, ela poderá ser condenada isolada, cumulativa ou alternativamente às penas de multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade (Brasil, 1998). Já as pessoas físicas que cometem crimes ambientais poderão sofrer as penas restritivas de liberdade, restritivas de direitos e multa, de acordo com o crime ambiental cometido. A responsabilidade administrativa ambiental, por sua vez, surge quando a pessoa física ou jurídica pratica uma infração administrativa que, segundo de�nição legal, é “[...] toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente” (Brasil, 1998). Na responsabilidade administrativa, que é subjetiva – há que Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL demonstrar o dolo e a culpa do responsável –, ao se veri�car o cometimento de uma infração ambiental, o �scal do órgão ambiental, lavra um auto de infração e aplica uma sanção à pessoa física ou jurídica, que pode ser uma multa, suspensão de atividades, demolição de obra e outras (Brasil, 2008). Com isso, é instaurado o processo administrativo, em que o autuado poderá se defender dos fatos e fundamentos consignados no auto de infração e, ao �nal, a decisão da autoridade administrativa ambiental. Por �m, temos a responsabilidade civil ambiental. No caso da ocorrência de um dano ambiental, o responsável, pessoa física e jurídica, de direito público ou privado, é obrigado à reparação. O ordenamento jurídico brasileiro adota, desde a Lei 6.938/1981, a teoria da responsabilidade civil objetiva, em que é necessária somente a comprovação do nexo de causalidade entre a conduta e o dano, sem discutir a culpabilidade, isto é, não é preciso investigar a culpa ou o dolo do poluidor/degradador. Além disso, a adoção da teoria da responsabilidade objetiva implica a irrelevância da licitude ou ilicitude da atividade e que questões como caso fortuito e de força maior não são excludentes. A licitude de uma atividade ou empreendimento, quer autorizado ou licenciado, não afasta ou atenua a responsabilidade do poluidor. O fato de o empreendimento ou atividade ter se submetido ao licenciamento ambiental, por exemplo, não exime a empresa da obrigação de reparar as consequências de suas intervenções, especialmente em caso de danos ao meio ambiente. De forma direta, o argumento da licitude da atividade não afasta eventual responsabilidade do poluidor. Em paralelo, é tese do STJ que “[...] não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente” (Brasil, 2018). Siga em Frente... Reparação do dano ambiental Ao se veri�car a ocorrência de um dano ao meio ambiente, é necessário que se proceda à sua reparação, que deve ser integral. A primeira pergunta é: quem deve reparar? Evidentemente, o causador do dano ambiental. Por esse conceito, tanto pessoas de direito privado – empresas – quanto as entidades da administração pública direta – União, estados, Distrito Federal e municípios – e indireta – autarquias, fundações públicas e outras – podem ser consideradas poluidoras. Mas há um aspecto muito importante: o poluidor pode ser direto ou indireto. O poluidor direto é aquele que efetivamente causou a degradação, ao passo que o poluidor indireto é aquele que, de alguma forma, contribuiu para o dano ambiental. Como exemplo, instituições �nanceiras podem ser responsabilizadas por empréstimos a empresas que causem danos ambientais; a empresa como poluidora direta, a instituição �nanceira como poluidora indireta. E o último ponto a ser destacado é que os poluidores direto e indireto são solidários, ou seja, aqueles que participaram do dano ambiental ou tiraram proveito da atividade são igualmente responsáveis pela reparação. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Assim, uma ação civil pública pode ser ajuizada em face de ambos, poluidor direto ou indireto, ou de qualquer um deles. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Brasil, 1981) e a Lei da Ação Civil Pública (Brasil, 1985) relacionam basicamente duas formas de reparação do dano ambiental:(i) a reparação/restauração e a (ii) indenização pecuniária. Outra modalidade de reparação é destacada pela doutrina: a compensação ecológica (Melo, 2017). Dessa forma, são três as modalidades de reparação do dano ambiental: (i) reparação especí�ca (in natura); (ii) compensação ecológica; e (iii) indenização pecuniária. Destaca-se, em um primeiro momento, que a ordem estabelecida deve ser observada, isto é, deve ser priorizada a reparação especí�ca sobre as demais modalidades, que são subsidiárias. A reparação especí�ca, também chamada de in natura, é aquela no local em que ocorreu o dano ambiental e, assim, encontra-se na perspectiva de retorno do equilíbrio ecológico, ou pelo menos uma situação mais próxima (Melo, 2017). Nessa modalidade, é o próprio bem lesado que deve ser reparado. Por exemplo, se o dano é o desmatamento de dez hectares de vegetação primária, a reparação será feita no próprio local, com a obrigação de que seja consistente na recomposição da área desmatada. Contudo, se não for possível a reparação especí�ca, adentra-se nas hipóteses de compensação ecológica ou de indenização pecuniária. A compensação ecológica é a substituição do bem lesado por outro equivalente (Melo, 2017). Para essa modalidade, além da impossibilidade da reparação especí�ca, é preciso que a área a ser compensada seja do mesmo tamanho da área do dano e que tenha a mesma importância ecológica. A indenização pecuniária, por �m, é a forma clássica de reparação no direito civil, mas subsidiária no direito ambiental (Melo, 2017). Os valores arrecadados a título de indenização são destinados para o Fundo para Reconstituição dos Bens Lesados, criado pela Lei da Ação Civil Pública. Uma questão relevante é a cumulação de pedidos em uma ação civil pública ambiental, isto é, aquele que cometer um dano ambiental poderá ser obrigado, reciprocamente, a reparar o local onde ocorreu o dano ambiental e destinar recursos �nanceiros para o fundo para a reconstituição dos bens lesados. Por �m, a pretensão de reparação aos danos causados ao meio ambiente é imprescritível, conforme decidiu o STF (Brasil, 2020). Em outras palavras, uma ação civil pública de reparação de danos causados ao meio ambiente não está sujeita ao instituto da prescrição, podendo ser ajuizada mesmo que tenham se passado vários anos da ocorrência do dano. Trata-se de demonstração da relevância do bem ambiental, cuja proteção é imprescindível para todas as atividades humanas. Vamos Exercitar? Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Vamos retomar a nossa situação-problema, na qual você é um consultor freelancer que, juntamente com uma equipe multidisciplinar, �cou encarregado de avaliar relatórios de um empreendimento de construção civil. Baseado na leitura de relatórios da obra, destacaram-se duas partes: Trecho 1: Veri�cou-se descarte em área de várzea de resíduos Classe D (tintas, solventes, etc.) durante a primeira fase de obras. Trecho 2: Análises químicas e físicas do solo e da água super�cial do local apresentaram valores elevados para alguns componentes, mas ainda dentro do limite permitido em legislação. Os dois trechos destacados são danos ambientais? Qual tipo de dano ambiental foi cometido pela empresa? Em relação ao direito comum, a empresa seria responsabilizada levando-se em consideração a responsabilização civil subjetiva, objetiva ou ambas? Durante nossos estudos, de�nimos que o dano ambiental pode ser explicado como a poluição que foi causada por qualquer ação humana que, ultrapassando os limites do desprezível, promoveu alterações adversas no ambiente, ou seja, degradação ambiental. Dessa forma, podemos enquadrar o exposto no trecho 1 como dano ambiental, pois houve descarte inadequado de resíduos e consequente contaminação do solo. Já o exposto no segundo trecho não pode ser considerado dano ambiental, pois os valores dos parâmetros de água analisados permaneceram dentro do permitido na legislação. Um segundo aspecto de nosso estudo foi discriminar os tipos de danos ambientais que usualmente ocorrem no mundo. Foram descritos cinco tipos principais: 1. Dano ecológico, que é a alteração adversa da biota, como resultado da intervenção humana. 2. À saúde. 3. Às atividades produtivas. 4. À segurança. 5. Ao bem-estar. Dessa maneira, podemos a�rmar que o trecho 1 pode ser enquadrado em dois tipos de danos ambientais: no primeiro (dano ecológico), pois evidenciamos uma alteração adversa no solo, que, embora seja um componente abiótico do ecossistema, apresenta organismos vivos; e no quarto (dano à segurança), pois o descarte inadequado de produtos tóxicos pode colocar a segurança dos trabalhadores em risco. Nosso último questionamento é mais complexo e envolve a compreensão do direito comum, fundamentado na responsabilidade civil subjetiva e objetiva. É importante lembrar que a primeira é aquela que, em síntese, baseia-se no elemento culpa, e a segunda é aquela que, também em síntese, por força de lei, independe do elemento culpa. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Se considerarmos que é encargo da empresa responsável pela obra a gestão dos resíduos oriundos de suas atividades, podemos concluir que o ato de descarte foi deliberado e ela assumiu o risco de dano ambiental, sendo culpada pelo ato. Com base nessa leitura, a empresa seria responsabilizada em ambas as fundamentações do direito comum, pois seria provada a sua culpa em face dos acontecimentos que resultaram na contaminação do solo local. Saiba mais Um dos maiores desastres ambientais do Brasil foi o rompimento da barragem de rejeitos da mineração no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais, em 5 de novembro de 2015. Durante o processo de reparação, um dos ajustes feitos entre as empresas responsáveis pela barragem e o Ministério Público Federal foi a assinatura de um Termo de Transação e Ajustamento de Conduta. Nele �cou estabelecida a criação de uma organização autônoma, dedicada às atividades de reparação e compensação dos impactos ambientais na Bacia do Vale do Rio Doce. Essa organização é a Fundação Renova. Trata-se de uma entidade que hoje é responsável por vários projetos e iniciativas de reparação dos danos ambientais do acidente de Mariana. Você pode conhecer mais sobre o trabalho acessando o site da Fundação Renova. Para saber mais a respeito da responsabilidade administrativa ambiental, suas infrações e a atuação cabível à polícia ambiental, sugerimos a leitura do capítulo 27 Responsabilidade Administrativa, do livro Direito ambiental e sustentabilidade, disponível em sua Biblioteca Virtual. Nesta aula, destacamos o conceito da recuperação ambiental, que é associado a intervenções realizadas com o intuito de restituir as condições de um ambiente natural degradado ou alterado a um estado próximo ao seu original, em parte ou em sua totalidade. Para saber mais sobre essa temática, leia a matéria Recuperação ambiental. Referências BENJAMIN, A. H. Responsabilidade civil pelo dano ambiental: doutrinas essenciais de direito ambiental. São Paulo: RT, 2011. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus �ns e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário O�cial de União, Brasília, DF, 2 set. 1981. Disponível em: https://shre.ink/UhIO. Acesso em: 25 out. 2023. BRASIL. Lei 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a Ação Civil Pública de Responsabilidade por Danos Causados ao Meio Ambiente, ao Consumidor, a Bens e Direitos de Valor Artístico, Estético, Histórico, Turístico e Paisagístico e Dá Outras Providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 24 jul. 1985. Disponível em: https://shre.ink/UNaZ. Acesso em: 26 out. 2023. https://www.fundacaorenova.org/ https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788520439241/pageid/0 https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/biodiversidade/recuperacao-ambiental https://shre.ink/UhIO https://shre.ink/UNaZ Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituiçãoda República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: https://shre.ink/UNaC. Acesso em: 26 out. 2023. BRASIL. Lei nº 9.605, 12 fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 12 fev. 1988. Acesso em: 26 out. 2023. BRASIL. Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 22 jul. 2008. Disponível em: https://shre.ink/UNah. Acesso em: 26 out. 2023. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial Nº 1.374.284 – MG. Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, 27 de agosto de 2014. Revista Eletrônica de Jurisprudência, 27 ago. 2014. Disponível em: https://shre.ink/UNa9. Acesso em: 26 out. 2023. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.755.077 – PA. Relator: Min. Herman Benjamin, 17 de outubro de 2018. Revista Eletrônica de Jurisprudência, 17 out. 2018. Disponível em: https://shre.ink/UNac. Acesso em: 26 out. 2023. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 629. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, 12 de dezembro de 2018. Disponível em: https://shre.ink/UNae. Acesso em: 26 out. 2023. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 654.833 Acre. Rel. Min. Alexandre de Moraes, 20 de abril de 2020. Inteiro teor do Ácordão, 20 abr. 2020. Disponível em: https://shre.ink/UNab. Acesso em: 26 out. 2023. LEITE, J. R. M.; AYALA, P. de A. Dano ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, teoria e prática. 3. ed. São Paulo: RT, 2010. MELO, F. Direito ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017. MILARÉ, E. Direito do Ambiente. 7. ed. São Paulo: RT, 2011. SOARES, M.; BAPTISTA, M. M. A. Responsabilidade administrativa. In: PHILIPPI JÚNIOR, A.; FREITAS, V. P. de; SPÍNOLA, A. L. S. (org.). Direito ambiental e sustentabilidade. Barueri: Manole, 2016. Disponível em: https://goo.gl/yiUYLc. Acesso em: 26 out. 2023. https://shre.ink/UNaC http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm https://shre.ink/UNah https://shre.ink/UNa9 https://shre.ink/UNac https://shre.ink/UNae https://shre.ink/UNab https://goo.gl/yiUYLc Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Aula 5 Encerramento da Unidade Governança e proteção ambiental Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Chegada Olá, estudante! Agora você irá desenvolver as competências abordadas nesta unidade, que é conhecer e re�etir sobre os principais documentos internacionais de proteção ambiental, além de compreender a Política Nacional do Meio Ambiente, identi�car os instrumentos públicos de compatibilização das atividades econômicas e a proteção ao meio ambiente, e conhecer a sistemática da responsabilidade em matéria ambiental. Para isso, você deverá, primeiramente, conhecer os conceitos fundamentais dos seguintes pontos: proteção internacional, sustentabilidade, políticas públicas, responsabilidade ambiental. A questão ambiental é um componente indissociável dos processos econômicos. Os Estados, corporações e sociedade discutem a relação entre economia e meio ambiente. Em uma sociedade global, com os �uxos econômicos e com a interação de sistemas empresariais, os temas ambientais estão presentes em todos os níveis. Por isso, a importância de conhecermos as estruturas de governança ambiental, tanto em nível internacional quanto nacional. Um importante marco dos movimentos relacionados aos problemas ambientais é a publicação um ensaio retratado no artigo da Reader’s Digest, que trata do uso indiscriminado de inseticidas, como destaque para o diclorodefeniltricloretano – DDT, por Rachel Carson, em 1945. Esse artigo, https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u2enc_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL apesar de publicado, não obteve sucesso. Contudo, a autora, em 1962, publicou o livro Primavera silenciosa, retomando o assunto dos inseticidas, que despertou o interesse pelo meio ambiente, embora tenha sido escrito numa linguagem nada técnica, mas sim poética. No primeiro capítulo, Uma fábula para o amanhã, a escritora descreve uma cidade �ctícia americana atacada por uma doença inexplicável, surgida de um pó misterioso, que, primeiramente, atingiu as plantas e, mais tarde, se alastrou, atingindo os animais e, em seguida, a população, inclusive as crianças, transformando em uma estação moribunda e silenciosa a primavera. Com essa obra, despertou- se a importância dos cuidados com o meio ambiente e, a partir desse momento, iniciam-se os movimentos em sua defesa. Após esse acontecimento, outro evento de fundamental importância foi a criação do clube de Roma, em 1968. O empresário italiano Aurelio Peccei, presidente honorário da Fiat, e o cientista escocês Alexander King criaram um grupo para discutir o futuro das condições humanas no planeta. A ideia era convidar cerca de 20 personalidades da época para avaliar questões de ordem política, econômica e social com relação ao meio ambiente. Em 1972, o grupo contratou uma equipe de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, sigla em inglês), liderada por Dennis e Donella Meadows, para elaborar um relatório que simulasse a interação do homem e o meio ambiente, levando em consideração o aumento populacional e o esgotamento dos recursos naturais. Esse trabalho foi intitulado Os limites do crescimento, o qual concluiu que se a humanidade continuasse a consumir os recursos naturais como na época, por consequência da industrialização, eles se esgotariam em menos de 100 anos. Entretanto, toda a dinâmica de reconhecimento dos problemas ambientais e a formulação de normas de regulação e de governança ambiental tiveram início nos eventos promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). A partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, e da criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), uma série de encontros entre os atores globais – organizações internacionais, Estados e entidades não governamentais – passaram a discutir os desa�os para superar os efeitos causados pelo crescimento econômico acelerado e o comprometimento da disponibilidade de recursos ambientais. Então, a necessidade de compatibilizar os avanços econômicos sem desestruturar os sistemas ecológicos passa a ter relevância. É nesse momento que o desenvolvimento, uma temática que ganhou força após a Segunda Guerra Mundial, passa a ser articulado com a necessidade de ser sustentado, ou seja, cria-se a concepção de um desenvolvimento que possa ser durável, sustentável. O conceito de desenvolvimento sustentável foi consolidado com o Relatório Nosso Futuro Comum, da ONU, de 1987, que declarou que o uso dos recursos naturais pelas presentes gerações não pode comprometer a disponibilidade para as futuras gerações. Trata-se de um compromisso ético entre gerações e de a�rmação de um desenvolvimento sustentado. Essa concepção adentrou em todos os âmbitos institucionais, de governos ao setor corporativo, da escala global à local. Tanto que hoje nenhuma discussão prescinde da sustentabilidade enquanto norteadora das atividades econômicas, em que pesem as tensões e di�culdades de conjugação, sobretudo em países como o Brasil, no qual as exigências materiais mínimas para a maioria da população continuam a ser um objetivo a ser superado emnossa sociedade. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Nesse contexto, as políticas públicas são um mecanismo fundamental para a promoção da sustentabilidade. No Brasil, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) é o diploma legal estruturante, com os princípios, objetivos e instrumentos de proteção e promoção do meio ambiente. A PNMA criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente, com os entes e órgãos responsáveis pela proteção do ambiente em todos os níveis: federal, estadual e municipal. Além disso, temos os instrumentos da PNMA que regulamentam as atividades econômicas, como é o caso do licenciamento ambiental, que estabelece a conjugação dos valores econômicos e da proteção ao meio ambiente. O licenciamento ambiental é um dos instrumentos previstos na Lei nº 6.938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente. Dessa maneira, qualquer construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental estão sujeitos ao prévio licenciamento ambiental. Para alguns autores, o objetivo do licenciamento ambiental é obter a Licença Ambiental (LA), entretanto, devemos considerar tal avaliação muito simplista. Resumidamente, o objetivo principal desse procedimento é veri�car se a atividade poluidora (ou potencialmente poluidora) que se pretende implementar, ou que já esteja implementada, está realmente em consonância com a legislação ambiental e com as exigências técnicas necessárias para evitar danos ambientais, sendo defendida por diversos autores (Milaré, 2007; Oliveira, 2005). Para a obtenção da LA, são necessárias algumas fases, que são de fundamental importância para a avaliação adequada dos possíveis danos ambientais. A licença prévia é a primeira etapa requerida na fase preliminar da atividade. Nesse estágio, são avaliadas a localização e viabilidade ambiental da requerente e, também, se estabelecem os requisitos básicos e condições obrigatórias que precisam ser atendidos nas próximas etapas da implementação. É importantíssimo levantar e avaliar os impactos ambientais e sociais prováveis do empreendimento nesse momento, além de incluir a comunidade na tomada de decisão �nal. Vale ressaltar que qualquer planejamento realizado antes da licença prévia é suscetível à alteração. É nessa fase que ocorre o EIA-RIMA. Podemos considerar que a licença prévia desempenha um papel de maior importância dentro do licenciamento ambiental em relação às demais licenças, pois é nesse momento que se levantam as consequências da implantação e da operação do empreendimento, além de sua localização. Para muitos autores, realizar essa fase de forma equivocada pode ser uma grande tragédia em médio e longo prazo, resultando em diversos problemas ambientais, sociais etc. Após essa etapa inicial, busca-se a licença de instalação (LI), que autoriza a implantação do empreendimento ou atividade de acordo com as especi�cações que foram de�nidas na licença prévia aprovada, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes. Com essa segunda licença concedida, a próxima a ser solicitada é a licença de operação (LO), que, após veri�car a conformidade do que foi solicitado nas licenças prévias e de instalação, autorizará o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluição. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Embora toda a sistemática ambiental esteja assentada na de�nição de políticas e instrumentos de prevenção aos danos ambientais, é preciso disciplinar as consequências jurídicas pela não observância das prescrições legais. É nesse ponto que surge um tema de fundamental relevância pro�ssional: a responsabilidade ambiental das pessoas físicas e jurídicas que praticam condutas consideradas lesivas ao meio ambiente. Por disposição constitucional, essa responsabilidade impõe sanções penais e administrativas aos poluidores, que são obrigados a reparar os danos causados. A responsabilidade em matéria ambiental é um mecanismo de defesa contra as intervenções deletérias ao ambiente, assumindo um tema central no dia a dia de qualquer pro�ssional dos setores corporativos. É Hora de Praticar! Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você trabalha como consultor na área ambiental e foi contratado por determinada entidade da sociedade civil para emitir uma análise técnica de um caso que envolve a conduta poluidora de uma empresa e a possível responsabilidade em matéria ambiental. Desse modo, trata-se de problemática que envolve uma empresa do ramo têxtil, em que o processo industrial utiliza produtos químicos intensivamente. A atividade é considerada potencialmente causadora de signi�cativa degradação, sendo que a empresa se submeteu ao licenciamento ambiental, com a elaboração do estudo prévio de impacto ambiental (EIA/RIMA). Durante o procedimento administrativo, foi realizada audiência pública e uma parcela signi�cativa da população das cidades vizinhas manifestou-se contrária à instalação do empreendimento, por estar muito próximo de um rio que abastece várias cidades e pelos riscos envolvidos. Apesar das manifestações contrárias, o órgão ambiental licenciador concedeu as licenças ambientais e a empresa está em operação há mais de três anos. No início do ano de 2022, diante dos efeitos econômicos advindos da pandemia, a empresa resolveu cortar custos operacionais e um dos aspectos mais afetados foram as operações de tratamento dos e�uentes líquidos e gasosos gerados em sua dinâmica industrial. Apesar da redução de custos no sistema de tratamento de e�uentes, as metas �nanceiras pretendidas não foram atingidas. Diante disso, no mês de setembro de 2022, uma decisão do diretor-presidente da empresa determinou que os funcionários �zessem o lançamento dos e�uentes da empresa diretamente no rio que atravessa a área do empreendimento. Devido a essa destinação direta no curso Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL d’água, houve uma redução dos custos operacionais, já que os e�uentes não precisaram de tratamento. Mas essa decisão teve consequências imediatas, com a mortandade de peixes e a contaminação da água, o uso impróprio por semanas, impedindo que os moradores das cidades vizinhas pudessem usá-la no abastecimento público e como insumo de seus processos produtivos, em especial na agricultura e na pecuária. Diante da repercussão negativa, a empresa veio a público se manifestar e pedir desculpas pelo ocorrido. Contudo, alegou que não pode ser responsabilizada porque é uma atividade devidamente licenciada pelo órgão ambiental estadual e que adota padrões internacionais de sustentabilidade. Inclusive, o lema da empresa baseia-se no tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Além disso, sua responsabilização poderia levar ao fechamento de suas atividades e à dispensa de seus funcionários. Diante desse relato, a análise agora é com você! Para tanto, emita as suas considerações sobre a possível responsabilidade da empresa no caso em questão. Você acredita que os instrumentos de avaliação dos impactos ambientais, como os estudos ambientais, são realmente e�cazes na proteção ambiental? Na sua opinião, levando em consideração o direito à qualidade de vida, a perspectiva de necessidade de recursos ambientais e um meio ambiente equilibrado das futuras gerações, podemos dizer que é ético o enriquecimento monetário de empresas à custa da degradação do meio ambiente e da qualidade de vida da coletividade? Para você, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que é o diploma legal estruturante, com os princípios, objetivos e instrumentos de proteção e promoção do meio ambiente, atua com seriedade e e�cácia no nosso país? Vamos juntos articular os principais aspectospara a resolução do nosso estudo de caso. Em primeiro lugar, é necessário contextualizar que o caso trata de um dos aspectos mais recorrentes e sensíveis da nossa realidade: o desenvolvimento de atividades econômicas em respeito à proteção ao meio ambiente. Trata-se de uma questão recorrente no universo pro�ssional, mas com consequências para todos, uma vez que os impactos ambientais têm efeitos sociais e econômicos. Para a resolução, é importante identi�car que o problema conjuga o conhecimento dos instrumentos regulatórios das atividades econômicas previstos na Lei 6.938/1991, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, em especial o licenciamento ambiental, com a responsabilidade ambiental, ou seja, as consequências do descumprimento das normas ambientais, com a ocorrência de dano ambiental. Desse modo, com base no problema proposto, nota-se que a empresa cumpriu normalmente os procedimentos do licenciamento ambiental. Por se tratar de atividade potencialmente causadora de signi�cativa degradação do meio ambiente, foi exigida a realização do estudo prévio de impacto ambiental (EIA/RIMA), inclusive com a realização de audiência pública, momento de informação e participação da sociedade. Diante da regularidade das etapas procedimentais, foram concedidas as licenças ambientais, com o funcionamento das operações. No entanto, podemos notar que, diante das di�culdades �nanceiras, especialmente decorrentes dos efeitos da pandemia da covid-19, a empresa optou por reduzir custos e direcionou esse intento aos procedimentos e medidas de controle de suas externalidades, ou seja, daquelas que podem causar poluição. E aqui temos o início do problema, porque ao reduzir as medidas de Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL tratamento de e�uentes de uma atividade que é reconhecidamente poluidora, aumentou os riscos de um dano ambiental, que viria a ser con�rmado. O lançamento de e�uentes, com a contaminação do rio, ocasionou o dano ambiental, que teve reciprocamente duas dimensões: (i) causou danos à natureza, com a mortandade de peixes; e (ii) impossibilitou o uso da água para o abastecimento público e insumo de atividades produtivas (Melo, 2017). Por isso, no caso em análise, a empresa será responsável por esses aspectos. Quanto às alegações da empresa, elas não coadunam com o sistema jurídico brasileiro, porque a Constituição Federal, em seu art. 225, § 3º (Brasil, 1988), determina a tríplice responsabilidade – civil, penal e administrativa – para os causadores de danos ao meio ambiente. No caso, é possível discutir a responsabilidade penal da pessoa jurídica, porque houve uma decisão do órgão colegiado, que bene�ciou a empresa, já que deixou de investir recursos �nanceiros com essa conduta que, ao �nal, ocasionou o crime de poluição (Brasil, 1998). Além disso, essa conduta pode ser analisada à luz da responsabilidade administrativa ambiental (Brasil, 2008). E, por �m, implicará a obrigação de reparar os danos causados ao meio ambiente. O argumento de que a empresa é licenciada não afasta a obrigação de reparar os danos causados ao meio ambiente. Ademais, usar a justi�cativa da empregabilidade e do possível fechamento como forma de se esquivar da responsabilidade, além de não ter qualquer embasamento jurídico, representa uma lógica de privatizar os lucros e socializar os prejuízos com a sociedade. É evidente que isso não se coaduna com os parâmetros de uma empresa que se apresenta seguindo o tripé da sustentabilidade. Esses são, em síntese, os principais argumentos para o deslinde da sua atuação como consultor ambiental. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Figura 1 | Governança e proteção ambiental: tópicos importantes. Fonte: elaborada pelo autor. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 27 out. 2023. BRASIL. Lei nº 9.605, 12 fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 12 fev. 1988. Acesso em: 27 out. 2023. BRASIL. Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 22 jul. 2008 Disponível em: https://shre.ink/UNAh. Acesso em: 27 out. 2023. MELO, F. Direito ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017. , Unidade 3 Responsabilidade social e ambiental e gestão corporativa Aula 1 Responsabilidade Social Corporativa Responsabilidade social corporativa Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/%20Constitui%C3%A7ao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm https://shre.ink/UNAh https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u3a1_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Ponto de Partida Olá, estudante! É uma alegria tê-lo conosco em uma nova aula da disciplina de Responsabilidade Social e Ambiental! A temática que estudaremos é a responsabilidade social corporativa. Trata-se de uma nova con�guração para as empresas que, reconhecendo o seu valor como agente social, assumem o compromisso ético para o cumprimento das dimensões econômica, social e ambiental da sustentabilidade. Por meio da responsabilidade social corporativa, a empresa estabelece um diálogo permanente com a sociedade, conjugando a perspectiva dos seus negócios com as demandas socioambientais. Para compreender melhor esse termo, vamos trabalhar o caso de Wesley, que testemunhou e testemunha o desmatamento da Cidade dos Anjos por um loteadora que está construindo um polo industrial, desmatando mais de cinquenta por cento do permitido na área da instalação. Wesley começou um movimento contra essa conduta e cada dia mais tem conseguido adeptos para garantir que a cidade seja respeitada em sua essência e importância como patrimônio ambiental. Por essa razão, Wesley e os adeptos promoveram o movimento, que foi além da pan�etagem e outras ações de divulgação. Com isso, conseguiram chamar a atenção da imprensa e do Ministério Público, e, apesar de toda a visibilidade do movimento, o grupo não teve êxito na tentativa de marcar uma audiência com a empresa loteadora para discutir as questões anteriormente citadas. O modelo empresarial da loteadora é tão ultrapassado que sequer deu oportunidade de ouvir os interessados. Enquanto esperavam, um dos integrantes do movimento, Anderson, comentou que a empresa em que trabalha adota a governança corporativa e, por esse meio, entende que todos fazem parte do seu processo de melhoria, inclusive com transparência nas suas ações. Questiona-se, portanto: se a loteadora tivesse adotado a governança corporativa como ferramenta para vislumbrar o futuro da empresa, ela cometeria tantos abusos perante a comunidade e o meio ambiente? Ela abriria oportunidade para ouvir as reivindicações representadas pelo movimento liderado por Wesley? Ela seria vista no mercado com outra imagem? Agora, você compreenderá a importância da atuação da empresa como vetor para a construção de valores de uma sociedade comprometida com a qualidade de vida e a sustentabilidade. Estou te esperando! Disciplina RESPONSABILIDADESOCIAL E AMBIENTAL Vamos Começar! Conceito de responsabilidade social corporativa No que consiste e quais são os propósitos da responsabilidade social corporativa? Qual a sua importância no contexto empresarial e nas relações com a sociedade? Essas são perguntas que nos conduzem para uma nova dimensão do papel das empresas no mundo contemporâneo. Em primeiro lugar, é preciso re�etir sobre o signi�cado do termo empresa. A compreensão usual é que constitui uma atividade econômica organizada com a �nalidade de obtenção de lucro. Desde o início do sistema de produção capitalista, o sentido da atividade econômica por meio de organizações de variados tipos sempre esteve vocacionado para a maximização da lucratividade a partir da redução de custos e do aumento da produção, ou seja, uma dimensão de caráter eminentemente econômico. Todavia, a empresa, enquanto atividade, transformou-se tanto em relação à maneira pela qual se dá a sua con�guração quanto no que se refere à sua importância social. A empresa é um agente fundamental para o ciclo econômico uma vez que vincula nos processos produtivos mão de obra e insumos com a geração de renda e transformações signi�cativas no ambiente natural e social. Portanto, considerando os impactos das suas atividades, as empresas não estão livres das discussões sobre a sua responsabilidade no quadro do desenvolvimento, especialmente o sustentável. Na década de 1950, no cenário norte-americano, Howard Bowen lança a obra Social Responsabilities of the Businessman, considerada a primeira re�exão acadêmica a respeito do tema responsabilidade social. O autor não se restringiu às questões �lantrópicas e pontuou a importância do compromisso das empresas para a melhoria das condições sociais da sociedade (Junco; Florencio; Bustelo, 2014). No Brasil, é a partir da década de 1990 que o tema da responsabilidade social passa a ser importante para a administração e gestão organizacional. Coube ao Instituto Ethos estimular a adoção das práticas de responsabilidade social corporativa (também chamada de responsabilidade social empresarial) no espaço de negócios brasileiro. As discussões sobre a responsabilidade social contribuíram para que a ciência jurídica incorporasse um redimensionamento da concepção da atividade empresarial em nossa sociedade. Desse modo, a função social da empresa é um dos aspectos centrais da Constituição Federal de 1988, em que a atividade econômica é uma conjugação dos interesses dos proprietários com os da coletividade. No capítulo sobre a ordem econômica, a Carta Magna disciplina os princípios da livre iniciativa e concorrência à luz da justiça social e de uma sociedade livre, justa e solidária. As empresas estão vinculadas a conservar e nutrir respeito à ordem econômica e social por meio da preservação do meio ambiente, da proteção aos Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL consumidores e aos trabalhadores (Brasil, 1988). As empresas têm uma função social destacada e não vinculada exclusivamente à questão econômica. Em que pese a centralidade da função social da empresa no universo jurídico, ela não se confunde com a responsabilidade social corporativa. Essa é mais ampla e representa um compromisso das empresas além do processo econômico e legal para um engajamento social e ambiental em sociedade. Por essa razão, o desempenho da atividade econômica em conformidade com a legislação é somente um dos elementos da responsabilidade social corporativa. Com esses apontamentos, indaga-se: como conceituar a responsabilidade social corporativa? No âmbito internacional, uma importante normatização, a ISO 26000:2010, estabelece os parâmetros para a responsabilidade social, que, por sua vez, apresenta o seguinte conceito: A responsabilidade social se expressa pelo desejo e pelo propósito das organizações em incorporarem considerações socioambientais em seus processos decisórios e a responsabilizar- se pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente. Isso implica um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, que esteja em conformidade com as leis aplicáveis e seja consistente com as normas internacionais de comportamento. Também implica que a responsabilidade social esteja integrada em toda a organização, seja praticada em suas relações e leve em conta os interesses das partes interessadas (ABNT, 2010). Para o Instituto Ethos, a responsabilidade social corporativa é de�nida como: [...] a forma de gestão que se de�ne pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e a redução das desigualdades sociais (Instituto Ethos, 2004). Nota-se, portanto, que a responsabilidade social corporativa expressa uma convenção empresarial, representativa do novo contexto das empresas que estão eticamente comprometidas com os processos econômicos, sociais e ambientais. Siga em Frente... Os elementos estruturantes da responsabilidade social corporativa A responsabilidade social corporativa é uma convenção que estabelece compromissos éticos quanto ao papel e ponderação das consequências da atividade empresarial. Dessa forma, a Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL empresa passa a �gurar não apenas como um agente econômico, mas como um vetor para a construção de valores de uma sociedade compromissada com a qualidade de vida e com a sustentabilidade. Como compreender a responsabilidade social corporativa? Há diversos modelos, mas um dos principais estabelece e articula quatro categorias de responsabilidade social: (i) econômica; (ii) legal; (iii) ética; (iv) de ação discricionária (Carrol, 1979 apud Amorim, 2009). As duas primeiras responsabilidades são inerentes às atividades empresariais, dado que o objetivo econômico de uma empresa não pode prescindir da observância da legislação, seja tributária, trabalhista ou ambiental. A responsabilidade ética, por sua vez, expressa o compromisso da transparência, da lealdade nas relações, inclusive intergeracional, ou seja, de garantir os recursos naturais para as gerações futuras. A responsabilidade discricionária, por �m, é o engajamento voluntário com os projetos comunitários (sociais, educacionais, recreativos), que contribuem para mudanças na sociedade (Amorim, 2009). Os princípios estruturantes da responsabilidade social corporativa estão estabelecidos na norma internacional ISO 26000:2010 (ABNT, 2010). O primeiro deles é a accountability, isto é, a obrigação da empresa de ser responsável por suas ações e decisões, o que implica a prestação de contas. Accountability deve ser entendida como a: “[...] condição de responsabilizar-se por decisões e atividades e prestar contas destas decisões e atividades aos órgãos de governança de uma organização, a autoridades legais e, de modo mais amplo, às partes interessadas da organização” (ABNT, 2010). O segundo princípio é a transparência, que consiste em divulgar de forma clara e objetiva as consequências dos impactos de suas atividades nas comunidades afetadas. O terceiro princípio é o comportamento ético, que signi�ca integridade. A organização deve se estabelecer com base na honestidade e no compromisso com valores em prol da comunidade e do meio ambiente. O quarto princípio é o respeito pelos interesses das partes interessadas, isto é, identi�car os stakeholders (que são todas as partes envolvidas e interessadas em um negócio), ouvindo-os ativamente e considerando as suas proposições. O quinto princípio é o respeito pelo Estado de direito, ou seja, a organização deve aceitar e respeitar as normas jurídicas constituintes do Estado. O sexto princípio é o respeito pelas normas internacionais de comportamento, com a adoção de comportamentos organizacionais responsáveis e comprometidos com as melhores práticas de governança social e ambiental, mesmo emQual foi o preço do Antropoceno e como isso afetará a minha vida? O Antropoceno ocorre atrelado à modernidade urbano-industrial. Temos um ponto-chave da expansão do Antropoceno, a Revolução Industrial e energética, a qual deu início ao uso generalizado de combustíveis fósseis (carvão mineral) e à produção em massa de mercadorias e meios de subsistência. Como consequência, houve uma rápida expansão das atividades antrópicas. Todo esse processo expansionista gerou efeitos incomparáveis: em 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Esse crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens. Entretanto, todo esse avanço gerou consequências extremamente negativas ao meio ambiente. Nossas atividades ultrapassaram a capacidade de carga da Terra, e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a biocapacidade do planeta. Tal cenário ainda não parece mudar. A cada dia, a dívida do ser humano com a natureza continuação a crescer e a degradação ambiental pode, no limite, destruir a base ecológica que sustenta a economia e a sobrevivência humana. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Saiba mais Nesta aula discutimos a hipótese do Antropoceno. Sob esse contexto, é proposto que as atividades humanas alteraram consideravelmente a dinâmica do planeta, con�gurando uma nova época geológica. Para auxiliar na compreensão das de�nições do Antropoceno, leia o artigo O que é o Antropoceno e por que esta teoria cientí�ca responsabiliza a humanidade. Além disso, podemos compreender que o avanço das atividades humanas está alterando drasticamente a dinâmica no planeta. Entre os pontos destacados, está o aquecimento global, aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra, que pode ser consequência de causas naturais e atividades humanas. Para saber mais sobre essa temática, leia a matéria As Mudanças Climáticas, e Antropoceno: a era do colapso ambiental, e entenda quais os principais fatores associados às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Outro ponto de relevância que abordamos nesta aula é uma das principais métricas para conhecer e compreender o impacto das nossas atividades no planeta, a Pegada Ecológica. Mas será que você sabe qual é a sua pegada? Para conhecê-la, acesse Pegada Ecológica e faça o teste usando a calculadora da contabilidade ambiental, que re�ete as nossas condutas sobre o planeta. Além de interessante, o resultado nos ajudará a compreender a nossa responsabilidade no Antropoceno. Referências ALVES, J. E. D. Antropoceno: a era do colapso ambiental. Disponível em: https://cee.�ocruz.br/? q=node/1106. Acesso em: 17 out. 2023. COSTA, A. Antropoceno: desmandamentos gravados em rocha. In: Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da terra, v. 1. Rio: Machado, 2023. COSTA, F. Tecnoceno: algoritmos, biohackers y nuevas formas de vida. Buenos Aires: Taurus, 2021. CRUTZEN, P.; STOERMER, E. The “Anthropocene”. Global Change Newsletter, v. 41, 2000, p. 17-18. DIA de sobrecarga da terra. WWF. Disponível em: https://www.wwf.org.br/overshootday/. Acesso em: 17 out. 2023. IPBES. Resumo para formuladores de políticas do relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos da plataforma intergovernamental de políticas cientí�cas sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Bonn: IPBES Secretariat, 2019. 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Um exame dos padrões de crescimento das cidades brasileiras. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1155.pdf. Acesso em: 17 out. 2023. GLOBAL FOOTPRINT NETWORK. Ecological footprint per person. In: National footprint and biocapacity accounts 2022 edition. Disponível em: https://data.footprintnetwork.org/#/. Acesso em: 17 out. 2023. MOORE, J. W. Anthropocene or capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism. Los Angeles: Kairos, 2016. ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. O QUE é o Antropoceno e por que esta teoria cientí�ca responsabiliza a humanidade? National Geographic Brasil, jan. 2023. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2023/01/o-que-e-o-antropoceno-e-por-que- esta-teoria-cienti�ca-responsabiliza-a-humanidade UNESCO. Correio da Unesco: um glossário para o antropoceno. In: Bem-vindo ao Antropoceno, v. 2, abr.-jun., 2018. 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Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! É uma alegria tê-lo conosco em uma nova aula sobre um tema fundamental para a sua formação pro�ssional e social: as mudanças climáticas. Sabemos, hoje, que a mudança do clima é uma realidade com impactos diretos nas relações econômicas e sociais. Agora, você, como um recém-contratado de uma multinacional do ramo alimentício, será o responsável pela implantação de projetos que visam diminuir o impacto da empresa na emissão dos gases do efeito estufa (GEE). Diante do desa�o, você decide realizar uma palestra para sua equipe sobre o que é o aquecimento global, as mudanças climáticas, seus impactos, quais são os principais GEE e o que é o efeito estufa. Vamos juntos no estudo desse tema fundamental para a manutenção dos recursos do nosso planeta e para as gerações atuais e futuras! Um grande abraço! Vamos Começar! O conceito de mudanças climáticas A mudança do clima é o maior desa�o do mundo contemporâneo. Nenhuma política ou perspectiva de desenvolvimento social e econômico prescinde dessa temática, e sua compreensão é fundamental e indispensável para o futuro de nossas sociedades. A mudança do clima ampli�ca a vulnerabilidade de populaçõespaíses em que as normas sejam mais �exíveis. O sétimo e último princípio é o respeito pelos direitos humanos em sua compreensão de universalidade, como direitos para todas as pessoas, sem quaisquer tipos de discriminações, em todos os lugares do planeta. O respeito aos direitos humanos impõe igualmente a sua promoção, isto é, o engajamento de promovê-los em conformidade com os preceitos da Carta Internacional dos Direitos Humanos. A responsabilidade social corporativa equivale a um novo estágio de entendimento do papel da empresa. Ela conduz a empresa a uma dimensão de cidadania, como uma empresa-cidadã. Supera-se a ideia de uma empresa como um negócio, de interesse exclusivo dos investidores, ou mesmo de uma empresa como organização social (Martinelli, 1997 apud Amorim, 2009). Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A empresa-cidadã tem “[...] uma concepção estratégica e um compromisso ético, resultando na satisfação das expectativas e respeito pelos parceiros” (Amorim, 2009, p. 134). A empresa olha para si mesma, e a sociedade e o mercado a olham também para avaliar a sua contribuição e participação no processo de redução dos problemas socioambientais. Nesse cenário, a empresa articula ações com base em objetivos que não consistem em práticas comerciais ou em resultados econômicos imediatos; ela passa a atuar como um agente social (Amorim, 2009). Nota-se, destarte, que a responsabilidade social corporativa contém um núcleo de cidadania empresarial, com ganhos e resultados tanto internamente quanto externamente que, em última análise, são representativos dos compromissos com a sociedade. A aplicação da responsabilidade social corporativa A responsabilidade social corporativa, como já destacado, é de implementação voluntária. Por essa razão, há diversas estratégias para torná-la efetiva no contexto empresarial, de acordo com o setor econômico e o tamanho da empresa. Mas o aspecto fundamental é que toda e qualquer empresa pode adotar os preceitos da responsabilidade social corporativa. A norma ISO 26000:2010 fornece algumas diretrizes de campos temáticos e de reconhecido interesse e relevância social. As empresas podem, ao dialogar com as expectativas e necessidades das partes interessadas, articular ações concretas. As diretrizes funcionam como temas centrais a partir dos quais a organização poderá identi�car questões peculiares, relevantes, estabelecendo suas prioridades de ação. Então, como áreas centrais, podemos destacar: governança organizacional; direitos humanos; práticas de trabalho; meio ambiente; práticas leais de operação; questões relativas ao consumidor; envolvimento e desenvolvimento da comunidade (ABNT, 2010). É preciso ressaltar que a responsabilidade social corporativa demanda o cumprimento de deveres, isto é, ações reais. Por esse motivo, é primordial enxergar a responsabilidade social corporativa no sentido de ações a serem desempenhadas. Não se trata de algo teórico, mas de medidas reais, efetivas, na expectativa de transformação. A compreensão da responsabilidade social corporativa impõe a conjugação de duas perspectivas. Na primeira, a responsabilidade social corporativa está relacionada com as condutas internas (Jones, 1997 apud Amorim, 2009), que dizem respeito às dinâmicas operacionais da empresa. Nesse caso, estão incluídas as ações no contexto de programas de relação com os empregados, sobretudo no que tange ao respeito aos direitos sociais do trabalho, assim como na geração de uma percepção interna de satisfação e de mútua colaboração, num ambiente laboral que proporcione o crescimento pro�ssional e a igualdade de oportunidades. No mesmo sentido, a responsabilidade social perpassa pela estruturação de um programa de integridade e governança corporativa que esteja imbuído do máximo respeito aos direitos dos colaboradores, permitindo-lhes o desenvolvimento integral e o engajamento nas ações empresariais. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL No plano interno ainda há de se pontuar ações no campo do respeito aos direitos humanos, principalmente para promover a igualdade de gênero, evitando práticas discriminatórios de quaisquer tipos, bem como integração e acessibilidade de pessoas com de�ciência. Enumeram- se, ainda, programas de ética corporativa, com especial atenção à prevenção de assédio sexual e moral, programas de relacionamento interno, para promover uma política de recursos humanos pautada na conciliação e no respeito mútuo às diferenças e singularidades, programas de capacitação em responsabilidade social corporativa com enfoque na integração da empresa junto à comunidade local, bem como o estabelecimento de códigos de conduta no relacionamento com clientes, fornecedores e parceiros comerciais. A segunda perspectiva da responsabilidade social corporativa é voltada ao plano externo, com a participação da corporação em ações fora dos seus interesses diretos e imediatos (Amorim, 2009), por meio de investimento e destinação de recursos a programas sociais, de proteção ambiental, de conscientização sanitária etc., criados e mantidos pela própria empresa, ou em parceria com organizações não governamentais ou mesmo com as entidades do poder público. Como destaque, há o desenvolvimento de projetos socioeducacionais junto às comunidades, atendimento a grupos de risco e pessoas em situação de vulnerabilidade, além de projetos para a conservação e recuperação de áreas degradadas pelas próprias atividades empresariais. O plano externo é estabelecido entre a empresa em suas relações com o entorno, seja a comunidade ou o meio ambiente. Como se pode notar, a responsabilidade social corporativa contempla inúmeras possibilidades de atuação para a empresa, a qual caberá de�nir o conjunto de ações pertinentes ao seu modelo de negócios ou à dimensão que pretende conferir ênfase em sua atuação. Vamos Exercitar? As empresas se preocupam muito hoje em dia em associar a sua imagem com práticas sociais. Procuram cada vez mais proceder e associar a sua imagem ao “ser socialmente correto”, contudo, o compromisso empresarial ou organizacional com a sociedade, com a economia e com o meio ambiente deve decorrer do seu comportamento ético, que precisa envolver o comprometimento interno e externo representado pelos stakeholders, com planejamento estratégico, para se veri�car a boa prática da governança corporativa. A empresa ou organização deve ter compromisso com os seus investidores, com o mercado, com a sociedade. Se ela for seriamente comprometida, certamente colherá bons frutos. Questiona-se, portanto, se a construtora tivesse adotado a governança corporativa como ferramenta para vislumbrar o futuro da empresa, ela cometeria tantos abusos perante a comunidade e o meio ambiente? Ela abriria oportunidade para ouvir as reivindicações representadas pelo movimento liderado por Wesley? Ela seria vista no mercado com outra imagem? Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL No caso da loteadora, não se denota isso, porque em momento algum ela foi transparente nas suas ações e os danos são iminentes agora. O levante e a denúncia foram feitos, comprometendo de imediato sua imagem idônea no mercado. Certamente, se adotasse a governança corporativa, a empresa loteadora teria atrelada à sua conduta a execução de danos ao meio ambiente e, também, estaria aberta às reivindicações da comunidade. Além disso, o movimento de Wesley seria ouvido e atendido. A imagem da empresa seria outra e a comunidade, em vez de contrária a ela, seria sua aliada. Saiba mais No Brasil, a divulgação das iniciativas de responsabilidade social corporativa está associada ao trabalho do Instituto Ethos. Trata-se da principal organização na promoção de cursos e capacitações para o desenvolvimento sustentável na área empresarial. Conhecer o trabalho do Instituto Ethos, por meio de suas publicações e eventos, é uma forma de se aprofundar nas temáticas para uma governança socialmente responsável. Como citamos ao longo desta aula, a responsabilidade social é o modo de pensar e agirde forma ética nas relações. Para conhecer mais sobre essa temática, leia a matéria Tudo o que você precisa saber sobre responsabilidade social. Agora que sabemos da importância da implantação da responsabilidade social corporativa, quais as vantagens e desa�os, para saber mais sobre o conceito e como colocar em prática as ações dessa temática, leia a matéria Como garantir a Responsabilidade Social Corporativa? Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 26000: diretrizes sobre responsabilidade social. Rio de Janeiro: 2010. Disponível em: http://servicos.uberlandia.mg.gov.br/uploads/cms_b_arquivos/16719.pdf. Acesso em: 30 out. 2023. AMORIM, T. N. G. F. Responsabilidade social corporativa. In: ALBUQUERQUE, J. de L. (org.). Gestão ambiental e responsabilidade social: conceitos, ferramentas e aplicações. São Paulo: Atlas, 2009. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 30 out. 2023. COMO garantir a responsabilidade social corporativa? Serasa Experian, 29 dez. 2021. Disponível em: https://serasa.certi�cadodigital.com.br/blog/comunicacao/como-garantir-a- responsabilidade-social-corporativa/. Acesso em: 30 out. 2023. https://www.ethos.org.br/ https://fadc.org.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-responsabilidade-social https://fadc.org.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-responsabilidade-social https://serasa.certificadodigital.com.br/blog/comunicacao/como-garantir-a-responsabilidade-social-corporativa/ http://servicos.uberlandia.mg.gov.br/uploads/cms_b_arquivos/16719.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/%20Constitui%C3%A7ao.htm https://serasa.certificadodigital.com.br/blog/comunicacao/como-garantir-a-responsabilidade-social-corporativa/ https://serasa.certificadodigital.com.br/blog/comunicacao/como-garantir-a-responsabilidade-social-corporativa/ Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL JUNCO, J. G. del; FLORENCIO, B. P.; BUSTELO, F. E. Manual práctico de responsabilidad social corporativa: gestión, diagnóstico e impacto en la empresa. Madrid: Ediciones Pirámide, 2014. TUDO o que você precisa saber sobre responsabilidade social. Fundação Abrinq, 16 nov. 2020. Disponível em: https://fadc.org.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre- responsabilidade-social. Acesso em: 30 out. 2023. Aula 2 Indicadores de Sustentabilidade Indicadores de sustentabilidade Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! É uma alegria tê-lo conosco nesta aula em que discutiremos os indicadores de sustentabilidade, que são as práticas e procedimentos para que uma empresa se apresente como responsável ecologicamente perante o mercado e os seus consumidores. Para que uma empresa seja considerada sustentável, é necessário mais do que o cumprimento das obrigações legais. Exige-se que ela adote processos e procedimentos que reduzam os seus impactos no meio ambiente. Uma das principais iniciativas nesse sentido é a adoção de um sistema de gestão ambiental, com a adoção de uma política empresarial que conjugue o planejamento e o gerenciamento dos impactos de suas atividades. https://fadc.org.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-responsabilidade-social https://fadc.org.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-responsabilidade-social https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u3a2_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Agora, você, proprietário de uma empresa que atua no ramo de consultoria, visando à implantação de soluções sustentáveis para grandes empresas, deverá apresentar um plano de trabalho para a implantação de estratégias e indicadores de sustentabilidade para uma franquia de cosméticos. Dessa maneira, você preparou um portfólio com o plano de ação. Caso aprovado, ele será executado com base na ISO 14001. Para facilitar o entendimento da ISO 14001, você destacou alguns pontos importantes que serão apresentados para os contratantes dessa norma internacional, que estabelece diretrizes para sistemas de gestão ambiental: O que é a ISO 14001 e para que serve? Quais os benefícios que uma empresa tem com a certi�cação ISO 14001? Como se aplica a ISO 14001 em uma empresa? Vamos juntos no estudo dessa instigante temática! Vamos Começar! A importância dos indicadores de sustentabilidade Atualmente, o discurso sobre a sustentabilidade é dominante em todos os setores, público ou privado. Trata-se de uma demanda que conjuga o compromisso com o planeta e o ambiente de negócios. Mas a sustentabilidade não pode estar restrita à articulação de seus pressupostos em um plano meramente retórico, é preciso critérios para aferir se, de fato, uma organização adota processos, procedimentos e práticas sustentáveis. E ainda que uma empresa se respalde em um conjunto de práticas sustentáveis, elas nem sempre são su�cientes para que essa se atribua a prerrogativa de ser sustentável. Diante disso, como caracterizar uma empresa comprometida com a sustentabilidade? Em um primeiro momento, o compromisso básico com a sustentabilidade está no cumprimento das disposições legais, em especial das políticas públicas ambientais. Nessas políticas, temos as normas jurídicas de comando e controle, ou seja, aquelas que estabelecem imposições para as empresas para, em seguida, serem �scalizadas pelas autoridades competentes pelo cumprimento. O licenciamento ambiental é um exemplo na medida em que, após a empresa cumprir com os procedimentos legais (comando) e obter a licença de operação, ela passa a ser �scalizada pelos órgãos ambientais (controle). Contudo, para que uma organização seja considerada sustentável, é preciso mais que a submissão à legislação ambiental, que, apesar de obrigatória, encontra-se no nível elementar. Para ser sustentável, a empresa precisa conferir outros aspectos estruturais em seus negócios, como a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, conjugando as exigências legais com Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL a de�nição de uma política ambiental empresarial, que tenha como referência o planejamento e o gerenciamento ambiental de suas atividades (Seiffert, 2007). Assim, em um Sistema de Gestão Ambiental, a política empresarial traduz o propósito da empresa com seus compromissos para a proteção do meio ambiente. O nível de planejamento envolve a adequação do uso dos recursos naturais, isto é, a conjugação do cumprimento dos objetivos das políticas públicas com as aspirações da sociedade no que se refere aos impactos ambientais da empresa. Já o gerenciamento ambiental está no caráter mais tático, operacional, com o “[...] conjunto de ações destinado a regular o uso, controle, proteção e conservação do meio ambiente [...]” (Seiffert, 2007, p. 54). Mas qual a importância de um Sistema de Gestão Ambiental? Além de lidar com as pressões dos agentes públicos e privados, há o compromisso de minimizar ao máximo os efeitos prejudiciais de suas atividades econômicas sobre o meio ambiente. Por isso, um Sistema de Gestão Ambiental inclui a estrutura organizacional e o conjunto de elementos de planejamento, procedimentos, processos e práticas para implementar e manter uma política ambiental na organização (ABNT, 2015). Nesse contexto, o gerenciamento ambiental assume relevância na medida em que busca o que foi prometido no plano discursivo, ou seja, a coerência exigida entre os compromissos assumidos e a realidade daspráticas com efeitos na redução dos impactos deletérios de determinada organização. Entendendo o gerenciamento como o nível operacional da sustentabilidade, é por meio dele que veri�camos se os aspectos legais e de planejamento são observados, se, de fato, o Sistema de Gestão Ambiental é e�ciente para a proteção do meio ambiente. Por essa razão, o próprio ambiente de negócios estabeleceu um conjunto de parâmetros, instrumentos e certi�cações para a sustentabilidade. Eles são responsáveis por veri�car e atestar se uma organização realmente adota em sua estrutura organizacional normas e procedimentos que articulam os pilares da sustentabilidade. Principais indicadores de sustentabilidade empresarial Um dos mais importantes parâmetros para a sustentabilidade empresarial é a exigência de avaliar o ciclo de vida de produtos, que consiste nos “[...] estágios consecutivos e encadeados de um sistema de produto (ou serviço), desde a aquisição da matéria-prima ou de sua geração, a partir de recursos naturais até a disposição �nal” (ABNT, 2015, p. 5). Essa avaliação é uma abordagem do berço ao túmulo, ou seja, desde a matéria-prima, passando pelo processo produtivo, o consumo, até a disposição �nal ambientalmente adequada, que é a distribuição desse produto enquanto resíduo sólido que se transformou em rejeito, considerado aquele que não pode mais ser tratado ou cujo tratamento é inviável economicamente. A legislação brasileira, a propósito, na Lei 12.305/2010, que de�niu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelece, entre os seus objetivos, a implementação do ciclo de vida dos Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL produtos, instituindo também uma responsabilidade compartilhada para todos os envolvidos, como fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos (Brasil, 2010). Desde a fabricação até a disposição �nal dos rejeitos em aterros, todos possuem uma responsabilidade individualizada e encadeada, inclusive os consumidores, que, por exemplo, devem entregar os resíduos de seu consumo nos sistemas de coleta seletiva. No âmbito empresarial, é preciso avaliar todos os riscos de um produto, da extração enquanto recurso natural aos impactos do seu processo produtivo e de sua disposição �nal, tudo com vistas a proteger a saúde humana e o meio ambiente. De igual perspectiva, é necessário destacar a ecoe�ciência, que é um conceito que “[...] descreve uma visão para a produção de bens e serviços que possuam valor econômico enquanto reduzem os impactos ecológicos da produção” (Câmara, 2009, p. 237). Ou seja, processos produtivos que reduzam a intensidade de materiais e energia, assim como adotem processos de reciclagem e tratamentos de resíduos sólidos. A ecoe�ciência também está prevista na Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, como a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços quali�cados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta (Brasil, 2010, p. 4). Esse conceito da legislação brasileira destaca que a satisfação das necessidades da presente geração deve ser de forma a não comprometer a capacidade de sustentação dos recursos naturais planetários para as futuras gerações, consignando uma concepção de ética intergeracional. Com a ecoe�ciência, temos, reciprocamente, a melhoria econômica e da imagem da empresa perante as autoridades governamentais e a sociedade, uma vez que assume o valor da geração de negócios levando em consideração a capacidade de suporte do planeta, tanto na extração de recursos naturais quanto no que se refere à capacidade de receber resíduos e rejeitos (Câmara, 2009). Outro importante indicador de desempenho é o método da Produção mais Limpa (P + L), criado pelas Nações Unidas. Trata-se de uma estratégia preventiva e estratégica para otimizar a e�ciência no uso de matérias-primas e minimizar os resíduos gerados no processo produtivo, exigindo um processo de inovação permanente nas empresas. O P + L atua por níveis operacionais. No primeiro nível de P + L, a empresa deve minimizar a geração de resíduos de sua atividade, na própria origem ou fonte, seja com a mudança de matéria-prima, seja com o uso de tecnologias limpas. O segundo nível é a reciclagem interna de seus produtos, em que eles são usados no próprio processo produtivo da empresa. Por �m, em um terceiro nível, adotar a reciclagem externa, isto é, quando o resíduo de uma empresa é aproveitado por outra empresa, minimizando, assim, os impactos na geração de resíduos. Já a rotulagem verde, ou ambiental, são selos, marcas ou símbolos utilizados para conferir orientação aos consumidores �nais da origem e observância de padrões ambientais para Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL determinados produtos ou serviços disponíveis no mercado (Seiffert, 2007). Assim, nos rótulos de embalagens de um produto temos a rotulagem ou selo verde. Normalmente, a rotulagem é feita por entidades independentes, de forma a garantir a con�abilidade e seriedade das etapas de veri�cação da conformidade ambiental de um produto. A rotulagem verde contribui reciprocamente com a empresa e com os consumidores, ao incentivar o consumo ambiental consciente. Em conjunto com a rotulagem, temos a certi�cação ambiental, que se relaciona com os métodos e processos de produção de uma atividade econômica. Enquanto a rotulagem é destinada aos consumidores �nais, a certi�cação é direcionada para as indústrias que usam os recursos, como no caso da certi�cação �orestal no Brasil. Tal certi�cação atesta a origem legal da madeira manejada de forma adequada e que poderá ser usada em outros setores econômicos, com a garantia de sua origem. Por �m, o Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE – é uma ferramenta de análise comparativa do desempenho das empresas constantes das listas da BM&FBovespa quanto à sustentabilidade corporativa com fundamento na e�ciência econômica e equidade ambiental, além da governança corporativa, que garante a transparência e, também, a promoção da justiça social. O ISE é, hoje, uma referência para os fundos de investimento e valoriza as ações empresariais (Teixeira; Nossa; Funchal, 2011). Siga em Frente... A aplicação dos indicadores de sustentabilidade Um dos principais programas internacionais para a sustentabilidade corporativa é a norma ISO 14001:2015, que articula um conjunto de preceitos e requisitos para a implementação de um sistema de gestão que melhore o desempenho ambiental de uma organização. No Brasil, essa norma é de responsabilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e tem como objetivo “[...] prover às organizações uma estrutura para a proteção do meio ambiente e possibilitar uma resposta às mudanças das condições ambientais em equilíbrio com as necessidades socioeconômicas” (ABNT, 2015, p. 8). Ao adotar a ISO 14001:2015, a empresa deve se comprometer com uma abordagem chamada de Plan-Do-Check-Act (PDCA), que traduzido para o português é: planejar, fazer, checar e agir. Cada verbo representa um ciclo da abordagem para um Sistema de Gestão Ambiental, isoladamente ou em conjunto (ABNT, 2015). O primeiro ciclo é planejar, com o estabelecimento dos objetivos e processos necessários para o Sistema de Gestão Ambiental da empresa. O segundo ciclo é fazer, que consiste na execução do que foi planejado. O terceiro ciclo é checar, que consiste em “[...] monitorar e medir os processos em relação à política ambiental, incluindo seus compromissos, objetivos ambientais e critérios operacionais, e reportar os resultados”. Por �m, o quarto ciclo é agir, que se refere à tomada de ações para a melhoria contínua do sistema de gestão ambiental. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A �gura a seguir é representativa do PDCA: Figura 1 | Relação entre o cicloPDCA e a estrutura da Norma ISO 14.001:2015. Fonte: adaptada de ABNT (2015, p. x). Com o Sistema de Gestão Ambiental da ISO 14001:2015, a organização deverá de�nir o seu propósito e os objetivos ambientais que pretende assumir e/ou melhorar. No que se refere ao conteúdo, um Sistema de Gestão Ambiental deve contemplar alguns pontos norteadores: (i) papel da liderança; (ii) planejamento; (iii) apoio; (iv) operação; (v) avaliação de desempenho; (vi) melhoria (ABNT, 2015). Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Em primeiro plano, a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental passa pelas lideranças da organização, com o comprometimento e a de�nição de política ambiental compatível com as exigências da empresa. Em seguida, o planejamento, que se dá por meio de ações para abordar os riscos e oportunidades de um sistema de gestão ambiental. A empresa deve “[....] determinar os aspectos ambientais de suas atividades, produtos e serviços os quais ela possa controlar e aqueles que ela possa in�uenciar, e seus impactos ambientais associados [...]” (ABNT, 2015, p. 10). A referência para o planejamento é a avaliação para o ciclo de vida do produto, como abordamos no tópico anterior. O terceiro ciclo é o apoio, com a comunicação e conscientização do Sistema de Gestão Ambiental pelos colaboradores de todos os níveis da organização, que, de acordo com suas funções, possam receber as capacitações e treinamentos correspondentes ao programa. O quarto ciclo é o de operação, com os critérios operacionais do seu processo produtivo, sendo que “a organização deve controlar mudanças planejadas e analisar criticamente as consequências de mudanças não intencionais, tomando ações para mitigar quaisquer efeitos adversos [...]” (ABNT, 2015, p. 15). Essa etapa também deve assegurar respostas para prevenir e mitigar impactos ambientais adversos, assim como para os casos de emergências. O quinto ciclo é a avaliação de desempenho, em que a empresa deve monitorar, analisar e avaliar o seu desempenho ambiental. Isso inclui a realização de auditorias internas, de forma a avaliar o sistema de gestão ambiental, com as ações necessárias, corretivas ou de mudança dos procedimentos ambientais. Por �m, o ciclo de melhoria, que consiste na melhoria contínua da adequação e e�cácia do seu Sistema de Gestão Ambiental. Ao adotar todas essas etapas, a empresa recebe a certi�cação ISO 14001:2015, que traduz o seu compromisso com a sustentabilidade e a melhoria ambiental contínua em seus negócios, reduzindo os seus impactos no ambiente e contribuindo com a melhoria da sua imagem e das suas relações com o mercado e os consumidores. Vamos Exercitar? Vamos retomar a apresentação do plano de ação para a implantação de estratégias e indicadores de sustentabilidade para uma franquia de cosméticos. Para isso, você elencou algumas questões importantes para destacar a importância da ISO 14001: O que é a ISO 14001 e para que serve? A ABNT NBR ISO 14001 é uma norma internacional que estabelece diretrizes para sistemas de gestão ambiental (SGA) em empresas e organizações. Seu objetivo principal é ajudar as empresas a gerenciarem seus impactos ambientais e a promoverem a sustentabilidade em suas operações. A ISO 14001 fornece um conjunto de requisitos e diretrizes para o estabelecimento, implementação, manutenção e melhoria contínua de um SGA efetivo. A norma pode ser aplicada por empresas de todos os tamanhos e setores, independentemente de sua localização geográ�ca ou de sua atividade econômica. Quais os benefícios que uma empresa tem com a certi�cação ISO 14001? Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Melhoria do desempenho ambiental; Redução de riscos e custos operacionais; Atendimento às legislações e regulamentações ambientais aplicáveis; Satisfação de clientes e stakeholders; Melhoria da imagem e reputação da empresa; Promoção da sustentabilidade em suas operações; Identi�cação de oportunidades de melhoria; Maior e�ciência dos processos e melhoria da produtividade e competitividade; Acesso a novos mercados; Atendimento a requisitos de fornecimento de grandes clientes ou órgãos públicos; Reconhecimento da capacidade da empresa de gerenciar seus impactos ambientais e de sua responsabilidade social. Como se aplica a ISO 14001 em uma empresa? Envolve a implementação de um sistema de gestão ambiental (SGA) efetivo, baseado na estrutura de seis etapas da norma. Isso inclui a de�nição de uma política ambiental clara, a identi�cação e avaliação dos aspectos ambientais da empresa, o estabelecimento de objetivos e metas ambientais, a elaboração de um programa de gestão ambiental, a implementação de um sistema de monitoramento e controle, e a realização de revisões e auditorias periódicas do sistema de gestão ambiental. Saiba mais Conhecer os projetos e práticas empresariais para a sustentabilidade é uma forma de diversi�car as alternativas e respostas aos problemas enfrentados no cotidiano pro�ssional. Uma das iniciativas que conjuga as inovações e orientações do setor empresarial brasileiro para a sustentabilidade é o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), uma associação civil sem �ns lucrativos. O CEBDS é integrado por algumas das maiores empresas, que representam quase metade do PIB brasileiro, e é responsável por estudos e publicações para a construção de um país mais justo e sustentável. Como destaque, sugerimos a leitura do documento Visão Brasil 2050, em que o CEBDS destaca os elementos para uma agenda sustentável para as empresas brasileiras até o ano de 2050. Outro ponto importante que abordamos nesta aula foi o ISE B3, que é o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de empresas selecionadas pelo seu reconhecido comprometimento com a sustentabilidade empresarial. Conheça um pouco mais lendo a matéria Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3). Também apresentamos a ABNT NBR ISO 14001:2015, que visa à implantação de sistemas de gestão ambiental. Para saber mais sobre esse assunto acesse a página do Getweb na sua Biblioteca Virtual, e busque a norma ABNT NBR ISO 14001:2015, sobre Sistema de Gestão Ambiental – Requisitos com orientações para uso. Referências https://cebds.org/publicacoes/visao-brasil-2050/ https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-de-sustentabilidade/indice-de-sustentabilidade-empresarial-ise-b3.htm https://biblioteca-virtual.com/detalhes/parceiros/10 Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 14001: sistemas de gestão ambiental: requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: 2015. BRASIL. Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, p. 3, 3 ago. 2010. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/? tipo=LEI&numero=12305&ano=2010&ato=e3dgXUq1keVpWT0f1. Acesso em: 3 out. 2022. CAMARA, R. P. de B. Ecoe�ciência. In: ALBUQUERQUE, J. de L. (org.). Gestão ambiental e responsabilidade social: conceitos, ferramentas e aplicações. São Paulo: Atlas, 2009. FURNIEL, I. ISO 4001: tudo que você precisa saber. Certi�cação ISO, 22 jun. 2011. Disponível em: https://shre.ink/UxHM. Acesso em: 31 out. 2023. SEIFFERT, M. E. B. Gestão ambiental. São Paulo: Atlas, 2007. TEIXEIRA, E. A., NOSSA, V.; FUNCHAL, B. O índice de sustentabilidade empresarial (ISE) e os impactos no endividamento e na percepção de risco. R. Cont. Fin. – USP, São Paulo, v. 22, n. 55, p. 29-44, jan./fev./mar./abr. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rcf/a/Npy4byt4mpTnHbnw4Yy6zLw/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 30 out. 2023. Aula 3 Agenda 2030 Agenda 2030 Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmentepara você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=12305&ano=2010&ato=e3dgXUq1keVpWT0f1 https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=12305&ano=2010&ato=e3dgXUq1keVpWT0f1 https://shre.ink/UxHM https://www.scielo.br/j/rcf/a/Npy4byt4mpTnHbnw4Yy6zLw/?format=pdf&lang=pt https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u3a3_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Ponto de Partida Olá, estudante! Atualmente, a Agenda 2030 é a principal referência para a sustentabilidade em nível global. Trata- se de um documento �rmado por todos os países que integram a Organização das Nações Unidas, que assumiram o compromisso de implementar, até o ano de 2030, um conjunto de 17 objetivos e 169 metas para o desenvolvimento sustentável. A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, as organizações e o planeta. Esses objetivos, de forma fundamental, defendem a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões como um requisito fundamental para um planeta que conjugue o respeito à dignidade da pessoa humana e a proteção à natureza. Agora, você, pro�ssional atuante na área de conservação do meio ambiente, que atualmente é o responsável pela administração de uma Unidade de Conservação Federal, deverá criar um painel de apresentação em forma de pôster, visando destacar para os visitantes os objetivos da Agenda 2030 e sua importância. Venha conosco! Vamos Começar! O surgimento da Agenda 2030 A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é, atualmente, o mais importante documento das prioridades globais para a sustentabilidade. A Agenda 2030 traduz o compromisso comum dos 193 países da Organização das Nações Unidas (ONU) para atender aos objetivos e metas para o desenvolvimento sustentável até o ano de 2030. Ela articula, em essência, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental. A Agenda 2030 contém uma declaração formal e um plano de ação para o cumprimento dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (conhecidos pela sigla ODS), com 169 metas associadas. Os objetivos e metas da Agenda 2030 baseiam-se nas principais declarações e convenções do sistema global de direitos humanos e nas conferências ambientais da ONU. Por isso, os preceitos da Agenda 2030 assentam-se na a�rmação da concepção universal dos direitos humanos, com seus valores de dignidade da pessoa humana e de igualdade e não discriminação. Isto é, uma concepção integral, indivisível e interdependente de direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais. O plano de ação da Agenda 2030 estrutura-se nos chamados 5 Ps: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias. Trata-se do compromisso de que os seres humanos possam viver Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL com prosperidade e paz em um mundo ambientalmente saudável. Para que isso seja possível, as parcerias entre atores internacionais e nacionais são fundamentais. Em seu preâmbulo, o documento reconhece que “a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desa�o global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável” (ONU, 2015, p. 1). Por isso, erradicar a pobreza extrema é condição para que a sustentabilidade seja possível para os objetivos da Agenda 2030. A partir desse ponto crucial, temos os demais compromissos dos signatários da Agenda 2030, dos quais destacamos (ONU, 2015): 1. Comprometimento com a educação de qualidade em todos os níveis. 2. Promoção da saúde física e mental e cobertura universal da saúde de qualidade. 3. Compromisso com a mudança nos padrões de produção e consumo, de forma a garantir a sustentabilidade. 4. Reconhecimento da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima para negociar uma 5. resposta global à mudança climática, que exige a cooperação de todos. �. Reconhecimento que o desenvolvimento depende da gestão sustentável dos recursos naturais do planeta. 7. Reconhecimento da importância do desenvolvimento e gestão urbana sustentáveis como condição da qualidade de vida. �. Reconhecimento que a paz e a segurança são essenciais para o desenvolvimento sustentável, com sociedades justas e pací�cas, assentadas no Estado de direito e no respeito aos direitos humanos. 9. Compromisso com a promoção da diversidade cultural, da tolerância e do respeito mútuo para uma ética de cidadania global, em um mundo de responsabilidades compartilhadas. Em constatação ao momento histórico e aos riscos subjacentes, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável traz um chamado à ação para mudar o mundo, por meio de uma articulação em todas as escalas e níveis de atuação no planeta, do global ao local, do público ao privado, em um engajamento com o planeta, a nossa casa comum. Para a Agenda 2030: “o futuro da humanidade e do nosso planeta está em nossas mãos” (ONU, 2015, p. 16). E conclui: “temos mapeado o caminho para o desenvolvimento sustentável; será para todos nós, para garantir que a jornada seja bem-sucedida e seus ganhos irreversíveis” (ONU, 2015, p. 16). Siga em Frente... O conteúdo da Agenda 2030 Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL O cerne da Agenda 2030 são os 17 Objetivos de Desenvolvimento sustentável (ODS). Cada um deles representa um propósito a ser implementado em todos os países do mundo. Os ODS devem ser compreendidos como integrados e indivisíveis, mas a aplicação de cada qual deve levar em consideração as singularidades e realidades de cada país, de acordo com o seu estágio em face dos desa�os do desenvolvimento. Dessa forma, para compreender a Agenda 2030 é necessário relacionar o conteúdo de cada um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O Objetivo 1 é “acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares” (ONU, 2015, p. 19). O combate à pobreza extrema é o pressuposto para que seja possível o cumprimento dos demais objetivos. A�nal, um cenário de pobreza não permite o exercício dos mais elementares direitos da pessoa humana. O Objetivo 2 é “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável” (ONU, 2015, p. 19). Ele estabelece os sistemas sustentáveis de produção de alimentos para reduzir as vulnerabilidades nutricionais e a fome no mundo. O Objetivo 3 é “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos” (ONU, 2015, p. 19). Esse compromisso procura reduzir a mortalidade, do nascimento à velhice, além de garantir o acesso a um sistema de saúde universal, cujo �nanciamento deve ser uma prioridade. O Objetivo 4 é “assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (ONU, 2015, p. 19). Temos aqui a educação de meninos e meninas, em todos os estágios, como uma condição para uma vida digna. Esse objetivo estabelece o investimento na infraestrutura e na formação de professores, inclusive, para o ensino das técnicas e habilidades para o desenvolvimento sustentável. O Objetivo 5 é “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” (ONU, 2015, p. 19). Trata-se, reciprocamente, de um objetivo e de um pressuposto para um mundo plural e dialógico, em que mulheres e meninas possam exercer plenamente os seus direitos e liberdades em igualdade de condições, sem discriminações e violências. O Objetivo 6 é “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos” (ONU, 2015, p. 19). Para tanto, deve-se garantir o acesso equitativo à água potável, segura e acessível para todos, e também o saneamento como condição de saúde. O Objetivo 7 é “assegurar o acesso con�ável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos” (ONU, 2015, p. 19). A energia deve ser um elemento de dignidade de comunidadese pessoas, assim como a sua geração por meio de energias renováveis. O Objetivo 8 é “promover o crescimento econômico sustentado, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos” (ONU, 2015, p. 19). Esse é o objetivo econômico, com incentivos às Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL políticas de desenvolvimento e de e�ciência dos processos de produção e consumo, e também de empregos decentes em um sistema de proteção trabalhista a homens e mulheres. O Objetivo 9 é “construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação” (ONU, 2015, p. 19). Infraestruturas resilientes e con�áveis; modernização para tornar as indústrias sustentáveis; investimentos em pesquisas tecnológicas para as inovações necessárias. O Objetivo 10 é “reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles” (ONU, 2015, p. 20). A redução das desigualdades e a promoção da inclusão social, política e econômica é um imperativo no mundo contemporâneo, o que passa por políticas de proteção social para todos. O Objetivo 11 é “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” (ONU, 2015, p. 20). Em um mundo no qual a maioria da população vive em cidades, exige-se uma urbanização inclusiva e sustentável, com garantia de habitação, serviços públicos de qualidade, redução da poluição e proteção ao patrimônio histórico. O Objetivo 12 é “assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis” (ONU, 2015, p. 20), ou seja, a gestão e�ciente dos recursos naturais, por meio de políticas públicas sustentáveis, tais como a redução do desperdício de alimentos, redução de resíduos etc. E o fundamental: a conscientização e re�exão dos padrões de consumo em sociedade. O Objetivo 13 é “tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos”. Trata-se do imperativo de reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação em face das mudanças climáticas. O Objetivo 14 é a “conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável” (ONU, 2015, p. 20). Signi�ca reduzir a poluição marinha e a acidi�cação dos oceanos, que são riscos para a sustentabilidade global. O Objetivo 15 é “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as �orestas, combater a deserti�cação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade” (ONU, 2015, p. 20). Tal objetivo traduz a necessidade de proteção das �orestas do mundo e da biodiversidade. O Objetivo 16 é “promover sociedades pací�cas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições e�cazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis” (ONU, 2015, p. 20). Por �m, o Objetivo 17 é “fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável (ONU, 2015, p. 20)”. Esse último objetivo conjuga cooperação nacional e internacional para que os países possam executar as metas de desenvolvimento sustentável. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A aplicação da Agenda 2030 nas organizações A implementação dos ODS demanda o engajamento de governos, organizações e sociedade civil. Apesar de facultativos, esses objetivos conjugam um compromisso comum para a promoção dos direitos humanos e da sustentabilidade planetária. Mas as ênfases nos objetivos e nas metas é uma decisão das respectivas organizações. No que se refere ao Brasil, por meio do Decreto nº 8.892/2016, foi criada a Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com a �nalidade de internalizar, difundir e dar transparência ao processo de implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, da ONU. De início, o Brasil assumiu formalmente a promessa de observar e concretizar os ODS. Contudo, com a mudança de governos, o Decreto nº 10.179/2019 revogou a norma que criou a comissão brasileira. Atualmente, não há qualquer dispositivo legal que estabeleça as incumbências do Estado brasileiro quanto ao cumprimento dos objetivos e metas da Agenda 2030. Em relação às organizações empresariais, há, em nível internacional, um compromisso para a realização da Agenda 2030. Trata-se do Pacto Global da ONU, uma iniciativa voluntária que re�ete a preocupação de líderes e corporações com a sustentabilidade. O Pacto Global conjuga os princípios fundamentais para os negócios no contexto do desenvolvimento sustentável, estabelecidos com base em documentos do Sistema Global de Direitos Humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos; a Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho; a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. Esses documentos são estruturantes das quatro responsabilidades do Pacto Global: (i) direitos humanos, (ii) trabalho, (iii) meio ambiente e (iii) combate à corrupção (ONU, [s. d.]). Essas responsabilidades são representativas dos princípios e valores universais que devem ser incorporados no ambiente de negócios em nível global. Por sua vez, essas responsabilidades são estruturantes dos 10 princípios do Pacto Global, que as empresas se comprometem a seguir (ONU, [s. d.]). Em matéria de direitos humanos, as empresas se comprometem a respeitá-los conforme os documentos do sistema internacional (Princípio 1). Além disso, se comprometem a não participar de violações de direitos humanos (Princípio 2). No que se refere ao aspecto de trabalho, as empresas devem respeitar a liberdade de associação dos trabalhadores e reconhecer a negociação coletiva (Princípio 3); eliminar o trabalho forçado (Princípio 4); abolir o trabalho infantil (Princípio 5); e eliminar a discriminação no emprego (Princípio 6). Quanto à proteção do meio ambiente, as empresas devem apoiar a prevenção dos danos ambientais (Princípio 7); promover a responsabilidade ambiental (Princípio 8); e estimular o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ecologicamente corretas (Princípio 9). Por �m, no que tange à corrupção, as empresas devem se comprometer a combatê-la em todas as suas formas (Princípio 10). Na edição 2020 do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, foi lançado o Programa Ambição pelos ODS, uma iniciativa do Pacto Global com metas para auxiliar as empresas que Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL desejam atuar pelos objetivos e metas da Agenda 2030. A �gura a seguir relaciona as principais referências (chamadas de benchmarks) do programa. Figura 1 | Principais referências do Programa Ambição pelos ODS. Fonte: Ambição... ([s. d., s. p.]). A empresa poderá, de acordo com a sua área de atuação, escolher uma ou mais referências para os seus negócios. Conforme o Pacto Global da ONU ([s. d.]), os critérios de sucesso empresarial e os modelos econômicos estão mudando, e isso signi�ca que as empresas podem assumir um protagonismo diante dos desa�os para a vida das pessoas e para o planeta. Por �m, diante da inércia do governo brasileiro na implantação das ODS, o setor empresarial tem se articulado para conferir a sua contribuição para o cenário do Pacto Global e do Programa Ambição pelos ODS, até mesmo porque uma das condições para o recebimento de investimentos oriundos de fundos internacionais é a observância da Agenda 2030. Portanto, os ODS são uma necessidade no ambiente corporativo, mas também uma oportunidade de negócios baseados em valores e compromissos para um futuro comum. Vamos Exercitar? O cerne da Agenda 2030 são os 17 Objetivos de Desenvolvimento sustentável (ODS). Cada um deles representa um propósito a ser implementado em todos os países do mundo. Os ODS devem ser compreendidos como integrados e indivisíveis, mas a aplicação de cada qual deve levar em consideração as singularidades e realidades de cada país, de acordo com o seu estágio, em face dos desa�os do desenvolvimento. Disciplina RESPONSABILIDADESOCIAL E AMBIENTAL Agora, retomando a nossa situação-problema, em que você, que atua como administrador de uma Unidade de Conservação (UC), deverá elaborar um pôster para a apresentação dos 17 objetivos da Agenda 2023. A visitação às unidades de conservação é uma das principais estratégias de sensibilização da sociedade para a importância da conservação da natureza. Quem conhece as belezas naturais protegidas nas unidades de conservação federais é mais um aliado potencial na proteção desse patrimônio natural, por isso destaca-se a importância da divulgação desse ambiente da Agenda 2030 e seus objetivos que, atualmente, é o mais importante documento das prioridades globais para a sustentabilidade. A seguir, apresentamos os 17 objetivos da Agenda 2030, organizados pela ONU e que serviram de modelo para a elaboração do pôster para a apresentação das ODS para os visitantes da Unidade de Conservação. Figura 2 | Objetivos de desenvolvimento sustentável. Fonte: Painel... ([s. d., s. p.]). É importante destacar que essa iniciativa obteve um grande sucesso, e, dessa maneira, foi replicada em outras Unidades de Conservação brasileiras na tentativa de sensibilizar a população quanto à importância de se alcançar os 17 objetivos da Agenda 2023. Saiba mais A Agenda 2030 conjuga 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas associadas. Como se pode notar, trata-se de um extenso programa para direcionar o mundo para a sustentabilidade. Portanto, é importante que você conheça o detalhamento de uma cada um dos ODS, articulando a correspondência com a sua atuação pro�ssional. https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/embaixadores-da-juventude/conhea-mais/a-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentvel.html Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Além disso, destacamos várias iniciativas nos órgãos governamentais brasileiros para a implementação da Agenda 2030, como no caso do Conselho Nacional de Justiça, do Supremo Tribunal Federal e do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada. Acesse essas indicações para conhecer mais dessa temática instigante! Bons estudos! Referências AMBIÇÃO pelos ODS. Pacto Global Rede Brasil, [s. d.]. Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/ambicao-pelos-ods/. Acesso em: 25 mar. 2024. BRASIL. Decreto nº 8.892, de 27 de outubro de 2016. Cria a Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 27 out. 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/d8892.htm. Acesso em: 1 nov. 2023. BRASIL. Decreto nº 10.179, de 18 de dezembro de 2019. Declara a revogação, para os �ns do disposto no art. 16 da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, de decretos normativos. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 18 dez. 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10179.htm. Acesso em: 1 nov. 2023. O PACTO Global da ONU. Pacto Global Rede Brasil, [s. d.]. Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/. Acesso em: 1 nov. 2023. PAINEL na ONU discute ética e a implementação dos ODS. ONU News Perspectiva Global Reportagens Humanas, [s. d.]. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2016/01/1537631. Acesso em: 25 mar. 2024. TRANSFORMANDO nosso mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Brasil UM, [s. d.]. Disponível em: https://brasil.un.org/sites/default/�les/2020-09/agenda2030-pt-br.pdf. Acesso em: 1 nov. 2023. Aula 4 ESG (Environmental Social Governance) ESG (Environmental Social Governance) https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/agenda-2030/ https://portal.stf.jus.br/hotsites/agenda-2030/ https://portal.stf.jus.br/hotsites/agenda-2030/ https://www.ipea.gov.br/ods/ https://www.pactoglobal.org.br/ambicao-pelos-ods/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/d8892.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10179.htm https://www.pactoglobal.org.br/ https://news.un.org/pt/story/2016/01/1537631 https://brasil.un.org/sites/default/files/2020-09/agenda2030-pt-br.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Uma das mais importantes discussões no universo empresarial é o paradigma ESG. Mas você sabe o que signi�ca ESG? A sigla ESG é a conjugação de três palavras da língua inglesa que estabelecem os parâmetros para a sustentabilidade corporativa, e que em português signi�cam: o ambiental, o social e a governança. O ESG tem origem no mercado de investimentos, como um parâmetro norteador para a alocação de recursos �nanceiros em empresas que se comprometem com as práticas de sustentabilidade. Hoje, adotar o paradigma ESG é tanto um compromisso com o planeta quanto uma garantia de manutenção da empresa no tabuleiro das relações econômicas. A�nal, para uma empresa expandir-se, são necessários investimentos, e hoje eles são alocados, principalmente, naquelas que adotam as práticas ESG. Para conhecer mais o ESG, vamos responder a alguns questionamentos: O que é ESG? Qual a sua origem? Como as diretrizes e programas de ESG estão impactando o mundo corporativo? Essas são perguntas fundamentais para que possamos compreender como o ESG é hoje o principal referencial para os investimentos de fundos do mercado �nanceiro e para outros setores empresariais. Tenho certeza de que você vai gostar desse conteúdo! Um abraço! https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u3a4_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Vamos Começar! O conceito de ESG ESG é a sigla para três expressões da língua inglesa: environmental (meio ambiente); social (com o mesmo sentido em português); e governance (governança). Essas palavras representam o conjunto de programas e práticas de uma organização em sua atuação no mercado. Isto é, empresas que atuam diretamente em observância aos parâmetros ambientais, que conjugam o compromisso social com os seus colaboradores e a comunidade do entorno do empreendimento, e adotam procedimentos de governança corporativa em conformidade com os aspectos legais e éticos nos negócios. A sigla ESG surgiu em uma publicação do Pacto Global das Nações Unidas (ONU), em parceria com o Banco Mundial, denominada Who Cares Wins (Quem se Importa Ganha), de 2004, vinculada ao setor do mercado de capitais. No ano seguinte, a Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma, cuja sigla em inglês é UNEP-FI) lançou o Relatório Fresh�eld, elaborado pelo escritório de advocacia Fresh�elds Bruckhaus Deringer, sobre a importância, a legalidade e a responsabilidade �duciária das estratégias ESG para o mercado de investimentos (ONU, 2009). Fala-se em responsabilidade �duciária porque essa é a relação estabelecida entre o investidor e o gestor, ou seja, os gestores de fundos devem alocar os recursos �nanceiros dos investidores para empresas que estejam alinhadas com os princípios de ESG. Nota-se que o conceito de ESG surgiu diretamente da preocupação do setor de �nanças ao perceber a relação entre as questões ambientais e o desempenho �nanceiro das organizações em médio e longo prazo (Lemme, 2018). Investimentos, portanto, devem ser destinados a empresas que compreendem e implementam as questões de ESG como estruturantes do seu modelo de negócios. A importância dessa concepção levou a iniciativa �nanceira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) a elaborar um documento especí�co, os Princípios para o Investimento Responsável (ONU, 2019), com os compromissos paraa incorporação do ESG nas decisões de investimentos. São seis os princípios para o investimento sustentável: o primeiro é incorporar os temas de ESG às análises de investimento e aos processos de tomada de decisão (ONU, 2019). Os fundos e carteiras de investimentos internacionais devem considerar as questões de ESG na alocação de seus recursos; o segundo princípio é incorporar os temas de ESG às políticas e práticas de propriedade de ativos das organizações de investimentos (ONU, 2019); o terceiro princípio é fazer com que as entidades que recebem investimentos façam a divulgação de suas ações relacionadas aos temas de ESG (ONU, 2019). Empresas que recebem investimentos devem declarar que incorporaram os padrões de ESG (ONU, 2019); o quarto princípio é promover a aceitação e implementação dos quatro princípios anteriores dentro do setor do investimento (ONU, 2019); o quinto princípio é a articulação dos fundos para trabalharem unidos para ampliar a e�cácia na implementação dos princípios; e, por �m, o sexto princípio, estabelece que os signatários do documento se comprometam a divulgar relatórios das Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL atividades e progresso da implementação dos princípios para o investimento responsável (ONU, 2019). Mas qual a importância das questões de ESG? Estabelecer o paradigma de ESG é uma decisão sobre o futuro sustentável de uma empresa. Como percebemos, os parâmetros de ESG são decisivos para que fundos de investimentos internacionais escolham as empresas em que pretendem alocar os recursos sob sua custódia. Isto é, a destinação de investimentos internacionais e nacionais atualmente é orientada para empresas alinhadas e focadas nos pilares de ESG. A�nal, em uma economia de mercado, os agentes �nanceiros in�uenciam diretamente as decisões de setores, empresas e empreendedores (Lemme, 2018). Uma empresa que não esteja atenta a essas questões não terá os investimentos ou �nanciamentos necessários para a expansão dos seus negócios. Outro aspecto a ser considerado é que as empresas que adotam as questões de ESG articulam ativos intangíveis como valor e reputação, que são importantes nas relações de mercado e com o consumidor. Ora, uma empresa não irá fazer negócios com uma outra que não tenha compromisso com os parâmetros ambientais, que se bene�cia do desmatamento ilegal ou adota processos produtivos que estão em dissonância com os padrões globais de redução da emissão dos gases de efeito estufa. Da mesma forma, qual o valor de uma empresa que adota políticas discriminatórias quanto a gênero e raça, e cujas condutas são atentatórias aos direitos humanos? Ou ainda, usa relatórios de governança incompletos ou enganosos para maquiar as suas �nanças e situação �nanceira. Por esse conjunto de razões, os valores de ESG são fundamentais para a sustentabilidade corporativa, razão pela qual vão assumindo um papel de centralidade nas discussões econômicas em todo o planeta. Siga em Frente... Os elementos estruturantes de ESG A letra “E” signi�ca Environmental ou, em português, Ambiental. Trata-se do parâmetro que traz uma constatação imediata: sem um planeta habitável, sustentável, não há como se falar ou mensurar o social e a governança. O Ambiental preocupa-se com os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente, em especial os efeitos da mudança do clima sobre os sistemas de sustentação da vida. Devido às transformações climáticas cada vez mais intensas, esse parâmetro traz a importância do compromisso corporativo com a redução da emissão de gases de efeito estufa. Assim, um aspecto fundamental é a substituição da matriz energética, de uma economia baseada na queima dos combustíveis fósseis para uma economia de baixo carbono. Além disso, no Ambiental temos a gestão de recursos naturais, como os hídricos, cuja disponibilidade está comprometida pela escassez e poluição. Por isso, há a necessidade de apoiar empresas que façam o uso e�ciente desse recurso. Na mesma perspectiva, o uso racional e adequado do solo, evitando os desmatamentos e as queimadas. Assim como é fundamental a Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL proteção de espaços ambientais, como as áreas de preservação permanente e as reservas legais. Outro ponto está na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos. Em uma sociedade de consumo, é preciso pensar em procedimentos que articulem a avaliação pelo ciclo de vida dos produtos, desde o desenvolvimento, a obtenção de matérias-primas, o consumo até a disposição �nal. É necessário avaliar o impacto de um produto, de sua concepção até o momento �nal, quando se torna rejeito – que é o resíduo sólido que não pode ser mais tratado ou não é mais viável economicamente –, e será destinado a um aterro. Essa avaliação empresarial é de suma importância para reduzir a produção de resíduos sólidos e, evidentemente, os riscos para a saúde humana e o meio ambiente. A letra “S”, por sua vez, signi�ca Social, e indica as questões sociais, de como a empresa se relaciona com o cumprimento e promoção dos direitos humanos, assim como suas relações com os stakeholders – tais como funcionários, fornecedores, clientes e a comunidade do entorno. No contexto empresarial, fala-se hoje em um capitalismo de stakeholders, ou seja, que além do lucro busque criar valor para todas as partes que se relacionam com a empresa. No Social, a organização deve se comprometer com a promoção do trabalho digno e decente para os seus colaboradores. Deve-se conjugar a observância necessária à legislação trabalhista com aspectos como a proteção social, a promoção de expedientes de reconhecimento da diversidade e de eliminação da discriminação nas relações de trabalho. Por proteção social entende-se: garantir aos colaboradores a redução de riscos e incertezas em suas atividades, respeitando a saúde física e mental. De igual forma, a empresa deve garantir o acesso equitativo de grupos vulneráveis e minorias às relações de trabalho, em respeito à diversidade. E isso passa por processos admissionais e de convivência laboral sem discriminações. Apesar da ênfase nas questões laborais, o “S” inclui o respeito amplo aos direitos humanos, em todas a suas dimensões: direitos civis e políticos (primeira dimensão); direitos econômicos, sociais e culturais (segunda dimensão); e direitos de solidariedade (terceira dimensão). Essa conjugação expressa a leitura de universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos, ou seja, são direitos para todas as pessoas, sem discriminações, em que essas dimensões de direitos formam um núcleo fundamental, pois são recíprocos entre si. A letra “G”, por �m, é para Governance, ou, em português, Governança Corporativa. Trata-se da base estrutural do paradigma de ESG, porque é por meio da governança corporativa que temos a cultura organizacional da empresa e o seu alinhamento com a sustentabilidade. Uma governança estabelece, de forma objetiva, a articulação do seu propósito com os objetivos do negócio. A governança impõe a transparência nas informações, com “[...] políticas corporativas transparentes que protejam seus clientes, seu modelo de negócios e preservem a credibilidade e reputação” (Mota Filho, 2022, p. 650). Por essa razão, a governança corporativa conjuga o combate à corrupção e de todas as formas de favorecimentos por meios ilícitos e antiéticos, porque essas condutas reduzem recursos destinados à sociedade e solapam a con�ança da empresa. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A aplicação dos programas de ESG A implementação de um programa de ESG em uma organização é facultativa, mas revela um compromisso com os stakeholders, a comunidade, o planeta e, claro, a sua própria permanência no sistema de relações econômicas. Adotar o processo de ESG, contudo, não é uma decisão retórica de supostamente a�rmar valores ecológicos e de proteção ambiental. Isso porque temos casos de empresas que proclamam a adoção de padrões de sustentabilidade, mas que estiveram envolvidas em acidentes ambientais e outros procedimentosincompatíveis. É o denominado greenwashing (em português, lavagem verde), que consiste na prática de utilizar o marketing verde, com propagandas e retóricas de alinhamento ambiental, mas que, na prática, é uma ‘cortina de fumaça’ para iludir os consumidores. Ou ainda, de forma mais sensível, a desconexão entre a publicidade ecológica e a realidade da empresa, que continua a manter processos produtivos com impactos prejudiciais ao meio ambiente. E por que isso ocorre? Possivelmente, porque não há uma regulamentação das dinâmicas de ESG. Apesar dos relatórios de sustentabilidade de ESG em determinados setores da economia mundial, não há no Brasil regulamento da questão. Por isso, para evitar situações como greenwashing, as estratégias de ESG exigem ações concretas, um engajamento efetivo da organização com a sustentabilidade. O primeiro passo para a implementação de ESG está na governança corporativa, isto é, “[...] um alinhamento entre a parte formal (das políticas, regimentos e códigos) e a parte informal (que é esse dia a dia) da empresa e sua cultura” (Donaggio, 2022, p. 417). Apesar de ser um elemento importante em empresas multinacionais e de grande porte, a governança é possível naquelas empresas de médio e pequeno porte. Para tanto, basta existir uma estrutura mínima de controle e monitoramento interno dos riscos de suas atividades. Algumas estratégias são fundamentais para se veri�car a governança corporativa, entre elas: práticas de gestão alinhadas ao ESG; o diálogo e a publicidade sobre os seus processos e procedimentos; o combate à corrupção; e a adoção de programas de compliance. Segundo Halla (2022), a governança em aderência ao ESG está ligada a fatores como de�nição de propósito da empresa, com declaração pública de seus valores e objetivos, assim como estabelecer em seu corpo de governança uma composição que respeite a diversidade de gênero e social. Da mesma forma, os relatórios de sustentabilidade da empresa (também chamados de relatórios corporativos socioambientais) devem ser elaborados de forma a contemplar “[...] os temas que os stakeholders ou partes interessadas têm de dúvidas em relação à empresa” (Halla, 2022, p. 589), inclusive no que se refere às questões de riscos do empreendimento, saúde �nanceira e �scal etc. Em todos os níveis empresariais, deve haver o compromisso com o combate às condutas que se con�guram como corrupção por meio de orientação e treinamentos internos e pela assunção de políticas semelhantes em relação aos parceiros do negócio, ou seja, não comprar ou transacionar com empresas envolvidas em casos de corrupção. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Uma das principais instâncias para o cumprimento dos princípios de ESG e que tem sido adotada pelas grandes corporações são os programas de compliance, que contribuem para minimizar os riscos e orientar a empresa na observância dos padrões legais e éticos nos negócios. Sobre a importância e abrangência de compliance ambiental, Marchezini destaca que ele [...] vai além da mera obediência à normas e regulamentos administrativos ou de políticas voluntárias de responsabilidade socioambiental. Contribui para uma redução signi�cativa dos riscos de desastres e escândalos ambientais com proteção da imagem, para o aprimoramento de processos voltando-se à racionalização do uso de recursos naturais e do barateamento dos custos de produção; viabiliza maior acessibilidade a processos seletivos e licitações e, agora, investimentos; reduz custos processuais, com controle preventivo de responsabilização (Marchezini, 2022, p. 102). Nota-se, portanto, que o compliance ambiental é um programa multidimensional, conjugando a sustentabilidade com base nas variáveis econômica, social, legal, ética e ambiental (Marchezini, 2022) de forma contínua. O monitoramento e a revisão de processos e procedimentos, quando necessário, são elementos que garantem a integridade e a con�abilidade da adoção das práticas de ESG. Ademais, essa conjugação de fatores contribui para o ganho de imagem da empresa perante a sociedade e o mercado. A partir dos elementos delineados, temos a estruturação do paradigma de ESG, que será presente na cultura organizacional e no �uxo operacional e produtivo da empresa. Vamos Exercitar? Aprendemos na aula de hoje, que adotar o paradigma ESG é tanto um compromisso com o planeta quanto uma garantia de manutenção da empresa nas relações econômicas, pois, hoje em dia, para que uma empresa se expanda, geralmente, são necessários investimentos, que são alocados, principalmente, naquelas companhias que adotam as práticas ESG. Agora vamos responder aos questionamentos propostos no início de nossa aula? O que é ESG? O conceito de ESG, diretamente ligado ao universo dos investimentos, é o equilíbrio dos aspectos ambiental, social e de governança na gestão dos negócios. Desse modo, os aspectos econômico, de transparência e ética se articulam, buscando assegurar a competitividade e a perenidade de uma empresa. Esse conceito tem usos diferentes, podendo ser aplicado internamente, na gestão da empresa, ou externamente, para analisá-la. ESG é a sigla para três palavras da língua inglesa: environmental (meio ambiente); social (com o mesmo sentido em português); e governance (governança). Essas palavras representam o Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL conjunto de programas e práticas de uma organização em sua atuação no mercado. Isto é, empresas que atuam diretamente em observância aos parâmetros ambientais; que conjugam o compromisso social com os seus colaboradores e a comunidade do entorno do empreendimento; e adotam procedimentos de governança corporativa em conformidade com os aspectos legais e éticos nos negócios. Qual a sua origem? A sigla ESG surgiu em uma publicação do Pacto Global das Nações Unidas (ONU), em parceria com o Banco Mundial, denominada Who Cares Wins (Quem se Importa Ganha), de 2004, vinculado ao setor do mercado de capitais. No ano seguinte, a Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma, cuja sigla em inglês é UNEP-FI) lançou o Relatório Fresh�eld, sobre a importância, a legalidade e a responsabilidade �duciária das estratégias ESG para o mercado de investimentos (ONU, 2009). Com 20 instituições �nanceiras, de nove países, o documento visava estabelecer diretrizes que incluíssem as questões ambientais, sociais e de governança para o mercado �nanceiro. Além disso, o relatório apontou que empresas que se preocupam com esses três valores podem, além de trazer benefícios para a sociedade, agregar valor aos negócios, visto que tais princípios são cada vez mais importantes para o investidor moderno. Apesar do seu início no mercado de investimentos, o conceito de ESG foi, ao longo dos anos, ganhando notoriedade em outros setores da economia. Em 2015, o movimento ganhou ainda mais força com a Agenda 2030 da ONU e o Acordo de Paris, ambos focados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). E como as diretrizes e programas de ESG estão impactando o mundo corporativo? A implementação de um programa de ESG em uma organização é facultativa, mas revela um compromisso com os stakeholders, a comunidade, o planeta e, incontestavelmente, a sua própria permanência no sistema de relações econômicas. O conceito não in�uencia apenas os consumidores como também o mercado �nanceiro. Os pilares do ESG passaram a ser fundamentais nas análises dos riscos e nas tomadas de decisões dos investidores. Como consequência, as gestoras e os fundos de investimentos passaram a aportar menos em empresas que não se preocupam com a sustentabilidade. A�nal, quem gostaria de investir em uma empresa que não se esforça para reduzir seu impacto no meio ambiente ou não se importa com o bem-estar das pessoas e de seus próprios colaboradores? A preferência passou a ser para o investimento atrelado ao impacto. Um exemplo, é o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), que mede o desempenho médio dos ativos de empresas selecionadas pelo seu comprometimentocom a sustentabilidade empresarial. O ISE B3 serve como base para os investidores na tomada de decisão e induz as empresas a adotarem melhores práticas voltadas ao assunto, contribuindo, assim, para o crescimento dos negócios. O conceito de ESG não é um tema novo. Ele vem sendo usado há muitos anos pelo setor �nanceiro para se referir aos aspectos ambientais, sociais e de Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL governança que são observados por investidores do mercado de capitais na análise das empresas investidas e na tomada de decisão de investimentos. Saiba mais Uma forma de aprofundar os estudos do paradigma ESG é ler e conhecer os relatórios de sustentabilidade de algumas das principais empresas da economia brasileira. Eles permitem visualizar como os aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa são conjugados no ecossistema da empresa. Assim, a primeira sugestão é conhecer o relatório ESG da empresa Cogna Educação. Em outro setor econômico, sugerimos conhecer as dinâmicas ESG da Petrobras. Para compreender a importância atual do ESG, o qual tornou-se uma forma de de�nir se as operações das empresas são socialmente responsáveis, sustentáveis e corretamente gerenciadas, acesse o site da Fundação Abrinq, e leia a matéria ESG: entenda o conceito que está em alta no meio corporativo. Bons estudos! Referências MARQUEZINI, F. de S. O paradigma ESG na perspectiva do direito e do compliance ambiental. In: NASCIMENTO, J. O. (org.). ESG: o cisne verde e o capitalismo de stakeholder. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2022. MOTA FILHO, H. E. C. A agenda ESG e os investimentos: responsabilidade social e ambiental no Brasil. In: NASCIMENTO, J. O. (org.). ESG: o cisne verde e o capitalismo de stakeholder. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2022. ONU. Princípios para o investimento responsável (PRI). Nairobi: Unep-ONU, 2019. Disponível em: www.unglobalcompact.org. Acesso em: 3 nov. 2023. ONU. Responsabilidade �duciária. Nairobi: Unep-ONU, 2009. Disponível em: https://www.unep�.org/�leadmin/publications/investment/Executive%20summary%20- %20Fiduciary%20responsibility%20-%20Portuguese.pdf. Acesso em: 3 nov. 2023. Aula 5 Encerramento da Unidade https://www.esgcogna.com.br/wp-content/uploads/2022/08/relatorio_sustentabilidade_cogna_2021_ago2022.pdf https://www.esgcogna.com.br/wp-content/uploads/2022/08/relatorio_sustentabilidade_cogna_2021_ago2022.pdf ttps://www.esgcogna.com.br/wp-content/uploads/2022/08/relatorio_sustentabilidade_cogna_2021_ago2022.pdf https://www.fadc.org.br/noticias/entenda-o-conceito-ESG https://www.fadc.org.br/noticias/entenda-o-conceito-ESG http://www.unglobalcompact.org/ https://www.unepfi.org/fileadmin/publications/investment/Executive%20summary%20-%20Fiduciary%20responsibility%20-%20Portuguese.pdf https://www.unepfi.org/fileadmin/publications/investment/Executive%20summary%20-%20Fiduciary%20responsibility%20-%20Portuguese.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Responsabilidade social e ambiental e gestão corporativa Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Chegada Se, em um primeiro momento, as empresas foram vistas como empreendimentos organizados para a produção de bens e serviços em busca da lucratividade, atualmente essa concepção é insu�ciente para conjugar as determinações e expectativas que elas assumem no mundo contemporâneo. A�nal, em um cenário de desa�os sistêmicos, com mudanças climáticas e pressões sobre os recursos naturais, a garantia da sustentabilidade perpassa o redimensionamento dos processos e procedimentos das corporações. Hoje, a empresa deve ser compreendida como um agente social diante dos impactos de suas atividades na sociedade e no meio ambiente. Tanto que a Constituição Federal, no artigo 170 do capítulo I, instituiu a função social da empresa, princípio que procura compatibilizar as suas prerrogativas econômicas com as exigências sociais dos consumidores e de proteção ao meio ambiente. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por �m assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - Soberania nacional; II - Propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - Livre concorrência; https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u3enc_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL V - Defesa do consumidor; VI - Defesa do meio ambiente; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - Tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei (Brasil, 1988). Esse redirecionamento da atuação das empresas é expresso por meio da responsabilidade social corporativa, uma estratégia que estabelece compromissos éticos como estruturantes das relações empresariais com a sociedade e o meio ambiente. A responsabilidade social corporativa efetiva-se pela articulação dos deveres legais com a gestão ética e transparente das operações internas e externas, efetuadas em diálogo com as partes envolvidas direta ou indiretamente com os negócios da empresa. O engajamento das empresas com a sustentabilidade desdobra-se em uma série de parâmetros que são norteadores do universo de negócios. Instrumentos regulatórios e econômicos são utilizados para que uma corporação esteja alinhada com as exigências sociais e ambientais. Para exempli�car: empresas buscam adotar métricas internacionais de sustentabilidade, como é o caso da norma ISO 140001:2015, que dispõe sobre as diretrizes e critérios de um sistema de gestão para a melhoria ambiental de suas atividades. De acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é uma estrutura organizacional que permite à empresa avaliar e controlar os impactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços. Entre os objetivos do SGA podemos destacar o fato de prover uma estrutura organizacional focada na proteção do meio ambiente, além do fato de criar alternativas que contribuam para o desenvolvimento sustentável (ABNT, 2004). Em abril de 1991, na Segunda Conferência Mundial da Indústria sobre a Administração Ambiental (WICEM II), realizada em Roterdã, na Holanda, organizada pela Câmara Internacional do Comércio (ICC), houve a apresentação e assinatura da Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, proposto pela própria Câmara. Essa carta empresarial, também conhecida como Carta de Roterdã, possui 16 princípios de gestão que expressam compromissos a serem assumidos pelas empresas, no estabelecimento de um sistema de gestão ambiental (SGA). São eles: Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL 1. Prioridade empresarial: Reconhecer o gerenciamento ambiental como uma das primeiras prioridades da empresa é um fator determinante para o desenvolvimento sustentável; estabelecer políticas, programas e práticas para conduzir as operações de maneira ambientalmente sadia. 2. Gerenciamento integrado: Integrar plenamente essas políticas, programas e práticas em cada ramo de atividade, como elemento essencial do gerenciamento em todas as suas funções. 3. Processo de aperfeiçoamento: Continuar a aprimorar as políticas, programas e o desempenho ambiental da empresa, levando em conta os progressos técnicos, o avanço cientí�co, as necessidades do consumidor e as expectativas da comunidade,e de ecossistemas frágeis. https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u1a2_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Há um conjunto de conceitos ligados às questões climáticas como mudança do clima, aquecimento global, gases de efeito estufa e outros. Conhecê-los permitirá o entendimento do contexto e dos desa�os que as alterações climáticas impõem nos sistemas naturais e humanos. Considera-se mudança do clima as transformações nos padrões de temperatura e clima ao longo do tempo. Embora possa ser de origem natural, o fator decisivo para a mudança do clima é atribuído, direta ou indiretamente, às atividades humanas, já que elas induzem à alteração da composição da atmosfera. O principal efeito humano que desencadeou a mudança do clima foi e ainda é o uso dos combustíveis fósseis, desde o início da modernidade, com o advento da Revolução Industrial. Nesse contexto, temos a emissão dos gases de efeito estufa (GEE), que são aqueles “[...] constituintes gasosos, naturais ou antrópicos, que, na atmosfera, absorvem e reemitem radiação infravermelha” (Brasil, 2009). São exemplos desses GEE: o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso, que são utilizados ou resultantes de atividades da indústria, transporte, agricultura, pecuária etc. Além disso, o desmatamento de �orestas tropicais, a substituição no uso do solo, agricultura, descarte de resíduos sólidos (lixo) e outras atividades contribuem para a emissão desses gases. Os principais emissores de dióxido de carbono são: a China, os Estados Unidos e a União Europeia, que contribuem com 42,6% das emissões globais. A emissão de gases de efeito estufa é diretamente responsável pelo aumento da temperatura planetária. Desde 1880, quando se iniciaram as medições globais, até o ano de 2020, a temperatura da Terra aumentou mais de 1,2º C acima do nível pré-industrial (1850-1900) e a última década foi a mais quente da história (OMM, 2022). Temos aqui o que é chamado de aquecimento global. Esse aumento da temperatura global afeta diretamente os sistemas de sustentação da vida no planeta, que são interconectados às mais variadas atividades humanas. Dessa forma, há estudos dos impactos do aquecimento global sobre o Ártico, a Antártica e o permafrost (que é o material orgânico congelado). Com o derretimento das geleiras e calotas polares, há o aumento no nível do mar. Pesquisas indicam que, caso as emissões de gases do efeito estufa continuem no patamar atual, o gelo do Ártico terá virado água em 2050 (IPBES, 2019). Ademais, nota-se o aumento dos extremos climáticos e meteorológicos, com oscilações signi�cativas de calor e frio em todo o planeta. Chuvas, enchentes, tempestades, ciclones e secas são cada vez mais comuns e intensos, prejudicando as atividades agropecuárias, em especial a segurança alimentar das populações mundiais. Os ecossistemas, por sua vez, são afetados pelo aquecimento global com a perda da biodiversidade, com ameaças e a extinção de componentes da �ora e da fauna. Nos oceanos, os recifes de corais são atingidos com a acidi�cação, que ocorre pela dissolução do dióxido de carbono atmosférico na água dos oceanos, diminuindo o seu pH. Todos os elementos delineados possuem impacto imediato para os seres humanos com efeitos na saúde, na disseminação de vetores de transmissão de doenças, e, em última análise, na própria existência da vida como conhecemos. Para exempli�car, a pandemia da covid-19 e outras questões epidemiológicas estão associadas às consequências da perda da biodiversidade causada pelos desmatamentos e queimadas das �orestas tropicais em todo o mundo. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL As principais iniciativas em face das mudanças climáticas Por esse conjunto, nota-se que será necessário um compromisso global para enfrentar os efeitos negativos da mudança do clima. É importante destacar que há um conjunto de negociações e proposições em nível global – envolvendo países, entidades internacionais, cientistas e sociedade civil – para o enfrentamento da mudança do clima. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem um papel central nesse processo. Ela é uma das responsáveis pela criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (em inglês IPCC), em 1988. Formado por cientistas de todo o planeta, o IPCC é a principal autoridade mundial no que tange ao aquecimento global e produz periodicamente relatórios cientí�cos sobre a mudança do clima, com a formulação de estratégicas de enfrentamento e respostas aos impactos. Até o ano de 2022, o IPCC tinha produzido seis relatórios de avaliação e estratégias de enfrentamento à mudança do clima. No que se refere à arquitetura normativa internacional, o principal documento sobre a mudança climática é a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (em inglês UNFCCC). A Convenção-Quadro tem como principal objetivo a “[...] estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático” (Brasil, 1998). Ela pretende evitar os chamados efeitos negativos da mudança do clima, que são: [...] as mudanças no meio ambiente físico ou biota resultantes da mudança do clima que tenham efeitos deletérios signi�cativos sobre a composição, resiliência ou produtividade de ecossistemas naturais e administrados, sobre o funcionamento de sistemas socioeconômicos ou sobre a saúde e o bem-estar humanos (Brasil, 1998). Portanto, a Convenção-Quadro tem como foco o compromisso dos países no processo de estabilização da emissão de gases de efeito estufa no sistema climático decorrente de atividades antrópicas, para que não se potencializem os efeitos do aquecimento global (Brasil, 1998). Com a adoção da Convenção-Quadro, e como forma de manter a discussão sobre o clima, as partes (países) se reúnem periodicamente para discutir as questões climáticas. Essas reuniões são chamadas de COP (conferência das partes), órgão supremo da Convenção-Quadro. A primeira COP ocorreu no ano de 1995, em Berlim, Alemanha (Melo, 2017). Uma das principais deliberações desse órgão ocorreu durante a COP 3, em 1997, com a aprovação do Protocolo de Kyoto, que estabeleceu metas de redução de emissões para os países desenvolvidos. Após oito anos de negociações, o protocolo entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, com a rati�cação por, no mínimo, 55% do total de países-membros da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima. Esses deveriam ser responsáveis por, pelo menos, 55% do total das emissões de gases de efeito estufa, tendo como referência o ano de 1990 (Melo, 2017). Mesmo com o Protocolo de Kyoto, as emissões de gases de efeito estufa não Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL cessaram. Pelo contrário, registraram sensível aumento, e um dos fatores foi a crise econômica de 2008. Para substituir o Protocolo de Kyoto durante a 21ª Conferência das Partes (COP 21), realizada em Paris, em dezembro de 2015, celebrou-se um novo acordo para enfrentar as ameaças da mudança climática, denominado Acordo de Paris. Este contou com a assinatura dos representantes de 196 países da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima. O Acordo de Paris entrou em vigor o�cialmente em novembro de 2016 e visa reforçar a resposta mundial à ameaça da mudança climática no contexto do desenvolvimento sustentável, além de erradicar a pobreza (Brasil, 2017). Após a entrada em vigor, realizou-se em Marrakesh, Marrocos, em 2016, a 22ª Conferência das Partes (COP 22), em que as discussões se centraram no estabelecimento de um plano para implementar e monitorar o Acordo de Paris até dezembro de 2018. A 24ª Conferência das Partes (COP 24), ocorrida em Katowice, Polônia, em 2018, adotou um manual de instruções (livro de regras) para os países implementarem os seus esforços nacionais no Acordo de Paris, chamado de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que é a contribuição voluntária de cada país para a redução de suas emissões de gases de efeito estufa.tendo como ponto de partida as regulamentações legais, e aplicar os mesmos critérios ambientais no nível internacional. 4. Educação do empregado: Educar, treinar e motivar os empregados para que suas atividades sejam conduzidas de maneira ambientalmente responsável. 5. Avaliação prévia: Avaliar os impactos sobre o meio ambiente antes de iniciar uma nova atividade ou projeto, e antes de desativar instalações ou retirar-se de um local. �. Produtos e serviços: Desenvolver e oferecer produtos ou serviços que não tenham nenhum impacto ambiental indevido e sejam seguros no uso a que se destinam, que sejam e�cientes no consumo de energia e recursos materiais, e que possam ser reciclados, reutilizados ou removidos com segurança. 7. Orientação ao cliente: Aconselhar e, quando apropriado, educar os clientes, os distribuidores e o público em geral quanto à segurança no uso, transporte, armazenagem e remoção dos produtos oferecidos, aplicando as mesmas considerações à prestação de serviços. �. Instalações e operações: Desenvolver, projetar e operar instalações, além de conduzir atividades, levando em conta o uso e�ciente da energia e matérias-primas, o uso sustentável dos recursos reutilizáveis, a minimização de impactos ambientais adversos e da geração de lixo, e a remoção segura e responsável de resíduos. 9. Pesquisa: Realizar ou apoiar pesquisas dos impactos ambientais de novas matérias- primas, produtos, processos, emissões e lixos associados com o empreendimento, bem como dos meios de minimizar quaisquer impactos adversos. 10. Abordagem cautelosa: Modi�car o processo de produção, a comercialização ou o uso de produtos ou serviços, ou a condução, de atividades, de acordo com o conhecimento técnico e cientí�co, para evitar séria ou irreversível degradação ambiental. 11. Fornecedores e empreiteiros: Promover a adoção desses princípios pelos empreiteiros que agem em nome da empresa, encorajando e, quando apropriado, exigindo um aprimoramento de suas práticas para torná-las coerentes com as da empresa; e encorajar a ampla adoção desses princípios pelos fornecedores. 12. Alerta para emergências: Desenvolver e manter, quando existirem perigos signi�cativos, planos de alerta para emergências em conjunto com os serviços de emergências, as autoridades pertinentes e a comunidade local, reconhecendo potenciais impactos fora da empresa. 13. Transferência de tecnologia: Contribuir com a transferência de tecnologia e métodos gerenciais ambientalmente corretos para todos os setores industriais e públicos. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL 14. Contribuir para o esforço comum: Contribuir para o desenvolvimento das políticas públicas e para os programas e iniciativas educacionais empresariais, governamentais e intergovernamentais que ampliem a consciência ambiental e a proteção do meio ambiente. 15. Abertura às preocupações sociais: Promover a abertura e o diálogo com os empregados e com o público, antevendo e respondendo às suas preocupações quanto aos perigos e impactos potenciais das operações, produtos, resíduos ou serviços da empresa, incluindo aqueles que são sentidos fora da empresa ou em nível global. 1�. Cumprir as exigências e emitir relatórios: Medir o desempenho ambiental; realizar auditorias e avaliações ambientais periódicas sobre o aumento das exigências da empresa, das normas legais e desses princípios; e oferecer e periodicamente as informações adequadas ao conselho diretor, aos acionistas, aos empregados, às autoridades e ao público (Valle, 2002, p. 153). Com base nesses princípios, o British Standards Institute (BSI) lançou, em 1992, a norma BS 7750, que normatiza a instalação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e a sua certi�cação (Nahuz, 1995). Avançando no contexto de sustentabilidade, em nível global, a Organização das Nações Unidas (ONU) concebeu a Agenda 2030 como o documento que sintetiza os compromissos da humanidade com um planeta sustentável. Por meio da Agenda 2030, foram de�nidos 17 objetivos e 169 metas para que todos, governos, corporações e pessoas se engajem para a sustentabilidade em todas as dimensões, nas escalas global, nacional, regional e local. O cumprimento da Agenda 2030 foi assumido pelo universo empresarial, que estabeleceu, por meio da ONU, o Pacto Global, uma iniciativa com as responsabilidades e princípios que devem ser seguidos pelas empresas em busca da sustentabilidade corporativa. No contexto dos fundos de investimentos, surgiu o paradigma ESG, que se apresenta como a principal articulação para a sustentabilidade corporativa no âmbito internacional. As práticas de ESG, com os seus parâmetros ambientais, sociais e de governança corporativa, condicionam os investimentos das instituições �nanceiras mundiais. Isso signi�ca que o ESG é, reciprocamente, um mecanismo para efetivar as dimensões da sustentabilidade e um garantidor de investimentos para uma empresa. Portanto, adotar os princípios de ESG é condição de permanência em longo prazo da corporação no tabuleiro das relações econômicas, em conformidade com os padrões mundiais de desenvolvimento sustentável. É Hora de Praticar! Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL para assistir mesmo sem conexão à internet. Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você trabalha como consultor na área corporativa e foi contratado por uma empresa que enfrenta problemas de relacionamento com a comunidade do entorno, especi�camente a acusação de haver incompatibilidade entre o marketing verde de seus produtos e as dinâmicas que adota em suas operações empresariais. Desse modo, a contratante é considerada pelo mercado como uma empresa ambientalmente responsável, pelo fato de possuir no processo produtivo o uso de matéria-prima com certi�cação ambiental e de seus produtos possuírem rotulagem verde. Esses instrumentos norteiam a narrativa da empresa junto aos seus consumidores �nais, ao declarar-se alinhada com o desenvolvimento sustentável. Ademais, anualmente a empresa efetua a publicação de um relatório corporativo socioambiental, em que destaca as suas políticas verdes e exterioriza os dados e informações dos impactos dos seus produtos no meio ambiente. Em que pese essas iniciativas, uma organização não governamental (ONG) que atua na comunidade onde a empresa está localizada tem efetuado uma série de questionamentos. Segundo a ONG, ainda que a empresa detenha o selo verde para os seus produtos e certi�cação ambiental dos componentes do seu processo produtivo, essas métricas são insu�cientes para considerá-la ambientalmente responsável. Isso porque a empresa não tem adotado os procedimentos necessários para o gerenciamento dos seus resíduos sólidos, com o descarte em locais inapropriados, mesmo efetuando o lançamento direto de seus e�uentes em um corpo d’água que atravessa a cidade mais próxima, gerando poluição. A ONG acusa ainda a empresa de manipular as informações constantes do seu relatório corporativo socioambiental, com a divulgação seletiva dos pontos positivos e omitindo os impactos ambientais negativos das suas atividades. Além disso, a empresa confere ênfase oportunista em projetos sociais na comunidade, de forma a causar boa impressão no mercado e nos consumidores. Mas são iniciativas oriundas de obrigações �rmadas em processos judiciais, não de forma espontânea. Por �m, a empresa é conhecida pelos seus problemas nas relações laborais, praticando condutas discriminatórias quanto à paridade de gênero e pessoas com de�ciência. Nesse cenário, a situação se agravou com a divulgação dos questionamentos da ONG nos principais meios de comunicação da região, que atribuíram à empresa a prática de greenwashing (lavagem verde), de propagação de um marketing verde oportunista e enganoso. Preocupada com essa situação, você foi contratado pela empresa em questão para elaborar uma estratégia ambiental efetiva,de forma a suplantar os problemas apresentados e conferir a credibilidade necessária. Você acredita que a implantação ESG nas empresas e outros negócios trazem vantagens, como o aumento de competitividade, ou somente aumentam os custos das operações? A empresa pode criar o seu próprio SGA ou adotar um dos modelos genéricos propostos por outras entidades nacionais ou internacionais. Já que esse processo não é obrigatório, quais as vantagens de optar por ele em busca de melhorias no âmbito ambiental da empresa? Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas para erradicar a pobreza e promover uma vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. Analisando os 17 objetivos propostos pela agenda, destaque cinco que você acredita serem prioridades e diga por quê. Dê o play! Clique aqui e acesse os slides do Dê o play! Vamos juntos articular os principais aspectos para a resolução do nosso estudo de caso. Em primeiro lugar, na qualidade de consultor, é necessário veri�car a procedência ou não das denúncias apresentadas pela ONG. Esse é o ponto de partida, porque em caso de con�rmação, a empresa deverá, de imediato, empenhar providências para minimizar os impactos no meio ambiente, em especial quanto ao gerenciamento dos resíduos sólidos, sob pena de possível responsabilidade ambiental civil, penal e administrativa. Como você foi contratado para elaborar uma estratégia socioambiental, essa será a discussão. Em que pese a empresa possuir selo verde para os seus produtos e adquirir matéria-prima certi�cada, esses instrumentos, apesar de importantes, são insu�cientes para que a empresa seja considerada sustentável, considerando as informações prestadas. Eles devem ser mantidos, mas conjugados com outras medidas a serem consideradas pela empresa. Nessa perspectiva, como consultor você poderá propor à empresa a implementação das práticas ESG nos seus negócios, de modo a inseri-la no principal paradigma da sustentabilidade corporativa global. Para tanto, a empresa deverá de�nir claramente a atuação ambiental e social pretendida, por meio de uma decisão de governança corporativa, com a de�nição dos propósitos e objetivos. Ela deve assumir um claro compromisso que procure superar o plano retórico e as medidas pontuais. No âmbito interno, a empresa poderá estabelecer um programa de compliance, de modo a minimizar os riscos e orientar a observância dos padrões legais e éticos nos negócios. Esse programa poderá balizar, também, o relatório corporativo socioambiental, de modo a avaliá-lo criticamente e evitar a inserção de informações distorcidas ou que omitam os impactos ambientais das suas atividades. A transparência e a ética são elementos que conferem credibilidade ao relatório em questão, inclusive com a possibilidade de revisão pelos parceiros de negócios e mesmo de receber os complementos e críticas das entidades ambientalistas que atuam na área da empresa. Em conjunto, o programa de compliance deverá estabelecer os parâmetros de contratação de pessoal pela empresa, com processos admissionais que contemplem o acesso equitativo de gênero e outros grupos vulneráveis e minorias nos seus quadros, em respeito à diversidade. Além disso, garantir que o dia a dia das relações laborais ocorra sem discriminações, em medidas além das prescrições legais. Ademais, o programa de compliance deve estabelecer regras e procedimentos para que as compras sejam efetuadas em empresas que conjuguem os preceitos e valores da https://gtagenda2030.org.br/ods/ https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u3deplay_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL sustentabilidade e que não aceitem condutas dissonantes da ética e probidade em seus negócios. Quantos aos projetos comunitários, a empresa deve estabelecê-los em uma perspectiva voluntária, seja diretamente ou determinando parcerias com outras entidades que promovam atividades sociais, culturais ou ambientais. Esses projetos auxiliam nas transformações sociais no entorno e com ganhos de valor à empresa. No que se refere às dinâmicas ambientais, os selos e certi�cações devem ser mantidos. Mas é preciso adotar um sistema de gestão ambiental que traga melhorias efetivas para a empresa. Nesse ponto, a implementação da norma ISO 140001:2015 seria uma possibilidade. Há de se conferir atenção ao gerenciamento de resíduos e rejeitos de suas atividades produtivas, que deverão ser destinados corretamente e não lançados de forma inadequada. Até mesmo porque há uma responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, conforme de�ne a legislação brasileira. Essas são, em síntese, algumas medidas para orientar a sua atuação como consultor pro�ssional. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Figura 1 | Responsabilidade social e ambiental e gestão corporativa: tópicos importantes. Fonte: elaborada pelo autor. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 14001: sistemas de gestão ambiental: requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro, 2004. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 27 out. 2023. NAHUZ, M. A. R. O sistema ISO 14000 e a certi�cação ambiental. RAE – Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 6, p. 55-66, 1995. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rae/a/qjXXj3D8BXyfBT6NYZ8cP3R/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 6 nov. 2023. VALLE, C. E. Qualidade ambiental: ISO 14000. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Senac, 2002. , Unidade 4 Alternativas socioambientais para a sustentabilidade Aula 1 Estado de Direito Ecológico Estado de direito ecológico Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/%20Constitui%C3%A7ao.htm https://www.scielo.br/j/rae/a/qjXXj3D8BXyfBT6NYZ8cP3R/?format=pdf&lang=pt https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u4a1_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL É uma alegria tê-lo conosco em uma nova unidade de ensino da disciplina de Responsabilidade Social e Ambiental! Nosso objetivo é apresentar as principais alternativas e possibilidades para a sustentabilidade, diante disso, iremos discutir os elementos estruturantes do Estado Ecológico de Direito, o qual destaca o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental, impondo deveres para a consecução da dimensão ecológica da dignidade e da proteção aos processos ecológicos essenciais. Além disso, trabalharemos as dimensões éticas e sua interface na proteção ambiental, incluindo a con�guração no universo jurídico brasileiro. Agora, vamos trabalhar a nossa situação-problema, onde você, um renomado pesquisador que atua na área da ética ambiental, foi convidado para palestrar no mais importante evento nacional que tem foco em destacar a importância do Estado de Direito Ecológico. Você �cou extremamente empolgado com a oportunidade e resolveu já iniciar a preparação do material que irá apresentar no evento. Inicialmente, você decidiu selecionar três questões para guiar a elaboração dessa apresentação, são elas: Qual é a de�nição do Estado de direito ecológico? Existe Estadode direito no Brasil? O que é, e qual a importância do biocentrismo? Com isso, você deverá, inicialmente, organizar esses questionamentos para, posteriormente, preparar a apresentação para o evento! Boa jornada! Vamos Começar! Surgimento do estado de direito ecológico Na modernidade, o constitucionalismo passou pelas feições de Estado liberal, social e atualmente encontra-se como Estado democrático de direito. Mas, com o advento do Antropoceno, novas abordagens têm sido suscitadas, tais como Estado socioambiental de direito, Estado de direito ambiental e, mais recentemente, Estado ecológico de direito. Cada uma dessas novas perspectivas possui características assentadas na ética das relações com a natureza. Apesar da multiplicidade terminológica, há um ponto de partida uni�cador: a incorporação do meio ambiente como marco fundamental do Estado contemporâneo. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A primeira proposição é o Estado socioambiental de direito, que estabelece o esverdeamento constitucional pela inserção da variável ecológica em conjunto com os valores e conquistas das concepções liberais e sociais (Sarlet; Fensterseifer, 2017). O constitucionalismo socioambiental incorpora, diante do contexto atual, a dimensão ambiental, de garantia de proteção do meio ambiente sem desguarnecer do combate às desigualdades sociais, especialmente nos países do sul global. Quanto ao Estado de direito ambiental, que em muitos pontos se aproxima do modelo socioambiental, trata-se de uma construção teórica como “[...] aquele que faz da incolumidade do seu meio ambiente sua tarefa, critério e meta procedimental de suas decisões, o que não exclui, por óbvio, o âmbito social” (Leite; Silveira: Bettega; 2017, p. 68). O Estado de direito ambiental é a �rme inserção do meio ambiente nos textos e discussões constitucionais. Ele está aprumado na proteção do meio ambiente, reciprocamente, como um direito fundamental e um dever estatal, norteador das políticas públicas. O dever estatal é cumprido por meio de uma atuação positiva e negativa. Atuação positiva mediante políticas públicas de proteção e melhoria da qualidade ambiental; a negativa, pela ausência de interferências deletérias no meio ambiente. O Estado de direito ambiental reconhece a importância dos sistemas ecológicos, considerando os componentes naturais sujeitos à proteção jurídica intrínseca, isto é, com tutela independente das valorações humanas. Temos, ademais, a compreensão de uma ética biocêntrica, que, a propósito, é a fundamentação para a proteção aos direitos dos animais. Por �m, o Estado de direito ecológico, teorizado mais recentemente, por vezes é tido como sinônimo de Estado de direito ambiental. Uma primeira proposição para o Estado de direito ecológico é que se trata de uma ampliação da interpretação ética, em que é possível o reconhecimento dos direitos da natureza e, portanto, a possibilidade de uma tutela jurídica em sentido amplo. O Estado de direito ecológico dialoga com as tradições do sul global, como as cosmovisões do bem-viver, pachamama, sumak kaysay e outras, que são a compreensão dos povos originários das suas relações com a natureza, em um paradigma de interdependência, em que homem e natureza não estão separados. O Estado de direito ecológico é uma construção teórica que, diante das complexidades que as questões ambientais suscitam no mundo contemporâneo, converge para uma �nalidade de salvaguarda da vida e da natureza. Outra formulação do Estado de direito ecológico confere a justi�cativa da proteção ambiental ligada aos desa�os do Antropoceno. Com o avanço do conhecimento cientí�co sobre os complexos processos do sistema planetário, incluindo os impactos da in�uência humana nele, é exigido, como expõe Aragão (2017), um arcabouço de proteção mais rigoroso, porque há uma obrigação geral para todos os atores e em todas as escalas de não ultrapassarmos os limites biofísicos do planeta. O Estado de direito ecológico, portanto, atua para um espaço operacional seguro para a vida planetária. É preciso atentar-se, por �m, que não há um modelo único para as denominações Estado Socioambiental, Estado de Direito Ambiental e Estado Ecológico de Direito. Por isso, optamos por usar a expressão Estado Ecológico de Direito, por conjugar os aspectos de todas as concepções. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Siga em Frente... Princípios estruturantes do Estado de Direito Ecológico É possível falar na existência de um Estado de direito ambiental ou mesmo de um Estado de direito ecológico no Brasil? Entendemos que sim, porque a proteção da dignidade humana e dos processos ecológicos essenciais está prevista na Constituição de 1988. O art. 225 da Constituição de 1988 traz como norma-matriz o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Esse direito deve ser entendido como um meio ambiente não poluído, saudável, com salubridade. A sadia qualidade de vida só é realizável com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. A propósito, a Constituição de 1988 “[...] associou o meio ambiente ecologicamente equilibrado ao direito à vida, em especial à sadia qualidade de vida, em direcionamento voltado para o princípio estruturante do texto constitucional: a dignidade da pessoa humana” (Melo, 2017, p. 45). O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental de terceira dimensão, diretamente relacionado ao cumprimento dos demais direitos fundamentais. Dessa forma, [....] a efetivação dos direitos civis e políticos (direitos de primeira dimensão) e dos direitos econômicos, sociais e culturais (direitos de segunda dimensão) só é possível com um meio ambiente ecologicamente equilibrado. A�nal, como é possível garantir o direito à vida, à saúde ou ao trabalho em um ambiente poluído? O meio ambiente ecologicamente equilibrado reveste-se como indeclinável para a efetivação das demais dimensões de direitos humanos (Melo, 2017, p. 45). Portanto, sem um meio ambiente ecologicamente equilibrado não há a dimensão ecológica da dignidade da pessoa humana. Por essa razão, a Constituição de 1988 traz um conjunto de deveres para o poder público, expresso no § 1º do art. 225. Um deles é a obrigação de “preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas” (Brasil, 1988). Os processos ecológicos essenciais são os �adores da vida. Por meio deles temos a proteção da biodiversidade, incluindo a variabilidade genética de espécies e ecossistemas. No caso da humanidade, esses processos ecológicos são os garantidores da produção de alimentos, da saúde e das condições climáticas de habitabilidade terrestre. Nota-se, assim, que processos ecológicos essenciais assumem a salvaguarda tanto da vida humana quanto da biodiversidade e da natureza. É importante destacar outras obrigações constitucionais de proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, tais como (i) preservar a integridade e a diversidade do patrimônio genético e (ii) de de�nir espaços territoriais especialmente protegidos (Brasil, 1988). A preservação do patrimônio genético, entendido como a informação de origem genética de espécies vegetais, animais ou microbianas, é o dever de proteção à biodiversidade. No que se refere aos espaços protegidos, a instituição de unidades de conservação, que são áreas com Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo poder público para �ns de preservação ou conservação ambiental. Com essas observações, constata-se a dupla dimensão protetiva a partir da norma-matriz do meio ambiente ecologicamente equilibrado, tanto da dignidade da pessoa humana quanto dos processos ecológicos essenciais. Em uma ou outra perspectiva, as nomenclaturas ambiental ou ecológica estão presentes no texto constitucional. Em síntese, a Constituição de 1988 permite, como decorrência das adversidades do Antropoceno, o alargamento conceitual-teórico para a salvaguarda ecológica. Aplicaçãodas políticas públicas no paradigma ecológico Quais são os compromissos do Estado ecológico de direito? Quais as matrizes éticas para essa abordagem estatal? Em primeiro lugar, a diferença do Estado tradicional e do Estado de direito ecológico está na força jurídica das obrigações impostas para a proteção do meio ambiente (Aragão, 2017). No Estado tradicional, o direito ambiental assenta-se na obrigação de evitar os danos ambientais e, conjuntamente, melhorar a qualidade ambiental, tudo baseado em “esforços” (Aragão, 2017). Trata-se de um direito ambiental que, basicamente, �xa restrições para os empreendimentos na gestão dos recursos naturais (Winter, 2017). No Estado ecológico de direito, por sua vez, o objetivo é o de alcançar resultados na proteção ambiental, ou seja, diante do cenário atual, em que temos conhecimento das consequências dos impactos humanos no planeta, não podemos nos contentar com meros esforços, é hora de adotar medidas e políticas públicas efetivas para o enfrentamento das emergências do Antropoceno (Aragão, 2017). Assim, [...] não é su�ciente aplicar estas medidas ambientais se, ao mesmo tempo, não houver um acompanhamento permanente para saber se os efeitos das medidas correspondem ao que é necessário para alcançar os �ns, ou se é necessário adotar novas e reforçadas medidas de proteção ou recuperação ambiental (Aragão, 2017, p. 33). É preciso respeitar o espaço operacional seguro, de forma que as interferências econômicas no ambiente não acentuem o desequilíbrio dos sistemas de sustentação planetária. A�nal, se conhecemos os limites, não é aceitável que atividades dissonantes sejam franqueadas. Por isso há a necessidade de redimensionar o princípio da precaução, pois ele é decisivo nas avaliações e nos monitoramentos ambientais. Esse princípio tem como objeto o controle da incerteza cientí�ca e do perigo in abstrato, entendidos como a ausência de pesquisas e Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL informações sobre a potencialidade lesiva ou não de determinada atividade para o meio ambiente e a saúde humana. Além desses aspectos, redimensionar o princípio da precaução implica inserir a variável social de modo que as avaliações das atividades e dos empreendimento considerem os impactos e consequências sociais para as comunidades. Deve-se observar que essas intervenções não ocasionem situações de vulnerabilidades ou desigualdades socioambientais. No cerne do Estado de direito ecológico está a superação de uma compreensão ética assentada no antropocentrismo utilitarista, da humanidade como o centro de todas as relações jurídicas. A dimensão da dignidade ecológica impõe a aceitação da matriz biocêntrica que, em pese as diversas correntes de interpretação, manifesta-se por meio da proteção da biodiversidade e dos animais, considerados como valores intrínsecos. A propósito, o conceito de meio ambiente na legislação brasileira, previsto na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, é de matriz biocêntrica. Desse modo, o art. 3º, I, da Lei 6.938/1981, dispõe: “meio ambiente, o conjunto de condições, leis, in�uências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (Brasil, 1981). Nota-se que a proteção ambiental é para todas as formas de vida, não somente a humana. A ética biocêntrica é exempli�cada em julgados do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiram práticas consideradas cruéis contra os animais não humanos, como no caso das rinhas de galo, da farra do boi e da vaquejada (Melo, 2017). Por �m, o reconhecimento dos direitos da natureza, em uma visão ecocêntrica. Essa matriz não é contemplada pelo direito e pelos julgados dos tribunais superiores brasileiros. Na América Latina, todavia, temos exemplos da matriz ecocêntrica nas constituições do Equador e da Bolívia. No âmbito do Poder Judiciário, um dos casos paradigmáticos é uma sentença da Corte Constitucional da Colômbia, que, ao decidir sobre a proteção e conservação do Rio Atrato, que corta aquele país, o reconheceu como sujeito de direitos. O Tribunal Constitucional do Equador, por sua vez, em decisão de novembro de 2021, a�rmou que: “Os direitos da natureza protegem os ecossistemas e processos naturais por seu valor intrínseco, complementando o direito humano a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado” (Ecuador, 2021). Nota-se, assim, que a natureza como sujeito de direitos é uma dimensão que está em processo de aceitação nesses países, em um paradigma que poderá ser albergado por outros sistemas jurídicos. Vamos Exercitar? Nesta aula destacamos a importância do Estado de direito ecológico, o qual representa uma alternativa viável à melhor regulação que o Direito deve fornecer para combater os retrocessos ambientais, garantir a tutela integral da dignidade humana e da integridade dos ecossistemas. Agora, vamos retomar nossa situação-problema, em que você, um renomado pesquisador que atua na área da ética ambiental, foi convidado para palestrar no mais importante evento nacional Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL cujo foco é destacar a importância do Estado de direito ecológico. Você �cou extremamente empolgado com a oportunidade e resolveu começar a preparação do material que irá apresentar no evento. Inicialmente, você decidiu selecionar três questões para guiar a elaboração dessa apresentação: Qual é a de�nição do Estado de direito ecológico? Pode ser de�nido como aquele que faz da incolumidade do seu meio ambiente sua tarefa, critério e meta procedimental de suas decisões, o que não exclui, obviamente, o âmbito social. O Estado de direito ambiental é a �rme inserção do meio ambiente nos textos e discussões constitucionais. Ele está aprumado na proteção do meio ambiente reciprocamente como um direito fundamental e como um dever estatal, norteador das políticas públicas. Existe Estado de direito no Brasil? Sim! Podemos considerar essa a�rmação, pois a proteção da dignidade humana e dos processos ecológicos essenciais estão previstos na Constituição de 1988. Destaca-se o art. 225 da Constituição de 1988, que traz como norma-matriz o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Esse direito deve ser entendido como um meio ambiente não poluído, saudável, com salubridade. A sadia qualidade de vida só é realizável com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. A propósito, a Constituição de 1988 “[...] associou o meio ambiente ecologicamente equilibrado ao direito à vida, em especial à sadia qualidade de vida, em direcionamento voltado para o princípio estruturante do texto constitucional: a dignidade da pessoa humana”. O que é e qual a importância do biocentrismo? O biocentrismo é uma posição �losó�ca que concebe a considerabilidade moral como inerente à vida e aos seres vivos, em reverência ao bem próprio de cada sujeito vivo. O biocentrismo não privilegia a racionalidade nem a senciência enquanto critérios morais de�nidores da categoria de sujeito moral. Dessa maneira, nota-se que a proteção ambiental deve ser feita para todas as formas de vida, não somente a humana. A ética biocêntrica é exempli�cada em julgados do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiram práticas consideradas cruéis contra os animais não humanos, como no caso das rinhas de galo, da farra do boi e da vaquejada. Agora, com informações já levantadas, você estará apto para iniciar a construção de sua apresentação, que será um enorme sucesso nesse importante evento! Saiba mais Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A con�guração do Estado de direito ecológico é objeto de estudos por teóricos e pesquisadores. Uma entidade acadêmica que aprofunda as discussões da temática é o Instituto O Direito por um Planeta Verde, que disponibilizou em sua página uma obra coletiva sobre o Estado de Direito Ecológico. Destacamos nesta aula o conceito de biocentrismo, que é a proteção ambiental para todas as formas de vida, não somente a humana. Para saber mais sobre esse assunto, leia Do antropocentrismoao biocentrismo, e compreenda esse conceito. O Estado de direito ambiental é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Ele integra as necessidades ambientais aos elementos essenciais do Estado de direito, além de fornecer a base para o aprimoramento da governança ambiental. Você pode conhecer mais sobre o estado de direito ambiental acessando página ONU/Estado de Direito Ambiental. Bons estudos! Referências ARAGÃO, A. O estado de direito ecológico no antropoceno e os limites do planeta. In: LEITE, J. R. M. (org). Estado de direito ecológico: conceito, conteúdo e novas dimensões para a proteção da Natureza. São Paulo: Instituto o Direito por um Planeta Verde, 2017. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 8 nov. 2023. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus �ns e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 31 ago. 1981. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/? tipo=LEI&numero=6938&ano=1981&ato=5b0UTRE50MrRVT15d Acesso em: 8 nov. 2023. ECUADOR. Corte Constitucional de Ecuador. Caso nº 1149-19-JP/20. Rel. Juiz Agustín Grijalva Jiménez, 21 de noviembre de 2021. Disponível em: http://esacc.corteconstitucional.gob.ec/storage/api/v1/10_DWL_FL/e2NhcnBldGE6J3RyYW1pdG UnLCB1dWlkOic2MmE3MmIxNy1hMzE4LTQyZmMtYjJkOS1mYzYzNWE5ZTAwNGYucGRmJ30=. Acesso em: 8 nov. 2023. LEITE, J. R. M.; SILVEIRA, P. G.; BETTEGA, B. Princípios estruturantes da estado de direito para a natureza. In: LEITE, J. R. M. (org.). Estado de direito ecológico: conceito, conteúdo e novas dimensões para a proteção da Natureza. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2017. MELO, F. Direito ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017. SARLET, I.; FENSTERSEIFER, T. Direito constitucional ambiental. 5. ed. São Paulo: RT, 2017. http://www.planetaverde.org/arquivos/biblioteca/arquivo_20221108171214_8395.pdf http://www.planetaverde.org/arquivos/biblioteca/arquivo_20221108171214_8395.pdf https://www.ihu.unisinos.br/categorias/596577-do-antropocentrismo-ao-biocentrismo https://www.ihu.unisinos.br/categorias/596577-do-antropocentrismo-ao-biocentrismo https://www.unep.org/pt-br/explore-topics/direitos-ambientais-e-governanca/what-we-do/estado-de-direito-ambiental https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=6938&ano=1981&ato=5b0UTRE50MrRVT15d https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=6938&ano=1981&ato=5b0UTRE50MrRVT15d http://esacc.corteconstitucional.gob.ec/storage/api/v1/10_DWL_FL/e2NhcnBldGE6J3RyYW1pdGUnLCB1dWlkOic2MmE3MmIxNy1hMzE4LTQyZmMtYjJkOS1mYzYzNWE5ZTAwNGYucGRmJ30= http://esacc.corteconstitucional.gob.ec/storage/api/v1/10_DWL_FL/e2NhcnBldGE6J3RyYW1pdGUnLCB1dWlkOic2MmE3MmIxNy1hMzE4LTQyZmMtYjJkOS1mYzYzNWE5ZTAwNGYucGRmJ30= Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL WINTER, G. Problemas jurídicos no antropoceno: da proteção ambiental à autolimitação. In: LEITE, J. R. M. (org.). Estado de direito ecológico: conceito, conteúdo e novas dimensões para a proteção da Natureza. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2017. Aula 2 Educação Ambiental Educação ambiental Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! É uma alegria tê-lo conosco em um novo encontro, em que discutiremos a educação ambiental! Falar em educação ambiental é discutir os valores, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências para o exercício de uma cidadania voltada para a sustentabilidade. É por meio dela que tomamos consciência e re�etimos sobre a importância da proteção do meio ambiente em nosso cotidiano. A educação ambiental é um dever não somente do poder público e das instituições de ensino, mas igualmente de empresas, entidades de classe, organizações privadas, órgãos de imprensa e da sociedade como um todo. https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u4a2_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Para melhor compreendermos, vamos conhecer nossa situação-problema, que trata do caso de André, que trabalha em uma granja na cidade de Águas Claras. Essa granja sofria com as perdas naturais, o que gerava muitos resíduos, como cascas de ovos quebradas. André propôs que �zessem a coleta seletiva dessas perdas para a produção de ração animal. Apoiado pela empresa, ele começou a coleta seletiva e passou a processar as cascas de ovos junto com o milho, que já produzia em sua pequena propriedade rural, e assim obteve a ração animal. André teve sucesso na venda de sua ração, com produção acima do esperado, e passou a ter, além da cultura de milho, a criação de porcos. Em razão do crescimento de seu agronegócio, se viu obrigado a contar com os vizinhos do sítio. Unidos, montaram uma cooperativa para gerir os negócios e passaram a pedir uma melhor gestão. Com isso, André e os cooperados buscaram conhecer melhor a cadeia ambiental, para que, além de obter lucro, também pudessem manter o equilíbrio socioambiental e um convívio harmônico. Pela internet, procuraram um curso on-line de gestão, o qual fora subsidiado pela cooperativa. Essa medida foi tomada para que o crescimento do agronegócio de todos se realizasse com sustentabilidade. O primeiro curso eleito foi Como fazer para aproveitar ao máximo água. Posteriormente, outros cursos seriam feitos pelo grupo. Pergunta-se: Essa decisão tomada pelos cooperados para melhor aproveitamento e gestão do agronegócio está baseada na educação ambiental e isso levará ao desenvolvimento sustentável do agronegócio iniciado por André? A educação ambiental, nesse caso, está representada pelo curso on-line realizado pelos cooperados? Os cooperados poderão implementar com técnicas novas o agronegócio? Vamos juntos no estudo dessa instigante temática! Vamos Começar! Conceito de educação ambiental A Educação Ambiental parte da re�exão das práticas socioambientais de prevenção de impactos ambientais e preservação dos recursos naturais, a �m de garantir que o meio ambiente não seja degradado de tal modo que comprometa o planeta. É importante considerar que a educação ambiental, dada a sua importância, foi objeto do encontro da União Internacional para a Conservação da Natureza – UICN –, de 1948, e se efetiva na Conferência de Estocolmo, em 1972, com a ideia de inseri-la na agenda internacional em favor do meio ambiente, consagrando-se no Programa Internacional de Educação Ambiental, em 1975, em Belgrado, na então Iugoslávia, no qual se de�niram princípios e orientações com vistas às gerações futuras, Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano destacou, em seu princípio 19, que: É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem-informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a �m de que o homem possa desenvolver-seem todos os aspectos (ONU, 1972). Já em 1977, ocorreu a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Tbilisi, Geórgia, antiga URSS), considerada um dos principais eventos de educação ambiental do planeta. Tal conferência foi organizada a partir de uma parceria entre a Unesco e o Programa de Meio Ambiente da ONU – Pnuma e esse encontro resultou nas de�nições, nos objetivos, nos princípios e nas estratégias para a educação ambiental no mundo. Nessa Conferência estabeleceu-se que o processo educativo deveria ser orientado para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, por meio de enfoques interdisciplinares e da participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. A Constituição de 1988, por sua vez, estabelece, no art. 225, § 1º, VI, como dever do poder público “[...] promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (Brasil, 1988). Esse dever foi regulamentado pela Lei 9.795/1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), inserindo a educação ambiental como componente essencial e permanente da educação nacional, e disciplinando os seus princípios, objetivos e responsabilidades para todos os atores públicos e privados. Para a PNEA, a educação ambiental é entendida como “[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente [...]” (Brasil, 1999). Ademais, a PNEA, ao teor da Constituição de 1988, reconhece o meio ambiente como “[...] bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (Brasil, 1999). A educação ambiental “[...] é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal” (Brasil, 1999). Entende-se por educação formal aquela que ocorre nos sistemas o�ciais de ensino, desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições públicas e privadas. A PNEA estabelece que a educação ambiental deve ser considerada como “[...] uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal” (Brasil, 1999). Já a educação ambiental não formal são “[...] as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente” (Brasil, Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL 1999). As práticas e vivências em ambientes como comunidades e entidades em geral são exemplos de iniciativas da educação não formal. O documento com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, aprovado pelo Conselho Nacional de Educação em 2012, estabelece que: [...] A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a �nalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental (MEC, 2012, p. 2). Por meio da educação ambiental, é possível uma formação crítica e dialógica do contexto, das complexidades e exigências estabelecidas pelas questões ecológicas à sociedade contemporânea. Além disso, a educação ambiental permite o conhecimento dos mecanismos e instrumentos para o exercício de uma cidadania ecológica ativa. Siga em Frente... Princípios e objetivos da educação ambiental A implementação dos planos, programas e projetos de educação ambiental é orientada por oito princípios, estabelecidos no artigo 4º da PNEA (Brasil, 1999). O primeiro princípio é o “enfoque humanista, holístico, democrático e participativo” (Brasil, 1999). Ao contrário de uma leitura reducionista, fragmentada e de mero repasse de informações, esse princípio pressupõe uma perspectiva dialógica para a educação ambiental, por meio da problematização das causas e efeitos das temáticas ecológicas, com o chamamento à participação comunitária baseado em pressupostos democráticos. O segundo princípio é “a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade” (Brasil, 1999). Esse princípio refuta concepções estanques e supostamente independentes dos elementos que compõem o meio ambiente. Ao reverso, reconhece o meio ambiente como totalidade, com suas dimensões interligadas, em uma relação de interdependência; o meio ambiente é uno e indivisível. O terceiro princípio é “o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade” (Brasil, 1999). Não há uma única perspectiva pedagógica, mas olhares e possibilidades múltiplas na abordagem do meio ambiente, que devem ser contemplados e conjugados nas práticas educacionais. Na perspectiva multidisciplinar, temos o reconhecimento de que as questões ambientais envolvem saberes disciplinares distintos; em relação à interdisciplinar, há a interação e reciprocidade entre os princípios desses saberes Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL disciplinares; e sob a ótica da perspectiva transdisciplinar, compreende-se que os conhecimentos disciplinares fazem parte de um mesmo “sistema” complexo e integrado. O quarto princípio, é “a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais” (Brasil, 1999), isto é, não há desvinculação dessas práticas e valores e a proteção ao meio ambiente. O quinto princípio é “a garantia de continuidade e permanência do processo educativo” (Brasil, 1999), em que a educação ambiental não se resume a ações datadas ou transitórias e, conforme o sexto princípio, da “permanente avaliação crítica do processo educativo” (Brasil, 1999). Trata-se de reconhecer a educação ambiental como um contínuo de avaliações e reavaliações, de críticas e autocríticas, diante das dinâmicas e transformações ecológicas em curso. O sétimo princípio é “a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais” (Brasil, 1999). As demandas ambientais estão em múltiplas escalas, do global ao local. Só podemos ser globais com as ações locais. Os programas e projetos de educação ambiental devem contemplar essas múltiplas escalas, sem perder, todavia, o contexto e os desa�os do chão da vida, isto é, a escala da proximidade. Por �m, o oitavo princípio, o “reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural” (Brasil, 1999). É preciso levar em conta a pluralidade e a diversidade cultural de um país como o Brasil, com os saberes e conhecimentos dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Para tanto, uma ecologia dos saberes, em que o conhecimento cientí�co dialoga com as práticas populares, em uma abertura para as tradições e vivências dos povos originários, das comunidades tradicionais, das periferias e dos rincões do Brasil. Com base nesses princípios, temos os objetivos fundamentais da educação ambiental no Brasil, previstos no art. 5º da PNEA (Brasil, 1999). Destacaremos três deles, que reputamos necessários para a compreensão da educação ambiental. O primeiro objetivo, “o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social” (Brasil, 1999), é o compromisso da educação ambiental como um elemento crítico para a conscientização e a mobilização em face dos impasses contemporâneos. Sem contextualizar as estruturas que estão no cerne e que engendram a problemática ambiental, a educação ambiental perde a possibilidade de fomentar um sujeito e uma sociedade comprometidos com o exercício dos direitos socioambientais. O segundo objetivo é “o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambientalcomo um valor inseparável do exercício da cidadania” (Brasil, 1999). A proteção ambiental não se circunscreve a ativismos, com propagandas e discursos por mais e mais direitos. Ela requer ações políticas no encontro com a realidade, em uma cidadania contra a apatia e a passividade, de compromisso com a solidariedade entre as presentes e futuras gerações. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL O terceiro objetivo, por �m, é “o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade” (Art. 5º, V). Esse objetivo reúne os valores fundamentais de uma sociedade ecológica e democrática, em conformidade com os objetivos constitucionais da República Federativa do Brasil, previstos no art. 3º da Constituição Federal (Brasil, 1988). A aplicação da educação ambiental nos contextos social e corporativo O art. 3º da PNEA traz as incumbências para que o poder público, as instituições educativas, os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente, os meios de comunicação de massa, as empresas, as instituições públicas e privadas e a sociedade como um todo possam implementar os processos de educação ambiental (Brasil, 1999). Essa conjugação de atores é um demonstrativo que a educação ambiental, como processo integrante da cidadania, é um compromisso da sociedade brasileira. Em primeiro plano, cabe ao poder público, consoante as políticas de educação e meio ambiente, “[...] de�nir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente” (Brasil, 1999). A condução dessas políticas é de responsabilidade dos ministérios da Educação e do Meio Ambiente, que devem se articular na incorporação da dimensão ambiental, tanto no ensino formal quanto na formação e capacitação de docentes em todos os níveis educacionais. Já às instituições educativas cabem “[...] promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem” (Brasil, 1999). Pontua-se que a autorização e supervisão do funcionamento de instituições de ensino e de seus cursos, nas redes pública e privada, dependem do cumprimento das prescrições da educação ambiental. Os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) devem “[...] promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente” (Brasil, 1999). Os órgãos do Sisnama, como indutores e �scalizadores da proteção ambiental no país, não podem prescindir da execução de programas e projetos de educação ambiental. A�nal, entidades como o Ibama, o Instituto Chico Mendes e os órgãos ambientais e municipais podem tanto promover quanto fomentar as dinâmicas de educação ambiental em suas áreas de atuação. A PNEA, consciente da importância e do papel dos meios de comunicação de massa na sociedade, estabeleceu para eles a incumbência de “colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação” (Brasil, 1999). É preciso destacar que alguns desses Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL meios de comunicação, como emissoras de televisão e de rádio são concessões públicas e nada mais pertinente que contribuírem para a conscientização da sociedade sobre a necessidade de proteção e promoção dos valores ecológicos. Já às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, foi estabelecida a atribuição de “promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente” (Brasil, 1999). Esse dispositivo conjuga dois aspectos. Primeiro, o conceito de meio ambiente contempla questões laborais, ou seja, a preocupação com a saúde e a segurança dos trabalhadores. Segundo, a conscientização dos trabalhadores dos efeitos da atividade produtiva sobre o meio ambiente, de modo a re�etir em práticas sustentáveis. Por �m, à sociedade como um todo, é necessário “manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identi�cação e a solução de problemas ambientais” (Brasil, 1999). É o reconhecimento que a educação ambiental possui dimensões individual e coletiva, que se re�etem na participação cidadã nos processos de decisão e no exercício das atividades, valores e atitudes compromissados com a promoção de uma sociedade sustentável. Vamos Exercitar? Nesta seção, você estudou os aspectos relevantes da educação ambiental. Sua prática tem sido considerada de importância ímpar para a consciência ambiental. A educação ambiental analítica, crítica e inovadora compreende um ato político, objetivando a transformação social que, pelo enfoque holístico, abrange a integração pessoa humana, natureza e universo. Retornando à nossa situação-problema, percebemos que, com o crescimento do seu agronegócio, André se viu obrigado a contar com os vizinhos do sítio, que, unidos, montaram uma cooperativa para gerir os negócios e passaram a pedir uma melhor gestão. Esse modelo de gestão solidária fez com que André e os cooperados buscassem conhecer melhor a cadeia ambiental, para que, além de obter lucro, também pudessem manter o equilíbrio socioambiental e um convívio harmônico. Tendo em vista que a água é a questão do momento nesse agronegócio e a preocupação com a cadeia que se perfez, procurar educar-se ambientalmente foi uma das iniciativas prudentes e que resultará em frutos bené�cos a todos e ao meio ambiente. Portanto, a decisão tomada pelos cooperados implicará um melhor aproveitamento dos recursos e levará a uma gestão equilibrada, resultando num agronegócio sustentável. A educação ambiental leva conhecimento técnico e cientí�co, e deve ser realizada utilizando uma linguagem que todos possam entender. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL O desenvolvimento sustentável do agronegócio de André tende a ter êxito com a decisão de integrar a educação ambiental como recurso para prosperar. O curso on-line é o passo para a educação ambiental e é uma importante inciativa de André. Todos os cooperados participantes poderão aprender novas técnicas e aplicá-las a �m de garantir o equilíbrio socioambiental. No caso, eles iniciaram com a água, recurso �nito de importância ímpar a todas as espécies, por isso utilizá-la de modo consciente e consistente é certeza de sucesso ao empreendimento, representado pelo agronegócio iniciado por André. Saiba mais Uma das formas de aprofundar o aprendizado em educação ambiental é conhecer e pesquisar no conjunto de publicações que o Ministério da Educação (MEC) disponibiliza em seu portal. Nele, temos as diretrizes para as políticas públicas e as orientações temáticas para a educação ambiental, como no caso do consumo, da mudança do clima e das transformações ecológicas. A Conferência Intergovernamental de Tbilisi, na antiga União Soviética, é considerada um dos principais eventos de educação ambiental do planeta. Nessa conferência, foram estabelecidos os objetos e princípios de Tbilisi. Para saber mais sobre esse evento importante, leia a matéria Entendendo a Conferência de Tbilisi (1977). Para compreender todos os aspectos da educação ambiental, leia o artigo O que é Educação Ambiental?, no Portal de Educação Ambiental, e mergulhe nessa importante temática! Bons estudos! Referências ARAGÃO, A. O estado de direito ecológico no antropoceno e os limites do planeta. In: LEITE, J. R. M. (org). Estado de direito ecológico: conceito, conteúdo e novas dimensões para a proteção da Natureza. São Paulo: Instituto o Direito por um Planeta Verde, 2017.BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 8 nov. 2023. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus �ns e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 31 ago. 1981. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/? tipo=LEI&numero=6938&ano=1981&ato=5b0UTRE50MrRVT15d Acesso em: 8 nov. 2023. http://portal.mec.gov.br/component/content/article/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-223369541/13639-educacao-ambiental-publicacoes https://blog.portaleducacao.com.br/entendendo-a-conferencia-de-tbilisi-1977/ https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/2023/06/o-que-e-educacao-ambiental/#:~:text=%E2%80%9CA%20educa%C3%A7%C3%A3o%20ambiental%20%C3%A9%20um,culturas%20e%20seus%20meios%20biof%C3%ADsicos. https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/2023/06/o-que-e-educacao-ambiental/#:~:text=%E2%80%9CA%20educa%C3%A7%C3%A3o%20ambiental%20%C3%A9%20um,culturas%20e%20seus%20meios%20biof%C3%ADsicos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/%20Constitui%C3%A7ao.htm https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=6938&ano=1981&ato=5b0UTRE50MrRVT15d https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=6938&ano=1981&ato=5b0UTRE50MrRVT15d Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL ECUADOR. Corte Constitucional de Ecuador. Caso nº 1149-19-JP/20. Rel. Juiz Agustín Grijalva Jiménez, em 21 de noviembre de 2021. Disponível em: http://esacc.corteconstitucional.gob.ec/storage/api/v1/10_DWL_FL/e2NhcnBldGE6J3RyYW1pdG UnLCB1dWlkOic2MmE3MmIxNy1hMzE4LTQyZmMtYjJkOS1mYzYzNWE5ZTAwNGYucGRmJ30=. Acesso em: 08 nov. 2023. LEITE, J. R. M.; SILVEIRA, P. G.; BETTEGA, B. Princípios estruturantes da estado de direito para a natureza. In: LEITE, J. R. M. (org.). Estado de direito ecológico: conceito, conteúdo e novas dimensões para a proteção da Natureza. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2017. MELO, F. Direito ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017. SARLET, I.; FENSTERSEIFER, T. Direito constitucional ambiental. 5. ed. São Paulo: RT, 2017. WINTER, G. Problemas jurídicos no antropoceno: da proteção ambiental à autolimitação. In: LEITE, J. R. M. (org.). Estado de direito ecológico: conceito, conteúdo e novas dimensões para a proteção da Natureza. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2017. Aula 3 Consumos Sustentável Consumo sustentável Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida http://esacc.corteconstitucional.gob.ec/storage/api/v1/10_DWL_FL/e2NhcnBldGE6J3RyYW1pdGUnLCB1dWlkOic2MmE3MmIxNy1hMzE4LTQyZmMtYjJkOS1mYzYzNWE5ZTAwNGYucGRmJ30= http://esacc.corteconstitucional.gob.ec/storage/api/v1/10_DWL_FL/e2NhcnBldGE6J3RyYW1pdGUnLCB1dWlkOic2MmE3MmIxNy1hMzE4LTQyZmMtYjJkOS1mYzYzNWE5ZTAwNGYucGRmJ30= https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u4a3_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Olá, estudante! Para pensar em alternativas para a construção de uma sociedade sustentável é fundamental discutir as relações de consumo. Se por um lado temos os benefícios proporcionados pela sociedade de consumo, por outro precisamos reconhecer os impactos sobre o meio ambiente, em especial a pressão sobre os recursos naturais e o descarte dos resíduos sólidos. É preciso refutar práticas econômicas prejudiciais, como é o caso da obsolescência planejada, que, de forma deliberada, reduz a durabilidade dos produtos como forma de estimular o consumo repetitivo. Por isso, a necessidade de estabelecer padrões de consumo sustentável e de aprofundar os instrumentos de gestão dos resíduos sólidos. Para auxiliar a dinâmica abordada nesta aula, elencamos algumas questões importantes para discutirmos ao longo dessa temática: Qual a de�nição da obsolescência planejada e a sua relação com o consumismo? O que é adotar um consumo sustentável? Qual a importância da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)? Cite dois instrumentos importantes da PNRS. Vamos juntos estudar as dinâmicas do consumo sustentável? Estou te esperando! Vamos Começar! O conceito de consumo sustentável Somos uma sociedade de consumo. Trata-se de reconhecer que as relações de consumo constituem um elemento indissociável das expectativas da sociedade contemporânea. Com a modernidade, o crescimento econômico e o consumo foram os �adores da superação dos níveis básicos de sobrevivência para uma parcela da população mundial, por meio do sistema de produção em massa. Mas, a partir da segunda metade do século XX, sua maximização nos trouxe aquilo que é chamado de sociedade consumista. O consumo deixou de ser uma condição importante para a melhoria da qualidade de vida e se transformou em um vetor para o hedonismo individual, de um consumo pelo consumo, em um mundo supostamente de abundância, sem preocupação com o descarte dos produtos e seus impactos. Tem-se, então, o consumismo, que é uma distorção do consumo (Crespo, 2012). Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL De forma mais grave, nas últimas décadas, o consumo assumiu contornos emocionais, com a aquisição de produtos e serviços para atender o prazer de possuí-los como signi�cado de vida e reconhecimento social (Crespo, 2012). Esse estágio é chamado de hiperconsumo, ou seja, a identi�cação do que somos e como vivemos é marcada pela satisfação de nossas pulsões e desejos por meio do consumo. Mas essa exacerbação não signi�cou o aumento dos níveis de satisfação e felicidade pessoal. Os pressupostos do consumismo são uma ameaça para os predicados de sobrevivência global. A�nal, quanto mais consumo, mais produção e maior geração de resíduos sólidos. Desse modo, O problema da produção e do consumo realizados em bases não sustentáveis é simples de ser entendido: não podemos extrair mais recursos naturais do que a natureza é capaz de repor, quando se trata de recursos renováveis, e não podemos extrair inde�nidamente recursos �nitos, não renováveis. Também não podemos descartar mais resíduos do que a natureza é capaz de assimilar (Crespo, 2012, p. 81). Relacionado ao consumismo, temos a Teoria de Beck (1986), que diz respeito à sociedade industrial, cuja característica é a produção e distribuição de bens, dando origem à sociedade de risco, porque a distribuição dos riscos não corresponde às diferenças econômicas, sociais, sequer geográ�cas, chamadas de primeira modernidade. A ciência e a tecnologia não dão conta do controle dos riscos e, como consequência, geram danos à saúde humana e ao meio ambiente. A princípio, com aparente não efeito, contudo, em longo prazo podem tornar-se irreversíveis. Entre os riscos apontados por Beck (1986), está o ecológico, o químico, os nucleares e os genéticos produzidos pela indústria, externados pela economia, juridicamente individuais, cienti�camente legitimados e minimizados politicamente. A esses riscos a economia incorporou as quedas nos mercados �nanceiros internacionais. Segundo Beck (1999), esses riscos gerariam uma nova forma de capitalismo, economia, ordem global, sociedade e de vida pessoal. Assim, o conceito de risco liga-se ao de globalização. São riscos democráticos que afetam os países e as classes sociais sem respeitar as suas fronteiras. É por esse cenário que devemos rede�nir a dinâmica das relações de consumo, pois trata-se de fator indissociável para uma sociedade sustentável. Por isso, o surgimento deexpressões como consumo sustentável, consumo verde, consumo consciente, entre outras. Optamos pela denominação consumo sustentável por ser ampla e abarcar as demais, como o consumo verde, que confere ênfase ao papel do ato de compra do consumidor para as escolhas sustentáveis; e o consumo consciente, como aquele efetuado a partir de concepções éticas, com base em de�nições como produção local, autossustentáveis e outras variantes. O consumo sustentável conjuga as obrigações de todos os atores da sociedade de consumo para com a sustentabilidade intergeracional. Isto é, adotar o consumo sustentável é respeitar a capacidade dos sistemas de sustentação da vida na Terra e, por decorrência, garantir um mundo com disponibilidade de recursos naturais para as futuras gerações. Nessa perspectiva, a ênfase Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL não está exclusivamente nas questões tecnológicas, mas também no desa�o das mudanças dos valores socioambientais. A�nal, apesar da importância dos avanços tecnológicos, isoladamente, eles não são su�cientes para resolver a demanda da população, da poluição e do consumismo sem que determinações legais, econômicas e morais sejam estabelecidas para mudar a relação com a natureza (Odum, 2001). Portanto, no paradigma do consumo sustentável é estipulado um conjunto de obrigações para o poder público, o setor produtivo e os consumidores, como partícipes decisivos para as mudanças necessárias. Para o poder público, tem-se a exigência de normas de regulação e de incentivo para os processos de produção ecologicamente equilibrados. Para o setor empresarial, a adoção de processos de produção que respeitem a �nitude dos recursos naturais, além de minimizarem o descarte dos produtos. E para o consumidor, o imperativo de mudança nos padrões de consumo, o que, é preciso reconhecer, não é uma tarefa das mais fáceis. Com esses apontamentos, podemos de�nir o consumo sustentável como os princípios, as políticas e as obrigações do poder público, do setor produtivo e dos consumidores para a de�nição de padrões de consumo compatíveis com a capacidade de suporte planetário e a garantia dos recursos naturais para as futuras gerações. Siga em Frente... Políticas para o consumo sustentável A legislação brasileira prevê políticas públicas com parâmetros para a produção e o consumo sustentáveis. Ambos estão correlacionados, ou seja, a produção e o consumo são faces de uma mesma moeda. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece os padrões sustentáveis de produção e consumo. Esses devem “[...] atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras” (Brasil, 2010). Portanto, produção e consumo são orientados para a sustentabilidade no diálogo ético entre as gerações. Contudo, algumas dinâmicas de mercado estão em dissonância com os pressupostos da sustentabilidade. Para exempli�car, uma prática sensível e altamente gravosa às exigências atuais: a obsolescência planejada. Trata-se de um conjunto de técnicas e procedimentos que, de forma arti�cial e deliberada, de�nem limites na durabilidade e/ou desejabilidade dos produtos, como forma de estimular o consumo repetitivo. Os produtos são feitos para serem trocados ou repostos após curto período de duração ou uso, antecipando, de forma intencional, a sua substituição, em um estímulo do consumo pelo consumo. Embora a obsolescência seja natural em qualquer produto, na planejada temos uma estratégia de mercado perniciosa, para que ela ocorra antes. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Moraes (2015) menciona a existência de três modalidades de obsolescência: (i) de qualidade; (ii) de função ou funcional; e (iii) de desejabilidade ou psicológica. A obsolescência de qualidade é aquela em que o produtor, de forma deliberada, projeta o tempo de vida útil do produto, com técnicas e materiais inferiores, com a redução da durabilidade (Moraes, 2015). A obsolescência de função ou funcional torna um produto obsoleto com o lançamento de outro no mercado, ou dele mesmo, com ajustes e melhoramentos pontuais (Moraes, 2015). Por �m, a obsolescência de desejabilidade ou psicológica, que consiste na estratégia de defasagem do produto em decorrência da aparência ou design, afetando o desejo por ele e, por consequência, colocando o consumidor em estado de ansiedade pela sua substituição (Moraes, 2015). A obsolescência planejada tem efeitos prejudiciais nas relações de consumo, quebrando a boa-fé objetiva, e danosos em matéria ambiental, especialmente no que se refere à geração de resíduos sólidos. Na primeira perspectiva, do direito do consumidor, o Superior Tribunal de Justiça possui julgado sobre os problemas da obsolescência: (...) independentemente de prazo contratual de garantia, a venda de um bem tido por durável com vida útil inferior àquela que legitimamente se esperava, além de con�gurar um defeito de adequação (art. 18 do CDC), evidencia uma quebra da boa-fé objetiva, que deve nortear as relações contratuais, sejam de consumo, sejam de direito comum. Constitui, em outras palavras, descumprimento do dever de informação e a não realização do próprio objeto do contrato, que era a compra de um bem cujo ciclo vital se esperava, de forma legítima e razoável, fosse mais longo (Superior Tribunal de Justiça, 2012). Na decisão, evidenciou-se a obsolescência em razão de qualidade, em que, ao se constatar duração inferior de produto com expectativa de vida útil maior, ocorreu um procedimento incompatível com as relações de consumo. Atualmente, por ausência de legislação sobre a obsolescência planejada no Brasil, o Código de Defesa do Consumidor é um importante instrumento para o questionamento de práticas prejudiciais aos consumidores, impondo ação governamental no sentido de protegê-los, com a “[...] garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho” (Brasil, 1990). Na segunda perspectiva, o viés ambiental, a obsolescência planejada é dissonante das exigências ecológicas. O estímulo ao consumismo, por meio da substituição permanente de produtos, tem por correspondência a extração maior de recursos minerais e o aumento do consumo de energia, com impactos signi�cativos sobre o meio ambiente, tanto na disponibilidade de recursos quanto na geração de resíduos sólidos, ou seja, de poluição por resíduos sólidos. A implementação de instrumentos para o consumo sustentável Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL A de�nição das responsabilidades e a implementação dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) são fundamentais para a construção de uma sociedade sustentável. Com efeito, a PNRS estrutura-se na conjugação de obrigações para as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e os segmentos da sociedade para a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental (Brasil, 2010). Em primeiro lugar, destaca-se o papel do poder público, por meio dos planos de resíduos sólidos, articulados em vários níveis, como o plano nacional, os planos estaduais, os planos intermunicipais, os planos municipais, entre outros. Esses planos são instrumentos de diagnóstico, análise e planejamento para as políticas públicas de produção e consumo em longo prazo; no caso do plano nacional e dos planos estaduais de resíduos sólidos, o prazo de duração é de vinte anos e atualização a cada quatro anos (Brasil, 2010). O plano nacional de resíduos sólidos traz em seu conteúdo as metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a minimizar a quantidade de resíduos e rejeitos produzidos no país (Brasil, 2010). Os planos, em síntese, são os norteadores da gestão integrada e do gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil. Com os instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, temos o compromisso de todos os atores com os padrões sustentáveis de produção e consumo e, ademais, com as dinâmicas do �uxo de gestão dosresíduos sólidos, notadamente a responsabilidade pós-consumo. Nessa perspectiva, dois instrumentos se destacam: a logística reversa e a coleta seletiva. A logística reversa é um instrumento econômico e social destinado a “[....] viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial [...]” (Brasil, 2010), após o uso pelo consumidor. Esses resíduos poderão ser usados para reaproveitamento nos ciclos produtivos ou para destinação �nal ambientalmente adequada. A logística reversa é uma obrigação de fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos que causem riscos à saúde humana e ao meio ambiente (Brasil, 2010). Segundo a Lei 12.305/2010, a logística reversa é obrigatória para os seguintes produtos: (i) agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso: (ii) pilhas e baterias; (iii) pneus; (iv) óleos lubri�cantes, seus resíduos e embalagens; (v) lâmpadas �uorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e (vi) produtos eletroeletrônicos e seus componentes (Brasil, 2010). Outros produtos podem ser inseridos, de acordo com os riscos para a saúde humana e o meio ambiente, como é o caso de embalagens plásticas, metálicas, de vidro etc. Os consumidores, por sua vez, deverão efetuar a devolução dos produtos e das embalagens após o uso, no caso, aos comerciantes ou distribuidores (Brasil, 2010). Outro instrumento relevante é a coleta seletiva, que é a “coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição” (Brasil, 2010). O ente federativo responsável pela implementação da coleta seletiva é o município. Ele implementa a coleta seletiva por meio do órgão titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. A coleta seletiva traz duas obrigações para os consumidores: (i) acondicionar Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados; e (ii) disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução (Brasil, 2010). Além da PNRS, é pertinente destacar a questão das compras governamentais. A Lei 14.133/2021, que é o novo diploma legal para as licitações, tem o desenvolvimento nacional sustentável como princípio e um de seus objetivos (Brasil, 2021). O poder de contratação dos entes federativos é determinante para que padrões ambientalmente sustentáveis de produtos e serviços sejam produzidos e alocados não só na administração pública, como re�examente em toda a sociedade. Em conjunto com as obrigações e procedimentos legais, como nós, consumidores, podemos articular as dinâmicas de consumo em uma perspectiva cidadã? Trata-se de uma questão sensível, mas é preciso destacar que o consumo ultrapassa a esfera individual e constitui-se como conduta com impactos coletivos. Enquanto consumidores, as escolhas que são feitas no presente são determinantes para as disponibilidades futuras. É imperativo atentar-se para a solidariedade intergeracional, com o compromisso de legar às gerações futuras recursos e condições para a sobrevivência, mesmo para tentar algo diferente do rumo até hoje traçado. Por isso, um estilo de vida sem excessos ou desperdícios no consumo é requisito para as transformações requeridas. Sem repensar as relações e distorções do consumo, não há como acreditar na possibilidade de uma sociedade sustentável. Vamos Exercitar? Nesta seção, você compreendeu a importância em valorizar as alternativas para a construção de uma sociedade sustentável, sendo fundamental discutir as relações de consumo. Aprendemos que para suprir a demanda crescente por bens de consumo, ocorre a extração excessiva de recursos naturais, como minérios, petróleo e água, gerando o seu esgotamento e levando à degradação de ecossistemas e à perda de biodiversidade. Se por um lado temos os benefícios proporcionados pela sociedade de consumo, por outro lado precisamos reconhecer os seus impactos. Uma pergunta fundamental em relação a essa temática é: Qual será o destino dos resíduos gerados pelo bem consumido? Agora, vamos debater as questões que destacamos no início da nossa aula: Qual a de�nição da obsolescência planejada e a sua relação com o consumismo? A obsolescência planejada é um conjunto de técnicas e procedimentos que, de forma arti�cial e deliberada, de�nem limites na durabilidade e/ou desejabilidade dos produtos, como forma de Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL estimular o consumo repetitivo. Os produtos são feitos para serem trocados ou repostos após curto período de duração ou uso, antecipando de forma intencional a sua substituição, em um estímulo do consumo pelo consumo. Embora a obsolescência seja natural em qualquer produto, na planejada temos uma estratégia de mercado perniciosa, elaborada para que ela ocorra antes. O que é adotar um consumo sustentável? Adotar o consumo sustentável é respeitar a capacidade dos sistemas de sustentação da vida na Terra e, por decorrência, garantir um mundo com disponibilidade de recursos naturais para as futuras gerações. Nessa perspectiva, a ênfase não está exclusivamente nas questões tecnológicas, mas também no desa�o das mudanças dos valores socioambientais. Qual a importância da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)? Cite dois instrumentos importantes da PNRS. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece os padrões sustentáveis de produção e consumo. Sua função é atender às necessidades das atuais gerações e permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras. Entre os instrumentos importantes da PNRS, destacamos a logística reversa, que é um instrumento econômico e social destinado a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial após o uso pelo consumidor. Esses resíduos poderão ser usados para reaproveitamento nos ciclos produtivos ou para destinação �nal ambientalmente adequada. Outro instrumento é a coleta seletiva, que é a coleta de resíduos sólidos previamente segregados, conforme sua constituição ou composição. Todos esses pontos destacados anteriormente formam uma rede importante para o controle do consumo e, consequentemente, auxílio, preservação e manutenção dos recursos naturais. Saiba mais Você estudou nesta aula a temática do consumo consciente e os seus desa�os. O consumo consciente é a prática de repensar os hábitos de consumo, promovendo um estilo de vida mais sustentável e equilibrado. Para saber mais sobre esse tópico, leia Consumo consciente e conheça mais essa importante temática. O Instituto Akatu é uma referência da sociedade civil na formulação de propostas e iniciativas para o consumo consciente. A entidade traz, em seu portal, iniciativas e orientações sobre o consumo sustentável em áreas como moda, resíduos sólidos, água, alimentos e outras. Vale a pena conhecer e pesquisar as diversas publicações. https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/gestao-na-camara-dos-deputados/responsabilidade-social-e-ambiental/ecocamara/consumo-consciente https://akatu.org.br/ Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Você pode conhecer um pouco mais do tema sociedade de risco. Para saber mais, sugerimos que leia A teoria da sociedade de risco, de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profecia. Bons estudos! Referências BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 3 ago. 2010, p. 3. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/? tipo=LEI&numero=12305&ano=2010&ato=e3dgXUq1keVpWT0f1. Acesso em: 3 out. 2022. BRASIL. Lei nº 14.133, de 1 de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Diário O�cial da União, Brasília, DF 1 abr. 2021, p. 1. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/? tipo=LEI&numero=14133&ano=2021&ato=8d4MTTE5UMZpWTf64.Siga em Frente... Os efeitos das mudanças climáticas nas relações sociais e econômicas Para o enfrentamento do cenário da mudança do clima, é necessário um conjunto de compromissos e obrigações por todos os atores do tabuleiro global, governos, setor empresarial e sociedade civil. De imediato, é preciso reconhecer que vivemos em um cenário de vulnerabilidades, conceito que está associado ao grau de suscetibilidade de uma sociedade, de acordo com suas capacidades para enfrentar os efeitos adversos da mudança do clima (Bursztyn; Bursztyn, 2012). Isso signi�ca que todos seremos impactados pela mudança do clima. Reconhecer as vulnerabilidades é identi�car os possíveis impactos negativos da mudança do clima sobre as atividades econômicas, a segurança alimentar e a vida das pessoas em um país ou região. Há países mais e outros menos vulneráveis. No nosso caso, o Brasil, com um território de dimensão continental, as vulnerabilidades são distintas, a depender da região. Vamos exempli�car: fenômenos meteorológicos extremos, como secas e enchentes, podem ter efeitos distintos na região Sul ou no Nordeste brasileiro. Por isso, conhecer as nossas vulnerabilidades enseja a adoção de medidas para conter os efeitos adversos da mudança climática e, com isso, fortalecer os mecanismos para a resiliência. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Desse modo, duas estratégias são fundamentais: a mitigação e a adaptação aos efeitos adversos da mudança do clima. Ambas devem ser conjugadas, sendo que a mitigação se preocupa com a redução das causas e a adaptação assenta-se em lidar com as consequências da mudança do clima (Pfeiffer, [s. d.]). Em um primeiro momento, o objetivo é mitigação por meio da imediata redução das emissões de gases de efeito estufa. Esse compromisso foi assumido em documentos o�ciais no âmbito internacional e nacional. Em nível internacional, ao rati�car o Acordo de Paris, cada país assumiu o que é denominado Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que é o compromisso internacional para a redução das emissões de gases de efeito estufa. A NDC brasileira, revista no ano de 2020, tem os seguintes compromissos: (i) reduzir as emissões líquidas totais de gases de efeito estufa em 37% em 2025; (ii) assumir o compromisso de reduzir em 43% as emissões brasileiras até 2030 (Brasil, 2020). O compromisso internacional assumido pelo Brasil no Acordo de Paris dialoga diretamente como a Política Nacional de Mudanças do Clima (PNMC), aprovada pela Lei Federal 12.187/2009, que estabelece, entre outros pontos, que “[...] todos têm o dever de atuar, em benefício das presentes e futuras gerações, para a redução dos impactos decorrentes das interferências antrópicas sobre o sistema climático” (Brasil, 2009). Ademais, na execução de políticas públicas relativas à mudança do clima, a PNMC estimula o apoio e participação “[...] dos governos federal, estadual, distrital e municipal, assim como do setor produtivo, do meio acadêmico e da sociedade civil organizada” (Brasil, 2009). No que se refere à mitigação, a PNMC visa à redução das emissões antrópicas de gases de efeito estufa em relação às suas diferentes fontes e prescreve que as ações de mitigação devem estar em consonância com o desenvolvimento sustentável (Brasil, 2009). Além da mitigação das emissões de gases de efeito estufa, há a necessidade da adaptação, que consiste em iniciativas e medidas para reduzir os impactos adversos da mudança climática. As medidas de adaptação são necessárias porque as mudanças já estão em curso. Nesse ponto, é importante a adaptação das economias nacionais, isto é, ter “[...] iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima” (Brasil, 2009). É por meio das iniciativas de adaptação que se tem a proteção de vidas em face dos efeitos adversos. Entre os exemplos de medidas de adaptação, temos: (i) re�orestamento de �orestas e a recuperação de ecossistemas afetados; (ii) desenvolvimento do cultivo de plantas e culturas mais adaptáveis à mudança do clima; (iii) adoção de sistemas de prevenção, monitoramento e preparação em caso de catástrofes naturais e eventos climáticos; (iv) garantia de infraestruturas e políticas públicas urbanas para enfrentar as dinâmicas do clima sobre as cidades. Em qualquer perspectiva, é preciso atentar que, tanto em nível global quanto local, o que está subjacente a esses compromissos é reduzir a emissão de carbono o mais próximo de zero. Uma economia de baixo carbono permitirá o que o IPCC chama de desenvolvimento resiliente: “[...] viabilizado quando os governos, a sociedade civil e o setor privado fazem escolhas de Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL desenvolvimento inclusivas que priorizam a redução de riscos, a equidade e a justiça [...] (IPCC, 2022). De modo mais imediato, no contexto corporativo e individual, será preciso a tomada de consciência da nossa atuação no mundo no contexto atual. Para tanto, um elemento que pode auxiliar é o uso de métricas que nos auxiliam a compreender o papel de cada um de nós no contexto climático. Uma delas é a chamada pegada de carbono, ou seja, o cálculo dos impactos das atividades humanas sobre o ambiente. A pegada de carbono é, hoje, um indicador que contribui no cálculo dos impactos de pessoas, empresas e países nas emissões dos gases de efeito estufa. Por esse cálculo, podemos conhecer e identi�car quanto cada ação ou como o nosso modo de vida impacta na emissão de gases de efeito estufa. Por evidente, reduzir a pegada de carbono é uma medida essencial para todos, governos, setor corporativo e sociedade civil. Em qualquer das perspectivas enumeradas, de governos a cada um de nós, será preciso não só a tomada de consciência, mas o compromisso político e ético com as estratégias para a redução das vulnerabilidades no contexto climático. Vamos Exercitar? Podemos citar o aquecimento global como, possivelmente, o maior desa�o da contemporaneidade. Diante desse cenário, a adoção de medidas de combate aos fatores relacionados ao aumento da temperatura global é fundamental. Relacionado a essa temática, você, como o responsável pela implantação de projetos que visam atenuar os impactos de uma empresa do ramo alimentício na emissão dos gases do efeito estufa, tem a importante demanda de esclarecer os seguintes pontos, em uma palestra, para os colaboradores dessa empresa: O que é o aquecimento global, as mudanças climáticas, seus impactos e quais são os principais gases do efeito estufa (GEE)? O que é o efeito estufa? As mudanças climáticas são transformações de longo prazo nos padrões de temperatura e clima. Decorrentes dessas transformações, podemos ter o evento do aquecimento global, que é o aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra. Um dos principais potencializadores desse aquecimento é o efeito estufa, que corresponde a uma camada de gases que cobre a superfície da terra, composta, principalmente, por gás carbônico (CO²), metano (CH4), N²O (óxido nitroso) e vapor d’água (principais GEE), é um fenômeno natural fundamental para manutenção da vida na Terra, pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio, inviabilizando a sobrevivência de diversas espécies. Entretanto, parte da radiação solar que chega ao nosso planeta é re�etida e retorna diretamente para o espaço. Outra parte é absorvida pelos oceanos e pela superfície terrestre, e uma parte é retida por essa camada de gases que causa o chamado efeito estufa. Mas as emissões elevadas dos GEE espessam Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL essa camada que, consequentemente, retém mais calor na Terra, aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos, e ocasionando o aquecimento global. Como consequências, podemos observar o aumento da temperatura média do planeta, elevando o nível do mar, devido ao derretimento das calotas polares, e ainda previsão de uma frequência maior de eventos extremos climáticos (tempestadesAcesso em: 16 out. 2022. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial Nº 984.106/SC. Relator: Min. Luís Felipe Salomão, 4 de outubro de 2012. Disponível em: https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/? componente=ITA&sequencial=1182088&num_registro=200702079153&data=20121120&formato =PDF. Acesso em: 15 out. 2022. CRESPO, S. Enfrentando o desa�o da produção e do consumo sustentáveis: uma visão a partir das políticas governamentais recentes. In: ALMEIDA, F. (org.) Desenvolvimento sustentável 2012- 2050: visão, rumos e contradições. Rio: Elsevier, 2012. MORAES, K. G. Obsolescência planejada e direito: (in)sustentabilidade do consumo à produção de resíduos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015. ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. Aula 4 Desenvolvimento e Pós-Desenvolvimento Desenvolvimento e pós-desenvolvimento Este conteúdo é um vídeo! https://revistaesa.com/ojs/index.php/esa/article/view/188 https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=12305&ano=2010&ato=e3dgXUq1keVpWT0f1 https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=12305&ano=2010&ato=e3dgXUq1keVpWT0f1 https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=14133&ano=2021&ato=8d4MTTE5UMZpWTf64 https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=14133&ano=2021&ato=8d4MTTE5UMZpWTf64 https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1182088&num_registro=200702079153&data=20121120&formato=PDF https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1182088&num_registro=200702079153&data=20121120&formato=PDF https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1182088&num_registro=200702079153&data=20121120&formato=PDF Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Uma discussão instigante é sobre a capacidade da economia em conferir alternativas para as questões postas pelas emergências ecológica e climática. Será possível, de fato, um desenvolvimento sustentável diante das exigências de governos e sociedade pelo crescimento econômico contínuo? Essa é, sem dúvida, a questão dos nossos tempos! Nesse contexto, vamos construir uma situação �ctícia para auxiliá-lo neste processo de aprendizagem: Imagine que existe um centro educacional que possui instituições de ensino espalhadas por todo o território nacional. Você é um dos diretores da referida instituição e participou de um evento internacional que abordou alternativas relacionadas às emergências ecológicas e climáticas pertinentes ao desenvolvimento da economia. Nesse evento, importantes palestrantes apresentaram propostas e alternativas para o desenvolvimento sustentável e sua relação econômica. Você selecionou algumas das propostas e trouxe essa temática para as unidades do centro educacional. Com isso, fomentou a discussão dos seguintes pontos: economia verde, pós- desenvolvimento, economia ecológica, economia estável e economia em decrescimento. Agora, cada centro educacional deverá focar-se no assunto e defender a implantação de uma dessas propostas citadas anteriormente. Para auxiliá-los nessa discussão, vamos abordar em nossa aula uma série de pontos importantes relacionados a essa temática. Bons estudos! https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u4a4_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Vamos Começar! Desenvolvimento e pós-desenvolvimento Com o término da Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento, conceito que foi associado ao crescimento econômico, tornou-se o objetivo social da comunidade internacional. A mensuração do sucesso e do insucesso de um país está na capacidade de crescimento da sua economia. Para tanto, a essência do crescimento é expressa pelo aumento do produto interno bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos por uma nação ou região durante o período de um ano. Aumentar o PIB tornou-se uma prioridade para governos e sociedade. Esse indicador, contudo, é criticado por conferir ênfase ao crescimento econômico e não contemplar outras variáveis. Por isso, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) estabeleceu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), conjugando, ao lado dos parâmetros econômicos, indicadores como educação e saúde. Para exempli�car, o país com melhor IDH do mundo é a Suíça, ao passo que o Brasil ocupa a 87ª posição no ranking global, tendo como referência o ano de 2021. Em qualquer das métricas utilizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), a ideia de desenvolvimento é central. Tanto que a ONU editou, em 1986, a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, em que pretendia inserir o desenvolvimento no rol dos direitos humanos. Dessa forma, O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável em virtude do qual todos os seres humanos e todos os povos têm o direito de participar, de contribuir e de gozar o desenvolvimento econômico, social, cultural e político, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais se possam plenamente realizar (ONU, 1986). O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável em virtude do qual todos os seres humanos e todos os povos têm o direito de participar, de contribuir e de gozar o desenvolvimento econômico, social, cultural e político, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam se realizar plenamente (ONU, 1986). A compreensão do desenvolvimento passou por uma série de interpretações, sendo que, a partir do Relatório Nosso Futuro Comum, de 1987, recebeu o adjetivo sustentável (ONU, 1991). Atualmente, falamos em desenvolvimento sustentável, cujo maior exemplo da abrangência propositiva é o conteúdo da Agenda 2030, de 2015, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o ano de 2030 (ONU, 2015). Mas é preciso problematizar o desenvolvimento sustentável diante das emergências ecológica e climática, notadamente pelo acelerado esgotamento dos recursos naturais e o aumento da poluição. Sendo assim, como repensar as questões da economia com o meio ambiente? É Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL possível articular uma economia ecológica? Existem alternativas para o desenvolvimento sustentável? Essas são perguntas para a prospecção de novos debates. Em que pese a expressão desenvolvimento sustentável ser dominante nas instâncias de deliberação em nível internacional e nacional, nos últimos anos surgiram correntes que articulam novas leituras e compreensões para o enfrentamento das emergências contemporâneas. Entre elas, os defensores do que é denominado pós-desenvolvimento, que reúne os críticos à ideia de desenvolvimento. Na corrente do pós-desenvolvimento, destaca-se a teoria do decrescimento, que, a partir da crítica ao crescimento econômico como objetivo social e de seus malogros para o meio ambiente, defende que é preciso parar imediatamente a velocidade e a intensidade do consumo global, sobretudo pelos países ricos. O conceito de decrescimento, segundo Latouche, tem “[...] como objeto marcar fortemente o abandono do objetivo do crescimento pelo crescimento [...]” (Latouche, 2006, p. 13). Para os defensores do decrescimento, o crescimento é antieconômico e ecologicamente insustentável (Demaria; Kallis; D’alisa, 2016). É antieconômico porque os problemas causados são o aumento das desigualdades e das injustiças; é ecologicamente insustentável porque está exaurindo com os recursos naturais e aumentando signi�cativamentetropicais, inundações, ondas de calor, seca, nevascas, furacões, tornados e tsunamis), com graves consequências para populações humanas e ecossistemas naturais. Saiba mais Percebemos, com o entendimento desta unidade, que o avanço das atividades humanas está alterando drasticamente a dinâmica no planeta. O recorrente aumento da emissão dos gases do efeito estufa está potencializando o processo de aquecimento do planeta, o que gera consequências negativas para a manutenção da vida do homem e das processos ecológicos. Para saber mais sobre essa temática, leia a matéria O que são as mudanças climáticas?. Apesar dos números relacionados à emissão dos gases do efeito estufa serem extremamente preocupantes nos dias atuais, existem uma série de esforços visando à diminuição dessas emissões. Por exemplo, a 21ª Conferência das Partes (COP21), da UNFCCC, em Paris, em que foi adotado um novo acordo com o objetivo central de fortalecer a resposta global à ameaça da mudança do clima e de reforçar a capacidade dos países para lidar com os impactos decorrentes dessas mudanças. Para saber mais sobre a COP21, acesse a página do Ministério do Meio Ambiente, e leia a matéria Acordo de Paris. Um ponto importante abordado nesta aula é a pegada do carbono, medida que calcula a emissão de carbono equivalente na atmosfera por uma pessoa, atividade, evento, empresa, organização ou governo. Para saber mais sobre o assunto e calcular a sua pegada de carbono, acesse o site Calcule as suas emissões. Referências BRASIL. Decreto 2.652, de 1 de julho de 1998. Promulga a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima, assinada em Nova York, em 9 de maio de 1992. Diário O�cial da União, Brasília, DF. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/? tipo=DEC&numero=2652&ano=1998&ato=163ITTE50dNpWT810. Acesso em: 20 ago. 2023. BRASIL. Decreto 9.173, de 07 de maio de 2017. Promulga o Acordo de Paris sob a Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima, celebrado em Paris, em 12 de dezembro de 2015, e �rmado em Nova Iorque, em 22 de abril de 2016. Diário O�cial da União, Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9073.htm. Acesso em: 28 ago. 2023. https://brasil.un.org/pt-br/175180-o-que-s%C3%A3o-mudan%C3%A7as-clim%C3%A1ticas https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris.html https://calculator.moss.earth/ https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=DEC&numero=2652&ano=1998&ato=163ITTE50dNpWT810 https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=DEC&numero=2652&ano=1998&ato=163ITTE50dNpWT810 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9073.htm Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Nota à Imprensa nº 157/2020. Apresentação da Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil perante o Acordo de Paris. Brasília, DF: Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: https://www.gov.br/mre/pt- br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2020/apresentacao-da-contribuicao- nacionalmente-determinada-do-brasil-perante-o-acordo-de-paris. Acesso em: 25 ago. 2023. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Acordo de Paris. Ministério do Meio Ambiente. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das- nacoes-unidas/acordo-de-paris.html. Acesso em 16 out. 2023. BURSZTYN, M.; BURSZTYN, M. A. Fundamentos de política e gestão ambiental: caminhos para a sustentabilidade. Rio: Garamond, 2013. CALCULE as suas emissões. Moss. Disponível em: https://calculator.moss.earth/. Acesso em: 16 out. 2023. IPBES. Resumo para formuladores de políticas do relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos da plataforma intergovernamental de políticas cientí�cas sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Bonn: IPBES Secretariat, 2019. 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Aula 3 Desigualdades Socioambientais https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2020/apresentacao-da-contribuicao-nacionalmente-determinada-do-brasil-perante-o-acordo-de-paris https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2020/apresentacao-da-contribuicao-nacionalmente-determinada-do-brasil-perante-o-acordo-de-paris https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2020/apresentacao-da-contribuicao-nacionalmente-determinada-do-brasil-perante-o-acordo-de-paris https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris.html https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris.html https://calculator.moss.earth/ https://ipbes.net/assessment-reports/americas https://brasil.un.org/pt-br/175180-o-que-s%C3%A3o-mudan%C3%A7as-clim%C3%A1ticas https://www.labeurb.unicamp.br/endici/index.php?r=verbete/view&id=231 Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Desigualdades socioambientais Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Nesta aula vamos estudar a questão da desigualdade em nossas sociedades, em especial a ambiental. Hoje, organismos como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional têm manifestado preocupação com o avanço da desigualdade em nível global, porque ela gera impactos imediatos na competitividade econômica e na estabilidade social. Além disso, a desigualdade tem uma dimensão ambiental, que revela as disparidades de consumo entre países ricos e pobres, e demonstra que os efeitos negativos da poluição e dos danos ambientais afetam mais desfavoravelmente os grupos e populações vulneráveis. Para melhor compreensão, tomemos o caso de Arnaldo, o qual se opõe à construção de um grande empreendimento em sua cidade, Santa Cruz da Serra, local em que será construído um grande reservatório pela empresa, para atender uma usina hidrelétrica. Diante desse cenário, a empresa responsável, município e o estado informam que a construção gerará inúmeros benefícios, dentre eles: energia elétrica; reservatório d´água; prática de esportes; pesca e criação de peixes; servirá como controle de enchentes; lazer e entretenimento, além da geração de muitos empregos. Pergunta-se: É possível compreender a oposição de Arnaldo analisando as justi�cativas do município, do governo do estado e da empresa? https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u1a3_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Qual seriam os possíveis impactos diretos na população residente da região afetada e por que esse fato deve ser considerado como uma fonte de desigualdade? Agora vamos conhecer os principais fundamentos dessa discussão e nos preparar para o exercício ético e responsável de suas atividades pro�ssionais em respeito aosprocessos democráticos de proteção ao meio ambiente. Um abraço! Vamos Começar! O contexto das desigualdades na contemporaneidade Nos últimos anos, a desigualdade tornou-se uma temática prioritária em qualquer discussão de instituições governamentais, em nível global ou nacional. Isso porque estamos acompanhando a escalada da desigualdade em todo o planeta e, como tal, reduzi-la é um pressuposto fundamental para mitigar os impactos deletérios que ela causa em nossas sociedades. Esse é um objetivo compartilhado por governos e por organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Mas como compreender a desigualdade e as suas variações? Com efeito, a desigualdade se estabelece a partir dos processos estruturais em sociedade, em que ela “[...] condiciona, limita ou prejudica o status e a classe social de uma pessoa ou um grupo e, consequentemente, interfere em requisitos primários para a qualidade de vida” (Oxfam, 2021). A desigualdade é multidimensional, mas vamos nos concentrar em duas delas: a econômica e a social. A desigualdade econômica se dá por meio da concentração de renda em um número reduzido de pessoas em uma sociedade, ou seja, a maior parte da riqueza produzida e acumulada encontra-se nas mãos de poucos. A desigualdade social, por sua vez, está diretamente ligada à estrati�cação de pessoas em uma sociedade por critérios, como gênero, raça, origem social, entre outras variantes, identi�cando-se, geralmente, com os grupos mais vulneráveis de uma sociedade. Tanto a desigualdade econômica quanto a social caminham associadas. Esse é caso do Brasil, com suas desigualdades múltiplas, colocando o país como um dos mais desiguais do mundo e o 84º no índice de desenvolvimento humano global, entre 189 países (ONU, 2020). Apesar da relevância e do compromisso dos atores com a redução da desigualdade, os estudos e as estatísticas sinalizam em sentido contrário, tanto na concentração de renda quanto no aumento da pobreza. Segundo o relatório da Oxfam, a questão da concentração de renda é um problema mundial. A plutocracia, o segmento que inclui o 1% mais rico, detém a riqueza dos outros 99% da população mundial; apenas oito bilionários possuem a riqueza da metade mais pobre do planeta (Oxfam, 2017). Um nível alto de desigualdade reduz a competitividade e afeta a economia de um país, por gerar uma estagnação na dinâmica social. Os resultados desses Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL dados são preocupantes, porque a desigualdade “[...] aumenta a criminalidade e a insegurança e gera mais pessoas vivendo com medo do que com esperança” (Oxfam Brasil, 2017). Com os níveis de concentração de renda, temos o efeito imediato do aumento da pobreza, agora agravada pelas implicações da covid-19 em nível global. No caso do Brasil, em especial, após ter saído do mapa da fome em 2014, os índices de pobreza cresceram nos últimos anos (Oxfam, 2017; Oliveira, 2019). Trata-se do retorno de uma questão estrutural da sociedade brasileira aos debates políticos e econômicos. E não podemos nos esquecer de que o compromisso de não retroceder no combate à fome não é somente político, mas um objetivo expresso no art. 3º, III, da Constituição Federal de 1988, de “[...] de erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (Brasil, 1988, [s. p.]). É por meio do combate e da superação dos altos índices de desigualdade, em qualquer de seus enfoques, que podemos traçar um compromisso efetivo para a construção de uma sociedade igualitária e democrática, requisito fundamental para o enfrentamento das crises contemporâneas. As desigualdades e os efeitos sobre a proteção ambiental De imediato, uma pergunta fundamental: qual a relação entre a desigualdade – econômica e social – com as questões ambientais? A resposta é: são faces de um mesmo problema. Isso porque, como alertou o �lósofo francês François Ost (1997, p. 390), “a injustiça das relações sociais gera a injustiça das relações com a natureza”. Sob essa perspectiva, a desigualdade econômica e a social resultam na desigualdade ambiental que, por sua vez, pode se manifestar em duas dimensões: no acesso e no uso privilegiado dos recursos naturais, a partir de um padrão de consumo privilegiado para poucos; na ausência de participação e proteção ambiental para os grupos mais vulneráveis, que sofrem com a distribuição desigual dos efeitos deletérios no meio em que vivem e estão inseridos. Os dados atuais das emissões dos gases do efeito estufa demonstram que, em um mundo com cerca de 8 bilhões de pessoas, metade das emissões globais provém dos 500 milhões de habitantes mais ricos do planeta (Abramovay, 2012). Além disso, esses dados mostram que, se de um lado os países ricos conseguiram atingir os benefícios do crescimento econômico, de outro lado, a maioria dos países em desenvolvimento não conseguiu os padrões mínimos de uma existência digna. Uma outra dimensão da desigualdade ambiental é que as políticas e os problemas ecológicos não são democráticos. Os projetos e as iniciativas dos processos produtivos são decididos e alocados em países e/ou em territórios de grupos vulneráveis que, além de não participarem dos efeitos positivos desses investimentos, estão mais sujeitos aos efeitos nocivos da poluição e dos danos ambientais. Como exemplo, temos a situação dos povos originários e tradicionais, que são expulsos ou têm os seus territórios diretamente afetados pela implementação de grandes projetos de infraestrutura – barragens, mineração etc. –, sem terem benefícios diretos e Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL arcando com o passivo dessas iniciativas. Esses projetos, na maioria das vezes apoiados pelo poder público, são geradores de externalidades negativas, tanto nos efeitos sobre os grupos afetados quanto no meio ambiente comum, ou seja, prejudicam outras atividades econômicas existentes. No mesmo sentido, nas cidades, essas populações vivem em áreas frágeis ambientalmente (morros, encostas, beiras de rios etc.) ou próximas de lixões e terrenos poluídos, e sofrem as mazelas da segregação socioespacial, isto é, a ausência de políticas públicas que conjuguem uma existência digna. Além das dimensões principais, há uma nova faceta da desigualdade ambiental, que se constitui pela intensi�cação dos efeitos adversos do clima, em que milhões de pessoas deverão deixar seus lares e países e se mudarem para outros lugares, con�gurando o que tem sido denominado deslocados ambientais ou, como tem sido utilizado por alguns, refugiados ambientais. O relatório World Disaster Report, do ano de 2018, elaborado pela Cruz Vermelha Internacional (2018), consignou que, entre os anos de 2006-2016, mais de 771 mil mortes foram atribuídas a desastres, com quase dois bilhões de pessoas afetadas por eventos dessa natureza, das quais cerca de 95% delas em ocorrências por questões climáticas. Ainda que as questões sobre clima sejam produzidas pelos setores mais ricos da sociedade, os seus efeitos são sentidos, sobretudo, pelos povos mais vulneráveis no mundo. A�nal, como expõe Sergio Margulis (2020, p. 120), são as pessoas de baixa renda as mais afetadas pela mudança do clima, porque “[...] tendem a viver e trabalhar em locais mais expostos a riscos climáticos, sem infraestrutura que os reduzam, em casas e bairros que enfrentam os maiores problemas quando impactados [...]”. Por essa conjugação de variantes da desigualdade ambiental, é possível constatar a imbricada e correspondente relação entre desigualdade e o futuro da vida no planeta. A�nal, a persistência da desigualdade ambiental é um fator desagregador de toda a construção moderna de Estado e sociedade. Lutar por uma maior igualdade, ao reverso, pode nos ajudar a um compromisso comum dos problemas que ameaçam a todos nós (Pickett; Wilkinson, 2015). Siga em Frente... A justiça ambiental Diante do contexto da desigualdade ambiental, uma das principais proposições para o enfrentamento em sentido crítico é o movimento de Justiça Ambiental. Trata-sede um movimento que surgiu originalmente nos Estados Unidos, na década de 1980, e procura demonstrar que os efeitos prejudiciais recaem, sobretudo, em grupos mais vulneráveis da sociedade, em demonstração do racismo ambiental naquele país. As pautas e os princípios norteadores do movimento de Justiça Ambiental daquele país se espalharam pelo mundo e chegaram ao Brasil no �nal da década de 1990, conjugando as especi�cidades das lutas e pautas ambientais em nosso país. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Segundo Acselrad, Mello e Bezerra (2009), o movimento de Justiça Ambiental articula suas proposições em duas dimensões de atuação: (i) a discussão dos processos decisórios de participação na formulação das políticas ambientais, em especial por parte das populações afetadas; (ii) os efeitos na distribuição dos benefícios e encargos das intervenções sobre o ambiente. Em primeiro lugar, os processos decisórios são, invariavelmente, estabelecidos numa relação de verticalização imposta por empresas e governos, de cima para baixo, sem os protocolos de consulta, ou, quando ocorrem, são realizados com mecanismos de pressão sobre as comunidades e os grupos do entorno, impedindo a livre manifestação pelo peso de retaliações econômicas, sociais, físicas e políticas no âmbito local. Isso é particularmente sensível pela conjugação de fatores ou justi�cativas de que a falta de empregos e investimentos em um local justi�caria a aceitação de projetos e empreendimentos que causam danos ambientais e sanitários, prejudicando a qualidade de vida das populações para um objetivo imediato que, na maioria das vezes, tem uma proposição exclusivamente econômica. Esses processos decisórios estão em uma dinâmica dissonante dos mais elementares princípios estruturantes do Direito Ambiental, pois os documentos internacionais de proteção ao meio ambiente destacam a necessidade de participação comunitária na formulação e execução de políticas ambientais. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, consigna, em seu art. 10, que “[...] o melhor modo de tratar as questões ambientais é com a participação de todos os cidadãos interessados [...]” (ONU, 1992). E continua deixando claro que o acesso adequado à informação sobre o meio ambiente “[...] inclui a informação sobre os materiais e as atividades que oferecem perigo a suas comunidades, assim como a oportunidade de participar dos processos de adoção de decisões” (ONU, 1992). No mesmo sentido, o Acordo de Escazú (ONU, 2018), garante os “direitos de acesso”, compreendendo o direito à informação, à participação pública nos processos de tomada de decisões em questões ambientais e o direito de acesso à justiça. A legislação brasileira estabelece essa participação, prevendo a audiência pública no licenciamento ambiental de atividades efetiva ou potencialmente causadoras de signi�cativa degradação ambiental (Conama, 1986; 1987; 2020). Por esses elementos, evidencia-se que as políticas públicas que afetam pessoas, populações, cidades e regiões devem ser fruto de uma construção dialógica entre os atores envolvidos, e não a sobreposição de uma única interpretação. Uma outra dimensão da Justiça Ambiental envolve a distribuição dos encargos das intervenções sobre o meio ambiente, que recairão justamente nas populações, nos grupos e nas pessoas mais vulneráveis em sociedades desiguais – como é o caso do Brasil. Portanto, são esses grupos que ora são privados do acesso aos recursos naturais para viverem, ora “são expulsos de seus locais de moradia para a instalação de grandes projetos hidroviários, agropecuários ou de exploração madeireira ou mineral” (Acselrad; Mello; Bezerra, 2009, p. 42). Esse é o caso dos projetos de desenvolvimento que são impostos e implicam a expulsão de grupos e populações. Dois são os exemplos: o primeiro são expulsões ligadas ao mercado global de terras, com aquisição de grandes áreas produtivas por corporações para a produção de biocombustíveis ou para o extrativismo, forçando milhares de agricultores a venderem ou deixarem suas terras; o segundo Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL exemplo são os projetos de infraestrutura, como o caso da Usina de Belo Monte, no Pará, em que milhares de pessoas foram expulsas de suas casas com o alagamento de amplas faixas de terras, com a perda dos laços sociais e de pertencimento ancestrais, além dos impactos ambientais, em que o mais evidente foi o a perda da biodiversidade da região. Nessa conjugação, nota-se que o movimento de Justiça Ambiental é fundamentalmente uma rede que estabelece um contraponto e uma resistência aos mecanismos de imposição e verticalização dos processos decisórios que saem prontos de gabinetes governamentais, sem interface ou diálogo com a realidade dos territórios e lugares. O que está em pautas nessas reivindicações é, sobretudo, o compromisso com a participação comunitária em uma sociedade democrática e dialógica, princípio e condição fundamental para um combate efetivo ao crescimento da desigualdade ambiental e suas consequências. Vamos Exercitar? Vamos retomar o caso de oposição de Arnaldo à construção de um grande reservatório de água para atender à demanda de uma usina hidrelétrica em sua cidade. Para auxiliar nessa discussão, vamos trabalhar as seguintes questões: É possível compreender a oposição de Arnaldo analisando as justi�cativas para a construção do reservatório (atender a demanda energética)? Quais seriam os possíveis impactos diretos na população residente da região afetada e por que esse fato deve ser considerado como uma fonte de desigualdade? Primeiramente, Arnaldo traz uma série de pontos importantes, como o fato de que os moradores perderão uma expressiva porção de terra produtiva. Os que residem na área de inundação perderão os seus lares, forçando muitos ao êxodo rural, além de se perder uma importante parte da história desse povo. Pensando no contexto ambiental, haverá interrupção da piracema, impacto direto nos ecossistemas, que sofrerão inundação, entre outros. Na dimensão da Justiça Ambiental, nota-se que os impactos recairão justamente nas populações, mais vulneráveis, privando do acesso aos recursos naturais e sendo ‘expulsos’ de seus locais de moradia, gerando perda dos laços sociais e de pertencimento ancestrais, além dos impactos ambientais, em que o mais evidente foi o a perda da biodiversidade da região. Diante disso, o estudo da desigualdade ambiental é uma importante ferramenta que visa conhecer e reconhecer os padrões de justiça ambiental, ou seja, o contexto, as pessoas e as dinâmicas de decisão sobre os projetos e iniciativas que impactam o ambiente, como no caso da construção do reservatório. Assim, é necessária a avaliação do contexto, compreendendo como o empreendimento realmente será bené�co, mesmo com os impactos destacados. Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Saiba mais De forma recorrente, relatórios são editados para a divulgação de estudos e pesquisas sobre as dimensões e implicações da desigualdade no âmbito global e brasileiro. Eles têm sido utilizados para sensibilizar e contribuir na formulação de políticas públicas de combate à desigualdade. Um dos mais importantes estudos foi editado pelas Nações Unidas em 2019 e trouxe um panorama global da desigualdade econômica, social, racial e ambiental no século XXI. Você pode acessar o Relatório do Desenvolvimento Humano 2019 diretamente no site da ONU. Outro relatório, também das Nações Unidas, editado em 2021, trouxe os dados da desigualdade na América Latina - Relatório de Desenvolvimento Humano Regional 2021 | Presos: alta desigualdade e baixo crescimento na América Latina e no Caribe. A Justiça Ambiental refere-se “aos princípios que asseguram que nenhum grupo de pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou de classe, suporte uma parcela desproporcional de degradação do espaço coletivo. Para saber mais sobre Justiça Ambiental, leia o artigo Por mais Justiça Ambiental. Referências ABRAMOVAY, R. Muito além da economiaverde. São Paulo: Planeta Sustentável, 2012. ACSELRAD, H.; MELLO, C. C. A.; BEZERRA, G. N. O que é justiça ambiental? Rio: Garamond, 2009. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 1 ago. 2023. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental 101 Distrito Federal. Relatora: Min. Carmen Lúcia, 24 de junho de 2009. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=629955. Acesso em: 2 ago. 2023. 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Resolução Conama nº 424/2020. Estabelece, em caráter excepcional e temporário, nos casos de licenciamento ambiental, a possibilidade de realização de audiência pública de forma remota, por meio da Rede Mundial de Computadores, durante o período da pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19). Diário O�cial da União, Brasília, DF, 12 ago. 2020, seção 1, p. 154. Disponível em: http://conama.mma.gov.br/? option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=793. Acesso em: 30 ago. 2023. CRUZ VERMELHA INTERNACIONAL. World Disaster Report 2018: Leaving No One Behind. Geneva: International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies, 2018, p. 168. Disponível em: https://media.ifrc.org/ifrc/wp-content/uploads/sites/5/2018/10/B-WDR-2018-EN- LR.pdf Acesso em: fev. 2023. JACKSON, T. Prosperidade sem crescimento: vida boa em um planeta �nito. São Paulo: Abril, 2013. MATTEI, U.; NADER, L. Pilhagem: quando o estado de direito é ilegal. São Paulo: Martins Fontes, 2013. MARGULIS, S. 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Desigualdade social: um panorama completo da realidade mundial. Publicado em 15.06.2021. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama- completo-da-realidade- mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade %20de%20vida. Acesso em: 20 jul. 2023. PICKETT, R.; WILKINSON, K. O nível: porque uma sociedade mais igualitária é melhor para todos. Rio: Civilização Brasileira, 2015. Aula 4 Movimentos de Defesa do Meio Ambiente Movimentos de defesa do meio ambiente Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Nesta aula vamos estudar a importância dos movimentos sociais na promoção e proteção ao meio ambiente. Além de conhecer a con�guração das principais entidades ambientais em nível nacional e internacional, o conteúdo da aula vai destacar a importância das organizações não governamentais, conhecidas pela sigla ONGs, para a agenda ambiental. Para compreendermos melhor, vamos conhecer a história de João, que trabalha em uma empresa, e questionou, junto ao amigo Daniel, a imagem e a responsabilidade social e ambiental https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama-completo-da-realidade-mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade%20de%20vida https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama-completo-da-realidade-mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade%20de%20vida https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama-completo-da-realidade-mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade%20de%20vida https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama-completo-da-realidade-mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade%20de%20vida https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/RESPONSABILIDADE_SOCIAL_E_AMBIENTAL/PPT/u1a4_res_soc_amb.pdf Disciplina RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL dela. Daniel é o responsável por essa área, entretanto, a empresa está