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GESTÃO DE 
ORGANIZAÇÕES 
EDUCACIONAIS
Pablo Rodrigo Bes
Voluntariado: uma 
ação de mão dupla
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar o marco legal do voluntariado.
  Descrever as características do voluntário.
  Analisar os espaços de atuação voluntária no Brasil e no mundo.
Introdução
As ações voluntárias estiveram presentes durante muitos períodos da 
história, no Brasil e no mundo, realizadas por pessoas solidárias e altruístas 
em benefício dos seus semelhantes. Essas ações foram impulsionadas 
no final do século XX devido às diversas transformações de ordem eco-
nômica, política e social que envolveram as nações. A sociedade atual 
apresenta inúmeras formas para que possamos desenvolver o nosso 
voluntariado e, assim, crescermos como cidadãos a partir da doação do 
nosso tempo e das nossas habilidades em prol de alguma causa social 
que venha a construir um mundo melhor.
Neste capítulo, você vai conhecer o marco legal e o contexto histórico 
do voluntariado, e as características principais de um voluntário. Também 
aprenderá sobre os múltiplos espaços de atuação voluntária que existem 
hoje no Brasil e no mundo.
O marco legal do voluntariado
As ações voluntárias fazem parte do cotidiano de muitos brasileiros na atu-
alidade. Elas são percebidas tanto dentro das ações de responsabilidade so-
cial das organizações empresariais do segundo setor quanto pelos trabalhos 
desenvolvidos por inúmeras organizações sociais que compõem o terceiro 
setor, bem como em ações promovidas em parceria com o primeiro setor. 
Em essência, o voluntariado perpassa e encontra possibilidades de existência 
nas esferas pública e privada, sendo essencial para que as demandas sociais 
possam ser mais bem-atendidas e para que a própria sociedade desenvolva 
os aspectos da sua cidadania.
Atualmente, no Brasil, as ações voluntárias são reguladas pela Lei nº. 
9.608, de 18 de fevereiro de 1998, conhecida como a Lei do Voluntariado, 
que estabelece as condições para o exercício do serviço voluntário. Essa lei 
sofreu várias alterações com o tempo; assim, de acordo com a redação da Lei 
nº. 13.297, de 16 de junho de 2016, que alterou o seu primeiro artigo, o serviço 
voluntário fica assim definido:
Art. 1o Considera-se serviço voluntário, para os fins desta Lei, a atividade 
não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer 
natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos 
cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à 
pessoa (BRASIL, 2016, documento on-line).
Dessa definição legal, podemos extrair algumas características importantes 
do voluntariado: atividade não remunerada (os benefícios recebidos pela pessoa 
que exerce a atividade voluntária são intangíveis, não monetários), prestada 
por pessoa física (são os indivíduos que prestam as ações voluntárias, e não 
as pessoas jurídicas ou organizações), cujos objetivos se relacionam com 
demandas sociais nas áreas do civismo, da cultura, da educação, da ciência, 
da recreação e da assistência — um amplo espectro que costuma ser abordado 
pelas organizações da sociedade civil (OSCs). Os serviços prestados de natureza 
voluntária também não geram vínculo empregatício com as instituições nas 
quais são executados, nem acarretam direitos trabalhistas.
Para que se realizem serviços voluntários, é necessário haver um termo 
de adesão entre os voluntários e as organizações públicas ou do terceiro setor 
que oportunizam a realização dessas ações. Nesse termo devem constar o 
objeto da ação e as condições do seu exercício; caso haja despesas na execução 
desse voluntariado, estas poderão ser ressarcidas, desde que autorizadas pela 
entidade a que foi prestado o serviço voluntário.
Scheneumann e Rheinheimer (2013, p. 41) reforçam que “[...] o serviço 
voluntário é a ação que não substitui o dever do Estado e nem conflita com o 
trabalho remunerado. A motivação para o voluntariado acontece pelo impulso 
emocional e pela convicção de fazer a diferença de todos os envolvidos”. Em 
outras palavras, o serviço voluntário é parte importante das ações pelo social 
em complementação e parceria com a União para a sua realização.
Voluntariado: uma ação de mão dupla2
Embora hoje tenhamos bem clara a definição e a importância do volunta-
riado para grande parte da sociedade, nem sempre houve esse entendimento. 
Para conhecer o desenvolvimento cronológico de algumas iniciativas de vo-
luntariado no Brasil, acompanhe a linha do tempo mostrada na Figura 1.
Figura 1. Linha do tempo do voluntariado no Brasil.
Fonte: Adaptada de Oliveira ([2005]).
As iniciativas que dão origem ao voluntariado no Brasil estiveram 
atreladas no início às questões que envolviam as causas sociais sob dois 
aspectos: o da caridade ou o do dever do Estado. Isso deixava pouca margem 
para as ações voluntárias que não se enquadrassem em nenhuma dessas 
definições, o que somente começou a ocorrer a partir do surgimento das 
primeiras organizações não governamentais, na década de 1970, e se im-
pulsionou a partir das mudanças de ordem social, política e econômica da 
década de 1990. 
Acompanhando a linha do tempo na Figura 1, você pode perceber que 
as ações em prol do social começaram a partir dos trabalhos inicialmente 
caritativos da Santa Casa de Misericórdia, em 1543. Essa associação ainda 
existe hoje e contribui fortemente com as suas ações filantrópicas em vários 
estados brasileiros, onde possui complexos hospitalares instalados para atender 
a todos que necessitarem. No início do século XX, algumas organizações da 
sociedade civil internacionais começaram as suas atividades no Brasil, como 
a Cruz Vermelha Brasileira (1908), que atua no socorro voluntário e no apoio 
à saúde militar nas guerras, e o escotismo (1910).
3Voluntariado: uma ação de mão dupla
A Lei nº. 91, de 28 de agosto de 1935, conhecida como Lei de Utilidade 
Pública, estabelece normas para que as organizações privadas constituídas 
para atender ao social (sociedades, associações ou fundações) pudessem 
ser declaradas como de utilidade pública devido à natureza dos trabalhos 
desenvolvidos. Essa lei foi revogada recentemente pela Lei nº. 13.204, de 14 
de dezembro de 2015, que estabeleceu o Marco Regulatório das Organizações 
da Sociedade Civil, o qual regula o funcionamento das organizações que 
atuam no terceiro setor.
Em 1942, foi criada pela primeira-dama do Presidente Getúlio Vargas, 
Sra. Darcy Vargas, a Legião Brasileira de Assistência; já em 1954, iniciou-se 
o trabalho desenvolvido pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais 
(APAE). Em 1967 começou a funcionar o Projeto Rondon, iniciativa do Minis-
tério da Defesa que proporciona a participação de universitários em atividades 
de extensão para o atendimento de causas sociais. Em 1983, iniciaram os 
trabalhos da Pastoral da Criança, ação social da Confederação Nacional dos 
Bispos do Brasil (CNBB), de natureza confessional católica, que se envolve 
com os cuidados das crianças de até seis anos de idade.
A década de 1990 foi marcada pelas transformações de ordem econômica, 
como a ascensão do capitalismo a partir do processo de globalização e o 
fortalecimento dos regimes de governo neoliberais nas nações capitalistas 
no mundo inteiro. Isso contribuiu para que ocorresse um grande aumento 
das organizações privadas que surgiam para trabalhar em parceria com o 
Estado no atendimento das demandas sociais brasileiras. Nesse momento da 
história, o voluntariado começou a deixar de ser exercido somente com base 
nos aspectos da caridade e da doação, e começou a ser exercido com maior 
profissionalismo, a partir de atitudes de cidadania e participação social.
Em 1993, o sociólogo Herbert de Souza (conhecido como Betinho) lançou, 
por meio da organização social fundada por ele, o Instituto Brasileiro de Aná-
lises Sociais e Econômicas (IBASE), a campanha Ação de Cidadania contra 
a Fome e a Miséria e Pela Vida,com o objetivo de dar suporte a milhões de 
brasileiros que viviam abaixo da linha da pobreza, ajudando a consolidar o 
termo “cidadania” no Brasil. Betinho é considerado o grande incentivador das 
ações de responsabilidade social empresariais no Brasil. Em 1995, por iniciativa 
da primeira-dama do então Presidente Fernando Henrique Cardoso, Sra. Ruth 
Cardoso, foi criado o Conselho Comunidade Solidária, que tem como objetivo 
fomentar ações de parceria público-privada para atendimento de causas sociais 
visando ao desenvolvimento. Em 1998, entrava em vigor a Lei nº 9.608/98, em 
vigência até o momento, que regula as atividades de voluntariado no Brasil. 
Mais recentemente, com a Lei nº. 13.204/2015, o Brasil entrou em um novo 
Voluntariado: uma ação de mão dupla4
período de fomento e apoio às organizações da sociedade civil, por meio do 
Marco Regulatório do Terceiro Setor, que tornou mais ágeis, transparentes e 
confiáveis as relações de parceria entre as diversas modalidades contratuais 
do terceiro setor junto à administração pública nacional.
Uma das primeiras vezes em que o termo voluntário foi utilizado no Brasil ocorreu 
durante a Guerra do Paraguai (1864–1870), na qual o nosso país compunha a Tríplice 
Aliança juntamente com a Argentina e o Uruguai. Nessa época, foram convocados os 
brasileiros que tinham espírito cívico e que gostariam de combater na guerra, sendo 
chamados de Voluntários da Pátria e vindo a reforçar o efetivo das forças armadas 
brasileiras desse período.
O voluntário e as suas características
Você aprendeu que o serviço voluntário hoje está regulamentado no Brasil, 
assim como as organizações da sociedade civil que desenvolvem as suas 
ações possuem um Marco Regulatório para coordenar e disciplinar as suas 
atividades. Porém, fi ca o questionamento: o que leva uma pessoa a praticar o 
voluntariado? Quais as características comuns entre os voluntários? 
O primeiro ponto que podemos destacar se refere às primeiras ações de 
voluntários que ocorreram no Brasil. Acompanhando uma tendência mundial, 
elas estavam ligadas às crenças religiosas cristãs e ao sentimento de caridade 
e de custódia. Logo, o voluntário é um ser caridoso, pois realiza um trabalho 
em prol do outro para ajudá-lo e servi-lo. Isso se justifica ao lembrarmos que 
na Bíblia há várias passagens que direcionam para o amor ao próximo, sendo 
este considerado um dos grandes mandamentos. A custódia, por sua vez, é o 
caráter de partilha daquele que tem mais recursos com o que tem menos — 
podemos ver isso ser concretizado a partir de campanhas de arrecadação que 
focalizam ações sociais. Esses aspectos ainda hoje se encontram presentes em 
grande parte dos voluntários, uma vez que eles entendem que, com as suas 
ações, também estão tendo algum tipo de ganho espiritual para as suas vidas.
Outro termo que costuma servir para adjetivar os voluntários é a solida-
riedade. Esse termo apresenta muitos significados e, em sua “[...] concepção 
pré-moderna de solidariedade, esta é entendida como amor altruísta ao próximo, 
tendo sua origem nos termos fraternidade e irmandade” (WESTPHAL, 2008, 
5Voluntariado: uma ação de mão dupla
documento on-line). Em essência, a solidariedade acaba se tornando elemento 
importante para o engajamento coletivo a partir da sua associação com a ideia 
de irmandade, servindo como bandeira política para movimentos sociais 
importantes da história, como a Revolução Francesa. Perceba que, mesmo 
antes de ter sido utilizada de forma estatal, a solidariedade já fazia parte do 
cotidiano religioso e cultural da população, sendo exercida ainda hoje.
Ao descrever as mudanças recentes pelas quais as atividades do terceiro 
setor passaram, Hudson (1999) apresenta três contribuições essenciais prestadas 
pelos voluntários: 
  a representação;
  a inovação;
  cidadania. 
Com relação à representação, devemos entender que “[...] a ação voluntária 
nas circunstâncias atuais exerce um papel mais abrangente — e de maior 
importância social e política — do que a de um mero provedor de serviços 
sociais ao lado da provisão principal do Estado” (HUDSON, 1999, p. 13). 
Então, a representatividade exercida pelos voluntários nas causas sociais em 
que se engajam contribui para o processo de formulação de políticas públicas e 
de integração da sociedade. A inovação tem sido uma característica marcante 
dos voluntários e das ações em que atuam. Iniciativas inovadoras costumam 
ser implementadas por organizações da sociedade civil que atuam no terceiro 
setor em várias áreas sociais, como saúde, educação, moradia, civismo, direitos 
humanos, entre outras. Por fim, os voluntários costumam apresentar alto 
grau de cidadania, tendo um bom entendimento desse conceito que envolve 
participação e mobilização social, e vontade política de transformar a realidade 
das suas comunidades, cidades e do país.
A Cruz Vermelha Brasileira (PERFIL..., [2018?]) define no seu portal 
eletrônico sete características que os voluntários devem possuir para desem-
penharem bem as suas ações:
  participativo;
  comprometido;
  capacitado;
  motivado;
  disponível;
  polivalente;
  cooperativo.
Voluntariado: uma ação de mão dupla6
A participação dos voluntários é evidenciada a partir do seu envolvimento 
e da doação do seu tempo e das habilidades em torno da causa social na qual 
atuam. É comum percebermos que pessoas que agem voluntariamente costu-
mam atuar em mais de uma área social, o que indica que esse comportamento 
cidadão tornou-se um hábito importante e que dá novo sentido à sua vida.
O comprometimento é o que move os voluntários, tendo como foco aqueles 
que se encontram em condição de vulnerabilidade social ou que apresentam 
algum tipo de prejuízo na atual configuração da sociedade.
Uma característica que tem sido aprimorada em busca de profissionalismo 
na atualidade é a capacitação dos voluntários, traduzida na sua formação 
para atuar socialmente, ou seja, o capital humano que esse voluntário possui. 
Convém destacar que existem hoje organizações da sociedade civil que têm 
como objetivo realizar essas capacitações de novos voluntários e empreen-
dedores sociais.
A motivação é uma característica interna importante que os voluntários 
costumam possuir, sendo o que os faz agir honrando os compromissos assu-
midos e cumprindo com a sua participação nas ações em que se envolvem. Ao 
realizar uma pesquisa sobre os fatores motivacionais dos voluntários atuantes 
na Pastoral da Criança, em Natal (RN), Carvalho e Souza (2007) identificaram 
a realização como um dos grandes motivadores, associada com o aumento da 
autoestima e o crescimento pessoal dos envolvidos.
A disponibilidade significa a organização pessoal que o voluntário pos-
sui para que possa participar ativamente de todas as atividades e formações 
necessárias que a causa social na qual se envolve venham a exigir.
Os voluntários costumam ser polivalentes, sendo capazes de atuar em várias 
áreas e atividades que envolvem o objetivo social no qual estão engajados. 
Isso exige aprendizagem contínua e disposição para atender aos chamados 
que se fizerem necessários.
A cooperação, por sua vez, remete à necessidade de saber trabalhar em 
equipe, uma vez que as ações sociais empreendedoras costumam ser realizadas 
coletivamente, a partir de grupos heterogêneos em vários aspectos, tanto nas 
questões de competência (conhecimento, habilidades e atitudes) quanto nas 
questões culturais (étnicas, religiosas, de gênero, de orientação sexual, de 
classe social, etc.).
Em uma pesquisa divulgada pela organização Parceiros Voluntários (TRA-
BALHO..., 2018), realizada para traçar um perfil dos voluntários que atuam no 
terceiro setor, foram constatados os seguintes resultados: “[...] 78% afirmaram 
que seu nível de stress diminuiu, 94% afirmaram que ser voluntário melhorou 
o seu humor, 95% acreditam que estão transformando a sua comunidade 
7Voluntariado: uma ação de mão dupla
num lugar melhor e 96% disseram que o trabalho voluntário enriqueceuseu 
propósito de vida”. Esses dados — que são também utilizados para disseminar 
a ideia do voluntariado nessa organização social — acabam revelando outras 
características marcantes dos voluntários, que se aliam com a própria natureza 
das organizações da sociedade civil, como o sentimento de transformar a 
comunidade onde as ações estão sendo praticadas. Dessa forma, podemos 
afirmar que uma das características fundamentais do voluntário é ser um 
transformador que acredita na mudança a partir das ações individuais ou 
coletivas em favor do outro. 
Scheneumann e Rheinheimer (2013) comentam que o trabalho voluntário 
na atualidade também constitui:
  uma possibilidade de abertura para novas possibilidades de trabalho;
  não só generosidade e doação;
  uma oportunidade para o aprendizado;
  a satisfação de se sentir útil;
  a criação de novos vínculos de pertencimento social.
Dessa forma, os voluntários também ganham ao exercer as suas ações em 
prol dos outros, construindo novos vínculos sociais e desenvolvendo-se por 
meio de novos aprendizados e experiências — que podem inclusive resultar em 
novas oportunidades de emprego nas áreas onde se tornam experientes com 
a ação social voluntária desenvolvida. Cabe esclarecer que, inclusive com o 
Marco Regulatório do Terceiro Setor, as funções de dirigentes de organizações 
da sociedade civil podem vir a receber remuneração para o desenvolvimento 
das suas atividades executivas. Isso demonstra que a qualificação conquistada 
pelo trabalho voluntário também propicia que se venha a assumir atividades 
remuneradas; nesse caso, deixa-se de ser voluntário, mas continua-se vinculado 
à causa social em que se escolheu trabalhar.
Ao realizar uma análise da evolução histórica das organizações não gover-
namentais no Brasil, Lubisco (2012, p. 46) afirma que hoje elas “[...] pretendem 
superar antigas concepções de voluntariado como caridade, assistencialismo 
ou militância política, em prol de um entendimento de voluntariado como ação 
cívica engajada na transformação social”. Podemos entender que, embora ainda 
existam características no voluntariado que remetam à doutrinação cristã e 
ao assistencialismo, como a caridade, a solidariedade e o altruísmo, hoje o 
voluntário tende a ser considerado em relação ao seu civismo em busca da 
transformação social, que se encaixa no conceito de cidadania. Dessa forma, 
podemos dizer que o voluntário é um cidadão no sentido pleno da palavra. 
Voluntariado: uma ação de mão dupla8
Lubisco (2012, documento on-line) acrescenta ainda que “[...] o sujeito 
voluntário hoje parece necessitar ter os seguintes traços: proativos, inova-
dores, inventivos, flexíveis, com senso de oportunidade, entre outros”. Ora, 
esses aspectos citados traduzem a adequação dos voluntários, em busca de 
profissionalismo das suas ações, às mudanças da política, da economia e 
do mercado que afetam a todas as organizações — públicas ou privadas, 
com ou sem finalidade lucrativa. Afinal, dentro de uma racionalidade de 
Estado neoliberal, em que todas as pessoas e organizações passam a ser 
convertidas na condição de empresas, é necessário adaptar-se constantemente 
às mudanças, apresentando atitudes inovadoras e flexíveis, o que também 
afeta os voluntários.
Finalizando este tópico, cabe citar as palavras de Zilda Arns, funda-
dora da organização social Pastoral da Criança, de natureza confessional 
católica, que se encontram no seu último discurso no Haiti, onde ela veio 
a ser uma das vítimas do terremoto que assolou o país em 2010. Segundo 
Arns (2010, documento on-line) “A paz é uma conquista coletiva. Tem lugar 
quando encorajamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e 
éticos, as atitudes e práticas da busca do bem comum [...]”. Essas palavras 
resumem o perfil dos voluntários e a força das suas ações, pois um mundo 
melhor, com justiça social, paz e sustentabilidade somente será possível a 
partir do entendimento de que todos são necessários e importantes para a 
transformação social.
Características que costumam fazer parte dos voluntários e que tanto os motivam 
a engajar-se quanto são percebidas no decorrer das suas atividades são a ética e a 
preocupação com os comportamentos morais da sociedade. É bem comum que 
as organizações da sociedade civil que atuam no terceiro setor tenham um Código 
de Ética que balize as suas ações. A organização Parceiros Voluntários, por exemplo, 
possui no seu Código de Ética algumas afirmações muito relevantes, entre elas a 
seguinte: 
Assegurar que nenhum colaborador ou voluntário receba tratamento 
discriminatório em consequência de sua raça, cor de pele, origem ét-
nica, nacionalidade, posição social, idade, religião, gênero, orientação 
sexual, condição física, mental ou psíquica, opinião, convicção política 
ou qualquer outro fator de diferenciação individual (CÓDIGO..., [20--
?], documento on-line).
9Voluntariado: uma ação de mão dupla
Espaços de atuação voluntária
Atualmente são muitos os espaços onde as pessoas podem atuar como volun-
tárias no Brasil, em ações individuais ou organizadas por empresas (responsa-
bilidade social) — e, com muito maior incidência, nas ações realizadas pelas 
organizações do terceiro setor em parceria com o Poder Público. Segundo o 
Relatório do Ipea (2018), existem 820 mil organizações da sociedade civil 
devidamente registradas, com CNPJ e atendendo aos critérios típicos do ter-
ceiro setor: são organizações privadas e sem vínculo jurídico com o Estado, 
não possuem fi nalidade lucrativa, são autoadministradas, são constituídas por 
voluntários. Essas OSCs se dividem em 709 mil (86%) associações privadas, 99 
mil (12%) organizações religiosas e 12 mil (2%) fundações privadas (LOPEZ, 
2018, documento on-line). Cabe lembrar que, com o Marco Regulatório do 
Terceiro Setor, além das associações, fundações e organizações religiosas, 
também foram incluídas entre as OSCs as cooperativas sociais e as sociedades 
cooperativas, que não foram consideradas nessa estatística e que aumentariam 
os dados consideravelmente.
Segundo a Pesquisa PNAD contínua do IBGE (PNAD..., 2017), havia 7,4 
milhões de pessoas que realizavam trabalhos voluntários no ano de 2017, 
o que correspondeu a um aumento de 12,9% em relação ao ano anterior, 
demonstrando que o trabalho voluntário tem aumentado no Brasil. Acom-
panhe o gráfico da Figura 2 e perceba os tipos de organizações sociais em 
que as ações voluntárias mais se concentram.
Figura 2. Pessoas que realizam trabalho voluntário segundo o local de realização desse 
trabalho.
Fonte: PNAD... (2017, documento on-line).
Voluntariado: uma ação de mão dupla10
Como você pode perceber no gráfico, há pessoas que realizam ações vo-
luntárias nos mais diversos tipos de organizações da sociedade civil. Você 
conhecerá agora algumas dessas organizações que se destacaram no ranking 
das 100 melhores organizações não governamentais realizado pelo Instituto 
Doar (2018).
A primeira organização foi destaque no ranking das melhores organi-
zações não governamentais do ano de 2017: a Vocação. Trata-se de uma 
organização da sociedade civil localizada no estado de São Paulo, que se 
dedica ao desenvolvimento de habilidades das pessoas das comunidades onde 
atua, bem como investe em projetos de educação integral, cursos profissiona-
lizantes e prestação de serviços para empresas. Os voluntários podem apoiar 
essa OSC por meio de doações financeiras e com apoio ao desenvolvimento 
de capital humano. A Vocação (Figura 3) também serve como agência que 
intermedia jovens aprendizes para vagas das empresas locais.
Figura 3. Logo da OSC Vocação.
Fonte: acomunitaria ([2018?], documento on-line).
Atuando na área da saúde, em 2018, destacou-se no mesmo ranking a 
Casa Durval Paiva de Apoio à Criança com Câncer (Figura 4), localizada 
no Rio Grande do Norte. Essa organização tem como foco das suas ações 
suprir as deficiências do Estado, por meio da promoção do bem-estar, 
da qualidade de vida e da inclusão social a partir de projetosrealizados 
com pacientes de câncer assistidos pela instituição, bem como os seus 
acompanhantes.
11Voluntariado: uma ação de mão dupla
Figura 4. Logo da Casa Durval Paiva.
Fonte: Notícias ([2019], documento on-line).
Uma organização internacional que atua no Brasil desde 1959, com foco no 
apoio financeiro e no desenvolvimento de lideranças para o empreendedorismo 
social para organizações da sociedade civil, é o BrazilFoundation (Figura 5). 
Essa fundação tem como missão a transformação do Brasil por meio da seleção 
de projetos e boas ideias para a área social.
Figura 5. Logo da BrazilFoundation.
Fonte: 1*62vQjP3fujgDZITPTRoChw@2x ([20--?], documento on-line).
Na área ambiental, por meio do apoio de inúmeras outras organizações 
da sociedade civil, podemos citar o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade 
(Funbio – Figura 6). Esse fundo nacional privado, sem fins lucrativos, com 
sede no Rio de Janeiro, desenvolve projetos em parceria com os setores gover-
namental e privado e a sociedade civil, com o objetivo de melhor destinar os 
recursos estratégicos e financeiros para iniciativas efetivas de conservação da 
biodiversidade. Entre as principais atividades realizadas por essa organização 
estão a gestão financeira de projetos, o desenho de mecanismos financeiros 
e estudos de novas fontes de recursos para a conservação, além de compras e 
contratação de bens e serviços para os parceiros e os seus projetos.
Voluntariado: uma ação de mão dupla12
Figura 6. Logo do Funbio.
Fonte: funbio_logo_horizontal_cor_jpg (2018, documento on-line).
Finalizando a nossa exposição sobre algumas organizações da sociedade civil 
que se valem do trabalho voluntário em prol do atendimento das causas sociais 
que as motivam, uma organização que atua em nível global, sendo reconhecida 
pelo seu trabalho no desenvolvimento de empreendedores sociais, é a Ashoka 
(Figura 7). A Ashoka é considerada uma das organizações do terceiro setor 
que mais impactam o mundo na atualidade, tendo sido criada em 1980 na Índia 
e atuando no Brasil desde 1986. A organização trabalha com a formação de 
lideranças comunitárias e, para isso, possui 300 escolas transformadoras, sendo 
18 delas no Brasil. Atuando em rede em nível mundial, a Ashoka é referência 
na criação de parcerias entre os setores público, privado e empresarial, a fim de 
apoiar ideias novas e empreendedoras que apresentem grande impacto social.
Figura 7. Logo da Ashoka.
Fonte: ashoka_logo_retina ([20--?], documento on-line).
13Voluntariado: uma ação de mão dupla
Como você pôde observar, muitas são as possibilidades para desenvolver a 
cidadania e participar de algum processo de transformação social a partir do 
trabalho voluntário. Basta ter organização, dispor de algum tempo para doar 
suas habilidades em prol de alguém ou alguma causa social em que você se 
interesse ou que esteja sendo necessária na sua comunidade. Com o trabalho 
voluntário, você perceberá que essa é de fato uma ação de mão dupla, pois 
ambos saem enriquecidos: o voluntário e aqueles que formam o objeto das 
ações postas em prática.
Algumas organizações da sociedade civil, como a Parceiros Voluntários, também 
procuram fazer a mediação entre os indivíduos que gostariam de atuar como voluntários 
e as organizações que necessitam de habilidades específicas para atuação. Acesse o 
link a seguir e veja algumas das vagas que estão sendo disponibilizadas nessa atuação 
em rede que a Parceiros Voluntários procura desenvolver.
https://qrgo.page.link/spbme
1*62VQJP3FUJGDZITPTROCHW@2X. [S.l.: s. n.], [20--?]. Largura: 402 pixels. Altura: 246 
pixels. Formato: PNG. Disponível em: https://cdn-images-1.medium.com/max/456/1*
62vQjP3fujgDZITPTRoChw@2x.png. Acesso em: 6 mai. 2019.
ACOMUNITARIA. Google Apis, [s. l.], [2018?]. Largura: 1200 pixels. Altura: 1231 pixels. 
Formato: PNG. Disponível em: https://storage.googleapis.com/atados-v3/nonprofit/
acomunitaria.png. Acesso em: 6 mai. 2019.
ARNS, Z. Discurso Dra. Zilda Arns Neumann para a Visita ao Haiti. Pastoral da Criança, 
[s. l.], 2010. Disponível em: https://www.pastoraldacrianca.org.br/images/stories/
pdf/ultimo%20discurso%20dra.%20zilda%20haiti%20portugues.pdf. Acesso em: 6 
mai. 2019.
ASHOKA_LOGO_RETINA. Ashoka, [s. l.], [20--?]. Largura: 150 pixels. Altura: 150 pixels. 
Formato: PNG. Disponível em: https://www.ashoka.org/sites/all/themes/ashoka_re-
design/images/ashoka_logo_retina.png. Acesso em: 6 mai. 2019.
Voluntariado: uma ação de mão dupla14
BRASIL. Lei nº. 13.297, de 16 de junho de 2016. Altera o art. 1º da Lei nº 9.608, de 18 de 
fevereiro de 1998, para incluir a assistência à pessoa como objetivo de atividade não 
remunerada reconhecida como serviço voluntário. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 
17 jun. 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/
lei/l13297.htm. Acesso em: 6 mai. 2019.
CÓDIGO de ética e conduta profissional da ONG Parceiros Voluntários. Parceiros Vo-
luntários, [20--?]. Porto Alegre, Disponível em: http://www.parceirosvoluntarios.org.br/
repositorio/1_3_codigo_de_etica.pdf. Acesso em: 6 mai. 2019.
FUNBIO_LOGO_HORIZONTAL_COR_JPG. Funbio, [s. l.], mai. 2018. Largura: 402 pixels. 
Altura: 133 pixels. Formato: JPG. Disponível em: https://www.funbio.org.br/wp-content/
uploads/2018/05/funbio_logo_horizontal_cor_jpg.jpg. Acesso em: 6 mai. 2019.
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15Voluntariado: uma ação de mão dupla
Leitura recomendada
CARVALHO, V. D.; SOUZA, W. J. Pobres no ter, ricos no ser: trabalho voluntário e 
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Voluntariado: uma ação de mão dupla16

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