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lembrarmos algumas características da personalidade de Chico Buarque de Holanda. Primeiro, a forte presença de um pai que, além de ser um historiador notável, era um fino crítico literário. Depois, o fato de Chico ter se dado conta de que sua genial produção musical não bastava para dizer tudo que ele tinha a nos dizer. Não se pode dizer que o que o Chico nos diz nos romances não tem nada a ver com o que ele passa aos seus ouvintes através das suas canções. No recém-lançado Budapeste, por exemplo, eu, pessoalmente, vejo um clima de bem- humorada resignação do personagem com suas limitações, um clima que me parece que encontrei, em alguns momentos, na sua obra musical. Uma coisa, porém, são as imagens sugestivas das canções; outra é a complexa construção de um romance. A distância entre ambas talvez pudesse ser comparada àquela que vai das delicadas e rústicas capelas românicas às imponentes catedrais góticas. Chico Buarque percorreu esse caminho com toda a humildade de quem queria aprender a fazer melhor, mas também com a autoconfiança de quem sabia que podia se tornar um mestre romancista. Valeu a pena. A autodisciplina lhe permitiu mergulhar mais fundo na confusão da nossa realidade, nas ambigüidades do nosso tempo. A ficção, às vezes, possibilita uma percepção mais aguda das questões em que estamos todos tropeçando. No caso deste romance mais recente de Chico Buarque, temos um rico material para repensarmos, sorrindo, o problema da nossa identidade: quem somos nós, afinal? (Leandro Konder, Jornal do Brasil, 18/10/2003) Julgue a assertiva abaixo, em relação aos aspectos gramaticais do texto. c) O sinal indicativo de crase em “àquela que vai das delicadas...” (l.15) é opcional. Item INCORRETO. Comentário. O termo regente é comparada, que exige a preposição a (“Alguma coisa é comparada a outra.”). O termo regido está representado pelo pronome demonstrativo aquela. Assim, é obrigatória a acentuação do primeiro “a” do pronome, como indicativo de sua contração com a preposição a. Esse delicioso texto está repleto de expressões que poderiam suscitar dúvidas (“vale a pena”, “nada a ver”) e de passagens corretas em relação aos aspectos gramaticais já estudados em nossos encontros (“para responder a essa pergunta” – regência verbal e crase / “uma coisa são as imagens” – concordância verbal com o verbo ser). 28 Por isso, acredito que valha a pena lê-lo várias vezes, analisando os aspectos sintáticos dos elementos textuais. 25 - (TTN/1998) Marque o texto que contém erro de estruturação sintática ou de pontuação. a) Os profissionais liberais têm-se mostrado conscientes e dispostos a participar do movimento pela reforma da sociedade. b) Para diminuir a sonegação fiscal, o governo concede anistia a quem apresentar a retificação de sua declaração de renda. c) Cidadãos e governo colocaram-se frente a frente e finalmente entraram em acordo sobre a reforma tributária. d) Devido a necessidade de tornar a tarefa política mais ética e saudável, tem havido significativa mobilização. e) O Secretário solicita a essas pessoas que recorram a profissionais credenciados para obter esclarecimentos. Gabarito: D Comentário. A locução prepositiva “devido a” tem origem na forma participial adjetiva do verbo dever (devido). Como assim “forma participial adjetiva”? Vimos que o particípio é uma forma nominal que, muitas vezes, exerce a função que seria própria de um adjetivo, lembra? “Roupa lavada (adjetivo / particípio do verbo lavar)”, “cabelo penteado (adjetivo / particípio do verbo pentear)” Na função adjetiva, a palavra “devido” (adjetivo / particípio do verbo dever) concorda em gênero e número com o substantivo correspondente e rege a preposição a: “Sua ausência devida a problemas de saúde foi notada.”, “Muitos acidentes devidos à falta de prudência dos motoristas são registrados nas estradas brasileiras.”. Apesar de condenada por diversos puristas, que acham que essa palavra só deve ser empregada na função adjetiva, a forma prepositiva “devido a” é abonada por ilustres como Celso Luft, sendo constantemente apresentada em questões da ESAF. Quando usado na locução prepositiva (devido a), o vocábulo “devido” não se flexiona (pertence ao conjunto de palavras invariáveis) – “Devido aos problemas de saúde, ela não veio.”, “Muitos acidentes ocorrem devido à falta de prudência dos motoristas.”. 29